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As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de
medicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Teresa Maria Martingo de Pinho
Dissertação de Mestrado em Gestão de Serviços
Orientação:
Doutora Teresa Maria Rocha Fernandes Silva
Doutor Nuno Aires Mota de Mendonça Montenegro
2011
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
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NOTA BIOGRÁFICA
Teresa Maria Martingo de Pinho, nascida em 5 de Janeiro de 1971, em Arouca-Aveiro.
• Licenciatura (pré-Bolonha) em Gestão, pela Universidade Lusíada do Porto (1998).
• Bacharelato (1993) e Licenciatura (pré-Bolonha) em Enfermagem (2001), pela
Escola Superior de Enfermagem de S. João.
• Pós-graduação em Gestão e Administração Hospitalar, pela Universidade
Portucalense (2003).
• Curso de mestrado em estudos de Gestão de Serviços (não conferente de grau), pela
Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
• Frequentou, com aproveitamento, vários cursos na área da Gestão dos quais se
destaca a Especialização em Plano Oficial de Contabilidade Pública, pela
Universidade Lusíada (2001), e FORGEP – Programa de Formação em Gestão
Pública, pelo Instituto Nacional de Administração (2006).
• Foi membro do Júri de concursos públicos para recrutamento/selecção de
profissionais e foi assessora de Concursos Especiais para acesso ao curso de
Medicina da FMUP por titulares do grau de Licenciado.
• Autora de um capítulo do livro: “As carreiras médica e as ineficiências do Serviço
Nacional de Saúde”. In: Política de Saúde, 2003.
• Exerceu funções de enfermeira/enfermeira graduada, entre Abril de 1993 e Janeiro
de 2004, no I. P. O. Porto, no H. S. João e no C. H. de Vila Nova de Gaia.
• Em Janeiro de 2004 ingressou na FMUP, por concurso público, na carreira técnica
superior (de gestão), colaborando na implementação do Gabinete de Relações
Públicas da FMUP.
• Em Novembro de 2005 foi nomeada responsável da Divisão Académica da FMUP
(secções de pré- e pós-graduação).
• Desde 8 de Setembro de 2011, exerce funções de Chefe de Divisão, na Divisão
Académica da FMUP (cargo de Direcção intermédia de 2.º grau).
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os que contribuíram, directa ou indirectamente, para tornar possível a
execução deste trabalho, não esquecendo, obviamente, os “actores principais” deste
estudo – os estudantes inscritos no 1.º e no 6.º ano do mestrado integrado em Medicina,
no ano lectivo 2010/2011 – que disponibilizaram algum do seu precioso tempo na
resposta ao questionário.
À Professora Teresa Fernandes que me soube motivar quando estava “desamparada” e
me orientou até ao fim.
Ao Prof. Nuno Montenegro pelo apoio constante e pela confiança incondicional.
À Prof.ª Amélia Ferreira pela disponibilização de todos os recursos, sem os quais não
teria sido possível construir este trabalho.
À Dr.ª Joselina Barbosa pela sua paciência e pelo cuidado que teve em responder a
todos os meus pedidos “estatísticos”.
Ao meu pai e à minha mãe que são e serão sempre o meu Porto seguro de Abrigo.
Zé, só tu sabes o quanto te devo. Sem ti, nunca o conseguiria.
Filipe, este trabalho é por ti e para ti…
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
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RESUMO
Fundamento e objectivos. A opção de escolha por uma instituição e a fidelização são
altamente influenciadas pela imagem corporativa, a qual está dependente da qualidade
do serviço que, em grande medida, traduz a percepção/satisfação das expectativas. O
principal objectivo deste estudo é analisar as expectativas e a satisfação dos estudantes
da FMUP.
Material e métodos. Após recolha de dados relativos ao critério de ingresso no curso
de medicina, foram realizados questionários de opinião aos estudantes do 1.º e 6.º anos,
que comportavam, na maioria, opções numa escala de 1 a 5 (Likert). A avaliação dos
estudantes do 1.º ano (expectativas) foi comparada com a dos estudantes do 6.º ano
(satisfação); aos estudantes do 1.º ano foi ainda efectuado um questionário relativo às
razões de preferência pela FMUP.
Resultados. Todos os índices confirmaram que a FMUP detém a primazia no momento
da escolha. O prestígio institucional foi o factor mais prevalente de preferência pela
FMUP. 204 estudantes do 1.º ano e 136 do 6.º ano satisfizeram os critérios de inclusão;
os questionários revelaram boa consistência interna, com as questões aglutinadas em
dois domínios: processo de ensino-aprendizagem e envolvente extra-curricular. As
expectativas dos estudantes FMUP são altamente positivas, com particular destaque
para o domínio do processo de ensino-aprendizagem. O nível de satisfação foi positivo
para quase todos os parâmetros, e a grande maioria dos estudantes voltaria a escolher a
FMUP e recomendá-la-ia a familiares/amigos. Contudo, para o domínio do processo de
ensino-aprendizagem, a satisfação ficou quase sempre significativamente abaixo das
expectativas.
Conclusões/implicações. A satisfação dos estudantes da FMUP encontra-se,
genericamente, na zona de tolerância com um gap entre as expectativas e a percepção
do desempenho. Importa introduzir melhorias no processo de ensino-aprendizagem de
forma a manter o ciclo vicioso entre melhores estudantes e faculdade (mais) prestigiada.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
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ABSTRACT
Background & Purpose. The choice by an institution and customer loyalty are highly
influenced by the corporate image, which is dependent on the quality of the service that
largely reflects the perception/satisfaction of expectations. The main objective of the
present study is to analyze the expectations and satisfaction of the FMUP’s students.
Design and methodology. After collecting data concerning the criterion for access to
medical school, opinion questionnaires were performed by students of 1st and 6th years
of the medical curriculum, which mostly owned options on a scale of 1 to 5 (Likert).
The assessment of 1st-year students (expectations) was compared to that of students of
the 6th-year (satisfaction); 1st-year students still carried out a questionnaire concerning
the reasons of preference for FMUP.
Findings/results. All indexes confirmed that FMUP holds the primacy at the time of
choice. The institutional prestige was the most prevalent factor of preference by FMUP.
204 students of 1st- and 136 of 6th-year have fulfilled the criteria for inclusion; the
questionnaires revealed good internal consistency, the questions being aggregated in
two domains: teaching-learning process and extra-curricular environment. FMUP
students' expectations are highly positive, mainly in the area of teaching-learning
process. The level of satisfaction was positive for almost all parameters, and the vast
majority of students would choose again the FMUP and recommend it to family
members/friends. However, in the area of teaching-learning process, the satisfaction
was almost always significantly below expectations.
Conclusions/implications. The satisfaction of the students of FMUP lies, generally, in
the zone of tolerance with a gap between the expectations and the perception of
performance. It is important to introduce improvements in the teaching-learning process
in order to keep the vicious cycle between the best students and the (most) prestigious
faculty.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
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ÍNDICE
A. REVISÃO TEMÁTICA................................................................................................................ 1 A.1. IMAGEM E QUALIDADE...................................................................................................... 1
A.1.1. Considerações gerais ................................................................................................. 1 A.1.2. Ensino superior.......................................................................................................... 2
A.2. PRESTÍGIO E IMAGEM ........................................................................................................ 3 A.2.1. Considerações gerais ................................................................................................. 3 A.2.2. Ensino superior.......................................................................................................... 5
A.3. RETENÇÃO E FIDELIZAÇÃO ............................................................................................... 6 A.3.1. Considerações gerais ................................................................................................. 6 A.3.2. Ensino superior.......................................................................................................... 7
A.4. EXPECTATIVAS E SATISFAÇÃO .......................................................................................... 8 A.4.1. Considerações gerais ................................................................................................. 8 A.4.2. Ensino superior........................................................................................................ 12
B. FUNDAMENTO E OBJECTIVOS ............................................................................................... 14 C. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................................... 16
C.1. POSICIONAMEMTO DOS INGRESSADOS NOS CURSOS DE MEDICINA ................................. 16 C.2. POPULAÇÃO. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO......................................................... 16 C.3. QUESTIONÁRIOS .............................................................................................................. 17 C.4. ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................................... 19
D. RESULTADOS ......................................................................................................................... 20 D.1. A ESCOLHA DA FMUP..................................................................................................... 20
D.1.1. Posicionamento geral dos ingressados em medicina em 2010-2011....................... 20 D.1.2. Classificação mínima e classificação média de ingresso......................................... 21 D.1.3. Classificação mínima de acesso corrigida ............................................................... 22
D.2. CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS ................................................................................ 23 D.3. A PREFERÊNCIA PELA FMUP .......................................................................................... 24 D.4. AS EXPECTATIVAS E A SATISFAÇÃO................................................................................ 25
D.4.1. Fiabilidade do questionário ..................................................................................... 25 D.4.2. Descrição dos domínios........................................................................................... 26 D.4.3. Análise individual das questões de resposta opcional ............................................. 28
D.4.3.1. Processo de ensino-aprendizagem ................................................................................. 28 D.4.3.2. Envolvente extra-curricular ........................................................................................... 31
D.4.4. Questões de resposta fechada .................................................................................. 32 E. DISCUSSÃO............................................................................................................................. 33
E.1. A ESCOLHA DA FMUP ..................................................................................................... 33 E.2. A PREFERÊNCIA PELA FMUP........................................................................................... 34 E.3. AS EXPECTATIVAS E A SATISFAÇÃO ................................................................................ 36
F. CONCLUSÕES ......................................................................................................................... 40 F.1. CONTRIBUTO DO PRESENTE ESTUDO................................................................................ 40 F.2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO E SUGESTÕES............................................................................ 41
G. BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................... 42 H. ANEXOS.................................................................................................................................. 48
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
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ABREVIATURAS
DGES – Direcção Geral do Ensino Superior
ECS-UM – Escola de Ciências da Saúde- Universidade do Minho
FCM-UNL – Faculdade de Ciências Médicas- Universidade Nova de Lisboa
FCS-UBI – Faculdade de Ciências da Saúde- Universidade da Beira Interior
FMUC – Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
FMUL – Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
FMUP – Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
ICBAS-UP – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar- Universidade do Porto
IES – Instituições de Ensino Superior
IESP – Instituições de Ensino Superior Público
PQS – Percepção da qualidade do serviço
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
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A. REVISÃO TEMÁTICA
Em plena época áurea do sector terciário, em que a imagem tem uma influência
considerável perante o comportamento do cliente, é imperioso que todas as instituições,
inclusivamente as instituições de ensino superior público (IESP), se apercebam
rapidamente desta nova realidade e desenvolvam todos os esforços para conseguirem
uma imagem associada ao prestígio e à qualidade superior.
