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As Minas da Panasqueira ALEXANDRE LOURENÇO Reitoria da Universidade do Porto Centro de Geologia da Universidade do Porto 2008

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As Minas da Panasqueira

ALEXANDRE LOURENÇO

Reitoria da Universidade do Porto

Centro de Geologia da Universidade do Porto

2008

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„Uma onda de sangue tumultuoso precipita-se nas artérias de San Francisco. A

procissão de mineiros desaparece nas bocas da terra. O clarão do amanhecer

hesita à entrada, ainda acompanha os mineiros até ao primeiro quadro, mas já aí

as trevas húmidas se preparam para o devorar. „

Minas de San Francisco, Fernando Namora (1946)

Não podia escrever este texto sem agradecer ao colega e amigo José Duarte, companheiro de

todas as horas na Mina da Panasqueira.

Ao Camba, Teixeira, Marcelino, Jorge, Roleto e tantos outros que trabalham e trabalharam nas

Minas da Panasqueira a minha pública homenagem pela tenacidade e coragem com que

encaram a vida na Mina.

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Breve história das Minas da Panasqueira

A Mina da Panasqueira, integrada no Couto Mineiro da Panasqueira (Figura 1) localiza-se na

região da Beira Baixa, a cerca de 30Km a WSW da cidade da Covilhã, entre os maciços de S.

Pedro do Açor e da Gardunha, em plena Cordilheira Central.

O nome Panasqueira, deriva de Panasco, planta herbácea da família das Gramíneas, muito

frequente na região onde se encontra o Jazigo da Panasqueira.

As minas da Panasqueira e de um modo mais geral, a exploração do volfrâmio, também

denominado de "ouro negro", dada a importância económica que teve em tempos passados,

foram retratados por dois dos nossos mais importantes escritores: Aquilino Ribeiro que

escreveu “Volfrâmio”, onde é retratada não só a exploração do volfrâmio como também o seu

Figura 1 - Localização do Couto Mineiro da Panasqueira obtida no Google Earth.

Barroca Grande

Rio – Cabeço do Pião

Falha da Cebola

Panasqueira

Aldeia de S. Jorge da Beira

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contrabando e de Fernando Namora, com o romance“Minas de San Francisco” que aborda os

primôrdios da exploração do volfrâmio nas Minas da Panasqueira.

A história das Minas da Panasqueira, tal como qualquer mina com alguma importância

económica, apresenta um percurso extremamente ligado à história do próprio país. Na sua

longa actividade a mina regista alguns percalços e mesmo paralisações das quais não estão

isentos factores económicos, tais como, a cotação do minério, a sua utilidade face aos

desenvolvimentos da sociedade, assim como factores de ordem histórica, tais como, a 1ª e 2ª

guerras mundiais.

Os primórdios da exploração do volfrâmio remontam ainda ao séc. XIX, sendo o primeiro

registo oficial das Minas da Panasqueira datado de 25 de Novembro de 1898, com a

publicação no Diário do Governo da autorização da seguinte concessão: “Sociedade de Minas

de Volfram em Portugal, Lisboa. Por a firma Almeida, Silva Pinto & Comandita, Exploradora de

minas de Volfram, existentes no Fundão e Covilhã, com sede em Lisboa.” Esta concessão

abrangia as freguesias de Cebola (S. Jorge da Beira) e Bodelhão (Aldeia de S. Francisco de

Assis) pertencentes ao concelho da Covilhã e Cabeço do Pião-Rio pertencentes ao concelho

do Fundão. Mais tarde as explorações alargaram-se para novas áreas, tais como, Vale das

Freiras, Vale da Ermida e Barroca Grande, sendo esta onde se centrou a maioria da

exploração do Jazigo da Panasqueira. Todas estas concessões foram posteriormente

integradas numa só área mineira - Couto Mineiro da Panasqueira.

O interesse dos ingleses pela mina tem início em 1904, quando o Conde Burnay inicia a

construção da primeira lavaria, mecanizada das Minas da Panasqueira, localizada no Rio

Zêzere, comummente denominada de Lavaria do Rio (Figura 2).

