scielo: uma metodologia para publicação eletrônica0d/ci/v27n2/2729802.pdf · 109 artigos...

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109 ARTIGOS INTRODUÇÃO SciELO – Scientific Electronic Library Online — http://www.scielo.br — é uma biblioteca virtual de revistas científicas brasileiras em formato eletrônico. Ela organiza e publica textos completos de revistas na Internet / Web, assim como produz e publica indicadores do seu uso e impacto. A biblioteca opera com a Metodologia SciELO, que é produto do Projeto para o Desenvolvimento de uma Metodologia para a Preparação, Arma- zenamento, Disseminação e Avaliação de Publicações Científicas em Formato Eletrônico, cuja primeira fase foi reali- zada entre fevereiro de 1997 e março de 1998. O projeto é o resultado de uma parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme) e editores de revis- tas científicas, que, durante o seu de- senvolvimento, recebeu o nome de Bi- blioteca Científica Eletrônica On-line, cuja sigla SciELO corresponde à sua versão em inglês. O estabelecimento da parceria permitiu a integração de interesses e demandas convergentes das duas instituições no Projeto SciELO. O interesse da Fapesp concentrava-se em aumentar a visibi- lidade da produção científica nacional e criar mecanismos de avaliação comple- mentares aos do Institute for Scientific Information (ISI) (Meneghini 1 ). O interes- SciELO: uma metodologia para publicação eletrônica * Resumo Descreve a Metodologia SciELO – Scientific Electronic Library Online para a publicação eletrônica de periódicos científicos, abordando temas como a transição da publicação impressa em papel para a publicação eletrônica, o processo de comunicação científica, os princípios que nortearam o desenvolvimento da metodologia, sua aplicação no site SciELO, seus módulos e componentes, os instrumentos nos quais está baseada etc. O artigo discute, também, as potencialidades e tendências para a área no Brasil e América Latina, apontando questões e propostas que deverão ser abordadas e solucionadas pela metodologia. Conclui que a Metodologia SciELO é uma solução eficiente, flexível e ampla para a publicação científica eletrônica. Palavras-chave SciELO – Scientific Electronic Library Online; Publicação eletrônica. se central da Bireme era o desenvolvi- mento de uma metodologia para publi- cação eletrônica, cuja aplicação pudes- se complementar a metodologia de re- gistro bibliográfico e indexação utiliza- da na produção descentralizada da base de dados bibliográficos Literatura Lati- no-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) (Packer 2 ). Coube à Fapesp a coordenação geral do projeto, e à Bireme, sua coordenação operacio- nal, incluindo a formação de uma equi- pe para trabalhar exclusivamente na im- plementação do projeto. Composta por profissionais da área de informação, biblioteconomia e informática, a equipe foi sediada nas instalações da Bireme, de modo a poder contar com o apoio direto de profissionais com reconheci- da experiência no tratamento de infor- mação técnico-científica. O segundo nível de parceria foi esta- belecido junto a um grupo de editores científicos brasileiros de várias áreas do conhecimento, que aprovaram a concep- ção geral da proposta (quadro 1, a se- guir). A instituição dessas parcerias teve como princípios o caráter experimental do projeto e o compromisso com a pes- quisa e o aprendizado conjunto em bus- ca de uma solução que atendesse aos interesses de todos. Embora concebido originalmente como projeto operacional de apoio à infra-es- trutura para a pesquisa científica, o Pro- jeto SciELO foi desenvolvido, em parte, como pesquisa experimental sobre o fenômeno da publicação eletrônica e, em parte, como pesquisa operacional visan- do a desenvolver uma solução para a ampla implantação da publicação ele- trônica no Brasil, América Latina e Ca- * Trabalho apresentado no Seminário sobre Avaliação da Produção Científica, realizado em São Paulo pelo Projeto SciELO, de 4 a 6 de março de 1998. Ci. Inf., Brasília, v. 27, n. 2, p. 109-121, maio/ago. 1998 Abel Laerte Packer e colaboradores

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ARTIGOS

INTRODUÇÃO

SciELO – Scientific Electronic LibraryOnline — http://www.scielo.br — é umabiblioteca virtual de revistas científicasbrasileiras em formato eletrônico. Elaorganiza e publica textos completos derevistas na Internet / Web, assim comoproduz e publica indicadores do seu usoe impacto. A biblioteca opera com aMetodologia SciELO, que é produto doProjeto para o Desenvolvimento de umaMetodologia para a Preparação, Arma-zenamento, Disseminação e Avaliaçãode Publicações Científicas em FormatoEletrônico, cuja primeira fase foi reali-zada entre fevereiro de 1997 e março de1998. O projeto é o resultado de umaparceria entre a Fundação de Amparoà Pesquisa do Estado de São Paulo(Fapesp), o Centro Latino-Americano edo Caribe de Informação em Ciênciasda Saúde (Bireme) e editores de revis-tas científicas, que, durante o seu de-senvolvimento, recebeu o nome de Bi-blioteca Científica Eletrônica On-line,cuja sigla SciELO corresponde à suaversão em inglês.

O estabelecimento da parceria permitiua integração de interesses e demandasconvergentes das duas instituições noProjeto SciELO. O interesse da Fapespconcentrava-se em aumentar a visibi-lidade da produção científica nacional ecriar mecanismos de avaliação comple-mentares aos do Institute for ScientificInformation (ISI) (Meneghini1). O interes-

SciELO: uma metodologiapara publicação eletrônica*

Resumo

Descreve a Metodologia SciELO – ScientificElectronic Library Online para a publicaçãoeletrônica de periódicos científicos,abordando temas como a transição dapublicação impressa em papel para apublicação eletrônica, o processo decomunicação científica, os princípios quenortearam o desenvolvimento dametodologia, sua aplicação no site SciELO,seus módulos e componentes, osinstrumentos nos quais está baseada etc. Oartigo discute, também, as potencialidades etendências para a área no Brasil e AméricaLatina, apontando questões e propostas quedeverão ser abordadas e solucionadas pelametodologia. Conclui que a MetodologiaSciELO é uma solução eficiente, flexível eampla para a publicação científicaeletrônica.

Palavras-chave

SciELO – Scientific Electronic LibraryOnline; Publicação eletrônica.

se central da Bireme era o desenvolvi-mento de uma metodologia para publi-cação eletrônica, cuja aplicação pudes-se complementar a metodologia de re-gistro bibliográfico e indexação utiliza-da na produção descentralizada da basede dados bibliográficos Literatura Lati-no-Americana e do Caribe em Ciênciasda Saúde (Lilacs) (Packer2). Coube àFapesp a coordenação geral do projeto,e à Bireme, sua coordenação operacio-nal, incluindo a formação de uma equi-pe para trabalhar exclusivamente na im-plementação do projeto. Composta porprofissionais da área de informação,biblioteconomia e informática, a equipefoi sediada nas instalações da Bireme,de modo a poder contar com o apoiodireto de profissionais com reconheci-da experiência no tratamento de infor-mação técnico-científica.

O segundo nível de parceria foi esta-belecido junto a um grupo de editorescientíficos brasileiros de várias áreas doconhecimento, que aprovaram a concep-ção geral da proposta (quadro 1, a se-guir). A instituição dessas parcerias tevecomo princípios o caráter experimentaldo projeto e o compromisso com a pes-quisa e o aprendizado conjunto em bus-ca de uma solução que atendesse aosinteresses de todos.

