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AS INFORMAÇÕES EM PORTUGAL

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AS INFORMAÇÕES EM PORTUGAL

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AS INFORMAÇõES EM PORTUGAL

Resumo dos artigos anteriores:

Nos artigos anteriores o autor salienta a necessidade de um Serviço de Informações em condições de apoiar o Conselho da Revolução, os poderes legislativo, executivo e judicial, as forças armadas, a diplomacia, as comu­nidades portuguesas no estrangeiro e até os partidos e os sindicatos.

Propõe-se estudar cada um dos sectores de actividade das informações para contribuir para a dignificação do perfil público dos Serviços de Infor­mações, que está a ser deteriorado, o que urge. rectificar e corrigir para bem da eficiência da pesada tarefa de governar.

Faz uma apreciação histórica que divide em três partes:

- da fundação da nacionalidade, à conquista de Ceuta; - da conquista de Ceuta, à independência do Brasil; - da independência do Brasil, à independência de Angola.

Cobre a primeira parte, focando a acção contra os mouros, a consoli­dação e fortificação dos reinos de Portugal e do Algarve, salientando as informações para conduzir as complexas negociações com a Cúria Romana, as lutas e as perigosas conversações com os reinos católicos da península e, simultaneamente, manter a pressão da guerra sobre os muçulmanos, com a conquista de Ceuta.

Cobre a segunda parte, durante a qual dominamos o Algarve africano, achamos a Madeira e os Açores e, como vanguarda da cristandade ocidental ampliamos com os espanhóis o horizonte e o domínio da sociedade que repre­sentávamos, até abranger todas as terras habitáveis e mares navegáveis.

A acção dos portugueses é estimulante para os espanhóis e da competição surge o Tratado de Tordesilhas que foi negociado por D. João 11 de um modo perfeito e que se pode considerar o epílogo da sua magistral política de informação e segredo.

O reinado de D. Manuel é aquele em que atingimos o auge e iniciamos a decadência.

D. João 111, ainda com alguns conselheiros do Príncipe Perfeito, toma a grande decisão de manter apenas o possível no Norte de África e trans­ferir o esforço do indico para o Brasil. Paralelamente a uma política nacional acertada, deixa-se apoderar de um fanatismo religioso que abre a ·possibilidade à instauração no reino do Santo· Ofício, estreitamente controlado pelos

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jesuítas que afugentam e perseguem os judeus que vão para Inglaterra e para a Holanda arrecadar os lucros da . passagem do comércio do oriente do Mediterrâneo para Lisboa.

A união com a Espanha arruína-nos ainda mais e atrai sobre nós a hostilidade e a cobiça de holandeses e ingleses que, mais tarde, aliados com os franceses, nos ajudam a restaurar a independência.

A partir daí passamos a estar estreitamente controlados pelos franceses e depois pelos ingleses que disfrutavam de largos privilégios e mantinham feitorias em Lisboa e Porto de grande projecção em todo o território nacional.

O Marquês de Pombal fez a única tentativa séria para nos hõcrtar da tutela estrangeira.

As invasões francesas, a fuga da corte para o Brasil e a necessária dominação inglesa consentida deram origem a uma onda de descontenta­mento que culminou com a Revolução de 1820. Em 1822, com a indepen­dência do Brasil, estávamos perante uma situação trágica a que a geração seguinte vai fazer frente, em condições extremamente difíceis, pois não dis­púnhamos de quaiquer órgãos de Informações para apoiar a máquina do Estado.

Essas estruturas poderiam e deveriam existir, mas sob controlo dos ingleses que ainda durante mais de meio século exerceram sobre o território nacional uma pesada tutela.

AS INFORMAÇõES EM PORTUGAL

4. DA INDEPEND:aNCIA DO BRASIL, À INDEPENDaNCIA DE ANGOLA

O Sinédrio e os seus adeptos ao decidirem o pronunciamento de 24 de Agosto de 1820 sabiam o que não queriam, isto é:

- o jugo de Beresford - os oficiais ingleses no exército - as delongas na administração - a corte no Rio - a estagnação dos negócios - a ruína da indústria - a decadência da marinha mercante - a miséria nos campos

porém dissentiam no sentido e na amplitude das reformas (I).

(I) Professor Joaquim de Canalho,H1st6rla de Portugal, ~1os, VoL VII, pAgo 6S

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Dado o carácter antibritânico da conjura, pode-se ser levado a pensar que o Sinédrio, que não há notícia de que volte a reunir depois de 24 de Agosto (2), tenha sido organizado por razões de segurança dado que os conspi­radores se tinham que libertar das estruturas da maçonaria, onde em todas as organizações e a todos os níveis se encontravam presentes numerosos ofi­ciais ingleses. Aliás, a regência já devia estar alertada das actividades revolu­cionárias secretas uma vez que através de um alvará de 30 de Maio de 1818 decretava como «criminosas e proibidas todas e quaisquer sociedades secretas de qualquer denominação que elas sejam, ou com os nomes e formas que de novo se disponha ou imagine, pois todas e quaisquer deverão ser consideradas, de agora em diante, como feitas para conselho e confederação do Rei e contra o Estado» e «seriam mais rigorosamente vigiadas e mais severamente punidas» C).

A Revolução de 1820 pretendeu libertar Portugal de uma situação colo­nial em relação aos ingleses e até em relação ao Brasil.

