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1 As Reformulações necessárias para o Plano Diretor da Marinha do Brasil se adequar ao Plano Plurianual 2012-2015 do Governo Federal: Uma Proposta de transformação do Plano Diretor no Plano Plurianual da Marinha Autoria: José Jorge Blanco da Fonseca Junior Resumo O objetivo deste artigo é identificar as reformulações necessárias para o Plano Diretor da Marinha do Brasil se adequar às mudanças do Plano Plurianual 2012-2015 do Governo Federal. Para atingir tal objetivo foram realizadas pesquisas exploratória e descritiva, com coleta de dados através de levantamentos bibliográfico e documental, visando analisar as estruturas de planejamento da Marinha e do governo e, com isso, evidenciar o desalinhamento estrutural existente. A partir dessa análise conclui-se que a Marinha precisa desenvolver um planejamento de quatro anos com uma estrutura similar a do plano federal, transformando o seu Plano Diretor em um plano plurianual.

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As Reformulações necessárias para o Plano Diretor da Marinha do Brasil se adequar ao Plano Plurianual 2012-2015 do Governo Federal: Uma Proposta de transformação do

Plano Diretor no Plano Plurianual da Marinha

Autoria: José Jorge Blanco da Fonseca Junior

Resumo O objetivo deste artigo é identificar as reformulações necessárias para o Plano Diretor

da Marinha do Brasil se adequar às mudanças do Plano Plurianual 2012-2015 do Governo Federal. Para atingir tal objetivo foram realizadas pesquisas exploratória e descritiva, com coleta de dados através de levantamentos bibliográfico e documental, visando analisar as estruturas de planejamento da Marinha e do governo e, com isso, evidenciar o desalinhamento estrutural existente. A partir dessa análise conclui-se que a Marinha precisa desenvolver um planejamento de quatro anos com uma estrutura similar a do plano federal, transformando o seu Plano Diretor em um plano plurianual.

                                   

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1 Introdução A estratégia de desenvolvimento que o governo brasileiro implementou nos últimos oito

anos, baseada principalmente no consumo de massa e na manutenção da estabilidade econômica, através de políticas de inclusão social e de investimentos em infraestrutura, ocasionou uma nova consciência de planejamento governamental, que visa não somente a eficiência do dispêndio público, mas também a eficácia e a efetividade da ação de governo, condizentes com os fundamentos e os objetivos do país declarados na Constituição Federal (CF) de 1988 (BRASIL, 2011).

Com o PPA 2012-2015, o Governo Federal decidiu romper com o modelo de integração entre plano, orçamento e gestão adotado nos planos plurianuais anteriores, introduzindo alterações significativas na estrutura e gestão adotada por esses últimos planos, com o objetivo declarado de proporcionar um caráter mais estratégico ao PPA, transformando-o efetivamente em um plano estratégico e tático de médio prazo que busca alcançar uma visão de futuro para o país por meio de programas temáticos. Essas mudanças na estrutura e na gestão do plano foram promovidas sob a justificativa de que o instrumento havia sido incorporado à lógica orçamentária, sendo incapaz de orientar decisões estratégicas e criar condições efetivas para a formulação, a gestão e a implementação das políticas públicas (BRASIL, 2011).

Desde 1963, a organização orçamentária e financeira da Marinha do Brasil (MB) possui como instrumento de planejamento, execução e controle e de caráter permanente, o Sistema do Plano Diretor (SPD), considerado eficaz e eficiente no auxílio à elaboração e ao controle do orçamento da instituição, há cinquenta anos (VALERIANO, 2009).

Entretanto, as contínuas e profundas mudanças nos instrumentos de planejamento e orçamento do governo tem exigido de todos os órgãos setoriais e suas unidades orçamentárias adaptações nos seus sistemas de planejamento e planos internos, como forma de falarem a mesma linguagem, possuírem a mesma estrutura, implementarem ações e de obterem o resultado esperado na programação (BRASIL, 2013d).

Situação confirmada por Valeriano (2009, p. 14) que diz: "A MB, comprometida com a gestão dos recursos públicos, de forma eficaz e transparente, busca harmonizar o seu planejamento orçamentário e financeiro com os Planos e Programas do Governo Federal".

Nesse sentido, o presente artigo se propõe a realizar uma análise das estruturas do Plano Diretor (PD) da Marinha e do PPA 2012-2015 do governo, bem como de literaturas e documentos especializados, para responder a seguinte questão: em virtude das mudanças proporcionadas pelo governo em sua forma de planejamento, gerando um desalinhamento estrutural entre o PD da MB e o seu plano plurianual corrente, quais reformulações são necessárias para o Plano Diretor da Marinha do Brasil se adequar às mudanças do PPA 2012-2015 do Governo Federal?

Desta forma, o objetivo deste trabalho é identificar as reformulações necessárias para o PD da Marinha se adequar às mudanças do Plano Plurianual 2012-2015 do governo, de modo a desenvolver um planejamento de quatro anos para essa instituição com uma estrutura similar a existente no plano federal, propondo assim a transformação do Plano Diretor no PPA da Marinha do Brasil.

Como objetivos específicos, destacam-se: identificar os principais marcos conceituais e características do PPA 2012-2015 do Governo Federal que o distinguem dos planos anteriores; evidenciar a atual correlação entre o Plano Diretor da Marinha e o PPA corrente do governo, e suas diferenças estruturais e documentais; identificar como as mudanças estruturais do Plano Plurianual 2012-2015 impactam o planejamento e a orçamentação da Marinha do Brasil; verificar a existência, no SPD, de algum documento específico da MB que contenha as informações plurianuais relativas aos seus programas, objetivos, metas e iniciativas para o período de 2012 a 2015, correspondentes às informações do PPA corrente; e

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levantar componentes balizadores e um método específico, de natureza estratégica, para a definição dos elementos de planejamento da Marinha.

