as mudanças propostas no código florestal brasileiro – nota técnica e política
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8/9/2019 As Mudanas Propostas No Cdigo Florestal Brasileiro Nota Tcnica e Poltica
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AS MUDANAS PROPOSTAS NO CDIGOFLORESTAL BRASILEIRO
NOTA TCNICA E POLTICAResponsveis:Gerson Teixeira1
Alessandra Cardoso2
Braslia, em 18 de junho de 2010
1.Consideraes PolticasAps vrios meses de consultas, debates e estudos, o Deputado Aldo Rebelo
divulgou o seu Relatrio ao Projeto de Lei 1876/99 e seus apensos, oferecendo
Substitutivo que reforma o Cdigo Florestal (Lei 4.771/65).
O contedo da proposta no surpreendeu vez que confirmou posicionamentos
j antecipados pelo parlamentar. O que chamou a ateno no Relatrio foi o
recurso a um alentado, cansativo e tortuoso esforo de erudio para tentarconvencer que a flexibilizao da legislao ambiental sugerida pelo
Substitutivo atende a propsitos libertrios, soberanos, sociais e
desenvolvimentistas do pas.
Sob aplausos das lideranas mais conservadoras da bancada ruralista, o texto
do Relator abundou em citaes de clssicos do pensamento socialista, entre
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ex-presidente da ABRA (Associao Brasileira de Reforma Agrria)2 Assessora do INESC (Instituto de Estudos Socioeconmicos)
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filsofos, historiadores, socilogos, poetas e romancistas para, dessas fontes
indefesas, extrair substrato de esquerda para respaldar a constituio de uma
base minimalista para a legislao ambiental brasileira.
Em caso de chancela pelo Congresso, e homologao pelo Presidente, a
proposio do Deputado Aldo Rebelo estar direcionada para um nico
objetivo; desimpedir o terreno institucional das cautelas ambientais para a
expanso do agronegcio e, associadamente, da economia mineral. Em
particular, o Substitutivo visa a garantia dessas condies na grande fronteira
mineral e do agronegcio do Brasil: a Amaznia.
A este respeito, vale assinalar que na perspectiva dos setores produtivistas da
agropecuria so trs os pontos tidos como asfixiantes para a plenitude da
capacidade produtiva primria do pas, em especial, enfatizamos, na
Amaznia.
O primeiro refere-se garantia da segurana jurdica para o empreendimento
empresarial no que tange legalizao da posse da terra. Isto vem sendo
buscado, na Amaznia, por meio da nova poltica de regularizao fundiria
em execuo via o programa Terra Legal. A exemplo das alteraes ora
pretendidas na legislao ambiental, o programa de regularizao fundiria
previsto pela Lei 11.952/09, tem efeitos nacionais, mas fundamentalmente
alcana a Amaznia. Da mesma forma, trata-se de legislao fortemente
permissiva aos interesses dos ruralistas e das mineradoras.
O segundo ponto considerado como trava estrutural ao desenvolvimento dessa
regio, como de resto, de todo o pas, est associado justamente aos efeitos
restritivos imputados legislao ambiental. Ocorre que, por exemplo, o
Cdigo Florestal j existe desde 1965, mas sempre foi desrespeitado
impunemente. medida que os avanos na democratizao do pas e da
conscincia ambiental da populao no permitiram mais a continuidade do
desrespeito ostensivo e impune ao Cdigo Florestal, os ruralistas passaram a
responsabiliz-lo pelos seus crimes fulminando a Lei como conspiratria
contra o desenvolvimento do Brasil.
O terceiro fator tido como impeditivo do projeto econmico para a Amaznia
so as deficincias de infra-estrutura. O PAC tem a misso de enfrent-las
pavimentando e energizando as exportaes de bens primrios da regio
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pelo Pacfico, via a articulao com as obras da IIRSA, notadamente na
conexo com o Peru.
Essas demandas nucleares da agenda da militncia ruralista ganharam adeptos
em importantes setores do governo e da sociedade, inclusive na
intelectualidade de esquerda, medida que, para alm das motivaes
seccionais dos ruralistas, tais medidas so instrumentais de pensamento
estratgico para o pas, j em desenvolvimento.
