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    2005 Ordem CafhTodos os direitos reservados

    AS DEZ PALAVRAS DO

    DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL

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    AS DEZ PALAVRAS DO DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL Pgina 2 de 26

    NDICE

    INTRODUO................................................................................................ .......3

    1. CALAR E ESCUTAR ....................................................................................... 6

    2. RECORDAR E COMPREENDER...................................................................... 10

    3. SABER QUERER .......................................................................................... 15

    4. OUSAR, JULGAR, ESQUECER....................................................................... 17

    5. SABER QUERER E QUERER OUSAR ............................................................. 21

    6. TRANSMUTAR............................................................................................. 24

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    INTRODUO

    A terceira Ensinana do cursoDesenvolvimento Espiritual termina da seguinte maneira:

    As palavras bsicas para o Desenvolvimento Espiritual so as seguintes:

    1. Calar2. Escutar3. Recordar4. Compreender5. Saber

    6. Querer7. Ousar8. Julgar9. Esquecer10. Transmutar

    Podemos interpretar o fato de que o texto do curso no faz mais referncias a estaspalavras como que seu significado o literal e que descrevem um processo linear dedesenvolvimento.

    Literalmente, cada uma dessas palavras significa algo claro a ser feito. Por exemplo,

    calar no falar; escutar, prestar ateno; recordar, trazer algo memria; etc.Como desenvolvimento linear, a sucesso dessas palavras implicaria precedncia de

    umas sobre as outras, sem retrocessos.

    Nesse contexto deve-se distinguir dois aspectos do desenvolvimento linear. Em umsentido relativo, sim, h aspectos lineares. Em um sentido absoluto, os desenvolvimentoslineares no so observados no processo de nosso desenvolvimento.

    No contexto das dez palavras e no entorno da conduta, existe uma precedncia linear. necessrio que calemos, tanto o falar vocal como o mental, para poder escutar. Paracompreender necessitamos recordar. Para querer, primeiro temos que saber nossas opes.Para ousar, necessitamos querer dentro do contexto conhecido e assim reconhecer os limitesdesse contexto. S ento podemos julgar com validade quando ousamos contemplar um

    contexto maior que o de nossos pontos de vista habituais. E para transmutar necessitamosvirar a pgina pessoal de nossas recordaes esquecer seu carter particular e assimassimil-los a um contexto mais universal.

    assim que, no entorno da conduta, as dez palavras configuram uma asctica quepromove nosso desenvolvimento.

    Mas uma asctica aplicada conduta, se bem que necessria, no nos basta para ampliarnossa conscincia alm das concepes da cultura que define essa asctica. Podemos alcanargrande compostura sem por isso sair dos limites de nossos preconceitos e idias feitas. Esteencerramento mental costuma levar a sentir-nos seguros de que estamos chegando a nossoobjetivo espiritual, sem dar-nos conta de que, por exemplo, o fato de Ousar tomar umadeciso no significa que tenhamos Compreendido a situao que motivou nossa deciso e

    que essa deciso seja sbia.Se bem que o desenvolvimento da conduta possa ser linear em alguns aspectos, o da

    conscincia no o . No deixamos nada para trs, tudo continua estando em ns enquantoampliamos nosso estado de conscincia.

    O desenvolvimento espiritual no linear; a evidncia nos mostra que no por havercompreendido algo sobre nossa conduta, no voltaremos atrs e no agiremos como se no otivssemos compreendido.

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    Por essa razo, ao considerar as dez palavras, alm de referi-las ao que fazemos, ns asestamos relacionando com a noo que temos de ns mesmos e de nosso entorno; isto , nsas referimos a nosso estado de conscincia.

    No entorno da conscincia, as dez palavras configuram uma mstica que agediretamente em nossa noo de ser. bom, ento, que nos detenhamos na distino entre aidia de dever sere a de chegar a ser.

    Dever sersupe a existncia de um modelo de desenvolvimento que deveria seralcanado baseado em uma idealizao que, na realidade, geramos por extrapolao do quepara ns pode ser a perfeio. A dificuldade deste enfoque que nossa idia do modelo ltimo ou da perfeio sempre proviria de nossa conscincia imperfeita, j que no estamos nameta do desenvolvimento, mas a caminho dela. E estamos, no somente ns individualmente,mas tambm esto nossas concepes e crenas, j que so produto de nossa mentalidadeatual.

    freqente que a idia de dever serde acordo com um modelo de perfeio idealizadoimpregne no somente nossa asctica mstica, mas tambm nossa noo de ser e que issoabata nosso nimo. Como devemos seralgo ideal, por mais que nos esforcemos sempre vemosuma distncia intransponvel entre o que somos e o ser ideal que deveramos ser. Em vez deprestar ateno ao processo de ampliao de nosso contexto, visualizamos o que devemos serem um marco ideal, fora dos limites de nosso ser. inevitvel, ento, que vivamos com umsentimento de culpa que no podemos desarraigar e com a carga de no poder realizar o quemais ansiamos.

    Por outro lado, se nosso modelo de perfeio ideal, fechamos a possibilidade dedesenvolv-lo e, com isso, colocamos um obstculo a nosso prprio desenvolvimento. Almdisso, esta viso do dever sercostuma tornar-nos discriminadores, dogmticos e intolerantes.

    Sem dvida, indiscutvel que necessitamos de modelos, se bem que no perfeitos emsentido absoluto, to expansivos como possamos conceb-los a partir de nosso estado deconscincia atual; esses modelos so os reais que, esses sim, podemos alcanar. Tambm

    indiscutvel que necessitamos uma moral para ordenar nossa conduta rumo a nosso objetivo .Mas, para adiantar-nos espiritualmente, necessitamos contextualizar nossos modelos e nossamoral dentro da linha do desenvolvimento de nosso estado de conscincia.

    Se acompanharmos a asctica de domnio sobre nossa conduta com uma mstica deexpanso de nossa conscincia, internalizamos a tica e, paulatinamente, nossa condutaresponde de forma espontnea ao sentido de participao e incluso que desenvolvemos.

    No contexto do desenvolvimento espiritual poderamos dizer que nosso ser atual umchegar a ser.

    No chegamos a ser como quem chega a um objetivo final, mas ao estgio quecomeamos a transitar no momento de olhar alm de ns mesmos e de nossos interessesimediatos. Deste ponto de vista, desenvolver-nos um contnuo chegar a ser, um processo de

    compreenso por incluso, acompanhado da plenitude implcita em cada avano que fazemossobre o contexto que nos contm e nos define.

    Por conseguinte, chegar a ser, simplesmente, ser agora, no eterno presente.

    No nos possvel nem ser o que fomos nem ser o que ainda no somos. Somos agora.O quid do ser agora o contexto de nosso agora. Quanto mais o contexto de nosso agoraabarca, mais expandida nossa conscincia de ser.

