as geotecnologias e a paisagem cotidiana mediando distintas concepções de ... · 2015-10-26 ·...

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1 As geotecnologias e a paisagem cotidiana mediando distintas concepções de globalização no ensino de Geografia. 1 Anderson Sabino Jonathas Paghi Ederson Costa Briguenti 1. INTRODUÇÃO Este relatório é referente ao trabalho de estagio supervisionado, ministrada pelo professor Dr. Maurício Compiani, realizado no colégio Professor Luiz Gonzaga Horta Lisboa, sob supervisão do Professor Ederson Costa Briguenti nas turmas A e B de nonos anos do ensino fundamental. A escola estadual Luiz Gonzaga Horta Lisboa caracteriza-se pelo pequeno tamanho e abrangência. Tem-se apenas o ensino fundamental até o nono ano (sendo que até 2014 havia apenas até o oitavo, adição conseguida por meio de luta e protesto dos discentes organizados). Algo peculiar é sua localização. É cercada pelo Condomínio Alphaville e pela Rodovia Adhemar de Barros, deixando o bairro relativamente isolado e atraindo estudantes de zonas rurais de Campinas. Levantamento sobre a origem dos alunos constatou que cerca de 40% era do próprio Jardim Miriam e o restante se dividia em Parque Pomares, São Vicente (esses dois bairros contam com ônibus da prefeitura), Xangrilá (alunos desse bairro vão por conta, pois a prefeitura dá o ônibus para irem a outra escola), Estrada Santa Cândida e Estrada Cerâmica. Os professores e funcionários, por sua vez, vêm de outras áreas de Campinas e de outras cidades como Jaguariúna, Mogi Guaçu e Holambra. Por ser pequena, parece muito integrada e aparenta uma relação orgânica entre professores, alunos e coordenação. Não há grandes casos de indisciplina e a própria arquitetura / aparência da escola demonstram um ar de harmonia, atípico quando se fala em escolas estaduais tradicionalmente grandes, com ensinos médio e fundamental disputando espaço. Um dado histórico importante trata da própria constituição da escola que, de 1993 até 2001, funcionava em contêineres, tendo construção em alvenaria neste ano. Neste contexto, a atividade de estagio possuiu como temática a Globalização. O tema foi sugerido pelo professor Ederson, uma vez que este seria o assunto trabalhado em sala. Assim, foi realizada uma atividade para o levantamento dos conhecimentos prévios, da qual decidimos qual seria a forma de abordagem e o recorte que merecia aprofundamento. 2. PROJETO O processo até chegarmos à concretização do projeto foi definitivamente tortuoso. A greve dos professores, classe extremamente precarizada e com grande defasagem salarial 1 O presente trabalho faz parte da metodologia de avaliação da disciplina: Estágio Supervisionado II do curso de Geografia do Instituto de Geociências da Unicamp, ministrada pelo Prof. Dr. Mauricio Compiani no primeiro semestre de 2015.

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As geotecnologias e a paisagem cotidiana mediando distintas concepções de

globalização no ensino de Geografia.1

Anderson Sabino

Jonathas Paghi

Ederson Costa Briguenti

1. INTRODUÇÃO

Este relatório é referente ao trabalho de estagio supervisionado, ministrada pelo

professor Dr. Maurício Compiani, realizado no colégio Professor Luiz Gonzaga Horta Lisboa,

sob supervisão do Professor Ederson Costa Briguenti nas turmas A e B de nonos anos do

ensino fundamental.

A escola estadual Luiz Gonzaga Horta Lisboa caracteriza-se pelo pequeno tamanho e

abrangência. Tem-se apenas o ensino fundamental até o nono ano (sendo que até 2014 havia

apenas até o oitavo, adição conseguida por meio de luta e protesto dos discentes organizados).

Algo peculiar é sua localização. É cercada pelo Condomínio Alphaville e pela

Rodovia Adhemar de Barros, deixando o bairro relativamente isolado e atraindo estudantes de

zonas rurais de Campinas.

Levantamento sobre a origem dos alunos constatou que cerca de 40% era do próprio

Jardim Miriam e o restante se dividia em Parque Pomares, São Vicente (esses dois bairros

contam com ônibus da prefeitura), Xangrilá (alunos desse bairro vão por conta, pois a

prefeitura dá o ônibus para irem a outra escola), Estrada Santa Cândida e Estrada Cerâmica.