Ocorre que prosperou no perodo recente atitude pragmtica do Brasil diante
da diviso internacional do trabalho estabelecida, que reafirma a nossa
tradio primrio-exportadora, enquanto fornecedores, na atualidade, de
protenas animal e vegetal no caso das commodities agrcolas.
Ante essas circunstncias, reforada pela convico sobre a irreversibilidade
da estrutura protecionista da agricultura (vide o empacamento da Rodada
Doha, desde 2001), em atitude pragmtica, sem ignorar a crtica histrica a
essa duvidosa vantagem comparativa do pas, o Brasil tem adotado estratgia
para tirar o mximo proveito deste papel no plano global. No toa o
estmulo massivo pelo BNDES para a constituio de empresas brasileiras do
agronegcio, chamadas de classe mundial, com o objetivo de disputar o
mercado agrcola internacional com competidores de qualquer porte.
Neste contexto, para garantir a ordem institucional perseguida, o Substitutivo
Aldo Rebelo prope a descentralizao de normas ambientais do pas
extrapolando as condies jurdicas atribudas s matrias objeto de
legislao concorrente, como o caso da legislao ambiental. Uma tentativa
de generalizao do Cdigo Ambiental de Santa Catarina visando diluir a
capacidade de presso da sociedade organizada pela preservao do meio
ambiente e, de outra parte, fortalecer o lobby corporativo do agronegcio e
das empresas mineradoras sobre os estados.
Na direo acima, a proposta isenta segmentos produtivos de
responsabilidades bsicas com a preservao ambiental. Anistia delitos das
grandes mineradoras e latifndios. rico em dispositivos artificiosos que
sugerem virtuosismos onde h liberalidades perniciosas ao meio ambiente, e
transferem para o domnio privado, decises sobre condutas ambientais que
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so inerentes ao poder regulador do Estado, entre tantas outras anomalias a
seguir comentadas.
A razo poltica para essa flexibilizao das normas ambientais guarda estreita
semelhana com o caso da institucionalizao dos transgnicos no Brasil. Ante
a frouxido dos controles pblicos que incentivaram a massificao do crime,
vale-se do chamado fato consumado como justificativa para a sua
institucionalizao. No caso do desmonte proposto para o Cdigo Florestal, o
Relator foi particularmente prdigo no uso de robustas estatsticas, sem as
fontes, para argumentar sobre situaes generalizadas de irregularidades
ambientais, cujos eventuais reparos resultariam em supostas instabilidades
sociais e imporiam riscos at para a segurana alimentar da populao
brasileira - caso do arroz no Sul, por exemplo.Com o respaldo desse conveniente fato social, o Relator utilizou com esmero
expedientes insubsistentes ou mesmo ardilosos para angariar apoio poltico
sua proposta.
Apelou para discursos nacionalistas e xenfobos, pelos quais, as ONGs
ambientalistas que contestam a reforma do Cdigo Florestal estariam a
servio do protecionismo agrcola dos pases ricos e, portanto, contra os
interesses nacionais. Tal discurso parece de todo grotesco, at porque so os
capitais externos que controlam, inclusive, a base primria do agronegcio no
Brasil.
Ao isentar os pequenos agricultores das reservas legais, alm de visar a
cooptao desses setores, alinhando-os ao agronegcio, pretendeu rachar as
resistncias sua proposio, isolando e estigmatizando as entidades
ambientalistas e outras entidades da sociedade engajadas nas causas do
desenvolvimento sustentvel.
Por fim, mas no por ltimo, conforme assinalado, antes, articulou o discurso
da reforma proposta do Cdigo Florestal aos imperativos do desenvolvimento
do pas. Num momento em que o pas volta a experimentar um ciclo
importante de crescimento aps longos anos de estagnao este um forte
apelo.
Inclusive, por conta desse fator, seria simplrio e injusto o julgamento liminar
das atitudes do Relator como uma guinada ideolgica para as hostes ruralistas
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ou como gesto de oportunismo eleitoreiro. provvel que as motivaes do
parlamentar reflitam as influncias do pensamento estratgico pregado pelo
ex-ministro Mangabeira Unger.
