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AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA: o caso de Montes Claros/MG 1 Fabrícia Oliveira Santos Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros [email protected] Iran Aguiar Mota Graduando em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros [email protected] Anete Marília Pereira Professora Doutora da Universidade Estadual de Montes Claros [email protected] RESUMO Este trabalho objetiva analisar o processo de requalificação da área central de Montes Claros/ MG, enfocando as principais alterações ocorridas nos últimos anos. Busca ainda identificar os pontos revitalizados da referida área caracterizando e discutindo acerca das melhorias ocorridas. O procedimento metodológico pautou em revisão bibliográfica, pesquisa de dados junto a Prefeitura Municipal de Montes Claros, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), entre outros. Foi efetuada também uma pesquisa documental impressa para obtenção de imagens que comprovam as mudanças ocorridas com o processo de reestruturação da área central de Montes Claros. Após a análise das informações realizou-se visita a campo para observação do núcleo central a fim de verificar as transformações ocorridas com o projeto “Viva o Centro”. Logo após foi elaborado um mapeamento dessa área para identificação dos principais pontos pesquisados. Como resultado, percebe-se que, apesar das melhorias ocorridas no núcleo central, esse ainda apresenta áreas deterioradas que precisam ser revitalizadas. Palavras–chave: Reestruturação, Núcleo central, Áreas deterioradas, Montes Claros INTRODUÇÃO O estudo sobre a revalorização urbana se expressa pela necessidade de redefinir as relações ocorridas a partir da intervenção de políticas públicas em espaços deteriorados com intuito de melhorar a imagem da cidade e a qualidade de vida da população. Os programas na maioria das vezes surgem para aprimorar a economia da cidade e incentivar o uso na mesma. 1 Tipo de Trabalho: Trabalho de Conclusão de Curso.

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AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA: o caso de Montes Claros/MG 1

Fabrícia Oliveira Santos

Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros

[email protected] Iran Aguiar Mota

Graduando em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros

[email protected] Anete Marília Pereira Professora Doutora da Universidade Estadual de Montes Claros [email protected] RESUMO Este trabalho objetiva analisar o processo de requalificação da área central de Montes Claros/ MG, enfocando as principais alterações ocorridas nos últimos anos. Busca ainda identificar os pontos revitalizados da referida área caracterizando e discutindo acerca das melhorias ocorridas. O procedimento metodológico pautou em revisão bibliográfica, pesquisa de dados junto a Prefeitura Municipal de Montes Claros, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), entre outros. Foi efetuada também uma pesquisa documental impressa para obtenção de imagens que comprovam as mudanças ocorridas com o processo de reestruturação da área central de Montes Claros. Após a análise das informações realizou-se visita a campo para observação do núcleo central a fim de verificar as transformações ocorridas com o projeto “Viva o Centro”. Logo após foi elaborado um mapeamento dessa área para identificação dos principais pontos pesquisados. Como resultado, percebe-se que, apesar das melhorias ocorridas no núcleo central, esse ainda apresenta áreas deterioradas que precisam ser revitalizadas. Palavras–chave: Reestruturação, Núcleo central, Áreas deterioradas, Montes Claros INTRODUÇÃO

O estudo sobre a revalorização urbana se expressa pela necessidade de redefinir as

relações ocorridas a partir da intervenção de políticas públicas em espaços deteriorados

com intuito de melhorar a imagem da cidade e a qualidade de vida da população. Os

programas na maioria das vezes surgem para aprimorar a economia da cidade e

incentivar o uso na mesma.

1 Tipo de Trabalho: Trabalho de Conclusão de Curso.

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A degradação, na maioria das áreas centrais das cidades brasileiras se consolidou com a

urbanização e o surgimento de novas centralidades, ocasionada pela descentralização

das atividades comerciais para áreas periféricas. “O que é possível pelo fato de o preço

da terra ser aí menos elevado que o do núcleo central” (CORRÊA, 1969, p. 43). Esse

processo acarretou transformações socioespaciais diversas como, a densificação do uso

do solo e a competição pelo mercado consumidor.