Os professores e funcionários, por sua vez, vêm de outras áreas de Campinas e de outras

cidades como Jaguariúna, Mogi Guaçu e Holambra.

Por ser pequena, parece muito integrada e aparenta uma relação orgânica entre

professores, alunos e coordenação. Não há grandes casos de indisciplina e a própria

arquitetura / aparência da escola demonstram um ar de harmonia, atípico quando se fala em

escolas estaduais tradicionalmente grandes, com ensinos médio e fundamental disputando

espaço.

Um dado histórico importante trata da própria constituição da escola que, de 1993 até

2001, funcionava em contêineres, tendo construção em alvenaria neste ano.

Neste contexto, a atividade de estagio possuiu como temática a Globalização. O tema

foi sugerido pelo professor Ederson, uma vez que este seria o assunto trabalhado em sala.

Assim, foi realizada uma atividade para o levantamento dos conhecimentos prévios, da qual

decidimos qual seria a forma de abordagem e o recorte que merecia aprofundamento.

2. PROJETO

O processo até chegarmos à concretização do projeto foi definitivamente tortuoso. A

greve dos professores, classe extremamente precarizada e com grande defasagem salarial

1 O presente trabalho faz parte da metodologia de avaliação da disciplina: Estágio Supervisionado II

do curso de Geografia do Instituto de Geociências da Unicamp, ministrada pelo Prof. Dr. Mauricio

Compiani no primeiro semestre de 2015.

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frente a outras categorias com início superior, fez do semestre um momento atípico para a

prática do estágio supervisionado.

Inicialmente combinamos com o professor que faríamos a prática de estágio

novamente com ele, pois já havíamos feito no segundo semestre de 2014. Não esperávamos,

no entanto, que o Sindicato dos professores do estado de São Paulo (Apeoesp) deflagraria um

longo movimento de greve. O professor Ederson, ativo e militante que é, participou do

movimento com fervor e levou à escola em diversos momentos os ares da luta.

A greve durou do dia 13 de março a 12 de junho (APEOESP, 2015), sendo a mais

longa greve da história da categoria no estado mais rico da nação. Neste período, “o

governador Geraldo Alckmin (PSDB) esbanjou truculência, recusando-se a negociar com o

sindicato, cortando o ponto dos grevistas e fazendo inúmeras ameaças” (APEOESP, 2015).

Entre as reivindicações, constava o aumento salarial de 75,33%, equiparando a categoria a

outras com ensino superior e combatendo a política de abonos e prêmios do governo estadual,

vista como injusta e meritocrática.

Durante a greve chegamos a construir um projeto para acompanhamento das

atividades do comando. Projeto frustrado logo pela saída do Ederson do movimento, num

momento em que o sindicato, cindido, já não tinha perspectivas de sucesso em suas

demandas.

Assistimos em sala, após a volta às aulas, conversas francas com os alunos, onde foi

explicado detalhadamente o contexto de antes, durante e depois da greve, sobre as categorias,

manobras do governo e reivindicações do movimento. Percebemos o quanto foi válida a

greve, ao menos para reforçar o profundo desprezo do poder público estadual pela escola

pública.

O projeto caminhou, com isso, para a temática programática, no caso, Globalização.

Tema de extrema abrangência nos moveu a busca por formas de entrada. Optamos por

trabalhar as materialidades que dão suporte à globalização, tendo como pressuposto de

método a definição de espaço geográfico como sendo um conjunto indissociável de objetos e

ações (SANTOS, 1996).

Com uma atividade de reconhecimento de conhecimentos prévios, descrita na seção

próxima, decidimos focar na infraestrutura de internet para uma aula expositiva e utilizar

diversos outros métodos para fixação.

Segundo Santos (2000), o alargamento dos contextos no período do meio técnico-

científico-informacional provoca grande dificuldade na apreensão do mundo e sujeita as

pessoas às fabulações sobre a globalização, consagrando um discurso único que alimenta

ideologias elitistas neoliberais.

A discussão do processo de globalização não poderia ter outra perspectiva se não

desentronizar esses discursos, fomentar o questionamento e construir conhecimentos para

melhor compreensão da realidade material e política atual.

Entre os recursos didáticos utilizados, destacamos o vídeo-documentário e o trabalho

de Campo.

