planágua 08 - enchentes

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COSTA, Helder; TEUBER, Wilfried. Enchentes no Estado do Rio de Janeiro – Uma Abordagem Geral. Rio de Janeiro: SEMADS, Agosto/2001. 160p.: il. Planágua Vol. 8. ISBN 85-87206-08-7. (Cooperação Técnica Brasil-Alemanha, Projeto PLANÁGUA-SEMADS/GTZ)

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SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTEE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – SEMADS

FUNDAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA ESTADUAL DE RIOS E LAGOAS - SERLA

ENCHENTES NO ESTADODO RIO DE JANEIRO

Uma Uma Uma Uma Uma AborAborAborAborAbordadadadadagggggem Gerem Gerem Gerem Gerem Geralalalalal

Projeto PLANÁGUA SEMADS / GTZ de Cooperação Técnica Brasil – Alemanha

Agosto de 2001

Page 3: Planágua 08 - Enchentes

SEMADS - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento SustentávelPalácio Guanabara – Prédio Anexo – sala 210Rua Pinheiro Machado s/no – Laranjeiras22.238-900 – Rio de Janeiro – RJTel: 21-2299-5290 – Fax: 21-2299-5285e-mail [email protected]

SERLA - Fundação Superintendência Estadual de Rios e LagoasCampo de São Cristóvão, 138/3º andar – S. Cristóvão20921-440 – Rio de Janeiro – RJTel: 21-2580-7218/0998e-mail [email protected]

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APRESENTAÇÃO

Águas pluviais, tão necessárias a sobrevivência humana e fundamental para oequilíbrio dos ecossistemas com os quais interagimos são, muitas vezes, entreguespela natureza com o rigor dos eventos naturais extremos, isto é, pela ocorrência deestiagens prolongadas, onde a escassez é o fator relevante, ou pelas enchentes,onde a abundância das águas concentradas no tempo e no espaço, geradesconfortos, preocupações, prejuízos e, eventualmente, perda de vidas humanas.

Controlar as enchentes e diminuir seu poder muitas vezes devastador sobreos bens públicos e privados, assegurar a integridade física e garantir o bem estardo cidadão, é dever constitucional das autoridades estabelecidas, embora hajanecessidade de estreita colaboração e envolvimento da própria sociedade.

O avanço da ocupação territorial sobre áreas historicamente sujeitas ainundação, a descaracterização da mata ciliar, o desmatamento desenfreado, odescarte irresponsável dos resíduos domiciliares sobre as encostas e nos cursosde água, a impermeabilização dos terrenos, as obras locais de caráter imediatista eoutras ações que por dezenas de anos foram praticadas pelo homem em nome dodesenvolvimento, hoje se tornam fatores agravantes na formação das enchentes.

O presente relatório, fruto de um amplo trabalho de pesquisa no âmbito doprojeto PLANÁGUA SEMADS/GTZ, reúne uma série de esclarecimentos sobre esseseventos naturais, inclui uma abordagem especial para a situação no Estado do Riode Janeiro, ressalta a necessidade da adoção da área da bacia hidrográfica comounidade territorial de gestão, bem como, apresenta novos conceitos para o controledas enchentes e redução dos riscos de inundação e os conseqüentes prejuízos.

O objetivo principal do trabalho é abrir discussões sobre o tema, de forma apermitir a reavaliação e reflexão sobre os procedimentos e critérios usualmenteempregados e análise de medidas alternativas e complementares no controle dasenchentes.

Secretaria de Estado de Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável

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Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme decreto no 1.825 de 20 de dezembro de1907.

C 837 Costa, Helder Enchentes no Estado do Rio de Janeiro – Uma Abordagem Geral /

Helder Costa, Wilfried Teuber. Rio de Janeiro: SEMADS 2001 160p.: il. ISBN 85-87206-08-7 Cooperação Técnica Brasil-Alemanha, Projeto PLANÁGUA-

SEMADS/GTZ Inclui Bibliografia.

1. Recursos Hídricos. 2.Cheias. 3. Saneamento Ambiental. I. PLANÁGUA. II Título. III. Rio de Janeiro (Estado). IV. SERLA

CDD 627.4

CapaPublicidade 2001

Foto da Capa: Enchente em Itaperuna / Rio Muriaé - Janeiro 1997Antônio Cruz

DiagramaçãoCláudio Alecrim

EditoraçãoJackeline Motta dos SantosRaul Lardosa Rebelo

Projeto PLANÁGUA SEMADS / GTZ

O Projeto PLANÁGUA SEMADS/GTZ, de Cooperação TécnicaBrasil – Alemanha, vem apoiando o Estado do Rio de Janeiro nogerenciamento de recursos hídricos com enfoque na proteção deecossistemas aquáticos.

Coordenadores: Antônio da Hora, Subsecretário Adjunto de Meio Ambiente SEMADSWilfried Teuber, Planco Consulting / GTZ

Campo de São Cristóvão, 138/31520.921-440 Rio de Janeiro - BrasilTel/Fax [0055] (21) 2580-0198E-mail: [email protected]

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Coordenação

Helder Costa Consultor do Projeto PLANÁGUA SEMADS/GTZ

Wilfried Teuber Projeto PLANÁGUA SEMADS/GTZ

Colaboração

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Alan Carlos Vieira Vargas SERLA Antonio Ferreira da Hora Secretaria de Estado de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável - Semads Capitão Ivan Vieira da Silva Secretaria de Defesa Civil

Município do Rio de Janeiro Cláudio Alecrim Consultor de diagramação David Pacheco Faculdade de Cinema

Universidade Federal Fluminense - UFF Durval Alves Mello Neto Rio-Águas, Município do Rio de Janeiro Eliane Pinto Barbosa SERLA Eny Gomes de Lannes SERLA Eugenio Enrique Monteiro Rio-Águas, Município do Rio de Janeiro Fernando Riker Branco SERLA Ignez Muchelin Selles SERLA Jackeline Motta dos Santos Projeto PLANÁGUA SEMADS/GTZ Joana Araújo Faculdade de Cinema

Universidade Federal Fluminense - UFF Jorge Paes Rios SERLA Leila Heizer Santos SERLA Lígia Maria Nascimento de Araújo Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

CPRM Lúcio Bandeira Secretaria de Estado de Saneamento e

Recursos Hídricos Major Djalma Antonio Filho Secretaria de Estado de Defesa Civil Marlene Leal de Almeida Souza Instituto Nacional de Meteorologia - INMET Mônica da Hora SERLA Nelson Martins Paez Geo-Rio, Município do Rio de Janeiro Paulo Carneiro Laboratório de Hidrologia - COOPE / URFJ Paulo Roberto Moreira Goulart Secretaria de Estado de Defesa Civil Rachel Saldanha de Alencar Fundação Centro de informações do Estado do

Rio de Janeiro - CIDE Raul Lardosa Rebelo Projeto PLANÁGUA SEMADS/GTZ Rodrigo Raposo de Almeida Projeto Managé

Universidade Federal Fluminense - UFF Rogério Luiz Feijor Geo-Rio, Município do Rio de Janeiro Rosana Fânzeres Caminha Secretaria de Estado de Saneamento e

Recursos Hídricos Sérgio Ayres Bloise SERLA Silvio Torres SERLA Tenente Arruda Diretoria de Hidrografia e Navegação - DHN Thiago Soares Rodrigues Estagiário Valdo da Silva Marques Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia

SIMERJ Valdemar Guimarães Agência Nacional das Águas - ANA Walter Binder Departamento Estadual de Recursos Hídricos

Baviera/Alemanha Vanderlei de Souza Napoleão SERLA

Agência Nacional de Águas - ANA

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RESUMO

É secular o problema de enchentes no Estado do Rio de Janeiro, fenômeno naturalcondicionado a fatores climáticos, principalmente às chuvas intensas de verão, cujosefeitos são agravados pelas características do relevo: rios e córregos com forte declividadedrenando bruscamente das serras para as baixadas, quase ao nível do mar. A ocupaçãodessas baixadas, áreas naturais de retenção das águas, pântanos e brejos, só foi possívelmediante grandes obras de drenagem e de diques de proteção.

O principal objetivo dessas intervenções, a exemplo das obras de retificação ecanalização, era, como em todo mundo, direcionar e conduzir as águas das enchentes omais rápido possível rio abaixo, esperando assim, dominar os desafios da natureza.

Sabe-se hoje que essas obras, embora proporcionem grandes melhorias locais emépocas de enchentes mais freqüentes, muitas vezes transferem o problema para jusantee agravam significativamente a situação das enchentes excepcionais. Outros fatoresantrópicos, como o desmatamento em grande escala, a urbanização e as atividades quereduzem as áreas naturais de retenção, inclusive áreas de inundação, aumentaramconsideravelmente os volumes e os picos das cheias.

Nas enchentes recentes podemos observar um crescimento dos prejuízos, resultadoda ocupação sempre mais progressiva de áreas naturais de inundação, e pela falta deconscientização da população relativa aos riscos envolvidos.

Para tentar reverter esse quadro, é importante avaliar e adaptar novas estratégiasno controle de enchentes já em andamento em outros países. Nessas novas concepçõesos interesses locais de proteger a própria área devem ser harmonizados aos interessesde toda a bacia, incluindo a proteção de toda a população, considerando os aspectossociais e econômicos, o ecossistema e as necessidades do próprio rio. Somente medidasem harmonia com a natureza, e não contra ela, terão sucesso.

Ou seja, em lugar de direcionar e acelerar as águas das enchentes rio abaixo, deve-se restabelecer o quanto possível a retenção natural já nas cabeceiras, nas matas, nasáreas ribeirinhas e conservar as áreas de inundação ainda existentes. É impossível evitaras enchentes excepcionais, porém, é possível conter o agravamento contínuo das mesmase reduzir os prejuízos. Precisamos aprender a conviver com o fenômeno. Precisamosdivulgar medidas preventivas e conscientizar a população sobre os riscos aos quais estáexposta.

Não urbanizar áreas de inundação é o melhor e economicamente mais viável métodopara evitar e reduzir os riscos e prejuízos de enchentes.

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Somente ações solidárias envolvendo a sociedade, os órgãos públicos do estado edos municípios, somados com a responsabilidade individual de cada cidadão por toda aunidade territorial da bacia hidrográfica, podem produzir resultados positivos concretos.

A legislação federal e estadual sobre a gestão de recursos hídricos, estabelececondições para a integração das ações em todas as bacias hidrográficas do Estado do Riode Janeiro, com a participação da sociedade civil.

O objetivo dessa publicação é informar e conscientizar a sociedade sobre o fenômenodas enchentes, especialmente na área de planejamento regional urbano e rural, e sobreos aspectos naturais e antrópicos das enchentes. Decisões sobre o uso do solo em áreasde risco, caso as necessidades do rio e da natureza forem negligenciadas, podem acarretarsérios problemas a proteção da população e aumentar os prejuízos decorrentes.

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ENCHENTES NO ESTADO DO RIO DE JANEIROUMA ABORDAGEM GERAL

Enchentes – Considerações Gerais................................................................................ 10

Causas Naturais das Enchentes...................................................................................... 13

Ciclo Hidrológico..................................................................................................................... 14

Chuvas...................................................................................................................................... 19

Características das Chuvas no Estado do Rio de Janeiro................................................ 22

Escoamentos das Águas de Chuva...................................................................................... 29

Formação das Enchentes.................................................................................................. 35

Bacia Hidrográfica.................................................................................................................. 37

Tempo de Concentração........................................................................................................ 37

Geometria das Bacias............................................................................................................ 38

Tipo de Solo e Cobertura Vegetal......................................................................................... 38

Relevo e Declividades............................................................................................................ 40

Densidade de Drenagem....................................................................................................... 41

Superposição de Hidrogramas............................................................................................. 41

Características Gerais das Bacias Hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro............. 43

Fatores Agravantes das Enchentes................................................................................ 49

Redução da Capacidade de Retenção Natural.................................................................. 50

Obras de Macrodrenagem..................................................................................................... 56

Obstáculos Artificiais aos Escoamentos Superficiais........................................................ 62

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Enchentes no Estado do Rio de Janeiro....................................................................... 71

Início da Ocupação do Solo...................................................................................................... 72

Enchentes Históricas na Cidade do Rio de Janeiro........................................................... 79

Principais Obras de Controle de Enchentes........................................................................ 83

Áreas Inundáveis no Estado do Rio de Janeiro................................................................... 94

Sistemas de Alerta.................................................................................................................. 110

Conseqüências das Inundações...................................................................................... 117

Obras de Controle de Enchentes..................................................................................... 126

Medidas Preventivas Complementares.......................................................................... 136

Controle de Enchentes e Engenharia Ambiental – Um Novo Conceito................ 138

Recomendações................................................................................................................... 145

Bibliografia............................................................................................................................. 151

Informações à População.................................................................................................. 153

Projeto PLANÁGUA............................................................................................................. 157

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até um certo risco e nãoatenderão sua finalidade paraenchentes decorrentes dechuvas além daquelasestabelecidas no projeto. Alémdisso, muitas vezes,simplesmente transferem eagravam o problema de umlocal para outro, águas abaixo.

Na dificuldade dedirecionar a dinâmica docrescimento urbano nasgrandes cidades, que muitasvezes desconsidera asfunções naturais dos rios eimpermeabiliza e ocupa novasáreas, inclusive aquelassujeitas a inundações, depara-se freqüentemente com anecessidade de revisão doscritérios e dados de projetopara mais intervenções.

Obras anteriores já nãoatendem os objetivosprevistos. Surge o impasse dadecisão sobre os limites dosriscos possíveis e aceitáveis aserem cobertos por novosinvestimentos.

O confronto do homemcom a natureza será em vão,pois a dinâmica das mutaçõesclimatológicas a nível local,regional e planetário, levam,com relação aos eventospluviométricos, à expectativado imprevisível.

Conclui-se queenchentes não podem serevitadas, mas por outro lado, é

ENCHENTES:CONSIDERAÇÕES

GERAIS

Enchente é oescoamento superficial daságuas decorrentes de chuvasfortes. Após suprir a retençãonatural da cobertura vegetal,saturar os vazios do solo epreencher as depressões doterreno, as águas pluviaisbuscam os caminhosoferecidos pela drenagemnatural e / ou artificial, fluindoaté a capacidade máximadisponível, no sentido do corpode água receptor final.Dependendo de uma série defatores físicos e dasproporções das chuvas, taislimites podem ser superados eos volumes excedentesinvadem áreas marginais.Quando essas áreas sãoocupadas pelo homem, aságuas entram em conflitodireto com suas economias,benfeitorias e atividades.

A enchente é parteintegrante do ciclo da água nanatureza e, portanto, trata-sede um fenômeno natural cujasconseqüências só trarão danose prejuízos, à medida em queseus efeitos interfiram no bemestar da sociedade.

A expansão urbana eas intervenções mínimas

necessárias para garantiracessibilidade às novas áreas,alteram drasticamente ospadrões de drenagem natural.Essa dinâmica gera constantesmodificações na configuraçãodas enchentes e nasdimensões das áreas sujeitasàs inundações.

Quanto maior atransformação e a modificaçãoda superfície dos terrenos,tornando-os menospermeáveis à infiltração daságuas e diminuindo acapacidade de retençãonatural, maior será a parcelacontribuinte para osescoamentos superficiais emaior a probabilidade deinundações.

Em geral, não sedispõe de programas deinvestimentos direcionadospara intervenções de controlee amenização dos efeitos dasinundações, implementados,gradativamente, durante ocrescimento urbano. Pelocontrário, quando asconseqüências das enchentesordinárias se agravamirremediavelmente, permanecea prática de grandesinvestimentos em obras locais,conceitualmente superadas eimpactantes.

Convém ressaltar quetais intervenções podem, aprincípio, garantir proteção local

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bem possível reduzir osprejuízos ou mesmo torná-losmínimos. Assim sendo, novosconceitos e práticas devem serintroduzidas para melhorconvivência com o fenômeno.

Enchentes históricas,isto é, aquelas que acarretamprejuízos significativos àsociedade em conseqüênciadas inundações, sãoestudadas estatisticamente eenquadradas dentro de umaescala de probabilidade que ascaracterizam segundo afreqüência de ocorrência.Apesar de uma enchentehistórica estar associada auma pequena probabilidade deocorrência a cada ano, asociedade deve estarconsciente que o mesmoevento pode se manifestar nodia seguinte e de novo nosanos subseqüentes. Portanto,medidas preventivas devemser adotadas para que osimpactos e os prejuízos nãotenham as mesmasproporções.

É comum na culturapopular pensar que umagrande inundação levará muitotempo para que ocorranovamente. O fato com otempo é esquecido, simplesprovidências deixam de sertomadas como por exemplo,planejar o remanejamento debens materiais para níveis

mais seguros, assim que osprimeiros indícios de inundaçãose manifestarem.

Tanto maior será oprejuízo quanto maior forem osbens materiais que o homemmantém nas áreas sujeitas àsinundações. É importante queo cidadão esteja consciente dorisco que corre durante chuvasintensas, e que lhe seja dada aoportunidade de tomarpequenas providências a partirde sistemas de alertaeficientes, desenvolvidos eimplantados pelo PoderPúblico, com o mínimo datecnologia hoje disponível.

Medidas de simplesimplementação para retençãosuperficial das águas de chuvaou mesmo a manutenção deáreas livres para infiltração,ainda não fazem parte doplanejamento da ocupação dosolo pelo homem e, sequer,são sugeridas, a nível deprojeto, pelos órgãoscompetentes.

Idéias, sugestões eações fundamentadas nacompreensão dos conceitosbásicos do ciclo hidrológico,devem ser incorporadas aoplanejamento global,fortalecendo os efeitosesperados por obrasestrategicamente projetadasno âmbito da baciahidrográfica.

Solidário a essasiniciativas, deve estar o própriocidadão, devidamenteesclarecido sobre as causasdas enchentes e induzido peloPoder Público a participare realizar pequenasmodificações, apesar demodestas, para propiciar maiorretenção temporária e/ouinfiltração das águas pluviaisdentro da sua propriedade oudo seu empreendimento.

O somatório dessaspequenas iniciativas,certamente representaria umganho global enorme para asociedade, diminuindo o riscoe os transtornos dasinundações.

Caberia ao PoderPúblico implementar as etapasdo planejamento dentro deuma ação setorial, integrada auma política maior, compatível,por exemplo, com aspretensões das novas leis, queinstituíram as PolíticasNacional (Lei Federal no 9433)e Estadual (Lei Estadual no

3239) de Recursos Hídricos.Dentre os objetivos de

ambas, está a prevenção e adefesa contra eventoshidrológicos críticos de origemnatural ou do uso inadequadodos recursos naturais,adotando a bacia hidrográficacomo unidade territorial degestão.

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Sob essa novaperspectiva, pelo menos paraas bacias ou sub-baciashidrográficas ainda menosocupadas, vislumbra-se aoportunidade de introduzirpráticas e conceitoscontemporâneos para ocontrole de enchentes atravésde ações a seremimplementadas pelos planosde recursos hídricos,instrumentos das referidaspolíticas.

Iniciativa recente doMinistério do Meio Ambiente,através da Secretaria deRecursos Hídricos, na suamissão institucional depromover e divulgar osobjetivos da Política Nacionalde Recursos Hídricos,constituiu grupo de trabalhopara discutir e elaborar o PlanoNacional de Prevenção eDefesa Contra EventosHidrológicos Críticos deOrigem Natural ouDecorrentes do UsoInadequado dos RecursosNaturais. O Plano está inseridocomo meta do ProgramaÁguas do Brasil (AvançaBrasil).

Plano de tamanhaproporção, certamentecontemplará as grandesbacias hidrográficas de riosfederais e, portanto, comabrangência significativamente

superior àquelas pequenassub-bacias que abrigam,muitas vezes, parte de grandescentros urbanos, onde aquestão do controle dasenchentes requer soluções deresponsabilidade do PoderPúblico local. Por outro lado, oreferido Plano pode e deve fixardiretrizes gerais quecontemplem a adoção denovos conceitos e critérios, taiscomo, conservar ao máximo aretenção natural das águas dechuva e a proibição deurbanizar áreas sujeitas ainundações.

A recuperação de áreaspara infiltração, o aumento dacapacidade de retenção,através de soluções pontuaise regionais, a utilizaçãosustentável das águas dechuva e a revitalização doscursos de água, fazem partede um conjunto de medidaspostas em prática em paísescomo Alemanha, Japão eEstados Unidos.

O risco do colapso degrandes obras como barragensde laminação de enchentes ediques de contenção, quepodem gerar conseqüênciascatastróficas, levaram estespaíses a rever a política para osetor, em busca de alternativasestruturais e não estruturais,

mais econômicas e eficazes.Os diferentes temas

desenvolvidos a seguir tem apretensão de dotar o cidadãocomum, autoridades públicas,lideranças comunitárias,estudantes, professores epolíticos interessados, doconhecimento básiconecessário para melhorcompreensão dos principaisagentes formadores dasenchentes, dos fatores físicosagravantes, das possíveisconseqüências envolvidas edas grandes mudançasconceituais que devem serintroduzidas na gestão e naprática das intervenções paracontrolar e amenizar os efeitosdas mesmas.

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CICLO HIDROLÓGICO

As águas na naturezase movimentam, circulam e setransformam no interior dastrês unidades principais quecompõe o nosso Planeta, quesão a atmosfera (camadagasosa que circunda a Terra),a hidrosfera (águas oceânicase continentais) e litosfera(crosta terrestre).

A dinâmica de suastransformações e a circulaçãonas referidas unidades,formam um grande, complexoe intrínseco ciclo chamadociclo hidrológico.

Por se tratar do ciclorepresentativo do caminhodas águas nos seus diversosestados físicos (sólido, líquidoe gasoso) não permite,claramente, a identificação doinício do mesmo.

Pegando uma “carona”no circuito, no momento emque a água evapora dosoceanos e da superfície daterra, passa a integrar oconteúdo da atmosfera naforma de umidade (vapord’água). Dependendo dascondições climáticas e da

combinação de outros fatoresfísicos, o vapor d’água seconcentra nas camadas maisaltas, formando nuvens que semodelam e se movimentamem função do deslocamentodas massas de ar (vento).

Em determinadascondições físicas, surgemgotículas de água que seprecipitam das nuvens e, soba ação da força da gravidade,formam a precipitaçãopluviométrica, ou seja, achuva. As águas de chuvapodem ser interceptadas,em parte, pela vegetação(copa das árvores) que cobreo terreno e/ou pelas

superfícies superiores dasconstruções por venturaexistentes (telhados, terraços,outros).

O que excede à essaretenção, soma-se àquelaparcela de chuva que atingiudiretamente o solo, seinfiltrando através dos vaziosentre os grãos do solo.

A água infi ltradapercola (escoa através dosvazios do solo) na direção dascamadas mais profundas,contribuindo para oabastecimento dosreservatórios subterrâneosrasos (lençol freático) eprofundos (aqüíferos).

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Quando a capacidade de infiltração dosolo é superada, o excesso das águas de chuvavai avolumar os escoamentos superficiais jáiniciados sobre as áreas impermeáveis e as demenor permeabilidade, na direção das regiõesmais baixas, através das galerias de águaspluviais, quando houver, dos córregos, riachose rios, chegando, por fim, ao oceano onde acontinuidade do ciclo se manifesta novamenteatravés dos mecanismos de evaporação.

Convém lembrar que a água retida navegetação, bem como, aquela que ficouarmazenada nas pequenas depressões doterreno, nos lagos, lagoas, lagunas ereservatórios construídos pelo homem, tambémpassam pelo processo de evaporação,aumentando a umidade da atmosfera.

É importante esclarecer quedurante os períodos sem chuva, aságuas armazenadas nos reservatóriossubterrâneos fluem lentamente, pelaação da gravidade, para áreas maisbaixas, abastecendo os corpos deágua, (rios, lagos, lagunas,reservatórios). Essa contribuição échamada de descarga base ouescoamento base.

Portanto, pode-se constatar que quantomaior for a retenção na cobertura vegetal e ainfiltração das águas de chuva, menor será ovolume excedente disponível para oescoamento superficial e, a princípio,pressupõe-se menor chance de ocorrência deenchentes e inundações.

Deve ficar claro que tudo dependerá daquantidade de chuva, dos limites dascapacidades de retenção superficial, das taxasde infiltração características do solo existentee das chuvas antecedentes.

Assim, quanto maior as oportunidadesdas águas de chuva se infiltrarem, maior seráa recarga dos reservatórios subterrâneos,fortalecendo a capacidade de abastecimentodos corpos de água durante os períodos típicosde estiagem (sem chuva). Estes conceitosserão melhor abordados adiante.

Com o propósito de proporcionar melhorentendimento das diferentes etapas quecompõe o ciclo hidrológico, são apresentados,a seguir, algumas definições e comentários úteispara o acompanhamento dos assuntos tratados.

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• evaporação do solo –ocorre a partir da águaretida nas camadassuperiores do solo, sejapor encharcamento,retidas nos interstícios, oupor elevação através doefeito de capilaridade.

• evaporação portranspiração – os vegetaisdepois de retirarematravés do seu sistemaradicular, a água e assubstâncias minerais neladissolvidas, devolvem aágua para a atmosfera,através das folhas, peloprocesso de transpiração.

AtmosferaA atmosfera é constituída

de diferentes camadas comcaracterísticas distintas. Aprimeira chama-setroposfera e alcançaaltitudes médias de 6 km nospólos e 17km, no Equador,com temperaturas variáveis eonde estão cerca de 90% dovapor d’água total daatmosfera, principalmentenos 5km iniciais.

Portanto, a troposfera é acamada da atmosfera quemais interesse desperta para osestudos de formação dasnuvens e chuvas.

A segunda camadadenomina-se estratosfera,com temperatura constante,até cerca de 40km dealtitude.

A terceira, é amesosfera, até 80km e,em seguida, a termosfera,acima desse limite.

Como citadoanteriormente, a umidadeatmosférica é provenientebasicamente do resultado doprocesso de evaporação.

EvaporaçãoA evaporação é a

transformação físicado estado líquidopara o estadogasoso, sob a formade vapor d’água.Pode ocorrer emsituações diversassob diferentescondições físicas.

De uma maneirageral, pode-seidentificar osseguintes tipos deevaporação:• evaporação direta – ocorre

diretamente sobre aprecipitação, isto é, durantesua queda e antes dealcançar a superfície daTerra;

• evaporação dassuperfícies líquidas –ocorre em todas assuperfícies líquidasdisponíveis, isto é, noslagos, lagoas, lagunas,cursos de água,reservatórios, oceanos,nas águas acumuladasnas depressões do terrenoe naquelas retidas sobre avegetação em geral.

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Precipitação

O processo de aglutinação e coagulação contribuempara o aumento do volume e peso das gotículas,alcançando diâmetros da ordem de 0.2 a 0.5 milímetros,podendo então, ocorrer a precipitação.

As gotas assim formadas, caem sob o efeito dagravidade, à qual se contrapõem o empuxo e o atrito do aratmosférico, proporcionando, ainda mais, o aumento dovolume da gotícula, determinando e caracterizando odiâmetro e a velocidade de queda máximos.

A precipitação pode ocorrer sob diversas formas:• chuva – precipitação em forma líquida, com

diâmetros variando entre 200 milésimos de milímetros ealguns milímetros;

A chuva formada por gotículas cujos diâmetros sãoinferiores a 0.5 milímetros é conhecida como garoa ouchuvisco;• neve – quando a condensação do vapor d’água

ocorre em temperaturas muito baixas (sublimação), formam-se cristais de gelo que coagulam e se precipitam em formade flocos;

• granizo – precipitação em forma de pedras de gelo.Tal precipitação pode ocorrer pelo congelamento da gota

d’água ao atravessar camadas atmosféricas mais frias ou pelarecirculação de cristais de gelo no interior das nuvens;

• nevoeiro – o nevoeiro é uma nuvem ao nível do solo,com gotículas de diâmetro médio em torno de 0.02milímetros, conhecido também como cerração ou russo;

• orvalho – deposição de água sobre superfícies frias,à noite, como resultado do esfriamento do solo e do aratmosférico adjacente, por efeito de irradiação de calor;

• geada – deposição de uma finíssima camada degelo decorrente de processo de irradiação térmica,ocorrendo em temperaturas muito baixas (sublimação dovapor d’água).

CondensaçãoAtmosférica

A condensação é aalteração do estado de vaporatmosférico para a formalíquida, proporcionando acriação de minúsculas gotasd’água, que, dado ao pesoinsignificante, permanecem naatmosfera formando asnuvens.

A capacidade máxima doar de reter vapor, depende,entre outros fatores, datemperatura. Ar quente podereter muito mais vapor do queo ar frio. A umidade específicaoscila de 25g por kg de artropical marítimo à 0,5g por kgde ar polar continental. Por issoquando o ar úmido ascendentese esfria e o limite de saturaçãoé atingido, acontece ac o n d e n s a ç ã o :a transformação do vapor emágua.

As gotículas não seprecipitam de imediato, devidoao peso reduzido e a influênciadas correntes de arascensionais típicas daturbulência atmosférica.

A nuvem tem ocomportamento de um meiocoloidal disperso onde asgotículas se aglutinam ou secoagulam em torno de núcleosde condensação existentes emcondições naturais, podendoser cristais de cloreto de sódioe de cloreto de cálcio, sais deenxofre ou óxidos denitrogênio, cristais de quartzoou sílica, anidrido carbônico,cristais de gelo e poeiras. Taisnúcleos possuem diâmetroentre 1 a 5 vezes a milésimaparte do milímetro.

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RetençãoSuperficialOcorrência no

processo do ciclohidrológico que podeacumular água deduas formas:

• interceptaçãovegetal – relativa àparcela daprecipitação que ficaretida sobre avegetação de umamaneira geral;

• acumulaçãonas depressões –relativa à parcelaretidas nasdepressões doterreno.

A água daretenção superficialretorna à atmosferapela evaporaçãoc o n f o r m ea n t e r i o r m e n t ecitado.

InfiltraçãoÉ a parcela da

precipitação queinfiltra no terrenoatravés dos vazios dosolo, contribuindopara as águassubterrâneas doslençóis superficiais epara as camadasmais profundasimpermeáveis quecortam o fluxo verticalretendo grandequantidade de águano solo acima delas.