Actualmente, em Portugal, tem-se verificado um decréscimo gradual no financiamento
pelo Orçamento de Estado, o que, associado a uma redução na procura dos cursos de
pré-graduação (DGES, 2011) e ao elevado número de instituições de ensino superior
privadas, se tem traduzido em sérios constrangimentos no funcionamento de algumas
IESP. Face à nova realidade, estas instituições estão confrontadas com novos desafios
que requerem medidas para atrair os potenciais estudantes.
Neste contexto, conceitos tais como imagem, qualidade, retenção, fidelização,
expectativas e satisfação devem ser apreendidos e incorporadas na gestão das IESP. São
estes conceitos e respectivas estratégias de implementação visando a vantagem
competitiva que, numa perspectiva geral e focalizada ao ensino superior, a seguir se
abordam.
A.1. IMAGEM E QUALIDADE
A.1.1. Considerações gerais
A imagem tem sido definida como percepções de uma organização que se reflecte nas
associações guardadas na memória dos consumidores (Keller, 1993).
A imagem (corporativa) sempre foi identificada como um factor importante para a
avaliação global do serviço e da empresa (Grönroos, 2007). Para além da imagem como
uma função da acumulação de experiência de consumo ao longo dos tempos, a maioria
das organizações também fornecem ruídos informativos (por exemplo, publicidade ou
marketing directo) a fim de atrair novos e manter os clientes existentes. Na análise da
percepção da qualidade do serviço (PQS), Grönroos (2007) demonstrou que a qualidade
“percebida” é uma função de qualidade esperada (gerada a partir das necessidades de
comunicação, imagem, boca-a-boca e clientes do mercado) e da qualidade
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“experimentada” (gerada pela qualidade técnica e pela qualidade funcional). Segundo
Grönroos (2007), a imagem (corporativa) é um filtro que influencia a percepção sobre a
produção da empresa, o que corrobora a afirmação de que a qualidade “percebida” é
uma função da qualidade “experimentada” e da qualidade “esperada”.
Os (potenciais) clientes desenvolvem esquemas mentais (auto-esquemas) para
interpretar a sua percepção relativamente a uma determinada empresa. Acredita-se que a
imagem corporativa influencia a decisão de compra por parte do consumidor, ou seja,
uma boa imagem corporativa estimula a aquisição a uma determinada empresa,
simplificando as regras de decisão. Neste contexto, a imagem corporativa torna-se uma
questão de atitudes e crenças em matéria de sensibilização e reconhecimento, de
satisfação e do comportamento do consumidor (Fornell, 1992), podendo funcionar
como um sinal externo para os actuais e potenciais clientes. Consequentemente, a
imagem corporativa tem impacto no momento da escolha da empresa, sobretudo quando
as características do serviço são difíceis de avaliar. Esta imagem é criada e desenvolvida
na mente dos clientes através da comunicação e da experiência, e acredita-se que cria
um efeito de halo na avaliação da satisfação dos clientes. Quando os clientes estão
satisfeitos com a prestação de serviços, a sua atitude para com a empresa melhora. Esta
atitude, em seguida, vai condicionar, positiva ou negativamente, a satisfação dos
clientes com a empresa, no momento de próximas interacções. Para Andressen e
Lindestad (1998), a imagem corporativa tem um impacto significativo sobre a qualidade
“percebida” e sobre a satisfação do cliente. Assim, pode afirmar-se que a imagem
institucional desempenha um papel central na percepção do cliente acerca da qualidade
de serviço. Consequentemente, é imperioso que a imagem seja gerida de maneira
adequada.
A.1.2. Ensino superior
Há vários anos que diversas instituições integram nas suas estruturas gabinetes de
imagem onde desenvolvem campanhas de marketing para criação, manutenção e
actualização de uma imagem que as diferenciem positivamente da concorrência; no
entanto, ao nível das instituições de ensino, os estudantes parecem atribuir mais
importância às suas fontes particulares (e.g. amigos, familiares, professores do ensino
pré-graduado) que às fontes comerciais (e.g. publicidade) (Alves et al, 2004).
Consequentemente, torna-se crucial a prestação de um serviço de elevada qualidade,
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visto que, através do passa-a-palavra, estes estudantes (e as suas fontes particulares)
constituem os principais vectores transmissores da imagem da instituição, pelo que é
fundamental que a instituição construa e mantenha uma imagem de qualidade no ensino
junto dos seus (ex)estudantes.
No momento da opção por parte do potencial estudante, é fundamental que a faculdade
tenha construído uma boa imagem, que lhe permita competir no mercado onde impera a
lei da oferta e da procura (Palacio et al, 2002), para conseguir atrair os (melhores)
clientes. Ou seja, considerando que no momento da escolha os clientes (estudantes) são
influenciados pela percepção da qualidade do ensino e da aprendizagem da instituição, é
importante que a imagem transmitida conduza a expectativas que não sejam
defraudadas; na realidade, após a inscrição será a qualidade do ensino e da
aprendizagem que mais contribuirão para a (in)satisfação do estudante (Douglas et al,
2006).
A.2. PRESTÍGIO E IMAGEM
A.2.1. Considerações gerais
A percepção da identidade organizacional, o estatuto (ou reputação) organizacional, e a
percepção externa do prestígio são três formas distintas de imagens. A percepção da
identidade organizacional é a avaliação individual sobre o que a organização representa
ou significa. A reputação organizacional consiste na avaliação global da organização, do
seu posicionamento actual e do comportamento futuro esperado (Teece et al, 1997) e
baseia-se nas crenças e opiniões externas à organização. A percepção externa do
prestígio capta a forma como a própria organização vê essas crenças e opiniões externas
(Dutton et al, 1994).
A identidade organizacional desempenha um papel importante no estabelecimento de
um determinado tipo de reputação. Por exemplo, a empresa Nordstrom, Inc. (empresa
retalhista, fundada em 1901, actualmente sediada em Seattle, nos Estados Unidos da
América, e que se dedica à venda de roupas, acessórios, bolsas, jóias, cosméticos,
perfumes, e mobiliário) é conhecida por seu atendimento eficiente e essa identidade
criou uma reputação de serviço muito favorável, reconhecida pelo exterior e pela
própria empresa. No entanto, muitas organizações não conseguem alinhar totalmente as
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crenças dos membros externos, com a leitura e percepção dessas crenças internas
(Dutton et al, 1994). Quanto maior a discrepância entre a forma como uma organização
se vê e a forma como é vista, menos eficaz será a organização (Albert e Whetten, 1985).
Além disso, as percepções dos membros internos à empresa podem ser moldadas pelas
percepções do exterior. Aqueles podem sentir-se orgulhosos em fazerem parte de uma
organização que é reconhecida exteriormente como altamente prestigiada, pelo que,
muitas vezes, se “acalentam com a glória refletida” (Cialdini et al, 1976). As
percepções dos membros internos são criadas pelo que a sua organização faz (ou não
faz), sendo que, o que a organização faz (ou não faz) é o que molda o seu prestígio. A
organização deve ter a preocupação de transmitir a sua imagem tanto para o interior
como para o exterior. Por exemplo, a 3M™ é conhecida pela sua capacidade de
inovação e esta capacidade para inovar foi construída, ao longo do tempo, dentro da
organização e transportada tanto para o interior, como para o exterior, através de canais
de informação e outras de outras técnicas (por exemplo, símbolos).
As crenças do interior e do exterior podem não estar alinhadas, devido a erros de
interpretação do exterior (que não avalia correctamente o comportamento da
organização) e/ou do interior (que não interpreta, com precisão, a resposta às ações da
sua organização). É provável que estes desalinhamentos ocorram durante os períodos de
declínio e crise, quando a organização não consegue avaliar, com precisão, os sinais
envolventes e a situação global. No entanto, há sempre um ponto de equilíbrio onde as
crenças do interior e do exterior estão alinhadas.
Os clientes preferem interagir com uma empresa que tenha uma reputação mais
favorável, estando eventualmente dispostos a pagar um razoável montante em troca
(Fombrun, 1996; Fombrun e Shanley, 1990); acresce que fazer parte de uma
organização bem-vista ou de uma equipa vencedora estimula o comportamento humano.
Uma organização com reputação favorável representa o resultado de um processo
competitivo em que uma empresa evidencia, junto dos clientes, as suas características-
chave, de forma a que maximizar o seu estatuto económico e não económico (social)
(Fombrun, 1996; Fombrun e Shanley, 1990). Uma reputação favorável cria estima, o
que reforça a vantagem competitiva de uma organização (Shrum e Wuthnow, 1988).
Como salientado por Roberts e Dowling (1997), a reputação corporativa é um activo
extremamente importante; as organizações com melhor desempenho e com uma
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reputação favorável são capazes de manter resultados superiores, por períodos maiores
de tempo. Embora ainda não se tenha conseguido estabelecer empiricamente o que gera
o prestígio favorável, o estudo efectuado por Carmeli (2004) sugeriu que um clima
organizacional positivo é um importante factor na criação de uma percepção externa do
prestígio favorável.
A.2.2. Ensino superior
A reputação das IES tem um papel preponderante na percepção do público e contribui
para a manutenção de uma vantagem competitiva; por tal, devem conseguir transmitir
uma imagem de prestígio e de excelência. Aliás, segundo Ivy (2001), é esta imagem que
terá o maior impacto no momento da escolha da IES onde os estudantes pretendem
ingressar e onde eventuais financiadores de projectos de investigação e
desenvolvimento (I&D) pretendam investir. Na opinião do mesmo autor, os possíveis
públicos-alvo das IES constroem a imagem através da percepção que têm sobre as
forças e as fraquezas dos serviços prestados, sendo esta imagem construída pelo passa-
a-palavra (word of mouth), pela experiência prévia e pelas acções de marketing. Por tal,
e atendendo à tendência actual do mercado, no dia em que as IES se confrontarem com
o decréscimo do número de estudantes e do número de financiadores de I&D, é
imperioso que a sua imagem, aos olhos dos diversos interessados, esteja definida e que
seja conotada com qualidade e prestígio que propiciem a sua eleição de entre as
concorrentes. Esta afirmação é corroborada pelo estudo efectuado por Bornmmann et al
(2006), que confirmou a tendência das Universidades de maior prestígio terem maior
número de parcerias com investidores e financiadores de projectos de I&D. Num
mercado tradicional impera a interacção e competição entre produtores e clientes.