Para atingir tais objetivos, utilizou-se como metodologia: a pesquisa exploratória, com o intuito de angariar informações relevantes para a MB reformular sua estrutura de planejamento, haja vista a existência de poucos dados disponíveis e de não haver trabalhos anteriores que abordem o tema deste estudo; e a pesquisa descritiva, visando descrever as características do PPA 2012-2015 e do Plano Diretor, assim como suas estruturas e variáveis (SANTOS, 2005). Como técnicas para coleta de dados, foram escolhidas as pesquisas bibliográfica e documental em livros, legislação, normas em vigor, monografias e artigos com informações pertinentes ao assunto, visando identificar o desalinhamento estrutural entre os planejamentos da MB e do governo (PINTO, 2010). Para tratamento e análise dos dados, foi utilizado o método sistêmico a partir de um enfoque qualitativo, objetivando identificar como as estruturas do PPA 2012-2015 e do PD devem se relacionar a fim de elucidar a questão proposta (ZAJDSNAJDER, 1992).

Esta pesquisa propõe a reformulação do Plano Diretor da Marinha do Brasil e sua transformação em um plano plurianual para quatro anos, alinhando assim o planejamento da Marinha ao planejamento do Governo Federal. Com isso, ela justifica-se no sentido de analisar a nova estrutura, elementos constitutivos e documentos do PPA 2012-2015, e a exigência de que a MB tenha um sistema de planejamento e orçamento adequado e capaz de fornecer informações necessárias à programação e ação do governo, de modo que, além de atender ao plano governamental, a MB disponha de um PPA que norteie o seu planejamento de médio prazo e a elaboração de seus orçamentos anuais.

A relevância desta pesquisa está em poder proporcionar uma melhor prestação de serviços pela MB para seu cliente final, ou seja, a sociedade brasileira, pois ao adequar a estrutura de seu planejamento à estrutura vigente no Governo Federal, seus gastos ficarão compatibilizados com os objetivos dos programas do Plano Plurianual 2012-2015 e com as finalidades das ações orçamentárias da Lei Orçamentária Anual (LOA) 2013, gerando assim resultados eficientes no que tange à segurança e ao bem-estar do país.

Assim, espera-se que ao identificar o desalinhamento estrutural entre os planejamentos da Marinha e do governo, sejam encontradas possíveis soluções para a MB se organizar, segundo seus objetivos permanentes e estratégicos, em planos estratégicos e táticos de médio prazo e executar melhor os recursos a ela alocados anualmente através da LOA. 

Como limitações do presente artigo, cabe ressaltar que teve como motivação principal apenas tentar apontar soluções estruturais, em níveis estratégicos e táticos, para reformulação do PD da MB e sua adequação ao PPA 2012-2015 do Governo Federal, atendo-se somente as suas estruturas, elementos constitutivos e documentos, e não se aprofundando nos aspectos referentes às suas dinâmicas e detalhes operacionais.

2 Referencial Teórico

O referencial teórico que informa a presente pesquisa está fundamentado nos temas Plano Plurianual do Governo Federal, PPA 2012-2015 e suas mudanças, Plano Diretor da Marinha do Brasil, e Balanced Scorecard e seu alinhamento estratégico.

2.1 Plano Plurianual do Governo Federal

O art. 165 da Constituição da República Federativa do Brasil prevê que as leis orçamentárias do Governo Federal são o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual, sendo as mesmas de iniciativa do Poder Executivo (BRASIL, 1988).

De acordo com Giacomoni (2005), essas leis inovaram ao trazerem diretrizes de grande significado para a gestão pública, valorizando o planejamento e obrigando a administração

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pública a elaborar planos de médio prazo com vínculos aos orçamentos anuais, que serão detalhados na LOA e incluirão todas as receitas e despesas orçamentárias no ano de referência, observando assim o princípio da universalidade previsto na CF de 1988.

O Plano Plurianual é uma lei que estabelece os programas, os objetivos, as metas e as iniciativas a serem realizadas pelo governo em médio prazo, ou seja, quatro anos. Em virtude de existirem obras, ações e projetos de governo conduzidos em um intervalo de tempo maior que um ano, a elaboração do PPA visa responder a essa necessidade, assegurando o planejamento e a transparência por meio de uma disciplina legal reguladora desses casos (SEGUNDO, 2003). Por isso, segundo Manhani (2004), caracteriza-se como crime de responsabilidade a não previsão no PPA, ou em lei que autorize sua inclusão, dos investimentos que ultrapassem o exercício financeiro.

Ele é o mecanismo no âmbito federal que prevê, de forma regionalizada, as diretrizes, os objetivos e as metas do governo para as despesas de capital e outras delas decorrentes, assim como para os dispêndios relativos aos programas de duração continuada, sendo a LOA o instrumento no qual o governo define as prioridades contidas no PPA e as metas que deverão ser atingidas em um determinado ano (BRASIL, 2012b).

De acordo com Sanches (2004), a Lei Orçamentária Anual é a lei que estima as receitas e fixa as despesas públicas, apresenta a política econômico-financeira e o Programa de Trabalho (PT), estabelecendo os instrumentos de flexibilidade que a administração pública fica autorizada a usar. Também é importante lembrar que a sua elaboração deve-se ater à LDO, ao PPA e à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que em conjunto estabelecem as regras do planejamento público (SILVA; AMORIM; SILVA, 2004).

O PPA, segundo Giacomoni (2005), “passa a se constituir na síntese dos esforços de planejamento de toda a administração pública, orientando a elaboração dos demais planos e programas de governo, assim como do próprio orçamento anual”.