Em 1911 constitui-se a empresa inglesa Wolfram Mining and Smelting Company que

desenvolveu a mina investindo em máquinas e na renovação da Lavaria do Rio, instalando um

cabo aéreo para transportar o minério dos vários sectores do couto mineiro para a lavaria. Com

o início da Primeira Guerra Mundial assistiu-se a um grande desenvolvimento da mina, facto a

que não é alheio a grande procura de volfrâmio, a nível mundial, devido às necessidades da

indústria militar. A produção aumentou, a lavaria foi desenvolvida e construiu-se um forno para

o tratamento do minério. Entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial a mina passou por algumas

vicissitudes havendo uma recuperação do preço do volfrâmio até ao fim da Segunda Guerra

Mundial. Neste período, trabalhavam na mina cerca de 5 800 trabalhadores e cerca de 4800

que se dedicavam a explorar pequenos filões à superfície (denominada exploração do quilo).

Em Julho de 1944 um decreto do governo Português obrigou ao fecho de todas as minas de

volfrâmio no País. No período pós Segunda Guerra Mundial a produção foi rapidamente

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recuperada, embora a cotação do minério tenha baixado drasticamente até ao início da década

de cinquenta, aumentando de novo aquando da Guerra da Coreia. Para compensar o baixo

preço do volfrâmio a mina intensificou a exploração de cassiterite. Em 1962 a mina começou a

produção de concentrados de cobre com a recuperação da calcopirite dos estéreis da Lavaria.

Em 1973, com a cotação do volfrâmio a ter altos e baixos, formou-se a empresa portuguesa

com o nome de Beralt Tin & Wolfram S.A. Em 1974 a empresa encetou a mecanização da sua

exploração subterrânea, diminuindo a mão-de-obra e adaptando o método de exploração do

minério a esta nova realidade. Nos finais dos anos setenta procedeu-se à abertura, no sector

da Barroca Grande, de um novo nível de extracção (Nível 2), começando a sua extracção em

1982.

A mina no início da década de noventa passa por um período difícil, culminante no seu fecho

de 1993 a 1995. Em 1996 houve uma transferência total da lavaria do Rio para uma nova

Figura 2 - Localização da Lavaria do Rio ( Cabeço do Pião), obtida no Google Earth, onde são visíveis as imponentes escombreiras que resultaram do tratamento do minério.

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lavaria situada no sector da Barroca Grande. Em 1998 entrou em funcionamento um poço

mecanizado que permitiu uma melhor extracção do minério produzido no nível 3 aberto em

1996.

De 1947 a 2006, inclusivé a mina produziu cerca de cem mil toneladas de concentrado de

tungsténio (o concentrado tem 75% de WO3) e cerca de cinco mil toneladas de estanho (o

concentrado tem 65 % de SnO2). Até 2006 foram igualmente produzidos cerca de trinta mil

toneladas de cobre, cuja produção só arrancou em 1961. Depois de várias vicititudes,

mudanças de dono, com a subida da cotação do tungsténio a fazer-se sentir a partir de 2004 a

mina encontra-se actualmente em franca exploração. A empresa japonesa Sojitz Corporation é

a presente detentora das Minas da Panasqueira, obtida através de uma Oferta Pública de

aquisição (OPA) lançada sobre a empresa canadiana Primary Metals, proprietária da firma que

detinha e explorava as minas, a Beralt Tin & Wolfram. Actualmente a mina encontra-se em

exploração somente no sector da Barroca Grande, concentrando-se principalmente no nível 3.

Método de exploração

A mina explora essencialmente filões de quartzo subhorizontais (Figura 3). Os sectores a

serem explorados são previamente seleccionados tendo em conta principalmente a presença

de filões de quartzo detectados por sondagens.

Figura 3 - Filão de quartzo sub-horizontal mineralizado em W-Sn-Cu pertencente ao sector da Barroca Grande.