Os ingleses dominavam inteiramente no território nacional, em especia1 nas zonas de Lisboa, Sintra, Setúbal, Porto, Lagos e Madeira, onde manti­nham importantes feitorias que disfrutavam de incalculáveis privilégios domi­nando o comércio e a navegação, o exército e a marinha, a cartografia e a hidrografia. Tirando o máximo partido dos súbditos britânicos residentes nas feitorias e de agentes especiais mantidos em território continental e insular, tinham o completo controlo das informações.

D. João VI chega a Lisboa em Julho de 1821 e, após jurar a Constituição, extinguiu o Tribunal do Santo Ofício e decretou a abolição da censura prévia.

A Constituição de 1822, inspirada na Constituição espanhola de 1821 (Constituição de Cadiz) e nas Constituições francesas de 1791 e 1793, foi recebida com hostilidade pelas classes privilegiadas. No entanto todos reconheciam a imperativa e vital necessidade de organizar a metrópole para a sua auto-suficiência e).

(2) K Piteira Santos, Geografia ~ Economia da Revolução d~ 1820, 2.& Bdiçlo, Lisboa, 1975, 1PAgs. 32 e 33.

(J) Idem, idem, pág. 37. (4) AntóDio Manuel Pereira, Â.f Constituiçõq Polttlc4r Portugue.sa.r. Porto. 1961. Pela Consútuição de 1822 o território nacional era coDStituido: 1...- Na Europa: pelas

pl'Ovfncias do Minho, Trás-os-Montes, Beira, Estremadura, Alentejo e Reino do Algarve e ilhas adjacentes Madeira, Porto Santo e Açores. 11.- Na Africa Ocidental: Bissau e Cachcu; na costa da Mina S. João Baptista de Ajudá; Angola; BeI1gueJa e suas dependências; Cabinda e Mo1embo; as ilhas de Cabo Verde e as de S. Tom! e PrIncipe e suas dependênCias; na costa Oriental: Moçambique, Rio Sena, Sofala, Inhambane, Quelimanc e as ilhas de Cabo Delgado. 111- Na ÁSia: SaJsete. Bardez, Goa e Diu c os estabelecimentos de Maaw c das ilhas Solor c Tunor.

Sob o ponto de vista eleitoral, o que dá uma kk;ia do modo como estes territórios estavam assoáados, a dimlo era a seguinte: Reino de AQoIa e Bcngue]a.. I1has de Cabo Verde com Bislau e Cadleu; S. Tom6 c Priocipe o suas dcpood&lcias ; BItados de 0&: Estabelecimentos de MaA:au. ·SolOr e Timor.

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A constituição previa a cnaçao de uma força militar permanente nacional cujo destino era manter a segurança interna e externa do Reino. com sujeição ao governo.

Na sua autoridade, o Rei, além de lhe· competir fazer executar as leis e expedir decretos, instruções e regulamentos adequados a esse fim, compe­tia-lhe ainda prover a tudo o que fosse respeitante à segurança interna e externa do Estado, na forma de Constituição (Art.2 122).

O Rei não podia mandar prender alguém, excepto quando o exigisse a seguran~a do Estado, devendo então ser o preso entregue, dentro de 48 horas, ao juiz competente (Art.!! 124, IV).

Apesar destas disposições constitucionais cautelares dos interesses do estado, respeitando contudo os direitos individuais, nada se fez para organizar um serviço de informações, continuando o país a ser manejado do estrangeiro.

Durante dez anos, o que António Sérgio chama, «esse Portugal brasileiro» debateu-se furiosamente para evitar a reforma, que era fatal, e acabou nas mãos de Mousinho da Silveira.

Ao pronunciamento de Abril de 1823, do Conde de Amarante, em Trás­-os-Montes, segue-se a Vilafrancada (27 a 31 de Maio de 1823). Por decreto de 18 de Dezembro do mesmo ano é abolida a liberdade de ensino, instituída pela Revolução. Um ano depois, a Abrilada (30 de Abril de 1824) provocou a intervenção enérgica do corpo diplomático que deu a oportunidade ao Rei refugiado a bordo da nau inglesa «Windsor Castle», de impor a saída de D. Miguel do reino, o que se veio a verificar em 13 de Maio.

Estas graves ocorrências dificultaram qualquer tentativa séria para submeter o Brasil, cuja independência acabou por ser reconhecida em 29 de Outubro de 1825, por pressão do governo britânico.

O Rei adoeceu gravemente, em 4 de Março de 1826 e nomeou uma regência para governar enquanto não recuperasse a saúde e, no caso de morte, até o seu sucessor providenciar como julgasse melhor. Em 26 do mesmo mês, morre D. João VI sem nunca ter feito uso do título honorífico e vitalício de imperador e rei do Brasil que lhe fora conferido pelo tratado que reconheceu a independência daquele território. .

Quando o Brasil se tornou independente, as possessões portuguesas no ultramar eram muito mal conhecidas da maioria dos portugueses e s6 alguns políticos, missionários, comerciantes, militares e marinheiros tinham a consciência das nossas possibilidades e potencialidades. A política que se impunha é preconizada por D. José de Azeredo Coutinho C) que alertava:

«Se porém se resolver ainda, que o commércio do resgate dos escravos da América, se deva ir extinguindo gradualmente à proporção da maior popula­ção das Nações, e Col6nias da América, que pela necessidade de braços para

(5) D. José J. da C. de Azeredo Coutinho, Ensaio Económico ~obre o Comércio de Portugal e suas Colônias, 3.· Ediçio, Academia Real das Ciências, Lisboa 1828. páp. 1:32 e 133.