Qualquer ação do governo está estruturada em programas voltados para a realização dos objetivos estratégicos estabelecidos para o período do PPA (BRASIL, 2012b). Esses programas resultam de demandas sociais e econômicas, assim como de diretrizes políticas, organizando a ação governamental para a solução de um problema (VALERIANO 2009).

A estruturação das ações do governo sob a forma de programas tem como finalidade proporcionar maior visibilidade aos resultados e melhorias geradas para a sociedade brasileira, assegurando a objetividade e a transparência à aplicação dos recursos públicos (ALBUQUERQUE; MEDEIROS; FEIJÓ, 2008). Portanto, segundo Gontijo e Araújo (2006), essas ações devem ser planejadas de forma a executar os recursos públicos com eficiência e qualidade, viabilizando a implementação de políticas públicas que atendam as reais necessidades da sociedade.

Segundo Valeriano (2009), o governo ao adotar esse plano tornou obrigatório que todas as suas ações e seu orçamento fossem planejados, objetivando não ferir as diretrizes nele contidas e, com isso, seus investimentos em programas estratégicos só são realizados se estiverem previstos no PPA do período vigente.

O PPA é flexível, podendo ser alterado em pontos específicos através de lei. Ele foi regulamentado pelo Decreto nº 2.829, de 29 de outubro de 1998, o qual prevê a sua busca contínua pela integração das várias esferas do poder público, e também destas com o setor privado, correspondendo a uma ferramenta política (VALERIANO, 2009).

2.2 PPA 2012-2015 e suas mudanças

O PPA 2012-2015 é o mecanismo de planejamento do governo que estabelece diretrizes, objetivos e metas com o intuito de promover a implementação e a gestão das políticas públicas, orientando a definição de prioridades e apoiando o desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2012a).

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Ele tem as seguintes diretrizes: garantir os direitos humanos; ampliar a participação social; promover a sustentabilidade ambiental; valorizar a diversidade cultural e a identidade nacional; obter excelência na gestão; garantir a soberania nacional; aumentar a eficiência dos gastos públicos; promover o crescimento econômico sustentável; e estimular a valorização da educação, da ciência e da tecnologia (BRASIL, 2012a).

De acordo com Navarro, Santos e Franke (2012), esse novo plano plurianual surgiu da fragilidade da estrutura dos planos anteriores em revelar aspectos do planejamento, o que ocasionava empecilhos para que fosse executada a tarefa de organizar, orientar e viabilizar a ação de governo, visando alcançar os objetivos fundamentais do país.

A lei do PPA 2012-2015 foi confeccionada baseando-se em prioridades pertencentes ao Programa de Governo. Dentre essas prioridades, destaca-se a Visão Estratégica, que indica em termos gerais o país almejado em um horizonte de longo prazo e estabelece, ainda, os Macrodesafios para o alcance dessa nova realidade de país (BRASIL, 2012b).

Uma das mudanças que o Plano Plurianual 2012-2015 apresenta em relação aos planos anteriores é ser formado por somente dois tipos de programas: temáticos, que são relacionados e focados nas políticas públicas, expressando e orientando a ação governamental para a entrega de bens e serviços à sociedade; e gestão, manutenção e serviços ao Estado, que são formados por despesas de caráter administrativo, expressando e orientando as ações destinadas ao apoio, gestão e manutenção da atuação governamental (NAVARRO; SANTOS; FRANKE, 2012).

O programa temático é composto por: objetivos, expressando o que deve ser feito e refletindo as situações a serem alteradas pela implementação de um conjunto de iniciativas; metas, medindo o alcance do objetivo e podendo ser de natureza quantitativa ou qualitativa; e iniciativas, declarando as entregas de bens e serviços à sociedade, resultantes da coordenação de ações governamentais, decorrentes ou não do orçamento, e relativas à integração de políticas (BRASIL, 2012a).

As iniciativas, segundo Navarro, Santos e Franke (2012) representam também o que deve ser realizado para os objetivos serem alcançados, indicando os meios e arranjos necessários para eles serem concretizados e, inclusive, atuando como metas intermediárias ou requisitos para a sua consecução.

O PPA 2012-2015, diferentemente dos planos anteriores, permite uma exposição mais qualificada dos dilemas e uma expressão mais clara dos desafios (objetivo e iniciativa) a serem observados, possibilitando a associação de metas aos objetivos (NAVARRO; SANTOS; FRANKE, 2012).

Uma evolução significativa desse novo PPA para os anteriores foi a redução da quantidade de programas e seus detalhamentos (NAVARRO; SANTOS; FRANKE, 2012). O quadro da Figura 1 apresenta essa redução bem como as diferenças estruturais entre ele e o PPA 2008-2011.

Figura 1 - Estrutura PLPPA 2008-2011 x PLPPA 2012-2015 Fonte: Navarro; Santos; Franke (2012).

Outra mudança ocorrida foi a extinção do binômio “Programa-Ação”, que estruturava tanto os planos plurianuais como os orçamentos, tornando a ação orçamentária uma categoria exclusiva da LOA. Com isso, define-se uma relação de complementaridade entre esses instrumentos, sem prejuízo à integração. Portanto, o PPA tem como foco a organização da

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ação de governo nos níveis estratégico e tático, e a LOA responde pela organização no nível operacional, sendo a relação formal entre eles caracterizada pela vinculação das ações orçamentárias às iniciativas (BRASIL, 2011).