Segundo Marginson (2006), as IES competem para atrair os “melhores” estudantes, ou
seja, aqueles que têm as melhores classificações de acesso e os estudantes competem
pelo ingresso nas melhores IES. O prestígio sustenta a escolha dos “melhores”
estudantes do ensino superior, a competição eleva a classificação de acesso desses
estudantes, e a escassez de vagas reproduz o prestígio da elite universitária, o que
produz um efeito circular que conduz sempre à hierarquização do prestígio, no
momento da escolha da IES. O mesmo autor, quando avaliava o posicionamento
competitivo no ensino superior enfatizava o facto de que o posicionamento não era o
único aspecto considerado pelos estudantes no momento da escolha, mas era mais
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importante do que a qualidade do ensino, isto porque a reputação das IES é conhecida,
ao contrário do que acontece, na maioria das vezes, com a qualidade do ensino. Num
estudo em que foi realizado um teste no momento da escolha confrontando uma IES
prestigiada, embora com reconhecida indiferença pelo ensino pré-graduado, com uma
IES de menor prestigio (ou mesmo inexistente), embora com oferta de melhor apoio no
ensino pré-graduado, concluiu-se que praticamente a maioria dos estudantes opta pela
prestigiada, ou seja, os estudantes são mais influenciados pelo prestígio da IES do que
pela qualidade do programa e do ensino.
A.3. RETENÇÃO E FIDELIZAÇÃO
A.3.1. Considerações gerais
A fidelização de clientes é definida como a intenção do consumidor em estabelecer um
compromisso com uma organização (Zeithaml et al, 1996), nomeadamente pela
preferência em comprar a essa organização uma maior quantidade e maior variedade de
produtos, e ajudá-la a ter sucesso através, por exemplo do passa-a-palavra. Para não se
confundir um fiel ilegítimo, com um cliente genuinamente fiel, deve ser analisada a
perspectiva de um comportamento associado à fidelidade, ao invés de uma perspectiva
comportamental de uma simples repetição de compra, pois é necessário distinguir entre
aqueles que têm uma atitude sem compromisso mas que são obrigados a repetir a(s)
compra(s) e os clientes verdadeiramente fiéis (Dick e Basu, 1994).
Pode definir-se a qualidade de serviço de acordo com as duas dimensões identificadas
por Grönroos (2007). A qualidade do serviço funcional está relacionada com a natureza
da interação entre o prestador de serviço, o cliente e o processo pelo qual o core service
é prestado. A qualidade do serviço técnico está relacionada com a qualidade dos
serviços prestados (Sharma e Patterson, 1999). Como tal, será previsível que tais
dimensões de qualidade de serviço tenham o potencial para contribuir, distintamente,
para comportamentos e atitudes do cliente. De um modo geral, as percepções de
qualidade em ambas as dimensões são susceptíveis de ser positivamente associadas às
atitudes de clientes para com a organização e a probabilidade de permanecer como
cliente. No estudo efectuado por Bell et al (2005), a fidelidade foi definida como as
intenções dos clientes em permanecerem com a organização e o nível de compromisso
com a organização, tendo sido demostrado que existe um efeito positivo e significativo
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da qualidade de serviço técnico e funcional na lealdade do cliente.
A fidelização de clientes nos sectores de serviços tem recebido uma atenção
considerável tanto do marketing como da gestão (teórica e prática). Como a fidelidade
do cliente pode atuar como uma barreira à mudança de comportamento por parte do
cliente, ela tem um impacto sobre o desenvolvimento de uma vantagem competitiva
sustentada (Keaveney, 1995; Gremler e Brown, 1996). Nas décadas passadas, a
satisfação do cliente era frequentemente associada à fidelização dos clientes (Newman e
Werbel, 1973; Oliver e Linda, 1981; Fornell, 1992). Estava assim implícito que não-
confirmações positivas sobre os prestadores de serviços iriam instigar os clientes a
favorecê-los com o seu patrocínio; no entanto, a relação directa entre as avaliações por
parte dos clientes dos serviços e a lealdade manteve-se um tanto ambígua. Por exemplo,
Oliva et al (1992) argumentam que a relação entre satisfação e fidelização é não-linear,
ou seja, no caso de a satisfação aumentar acima de um determinado nível, a lealdade do
cliente aumentará rapidamente; contudo, a lealdade permanece inalterada ao longo de
uma variedade relativamente grande de níveis de satisfação que caem abaixo desse
nível. No caso de níveis relativamente altos de satisfação, esta será o determinante mais
importante da fidelidade do cliente. No caso de grande número de encontros com o
prestador de serviços, pode não ser sempre possível alcançar altos níveis de satisfação.
A manutenção prolongada de encontros deve atender: (1) à duração temporal; (2) ao
conteúdo afetivo ou emocional; e (3) à proximidade espacial do prestador de serviços e
cliente (Price et al, 1995). Nestes encontros, a criação de valor e o optimismo podem ter
um impacto adicional positivo nas intenções de fidelização, por parte do cliente (George
e Jones, 1996).
A.3.2. Ensino superior
O ensino-educação apresenta contudo algumas diferenças conceptuais relativamente a
outros serviços profissionais. Estas diferenças incluem, entre outras, a posição de
destaque que os serviços prestados irão ter na vida do estudante, pois é através do
usufruto deste serviço, que será possível adquirir conhecimentos, competências e
capacidades relevantes ao longo da sua vida (Henning-Thurau et al, 2001). O nível da
qualidade do ensino percepcionado pelo estudante constitui mesmo o factor com maior
impacto na fidelização, seguido pelo compromisso emocional que o estudante cria com
a “sua” instituição. Os resultados apresentados por Henning-Thurau et al (2001)
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corroboram este facto ao revelarem que a qualidade do ensino, quando comparada com
o compromisso emocional, tem um impacto substancialmente maior (dobro) na
fidelização do estudante.
A.4. EXPECTATIVAS E SATISFAÇÃO
A.4.1. Considerações gerais
Um dos principais objetivos do marketing de serviço é maximizar a percepção dos
clientes de serviços e o relacionamento entre a empresa e o cliente. Para tal, as
pesquisas na área de serviços de marketing analisam o processo de avaliação, por parte
dos clientes, relativamente à qualidade do serviço que recebem e os componentes deste
processo de avaliação (Hamer, 2006).
A actual conceptualização do processo de análise da qualidade dos serviços tem as suas
raízes nos estudos de Parasuraman et al (1988) que deram origem à descrição do gap
existente na qualidade de serviço e ao desenvolvimento do instrumento SERVQUAL. O
gap na percepção da qualidade do serviço e a não-confirmação da
satisfação/insatisfação dos clientes, foram a base de muita investigação em avaliação
dos clientes e dos serviços, como a de Durvasula et al (1999) que apresentou um estudo
da aplicabilidade do SERVQUAL no sector de business-to-business, e a de Kopalle e
Lehmann (2001) que apresentaram um estudo sobre as diferenças individuais dos
clientes e qual o efeito na não-confirmação da satisfação. O gap e a não-confirmação
pressupõem que as avaliações são uma função da distância entre a percepção do
desempenho e as expectativas. As avaliações elevadas resultam do facto de os clientes
terem a percepção de que o serviço prestado foi melhor do que o esperado, sendo as
avaliações baixas resultantes do facto de os clientes terem a percepção de que o serviço
prestado foi pior do que o esperado. As implicações dessas avaliações, na gestão,
traduzem-se na prática em “prometer pouco e oferecer muito”. Por outras palavras, as
empresas devem procurar reduzir as expectativas dos clientes (ou seja, prometer pouco)
de forma a assegurar que podem exceder essas expectativas (ou seja, oferecer muito
oferecer muito). Enfim, o “segredo” está na percepção da qualidade do serviço (PQS).
A discussão sobre a conceptualização e a medição da PQS tem girado em torno de cinco
aspectos:
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
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i. Expectativas;
ii. Percepção do desempenho;
iii. Não confirmação;
iv. Zona de tolerância (Parasuraman et al, 1991; Hsien e Yuan, 2010);
v. Gap (hiato).
i. Expectativas. Os investigadores que se têm dedicado ao estudo da qualidade dos
serviços e a satisfação dos clientes, através da comparação das expectativas dos clientes
com a percepção dos serviços prestados, sugerem que as expectativas influenciam a
satisfação (Alves et al, 2004) e as expectativas futuras são uma função de expectativas
anteriores e da avaliação actual do desempenho do serviço (Licata et al, 2008). A
satisfação é avaliada através da comparação entre o que o cliente recebeu e o que o
cliente considerava expectável, pelo que as expectativas têm um papel fundamental na
avaliação da satisfação, disponibilizando assim um termo de comparação entre o serviço
esperado e o serviço recebido. Assim, as expectativas são crenças sobre o nível do
serviço que será prestado por um prestador de serviços, e é fundamental que esteja de
acordo com os padrões de referência com os quais o serviço prestado vai ser comparado
(Zeithaml et al, 1993). Embora inicialmente os investigadores em qualidade de serviço
encarassem as expectativas estritamente como um padrão normativo (Parasuraman et al,
1991), os estudos mais recentes sugerem pelo menos dois tipos adicionais de
expectativas (Boulding et al, 1993; Zeithaml et al, 1993, Lovelock e Wirtz, 2006).
Assim, os três tipos de expectativas são (Hamer, 2006):
a) Desejadas (ou normativas);
b) Previstas (ou preditivas);
c) Adequadas (ou mínimas).
a) As expectativas desejadas estão relacionadas com o nível de serviço que seria de
esperar de um prestador de serviço excelente (Zeithaml et al, 1990). O padrão
normativo é descrito de várias formas, como sejam, o padrão desejado para o nível de
desempenho; o nível em que o cliente quer que o serviço seja prestado; o que o cliente
pensa que deve acontecer no seu próximo “encontro” com o mesmo serviço; o
desempenho ideal que o cliente idealmente esperaria; e o desempenho de uma marca,
para completa satisfação do cliente (Boulding et al, 1993).
Empiricamente, as expectativas desejadas foram descritas como estando negativamente
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
10
relacionadas com as avaliações de serviço. Usando análises de correlação, Tse e Wilton
(1988) demonstraram que as expectativas desejadas tinham um efeito indirecto e
negativo sobre a satisfação. Boulding et al (1993) demonstrou que as expectativas
normativas têm um efeito negativo sobre percepções do serviço. Babakus e Boller
(1992) demonstraram a correlação entre as expectativas normativas e a PQS negativa.