Nesse sentido, o núcleo central se define hoje pelo dinamismo social e econômico que

exerce sobre o meio. Geralmente, é ele que dá origem a uma cidade como é o caso de

Montes Claros a cidade mais importante do Norte de Minas Gerais, que teve sua

formação no entorno da atual Igreja da “Matriz”. Contudo apesar dessa relevância, a

referida área vem apresentando problemas como degradação, que devem ser avaliados

sobre o aspecto da revitalização. Esse processo segundo (VAZ, 2006) consiste em

reabilitar áreas abandonadas, restaurar patrimônios históricos e arquitetônicos, redefinir

vias públicas deterioradas, reforçar a acessibilidade por transporte individual ou coletivo

entre outros.

Partindo dessa premissa, este trabalho objetiva discutir o processo de requalificação da

área central de Montes Claros/ MG enfocando as principais alterações ocorridas nos

últimos anos. Procura também identificar os pontos revitalizados da referida área

caracterizando e discutindo acerca das melhorias ocorridas. Essa análise foi baseada no

projeto “Viva o Centro”, plano elaborado pela Secretaria Municipal de Planejamento,

cuja finalidade é investir em políticas urbanas com o intuito de recuperar áreas

deterioradas do núcleo central.

Para a concretização desse trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica procurando

contextualizar teoricamente a origem das cidades e o processo de urbanização. Em

seguida buscou-se informações a partir de fontes diversas como Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), UNIMONTES, Prefeitura de Montes Claros, entre

outros. Além disso, foi feita uma pesquisa documental impressa para obtenção de

imagens que comprovassem as mudanças ocorridas com o processo de reestruturação da

área central de Montes Claros. Após essas documentações realizou-se visita a campo

para observação do núcleo central, Logo após foi elaborado um mapeamento dessa área

para identificação dos principais pontos pesquisados.

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O espaço urbano na maioria das cidades vem apresentando um acentuado grau de

degradação. Muitas vezes, a causa está relacionada ao crescimento populacioanal, a

ineficiência de políticas públicas e a falta de sensibilização da população. Uma das

alternativas viáveis para solucionar esses problemas tem sido a requalificação urbana,

uma prática que vem criando condições favoráveis à cidade, contribuindo assim, para o

desenvolvimento da mesma.

Rever os conceitos de gestão urbana e das estratégias de planejamento é obrigação dos urbanistas contemporâneos que devem entender que o inchamento descontrolado das cidades criou condições pouco propícias às grandes intervenções, em especial devido à necessidade de ampliação das redes de infraestrutura, da enorme demanda de moradias e do abandono das áreas centrais exclusivamente às atividades diurnas, quando existe um grande contingente de vazios urbanos e um parque edificado em desuso. (LIMA, Mameluque, 2007, p.14).

De acordo com a Carta de Nairobi (1976), a revitalização consiste em proteger,

conservar, restaurar, reabilitar, e manter a “salvaguarda” dos conjuntos históricos ou

patrimônios tradicionais situados em seu entorno. (VAZ, 2006) explana que o processo

de revitalização abrange vários fatores, quais sejam:

a) Reabilitação de áreas abandonadas;

b) Restauração do patrimônio histórico e arquitetônico;

c) Reciclagem de edificações, praças e parques;

d) Tratamento estético e funcional das fachadas de edificações, mobiliário urbano e

elementos publicitários;

e) Redefinição de usos de vias públicas;

f) Melhoria do padrão de limpeza e conservação dos logradouros;

g) Reforço da acessibilidade por transporte individual ou coletivo, dependendo da

situação e;

h) Organização das atividades econômicas.

Assim, vale lembrar que as intervenções nas áreas centrais brasileiras ocorreram a partir

da década de 1970 e estavam voltadas na maioria das vezes para as questões de

saneamento básico. Com o passar do tempo o processo de revitalização passou a ter um

caráter remodelador como restauração de vias públicas, do patrimônio histórico e

arquitetônico, reabilitação de áreas, entre outros. Dessa forma, a reestruturação urbana é

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marcada pela renovação de áreas deterioradas ou envelhecidas. Essa prática está voltada

para a construção de novos padrões como a organização, embelezamento e utilização

dos territórios.

Em Montes Claros, o processo de degradação da área central da cidade teria se

intensificado com o esvaziamento demográfico iniciado a partir da década de 1970. O

movimento que antigamente se concentrava em volta da Praça da Matriz, o centro

histórico da cidade, passou a convergir ao redor da Praça Doutor Carlos Versiane e

adjacências. Segundo o Plano Diretor da Cidade - Lei Municipal nº. 2921 de 27 de

agosto de 2001 - o núcleo central compreende a confluência da Av. Dep. Esteves

Rodrigues, seguindo pela Av. Flamarion Wanderley até a Rua Germano Gonçalves; por

esta até a Rua Antônio Rodrigues, Av. Santos Dumont, Rua Padre Champagnat

seguindo para a Praça até o viaduto da Rua Juramento sob a atual Linha Férrea, por esta

no sentido sul até a Rua Juca Prates, Av. Prof. João Luiz de Almeida e Av. Cula

Mangabeira. Assim, como se pode perceber no mapa 1 que o núcleo central passou a

englobar outras extensões ampliando a sua configuração espacial.