EscoamentoSubterrâneoOcorre através

dos interstícios dosolo totalmenteencharcado, comd i r e ç ã opredominantementehorizontal, ondeprevalecem asforças de gravidadee pressão. Talescoamento se dána direção dospontos mais baixosou de menorpotencial e, destaforma, retornamsuas águas aoscorpos hídricos.

EscoamentoSuperficial

É a parcela daságuas de chuva queflui sobre os terrenos,sob a ação dagravidade, buscandoas linhas detalvegue, alcançandoos cursos de água,os lagos, osoceanos.

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CHUVAS

Como visto antes, asnuvens nada mais são quemassas concentradas degotículas de água suspensas.Tais gotículas são formadasem conseqüência dacondensação do vapord’água ao redor de pequenaspartículas presentes naatmosfera.

As condições físicaspara a condensação sãoestabelecidas pela expansãodas correntes de ar emascensão que se esfriam coma altitude e perdem acapacidade de reter vapord’água.

Verifica-se que aocorrência de chuvas temligação direta com a rapidezcom que as massas de ar seesfriam, intensificando ocrescimento do tamanho dagotícula pela condensação eaglutinação, até a instabilidadeda sustentação no ar e aconseqüente queda pela açãoda força da gravidade,caracterizando a precipitaçãopluviométrica.

Tipos de Precipitação Pluviométrica

As precipitações podem ser grupadas em três tiposfundamentais, em função dos agentes que lhes dão origem.

• Precipitação OrográficaAs massas de ar úmido e quente que se formam sobre

os continentes ou sobre os oceanos, com grandes quantidadesde vapor d’água decorrentes dos processos de evaporação,podem ser deslocadas pelos ventos contra barreiras orográficas(montanhas ou cordilheiras). O contato com essas barreirasdefletem rapidamente essas massas para o alto, fazendo comque se esfriem e sofram os processos de condensação eprecipitação.

Pela rapidez com que a massa de ar se eleva,dependendo da topografia e quantidade de umidade, pode gerarchuvas muito intensas.

• Precipitação CiclônicaExistem grandes áreas da superfície terrestre que

apresentam características térmicas e de umidade uniformesque são transmitidas gradativamente às massas de ar acimaestagnadas ou que sobre elas se deslocam lentamente. Essasmassas de ar, em grande volume e extensão, passam aapresentar também, características térmicas de umidade queas caracterizam.

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Em geral, essas massas de ar formam-se em regiões como o Ártico, a Antártica, aPatagônia, o Pantanal Mato-grossense, oDeserto do Saara, e outros, e podem seencontrar umas com as outras, à medida quese deslocam sobre o globo terrestre.

Quando duas massas de ar dediferentes temperaturas se encontram, atendência será a formação de uma cunha damassa de ar mais fria sob a massa mais quente,empurrando-a para cima.

Forma-se uma grande superfície frontalcuja linha de contato com a crosta terrestrechama-se frente.

Em decorrência da oposição das duasmassas, a de maior energia empurrará a outra,e se chamará fria ou quente, conforme sejamais fria ou quente com relação à outra massade ar.

Quando houver equilíbrio energético, afrente criada chama-se “frente quaseestacionária”.

O ar quente é empurrado para o alto,configurando-se as condições favoráveis àcondensação e à precipitação.

As chuvas ciclônicas são, em geral,pouco intensas e muito duráveis.

• Precipitação ConvectivaResulta da ascensão do ar úmido e

quente, em regiões de clima quente, em funçãoda densidade, criando um processo deconvecção térmica.

Tal fenômeno cria uma célula deconvecção onde o ar quente sobe rapidamentepelo centro da nuvem, esfriando-se, propiciandoa condensação e a precipitação. Quando o armais seco chega ao topo da nuvem, após aperda de umidade, diverge para a atmosferaretornando ao solo de forma convergente porbaixo da nuvem, realimentando-a de umidadecarreada do ar adjacente à célula de convecção.Novamente, o ar úmido sobe, e o ciclo se repeteaté que a intensidade de realimentação diminua.

As chuvas convectivas são geradas apartir de nuvens de grande desenvolvimentovertical (cumulu nimbus), ocorrendo com muitaintensidade em períodos curtos, promovendouma varredura na umidade atmosférica,deixando geralmente, ao seu término, o céulímpido e tempo bom.

O Rio de Janeiro, pelo seu clima quente,é marcado pelas chuvas convectivas com“pancadas” de fim de tarde durante o verão.

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Entre os anos 1400 e1600, grandes pesquisadoresdeixam a especulaçãofilosófica sobre as questõeshidrológicas para iniciarefetivamente, observações dociclo das águas na natureza.

As chuvas mereciamatenção especial em funçãodas diferentes variações notempo e no espaço.

As águas vindas doscéus eram muito bemrecebidas durante o plantio e ocrescimento das lavouras. Aomesmo tempo, que temidapela possibilidade de provocarenchentes e inundações.

Data do século XVII, naEuropa, as primeiras iniciativaspara medir as chuvas natentativa de comparar equantificar os volumes entre aságuas precipitadas e aquelasescoadas superficialmente noscursos d’água.

As grandezasestabelecidas e adotadas aolongo dos tempos paramedição das chuvas sãoaltura, duração, intensidade efreqüência. Tais grandezas têmsido utilizadas no mundocientífico e tomadas comomedidas de comparaçãouniversal entre chuvasocorridas em diversas regiõesdo planeta.

Conceituação eesclarecimentos adicionaissobre essas grandezas:

Altura:é a medida vertical, emgeral em milímetros, dovolume da chuvaocorrido e acumuladoem um recipientecilíndrico;Duração:é o intervalo de tempoconsiderado durante aprecipitação. Pode serdo total ou de parte dachuva. A duração dachuva é expressa emminutos, horas ou dias;Intensidade:é a altura de chuva naunidade de tempo, istoé, o quociente entre aaltura e a duração.Freqüência:é uma característicaestatística relativa aocorrência das chuvas.

As chuvas são

medidas nas estações

pluviométricas. As estações

podem ser equipadas com

aparelhos totalizadores

(pluviômetros) e/ou

registradores (pluviógrafos).

Distribuição Espacial

A distribuição espacialda chuva não é uniforme, istoé, não cai a mesma quantidadede água igualmente sobre umaregião durante o mesmointervalo de tempo. Podeocorrer, inclusive, chuva numaárea e nenhuma sobre umaoutra vizinha. É comum istoocorrer e, certamente, o leitorjá constatou esse fato ao ler osjornais ou telefonar para umamigo que está se preparandopara passear enquanto vocêliga para comentar a chuva queestá caindo na sua área.

Portanto, a ocorrênciade chuvas está vinculada auma série de fatores locais eregionais como a circulaçãodas massas de ar,temperatura, topografia,umidade do ar, ventos, etc..

Medição da ChuvaDesde a época do

Império Romano e, mesmo emtempo anteriores, na Índia(século IV AC), o homem já seinteressava e estudava aocorrência e a circulação daságuas na natureza.

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Os pluviômetrosacumulam as águas de chuvacaptadas através de umapequena bacia de recepção. Ovolume precipitado é medidocom o auxílio de uma provetacalibrada que acompanha oequipamento.

Em geral, no Brasil, ospluviômetros são empregadoscomo totalizadores dasprecipitações de 1 dia deduração. Cada estação éoperada por um observador,morador da região, treinadopara efetuar a leitura todo o dia,às 7 horas da manhã,conforme convenção nacional.

Os pluviógrafosfuncionam sob os mesmosprincípios que um pluviômetro,inclusive com o mesmotamanho da bacia derecepção. A diferença está navantagem de registrar,continuamente, através demecanismos específicos, avariação da altura de chuvadurante o período deprecipitação.

Os pluviógrafos sãoequipados com pequenosreservatórios cilíndricos queacumulam as águas de chuva.A variação dos níveis noreservatório é registrada

diretamente sobre gráficosespeciais ou, maismodernamente, detectadapor sensores, transformada emsinais elétricos e gravada comoleituras digitais em meiomagnético a intervalos detempo pré estabelecidos.

A grande vantagem dopluviógrafo é permitir adeterminação da intensidadeda chuva a intervalos de tempotão pequenos quanto se queira.Além disso, os pluviógrafostem uma autonomia maior,dependendo dos mecanismosinstalados e do comprimentodo papel do pluviograma,podendo cobrir períodos de até6 meses de observação.

Embora se desfrute, aprincípio, dessa autonomia, os

pluviógrafos por seremconstituídos de mecanismosde relojoaria, baterias epequenas peças móveis, estãosujeitos a defeitos einterrupções dos registros.

Características dasChuvas no Estado do Riode Janeiro

As chuvas que ocorremno Estado do Rio de Janeiroapresentam, de um modogeral, características sazonaisbem definidas. Sãoinfluenciadas a nível local, pelaproximidade do OceanoAtlântico e pela topografiaacidentada, a nível regional,

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pelo padrão de circulação dasmassas de ar na atmosfera e,a nível planetário por eventosde grande escala.

No outono e no inverno,os dias são claros, tempobom, com baixa umidade do ar,havendo formação de nevoeirona madrugada, na RegiãoSerrana e, mais tarde, no inícioda manhã, no litoral. Osnevoeiros são freqüentes ecausam transtornos paranavegação marítima e aérea.

As chuvas nessaépoca, são normalmenteocasionadas por entradas defrentes frias. No dia anterior aoinício das chuvas, observa-seo aumento da nebulosidade e

iniciam-se geralmente naRegião Serrana e caminhamno sentido do litoral. Sãoprecedidos por trovoadas,relâmpagos e ventos derajada.

Essas chuvas podemocorrer simultaneamente comperíodos de maré alta,bloqueando e dificultando osescoamentos das águas. É oque se observa nos trechosinferiores dos rios da baixadaque deságuam na Baía deGuanabara. Essa coincidêncialeva, muitas vezes, as águasprocurarem outros caminhos,transbordando do seu cursonatural e causandoinundações.

o aquecimento do ar.Esses eventos são freqüentes,têm longa duração, cerca detrês a quatro dias, abrangemtodo o Estado e sãoacompanhados de ventos equeda da temperatura. Nosdias de primavera e verão, asituação típica é detemperaturas elevadas, comformação de nuvens tipocumulu nimbus no final datarde, dando origem a chuvasconvectivas, pela simplesascensão e esfriamento dasmassas de ar. Estes eventos,de pequena abrangênciaespacial, curta duração egrandes intensidades,chamados de tempestades,

22/07/2000 3:00hs 22/07/2000 15:00hs 23/07/2000 9:00hs

23/07/2000 15:00hs 23/07/2000 18:00hs 24/07/2000 0:00hs

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Chuvas ciclônicas podem também seformar em ocasiões de aproximação de frentesfrias, quando ventos de sudoeste, vindos doOceano Atlântico, empurram as nuvens paracima, funcionando como uma cunha, dandoinício ao processo de condensação eprecipitação.

Quando a frente fria incide sobre a áreacontinental no período do verão, as diferençasde temperatura das massas de ar são grandese podem provocar chuvas com maiorintensidade do que aquelas observadas noinverno.

Em situações de bloqueio da frente fria, istoé, quando uma massa de ar quente impede seucaminho, ela pode ficar estacionária por vários diasem uma mesma região. Nessas ocasiões, o solosaturado pelas chuvas antecedentes, pode deslizardas encostas, carreando sólidos para os cursosde água, contribuindo para o gradual assoreamentoe obstrução parcial dos caminhos das águas. Talfato preocupante, tendo em vista que, ao mesmotempo, ocorre o aumento da percentagem da chuvaque contribui para o escoamento superficial, écomum na região ao longo da Serra do Mar, onde

as áreas mais inclinadas são ocupadas edesmatadas pelo homem. A inundação dosterrenos marginais é iminente.

Chuvas orográficas incidem nas áreasdos contrafortes das Serras do Mar e daMantiqueira quando, por efeito da mudançabrusca do relevo provocam chuvas intensas decurta duração.

Estudo realizado pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, a partir deobservações dos temporais que incidiram sobrea Cidade do Rio de Janeiro no período de 1882a 1996, onde são grupadas as chuvas comtotais diários de 40 a 100mm e maiores que100mm, mostra que o número de eventos aolongo do ano para esses dois grupos é muitomaior no período do verão.

Eugênio Monteiro

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O fenômeno El Niño,que em espanhol quer dizer“Menino Jesus” pela suaocorrência próximo ao natal, éo resultado do aquecimentodas águas do PacíficoEquatorial. No Brasil, vemprovocando fortes chuvas comconseqüentes inundações nasRegiões Sul, Sudeste eCentro-Oeste. Por outro lado,nas Regiões Norte e Nordeste,os totais precipitados ficamabaixo do normal.

O fenômeno La Niña,que, em espanhol, quer dizer“a menina”, diz respeito aoresfriamento das águas doOceano Pacífico, trazendotambém modificações quantoa circulação das massas de are das águas oceânicas.Durante a La Niña, astemperaturas mais frias daságuas do Oceano Pacíficopodem promover situações

climáticas adversas em várias

regiões do planeta. No Brasil,

podem provocar maior

umidade no norte e ocasionar

irregularidades no regime

pluviométrico da Região Sul

(chuvas fortes seguidas de

longo período seco).

Quanto à distribuição

espacial das chuvas no

território do Estado do Rio de

Janeiro, tem sido observado

nas estações pluviométricas

que são operadas por mais de

vinte anos, pelo Instituto

Nacional de Meteorologia –

INMET, eventos de chuva muito

mais intensas nas Regiões Sul

e Metropolitana do que as

Regiões Norte e Noroeste do

Estado. Esse comportamento

se repete para os totais anuais

de precipitação pluviométrica.

Para se ter uma idéiado que realmente representauma chuva de 100mm deduração definida, pode-seimaginar que, ao incidir sobrea área de um campo de futebol,com dimensões de 75m x110m, produz um volume de825m3 ou 825 caixas de águade 1000 litros. No caso de umabacia hidrográfica de pequenoporte como é a do RioMaracanã, com área dedrenagem de cerca de13.110.000m2, o volumeproduzido seria de 1.311.000caixas de 1000 litros. Quase atotalidade desse volume dirigir-se-á à seção de fechamentoda Bacia do Rio Maracanã. Seessa chuva se distribuir aolongo de 1 dia, provocarásignificativa elevação do níveld’água, podendo causar,em alguns trecho,transbordamento da calha,transtornos a população e aotrânsito.

Se os 100mmconcentrarem-se em poucashoras, o resultado será bem maisgrave.

Esse padrão sazonalpode ser alterado em funçãode fenômenos meteorológicosque influenciam o regime dechuvas, não somente naregião do Estado do Rio deJaneiro como em todo oplaneta, por meio da interaçãodo Oceano Pacífico e aatmosfera.

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No período de 18 a

21, a área mais afetada foi o

Maciço da Tijuca, na Zona

Norte da Cidade do Rio de

Janeiro, com mais de 430mm

precipitados durante 4 dias,

com período de recorrência

estimado em 50 anos.

Foi decretado estado

de calamidade pública, com

mais de 14.000 desabrigados.

Avaliando as

conseqüências desses

eventos, pode-se inferir que as

chuvas que contribuíram para

as maiores inundações foram

as mais intensas com

duração de menos de duas

horas. O pequeno tempo de

concentração das bacias

hidrográficas da região e a

reduzida capacidade de

escoamento dos rios,

bastante prejudicada pelo

aporte de material sólido (solo

e lixo) agravaram

consideravelmente a situação.

Já os deslizamentos das

áreas de encostas tiveram

como principal causa, as

chuvas com maior duração

que encharcaram o solo e o

lixo acumulado.

Chuvas de Jacarepaguá –

Fevereiro de 1996

Nos dias 13, 14 e 15de fevereiro de 1996, a atençãoda população e das

autoridades do Poder Públicovoltaram-se para a região deJacarepaguá. Chuvas deelevada intensidade,ocasionadas pela chegada deuma frente fria, incidiram sobrea Cidade do Rio de Janeiro,concentrando-se no Maciço daTijuca, vertente sul. Os totaispluviométricos registradospelo INMET foram:

No dia 13, houveelevação do nível dos rios daregião, que apresentampequena capacidade deescoamento, afetando asresidências construídasimpropriamente junto àsmargens.

No dia 14, do totalprecipitado, 200mmocorreram em somente 8horas, o cenário era dedestruição. Grandes blocos depedra e elevado volume deterra desceram das encostas,mesmo dos trechosprotegidos com vegetaçãonatural, vindo obstruir ascalhas dos rios. Nas áreas debaixada, os leitos dos riosdeixaram de existir, nivelando-se aos terrenos marginais. Osaldo foi de 1500desabrigados e 59 mortes.

Eventos Marcantes noEstado do Rio de Janeiro

Chuvas de fevereiro de 1988

Durante o mês de

fevereiro, as massas de arpolar que chegavam ao Estadodo Rio de Janeiro, vindas do suldo país, ficaram bloqueadaspor outras massas de aroriundas do norte, ocasionandouma seqüência de eventos dechuvas intensas em diferenteslocais.

No início do mês, naZona Oeste da Cidade do Riode Janeiro foi registrado em umsó dia, o total de precipitaçãode 230mm, com recorrênciaestimada de 100 anos,provocando grandesalagamentos.

Na Cidade dePetrópolis, Região Serrana doEstado, nos seis primeirosdias do mês, choveu cerca de414mm, mais do que o totalmédio mensal para o mês. Aschuvas continuaram e, até odia 24, alcançaram 776mm.Os incidentes mais gravesforam aqueles decorrentes dedeslizamentos de encostas eextravasamentos das calhas

dos rios.

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Equipes dosGovernos do Estado e doMunicípio uniram-se o esforçode reconstruir o caminho daságuas, preocupados com apossibilidade da incidência deoutras chuvas.

É interessantesalientar o caracter localizadodo evento. No dia 14, quando ototal pluviométrico emJacarepaguá era de 304mm, nocentro da Cidade do Rio deJaneiro, os pluviômetrosregistravam cerca de 20mm.

Chuvas de 1997 da RegiãoNorte e Noroeste do Estado

Fortes chuvasconcentraram-se no sudestedo Estado de Minas Gerais enorte e noroeste do Estado doRio de Janeiro, comoconseqüência do encontro deuma frente fria com umamassa de ar quente e úmidovindo da Bacia Amazônica emdireção ao Oceano Atlântico,passando pela RegiãoSudeste, no início de janeirode 1997.

Foram 6 dias dechuvas fortes, na maiorenchente dos últimos 20 anosna região, com grandes áreasalagadas e registro de 30 milpessoas desalojadas. Foidecretado estado decalamidade pública em 8municípios do Estado do Riode Janeiro (Porciúncula,Natividade, Varre-Sai,Itaperuna, Bom Jesus doItabapoana, Laje do Muriaé,

Italva e Cardoso Moreira).Os Rios Pomba e

Muriaé, afluentes do Paraíbado Sul, com nascentes noEstado de Minas Gerais,drenaram, nessa ocasião,volume de água superior à suacapacidade de escoamento,tendo sido medido, no RioPomba em Cataguases, onível de 5.56m, quando amédia para esta época é de1.90m. O Rio Paraíba do Sulalcançou o nível de 11.42mem Campos, transbordandoem alguns trechos.

Os totais de chuvaobservados no período de 1 a4 de janeiro foram de196.7mm em Itaperuna,193mm em Cordeiro e103mm em Campos. NoEstado de Minas Gerais osvalores foram mais elevados.

Chuvas de Janeiro de 2000Nos primeiros dias de

janeiro de 2000, devido a umafrente fria estacionária,precipitações intensasatingiram o nordeste de SãoPaulo, o sul de Minas Geraise, no Estado do Rio deJaneiro, as Regiões Serrana edo Médio Paraíba do Sul e oMunicípio do Rio de Janeiro.Os totais de chuva observadosem Pindamonhangaba, SãoPaulo, foram de 152mm em 24horas e 203mm em 48 horas.No Estado do Rio de Janeiro,os maiores totais diários de

chuva do período foramobservados no dia 3, emResende (139mm) e Piraí(160mm). Nos Municípios daRegião Serrana, durante osdias 1, 2 e 3 os totaispluviométricos foram de219mm em Nova Friburgo,255mm em Resende,253mm em Piraí e 201mmem Petrópolis.

As chuvas queincidiram sobre as baciashidrográficas dos afluentesdo Rio Paraíba do Sul notrecho fluminense,provocaram elevação nonível do Rio Paraíba do Sulacima da capacidade de suacalha, causando inundaçõesnas áreas marginais. EmVolta Redonda, o nível d’águasubiu 3 metros acima donormal. Essa situação sónão foi mais grave porque acontribuição da Bacia do RioParaíba do Sul, do trecho demontante (São Paulo) ficouretida no reservatório deFunil, que suportou oacréscimo de volumed’água, mantendo fechadasas comportas do vertedouro.As inundações em diversoscursos de água causaramproblemas de trânsito edeixaram as cidades de Piraíe Nova Friburgo ilhadas. NaRodovia Dutra, oengarrafamento chegou a30km.

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Segundo a Defesa Civil,o número de desabrigados foicerca de 6 mil pessoas,havendo 12 óbitos, vítimas deafogamento, desabamentos equedas de barreiras.

Nos municípios deBarra Mansa e Resende foidecretado estado decalamidade pública.

Nos Estados de MinasGerais e São Paulo a situaçãotambém foi grave. Em Minas,14 prefeitos decretaramestado de emergência, com 15mil desabrigados e, em SãoPaulo, o estado de emergênciafoi decretado nas Cidades deQueluz e Cruzeiro.

ESCOAMENTO DASÁGUAS DE CHUVA

Para explicar osdiferentes caminhos que aságuas de chuva percorremantes de alcançar os cursos deágua (córregos, riachos,ribeirões, rios e canais) seráconsiderado para finsilustrativos, um evento deprecipitação pluviométrica delonga duração.

Deve ficar claro que ocenário aqui exposto,representa umcomportamento genérico, nãodevendo ser consideradocomo padrão para todas asbacias hidrográficas. Assim,as diversas fases e tipos de

escoamento das águas dechuva aqui descritos, podemocorrer com diferentesintensidades e configurações,dependendo dascaracterísticas espaciais dachuva, cobertura vegetal,topografia do terreno, tipo eocupação do solo, sistema dedrenagem natural, chuvaantecedente, etc..

Nos itens anteriores,ficou esclarecido que após oinício das chuvas, dá-se agradativa interceptação daságuas pela vegetação,retenção nas depressões doterreno, infiltração direta e aconseqüente percolação parareservatórios subterrâneos eas primeiras manifestações do

escoamento superficial. A

infiltração é mais intensa no

início da chuva, uma vez que o

solo está menos úmido.

A taxa de infiltração vai

gradativamente crescendo até

um quadro de equilíbrio,

q u a n d o , a p r i n c í p i o ,

dependendo do tipo do solo,

permanece praticamente

constante.

Se a chuva continua

com intensidade superior à

taxa de infiltração, o solo fica

saturado como uma esponja

cheia de água e reage quase

como uma área impermeável.

Toda a chuva adic ional

escoa na super f íc ie

Antônio Cavalcante

Barra Mansa

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proporcionando o plenopreenchimento dasdepressões e/ou áreas deacumulação natural e oconseqüente transbordamentopara os terrenos adjacentes.

Desse momento emdiante, fica melhor definido oescoamento superficialdireto, isto é, aquele formadopelas águas que não seinfiltraram e não ficaram retidasnas depressões e navegetação.

Essas águaspercorrem, sob influência daforça de gravidade, oscaminhos de drenagem naturale/ou artificial, até atingirem ocurso de água principal,avolumando o escoamento nosentido das áreas mais baixas.

A infiltração das águasvai, gradativamente,encharcando a camadasuperior do solo, mais porosaem decorrência da ação dasraízes das plantas e doshábitos da fauna residente,passando a percolar para ascamadas inferiores maisdensas e menos permeáveis.

Forma-se uma zona desaturação que, conformecomentado anteriormente, vaitambém alimentar os cursosde água, principalmente nasáreas mais baixas da bacia.Esse fluxo subterrâneo édenominado de escoamento-base ou descarga-base.

Em conseqüência dasbaixas velocidades deinfiltração e percolação daságuas até atingirem o lençolfreático e do próprioescoamento subterrâneo nomeio poroso, as contribuiçõese as variações da descarga-base só serão percebidas noscursos de água, muito tempodepois do início da chuva.

Nos terrenos maisinclinados, dependendo dapermeabilidade do solo logoabaixo da superfície, podeocorrer um fluxo de águadenominado de escoamentosub-superficial. Esseescoamento se intensifica como encharcamento dasprimeiras camadas do solo.

Em um dado momento,dependendo da intensidade dachuva, os três tipos deescoamento estarãocontribuindo ao mesmo tempopara o curso de água.

É importante salientarque cada um dos tipos deescoamento aqui abordados,isto é, o superficial, o sub-superficial e o debase,atingem os cursos deágua em tempos distintos.

O mais rápido evolumoso é o escoamentosuperficial, chegando emseguida o sub-superficial emuito tempo depois o de base.

É interessantemencionar também, que sobdeterminadas condiçõestopográficas, em função dacapacidade de infiltração eocupação do solo, podeacontecer uma elevação maisrápida do nível das águas noscursos de água emcomparação com ocrescimento do nível do lençolsubterrâneo.

Nessa situação, passaa haver uma inversão do fluxode contribuição subterrânea,isto é, do cursos de água nosentido do lençol freático.

Quando isso ocorre, ocurso de água passa adenominar-se influente, nãomais efluente, reforçando osuprimento dos reservatóriossubterrâneos.

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vertical é a escala de vazões eo horizontal, a escala detempo, o resultado obtido é ográfico apresentado a seguir.

Portanto, o hidrogramaé um registro da variação dasvazões escoadas através deuma determinada seçãotransversal de um curso deágua durante um intervalo detempo.

Quando o período entreuma chuva e outra formais longo, pode-se

interpretar que a vazãoexistente no curso de água,momentos antes do próximoevento pluviométrico, érepresentativa dascontribuições da próprianascente, somadas com aparcela afluente do lençolfreático (escoamento-base).Iniciada a chuva, comoesclarecido anteriormente, aságuas dos escoamentossuperficial e sub-superficialjuntam-se àquelas doescoamento base.

A figura abaixo apresenta umexemplo teórico aproximadodas diferentes parcelas dosescoamentos existentes que

compõem um hidrogramaobservado após um períodochuvoso isolado e de mesmaintensidade sobre a bacia.

HIDROGRAMA

O hidrograma é umarepresentação gráfica querelaciona vazão com o tempo.

A vazão média é oresultado da divisão de umdeterminado volume de águapelo intervalo de tempo queesse volume precisa parapassar através de uma seçãode um curso de água. Portanto,

Onde, Q = vazão; V =volume de água; t = intervalode tempo.

A vazão é geralmenteexpressa em metros cúbicospor segundo (m3/s); litros porsegundo (l/s) ou litros por hora(l/h).

A título de exemplo,considera-se um observadorsentado na margem de umcurso de água antes do iníciode um determinado evento dechuva. Iniciada a precipitaçãopluviométrica, o observadormede inicialmente a vazão(Qo) e registra o tempo (to).Depois, passa a medir a vazãoa intervalos de tempoconstantes, obtendo uma sériede pares de valores de vazãoe tempo (Q1,t1); (Q2,t2); (Q3,t3);etc..

Após um longo períodoque englobou o início e o fimda chuva, é possível desenharo hidrograma.

Se os pares de valoresQ e t, são marcados em umsistema de eixosperpendiculares, onde o

Q= V ÷ ÷ ÷ ÷ ÷ t

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Na realidade, os hidrogramas na

natureza, têm formas muitas vezes complexas,

isto é, hidrogramas compostos, que vão

depender da distribuição da chuva no tempo e

no espaço das características da bacia

hidrográfica e da chuva antecedente.

Quando as alturas de chuva não são

uniformes sobre a bacia e se manifestam com

diferentes intensidades, produzem hidrogramas

com várias subidas e descidas.

Muitas vezes, torna-se necessário, para

fins de estudos e projetos de obras de controle

de enchentes ou mesmo para outras finalidades

da engenharia, o conhecimento do

hidrograma contínuo ao longo dos meses e

anos, em seções do curso de água de interesse

estratégico.

Esses hidrogramas refletem o

comportamento das vazões naquela seção ao

longo do tempo e se constituem no registro

contínuo do escoamento, englobando os

períodos de estiagem e chuvosos.

As vazões críticas mínimas e/ou

máximas observadas a cada ano, fornecem

uma amostra histórica cujo tratamento

estatístico permite a definição de parâmetros

importantes para planejamento e projetos de

engenharia (sistemas de abastecimento deágua, sistemas de drenagem das águas dechuva, vertedouros de grandes barragens,estruturas de controle de inundações, etc.).

Para o conhecimento do hidrograma, énecessário a instalação de uma estaçãofluviométrica próxima ao trecho do curso de águaque se deseja estudar.

Na estação fluviométrica, através decampanhas de medição de vazão, éestabelecida uma relação entre as cotas dasuperfície da água referente a um nívelconhecido, e as respectivas vazões medidas.

Essa relação, é denominada de curva-chave ou curva de calibragem e deve abranger,a principio, a gama de variação da superfície daágua naquela seção transversal.

Em geral, é dificil a realização demedições de vazão em cotas altas, o que levaà utilização de métodos de extrapolação paraestimar as vazões de maior volume,decorrentes de chuvas muito intensas eduradouras.

Em complemento à curva-chave, énecessário leituras diárias das cotas dasuperfície da água em relação a uma referênciaarbitrária fixa no terreno (referência de nível).

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As flutuações dos níveis da água podem

ser registradas diretamente sobre um papel

apropriado ou gravadas em meio magnético,

Através das curvas-chave e as leituras

de cota é possível obter as respectivas vazões.

Na prática, quando a estação

fluviométrica não é registradora, são efetuadas

duas leituras diárias, uma às 7 horas e outra às

17 horas. Essas leituras são utilizadas para a

estimativa da vazão média diária, com base na

curva-chave considerada.

Com esse procedimento, é possível

desenhar o hidrograma de longo período,

fundamental para a análise do comportamento

do escoamento superficial do trecho em estudo.