Desta maneira, a evidência empírica sugere que expectativas normativas estão
correlacionadas negativamente com a PQS.
b) As expectativas previstas são definidas como o nível de serviço que os clientes
esperam receber de um determinado prestador de serviços, numa determinada situação.
As expectativas previstas dos clientes são geralmente inferiores às suas expectativas
desejadas (Boulding et al, 1993). No entanto, as expectativas previstas e as desejadas
podem ser iguais se os clientes considerarem que o prestador de serviço com quem eles
estão a interagir é um provedor de serviço excelente. As expectativas previstas foram
consideradas como sendo o padrão esperado, o desempenho mais provável (Tse e
Wilton, 1988) ou as expectativas esperadas (Boulding et al, 1993).
Este tipo de expectativas (previstas) foi descrito como estando positivamente
relacionado com as avaliações de serviço. Tse e Wilton (1988) demonstraram a
correlação entre expectativas preditivas e a satisfação. Voss et al (1998) descobriu que
as expectativas previstas tinham um efeito positivo sobre a percepção do desempenho e
a satisfação. Desta maneira, a evidência empírica sugere que estas expectativas estão
positivamente relacionadas com a PQS.
c) As expectativas adequadas (ou mínimas) representam a o menor nível aceitável de
percepção de serviço. As expectativas adequadas têm sido definidas como o nível mais
baixo de serviços que o cliente espera receber (Zeithaml et al , 1993), sendo portanto, as
expectativas mínimas toleráveis.
ii. Percepção do desempenho. A percepção do desempenho traduz-se na forma
subjectiva como o cliente aprecia o nível de serviço que lhe é prestado (Parasuraman et
al, 1988). Na literatura sobre qualidade de serviço, este parâmetro também tem sido
chamado "percepções" e "desempenho" (Boulding et al, 1993; Zeithaml et al, 1988). A
percepção do desempenho representa os estímulos que cada cliente percepciona, na
interacção com o serviço. O cliente avalia o serviço que lhe foi prestado, comparando os
estímulos percepcionados com os estímulos esperados (ou seja, expectativas). Por
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
11
outras palavras, a PSQ resulta da avaliação comparativa feita pelo cliente, entre o
serviço prestado e as expectativas.
A percepção do desempenho está positivamente relacionada com a avaliação de
serviços e com a PSQ (Babakus e Boller, 1992).
iii. Não-confirmação. Grande parte dos estudos existentes tem por pressuposto que a
confirmação/não-confirmação de expectativas pré-consumo é o determinante essencial
da satisfação. Isto significa que clientes têm certos padrões de serviços em mente
(expectativas) antes do consumo, observam o desempenho do serviço e comparam-no
com os seus padrões, formando assim os seus julgamentos de satisfação, com base nessa
comparação. O julgamento resultante é denominado não-confirmação negativa se o
serviço foi pior do que o esperado; não-confirmação positiva se foi melhor do que o
esperado; e confirmação se o serviço foi como esperado. Quando ocorre não-
confirmação positiva substancial, junta-se o prazer ao elemento-surpresa, e os clientes
provavelmente ficarão encantados (Lovelock e Wirtz, 2004). Pode assim afirmar-se que
a não-confirmação representa a relação entre as expectativas e a percepção do
desempenho, logo, à percepção do desempenho superior às expectativas, corresponde
não-confirmação positiva, e à percepção do desempenho aquém das expectativas,
corresponde não-confirmação negativa (Hamer, 2006).
Não existe contudo evidência empírica segura para a importância da não-confirmação
no PQS. Os estudos que demonstraram uma relação significativa entre não-confirmação
e PQS referem geralmente uma tendência para esta relação ser mais fraca do que aquela
que existe entre a percepção do desempenho e a PQS. No entanto, Bolton e Drew
(1991) demonstram que a não-confirmação é um factor preditivo forte da PQS. Desta
maneira, a importância teórica da não-confirmação na percepção de qualidade não está
devidamente validada.
iv. Zona de tolerância. A zona de tolerância representa o intervalo entre as expectativas
de serviço desejado e as expectativas de serviço adequado (Zeithaml et al, 1993).
Segundo Lovelock e Wirtz (2004), um desempenho que fique abaixo do nível de
serviço adequado causará frustração e insatisfação, ao passo que um desempenho que
exceda o nível de serviço desejado agradará e também surpreenderá os clientes. Outra
maneira de ver a zona de tolerância é imaginá-la como a faixa de serviço dentro da qual
os clientes dão atenção explícita ao desempenho do serviço. Quando o serviço ficar fora
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
12
dessa faixa, a reacção dos clientes será positiva ou negativa (Hsieh e Yuan, 2010),
conforme seja considerado o desempenho de forma positiva ou negativa.
v. Gap (hiato). Apesar de ser essencial para os prestadores de serviços saberem o que os
clientes realmente querem, é muito difícil conhecer os desejos dos cliente. Na prática,
existe um gap entre prestadores de serviços e clientes. Por isso, prestar bons serviços
aos clientes, que coincidam com as suas expectativas, é um tema critico para os
prestadores de serviços (Hsieh e Yuan, 2010). O gap, no âmbito da PQS, traduz-se no
grau de discrepância entre as expectativas dos clientes e suas percepções (Zeithaml et
al, 1990), tendo o estudo efectuado por Brandon-Jones e Silvestro (2010) confirmado a
fiabilidade e a validade da medição da qualidade do serviço baseada no gap. Assim, um
cliente que percebe uma não-confirmação positiva (ou seja, um cliente que percepciona
o desempenho como sendo melhor do que o esperado) iria considerar o prestador de
serviços como tendo uma qualidade superior, quando comparada com outro cliente que
percepciona uma não-confirmação negativa. Pensa-se que aumentos na não-
confirmação positiva correspondem a aumentos equivalentes na PQS; por outro lado,
aumentos na não-confirmação negativa correspondem a decréscimos equivalentes na
PQS.
A.4.2. Ensino superior
No estudo efectuado por Alves et al (2004) concluiu-se que a principal fonte de
informação usada pelos estudantes para formar as expectativas era baseada em
informações prestadas por familiares e amigos, por estudantes das IES e por docentes
do ensino secundários; os canais comerciais tinham uma influência diminuta.
No que concerne às instituições de ensino, a estabilidade das expectativas ao longo do
tempo sugere que, provavelmente, são formadas antes do ingresso na universidade; tal
facto parece ser assim crucial no momento da selecção da instituição, altura em que o
estudante é confrontado com uma oferta variada de cursos (Hill, 1995).
As expectativas dos estudantes, a satisfação, a fidelização e o recrutamento estão
interligados. Sendo o output do serviço prestado pelas instituições de ensino superior
avaliado pela satisfação dos clientes, pode extrapolar-se que as expectativas e a
satisfação dos estudantes são de extrema importância para a gestão destas instituições,
cujo objectivo deverá ser maximizar a satisfação dos estudantes, não defraudando as
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
13
suas legítimas expectativas, mantendo assim um nível de qualidade, traduzido numa
imagem de prestígio. No caso das IES, a satisfação avalia-se, entre outros, pela opção
de ingressar em cursos de nível superior, na mesma instituição, ou seja, na capacidade
de fidelizar os clientes, e na recomendação da instituição a amigos, familiares e colegas
de trabalho (Douglas et al, 2006); os aspectos físicos de uma instituição parecem ser
pouco importantes relativamente à satisfação dos estudantes. Podemos portanto concluir
que o aspecto mais importante na satisfação dos estudantes está directamente associado
ao core service, i.e., ao processo de ensino-aprendizagem. O mesmo autor refere que os
equipamentos didácticos e os recursos físicos existentes influenciam a escolha dos
estudantes; no entanto, após o ingresso, é a qualidade do ensino-aprendizagem que
assume um papel preponderante, pelo que, os estudantes toleram algumas insuficiências
de recursos físicos, desde que a qualidade do ensino seja considerada como tendo um
nível aceitável. Neste contexto, uma variável causadora de insatisfação é o elevado
número de estudantes por turma, visto que se traduz numa insuficiência de material
didáctico disponível para satisfazer a procura por parte dos estudantes.
Segundo Hill et al (2003), os estudantes valorizam as qualidades dos professores, sendo
a sua experiência pedagógica determinante na aprendizagem dos estudantes; os
estudantes atribuem ainda particular importância à existência de redes de trabalho que
suportem a sua actividade escolar.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
14
B. FUNDAMENTO E OBJECTIVOS
O curso de medicina, outrora licenciatura agora mestrado integrado, é leccionado em
sete faculdades portuguesas, sendo invariavelmente o que requer as mais altas
classificações de ingresso. A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)
tem sido, regularmente, a mais pretendida, embora o indicador habitualmente invocado
(classificação mínima de acesso) possa não ser fiável dado o numerus clausus não ser o
mesmo para todas as faculdades. No entanto, o facto de a classificação mínima de
acesso ser a mais alta entre as faculdades de medicina indicia, em circunstâncias
normais, que a FMUP foi a primeira opção de escolha para 100% dos ingressados.
Para além das motivações que geram tão alta procura pelo curso de medicina, cuja
abordagem ultrapassa o âmbito deste trabalho (a que não será alheia, mais que a
vocação, a procura em excesso de médicos), existem seguramente razões que justificam
a primazia na opção específica pela instituição-FMUP. Entre as referidas razões
encontram-se, provavelmente, uma série de factores que constituem expectativas, às
quais a instituição-FMUP poderá, ou não, dar cabal satisfação.
Embora o enquadramento actual, com excesso de procura, retire alguma importância e
pertinência à avaliação do grau de satisfação deste grupo de estudantes (do curso de
medicina) que perfaz cerca de 50% dos clientes da FMUP, este tipo de avaliação é
elementar para o julgamento da qualidade de serviços prestados. Na realidade, para
além da análise estática institucional e comparativa inter-institucional, tal permitirá uma
análise evolutiva e, mesmo perante um alto índice de satisfação, permitirá diagnosticar
pontos fracos e introduzir alterações visando melhorias na qualidade do serviço.
A avaliação da satisfação poderá ainda a assumir um papel crucial perante desafios
futuros, como o que pode advir do excesso de oferta por saturação do mercado de
trabalho em consequência do alto número de estudantes que actualmente frequenta as
faculdades de medicina portuguesas, do acréscimo de equivalências de graduados em
faculdades de medicina estrangeiras (não apenas de estudantes portugueses) e da
provável abertura de outros cursos de medicina em faculdades públicas e privadas.
