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as leis científicas são definidas por uma cor- relação intrínseca, independentes do sis- tema de eixos, qualquer que seja o movi- mento destas. Caminhamos assim para o absoluto atra- vés de uma relativação integral; e este facto é de uma importância capital. O absoluto é assim definido pela fixidez de uma rela- ção, pela sua constância, pela sua inva- riância. E' esta invariância que é o abso- luto, não a relação. Focamos aqui um dos processos mais subtis — «des plus minces» como dizia Leibnitz — do espírito humano, como sempre que se trata da relação. Dei- xando por agora o que a questão tem de misteriosa, acentuamos o facto acima posto em evidência, no qual vemos a filosofia posi- tiva construir o absoluto por uma relativa- ção integral de relações : pode resumir-se a teoria d'Einstein, diz E. Borel dizendo que o conhecimento completo e total das rela- ções de espaço e tempo bastam para a des- crição do mundo; a natureza dos fenóme- nos, e em particular a localização da maté- ria e da electricidade deduzem-se por fór- mulas simples destas relações de espaço e tempo. * Três factos principais resultam desta análiss: a existência de dificuldades con- ceituais nas matemáticas v a relação destas dificuldades conceituais com os processos psicológicos originais, e a realização efec- tiva das matemáticas atravez destas difi- culdades, e não obstante a sua existência. Às matemáticas são construídas logicamente sob raízes psicológicas; os seus diferentes ramos desenvolvem-se em complexos dife- renciados (geometria, álgebra, etc.) que depois são postos em relação, que forme uma síntese. Este movimento obriga da tempo a tempo a voltar às raízes psicoló- gicas, ao mesmo tempo que se verifica no campo lógico ; daí o duplo movimento das axiomáticas e da introspecção psicológica, e as correntes idealista e intuícionista. O desenvolvimento em ramos, geométrico, algébrico, análise, etc, tem a sua origem primordial em processos psicológicos fun- damentais, que lhes servem de base. A conclusão estabelecida pelas grandes sín- teses, não reduzem a irreductibilidade fun- damental dos processos psicológicos, como ponto e número ; a redução é tentada então por vias lógicas. Além disso o processo tautológico parece combinar-se com um enriquecimento progressivo cujas origens são psicológicas. Assim o cálculo diferen- cial e integral nasce num dado momento a partir de experiências empíricas e de raízes psicológicas; depois desenvolye-se afas- tando-se cada vez mais destas origens. A cópula do processo psicológico da repetição infinda, do fluxo infindo, com a de função, gera as origens do cálculo infinitesimal e integral; depois o cálculo infinitesimal cho- ca-se com o descontínuo : — talvez porque, como diz Poincaré, entre o contínuo e o descontínuo existe um conflito humano : o que é dar ao conflito um condicionalismo psicológico. A mesma coisa sucede, ao fim de certos desenvolvimentos, entre o lógico e o intuitivo; a intuição não pode acompa- nhar o desenvolvimento tautológico. Tudo isto tem o valor de uma experiên- cia intelectual, cujos ensinamentos devem ser arquivados. Esta experiência fornece-nos algumas indicações úteis sobre os processos gerais do pensamento, e permitem-nos obser- var o que sucede na construção da Metafí- sica. Este facto parece-nos importante porque põe assim em contraste duas formas capitais das construções históricas do con- junto humano : a matemática e a metafísica. A história da Metafísica tem o valor de uma experiência que nos mostra a impo- tência e a esterilidade dos seus esforços ; esta experiência deve conjugar-se com a análise dos seus processos psicológicos constitutivos. A experiência histórica põe em evidência o facto impotência; o condi- cionalismo geral psicológico da Metafísica deve conter a causa deste facto.

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Page 1: as leis científicas sã o definidas por uma corntese AII... · E' esta invariância que é o abso ... infinda, do fluxo infindo, com a de função, gera as origens do cálculo infinitesimal

as leis científicas são definidas por u m a cor­re lação in t r ínseca , i n d e p e n d e n t e s do sis­t e m a de eixos, qua lquer que seja o movi­m e n t o des ta s .