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O método de exploração dos filões de quartzo mineralizados tem sofrido modificações ao

longo dos tempos. Desde meados dos anos setenta do século passado que a exploração dos

filões é efectuada através do método de câmaras e pilares que passaremos, de modo

suscinto, a explicar. Em termos genéricos a exploração de um novo sector é iniciada, pela

abertura de uma rampa de acesso ao sector que vai que vai ser explorado. Depois são

abertas galerias (travessas) formando-se uma quadrícula com pilares de 11 por 11 metros

(Figura 4a). Cada galeria tem cerca de 5 metros de largura por 2 de altura. Depois são

analisadas as paredes das galerias e efectuadas sondagens de curta distância afim de avaliar

se a zona é rica ou não em minério. Se a avaliação for positiva cada pilar destes é de novo

cortado por galerias perpendiculares entre si, primeiro formando pilares de 11 por 3 metros

(Figura 4b) e por último pilares de 3 por 3 metros (Figura 4c). Este método dispensa a

entivação pois são estes pilares finais quem sustenta a estrutura. Caso o sector seja

particularmente rico, antes de abandonar definitamente o sector são retirados os pilares 3 por

3 metros, implicando o abatimento daquele sector da mina.

O minério, conjuntamente com a rocha encaixante, é carregado por pás carregadoras até

poços de descarga (torbas) (Figura 5).

O minério que é extraído na execução das galerias, conjuntamente com a rocha encaixante, é

canalizado para as torbas (poços verticais) através de pás carregoadoras. As torbas

canalizam todo o minério para um único piso (piso de rolagem). Neste piso o minério é

transportado por vagonetes até ao poço principal onde se encontra um elevador que leva as

vagonetes com minério para um piso onde existe uma câmara de fragmentação que

mecanicamente reduz a dimensão dos fragmentos de minério com vista a este por ser

transportado por uma rampa até à lavaria (Figura 6), situada no exterior da mina. Os minérios

são tratados na lavaria com vista a obtenção de concentrados de tungsténio, estanho e cobre.

Figura 4 - Método de exploração de câmaras e pilares.

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Figura 5 – Carregamento do minério por pás carregadoras até poços de descarga.

Figura 6 – Lavaria da Barroca Grande

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Enquadramento geológico

As minas da Panasqueira localizam-se em pleno Maciço Central, pertencente à Zona Centro

Ibérica (Figura 7).

A mineralização de W-Sn ocorre associada a filões de quartzo sub-horizontais, encaixados nos

“Xistos das Beiras” pertencentes ao Complexo Xisto-Grauváquico (CXG). A nível regional

Figura 7 – Mapa geológico simplificado de Portugal Continental, com localização das Minas da Panasqueira. (Publicação integrada nas Comemorações dos 150 anos da criação da 1ª Comissão Geológica – IGM).

Jazigo da Panasqueira

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ocorrem inúmeros maciços graníticos, de diversos tipos e idades, tais como, o maciço da Serra

da Estrela, o maciço do Fundão e o maciço da Argemela.

Thadeu (1951) apresentou o primeiro estudo completo sobre a geologia regional do Couto

Mineiro da Panasqueira. Neste afloram essencialmente os “Xistos das Beiras”, constituídos

essencialmente por xistos argilo-gresosos que passam a quartzitos impuros e grauvaques.

A estratificação encontra-se extremamente inclinada (60 a 90º) com uma pendente

predominante para este. Os “Xistos das Beiras” pertencem ao grupo das Beiras, definido por

Sousa (1982). No que se refere à sua idade, Sousa (1985) considera este grupo como sendo

provavelmente do Precâmbrico Superior).

Relativamente ao magmatismo, para além de filões de graisene e aplitos, afloram no Couto

Mineiro da Panasqueira somente diques subverticais de natureza. Contudo, nos trabalhos

subterrâneos foi encontrada, em 1948, uma intrusão de natureza granítica (Thadeu 1951)

(figura 8). A parte superior da intrusão granítica está profundamente graizenizada (Thadeu,

1951; Clark, 1964, Bussink, 1984).

De acordo com Thadeu (1951) a intrusão granítica consiste numa apófise de direcção NW-SE,

mergulhando suavemente para SE, estando assim em concordância com a mancha aflorante

de xistos argilosos mosqueados. Lourenço (2002) concluiu que não estamos na presença de

uma cúpula graizenizada de um granito biotítico (Granito da Panasqueira), como tinha sido

defendido anteriormente, mas sim de um outro granito (Granito da Barroca Grande), com

características semelhantes às do granito da Argemela.