A gestão do PPA 2012-2015 inovou ao distinguir a gestão tática da gestão operacional. Esse plano é estruturado nas seguintes dimensões: estratégica, baseada nos macrodesafios, que são associados individualmente a um conjunto de programas temáticos, e na visão de futuro do governo; tática, que visa o alcance dos objetivos definidos na dimensão estratégica, vinculando os programas temáticos para atingir os objetivos assumidos, que estão materializados pelas iniciativas expressas no plano; e operacional, relacionada ao desempenho da ação governamental, sendo tratada na LOA, e buscando a otimização na aplicação dos recursos disponíveis e na qualidade dos produtos entregues (BRASIL, 2011). Ele trata essas dimensões conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 2 - Dimensões do PPA 2012-2015 Fonte: Brasil (2011). 2.3 Plano Diretor da Marinha do Brasil

O Plano Diretor é um instrumento de planejamento, execução e acompanhamento, de caráter permanente, que define, orienta e acompanha as ações a serem empreendidas nos diversos escalões da Marinha, relacionadas à administração orçamentária e financeira, de modo a atender às necessidades da instituição com o máximo aproveitamento dos recursos disponíveis (BRASIL, 2013d).

De acordo com Oliveira (2000, p. 181): "O Plano Diretor pode ser descrito como o instrumento por meio do qual se busca proporcionar concretude aos objetivos contidos na Política Básica da Marinha".

Segundo Valeriano (2009), a origem do PD está atrelada as técnicas do orçamento-programa, cujas ideias de planejamento harmônico e integrado através da organização das ações de governo por meio de programas, foram conceituadas no ano de 1959 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e introduzidas no Brasil em 1964, por meio da Lei nº 4.320.

Sua criação buscava consolidar o planejamento e execução orçamentária da MB em um conjunto de planos setoriais anuais que englobavam suas atividades e investimento, e integravam objetivos, ações necessárias para a sua realização, dispêndios e ingressos orçamentários (OLIVEIRA, 2000).

Ao longo dos anos, o sistema sofreu várias modificações em sua estrutura e processos, sempre buscando se adequar às políticas de governo, e objetivando otimizar a execução e aperfeiçoar o controle do orçamento destinado a Marinha e, com isso, reduzir perdas (VALERIANO, 2009).

Conforme a norma da Secretaria-Geral da Marinha (SGM) denominada SGM-401 (2013), são propósitos do PD:

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- contribuir para a administração da MB, visando ao cumprimento de sua destinação constitucional; - condicionar processos e meios que visem à consecução de metas compatíveis com o Plano Estratégico da Marinha (PEM); - harmonizar o planejamento, a execução e o controle desenvolvidos na MB com o Plano Plurianual do Governo, seus Programas e Ações Orçamentárias decorrentes; - permitir a aplicação de recursos com eficiência, eficácia, efetividade e economicidade; - proporcionar a otimização na gestão dos recursos orçamentários da MB, maximizando o atendimento às demandas navais; e - propiciar continuidade administrativa, em todos os níveis organizacionais, no que tange ao planejamento, aplicação e controle dos recursos financeiros disponíveis (BRASIL, 2013d, p. 2-1).

O PD é condicionado por documentos que são os alicerces para a organização orçamentária da MB, cujas orientações e determinações são parâmetros para as metas da Marinha, assim como para os planejamentos e ações decorrentes, objetivando a adequação dos recursos escassos às demandas dos setores. Alguns deles são: Plano Plurianual, Lei Orçamentária Anual, Estratégia Nacional de Defesa (END), Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED), Plano Estratégico da Marinha e Orientações do Comandante da Marinha (BRASIL, 2013d).

A Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008, foca em ações estratégicas de médio e longo prazo, visando modernizar a estrutura nacional de defesa. Para isso, ela estabelece diretrizes e, em especial para a MB, objetivos estratégicos e táticos, atuando através de três eixos estruturantes: reorganização das Forças Armadas, reestruturação da indústria brasileira de material de defesa, e política de composição dos efetivos das Forças Armadas (BRASIL, 2008).

Segundo a Circular nº 1/2013 do Estado Maior da Armada, o Plano de Articulação e Equipamento de Defesa é um instrumento de planejamento e monitoramento que consolida todas as necessidades de investimentos da Defesa a médio e longo prazo, norteando assim os projetos de investimento da MB (BRASIL, 2013c).

O Plano Estratégico da Marinha estabelece as Diretrizes de Planejamento Naval (DiPNav), norteando e condicionando orientações e ações relacionadas, com o objetivo de preparar e aplicar estrategicamente o Poder Naval (BRASIL, 2013d).

Pelas Orientações do Comandante da Marinha (ORCOM) - 2013, que têm o propósito de apontar as principais ações a serem empreendidas em um determinado período, o PD deve se adequar ao PPA 2012-2015 e às ações orçamentárias da Lei Orçamentária Anual 2013 (BRASIL, 2013a).

Atualmente, o documento normativo do SPD é a SGM-401, denominada “Normas para a Gestão do Plano Diretor”, publicada pela Secretaria-Geral da Marinha, cujo propósito é a padronização da execução do Plano Diretor a partir identificação dos atores, da definição dos conceitos básicos, da estrutura, do funcionamento e das responsabilidades das organizações envolvidas nos processos de planejamento, execução e controle do SPD. Tal publicação consolida toda a documentação aplicável ao Sistema do Plano Diretor, sendo vedado o estabelecimento de normas complementares de caráter geral, com exceção as de natureza conjuntural (BRASIL, 2013d).

Como elementos constitutivos do Plano Diretor podem-se citar: metas, Plano de Metas (PM), Plano de Ação (PA), Ação Interna (AI), entre outros. Eles se caracterizam por serem instrumentos que permitem a concretização das atividades de planejamento, execução e controle, almejando atingir os objetivos determinados, e auxiliando o PD na condução de todas as atividades inerentes à gestão dos recursos orçamentários e financeiros da MB (BRASIL, 2013d).

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Metas visam delimitar os objetivos da MB em termos quantitativos e temporais, caracterizando-se assim como elemento central do PD (BRASIL, 2013d).