De todo o modo, se a proposio do Relator no est movida pela adeso aos
impulsos devastadores prprios da cultura do agronegcio, e sim, pelo
convencimento pessoal sobre a concepo desenvolvimentista pragmtica, a
amenizao do seu nus poltico pessoal no altera os efeitos substantivos da
sua obra poltica.
2.Anlise das Principais Medidas do SubstitutivoA seguir, listamos e comentamos as principais medidas propostas peloSubstitutivo com algumas estimativas dos impactos correspondentes.
I Medidas que garantem uma reduo imediata das exigncias ambientais
atuais:
1) Desobrigao da manuteno de reserva legal pela pequenapropriedade . Com base nos dados de minifndios e pequenas propriedadesrurais constantes das Estatsticas Cadastrais do Incra, esta medida implicaria
que imveis que acumulam rea de 113.168.506 hectares em todo o pas
podem ficar livres da obrigao de manterem reserva legal.
Para uma simulao aproximada dos impactos dessa medida, considere-se que
pelo Censo Agropecurio 2006, a agricultura familiar (que no coincide com
pequena propriedade), dispe de 8.119.041 hectares com matas nativas
declaradas como reas de RL (reserva legal) e APP (reas de preservao
permanente), no conjunto. O Censo no disponibiliza os nmeros especficos
de APP e RL. Todavia, conforme veremos na sequncia, clculos a partir das
variveis disponibilizadas pelo Censo permitem concluir que do valor conjunto
de APP e RL em escala nacional, em torno de 60% constituem RL, e 40%, APP.
Aplicando-se essas propores sobre os nmeros da agricultura familiar,
conclui-se que 4.871.425 de hectares (60% de 8.119.041) de matas nativas
registradas pelo Censo Agropecurio estariam ameaadas de imediato pela
eventual transformao, em Lei, do Substitutivo.
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Na Amaznia, ainda segundo o Incra, imveis que acumulam rea de
33.695.025 hectares, entre minifndios e pequenas propriedades, estariam
livres da obrigao de manterem reserva legal. Nesta regio foram registrados
pelo IBGE nos estabelecimentos da agricultura familiar, 4.222.946 hectares de
APP e RL.
Aplicando a proporo anterior, tem-se que 2.533.768 hectares de RL
atualmente existentes na agricultura familiar na Amaznia estariam
automtica e imediatamente ameaados.
Comentamos, antes, sobre as reais motivaes do Relator para tal expediente.
Os pequenos produtores que sabidamente utilizam prticas muito mais
prximas da responsabilidade ambiental por certo no reivindicariam tal
imunidade. Contudo, incumbe ao Poder Pblico a subveno desses setores
pela preservao ambiental como ocorre em outros pases. Isto poder ser
viabilizado, entre outros instrumentos, com, a aprovao da legislao sobre
PSA (Pagamento sobre Servios Ambientais);
2) Incluso das APPs no cmputo das RLs . Por exemplo, se umapropriedade que tenha a obrigao legal de manter 20% da sua rea como RL,
tiver 10% deste imvel com APP, a rea efetiva de RL obrigatria passa a ser
de 10% do imvel. O Substitutivo estabelece como condio para utilizao
deste recurso a no liberao de novas reas de mata nativa para ocupao.
Ou seja, a medida visa preferencialmente reduzir a conta das reas de RL que
esto hoje ilegalmente desmatadas e ocupadas, premiando aqueles que
descumpriram a legislao ambiental. Isto no significa que aqueles
mantiveram a integridade da reserva legal no teriam benefcios. Pelo
contrrio, conforme mostraremos adiante estes casos tambm seriam
beneficiados de vrias maneiras.
medida que impossvel sabermos o total exato das reas de RL j
desmatadas, no se pode estimar os impactos reais dessa proposta.
De acordo com o IBGE, h no Brasil (posio de 2006), 93.982.304 hectares
com matas e ou florestas naturais. Nestas, esto includos 50.163.102
hectares de reas destinadas APP e RL, em conjunto.