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a agricultura, e fabrico das suas terras, se vião obrigadas a fazer uso do dito commércio; é necessário que Portugal desde já vá fazendo o maior uso possível das Terras de África de que estiver de posse, ou seja na agricultura e lavoura dos géneros próprios dellas, ou seja na excavação de minas de ouro, de ferro, e de todos os metaes, que alli se diz haver em abundância, e por consequência nas fábricas necessárias para o aproveitamento dêlles, para que a proporção, que por huma parte se forem diminuindo os interesses do commércio dos escravos daquellas terras, se vão também pela outra parte augmentando os interêsses da agricultura e de tudo quanto produzem, e podem produzir aquellas terras; para que Portugal se não ache de repente sem o commércio dos escravos, sem a agricultura, sem minas, e sem terras de África.»

Contudo, não havia condições para seguir esta política ou qualquer outra. As estruturas da governação estavam completamente desmanteladas.

D. Pedro, logo que teve conhecimento da morte de seu pai, outorgou, em 29 de Abril de 1826, a Carta Constitucional e, em 3 de Maio seguinte, abdicou a coroa portuguesa em sua filha D. Maria da Glória, princesa do Grão Pará, que na altura tinha 7 anos, com a disposição que em tempo pró­prio esposaria seu tio Miguel.

Portugal continua a ser governado por uma regência que tenta sufocar, com as forças liberais disponíveis, as várias revoltas absolutistas que disfru­tavam do apoio da Espanha.

Em face desta situação e receando-se qualquer intervenção por parte de Fernando VII, solicitou-se o auxílio de Inglaterra de acordo com os tratados existentes e, nos fins de 1826, desembarcaram outra vez em Lisboa forças inglesas, constituídas por uma divisão de 6000 homens, comandada pelo general Clinton.

A Carta Constitucional impunha no § 15.2 do Art.º 75 «prover a tudo o que for concernente à segurança interna e externa do Estado» e previa a constituição de uma força militar a ser também empregue pelo Poder Exe .. cutivo como bem lhe parecer conveniente à segurança e defesa do Reino (').

D. Miguel é nomeado, em 3 de Julho de 1827, lugar-tenente e regente do reino. Entra no Tejo em 22 de Fevereiro de 1828 e, quatro dias depois, jura a Carta. Mas, as suas convicções, a influência da Rainha-Mãe e os anti­gos compromissos levam-no a dissolver a Câmara dos Deputados (13 de Março) e a convocar as velhas cortes, tendo-se aclamado rei absoluto em 30 de Junho. Em 2 de Abril retira a divisão inglesa de Cliuton. Em Outubro, os Estados Unidos da América e a Espanha reconhecem D. Miguel como rei absoluto.

A actividade política em Portugal continental começou a ser controlada e orientada do estrangeiro, do Brasil e da Terceira por radicais e moderados que abandonaram o País.

(.) António Manuel Pereira, obra citada

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D. Pedro nomeou uma nova regência que começou a actuar em 15 de Maio de 1830, na ilha Terceira, que nunCa reconhecera D. Miguel como rei.

Tomando-se favorável o ambiente europeu com o sucesso da Revolução de 1830, em França (1) e a subida ao poder, em Inglatera, de um governo liberal e), D. Pedro abdicou, em 7 de Abril de 1831, o trono do Brasil em seu filho e, quatro dias depois, embarcou para a Europa, com o título de Duque de Bragança.

Depois de obter os apoios externos necessários para conquistar a coroa de Portugal para sua filha e garantir, com a Carta Constitucional, a liberdade do povo português, saiu de Belle-Isle-en-Mer a 10 de Fevereiro de 1832 e, a 3 de Março, desembarcou na Terceira, onde dissolveu a regência e assumiu o poder e a direcção do governo com o título de «Duque de Bragança regente em nome da rainha».

Tomou a chefia dos liberais, conseguiu, dinheiro 7500 homens (') e uma esquadra ('0). Depois de ter tentado outros locais, desembarcou na Amosa de Pampelido, em 8 de Julho de 1832, marchando sobre o Porto, onde foi recebido com as maiores expansões de entusiasmo. Mousinho da Silveira, ainda em Julho começa a dar publicidade aos seus decretos que foram come­çados a redigir em Angra e que, como dizia, tinham duas grandes senten­ças gerais:

- aumentar a massa dos bens alodiais.(") - acabar a natureza dos bens destinados a tolher o nascimento da eleva-

ção moral.

A maneira como as tropas liberais e o povo da cidade se defenderam do cerco, o desembarque do Duque da Terceira no Algarve, a destruição da esquadra miguelista no Cabo de S. VicenteC) e as operações terrestres, deram

(') Com esta revoluçlo 6 destronado Carlos X e reafi1lll6« a Carta de 1814.

(') O longo governo Tory deu lugar aos Whigs hõerais. A partir desta 6poca iniciou-se um equiltbrio bipartidário que se prolongou durante todo o reinado da Rainha Vit6ria..