Mapa 1: Localização da Área Central de Montes Claros. Org: Veloso, 2010.

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O processo de reestruturação da área central engloba os interesses do poder público

municipal e do setor imobiliário com objetivo de melhorar os aspectos físicos do espaço

urbano e a qualidade de vida da população. Assim, com o intuito de revitalizar áreas

degradadas foi criado, em 2006, pela Secretaria Municipal de Planejamento de Montes

Claros, o projeto Viva o Centro. Esse conta com a participação da Secretaria de

Indústria Comércio e Turismo, da Secretaria de Cultura, da Secretaria de Serviços

Urbanos, da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social, da Secretaria de Meio

Ambiente, do Sindicato do Comércio e Varejo, da Transmontes, de representantes da

Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), além da Companhia de

Saneamento de Minas Gerais (COPASA), Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG),

Serviço Brasileiro de Apoio as Micros e Pequenas empresas (SEBRAE), entre outros.

O projeto Viva Centro consiste numa tentativa de solucionar os aspectos negativos que

comprometem a qualidade do espaço central adotando melhorias como: segurança para

os comerciantes, alargamento de ruas e passeios, colocação de mosaicos, recuperação

do patrimônio histórico, desobstrução de todas as bocas de lobo, substituição de redes

de água que abastecem o núcleo central, implantação de rede de drenagem pluvial,

iluminação, telefonia, entre outros.

Entre as principais mudanças ocorridas nessa área destaca-se a construção do Shopping

Popular Mário Ribeiro da Silveira, no ano de 2003, com o propósito de abrigar os

“camelôs” que até então se concentravam na Praça Doutor Carlos Versiane e outras

localidades do núcleo central. As atividades informais nesse espaço causavam

problemas diversos como desorganização, excesso de lixo, deteriorização da praça,

além de dificultar a transição de pedestres nesse local. “Partindo desse ponto de vista, o

Shopping Popular está inserido no circuito comercial da cidade, bem como nos circuitos

comerciais da informalidade pelo que permite vender e negociar, dentro do espaço da

cidade” (Santos, 2007, p.80). Essa mesma autora acrescenta que:

Assim, nota-se que revitalização de área central acontece tanto no Brasil, como também em outros países. Percebe-se que, em Montes Claros, não há a tendência imediata de enfraquecimento do centro principal. As novas centralidades existem e são dinâmicas, mas o centro ainda expressa sua força, seja através das atividades comercias, seja através do setor terciário. (SANTOS, 2007, p.83)

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Concomitante a isso, houve o processo de revitalização da Praça Doutor Carlos

Versiane cuja reforma alterou as características originais da mesma. As árvores

centenárias que tinha particularidades significativas para o local foram substituídas por

uma vegetação mais espaçadas de caráter moderno (figura 01). De acordo com (SILVA,

2010 p. 9).

[...] o projeto da Praça Doutor Carlos Versiani - Centro, (...) não priorizou a arborização, dando lugar ao surgimento de uma muralha de concreto, aumentando ainda mais o desconforto decorrente das altas temperaturas oriundas do fenômeno Ilha de Calor. Apesar de passar por um projeto urbanístico contemporâneo, a vegetação não foi prioridade, a existência de poucas árvores faz com que as pessoas não utilizem os bancos, que ficam a maior a parte do dia sob o sol escaldante da cidade de Montes Claros.

Figura 01: Praça Doutor Carlos Versiane após a Revitalização. Autor: MOTA, 2010.

