as enchentes e a canalização do ribeirão jacuba · as enchentes e a canalização do ribeirão...

13
As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina Nascimento ___________________________________________________________________________________________________________________________________ Resumo As canalizações de rios, ribeirões e córregos são práticas comuns que caminham contra os aspectos socioambientais. Em Hortolândia, estas obras levaram à especulação imobiliária e são apoiadas na justificativa de se tratar de um investimento de interesse público e social (prevenção de enchentes, mais opções de consumo, etc.). No entanto, este estudo vem questionando a necessidade ou não do aprisionamento do ribeirão. O estudo trata (1) das características das águas de Hortolândia e fatores que a poluem e a contaminam, ( 2) do conceito de cidade como parte da natureza para a prevenção de problemas socioambientais, (3) dos aspectos da região e as águas que voltam e estagnam na planície conhecida como Remanso Campineiro, (4) do comitê PCJ usado, pelos covardes, como trampolim para a concretização de interesses políticos e econômicos, menos os socioambientais, (5) da falta de estudos e relatórios sobre o impacto na vizinhança e no meio ambiente com as obras de canalização - EIV, EIA e RIMA e (6) de expor as soluções que seriam pertinentes dentro de uma compreensão do todo. Nas considerações finais, o estudo aponta para uma necessidade dos políticos e cidadãos estudarem as situações de forma sistêmica e deixarem de lado a visão cartesiana nestes aspectos socioambientais, e também com o apelo para o fomento do questionamento dos problemas urbanos e a necessidade de se construir uma cidade ideal, utópica. ___________________________________________________________________________________________________________________________________ Introdução A população, de forma geral, não se preocupa com as questões políticas de sua cidade. Desde 1994, o Ribeirão Jacuba já estava sendo alvo de estudos de um Plano Diretor de Macro Drenagem realizado pela PROESP. Em 2002, por meio do Corpo de Engenheiros Consultores S/C Ltda (ENGECORPS), o Jacuba foi condenado como objeto de canalização (ENGECORPS, 2002, p. 95). A polêmica veio à tona na impressa, pela primeira vez, no debate entre os candidatos Carlos Rocha e Angelo Perugini em 2008 na emissora de TV Bandeirantes. No entanto, a população não acordou para este fato. Nas eleições de 2012, durante a sabatina realizada pelo jornal O Liberal e pela emissora de TV Bandeirantes, o candidato a prefeito Fernando Ladeia, coloca novamente a questão dos problemas e interesses econômicos envolvidos na canalização. Porém, a mesma situação se repetiu - a população continuou insensível às questões apresentadas.

Upload: vuque

Post on 02-Dec-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba:

O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina Nascimento

___________________________________________________________________________________________________________________________________

Resumo As canalizações de rios, ribeirões e córregos são práticas comuns que caminham contra os aspectos socioambientais. Em Hortolândia, estas obras levaram à especulação imobiliária e são apoiadas na justificativa de se tratar de um investimento de interesse público e social (prevenção de enchentes, mais opções de consumo, etc.). No entanto, este estudo vem questionando a necessidade ou não do aprisionamento do ribeirão. O estudo trata (1) das características das águas de Hortolândia e fatores que a poluem e a contaminam, (2) do conceito de cidade como parte da natureza para a prevenção de problemas socioambientais, (3) dos aspectos da região e as águas que voltam e estagnam na planície conhecida como Remanso Campineiro, (4) do comitê PCJ usado, pelos covardes, como trampolim para a concretização de interesses políticos e econômicos, menos os socioambientais, (5) da falta de estudos e relatórios sobre o impacto na vizinhança e no meio ambiente com as obras de canalização - EIV, EIA e RIMA e (6) de expor as soluções que seriam pertinentes dentro de uma compreensão do todo. Nas considerações finais, o estudo aponta para uma necessidade dos políticos e cidadãos estudarem as situações de forma sistêmica e deixarem de lado a visão cartesiana nestes aspectos socioambientais, e também com o apelo para o fomento do questionamento dos problemas urbanos e a necessidade de se construir uma cidade ideal, utópica. ___________________________________________________________________________________________________________________________________

Introdução

A população, de forma geral, não se

preocupa com as questões políticas de sua

cidade. Desde 1994, o Ribeirão Jacuba já estava

sendo alvo de estudos de um Plano Diretor de

Macro Drenagem realizado pela PROESP. Em

2002, por meio do Corpo de Engenheiros

Consultores S/C Ltda (ENGECORPS), o Jacuba foi

condenado como objeto de canalização

(ENGECORPS, 2002, p. 95). A polêmica veio à tona

na impressa, pela primeira vez, no debate entre

os candidatos Carlos Rocha e Angelo Perugini em

2008 na emissora de TV Bandeirantes. No

entanto, a população não acordou para este fato.

Nas eleições de 2012, durante a sabatina

realizada pelo jornal O Liberal e pela emissora de

TV Bandeirantes, o candidato a prefeito Fernando

Ladeia, coloca novamente a questão dos

problemas e interesses econômicos envolvidos na

canalização. Porém, a mesma situação se repetiu

- a população continuou insensível às questões

apresentadas.

Page 2: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 2

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

Desta forma, colocar em análise, os

conceitos ambientais, fatos e motivações que

levaram à canalização do Ribeirão Jacuba, é

fundamental para constatar se estas obras foram

legítimas nos aspectos de interesse público, social

e ambiental ou foi apenas um detalhe técnico

para o estabelecimento de um “Novo Centro

Comercial” em Hortolândia na busca de lucros em

detrimento do meio ambiente; além das diversas

especulações imobiliárias resultantes deste

processo.