(') Dos quais 800 mercenários franceses e ingleses. ('0) A esquadra em comandada por Georae Rose Sartorius, Almirante da Marinha Real

Inglesa. Foi visconde da Piedade e Conde da Penha Fume. ( 11) _ Alodiais - livres de encargos ou direitos senhoriais.

- Na altura. o direitos lCDhoriais e ·os dfzimos eclesiásticos ~vam dois terços do total dos eDC81"gos fiscais e os donatários da nobreza e do clero, entre­punham-se entre o Rei e a Naçlo criando uma situaçlo IWministrativa e fiscal, que, além de ser opressiva, era oonfusa, obsoleta e pa:ralisadora..

~ F.. ·Piteira ~ obra citada, pâgs. 32 e 33. (12) A esquadra que derrotou os miguelistas era comandada por Sir Carlos Napier. da

Marinha Real Inglesa que substituiu Sartorios. A esquadra transportou 1500 homens, sob o COIDIlDdo do duque da Ten:eira, do Porto para o Algarve e à volta enfrentou a esquadra de D. Miguel perto do Cabo de S. Vicente (S Julho J-833)~ Napier recebeu por esse feito o titulo de Conde de Napier de S. Vteente. Napier 6 autor de um. trabalho tüst6rico cA Guerra da Sucesslo em Porrugab.

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a vitória às forças liberais, o que tomou possível, em 22 de Setembro, o desembarque triunfal da Rainha, em Lisboa.

Depois da Convenção de Évora Monte, D. Miguel capitulou (26 de Maio de 1834) e a rainha assumiu plenos poderes em 20 de Setembro do mesmo ano.

A primeira rainha constitucional, além dos grandes embaraços financeiros, encontrou em luta as diversas facções políticas criadas durante o exilio, o que provoca: um pronunciamento progressista em 9 de Setembro de 1836, que restabeleceu a constituição de 1822; a revolta cartista dos marechais, duque da Terceira e Saldanha; e a nova Constituição, jurada em 4 de Abril de 1838(").

Nesse mesmo ano o governo apresenta um relatório à rainha que se julga do maior interesse reproduzir na íntegra, pois constitui um estudo de situação nacional para a inteira e completa abolição do trâfico da escravatura nos domínios portuguesesC).

RELATóRIO.

SENHORA!

«A civilisação da Africa tem sido nestes ultimos tempos o pensamento querido dos Sabios e dos Filantropos, e não menos o desvelado cuidado dos principaes Governos, que no antigo e no novo Continente, marcham â testa do progresso, e promovem o melhoramento da especie humana; em quanto Portugal, que durante seculos havia trabalhado nesta grande obra, hoje em vez de a promover, lhe põe obstaculos.

O primeiro título que os nossos Grandes Reis, Augustos Avós de Vossa Magestade, accrescentaram ao de Rei de Portugal, foi o de = além mar em Africa, e o de Senhores de Guiné. = Empunhadas pelas mãos de nossos navegadores, dirigidas pela atrevida sciencia de nossos Astronomos, as Quin­nas Portuguezas, desta extremidade da Europa sahiram para conquistar e civilisar, primeiro foram mostrar-se nos mares de Ceuta, logo, passado o tremendo cabo Bojador, não tardaram a ganhar as ferteis regiões que rega o Senegal, o Gambia, e o Zaire; donde, descendo e dobrando o Cabo Tormen­torio, passaram a descobrir a Costa Oriental da immensa península Africana, em cujo litoral fundaram Feitorias, construiram Fortes, e conquistaram P6vos.

(13) Quanto l segunmça interna e extaDa do reino e l força armada. Dlo apresentava alteraç&s. Quanto l definiçlo do território nacional, apresentava as seguintes:

- Na Africa Oriental acrescenta'Va a Bata de Lourenço Marques (em disputa com os ingkses) e, quanto l ÁSia, Damlo..

(14) Documentos offic:iaes relativos l negoclaçlo do Tratado entre portugal e a Oram Bretanha pam a supresslO da escravatura, mandatos imprimir por ordem da Camara dos SeInadores, lJs!Kla, Imprensa Nacional, 1839, páP. 76 e 77.

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Sobre varios feitos de Africa, como em tantos outros, os Portuguezes tem sido calumniados por historiadores modernos, que representaram nossos Guerreiros e Navegadores traficando com a espada na mão dos haveres e das vidas das Nações descobertas. E todavia, não ha um só documento em toda a primeira época de nossos descobrimentos, que não prove que o prin­cipal, e quasi unico intuito do Governo Portuguez era a civilisação dos Póvos pelo meio do Evangelho. O Commercio foi secundario, posto que meio civi­lizador tambem; e a denominação foi uma necessidade cousecutiva, não um objecto.

, ,", . Os erros de doutrina religiosa, e o vicio das medidas politicas, eram do Seculo, não dos homens.

A India primeiro, depois o Brazil fez-nos deixar a Africa, nosso mais natural 'campo de trabalhos. Mas a colonisação do Brazil, e a exploração de suas minas; e bem depressa o interesse de todas as outras Potencias que houveram o seu quinhão da America, foram os maiores inimigos da civilisação da Africa, que nós sós, e com tanto sacrificio de vida e fazendas haviamos começado.