O vídeo-documentário escolhido foi Encontro com Milton Santos: Ou o Mundo

Global Visto do Lado de Cá (TENDLER, 2006). A película foi por nós recortada para caber

numa aula de 50 minutos e tratou-se de uma aposta do Ederson conosco, pois imaginávamos

desde o início que as salas poderiam ser “imaturas” para o tipo de discussão apresentada.

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Os conceitos, como são apresentados, em muitos momentos exigiriam trato mais

profundo, impossível no contexto de nossas programações. Ele serviu, porém, para fixar a

ideia miltoniana dos 3 tipos de globalização, como fábula, como perversidade e como ela

pode ser (SANTOS, 2000), além de exemplificar (algo posteriormente debatido e reforçado

em aula) o componente político da globalização, qual seja a tendência ao neoliberalismo, ao

abordar, entre outros casos, a privatização da água em países latino-americanos.

Muito próximo a escola existe o CPqD (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento para

Telecomunicações), ilustrativo desta tendência neoliberal e fortemente debatido dentro e fora

de aula. Com essas possibilidades locais, enfatizamos, então, o trabalho de campo.

Segundo Freire (1996, p. 26) “o educador democrático não pode negar-se o dever de,

na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua

insubmissão.” Para um bom desenvolvimento do processo de aprendizagem, é necessário

preenchimento positivo de uma série de aspectos. Pautando-nos pelas premissas citadas,

temos que boa parte do interesse do aluno deve partir através da capacidade do docente de

instigá-lo.

Para o trabalho de campo, seguimos as indicações de Pontuschka & Lutfi (2014), que

ressalta que se inicia com a discussão sobre a realidade entre professores e alunos

dialogicamente, derivando-se uma escolha temática para ser conhecida em profundidade,

posteriormente faz-se a preparação para o trabalho de campo e o registro dos conteúdos

extraídos da realidade.

A atividade de campo foi pensada para que, através de um modo híbrido de trabalho -

Ilustrativo (reconhecimento de elementos apontados em aula expositiva) e indutivo

(provocação através de perguntas para aflorar percepções e levantar questionamentos)- se

pudesse discutir os efeitos a paisagem, as diferenças socioeconômicas e que fosse pensado

como o lugar em que se vive pode se ser atravessado por elementos globais. Como explica

Compiani (2013), nas ciências históricas,

o pensamento e a percepção dividem o poder nas elaborações das

explicações, daí a riqueza da Geologia/Geociências, onde se, de um

lado, é inegável o lado fatual da explicação, ou seja, os objetos

concretos que 'afloram' nos trabalhos de campo, nas observações da

natureza; do outro lado, a própria explicação já é pré-constituída com

o olhar discriminatório, onde padrões, classes conceituais são

elaboradas combinatoriamente e conjugadamente, 'criando' história

aos dados observados.

Objetivos: Construção de uma visão crítica sobre a globalização a partir da

apresentação de um discurso de homogeneização do espaço e seu contraditório, provocando

leitura crítica sobre o processo, sua abordagem midiática e perspectivas de futuro. O

atrelamento entre o local e o global objetivou, por si, a internalização da própria diferenciação

escalar, além do conceito de paisagem.

Recursos e métodos: Reconhecimento de conhecimentos prévios através de

questionário simples (apêndice 6.1); Aula expositiva; Leitura de conteúdo textual do livro

didático com apresentação oral; Vídeo-Documentário; Trabalho de Campo; Trabalho pós-

Campo com carta de arruamento e apresentação oral.

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Resultados esperados: Esperava-se que os educandos conhecessem melhor a

infraestrutura que suporta as redes de internet, desmistificando a mágica da telecomunicação;

Fixassem a ideia das três globalizações descritas por Milton Santos como método para

sistematização da perspectiva crítica; Reconhecessem na escala local as influências de um

contexto global, percebendo ainda as contradições das fronteiras (contrárias ao discurso

globalizante de aldeia global).

3. ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO

No item anterior descrevemos elementos projetados. Nesta seção apresentamos as

metodologias levadas a cabo.

Procedimentos: 1. Avaliação dos conhecimentos prévios: dois questionários

diferentes foram entregues aos alunos. 2. Atividade do livro didático, realizada em grupo,

temas diferentes relacionados a globalização 3. Apresentação da atividade. 4. Aula expositiva,

a partir dos conhecimentos prévios obtidos foi planejada uma aula expositiva acerca das

temáticas que se mostravam mais confusas aos alunos. 5. Exposição do vídeo - Encontro com

Milton Santos; o mundo global visto do lado de cá. 6. Atividade pré-campo. 7. Trabalho de

Campo. 8. Debate com os alunos sobre os principais pontos levantados na atividade de

campo. 7. Atividade para entregar, mapas em anexo.