Planos de metas são instrumentos de planejamento, execução e controle das metas da Marinha segundo determinada atividade básica realizada por ela. Eles são compostos por ações internas e seus respectivos Planos Internos (PI), indicando neles os cronogramas de execução em vários exercícios e, portanto, contendo informações de planejamento plurianual (BRASIL, 2013d). Os planos de metas são demonstrados no gráfico da Figura 3.

Figura 3 - Demonstrativo dos Planos de Metas Fonte: Adaptado de Valeriano (2009).

Plano de ação é o conjunto das ações internas, ou parcelas destas, dos diversos planos de metas, as quais tenham sido consignadas dotações orçamentárias no exercício (BRASIL, 2013d). Segundo Oliveira (2000, p. 184): "o Plano de Ação (PA) é a parcela do Plano Diretor a ser executada em determinado exercício".

Ação interna é um instrumento de identificação, de forma clara e objetiva, das metas da Marinha do Brasil e de seus detalhamentos, correspondendo a um resultado a ser atingido e associado a apenas um par ação orçamentária/plano orçamentário (BRASIL, 2013d).

Com o advento da LOA 2013, a AI passou a ser composta por metas, submetas e fases. O conjunto das metas constituirá o "Cadastro de Metas da MB", sendo oriundas dos documentos condicionantes do PD, como também aprovadas pelo Comandante da Marinha. As submetas e fases correspondem às etapas/subetapas das metas, visando proporcionar um maior detalhamento e acompanhamento/controle das ações realizadas para seu alcance (BRASIL, 2013b).

A estrutura básica do Plano Diretor, conforme a norma SGM-401 (2013), é representada através da Figura 4.

Figura 4 - Estrutura do Plano Diretor Fonte: Elaboração própria.

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2.4 Balanced Scorecard e seu alinhamento estratégico O Balanced Scorecard foi desenvolvido pelos professores Kaplan e Norton, através de

seus estudos, no início da década de 1990. Ele tem como objetivo principal alinhar os interesses de longo prazo das organizações e traduzir suas missão e estratégias através de objetivos, metas, iniciativas e indicadores de desempenho, tornando-se um instrumento de mensuração e de definição de foco (MOITA, 2013).

A elaboração de um plano estratégico pode ser assimilada como um mapa de causa e efeito que interage com os processos das organizações em suas variadas dimensões (KAPLAN; NORTON, 2006). Nesse sentido, conforme Flores, Fachinell e Giacomello (2011), o BSC é apresentado como um instrumento de gestão capaz de promover o alinhamento estratégico entre os objetivos, estrutura, processos e recursos humanos, direcionando-os para o cumprimento da missão e alcance da visão de futuro das instituições.

O método Balanced Scorecard, de acordo com Kaplan e Norton (1997), vai além de um modelo de medidas táticas e operacionais, atuando como um instrumento para administrar a estratégia de longo prazo das organizações. Entretanto, ele pode também ser implementado, em locais específicos da estrutura dessas instituições, como iniciativa piloto, ou seja, dentro de um planejamento de mudança global, ou como um processo de reestruturação pontual, auxiliando no planejamento, estabelecimento de metas e alinhamento de iniciativas estratégicas (GALINDO, 2005). 3 Metodologia

A metodologia adotada para esta pesquisa é definida pelo tipo de pesquisa, pela técnica de coleta de dados e pelo método de tratamento e análise dos dados. 3.1 Tipo de Pesquisa

A presente pesquisa caracteriza-se como: exploratória, haja vista a existência de poucos dados disponíveis e de não haver trabalhos anteriores que abordem o tema deste estudo (SANTOS, 2005); e descritiva, visando observar, registrar, analisar, classificar e interpretar os dados pertinentes ao assunto pesquisado (GIL, 2006).

O estudo exploratório realizado tem como finalidade proporcionar maiores informações sobre como o Plano Diretor da Marinha do Brasil poderá se adequar às mudanças do PPA 2012-2015 do Governo Federal, angariando informações relevantes para a MB reformular sua estrutura de planejamento orçamentário e financeiro. Para tal, o mesmo desenvolve-se com o objetivo de proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca das estruturas do PD e do Plano Plurianual 2012-2015, visando à obtenção de resultados satisfatórios de pesquisa sobre o tema (GIL, 2006).

Por meio da pesquisa descritiva, de natureza qualitativa, descrevem-se as características do PPA 2012-2015 e do Plano Diretor, assim como suas estruturas e variáveis (SANTOS, 2005), com o objetivo de identificar os problemas de alinhamento estrutural entre os planejamentos da Marinha e do governo, bem como estabelecer as correlações existentes entre as variáveis que atuam neles, a fim de encontrar possíveis soluções para a MB se organizar e executar melhor os recursos orçamentários a ela alocados anualmente através da LOA (GIL, 1996).

3.2 Coleta de Dados

Como técnicas para coleta de dados, visando à formação de ideias para adequar o PD ao PPA 2012-2015, foram escolhidas as pesquisas: bibliográfica, através de levantamento e seleção de livros, monografias e artigos com informações pertinentes ao assunto; e documental, por meio da análise em lei, manual e orientações federais, e em normas, diretrizes e procedimentos internos da Marinha em vigor, com a ressalva de que somente

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foram utilizados documentos classificados como ostensivos e com enfoque na parte orçamentária, preocupando-se com a manipulação e a utilização das informações obtidas, tendo em vista não incorrer em transgressão às normas de sigilo de documento oficiais (PINTO, 2010). Cabe ressaltar também que a bibliografia levantada e os documentos analisados encontram-se mencionados nas referências deste artigo, sendo seus autores citados no referencial teórico deste estudo.