O infame trafico dos negros, é certamente uma nodoa indelevel na historia das Nações modernas; mas não fômos nós os principaes, nem os unicos, nem os peores réos. Cumplices, que depois nos arguiram tanto, pecaram mais, e mais feiamente. Emendar pois o mal feito, impedir que mais se não faça, é dever da honra Portugueza, e é do interesse da Corôa de Vossa Magestade, porque os Dominios que possuimos naquella parte do Mundo, são ainda os mais vastos, importantes, e valiosos que nenhuma Nação Europea possue na Africa Austral.

Para os avaliarmos não devemos só considerar o que actualmente são mas o de que são susceptiveis. O estado em que se acham é devido não só ao mâu Governo que tem tido a Metropole, mas a este ter prestado a sua attenção quasi exclusivamente ao Brazil.

Os naturaes da Africa foram aprisionados, e transportados além do Atlantico, para tornarem rico um immenso paiz, cujos habitantes se recusa­vam á civilisação. Lê-se n'uma memoria antiga, que houve tempo em que na Dha de S. Thomé existiram dezesete engenhos de assucar, que o Governo de Portugal mandou destruir, para não prejudicarem a cultura da cana, que naquelle tempo promovia no Brazil!

Em nossas Provincias Africanas existem ricas minas de ouro, cobre, ferro, e pedras preciosas: alli podemos cultivar tudo quanto se cultiva na America: possui mos terras da maior fertilidade nas Dhas de Cabo Verde, em Guiné, Angola, e Moçambique; grandes rios navegaveis fertilisam algumas das nossas Provincias. e facilitam o seu commercio; naquelles vastos territo­rios poderemos 'cultivar em grande a cana do assucar, o 'arroz,anil, algodão, caffé, e C;lcáu; n'uma palavra, todos os generos chamados coloniaes, e todas as plantas das Molucas, e de Ceilão, que produzem ,as especiarias em tal abundancia, que não sómente bastem ao consumo de Portugal, mas que possam ser exportados em muito grandes quantidades para os butros mercados

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da Europa, e por menores preços que os da America, visto que o cultivador Africano não será obrigado a buscar, e a comprar trabalhadores, transpor­tados da outra banda do Atlantico, como acontece ao cultivador Brazileiro, que paga por alto preço, augrnentado ainda pelo risco do contrabando, os escravos que emprega.

Promovâmos na Africa a colonisação dos Europeos, o desenvolvimento da sua industria, o emprego de seus capitaes; e n'uma curta serie de annos, tiraremos os grandes resultados que outr' ora obtivemos das nossas Colonias.

Mas para isto é necessario que reformemos inteiram~nte as nossas Leis Coloniaes.

Se pelo resultado se p6de julgar o systema d'uma Legislação, nenhuma poderá ser peior do que a das nossas Possessões: seculos tem decorrido depois que se acham no dominio Portuguez, e pouco differentes estão em civili~ção do que eram no tempo da conquista, em quanto, como contraste, a visinha Colonia do Cabo de Boa Esperança, em muito menos tempo, tem crescido rapid;unente em populaçãn branca, e em riqueza.

A gloria de continuar a grande empreza começada pelo Senhor D. João 11 estava reservada a Vossa Magestade. A civilisação d'Mrica de que tantas Nações poderosas tem desesperado, é mais possivel' á Rainha. de Portugal, que em Suas Mãos tem as chaves das principaes portas por onde ella póde entrar, e cuja authoridade é obedecida em varios pontos do interior daquelle vasto Continente, que se acham situados a mais de duzentas legoas domar. E assim como foi possivel aos Soberanos de Portugal abrir estradas para a civilisação, que nenhum outro Príncipe ousou fazer commetter, ser-lhes-há tambem possivel aclimatisar, e fazer prosperar naquelIas regiões esta planta benefica. '

Como preliminar indispensavel de todas as providencias, que para este grande fim, de acordo com as Côrtes Geraes da Nação, Vossa .Magestade não deixará de Dar em Sua Alta Sabedoria, Religião, e Humanidade, oS' Seus Secretarios d'Estado tem hoje a honra de propôr a Vossa Magestadc. no seguinte Projecto de Decreto, a inteira e completa abolição do Trafico da Escravatura nos Domínios Portuguezes.

Secretaria d'Estado dos Negocios Estrangeiros, em 10 de Dezembro de 1836. = (Assignados) Visconde de Sá da Bandeira. = Antonio Manuel Lopes Vieira de Castro. = Manoel da Silva Passos.»

Entretanto inicia-se o planeamento da colonização de Moçâmedes e Livingstone inicia as suas explorações africanas. Em 1842, no Porto, volta a ser aclamada a Carta, enquanto Joaquim Graça Rodrigues inicia uma viagem ao interior de África (") e Silva Porto e os seus pombeiros exploram o Barotze e toda a parte central africana entre Angola e Moçambique.

(") As' nossas viagens ao' interior da AfriQl iniclaram-se com. o Major J.. M. Correia e Capitlo A P. Oamito(I831 .. 32) a Tete, Cazembre e JaIOMiveru. ~ _ ' -

Joaquim Graça explorou as nascenteS do rio Serut, oBi6' e os rios 'euanza e Cassai, aitl Musumba (184J:..1846). ' , ,- .' , ;

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As contra-revoluções de 44 e 46 provocam de novo a entrada em Portugal de tropas estrangeiras, inglesas e espanholas. A Convenção de Gramido (24 Junho 1847) põe termo à· guerra civil.