Embora concebido originalmente comoprojeto operacional de apoio à infra-es-trutura para a pesquisa científica, o Pro-jeto SciELO foi desenvolvido, em parte,como pesquisa experimental sobre ofenômeno da publicação eletrônica e, emparte, como pesquisa operacional visan-do a desenvolver uma solução para aampla implantação da publicação ele-trônica no Brasil, América Latina e Ca-

* Trabalho apresentado no Seminário sobreAvaliação da Produção Científica, realizado emSão Paulo pelo Projeto SciELO, de 4 a 6 demarço de 1998.

Ci. Inf., Brasília, v. 27, n. 2, p. 109-121, maio/ago. 1998

Abel Laerte Packer ecolaboradores

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ribe, com o propósito de aprimorar o con-trole, a visibilidade e a avaliação da lite-ratura científica.

ANTECEDENTES

Na segunda metade dos anos 90, a pu-blicação científica eletrônica passa a seraceita universalmente como um fenôme-no inexorável pela maioria dos atores doprocesso de comunicação científica. Étambém consenso que sua realizaçãoatravessa um período de transição en-tre o modelo baseado puramente noperiódico impresso em papel e o predo-minantemente eletrônico. Essa transi-ção não tem sido simples, e sua evolu-ção tem se caracterizado por promes-sas e frustrações (Peek3, Hunter4). Umavasta literatura reflete essa transição(Bailey5).

O uso de computadores no processo dacomunicação científica data dos anos60 e vem crescendo e se aprimorandorapidamente (Lancaster6, Hickey7), dan-do um salto quantitativo e qualitativo apartir da segunda metade da década de80, quando se gesta e se projeta uni-versalmente a ampla receptividade docomputador de mesa, corroborado peloaumento progressivo da sua capacida-de de armazenamento e processamen-to de dados, pelo seu aperfeiçoamentocontínuo na estruturação de textos, namanipulação e apresentação de elemen-tos gráficos, assim como na simulaçãode modelos complexos e, finalmente,pela sua incorporação como estação decomunicação através da sua integraçãoem redes locais e à Internet. É essacombinação de avanços ocorridos noconjunto das tecnologias de informaçãoque tem originado progressivamentenovas expectativas, propostas e contri-buições em prol da consolidação dapublicação eletrônica.

Com o uso intensivo de tecnologias deinformação, os métodos tradicionais deprodução de publicações científicas ga-nharam mais flexibilidade e novas pos-sibilidades nos aspectos técnicos, alémde maior eficiência nos aspectos geren-ciais e econômicos. Assim, na primeirametade da década de 90, a relação cus-to-benefício da impressão usando tec-nologias de informação — desktoppublishing — atingiu um ponto no quala produção eletrônica passou a ser obri-gatória e generalizada, mesmo persis-

tindo a publicação impressa e sua dis-tribuição em papel como produto final.Paralelamente, o armazenamento (ouimpressão) das publicações em meiosmagnéticos ou óticos e a sua distribui-ção em disquetes, discos compactosou diretamente na Internet passam a serencarados, paulatinamente, entre osdiferentes atores, como fato natural einerente ao processo de publicaçãocientífica, de tal modo que, em meadosda década de 90, a maioria das edito-ras científicas internacionais e váriasuniversidades e bibliotecas dos paísesdesenvolvidos já contava com projetosavançados em publicações eletrônicas(Borghuis8, Communications9, Hunter4).Ao mesmo tempo, algumas iniciativaspioneiras tiveram lugar no Brasil e naAmérica Latina, como é o caso do Gru-po de Publicações Eletrônicas em Me-dicina e Biologia, da UniversidadeEstadual de Campinas, e do CD-ROMArtemisa, publicado pela Red Nacionalde Colaboración en Información yDocumentación en Salud, México.

O aparecimento e a rápida universaliza-ção da Internet, particularmente a ope-ração continuamente aprimorada de hi-pertextos através do World Wide Web(WWW), foram fatores decisivos em fa-vor da consolidação da publicação ele-trônica com crescente identidade pró-pria, e não simplesmente como réplicada versão em papel (Guedon10). Em pri-meiro lugar, a Internet assegura um meiode publicação rápido e com coberturauniversal através de uma interface co-mum capaz de operar hipertextos commúltiplos suportes de informação, enri-quecidos com conexões internas e ex-ternas. Em segundo lugar, a constanteevolução da Internet sinaliza, para ofuturo da publicação eletrônica, umamíriade de novas possibilidades, quasesempre orientadas no sentido de agre-gar valor ao tempo do leitor, dotando-ocom mais iniciativa e interatividade.

Ao mesmo tempo em que a publicaçãoeletrônica se afirma por sua contribui-ção ao aperfeiçoamento do processotradicional da publicação científica, sur-gem perspectivas, propostas e iniciati-vas propugnando-a como agente de re-novação e mudança do modelo domi-nante de comunicação científica, desen-volvido ao longo dos últimos três sécu-los (Schafner11). Entre outras perspecti-vas, vislumbra-se a publicação direta do

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QUADRO 1Relação dos periódicos e editores participantes do projeto

Periódicos Editores

Brazilian Journal of Chemical Engineering Milton Mori

Brazilian Journal of Genetics Francisco A. Moura Duarte

Brazilian Journal of Medical and Lewis Joel GreeneBiological Research Dalva Pizeta (Editora Executiva)

Brazilian Journal of Physics Sílvio Roberto de Azevedo SalinasNeusa M. L. Martin(Secretária Executiva)

Dados: Revista de Ciências Sociais Charles Pessanha

Journal of the Brazilian Computer Society Cláudia Bauzer Medeiros

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz Hooman Momen

Revista Brasileira de Ciência do Solo Antonio C. MonizElpídio Inácio Fernandes Filho

Revista Brasileira de Geociências Hardy JostCláudio Ricomini

Revista do Instituto de Medicina Thales de BritoTropical de São Paulo Maria do Carmo Berthe Rosa

(Secretária Executiva)

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autor na Internet, além da criação e ope-ração de bases de dados de artigos pro-duzidos por comunidades de autores,por exemplo, as formadas por cientis-tas de uma universidade ou instituto depesquisa, membros de sociedadescientíficas e outros. Alguns aspectosque emergem dessas propostas são al-tamente polêmicos, permanecendo emdebate, como a diminuição do papel daseditoras científicas com fins lucrativos,a redefinição do direito de autor, a subs-tituição do processo clássico de avalia-ção por pares por uma revisão pública einterativa, a eliminação da organizaçãodos periódicos em volumes e númerosem favor da publicação de artigos indivi-duais e, por último, a eliminação da pró-pria identidade dos periódicos científi-cos em benefício das bases de dadosde artigos (Harnard12, Rowland13). Entre-tanto, embora exista um número cres-cente de iniciativas para a renovação domodelo de comunicação científica, atendência dominante na comunidade deeditores e publicadores científicos émanter a sua essência e aperfeiçoarprogressivamente o seu funcionamentopor meio de contribuições das tecnolo-gias de informação.

Embora a publicação eletrônica sejaconsiderada um fenômeno inexorávelenquanto suporte, persistem questiona-mentos originados, em parte, de posi-ções inflexíveis com relação ao funcio-namento do modelo de periódicos empapel e, em parte, da constatação deque existem muitas indefinições e va-zios nas propostas em gestação para aoperação do modelo de periódicos emformato eletrônico (Lesk14). Os mais re-calcitrantes concentram-se nas vanta-gens, em termos de eficiência e como-didade, que se obtêm com a leitura deum artigo impresso em papel em rela-ção ao exibido em um monitor. Como oartigo científico clássico em formato ele-trônico pode sempre ser impresso empapel, esse argumento tem perdido for-ça à medida que as cópias impressaspor computador melhoram e o reconhe-cimento das vantagens aumenta porparte do público, sem contar com a pos-sibilidade única de incluir a operação desom e vídeo nos artigos eletrônicos.