Confrontar as informações obtidas, por

meio de entrevistas com pessoas envolvidas na

política e profissionais envolvidos com o meio

ambiente, além de personalidades influentes no

município, é a linha que tece este tema durante

todas as partes deste artigo. A análise de estudos

ambientais sobre canalizações de rios com os

estudos e justificativas da canalização do Ribeirão

Jacuba é aspecto relevante deste estudo.

Este tema se faz necessário frente ao fato

de que dentro dos conceitos ambientais, o uso de

canalizações de rios e córregos destrói os rios em

todos os seus aspectos, como peixes, animais e

microorganismos nativos, matas ciliares,

nascentes que o alimentam, dentre outros

pontos. No caso do Ribeirão Jacuba, realmente

foi necessária esta intervenção para a contenção

das enchentes?

Tem-se como hipótese que as enchentes

foram as que menos motivaram as obras que

envolvem a canalização do Ribeirão Jacuba; no

entanto, serviu de justificativa para iniciarem um

conjunto de obras eleitoreiras e que são de puro

interesse financeiro com conseqüente

especulação imobiliária, inicialmente por parte

dos investidores e agora por parte dos próprios

moradores que perceberam a valorização da

região que antes não tinha tanto valor. A

confirmação desta hipótese é evidenciada pelo

estabelecimento do “Novo Centro Comercial”

naquela região, em busca de meios de se obter

lucro e a continuidade do poder petista no

município de Hortolândia como parte do pacote

de obras sociais/eleitoreiras. Desta forma, não

priorizando o meio ambiente e nem mesmo

priorizando o cuidado com as pessoas que vivem

próximas do Ribeirão Jacuba, para que não

sofram as conseqüências das chuvas.

A matéria será composta basicamente de

aspectos discutidos nas entrevistas dentro de um

parecer das bibliografias consultadas que tratam

sobre os aspectos socioambientais, políticos e

econômicos; além de bibliografias específicas

sobre o tema principal que é a canalização.

As águas de Hortolândia

O município conta com diversas nascentes

que formam córregos ou micro-bacias, que por

sua vez, alimentam uma bacia nomeada de

Ribeirão Jacuba, o qual, naturalmente, ocupa as

áreas mais baixas do município (SAU, 2010) e é o

principal afluente do Ribeirão Quilombo, o qual é

o afluente do Rio Piracicaba, integrante da Bacia

do Piracicaba/Capivari/Jundiaí (FILHO, 2006, p.

45).

Infelizmente, as nascentes, os córregos e

o Ribeirão foram e ainda são usados como local

de descarte indevido de lixos poluentes e

contaminantes, produzidos pelas indústrias e pela

própria população. Assim, a ausência no passado

e os erros do presente, com respeito ao

Page 3: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 3

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

planejamento urbano, e o processo natural e

desorganizado de crescimento populacional na

cidade, levam as águas a tomarem outros

destinos, impossibilitando o desfrute de seus

benefícios pelo homem e pelos outros seres vivos

que no passado habitaram o Ribeirão e suas

margens.

As águas das nascentes, que ainda se

preservam, geralmente por intervenção da

prefeitura, como é o caso do Parque Sócio-

Ambiental Irmã Dorothy; ao longo dos córregos,

sofrem poluição por descartes ilegais da própria

população e contaminação por produtos

químicos e metais pesados por parte das

indústrias. Segundo Oliveira (2004), analisando a

concentração de alguns elementos

contaminantes das águas de Hortolândia, conclui:

“(...) as concentrações dos elementos nas

amostras de águas superficiais apresentam

valores acima do permitido pelo CONAMA.

(...) o Ribeirão Jacuba apresenta indícios de

contaminação por alguns elementos. Cabe aos

órgãos responsáveis realizar o monitoramento

da qualidade das águas do Ribeirão Jacuba na

finalidade de manter os limites estabelecidos

pela legislação CONAMA na manutenção da

qualidade dos recursos hídricos do município

de Hortolândia.” (p. 140 e 141)

Parece não haver uma “fiscalização

educativa e punitiva” (livre de corrupção e de

outros interesses), prevista pela Legislação

Federal (CONAMA), dentro de uma concepção

socioambiental, que seja constante e rígida sobre

as indústrias e a população.

Neste contexto, a canalização do Ribeirão

está contribuindo fortemente para a

manutenção da poluição e contaminação das

águas, pois o mesmo perdeu definitivamente o

contato direto e permanente com a mata ciliar,

já prejudicada pelo desmatamento e

conseqüentes erosões no local. Agora, existem

barreiras de concreto entre os cílios e os olhos,

entre a mata ciliar e as águas do Ribeirão, e

também, entre o solo e as águas que não drenam

para o solo e assim, anulou completamente uma

das funções vitais que poderia cumprir no

processo de descontaminação e despoluição das

águas.

“Para as bacias hidrográficas ocupadas, a

proteção dos mananciais deve se iniciar pela

elaboração de um inventário detalhado das

atividades antrópicas desenvolvidas capazes

de impactar a qualidade da água, superficial

ou subterrânea. Neste inventário, avalia-se o

risco em termos da distância à captação, da

possibilidade de percolação no solo e da

existência de barreiras naturais ou artificiais

aos contaminantes. Dentre as últimas, a

existência de vegetação às margens dos

mananciais ou áreas de parques tende a

minimizar estes impactos.” (LIBÂNIO, 2010, p.

132) – negrito acrescentado.

A cidade como parte da natureza

A ocupação do espaço urbano pelas

indústrias e pela população tende ao pensar

dicotômico (cartesiano) entre o meio ambiente e

a cidade. Isso tem sido fator importante no

processo de degradação do meio ambiente e a

tomada errônea de decisões ambientais.