Em África, Bernardino J. Brochado explora o rio Cunene. Em 1848, Marx e Engels dão publicidade ao Manifesto Comunista. Em

1849 chegam os primeiros colonos a Moçâmedes. Todos ós motins, revoluções, pronunciamentos e revoltas tinham no fundo

uma razão fundamental comum - a procura de soluções para encontrar um su~tituto do Brasil, que alimentasse o tesouro publico.

A abolição da escravatura, a falta de condições dos nossos territórios africanos para receber colonos ("), de imediato, e a sua fraca capacidade para absorver investimentos faz com que se inicie o esforço na metrópole. Graças à· abundância de dinheiro nos mercados externos assiste-se a um notável e espectacular surto de obras públicas - estradas, caminhos de ferro, portos e telecomunicações - que ficou na história com o epíteto de «fontis~o» C~. Paralelamente com este surto artificial de actividade, assistiu-se a uma emi­gração intensa para o Brasil. Nessa altura, como agora, as remessas dos emigraíttes cobriam o defidt crescente da balança comercial. . Em 18S0 sai uma lei contra os abusos da imprensa e iniciam-se os movimentos operários em Portugal, com a fundação da Associação dos Ope­rários.

O movimento militar promovido pelo Duque de Saldanha em 1851, esta­belecendo uma certa tolerância política, esbateu certos ódios e deu uma aparência de' estabilidade. A carta constitucional de 1826 foi reformada pelo acto adicional de 5 de Julho de 1852.

Em 15 de Novembro de 1853 morre D. Maria U, ficando regente D. Fernando durante a menoridade de D. Pedro.

Em 1884 é promulgada a lei de libertação dos escravos e assina-se o contrato para o lançamento do cabo submarino ligando Lisboa aos Açores e aos Estados Unidos da América. Caetano Ferreira t em África, explora o rio Cuando e as suas nascentes. Um ano mais tarde, Montanha e Teixeira explo­ram Inhambane e o Transvaal.

D. Pedro V, em 16 de Setembro de 1858, foi investido do poder régio e, embora jovem, foi um dos soberanos mais ilustrados da Europa. Estudou cOpi particular interesse as questões administrativas e a. organização do. exér­cito. No seu curto reinado estabeleceu-se o telégrafo eléctrico que começou a funcionar entre Lisboa e Santarém e Lisboa e Sintra e, em 25 de Setembro de 18S7, com o' estrangeiro.

(") Embora o quinina teoba sido de800berto pai' PeUetier c Ca~em 1820. a origem. do paludisDo só foi da;ooberta em 1880 por Lavaall. Contudo a sfnte8e do quinino só 6 conseguida em .1945 e só mais taJde: 6 quo do· descobertas a palsmoquina ~ a atebrinA Ver: . Hyginre .. Epidemiologi,- Pattrologi. CoIonlIIltJ8, Paris, ·1935, pAI. l~

(17) Do nome do estadista Ant6aio Maria FODfeI Pereira de Melo (1119-1887).

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Inauguram-se os caminhos de ferro, em 28 de Outubro de 1856, até ao Carregado. Dá-se mais um passo para a abolição definitiva da escravatura. Dois anos depois, a linha férrea do Norte chega até à Ponte de Asseca e inau­guram-se as carreiras marítimas regulares para. Angola (Companhia União Mercantil) e, em 11 de Novembro de 1861, Q. Pêdro morre vítima de uma febre tifóide. ',-

D. Luiz, irmão de D. Pedro, sobe ao trono e tem logo .que tomar posição quanto às reivindicações da Inglaterra sobre Lourenço Marques, questão que só foi resolvida em 1870.

As reivindicações da Inglaterra marcam o início do declínio da influên­cia inglesa em Portugal e nos territórios ultramarinos. A política esclarecida dos governantes de então, apoiada numa administração colonial mais morali­zada e dinâmica, criam as condições para iniciar uma política de intolerância em relação aos planos de expansão colonial dos ingleses, franceses e alemães. Faltava-nos para a apoiar um serviço de informações como os de que- dispu­nham não só as potências europeias com que nos havíamos de degladiár,. como até já os jovens Estados Unidos da América, a Rússia, a Suécia e a Holanda.

A Inglaterra dispunha de um serviço de informações criado por Henrique VII, o 1.º dos Tudor, que só se veio a transformar num verdadeiro serviço nacional no tempo da rainha Isabel I, no Séc. XVI, sob a direcção de Sir Francis Walsingham (1530 a 1590). Entre as muitas acções desenvolvidas pelos seus serviços é de destacar a forma como «contra-atacou» os prepara­tivos para a organização da Invencível Armada destinada à invasão da Inglaterra por Filipe 11 de Espanha e I de Portugal. Para esta operaçãc tinha agentes em Veneza - Stephen Paulo -, em Madrid - Anthony Stan· den -, junto da embaixada de Florença em Madrid - Fleming -, que con· seguiu colocar um seu irmão ao serviço do Marquês de Santa Cruz, o grande: Almirante da frota espanhola. O controlo era de tal ordem que Sir Francis: em Março de 1587, entrega à rainha todos os planos e ordens para a organi· zação da esquadra. Num relatório desse mesmo ano, o agente Standen indica que era muito improvável uma ofensiva naval dentro desse ano.