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    Esta viso de nosso desenvolvimento engasta as dez palavras de tal maneira que todaselas esto no somente relacionadas, mas so inseparveis. A primeira palavra est toprxima da seguinte como das demais. No podemos transmutar sem calar, e s quandocalamos nossas idias feitas podemos transmutar em conscincia as ensinanas que a vida nosd.

    A aplicao das dez palavras, como asctica e como mstica, a nosso empenho paradesenvolver-nos, ajuda-nos a saber quem somos, como queremos viver, em que queremosdevenir; d-nos tanto um marco como uma linha de trabalho para alcanar nosso anseio.

    Mesmo que ignorssemos esta linha de trabalho, eventualmente nos desenvolveramos;bastaria que nos deixssemos levar na vida pela mo do tempo. Mas se nossa vocao expandir plenamente nossa conscincia, as dez palavras nos assinalam a inteno, a atitude, aconduta e o campo de trabalho nosso estado de conscincia que nos orientam para essefim de maneira mais expedita e com menos sofrimento.

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    A Mstica do Corao exige de ns comprometer-nos totalmente com nossa realidadebvia e evidente: comprometer-nos com o que somos, com o mundo e os seres com quevivemos e com as possibilidades mais excelentes que podemos realizar para o bem eadiantamento do mundo.

    Com que outra realidade podemos comprometer-nos seno com esta vida que vivemos,e quem mais pode comprometer-se seno cada um de ns, tal como ? Por isso fundamentalfazer silncio; no sendo assim, em vez de comprometer-nos com a realidade bvia, ns nosataramos a uma iluso forjada por nossas idias feitas.

    tanto o que temos acumulado atravs de nossa histria, de nossas crenas e de nossossonhos bem intencionados sobre a vida espiritual que fica difcil para ns ver as coisas comose nos apresentam, ainda que estejam diante de ns.

    A vida nos d continuamente sua ensinana; no entanto, para aceit-la necessitamosdeixar em suspenso o que pensamos sobre ela e sobre como somos. Isto implicanecessariamente fazer silncio: calar e escutar.

    O calar e o escutar so tambm indispensveis para transmitir a Mensagem daRenncia.

    A confiana que temos em nossa maneira de interpretar as coisas pode desnaturalizar asboas obras que pretendemos realizar. Sem dar-nos conta podemos transformar-nos em maisum caso dos que acreditam ter a soluo dos males do mundo e que do seu prprio discurso,alheio realidade bvia que sempre est ante seus olhos.

    A maneira de transmitir a Mensagem da Renncia fazendo silncio: calando eescutando para perceber a realidade do outro, sua necessidade e suas possibilidades, e assimresponder de acordo com cada caso em particular.

    No confundamos a Mensagem da Renncia com uma nova teoria sobre a vida e seusproblemas. A Mensagem da Renncia a renncia como mensagem: nossa prpria renncia.S assim o que dissermos e fizermos pode impulsionar o desenvolvimento humano.

    A soluo dos males do mundo no vem de fora; no h soluo mgica para condiesque so prprias de nosso estado de conscincia. A nica maneira de transcender os males quesofremos atravs de nosso prprio desenvolvimento: o adiantamento espiritual de cada um.Tudo o que fazemos expressa o que somos. Se desejamos um mundo melhor, a frmula paraalcan-lo fazer-nos melhores: desenvolver-nos sem cessar.

    Faamos lugar em ns para a Religio Universal, fazendo-nos universais.

    Aceitar intelectualmente uma viso ampla do mundo e da vida, que inclua descries deciclos de vida humana e csmica, no afeta significativamente o prprio estado deconscincia. Tampouco o afeta se mudamos a idia de que vivemos somente uma vez nestemundo pela da reencarnao, ou se mudamos o nome dos seres sobrenaturais em queacreditamos, ou se aderimos idia dos diversos planos de existncia, ou se acreditamos em

    uma srie de afirmaes em vez de acreditar em outras.Tudo isso so diferentes enfoques da realidade e opinies baseadas em crenas, que no

    implicam uma evoluo significativa no prprio estado de conscincia.

    Explicar a realidade de um modo ou de outro, acreditar ou no nisto ou naquilo, por sis no nos faz nem mais amplos nem mais evoludos.

    o grau de universalidade que alcanamos atravs da Mstica do Corao encarnada navida diria o que indica a qualidade de nosso estado de conscincia.

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    O que significa alcanar universalidade?

    Implica uma mudana qualitativa bsica em nossa maneira de nos relacionarmos comtudo, comeando com o que est ao nosso alcance: os pontos reais e contnuos de interaoque temos com o universo: as pessoas com as quais nos relacionamos diariamente.

    Na prtica, calar-nos para transformar a maneira como nos relacionamos com elas.

    Na base de todas as nossas relaes esto nossas idias feitas sobre como so ou teriamque ser todas as coisas e os demais. Sobre essa base construmos nossas expectativas e, sobreestas, nossa maneira de agir e de reagir sobre os demais e de fazer juzos sobre eles.

    indispensvel contar com um sistema de idias para derivar dele nossas decises e aes.Mas esse mesmo sistema de idias, se o tomamos como inamovvel, impede-nos atualizar a visoque temos da realidade circundante.

    Cada sistema de idias prprio de um estado de conscincia. Nossa tendncia inconsciente aferrar-nos a nossa maneira de ver as coisas, sem dar-nos conta de que essa atitude vai contra aexpanso de nosso estado de conscincia.

    Como fazer, ento, para produzir nosso adiantamento?

    Aprender, por um lado, a sustentar s com alfinetes nossas interpretaes e dar lugar auma atitude aberta e expectante ante as coisas e as pessoas para perceb-las tal como se nosapresentam e no como pensamos que so.

    O exerccio simples e prtico para conseguir isto silenciar sistematicamente: calar eescutar. Este silncio se pratica, particularmente, cada vez que nos encontramos com outra pessoaou pensamos nela.

    Para que seja possvel a relao entre pessoas, bsico que cada uma no s possamanifestar-se tal como , seno que cada uma perceba a outra tal como .

    As expectativas que temos acerca dos demais se desprendem de nossas idias de como so,do que querem e do que podem, em vez de basear-se em como realmente so, o que querem e o

    que podem na verdade.Assim que deixamos de lado nosso conjunto de idias feitas e de calar ante os demais,

    temos capacidade para escut-los em suas mensagens verbais e tambm nas no verbais.

    E s depois de escutar a mensagem dos demais estamos em condies de responder aeles, a suas necessidades e a suas possibilidades.

    O mesmo silncio que nos permite escutar os outros nos permite escutar a ns mesmos.

    Assim como temos um conjunto de idias sobre os demais como so ou teriam que sere comportar-se assim tambm temos um conjunto similar a respeito de ns mesmos.