Page 4: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 4

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

“Uma outra conseqüência, provavelmente

mais grave, desta clivagem entre natureza e

cidade está relacionada ao fato de que o

próprio processo de ocupação do espaço

urbano, planejado ou não, tende a deixar de

lado aspectos fundamentais da dinâmica

natural do local onde a cidade está situada.

Isto leva, por exemplo, à construção

desenfreada em várzeas sujeitas a inundações

ou desabamentos, à localização de indústrias

poluentes em áreas inadequadas à dispersão

de gases e de poeira etc. Em outras palavras,

ao não levar em conta o fato –

aparentemente simples e trivial – de que a

cidade está mesclada à natureza, diversos

tipos de intervenção públicos e privados

acabam por levar a usos inadequados, e

mesmo perigosos, em diversos espaços

urbanos.” (TORRES, 1998, p. 1648 e 1649) –

negrito acrescentado.

Primeiramente, o conceito cartesiano de

cidade como um espaço separado do meio

ambiente é um paradigma que deve ser superado

por um pensamento integrativo, onde a cidade

passa a ser reconhecida como parte da natureza

(SPIN, 1995). A partir disto, se faz necessário

entender e respeitar as dinâmicas existentes

neste meio. Para que isso ocorra, é necessário um

processo efetivo na educação da população, para

que interiorizem princípios como este, que são

fundamentais para a manutenção da vida.

O aumento da população e sua falta de

amadurecimento com respeito às atitudes e

conceitos socioambientais, o surgimento de

maiores empreendimentos imobiliários, a

instalação de indústrias e seus despejos de

produtos químicos e matérias contaminantes nas

águas, dentre outros fatores, realmente têm

contribuído para o distanciamento existente

entre o homem e a natureza, levando-o a

entender a cidade como um espaço sem nenhum

tipo de vínculo com o meio ambiente.

Com esta separação entre cidade e meio

ambiente, deixa-se de lado fatores importantes

da “dinâmica natural do local onde a cidade está

situada” (TORRES, 1998, p. 1648).

Nesta perspectiva, a ocupação indevida

do solo, destino errôneo do lixo e entulhos,

assoreamento do Ribeirão e dos córregos, falta

de planejamento urbano, permissividade política

com fins sociais/eleitorais na instalação de

famílias às margens do Ribeirão, falta de um

sistema de macro drenagem eficiente, entre

outros problemas, tornam-se conseqüências (e

não causas) de um pensamento cartesiano.

Se o político, os investidores e as

indústrias entendessem esta relação, tomariam

ações que fossem de interesse de toda a cidade e

não apenas para a satisfação dos seus próprios

interesses, sejam eles de âmbito político ou

econômico. Pois, dentro deste conceito, sabem

que dependem do bem-estar da cidade para que

os seus próprios interesses também possam se

desenvolver adequadamente.

Segundo CAPRA (1982), se “os

investidores e indústrias” considerassem os

problemas ambientais, como a contaminação e

poluição das águas, e os problemas sociais, como

o aumento da violência e criminalidade, “eles não

teriam lucro”, mas sim, um grande prejuízo. No

entanto, passam este prejuízo para as mãos do

governo, seja a nível nacional, estadual ou

municipal. Por sua vez, muitas vezes, o governo

tem em mãos estes problemas ambientais e

sociais, como instrumentos de manipulação de

massa. Compram votos com “atitudes e ou

projetos sociais”, como a permissividade na

instalação de famílias nas margens de ribeirões,

entrega de cestas básicas e infinidades de outros

“benefícios”. Assim, o cidadão se vê aprisionado

de forma voluntária ou involuntariamente ao

político corrupto, impossibilitando a reconstrução

de ideais quando necessário.

Page 5: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 5

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

As obras de canalização do Ribeirão

Jacuba, com a justificativa de contenção de

enchentes, justamente na época de eleições

(eleições de 2008 e 2012), exemplificam o uso de

problemas socioambientais como manobras

políticas para o ganho de votos de eleitores

desinformados, que ainda, são maioria, e, desta

forma, favorecem a permanência de um governo

que não estimula o desenvolvimento da

educação como meio de se obter um

pensamento crítico nas questões

socioambientais, como fator imprescindível para

a existência e preservação da vida em um meio

ambiente urbanizado.

As águas que voltam

Dentro dos conceitos apresentados na entrevista

com Fernando Ladeia (LADEIA, 2013) e Carlos

Rocha (ROCHA, 2013), entender e respeitar as

áreas de inundações (alagamento) faz parte do

conceito unificador de “natureza-cidade” em que

o Ribeirão está inserido. Neste caso, trata-se das

águas que voltam para uma região de

alagamento que deve ser respeitada.

“O modelo de urbanização observado nas

grandes cidades mundiais permite a

ocupação das planícies de inundação dos

cursos d’água urbanos e expõe a população

ao risco de impactos de enchentes,

agravados pelos episódios anômalos de

precipitação. Em regiões tropicais, devido às

características físico-naturais, as inundações e

enchentes decorrentes de chuvas intensas são

acidentes comuns.” (FILHO, 2002, p. 44) –

negrito acrescentado.

Todas as margens do Ribeirão Jacuba é

uma região de alagamento e assim, atraiu,

naturalmente, as pessoas a viverem próximas,

tanto pela facilidade (água em abundância),

como também pelo bem-estar (temperatura

agradável) e pela fertilidade do solo para o

cultivo.

No entanto, com o aumento da população

e com a vinda das indústrias e presídios, a água se

tornou inutilizável, um esgoto a céu aberto.

Obviamente as margens do Ribeirão

Jacuba são as regiões mais baixas do município

de Hortolândia. As águas das grandes chuvas,

que percorrem pelas micro-bacias (córregos), são

intensificadas pela impermeabilização do solo

levando as águas pelas drenagens (fator humano)

a se encontrarem no Jacuba e descerem para o

Ribeirão Quilombo; o mesmo, não tendo vazão

suficiente, começa a trazer as águas de volta,

alagando toda a região central, também

conhecida como Remanso Campineiro.