A sistematização do conhecimento resultante dessas pesquisas propiciou a base necessária à análise critica de como o Plano Diretor da Marinha do Brasil pode ser reformulado a fim de se adequar às mudanças do Plano Plurianual 2012-2015 do Governo Federal (OLIVEIRA, 2000).

3.3 Tratamento e Análise dos Dados

Para o tratamento dos dados, foi utilizado o método sistêmico a partir de um enfoque qualitativo, objetivando identificar como as estruturas do PPA 2012-2015 e do PD devem se relacionar a fim de elucidar a questão proposta na introdução (ZAJDSNAJDER, 1992).

Através da abordagem qualitativa, o foco da pesquisa baseia-se em fazer uma análise interpretativa dos dados e informações obtidas no estudo exploratório, tendo em vista conhecimentos teóricos obtidos nas pesquisas bibliográfica e documental. Ela é descritiva e não requer utilização de métodos e técnicas estatísticas (LAKATOS; MARCONI, 1986).

O método sistêmico visa realizar uma análise comparativa, em consonância com o referencial teórico construído, entre as mudanças ocorridas no PPA 2012-2015 e a atual composição do Plano Diretor da MB, possibilitando identificar as fraquezas existentes no planejamento da Marinha perante o do Governo Federal e, com isso, permitir encontrar possíveis soluções para a MB se alinhar as políticas de governo vigentes (ZAJDSNAJDER, 1992).

A análise dos dados foi realizada da seguinte maneira: foi feita uma leitura detalhada da bibliografia e dos documentos pertinentes ao Plano Plurianual 2012-2015 do governo e ao Plano Diretor da Marinha do Brasil; identificaram-se as diferenças entre o PPA 2012-2015 e os planos anteriores; evidenciaram-se as estruturas do PD e do PPA corrente, bem como seus elementos constitutivos e documentos; realizou-se uma comparação dessas estruturas entre si para levantar suas similaridades e diferenças; foi identificado como as mudanças estruturais do Plano Plurianual 2012-2015 impactam o planejamento e a orçamentação da Marinha; verificou-se a existência, no SPD, de algum documento específico da MB que contenha as informações plurianuais relativas aos seus programas, objetivos, metas e iniciativas para o período de 2012 a 2015; e foram lidas a CF de 1988, a END e bibliografias sobre a metodologia do BSC, com o propósito de levantar componentes balizadores e uma forma específica, de natureza estratégica, para a definição dos elementos de planejamento da Marinha.

Ressalta-se ainda que esta pesquisa apresenta como limitação o fato de se restringir a apenas aspectos estruturais do PD da MB e do PPA 2012-2015 do Governo Federal, o que requer cautela em generalizar seus resultados quanto à adequação do Plano Diretor a esse plano plurianual.

4 Análises e Resultados

Com base no referencial teórico deste estudo e na metodologia adotada para pesquisa, coleta e tratamento dos dados, assim como nas análises comparativas utilizadas, podem-se obter os resultados abaixo em relação à adequação do Plano Diretor ao PPA 2012-2015.

A nova estrutura programática do PPA corrente é totalmente diferente das apresentadas nos planos anteriores, pois é formada por programas de gestão, manutenção e serviços ao Estado, e programas temáticos, sendo estes últimos detalhados em objetivos, metas e

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iniciativas, que segundo Kaplan e Norton (2000) configura um processo de alinhamento estratégico chamado Balanced Scorecard, possuindo assim um enfoque estratégico e tático, enquanto os outros tinham um enfoque tático e operacional, haja vista contemplarem as ações orçamentárias, preocupando-se assim com a execução do orçamento e não com o planejamento estratégico e tático, que é o foco desse novo PPA.

O detalhamento dos programas temáticos privilegia a definição de diretrizes traduzidas no estabelecimento de objetivos locais e regionais como forma de desenvolver harmonicamente o espaço brasileiro. Pela definição das metas, procura-se estabelecer efetivamente os resultados desejados em termos qualitativos e quantitativos que melhor direcionarão a aplicação dos recursos públicos. Ao elencar as iniciativas, que serão traduzidas em ações orçamentárias na LOA, o plano visa o melhor alcance das metas almejadas e a integração entre planejamento e execução, fazendo dessas iniciativas a ligação entre ele, com sua organização estratégica e tática, e a Lei Orçamentária Anual, com a implementação do que foi planejado.

A Tabela 1 apresenta a atual correlação, em termos de correspondência teórica de estruturas, entre o plano plurianual corrente e o PD da MB, demonstrando assim o desalinhamento entre eles. A correlação evidenciada na Tabela 1 não significa que os elementos dos referidos planos estão ligados, somente demonstra que eles possuem funções semelhantes na estrutura da qual fazem parte.

Tabela 1 - Comparação entre as estruturas do PPA 2012-2015 e do Plano Diretor

PPA 2012-2015 Plano Diretor Programas Temáticos Planos de Metas

Objetivos - Metas -

Iniciativas - Programas de Gestão, Manutenção e Serviços ao Estado -

- Plano de Ação - Ações Internas - Metas/Submetas/Fases

Fonte: Elaboração própria.

Através da Tabela 2 evidencia-se que a estrutura do Plano Diretor da Marinha está mais alinhada a da LOA 2013 do que ao PPA 2012-2015, demonstrando assim que a filosofia atual da MB possui um enfoque maior no controle e execução orçamentária do que no planejamento estratégico proposto pelo PPA corrente, ou seja, sua forma de planejar tem como essência definir prioridades e buscar alocar créditos para efetivar despesas a partir de necessidades definidas no nível operacional.

Tabela 2 - Comparação entre as estruturas da LOA 2013 e do Plano Diretor

LOA 2013 Plano Diretor - Planos de Metas

LOA como um todo Plano de Ação Ações Orçamentárias Ações Internas

Planos Orçamentários (não constante da LOA) Metas - Submetas/Fases

Fonte: Elaboração própria.