As leituras são efetuadas geralmente por

morador local (observador), através de um

conjunto de réguas com lances de 1 e/ou 2

metros ao longo da margem. Muitas vezes são

utilizados lances únicos de vários metros

fixados em pilares de travessias ou pontes.

Podem ser também empregados,

simultaneamente, dispositivos automáticos que

promovem o registro contínuo dos níveis de

água. Esses aparelhos são chamados de

linígrafos.

Os linígrafos podem funcionar com

diferentes mecanismos, como bóias,

flutuadores e sensores de pressão, sensíveis à

variação dos níveis de água.

Réguas Linimétricas

Linígrafo

Page 35: Planágua 08 - Enchentes

34

O leito menor comporta a maior parte

do escoamento proveniente das chuvas de

intensidades mais freqüentes sobre a bacia

hidrográfica.

Para chuvas intensas, acima da média

ou de longa duração, dependendo da

conformação do curso de água, das

resistências naturais e/ou artificiais ao fluxo e

das chuvas antecedentes, pode ocorrer o

extravasamento para o leito maior.

A persistência da chuva somada a

outros fatores agravantes da natureza ou

criados pelo próprio homem, pode acarretar a

inundação de áreas periféricas.

A estimativa dessas vazões muito

altas, causadoras de inundações, requer a

aplicação de tecnologias mais avançadas, a

partir das marcas de enchentes e o

levantamento topográfico de toda a seção

transversal atingida.

SEÇÕES DOS ESCOAMENTOSSUPERFICIAIS

Todo o curso de água se desenvolvenaturalmente, percorrendo gradativamente, sobo efeito da gravidade, os pontos mais baixos deuma região.

Ao longo dos anos, forma-se uma calhade escoamento cuja geometria depende doregime de vazões em conseqüência davariabilidade das chuvas, da declividade doterreno, do tipo de solo, das taxas de erosão ede assoreamento, densidade da mata ciliar(vegetação junto às margens), da geologia dabacia, etc.

Existem inúmeras configuraçõesgeométricas com diferentes características deconformação das calhas ou leitos deescoamento, conforme figura abaixo.

Em geral, a seção transversal pode serdividida em três segmentos distintos que são:calha ou leito menor, leito maior e planíciede inundação.

Page 36: Planágua 08 - Enchentes

35

Page 37: Planágua 08 - Enchentes

36

FORMAÇÃO DASENCHENTES

A enchente pode ser

considerada como a variação

do nível da água e das

respectivas vazões junto a uma

determinada seção, em

decorrência dos escoamentos

gerados por chuvas intensas.

Nos estudos para os

quais é necessário relacionar

a chuva e o hidrograma

produzido, é comum dividir o

total precipitado em subtotais

a intervalos regulares de

tempo, de forma a possibilitar

melhor compreensão das

oscilações do hidrograma. A

representação gráfica da

discretização da altura total de

chuva no tempo, é conhecida

como hietograma. Quando o

hidrograma é posicionado na

mesma escala de tempo que

o hietograma, pode-se, a partir

do valor da área de drenagem

na seção considerada e o

volume do hidrograma, estimar

as perdas, isto é, os subtotais

de chuva que não contribuíram

para o escoamento superficial.

A enchente cria um

hidrograma que, ao se formar,

por exemplo, na seção de

fechamento de uma dada

bacia, pode apresentar vazões

superiores à capacidade do

leito menor, obrigando que o

escoamento das águas seja

compartilhado com o leito

maior e, até mesmo, em

função dos obstáculos

existentes e da resistência ao

fluxo, invadir áreas marginais.

As enchentes também

são benéficas, por se tratar de

um fenômeno cíclico da

natureza, onde a água

desempenha um importante

papel na vida da fauna, da flora

e do próprio homem.

Conviver com este

fenômeno natural é

fundamental. Nas áreas

agrícolas, por exemplo,

podem ser benéficas em

função do tipo de cultura,

requerendo o preparo das

áreas a serem plantadas e o

manejo do solo nas épocas

adequadas.

À medida em que o

próprio homem modifica o

equilíbrio natural dos

caminhos de drenagem,

desmata e ocupa o solo

indevidamente, as

conseqüências são voltadas

contra seu próprio bem estar

e suas economias.

Page 38: Planágua 08 - Enchentes

37

vegetação e depressões doterreno.

Em outras palavras, éo tempo necessário para queuma partícula com ascaracterísticas de um pingo dechuva se desloque do pontomais longínquo da bacia,percorrendo os caminhos dedrenagem e alcance a seçãolimite.

Atingindo o tempo deconcentração, supõe-se que acontribuição das águas dechuva seja máxima junto àseção considerada, paraaquela chuva homogênea e delonga duração.

Essa contribuiçãomáxima, como já mencionado,pode ultrapassar a capacidadedo leito menor, extravasar parao leito maior, ou mesmo,dependendo da intensidade eduração e outros fatoresfísicos, ocupar a planície deinundação.

A contribuição máximaserá tanto maior quanto maior

for a área da bacia hidrográfica

(área de drenagem) para amesma intensidade e duração

da chuva.

Bacia Hidrográfica

A bacia hidrográfica deum curso de água em umadada seção, é representadapela área limitada pela linha decumeada (linha dos pontosmais altos) que a separa dasbacias vizinhas e fechada naseção considerada.

A área da bacia échamada área de drenagemou de contribuição, geralmentemedida em quilômetrosquadrados (km2) ou hectares(ha).

A bacia hidrográfica, deacordo com sua definição,pode estar limitada à qualquerseção de um curso de água,podendo ser a confluência comoutro curso ou suadesembocadura em umreservatório, baía, lago ouoceano.

Os escoamentosatravés de uma seçãoqualquer, são provenientes dascontribuições naturaissubterrâneas, em épocas deestiagem, somadas às águasde chuva, nas épocaschuvosas, consideradas asperdas por evaporação,transpiração, etc..

Observa-se durante e/ou após um evento deprecipitação, que as vazõescomeçam a crescer até umdeterminado valor máximo,podendo decrescergradativamente, durante umperíodo e dependendo dascaracterísticas da chuva, voltara crescer. Forma-se um

hidrograma de enchentesimples ou complexo quecontinuará seu caminho parajusante recebendo novascontribuições e mudandoconstantemente seu formato.

O desenho dohidrograma vai depender de umconjunto de fatoresclimatológicos e daspeculiaridades físicas da baciahidrográfica.

Sob o ponto de vistafísico da bacia, os fatores maisrelevantes são: área dedrenagem, tipo de solo,cobertura vegetal, geometria,declividades, disposiçãopredominante dos cursos deágua e densidade dedrenagem.

Tempo de Concentração

O tempo deconcentração é definido comoo intervalo de temponecessário para que as águasprecipitadas, com a mesmaintensidade sobre toda a bacia,estejam contribuindo para aseção limite da bacia,atendidas as necessidades deinfiltração, de retenção da

Page 39: Planágua 08 - Enchentes

38

Geometria das BaciasA geometria da

bacia é uma característicaimportante dentre osfatores que influenciam noformato do hidrograma deenchente.

Considerando, atítulo de exemplo, trêsbacias com a mesma áreade drenagem, sendo umacom configuraçãoarredondada, outraalongada e a terceira, comformato intermediário,verifica-se, que para chuvas de igual tempo deduração e intensidade, os hidrogramas geradosna seção principal, terão desenhos distintos,com vazões máximas e tempos de escoamentodiferentes.

Tipo de Solo e Cobertura VegetalChuvas de pouca intensidade, após um

período de estiagem, podem ser interceptadase/ou absorvidas, integralmente ou em grandeparte, pela cobertura vegetal, retenção naturalou artificial e pela infiltração no solo para supriras necessidades de umidade.

A vegetação impede e retarda a chegadadas águas de chuva sobre o terreno. Alémdisso, no seu ciclo de vida, deixamdepositar no solo, resíduos de seu próprioorganismo, galhos, folhas, frutos, que sedecompõem, entram em reação comsubstâncias do próprio terreno e formamuma camada superficial rica em matériaorgânica, conhecida como húmus ou terravegetal. Ao mesmo tempo, as raízes, ao

se desenvolverem, penetram eabrem novos caminhos efissuras, que desagregam osolo. Essa desagregação éintensificada pela presença davida animal que abre caminhossubterrâneos em busca dealimentação e espaços segurospara reprodução.

Emílio Teixeira

Page 40: Planágua 08 - Enchentes

39

A camada superficial do solo, compostapelo húmus e ocupada pelas ramificações dasraízes, oferece grande capacidade deinfiltração, absorvendo com facilidade as águasde chuva e reduzindo o percentual dosescoamentos superficiais.

O desmatamento e aimpermeabilização do solo da bacia hidrográficacorta o ciclo de reabastecimento do húmus,potencializa os processos erosivos, diminui acapacidade de infiltração e aumenta o

volume dos escoamentos superficiais, que

atuarão diretamente no formato dos

hidrogramas de enchente.

O crescimento urbano desordenado, ao

longo dos anos, sem o respeito a esses

princípios básicos da natureza, aumenta o risco

de extravasamentos e inundações para as

mesmas chuvas intensas que, no passado, se

moldavam às condições naturais das calhas dos

cursos de água, fluindo sem problemas.

Page 41: Planágua 08 - Enchentes

40

acidentes naturais, comocorredeiras e quedas de água,regime turbulento e irregular,instabilidade de margens,grande capacidade erosiva ede transporte de sedimentosde maior granulometria. Emgeral, as águas sãotransparentes e despoluídas.Os hidrogramas, ao final dotrecho, apresentam rápidaascensão até o pico da vazãomáxima e da mesma forma,retornam às contribuiçõesnaturais após as chuvas.

Muitas vezes essasprecipitações ocorrem deforma concentrada nascabeceiras do curso de águaonde as declividades são muitoacentuadas. O hidrogramagerado se forma muitorapidamente provocando oaumento repentino das vazõese um grande susto, as vezesfatal, para aqueles queinadvertidamente encontram-se no caminho das águas(tromba d’água ou cabeçad’água).

Relevo e Declividades

O relevo depende dasmutações geológicas emorfológicas ao longo dosanos e define o caminho naturaldo escoamento das águas dechuva. É um agentefundamental na concentraçãoe na velocidade de propagaçãodos hidrogramas parciais deenchente que se formam emcada curso de água. Quantomaior as diferenças de altitudeentre as cabeceiras e a seçãode desembocadura de umcurso de água, mais intensoserá o regime dosescoamentos das águas dechuva e maior o risco daformação rápida dehidrogramas de enchente decurta duração.

Um curso de águacompleto apresenta, em geral,três trechos distintos ao longodo seu desenvolvimento até osoceanos.

O trecho superiorcaracteriza-se por fortesdeclividades longitudinais,

O trecho intermediárioou médio, apresentadeclividades menores e umcerto equilíbrio morfológico esedimentológico. No extremosuperior desse trecho, forma-se uma região de deposiçãodos sedimentos oriundos dotrecho superior, comoconseqüência da redução dadeclividade e da velocidade doescoamento. No trecho médio,as vazões são mais uniformesno tempo e as calhas maisestáveis e permanentes. Aságuas são turvas pelotransporte de sedimentos finos.

No trecho inferior, as

declividades são ainda

menores e as águas ainda

mais turvas. Diante das baixas

declividades, as velocidades

são mais reduzidas,

promovendo a sedimentação

dos sólidos em suspensão,

elevando ao longo dos anos, o

nível inferior da calha de

escoamento. Dependendo do

tipo do solo e vegetação, o

curso de água procura alongar

seu percurso para dissipar a

energia remanescente,

formando curvas bastante

sinuosas, conhecidas como

meandros, que evoluem e se

modificam com o tempo.

Durante a passagem de

hidrogramas gerados por

chuvas intensas, pode ocorrer

Page 42: Planágua 08 - Enchentes

41

o corte dos meandros,permanecendo alças quecriam lagos ou braços mortos.Esse segmento do curso deágua, por se desenvolver emáreas muito baixas comrelação ao nível dos oceanos,sofre direta ou indiretamente, ainfluência das marés altas,dificultando e criando barreirasnaturais para os escoamentossuperficiais, inclusive, sobdeterminadas condições,invertendo o sentido do fluxo.

A qualidade das águase a estética do curso de águanesse trecho vão dependerdos diferentes usos do solo naárea da bacia, podendoapresentar elevados índices depoluição.

Os cursos de águapodem ter os três trechos bemcaracterizados, como tambémapresentarem somente dois,ou mesmo um único, comqualquer uma dasconfigurações descritas.

Densidade de DrenagemDensidade de

drenagem de uma bacia é oresultado da divisão entre ovalor da soma das extensõesde todos os cursos de água dabacia pela área decontribuição.

Bacias com densidade

de drenagem mais elevada,

isto é, mais ramificações na

intensidade é maior ao fim doperíodo chuvoso, ocasião emque as taxas de infiltração sãomenores.

A chuva é umfenômeno aleatório e nãoapresenta comportamentouniforme no tempo e noespaço. Sua ocorrência éresultado da coincidência defatores meteorológicos efisiográficos que criam oambiente propício para aprecipitação.

O momento de iníciode um evento pluviométriconão é o mesmo para toda aárea da bacia. Começando achover sobre um local, podeavançar gradativamente comdiferentes intensidades.

A distribuição espacialda chuva é um fator importantepara a definição das vazõesmáximas dos hidrogramas.

A frente de umatempestade pode coincidir como centro de precipitaçõesmáximas, que ao se deslocardas cabeceiras de uma dadabacia no sentido da seção defechamento, ao longo do cursode água principal, promovemaior concentração dehidrogramas parciais, gerandovazões máximas maissignificativas se comparadascom aquelas que seriamproduzidas pelo deslocamentono sentido inverso.

drenagem natural, tendem, emgeral, defasar as contribuiçõesparciais e atenuar oshidrogramas de enchentes.Por outro lado, bacias onde adensidade de drenagem écomparativamente menor, oescoamento ao longo doscursos de água é mais rápidoe acelera a concentração daságuas nas seções defechamento.

Superposição deHidrogramasComo citado

anteriormente, dentre osfatores climáticos que podeminfluenciar na forma doshidrogramas de enchente,predominam as característicasda precipitação, comointensidade, duração edistribuição no tempo e noespaço, além das condiçõesantecedentes da umidade dosolo.

A distr ibuição daschuvas ao longo do períodode fortes precipitações deuma tempestade, tem grandeinfluência sobre a forma dohidrograma da enchente. Sea intensidade das chuvas formaior no iníc io de umatempestade, produziráhidrogramas com vazõesmais amenas secomparados com aquelesgerados durante astempestades onde a

Page 43: Planágua 08 - Enchentes

42

Se o caminho datempestade é transversal àdireção dominante dos cursosde água, a vazão máximaassume valor intermediáriodentre aquelas produzidaspelos deslocamentos ao longodo curso principal. Em geral,os volumes das enchentes sãopouco influenciados peladireção dos deslocamentosdas tempestades.

Essa variação notempo e no espaço geradiferentes possibilidades paraa configuração doshidrogramas junto a umadeterminada seção transversaldo curso de água principal.

O grau de saturação de

umidade do solo em

conseqüência de chuvas

antecedentes tem também

grande influência sobre as

características das enchentes.

As águas das chuvas

subseqüentes a uma

precipitação intensa vão

encontrar o solo mais úmido,

havendo menores perdas por

infiltração e maior

disponibilidade para os

escoamentos superficiais.

Os hidrogramas de

enchente vão se formando em

cada um dos afluentes, uns

mais rapidamente que os

outros, ganhando volume, até

que, dependendo do tempo de

concentração das sub-bacias,

atingem o curso principal em

seções diferentes e em

tempos, a princípio, diferentes.

Esses hidrogramas,

formados de acordo com a

variabilidade dos fatores

climatológicos no tempo e no

espaço, e sob a influencia das

características físicas e

geométricas de cada sub-

bacia, podem se encontrar,

com o conseqüente

crescimento do volume da

enchente e do pico de vazão

máxima.

Page 44: Planágua 08 - Enchentes

43

Rio Paraíba do Sul drena áreade cerca 55.400km2, sendoque 13.500km2 encontram-seem São Paulo, 20.900km2 emMinas Gerais e 21.000km2 noEstado do Rio de Janeiro. Aforma de sua bacia é alongada,alargando-se no trecho inferior,quando recebe os afluentesPomba e Muriaé, que nascemem Minas Gerais. Seu cursoprincipal percorre cerca de1145km, sendo 540km noEstado do Rio de

Janeiro. A área da Baciaocupa quase que 50% doterritório fluminense.

Seus afluentesapresentam comportamentotípico de rios de planalto, comdeclividades menores do queaqueles da vertente sul daSerra do Mar. Os tempos deconcentração dessas baciasvariam, entre 1 hora até váriashoras, como é o caso dasBacias dos Rios Paraibuna,Pomba e Muriaé.

Características Gerais dasBacias Hidrográficas do

Estado do Rio de Janeiro

A configuração da redehidrográfica fluminense refletea história das mutaçõesgeológicas e a influência dosfatores meteorológicosdominantes no Estado do Riode Janeiro.

A principalcaracterística do relevo é aSerra do Mar, que sedesenvolve ao longo doEstado, dividindo as águas emduas grandes vertentes.

Vertente Norte da Serra doMar

A vertente norte daSerra do Mar contribui para oRio Paraíba do Sul que nasceem São Paulo, recebeafluentes nesse Estado,atravessa o Estado do Rio deJaneiro, a partir de Resende,recebendo contribuições noEstado de Minas Gerais atéalcançar o Município de SãoJoão da Barra, à noroeste,onde deságua no OceanoAtlântico. Limitado ao norte pelaSerra da Mantiqueira, o

Emílio Teixeira

Page 45: Planágua 08 - Enchentes

44

No curso principal do Rio Paraíba do Sul

foram criados alguns reservatórios, a partir da

construção de barragens para fins de geração

de energia elétrica. Esses reservatórios

acumulam águas das enchentes, que são

liberadas gradativamente para jusante, ao longo

do ano, promovendo regularização das vazões

no curso d’água. Como resultado da operação

dos reservatórios, realizada para atender às

demandas de energia elétrica, tendo como

limites, sua capacidade de acumulação e a

situação dos níveis do leito do rio a jusante, há

uma compensação entre os valores

máximos e mínimos das vazões. As mínimas

são maiores e as máximas menores do que

aquelas historicamente naturais.

É importante citar o desvio para a

Vertente Atlântica da Serra do Mar, de até

160m3/s, através da Estação Elevatória de

Santa Cecília, na localidade de Piraí. Essa

transposição tem o propósito de reforçar os

volumes dos reservatórios que compõe o

Complexo LIGHT de geração de energia

elétrica e aumentar as contribuições do Rio

Guandu.

Page 46: Planágua 08 - Enchentes

45

que 100 km2, sendo que a do Rio Mambucabaatinge cerca de 610km2. O relevo acidentado,as fortes declividades e a elevada pluviosidade,são fatores determinantes para o regimetorrencial dos rios, que apresentam respostasquase imediatas à incidência das chuvas.

Na Região de Sepetiba, no sentido oeste- leste, até a Ilha da Madeira, os rios têmcaracterísticas semelhantes aos da Região daIlha Grande. É o caso dos Rios Saí, Prata eMazomba, com extensões de 10,5km, 5km e23km, nessa ordem. A partir desse ponto,observa-se extensa planície sedimentar drenadapor cursos de água de pequenas declividades,sendo os principais, os Canais de SãoFrancisco, São Fernando e Guandu.

Vertente Atlântica da Serra do Mar

Nas escarpas da Vertente Atlântica daSerra do Mar, onde as declividades são bastanteacentuadas, nascem os rios que drenam paraas Baías da Ilha Grande, de Sepetiba eGuanabara, bem como aqueles, na região lestedo Estado, que deságuam diretamente noOceano Atlântico, a exemplo dos Rios São Joãoe Macaé.

Na Região da Ilha Grande, comoconseqüência da proximidade da Serra do Mardo litoral, os cursos de água apresentampequenas extensões, média de 20km, à exceçãodo Rio Mambucaba, com comprimento de92km. As áreas de drenagem são menores

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O Canal de SãoFrancisco, chamadoinicialmente de Ribeirão dasLajes e depois, Rio Guandu,é o curso de água maisimportante da região, não sópelo volume, como também,por ser o principal manancialde abastecimento público daCidade do Rio de Janeiro. Aárea da bacia, é deaproximadamente 1350km2.

O Canal de SãoFrancisco recebe as vazõesregularizadas da UsinaHidrelétrica de Ponte Cobertaque faz parte do ComplexoLIGHT. As águas que chegamà Usina, têm, em grande parte,origem no Rio Paraíba do Sul,de onde são bombeados até160m3/s, através da Elevatóriade Santa Cecília.

Esses cursos de águasofreram, no passado, obrasde retificação de calha,eliminando os percursos maissinuosos para melhoraproveitamento das terrasanteriormente inundadaspelas enchentes. Por outrolado, essas intervençõesprovocaram alguns efeitosindesejáveis, como porexemplo, menor resistência àpenetração das águassalgadas da Baía de Sepetibapela ação das forças da maré,aceleração dos hidrogramas

João de Meriti e Sarapuí eIguaçu, com áreas dedrenagem de cerca de 160km2, 165km2 e 730km2,respectivamente, edeclividades muito pequenas.A nordeste, desenvolvem-seos Rios Alcântara, Guaxindibae o Caceribu, com nascentesnos Municípios de São Gonçaloe Itaboraí, e áreas decontribuição total deaproximadamente, 110km2,140km2 e 850km2,respectivamente. Esses riosque nascem nos maciçoscosteiros, em altitudes médiasque variam de 60m a 760m,percorrem, em seu trechoinferior, extensas áreas debaixada que originalmenteeram sistematicamentealagadas.

No recôncavo da Baíaencontram-se os cursos quenascem nas escarpas daSerra do Mar em altitudesmédias de 1000m.Apresentam declividadesbastante acentuadas no trechosuperior, trecho médio depouca representatividade eum longo trecho inferior, comaltitudes e declividades muitopequenas. Nessa regiãodestaca-se o Rio Macacu, comárea de drenagem em torno de1260km2 e os Rios Roncador,Iriri, Suruí e Estrela, com áreasde 110, 30, 70 e 340km2,respectivamente.

e rápida concentração dosvolumes das enchentes juntoas cidades litorâneas.

Os demais rioscontribuintes à Baía deSepetiba, fazem parte doterritório do Município do Rio deJaneiro, Zona Oeste. Nascemnas colinas e maciçoscosteiros em altitudes quevariam de 100m a 900m eatravessam, em seu trechoinferior, áreas de planíciescosteiras.

As bacias hidrográficascontribuintes à Baía deGuanabara apresentamdiferentes característicasfísicas regionais. Os rios quedesembocam próximo àentrada sudoeste da Baía,nascem nos maciços costeirosdo Município do Rio de Janeiroem altitudes variando entre30m e 600m, apresentampercursos pequenos e áreasde drenagem da ordem de50km2 (Canal do Cunha, Canaldo Mangue e Rio Irajá). Asudeste, no outro lado da Baía,já nos Municípios de Niterói eSão Gonçalo, estão o Canal doCanto do Rio, Rio Bomba e RioImboassu com áreas decontribuição inferiores a 35km2.

Seguindo na direçãonoroeste, encontram-secursos de água de maior portecomo os Rios São

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Portanto, constata-se

que a maioria dos riosafluentes à Baía deGuanabara possuem trechosinferiores bem caracterizados,longos e com baixadeclividade. A partir dos anos30, esses trechos foram alvode uma série de serviços delimpeza e desobstrução, queculminaram com a eliminaçãodos meandros naturais atravésde obras de retificação,drenando áreas alagadiças,permitindo, por outro lado, aocupação desordenada, semos devidos investimentospúblicos em infra-estruturaurbana (esgotamentosanitário, coleta de lixo, etc.).

As intervenções, realizadas

pela antiga Companhia deSaneamento da BaixadaFluminense, posteriorDepartamento Nacional deObras de Saneamento -DNOS, foram necessárias, aprincípio, para conter aproliferação do mosquitotransmissor da malária. Aregião que abriga os cursosinferiores dos Rios São João deMeriti, Pavuna, Sarapuí eIguaçu, conhecida comoBaixada Fluminense, é umexemplo dessa situação.

Mais adiante serãocomentadas as iniciativas dopoder público para amenizar osimpactos e controlar as

enchentes na referida área.Dentre as principais

bacias hidrográficas quedesembocam diretamente noOceano Atlântico, estão as dosRios São João e Macaé, comnascentes na Serra do Mar, emaltitudes próximas a 1100m eáreas de drenagem de2200km2 e 1760km2,respectivamente. Apresentamdeclividades acentuadas naspequenas extensões de seusformadores, atravessando, aseguir, longo trecho de baixada.Da mesma forma que oscursos inferiores dos rios daBaixada Fluminense, o SãoJoão e Macaé, tiveram váriostrechos e afluentes retificados,

REGIÃO HIDROGRÁFICA DA BAÍA DE GUANABARA

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causando significativosimpactos ambientais. Essasobras promoveram aumentoda velocidade de propagaçãodos hidrogramas de enchente,menor amortecimento dospicos de vazão e oagravamento das inundaçõesjunto às cidades litorâneas deMacaé (Rio Macaé) e Barra deSão João (Rio São João),principalmente, duranteperíodos de maré alta.

Os sistemas lagunaresdo Estado do Rio de Janeirosituam-se ao longo da linha decosta, desde a Restinga deMarambaia até a divisa com oEstado do Espírito Santo. Osrios que afluem às lagunas,com pequena área dedrenagem, nascem nosmaciços costeiros, percorremcurtas distâncias atésuas desembocaduras,apresentando, em geral,

regime torrencial. Entre osmais significativos em termosde história de inundações,estão aqueles afluentes aoSistema Lagunar deJacarepaguá, onde, além dascaracterísticas físicasdesfavoráveis da bacia,ocorrem precipitaçõespluviométricas muito maisintensas do que nas áreas daRegião dos Lagos.

Na região noroeste doEstado, desenvolve-se o RioItabapoana, limitando osterritórios dos Estados do Riode Janeiro e Espírito Santo.Nasce em Minas Gerais, naSerra do Caparaó, recebeafluentes nos três Estados edeságua no Oceano Atlântico.A bacia é alongada, com áreade drenagem da ordem de4800 km2 e curso principalcom extensão de 20 km.

O alto curso do RioItabapoana com fortedeclividade, tem porcaracterística diversas quedasd’água. O médio cursopercorre vales bemencaixados em região ondepredominam colinas. Essesdois trechos não apresentamhistoricamente inundaçõessignificativas.

O curso inferior, por

outro lado, percorre extensas

planícies e as inundações são

freqüentes nos períodos

chuvosos. Para drenar essas

áreas, da mesma forma que

nas demais áreas inundáveis

do Estado do Rio de Janeiro,

foram construídos canais e

retificados trechos de rios,

alterando o regime do

escoamento e do transporte de

sedimentos.Base Fundação CIDE

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49

Page 51: Planágua 08 - Enchentes

50

Pode ser definitiva, àmedida em que uma parcela dovolume da chuva armazenadanas depressões do terreno esobre a vegetação, retorna àatmosfera pelos mecanismosde evaporação.

A retenção temporáriagera um efeito regulador, emfunção das característicastopográficas da superfície, aexemplo de bacias deacumulação formadas porlagos, lagoas, lagunas,pântanos e áreas alagadiças.Apesar de também perderemágua para a atmosfera, retémgrandes volumes de chuvaliberando-os, gradativamentepara os cursos de água,segundo as taxas impostasconforme as característicasda drenagem local.

A tendência do homem

é ocupar a bacia hidrográfica

a partir das áreas planas, no

sentido daquelas mais altas,

não só para ficar mais próximo

dos corpos de água principais

(rios navegáveis, oceanos,

etc.), como também devido ao

relevo mais favorável e solos

mais férteis.

À medida que a área

urbana se expande para a

parte superior da bacia, a

capacidade de retenção natural

vai sendo, gradativamente,

descaracterizada e diminuída.

Essa descaracterização se dá

pelo desmatamento, pela

mudança dos padrões naturais

de drenagem e pela

impermeabilização do solo e

aterro de áreas alagadiças.

FATORES AGRAVANTESDAS ENCHENTES

Redução da Capacidadede Retenção Natural

A retenção naturaldesempenha importante papelno resultado da relação chuvax volume superficial. Atuafacil itando a infi ltração epromove o retardamento daelevação do nível das águasnas calhas dos rios e aredução dos volumesdisponíveis para osescoamentos superficiais.

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As modificações aumentarão adisponibilidade dos volumes das águas dechuva oferecidos ao escoamento superficial.Certamente, criarão novos cenários para o fluxodas águas na parte inferior da bacia, onde oestágio de urbanização mais avançado, talveznão comporte novas contribuições, criandosobrecargas no sistema de drenagem epossíveis transbordamentos, no caso de chuvasmais intensas e duradouras.

O desenho do percurso, a geometria ea declividade dos cursos de água, definem omovimento dos escoamentos e estabelecem acapacidade de armazenamento da calha. Rios

largos e sinuosos suportam maiores volumesde chuva dentro do seu próprio leito. Essearmazenamento temporário será tanto maiorquanto maior for seu caminho dentro da mesmaárea de drenagem. O potencial de retenção nacalha do rio sofre também a influência darugosidade do leito e da presença da vegetaçãociliar (ribeirinha), que atuam como mecanismosnaturais de resistência à energia do escoamento.O aumento da resistência promove a diminuiçãoda velocidade média com a conseqüenteelevação do nível das águas, maiorarmazenamento na calha e retardamento ediminuição do pico do hidrograma de enchente.

Andre Alves

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Notamos nas baciashidrográficas ainda nãoocupadas pelo homem, que anatureza cria condiçõesfavoráveis para umaconvivência harmoniosa entreas águas de chuva, a fauna ea flora. Determinanaturalmente o zoneamento,elegendo áreas que deterãomaior ou menor umidade eoutras sujeitas à inundaçõestemporárias, em função daschuvas.

Surge uma seleçãonatural do tipo de vegetação edas espécies da fauna quemelhor se adaptarão às áreassujeitas à inundação. Esteequilíbrio é mantido até achegada do homem pelanecessidade de ocupar a terra.