O próprio nome “Remanso Campineiro”

adverte sobre as suas características naturais. Em

qualquer dicionário impresso ou digital (on-line) é

possível constatar esta informação. Trata-se de

uma região onde um trecho do Ribeirão

Quilombo e Jacuba estagnam por falta de

corrente e alagam (remanso), potencializando a

planície ou várzea (campineiro) para o cultivo.

Para que construir piscinões (JAC-1 e JAC-

2) se a área de alagamento já está determinada

naturalmente? Para que os investimentos

altíssimos em obras que vão gerar um alto custo

de manutenção? O interesse é em benefício da

população exclusivamente, ou existem outros

interesses envolvidos?

Page 6: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 6

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

Trampolim político

Angelo Perugini esteve como presidente

do consórcio PCJ durante 4 anos (2009-2012), e

na reeleição de 11 de fevereiro de 2011 declarou:

“Agradeço a confiança depositada em mim

durante esses dois anos e peço o apoio de

todos para o próximo biênio para avançarmos

ainda mais em cada um dos programas que o

Consórcio PCJ realiza”. (Assessoria de

Comunicação do Consórcio PCJ, 2011)

A reeleição como presidente do consórcio

PCJ e seu agradecimento pela confiança

depositada nele foram atos conflitantes com as

suas posteriores decisões ambientais no

município de Hortolândia; pois, nas eleições

municipais para prefeito, em 2008, houve um

debate do então prefeito e candidato Angelo

Perugini com o candidato Carlos Rocha, onde

Perugini foi intimidado com uma afirmação de

necessidade de levar o projeto de canalização do

Ribeirão Jacuba a um processo coletivo no

Ministério Público para que houvesse a

interrupção das obras:

“(...) o que me assustou nesta semana, é

passando perto do Bradesco ali, vi uma placa

enorme do Ministério da cidade com 14

milhões e está escrito nesta placa:

recuperação do Ribeirão Santa Clara e

canalização do Jacuba. Agora eu não entendi!

Porque o Ribeirão Jacuba, e você sabe

morador de Hortolândia, é o único córrego

que temos na nossa cidade; e na nossa cidade,

o nível de meio ambiente é totalmente

devastado. Canalizar o rio é transformar o rio

num esgoto a céu aberto em Hortolândia.

Você quer isso? Eu acho que é um absurdo!

Precisaria entrar com um processo coletivo

no Ministério Público pra parar essa obra e o

dia que entrar alguém com mais juízo nessa

prefeitura aí sim usar esses 14 milhões para

recuperar todas as nascentes, para plantar

mata ciliar, pra fazer o Parque Linear Jacuba

que é nosso projeto, pra fazer o Parque

Ecológico do Jardim Amanda, pra reflorestar

todas as nascentes, porque Hortolândia é

muito pobre de água.” (BAND, 2008) – negrito

acrescentado.

No entanto, Perugini nega o projeto de

canalização do Ribeirão Jacuba:

“O Ribeirão Jacuba não será canalizado, ele

vai ser reurbanizado, recuperado todas as

nascentes e feito barragens pra gente reter a

água dentro do município.” (BAND, 2008) –

negrito acrescentado.

A administração da Prefeitura de

Hortolândia retira a placa após este debate

(ROCHA, 2013); mas o próprio PORTAL da

Prefeitura contradiz a sua negação:

“As obras do Ribeirão Jacuba estão em andamento. É uma das medidas da Prefeitura de Hortolândia para que não aconteçam enchentes na região central. A canalização ocorre no trecho de um quilômetro, entre a Avenida Santana e a Rua Amélia Basso Breda. O investimento é de R$ 9 milhões financiado pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal (...).” (HORTOLÂNDIA, 2007) – negrito acrescentado.

Neste contexto, pode-se citar a Kelman

(2005) dizendo que o crescimento de comitês de

Page 7: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 7

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

bacia hidrográfica confirma a conscientização de

que não é só o governo federal responsável pelas

águas de nosso país; no entanto deve-se tomar

cuidado para que estas instituições não sejam

manipuladas, por alguns, para fins de

“crescimento” político.

“A melhor notícia dos últimos anos, no

entanto, é a disseminação da consciência de

que não cabe apenas ao governo prover o uso

racional dos recursos hídricos. A proliferação

de comitês de bacia hidrográfica atesta a tese.

O desafio consiste em evitar que essas novas

instituições sejam ‘instrumentalizadas’. Isto

é, que sirvam apenas como trampolim

político para os mais audaciosos. A principal

missão de um comitê de bacia é criar um

ambiente propício para a melhor alocação de

água entre os múltiplos usos e usuários. Para

isso, é necessário que os comitês vençam o

desafio cognitivo.” (KELMAN, 2005, p. 142) –

negrito acrescentado.

Angelo Perugini, foi o prefeito vigente

durante as primeiras obras, mais visíveis, de

canalização do Ribeirão Jacuba (2011-2012).

Neste mesmo período, foi reeleito e esteve como

presidente do consórcio PCJ. Dupla função - uma

com características políticas (prefeito) onde

houve, prioritariamente, aspectos sociais

(eleitoreiros) e econômicos e outra função com

características ambientais (presidente do

consórcio PCJ), onde deveria prioritariamente ser

responsável em criar meios para proteger o

Ribeirão de uma canalização, recuperar e

preservar as matas ciliares e mananciais e

desapropriar as moradias sujeitas ao alagamento

natural da região; claro que não oferecendo casas

ou apartamentos populares, mas sim,

considerando o valor do imóvel de cada morador

que necessitasse sofrer a desapropriação.