Outro espaço reestruturado foi a “Praça da Matriz”. A revitalização ocorreu no ano de

2007 e envolveu desde a sua estrutura básica até os elementos paisagísticos. “A Praça

da Matriz, apesar da reforma recente, manteve sua arborização e por isso oferece um

micro-clima diferente do restante do centro da cidade, sendo ainda hoje, lugar de

refúgio durante os dias quentes” (SILVA, 2010, p.9) As alterações foram realizadas

pelo projeto Viva o Centro e contou com a participação do Conselho Municipal de

Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural. Assim, o espaço do entorno da praça vem

passando por processo de revitalização, no entanto o casarão da Faculdade de Filosofia

Ciências e Letras FAFIL e o sobrado dos Versiane-Maurício encontram-se totalmente

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reformados esse último de acordo com a Prefeitura de Montes Claros passará a sediar a

Secretaria Municipal de Cultura. Essa melhoria pode ser visualizada na figura 02.

Figura 02: Reforma do casarão da FAFIL e Versiane-Maurício Autor: SANTOS, 2010.

A Praça Doutor Chaves é um dos pontos turísticos e culturais da cidade, pois além de

sua importância histórica atualmente ela é utilizada para momentos de descanso e lazer.

Nela também ocorre, aos domingos, a feira de artesanato onde são expostos vários

produtos como bijuterias, roupas, calçados, bolsas, entre outros. Esse evento atrai

pessoas de várias classes sociais que vão prestigiar o trabalho dos artesãos que

comercializam seus produtos nesse local (figura 03).

Figura 03: Feira de Artesanato na “Praça da Matriz”. Autor: SANTOS, 2011.

Por fim, no ano de 2010, houve a revitalização da Praça Honorato Alves situada em

frente ao hospital Santa Casa de Misericórdia. A reestruturação contou com o apoio do

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poder público Municipal, através da Secretaria de Serviços Urbanos. A praça que se

encontrava deteriorada foi contemplada com lixeiras e ponto de ônibus novos, além de

uma reforma paisagística do local. A figura 04 retrata as principais alterações ocorridas.

Figura 04: Praça Horonato Alves após processo de revitalização. Autor: MOTA, 2010.

No que concerne à segurança pública, essa tem se tornado uma das principais questões

que deve ser tratada com rigor na cidade. Faz-se necessária a presença constante de

agentes institucionais para minimizar a violência que tanto aflige a sociedade. Nesse

sentido, a fim de reduzir o índice de furtos e proporcionar a segurança dos comerciantes

e da população, a Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) implantou o Projeto

Olho Vivo, com várias câmaras de monitoramento eletrônico em locais estratégicos. As

câmaras funcionam 24 horas e são monitoradas por militares e guardas municipais. Os

equipamentos de monitoramento são identificados na figura 05.

Figura 05: Olho Vivo situado em pontos estratégicos do núcleo central. Autor: SANTOS, 2010.

O projeto Viva o centro ainda foi responsável pela revitalização do Calçadão Popular

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Conrado Pereira, situado na Avenida Padre Chico, em frente à Praça de Esportes. Os

comerciantes antes de possuirem esse espaço, montavam bancas nas ruas da área

central, sobretudo na Rua Coronel Joaquim Costa. A falta de organização ocasionava

muita sujeira no local, principalmente na época do Pequi, fruto do cerrado de grande

importância para o Norte de Minas. A construção do “Calçadão Popular” foi um fator

de grande relevância, para os feirantes, uma vez que contribuiu para melhoria das

condições de comercialização e consumo.

Dessa forma percebe-se também, o processo de reestruturação da Rua Simeão Ribeiro

conhecida como “Quarteirão do Povo”. Dentre as recuperações, cabe ressaltar a

colocação de novos bancos a fim de proporcionar o conforto da população, a

remodelação do aspecto paisagístico, além da instalação de sinalização tátil direcional,

com a finalidade de indicar as pessoas que possuem deficiência à direção a ser seguida.

A figura 06 mostra as condições atuais da referida área.

Figura 06: “Quarteirão do Povo” após a Revitalização. Autor: MOTA, 2010.

Tendo em vista a implantação de obras de infraestrutura em alguns pontos do núcleo

central, percebe-se que ainda há muitos espaços que precisam ser reestruturados, pois se

encontram em condições desfavoráveis tanto no que se refere ao transporte quanto à

mobilidade da população. Nesse contexto, as pessoas com deficiência física são as que

mais sofrem com essa situação, pois necessitam de espaço para se locomover. De

acordo com o Guia de acessibilidade urbana de Minas Gerais (2006.p.26):

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As pessoas possuem necessidades diferentes que variam conforme a idade, estatura, condição saúde, etc. O caminhar pela cidade torna-se, muitas vezes, um verdadeiro “rali”, os obstáculos, as barreiras arquitetônicas e urbanísticas dificultam o mero deslocamento, impedindo completamente a utilização da estrutura urbana. Assim, considerando os mais diversos estereótipos humanos, que apresentem ou não alguma deficiência, estabelece-se a importância da concepção de espaços que permitam o pleno deslocamento, além de meios de transporte coletivo acessíveis.