Novos domínios dentrodos limites da baciahidrográfica, poderão terdiferentes usos, isto é,estabelecimento de áreasresidenciais, industriais,desenvolvimento agrícola,corredores de tráfegorodoviário ou ferroviário, etc..

Qualquer que seja ouso do solo, a retenção naturalserá modificada. Mesmo emsub-bacias mais a montante,a descaracterização daretenção terá sua parcela deinfluência na formação dohidrograma, no trecho inferiordo curso de água principal.

Nas áreas urbanas dotadas de sistemas de esgotamentode águas pluviais, a redução da retenção natural é bastantesignificativa. As águas de chuva são rapidamente direcionadaspara as caixas coletoras internas das edificações que, por suavez, deságuam nas galerias implantadas sob as vias públicas.As águas juntam-se àquelas coletadas sobre as referidas vias erapidamente levadas para coletores – tronco ou diretamente parao curso de água mais próximo.

Nas áreas rurais onde a vegetação nativa foi substituída

por outra de interesse econômico, o manejo do solo também é

um agente modificador das características da retenção. O

desmatamento e o uso de máquinas pesadas no revolvimento

do solo e na aplicação de fertilizantes, alteram a estrutura original

do solo, compactando o subsolo e interferindo nas taxas de

infiltração.

Dependendo da declividade do terreno, da intensidade

das chuvas e do tipo predominante do material do solo (areias

de diversas granulometrias, argila, etc.), a agricultura praticada

irracionalmente com manuseio impróprio, pode intensificar os

processos erosivos. Ao longo do tempo o material erodido é

transportado gradativamente pelas forças do escoamento

superficial para os corpos de água mais próximos, obstruindo o

caminho das águas.

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A diminuição daretenção natural nas áreasrurais também se deve a outrasagressões causadas pelohomem. O plantio morroabaixo, a formação de pastoscom alta densidade de animais,acarretando o excessivopisoteio em determinadasdireções, formando trilhas queservirão para acelerar adrenagem das águas de chuva,e a abertura de valetasperpendicularmente às curvasde nível, com a finalidade dedividir e separar áreas, sãoalguns dos exemplos.

Nesse ponto, caberelembrar a importância dosobjetivos das novas políticasdirecionadas para aorganização do setor derecursos hídricos, tendo abacia hidrográfica comounidade de gestão.

À medida que osprincípios da nova políticaforem melhor absorvidos pelasociedade e o Poder Público,criados os comitês de bacia eestabelecida a gestãodemocrática e participativa dosrecursos hídricos, vislumbra-sea possibilidade de pensar abacia como um todo, onde aocupação do solo e os efeitosdas chuvas intensas poderãoser melhor controlados, atravésde ações preventivas

gerar a consolidação de novosvetores de ocupação do solo,invadindo áreas originalmentesujeitas a inundações naturais.

Conter essecrescimento é tarefa difícil semo prévio planejamento einvestimentos necessários, deforma a controlar e direcionara ocupação das terras.

Quando o quadro setorna irreversível sob o ponto devista sócio-econômico, restaao Poder Público,compromissar recursosfinanceiros no propósito deamenizar os prejuízos e osriscos envolvidos, de modo asalvaguardar os bens ebenfeitorias existentes.

Nas áreas onde oscursos de água naturalmentetransbordavam, realizam-seintervenções físicas, comoretificações de trechos,alargamentos de calha,construção de diques lateraisde contenção e canalizações,com o objetivo de melhorar ofluxo das águas e permitir aocupação do solo.

adotadas pelos próprioscidadãos e do planejamento deintervenções estruturais e nãoestruturais previamentediscutidas.

Obras deMacrodrenagem

As obras deengenharia para controle deenchentes serão melhorenfocadas adiante. Por hora,cabem alguns comentáriosgerais e a introdução deconceitos que tratam dosfatores agravantes dasenchentes gerados por taisobras.

O crescimento urbanodas cidades, dependendo dasua localização geográfica edo contexto ambiental na qualesteja inserida, se dá, aprincípio, para as áreassujeitas a menoresinterferências dos fenômenosnaturais, onde a ocupação éde menor risco. Aintensificação da expansãourbana, principalmente emtorno dos centros econômicosem desenvolvimento, pode

Foto: Fundação Rio Águas

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Essas obras deveriam,a princípio, fazer parte doplanejamento global da bacia,com relação ao controle dasenchentes, e estar inseridas noplano de ação previsto. Essaperspectiva não condiz com arealidade, pois, em geral, asintervenções são realizadasisoladamente e voltadasexclusivamente para osproblemas locais.

As soluções deengenharia para o controle dasenchentes devem estarvinculadas umas às outras,de forma integrada ecomplementar, com o

respectivo cronograma deintervenções planejado,ordenadamente, de jusantepara montante.

A não adoção dessesprincípios leva, muitas vezes,à diminuição dos efeitos dasenchentes ao longo de umtrecho de rio e sua área deinfluência em detrimento doagravamento em outras áreas,rio abaixo.

Um exemplo típico é aretificação de um trecho queapresenta meandros naturais.Nesse caso, a princípio, desdeque os parâmetros e critériosde projeto estejam adequados,

o volume de uma enchente

ordinária, acomoda-se no

trecho retificado, fluindo com

mais rapidez e encontrando

menos resistência, sem invadir

as áreas anteriormente

inundadas.

Eduardo Sengés

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Assim, o problema é simplesmentetransferido para os trechos subseqüentes, como aumento do risco de extravasamento, uma vezque o amortecimento natural que o hidrogramasofria a montante foi menor.

O quadro pode ficar mais crítico,dependendo da conformação da calha dejusante, da resistência oferecida aoescoamento e da influência de novas

contribuições laterais.Efeito semelhante é produzido pela

construção de diques em ambas as margens eao longo de um trecho cujo extravasamento doleito menor ocorre com freqüência. Novamenteo problema é transferido rio abaixo,concentrando rapidamente os volumes daságuas de chuva, agravando a situação nostrechos de jusante.

Eduardo Sengès

Eduardo Sengès

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Amortecimento do

Hidrograma de Enchente - O

hidrograma de enchente na

seção de montante de um

determinado trecho de um

curso de água não tem o

mesmo desenho ao deixá-lo.

Sofre uma deformação

representada pela diminuição

da vazão máxima e

achatamento do seu formato.

A deformação do hidrograma,

denominada amortecimento da

onda de enchente, se deve,

não só ao próprio

armazenamento dos volumes

dentro da calha, como

também, pela resistência à

passagem das águas, imposta

pela rugosidade do leito, ao

longo do trecho considerado.

As rugosidades são

caracterizadas pelo tipo do

material do fundo e das

margens (areia, pedras,

saliências ou revestimento

artificial), da vegetação

existente, e outras

perturbações físicas naturais

ou artificias. O grau de

Obstáculos Artificiais aos

Escoamentos Superficiais

Definições UsuaisÁlveo - É a superfície

que as águas cobrem, sem

transbordar para o solo natural

adjacente, ordinariamente

seco (enxuto). Portanto, o

álveo, na sua característica

plena, configura, de uma certa

forma, o leito menor do curso

de água.

Margem - É o

prolongamento natural e lateral

ascendente do álveo. Portanto,

as margens de um curso de

água também podem servir

para conter os escoamentos.

Se um observador se

posiciona de costas para a

nascente de um curso de água,

o seu lado direito indica a

margem direita e o seu lado

esquerdo, a margem esquerda.

Montante e Jusante -

Considerando a mesma

posição do observador

anterior, o trecho do curso de

água à sua frente é o de

jusante e aquele às suas

costas é o de montante.

amortecimento também é

muito influenciado pela

existência de percursos

sinuosos onde a energia do

escoamento é parcialmente

consumida.

Ocupação das Margens

O homem, ao usar as

margens de um curso de água

para alguma finalidade, quer

seja uma atividade agrícola,

uma construção qualquer,

como os apoios de uma ponte

ou travessia e mesmo

tornando-as áreas

residenciais, estará criando

obstáculos aos escoamentos

possíveis de ocorrência para

chuvas freqüentes.

Nas grandes cidades,

em virtude da procura por

residências próximo aos locais

de trabalho, infelizmente, é

dificil controlar, principalmente

nas regiões menos valorizadas

e menos atendidas pelos

investimentos públicos, o

avanço de moradias sobre as

margens dos cursos de água.

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A população menosfavorecida sob o ponto de vistaeconômico, procura,geralmente, essas áreas,consideradas de risco, paraestabelecer suas moradias,onde os loteamentos sãoimprovisados e ilegais e asresidências, construídas deforma compatível com osrecursos financeirosdisponíveis, resultam emdomicílios, muitas vezesprecários, ao longo dasmargens, interferindodiretamente nos álveos doscursos de água.

As residências, umavez estabelecidas, passam aser, não só uma restrição àcapacidade de escoamento dacalha, mas também, fontes depoluição, através dos esgotossanitários e o lixo geradospelos moradores.

À medida que aumenta a concentração das unidadesdomiciliares nessas áreas, a população avança no sentido dopróprio álveo, construindo pilares ou apoios diretamente no leitomenor para sustentar as casas ou barracos.

Os escoamentos gerados por chuvas intensas, além detransportar o lixo descartado ao longo do percurso, encontranesse tipo de construção, uma resistência enorme, provocandoa elevação do nível da água para montante, a diminuição dacapacidade de fluxo e o possível extravasamento comconseqüente inundação de áreas vizinhas. Dependendo dasvelocidades do escoamento, a pressão exercida sobre taisconstruções poderá causar o colapso das frágeis estruturas.

Foto: Fundação Rio Águas

Foto: Defesa Civil ERJ

Eduardo Sengès

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Essa situação muitocomum nas áreas de baixadae antigos alagadiços, agrava-se quando o curso de águasofre influência das marés.

As áreas marginais, apartir do limite da seção capazde escoar as enchentesordinárias, até uma certadistância que depende davegetação natural a serpreservada, são protegidaspor leis e outros diplomaslegais.

Essas áreas sãodenominadas de faixasmarginais de proteção(FMPs), sobre as quais, não épermitido qualquer tipo deconstrução.

O Código de Águas(Decreto no 24643, de 10/07/34) reserva uma faixa de 10metros para os cursos de águanão navegáveis e nãoflutuáveis, onde ficaestabelecida uma servidão detrânsito para os agentes daadministração pública emserviço.

Para os rios que sãonavegáveis e não sofreminfluência das marés, o Códigofixa um terreno reservado atéuma distância de 15 metros,em ambas as margens,contada desde o ponto médiodas enchentes ordinárias.

Quando existe vegetação natural junto às margens (mataciliar), outro diploma legal é tomado como referencia: o CódigoFlorestal. Segundo ele, a faixa de terra coberta pela vegetaçãonativa junto ao corpo de água deve ser preservada até a largurade 100 m.

No Estado do Rio de Janeiro, o órgão responsável pelademarcação da faixa marginal de proteção - FMP é a FundaçãoSuperintendência Estadual de Rios e Lagoas – SERLA.

Se o rio é navegável ou flutuável, a SERLA adota a faixaconforme estabelecido pelo Código de Águas e o terreno é dedomínio do poder público. Caso contrário, o terreno é depropriedade privada que, contudo, não pode ali construir nenhumabenfeitoria, a não ser, obras precárias que necessitam deautorização da SERLA, através de um Termo de Permissão de Uso.

A proibição de construções justifica-se, não só pelanecessidade de preservação das margens, como caminhonatural das águas, mas também em situações que requeiramlimpeza ou dragagem para retirada do excesso de materialsedimentado, recuperando a capacidade de escoamento docurso de água.

Portanto, a faixa marginal de proteção deve serrespeitada para o bem estar do próprio cidadão e suaseconomias.

Eugênio Monteiro

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ser considerados como um tipode perturbação, cujasconseqüências se refletirãonos padrões dos escoamentosnaturalmente estabelecidos.

A maioria dos aterrosdos álveos dos cursos de águasão ilegais, invadem a faixamarginal de proteção e sãorealizados exclusivamentepara aumentar os terrenosribeirinhos, com fins muitasvezes especulativos.

Os aterros efetuadosisoladamente, sem contemplar

as medidas corretivas e astécnicas adequadasnecessárias, acarretamalterações que podem serefletir na margem oposta; notrecho de montante porinfluência de remansos,provocando inundações; nostrechos de jusante, porrompimento repentino dopróprio aterro; na alteração daqualidade da água, peloaumento de sólidos emsuspensão e a destruição damata ciliar.

Convém salientar quea ocupação, ao longo dosanos, da área da baciahidrográfica e a conseqüenteimpermeabilização do solo,concorrerá como fatoragravante para o crescimentodo volume das enchentes,aumentando, ainda mais, osperigos que envolvem aconstrução de moradias nasmargens dos cursos de água.

AterrosAnteriormente, foi

mencionado que a calha deescoamento de um curso deágua forma-se e modela-se, aolongo dos anos, em função deuma série de condicionantes,tais como, a declividade doterreno, o tipo do solo, o regimedas chuvas sobre a bacia, ageologia, etc.. Portanto,configura-se uma situação deequilíbrio natural, envolvendoaqueles condicionantes epromovendo um desenho daseção transversal compatívelcom os escoamentos mínimose os gerados pelas chuvasmais freqüentes. Qualquerperturbação exercida sobreesse quadro de equilíbrio,provocará um novo cenário,muitas vezes, imprevisível.

Os aterros sobre osálveos dos cursos de águapela ação do homem, podem

Foto: PLANÁGUA

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encostas ou mesmo sobrelogradouros públicos.

Muitos cidadãos,cômoda e irresponsavelmente,utilizam-se dessa prática, como objetivo de se livrarem dosresíduos domésticos e, muitasvezes, de objetos de maiorporte e pesados que não lhessão mais úteis. Esquecem que,durante as enchentessubseqüentes, o lixoacumulado pode sertransportado para jusante, aosabor das correntes, até que

algum impedimento físico omantenha retido, formandobarreiras e aumentando aresistência ao escoamento.Tais obstruções geralmentepromovem a elevação do níveldas águas para montante,configurando gradativoremanso, com possívelextravasamento para as áreasmarginais, podendo atingir asresidências dos própriosresponsáveis, e o surgimentode novos caminhos dedrenagem.

LixoÉ importante ressaltar

que os cursos de água sãosimplesmente o caminhonatural das águas de chuva edas contribuições do lençolsubterrâneo, devendo,portanto, permanecer limpos edesimpedidos. Dado que esteprincípio é claro e que deledepende a segurança dapopulação ribeirinha nasocasiões de chuvas fortes, apresença de lixo nos cursos deágua pode ser considerada umindicador da distorção dehábitos entre os habitantes deuma mesma baciahidrográfica.

O problema é agravadopela carência de infra-estruturade coleta pública de resíduossólidos urbanos, em áreas dedifícil acesso, junto aos corposhídricos e encostas.

O lixo descartadodiretamente sobre as margensou o álveo dos cursos de água,diminui a capacidade doescoamento, gera poluição,mau cheiro, disseminação dedoenças de veiculação hídrica,e é fator acelerador daproliferação de vetores (ratos,mosquitos, moscas, etc.).Efeito semelhante ocorrequando as chuvas transportampara dentro dos cursos d’água,o lixo lançado sobre as

Eliane Barbosa

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A situação se agrava nas regiões debaixada, onde as declividades menorescausam a redução das velocidades doescoamento, a conseqüente sedimentação domaterial sólido em suspensão e a deposiçãodo lixo lançado ao longo dos trechos demontante.

Nas enchentes mais críticas, pelosmotivos expostos, o lixo, principalmente o

flutuante (garrafas plásticas, embalagens, etc.),acaba atingindo outros corpos de água, comolagos e baías, trazendo um cenário indesejávelpara quem em nada contribuiu para tal. Damesma forma, tomam áreas de preservaçãoambiental, como manguezais, prendendo-se navegetação, ameaçando a fauna e a flora,modificando significativamente a paisagem e aqualidade das águas.

Eliane Barbosa

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Pontes e Travessias

As pontes ou travessias sobre os cursos de água desempenham importante função naeconomia de uma região, na integração dos bairros e das cidades. Apesar de grandes aliadaspara encurtar caminhos e promover o desenvolvimento, podem representar uma ameaça duranteas enchentes.

Muitas vezes não são utilizados critérios de projeto e de construção compatíveis com anecessidade de escoamento das enchentes mais freqüentes. As obras são realizadas com oúnico e exclusivo objetivo de transpor o leito menor, implantando os pilares de sustentação deforma a estrangular a área da seção disponível para o fluxo das águas.

Soma-se a esse tipo de resistência, aquela decorrente do acúmulo de lixo, de sedimentose vegetação junto aos pilares, exigindo manutenção periódica, através de limpeza e desobstrução.

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Muitas vezes, as estruturas das pontes são utilizadas para sustentar tubulações (água,esgoto, gás, etc.), criando mais um obstáculo ao fluxo das águas.

Nas áreas urbanas é comum o aterro de pequenos trechos de rios, mantendo a passagemdas águas através de tubulões assentados diretamente sobre o leito, como soluções paliativaspara travessia de pedestres e até mesmo veículos, leves e pesados.

Essas obras, muitas vezes, improvisadas por questões imediatistas, para atender àpopulação, criam sérias barreiras ao fluxo, tornando-se causas potenciais para elevação dosníveis das águas e conseqüentes inundações, principalmente quando houver obstrução por lixoou sedimentos.

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Pontes inadequadas,

ocupação das margens

e do leito do rio,

lixo nos cursos da água

criam obstáculos

ao escoamento,

provocando elevação

do nível d’água,

inundação de áreas vizinhas e

o colapso das frágeis

estruturas,

causando grandes prejuízos.

PLANÁGUA

PLANÁGUA

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ENCHENTES NOESTADO DO RIO DE

JANEIRO

INÍCIO DA OCUPAÇÃODO SOLO

O conquistador

europeu, ao chegar ao Rio deJaneiro, encontrou a terra já

bastante ocupada por diversas

tribos indígenas, que desdetempos imemoriais, haviam

aqui se instalado. Viviam perto

da costa marítima, farta depescado e onde chegavam

águas puras de rios perenes.

Plantações demandioca para subsistência da

tribo existiam nas proximidades

das tabas, sendo a colheitapropriedade comum a todos. O

índio se integrava perfeitamente

à floresta e ao habitat,respeitando-os porque deles

dependia o seu sustento.

Como a CortePortuguesa, logo após o

descobrimento em 1500,

encontrava-se totalmentevoltada para o domínio e a

exploração das Índias e da

Costa da África, que lhes rendiavultosos lucros em ouro e

especiarias usadas na

conservação de alimentos(carne principalmente), nada

podia propiciar à terra recém

descoberta, além de visitas

esporádicas quesalvaguardassem o seudomínio territorial.

Primeiras expediçõesao território do Estado do Riode Janeiro logo após odescobrimento e fatosimportantes:

1501 – Comandada porAndré Gonçalves, tendoAmérico Vespúcio comonavegador - chegou à CaboFrio e adentrou à Baía deGuanabara, que tomoupela foz de um grande rio,daí o nome com quebatizou o acidente: Rio deJaneiro;1502 – Comandada porAndré Gonçalves -descobriu a Baía de Angrados Reis;1503 – 1504 –Comandada por GonçaloCoelho - lançou âncoras naatual Praia do Flamengo efez construir uma feitoria depedra – a Carioca (casa debranco, no dialetoindígena). Deixou asprimeiras mudas de canade açúcar;1515 – Comandada porJoão de Sollis – mapeou,em parte, a Baía deGuanabara;1531 – Liderada por MartinAfonso de Souza – sentoupraça na região da PraiaVermelha. Construiu uma

casa forte e um estaleiroanexo. Explorou por quase 2meses, o recôncavo da Baía,abrindo os primeiros caminhospara Minas Gerais. Estaprimeira incursão ao interior foidecisiva para Martin Afonso, naescolha preferencial da área desua capitania.

No 1o quartel do séculoXVI, o Rio de Janeiro era oponto de apoio de todas asviagens que se dirigiam para osul, reconhecendo a terradescoberta. Era também, umponto de embarque de pau-brasil (pau de tinta)contrabandeado por corsáriosfranceses, holandeses eingleses que, com muito boasrelações com os indígenaslocais, intensificavam suasincursões.

As invasões seintensificaram até 1553,quando Tomé de Souza, jáGovernador Geral do Brasil,comunicou a situação ao reiportuguês, solicitandoprovidências para ocupaçãopermanente da área, com afundação de uma cidade, sobpena de perder-se a terra.

A ameaçaconcretizou-se em 1555, coma chegada da armadafrancesa, comandada porNicolau Durand deVillegaignon, que veio serefugiar do braço da InquisiçãoCatólica.

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pertencesse à Capitania escolhida por Martin Afonso de Souzae as terras contíguas fossem objeto de concessão de seusdescendentes, depois da fundação da Cidade pelo GovernadorGeral do Brasil, as terras passaram a pertencer à CoroaPortuguesa, o que explica as muitas doações de terras(sesmarias).

Diversos foram osavisos à corte portuguesa e astentativas de retirar osfranceses das terrasbrasileiras.

O ataque aos redutos ea expulsão definitiva dosfranceses, em 1567, só foipossível com a vinda de Memde Sá, com poderosaesquadra, homens earmamentos e com reforço de200 índios, chefiados porAraribóia, que haviamembarcado no Espírito Santo.

Livre dos franceses esem a ameaça dos índios,Mem de Sá escolheu, parafundar a futura Cidade do Riode Janeiro, um morro bem acavaleiro, com ampla e planalombada e cuja praia em frenteoferecia calado para asembarcações (calabouço)onde providenciou aconstrução de um baluarte e decontrafortes passando a sechamar o local de Morro doCastelo.

Tal como numa cidademedieval, as muralhas dacidade eram dotadas de portasque impediam a entrada deinvasores e se abriam para asladeiras bastante íngremesque, galgando o morro, davamacesso e saída à cidade.

Embora parte da costaonde está compreendida aBaía de Guanabara

Contam-se, dentre as maiores sesmarias, a Sesmariados Jesuítas, que abrangia toda a atual zona da Leopoldina(integral) e parte da zona Central, estendendo-se até CampoGrande e a Sesmaria de Araribóia, que abrangia a Região deNiterói, Alcântara, São Gonçalo até Pendotiba (Aldeia de SãoLourenço).

Se a ocupação das sesmarias urbanas foi lenta, devidoao solo ser baixo e pantanoso, exigindo grandes aterros queeram feitos com lixo e demais detritos, a ocupação daquelassesmarias mais afastadas do centro urbano não foi realizada depronto.

O solo de toda a região costeira do Estado do Rio deJaneiro era constituído ou por manguezais que dificultavam oacesso às áreas interiores, ou por praias que formavam cordõeslitorâneos de lagunas circundadas por brejos, ou por rochedos.Além desses obstáculos naturais, existiam, nos locais favoráveisà penetração do conquistador, inúmeras aldeotas indígenas, nemsempre amigas.

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Assim, no século XVI,vamos encontrar as seguintespovoações, todas junto aodesenvolvimento dassesmarias:

São Gonçalo – oriunda daSesmaria de GonçaloCoelho, doada por Mem deSá, em 1565;Iterói (Niterói) – oriundada Sesmaria doada porMem de Sá à Antônio deMartins Coutinho, ia de SãoLourenço à Icaraí. Pordesistência deste, foidoada à Araribóia;

águas descia a produção emdireção à Cidade do Rio deJaneiro.

Os pontos deembarque do açúcar naBaixada dariam lugar amovimentadíssimos portoscomo os de Pilar, Estrela,Porto das Caixas e Suruí, quesó perderiam sua importânciano final do século XIX, com aconstrução das estradas deferro já escoando então, o caféproduzido no interior.

O crescimento dasexportações com a entrada dociclo do açúcar, faz a Cidadeexpandir-se do Morro doCastelo para a parte plana como gradual aparecimento damalha urbana.

O porto exportador doaçúcar para a Europa era o Riode Janeiro.

O primeiro engenho deaçúcar do Estado surgiu noséculo XVII, em 1650. Noentanto, a cultura da cana deaçúcar no interior somenteatingiu seu clímax no séculoXVIII, sendo que, em Campos,o auge se deu no século XIX.Anteriormente, ali sedesenvolvia a criação de gado.

Com a decadência dociclo do açúcar e o início dociclo do ouro (séculos XVII eXIX), o Rio de Janeiro passoua ser o centro importador debens vindos de Portugal e

No final do século XVI,inicia-se a ocupação dorecôncavo da Guanabara, quese daria, fundamentalmente,em torno da cultura da cana deaçúcar. Esta se expandiria porsobre os terrenos baixos,salpicados por colinas,seguindo do litoral em direçãoaos contrafortes da Serra doMar. Foi responsável pelodesmatamento da Região daBaixada e da ocupação daPlanície de Campos e daRegião de Parati.

O único acesso aointerior do recôncavo daGuanabara e a PlanícieCampista era feito por mar. Osbarcos subiam os rios quetiveram papel preponderantena ocupação da Região e noescoamento da produção doaçúcar, produzido nosengenhos do interior. Pelos riossubiam os colonizadores, àssuas margens localizavam-seos engenhos e por suas

Mirtir (Meriti) – origináriada Sesmaria de BrazCubas (fundador deSantos), recebido em1568, que deu início a umapovoação junto ao RioMeriti;Siripuí (Sarapuí) – origemdo atual Município deDuque de Caxias. A partirde 1566, várias sesmariasforam concedidas naRegião, dando origem adiversos núcleoshabitados;Aguassu (Iguaçu) –origem do atual Municípiode Magé. Em 1567, Simãoda Mota recebe a sesmariae cria a povoação de Magé,no Morro da Piedade;Macacu – origem do atualMunicípio de Cachoeiras deMacacu. Sesmariarecebida de Mem de Sá,em 1571, por Miguel deMoura;Guaxindiba – origem doatual Município de Itaboraí,redundou de umdesmembramento daSesmaria de Miguel deMoura;

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exportador de ouro e pedraspreciosas, trazidas de MinasGerais. As cidades do interiorcontinuaram a produzir açúcare gado. Passando à Capital doVice-Reinado do Brasil, ocentro urbano do Rio de Janeiroexpandiu-se de tal forma queD. João VI aqui chegando,expulso de Portugal porNapoleão, encontrou umacidade já capaz de bemrepresentar a capital do ReinoUnido de Portugal e Algarves.Com a vinda da corte, há umanova expansão urbana,passando a Cidade a não maisse restringir à região entre osMorros do Castelo e de SãoBento, mas ocupando a zonada Glória e do Flamengo, alémde São Cristóvão.

A Abertura dos Portos,em 1808, produz umincremento acentuado nasatividades comerciais. A vindada nobreza portuguesa àprocura de moradias, fazcrescer a construção e aexpansão da Cidade para aperiferia como a Glória, Catete,Flamengo, Laranjeiras,Engenho Velho e Tijuca, alémde São Cristóvão.

A independência doBrasil, em 1822, e atransformação da Cidade emcapital do Império do Brasil, fazcrescer ainda mais o comércio

para o interior e a situação de entreposto para as exportaçõesque passam a se diversificar, trazendo, em conseqüência, aexpansão urbana. Esta última foi, em todas as épocas,conseguida através de aterros de pantanais e manguezais dazona continental.

Com a expansão da cultura da cana de açúcar, a regiãoda Bacia do Rio Carioca e aquelas áreas contribuintes à Baciado Saco de São Diogo (Rios Maracanã, Joana, Trapicheiro eComprido) passaram a ser ocupadas por este cultivo.

Posteriormente, já no século XIX, o plantio da cana deaçúcar foi, paulatinamente, substituído pelo café, que dominou,principalmente, o Vale de Laranjeiras e as encostas da Tijuca,até o Alto da Boa Vista, já então, divididos em grandes chácaras,onde viviam, principalmente, os ingleses e franceses de algumanobreza, no Rio de Janeiro.

O início do ciclo do café no Império (século XIX) produzinicialmente o desmatamento das encostas da Cidade do Riode Janeiro, onde foi plantado. Transferindo-se para o interior doEstado até as fronteiras de São Paulo e Minas, as plantações decafé foram os grandes expansores da ocupação do solofluminense e os reativadores de sua economia.

A Cidade o Rio de Janeiro passa a ser a grandeexportadora da produção de café plantado no interior etransportado pelas estradas de ferro já existentes, que levam aprodução às cidades marginais aos rios da Baía de Guanabara(Estrela e Suruí), onde é embarcada em pequenas embarcaçõesà vela, que a trazem para o Porto do Rio de Janeiro, de onde éexportada. Esta produção, juntamente com a de São Paulo eMinas, sustenta economicamente o Império Brasileiro até o seufim, no final do século XIX.

A mata que recobria os morros e colinas, já derrubadapara a plantação da cana de açúcar, não mais protegia o solo daerosão, agravada pelo sistema usado no plantio. Por outro lado,o incêndio da mata, usado pela Polícia da Corte, para destruiçãodos primeiros Quilombos (o Quilombo do Corcovado, dirigidopor Sabancará, foi o pioneiro), em janeiro de 1829, aumentouainda mais a erosão, de tal forma, que fez diminuir aquantidade de água captada na Região e que abastecia aCidade, através do aqueduto da Carioca, jorrando as águaspelo Chafariz da Carioca, com suas 16 bicas, pela Fonte

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das Marrecas e pelo Chafariz do Carmo, pelas Bicas da Glória e do Largo do Moura, auxiliado pelaFonte do Convento da Ajuda.

Acreditando que as freqüentes faltas de água que assolavam a Cidade eram feito dodesmatamento dos mananciais, na Serra do Corcovado, o Imperador D. Pedro II ordenou, em1861, o reflorestamento da Floresta da Tijuca, criando assim o hoje denominado Parque Nacionalda Floresta da Tijuca. Esta empreitada ecológica pioneira, foi levada a cabo pelo Major Acher que,auxiliado por escravos, especialmente designados para esta tarefa, recuperou a floresta, usando,para tanto, mudas de várias árvores que foram plantadas. Estas mudas, tais como cedro, canela,peroba, jacarandá, pau-ferro, jequitibá, jaqueira, aroeira e muitas outras, haviam sido aclimatadase produzidas no Jardim Botânico. O reflorestamento durou por 13 anos de plantio e foi mantido eprosseguido pelos moradores da Região, destacando-se o Barão d’Escragnole e o Visconde deTaemay, que embelezaram locais dentro da florestas e abriram os atuais caminhos internos.