O principal objectivo deste trabalho é avaliar o grau de satisfação das expectativas dos
estudantes do curso de medicina da FMUP, através da análise comparativa entre a
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
15
avaliação inicial (expectativas) e a avaliação final (satisfação), efectuadas a dois grupos
de estudantes, a saber, os do 1.º ano e os do 6.º ano curriculares, respectivamente.
Assim, pretende-se:
• Recolher e analisar parâmetros fiáveis que quantifiquem a opção de escolha
institucional para o curso de medicina;
• Identificar factores que justificam a eventual preferência pela FMUP; e,
• Caracterizar as expectativas e analisar a sua satisfação.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
16
C. MATERIAL E MÉTODOS
Para a aquisição de dados necessários às análises pretendidas foram utilizadas diversas
metodologias e várias fontes de informação.
C.1. POSICIONAMEMTO DOS INGRESSADOS NOS CURSOS DE MEDICINA
Para avaliar a suposta primazia pelo curso de medicina da FMUP, foi efectuada uma
recolha de dados da DGES relativos aos anos lectivos em que os critérios de ingresso no
curso de medicina foram uniformizados (por acordo entre as faculdades, desde o ano
lectivo 2008-2009), de forma a analisar:
- a classificação mínima e a classificação média de ingresso;
- a origem geográfica dos estudantes colocados nas sete faculdades;
- o posicionamento do último estudante colocado na FMUP relativamente ao
contingente geral;
- o número absoluto e relativo de estudantes que ingressaram em outras
faculdades com classificação superior e inferior à classificação mínima de
ingresso na FMUP;
- a classificação mínima de acesso corrigida, ou seja, a classificação de ingresso
na FMUP para o lugar de ordem que noutra faculdade constituiu o último
ingresso (no caso de a FMUP ter um numerus clausus superior) e vice-versa.
C.2. POPULAÇÃO. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO
O universo da amostragem é constituído pelos estudantes que actualmente (ano lectivo
de 2010/2011) frequentam o 1.º ano e o 6.º ano curriculares do curso de medicina da
FMUP. Relativamente aos do 1.º ano apenas foram incluídos os que tinham ingressado
no ano lectivo de 2010/2011; do 6.º ano apenas foram incluídos os que tinham
ingressado no ano lectivo de 2005/2006. Em ambos os grupos foram excluídos os
estudantes que não ingressaram pelo contingente geral na 1ª fase de candidaturas. Aos
estudantes do 1.º ano foi solicitada a opinião reportada à data de escolha/ingresso na
FMUP.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
17
Os dados demográficos recolhidos constaram de idade, sexo e distrito de residência à
data da escolha da FMUP (neste caso segundo a dicotomia: distrito do Porto/Outro
distrito).
C.3. QUESTIONÁRIOS
Para a identificação de factores que tenham justificado a preferência pela FMUP,
utilizou-se um questionário de opinião (Rowley, 2003), distribuído aos estudantes do 1.º
ano curricular, com opções de resposta utilizando uma escala de Likert de cinco pontos
aplicada a seis parâmetros (Quadro 1).
Quadro 1- Questionário de opinião: preferência pela FMUP
1 M
uito
des
favo
ráve
l
2 Po
uco
desf
avor
ável
3
Indi
fere
nte
4 Po
uco
favo
ráve
l
5 M
uito
favo
ráve
l
Localização geográfica
Prestígio
Recomendação de amigos/familiares
Recomendação de antigos/actuais estudantes
Ser uma instituição com tradição
Ser a instituição com a nota de acesso mais elevada
Para se avaliarem as expectativas e o seu grau de satisfação utilizaram-se 12 questões
com opção de resposta utilizando uma escala de Likert de cinco pontos, que constavam
do questionário distribuído aos estudantes do 1.º e 6.º ano curriculares (Quadro 2).
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
18
Quadro 2- Questionário de opinião: expectativas e satisfação 1
Má/
Mau
2 M
edío
cre
3 Su
ficie
nte
4 B
oa/B
om
5 Ex
cele
nte
Qualidade global do ensino-aprendizagem
Qualidade pedagógica dos docentes
Nível de competências adquiridas
Adequação dos equipamentos didácticos
Adequação do nº de estudantes
Organização do plano de estudos
Métodos/metodologias de avaliação
Hospital S. João como hospital nuclear
Nível da investigação científica
Instituição inovadora
Atmosfera/ambiente estudantil
Actividades extra-escolares
Para os estudantes do 6.º ano, o questionário foi acrescido de duas questões de resposta
fechada (Quadro 3).
Quadro 3- Questões de resposta fechada: satisfação
- Voltaria a escolher o curso de medicina da FMUP? Sim____ Não____
Se não: escolheria um curso de medicina de outra faculdade __ (qual?____________) ou
escolheria outro curso___ (qual?_____________________________)
- Recomendaria a escolha da FMUP a um amigo/familiar? Sim ____ Não ____
As fichas de recolha de dados resultantes da fusão de dados demográficos e respectivos
questionários constam em anexo. As questões integrantes do inquérito de
expectativas/satisfação foram validadas em estudos prévios (Crisp et al, 2009; Estevão-
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
19
Costa et al, 2007; Henning-Thurau et al, 2001; Marzo-Navarro et al, 2005; Valbjørg e
Indrehus, 2003; Ziaee et al, 2004).
Os estudantes, com garantia de anonimato, explicitaram a sua opinião relativamente às
questões acima expostas, em suporte gráfico, após solicitação única que no caso dos
alunos de 1.º ano abrangeu os que frequentaram as aulas práticas da unidade curricular
de Anatomia II em Junho de 2011, e no caso dos alunos de 6.º ano abrangeu os que
apresentaram a dissertação/monografia/relatório de estágio entre Maio e Julho de 2011.
C.4. ANÁLISE DOS DADOS
Para a leitura dos dados utilizou-se um sistema informatizado baseado em
reconhecimento óptico de caracteres (Cardiff TeleForm); o tratamento dos dados foi
efectuado através do programa PASW Statistics v18.
Foi efectuada uma análise descritiva que incluiu todas as variáveis através da utilização
de tabelas de frequência e de medianas e percentis 25 e 75 (P25, P75), conforme
aplicável.
Para avaliar a fiabilidade do questionário utilizou-se a análise de componentes
principais e o coeficiente alfa de Cronbach (α) (Bland et al, 1997). Na extracção do
número de componentes a reter utilizou-se o critério de Scree Plot. Considerou-se que
um item pertenceria a determinada componente quando a carga factorial do item com
uma determinada componente fosse igual ou superior |0,40| e a carga factorial era a
mais elevada das que cumpriam a condição anterior.
A pontuação de cada domínio foi obtida pelo somatório de cada uma das variáveis que o
compõem e convertida em percentagem.
Para testar a igualdade de proporções foi utilizado o teste do χ2 e o teste exacto de
Fisher quando os pressupostos do primeiro não estavam garantidos. Na comparação
entre variáveis contínuas foi utilizado o teste U de Mann-Whitney para dados
independentes ou emparelhados, conforme aplicável. O nível de significância foi fixado
em 5%.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
20
D. RESULTADOS
D.1. A ESCOLHA DA FMUP
D.1.1. Posicionamento geral dos ingressados em medicina em 2010-2011
Os dados relativos a ingressados nos sete cursos de medicina, pelo contingente geral e
outros, no ano lectivo de 2010-2011 constam do quadro 1.
Quadro 1- Contingentes e numerus clausus por curso de medicina
Contingente geral Outros Total
FMUL 277 18 295
FMUC 238 17 255
FMUP 233 12 245
FCM- UNL 214 16 230
ICBAS- UP 152 3 155
FCS- UBI 137 5 142
ECS- UM 113 7 120
Total 1364 78 1442
Dos 1442 estudantes ingressos, 444 (31%) eram provenientes do distrito do Porto, 208
(14%) de Lisboa, 176 (12%) de Braga, 95 (7%) de Coimbra e 519 (36%) dos restantes.
O último estudante do contingente geral colocado na FMUP ocupava o 505.º lugar do
escalonamento nacional, pelo que:
- os ingressados na FMUP situavam-se entre os 37% mais classificados;
- dos 1131 (n=1364-233) ingressados nos outros cursos de medicina, 272 (n=505-233)
tinham classificação superior à mínima de acesso na FMUP, e 859 (76%) tinham
classificação inferior à do último ingressado na FMUP.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
21
D.1.2. Classificação mínima e classificação média de ingresso
A classificação mínima de acesso nos anos lectivos de 2008-2009 a 2010-2011, pelo
contingente geral, tem revelado um posicionamento constante entre os sete cursos,
sendo a classificação da FMUP invariavelmente a mais alta, com diferenças cujo
mínimo foi de +1,5 pontos (para o ICBAS-UP em 2008-2009) e cujo máximo atingiu
+6,5 pontos (para a FCS-UBI em 2010-2011); no que respeita à classificação média dos
ingressados no ano lectivo 2010-2011, o posicionamento relativo é sobreponível ao da
classificação mínima de acesso, sendo o valor mais elevado o da FMUP, com diferenças
entre +1,2 pontos (para o ICBAS-UP) e +8,2 pontos (para a FCS-UBI); verifica-se ainda
que a classificação mínima de acesso à FMUP em 2010-2011 foi superior às
classificações médias dos restantes cursos de medicina com a excepção do ICBAS-UP
(figura 1).
Figura 1- Classificação mínima (anos lectivos 2008-2009 a 2010-2011) e classificação
média (em 2010-2011) de acesso aos sete cursos de medicina de faculdades portuguesas.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
22
D.1.3. Classificação mínima de acesso corrigida
Para o ano lectivo 2010-2011, o cálculo da classificação mínima corrigida para o
numerus clausus preenchido pelo contingente geral (nc), revelou que (figura 2):
a) relativamente aos cursos de medicina com nc inferior ao da FMUP, a diferença se
amplia de:
- +2,5 para +5,1 pontos (113º ingressado, nc da ECS-UM);
- +6,5 para +8,5 pontos (137º ingressado, nc da FCS-UBI);
- +1,7 para +3,1 pontos (152º ingressado, nc do ICBAS-UP);
- +5,9 para +6,2 pontos (214º ingressado, nc da FCM-UNL).
b) relativamente aos cursos com nc superior ao da FMUP, a diferença diminui de:
- +4,4 para +4,0 pontos (233º ingressado na FMUL, nc da FMUP);
- +3,7 para +3,5 pontos (233º ingressado na FMUC, nc da FMUP).