Muitas ruas e calçadas na área central apresentam-se estreitas e em péssimo estado de

conservação, como é mostrado na figura 07 e 08.

Figura 07: Calçadas estreitas e deterioradas. Autor: SANTOS, 2011.

Figura 08: Rua e calçada em péssimo estado de conservação. Autor: SANTOS, 2010.

Para promover a acessibilidade de forma segura, as normas técnicas de acessibilidade da

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Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) definem que é necessário a

instalação de piso tátil direcional e de alerta com o intuito de orientar pessoas com

deficiência visual. Além disso, é preciso haver o rebaixamento de calçadas com rampas

acessíveis para facilitar a circulação de cadeirantes. Outra questão que precisa ser

revisada na área central é a poluição visual. Essa prática vem degradando o ambiente

urbano promovendo assim, o desconforto daqueles que freqüentam o local. Nesse

sentido, a figura 09 demonstra os impactos visuais causados pelos anúncios

publicitários.

Figura 09: Poluição visual nas ruas do núcleo central de Montes Claros. Autor: SANTOS, 2010.

Também o trânsito vem apresentando um grande problema para a área central da cidade,

uma vez que essa não foi planejada para comportar o número de veículos que circulam

nesse espaço. O congestionamento é provocado segundo Sardinha e França (2010,

p.56), “pela quantidade de veículos que circulam pelo local e as vias que se apresentam

estreitas em má conservadas, dificultando a fluidez”.

Com o número elevado de veículos surge a dificuldade de encontrar um local

apropriado para estacionar. A solução é recorrer aos estacionamentos privados cujo

número cresce a cada dia para suprir as necessidades dos motoristas. Diante disso

Sardinha e França (2010, p.55) consideram que:

Com relação aos locais destinados aos estacionamentos púbicos na área central, observa que há uma falta. Assim, ocorre que para estacionarem os veículos os motoristas tendem a procurar os estacionamentos privados. Tal fato também acaba motivando

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motoristas (quando não procuram o estacionamento privado), a estacionarem em locais proibidos, como em calçadas, ou na placa de “proibido estacionar”.

No que concerne aos semáforos e outras sinalizações esses devem ser colocados em

posição que os tornem visíveis com o intuito de promover a segurança e ordenação do

tráfego. Entretanto, percebe-se que o núcleo central não obedece à uniformidade que

Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) estabelece, pois, muitas faixas de

pedestres encontram-se apagadas ou com irregularidades, essas disparidades podem

resultar em consequências aos usuários, como acidentes ou a utilização parcial do

espaço.

No tocante às sinalizações semafóricas, as mesmas não se apresentam visíveis durante o

dia devido à incidência do sol dificultando a visualização e interpretação da cor. Além

disso, são também insatisfatórias, apesar do semáforo ter sido instalado em algumas

intercessões conflituosas, como aquelas localizadas no cruzamento das ruas Governador

Valadares com Dr.Veloso, Governador Valadares com Coronel Prates, Avenida Artur

Bernardes com Rua Padre Teixeira. Há outras que também necessitam de sinalização.

(SARDINHA, FRANÇA, 2010, p.55).

Outro espaço que merece uma atenção especial é a Praça Doutor João Alves, localizada

em frente à Escola Estadual Gonçalves Chaves, patrimônio histórico da cidade. A Praça

encontra-se em um estado de degradação decorrente da falta de sensibilização da

população que frequenta o local e da deficiência de manutenção da mesma. Como se

pode perceber na figura 10 a infraestrutura como pisos e bancos estão degradados. Os

bancos da Praça encontram-se danificados com uma espécie de pichação feita com

corretivos para tinta de caneta. Nesse sentido, uma das principais carências dessa Praça

é a pintura que se encontra desgastada com a ação do tempo, o que compromete o

paisagismo do ambiente.