“Com alguma freqüência, a preservação dos

cursos d’água adquire maior complexidade

quando os divisores de água estão além dos

limites de município. Na Europa esta situação

é ainda mais complexa, pois as bacias

hidrográficas de alguns dos principais cursos

d’água deste continente estendem-se por

vários países. Nesta premissa, cresce a

importância dos comitês de bacias

hidrográficas que regulamentam o uso da

água e a ocupação do solo, além de fomentar

a educação ambiental aos usuários dos

recursos hídricos procurando englobar as

escolas da região. As ações devem se

direcionar a regulamentar a retirada de água

para irrigação, à manutenção da vegetação

nativa próxima às margens do curso d’água,

e, quando possível, até a aquisição de

parcela das áreas do entorno aos mananciais

abastecedores dos grandes centros urbanos,

especialmente pelas companhias estaduais

de saneamento.” (LIBÂNIO, 2010, p. 131) –

negrito acrescentado.

Desta forma, os fatos levam os

questionadores a considerarem que Angelo

Perugini, como presidente do consórcio PCJ, usou

o seu cargo como “trampolim político” (KELMAN,

2005, p. 142) para beneficiá-lo nas obras de

canalização e assim, na facilitação da execução do

“Novo Centro Comercial” às margens do Ribeirão

Jacuba, em especial o Shopping Hortolândia que

foi construído sobre mananciais de água. Estas

obras executadas e em processos de execução

que contrariam as funções e objetivos de um

comitê de bacias hidrográficas deveriam ser

reconsideradas como fatores de “especulação

imobiliária”.

Page 8: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 8

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

Impacto ambiental

Se os empreendimentos que causam

impacto ambiental fossem desaprovados, não

haveria nenhum empreendimento, pois todos

causam um impacto maior ou menor (KELMAN,

2005). Neste contexto, Kelman afirma que o

razoável seria atender ao critério de se fazer um

empreendimento que atenda ao crescimento

econômico (mais empregos e um melhor nível de

vida da população), mas que produza o mínimo

de impacto ambiental.

O desenvolvimento sustentável que deve

atender a estes dois critérios (desenvolvimento e

o menor impacto possível no meio ambiente)

permeia obstáculos de leis, decretos e

regulamentos que dificultaram as decisões dos

técnicos e autoridades do meio ambiente,

envolvidos no empreendimento. Pois, caso

qualquer pessoa, física ou jurídica, discorde em

algum ponto da obra; a qualquer momento, o

responsável que tomou a decisão que resultou na

licença ambiental para o empreendimento terá

de responder por crime ambiental, pois qualquer

empreendimento causa um impacto ambiental

(KELMAN, 2005).

“(…) quem tomar uma decisão que resulte

numa licença ambiental poderá, a qualquer

tempo, ter de responder por crime ambiental

caso qualquer pessoa física ou jurídica

discorde da decisão. Como o “crime” se

caracteriza pela materialização de algum

prejuízo ambiental, e como não há

empreendimento que deixe de causar algum

prejuízo, é compreensível que o técnico ou a

autoridade evite a tomada de decisão,

preferindo adotar posturas protelatórias.”

(KELMAN, 2005, p. 140) – negrito

acrescentado.

Agravando ainda mais a questão, os

estudos e relatórios para análise do impacto

ambiental e da vizinhança não foram realizados

nas obras de canalização do Ribeirão Jacuba.

Trata-se do Estudo de Impacto da Vizinhança

(EIV), Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do

Relatório de Impacto do Meio Ambiente (RIMA).

No entanto, estas obras, tendo como

origem o Plano Diretor de Macro Drenagem de

Hortolândia realizado pelo PROESP em 1994,

foram tidas como adequadas pelo Corpo de

Engenheiros Consultores S/C Ltda em 2002, a

serviço público, para aplicação do Plano Diretor

de Macrodrenagem da bacia do Ribeirão

Quilombo.

“As obras propostas no Plano de

Macrodrenagem de Hortolândia em 1994 e

os projetos executivos de travessias, como os

bueiros celulares do Jardim do Lago, são

adequados e necessitam de recursos para a

sua execução. (...) As obras de travessias da

Rua Santana deverão ser revistas e o Ribeirão

Jacuba ou Hortolândia deverá ser objeto de

canalização (...).” (ENGECORPS, 2013, p. 95) –

negrito acrescentado.

Neste contexto, a canalização do Ribeirão

Jacuba não atende aos interesses de preservação

ambiental, mas sim, prioritariamente aos

interesses econômicos dos investidores nos

diversos empreendimentos do “Novo Centro

Comercial” e também aos interesses da

população em geral como o emprego direto e à

Page 9: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 9

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

necessidade de competitividade nas ofertas de

preços na região, principalmente entre os

grandes Supermercados como Paulistão, São

Vicente e Walmart.

Parece que aproveitaram brechas de

interesses públicos e sociais relacionados com as

enchentes na região para a aprovação das obras

em área de preservação permanente.

“Para se obter autorização para intervenção

na APP, é necessário protocolar um processo

de licenciamento do DEPRN. Somente serão

permitidas as situações no Artigo 4º da Lei

4.771/65, alterada pela 7.803/89 e pela

Medida Provisória 2.166/67/2001, ou seja, “A

supressão de vegetação em área de

preservação permanente somente poderá ser

autorizada em caso de utilidade pública ou

de interesse social, devidamente

caracterizados e motivados em procedimento

administrativo próprio, quando inexistir

alternativa técnica e locacional ao

empreendimento”. (Caderno da Mata Ciliar,

2009, p. 9) – negrito acrescentado.