    Os padres a que nos referimos para ajustar nosso juzo acerca de ns mesmos nosajudam a ter uma conduta coerente. Mas tambm necessitamos reconhecer o esprio e

    precrio das idias que temos a respeito de como somos para descobrir como realmentesomos.

    E s ao compreender como somos na verdade podemos relacionar-nos com os demaistal como eles so na verdade.

    A universalizao, ento, baseia-se sobre o certo, o bvio, e se nutre de nossa capacidade derelacionar-nos mantendo-nos conscientes da transitoriedade de nossas idias sobre todas as coisase sobre cada um dos demais. S ento tomamos contato com o Universo tal como se nosapresenta, atravs dos pontos de interao permanente que temos com ele: os seres humanos

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    como expresses nicas da Divina Me, a Terra que nos d albergue, o firmamento que nosinspira.

    Uma vez dado este passo calar podemos escutar e transmutar nossa percepo demodo que nos permita uma relao direta e, eventualmente, uma compreenso do mundo, davida, dos demais e de ns mesmos.

    A sociedade, as pessoas, as coisas, a Terra, a vida em geral, expressam-se continuamente:do-nos sinais do que est acontecendo e do que possivelmente v acontecer. Sempre temosantecipaes do que vai acontecer enfermidades, crises pessoais e sociais, exploses deviolncia e tambm sinais para regozijar-nos e sustentar nossos empenhos. Se calamos eescutamos, percebemos esses sinais sem distores; como no os rejeitamos com nossas idiasfeitas, contamos com todo nosso potencial para responder a eles de maneira a traar um futurocada vez mais promissor.

    Ao mesmo tempo, esses sinais nos mostram os efeitos de nossa presena na Terra e nasociedade, as conseqncias de nossa maneira de ser e de atuar, da maneira comoperseguimos nossos objetivos e os resultados que vamos deixando com nossa passagem pelavida. As respostas que geramos nos demais e em nosso meio so o espelho que nos revelacomo somos e o que estamos fazendo.

    Fazer silncio calar e escutar a nica maneira como podemos manter-nosconscientes do que estamos fazendo com nossa vida e com a dos demais, e nos indica paraonde estamos indo.

    S o silncio nos revela se estamos nos orientando para o objetivo escolhido e, dessamaneira, ensina-nos a corrigir continuamente nosso rumo. Essa a nica base segura sobre aqual podemos construir nosso destino, transitar o caminho da Mstica do Corao.

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    2. RECORDAR E COMPREENDERO desenvolvimento espiritual um processo baseado na compreenso. Primeiro

    compreendemos, depois tomamos decises e depois agimos. No sendo assim agiramosmovidos por impulsos e reaes, em detrimento de nosso desenvolvimento.

    Compreender o que vivemos nos permite avaliar o que acontece conosco, distinguir nossasopes, estabelecer nossas prioridades e discernir as conseqncias de nossas determinaes.Atravs deste processo podemos aplicar a vontade em esforos que promovem nosso adiantamento.

    Compreender tambm um processo que implica atender, recordar, incluir, entender elocalizar tudo isto dentro de um contexto adequado.

    Atender requer calar para poder perceber e escutar para no deformar o quepercebemos.

    Estamos habituados a atender filtrando o que chega a ns para deixar passar s o quenos interessa ou nos convm. Selecionamos arbitrariamente da mensagem completa da vidapara ficar com migalhas de informao. certo que nossa ateno tem limites, mas raramenteos conhecemos. Quando atendemos reduzimos ao extremo nossa mira, enquanto nossodiscurso interno luta por ocultar as evidncias que nos rodeiam.

    Ao atender desenvolvemos nosso interesse, nosso amor pelos que nos rodeiam e portudo o que nos rodeia. Ao atender, tudo o que acontece, acontece conosco e nos ensina.

    Por outro lado, se queremos entender o que acontece e o que nos acontece, necessitamosatender sem deixar que nossos estados de nimo e preconceitos desfigurem o que estamosconsiderando. Especialmente, temos que calar nossa tendncia a justificar-nos e a criticar.

    Para obter proveito de nossa relao com os demais, em vez de ver como ataques osatritos ou dificuldades que possamos ter com eles, vamos a seu encontro com a atitude deatender e aprender sobre aspectos nossos que no conhecemos ou no aceitamos.

    Nossa ateno evidencia em que grau amamos nosso ideal de liberao interior e deconhecimento de ns mesmos, e em que medida aprendemos de nossas experincias, da vida.

    Recordar implica registrar e validar o que percebemos.

    Tudo o que nos acontece permanece em nossa memria; mas no tiramos proveito dissose no nos lembramos. Recordamos especialmente aquilo a que damos relevncia, e no noslembramos dos acontecimentos que no nos interessaram ou que no queremos recordar. Ocerto que estamos envolvidos em tudo o que aconteceu.

    No entanto, se recordamos o passado, mas no nos inclumos nesse passado, reduzimoso que foi vivido a uma sucesso de incidentes e relatos sem contedo, sem ensinana, alheiosao que consideramos nossa vida.

    Alm de atender e recordar, para compreender necessrio que nos incluamos em tudoo que acontece.

    Incluir implica comprometer-se. Atravs da ateno e da lembrana incorporamos mais emais realidade no que percebemos e ao incluir-nos em nossa percepo, comprometemo-nos como que conhecemos. Tanto ns como o que consideramos pertencemos ao mesmo contexto.Necessitamos incluir-nos de forma deliberada e consciente no contexto para que nossaspercepes no se afastem da realidade. Subtrair-nos ao que acontece, olhar de fora, transforma-nos em estrangeiros dentro de nossa prpria realidade. Ao incluir-nos no que percebemos, ns nosvemos como participantes, tanto do que nos toca de perto como de tudo o que acontece.

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    Atender, recordar e incluir so elementos-chave da compreenso, mas no sosuficientes para alcan-la. Tambm necessrio entender.

    Entender discernir acerca do que percebemos. Nossa ateno nos permite armazenargrande nmero de dados, nossa memria record-los, nossa atitude inclusiva faz-los nossos;no entanto, tudo isto no suficiente para que possamos usar com proveito esse material.Necessitamos avaliar a informao que os fatos nos do. Mas, sobre que base fazemos essaavaliao? Necessitamos referi-la a um contexto.

    Se bem que entendamos uma situao quando nos inteiramos do que aconteceu, onde ecomo, s a compreendemos quando a referimos a um contexto mais amplo do que odeterminado somente por esses dados.

    Sempre somos dentro de um contexto maior do que o que temos em mente ainda que svezes, por estar ensimesmados, no o reconheamos. Escolhemos nosso contexto com nossainteno, nosso interesse e nossos objetivos. A amplitude do contexto d o grau de nossacompreenso.