As mudanças estruturais do Plano Plurianual 2012-2015 impactaram profundamente a forma como a Marinha do Brasil vinha realizando seu planejamento e orçamentação, pois o enfoque operacional dado por ela e evidenciado na Tabela 2 deverá ser minimizado em detrimento do enfoque estratégico e tático, que segundo Navarro, Santos e Franke (2012) tem

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como principal característica o controle dos resultados alcançados, sendo esse uma das prioridades desse novo PPA e, consequentemente, das políticas de governo atuais.

A Marinha do Brasil não possui, no SPD, nenhum documento específico que contenha as informações plurianuais relativas aos seus programas, objetivos, metas e iniciativas para o período de 2012 a 2015, demonstrando assim que seu planejamento não está alinhado ao do Governo Federal e, consequentemente, seu principal sistema, o Plano Diretor, não está adequado ao PPA 2012-2015, tanto em sua estrutura quanto em sua forma de se organizar, haja vista esse ser um plano estratégico e tático para médio prazo, enquanto ele é focado basicamente no Plano de Ação, que é operacional e de curto prazo. Portanto, o PD precisa adotar o modelo de estruturação e se adequar, de certa forma, ao processo de planejamento estratégico do PPA 2012-2015, pois ele dispõe de uma excelente estrutura para transformar-se em um plano plurianual, bastando para isso reformular seus instrumentos, conceitos básicos, elementos constitutivos e documentos de trabalho, de forma a efetivar a separação entre componentes estratégicos e táticos dos operacionais, excluindo-se de sua estrutura tudo o que for ligado à execução e dotação orçamentária, e criando ou deixando apenas o que corresponder teoricamente aos programas, objetivos, metas e iniciativas do PPA corrente.

Entretanto, como em qualquer órgão público, toda mudança profunda que seja necessária ocorrer acaba sofrendo grandes resistências para ser implementada, pois além da hierarquia presente em suas estruturas, inibindo atitudes inovadoras, as instituições públicas não gostam de fazer algo diferente do que já estão acostumadas (TENREIRO, 2010). Portanto, talvez seja difícil em curto prazo a Marinha mudar sua estrutura de planejamento e transformar seu PD em um PPA, pois além de apresentar características pertinentes a um órgão público, ela é também, segundo Favero (2010), uma entidade tradicionalista em sua cultura e processos, dificultando ainda mais que novas ideias sejam implementadas e, de acordo com Pereira (2006), a resistência institucional ainda é maior quando se trata de implantar um pensamento estratégico, que nesse caso, é um plano plurianual para quatro anos.

Conforme o Anexo I do PPA 2012-2015, instituído pela Lei nº 12.593, de 18 de janeiro de 2012, que versa sobre os programas temáticos, pode-se observar que a atual política do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) é fazer um PPA com poucos programas temáticos, o que implicou em a MB trabalhar apenas com dois deles no atual plano. Esse fato, por um lado, diminui o número de processamento de dados, entretanto, por outro, descaracteriza a abrangência dos objetivos planejados e reduz a visualização da missão da Marinha.

Em face disso, sustenta-se a necessidade da Marinha em balizar seus elementos de planejamento a partir dos seus objetivos estratégicos e permanentes vinculados a CF de 1988, a END e ao PAED, definindo-os através do método de alinhamento estratégico BSC e, consequentemente, proporcionando uma melhora significativa na qualidade de seus planos e orçamento, haja vista essa metodologia conseguir que esses elementos formados traduzam sua missão e visão de futuro, que são vinculadas aos seus objetivos permanentes e estratégicos.

5 Proposta de Adequação do PD ao PPA 2012-2015

A partir das análises realizadas e dos resultados encontrados, é proposto que para resolver essa ausência de alinhamento estrutural entre os planejamentos da Marinha e do governo, e adequar o Plano Diretor ao Plano Plurianual 2012-2015, ou seja, fazê-lo ter um enfoque estratégico e tático como um planejamento de médio prazo, a estrutura atual do PD seja reformulada a fim de transformá-lo no PPA da MB, pois assim essa instituição terá uma forma de se planejar semelhante a do plano federal, possuindo um plano plurianual próprio.

Em relação a essa reformulação estrutural e, com o intuito de tornar o PD um plano estratégico e tático, podem ser retirados o Plano de Ação, as ações internas e as metas/submetas/fases, pois são elementos ligados ao controle, execução e dotação

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orçamentária, e mantido apenas os planos de metas, que poderão ser renomeados para Programas de Atividades (PAT), sendo formados para atender aos objetivos dos programas temáticos do PPA 2012-2015 e detalhados em objetivos, metas específicas e iniciativas. Podem ser criados também os Programas de Administração (PAD), que representarão os programas de gestão, manutenção e serviços ao Estado do PPA corrente, não possuindo assim o detalhamento dos programas de atividades. A Tabela 3 ilustra melhor essa nova estrutura e demonstra sua ligação com o Plano Plurianual 2012-2015.

Tabela 3 - Comparação entre as estruturas do PPA 2012-2015 e da proposta para o novo Plano Diretor/PPA da MB

PPA 2012-2015 Novo Plano Diretor/PPA da MB

Programas Temáticos Programas de Atividades Objetivos Objetivos

Metas Metas Específicas Iniciativas Iniciativas

Programas de Gestão, Manutenção e Serviços ao Estado Programas de Administração Fonte: Elaboração Própria.