Soluções

“Os impactos relacionados a esses

alagamentos estão, em sua maioria,

associados aos episódios de chuvas intensas,

que combinam um grande volume de

precipitação em um curto espaço de tempo, e

são oriundos das enchentes resultantes do

abundante escoamento superficial

potencializado pelo alto nível de

impermeabilização do solo, e posterior

transbordamento dos cursos d’água.” (FILHO,

2006, p. 51) – negrito acrescentado.

Com a canalização, com a macro-

drenagem de retenção de águas e com os

“piscinões” (reservatórios de contenção) JAC 1 e

2, pretende-se evitar que ocorra essas enchentes

nos bairros próximos ao Ribeirão, como acontece

na Vila São Francisco e no Jardim das Paineiras.

Para o secretário de obras Ronaldo Alves

dos Reis a canalização do Ribeirão Jacuba

minimizou o impacto das últimas chuvas. Afirma

que com as primeiras obras de Macro Drenagem,

a partir deste ano, a região não sofrerá mais

enchentes e o problema será resolvido

definitivamente (HORTOLÂNDIA, 2013).

BOSCO e FERNANDES (2006) concluem

que a Macro Drenagem “são paliativas,

dispendiosas e não consideram, por exemplo, o

reaproveitamento das águas pluviais,

desperdiçando-as e gerando até racionamento” e

finalizam que para resolver o problema da

drenagem nas cidades é necessário estabelecer

um trabalho integrado entre administração

pública, as empresas privadas e a população e

diversificação nas ações ambientais focando a

sustentabilidade:

“Assim pode se concluir que para resolver o

problema da drenagem nas cidades, centros

urbanos e metrópoles é necessário

desenvolver uma ação integrada entre poder

público, iniciativa privada e população,

principalmente através da educação e

conscientização dos habitantes, e ainda pela

conjugação de medidas em diversas escalas,

completando uma a outra, como meio de dar

qualidade de vida, preservar e conservar o

meio ambiente, e prever e conjeturar o

desenvolvimento para as gerações futuras,

Page 10: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 10

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

garantindo saúde e sustentabilidade.” (BOSCO

e FERNANDES, 2006)

No caso dos reservatórios de água (JAC 1

e 2), também se requer um alto investimento

com execução demorada e alto custo de

manutenção (BOSCO e FERNANDES, 2006).

Conterão determinada quantidade de água nas

grandes chuvas; no entanto, após estes

reservatórios, o Ribeirão Jacuba e Quilombo

ainda estão sendo alimentados por outras micro-

bacias e drenagens de águas pluviais e de águas

tratadas de esgoto que contribuirão no processo

de alagamento da região.

A canalização nada contribui para a

diminuição do volume de água na região central,

em contrapartida, contribui no aumento da

velocidade de descida e conseqüentemente

acelera o processo de retorno das águas e não

considera os problemas a jusante.

“A canalização aumenta a velocidade da água

e conseqüentemente o seu poder de

destruição a jusante, propicia a ocupação e a

utilização de áreas sujeitas a inundação, além

de exterminar peixes, pássaros e a vegetação

dos rios e das baixadas.” (PEREIRA & LISBOA,

2010)

Já a macro-drenagem e os reservatórios,

apesar de contribuírem com a retenção das águas

pluviais; deveriam ser acompanhados, e se viável,

substituídos, pela conscientização da população e

intervenção da prefeitura na utilização de outros

meios de solução para os “problemas de

inundação”.

No entanto, os outros meios de solução

para os problemas criados na região de

alagamento não geram grandes obras. Desta

forma, não gerando lucros para políticos e

investidores. Até antes da canalização, tratava-se

basicamente da compra de casas e terrenos

particulares em áreas de alagamento,

recuperação e preservação da mata ciliar, plantio

de árvores apropriadas para a retenção e

drenagem das águas de chuva e criação,

recuperação e preservação de solos permeáveis

por toda a cidade, incluindo espaços públicos

(praças, calçadas e ruas) como também os

espaços particulares (as casas, empresas,

comércios e indústrias).

Como afirmado por PEREIRA e LISBOA

(2010), através da infiltração natural das águas

pluviais em solos permeáveis indo em direção aos

lençóis freáticos, os córregos e Ribeirão teriam

suas águas regularizadas.

Estes meios de solução não dependem de

macro-drenagens e reservatórios de água;

conseqüentemente, o projeto de canalização do

Ribeirão Jacuba seria reconsiderado.

“Não queremos que as coisas fiquem como

estão. Propomos não canalizar rios, mas tirar

os esgotos dos rios. Propomos diminuir o

cimento nos quintais, o cimento e o asfalto

dos estacionamentos, ruas pequenas dos

bairros e condomínios. Asfalto só para as

avenidas e estradas, há outros pisos melhores

para a infiltração da água. Às vezes, a

enchente de uma cidade vem dos erros

cometidos em municípios rio acima, como o

desmatamento, os movimentos com terra e

areia, que vão diminuindo o leito dos rios, a

ocupação urbana roubando o leito dos rios,

etc. É uma bomba hidráulica que a

canalização não resolveu em São Paulo, nem

no Rio de Janeiro, nem em Belo Horizonte”

(PEREIRA e LISBOA, 2010).

A própria empresa ENGECORPS afirma a

necessidade de soluções efetivas como “as

desapropriações e desocupações” (apesar das

variações neste investimento) para a solução do

problema de inundações às margens das bacias

do Ribeirão Quilombo, apesar de, ao mesmo

Page 11: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 11

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

tempo, consentirem nas obras de canalização do

Ribeirão Jacuba:

“De modo muito mais significativo, as

soluções de prevenção de inundações de

áreas ocupadas por populações de baixa

renda e por ocupações irregulares das áreas

ribeirinhas e de várzeas, deverão ser através

de desapropriações e desocupações das

mesmas, que demandam investimentos de

montantes variáveis e muitas vezes elevados,

pela gravidade dos condicionantes sociais e da

necessidade de reassentamento das

populações retiradas.” (ENGECORPS, 2002) –

negrito acrescentado.