    Para compreender a informao que avaliamos, contamos com quatro contextosprincipais: o contexto individual, o de nosso meio imediato, o do meio humano e o grande

    contexto da totalidade da realidade.A considerao do contexto individual d as bases de nossa maneira de entender a ns

    mesmos e de discernir o que nos acontece. A de nosso meio imediato nos d os elementos paracompreender e resolver nossas situaes cotidianas, ter uma apreciao mais objetiva de nsmesmos e adaptar-nos a nossa cultura. A considerao do contexto humano nos serve dereferncia para distinguir a posio de nossa cultura particular na histria e no tempo atual, e aimportncia relativa do que nos acontece; tambm nos mostra a necessidade indiscutvel departicipar. A considerao do grande contexto da totalidade d sentido transcendente a nossavida.

    O contexto individual: o ser humano como indivduo

    Cada experincia pertence ao contexto de toda nossa vida. Quando a isolamos, ns atransformamos em uma historieta; se, em troca, ns a relacionamos com nosso passado e avemos num marco que inclui nosso futuro, inferimos suas conseqncias e estamos emmelhores condies para compreend-la.

    No podemos compreender uma experincia atual sem referi-la a nosso passadoindividual e a nosso futuro. Nada nos acontece por acaso, sem causas geradas antes, emgrande medida por ns mesmos. O futuro no totalmente imprevisvel. Assim comopodemos compreender como fomos determinando, com nossa conduta e decises, a situaoque estamos vivendo agora, assim tambm podemos inferir o que nos espera se continuamoscom a mesma conduta e decidindo com o mesmo critrio, e qual poderia ser nossa situaofutura se os mudssemos. O olhar interior, ento, no s deve buscar clareza na viso dosmovimentos de nossa mente e nossa sensibilidade atuais, seno que, especialmente, deve

    perceber, discernir e interpretar os condicionamentos do passado, e distinguir o futuro quepodemos construir com liberdade a partir de onde nos encontramos agora.

    Nossa capacidade para perceber e interpretar a ns mesmos depende da credibilidadeque tenhamos ante ns mesmos. Esta depende de nossa disposio a no negar aspectosconflituosos de nossa realidade, para no nos enganarmos com justificaes que nos fazemsentir mal com ns mesmos.

    Nosso contexto individual nos mostra nossas possibilidades e nossas debilidades;permite-nos dirigir nossa vida em busca dos objetivos que queremos conseguir. Mas se

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    ficamos somente neste contexto reduzimos nossa realidade a um marco meramente individual.Ao encerrar-nos no que acreditamos que nosso mundo, exageramos a importncia quedamos a ns mesmos e ao que acontece conosco. Sem dar-nos conta, vamos nos desligandodo que nos circunda e pode chegar o momento em que seja muito difcil que algo ou algumpossa penetrar as barreiras com que nos cercamos. Ao mesmo tempo, vamos perdendo acapacidade de perceber o que acreditamos que no nos concerne. A compreenso que

    acreditamos ter de ns mesmos e do mundo se reduz a um sonho subjetivo. Nossaspossibilidades de desenvolvimento se esgotam rapidamente se no transcendemos os limitescom que nos definimos como indivduos.

    O meio imediato: o indivduo em sua cultura

    Referimo-nos a este contexto avaliando nossas possibilidades, nossos conflitos etrabalhos em relao com as pessoas e o ambiente em que vivemos. O que podemosconsiderar como lucro ou triunfo em relao com ns mesmos pode ser uma perda ou umfracasso em relao com os que nos rodeiam.

    A conseqncia de considerar-nos no contexto de nossa cultura harmonia em nossosistema de relaes dentro dela. Este contexto nos d uma viso mais objetiva da realidade doque a que nosso contexto individual nos d, porque nos mostra que estamos envolvidos emuma cultura e em um sistema de relaes que nos transcende. Isto nos faz solidrios com afamlia e com o grupo social ou tnico com que nos identificamos.

    No entanto, ao considerar-nos em nosso contexto cultural, temos que levar em conta ocondicionamento que o fato de termos sido formados nele produz. Inclusive o olharintrospectivo que a reflexo e a meditao supem est sempre comprometido com o meio e otempo a que pertence.

    O entendimento que o ser humano tem de si mesmo e do mundo varia de lugar paralugar e de gerao para gerao. Como estabelecer qual o mais acertado? Por certo quenosso entendimento parece ser o mais completo, mas evidente que no nem nico nemdefinitivo. Se cristalizarmos nossa interpretao do mundo e da vida no que aprendemos num

    momento dado de um meio restrito, geramos dogmatismo e separatividade, males que causama maioria dos problemas humanos. Ao encerrar-nos em nossa cultura e negar o contexto maiora que pertencemos, desvirtuamos nossa compreenso.

    Para aprofundar nossa compreenso temos que dar a nosso contexto um tempo maisamplo que o de nossa circunstncia individual e cultural, e um espao que localize essacircunstncia no marco da condio humana. Temos que recordar que a realidade transcendenossa circunstncia e nosso meio. Por mais que tentemos limitar-nos dentro destes, cedo outarde nossa percepo nos mostra horizontes mais amplos. O mais cedo ou mais tarde indica onvel de sofrimento ou de felicidade que podemos gerar.

    O meio humano: a humanidade como corpo mstico

    Referimo-nos a este contexto escolhendo nossos objetivos com um ponto de vista que

    abarca toda a humanidade. Isto nos move abnegao: pr nossa vontade, nossos afetos einteresses a servio de todos os seres humanos.

    Assim como no existimos isolados e separados, tampouco podemos parcializar o amor. certo que os sentimentos podem ser orientados para uma ou outra pessoa, mas o amor mesmo nose divide. Amor real amor por todos e por cada um, pela criao e todas as suas manifestaes.

    Ao avaliar nossa situao, nossas possibilidades, nossas dificuldades e nossasconquistas dentro do contexto humano, liberamos de egosmo nossas decises e escolhas.Participamos assim com os seres humanos e geramos harmonia no mundo.

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    Transcender o egosmo, o dogmatismo e a separatividade significa um adiantamentoimenso em nossa maneira de relacionar-nos com o mundo e com a vida, mas ainda no suficiente para que possamos compreender nossa condio humana.

    Assim como o olhar subjetivo que temos com o contexto individual no nos basta paracompreender nossa situao no meio social e humano, se olhamos a humanidade somentedentro de seu prprio contexto um olhar tambm subjetivo no conseguimos compreendersua condio no contexto maior em que ele existe.

    No podemos manter-nos alheios ao fato de que o meio humano menos do que umpontinho na imensidade de nossa realidade: o contexto do universo.