W

W

W

W W W

W

W

Sn-WSn-W

Sn-W Sn-W

Sn-W

Granito

Greisen

Xistos mosqueados

Xistos não mosqueados

Thadeu (1979)

Figura 8 – Corte geológico no Painel 4 do Nível 2 da Barroca Grande onde é possível observar a intrusão granítica.

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Filões mineralizados W-Sn-Cu

O campo filoniano do Jazigo de W-Sn-Cu das Minas da Panasqueira, extenso e extremamente

rico em minerais com interesse económico (volframite, cassiterite e calcopirite) foi objecto de

vários estudos, nomeadamente para a caracterização da morfologia e textura de enchimento

(Thadeu 1951; Orey 1967; Kelly & Rye 1979; Polya 1987; Foxford et al. 1991, Foxford et al.

2000).

A mineralização, nomeadamente a que ocorre no sector da Barroca Grande, actualmente a ser

explorada, embora variável e complexa, encontra-se em filões de quartzo sub-horizontais

(figura 5) e mais raramente em filões subverticais, denominados de filões galo na gíria da mina

ou dessiminadas no encaixante metassedimentar, no caso particular da cassiterite.

Os filões de quartzo sub-horizontais têm uma espessura variável (em média cerca de 30 a 40

cm) e uma extensão que no máximo atinge os 200m (Thadeu 1951), instalados em diaclases

pré-existentes. No que se refere à sua terminação, estes filões estreitam muito rapidamente

dando lugar a uma estrutura com uma forma sigmoidal, comummente denominadas, na gíria da

mina, de rabo de enguia (Figura 9). Deste modo os filões mineralizados, embora ocorram em

lentículas paralelas entre si, constituem uma complexa rede de fracturas preenchidas

conectadas através de rabos de enguia, filões subverticais, etc.

Figura 9- Terminação em “rabo de enguia” dos filões de quartzo mineralizados sub-horizontais , interconectados entre si.

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Segundo Lourenço (2002) no sector da Barroca Grande (Minas da Panasqueira) encontram-se

duas mineralizações parcialmente sobrepostas: uma mineralização em W-Sn-Cu, principal e

uma mineralização em Sn-Cu, posterior, de menor importância económica dada a sua pouca

extensão.

A mineralização principal apresenta as seguintes características:

- presença de moscovite, volframite, cassiterite e arsenopirite associadas a um quartzo

leitoso, posicionados preferencialmente nas zonas dos encostos dos filões (Figura 10); os

cristais crescem essencialmente em massas com a excepção da cassiterite, que é sempre

euédrica.

- na parte mais central a presença de sulfuretos (Figura 11), nomeadamente calcopirite,

arsenopirite, pirite e blenda associados a um quartzo mais hialino;

- abundante marcassite, principalmente em pseudomorfoses ou recobrindo a arsenopirite ou a

siderite, quer em cristais euédricos, por vezes de grandes dimensões, quer em massa a

preencher fracturas;

- por último a recobrir todos os outros minerais, observam-se carbonatos (dolomite e calcite).

Figura 10 - Salbanda moscovítica e volframite na zona superior de um filão de quartzo leitoso sub-horizontal.

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Kelly & Rye (1979) estabeleceram um quadro paragenético de pormenor para esta

mineralização, estabelecendo 4 estádios principais:

- Estádio dos Óxido-Silicatos (EOS), que poderá ser dividido em dois sub-estádios: um

estádio mais precoce constituído pela salbanda de moscovite associada a turmalina,

topázio, arsenopirite e cassiterite e um estádio mais tardio constituído por volframite,

quartzo, moscovite e arsenopirite;

- Estádio Principal dos Sulfuretos (EPS), constituído principalmente por arsenopirite, pirite,

pirrotite, calcopirite, blenda, apatite e quartzo;

- Estádio da Alteração da Pirrotite (EAP), caracterizado pela alteração da pirrotite em pirite e

marcassite e pela presença de grandes quantidades de siderite;

- Estádio dos Carbonatos Tardios (ECT), constituído principalmente por abundantes

carbonatos (dolomite e calcite) e sulfuretos (pirite, blenda, calcopirite).