Na primeira década do século XX, já sob o regime da República, as necessidades deexpansão comercial e de exportação do café impuseram a criação de um porto dotado de novosequipamentos em substituição à grande quantidade de trapiches que existiam na orla marítima,desde a Gamboa até o Caju.

A construção do porto e sua operação implicou em grandes aterros na Baía de Guanabara,desaparecimento de ilhas e estreitamento da foz dos Rios Maracanã, Comprido, Joana eTrapicheiros, fazendo surgir o Canal do Mangue e, ainda, o aterro da vasta zona de manguezaisda Cidade Nova. Conseguiu-se desta forma, além do ganho territorial para ampliação da zonaurbana, o saneamento da Cidade, então assolada por endemias, como a febre amarela.

Posteriormente, os melhoramentos urbanísticos introduzidos na Cidade, com a aberturada Avenida Central (Av. Rio Branco), com o desmonte do Morro do Castelo e o conseqüente aterroda zona marítima do Calabouço até Botafogo e, pouco mais tarde, a criação, por aterro da Baía deGuanabara, do Bairro da Urca, expandiram a Cidade para o mar, transformando-a de um amontoadode casas acanhadas e cortiços, na cidade internacionalmente conhecida.

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Aterros marítimos semelhantes só foram realizados na década de 1950, com o desmontedo Morro de Santo Antônio e a criação do Parque do Flamengo e imediatamente após, com aampliação da Praia de Copacabana.

Portanto, de uma maneira geral, tanto na Cidade do Rio

de Janeiro como ao longo do recôncavo da Baía de Guanabara,

a conquista do espaço para a expansão urbana ocorreu

exatamente sobre áreas sujeitas à inundações freqüentes, como

brejos, várzeas, pântanos e manguezais. A impermeabilização

do solo se deu ao longo dos trechos inferiores dos rios onde, no

passado, as águas de chuva juntavam-se em pequenos braços

e se espraiavam por extensas áreas marginais antes de atingirem

o mar propriamente dito.

O desmatamento marcou a conquista e ocupação de

novas áreas e, infelizmente, embora em menor intensidade,

ocorre até os dias de hoje.

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ENCHENTES HISTÓRICASNA CIDADE DO RIO DE

JANEIRO

Se uma enchenteprovoca o extravasamento doleito maior de um corpo hídrico,em função de umadeterminada chuva, e se tornaconhecida pelos prejuízoseconômicos que acarreta, éconsiderada histórica. Poroutro lado se a área inundadafor desabitada ou semimportância econômica, seráapenas uma enchentenotável.

Enchentes históricassão sempre associadas àsgrandes chuvas quer por suaduração ou por sua intensidadee acontecem nas regiõeshabitadas.

Na Cidade do Rio deJaneiro só dispomos deregistros pluviométricos a partirde 1851. Anteriormente a essadata, temos notícias deenchentes históricas naCidade, através somente danarrativa de cronistas daépoca ou de viajantesestrangeiros que asregistravam em seus diáriosde viagem. Registros antigosde inundações fora da Cidadedo Rio de Janeiro não sãoconhecidos, à exceção defenômenos tipo “cabeçad’água” em rios do recôncavo

da Baía de Guanabara,descritas por viajantes que sedirigiam à Minas Gerais.

A primeira inundaçãogerada por uma enchentehistórica que se tem notícia,ocorreu no século XVI e nãotem registro escrito. É,entretanto, mencionada porcronistas posteriores doSéculo XVII que contam sobreuma ressaca, em data nãoprecisa, em período de maréalta, e uma chuva muitointensa de tal forma que,vencido pelo mar, o cômoro daRua Direita (atual Rua Primeirode Março) e com alagamentodos charcos da Cidade veio aatingir e transbordar as lagoasde Santo Antônio (Largo daCarioca), do Boqueirão(Passeio Público) e do Outeiro(Rua do Lavradio), interligando-as e formando um lagomar detoda a zona baixa da Cidade.Estendeu-se até a Prainha(Praça Mauá) e à Lagoa daSentinela (Frei Caneca), deforma que, os morros entãohabitados, do Castelo (RuaGraça Aranha e México), deSão Bento (São Bento) e dePedro Dias (Rua do Senado)se transformaram em ilhas.

No século XVIII foramnotáveis as enchentes de 21para 22 de setembro de 1711,quando a Cidade sofreu a

invasão francesa, capitaneadapor Duguay-Trouin. Na noite de21, os franceses após teremcapturado a Ilha das Cobras,iniciaram o célebre bombardeioda Cidade sob intensotemporal que alagou o Rio deJaneiro e facilitou a invasãofrancesa, tornando-a vitoriosa.

Um registro deBalthazar da Silva Lisboa narraque, em 14 de abril de 1756,aconteceu uma enchentehistórica na Cidade queperdurou por 3 diasininterruptos.

O terror se apoderoudos habitantes, fazendo comque todos procurassem abrigonas igrejas. Segundo ocronista, as águas cresceramde tal maneira que inundarama Rua do Ouvidor (MiguelCouto) e entravam casas adentro. A região entre oValongo (Praça Mauá) até aIgreja do Rosário (Rosário,esquina da Avenida RioBranco) ficou totalmenteinundada.

No século XIXaconteceram várias enchentesna Cidade. A principal delas foia de 10 a 17 de fevereiro de1811, conhecida como “Águasdo Monte”, pela destruição noMorro do Castelo, quandodesabaram várias casas,muralhas e barracos com

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grande perda de vidas.Inquérito aberto por ordem deD. João VI apurou comocausas da enchente, a falta deconservação das valas edrenos “pelos entulhos e lixose demais imundícies lançadosnelas”.

Outras enchenteshistóricas ocorreram no Rio deJaneiro no século XIX em 1833,1862 e 1864. Esta última, porser originária de uma chuva degranizo que destelhou toda aCidade, ficou conhecida como“chuva de pedra”.

Com o crescimento dazona urbana e ocupação dezona suburbana no século XX,as enchentes históricastornaram-se mais freqüentes,devido também, à maiorimpermeabilização do solo.Registram-se as seguintesenchentes:

• Em 1916 (de 7 a 9 de março e 17 de junho) com transbordamento do

Canal do Mangue em ambos os eventos;

• Em 3 de abril de 1924, além do já costumeiro transbordamento do

Canal do Mangue, desabamentos de barracos com vítimas no Morro de São

Carlos;

• Em 26 de fevereiro de 1928, com desabamentos e mortes nos morros

de São Carlos, Salgueiro, Mangueira e Santo Antônio, além da cheia da

Praça da Bandeira;

• Em 9 de fevereiro de 1938, com chuva de 136mm/24 horas, com

alagamento da Praça da Bandeira e desabamentos de prédios com mortes;

• Em 29 de janeiro de 1940, com chuva de 112mm/24 horas, provocou

alagamento em toda a Cidade e desabamentos com mortes no Santo

Cristo;

• Em 17 de março de 1906, quando

165mm de chuva precipitaram-se

em 24 horas, ocorrendo o

transbordamento do Canal do

Mangue e desmoronamentos com

mortes nos Morros de Santa Teresa,

Santo Antônio e Gamboa;

• Em 23 de março de 1911, 150mm

em 24 horas, provocou nova

inundação na Praça da Bandeira;

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• Em 6 e 7 de janeiro de 1942, com 132mm de chuva provocando

desabamentos no Morro do Salgueiro;

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• Em 20 de março de 1983 e em

24 de outubro de 1983 ocorreram

temporais em Santa Teresa e em

Jacarepaguá com desabamentos de

casas;

• Em 18 de março de 1985, as

enchentes provocaram 23 mortes e

200 desabrigados e em 12 de abril,

caíram 144mm/24 horas, alagando

Jacarepaguá;

• Em 6 e 7 de março de 1986, com

121mm de chuva, provocou

deslizamentos de encostas e, no dia

29 de dezembro do mesmo ano,

temporal de 64 mm/3horas, fez

transbordar o Rio Maracanã;

• De 18 a 21 de fevereiro de 1988,

ocorreu a maior enchente histórica

deste século, com mais de 430mm

de chuva;

• Em 18 de abril de 1990,

enchente no Parque do Flamengo

com 165mm/24 horas e, em 7 de

maio, outra chuva com 103mm/24

horas, provocaram mortes no Glória

e no Maracanã;

• Em 5 de janeiro de 1992,

temporal com 132mm/24 horas

afetou o Maracanã e toda a Zona

Norte da Cidade;

• Em 27 de fevereiro, 6 de março,

12 de março e 19 de março de 1993,

chuvas de grande intensidade, com

duração média de 6 horas,

provocaram paralisações do

transporte da Cidade;

• Em 9 de junho de 1994,

enchente no J. Botânico, com chuva

de cerca de 100mm, interrompeu o

acesso à Zona Sul da Cidade;

Em 14 de fevereiro de 1996, chuva

com 200mm/8horas, comparável

àquela das “Águas do Monte” (1811)

castigou as Zonas Oeste e Sul,

provocando o caos urbano.

Em diversos desses

eventos, houve coincidência

com maré de sizígia, ou seja,

período em que a maré alta

atinge níveis máximos.

Em quase todas as

grandes enchentes do século

XX, a Praça da Bandeira foi

atingida, o que é bastante

compreensível a partir da

observação dos mapas do Rio

de Janeiro, no início da

colonização e compararmos

com a época atual. O

estreitamento sofrido pela foz

do Canal do Mangue com os

aterros para construção do

Cais do Porto, fizeram com

que o escoamento pelo

mesmo ficasse mais lento. A

boca do canal que, segundo os

cronistas, possuía mais ou

menos 500m de largura,

passou a ter menos de 30

metros.

• Em 17 de janeiro de 1944, com

172mm/24 horas, ocasionando

transbordamento do Canal do Man-

gue, Praça da Bandeira, além do

Catete e Botafogo;

• Em 6 de dezembro de 1950 e

março de 1959, com habitual

alagamento da Praça da Bandeira;

• Em 15 e 16 de janeiro de 1962,

com um total de 242mm, com os

alagamentos habituais e quedas de

barracos;

• Em 11 de janeiro de 1966

ocorreu uma das maiores

enchentes da história da Cidade,

com uma chuva de 237mm/24

horas. Nos dias subsequentes, a

chuva continuou muito forte, com total

colapso do sistema de transporte e

na distribuição de energia elétrica;

• Em janeiro e fevereiro de 1967,

com efeito idêntico à chuva de 1966,

atingiu os bairros da Zona Norte,

principalmente a Tijuca;

• Em 26 de fevereiro de 1971, 17

de janeiro de 1973, 4 de janeiro de

1975 e 1 de maio de 1976, enchentes

com chuvas variando de 125 a

150mm/24 horas provocaram

desmoronamentos e impediram a

circulação na Cidade;

• Em 8 de dezembro de 1981,

choveu quase 15% do total médio

anual, com deslizamentos em toda

a Cidade e transbordamento de rios

e canais em Jacarepaguá;

• Em 3 de dezembro de 1982,

apesar da pouca intensidade da

chuva, ocorreram transbordamentos

no Rio Faria Timbó;

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Desse período até 1931, novas comissões se sucederamna execução de obras semelhantes que perdiam eficácia emcurto prazo.

Em 1933, a recém criada Comissão de Saneamentoda Baixada Fluminense elaborou planos de saneamento paraa Baixada de Sepetiba, com a finalidade de drenar as áreasalagadiças e promover a ocupação, através da agricultura.

O DNOS executou, entre 1935 e 1941, os serviços eobras previstas no referido plano. Esse conjunto de intervençõesé considerado, desde então, o maior na região, para controledas enchentes.

As ações contemplaram os trechos fluviais da baixadado Canal de São Francisco e Rios Guandu, da Guarda, rios daatual Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro e outros empequenas bacias, em Mangaratiba.

No período, foram construídos diques longitudinais deterra, ao longo do Canal de São Francisco e do Rio Guandu-açu,desde a antiga Estrada Rio - São Paulo até as respectivasdesembocaduras.

Foram concluídas dragagens em cerca de 270km decursos de água, abertos 620km de valetas e erguidos 50km dediques de proteção.

A ocupação e impermeabilização de novas áreassomadas à falta de manutenção das calhas, levaram a SERLA,em 1979, a contratar a elaboração do Plano Diretor deMacrodrenagem da Baía de Sepetiba, que, no entanto, não foiexecutado.

Atualmente, tanto a SERLA como a Prefeitura da Cidadedo Rio de Janeiro, atuam na área, com pequenas obras delimpeza e canalização.

Apesar de todo o investimento ao longo dos anos,transformando a região numa verdadeira teia de canais e valetas,a um custo ambiental elevado, dada a eliminação de extensasáreas de brejo, desfiguração da mata ciliar e de parte dosmanguezais, a área ainda oferece ameaça de inundaçãosignificativa, principalmente na coincidência de períodoschuvosos e maré alta.

Principais Obras deControle de Enchentes

Região Hidrográfica daBaía de Sepetiba

A Baixada de Sepetibaé drenada por uma série decursos de água, sendo o maisimportante, o Rio Guandu –Canal de São Francisco.

O baixo curso doGuandu e de outros riosmenores que deságuam naBaia de Sepetiba, áreacompreendida entre Itacuruçáe Guaratiba (Município do Riode Janeiro), foram alvo dediversas obras de drenagem eendicamentos, desde o tempoda Sesmaria dos Jesuítas.

Já naquela época(1729 – 1759), as águas do RioGuandu foram desviadas parao Rio Itaguaí e abertas as Valasdo Itá e São Francisco,paralelas ao Guandu, além dediversos canais transversais deirrigação e drenagem.

Por se tratar de umaregião muito baixa, comrelação ao nível das águas daBaía de Sepetiba, suaocupação só foi possíveldepois de inúmeras obras quetiveram início em 1920, sob aresponsabilidade da ComissãoFederal de Estudos paraDesobstrução do RioGuandu e seus Afluentes.

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Cabe ressaltar a existência do Sistema Light de Geraçãode Energia Elétrica, que altera o regime de vazões naturais do RioGuandu. É responsável pela injeção na Bacia do Guandu, de até189 m3/s, desviados da Bacia do Rio Paraíba do Sul, pelasEstações Elevatórias de Santa Cecília (160m3/s), no Rio Paraíbado Sul, e Vigário, no Rio Piraí, afluente do Paraíba pela margemdireita, que teve o curso desviado.

O Sistema é composto pelos Reservatórios de SantaCecília, Santana, Vigário e Tocos, na vertente do Paraíba do Sule Ribeirão das Lajes e Ponte Coberta, na Bacia do Rio Guandu.A operação integrada desses reservatórios é voltada parageração de energia nas Usinas Hidrelétricas de Nilo Peçanha eFontes Nova, situadas logo a jusante da Represa de Ribeirãodas Lajes e, posteriormente, na Usina de Pereira Passos, noRio Guandu.

Região Hidrográfica daBaía de Guanabara

A necessidade deexpansão da malha urbana daCidade do Rio de Janeiro, nofinal do século passado, foi oprincipal motivo para o iníciodas grandes intervenções quealteraram o padrão natural dedrenagem das terras baixas noentorno da Baía de Guanabara.

A extensa área, rica emmanguezais, brejos e várzeas,situada entre Meriti eGuaxindiba, foi ocupada,gradativamente, à medida queas obras de drenagem edragagem avançavam,acompanhando a abertura denovas vias de acesso.

As primeiras obrastiveram início em 1894, sob ocomando e orientação daComissão de Estudos eSaneamento da Baixada e seestenderam até 1900.

Na realidade, essasiniciativas beneficiaram terrasde grandes proprietários, parafins agrícolas e navegação dosrios. Na época, foramalargados, aprofundados eretificados, trechos do Canalda Piedade e dos Rios Estrelae Imbariê.

Posteriormente, noperíodo 1910 – 1916, a ComissãoFederal de Saneamento eDesobstrução dos Rios

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que Deságuam na Baía deGuanabara atuou de formaampla na região, alterando, emdefinitivo, a configuração físicados trechos inferiores dosprincipais rios afluentes à Baía.

Contratada pelareferida Comissão Federal, aempresa de Melhoramentos daBaixada Fluminense efetuou asseguintes obras (Amador,1997):

Rio Meriti – retificação,alargamento e dragagemde 2,2km junto àdesembocadura;Rio Sarapuí – retificaçãoaté a Estrada de FerroLeopoldina e interligaçãocom o Rio Iguaçu, atravésda abertura de um canalartificial;Rio Iguaçu – retificação,alargamento e dragagemde 2,7km;Rio Estrela – retificação,alargamento eaprofundamento de 2,8km.Em 1913, o trecho sofreunova intervenção com oaumento da extensãoretificada. A largura passoupara 50m;Canal Inhomirim – canalartificial aberto numaextensão de 3,24km, com40m de largura;Canal Saracuruna –afluente pela margemdireita do Rio Estrela, foi

aberto numa extensão de2,1km;Rio Suruí – retificação,alargamento e dragagemde 1,5km do trecho inferior,junto à desembocadura naBaía;Rio Guapi – retificação,alargamento e dragagem,numa extensão de 5,8km;Rio Macacu – retificação,dragagem, alargamento eaprofundamento de 3,8km,passando a 60m delargura e 2,5m deprofundidade média.Posteriormente, essetrecho foi interligado ao RioGuaxindiba, através doCanal do Furado, abertoartificialmente.Na realidade, essas ações

não devem ser consideradascomo obras de controle deenchentes, pois tinham porúnico objetivo: tornar secos osterrenos úmidos marginais,ainda não ocupados.

A transformação docenário natural trouxe gravesconseqüências à natureza dosecossistemas, pela alteraçãoda circulação das águasestuarinas, da salinidade, daerosão e da sedimentação.

A continuidade dodesmatamento e o avanço daurbanização, geraram novascaracterísticas doshidrogramas de enchente que,

sob as condições geométricasimpostas às calhas dos rios,intensificaram o processo deerosão e sedimentação. Asobras tornaram-se inúteis empouco tempo e maisinvestimentos foramnecessários.

No início dos anos 30,a drenagem deficitária e asinundações crônicas das áreasbaixas, levaram o GovernoFederal a criar, em 1933, aComissão de Saneamentoda Baixada Fluminense.

Novas dragagens,retificações e alargamentosseriam realizados com o únicopropósito de, a princípio,melhorar as condições dedrenagem, permitir a ocupaçãode novas terras e combater omosquito transmissor damalária.

A referida Comissãoampliou suas atividades e foi ajustificativa para que, em 1934,o Governo criasse oDepartamento Nacional deObras de Saneamento -DNOS.

O DNOS prosseguiu naadoção das mesmas soluçõesde engenharia para o controledas enchentes e inundações.

Em 1947, foram iniciadasas intervenções que iriamdescaracterizar a drenagemnatural da parte baixa da Baciado Rio Caceribu e Macacu.

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Até então, o Macacu era afluente do Caceribu pelamargem direita. A região do baixo Caceribu sofria inundaçõesnaturais sobre extensas áreas de manguezal e de várzeas.

As elevadas declividades dos cursos de água, na regiãoalta da Bacia do Macacu, criavam condições propícias para arápida formação das enchentes, fato que intensificava o potencialde inundação das áreas marginais do baixo Caceribu.

Para evitar tal cenário e permitir a ocupação das terras, oDNOS abriu, artificialmente, o Canal de Imunana, interligando ocurso do Rio Macacu, logo a jusante da confluência com o Guapi-açu, com o Rio Guapimirim.

Outras intervenções estavam programadas pelo DNOSno âmbito do Projeto Fundo da Baía de Guanabara, visando,exclusivamente, a drenagem das terras, sem uma preocupaçãomaior com a componente ambiental.

Depois de árdua luta travada por ambientalistas,finalmente, em 1984, foi criada a Área de Proteção Ambiental deGuapimirim.

Ainda no período entre 1947 e 1957, a Bacia do Caceribusofreu intervenções semelhantes. O curso principal teve cercade 36km retificados, bem como vários trechos de seus principaisafluentes.

Em 1979, o Programade Erradição da Sub-habitação – PROMORAR,criado e conduzido pelo entãoMinistério do Interior, visava aatender os moradoresassentados sobre palafitas,em áreas alagadas oualagáveis.

Coube ao DNOS, maisuma vez, sanear e recuperartais áreas e, ao extinto BancoNacional de Habitação – BNH,financiar as obras.

O PROMORAR tinhacomo linha mestra de ação,criar grandes aterros sobreterrenos sujeitos a inundaçãoou alagados, mantendo osmoradores no mesmo local.

Extensas áreas doespelho de água da Baía deGuanabara foram aterradas,permitindo o avanço daurbanização sobre terrenosfrágeis, praticamente ao níveldas águas da Baía e sujeitosaos trasbordamentos dostrechos inferiores dos rios quetiveram seus cursosprolongados.

Foram 11 milhões dem3 de aterro hidráulico e 7milhões de m3 de aterromecânico, com a criação de2,7km2 de área para novashabitações, junto aossegmentos de jusante dostrechos inferiores,principalmente dos Rios Irajá,São João de Meriti e Iguaçu.

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Ao longo do baixo cursodo Rio Sarapuí foramconstruídos diques laterais e,pela margem direita,estendendo-se por 1,5km, umcanal auxiliar interceptandopequenos afluentes e valões,com área de contribuição totalcerca de 15km2. Atualmente,parte desses diquesapresentam cotas decoroamento insuficientesdecorrentes de recalqueslocalizados ou da retirada deterra por terceiros.

Pela margem esquerdado Sarapuí, no trecho hojecompreendido entre asAvenidas Presidente Kennedye a Automóvel Club, foramconstruídos diversos pôlderespara confinar parte das águaspluviais em reservatóriospulmão, reduzindo os riscosde ocorrência deextravasamento do RioSarapuí, principalmente nosperíodos de maré alta na Baíade Guanabara.

No início de 1982, apósas inundações que causaramgrandes danos às populaçõesda Região Serrana e BaixadaFluminense, o então Ministériodo Interior encarregou aoDNOS, a execução doPrograma de Controle deEnchentes e Combate àErosão da Região Serrana eBaixada Fluminense – RSBF.

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O DNOS passou a atuar, novamente, executando obras de defesa contra erosão econstruindo pontes no Município de Magé (Rios Suruí, Caioaba, Conceição, Branco, Roncador eseus afluentes).

O cenário de calamidade pública que se configurou na Cidade do Rio de Janeiro e BaixadaFluminense, logo após as chuvas intensas e duradouras do verão de 1988, foi o suficiente paraque, em condições emergenciais, o Governo do Estado tomasse empréstimos da ordem de US$150 milhões, junto à Caixa Econômica Federal – CAIXA e ao banco Mundial – BIRD.

Surge o Programa Reconstrução-Rio, constituído de várias componentes setoriais, comênfase na drenagem. No âmbito deste componente, obras de micro e macro drenagem foramrealizadas nas Bacias dos Rios Sarapuí, Pavuna, Meriti, Iguaçu, Botas, Inhomirim, Estrela, Canaldo Cunha e outros (dragagem, canalizações, proteção de margens, remanejamento de populaçãoe substituição de pontes e equipamentos públicos).

A mais importante obra do Programa Reconstrução-Rio foi a barragem de laminação decheias do Rio Sarapuí, em Gericinó (Município de Nilópolis), tendo sido incluída no elenco deintervenções do Projeto de Macro e Mesodrenagem das Bacias dos Rios Sarapuí e Pavuna-Meriti,sob responsabilidade da Serla.

A barragem, composta de dois trechos laterais em terra e uma estrutura central de concreto,tem por finalidade, o amortecimento dos picos dos hidrogramas de enchente afluentes à regiãourbana da Bacia do Rio Sarapuí.

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A bacia de acumulação criada pela barragem, situa-sedentro dos limites do Campo de Gericinó, área de treinamentodo Exército.

As contribuições ordinárias a montante da obra fluemnormalmente no leito do Sarapuí, passando pela barragematravés dos orifícios de descarregadores de fundo, situados naparte inferior da estrutura de concreto. Comportas permitemcontrolar a vazão máxima liberada para a área urbana de Nilópolis,a jusante, compatível com a capacidade de escoamento da calhado Rio Sarapuí. Acima da vazão mantida pelos mecanismos decontrole, as águas das enchentes são armazenadas dentro dabacia de acumulação, inundando, temporariamente, o Campode Gericinó.

No caso de chuvasexcepcionais e possívelfalha operacional dosdescarregadores, as águasserão liberadas para jusantepelo vertedouro existente notopo da estrutura de concreto.

Aproveitando asmesmas idéias que permitirama concepção da solução deengenharia para o controle dasinundações na área urbana deNilópolis, a SERLA projetou econstruiu uma barragemsemelhante, no Rio Pavuna,utilizando também o Campo deGericinó como baciatemporária de acumulação dosvolumes excedentes.

As duas bacias foraminterligadas por um canal de720m de comprimento, com opropósito de permitir oaumento da capacidade dearmazenamento do conjuntodas duas bacias deacumulação. Acima de umadeterminada cota, as águasretidas pela Barragem do RioSarapuí são compartilhadascom a bacia de retençãoformada pela Barragem doPavuna.

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Bacia do Rio São João

Com a justificativa decontrolar as enchentes, limitara extensão das áreasinundáveis e proporcionar aocupação das terras marginaisdo baixo curso do Rio SãoJoão, o DNOS entregou àsociedade, no início dos anos80, o Dique-barragem e oconseqüente Reservatório deJuturnaíba.

Localizado entre osMunicípios de Araruama e SilvaJardim, tinha o propósito delaminar os hidrogramas deenchente para o curso inferiordo Rio São João e possibilitara regularização dos volumesafluentes, garantindo vazõespara a irrigação de áreasselecionadas pelo ProgramaNacional do Álcool e outras dediferentes cultivos e, ainda,sustentar as demandas paraabastecimento públicodomiciliar e industrial.

O projeto foi incluído,em 1975, no ProgramaEspecial de Controle deEnchentes e Recuperaçãode Vales, entregue ao DNOS,em 1976, que concluiu a obraem 1984. O início doenchimento do reservatório sedeu em 1982.

O Dique-barragem tem3.46km de extensão, suacrista está na cota 11, emrelação ao zero do

IBGE e é dotado, na parte central, de um vertedouro-barragem

de concreto armado. O vertedouro é do tipo labirinto com 4

elementos, totalizando 710m de extensão.

Em ambos os lados, foram construídas, em cotas mais

baixas, duas tomadas de água, controladas por stop-logs, a

montante e comportas a jusante.

A obra de represamento ampliou a área do antigo espelho

d’água da Lagoa de Juturnaíba, de 5,56km2 para 30,96km2, isto

é, aproximadamente 5 vezes mais que a configuração natural.

A antiga lagoa acumulava, em média, cerca de 10 milhões

de m3 e possuía geometria superficial retangular, com 1.6km de

largura, por 3.7km de comprimento, apresentando profundidade

média de 4m.

O atual reservatório possui forma irregular, com

comprimento máximo de 17km e é capaz de armazenar em torno

de 100 milhões de m3 de água.

Paralelamente à construção da barragem, vários cursos

de água sofreram retificação, alargamento e aprofundamento.

Ao longo da região do baixo São João, o DNOS construiu um

“canal de saneamento” cuja extensão é 52% menor que a da

calha natural, com aproximadamente 24km, interligando a saída

da bacia de dissipação da Barragem de Juturnaíba com o trecho

inicial do curso inferior. O canal de saneamento cortou os

meandros naturais do Rio São João que hoje se constituem em

calhas abandonadas.

Da mesma forma, os afluentes que desenhavam

meandros pela planície aluvionar de inundação, foram retificados

durante e após a construção da barragem.

As obras do DNOS, da mesma forma que na Baixada

Fluminense, causaram grandes impactos ambientais em troca

da recuperação de extensas áreas improdutivas, alagadiças e

sujeitas a inundação.

Atualmente, o corpo da barragem, estruturas auxiliares e

equipamentos do Dique-barragem, bem como os cursos de água

retificados encontram-se em estado de conservação precário.

Em decorrência da falta de manutenção, a obra apresenta

problemas de ordem estrutural, isto é: infiltrações;

deslocamentos superficiais da camada de concreto, em vários

Page 92: Planágua 08 - Enchentes

91

pontos da crista do vertedouro; problemas graves nos canais laterais de fuga, como fissuras,trincas e colapso de parte dos muros terminais; lasca nos pilares de sustentação das comportase constatação de erosão retroprogressiva a jusante da bacia de dissipação de energia.

Atualmente, o dique-barragem não cumpre a função de laminação dos hidrogramas deenchentes críticos, uma vez que há necessidade de investimentos para recuperar os mecanismose estruturas de regularização e controle.

As comportas, mesmo emperradas, são operadas pela Prefeitura de Silva Jardim, cujocritério é desconhecido e não atende à bacia hidrográfica a jusante.

Dentro do contrato de concessão das águas do reservatório para abastecimento domiciliarda Região dos Lagos, a concessionária Águas de Juturnaíba ficou responsável pela realização deserviços de manutenção do dique-barragem. Tais serviços não são claramente discriminados nocontrato e não tem o propósito de estabelecer regras operacionais para as estruturas eequipamentos visando o armazenamento e regularização dos volumes afluentes.

Page 93: Planágua 08 - Enchentes

92

Bacia do Rio Macaé

Ao final da década de 60 e durante o início dos anos 70,o DNOS efetuou obras de dragagem, retificação e alargamentode vários cursos d’água na região do Baixo Macaé.

Na época, foi aberto um canal retilíneo, deaproximadamente 26km, ao longo da margem esquerda do RioMacaé, desabilitando os meandros da calha natural e drenandoáreas alagadiças da planície aluvionar.

A pretensão do DNOS e do INCRA, detentor das áreas,estava voltada para a recuperação de áreas alagadiças e várzeas,permitindo o aumento do cultivo do arroz, cana de açúcar ecítricos, reduzindo a pecuária. Desenvolvia-se a idéia de um planoagropecuário a ser integrado com a Bacia do Rio São João.