Figura 2- Classificação mínima de acesso aos sete cursos de medicina de faculdades
portuguesas, corrigida para o numerus clausus, no ano lectivo 2010-2011.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
23
D.2. CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS
Universo. No ano lectivo de 2010/2011 estavam inscritos na FMUP 308 estudantes no
1.º ano curricular e 238 estudantes no 6.º ano. Relativamente aos do 1.º ano, 244
ingressaram pelo contingente geral, na 1.ª fase de candidaturas, no ano lectivo de 2010-
2011; no que respeita aos do 6.º ano, 193 tinham ingressado pelo contingente geral, na
1.ª fase de candidaturas, no ano lectivo de 2005-2006.
Constituição das amostras. 271 estudantes do 1.º ano responderam ao inquérito, sendo
excluídos 37 por não terem ingressado no ano lectivo de 2010-2011, 9 por não terem
ingressado na 1.ª fase de candidaturas, e 21 por não terem integrado o contingente geral;
consequentemente, a amostra do 1.º ano curricular é constituída por 204 estudantes. 181
estudantes do 6.º ano responderam ao inquérito, sendo excluídos 23 por não terem
ingressado no ano lectivo de 2005-2006, 3 por não terem ingressado na 1.ª fase de
candidaturas, e 19 por não terem integrado o contingente geral; consequentemente, a
amostra do 6.º ano curricular é constituída por 136 estudantes.
Em ambas as amostras predomina o sexo feminino e o distrito do Porto, sem diferenças
significativas entre estudantes do 1.º ano e 6.º ano quanto à distribuição (Quadro 2).
Quadro 2- Caracterização demográfica das amostras
N Idade *
(anos) Sexo
Distrito de residência
Estudantes do 1.º ano 204 18 [18-19] M- 36,1%
F- 63,9%
Porto- 60,6%
outro- 39,4%
p --- 0,953 0,267
Estudantes do 6.º ano 136 24 [23-24] M- 35,8%
F- 64,2%
Porto- 66,7%
outro- 33,3%
* mediana [P25-75]; M-masculino, F-feminino
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
24
D.3. A PREFERÊNCIA PELA FMUP
O prestígio foi o factor que obteve mais respostas favoráveis (4 ou 5) (95,5%), seguido
da localização geográfica (82,4%) e da recomendação de amigos/familiares (74%); o
prestígio foi, também, o factor a que foi atribuído o menor número de respostas
desfavoráveis (1 ou 2) (1%); contudo, a localização geográfica foi o factor que obteve
mais respostas desfavoráveis (8,8%) (figura 3). Não se verificaram diferenças
estatisticamente significativas quanto ao distrito de residência (Porto vs outro distrito)
para qualquer dos parâmetros.
Figura 3- Caracterização da preferência pela FMUP (respostas dos estudantes do 1.º ano).
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
25
D.4. AS EXPECTATIVAS E A SATISFAÇÃO
D.4.1. Fiabilidade do questionário
A análise de componentes principais revelou dois grupos de parâmetros (domínios) que
explicam 47,82% da variância acumulada (quadro 3): o primeiro engloba oito variáveis
que reflectem o processo de ensino-aprendizagem; o segundo inclui quatro variáveis
que representam a envolvente extra-curricular.
Quadro 3- Matriz de componentes principais
Componente 1 2
Qualidade global do ensino-aprendizagem 0,747 0,012
Qualidade pedagógica dos docentes 0,614 0,083
Nível de competências adquiridas 0,668 -0,087
Adequação dos equipamentos didácticos 0,662 -0,024
Adequação do nº de estudantes 0,763 -0,196
Organização do plano de estudos 0,747 -0,044
Métodos/metodologias de avaliação 0,540 0,159
Hospital S. João como hospital nuclear 0,471 0,172
Nível da investigação científica 0,303 0,487
Instituição inovadora 0,338 0,547
Atmosfera/ambiente estudantil -0,063 0,781
Actividades extra-escolares -0,160 0,842
% variância 33,95% 13,87%
A análise de correlação item-total e do α se item excluído evidenciou que a retirada de
qualquer dos itens não aumentava a fiabilidade global (quadro 4). O valor de α obtido
para o domínio “processo de ensino-aprendizagem” foi de 0,798; o valor de α para o
domínio “envolvente extra-curricular” foi de 0,675, demonstrando uma boa consistência
interna (Bland et al, 1997).
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
26
Quadro 4- Análise de consistência interna
Correlação Item-total
α, Item excluído
Processo de ensino-aprendizagem
Qualidade global do ensino-aprendizagem 0,624 0,767
Qualidade pedagógica dos docentes 0,507 0,777
Nível de competências adquiridas 0,471 0,782
Adequação dos equipamentos didácticos 0,517 0,775
Adequação do nº de estudante 0,586 0,772
Organização do plano de estudos 0,619 0,760
Métodos/metodologias de avaliação 0,473 0,782
Hospital S. João como hospital nuclear 0,393 0,793
Envolvente extra-curricular
Nível da investigação científica 0,411 0,638
Instituição inovadora 0,471 0,599
Atmosfera/ambiente estudantil 0,460 0,608
Actividades extra-escolares 0,491 0,585
D.4.2. Descrição dos domínios
Os estudantes do 1.º ano e do 6.º ano avaliaram positivamente quer o processo de
ensino-aprendizagem quer a envolvente extra-curricular; contudo, os estudantes do 1.º
ano atribuíram um valor significativamente mais alto ao primeiro, ao invés dos
estudantes do 6.º ano que valorizaram mais a segunda (quadro 5).
Quadro 5- Caracterização dos domínios (escala 0-100)
Estudantes do 1.º ano Estudantes do 6.º ano
Processo de ensino-aprendizagem *
75,00 [68,75-81,25] 62,50 [56,25-71,88]
p <0,001 <0,001
Envolvente extra-curricular * 68,75 [62,50-81,25] 75,00 [62,50-81,25]
* mediana [P25-75]
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
27
Processo de ensino-aprendizagem. Os
estudantes do 6.º ano atribuíram ao processo
de ensino-aprendizagem um valor
significativamente (p<0,001) mais baixo que
os estudantes do 1.º ano.
Envolvente extra-curricular. Os estudantes
do 6.º ano atribuíram um valor
significativamente (p=0,024) mais alto que os
estudantes do 1.º ano à envolvente extra-
curricular .
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
28
D.4.3. Análise individual das questões de resposta opcional
D.4.3.1. Processo de ensino-aprendizagem
Qualidade global do ensino-
aprendizagem. Dos estudantes do 1.º ano,
este parâmetro obteve 97% de respostas
“boa” ou “excelente”, enquanto que dos
estudantes do 6.º ano obteve 86,8%. A
comparação entre as respostas dos
estudantes do 1.º ano e do 6.º ano revelou
uma diferença estatística altamente
significativa para a diminuição dos
estudantes que a consideram “excelente”.
Qualidade pedagógica dos docentes.
89,9% dos estudantes do 1.º ano atribuíram
a classificação de “boa” ou “excelente”;
80,3% dos estudantes do 6.º ano atribuíram
a mesma classificação. Não se registou
diferença estatisticamente significativa
entre as avaliações dos estudantes do 1.º
ano e a dos estudantes do 6.º ano.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
29
Nível de competências adquiridas. Entre
os estudantes do 1.º ano, este parâmetro
obteve 89,7% de respostas “bom” ou
“excelente”, enquanto que dos estudantes
do 6.º ano obteve 83,9%. A avaliação foi
significativamente diferente entre os
estudantes do 1.º ano e do 6.º ano para a
diminuição dos que atribuem “excelente”.
Adequação dos meios didácticos. Dos
estudantes do 1.º ano, este parâmetro
obteve 71,7% de respostas “boa” ou
“excelente”, enquanto que dos estudantes
do 6.º ano obteve 51,5%. A avaliação foi
significativamente diferente entre os
estudantes do 1.º ano e do 6.º ano para o
aumento dos que atribuem “suficiente”.
Adequação do número de estudantes.
Entre os estudantes do 1.º ano, este
parâmetro obteve 53,2% de respostas “boa”
ou “excelente”, enquanto que dos
estudantes do 6.º ano obteve 9,6%. A
comparação entre as respostas dos
estudantes do 1.º ano e do 6.º ano revelou
uma diferença estatística altamente
significativa para o aumento dos que a
consideram “má” e “medíocre” (em
conjunto, de 16,7% para 68,1%) e para a diminuição dos que atribuem “boa”.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
30
Organização do plano de estudos. Dos
estudantes do 1.º ano, este parâmetro
obteve 73,6% de respostas “boa” ou
“excelente”, enquanto que dos estudantes
do 6.º ano obteve 46,3%. A comparação
entre as respostas dos estudantes do 1.º ano
e do 6.º ano revelou uma diferença
estatística altamente significativa para o
aumento dos que atribuem “suficiente” e
para a diminuição dos que atribuem “boa”.
Métodos/metodologias de avaliação.
Entre os estudantes do 1.º ano, este
parâmetro obteve 55,7% de respostas
“bom” ou “excelente”, enquanto que dos
estudantes do 6.º ano obteve 42,6%. A
avaliação foi significativamente diferente
entre os estudantes do 1.º ano e do 6.º ano
para o aumento dos que a consideram
“medíocre”.
Hospital S. João como hospital nuclear.
Dos estudantes do 1.º ano, este parâmetro
obteve 92,7% de respostas “bom” ou
“excelente”, enquanto que dos estudantes
do 6.º ano obteve 80,9%. A comparação
entre as respostas dos estudantes do 1.º ano
e do 6.º ano revelou uma diferença
altamente significativa para a diminuição
dos estudantes que atribuem “excelente”.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
31
D.4.3.2. Envolvente extra-curricular
Nível da investigação científica. 87,1%
dos estudantes do 1.º ano atribuíram a
classificação de “boa” ou “excelente”;
84,4% dos estudantes do 6.º ano atribuíram
a mesma classificação. Não se registou
diferença estatisticamente significativa
entre as avaliações dos estudantes do 1.º
ano e a dos estudantes do 6.º ano.
Instituição inovadora. 57% dos estudantes
do 1.º ano atribuíram a classificação de
“boa” ou “excelente”; 69,9% dos
estudantes do 6.º ano atribuíram a mesma
classificação. Não se registou diferença
estatisticamente significativa entre as
avaliações dos estudantes do 1.º ano e a dos
estudantes do 6.º ano.