Recursos Didáticos: Vídeo documentário, livro didático, trabalho de campo, mapas

temáticos.

Metodologia da aula: Atividade a ser realizada em grupo. Exposição do tema: alunos

dispostos em círculo, idem no debate.

Descrição das atividades:

A escolha do tema, além de um combinado com o professor, uma vez que após a

greve, o professor se comprometeu a retomar o conteúdo que deveriam ser trabalhados.

Articular uma escala político-continental ao lugar do aluno, incluindo o segundo no primeiro

é um esforço que valeu a pena empreitar.

Segundo Milton Santos (1996), o Espaço Geográfico compreende um conjunto

indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações. Milton adverte para o fato de que

“no ensino da geografia é menos frequente do que seria desejável a consideração da totalidade

do conhecimento geográfico.” (SANTOS, 1999, p. 5). Essa busca pela totalidade foi uma

constante na elaboração e desenvolvimento do estágio.

Desta forma, com o tema já dado (globalização), realizamos uma atividade prévia que

se demonstrou de grande valia. Primeiro pela possibilidade de aproximação inicial para com

os discentes, uma vez que ao invés de chegarmos impondo-lhes teorias, pedimos que

expressassem opiniões próprias. Além disso, permitiu que o assunto trabalhado fosse algo

proposto também pelos alunos. Desta maneira chegou–se à temática referente à internet.

Sendo muito palpável à realidade dos alunos, é capaz de abarcar os conceitos e conteúdos

necessários que o tema impõe.

Posterior à realização das atividades de conhecimento prévio, os alunos foram

divididos em grupo. E para cada grupo foi entregue um texto do livro didático. Assim, os

grupos deveriam realizar a leitura do texto e realizar uma discussão entre os membros do

grupo, por fim deveriam apresentar o tema que lhes foi dado. Neste momento, os dois

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estagiários e o professor circulavam entre os grupos fornecendo mais elementos para fomentar

o debate e provocando-os a reflexões.

Assim, passamos a uma aula dialógica, chamando-os a relembrar a atividade de

conhecimentos prévios. O interesse apresentado pelos alunos demonstrou que este método se

fez eficaz (apesar de termos noção de que, em geral, quando surgem professores diferentes a

atenção aumenta naturalmente).

Uma forma de aprimorar um discurso pedagógico efetivo, segundo Orlandi (1983), é

tornando-o polêmico. Para isso é necessário por parte do docente “deixar vago um espaço

para o outro (ouvinte) dentro do discurso e construir a própria possibilidade de ele mesmo

(locutor) se colocar como ouvinte” (1983, p. 32).

Com isso, após a realização da aula expositiva (cerca de 25 minutos), foi apresentado

o filme Encontro com Milton Santos: ou o mundo global visto de cá. Filme conduzido por

uma entrevista do geógrafo Milton Santos, analisando as contradições, perversidades e

paradoxos deste modelo econômico e cultural. Trazendo ao debate três formas de encarar o

processo de globalização, como fábula, como perversidade e a possibilidade da construção de

uma nova realidade.

O passo seguinte foi a realização de uma atividade pré-campo, ou seja, foi apresentado

aos alunos o trajeto que realizaríamos na atividade de campo. E de modo breve, foi discutido

com os alunos a possível paisagem que encontraríamos. Neste momento expomos a

importância da instituição CPqD, sigla que nenhum aluno conhecia o significado e espaço

onde nenhum aluno entrou. O Centro é exemplo da política neoliberal brasileira quando da

privatização das telecomunicações. Fez-se mote para a discussão da privatização do espaço e,

isto posto, possibilitou o movimento de transescalaridade, tão caro ao método geográfico.

Contudo, evitamos expor sobre conteúdos que seriam explorados de forma indutiva no

trabalho de campo.

A seguir foi realizada a atividade de campo. Desta forma, os alunos foram levados ate

um mirante, localizado a algumas quadras do colégio, no qual é possível ver parte do

condomínio Alphaville, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações

(CPqD), o ribeirão Anhumas, além de uma rede de alta tensão que passa bem a frente do

ponto visitado.