As intervenções do DNOS, à semelhança daquelasexecutadas no baixo São João e tributários, trouxeram impactosambientais irreversíveis, como a diminuição de pescado, emdecorrência da redução das áreas de postura e odesaparecimento parcial de extensas várzeas dotadas devegetação natural.

Haviam estudos à época paraimplantação de uma barragempróximo da localidade de PonteBaião, na altura do trecho finaldo curso médio do Rio Macaé.

A obra tinha porobjetivo laminar as enchentescríticas e regularizar as vazõesdurante períodos de estiagem.

Baixo Curso do Paraíbado Sul

As muitas inundaçõesque atingiam a Baixada dosGoitacazes, decorriam dosperiódicos extravasamentosda calha do Rio Paraíba do Sul.Em 1966, se deu a maiorinundação observada naregião, com uma vazãomáxima estimada em 6000m3/s,tendo as águas do Paraíbaultrapassado e destruído váriostrechos dos antigos diquesexistentes.

As conseqüências paraa economia foram sérias,arruinando toda a safra de canade açúcar, paralisando asusinas e atingindo duramentea Cidade de Campos eperiferia.

Os efeitoscatastróficos da enchente,motivaram a liberação deverbas e o inicio da maior obrade controle de inundações daBaixada dos Goitacazes.

Page 94: Planágua 08 - Enchentes

93

O DNOS, responsável pela execução dos serviços,apresentou um plano de obras que visava, principalmente,concluir os diques da margem direita do Paraíba, inverter o fluxode todos os canais afluentes, no sentido da Lagoa Feia, e esgotara Lagoa, por meio de um único canal (Canal da Flecha)diretamente ao mar, pela Barra do Furado.

O projeto foi concebido de modo a confinar as águas doParaíba em sua calha, por meio de diques, e drenar toda ascontribuições da margem direita para a Lagoa Feia, quefuncionaria como reservatório de compensação, ligado ao marpor um canal de descarga.

Em 1975, essas obras estavam praticamente concluídas.Posteriormente, no âmbito do Programa Especial de Controlede Enchentes e Recuperação de Vales, o DNOS implantouum sistema de comportas no Canal da Flecha, permitindo aregularização dos níveis da Lagoa Feia e limitando a penetraçãoda água do mar, nas marés altas.

Também foram construídas 6 tomadas d’águacontroladas por comportas no Rio Paraíba do Sul, que passarama utilizar, nos períodos de estiagem, as calhas de seus antigostributários, agora com o sentido do fluxo invertido, como canaisde irrigação de extensas áreas de plantio de cana de açúcar.

As mais importantes,pela margem direita, são astomadas para o CanalCampos – Macaé, com opropósito de possibilitar amanutenção do nível da LagoaFeia e irrigação das áreasmarginais e, as dos CanaisItereré e Coqueiros, tambémdirecionadas para irrigação.

Ao longo da margemesquerda, destaca-se atomada do Canal Vigário, como objetivo de regularização donível da Lagoa do Campelo eirrigação.

As tomadas d’águareforçam as contribuiçõesnesses canais principais que,por sua vez, sofrem inúmerasderivações para canaissecundários, perfazendo, nototal, cerca de 1300km deextensão.

Atualmente, a maiorparte está sem manutenção eem estado de abandono.Algumas tomadas ainda sãomantidas e operadas emfunção dos interesses dealguns usineiros e agricultores,não havendo regras pré-estabelecidas.

Os 65km de diquesconstruídos pelo DNOSpermitem uma sobre-elevação do nível d’água doRio Paraíba, em até 5m acimada situação média, semtransbordamento. A obra

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94

da margem esquerda, estáabandonada e a da direita, porser um dique-estrada, está emmelhores condições.

Em janeiro de 1997,durante longo período chuvoso,a população de Campos foiameaçada com o rompimentodo dique da margem esquerdaem dois pontos.

A Cidade de Campos jánão sofre as inundações dopassado, com a mesmaintensidade. A implantação daUsina Hidrelétrica de Funil, em1969, junto à fronteira dosEstados de São Paulo e Rio deJaneiro, tornou-se uma aliadana laminação dos hidrogramasde enchente gerados noterritório paulista. Apesar deestar voltada para geração deenergia elétrica, a operação doreservatório permite, emsituações críticas, a exemplodas enchentes de janeiro de2000, armazenar grandesvolumes de água,regularizando as vazõescompatíveis com a capacidadeda calha do Rio Paraíba do Sul,a jusante.

Outro fator positivo, sobo ponto de vista de reduçãodas vazões em temposchuvosos é o bombeamentode 160m3/s, na EstaçãoElevatória de SantaCecília, em Piraí, para

suprir parte das necessidadesoperacionais do Sistema Lightde geração de energia elétrica.

associar vazões máximas auma dada probabilidade deocorrência e, emconseqüência, à localização eao tamanho da área inundada.

Usualmente, as vazõesmáximas, a cada ano, sãoselecionadas a partir dasobservações realizadasatravés das estaçõesfluviométricas. O tratamentoestatístico desses valoresextremos determina aprobabilidade de que um dadovalor de vazão seja igualado, ouexcedido, durante um certointervalo de tempo. Essa vazãopoderá ocorrer a cada ano,com a mesma probabilidade e,pelo menos uma vez, ao longodo intervalo de tempoconsiderado. Esse intervalo detempo é chamado de tempode recorrência ou períodode retorno.

No Estado do Rio deJaneiro ainda não se adota aprática de identificação edivulgação da localização emagnitude dessas áreas e osrespectivos riscos associados.

A dinâmica que envolve

esses processo requer a

sistemática observação dos

eventos pluviométricos, dos

estudos dos hidrogramas de

enchentes gerados e o

mapeamento das áreas

naturais de inundação.

Áreas Inundáveis noEstado do Rio de Janeiro

A divulgação da

localização e delimitação das

áreas sujeitas a inundação e os

riscos associados, é uma

prática adotada pelo Poder

Público em muitos países.

Nas bacias ainda

pouco ocupadas é uma

ferramenta importante no

planejamento do uso do solo,

permitindo estabelecer

critérios para o zoneamento

das terras e a seleção dos

futuros usos e obras de

controle.

As áreas de inundação

dependem da capacidade de

escoamento do leito do rio em

função das vazões geradas

pelas chuvas. Essas áreas

naturais de inundação

cumprem importante papel no

amortecimento e na retenção

das águas das enchentes.

Vazões e volumes

máximos observados na

mesma unidade de tempo,

durante longos períodos, são

relacionados com as

dimensões e localização das

respectivas áreas inundadas.

Estudos estatísticos permitem

Page 96: Planágua 08 - Enchentes

95

Por outro lado, pode-se obter informações sobre a questão, nos resultados de estudos epesquisas fruto de iniciativas isolados do Poder Público e do setor acadêmico.

De uma maneira geral, é possível afirmar que, no Estado do Rio de Janeiro, essas áreasdistribuem-se ao longo dos trechos inferiores dos rios que nascem na Vertente Atlântica da Serrado Mar, percorrendo extensas planícies flúvio-marinhas, sujeitas a elevado índice pluviométrico,onde o processo de ocupação do solo foi inadequado às condições naturais do ambiente.

Região Contribuinte à Baía de Guanabara

Em 1989, por iniciativa da Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas– SERLA, foi desenvolvido o estudo “Detecção de Áreas de Riscos de Inundações da Regiãoda Baía de Guanabara”. O trabalho, que apresenta resultados a nível macro-regional, baseou-seno cruzamento de informações sobre uso do solo, obtidas a partir de interpretação de imagens desatélite, com informações sobre áreas potencialmente inundáveis. Essas áreas foram classificadassegundo as seguintes características físicas: forma, relevo e permeabilidade do solo da baciahidrográfica e declividade, mudança brusca de direção, cotas altimétricas e pontos deestrangulamento das calhas dos rios.

Para definir o grau de criticidade de uma área em função do seu potencial de inundação,propôs-se 5 níveis:

Page 97: Planágua 08 - Enchentes

96

A densidade de ocupação baseou-se na comparação da situação existente com padrõespreestabelecidos pelos autores do trabalho para cada caso:

Page 98: Planágua 08 - Enchentes

97

As cabeceiras situam-se logo a montante do

Campo de Gericinó. Nessa parte da Bacia,

encontram-se pequenos núcleos de ocupação

urbana de baixa densidade. A jusante do

Campo, o Rio drena região densamente

urbanizada, onde se concentram as áreas

críticas.

Principais causas das freqüentes inundações:

alta impermeabilização, diversos pontos de

estrangulamento e a influência das marés,

principalmente no trecho após a confluência

com o Rio Acari, quando passa a se chamar

São João de Meriti.

4. Bacia do Sarapuí – Abrange parte dos Municípi-

os do Rio de Janeiro, onde tem suas nascen-

tes, Nova Iguaçu, Nilópolis, São João de Meriti

e Duque de Caxias. Os principais afluentes são

os Rios das Tintas, Sardinha, do Prata e Dona

Eugênia.

O curso superior apresenta rede de drenagem

bem ramificada e encaixada, percorrendo área

com vegetação arbustiva. O trecho médio atra-

vessa bairros populosos como Vila Kennedy,

Senador Camará, Vila Aliança, Bangu e Mes-

quita.

Após a confluência com o Rio Sardinha, o

Sarapuí atravessa o Campo de Gericinó, onde

predomina vegetação herbácea/arbustiva.

As áreas críticas surgem logo após os limites

do Campo, até a sua desembocadura no

Iguaçu. A ocupação urbana tem densidades

média e alta.

5 Bacia do Iguaçu – Abrange parte dos Municípios

de Nova Iguaçu e Duque de Caxias. Tem como

principais afluentes os Rios das Botas, das

Velhas, Capivari, Pilar e Calombé.

As áreas junto às nascentes apresentam

declividades bastante acentuadas, com solo

pouco permeável, o que resulta em elevada

As bacias hidrográficas estudadasforam as mesmas objeto do ProgramaReconstrução Rio, realizado pela SERLA,após as chuvas intensas de fevereiro de1988. O resumo das principais observaçõesapontadas à época (antes das intervençõesdo Programa) foram:

1. Bacia do Cunha – Localizada no Município do

Rio de Janeiro, tem como principais

formadores, os Rios Jacaré, Faria e Timbó.

A área crítica desenvolve-se ao longo das

margens do Rio Faria, no trecho a montante da

confluência com o Timbó, até a seção logo a

jusante da confluência com o Jacaré, onde se

observou média densidade de ocupação

urbana. Possíveis causas das inundações:

alguns pontos de estrangulamento de seção e

uma inflexão de 90o próximo à ferrovia.

2. Bacia do Acari – Localiza-se no Município do

Rio de Janeiro. O Rio Acari, afluente do São

João de Meriti pela margem direita, tem como

principais contribuintes, os Rios das Pedras,

Sapopemba, Marangá, Piraraquara, Catarina,

Merim e dos Afonsos.

A rede de drenagem, no curso superior, é densa

e bem encaixada. As áreas críticas localizadas

nos cursos médio e inferior, prolongam-se

desde próximo à confluência dos seus

formadores, Afonsos e Marangá, até sua

desembocadura no São João de Meriti. As

inundações estão associadas, segundo a

SERLA, a estrangulamentos de seção, curvas

e confluências. As áreas encontram-se

altamente ocupadas.

3. Bacia do Pavuna / Meriti – A Bacia tem forma

alongada e engloba parte dos Municípios do

Rio de Janeiro, São João de Meriti e Duque de

Caxias.

Page 99: Planágua 08 - Enchentes

98

percentagem de escoamento superficial e rápida concentração das vazões no período de chuvas intensas.

As áreas críticas iniciam-se próximo à confluência dos Rios Iguaçu e Botas, onde o gradiente de declividade

é menor. A ocupação urbana da Bacia é heterogênea, apresentando áreas densamente urbanizadas e

campos com vegetação herbácea, inseridos no vetor de crescimento da mancha urbana.

As principais causas das inundações se devem ao regime torrencial dos cursos de água junto às cabeceiras,

pontos de estrangulamento e ângulos de confluência alterados pela ocupação inadequada.

6 Bacia do Saracuruna – Abrange parte dos Municípios de Duque de Caxias e Petrópolis. A partir da confluência

com o Inhomirim, passa a se chamar Rio Estrela. Os formadores do Rio Saracuruna têm suas cabeceiras

nas escarpas da Serra do Mar, com acentuada declividade e alta densidade de drenagem. O início da área

de planície coincide com os primeiros núcleos urbanizados, onde as inundações são decorrentes,

principalmente, da baixa declividade e de estrangulamentos.

7 Bacia do Inhomirim – Abrange parte dos Municípios de Duque de Caxias, Petrópolis e Magé. O principal

afluente é o Caioaba-Mirim que, como o Saracuruna, tem as nascentes nas escarpas da Serra do Mar, com

elevadas declividades.

As áreas críticas somam-se àquelas do Saracuruna na planície fluvio-aluvionar, formando praticamente

uma única mancha. Estrangulamentos gerados por travessias inadequadas e as baixas declividades são

os principais responsáveis pelos extravasamentos. A densidade de ocupação foi classificada entre baixa

e média.

Page 100: Planágua 08 - Enchentes

99

O quadro, fornece detalhes da localização das áreas:

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100

Com a conclusão do Programa Reconstrução-Rio, grande parte das áreas apontadas no estudo, passaram aapresentar nova configuração espacial, diminuindo suas dimensões.As barragens construídas nos Rios Sarapuí e Pavuna, por exemplo, amortecem os hidrogramas de enchente pelareservação temporária das águas excedentes no Campo de Gericinó protegendo as áreas a jusante contra enchentesfreqüentes (até eventos de uma recorrência de 50 anos).Vale mencionar que enchentes superiores podem ocorrer a qualquer momento e por isso a população ribeirinhadeve estar consciente do risco ainda existente.

Page 102: Planágua 08 - Enchentes

101

Paralelamente à execução das ultimas intervenções previstas no Programa Reconstrução-Rio, desenvolveu-se, em acordo com o BIRD, o “Projeto Iguaçu”, coordenado pela SERLA. OProjeto abrangeu o diagnóstico detalhado da bacia e proposição de ações não estruturaiscomplementares às já realizadas.

Com base nas manchas de inundação remanescentes, já considerados os benefícios dasobras realizadas no Reconstrução-Rio, os responsáveis pelo Projeto, com o apoio do Comitê deAcompanhamento do Projeto Iguaçu, identificaram trechos de rios que poderiam ser priorizadoscom dragagens complementares e outras ações tais como, modificação de traçado,reassentamento de moradores das áreas marginais e construção de barragens de controle deenchentes e outros.

O mencionado Comitê, integrado por representantes das áreas afetadas e dos PoderesPúblicos Estadual e Municipais da Bacia, ainda permanece ativo, no acompanhamento das açõesgovernamentais na região e na busca de financiamento para as intervenções previstas no PlanoDiretor de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu - Sarapuí, Ênfase: Controle deInundações (agosto de 1996).

Em 1999, a SERLA elaborou o Mapeamento dos Principais Pontos Críticos e Locaisde Inundação da Rede Hidrográfica da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.O trabalho se baseou em reclamações da população, relatórios de vistorias encontrados emprocessos administrativos e em constatações durante visitas de inspeção.

O mapa identifica cerca de 700 pontos relativos, não só aos locais sujeitos a inundação,como também, as possíveis causas: pontes ou travessias subdimensionadas, seçõesestranguladas, traçado inadequado ou curva acentuada, travessias de adutoras, muralhas caídas,sistema de comporta em más condições de funcionamento, ausência ou insuficiência de rede demicrodrenagem e áreas para construção ou recuperação de pôlderes.

Page 103: Planágua 08 - Enchentes

102

Região Contribuinte ao Sistema Lagunar de Jacarepaguá

Segundo informação da Agência Regional da SERLA, diversos são os corpos hídricos quemerecem atenção do Poder Público devido aos freqüentes transbordamentos e inundações nasáreas de risco com elevada densidade populacional, tendo como causas, principalmente, asconstruções marginais irregulares e o descarte de lixo diretamente nos corpos de água. Os maiscríticos são:

O Canal de Sernambetiba, ligado ao Sistema Lagunar de Jacarepaguá, através do RioMorto, drena extensa planície fluvio-aluvionar, no Recreio dos Bandeirantes. Os alagamentosfreqüentes, decorrem da dificuldade de escoamento, não só pela baixa declividade, como também,pela constante obstrução da embocadura junto ao mar.

Na tentativa de estabilizar a ligação do canal com o mar, foi construído um guia correntes.Essa estabilidade, no entanto, não foi conseguida. As correntes marinhas transportam areia parajunto da saída do canal, havendo necessidade de manter uma draga constantemente no local.

A população atingida é da ordem de 5000 habitantes.

Região Contribuinte à Baía de Sepetiba

No período de 1997 a 1998, foi realizado, pela então Secretaria de Estado de Meio Ambiente- SEMAM, em convênio com o Ministério do Meio Ambiente - MMA, no âmbito do Plano Nacional doMeio Ambiente - PNMA, o “Macroplano de Gestão e Saneamento Ambiental da Bacia deSepetiba”.

O Macroplano apresenta, por município, diagnóstico da drenagem e aponta áreas críticas,definidas como aquelas cuja freqüência de inundação é anual.

As causas dos extravasamentos e dos conseqüentes prejuízos, estão relacionadas àocupação indevida das margens e desordenada do leito maior dos cursos de água, obstrução daseção de escoamento e de talvegues, lixo descartado e/ou carreado das margens para a calha eassoreamento dos cursos principais, pelo acúmulo de material proveniente das encostas, apósfortes enxurradas.

Page 104: Planágua 08 - Enchentes

103

Page 105: Planágua 08 - Enchentes

104

Áreas Críticas: longo do Rio Macacos a montante do CIEP até

a foz do Rio do Liro, numa extensão de cerca

de 3km.

Itaguaí – O Município está localizado às margens da

Baía de Sepetiba, com grande percentagem de seu

território em área de baixada, drenada por diversos

canais, em zona de influência de marés. Diversos

trechos da rede de macro drenagem encontram-se

assoreados.

As inundações ocorrem, principalmente, nos

seguintes locais: entre a BR-101 e a Via Férrea

7.4. Paulo de Frontin - A área do Município localizase

em região de serra, com significativa

percentagem de remanescentes da Mata

Atlântica. Dada a topografia, a drenagem no

trecho urbano é satisfatória, apesar dos pontos

de estrangulamento nas t ravessias.

Uma úni ca área é considerada crítica.

Abrange os Bairros de Santa Inês, São

Lourenço e Ramalho, ao

1. Rio de Janeiro - A área do Município do Rio de

Janeiro contribuinte á Baía de Sepetiba, era ori-

ginalmente alagadiça. Sua ocupação só foi pos

sível depois da abertura de muitos canais e valas,

iniciada ainda, no tempo da Sesmaria dos Jesuítas.

Atualmente, após as obras do Programa de

Saneamento para Núcleos Urbanos - PRONURB,

do Ministério da Ação Social, conduzido pela

Prefeitura, as inundações são menos freqüentes.

2. Paracambi - A área crítica de maior preocupação

se estende para montante, pelo Rio Macacos,

desde a confluência com o Ribeirão das Lajes, até

os Bairros BNH e Nova Era. Destacam-se também

os trechos referentes aos Canais da Guarajuba e

Dr. Eiras e o Rio Sabugo, junto á travessia. A

população na área é da ordem de 11.000

habitantes, referida a 1996.

3. Queimados - As áreas mais criticas do Município

estendem-se ao longo dos Rios dos Poços, Abel

e Camorim. No Rio Queimados, vários trechos

estão assoreados, em decorrência da

modificação do leito do rio pela extração

desordenada de areia para a construção civil.

Esse fato vem reduzindo a capacidade de

escoamento, potencializando os extravasamentos

de calha.

5. Japeri - O Município reúne a maioria dos agentes

responsáveis pelos extravasamentos, ou seja,

desmatamento, ocupação desordenada das

encostas, acúmulo de lixo nos cursos de água,

travessias inadequadas, bueiros insuficientes,

etc.

As principais áreas críticas são: Bairro Virgem de

Fátima; bairros situados entre a antiga Via Férrea

e a RJ-125; Bairros do Chacrinha - trechos leste e

oeste, do Alecrim, Parque Guandu e Jardim

Marajoara.

A área inundável no núcleo urbano do Município

foi estimada em 3,7km2. A população ameaçada

pelas inundações freqüentes é da ordem de

10.000 habitantes.

6. Mangaratiba- Os rios mais problemáticos são: da

Draga, Catumbi ou Muriqui, da Prata e do Saco.

A área inundável é estimada em 2km2 e a

população atingível, de aproximadamente 5200

habitantes.

Os Distritos mais prejudicados são: Itacuruçá (Rio

da Draga); Muriqui (Rio Catumbi e da Prata);

Sede do Município (Rio do Saco). Os Bairros da

Praia do Saco e Ranchito são os que oferecem

maior preocupação.

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105

(Rio Mazomba); Loteamento Brisamar e

margem direita, junto à Via Férrea (Canal Santo

Inácio); Bairro do Engenho (Valão da Rua 18);

Bairro Vila Margarida (Canal do Viana, Vala do

Sangue e Valão da Rua 18); todo trecho

marginal do Canal do Trapiche; Bairro Jardim

América (Rio Itaguaí) e Ponte Preta, no trecho

entre as travessias com a BR-101 (Rio Itaguaí).

As áreas mais críticas estão situadas entre a

BR-101 e a Baía de Sepetiba.

A população nessas áreas é estimada em

8200 habitantes.

A área crítica concentra-se em torno da

confluência do Rio Ipiranga com o Rio Guandu,

para montante, até a confluência com o Rio

Cabuçu, num total de cerca 5km2, em área de

expansão urbana do Bairro de Cabuçu.

9. Seropédica - As áreas críticas localizam-se ao

longo do Valão dos Bois. A primeira está

localizada entre o Valão dos Bois e a Estrada

para Itaguaí, até a confluência com o Rio da

Guarda. Nesta área, a extração de areia em

cavas é intensa. A segunda, abrange parte dos

Bairros Parque Jacimar e Campo Lindo. A

terceira e última, localiza-se nos Bairros Jardim

Central, Jardim das Acácias, São Jorge e parte

de Campo Lindo.

8. Nova Iguaçu - Na área do Município de Nova

Iguaçu que drena para a Baía de Sepetiba pre-

dominam as pastagens e atividades agrícolas.

Pelo já mencionado, Mapeamento dos Principais Pontos Críticos e Locais deInundação da Rede Hidrográfica da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro,realizado pela SERLA, em 1999, as principais áreas inundáveis são:

Observação:

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106

Região da Baía da Ilha Grande

Segundo levantamento realizado pelaSecretaria de Estado de Saneamento eRecursos Hídricos, junto às PrefeiturasMunicipais, por ocasião do 1o Inquérito deSaneamento Ambiental do Estado do Rio deJaneiro, realizado no primeiro semestre de 2000,constatou-se problemas de inundação nasseguintes áreas urbanas:

Angra dos Reis – Rios Mambucaba, Jacuecanga e

Perequê;

Parati – Perequê-Açu, Mateus Nunes e Gruná. Em

Parati, na área do Centro Histórico, junto ao

litoral, são freqüentes as inundações pelo efeito das

marés.

Bacia Hidrográfica do São João

A Bacia do São João abriga uma sériede núcleos urbanos importantes, tais como, assedes dos Municípios de Rio Bonito, Silva Jardime Casimiro de Abreu.

O Rio São João apresenta fortesdeclividades nos primeiros 5km, a partir dasnascentes, onde a diferença de altitudes estána ordem de 600m. Desse ponto até a suadesembocadura, percorre, aproximadamente,145km com desnível de, somente, 100m. Otrecho médio se desenvolve por 35km,descendo à altitude de 20m, antes de alcançara larga planície aluvial.

O curso inferior se prolonga por mais85km até o Oceano, com baixa declividade, queé fator limitante para o escoamento.

As características físicas da região docurso superior, contribuem para uma rápidaconcentração das águas das enchentes

dos afluentes e, portanto, sobrecarregam osescoamentos dos trechos de jusante, onde apequena declividade é o fator natural.

A Barragem de Juturnaíba, construídacom o propósito de laminar as enchentes,geradas no Rio São João até a confluência comseus principais afluentes, Capivari e Bacaxá,não está sendo operada como tal, o quepreocupa a população dos núcleos urbanos dejusante do Reservatório, a exemplo de Barra deSão João, onde a influência da maré oceânicaestá presente.

Toda região de planície abaixo daBarragem, onde o São João e afluentes tiveramparte dos cursos retificados e alargados peloextinto DNOS, são áreas naturais de inundação.

Deve-se ressaltar que as obras doDNOS, então voltadas para eliminar áreasalagadiças e inundações do Baixo São João,foram concebidas para atuar de formaintegrada, isto é, amortecimento de enchentesem Juturnaíba e regularização de vazõescompatíveis com os limites de escoamento dacalha retificada de jusante.

Bacias Hidrográficas daRegião dos Lagos

Segundo informações da AgênciaRegional da SERLA, da mesma forma que emtodo o Estado, os cursos de água da Regiãosofrem com o avanço da ocupaçãodesordenada junto às margens e o descarteindiscriminado de lixo que chega aos rios,diretamente ou carreados pelas chuvas. Osmais críticos, por município, são:

Araruama - Rio Salgado, na área do Parque

Novo Horizonte, podendo atingir cerca de 600

habitantes;

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Bacia do Rio Paraíba do Sul

As informações foram obtidas do Pro-grama Estadual de Investimentos da Baciado Rio Paraíba do Sul – Rio de Janeiro,1997, que teve por objetivo, orientar o Comitêpara Integração da Bacia Hidrográfica doRio Paraíba do Sul – CEIVAP, na seleção epriorização de ações estruturais e não estru-turais em diversos setores, inclusive no de dre-nagem.

O Rio Paraíba do Sul, que nasce no Es-tado de São Paulo, recebe afluentes de MinasGerais e do Rio de Janeiro, tem suas vazõesregularizadas por um sistema de reservatóri-os, direcionados para geração de energia elé-trica. A operação integrada, obedece regrasdefinidas pela Operação Nacional do Siste-ma - ONS.

O trecho fluminense sofre influência di-

reta do Reservatório de Funil, situado na divisa

entre os Estados de São Paulo e Rio de Janei-ro. As vazões regularizadas, em condições

normais de operação, resultam das vazões

turbinadas, somadas, eventualmente,

com aquelas liberadas pela válvula difusora dedescarga de fundo.

Em 1992, o Grupo de Trabalho deHidrologia Operacional – GTHO, ligado aoentão Grupo de Controle de Operação In-tegrada – GCOI, antecessor da ONS, elabo-rou o Levantamento das Restrições Hidráu-licas da Bacia do Rio Paraíba do Sul. Bus-cou-se o estabelecimento de novos critérios deoperação, compatíveis com a demanda paraoutros usos das águas e a adequação à capa-cidade de escoamento da calha ao longo do tre-cho fluminense.

De acordo com o estudo, junto às Cida-

des de Resende, Barra Mansa e Volta Redon-da, vazões do Paraíba acima de 850, 800 e850m3/s, respectivamente, provocam inunda-ções nas áreas ribeirinhas. Em Barra do Piraí,a situação se configura a partir de1100m3/s, a jusante de Santa Cecília.

Um conjunto de regras operativas foi en-tão definido para diferentes cenários. Manten-do, por exemplo, no máximo, 700m3/s parajusante, o Reservatório de Funil é capaz deabsorver uma cheia de 25 anos de recorrência,gerada no trecho paulista da Bacia, se o volu-me de espera for da ordem de 33% do seu vo-lume útil.

Quando ocorrem chuvas intensas no tre-cho fluminense, é possível diminuir, as descar-gas regularizadas por determinado período,desde que o reservatório esteja capacitado parareceber os volumes afluentes.

Além das áreas marginais ao RioParaíba do Sul, o Programa Estadual deInvestimentos constatou problemas deinundação em quase todos os municípiosfluminenses, decorrentes tanto detransbordamentos de tributários de médio e

Iguaba Grande - Rio Salgado, numa extensão

de 850m, ameaçando próximo de 1500

pessoas, o Canal Ibá - 1400m, 300 pessoas;

Canal lguaba - 1500m, 2200 pessoas; Canal

Tamari - 1800m, 3500 pessoas;

Saquarema - Rio Bacaxá, envolvendo

aproximadamente, 2000 pessoas;

São Pedro da Aldeia - Canal Mossoró que

atravessa o centro da cidade sede, atinge

cerca de 25000 pessoas com inundações ao

longo de 3km de percurso.

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grande porte do Paraíba, como da insuficiênciada rede de micro drenagem. As causas que serepetem na maioria dos casos são:

processo contínuo e acelerado de erosãodo solo e conseqüente assoreamento docurso d’água;ocupação generalizada das áreas marginaisao longo dos rios (faixa marginal de proteção– FMP), nas zonas urbanas;estreitamento da seção de escoamentopelas fundações de construções ilegais etravessias;crescente ocupação da bacia e a decorrenteimpermeabilização do solo; ecarreamento do lixo descartado sobre viaspúblicas ou diretamente no álveo dos cursosd’água.

A seguir, apresenta-se pequeno resumorelativo à drenagem de alguns municípios daBacia:

Itatiaia – O principal rio do Município é o Santo

Antônio, cujo curso superior percorre área do

Parque Nacional de Itatiaia, com velocidade

acentuada, não apresentando dificuldades na

evolução do escoamento. Nesse trecho, as

chamadas “cabeças d’água”, isto é,

hidrogramas de enchente originados de chuvas

intensas, de curta duração, incidentes nas

cabeceiras, chegam repentinamente,

carregando o que encontram no caminho,

pegando, de surpresa, os banhistas.

Ao alcançar a zona mais densamente

urbanizada, a partir da Rodovia Presidente

Dutra, inicia o trecho crítico de inundação, que

se estende até a Rua dos Expedicionários.

Resende – A Prefeitura Municipal realizou

diversas obras de revestimento de trechos de

canais e substituição de obras de arte na área

urbana.