Considerações finais

Considerando que a origem dos

problemas ambientais está na compreensão

errônea do conceito de cidade, como separada da

natureza; é necessário o entendimento de que as

cidades fazem parte da natureza. Assim como o

reino animal e vegetal necessitam de meios de

sobrevivência como a caça, a água, a mata, as

árvores, o solo e outros; os seres humanos

também necessitam de meios de sobrevivência.

Assim sendo, um dos meios de sobrevivência

criado pelos homens foi a cidade, espaço onde se

espera que seja acolhedor e que tenha

segurança, descanso, saúde, conforto, educação

com as escolas e universidades, as artes e a

cultura. Este ambiente criado pelo homem e que

faz parte da natureza, tem sido distorcido e

manipulado por interesses isolados que não

consideram o todo.

A cidade não é um espaço separado da

natureza onde as atividades e mudanças podem

ocorrer somente sob a perspectiva dos

investidores que vêem as ações somente do

ponto de vista econômico.

Desta forma, ao entender as inter-

relações existentes (os conflitos e pressões entre

investidores, políticos e ambientalistas), as

decisões podem tomar outros rumos. É

necessária a presença de investidores para o

aumento de emprego do município, mais opções

de consumo para a população e mais

arrecadações para investimentos em outras áreas

como a saúde, segurança e educação; no

entanto, também é necessária a presença de

políticos para legislar, executar ou desaprovar

ações segundo as necessidades do povo. Neste

meio, a tarefa do ambientalista se tornaria

prazerosa e não sofreria pressões desnecessárias

por parte dos especuladores imobiliários.

No caso da canalização do Ribeirão

Jacuba, parece que investidores e políticos se

deram as mãos e manipularam “o ambientalista”

no intuito de obter somente o cumprimento de

algumas exigências das leis ambientais para que o

projeto do “Novo Centro Comercial” pudesse ser

executado; e ainda usaram um discurso

ambiental, como que, para calarem a própria

consciência que os acusa de terem cometido um

grande erro em um espaço onde deveria ocorrer

prioritariamente a recuperação e preservação

dos mananciais de água como também das vidas

nas margens e nas águas do Ribeirão.

Ingenuidade ou “ideologia”, “todos

estamos no mesmo barco”; mas alguns poucos na

Classe A e os demais presos no subsolo, no

compartimento de cargas (TORRES, p. 1661).

Decisões ambientais, como a canalização,

favorecem determinadas classes e, por outro

Page 12: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 12

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

lado, empurram cada vez mais para baixo as

pessoas e famílias de baixa renda que serão cada

vez mais afastadas de uma qualidade de vida

aceitável, como por exemplo, as famílias das

margens que poderiam estar usufruindo da água

e dos peixes do Ribeirão e, no entanto, estão a

mercê de águas contaminadas e poluídas pelo

“pseudo-desenvolvimento dinâmico” de

Hortolândia.

E agora? Lucro para alguns investidores e

políticos num paradoxo “ideológico” de “prejuízo

para todos”. A solução mais sensata se dá na

retirada da canalização e o prejuízo de 9 milhões

de reais, ou mais, financiados pelo PAC

(Programa de Aceleração do Crescimento)?

(HORTOLÂNDIA, 2007 e 2011)

“O Banco Mundial e o BID bancos

internacionais ligados ao FMI e à ONU,

precisam colaborar e financiar a realocação

de famílias urbanas que invadiram as

margens dos rios. Atualmente, financiam

canalização de rios, absurdo seguido por

diversas instituições do governo brasileiro. O

custo financeiro com as conseqüências das

canalizações são imensos.” ((PEREIRA e

LISBOA, 2010). – negrito acrescentado.

Infelizmente, parece que o comitê PCJ

seguiu, neste aspecto da canalização do Ribeirão

Jacuba e obras envolvidas, o mesmo pensamento

de outras instituições do governo brasileiro,

consentindo nos “estudos realizados pelo DAEE e

o Plano Diretor da ENGECORPS” (ENGECORPS,

2002, p. 10).

Segundo Lima (2005), somente a reflexão

salva, porque somente através da consciência do

que acontece em nosso meio é possível

reconstruir uma “cidade ideal”:

“Só reflexão salva, porque só tendo

consciência do que acontece na cidade, no

emprego, na ideologia... agente é capaz de

reconstruir uma utopia, é capaz de reconstruir

uma sociedade econômica que dê

oportunidade para todos e uma cidade que,

ainda distante do ideal grego da polis, seja um

instrumento da cidadania, não um

instrumento da criminalização do homem.”

(LIMA, 2005)

Infelizmente somente o tempo mostrará

os resultados destas obras e da necessidade ou

não da reconstrução de uma utopia que

considere a cidade como pertencente ao meio

ambiente e que sustente todos os aspectos para

a vida saudável da mesma.

Page 13: As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba · As enchentes e a canalização do Ribeirão Jacuba: O lucro justificado pelos interesses públicos e sociais por Leandro Bolina

P á g i n a | 13

Hortolândia NEWS | www.hortolandianews.com.br | setembro de 2013

Referências bibliográficas

1. Assessoria de Comunicação – Consórcio PCJ. Angelo Perugini é reeleito presidente do consórcio PCJ. 11/02/2011. Disponível em: www.agua.org.br. Acesso em 02 de setembro de 2013.

2. BAND. Perugini questiona Carlos Rocha sobre ações Ambientais na cidade. Eleições 2008 – Debate. Campinas: Bandeirantes, 2008. Programa de TV. Disponível em: www.hortolandianews.com.br. Acesso em 9 de setembro de 2013.