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Fazendo os clculos requeridos com as demais variveis apresentadas pelo
IBGE chega-se concluso que a rea de RL corresponde a cerca de 60% dessa
rea, em torno de 29.180.333 hectares, e 40% seriam rea de APP: 20.982.769
hectares.
Com base nesta aproximao, e apenas para fins didticos de compreenso da
medida, no limite, teramos uma anistia das reas de RL ilegalmente
desmatadas nas reservas legais, que poderia alcanar at 20,9 milhes de
hectares. Ressalve-se que estamos desconsiderando as reas dos pequenos,
desobrigadas de RL, e ressaltando, ainda, os problemas de confiabilidade dos
dados declaratrios do Censo.
Na Amaznia, h 25.932.381 hectares de reas com RL e APP. Aplicando-se os
clculos anteriores, teramos rea de RL = 15.559.429 hectares e de APP =
10.372.952. Repetindo a hiptese adotada antes, teramos, ento, que na
Amaznia, a rea anistiada variaria na faixa dos 10,3 hectares.
3) reduo para 15 metros da rea de preservao obrigatria smargens de cursos dgua de menos de 5 metros. No atual Cd.Florestal a margem obrigatria de 30 metros para cursos dgua com menos
de 10 metros. No se dispe de informaes sobre reas margeadas por cursos
dgua, muito menos estas reas estratificadas por largura dos cursos.
Contudo, em que pese a aparente razoabilidade tcnica da proposta, vlido
supor sobre o impacto significativo desta medida em termos de reduo de
APP em todo o Brasil.
II Medidas que levam reduo das exigncias ambientais viadescentralizao da legislao.
1) Possibilidade de os estados reduzirem em at 50% as faixasmarginais de APP. Esta reduo poder ser feita por legislao estadualconcorrente fundamentada em estudos tcnicos. Uma vez reduzida, esta rea
menor que seria efetivamente considerada para fins do Programa de
Regularizao Ambiental PRA previsto pelo Substitutivo. O PRA incluiria
medidas (altamente subsidiadas, como veremos) de recomposio de reas de
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APPs j cortadas pela metade. Legalmente, institudo o PRA, no horizonte de
05 anos, que o prazo dado de moratria da supresso de florestas nativas,
novas reas que hoje so de APP estariam legalmente disponveis para
ocupao.
Como j dito, no Brasil os clculos aproximados mostram a existncia de
20.982.769 hectares de APP, nos dias atuais (posio 2006). de se supor que
com esta proposta de reduo, 50% desta rea passariam a estar desobrigada
de manuteno da vegetao nativa.
Observe-se que, num primeiro momento, computa-se a APP na RL. Depois, se
reduz a APP em 50%.
2) Possibilidade de os estados da Amaznia Legal aprovarem legislao,amparada em Zoneamento Ecolgico-Econmico, visando a reduo dasreas de RL. A reduo prevista para at 50% nas reas de formaoflorestal (onde hoje so 80%) e para at 20% nas reas de formao savnica
(onde hoje so 35%). Neste caso, o texto no condiciona explicitamente a
reduo no incorporao de novas reas para explorao agropecuria. Ou
seja, aprovada a reduo e transcorrido o prazo de 05 anos de moratria para
o desflorestamento (que podero por ato dos governos estaduais e DF ser
estendido por mais 5 anos), as reas de RL na Amaznia Legal podero ter sua
vegetao legalmente diminudas na proporo de 30% para reas de florestal
e 15% para reas de sanava. No caso do bioma Amaznia, poderemos ter a
liberao para desmatamento legal, de 4.667.829 hectares.
A proposta em apreo do Substitutivo aplica, para os setores da mdia e
grande propriedade da Amaznia, o que a legislao atual prev para os
pequenos, os quais, como vimos, passariam a ser liberados de manterem RL.