No entanto, dada a falta de manutenção das

obras, e a crescente impermeabilização do

solo na bacia contribuinte, os canais já

mostram pouca eficiência nos períodos

chuvosos em vários trechos. É o caso dos

Canais Periféricos e Canal Central e o

Ribeirão Preto.

Os Bairros mais afetados são: Alegria, Baixada

de Olaria, Itapuca, Liberdade e Nova Liberdade.

Barra Mansa – Os dois principais rios que atra-

vessam o Município são o Bananal e o Barra

Mansa. Em períodos de chuvas intensas, as

águas extravasam de seus leitos, inundando

tanto áreas rurais, como urbanas, gerando ele-

vados prejuízos.

A extração descontrolada de areia no Rio Barra

Mansa, em diversos pontos, é responsável pelo

elevado assoreamento ao longo da calha.

O Rio Bananal, no trecho que margeia a

Companhia Siderúrgica de Barra Mansa,

provoca grandes inundações em várias ruas

do Bairro Vila Maria.

Volta Redonda – A drenagem da Cidade é

efetuada pelo Ribeirão Brandão e o Córrego

Secadis, pela margem direita do Paraíba e o

Córrego Retiro, pela margem esquerda.

A rede de drenagem na zona urbana é

insuficiente para esgotar os volumes

produzidos na ocasião de chuvas intensas. O

Bairro de Vila Santa Cecília é o mais atingido.

A situação vem se agravando ao longo dos anos:

os alagamentos que aconteciam, em média,

uma vez a cada 5 anos, hoje ocorrem

anualmente.

Três Rios – A Cidade é freqüentemente invadi-

da pelas águas que transbordam dos Córregos

Puris, Vila Isabel e São Sebastião, afluente do

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Paraíba do Sul, com elevados prejuízos à po-

pulação urbana.

No Córrego Puris, diversos são os pontos de

estrangulamento existentes, acarretando o

extravasamento ao longo de seu traçado na

zona urbana.

O Córrego Vila Isabel, que também apresenta

obstáculos ao escoamento, cruza região de

população de baixa renda. Os problemas são

atenuados temporariamente, pelo alagamento

de algumas áreas inabitadas, a montante

(campo de futebol e áreas adjacentes) que

atuam como reservatórios de acumulação.

Barra do Piraí – A situação do Município ao

mesmo tempo é séria e peculiar:

Com o objetivo de armazenar as águas do Rio

Piraí, para geração de energia elétrica nas

Usinas de Nilo Peçanha, Fontes Nova e Pereira

Passos, foi construída a Barragem de Santana.

O trecho a jusante da Barragem mantém-se,

desde então, praticamente seco até a

confluência com o Sacra Família, o que

permitiu a invasão das áreas marginais.

Entretanto, em condições emergenciais, a

Light, responsável pela operação do

Reservatório de Santana, não tem outra

alternativa a não ser liberar os volumes

excedentes para jusante, estabelecendo

conflito direto com a população ribeirinha.

Petrópolis – o Município, localizado na Região

Serrana do Estado, apresenta graves

problemas decorrentes do crescimento intenso

e desordenado, caracterizado pela ocupação

irregular das encostas das Bacias

Hidrográficas dos Rios Piabanha e Quitandinha.

As áreas inundáveis pelo transbordamento do

Rio Quitandinha, que ocorrem, em média, 2

vezes ao ano, situam-se ao longo da Rua

Coronel Veiga, principal via de acesso ao centro

da Cidade, até a confluência com o Rio

Piabanha. As inundações causam sérios

transtornos ao trânsito e ao comércio.

Campos dos Goytacazes – O Município está

localizado na extensa Baixada Campista. A

Cidade que se desenvolve ao longo das

margens do Rio Paraíba do Sul, em cota inferior

aos níveis d’água do Rio em períodos de cheia,

é protegida por diques construídos em ambas

as margens e se prolongam até o Município de

São João da Barra.

A drenagem da Cidade é realizada através de

canais que tiveram o sentido do escoamento

invertido para as Lagoas Feia e Jacaré

(margem direita) e Vigário, do Parque Prazeres,

do Brejo Grande e do Campelo (margem

esquerda).

A falta de manutenção dos canais e valas são

responsáveis pela suscetibilidade a

inundações, uma vez que os escoamentos

críticos (até enchentes de 100 anos de

recorrência) do Rio Paraíba do Sul são contidos

pelos referidos diques.

Na margem direita, os Bairros Parque São

Clemente e Vila Hípica, são os mais atingidos

pelas chuvas locais.

Na margem esquerda, a freqüência das

inundações tem aumentado devido à

diminuição da capacidade de escoamento dos

canais e à ocupação das áreas ribeirinhas.

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Sistemas de Alerta

Atuação do Governo Federal

O Governo Federal, baseado nos estudos que indicam o crescimento, ao longo dos anos,dos danos decorrentes de desastres naturais ou de atividades antrópicas, como aqueles causadospor inundações, criou e organizou, em agosto de 1993, o Sistema Nacional de Defesa Civil –SINDEC, cujo objetivo é integrar órgãos dos três níveis do poder público e a sociedade civil, comos seguintes propósitos:• planejar e promover a defesa permanente contra desastres naturais ou provocados pelo homem;• atuar na iminência e em situações de desastres;• prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações atingidas;• recuperar áreas deterioradas por desastres.

No âmbito da estrutura do SINDEC, o Conselho Nacional de Defesa Civil aprovou a PolíticaNacional de Defesa Civil, que define diretrizes, metas e a elaboração de planos diretores,programas e projetos no cumprimento dos objetivos definidos no Sistema.

Para a Política Nacional de Defesa Civil, as

Inundações são classificadas em função da magnitude

ou da evolução.

Sob o aspecto da magnitude, a classificassão baseou-se

nos dados históricos de eventos anteriores e é assim

especificada:

• inundações excepcionais;

• inundações de grande magnitude;

• inundações normais ou regulares;

• inundações de pequena magnitude.

Em função da evolução, é adotada a seguinte

classificação:

• enchentes ou inundações graduais;

• enxurradas ou inundações bruscas;

• alagamentos;

• inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão

do mar.

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Uma das metas para o ano de 2000, num esforço para descentralizar as ações, é aimplementação de 2400 Comissões Municipais de Defesa Civil.

Os planos diretores são direcionados para prevenção de desastres, preparação paraemergências em situações de desastres, resposta aos desastres e reconstrução. Como as açõesde resposta aos desastres precisam ser imediatas, o Sistema conta com o Fundo Especialpara Calamidades Públicas – FUNCAP, regulamentado em março de 1994.

Dentre os projetos, cabe ressaltar os de Mudança Cultural que tem os seguintesfundamentos:• todos têm direitos e deveres relacionados com a segurança da comunidade contra desastres;• todos fazem parte do SINDEC;• o Núcleo Comunitário de Defesa Civil é o elo mais importante do SINDEC;• todos devem se perguntar: o que podemos fazer para prevenir desastres?

Atuação do Governo Estadual

No Estado do Rio de Janeiro, o órgão que representa o SINDEC é a Secretaria de Estadode Defesa Civil, tendo como espinha dorsal o Corpo de Bombeiros, com núcleos operacionais emquase todos os municípios. A Secretaria de Estado de Defesa Civil, quando solicitada, atua deforma complementar, tendo em vista que a coordenação dos trabalhos é municipal.

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Conscientes que a ordem das ações dedefesa civil, de acordo com a “doutrina”estabelecida é: cidadão; comunidade; municípioe estado, cabe à Secretaria, a capacitação devoluntários para atendimento em casos deemergência.

Como apoio às ações da Defesa Civil, oGoverno mantém o Sistema de Meteorologiado Estado do Rio de Janeiro - SIMERJ. Criado apartir de 1998, tem como um dos objetivos,elaborar previsão do tempo a nível local,cobrindo, com detalhe, o território do Estado doRio de Janeiro. A previsão é realizada mediantea aplicação de modelos matemáticos, utilizandoinformações de imagens dos satélitesmeteorológicos GOES e NOA, enviadas peloInstituto de Pesquisas Espaciais – INPE, ebaseada na previsão de grande escala, a nívelregional, elaborada por esse Instituto. O trabalhodo SIMERJ, divulgando a previsão do tempocom elevado grau de acerto, é fundamental parao planejamento das atividades da Secretaria deEstado de Defesa Civil.

A Fundação Superintendência Estadualde Rios e Lagoas – SERLA, órgão vinculado àSecretaria de Estado de Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável – SEMADS,opera rede de 25 estações telemétricas naRegião Hidrográfica da Baía de Guanabara. Asestações enviam, a cada 30 minutos para umacentral, dados de altura de chuva, nível dos riose de qualidade das águas.

Durante períodos chuvosos,principalmente no verão, a variação dos níveisde água é acompanhada pela SERLA que, emsituações consideradas críticas sob o ponto devista da expectativa de possíveistransbordamentos, comunica o fato à DefesaCivil.

Atuação do Governo Municipal doRio de Janeiro

Dependendo da vulnerabilidade doterritório face a determinados fenômenosnaturais, as administrações municipaisestabelecem planos específicos parasalvaguardar o bem estar da população eproteger o patrimônio público.

Um exemplo, é o “Plano Verão”,elaborado e aperfeiçoado a cada ano, pelaPrefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Duranteos meses de verão, a Cidade ficahistoricamente suscetível às condiçõesclimatológicas propícias à ocorrência de chuvasintensas. Inundações, deslizamentos deencosta, rolamento de pedras, entre outrosincidentes, apresentam maior probabilidade deacontecer durante esse período.

O Plano Verão reúne uma série demedidas e linhas de ação envolvendo órgãospúblicos e privados, no âmbito do SistemaMunicipal de Defesa Civil. A coordenação édescentralizada e participativa, buscando,inclusive, envolvimento das comunidades locais.

O desenvolvimento e aperfeiçoamentodo Plano baseia-se nas informações coletadasdurante períodos de chuvas intensas eregistradas nos relatórios de atividades daCoordenação Geral do Sistema de Defesa Civil– COSIDEC. Tais informações são obtidasdurante vistorias, monitoramentos,mobilizações e visitas às comunidadesresidentes em áreas de risco.

A direção do Sistema é exercida peloPrefeito da Cidade que, pela análise e avaliaçãodas conseqüências do evento, realizada pelaCOSIDEC, pode decretar “Situação deEmergência” ou “Estado de CalamidadePública”.

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A última situação de calamidade pública no Município do Rio de Janeiro foi em 1996, emdecorrência das conseqüências das inundações e deslizamentos de encostas em Jacarepaguá.

O referido Plano pode ser ativado total ou parcialmente, dependendo da gravidade dosdanos gerados pelos seguintes eventos:

Quando a situação emergencial requer um alerta máximo, o Sistema de Defesa Civil étotalmente mobilizado, envolvendo órgãos das administrações municipal, estadual e federal eentidades não governamentais. Nesse caso todas as ações previstas no Plano Verão são acionadas.

• Deslizamentos de terra; • Rolamento de pedras;

• Ventos fortes; • Desabamentos;

• Quedas de raios; • Inundações.

• Colapso nos serviços essenciais (transporte,

energia elétrica, águas, esgotos, outros).

Situação de EmergênciaReconhecimento legal pelo poder público de situação anormal, provocadapor desastre, causando danos superáveis pela comunidade afetada.

Estado de Calamidade PúblicaReconhecimento legal pelo poder público de situação anormal, provocadapor desastre, causando sérios danos à comunidade afetada, inclusive àincolumidade e à vida de seus integrantes.

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Os órgãos, através de seusrepresentantes, são acionados de acordo comas áreas de abrangência e atribuiçõesinstitucionais, disponibilizando equipamento,viaturas e pessoal. No verão de 1999/2000, oPlano Verão foi acionado duas vezes paraatender situações de inundações.

Cabe ressaltar, ainda no Município doRio de Janeiro, o sub-sistema “Alerta Rio”,vinculado ao referido Plano e coordenado pelaFundação Geo-Rio.

áreas sujeitas à deslizamentos de encostas.Embora seja esse o principal objetivo, fornecetambém subsídios para a previsão do tempo naRegião Metropolitana do Estado do Rio deJaneiro.

Os alertas baseiam-se nomonitoramento das precipitaçõespluviométricas em 30 estações telemétricas,estrategicamente localizadas no território doMunicípio, nas imagens do SatéliteMeteorológico GOES, obtidas através do InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais – INPE e nasimagens captadas pelo Radar Meteorológico doPico do Couto, operado pelo Ministério daAeronáutica.

Trata-se de sistema de alerta,implantado em dezembro de 1996, direcionadopara salvaguardar a população residente em

A organização da coordenação do Sistema, sob essas condições, pode ser assimesquematizada:

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Cabe à Fundação Geo-Rio, a análise dos dados, emissão de relatórios e recomendação

ao Prefeito do anúncio do Alerta Rio.

O Radar Meteorológico do Pico do Couto faz uma ampla varredura da situação das nuvens,

retratando as condições do tempo sobre parte do território do Estado do Rio. As imagens são

transmitidas em tempo real para os computadores da Geo-Rio, passam por análises específicas

e as informações são cruzadas com as alturas de chuva obtidas nas estações pluviométricas. Se

os solos já estiverem encharcados e a previsão indicar chuvas fortes contínuas, pode-se configurar

a situação de alerta.

O sistema permite anunciar o alerta com até cinco horas de antecedência, através dos

principais meios de comunicação.

A Fundação Rio-Águas, paralelamente aos trabalhos da Geo-Rio, mantém plantões de 24

horas no período de verão. Durante vigência do alerta, equipes da Rio-Águas acompanham as

variações dos níveis dos cursos de água em trechos críticos. No caso de extravasamentos,

equipamentos são mobilizados emergencialmente para socorrer a população e realizar trabalhos

de limpeza e desobstrução.

Fonte: Geo-Rio

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CONSEQÜÊNCIAS DAS INUNDAÇÕES

Chuvas intensas e duradouras podem gerar um conjunto de incidentes que vão, desde umsimples extravasamento, com alagamento temporário de pequenas proporções, passando pelocolapso dos serviços de infra-estrutura urbana, até a perda de vidas humanas pela fatalidade deum acidente ou por doenças infecciosas que se seguem às inundações.

Os estragos das inundações dependem não só da fragilidade da área atingida, em funçãodo tipo de ocupação e uso do solo, da drenagem em geral, das condições sanitárias dascomunidades socialmente menos favorecidas e da infra-estrutura de saneamento básico, comotambém, da vulnerabilidade física dos investimentos públicos, privados, àqueles do setor produtivoe da importância da área como acesso a outras regiões economicamente ativas.

Nas áreas rurais os impactos são menores e, muitas vezes, a chuva é benéfica para repora umidade do solo e permitir o armazenamento das águas pluviais em pequenos açudes, parauso na irrigação, durante períodos de estiagem. Por outro lado, o acúmulo excessivo das águassobre o solo pode provocar grandes prejuízos pelas perdas de safra e do rebanho, como tambéma erosão pode provocar perda do solo fértil.

Nas grandes bacias hidrográficas, tipicamente rurais, onde os tempos de concentraçãosão da ordem de alguns dias, é comum, a exemplo do Pantanal Matogrossense, o emprego desistemas de alerta baseados em dados pluviométricos observados junto as cabeceiras da bacia,e a montante da área inundável. O aviso da ocorrência de chuvas torrenciais é repassado pelasrádios locais, o que permite, aos fazendeiros, remanejar os rebanhos para áreas seguras esalvaguardar bens materiais.

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Nas áreas urbanas, as conseqüências são as mais diversas. O homem exerce noprocesso, papel central primário, talvez mais importante que a própria intensidade do eventopluviométrico, a medida que a ação humana, é responsável pela edificação e ocupação do ambienteantes natural.

A magnitude das possíveisocorrências está diretamente ligada afragilidade dos cenários construídos pelasociedade, à medida que avança sobreextensos sítios inadequados egeomorfologicamente desconhecidos.Além disso, muitas vezes, esse processodinâmico não é precedido pelo mínimo deinvestimentos em infra-estrutura urbana.

Conseqüências decorrentes de chuvas intensas, não seriam muitas vezes calamitosas,se houvesse maior conhecimento do espaço físico e geográfico antes de ser ocupado e se fossemrespeitadas as necessidades naturais dos rios.

Nas áreas de encosta desprovidas de vegetação, a infiltração das águas de chuva é reduzidae o escoamento superficial aumentado. A ausência de raízes que fixam o solo intensifica a erosãoo que pode conduzir a instabilidade e ao deslizamento. Nessa situação, as construções existentesficariam instáveis e poderiam escorregar juntamente com o terreno. O lixo descartado e acumuladosobre as encostas poderá descer morro abaixo com o aumento do seu peso pela água de chuva.

Nas regiões de menor declividade a incidência de inundações e o tipo de conseqüência,variam no tempo e no espaço e estão associadas ao crescimento urbano. O aumento das áreasimpermeabilizadas, novas vias de tráfego e aterro de baixios, são exemplos de alterações físicasdo terreno, que contribuem para a mudança dos padrões de drenagem e a diminuição da retençãonatural. Portanto, devem ser acompanhadas de soluções de engenharia para retenção,estrategicamente planejadas, para a compensação da perda de retenção natural.

É compreensível que a população atingida pelas inundações exija, das autoridades, obraspara melhoria da situação das enchentes, evitando inundações e seus prejuízos. Mas isso nemsempre é possível quando áreas naturais de inundação forem ocupadas pela urbanização, querseja planejada ou por força das invasões ilegais.

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Vale mencionar que todas as obras que reduzem as áreas naturais de inundação, como

os diques e aterros, e que aceleram o escoamento das enchentes localmente, como retificação

e canalização, transferem e agravam o problema a jusante.

O fato mais comum durante e apósa inundação, em áreas urbanas, é ainterrupção temporária do tráfego econseqüentemente, a redução dasatividades comerciais.

O esgotamento das áreas atingidas

vai obedecer às taxas da drenagem natural

e/ou artificial, certamente agravadas pelo

assoreamento e o acúmulo de material

sólido já depositado com àquele carreado

pela enxurrada. O retorno à normalidade

pode demorar de alguns minutos a horas.

Nas áreas mais baixas, quase ao nível do

mar, esse período pode ser ainda maior,

pela coincidência do evento chuvoso com

marés altas, quando as forças das águas

oceânicas rio acima, impedem o fluxo

normal das águas interiores.

Carlos Moraes

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Nas áreas urbanas de maior declividade, a drenagem insuficiente compartilha as águas dechuva com as vias públicas e áreas marginais. Dependendo da intensidade das chuvas e dadeclividade dos terrenos, a força das águas aumentam os prejuízos materiais, arrastando veículose equipamentos públicos que encontram no percurso.

Léo Corrêa

Léo Corrêa

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Nas bacias hidrográficas de maiores dimensões, onde o leito maior do curso principal seestende por áreas de baixa declividade, ao longo do trecho médio e inferior, as áreas urbanasedificadas nas grandes depressões dos terrenos estão sujeitas a séria inundação durante períodoschuvosos críticos.

Após a passagem da enchente, com o retorno ao nível normal das águas, essas depressõespermanecem alagadas durante certo tempo. É comum o total isolamento de áreas contíguasmenos atingidas, em cotas mais altas.

Antonio Cruz

Léo Corrêa

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As perdas materiais são relevantes, o número de desabrigados é significativo e pode haveróbitos por afogamento ou desabamento.

A agravação do fato está associada à qualidade das habitações, às condições sanitáriasexistentes e às doenças endêmicas locais.

Nesses cenários, a maior parte da população atingida provém das classes socialmentemenos favorecidas, sem alternativas de assentamento, dada a valorização econômica de outrasáreas de menor risco.

José Soares

Revela-se um quadro deprimente com o desânimo daqueles que perderam os poucosbens materiais, a aflição de não ter para onde ir e a preocupação de ceder o espaço a terceiros.

Alexandre Vieira

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Soma-se a esse quadro crítico, os efeitos indiretos das inundações decorrentes dasdoenças infecciosas que se seguem após o evento.

As águas de chuva promovem a lavagem dos logradouros e vias públicas, terrenos baldioscontaminados pelo descarte de toda sorte de lixo, pátios de áreas industriais e outras áreas ondeas condições do saneamento básico são precárias.

A qualidade das águas pluviais é alterada radicalmente, carregando em suspensão e, emforma diluída, matéria orgânica em decomposição, fruto das fezes animais e do lixo, produtostóxicos de origem industrial, outras substâncias orgânicas e inorgânicas, típicas das áreas urbanas,e um elenco de bactérias, vírus e protozoários, disponíveis nesses conjuntos de focos poluidores.

As águas invadem os mais diversos espaços, provocando o extravasamento dos sistemasde fossas e sumidouros, invadindo tubulações de esgotos sanitários, enfim, criando um líquidoaltamente perigoso para a saúde do ser humano, principalmente quando infiltra e atinge caixasd’água ou cisternas.

A mistura da água contaminada com aquelas reservadas ao abastecimento domiciliar, éresponsável por doenças, conhecidas como de veiculação hídrica.

O homem ao ingerir a água contaminada, está sujeito a distúrbios gastrointestinais, comodiarréias infecciosas causadas por micro organismos do grupo coliforme fecal, presentes nasfezes humanas e de animais. Além disso, fica-se vulnerável a outros organismos patogênicoscomo o vírus da hepatite e mononucleose e as bactérias responsáveis pela disenteria, tuberculose,febre tifóide, cólera e outras.

Nas áreas afetadas, é possível a ocorrência de surtos de agravação de uma determinadadoença endêmica, podendo levar a epidemias difíceis de serem controladas.

O contato direto com essas águas, pode acometer de sérias doenças, os habitantes dasáreas atingidas.

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Uma das principais enfermidades é a leptospirose, infecção bacteriana, que embora nãoconduza à morte, com grande freqüência, produz graves seqüelas ao organismo humano,principalmente aos rins. A bactéria está presente na urina dos ratos e penetram no homem pelapele.

Nas áreas rurais, o uso inadequado de agrotóxicos por exploração agropecuária, é prejudicialao homem, à fauna e à flora. Muitos agrotóxicos são agentes cancerígenos e cumulativos noorganismo humano. As aplicações de inseticidas, fungicidas, herbicidas e acaricidas, geramresíduos sobre o solo, plantas e animais, que, lavados pelas águas de chuva, podem contaminaro lençol freático e outros corpos hídricos receptores. Nas inundações, misturam-se às águas dosmananciais utilizadas para consumo humano (poços do freático, artesianos, etc.).

Margareth Lipel

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OBRAS DE CONTROLE DEENCHENTES

Prejuízos e fatalidades decorrentes dechuvas intensas são diretamente proporcionaisaos períodos de retorno das vazões de pico edos volumes gerados, do nível de proteção, douso do solo, da conscientização e preparaçãoda população para enfrentar o risco.

Obras de controle de enchentes podemamenizar os efeitos negativos de um evento, atéuma determinada probabilidade de ocorrência.Se as enchentes superarem as vazõesmáximas ou volumes estabelecidos noscritérios de projeto, certamente a área deinteresse sofrerá prejuízos, na maioria dasvezes agravado pela despreocupação, pelodespreparo da população e pela acumulação debens materiais dispostos na área supostamenteprotegida.

As intervenções estruturais paracontrole de enchentes tem sido geralmenteprojetadas para equacionar problemas locais.Essa prática, além de não cobrir riscos acimade um determinado evento de chuva, pode gerarimpactos ambientais significativos pelas obrasrealizadas e o agravamento das conseqüênciasa jusante.

Muitos cursos de água banham mais deuma cidade no mesmo município e oumunicípios e estados diferentes. Geralmente,dentro desse cenário surgem conflitos entreinteresses da população local e aqueles dapopulação de jusante.

Enquanto os problemas locais sãoequacionados até um certo risco por obrascomo canalização , retificação e ou dragagem,que aceleram a passagem das enchenteságuas abaixo, a população de jusante se vêprejudicada pelo repentino acúmulo das águas,piorando a situação já estabelecida.

Portanto, enquanto o controle deenchentes não contemplar a bacia como umtodo, permanecerá o antagonismo entre osinteresses daqueles, que a montante, desejamempurrar as águas para as áreas mais baixas,o mais rápido possível, e daqueles, que ajusante, vem como solução a retenção daságuas nas áreas superiores da bacia.

Problemas de inundação em diferentesáreas de uma bacia hidrográfica devem serequacionados por soluções que compatibilizemos objetivos locais, segundo as diretrizes deuma proposta regional. O certo seria aelaboração de um plano diretor, resultado doplanejamento integrado das intervenções locaise regionais, tendo a bacia hidrográfica comounidade de gestão e o consenso entre osdiferentes níveis do Poder Público e dasociedade organizada, envolvidos no processodecisório.

O plano, fruto de amplo diagnóstico dedesempenho da drenagem natural e/ou artificial,mapeamento das áreas sujeitas a inundação,estudos hidrológicos e da expansão urbana eestabelecimento do zoneamento do uso do solo,passaria a ser o guia dos sucessivosadministradores públicos, na implantação dasdiferentes etapas das obras locais e regionais.

Na realidade, depara-se com cenáriosdinâmicos, onde a ocupação ordenada edesordenada do solo e a invasão de áreassujeitas a inundação, é mais rápida que o temponecessário para o desenvolvimento do plano ou,por falta de presença do Poder Público,inviabiliza aquele já estabelecido.

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dragagem

Intervenção emergencial para recuperar a capacidade de escoamento. Anecessidade de serviços regulares de dragagem demonstra que osistema fluvial está desequilibrado pela influência do próprio homem(desmatamento, aumento de erosão e sedimentação, diminuição daretenção natural, lixo, descaracterização da mata ciliar, etc.).

Além de serem obras que consomem grandes somas de verbas públicas e produzem impactos ambientaissignificativos, não resolvem o problema por longo prazo, tratando-se de medida paliativa local e temporária.

Muitas vezes é preferível combater as causas desse desequilíbrio, reflorestando as encostas e as áreas decabeceira, recuperando a mata ciliar, equacionando o problema do lixo, etc..

Na falta do planejamento integrado,soluções estruturais convencionais a nível local,visam salvaguardar de extravasamentos umtrecho específico do curso de água, emdetrimento do agravamento das condições ajusante. A situação fica mais crítica ao longo dasáreas ribeirinhas rio abaixo e próximo a foz,principalmente quando houver influência dasmarés oceânicas que provocam sobrelevaçõesdo nível da água.

Uma vez conhecido o problema eidentificadas as causas, a escolha do tipo deintervenção local, vai depender dos recursosfinanceiros disponíveis, e da viabilidade deexecução da obra.

Trechos de difícil acesso, somados àocupação das margens, oneram o orçamentoda intervenção. A dificuldade de remanejamentoda população ribeirinha leva, muitas vezes, àadoção de ações emergências e temporárias,como limpeza manual ou dragagem.

Dependendo dos recursos, é possívelretirar os moradores ribeirinhos, remanejá-lospara áreas de menor risco, desimpedindo a faixamarginal de proteção, recuperando a seção deescoamento, segundo os parâmetrosestabelecidos no projeto e, por fim, de algumaforma, evitar novas invasões a partir, porexemplo, da implantação de vias públicasmarginais (avenida-canal).

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A perda de retenção gerada pelasolução de engenharia de efeito localdeverá ser compensada pela realização deoutros dispositivos de retenção na região,com o propósito de evitar o agravamento dasinundações nas áreas a jusante.

Intervenções locais como dragagem,canalização e ou retificação são obras deelevado custo, tanto de construção como demanutenção que, certamente, exigirão a curto

prazo, medidas saneadoras para os possíveisimpactos causados águas abaixo.

Diques oferecem segurança às áreasmarginais, até a vazão definida no projeto, tantourbanas como rurais, mas, por outro lado, estãovinculados a rotinas de inspeção e manutençãopara assegurar a integridade física da estrutura.O colapso por erosão e desestabilização dodique pode levar a sérios prejuízos, inclusive,perda de vidas humanas.

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Em áreas muito baixas com relação àdrenagem principal de uma região, configura-se, como alternativa, a implantação de pôlderes.Esse tipo de solução, reúne a combinação daconstrução de diques, eliminando a influênciados extravasamentos do curso de água principalsobre a área alvo e a implantação de sistemade drenagem local. O sistema de drenagem,nesse caso, será projetado em cotas maisbaixas que os níveis d’água críticos do rioprincipal. Essa solução deverá ser acoplada amecanismos que possibilitem esgotar aságuas mantidas temporariamente na área de

interesse, após a passagem da enchente.Dentro da área do pôlder, as águas

podem ser esgotadas por sistema de microdrenagem convencional, isto é, bocas de lobo,coletores secundários e principal ou por meiode valetas a céu aberto que direcionam aságuas de chuva para um canal de cintura.

Dependendo das característicastopográficas do terreno, os volumesarmazenados serão posteriormente entreguesà drenagem principal, por meio da operação decomportas e/ou bombeamento, através deestações elevatórias.

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Em função do tamanho da área a ser beneficiada com o pôlder, há necessidade de sealocar, dentro dos limites considerados, espaço que funcionará como bacia de acumulaçãotemporária, também conhecida como reservatório pulmão.

Outras soluções locais, como desvios, pequenas bacias de acumulação pela implantaçãode barragens com ou sem mecanismos regularizadores e reservatórios subterrâneos ousuperficiais em logradouros públicos, também se apresentam como alternativas.

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Obras de influência regional como a barragem do Rio Sarapuí na Baixada Fluminense, sãogeralmente projetadas a partir do princípio de retenção temporária de parte dos volumes dasenchentes, liberando vazões compatíveis com o sistema de drenagem a jusante.

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Podem ser planejadas para trabalhar emconjunto com outras obras regionais e/ou locaisotimizando o efeito laminador dos picos deenchente.

Reservatórios de grandes dimensõesinseridos no contexto da gestão dos recursoshídricos da bacia hidrográfica podem terdiferentes finalidades. A regularização das águasarmazenadas durante períodos chuvososdependerá dos múltiplos usos definidos para aobra, isto é, laminação de enchentes, geraçãode energia elétrica, irrigação, abastecimentodomiciliar e/ou industrial, preservação da

fauna e da flora, manutenção da navegação,prevenção à penetração das águas oceânicas,recreação, etc..