3. BAND. Sabatina com os candidatos a prefeito do município de Hortolândia. Eleições 2012. Campinas: Bandeirantes, 23 de setembro de 2012. Programa de TV. Disponível em: www.youtube.com. Acesso em 16 de setembro de 2013.

4. BOSCO, Lara Martins Del; FERNANDES, Marília. Drenagem em três escalas. Trabalho apresentando na disciplina de Arquitetura, ambiente e desenvolvimento sustentável. São Paulo: USP, 2006. Disponível em: www.usp.br. Acesso em 9 de setembro de 2013.

5. CADERNO DA MATA CILIAR / Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Departamento de Proteção da Biodiversidade. – N 1 (2009) – São Paulo: SMA, 2009. Disponível em: www.comitespcj.org.br. Acesso em 25 de agosto de 2013.

6. CAPRA, Fitjof. O ponto de mutação: A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente. 25ª Ed. São Paulo: Cultrix, 1982.

7. CARVALHO, Rubem. Canalização do Ribeirão Jacuba. Hortolândia, 27 de agosto de 2013. Entrevista concedida ao jornalista Leandro Bolina Nascimento do PORTAL Hortolândia NEWS.

8. COLOSALLE, João. Ex-líder estudantil, Ladeia afirma estar pronto para se tornar um gestor público. Sumaré, 29 de agosto de 2012. Entrevista concedida ao jornal O Liberal.

9. CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. – Legislação Federal: Controle da Poluição Ambiental. Resolução CONAMA nº 20/86. Disponível em: www.mma.gov.br. Acesso em 8 de setembro de 2013.

10. Dicionário online de português. Palavras consultadas: Remanso e Campineiro ou Campina. Disponível em: www.dicio.com.br. Acesso em 04 de setembro de 2013.

11. ENGECORPS. Corpo de Engenheiros Consultores S/C Ltda. Plano diretor de macrodrenagem da bacia do Ribeirão Quilombo. Jan/2002. Disponível em: www.comitepcj.sp.gov.br. Acesso em 15 de setembro de 2013.

12. FILHO, Archimedes Perez; MATTOS, Sérgio Henrique Vannucchi Leme de; ORSI, Letícia; VICENTE, Andréa Koga; VICENTE, Luiz Eduardo. Monitoramento e gerenciamento de bacias urbanas associados a inundação: diagnose da bacia do Ribeirão Quilombo na Região Metropolitana de Campinas utilizando geotecnologias. Revista do Departamento de Geografia, 19 (Campinas: Unicamp, 2006) p. 44-54.

13. HORTOLÂNDIA. OLIVEIRA, Valéria. Canalização do Ribeirão Jacuba. Assessoria de imprensa da Prefeitura de Hortolândia, 2007. Disponível em: www.hortolandia.sp.gov.br. Acesso em 9 de setembro de 2013.

14. HORTOLÂNDIA. SOARES, Elisabeth. Ministério das cidades vistoria e aprova obras do PAC em Hortolândia. Assessoria de imprensa da Prefeitura de Hortolândia, 2011. Disponível em: www.hortolandia.sp.gov.br. Acesso em 9 de setembro de 2013.

15. HORTOLÂNDIA. ALYNE, Sandra. Obra de macrodrenagem tem início na região central. Assessoria de imprensa da Prefeitura de Hortolândia, 2013. Disponível em: www.hortolandia.sp.gov.br. Acesso em 9 de setembro de 2013.

16. KELMAN, Jerson. Água – o senso comum e o interesse comum. TRIGUEIRO, André. Mundo Sustentável: abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação. 2ª Ed. São Paulo: Globo, 2005.

17. LADEIA, Fernando. Canalização do Ribeirão Jacuba. Campinas, 05 de setembro de 2013. Entrevista concedida ao jornalista Leandro Bolina Nascimento do PORTAL Hortolândia NEWS.

18. LIBÂNIO, Marcelo. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. 3ª Ed. Campinas/SP: Átomo, 2010.

19. LIMA, Jorge da Cunha. Grandes Cursos – A Pauta Esquecida 2: Primeira Página, Fim do Emprego e Fim das Cidades. São Paulo: Log On Editora Multimídia, 2005. DVD. TV Cultura, 1º de março de 2006 (Programa de TV).

20. OLIVEIRA, Renato Willian Martins de. Avaliação da qualidade das águas do Ribeirão Jacuba empregando a fluorescência de raios x por reflexão total com radiação Síncroton (SR-TXRF). Dissertação (mestrado). Campinas, SP: UNICAMP, 2004.

21. PEREIRA, Isabel Regina de Souza; LISBOA, Apolo Heringer. Canalizar Córregos e Rios: solução ou mais um problema? CBH-Velhas, 2010. Disponível em: www.manuelzao.ufmg.br. Acesso em 9 de setembro de 2013.

22. ROCHA, Carlos. Canalização do Ribeirão Jacuba. Hortolândia, 15 de setembro de 2013. Entrevista concedida ao jornalista Leandro Bolina Nascimento do PORTAL Hortolândia NEWS.

23. SAU – SANDLER Arquitetura e Urbanismo (execução) a serviço da Prefeitura de Hortolândia. Plano Diretor Ambiental de Hortolândia: Mapa Hipsométrico. Jan/2010. Disponível em: www.hortolandia.sp.gov.br. Acesso em 25 de agosto de 2013.

24. SPIRN, A. W. O jardim de granito: a natureza no desenho da cidade. São Paulo: EDUSP, 1995.

25. TORRES, Haroldo da Gama. População e meio ambiente urbano: breve discussão conceitual. Anais do XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP, 1998. p. 1645 a 1669.