Outros questionamentos importantesreferem-se à preservação das coleçõesde publicações eletrônicas devido, porum lado, à ausência de políticas, nor-mas e procedimentos consolidados emnível nacional e internacional e, por ou-tro lado, à constante evolução das tec-nologias de armazenamento de dadose das interfaces de operação que temprovocado a rápida obsolescência demuitas soluções. Nesse aspecto, o pa-pel exercido pelas bibliotecas no mode-lo de organização e conservação dosperiódicos em papel ainda não encon-trou equivalente na publicação eletrôni-ca. Esses questionamentos são mini-mizados em parte pelo fato de queatualmente a maioria das coleções ele-trônicas é composta de versões eletrô-nicas de periódicos publicados em pa-pel. Existem, também, questionamen-tos que são comuns ao uso e operaçãode produtos e serviços de informaçãoem formato eletrônico, destacando-se asegurança e a integridade dos dados ea garantia aos direitos de propriedade ede autor, principalmente no contexto daInternet, que, ao promover a universali-dade de acesso aos servidores a elaconectados, aumenta o grau de exposi-ção de produtos e serviços a ações de-lituosas. A origem e resposta a essesquestionamentos não são necessaria-mente intrínsecas somente à publica-ção eletrônica, mas também à adminis-tração da operação dos protocolos emeios de comunicação de dados naInternet, e seu escopo estende-se aoconjunto das aplicações e serviços nelaoperados. Finalmente, permanece aadvertência que a predominância doacesso às fontes de informação eletrô-nica pode conduzir ao abandono cres-cente dos livros e periódicos em papel,criando assim uma ruptura artificial noconjunto do conhecimento científico deuma diciplina.

Um componente importante do modelovigente de comunicação científica sãoas bases de dados bibliográficas, quetradicionalmente registram e indexam aliteratura científica, constituindo, assim,os principais mecanismos de controlee promoção da visibilidade das publica-ções científicas. É certo que a publica-ção eletrônica, especialmente a dispo-nível na Internet, possui maior grau deexposição e acessibilidade do que apublicação em papel, mas não ao pon-to de dispensar os serviços de indexa-

ção (Peek3). Ao contrário, o estabeleci-mento de conexões entre os registrosbibliográficos e os respectivos textoscompletos agrega um novo valor tantoaos serviços de pesquisa bibliográficaquanto às publicações eletrônicas.Assim, os registros bibliográficos pas-sam a proporcionar acesso imediato aostextos completos, do mesmo modo queestes incorporam conexões para os re-gistros bibliográficos, a partir dos nomesde seus autores e das referências bi-bliográficas, por exemplo. Em conse-qüência, o papel das bases de dadosbibliográficos na promoção da visibilida-de das publicações científicas tende afortalecer-se e ampliar-se com a publi-cação eletrônica, ao constituir-se comocomponente que integra o acesso a vá-rios produtos independentes de diferen-tes editoras. Isto é, as bases de dadosbibliográficos se projetam como soluçãoàs incompatibilidades entre periódicoseletrônicos.

Essa tendência revela a perspectiva deum aumento ainda maior da visibilidadedas publicações que são indexadas embases de dados internacionais, em suamaioria pertencentes à chamada ciên-cia de corrente principal dos países de-senvolvidos. Por outro lado, ressalta anecessidade de os países em desenvolvi-mento, como o Brasil, criarem meca-nismos alternativos e complementaresàs bases de dados internacionais parapromover o aumento da visibilidade na-cional e internacional das suas publica-ções. Essa situação é notoriamentedesfavorável, como mostra o reduzidonúmero de títulos nacionais indexadosna base de dados do ISI, especialmen-te o índice de impacto, considerado in-ternacionalmente como a principal fon-te de dados para a avaliação do impac-to de publicações científicas e de auto-res com base em indicadores biblio-métricos de citações. Dessa forma, amaioria das publicações científicas na-cionais está excluída tanto dos meca-nismos internacionais de promoção davisibilidade, quanto dos instrumentos deavaliação de impacto (Meneghini15).

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Essas questões são alguns dos aspec-tos críticos da evolução da publicaçãoeletrônica na segunda metade de 1996,que condicionaram a formulação do pro-jeto SciELO, elaborado para promovera inclusão do processo de comunica-ção científica brasileira no movimentointernacional rumo à publicação eletrô-nica.

HIPÓTESES E OBJETIVOS DOPROJETO SciELO

As seguintes hipóteses fundamentarama proposta para o desenvolvimento daMetodologia SciELO:

• O uso intensivo de tecnologias de in-formação no processo de comunicaçãocientífica, conformando a publicação ele-trônica, contribui para o enriquecimen-to e a ampliação dos meios tradicionais.

• A adoção da publicação eletrônica porparte de editores, publicadores, biblio-tecas e leitores será facilitada pelacriação e pela disponibilidade de umametodologia comum que viabilize téc-nica, econômica e gerencialmente oprocesso de transição da publicaçãotradicional para o formato eletrônico.Ao mesmo tempo, o uso de uma me-todologia comum evitará a pulverizaçãode publicações eletrônicas incompatí-veis entre si.

• A publicação eletrônica, a partir de umametodologia comum, promoverá umarenovação no processo da comunicaçãocientífica tradicional, ao integrar as fun-ções de publicação propriamente ditas,mais o controle bibliográfico, a manu-tenção e preservação de coleções deperiódicos, bem como a mensuração doseu uso e impacto.

• A aplicação de uma metodologia co-mum e avançada na criação de bibliote-cas de periódicos científicos on-line pro-moverá radical aumento na acessibili-dade e visibilidade da literatura científi-ca e contribuirá para o aumento do seuimpacto.

• O uso de metodologia comum criaráum ambiente propício que induzirá àmelhoria da qualidade dos periódicoscientíficos em sua forma e em seu con-teúdo.

Com base nas questões anteriores, aprimeira fase do Projeto SciELO traba-lhou com os seguintes objetivos espe-cíficos:

• Desenvolver metodologia comum paraa preparação, armazenamento, disse-minação e avaliação de publicaçõescientíficas eletrônicas, reunindo e apli-cando recursos avançados de tecnolo-gia de informação.

• Implantar e operar a aplicação pilotoda metodologia em um núcleo selecio-nado de periódicos científicos brasilei-ros.

• Promover a disseminação ampla dametodologia em nível nacional e inter-nacional, especialmente nos países daAmérica Latina e no Caribe.

A consecução desses objetivos repre-senta o primeiro passo rumo à criação,a médio prazo, de uma biblioteca na-cional de periódicos científicos em for-mato eletrônico. A longo prazo, o proje-to contribuirá para o desenvolvimento daciência brasileira e latino-americana, aoaperfeiçoar e ampliar os meios de dis-seminação, publicação e avaliação dosseus resultados.

PRINCÍPIOS E MÉTODOSEMPREGADOS NODESENVOLVIMENTO DOPROJETO SciELO

O projeto adotou um conjunto de princí-pios e métodos fundamentais para ser-vir de base ao seu desenvolvimento. Oprimeiro desses princípios é o compro-misso com a preservação das identida-des dos periódicos, incluindo a políticaeditorial e de produção específica decada um. Esse compromisso permitiudotar a Metodologia SciELO com a ne-cessária flexibilidade para atender oamplo espectro de situações a ser en-frentado no processo de transição paraa publicação eletrônica. Entretanto, talcompromisso não impede que os edi-tores venham modificar ou até mesmoincorporar novos elementos em seusprocessos de publicação, motivadospelos avanços da publicação eletrô-nica, em geral, e pela MetodologiaSciELO, em particular.