    A totalidade da realidade: o universo

    Se bem que a totalidade do universo transpasse os limites de nossa percepo eentendimento atuais, a realidade que nos contm. No por no poder abarc-la a podemosdesprezar: nosso meio.

    Quando discernimos nossa vocao luz do contexto universal, damos-lhe sentidotranscendente. Ns nos localizamos na imensido da vida, ns nos assentamos na conscinciaque temos desse contexto que nos penetra e sustm.

    Ao ter um ponto de vista que abarca esse grande contexto definimos nossa medida noespao e no tempo e estabelecemos uma relao harmnica entre ns limitados etemporrios e o infinito e eterno.

    Nossa percepo no nos suficiente para cobrir a totalidade do tempo e do espao e,menos ainda, para chegar ao princpio que os origina, o divino. Por isso nossa f no se apiaem crenas nem em descries do que no podemos compreender, mas na evidncia departicipar de uma totalidade que o divino expressa para ns. Sintetizamos nossa f em nossarelao com a Divina Me, princpio e fim do universo.

    O processo da compreenso vai ampliando continuamente o contexto a que nosreferimos. Cada ampliao desse contexto reordena nossas prioridades e nos faz reavaliar

    nossas compreenses. Este o processo de nosso desenvolvimento.Para que este processo acontea:

    Mantemos vlidos nosso calar e escutar.

    Mantemos vlida nossa ateno reconhecendo e assimilando a ensinana do presente esuperando nossas negaes e justificaes.

    Mantemos vlido nosso passado compreendendo as ensinanas que recebemos de cadaexperincia.

    Mantemos vlido nosso compromisso vivendo de forma conseqente com nossavocao espiritual e com tudo o que ela implica.

    Mantemos vlidos os contextos que compem nossa realidade tendo presente em nossamente e em nosso corao nossa condio humana e nosso destino eterno. Isto integraharmonicamente os diferentes contextos e nos proporciona uma perspectiva que d validadetanto ao contexto limitado, imediato, como ao infinito e eterno. Assemelha o contextosubjetivo que mantemos ativo em nossa mente ao contexto real que define nossa existncia.Assim ganhamos sade e harmonia como indivduos, desenvolvemo-nos espiritualmente egeramos um mundo mais justo e mais participante.

    Somente quando compreendemos o contexto universal em que vivemos ecompreendemos a ns mesmos nesse contexto, podemos discernir a obra interior que

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    3. SABERQUERERO processo da compreenso comea por calar, escutar e recordar; assim aprendemos.

    Ao incluir-nos no que aprendemos, desenvolvemos nosso sentido de participao, o queamplia o contexto a que nos referimos. Desta maneira, gradualmente universalizamos nossaviso do mundo e de ns mesmos; isto , compreendemos.

    Mas nossas compreenses nem sempre se mantm vigentes em nossa mente. Novosinteresses e situaes atraem nossa ateno; o jogo da mente e do corao segue seu curso emuitas vezes apaga osrastros do que uma vez compreendemos.

    Tanto o conhecimento como a emoo so cambiantes e do essa caracterstica a nossascompreenses, tornando-as impermanentes.

    Nossas compreenses so impermanentes, no s porque continuamente novosconhecimentos nos obrigam a rever o que acreditvamos compreender, o que positivo, mastambm porque so afetadas por nossos estados de nimo e deslocadas por impulsos, paixese desejos que do rdeas largas ao af de nos gratificarmos, sem que reparemos muito nem noque compreendemos nem nas conseqncias dessa maneira de proceder.

    Se no nos damos conta dessas limitaes da compreenso, podemos chegar a pensarque conquistamos o que compreendemos; mas no assim, uma vez que para que hajarealizao necessrio implementar em nossa vida o que compreendemos.

    Cada compreenso exige uma resposta operativa; o que compreendemos martela emnossa conscincia perguntando-nos o que vamos fazer agora que compreendemos. Mas nemsempre damos uma resposta que promova o nosso desenvolvimento.

    Se calamos nossa compreenso, se no queremos envolver-nos nela e continuamosprocedendo como se no tivssemos compreendido, dissociamos nossa vida mental e emocionalde nossos atos e, eventualmente, negamos na prtica a compreenso que tivemos.

    Se ao compreender nos enamoramos de nossa agudeza intelectual ou de nossa

    sensibilidade e tudo fica nisso, confundimos nossa vida espiritual com uma gratificaopessoal.

    Estas formas de responder a nossas compreenses se traduzem numa condutaimprudente.

    Uma conduta que no se baseie na reflexo sobre o que compreendemos, que sejaescrava dos estados de nimo e dos impulsos e que, portanto, no seja coerente com nossascompreenses nem corresponda a nosso objetivo vocacional, imprudente.

    Se ao compreender abraamos nossa compreenso e, por amor liberdade, assumimos ocompromisso que significa conhecer mais, promovemos nosso desenvolvimento.

    Esta forma de responder compreenso nos faz submeter nossa forma de atuar ao que

    compreendemos e a nosso objetivo vocacional; desta maneira, expressamo-nos de acordo comuma conduta prudente.

    A conduta prudente quando discernida, coerente e conseqente com nossacompreenso, com a vocao que nos guia e com os valores que esta implica.

    A conduta prudente se nutre da reflexo e do autocontrole.

    A reflexo nos ensina as mudanas que temos que fazer em nossa conduta para quecorresponda ao que vamos compreendendo.

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    O autocontrole nos permite dominar nossos pensamentos e nossos impulsos para poderatuar de acordo com o que discernimos.

    Ao sistematizar as respostas que damos a nossas compreenses e fazer da conduta prudenteum hbito, transformamos a compreenso em saber. Somente ento podemos dizer que sabemos. por isso que, no contexto do desenvolvimento espiritual, compreender no o mesmo quesaber.

    A ao de compreender temporria. O saber, em troca, um aspecto de nosso estado deconscincia; nossas aes conseqentes se fazem hbito, e esses hbitos se transformam em nossamaneira de ser: a forma como expressamos operativamente nosso estado de conscincia. J nonecessitamos fazer um esforo para proceder como nossa compreenso nos dita.

    Nosso saber se manifesta em nossa forma de ser e de atuar; no depende tanto de nossamemria mecnica para recordar o que aprendemos como de nossa memria feita conduta. Essesaber nos libera da tendncia a repetir inutilmente condutas e experincias cujos resultadosnegativos j conhecemos, ou cujas conseqncias podemos antecipar porque, devido a nossosaber, so evidentes para ns as foras que nos movem: desejos, paixes, impulsos, ou o genunoquerer cumprir nosso destino e realizar nossa vocao. O bom senso, a prudncia, a aceitao, afortaleza diante da adversidade, por exemplo, so aspectos de nosso saber.