Atmosfera/ambiente estudantil. Entre os
estudantes do 1.º ano, este parâmetro obteve
68,5% de respostas “bom” ou “excelente”,
enquanto que dos estudantes do 6.º ano
obteve 80%. A avaliação foi
significativamente diferente entre os
estudantes do 1.º ano e os do 6.º ano para a
diminuição dos que a consideram
“medíocre” e para o aumento dos que
atribuem “excelente”.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
32
Actividades extra-escolares. Dos
estudantes do 1.º ano, este parâmetro
obteve 48,5% de respostas “bom” ou
“excelente”, enquanto que dos estudantes
do 6.º ano obteve 61,9%. A avaliação foi
significativamente diferente entre os
estudantes do 1.º ano e do 6.º ano para a
diminuição dos que a consideram
“suficiente”.
D.4.4. Questões de resposta fechada
Verificou-se que a grande maioria dos estudantes do 6.º ano voltaria a escolher o curso
de medicina da FMUP e recomendaria a escolha da FMUP a um amigo/familiar (figura
4). Dos estudantes que escolheriam o curso de medicina de outra faculdade (n=10), a
maioria optaria pelo ICBAS-UP (n=6) (2 pela FMUL, 1 pela FCM-UNL e 1 pela ECS-
UM); o estudante que escolheria outro curso elegeria a licenciatura em matemática.
Figura 4- Respostas às perguntas fechadas (inquérito de satisfação)
Recomendaria a escolha da FMUP a um
amigo/familiar?
Sim
N=123 (90,4%)
Não
N=10 (7,4%)
Não sabe/
não responde
N=3 (2,2%)
Voltaria a escolher o curso de medicina da
FMUP?
Sim
N=123 (90,4%)
Não
N=13 (9,6%)
Escolheria o curso de medicina de outra Faculdade
n=10
Escolheria outro curso
n=1
Não sabe/ não responde
n=2
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
33
E. DISCUSSÃO
E.1. A ESCOLHA DA FMUP
Tendo por base a classificação mínima de acesso, a FMUP tem sido uniformemente
considerada como a mais pretendida. Nos três anos lectivos em análise neste estudo
confirmou-se que a classificação mínima de acesso à FMUP foi sempre a mais alta, com
diferenças que oscilaram entre os +1,5 e os +6,5 pontos. Desde logo, para o contingente
geral e para a 1.ª fase (em que são geralmente preenchidas 100% das vagas), tal
significa que todos os estudantes ingressados na FMUP a terão colocado como primeira
opção.
Contudo, a classificação mínima de acesso não é um indicador fiável e que reflicta com
acuidade e de forma objectiva e quantitativa a opção de escolha por um dos cursos de
medicina, pois existem dois cursos com numeri clausus superior (e.g., FMUC e FMUL)
e quatro com numeri clausus inferior (e.g., ICBAS-UP, ECS-UM, FCM-UNL, FCS-
UBI) ao da FMUP.
No presente estudo, a análise dos restantes indicadores corroboraram a suposta primazia
da FMUP no momento da escolha do curso de medicina. Na realidade, a classificação
média de ingresso mais alta no ano lectivo 2010-2011 também foi a da FMUP, devendo
ser realçado o facto de a classificação mínima de acesso à FMUP ter sido mesmo mais
alta que a classificação média dos ingressados nos restantes cursos de medicina com a
excepção do ICBAS-UP.
No mesmo sentido, a avaliação do posicionamento classificativo revelou que todos os
ingressados na FMUP em 2010-2011 se encontravam no terço superior, ou seja, a
grande maioria dos ingressados em outras faculdades tinham classificação de acesso
inferior à do último estudante ingressado na FMUP.
Por último, analisemos os resultados do cálculo da classificação mínima de acesso
corrigida para o numerus clausus. A relevância deste índice deriva do enviesamento que
pode resultar da comparação entre classificações mínimas de cursos com numeri
clausus diferentes, o que poderá subvalorizar um curso com numerus clausus superior e
vice-versa. Na realidade, para os cursos com um numerus clausus inferior, a diferença
positiva a favor da FMUP registada para a classificação mínima aumenta
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
34
substancialmente quando se efectua a referida correcção; para os cursos com numeri
clausus superior, a diferença positiva a favor da FMUP diminui ligeiramente. A
classificação mínima de acesso corrigida revela diferenças a favor da FMUP, com um
intervalo situado num patamar ainda mais elevado, ou seja, entre +3,5 e +8,5 pontos; tal
resultado reveste-se de particular importância pois a 1 ponto equivale um intervalo que
pode conter mais de 150 estudantes candidatos ao ingresso num curso de medicina.
Em conclusão, todos os índices analisados confirmam inequivocamente que, entre os
candidatos a um curso de medicina, a FMUP detém a primazia no momento da escolha.
E.2. A PREFERÊNCIA PELA FMUP
Actualmente, o mercado apresenta uma capacidade de procura que satisfaz, em pleno, a
oferta de vagas em todos os cursos de medicina das faculdades portuguesas; no caso da
FMUP, pode mesmo assegurar-se que existe excesso de procura, o que lhe permite
selecionar os “melhores” clientes que, para o critério em vigor, é sinónimo de
classificação de acesso mais alta.
A apetência pelo curso de medicina da FMUP resulta, em parte, da grande procura do
curso pelos estudantes portugueses, cujos motivos ultrapassam o âmbito desta
dissertação; contudo, existem razões que justificam a primazia pela instituição-FMUP.
O presente estudo revelou que, para os factores considerados, o prestígio foi aquele que
influenciou favoravelmente a maior proporção dos estudantes que ingressaram na
FMUP; na realidade, 84,7% dos estudantes do 1.º ano curricular consideraram o
prestígio institucional como um factor muito importante para optarem pela FMUP no
momento da escolha. Este resultado corrobora a opinião e os estudos de vários autores
que sustentam ser o prestígio o factor mais determinante na escolha da instituição (Ivy,
2001; Palacio et al, 2002). Uma imagem de prestígio tem, inclusivamente, maior
influência favorável na escolha que a qualidade do serviço prestado (no caso o ensino-
aprendizagem), de tal forma que perante a dicotomia prestígio/qualidade do serviço, os
estudantes dão primazia ao primeiro (Ivy, 2001).
A localização geográfica poderia ser um factor determinante para a preferência pela
FMUP, pois 31% dos ingressados nos cursos de medicina, pelo contingente geral no ano
lectivo de 2010-2011, eram oriundos do distrito do Porto, o que indicia que os
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
35
estudantes deste distrito possuem as classificações mais altas. Contudo, a localização
geográfica foi considerada como um factor muito importante por 57,4% dos estudantes
inquiridos, ou seja, por uma proporção substancialmente inferior que o prestígio;
acresce que, entre os factores integrantes do inquérito, a localização geográfica foi o que
obteve maior proporção de respostas desfavoráveis à opção pela FMUP. Por último, a
localização geográfica não pode ser considerada o factor diferenciador relativamente a
outras instituições que têm a mesma, ou idêntica, localização geográfica da FMUP.
Como abordado anteriormente, uma imagem de prestígio é o principal determinante da
escolha por uma determinada instituição. A construção da imagem institucional deriva
de um conjunto de factores, nomeadamente da percepção individual dos pontos fortes e
fracos da instituição, do passa-palavra, da qualidade do serviço prestado, e das acções
de marketing (Ivy, 2001).
O presente estudo confirmou a importância de alguns destes factores; o marketing não
foi considerado dada a diminuta relevância e subvalorização deste aspecto pelas IESP.
Na realidade, a elevada proporção de estudantes do 1.º ano curricular que valoriza
positivamente a qualidade global do ensino-aprendizagem (97%) reflecte, pelo menos
em parte, a percepção individual da relação entre pontos fortes e pontos fracos. De igual
forma, a tendência para, no momento da escolha, os estudantes não valorizarem os
meios físicos (Douglas et al, 2006), é corroborada pelos resultados deste estudo pois
parâmetros como a adequação de meios didácticos e do número de estudantes foram os
que obtiveram menos respostas positivas.
A importância do passa-a-palavra é evidenciada pela alta taxa de estudantes do 1.º ano
que considerou a recomendação de amigos e familiares como tendo sido positiva para a
preferência pela FMUP (muito favorável para 48%). Embora de forma indirecta, a alta
taxa de respostas de alunos do 1.º ano que favoreceram a recomendação de antigos ou
actuais estudantes da FMUP, pode reflectir a qualidade/satisfação do serviço prestado
no passado.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
36
E.3. AS EXPECTATIVAS E A SATISFAÇÃO
A análise dos parâmetros considerados para avaliar expectativas/satisfação, demonstrou
que ambos os grupos de estudantes responderam com um padrão idêntico, aglutinando-
os em dois domínios: um com oito parâmetros que traduzem o processo de ensino-
aprendizagem e outro com quatro que traduzem a envolvente extra-curricular. Os
estudantes do 1.º ano classificaram ambos positivamente, mas com uma pontuação do
processo de ensino-aprendizagem significativamente mais alta que a da envolvente
extra-curricular (75 vs 68,75/100).
A análise individual das respostas ao questionário revelou que todos (n=12/12) os
parâmetros considerados obtiveram mais respostas positivas (bom/excelente) que
negativas (má/medíocre) dos estudantes do 1º ano, com diferenças que oscilaram entre
36,5 e 96,5 pontos (para “adequação do número de estudantes” e “qualidade global do
ensino-aprendizagem”, respectivamente) e, com excepção de “actividades extra-
curriculares”, todos os parâmetros obtiveram respostas positivas da maioria dos
estudantes. Na medida em que esta avaliação representa aquilo que os estudantes
esperam receber, ou seja, o desempenho que os estudantes gostariam/quereriam da
FMUP, trata-se de um nível elevado de expectativas, ie., expectativas desejadas (Hsieh
e Yuan, 2010; Parasuraman et al, 1991).
Em suma, as expectativas (desejadas) dos estudantes quando ingressam na FMUP são
altamente e uniformemente positivas, com particular destaque para o processo de
ensino-aprendizagem.
Os estudantes do 6.º ano classificaram positivamente quer o processo de ensino-
aprendizagem quer a envolvente extracurricular, embora com uma pontuação
significativamente mais alta para a segunda (62,75 vs 75/100).
A análise individual das respostas ao questionário revelou que 75% (n=9/12) dos
parâmetros considerados obtiveram respostas positivas (bom/excelente) da maioria dos
estudantes do 6.º ano, com diferenças para as respostas negativas (medíocre/mau) entre
45,5 e 86,1 pontos (para “adequação dos meios didácticos” e “qualidade global do
ensino-aprendizagem”, respectivamente). Dos três parâmetros restantes- “adequação do
número de estudantes”, “organização do plano de estudos” e “métodos/metodologias de
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
37
avaliação”-, o primeiro registou mesmo mais respostas negativas (68,1%) que positivas
(9,6%).