III Regularizao ambiental.No horizonte de 05 anos a Unio, ou os Estados, tero Programas de
Regularizao Ambiental PRA, nas reas de suas jurisdies. Estes programas
se encarregaro de criar mecanismos e condies facilitadas para que os
proprietrios e possuidores de imveis que no possurem as reas devidas
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(depois de todas as redues) de APP e RL possam regularizar sua situao
ambiental. Para isto devero no caso das reas de APP, recompor a vegetao
No caso das reas de RL, a regularizao poder ser feita por trs
mecanismos:
i) recomposio, no perodo de at 30 anos podendo intercalar espciesnativas e exticas. A possibilidade de recomposio com espcies exticaatende, como sabido, ao lobby do agronegcio da Amaznia, especialmente
dos setores ligados ao dend, carvo vegetal e celulose.
ii) compensao, que pode se dar por vrios mecanismos: comprando Cotade Reserva Ambiental CRA; arrendando rea de RL de outra propriedade ou
rea sob regime de Servido Ambiental; doando ao poder pblico uma rea
localizada em unidade de conservao no regularizada; ou ainda,
contribuindo para um fundo pblico para preservao ambiental. Enfim,
poder tomar a deciso que obviamente implicar em menor custo.
iii) simplesmente permitir a regenerao da rea.,O X da questo: por efeito cumulativo das medidas de flexibilizao previstas
no Substitutivo, supe-se que a obrigatoriedade da regularizao ambiental
incidir somente sobre aquelas reas remanescentes das medidas de
flexibilizao do clculo de APP e RL.
Ou seja, tomando-se o exemplo de um imvel em rea de floresta na
Amaznia teramos como rea objeto da regularizao aquelas restantes das
redues (resguardadas as condicionalidades j registradas): 15 metros de
margem de APP, se a mesma estiver preservando cursos dgua com menos de
5 metros de largura + reduo de at 50% para cada faixa de rea de APP +
reduo para at 50% da rea de reserva legal.
Com isto, reduzem-se as reas de APP e RL, e ampliam-se, na mesma
proporo, na maior parte dos casos, as reas para explorao agrcola ou
pecuria.
Alm disto, na definio do PRA e dos seus mecanismos esto embutidas
possibilidades de socializao dos custos da regularizao daquilo que sobrar
de APP e RL (depois das flexibilizaes propostas), vejamos:
i) Enquanto no criado e efetivado o programa as reas ilegalmentedesmatadas de APP e RL podero permanecer em uso para agropecuria e,
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tambm, os detentores dos imveis podero suspender os compromissos
assumidos junto ao poder pblico de regularizao ambiental.
ii) O programa exime reas rurais consolidadas das medidas previstaspara recuperao de APP.
iii) O programa dever disponibilizar recursos pblicos para garantir os meios eestmulos necessrios para a regularizao. Ao proprietrio desmatador
caber uma contribuio (possivelmente diminuta), proporcional ao seu
dano em extenso e dano ambiental. Ou seja, parte do nus (to maior
quanto maior o poder de barganha dos ruralistas) recair sobre o Poder
Pblico.
Entre os estmulos previstos no PRA esto: i) suspenso das autuaes e
multas por infraes ambientais j havidas (at 22 de junho de 2008); ii)
converso das multas, que vierem a ser aplicadas entre a publicao da lei e a
adeso do proprietrio/possuidor ao programa, em servios de preservao,
melhoria e recuperao da qualidade do meio ambiente;
IV Medidas adicionaisPara finalizar, o substitutivo prev estmulos adicionais para premiao
tambm daqueles que mantiveram a integridade da reserva legal nos termos
da lei atual, por meio de programas do Poder Pblico de pagamento por
servios ambientais.
Ou seja, reduzidas as reas obrigatrias de RL por meio das vrias medidas de
flexibilizao j tratadas, toda a rea que da sobrar e que estiver coberta
com mata nativa poder se converter em Cota de Reserva Ambiental CRA, e ser transacionada com estmulos fiscais e creditcios.Entre os incentivos econmicos para estimular a constituio de Cotas de
Reserva Ambiental esto: crdito rural subsidiado; limite maior de
financiamento; reduo do Imposto de Renda-IR para investimentos que visem
ampliar reas de floresta passveis de constituio das CRA; reduo do IR
referente ao ganho de capital com a comercializao das CRA; iseno do IR
decorrente da sua cesso onerosa.