O segundo princípio é a obediência anormas e padrões, jure et facto, para apublicação científica eletrônica pratica-dos internacionalmente. Entretanto,como discutimos anteriormente, a pu-blicação eletrônica é um fenômeno emtransição, contando, em nível interna-cional, com inúmeras soluções e pas-sando por constantes mudanças resul-tantes de novos aportes que emergemtanto das tecnologias de informaçãocomo das tentativas, por parte de publi-cadores e agentes intermediários, deimpor suas próprias contribuições. Nãoexiste, ainda, um corpo completo de nor-mas e padrões para esse novo tipo depublicação, mas a literatura está cres-cendo rapidamente.

Dessa forma, para o Projeto SciELO, oprincípio de obediência a normas e pa-drões estende-se necessariamente aoacompanhamento das experiências in-ternacionais em publicação eletrônica,que podem constituir-se em modelos nofuturo. Devido também a esse períodode transição da publicação em papelpara a predominantemente eletrônica,permanece a necessidade de igualmen-te incorporar normas e padrões nacio-nais e internacionais da publicaçãocientífica em papel, assim como normaspara registro bibliográfico e operação debases de dados. Apesar da instabilida-de inerente aos processos de transição,a obediência a normas, padrões e ex-periências é fundamental para assegu-rar a compatibilidade da MetodologiaSciELO com as iniciativas internacio-nais em publicação eletrônica.

O terceiro princípio adotado para o de-senvolvimento do projeto refere-se ao usointensivo de tecnologias de informação,que sejam adequadas às condições daAmérica Latina e do Caribe. A publica-ção eletrônica é, por natureza, baseadaem tecnologias de informação. Emboradisponíveis nos países latino-america-nos, o acesso da comunidade científicae do público em geral a essas tecnolo-gias está muito aquém da situação dospaíses desenvolvidos. Da mesma forma,é preciso considerar a extensão e a con-fiabilidade da infra-estrutura de comuni-ção e a qualidade e a quantidade de re-cursos humanos gerenciais e técnicosexistentes nos países em desenvolvimen-to, como também a disponibilidade derecursos econômicos para operar siste-mas altamente sofisticados.

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Para que a solução investigada e pro-posta pelo projeto possa ter amplo usona região, ela deve ser baseada em tec-nologias de informação baratas, prefe-rencialmente de domínio público, de fá-cil operação e transferíveis para diferen-tes plataformas de equipamentos, in-cluindo ambientes em que a telecomu-nicação seja limitada ou predominemcanais de baixa velocidade. Assim, jáde início, descartou-se o desenvolvimen-to ou a importação de soluções que exi-gissem o uso de equipamentos de gran-de porte e de softwares cujo custo decompra e manutenção fossem elevados.Esse princípio, além de representar umdesafio para o projeto, é importante por-que contribui decisivamente para dotara Metodologia SciELO de abertura tec-nológica e de independência das solu-ções caras, características necessá-rias para responder às condições de de-senvolvimento econômico e tecnológi-co da região.

Os métodos de trabalho incluíram a for-mulação conceitual do projeto em mó-dulos e o desenvolvimento de protótipos.A Metodologia SciELO foi, então, divi-dida em cinco grandes módulos queabrangem todo o processo de publica-ção eletrônica, a partir dos artigos emformato digital. Cada um dos módulosreúne conjuntos de funções afins, aolongo do fluxo de processamento dostextos (sua descrição detalhada se en-contra mais adiante neste artigo). A di-visão da metodologia em módulos res-pondeu, por um lado, a uma opçãopara o gerenciamento da equipe e dasrespectivas funções de cada pessoano projeto, estimulando a explosão dascapacidades individuais no contexto deuma obra coletiva. Por outro lado, essadecisão implementa, promove e enfa-tiza o caráter aberto da MetodologiaSciELO.

A formulação modular da metodologiafoi também motivada pelo desenvolvi-mento de protótipos, que se mostrou ummétodo bastante eficiente, ao permitirque cada solução fosse implementadaem cada um dos módulos e testadaimediatamente em condições operacio-nais reais. Ao longo de um ano, foramdesenvolvidos quatro protótipos da me-todologia. Os editores parceiros do pro-jeto participaram ativamente desseprocesso, não somente preparando eenviando os arquivos de textos dos seus

periódicos, mas também avaliando osavanços alcançados. O último protóti-po, de março de 1998, é a versão 1.0 daMetodologia SciELO.

Em sua fase de finalização, os protóti-pos foram controlados e avaliados exaus-tivamente em diferentes instâncias. Naprimeira, os modelos foram avaliadospor profissionais da Bireme, sendo queerros graves e sugestões simples demelhoramento eram corrigidos e implan-tadas imediatamente, antes mesmo deserem submetidos às outras duas ins-tâncias. Na segunda instância, a equi-pe do projeto comparou os periódicosproduzidos pela Metodologia SciELOcom os periódicos eletrônicos disponí-veis na Internet, quanto à sua opera-cionalidade, compatibilidade, estilo e efi-ciência. Por último, os protótipos foramorganizados em um site na Internet paraque a terceira instância, formada peloseditores científicos participantes do pro-jeto, pudesse analisar os modelos pro-postos, operar as versões eletrônicasde seus periódicos e avaliar a metodo-logia. O editores e a equipe do projetoreuniram-se quatro vezes durante o pe-ríodo de desenvolvimento da metodolo-gia, quando se discutiam os protótipose a programação das atividades futuras.

Uma quarta instância de controle e ava-liação do desenvolvimento do projeto foiconstituída por consultores nacionaise internacionais. A primeira consulto-ria foi de Geoffrey Adams, especialistaem publicações eletrônicas da editoraElsevier, realizada logo após a finaliza-ção do primeiro protótipo, tendo comoobjetivo a análise e avaliação tanto daformulação conceitual da MetodologiaSciELO quanto de sua implantação.O resultado dessa avaliação foi positi-vo e muito significativo para o projeto,porque reforçou em todos os envolvi-dos a confiança na proposta de traba-lho e na própria metodologia de desen-volvimento.

A segunda consultoria foi solicitada aErnesto Spinak, especialista em infor-mação técnico-científica, visando à for-mulação de recomendações específicassobre a produção de indicadores biblio-métricos. A terceira consultoria foi con-duzida por um grupo de especialistasbrasileiros e internacionais em informa-ção técnico-científica e em bibliometria,informetria e cienciometria, reunido em

um seminário organizado pelo projeto(os textos apresentados no seminárioestão publicados neste número da Ciên-cia da Informação). Realizada na fasefinal de desenvolvimento da metodolo-gia, essa consultoria teve por objetivosdiscutir, sob diferentes ângulos e opi-niões, experiências e avanços na áreade avaliação de literatura científica etambém oferecer ao projeto subsídiossobre a condução futura do módulode relatórios de uso e de indicadoresbibliométricos.

A quinta e última instância de controlee avaliação realizou-se com a apre-sentação e divulgação do projeto emreuniões nacionais e internacionais nasáreas de informação e de comunicaçãocientífica. Apesar de não representar ummecanismo formal de avaliação, os de-bates que ocorreram em torno da pro-posta e a aprovação de diferentes públi-cos constituíram uma retroalimentaçãopositiva para o projeto.

Finalmente, foi desenvolvido umsegundo site na Internet com afinalidade de documentar e tornar públicoo desenvolvimento do projeto, assimcomo receber críticas e sugestões(http://www.scielo.br/fbpe/projeto/pmain.htm).