Sobreposta à mineralização principal (W-Sn-Cu), ocorre uma mineralização de Sn-Cu,

constituída por uma segunda geração de cassiterite (cassiterite II) intimamente associada a

abundantes turmalinas com hábito acicular e a uma moscovite de pequenas dimensões. A

cassiterite aparece, tal como a da primeira geração, geralmente automórfica, com uma cor

geralmente castanha (clara a escura), embora tenha tendência a aparecer mais hialina do que

a cassiterite de primeira geração. Associada a esta mineralização existe uma abundante

calcopirite, posterior à cassiterite.

Figura 11 - Sulfuretos (pirite e calcopirite) a crescer na zona central do filão de quartzo mineralizado.

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A mineralização de Sn-Cu ocorre sob diversas formas:

- disseminada no encaixante metassedimentar ou em zonas fracturadas dos filões de quartzo

mineralizados em W-Sn-Cu, principalmente quando estes interceptam os filões de Seixo

Bravo (Figura 12);

- em filões de quartzo sub-horizontal, com uma pequena espessura (10-15 cm) (Figura 13),

com uma morfologia muito idêntica aos que ocorrem nos sectores com a mineralização de

cassiterite dominante, nomeadamente no sector de Vale da Ermida;

Figura 12 - cassiterite disseminada em zonas fracturadas dos filões de quartzo mineralizados em W-Sn-Cu, na intercepção com um filão de Seixo Bravo.

5 cm

Figura 13 - Filão de quartzo com cassiterite, sub-horizontal.

Filão Seixo Bravo

Filão Sub-horizontalSn-W-Cu

Sn

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- em reaberturas nos filões mineralizado em W-Sn-Cu (figura 14);

Referências

Bussink, R.W., 1984. Geochemistry of the Panasqueira tungsten-tin deposit, Portugal. Geologica Ultraiectina, 33,

170 pp. Tese de doutoramento

Cavey & Gunning (2006). Panasqueira mine. Orequest. 88 pp. Relatório técnico.

Clark, A. H., 1964. Preliminary of the temperatures and confining pressures of granite emplacement and

mineralization, Panasqueira, Portugal. Trans. Inst. Min. Metallurg., 73: 813-824.

Foxford, K. A., Nicholson, R. & Polya, D. A., 1991. Textural evolution of W-Cu-Sn- bearing hydrothermal veins at

Minas da Panasqueira, Portugal. Miner. Mag., 55: 435-445.

Foxford, Nicholson, Polya & Hebblethwaite, 2000. Extensional failure and hydraulic valving at Minas da

Panasqueira, Portugal: evidence from vein spatial distributions, displacements and geometries. J. Struct. Geol.,

22:1065-1086.

Kelly, W.C. & Rye, R.O., 1979. Geologic, fluid inclusions and stable isotope studies of the tin-tungsten deposits of

Panasqueira, Portugal. Econ.Geol., 74: 1721-1822.

Lourenço, A. 2002. “Paleofluidos e mineralizações associadas às fases tardias da Orogenia Hercínica”.

Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Tese de doutoramento.

a

ba

bFigura 14 - Mineralização de Sn-Cu instalada na reabertura de um filão mineralizado em W-Sn-Cu. a. Pormenor da zona do hasteal do filão de quartzo onde é visível a mineralização de W-Sn-Cu constituída por volframite e calcopirite. b. Pormenor da zona central do filão de quartzo onde é visível a mineralização de Sn-Cu constituída por cassiterite e calcopirite.

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Orey, F.C., 1967. Tungsten-tin mineralization and paragenesis in the Panasqueira and Vale de Ermida mining

districts, Portugal. Com. Serv. Geol. Portugal, 52: 117-167.

Polya, 1987. Chemical behaviour of tungsten In hydrothermal fluids and genesis of the Panasqueira W-Cu-Sn

deposit, Portugal. Na experimental, theoretical and field study. Universidade Manchester, 243pp. Tese de

doutoramento.

Sousa, M. B., 1982. Litoestratigrafia e estrutura do "Complexo Xisto-Grauváquico Ante-Ordovícico - Grupo do

Douro (Nordeste de Portugal). Universidade de Coimbra, 222pp. Tese de doutoramento.

Thadeu, D., 1951. Geologia do Couto Mineiro da Panasqueira. Comun. Serv. Geol. Portg., 32: 5-64.