Walsingham rodeou-se dos homens mais notáveis saídos de Oxford e Cambridge que enviou como bolseiros para França para penetrarem a corte francesa e avaliarem as suas intenções em relação à Inglaterra. Entre ele~ destacam-se Christopher Marlowe que comandou a operação de informa· ções contra a Invencível Armada e Thomas Phelippes que tinha a seu cargc o serviço de códigos. Walsingham criou assim o primeiro serviço profissiona completo de informações que, beneficiando de aperfeiçoamentos sucessivos nunca mais deixou de apoiar os órgãos de soberania da Inglaterra até ao~ nossos dias com a designação genérica· de «Department of Intelligence» Este departamento foi criado por John Thurloe (1599-1658), chefe do serviç( de informações de Cromwell, que só tecnicamente ultrapassou WaIsin· gham por dispor de largas somas para as suas actividades e o apoio consentide do corpo diplomâtico e consular.

A França vê o:rganizado o seu primeiro serviço de iftformações, ne Séc. XIV, por Carlos V, o sábio, com a finalidade expressa pelo rei de

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«aumentar a felicidade e a segurança do seu povo», mas é só no Séc. XVII, com Richelieu, que surge um verdadeiro serviço de informações com carac­terísticas adequadas para poder rivalizar com os serviços ingleses, e do qual foi herdeiro o Coronel Savary (") (1774-1833) que foi Chefe da Polícia Secreta Política e do Serviço de Contra-Espionagem.

A Alemanha, herdeira das tradições dos serviços de informações privados dos Fugger de Augsburg, com quem Damião de Góis estabeleceu contactos é relações de amizade('9), e dos Rothschild que nos Séculos XVIII e XIX, com quartéis-generais em Frankfurt-Mairs, Londres, Paris, Viena e Nápoles mantinham a rede de informações, monta o seu serviço de informações de Estado por volta de 1860, sob a orientação de Wilhelm Stieber. Este que preparou as operações contra a Áustria, em 1866, e contra a França, em 1870, controlava as informações militares e a polícia secreta e montou uma rede de espiões que constituíram uma verdadeira quinta coluna. Em vez de utilizar pessoas altamente colocadas procurava agentes ao nível fazendeiro, comerciante, criados de quarto, etc.

Os Estados Unidos embora não tivessem um serviço de informações organizado dispunham de uma experiência e de uma consciencialização da necessidade das informações e, sempre que se envolveram em conflito, criaram estruturas que satisfaziam cabalmente às suas necessidades de informações. É interessante referir que um dos homens que mais se distinguiu na guerra da independência, por obter informações vitais para a causa americana foi Haym Salomon, um polaco de origem portuguesa-judaica M.

Na Rússia, o primeiro Grande Czar Ivan, o Terrível, funda, no Séc. XVI, a «Opritchina» e cria a tradição dos «pristav». Em 1826, o Czar Nicolau I decreta que os serviços de informações passassem a correr pela 3.! Secção da Chancelaria de Sua Magestade Imperial. Em 1878, a 3.! Secção foi abolida e as suas funções são atribuídas ao -«Okhrana», ou Secção de· Segurança do Ministério do Interior, que, em 1917, é dissolvida e criada a «Cheka» rI).

(Ie) Anne 1ean Marie Re06 Sa'WLl'Y- Atingiu o posto de General c foi Ministro da PoHcia em 1810. . (19) lacob Fugger, banqueiro alemIo do Séc. XVI. As suas relações comerciais com

Portugal remontam ao reinado de D. Afonso V (comprava sal e vinho e vendia madeiras e panos da Flandres). Os Fugger estabeleceram. em Usboa. uma feitoria com privilégios conce­didos porD. 1010 li, em 1485. Em 1488 6 adoptado o Marco de Co16nia como .peso normal do ouro e prata. Os negócios com os Fugger eram feitos atrav~ da feitoria da Flandres. Acerc.t do seu valor e importlDcia escrma • D. Joio lU Rui Fernandes. escriYlo da ftitoria da Flandres: cEle é o maior homem da Alemanhà e o que Governa todos os prfncipes e reis; nenhum pdncipe vive sem ele, e todos folgam de o ter c:omo amigo; o .que quer. acaba-oJ Pela influência dos Fugger foi eleito Carlos V (1519), consideraodo-se que foi a primeira vel na. história que as . finaDças decidiram a sorte da Europa.

. (20)1ohn F. Kamedy, NaIlon of lmmigrants, New York. 1964, Popular Library &lition, pag. 37 ...

(21) 8'" formada por letras extraídas do nome completo da organizaçlo VIe-ROISiysb.ya Cltrezvycb:aynaya Komissiya Po Borbe S kontrrevolitsiey I Sabazhem,qq,e se traduz por Comissão Extraordinária para toda a Rlissia pera Combater a Contnl-Revoluçlo e a Sabotagem.