PRODUTOS DO PROJETO:A METODOLOGIA SciELO E O SITESciELO

Produto principal do projeto, a Meto-dologia SciELO é um conjunto denormas, guias, manuais, programas decomputador e procedimentos operacio-nais dirigidos à preparação de textos deperiódicos científicos em formatoeletrônico, incluindo, entre outras, asseguintes funções: armazenamento detextos estruturados em bases de dados,publicação dos periódicos na Internet ouem outros meios, recuperação de artigose outros textos por seu conteúdo,produção regular de relatórios de uso eindicadores bibliométricos, aprimora-mento de critérios para a avaliação daqualidade de periódicos e o desen-volvimento de procedimentos e políticaspara a preservação de publicaçõeseletrônicas. A aplicação modelo dametodologia é o site SciELO.

SciELO: uma metodologia para publicação eletrônica

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Módulo DTD

Módulo Conversores

Base de Dados

1

Módulo MarcaçãoTexto

2 3

Módulo Relatórios

Internet CD-ROM

5

Módulo Interface4

A Metodologia SciELO constitui, por umlado, uma resposta à demanda de edi-tores científicos por soluções confiáveispara a publicação eletrônica de seusperiódicos que sejam compatíveis comas iniciativas internacionais mais impor-tantes; por outro lado, atende a umaantiga demanda referente à operação debases de dados bibliográficos para nãoapenas controlar e disseminar a litera-tura científica, mas também permitir aprodução de indicadores para subsidiarestudos de bibliometria, informetria ecienciometria sobre a produção científi-ca nacional relevante. Ao se projetarcomo solução comum para ser adotadapela comunidade de editores científicos,a aplicação da Metodologia SciELO naoperação de bases de dados de cole-ções de periódicos científicos na Inter-net contribuirá para o aumento da visibi-lidade das publicações, evitará a multi-plicação de periódicos eletrônicos in-compatíveis entre si e facilitará o con-trole bibliográfico, a manutenção e apreservação das coleções.

A aplicação da metodologia consiste notratamento de textos de periódicoscientíficos mediante seus cinco módu-los (figura 1).

Os módulos DTD, de Marcação e Con-versores (números 1 a 3) são operadosem computadores de mesa com siste-ma operacional Windows (95 e NT). Osmódulos Interface e de Relatórios (4 e5) podem ser operados nos sistemasoperacionais Windows (95 e NT) e UNIXe também em diferentes equipamentos.

• Módulo DTD

Esse módulo é formado por um conjun-to de DTDs (Document Type Definition,ou Definição de Tipos de Documento),baseado nas normas ISO 8879/86(Standard General ized MarkupLanguage – SGML16), ISO 12083/94(Electronic Manuscript Preparation andMarkup17) e também em DTDs, como asda Elsevier Science (Poppelier18) e doEuropean Group on SGML19.

SGML é a metalinguagem padrão daISO (International Organization for Stan-dardization) usada para a definição delinguagens de marcação de textos ele-trônicos, possibilitando o intercâmbio ea distribuição de documentos nos maisvariados formatos, a partir de uma mes-ma fonte de dados. Ou seja, a SGMLpermite que o texto processado nessepadrão seja convertido em um arqui-vo independente das plataformas dehardware, software, bases de dadose meios de transporte em que são ouvenham a ser operados, assim como tor-na possível a integração de textos comoutros tipos de suportes ou entidadesarmazenados separadamente, comoimagens, som e vídeo.

Com base nessa metalinguagem, foramelaboradas as DTDs SciELO que des-crevem a estrutura de artigos e outrostextos de periódicos científicos, identi-ficando e definindo de forma precisa suaestrutura e os elementos bibliográficosconstituintes, o contexto em que apa-recem, sua obrigatoriedade e seus atri-butos. As DTDs são utilizadas para adescrição e tratamento computadoriza-do de textos.

Além de compatíveis com similares in-ternacionais, as DTDs SciELO definemos elementos bibliográficos de acordocom um conjunto de normas de docu-mentação e informação, como as daISO, da Associação Brasileira de Nor-mas Técnicas (ABNT) e do VancouverGroup, Normas Anglo-Americanas deCatalogação (AACR2) etc. Outra carac-terística importante que diferencia asDTDs SciELO de outras linguagens si-milares é a sua flexibilidade na estrutu-ração dos textos, de modo a atenderaos modelos de publicação praticadoshá anos pelos periódicos científicos bra-sileiros.

As DTDs SciELO são três, denomina-das Serial, Article e Text. Em conjunto,descrevem todos os elementos-chavedos textos de periódicos. Assim, a Se-rial descreve um fascículo de periódicocomo um todo, incluindo histórico doperiódico, corpo editorial, instruçõespara os autores e sumário; a Articledescreve os elementos bibliográficos deum artigo científico; e a Text define ou-tros tipos de texto como editoriais, car-tas ao leitor e obituários.

FIGURA 1Diagrama de fluxo de dados entre os módulos da Metodologia SciELO

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A DTD SciELO Article divide a estruturade um artigo científico em três grandesblocos: front, body e back (represen-tados graficamente em seu nível 1 nafigura 2). O front é também dividido emtrês grandes grupos: título, autor e in-formações bibliográficas complementa-res (resumo, palavras-chave, históricoetc.). O body é composto pelo textocompleto do artigo. Finalmente, o backé composto pelo grupo de informaçõesbibliográficas complementares e pelasreferências bibliográficas seguindo dife-rentes normas, além de um grupo dis-tinto para as referências que não obe-decem a norma alguma.

A figura 3 detalha o segmento da DTDque contém as informações necessá-rias para a identificação do grupo de tí-tulo. A figura 4 mostra como a descri-ção dessa mesma estrutura é feita naDTD Article, de acordo com a SGML.

Para a marcação do texto completo doartigo, é usada a DTD HTML para asse-gurar a apresentação e a operação dodocumento na Internet / Web, hoje e nofuturo. A utilização dessa DTD permitetambém que cada editor defina o estilode apresentação de sua revista, man-tendo a individualidade gráfica das pu-blicações. Assim, enquanto a HTMLestá orientada para a apresentação de(hiper)textos na Internet, as DTDsSciELO têm por objetivo identificar oselementos do conteúdo dos textos.Além do uso de DTDs, é possível tam-bém a apresentação de textos em ou-tros formatos, como o PDF.

• Módulo de Marcação

Esse módulo é composto pelos progra-mas de computador Markup e SGMLParser, cuja finalidade é auxiliar o pro-cesso de marcação dos textos utili-zando as DTDs SciELO. O programaMarkup é uma interface criada parapossibilitar a identificação visual e a mar-cação manual e automática dos blocos,grupos e elementos individuais de umtexto, de acordo com as DTDs SciELO.A marcação desses componentes re-cebe o nome de tags (rótulos, marcas).Por exemplo, a tag para identificar oautor é <author>; a que identifica o títu-lo é <title> etc. Essas tags delimitamos textos.

article front titlegrp %m.title

authgrp author (role= rid=) %m.name

corpauth %m.org

bibcom %m.bib

body

back bbibcom %m.bib

vancouv (standard= count=) %m.van

iso690 (standard= count=) %m.iso

abnt6023 (standard= count=) %m.abnt

other (standard= count=) %m.other

+ %i.float

FIGURA 2Estrutura geral da DTD SciELO Article para artigos de periódicos eletrônicos

article front titlegrp title (language=)

subtitle

… …

FIGURA 3Diagrama do segmento do grupo de título da DTD SciELO Article

<!ELEMENT article - - (front, body, back?) +(%i.float;)>

<!ELEMENT front - - (titlegrp, authgrp?, bibcom?)>

<!ELEMENT titlegrp - - (%m.title;)+>

<!ENTITY %m.title “title, subtitle?”>

<!ELEMENT title - - CDATA>

<!ATTLIST title

language CDATA #REQUIRED>

<!ELEMENT subtitle - - CDATA>

FIGURA 4Descrição do grupo de título da DTD SciELO Article, de acordo com a SGML

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O programa Markup opera com o pro-cessador de texto MS-Word e foi de-senvolvido com a linguagem VisualBasic for Application. Ao ser ativada,essa interface apresenta uma barra deferramentas contendo os rótulos dos ele-mentos que se aplicam ao primeiro ní-vel de estruturação do texto. Ao finali-zar a marcação inicial, a interface atua-liza a barra de ferramentas, mostrandoos rótulos dos elementos corresponden-tes ao próximo nível e assim sucessiva-mente. Desse modo, garante-se a inte-gridade da marcação com a respectivaDTD. A figura 5 mostra um grupo de ele-mentos do título após receber a marca-ção baseada na DTD SciELO Article.