    Nossa realidade atual corresponde ao que compreendemos ontem. Atravs de nossaconduta, transformamos esta compreenso em nosso saber de hoje. Nosso esforo de hoje,aplicado numa conduta conseqente, leva-nos a transformar em saber o que compreendemosagora. Cada nova compreenso abre um campo potencial de realizao e nos mostra um horizonteque se vai deslocando medida que, com nossa conduta conseqente, percorremos o caminho quenos leva at ele. Esse novo campo potencial representa, em cada momento, nossa possibilidadereal de expandir nosso saber. Compreender isto e fazer o esforo de responder de forma positiva esistemtica a esse desafio abrir as comportas da fora de nossa alma e concretizar essa fora emquerer.

    H vrias formas de querer, mas s uma expressa a fora e a sabedoria da alma.

    Conhecemos um querer que um "quereria": a fantasia de que se produza aquilo para o queno fazemos nenhum esforo em conseguir. Este querer no conduz a nada, mas serve de pretextopara o descontentamento e a frustrao.

    Conhecemos um querer biolgico: a fora do instinto de conservao que nos impulsiona asobreviver a qualquer custo.

    Conhecemos o querer produzido por paixes como o dio, a inveja, o cime, a cobia, aluxria, a ambio: a fora do desejo que nos impulsiona a satisfazer essas paixes.

    Conhecemos o querer que nasce na conscincia de que, em cada instante, nossa capacidadede compreender as experincias nos abre um novo campo de possibilidades que necessitamosatualizar para saber e assim poder realizar nosso ideal. H uma diferena substancial entre este

    querer e os quereres.Os quereres nos arrastam com a fora do instinto e da paixo, e nos levam a uma vida de

    confuso e de dor. Em troca, o querer que responde a nossa conscincia uma fora que geramoscom nossa compreenso e com a aplicao de nossa vontade para realizar de forma efetiva opotencial que essa compreenso nos revela. Esta a fora de nossa alma e nossa fonte desabedoria.

    O querer assentado no saber nossa forma de expressar nosso amor Divina Me e sendaque nos leva rumo Unio Substancial com Ela.

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    4. OUSAR, JULGAR, ESQUECERProcurar proceder bem e levar uma vida virtuosa evidencia que desejamos realizar nossa

    vocao. No obstante, isto no nos assegura que terminemos com o auto-engano de crer-noso centro de tudo nem que deixemos de voltar repetidamente sobre nossos prprios problemas,sem poder super-los. Manter-nos em nosso caminho de desenvolvimento espiritual exigemuito mais.

    A transcendncia que damos a ns mesmos e a importncia desmesurada queconferimos a nossas dificuldades nos mostra que o que mais nos importa o que acontececonosco, e este egosmo uma fora contrria de nossa vocao.

    Embora algumas vezes adotemos uma concepo mais ampla do que a que tnhamos,tendemos a aferrar-nos a ela resistindo a que continue evoluindo. A rigidez com quesustentamos nossas opinies e o hbito de pretender impor nossa vontade sobre os demais nosfazem to dogmticos como quando tnhamos uma interpretao mais estreita da realidade.

    Se bem que superficialmente estas atitudes nos dem uma sensao de segurana, narealidade so as que, sem que nos demos conta, fazem-nos sentir que estamos estancados, que

    no fundo no mudamos muito, que nosso desenvolvimento pende de um fio muito fino;sentimos que, se a vontade nos falhasse e afrouxssemos o esforo para controlar-nos, nossoegosmo prevaleceria, daramos rdeas largas a nossos impulsos e desejos e perderamos numinstante a amplitude mental e o grau de amor que pudssemos ter alcanado.

    Junto ao bom querer que nos anima quando somos conscientes de nossa vocaopersistem outros quereres que lutam por predominar. O desejo de prevalecer, a resistncia aesforar-nos, a tendncia a claudicar diante de impulsos que nos prejudicam, solapam nossavontade e pem prova nossa perseverana.

    Esta luta entre quereres produz um desejo quase desesperado de segurana. Queremos tera segurana de que no perderemos nada de forma definitiva, de que alguma vez vamos poderdar-nos os gostos dos quais agora nos privamos; segurana de que, ainda que tenhamos

    renunciado a algo, poderemos recuper-lo se mudarmos de idia. Queremos a segurana de crerque temos privilgios sobre os demais; que embora a perda de bens materiais, a enfermidade, avelhice e a morte aconteam a outros, seria injusto que acontecessem conosco, pelo menos noagora, no ainda. Especialmente, aferramo-nos segurana que nos d crer que sempreestivemos e estamos certos, como se essa iluso nos permitisse recriar uma histria j morta edefender-nos das evidncias que pem a descoberto nossas falhas. Pensar o contrrio nosaterroriza tanto que no percebemos nosso medo.

    Nosso problema que buscamos segurana onde nunca a iremos encontrar, fugindo deum medo que se agiganta nessa fuga. Porque impossvel escapar da incerteza prpria davida.

    A segurana que buscamos, inalcanvel por ser ilusria, consome nossa fora interior e

    nos faz espiritualmente dbeis. Aquilo que aparentemente nos d segurana a idia de quepodemos possuir algo para sempre e de que estamos certos , ao mesmo tempo, a fonte de nossomedo e de nosso infortnio.

    A nsia de segurana tambm nos faz pensar que nosso esforo para atuar bem deve nosgarantir um futuro sem sofrimento, e isso nos leva a praticar a virtude. Neste sentido, a prtica dasvirtudes equivale a uma troca: damos algo para receber algo; o sacrifcio o preo que pagamospara obter o prmio do favor divino. Ainda que no reconheamos essa atitude interesseiraquando efetuamos nossa asctica, ns a evidenciamos ao esperar algo dela. Fazemos a conta de

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    nossas renncias, enumeramos os sacrifcios que fizemos e nos lamentamos se no recebemos oque acreditamos merecer, quer seja dos outros, da vida ou de Deus. No vemos a contradioentre crer que renunciamos e lamentar-nos por no sermos recompensados. Quando noencontramos os frutos que esperamos de nossas renncias, chegamos a perguntar-nos para querenunciar, por que sacrificar-nos e desprender-nos do que temos se no obtemos algo por isso.

    O que nos acontece que chegamos ao limite a que pode nos conduzir a asctica deauto-afirmao sustentada pela tica de nossas crenas. Esta asctica no tem a foranecessria para impulsionar-nos a superar o medo que no nos permite renunciar a nsmesmos, e assim transpor esse limite.

    O medo marca os limites de nosso desenvolvimento. A nsia de segurana no teriapoder para vencer nosso bom querer se a vssemos tal qual : um engano com o qual tratamosde alimentar a fantasia de querer um mundo sem incertezas e com leis que obedeam a nossoarbtrio.