No inicio foram feitas algumas perguntas aos alunos com a finalidade de iniciar o

debate. As primeiras perguntas foram em relação a própria paisagem, ou seja, do que de fato

eles ali enxergavam. Conforme a discussão prosseguia, alguns alunos mostraram bastante

desenvoltura e conhecimento sobre a história do bairro. Assim, esta atividade possuía

perspectiva ilustrativa o debate referente aos muros e fronteiras (visíveis e invisíveis) que se

mostravam claras na paisagem.

Já com perspectiva indutiva, tinha como pano de fundo a infraestrutura da rede elétrica

(torre de alta tensão) a fim de melhor apreender as materialidades da globalização e os

diferentes usos do território. Juntamente com a questão ambiental. Neste caso, discutimos o

abandono do Ribeirão Anhumas, que corre paralelamente a rodovia Adhemar de Barros.

Discutimos com os educandos como o espaço tecnificado escamoteia do debate as questões

ambientais, visto que muitos alunos sequer tinham conhecimento que ali existe um curso

d’agua.

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Figura 1 – Atividade de Campo no Jardim Miriam 9º A

Foto: Anderson Sabino

Figura 2 – Atividade de Campo no Jardim Miriam 9ºB

Foto: Anderson Sabino

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Figura 3 – Atividade de Campo no Jardim Miriam – Aula do Prof. Ederson

Foto: Anderson Sabino

Após a atividade de campo, foi realizado um debate com os alunos (dispostos em

circulo). Nesta atividade foram levantados os principais pontos discutidos, como por exemplo

os muros e fronteiras observados entre o bairro Jardim Miriam e o condomínio Alphaville.

Os alunos se mostravam bem a vontade neste momento, ganhando destaque alguns

alunos pelo elevado conhecimento sobre o bairro. Não somente referente a localização, mas

também sobre a historia e contrastes encontrados. Desta forma, foi comum o relato de

diversos alunos acerca da historia do bairro. Foi um momento de protagonismo dos alunos e

rico aprendizado.

Por fim, foi proposto aos alunos a realização de uma atividade. Nesta continha a

realização de um mapa temático acerca dos conteúdos vistos em campo. Para isso, foi

entregue um mapa (“em branco”, somente o shapefile do arruamento do Jardim Mirian e dos

bairros observados em campo), assim, como é possível observar nos mapas em anexo, os

alunos realizaram diversos mapas, quase todos contendo os limites dos bairros e os principais

pontos de referências. Contudo, alguns se destacam pelo elevado grau de abstração e intensa

relação com as questões abordadas em sala. Como por exemplo, as diversidades sócio

culturais existentes, como visto no mapa de titulo Alphaville e Alfavella.

4. AVALIAÇÃO

Segundo Pimenta e Lima (2010) ao estágio cabe desenvolver atividades que

possibilitem o “conhecimento, a análise, a reflexão do trabalho docente, das ações docentes,

nas instituições, a fim de compreendê-las, identificar seus resultados, os impasses que

apresentam as dificuldades.”.

Ao pé da letra, a avaliação das atividades passou pela prova escrita aplicada para os

alunos. O professor Ederson construiu as questões conosco e os resultados demonstraram que

os alunos assimilaram as perspectivas esperadas.

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No apêndice podem-se ver as atividades desenvolvidas em pós-campo sobre a área

estudada como descrito anteriormente. A liberdade dada aos alunos para plotarem uma

camada temática sobre o arruamento possibilitou trabalhos surpreendentes. Muitos colocaram

elementos faltantes para os quais nem nós nos atentamos (Extra Hipermercado, por exemplo,

e alguns bairros).

Muito além de demonstrar a localização de glebas e instituições, porém, para nós foi

fundamental a percepção sobre as diferenças socioespaciais, as fronteiras compostas em

muros visíveis e invisíveis e o elemento ambiental representado pelo Ribeirão Anhumas. Este

objetivo da atividade – emergir percepções e discussões de campo – foi satisfatoriamente

alcançado, notado pelos mapas produzidos.

Até um mapa pouco enfeitado e completado, como o do “Observação do Antigo e do

Moderno” (p. 18), demonstra um aprendizado importante por seu próprio título. Os

educandos, neste caso, ressaltaram que diferentes tempos convivem no espaço local ao

mesmo tempo, saltando aos olhos, portanto, que a globalização é seletiva no espaço

observado.