Reservatórios exclusivos para laminaçãode enchentes devem funcionar de forma aregularizar, para jusante, tão rápido quantopossível, o volume acumulado durante o eventopluviométrico, permitindo a liberação do espaçopara novos armazenamentos.

Tais reservatórios, podem ser formadospor barragens dotadas ou não de mecanismosde controle das vazões efluentes.

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Em geral, esses mecanismos sãoconstituídos de comportas manobráveislocalizadas na parte inferior da estrutura derepresamento, operadas de acordo com ascondições de escoamento de jusante. No casode grandes afluências de água de chuvae atingida a capacidade máxima

de liberação dessas comportas, o nível de água

no reservatório crescerá até atingir a soleira do

vertedouro, quando, então, as contribuições para

jusante serão acrescidas daquelas vertidas e

limitadas às características hidráulicas do

vertedouro.

Nos reservatórios de múltiplos usos, pode ser importante armazenar o máximo de afluênciadas águas de chuva. Nesse caso, o vertedouro é equipado com sistema de comportas, operadode acordo com as necessidades de retenção de volumes adicionais, garantindo disponibilidadehídrica durante períodos de estiagem ou mesmo para reforçar medidas para evitar inundações ajusante.

Os grandes reservatórios de regularização, a exemplo daqueles voltados para geração deenergia elétrica, são dimensionados de forma a manter grandes volumes de espera. Podemabsorver contribuições de enchentes de períodos de retorno, entre 5.000 a 10.000 anos,constituindo-se em importantes aliados durante períodos de chuvas intensas na bacia hidrográfica.São operados normalmente para atender as demandas de energia elétrica. Em situações críticasde enchente a montante, podem controlar as vazões efluentes de modo que, somadas àscontribuições laterais de jusante, se limitem a capacidade da calha principal ou, pelo menos, nãoproduzam inundações calamitosas.

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Nas bacias hidrográficas de regimetorrencial, a formação e concentração doshidrogramas de enchente se dá em curtosperíodos. Em geral, são áreas de drenagem depequenos tempos de concentração, onde ocurso superior do rio principal e de seusafluentes apresentam declividades acentuadas,curso médio de pouca representatividade e ocurso inferior, se desenvolve com baixasdeclividades.

Durante eventos pluviométricos degrande intensidade e duração na regiãomontanhosa, a população, geralmenteassentada nas áreas de baixada é surpreendidacom a rápida elevação do nível das águas,quando não pela própria inundação.

Essas circunstâncias, somadas àimportância sócio-econômica da área,requerem soluções que podem oferecerproteção até um determinado risco.

Uma das alternativas para o problema,é a construção de pequenos barramentoslocalizados nas áreas íngremes, onde ascaracterísticas físicas da calha de escoamentode alguns afluentes, permitem acumular,temporariamente, parte dos volumes das águasdas enchentes.

Nas estruturas de barramento podemser instalados mecanismos regularizadores,como comportas ou adufas, que necessitem deoperação controlada para garantir eficiênciamáxima da capacidade de reservaçãotemporária.

Nesse caso, exigiria mão de obraexclusiva e comprometida com a operaçãointegrada do conjunto de barramentos duranteperíodos chuvosos. Por outro lado, estandodesprovidas de tais mecanismos de controle,as vazões efluentes, dependerão dascaracterísticas hidráulicas do orifício utilizadopara regularização.

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MEDIDAS PREVENTIVASCOMPLEMENTARES

Somente em poucas regiões é viável aimplantação de grandes obras de retenção paraa redução das enchentes. Também obras locaispara redução de inundações somente garantemproteção limitada. O problema persiste paraenchentes excepcionais, isto é, acima daquelasconsideradas no projeto.

Quando não mais ocorrem inundaçõesregulares, o homem se sente mais seguro, aurbanização cresce na direção das áreasmarginais dos cursos de água, concentrandocada vez mais os bens materiais.

Tais áreas ainda apresentam riscos paraocupação, uma vez que permanecemvulneráveis para enchentes excepcionais.Quando a enchente superar àquela adotada noprojeto, os prejuízos podem ser consideráveis.

Existem muitas ações preventivas quepodem contribuir para a redução dos volumesdas enchentes e ou prejuízos envolvidos.

Medidas preventivas complementaresdevem ser implementadas através da união deesforços do Estado e da população atingida.

Essas medidas exigiriam a adoção,incentivo e divulgação de uma políticaesclarecedora onde, as assistências jurídica etécnica, deveriam estar sempre presentes.

Medidas para redução dos volumesdas enchentes

Podem ser adotadas de forma isoladaou para acrescentar maior segurança oferecidapor obras convencionais.

A retenção temporária é um agente

regulador dos volumes das águas de chuva e,

portanto, a ampliação das áreas que possam

contribuir de forma natural ou artificial para esse

mecanismo é um fator positivo no controle da

formação das enchentes.

Nesse sentido, o reflorestamento de

encostas, áreas públicas e privadas, trará, a

médio e longo prazos, um conjunto de

benefícios. Além de potencializar a infiltração,

reter temporariamente parcela das águas de

chuva, e diminuir a erosão, fatores esses

fundamentais no processo, a recuperação da

biota, criação de áreas de lazer e a valorização

da paisagem, são benefícios indiretos.

A conservação e recuperação da

vegetação ciliar aumenta a resistência ao

escoamento, diminuindo a velocidade média e

o processo erosivo das margens, produzindo

maior armazenamento dos volumes das águas

e reduzindo os picos das enchentes nas calhas

dos afluentes e do rio principal.

O aumento das áreas que permitem a

infiltração das águas de chuva contribui para

redução do escoamento superficial, possibilita

a recarga das águas do lençol freático e

aqüíferos subterrâneos e promove o

retardamento de parte do volume precipitado

com relação ao escoamento superficial direto.

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O reaproveitamento das águas de chuva é outra medida que pode ser empregada comosolução não estrutural. Nos condomínios, fábricas, postos de serviços, escolas, hospitais, unidadesda defesa civil e mesmo por iniciativa isolada de alguns cidadãos, a captação e reservação daságuas pluviais para fins específicos, trazem vantagens econômicas para o usuário e redução dosvolumes disponíveis para o escoamento superficial.

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Medidas para diminuiçãodos prejuízos

É evidente que a medida efetiva e maiseficaz para a diminuição de prejuízosdecorrentes das enchentes é não ocupar enão urbanizar áreas que correm o risco deserem inundadas.

De uma maneira geral pode-se agruparas medidas preventivas para redução dosprejuízos da seguinte forma:

- prevenção na área;- prevenção na construção;- prevenção no comportamento;- prevenção do risco.

Prevenção de área - As áreas sujeitasa inundação e os respectivos riscosdevem estar claramente definidos nos planosdiretores e consideradas como áreas livres.Os planos regionais devem respeitar oslimites estabelecidos.

Essas áreas são delimitadas com baseem estudos hidrológicos especializadoscujos resultados devem ser amplamentedivulgados pelo estado.

Prevenção na construção - Nas áreassujeitas a inundação onde a urbanização jáexiste e avança mesmo com o conhecimentodo risco, o cidadão deve tomar algumasprecauções simples que, certamente,reduzirão os prejuízos quando as águassubirem ao seu redor.

Na construção, devem ser escolhidosmateriais que tenham boa resistência aumidade, procurando sempre que possívelelevar o primeiro piso da obra.

Prevenção no comportamento - Nosdomicílios com mais de um andar deve-sedestinar os andares mais baixos a usosmenos nobres e criar meios para o rápidodeslocamento dos bens para andaressuperiores.

Prevenção do risco - O cidadão deveestar bem informado quanto ao risco deinundações na área que pretende ocupar.Procurar a autoridade local é uma opção.Caso a informação não esteja disponível,indagar sobre a questão aos moradores maisantigos, antes de qualquer iniciativa.

Mudanças conceituais das práticas deengenharia fazem parte da história daadaptação do homem ao meio natural.

Ao longo dos séculos, a ocupação doespaço é marcada pela adoção de soluções deengenharia que permitem o assentamento dohomem, com a devida infra-estruturanecessária para seu bem estar (água, esgoto,energia elétrica, vias de transporte, etc.) eprotegida até um certo risco, de eventos naturaiscomo as inundações.

O crescimento populacional contribuiupara a descaracterização parcial dos ciclosnaturais, potencializando os efeitos dosfenômenos da natureza, com sérios impactose prejuízos ao conteúdo ambiental econseqüentemente, ao próprio homem.

CONTROLE DE ENCHENTES EENGENHARIA AMBIENTAL

UM NOVO CONCEITO

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Obras relacionadas à engenharia derecursos hídricos modificam os processosnaturais envolvidos com o ciclo hidrológico, taiscomo, erosão e sedimentação, balanço hídrico(capacidade de retenção, infiltração eevaporação), padrão de drenagem (modificaçãodas áreas sujeitas a inundação), etc.. Somam-se a essas questões, os impactos sobre osecossistemas, decorrentes das alterações doespaço físico e da disponibilidade hídrica,fundamental na adaptação e desenvolvimentoda fauna e flora.

Retificação em áreas de baixadapromove redução do comprimento do curso deágua, uniformização da seção transversal deescoamento e aumento da velocidade daságuas e das taxas de erosão.

Diminui-se a freqüência deextravasamento do rio para a baixada, levandoao empobrecimento dos ecossistemas e àredução da diversidade biótica.

Nesse caso, a morfologia natural, quedepende do regime de vazões e do equilíbrioentre erosão, transporte e sedimentação dematerial sólido constituinte do leito menor emaior, é totalmente alterada.

A dinâmica natural de um curso de águasem intervenção do homem leva à formação degrande variedade de núcleos biológicos,estruturas e condições específicas que, emconjunto, determinam o ecossistema dasbaixadas inundáveis e da própria calha do rio.

A construção de barragens ou dedegraus ao longo do eixo de escoamento, criaobstáculos ao processo natural de reproduçãode várias espécies de peixe que, emdeterminadas épocas, nadam para montanteem busca de bolsões naturais para desova.

A regularização de vazões naturais,através de estruturas que permitem oarmazenamento das águas de chuva e posteriorliberação de vazões que não comprometamáreas urbanas ao longo dos rios, é outro fatornegativo para a fauna e flora que, muitas vezes,necessitam da dinâmica da flutuação de níveisd’água para sua adaptação e sobrevivência.

Problemas ambientais tem sidominimizados a partir do fortalecimento e adoçãode ações direcionadas para a conservação erecuperação gradual do escoamento natural daságuas e a regeneração da biota local.

Trata-se de um novo conceito aplicávelàs intervenções já existentes, e àquelas aindapor realizar.

Fundamenta-se na implantação de obrashidráulicas adaptadas à natureza e àconservação e/ou recuperação das áreas deinundação, onde for possível.

Os principais objetivos são:

preservar e recuperar áreas naturais de

inundação;

recuperar os cursos de água de modo a

permitir a revitalização da biota natural.

Após longo período de convencimentodos quadros técnicos das instituições públicase conscientização da população, alguns paíseseuropeus incorporaram essa prática aoplanejamento de recursos hídricos.

Em cenários apropriados, sob o pontode vista sócio – econômico, cria-se ou recupera-se, sob condições morfológicas controláveis,por meio da engenharia ambiental, espaço paraarmazenamento temporário de parcela dosvolumes pluviais durante passagem deenchentes.

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Na realidade, o que se pretende é o retorno da convivência pacífica entre o rio, a fauna,flora e o bem estar do homem, inclusive nas épocas de cheias.

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Rio Vils na Baviera (Alemanha).Preservação das condições naturais do leito maior em harmonia coma agricultura intensiva.

Rio Isar, zona urbana de Munique (Alemanha).Preservação do leito maior, criando harmonia entre atividades de recreaçãoe lazer, fauna e flora e controle de enchentes.

Fonte: Bayerisches Landesamt für Wasserwirtschaft

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Na engenharia de recursos hídricos ainda não se estabeleceu termo técnico que possaser adotado para caracterizar esse tipo de intervenção. Revitalização é, por enquanto, a palavramais empregada.

Atualmente em muitos países na Europa as áreas marginais de inundação tem uso restritoe, as vezes, são transformadas em parques de lazer, com quadras de esporte, jardins, permitindo,inclusive, a balneabilidade fluvial, à medida que a questão da poluição hídrica está sendo resolvida.

O processo de recuperação natural exige conhecimentos da dinâmica morfológica, doecossistema aquático e, principalmente, a compreensão e a aceitação da população ribeirinha.

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Tradicionalmente, nas áreas urbanas, os rios são canalizados e, muitas vezes, retificados,com o leito e margens dispostos como se fossem compartimentos isolados, comprometendo asinterações biológicas com as áreas marginais.

A recuperação de rios e córregos em áreas urbanas só é possível onde há espaço paraampliação do leito do rio melhorando o problema do escoamento das enchentes.

Em casos de limitação de áreas disponíveis, deve-se buscar soluções possíveis adaptadasàs necessidades de evolução natural, como por exemplo, ampliação do leito em somente umadas margens.

A questão do custo–benefício deve ser bem estudada. Há que se considerar que os custospara manter a evolução natural a longo prazo, não são maiores que aqueles relativos a construçãoe manutenção de obras hidráulicas convencionais.

Uma vez decidida a recuperação de um rio urbano ou rural, pode-se, com o auxílio de umaequipe multidisciplinar, agregar idéias e planejar cenários onde o controle de enchentes e avalorização ecológica caminhem juntos.

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O planejamento para a recuperação do curso de água deve estar vinculadoaos seguintes objetivos:

revitalização do curso de água;

ampliação do leito do rio e melhores condições para o escoamento dasenchentes;

reconstituição da continuidade do ecossistema do curso de água;

restabelecimento de faixas marginais de proteção e da mata ciliar;

criação de atrativos para o lazer – acesso a água;

melhorias na paisagem.

As principais atividades para alcançar esses objetivos são:

aplicação, onde for possível, de técnicas de engenharia ambiental (quebra-correntes de gabiões, pedras e/ou troncos de árvore; plantio em áreassujeitas a erosão, etc.), no lugar de obras hidráulicas de engenharia;

remoção de obstáculos.

Esse conceito é novo na engenharia e já começa a despertar interesse em vários estadosbrasileiros. No entanto, certamente, será absorvido a médio e longo prazos, a exemplo daexperiência estrangeira.

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RECOMENDAÇÕES

Considerando que os prejuízos das inundações estão intimamente ligados a fatores einterferências atribuídos ao próprio homem, é necessário reavaliar práticas e conceitos até entãoadotados, de forma que novas medidas não convencionais venham compor o elenco de açõespara a amenização das enchentes e seus prejuízos e conviver com elas.

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O nível de urbanização e concentração populacional e de bens materiais nas áreas derisco de inundações, isto é, ao longo das margens dos rios e nas regiões de baixada, vãodiferenciar o número e tipo de ações e práticas recomendáveis.

Em qualquer situação, é fundamental a visão global da bacia hidrográfica, elegendo-acomo unidade de gestão participativa, envolvendo o poder público, a sociedade organizada e ossetores produtivo e acadêmico especializado.

As ações devem estar integradas ao planejamento municipal, estadual e nacional, sefor o caso, e contemplar os seguintes aspectos:

gestão dos recursos hídricos;uso e ocupação racional do solo;manejo adequado na agricultura; epreservação ambiental.

Ações Relativas à Gestão dos Recursos Hídricos:

redução das vazões máximas das enchentes, através do aumento e recuperaçãode áreas de retenção natural e/ou artificial e daquelas que permitam maiorcapacidade de infiltração das águas de chuva;manutenção da capacidade de escoamento dos cursos de água, através deconservação sistemática, política de fiscalização severa quanto à ocupação dasmargens e ao descarte de lixo e aprovação de critérios rigorosos, com relação aprojetos de travessias e à interligação do curso de água com a drenagem urbana;redução das taxas de erosão e sedimentação através de campanhas derecuperação e replantio da vegetação ciliar e reflorestamento da área da bacia;redução das velocidades médias das águas pela recuperação das condiçõesnaturais da calha de escoamento;estabelecimento de política permanente para despoluição gradual das águas;aprimoramento dos sistemas de previsão de chuvas e de alerta de enchentes.

Ações Relativas ao Planejamento do Uso e Ocupação Racional do Solo:

evitar urbanização de áreas sujeitas a inundação como opção mais econômicapara reduzir os riscos e prejuizos das enchentes;recuperação ou prevenção de áreas de retenção e de infiltração de águas de chuva;localização e delimitação de áreas inundáveis, promovendo a devida divulgação,informando os riscos envolvidos e, se for o caso, incentivar apólices de seguro;limitação dos investimentos públicos na área e influência para a redução daquelesda iniciativa privada;

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inclusão dos cursos de água nos projetos de paisagismo, tornando fatoresestéticos positivos do ambiente, permitindo maior integração com a sociedade;zoneamento, preservação e manejo de áreas verdes (maior retenção);implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos sanitários, disposiçãoambientalmente sustentável do lodo de ETEs.

Ações de Manejo Adequado na Agricultura:manutenção de áreas inundáveis e desenvolvimento de culturas adaptáveis;plantio e cultivo de espécimes que contribuam para diminuir as taxas de erosão emáreas suscetíveis;busca de alternativas para evitar o desmatamento de encostas a favor da agriculturae pecuária;reflorestamento em grande escala, especialmente em áreas rurais de pouco uso;criação de áreas de armazenamento temporário das águas de chuva.

Ações de Prevenção Ambiental:ampliação de áreas verdes;intensificação do controle da poluição hídrica;recuperação, onde for possível, de trechos dos cursos de água canalizados e/ouretificados, ampliando a calha do rio, criando condições para revitalização deecossistemas adaptáveis;educação ambiental.

Ações Complementares para Obras Indispensáveis:

Todas as obras como canalização, retificação, aterros, diques, muros, etc., que visamreduzir inundações locais, sempre acarretam o aumento das enchentes rio abaixo.

Mesmo consciente dessas conseqüências, muitas vezes, é necessário realizar obrasde controle de enchentes para proteção da população já estabelecida nas áreas inundáveis.

Para conter o agravamento contínuo das enchentes é indispensável, nestes casos,compensar as perdas de retenção natural ocasionadas pelas obras, complementando-as comoutras medidas de retenção na própria bacia.

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Conceitos Fundamentais para Prevenção e Reduçãodos Riscos e Prejuízos de Enchentes

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Linhas básicas para controle de enchentes e prevençãodas inundações

A água e os rios, em qualquer região, fazem parte da natureza e sendoessencial à vida e, portanto devem ser considerados em todos os camposda sociedade.

A água deve ser retida em toda a área da bacia no maior tempo possível, istoé, pelas matas naturais e reflorestadas, nas áreas cultivadas e nos leitosdos cursos d’água, tanto nos afluentes como no rio principal, inclusive emreservatórios.

O espaço natural do rio deve ser respeitado de modo a permitir o seuescoamento natural sem aceleração da vazão para jusante.

Mesmo com obras de controle de enchentes sempre permanece o risco deocorrer enchentes maiores do que aquelas consideradas no projeto. Deve-se aprender a conviver com tais riscos.

Ações integradas e solidárias em toda a bacia devem ser concretizadas,considerando inclusive os problemas dos vizinhos a jusante, como pré-condição para o sucesso de todas as ações de controle de enchentes eprevenção de inundações.

2- Retenção da água

1- Água faz parte da vida

3- Espaço para o rio

4- Conhecimento dos riscos

5- Ações solidárias e integradas

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SPEKTRUM WASSER 1, Hochwasser: Bayerisches Landesamt fur Wasserwirtschaft. Munique/Alemanha.

1998.

RELATÓRIO de Avaliação das Precipitações Pluviométricas de Fevereiro de 1988 nos Bairros do Municípiodo Rio de Janeiro e Petrópolis. Brasil: Rio de Janeiro. Fundação Superintendência Estadual de Rios eLagoas (SERLA). 1988.

RELATÓRIO final de interpretação de imagens satelitárias visando detecção de áreas de risco de enchentes:

Brasil. Rio de Janeiro. SERLA, Aerofoto Cruzeiro SA. 1989.

REVISTA MUNICIPAL DE ENGENHARIA. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, V. 41. 1990.

REVISTA RIO-ÁGUAS. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Obrase Serviços Públicos, V. 1. 1999.

RIO DE JANEIRO em seus 400 anos, formação e desenvolvimento da cidade. Brasil: Rio de Janeiro. RECORD.1965.

TORMENTAS Cariocas. Coordenação Luiz Pinguelli. Brasil: Rio de Janeiro. COPPE- UFRJ e COEP. 1997.

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INFORMAÇÕES À POPULAÇÃO(ANTES, DURANTE E APÓS INUNDAÇÕES)

A PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO, DE FORMA ORGANIZADA ECONSCIENTE, É FUNDAMENTAL PARA O ÊXITO DE UMA OPERAÇÃO

DE DEFESA CIVIL, EM CASOS DE EMERGÊNCIA

NÃO JOGUE LIXO NOSLOGRADOUROS PÚBLICOS

E/OU NOS RIOS.

EVITE, AO MÁXIMO, AIMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO.

CONSTRUA JARDINS NO LUGARDE CALÇAMENTOS.

NÃO DEIXE O SOLO NU.

PROCURE PLANTAR NOSEU TERRENO.

NÃO OBSTRUA O CAMINHO DAS ÁGUAS COMCONSTRUÇÕES OU ATERROS.

ANTES DE CONSTRUIR EM ÁREA DE BAIXADA OU PRÓXIMO A UM RIO,VERIFIQUE JUNTO À PREFEITURA, AOS ÓRGÃOS ESTADUAIS OU AINDA AOSVIZINHOS, SE A ÁREA ESTÁ SUJEITA A INUNDAÇÕES.

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EM SITUAÇÕES DE ALERTA

O CIDADÃO DEVE TER CONHECIMENTO DASÁREAS SUJEITAS A INUNDAÇÕES NA SUAREGIÃO. DURANTE CHUVAS INTENSAS,OPTAR POR CAMINHOS ALTERNATIVOS OUAGUARDAR EM LUGAR SEGURO ATÉ QUE ASÁGUAS BAIXEM

NO RIO DE JANEIRO, SÃOCOMUNS, NO VERÃO, OSTEMPORAIS DE FINAL DETARDE, DE CURTA DURAÇÃO

FAÇA CONTATOS COM PESSOASRESIDENTES NAS PROXIMIDADES, FORADA ÁREA DE RISCO. ESSAS PESSOASPODEM AJUDAR, GUARDANDO SEUSMÓVEIS OU ABRIGANDO SUA FAMÍLIA, EMCASO DE NECESSIDADE

PROCURE CONHECER, ATRAVÉS DA DEFESA CIVIL DO SEUMUNICÍPIO, OS ABRIGOS E OS MEIOS DE DESOCUPAÇÃOQUE SERÃO UTILIZADOS EM CASOS DE CALAMIDADE

FORME GRUPOS DECOOPERAÇÃO ENTRE

OS MORADORES

OBSERVE O NÍVEL DASÁGUAS DOS RIOS

PRÓXIMOS À SUA CASA,CUIDANDO PARA NÃO

FICAR ISOLADO

TRANSMITA O ALARME AOSVIZINHOS EM CASO DE

ELEVAÇÃO DO NÍVEL DASÁGUAS

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ONDE ESTIVER, LIGUE PARA ...

HAVENDO NECESSIDADE DA FAMÍLIA DEIXAR A CASA:

Prepare uma bolsa com seus documentos e, se houver alguma pessoadoente, não esqueça os remédios;

Procure identificar as crianças, com nome, endereço e tipo sangüíneo;

Coloque os móveis e objetos em pontos altos da casa;

Desligue a chave geral de luz e do gás;

Solte os animais;

Utilize lanterna para orientação em locais de difícil visibilidade;

Ande sempre calçado, evitando acidentes com objetos cortantes;

Evite transitar com veículos em áreas inundadas. Entretanto, se fornecessário, deve-se evitar áreas onde o nível das águas esteja acima dametade dos pneus. Se notar que seu carro possa ser arrastado pelas águas,pare, amarre-o a um poste ou a uma árvore e procure um lugar seguro.

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Antes de entrar em casa, procure identificar a existência depossíveis danos estruturais. Esteja certo de que não haja risco dedesabamento;

Evite contato com águas das inundações, pois podem estar poluidase/ou contaminadas por esgotos ou lixo, contendo, certamente,microorganismos transmissores de doenças;

Não consuma alimentos que tenham sido atingidos pelas águas dainundação;

Não beba água de poços localizados na área inundada, antes quetenha sido examinada;

Não permita brincadeiras nem banhos em água acumulada pelasinundações, principalmente quando houver ferimentos;

Após o escoamento das águas, procure varrer e recolher o lixoacumulado no seu terreno.

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PROJETO PLANÁGUASEMADS/GTZ

O Projeto PLANÁGUA SEMADS/GTZ, de Cooperação Técnica Brasil – Alemanha, vemapoiando o Estado do Rio de Janeiro no gerenciamento de recursos hídricos com enfoquena proteção de ecossistemas aquáticos. A coordenação brasileira compete à Secretariade Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMADS, enquanto acontrapartida alemã está a cargo da Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit(GTZ).

1ª fase 1997 - 19992ª fase 2000 - 2001

Principais Atividades

Elaboração de linhas básicas e de diretrizes estaduais para a gestão de recursoshídricos

Capacitação, treinamento (workshops, seminários, estágios)

Consultoria na reestruturação do sistema estadual de recursos hídricos e naregulamentação da lei estadual de recursos hídricos no. 3239 de 2/8/99

Consultoria na implantação de entidades regionais de gestão ambiental (comitêsde bacias, consórcios de usuários)

Conscientização sobre as interligações ambientais da gestão de recursos hídricos

Estudos específicos sobre problemas atuais de recursos hídricos

Seminários e Workshops

• Seminário Internacional (13 - 14.10.1997)Gestão de Recursos Hídricos e de Saneamento - A Experiência Alemã

• Workshop (05.12.1997)Estratégias para o Controle de Enchentes

• Mesa Redonda (27.05.1998)Critérios de Abertura de Barra de Lagoas Costeiras em Regime de Cheia no Estadodo Rio de Janeiro

• Mesa Redonda (06.07.1998)Utilização de Critérios Econômicos para a Valorização da Água no Brasil

• Série de palestras em Municípios do Estado do Rio de Janeiro (agosto/set.1998)Recuperação de Rios - Possibilidades e Limites da Engenharia Ambiental

• Visita Técnica sobre Meio Ambiente e Recursos Hídricos à Alemanha,12-26.09.1998 (Grupo de Coordenação do Projeto PLANÁGUA)

• Estágio Gestão de Recursos Hídricos – Renaturalização de Rios14.6-17.7.1999, na Baviera/Alemanha (6 técnicos da SERLA)

• Visita Técnica Gestão Ambiental/Recursos Hídricos à Alemanha 24-31.10.1999 (SEMADS, SECPLAN)

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• Seminário (25-26.11.1999)Planos Diretores de Bacias Hidrográficas

• Oficina de Trabalho (3-5.5.2000)Regulamentação da Lei Estadual de Recursos Hídricos

• Curso (4-6.9.2000) em cooperação com CIDEUso de Geoprocessamento na Gestão de Recursos Hídricos

• Curso (21.8-11.9.2000) em cooperação com a SEAAPIUso de Geoprocessamento na Gestão Sustentável de Microbacias

• Encontro de Perfuradores de Poços e Usuários de Água Subterrânea no Estado doRio de Janeiro (27.10.2000) em cooperação com o DRM

• Série de Palestras em Municípios e Universidades do Estado do Rio de Janeiro(outubro/novembro 2000)Conservação e Revitalização de Rios e Córregos

• Oficina de Trabalho (8-9.11.2000)Resíduos Sólidos – Proteção dos Recursos Hídricos

• Oficina de Trabalho (5-6.4.2001) em cooperação com o Consórcio Ambiental LagosSão JoãoPlanejamento Estratégico dos Recursos Hídricos nas Bacias dos Rios São João, Una edas Ostras

• Oficina de Planejamento (10-11.5.2001) em cooperação com o Consórcio Ambiental LagosSão JoãoPrograma de Ação para o Plano de Bacia Hidrográfica da Lagoa de Araruama

• Oficina de Planejamento (21-22.6.2001) em cooperação com o Consórcio Ambiental LagosSão JoãoPlano de Bacia Hidrográfica da Bacia das Lagoas de Saquarema e Jaconé

• Seminário em cooperação com SEMADS, SERLA, IEF (30.07.2001)Reflorestamento da Mata Ciliar

Publicações da 1a fase (1997 - 1999)

Impactos da Extração de Areia em Rios do Estado do Rio de Janeiro(07/1997, 11/1997, 12/1998)

Gestão de Recursos Hídricos na Alemanha(08/1997)

Relatório do Seminário Internacional – Gestão de Recursos Hídricos eSaneamento(02/1998)

Utilização de Critérios Econômicos para a Valorização da Água no Brasil(05/1998, 12/1998)

Rios e Córregos – Preservar, Conservar, Renaturalizar – A Recuperação deRios. Possibilidades e Limites da Engenharia Ambiental(08/1998, 05/1999, 04/2001)

O Litoral do Estado do Rio de Janeiro – Uma Caracterização Físico Ambiental(11/1998)

Uma Avaliação da Qualidade das Águas Costeiras do Estado do Rio deJaneiro(12/1998)

Uma Avaliação da Gestão de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro(02/1999)

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Subsídios para Gestão dos Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas dosRios Macacu, São João, Macaé e Macabu(03/1999)

Publicações da 2a fase (2000 - 2001)

Bases para Discussão da Regulamentação dos Instrumentos da Política deRecursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro(03/2001)

Bacias Hidrográficas e Rios Fluminenses – Síntese Informativa porMacrorregião Ambiental(05/2001)

Bacias Hidrográficas e Recursos Hídricos da Macrorregião 2 – Bacia da Baíade Sepetiba(05/2001)

Reformulação da Gestão Ambiental do Estado do Rio de Janeiro(05/2001)

Diretrizes para Implementação de Agências de Gestão Ambiental(05/2001)

Peixes de Águas Interiores do Estado do Rio de Janeiro(05/2001)

Poços Tubulares e outras Captações de Águas Subterrâneas- Orientação aos Usuários(06/2001)

Peixes Marinhos do Estado do Rio de Janeiro(07/2001)