    Temos que reconhecer nosso medo, olhar de frente nossa busca de uma seguranailusria, dissipar a quimera de pretender que a vida responda a nossos desejos. Em sntese,temos que aprender a enfrentar a lei da vida: ousar viver sem apoios e renunciar.

    No obstante, necessitamos usar certos apoios.Necessitamos princpios que guiem nossa conduta, postulados para formular uma teoria

    que nos d uma viso inteligvel da vida. Esses apoios so referncias que vamos aprofundandoao compasso de nosso desenvolvimento interior e do avano de nosso conhecimento. Mas, nemsequer o apoio doutrinrio pode nos dar a segurana de que estamos certos j que, por um lado,nossas compreenses so incompletas e, por outro, para que uma doutrina no se reduza letramorta de uma circunstncia j inexistente, deve evoluir e responder s novas possibilidades dodesenvolvimento humano. O devenir nos obriga a usar e deixar, a dar um passo paracompreender e, baseados nessa compreenso, seguir adiante, deixar para trs os rastros ealcanar uma compreenso mais ampla.

    Tambm necessitamos, para nosso adiantamento tico e o da sociedade, assentar nossa

    conduta sobre a prtica da virtude, no mais como uma troca para receber recompensa, mas comoparmetro para atuar retamente.

    Viver sem apoios saber que apoios usar, quando us-los, como us-los e quando deix-los.E, sobretudo, no esquecer que no so mais do que apoios. Pensar e sentir desta maneira nos da ousadia de renunciar sem condies, de forma total e definitiva, sem nenhuma reserva, semolhar para trs.

    Renunciar sem condies renunciar a ns mesmos. Isto produz uma mudana qualitativaem nosso desenvolvimento. O fruto desta renncia , simplesmente, liberdade interior.

    Estamos habituados a exercer liberdade para fazer ou conseguir o que desejamos e at mesmolutamos por ela. Mas no esta a liberdade a que estamos nos referindo.

    A liberdade interior se expressa especialmente em um juzo equnime.Conhecemos vrios tipos de juzos: os que partem do instinto de conservao, os que

    resultam de nossas reaes emocionais, os originados em nossos gostos e rejeies, os baseadosem nossos hbitos, os que se desprendem dos valores que nossa cultura nos transmite.

    Estamos condicionados para julgar de forma inconsciente e automtica como bom o quepromove a sobrevivncia de nossa espcie e como mau o que vai contra ela. Isto nos leva a evitarsituaes perigosas para nossa vida e a esquivar-nos do que alguma vez nos prejudicou. Mastambm estamos condicionados para responder a impulsos como os que fazem preponderar o

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    mais forte e o de reproduzir-se a qualquer custo que, embora possam ser julgados como bonspara as espcies em geral, nem sempre so bons para o adiantamento humano.

    Estmulos fortes nos fazem reagir emocionalmente e julgar de imediato o que produz nossareao. Chamamos de bom o que nos excita com prazer e de mau aquilo que nos produz repulsa.Chamamos de belas ou agradveis as coisas que nos comprazem e de feias ou desagradveis asque nos desgostam.

    Julgamos tambm como bom o que concorda com nossos hbitos. Por exemplo, os decomportamento, aparncia e gostos particulares de nossa etnia, nosso meio e nosso tempo.Formulamos de forma instantnea e automtica juzos negativos sobre o que no se ajusta a essepadro.

    Em sntese, os valores que recebemos e nossas prprias referncias nos dizem o queteramos que considerar bom ou mau, belo ou feio, atraente ou repulsivo e julgamos de acordocom eles de forma automtica.

    Na realidade, quando atuamos sob estes condicionamentos estamos julgando sobre basessubjetivas. E, o que mais srio, estamos atribuindo a nossas apreciaes circunstanciais umaqualidade ou um valor definitivo. Com isto pressupomos que o que bom ou mau, belo ou feio,

    certo ou errado para ns, necessariamente deve s-lo para os outros, e que essa qualificao absoluta e permanente. Esta confuso nos faz esquecer a diferena entre o juzo baseado numaopinio e o juzo equnime.

    O juzo baseado numa opinio expressa o valor relativo que damos a uma coisa a respeitode outra e necessariamente temporrio; circunscreve-se a um contexto e est sujeito contraposio de outras opinies.

    O juzo equnime pressupe a conscincia de nossa incerteza bsica e nos leva a tomardistncia a respeito de nossa maneira de sentir e de pensar. Assim podemos discernir o temporriodo permanente, o provvel do possvel, o particular do geral, os fatos das opinies, as evidnciasdas crenas, os juzos de opinio dos juzos equnimes.

    Para julgar com equanimidade tambm temos que levar em conta o grande peso que temsobre nosso juzo atual o juzo que fazemos de nosso passado.

    No nos resulta fcil ver com clareza nosso passado. Muitas experincias que recordamosnos chegam acompanhadas de uma grande carga emocional e do juzo que em seu momentofizemos delas. Isto faz com que, em muitos casos, nossas recordaes sejam coisa julgada e quegeremos sentimentos negativos que enraizamos profundamente em nosso interior. assim que odesgosto ou a dor de um momento se transforma em rancor e ressentimento, o erro em sentimentode fracasso, uma m escolha na convico de no ter mais oportunidades, uma carncia numaferida que nunca se fecha.

    Esta fixao nos ata ao passado subjetivo que fomos construindo e nos impede decompreender as limitaes, nossas e as de outros, aceitar e perdoar, apagar de nossa memria o

    registro dos agravos recebidos. Em outras palavras, impede-nos de continuar crescendointeriormente e de viver com liberdade hoje.

    Aprendemos de nosso passado quando discernimos os fatos da carga emocional com a qualos gravamos em nossa memria.

    Chamamos de "desapego do passado" a capacidade de produzir este discernimento entrenosso passado e o juzo que fizemos sobre ele. Isto nos permite experimentar umdesenvolvimento correlativo com nossa idade e julgar uma mesma experincia de maneira

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    diferente na infncia, na adolescncia e na idade madura. Mais saber se expressa em maisequanimidade.

    Ao desapegar-nos do passado deixamos de computar o anedotrio de nossa vida, de somarnossos sacrifcios, de medir os esforos feitos, de sentir-nos credores da vida. Assim acabamoscom nossa autocompaixo e com ela terminam nossos ressentimentos, nossos rancores e, tambm,nossos medos. Isto nos permite, por um lado, associar os fatos de nossa vida com suas causas esuas conseqncias reais; por outro, ver com imparcialidade e lucidez nossas reaes diante dosfatos e os efeitos dessas reaes em nossa conduta, nossas relaes e nossas decises atuais.

    Desapegar-nos do passado esquecer sem perder a memria: ter um juzo equnime doocorrido. Tiramos o selo subjetivo com que interpretamos nosso passado e o incorporamos aogrande contnuo da experincia humana. Recuperamos assim nossa verdadeira histria.