Consequentemente, o nível de satisfação dos clientes da FMUP é positivo para a
maioria das expectativas, mas aquém das expectativas desejadas; no entanto, a grande
maioria dos estudantes de 6.º ano (90,4%) afirma que voltaria a optar pelo curso de
medicina da FMUP e recomendaria a escolha da FMUP a um amigo ou familiar, ou
seja, para a maioria das expectativas, a satisfação situa-se na denominada zona de
tolerância, abaixo das expectativas desejadas mas num nível de desempenho adequado
(Hsieh e Yuan, 2010; Parasuraman et al, 1991; Zeithaml et al, 1993). O facto de os
estudantes manterem a preferência pela FMUP poderá ainda ficar a dever-se à ausência
de expectativas mais favoráveis relativamente aos outros cursos de medicina.
A análise comparativa entre a avaliação dos estudantes do 1.º e os do 6.º ano
curriculares demonstrou uma evolução significativa, com desvios em ambos os
sentidos. Desde logo, o domínio do processo de ensino-aprendizagem sofre um
decréscimo significativo (de 75,00 para 62,50/100). A análise individual dos parâmetros
deste domínio revela que, com a excepção da “qualidade pedagógica dos docentes” que
não se altera significativamente e que portanto se situa ao nível da expectativa desejada,
existe uma diminuição das respostas positivas (4 ou 5) e/ou um aumento das respostas
negativas (1 ou 2) e/ou aumento da resposta indiferente (3). Verificaram-se assim cinco
tipos de evolução, a saber:
- decréscimo das respostas positivas para “qualidade global do ensino-aprendizagem”,
“nível de competências adquiridas” e “Hospital S. João como hospital nuclear”;
- aumento da resposta indiferente para “adequação dos meios didáticos”;
- aumento da resposta indiferente e decréscimo das respostas positivas para
“organização do plano de estudos”;
- aumento das respostas negativas para “métodos/metodologias de avaliação”;
- aumento das respostas negativas e decréscimo das positivas para “adequação do
número de estudantes”.
Atendendo ao ponto de partida, assume particular relevância a evolução desfavorável
ocorrida nos três últimos acima enunciados; com excepção do último, todos mantêm um
saldo (muito) positivo, situando-se na zona de tolerância (Hsieh e Yuan, 2010;
Parasuraman et al, 1991; Zeithaml et al, 1993). Apesar de os estudantes “tolerarem”
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
38
algumas insuficiências de recursos físicos, o excesso de estudantes é claramente um
factor que perturba e coloca em causa a qualidade do ensino e conduz à insatisfação
(Douglas et al, 2006).
A evolução desfavorável para “organização do plano de estudos” e
“métodos/metodologias de avaliação” poderá encontrar justificação na diminuta
integração (sobretudo vertical) do ensino e na excessiva carga factual (Harden et al,
1984; Estevão-Costa, 2005). O resultado altamente negativo da “adequação do número
de estudantes” deve-se ao facto de o desmesurado aumento do numerus clausus da
FMUP (triplicou relativamente aos finais da década de 80) não ter sido acompanhado do
correspondente incremento de meios humanos e, sobretudo, de recursos físicos, o que
também justifica a evolução doutros parâmetros como “adequação de meios didáticos” e
“Hospital S. João como hospital nuclear” (Oliveira, 2004; Amaral, 2002). Estes pontos
fracos da instituição poderiam, aparentemente, ser ultrapassados com relativa facilidade.
Contudo, uma reforma curricular que incluísse uma alteração profunda do plano de
estudos e dos métodos/metodologias de avaliação foi, por diversas vezes, muito para
além das intenções mas nunca consumada (Estevão-Costa, 2005); a ampliação de meios
físicos próprios que em breve ocorrerá, aliada à diversificação de hospitais afiliados
poderá minorar a falta de adequação do número de estudantes, dado que a retração do
numerus clausus é politicamente inviável embora se argumente que seja já plenamente
justificada.
Importa assim valorizar este défice na satisfação das expectativas que interage com
outros factores, nomeadamente diminuindo a percepção da qualidade do serviço
prestado e colocando em risco a fidelização dos clientes e, em última instância,
colocando em causa a imagem de prestígio que assegura à FMUP os melhores clientes,
os quais fazem dela a mais prestigiada (Ivy, 2001).
A análise comparativa entre a avaliação dos estudantes do 1.º e os do 6.º ano
curriculares demonstrou contudo que alguns parâmetros registaram uma evolução
favorável. O domínio da envolvente extra-curricular sofreu um acréscimo significativo
(de 68,75 para 75,00/100); tal ficou a dever-se sobretudo à diminuição das respostas
negativas e incremento das respostas positivas para “atmosfera/ambiente estudantil”, o
que poderá encontrar justificação no momento da realização do questionário aos
estudantes do 1.º ano curricular.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
39
Em conclusão, o grau de satisfação dos estudantes da FMUP relativamente ao curso de
medicina é positivo (bom/excelente) na grande maioria dos parâmetros analisados mas,
em geral, existe um gap (hiato) entre a percepção e as expectativas dos estudantes
(Hsieh e Yuan, 2010). Tal coloca a FMUP numa posição de maior susceptibilidade a
ameaças como a que pode advir da diminuição da procura e/ou aumento da oferta. Com
o conhecimento concreto das expectativas (desejadas) dos seus clientes é possível
desenvolver estratégias visando a satisfação e fidelização dos estudantes da FMUP,
através da introdução de melhorias no processo de ensino-aprendizagem, para não
defraudar expectativas e poder manter a vantagem competitiva que advém da imagem
de prestígio que a FMUP (ainda) possui. Importa estreitar o hiato entre expectativas e
percepções para aumentar a satisfação dos estudantes à custa do incremento da
percepção (Hsieh e Yuan, 2010); o estreitamento do hiato à custa da diminuição das
expectativas significaria aceitar que a FMUP deixaria de ser escolhida pelos melhores
estudantes. É assim crucial evitar a quebra do ciclo vicioso criado entre melhores
clientes e melhor faculdade, pois os melhores estudantes de per se não fazem a melhor
faculdade e só a melhor faculdade, por via do prestígio, poderá, de forma sustentada,
captar os melhores estudantes.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
40
F. CONCLUSÕES
F.1. CONTRIBUTO DO PRESENTE ESTUDO
A opção de escolha por uma instituição do ensino superior e a fidelização são altamente
influenciadas pela imagem corporativa. Na FMUP, o prestígio institucional confirmou
ser o factor mais relevante na preferência dos estudantes, os quais lhe atribuem,
inequivocamente, a primazia na escolha de entre os vários cursos de medicina.
A imagem institucional está intimamente dependente da qualidade do desempenho, a
qual, em grande medida, reflecte a percepção/satisfação das expectativas. O
conhecimento das expectativas e satisfação dos clientes constitui assim um instrumento
crucial na gestão, inclusive no ensino superior público e mesmo em instituições com
mercado em excesso de procura.
Na FMUP, as expectativas dos estudantes à data do ingresso são altamente e
uniformemente positivas, com particular destaque para o domínio do processo de
ensino-aprendizagem. O nível de satisfação é positivo para todos os parâmetros excepto
para a “adequação do número de estudantes”.
Contudo, para o domínio do processo de ensino-aprendizagem, a satisfação fica aquém
das expectativas (com excepção da “qualidade pedagógica dos docentes”). Ou seja, para
a maioria das expectativas observa-se uma não-confirmação negativa, situando-se a
satisfação dos estudantes da FMUP na denominada zona de tolerância com um gap
entre as expectativas e a percepção do desempenho.
É desejável aumentar a satisfação dos estudantes da FMUP, estreitando o gap entre
percepção do desempenho e expectativas à custa do incremento da qualidade do serviço,
para salvaguardar a vantagem competitiva que advém da imagem de prestígio
institucional. Importa assim introduzir melhorias no processo de ensino-aprendizagem
de forma a manter, de forma sustentada, o ciclo vicioso entre melhores estudantes e
melhor (mais prestigiada) faculdade.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
41
F.2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO E SUGESTÕES
Para alcançar os objectivos propostos houve que tornear dificuldades e
constrangimentos, mas alguns persistem como limitações que, embora sem pôr em
causa o essencial, restringem o alcance de algumas conclusões e constituem motivo para
estudos futuros.
A primeira limitação deriva de os dados utilizados para efectuar a comparação entre
expectativas e satisfação não serem emparelhados. Para tanto seria necessário realizar as
duas avaliações separadas por um intervalo de duração de seis anos no mínimo, o que à
data seria inviável, mas que permanece como uma sugestão de estudo ulterior; outra
alternativa teria sido solicitar aos estudantes do 6.º ano que no inquérito de
expectativas/satisfação explicitassem, para além da sua opinião actual, a sua opinião
reportada à data de ingresso na FMUP, podendo mesmo cotejar-se esta avaliação com a
dos estudantes do 1.º ano; esta metodologia poderá vir a ser adoptada para validar os
resultados do presente estudo. Não obstante, o longo hiato temporal a percorrer pela
memória naquele tipo de avaliação afigura-se menos fiável que o tipo de comparação
(dados independentes) realizada dada a homogeneidade que resulta da uniformização
subjacente aos critérios de inclusão e da dimensão das amostras.
A realização do inquérito para avaliar as expectativas deveria, idealmente, ter sido
efectuado antes da frequência lectiva da FMUP pelos estudantes do 1.º ano. Embora
tenha sido solicitado que a opinião fosse reportada à data de ingresso, não é de excluir
que o momento de realização do inquérito possa ter influenciado alguns parâmetros,
nomeadamente do domínio da envolvente extra-curricular.
O presente estudo identificou expectativas desejadas e revelou aquelas cuja percepção
dos estudantes é significativamente menor. Apesar dos resultados facultarem um
instrumento que permite a implementação de medidas visando a melhoria do processo
de ensino-aprendizagem, o extenso período de tempo avaliado (6 anos) e o carácter
genérico no que diz respeito a unidades curriculares e ciclo (básico vs clínico) não
permitem identificar especificamente os pontos em que evolução dos parâmetros sofre
desvio(s) significativo(s). Um estudo similar com avaliações periódicas (anuais ou
intercalar no final do 1º ciclo) e, eventualmente, dirigido a (grupos de) unidades
curriculares afigura-se pertinente.
As expectativas e a satisfação dos estudantes do curso de Medicina da FMUP
42
G. BIBLIOGRAFIA
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