O processo de marcação obedece aoseguinte procedimento: identificação vi-sual do elemento, seleção física do ele-mento no texto com o auxílio do cursore escolha (clicando com o mouse) dorótulo correspondente na barra de ferra-mentas. Ao clicar um rótulo, o progra-ma insere no texto a marca de início ea marca de fim do elemento. Para facili-tar a visualização do texto, as marcasaparecem em cores diferentes. Finali-zado o processo, o programa Markuparmazena o texto marcado em um ar-quivo no formato HTML.

A interface também foi programada paraimpedir que o operador modifique o tex-to, assegurando a sua integridade. Emais: quando as referências bibliográfi-cas obedecem fielmente a uma norma,o processo de marcação de seus ele-mentos é feito automaticamente peloprograma. O uso dessa facilidade reduzsignificativamente o tempo de marcaçãode um artigo, agilizando o processo deprodução eletrônica de uma revista. Otempo médio de marcação de um artigoé de 84,36 minutos, aplicando a marca-ção manual das referências bibliográfi-cas, para um universo de 551 artigoscontendo 12.895 referências, uma mé-dia de 23,40 referências bibliográficas porartigo. Entretanto, esse tempo é reduzi-do a 47,81 minutos com a marcaçãoautomática das referências bibliográficas.Desse modo, a marcação de um fascí-culo contendo 15 artigos pode variar de11,95 horas a 21,09 horas, dependendoexclusivamente da apresentação norma-lizada das referências. Esses númerosnão incluem o tempo de preparação dotexto em HTML, que pode variar de edi-tor para editor e de artigo para artigo.

O SciELO SGML Parser (SSP) é o pro-grama do Módulo de Marcação – ba-seado no programa SP de domínio pú-blico desenvolvido por James Clark(SP20) –, utilizado para validar os textosmarcados com as DTDs SciELO. Parafacilitar a sua operação, o programa foitransformado em uma biblioteca de fun-ções de carga dinâmica, que é utilizadaem diferentes programas da Metodolo-gia SciELO, possuindo também uma in-terface gráfica desenvolvida em VisualBasic. Os textos validados pelo SSP es-tão aptos para o processamento noMódulo Conversores.

• Módulo Conversores

O Módulo Conversores reúne os progra-mas de computador que operam os pro-cessos relacionados com a base dedados de produção dos periódicos ele-trônicos. Essa base de dados inclui,entre outras entidades, a descrição bi-bliográfica de títulos de periódicos, adescrição dos números individuais des-ses periódicos já incorporados à biblio-teca e os textos completos desses nú-meros. Enquanto o Módulo de Marca-ção trata textos individualmente, o Mó-dulo Conversores trata da integração detextos em seu respectivo volume e nú-mero.

O programa Config é utilizado para ainclusão e a manutenção dos registrosde descrição dos títulos de periódicose de seus fascículos individuais. As es-truturas dos registros gerados peloConfig seguem a DTD Serial. O progra-ma Conversor gera fascículos indivi-duais de periódicos eletrônicos estrutu-rados em uma base de dados. O textoeletrônico de cada um dos artigos quefazem parte de um fascículo é proces-sado e armazenado na base de dados.

O Módulo Conversores inclui também oprocesso de validação e normalizaçãodos títulos de periódicos citados nasreferências bibliográficas, de acordocom o registro de títulos do ISSN Cen-ter. Essa normalização é indispensávelpara o bom funcionamento do Módulode Relatórios, especialmente em rela-ção aos indicadores bibliométricos. Étambém indispensável para o estabele-cimento de conexões internas e exter-nas à SciELO.

Finalmente, esse módulo inclui os pro-cessos que permitem a transferênciadas bases de dados locais, assim comode entidades externas aos textos (ima-gens, vídeo, som), para o servidor queopera o Módulo Interface. Os registrosdas bases de dados operadas no Mó-dulo Conversores obedecem ao formatoISIS, e os programas Config e Conver-sor são programados em Visual Basic,utilizando a biblioteca de programaçãoISIS_DLL (Bireme21).

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[article pii=nd doctopic=oa language=en ccode=br1.1 status=1 version=2.0 type=figorder=20 seccode=BJG090 stitle=”Braz. J. Genet.” volid=21 issueno=1dateiso=19980300 issn=1415-4757]

[front][titlegrp]

[title language=en]Sunkifolias and Buxisunkis[/title] :[subtitle]Sexually obtained reciprocal hybrids of Citrus sunki xSeverinia buxifolia[/subtitle]

[/titlegrp]…

[/front]…

[/article]

FIGURA 5Exemplo de texto marcado segundo a DTD SciELO Article

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• Módulo Interface

Reúne todos os processos relativos àcriação, manutenção e operação de umperiódico ou uma coleção de periódicosno protocolo de hipertexto World WideWeb (WWW) da Internet, denominadoHypertext Transfer Protocol (http). Omódulo opera, assim, no ambiente pa-drão da Internet, conformado por um sis-tema-servidor de Web e por um siste-ma-cliente de Web (browser), o que per-mite à interface acompanhar a evoluçãoque venha a ocorrer nos servidores, nosbrowsers ou no protocolo http.

Os dados de entrada do Módulo Interfa-ce são obtidos dos processos do Mó-dulo Conversores e do Módulo de Rela-tórios. O modelo de dados da interfaceinclui, como seu componente central, abase de dados dos textos eletrônicos,a qual integra todos os outros compo-nentes de dados da interface, incluindobases de dados auxiliares, arquivos desuportes diferentes de texto (imagens,vídeo e som), arquivos em formato PDF(Portable Document Format) etc. A basede dados central é operada pelo servi-dor WWWISIS (Bireme22) através do dis-positivo padrão CGI (Common Ga-teway Interface).

A interface de navegação ou operaçãoda SciELO compreende dois contextosprincipais: uma coleção de periódicos eo periódico individual. Pode ser configu-rada para operar em diferentes idiomase estilos gráficos e, também, com dife-rentes normas bibliográficas para a apre-sentação de legendas e de referênciasbibliográficas.

Navegando pelo contexto da coleção oubiblioteca (figura 6), é possível chegaraos periódicos consultando listas alfa-béticas de títulos e de assuntos, assimcomo por meio de um formulário de pes-quisa, ou ainda chegar aos artigos me-diante pesquisas por autor, assunto oupor termos gerais e específicos. A in-terface integra igualmente o contextopara o acesso aos relatórios de uso ede indicadores bibliométricos.

No contexto periódico e a partir da pá-gina principal de um título (figura 7), épossível ter acesso a informações bási-cas sobre a revista, como o corpo edi-torial, instruções aos autores, assina-tura etc. A navegação permite acesso à

FIGURA 6Site SciELO – Página principal

FIGURA 7Site SciELO – Página principal de um periódico

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coleção de volumes e fascículos dispo-níveis na biblioteca (figura 8), aos su-mários do número corrente ou anterior(figura 9) e aos artigos individuais emformato HTML (figura 10, a seguir) e, sedisponível, em formato PDF. É possíveltambém pesquisar artigos pelos nomesdos autores, palavras do título, palavras-chave etc. (figura 11, a seguir).