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Figura 10: Praça Doutor João Alves Autor: MOTA, 2010. Diante do exposto, percebe-se que o núcleo central de Montes Claros é um espaço

importante, uma vez que são desempenhadas atividades econômicas de grande

relevância para a economia da cidade. Contudo, apesar das significativas reformas pela

qual essa área tem passado, há necessidade de recuperação de espaços degradados

inclusive no que se refere às vias públicas, ao trânsito, a Praça Doutor João Alves, entre

outros. Para tanto, é necessário o esforço do poder público, de maneira que outras

intervenções possam ser incluídas para garantir boas condições de acessibilidade da

população que frequenta esse local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de urbanização promoveu transformações socioespaciais diversas na

estrutura das cidades brasileiras como a ocupação desordenada do solo, o aumento do

trabalho informal, a degradação dos espaços públicos, entre outros. Em suma, percebe-

se que a maioria desses problemas é agravada pela falta de planejamento e ineficiência

de políticas públicas.

Tendo como propósito analisar o processo de reestruturação do núcleo central de

Montes Claros, este estudo permitiu verificar o processo de ocupação da referida cidade

bem como, avaliar as questões espaciais, que levaram a degradação e a desvalorização

desse espaço.

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Os resultados das análises revelaram que as intervenções ocorridas na área central da

cidade a partir do Programa “Viva o Centro” apresentaram alguns aspectos positivos

como: a revitalização da “Praça da Matriz” e da Praça Horonato Alves, a reforma dos

Casarões Históricos, a implantação do Projeto Olho Vivo, a reestruturação de

importantes espaços como o “Calçadão Popular” e a rua “Quarteirão do Povo”.

Porém, cabe ressaltar que essas medidas não foram suficientes para suprimir todas as

deficiências que esse núcleo apresenta, pois na referida área ainda é possível encontrar

ruas e calçadas estreitas e em péssimo estado de conservação, intensa poluição visual

ocasionada pelos anúncios publicitários, congestionamento de veículos agravados pela

falta de planejamento das ruas, faixas de pedestres com irregularidades, além do

avançado grau de degradação que se encontra a Praça Doutor João Alves, patrimônio

histórico da cidade.

Nesse sentido, acredita-se que a melhoria dessas áreas possibilitará o ordenamento desse

espaço e a diminuição dos problemas que o mesmo apresenta. Assim, relatar a história

desse núcleo ganha relevância por contribuir para o enriquecimento dos estudos

acadêmicos a respeito da revitalização, além de ressaltar a importância que ele possui

para a população local.

REFERÊNCIAS

CARTA DE NAIROBI, 1976. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=249. acesso em maio de 2011 CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. 3. ed. São Paulo: Ática, 1969. ______. Trajetórias Geográficas. 3ªed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. IBGE. PIB do município de Montes Claros. Disponível em: <www.ibge.gov.br/cidades@> acesso em: dezembro de 2010. Lei nº. 2.921 de 27 de agosto de 2001, que institui o Plano diretor da cidade de Montes Claros/MG. Disponível em: www.montesclaros.mg.gov.br. Acesso em: janeiro de 2011. Lima, Evelyn Furquim Werneck , Mameluque, Miria Roseira Espaço e Cidade: Conceitos e Leituras/ 2° edição- Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007.

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SANTOS, Dulce Pereira dos. Shopping Popular na Cidade de Montes Claros-MG: Uma Análise de Sua Complexidade Sob a Ótica da Teoria dos Dois Circuitos da Economia Urbana. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, 2007. Disponível em www.ccsa.unimontes.br/ppgds/.../dulce_pereira_dos_santos.pdf -Similares. Acesso em: maio de 2011. SARDINHA, Danielle Flamengo Rodrigues, FRANÇA, Iara Soares de. Diagnóstico do Trânsito na Área Central de Montes Claros/MG. OBSERVATORIUM : Revista Eletrônica de Geografia, v.2, n.5, p.39-63, nov. 2010. SILVA, Olga Cardoso da. As Áreas Verdes e a Aplicabilidade do Plano Diretor da Cidade de Montes Claros. Monografia Montes Claros, UNIMONTES, 2010. SCHWENK, Lunalva Moura, CRUZ Carla Bernadete Madureira. Processos espaciais: descentralização da área central e da cidade e a segregação da favela e da cidade, Maringá, v. 27, n. 2, p. 181-188, 2005. Disponível em periodicos.uem.br/ojs/index.php /ActaSciHumanSocSci/.../147 - Similares acesso em agosto de 2010. VAZ, J.C., Vida Nova Para o Centro da Cidade. Disponibilizado em: http://www.polis.org.br/publicacoes/dicas/dicas_interna.asp?codigo=147 acesso em maio de 2011.