 

Em consequência dessa nova estrutura do PD, o elemento Plano de Ação poderá ser renomeado para Orçamento Anual da Marinha (OAM), e possuir uma estrutura composta pelas ações internas e pelas metas/submetas/fases retiradas do PD, caracterizando-se assim por ser um plano operacional alinhado à LOA, e por corresponder a fatia de um ano do novo PD/PPA, haja vista ocorrer a interligação entre os programas de administração e as iniciativas dos programas de atividades desse novo plano com as ações internas do OAM, que serão formadas para atendê-los. Cabe ressaltar ainda que por ocasião da elaboração da Proposta Orçamentária Anual (PLOA) da Marinha, pode-se propor a criação de ações orçamentárias que correspondam às ações internas do OAM, de modo que a LOA e ele estejam em sintonia. A Tabela 4 apresenta a estrutura desse Orçamento Anual da Marinha e sua correlação com a LOA 2013.

Tabela 4 - Comparação entre as estruturas da LOA 2013 e do Orçamento Anual da Marinha LOA 2013 OAM

Ações Orçamentárias Ações Internas Planos Orçamentários (não constante da LOA) Metas

- Submetas/Fases Fonte: Elaboração própria.

O novo Plano Diretor/Plano Plurianual da MB poderá emergir da visualização de um cenário de longo prazo, pertinente ao Plano Estratégico da Marinha, e da análise da missão, da visão de futuro e dos objetivos permanentes e estratégicos da instituição vinculados a CF de 1988, ao PAED e a END, sendo normatizado através de uma nova norma interna elaborada pela Secretaria-Geral da Marinha. Dessa forma, a MB conhecendo seus objetivos permanentes e estratégicos, poderá realizar um trabalho de alinhamento, utilizando o BSC, entre eles e os objetivos dos programas temáticos do PPA 2012-2015, visando definir os seus novos elementos de planejamento e montar assim o seu novo PD/PPA para os anos de 2012 a 2015. O modelo para esse alinhamento através do BSC pode ser observado no quadro da Figura 5.

PPA Programa Temático Objetivos do Programa Temático

CF 88/END/PAED Objetivos Permanentes Objetivos Estratégicos pertinentes ao Programa Temático Programas de Atividades Objetivos Metas Específicas Iniciativas

PD            

Figura 5 - Modelo de Alinhamento de Objetivos pelo BSC Fonte: Elaboração própria.

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6 Considerações Finais A pesquisa aqui apresentada foi realizada com o objetivo de identificar as reformulações

necessárias para o Plano Diretor da Marinha do Brasil se adequar às mudanças do Plano Plurianual 2012-2015 do Governo Federal, de modo a desenvolver um planejamento de quatro anos para essa instituição com uma estrutura similar a existente no plano federal, propondo assim a transformação do PD no PPA da MB.

O Governo Federal através do PPA corrente extinguiu a ligação entre planejamento, dotação e execução orçamentária existente nos planos anteriores, visando proporcionar um caráter mais estratégico ao plano plurianual. As mudanças em sua estrutura e gestão podem ser consideradas como um avanço significativo na forma pública de se planejar, pois a lógica orçamentária até então existente foi preterida pela capacidade em orientar decisões estratégicas e comunicar de forma efetiva as políticas públicas implementadas.

Tendo em vista essas mudanças no PPA 2012-2015 e, com base na orientação do Comandante da Marinha para o Plano Diretor se adequar a ele e a LOA 2013, realizou-se uma comparação entre as suas estruturas, definidas por leis e normas, e leituras em bibliografias pertinentes ao assunto, como também em documentos condicionantes a esses planos.

Os principais resultados obtidos foram: a não correlação estrutural do PD com o PPA corrente, observando-se uma divergência de idéias entre a maioria de seus elementos constitutivos e documentos; e o fato da filosofia da MB estar voltada mais para o controle e execução orçamentária do que para o planejamento estratégico, caracterizando-se assim por ter um enfoque operacional e, com isso, conflitando com a atual tendência das políticas de governo, traduzidas por meio do PPA 2012-2015 e seu foco no planejamento estratégico e tático, e no controle dos resultados.

A fim de solucionar esses problemas apontados, este estudo propôs a reformulação da estrutura do PD e sua transformação num plano plurianual de quatro anos, visando proporcionar a MB uma forma de planejamento compatível com a do Governo Federal e, consequentemente, alinhada às políticas e programas de governo vigentes.

Como conclusão, esta pesquisa enfatiza que a transformação do Plano Diretor no Plano Plurianual da Marinha do Brasil e, a consequente separação do Plano de Ação, das ações internas e das metas/submetas/fases de sua estrutura, permitirá uma maior correlação com o PPA corrente do Governo Federal, e consolidará o planejamento estratégico e tático de médio prazo dessa instituição, proporcionando um melhor controle e compatibilização dos seus gastos anuais em relação ao PPA 2012-2015 e a LOA 2013. Cabe ressaltar também que a definição, através da utilização do BSC, dos programas de atividades, objetivos, metas específicas e iniciativas do novo PD/PPA da MB com base nos objetivos dos programas temáticos do PPA 2012-2015 e balizado por seus objetivos permanentes e estratégicos vinculados a CF de 1988, ao PAED, e a END, melhorará a qualidade dos seus planos e orçamento, pois irá alinha-los à sua missão e visão de futuro.

Por fim, visando melhorar, aprimorar, refinar e dar continuidade ao estudo do tema deste artigo, inclusive com um aprofundamento da pesquisa a nível de mestrado ou mesmo de doutorado, sugere-se para futuros trabalhos que os interessados explorem com maior profundidade os pontos aqui levantados e analisem, em especial, a adequação do Plano Diretor da Marinha do Brasil ao Plano Plurianual 2012-2015 do Governo Federal sobre o enfoque de suas dinâmicas, haja vista o presente estudo ter focado somente na adequação de suas estruturas, elementos constitutivos e documentos.

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