A SciELO poderá ser operada emCD-ROM ou DVD-ROM para atender aambientes isolados da Internet ou comconexões de baixa velocidade, seja umarede local ou mesmo uma estação detrabalho individual.

• Módulo de Relatórios

Reúne os procedimentos automatizadospara a produção de indicadores de usodos periódicos eletrônicos baseados nosregistros de acesso à biblioteca, bemcomo de indicadores bibliométricos ba-seados nos registros bibliográficos dosartigos e nos registros bibliográficos dascitações bibliográficas neles contidas.Os relatórios aplicam-se a uma coleçãode periódicos, a subconjuntos de perió-dicos ou a títulos individuais.

As estatísticas de uso das diversas pá-ginas da interface SciELO são elabora-das com base no registro detalhado dosacessos efetuados pelos usuários, queé feito pela própria interface. Esse re-gistro permite conhecer a origem doacesso (quem) e o tempo de uso (quan-to). Essas estatísticas têm valor par-cial nos casos em que um determinadoperiódico se encontra em um site in-compatível com a SciELO. É possível,entretanto, acumular os registros deacesso quando um periódico é publica-do em diferentes sites que utilizam aMetodologia SciELO, como no caso deservidores espelhos.

Os indicadores bibliométricos são cal-culados tendo por base o universo dasrevistas incluídas em uma determinadabiblioteca ou um periódico individual. Ocálculo é feito a partir dos elementosbibliográficos marcados nos artigos dosperiódicos científicos, por exemplo, onome de autores, títulos de revistas,tipo de documento (artigo original ou derevisão, editorial etc). Os indicadoresbibliométricos adotados como padrãopela Metodologia SciELO são equivalen-tes aos do Journal Citation Reports pu-

blicados pelo ISI, embora outros indica-dores possam vir a ser incluídos futura-mente para atender a necessidadesespecíficas da comunicação científicabrasileira. No caso do Projeto SciELO,os indicadores incluirão não apenas ascitações registradas em sua base dedados, mas também aquelas registra-das na base de dados do Institute forScientific Information. Dessa forma, osindicadores bibliométricos gerados pelaSciELO são compatíveis com os gera-dos pelo ISI, tornando possível a reali-zação de estudos comparativos entre as

revistas da SciELO e as revistas incluí-das na base de dados do ISI.

DISCUSSÃO

A concepção modular da MetodologiaSciELO facilitou a pesquisa e a produ-ção dos resultados finais, dotando a suadistribuição, manutenção e desenvolvi-mento futuro com alto grau de flexibili-dade. O Módulo de Marcação, porexemplo, pode ser operado de formadescentralizada pelos próprios editoresou por centros de edição geográficos ou

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FIGURA 8Site SciELO – Página de acesso aos fascículos disponíveis de um periódico

FIGURA 9Site SciELO – Página contendo o sumário de um fascículo

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temáticos capacitados a processar vá-rios títulos de periódicos. Nesse caso,os textos marcados podem ser envia-dos ao centro ou centros que operambibliotecas on-line.

Outro exemplo é a operação indepen-dente do Módulo Interface com o usodos chamados servidores espelhos oucom a publicação de periódicos emCD-ROM ou DVD-ROM. Ao mesmotempo, o caráter modular da Metodo-logia SciELO contribui para diminuir asua complexidade e flexibilizar o seu ge-renciamento, incluindo a correção de er-ros, a atualização de componentes desoftware e o aperfeiçoamento da sua efi-ciência e operação. É possível, também,melhorar continuamente o desenhográfico e a navegabilidade da interfaceatual, sem qualquer interferência nosdados e na sua organização.

Outro aspecto que diferencia a Metodo-logia SciELO refere-se ao tratamentodos textos. A identificação e a estrutu-ração precisa dos elementos bibliográ-ficos de artigos e de outros textos combase em DTDs agregam ao periódicoeletrônico enorme potencial como recur-so de informação. Entre outros, desta-cam-se:

a) Os artigos eletrônicos são geradossimultaneamente com o seu registrobibliográfico, racionalizando o processotradicional de controle bibliográfico e deindexação dos periódicos em papel, oque permite notável redução de tempopara a sua disseminação através dasbases de dados bibliográficas. Uma ex-perimentação desse aspecto está sen-do realizada com os periódicos da áreade ciências da saúde que participam daSciELO: após a marcação e a estrutu-ração dos artigos, o registro bibliográfi-co é enviado para a unidade de indexa-ção da Bireme, que completa o registrocom descritores controlados e o trans-fere para a base de dados Lilacs. Essaintegração assegura que o conjunto deperiódicos científicos em ciências dasaúde é recuperável, independente-mente de seu suporte. Ao mesmo tem-po, os registros bibliográficos dosperiódicos indexados na base de dadosMEDLINE serão transferidos via Internetpara o sistema PubMed, que é operadopela National Library of Medicine dosEstados Unidos. A redução do tempode disseminação dos artigos será ex-

traordinária, comparada com o proces-so atual de indexação das publicaçõesem papel. No caso da MEDLINE, esti-ma-se uma redução entre quatro a dezmeses! Como esses registros bibliográ-ficos incluem automaticamente os apon-tadores para o texto completo, assegu-ra-se, de modo íntegro, a conexão en-tre as citações recuperadas das basesde dados bibliográficos e os respecti-vos textos armazenados na SciELO. Aaplicação desse procedimento poderáser estendida a qualquer periódico ele-trônico processado pela Metodologia

SciELO e indexado em bases de dadosbibliográficos nacionais e internacionais.

b) A indentificação precisa dos elemen-tos bibliográficos permite que os textosarmazenados em bases de dadosSciELO sejam enriquecidos com a ge-ração automática de conexões a outrostextos, internos e externos à SciELO,como é o caso dos apontadores dasreferências bibliográficas dos artigospara os respectivos registros bibliográ-ficos ou textos completos. O ProjetoSciELO planeja a operação de conexões

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FIGURA 10Site SciELO – Página contendo o texto completo de um artigo

FIGURA 11Site SciELO – Índice de autor

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automáticas com as seguintes basesde dados: Web of Science, Lilacs,MEDLINE, HighWire Press, consórciode publicações eletrônicas internacio-nais em São Paulo etc. Ao viabilizaressas conexões, a MetodologiaSciELO integra os periódicos brasilei-ros nas bibliotecas científicas virtuais in-ternacionais.

c) A partir dos textos estruturados embases de dados, será possível a produ-ção de novos relatórios de uso e de im-pacto, além dos já produzidos pela Me-todologia SciELO, de modo a atender anecessidades específicas de estudosbibliométricos e informétricos.

Embora a Metodologia SciELO possaser aplicada na criação e na operaçãode versões eletrônicas de periódicos in-dividuais, a experência com a bibliote-ca experimental do Projeto SciELO si-naliza uma série de vantagens em favorda produção de bibliotecas eletrônicasou de coleções de periódicos, corrobo-rando algumas das hipóteses do proje-to, dentre as quais, destacam-se:

a) a operação centralizada de periódi-cos eletrônicos viabiliza economicamen-te e acelera a transição para a publica-ção eletrônica, pois minimiza as implan-tações locais por parte dos editores;

b) ao mesmo tempo em que evita a pul-verização de soluções incompatíveis, abiblioteca facilita a preservação e acriação de coleções espelhos, assimcomo possibilita a sincronização e acompatibilidade de dados com os avan-ços no campo da publicação eletrôni-ca. Assim, é possível copiar a bibliote-ca em meios óticos ou outros suportesque venham a ser criados no futuro;

c) as bibliotecas tradicionais, com seusserviços de referência, terão acesso acoleções integradas de periódicos queadotam a mesma interface de operação,facilitando e barateando o processo deintermediação de acesso;

d) a biblioteca agrega valor ao tempo dousuário final, ao minimizar os esforçospara atender a suas necessidades deinformação.