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A Suécia e a Holanda demonstraram bem como era possível com infor· mações oportunas e seguras compensar as suas fraquezas e os maus vizinhos,

Em face deste panorama de estruturas de informações dos nossos rivai~ em África e na Europa, bem poderemos avaliar as dificuldades sentidas pelm responsáveis pela govemação para orientar a política ultramarina, situaçãCl esta agravada pelas dificuldades de ligação com as diversas parcelas do terri· tório nacional.

Em 1861 tenta-se a restauração do nosso domínio no Zumbo pelo Capitão­-mor Albino Pacheco, e uma missão chefiada pelo Governador-Geral de Moçambique parte para Zarnzibar afim de tratar, com o Mascate Said Magid bin Said, da entrega de Tunge que por direito nos pertencia. Como o Mascate se recusasse, o Governo declarou mais tarde guerra ao ZatnZloar, tendo Tunge sido conquistada por uma esquadra comandada pelo, ao tempo, Governador-Geral de Moçambique Augusto de Castilho. No Continente os trabalhos de assentamento das linhas férreas estendeu-se para o Sul até Setúbal e Vendas Novas. Nesse mesmo ano verifica-se também a abolição da escravatura na Rússia.

Em 1864, o caminho de ferro chega a Gaia e Nobel inventa a nitrogli­cerina e, no ano seguinte, a dinamite.

Em 1867, é abolida a pena de morte em Portugal e Karl Marx publica o primeiro volume de «O Capital». Dois anos depois é abolida completamente a escravatura em todo o território nacional e é inaugurado o Canal de Suez. Em 1870 é inaugurado o cabo submarino Portugal-Inglaterra e rebentou a guerra franco-prussiana.

A Inglaterra, aproveitando o enfraquecimento das potências centrais giza o seu plano de expansão colonial que interferia largamente com os nossos interesses em África. Nos pontos mais controversos e conçretos a Inglaterra aceitou a arbitragem internacional e assim foram reconhecidos os nossos direitos sobre a Baía de Lourenço Marques (Presidente da República Francesa, Marechal Mac-Mahon) e sobre Bolama (Presidente dos Estados Unidos da América, lllisses Grant).

Em 1871, realizaram-se uma série de conferências conhecidas pelascon­fer2ncias democráticas do casino, cujo principal impulsionador foi Antero de Quental, que abrem um período de doutrinação revolucionária que se pro­longa até aos nossos dias. Em 26 de Junho, as conferências foram proíbidas por exporem doutrinas e proposições que atacavam a religião e as instituições políticas do Estado. Em França deu-se a insurreição da Comuna de Paris. No ano seguinte teve lugar em Angola a campanha militar dos Dembos.

Em 1875, em resultado da acção da Comissão Central Permanente de Geografia, funda-se a Sociedade de Geografia que desempenhou um papel muito importante no planeamento, organização e apoio às expedições afri­canas.

Para fazer face à política expansionista britânica e para procu~. uma situação de equmôrio em África, reuniu em Bruxelas a coriferência interna­cional de 1876, oficialmente denominada Conferência Geográfica, da qual

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surgiu a Associação Internacional Africana, para a qual Portugal não foi convidado.

Em 1877, o caminho de ferro chega ao Porto, depois de concluída a ponte sobre o Douro, construída por Eiffel.

Serpa Pinto percorre o Bié e vai até às nascentes do Quanza e atravessa o continente africano. Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens correm as margens do Cunene, do Cubango, do Quanza e do Cuango, estudando toda esta vasta região (1874-1878).

D. Luís visita os Açores e Madeira, o Norte de África e as possessões da África ocidental.

Capelo e Ivens, em 1882, iniciam nova expedição e atravessam a África, alcançando Quelimane. Dois anos depois, a Inglaterra assistindo à penetração belga e francesa na região do Congo, prefere reconhecer os nossos direitos a norte do Ambriz e sobre as duas margens do Zaire, em troca de facilidades de navegação no Zaire e no Zambeze, pelo tratado de Londres de 1884CZ).

Henrique de Carvalho estreita relações de amizade com vários povos africanos do Quimbundo, do Cubango e do Cassai. Augusto Cardoso e Serpa Pinto percorreram o Niassa, enquanto chegam os primeiros colonos madei­renses a Angola.

Entretanto, a Alemanha, a França e a Bélgica reagem ao tratado de Londres, conseguem obstar à sua ratificação e, para resolver este e outros problemas, Bismark convoca a Conferência Internacional de Berlim que estabelece o chamado «Acto Geral» que procurava definir «um novo direito público colonial», em que a ocupação efectiva vinha substituir os direitos históricos. A delegação portuguesa à conferência era constituída por Luciano Cordeiro, (D> António Serpa e Marquês de Penafiel, homens esclarecidos mas mal apoiados para poderem negociar em boas condições. .

Desta conferência resulta a invalidação do tratado de Londres de 1884 e impõe aos portugueses um esforço, rápido e praticamente impossível, de envio de tropas e funcionários civis para todas as áreas que considera­vam suas C4

).

Voltamos a discutir a nossa posição no Mundo. Em Tordesilhas éramos a· delegação mais bem apetrechada para negociar. Em Berlim éramos a mais mal apetrechada. Não tínhamos informações.

(Continua) Pedro Cardoso

General Comandante da Academia Militar

(22) 26 de Fevem.ro de 1884. . .. (23) Um dos fundadores da Sociedade de Geografl8. e grande especialista de assuntos

ultmmarfuos (HM4-1900).. .