Caminhamos assim para o abso lu to a t ra ­vés de u m a re la t ivação i n t e g r a l ; e es te facto é de u m a impor tânc ia capi ta l . O abso lu to é ass im definido pela fixidez de u m a rela­ção , pela sua cons tânc ia , pela sua inva­r iância . E ' es ta invar iância que é o abso­lu to , não a relação. F o c a m o s aqui u m dos processos mais subt is — «des p lus minces» como dizia Le ibn i t z — do espír i to h u m a n o , como sempre que se t r a t a da relação. Dei­x a n d o po r agora o que a ques t ão t e m de mis te r iosa , acen tuamos o facto acima pos to em evidência , no qua l vemos a filosofia posi­t iva cons t ru i r o absolu to po r u m a rela t iva­ção in tegra l de relações : pode resumir-se a teor ia d 'E ins te in , diz E . Borel d izendo que o conhec imento completo e t o t a l das rela­ções de espaço e t empo b a s t a m para a des­crição do m u n d o ; a n a t u r e z a dos fenóme­nos , e em par t i cu la r a local ização da ma té ­r ia e da electr ic idade deduzem-se por fór­mulas s imples des tas relações de espaço e t empo .

*

Três factos pr inc ipa is r e su l t am des ta a n á l i s s : a exis tência de dificuldades con­cei tuais n a s m a t e m á t i c a s v a relação des tas dificuldades concei tua is com os processos psicológicos or iginais , e a rea l ização efec­t iva das ma temá t i ca s a t r avez des tas difi­cu ldades , e não obs t an t e a sua exis tência . Às m a t e m á t i c a s são cons t ru ídas log icamente sob ra ízes ps i co lóg icas ; os seus diferentes r amos desenvolvem-se em complexos dife­renciados ( g e o m e t r i a , á lgebra , e t c . ) que depois são pos to s em re lação , que forme u m a s ín tese . E s t e mov imen to obr iga da t e m p o a t empo a vo l t a r às raízes psicoló­g icas , ao mesmo t empo que se verifica no campo lógico ; daí o duplo mov imen to das ax iomát i cas e da in t rospecção psicológica, e as co r ren tes idea l i s ta e in tu íc ionis ta . O

desenvolv imento em r a m o s , geomét r ico , a lgébr ico, anál ise , e t c , t em a sua or igem pr imordia l em processos psicológicos fun­d a m e n t a i s , que lhes servem de base . A conclusão es tabe lec ida pelas g r a n d e s sín­teses , não r e d u z e m a i r reduc t ib i l idade fun­damen ta l dos processos psicológicos , como pon to e número ; a redução é t e n t a d a en t ão po r vias lógicas . Além disso o processo tau to lógico parece combinar-se com u m enr iquec imento p rogress ivo cujas or igens são ps icológicas . Ass im o cálculo diferen­cial e in tegra l nasce n u m dado m o m e n t o a p a r t i r de experiências empír icas e de raízes p s i co lóg icas ; depois desenvolye-se afas-tando-se cada vez mais des tas or igens . A cópula do processo psicológico da repet ição infinda, do fluxo infindo, com a de função, g e r a as or igens do cálculo infinitesimal e in tegra l ; depois o cálculo infinitesimal cho-ca-se com o descon t ínuo : — ta lvez po rque , como diz Po inca ré , en t re o cont ínuo e o descont ínuo exis te u m conflito h u m a n o : o que é da r ao conflito u m condicional ismo psicológico. A m e s m a coisa sucede, ao fim de cer tos desenvolv imentos , en t r e o lógico e o i n t u i t i v o ; a in tu ição não pode acompa­n h a r o desenvo lv imento t au to lóg ico .

T u d o is to t em o valor de u m a exper iên­cia in te lec tual , cujos ens inamentos devem ser a rqu ivados . E s t a exper iência fornece-nos a lgumas indicações ú te i s sobre os processos gera is do pensamen to , e pe rmi tem-nos obser­v a r o que sucede na cons t rução da Metafí­sica. E s t e facto p a r e c e - n o s i m p o r t a n t e p o r q u e põe ass im em con t r a s t e duas formas capi ta i s das cons t ruções h is tór icas do con­j u n t o h u m a n o : a m a t e m á t i c a e a metafísica.

A h is tór ia da Metafísica t em o valor de u m a exper iência que nos m o s t r a a impo­tênc ia e a es ter i l idade dos seus esforços ; e s t a exper iênc ia deve conjugar-se com a anál ise dos seus processos psicológicos cons t i tu t ivos . A experiência his tór ica põe e m evidência o facto impotência; o condi­cionalismo gera l psicológico da Metafísica deve conter a causa des te facto.