Por outro lado, a primeira fase do proje-to apontou uma série de questões edemandas que deverão ser abordadas

e solucionadas pela MetodologiaSciELO e por suas aplicações. Entreoutras, destacam-se:

a) aperfeiçoamento dos critérios quedeverão orientar a seleção de periódi-cos para inclusão e permanência naSciELO. Inicialmente, foram adotadosos critérios de avaliação de periódicosda Fapesp (tema do artigo Avaliação deperiódicos científicos e técnicos brasi-leiros, de R. F. Krzyzanowski e M. C.G. Ferreira, publicado neste fascículo daCiência da Informação). À medida quea biblioteca SciELO acumule uma mas-sa crítica de dados, será possível medirmais precisamente não apenas as va-riáveis de forma e de conteúdo dos perió-dicos, mas também o seu impacto rela-tivo em nível nacional e internacional;

b) desenvolvimento de um modelo eco-nômico que atenda aos objetivos daSciELO e às necessidades de financia-mento para a produção dos periódicosparticipantes. Certamente, em um pri-meiro momento, a publicação gratuitados periódicos na Internet facilitará a suadiseminação e acessibilidade, mas exi-girá mecanismos complementares definanciamento para as revistas. Os re-cursos financeiros poderão ser mobili-zados a partir da combinação de dife-rentes fontes, como as agências de apoioa pesquisas, as organizações respon-sáveis pelas revistas, o patrocínio deempresas privadas etc. Poderá ocorrertambém uma combinação de recursoscom uma política de preços baixos. Porúltimo, a busca de uma operação pro-gressivamente auto-sustentada. A defi-nição desse modelo econômico represen-ta um dos grandes desafios futuros parao projeto e sua formulação deverá contarcom o aporte de todos os seus agentes;

c) conversão das coleções dos periódi-cos integrantes da SciELO impressosem papel nos últimos dez anos para oformato eletrônico. Essa conversãocriaria de imediato uma biblioteca digi-tal com massa crítica suficiente para arealização de estudos sobre o conjuntoda produção científica brasileira relevan-te, contribuindo também para a sua pre-servação, além de promover a sua visi-bilidade universal. A perspectiva que aMetodologia SciELO abre com relaçãoao uso dessas coleções justifica plena-mente o investimento de recursos parasua concretização;

d) a avaliação da produção científica dospaíses da América Latina e Caribe per-manece ainda com uma questão: a re-gião requer indicadores próprios à ciên-cia local, ou são suficientes os indica-dores consagrados nos países desen-volvidos, mais particularmente os pro-duzidos pelo ISI?

e) aperfeiçoamento do tratamento dedados implantado pela MetodologiaSciELO, entre outros: 1) uso da Exten-sible Markup Language (XML) – Lingua-gem Extensível de Marcação, comocomplemento ou mesmo em substitui-ção à SGML. A XML, aprovada pelo W3Consortium (Goldfarb23), é um subcon-junto simplificado da SGML e se proje-ta como padrão de uso universal naInternet para o tratamento de conteúdode textos, sendo que a apresentaçãodos textos continua dirigida pelo padrãoHTML. A incorporação da XML pelaMetodologia SciELO não somente sig-nificaria uma sincronização com osavanços da publicação eletrônca, mastambém a possibilidade de utilização deinúmeros componentes de software queestão ou serão desenvolvidos, como éo caso dos elementos individuais e defórmulas matemáticas, hoje convertidosem imagens para viabilizar sua exibiçãoatravés do HTML;

f) extensão da Metodologia SciELO parasua aplicação a outros tipos de literatu-ra, incluindo monografias, teses, anaisde congressos etc., o que ampliaria autilidade e as contribuições da metodo-logia e aumentaria significativamente acobertura das conexões entre textos.

Um dos fatores cruciais no desenvolvi-mento da Metodologia SciELO foi a par-ticipação e contribuição dos editorescientíficos, assegurando a sua aplica-ção a um variado número de situações,incluindo organização e formato de tex-tos eletrônicos, padrões de apresenta-ção de artigos científicos e de referên-cias bibliográficas. O projeto evidencioutambém problemas clássicos (ou crôni-cos) da comunicação científica brasilei-ra, caso da periodicidade regular e daobediência a padrões bibliográficos na-cionais ou internacionais. A bibliotecaSciELO, ao mesmo tempo em que exa-cerba esses problemas, certamentecontribuirá para a sua superação.

SciELO: uma metodologia para publicação eletrônica

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CONCLUSÕES

A Metodologia SciELO se apresentacomo uma solução eficiente, flexível eampla para a publicação científica ele-trônica. Sua aplicação no site SciELO,a aprovação que tem recebido de dife-rentes setores envolvidos na comunica-ção científica nacional e internacional eas perspectivas de seu aperfeiçoamen-to futuro sustentam esta conclusão.

A Metodologia SciELO possui as con-dições para ser adotada como metodo-logia comum não somente para a publi-cação eletrônica brasileira, mas tambémpara a América Latina e Caribe. Nessesentido, a Bireme já adotou essa meto-dologia como solução para a publica-ção eletrônica em ciências da saúde naAmérica Latina e Caribe em sua propos-ta de construção da Biblioteca Virtualem Saúde (Packer e Castro24). Por ou-tro lado, a experiência positiva resultanteda parceria entre a Fapesp, a Bireme eos editores científicos, envolvendo todasas áreas do conhecimento, deverá re-petir-se em outros países latino-ameri-canos e no Caribe. Um projeto nessesentido já está em andamento no Chile(como abordado em Avaliação da pro-dução científica como instrumento parao desenvolvimento da ciência e da tec-

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Abel Laerte Packer, Mariana Rocha Biojo-ne, Irati Antonio, Roberta Mayumi Take-naka, Alberto Pedroso García, Asael Cos-ta da Silva , Renato Toshiyuki Murasaki ,Cristina Mylek, Odila Carvalho Reis, Háli-da Cristina Rocha F. Delbucio.

Equipe executiva, [email protected]

SciELO: a methodology forelectronic publiszhing

Abstract

It describes the SciELO Methodology –Scientific Electronic Library Online forelectronic publishing of scientificperiodicals, examining issues such as thetransition from traditonal printed publicationto electronic publishing, the scientificcommunication process, the principleswhich founded the methodology development,its application in the building of the SciELOsite, its modules and components, the toolsused for its construction etc. The article alsodiscusses the potentialities and trends forthe area in Brazil and Latin America, pointingout questions and proposals which shouldbe investigated and solved by themethodology. It concludes that the SciELOMethodology is an efficient, flexible and widesolution for the scientific electronicpublishing.

Keywords

SciELO – Scientific Electronic LibraryOnline; Electronic publishing.

nologia, de Anna Maria Prat, publicadoneste fascículo da Ciência da Informa-ção). A implantação da metodologia emoutros países está em discussão.

Com relação ao Brasil, o ProjetoSciELO, em sua segunda fase, propõeavançar rumo à operação de 70 a 100periódicos em uma biblioteca científicabrasileira, com alta visibilidade nacionale internacional e com uma produção pe-riódica de indicadores para estudos bi-bliométricos, informétricos e cienciomé-tricos.

SciELO: uma metodologia para publicação eletrônica

Ci. Inf., Brasília, v. 27, n. 2, p. 109-121, maio/ago. 1998