Ademais, faz-se necessário apontar como enxergamos as atividades e seus resultados.

Entendemos como principal dificuldade do trabalho o uso e articulação do documentário no

meio das propostas. Como o calendário ficou apertado em decorrência da greve, não tivemos

o tempo necessário para discutir alguns temas específicos do filme, como exemplo os debates

sobre moradia nas cidades e os discursos ascendentes. Cremos, entretanto, que para o foco do

trabalho o filme foi válido, fazendo dessas outras temáticas ganchos para próximas

intervenções em outros eixos programáticos.

Sobre o trabalho de campo, entendemos que muitas são as questões para sua

estruturação, por exemplo metodológicas como o recorte temático, a preparação prévia, a aula

em campo, ou burocráticas, como as autorizações e a relação com a coordenação da escola.

Quanto à metodologia, tivemos grandes ensinamentos com o supervisor Ederson, que

encabeçou a proposta e levou a diante a aula de campo, levantando as questões e trazendo a

atenção dos alunos.

Quanto às burocracias, tivemos amplo e surpreendente apoio da coordenação,

incomum em escolas estaduais, tendo ajudado na solicitação de autorizações e incentivando

fortemente o desenvolvimento do projeto.

De maneira geral analisamos positivamente o desenvolvimento das práticas que

propusemos, tendo bom respaldo dos professores na elaboração e avaliação do projeto após

apresentação em sala.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática de estágio aqui relatada nos proporcionou ricas experiências, pois, o mesmo

esforço que dispendemos em criar um projeto, dispendemos em adaptá-lo à realidade e a

refletir posteriormente.

Apesar de um semestre atípico, com a justa greve dos professores, o estágio

supervisionado demonstrou-se frutífero.

Foi fundamental para o trabalho a experiência de um semestre anterior de estágio na

mesma escola, com as mesmas turmas. A própria confecção do relatório contribuiu também

para uma reflexão a cerca das práticas.

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É preciso ressaltar também que muito do que conseguimos se deve à cultura escolar do

Horta Lisboa com sua coordenação presente e pelo talento e abertura do professor Ederson,

aliados às orientações sempre atentas do professor Maurício, para os quais somos

agradecidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APEOESP [Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo]. 2015.

COMPIANI, Maurício. O Desprestígio das Imagens no Ensino de Ciências, Até Quando? Uma contribuição das

Geociências com a Gestalt. Alexandria Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.5, n.1,

p.127-154, maio. 2012

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia- Saberes necessários à prática educativa. Edição 33. São Paulo,

Editora Paz e Terra, 1996. 146 pg. Coleção Leitura.

ORLANDI, Eni P. Para quem é o discurso pedagógico? In Orlandi, Eni P. A linguagem e seu funcionamento:

as formas do discurso. Campinas: Editora da Unicamp, p.18 -31, 1983.

PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio: Concepções diferentes. In: FUSARI, José

Cerchi. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2010.

SANTOS, Milton. Os deficientes cívicos. Folha de São Paulo, v. 24, n. 1999, p. 8, 1999.

______. Por uma outra globalização: Do pensamento único a consciência universal. Rio de Janeiro, Editora

Record, 2000.

______ [1996]. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 4. Ed. São Paulo: Editora da

Universidade de São Paulo, 2002. 384 p.

TENDLER, Silvio. Encontro com Milton Santos: Ou o mundo global visto do lado de cá. Filme

Documentário. 2006.

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6. APÊNDICE

6.1. Questionários para levantamento de Conhecimentos prévios.

Bloco de Perguntas 1:

a). Quais tipos de dispositivos você utiliza para acessar a internet? (Celular,

Notebook, Tablet, CPU)

b.) Utiliza internet móvel (3G/4G) ou apenas WiFi? Em casa ou em rede pública?

c.) Quais as redes sociais que você usa?

d). Para que serve o Facebook?

e). O que você costuma fazer no Facebook? Quais páginas você curte/segue?

f). Você costuma fazer check-in da sua localização na internet?

Bloco de Perguntas 2:

a) Liste 5 perigos que você identifica no uso das redes sociais.

b) Identifique 5 grandes empresas que trabalham com serviços na internet.

c). Indique problemas da concentração de poder/informação em poucas

empresas.

d). Cite atividades que Hackers fazem e que acha que eles deveriam fazer.

6.2. Cartas temáticas trabalhadas pelos discentes

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