    Ao esquecer os juzos que fizemos sobre ns mesmos somos livres para viver comoescolhamos viver. Ao esquecer os juzos que fizemos sobre os demais respeitamos sua liberdadede ser como eles querem ser. Desta maneira, promovemos a harmonia e a paz em ns e nosdemais.

    No juzo equnime e no esquecimento conseqente de nosso passado reside nossa fora e

    nossa viso. Cobrimos com um manto de esquecimento as circunstncias particulares queexperimentamos e mantemos em nossa memria as lies aprendidas. Isto nos permite viver cadadia como novo, aumentando sem cessar nossa capacidade e nosso saber.

    A liberdade interior que conseguimos pela renncia a ns mesmos nos d flexibilidademental e capacidade para encontrar novos significados no que consideramos sabido; para aplicarde forma criativa a energia contida em nosso passado, gerando novas vias de desenvolvimento;para transformar nosso conhecimento em sabedoria e transmutar nossas experincias emconscincia.

    Seria impossvel unir nossa conscincia presa a uma histria pessoal, a medos e hbitosalienantes, a idias ancoradas no passado, com a conscincia csmica infinita e eterna. S arenncia a ns mesmos nos abre o caminho para a eternidade, pois a liberdade interior que ela

    gera transmuta debilidade e medo em fortaleza intrnseca e uma personalidade contingente emverdadeira individualidade.

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    5. SABERQUERER E QUERER OUSARDez so as palavras bsicas que descrevem o desenvolvimento espiritual:

    Calar, Escutar, Recordar, Compreender, Saber

    Querer, Ousar

    Julgar, Esquecer e Transmutar

    Por um lado, cada uma destas palavras representa em si mesma um objetivo; a realizao decada um desses objetivos uma conquista espiritual certa e contundente. Por outro, estas palavrasmostram, em seu conjunto, uma seqncia no processo do desenvolvimento humano.

    Alm disso, talvez to importante como o que implica cada palavra em si mesma ou aseqncia de todas elas, a passagem do Quererao Ousar. Esta assinala um momento crucial dodesenvolvimento, no qual nos sobrepomos a nossa tendncia a nos estruturarmos no adquirido eousamos abrir-nos rumo conquista de novos mbitos de experincia. Este ponto de inflexodivide a seqncia em duas vertentes. A primeira, de Calarat Querer, expressa o mundo que jconhecemos e compreendemos. A segunda, de Ousarat Transmutar, expressa o desconhecido, o

    desafio de transmutar a experincia feita numa expanso de nosso estado de conscincia.A primeira vertente o Calar, Escutar, Recordar, Compreender, Saber e Querer o

    mbito dos valores sobre os quais apoiamos nossa cultura e no qual tiramos proveito daexperincia humana gerada atravs da histria. Saber Querer nos assiste no esforo de abrircaminho rumo a um mundo melhor que reflita esses valores, aplicando a vontade para consolidaro que j sabemos.

    Nossa tendncia a estruturar-nos no que j sabemos o que aprendemos do contexto noqual nos movemos faz-nos pensar que Saber Querer suficiente para manter nossodesenvolvimento e nos leva a aplicar nossa vontade para fortalecer o estado de conscincia quealcanamos.

    Alm disso, como habitualmente associamos a vida espiritual com crer nisto ou naquiloacerca do que no sabemos e repetimos para ns mesmos que o que acreditamos a verdade,tendemos a confundir isso em que cremos com a verdade. Por um lado, isto nos d segurana;mas, por outro, mantm-nos sempre dentro de um mesmo estado de conscincia, cegos ante aevidncia de nossa ignorncia e incerteza. Esta cegueira nos faz imaginar que o processo deconcretizar o que j sabemos e reforar com isso nossas crenas uma transmutao espiritualquando, na realidade, consolidar a tal ponto um mesmo estado de conscincia que este setransforma num crcere.

    Esta situao nos impede de reconhecer que Querers no mbito do saber j conquistado estancamento, que no h adiantamento sem mudana. Por falta de perspectiva, associamos asmudanas que, queiramos ou no, a vida impe e tambm as que so necessrias para desenvolvernossa compreenso e dar sentido a nosso atuar, com rupturas trgicas no conceito que temos de

    ns mesmos e do que devemos fazer. Cremos preservar nossa identidade escudando-nos nanegao do que no conhecemos e sustentando uma idia do Divino e do espiritual que umaprojeo do mesmo estado de conscincia que necessitamos transcender. No s estamos numcrcere; no nos damos conta disso. Pelo contrrio, confundimos os limites que ns mesmos nosimpomos com defesas que nos protegem de qualquer mudana que possa alterar nossosesquemas. Buscar explicaes para a angstia que isto nos produz dentro do mesmo esquema quea causa no ter sada.

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    certo que qualquer mudana no implica necessariamente desenvolvimento; mas tambm certo que se no h mudana, o desenvolvimento uma quimera. Necessitamos superar oslimites do contexto em que nos encerramos; necessitamos desenvolver a atitude de Querer Ousarpara que nosso desenvolvimento seja contnuo.

    A segunda vertente comea, ento, em Querer Ousare nos impele a investigar e descobrirpossibilidades que nos permitam manter nosso desenvolvimento.

    No contexto espiritual, desenvolver-nos ampliar nosso estado de conscincia, e issoimplica ajustar-nos mudana, estar dispostos a passar da etapa de consolidar o que j somos etapa de abrir novos campos de desenvolvimento: a Querer Ousar. Mesmo uma pequenaexpanso de nosso estado de conscincia , para ns, uma mudana fundamental que nos obriga areavaliar e a compreender com uma nova perspectiva, aquilo que acreditvamos ter compreendidode forma definitiva.

    O contexto do que no sabemos to imenso que nosso avano no que conhecemos noparece diminuir sua magnitude. Por mais que adiantemos e aprendamos, em nossa condio atualnos mantemos frente ao que poderamos chamar de Grande Constante do Desconhecido. E precisamente esta Grande Constante o m que gera nosso desenvolvimento e nos impele a Ousar.

    Nosso Querer Ousar, sem dvida, parte do que nos permitiu chegar at este ponto. Oadiantamento no consiste em jogar fora o que temos para agarrar-nos a outra coisa diferente, masem transmut-lo. O fato de vivermos abertos s mudanas que implicam avanar rumo ao quenecessitamos aprender no invalida o conhecimento que possamos ter alcanado. Pelo contrrio,valida-o dentro de seus limites, porque em vez de reduzir o desconhecido ao que cremos quesabemos dele, temos a ousadia de reconhecer a limitao do que cremos saber e de dar -lhe o valorrelativo que lhe corresponde. justamente esta ousadia o que nos permite apreciar o progressoque implica cada passo de nosso desenvolvimento e nos mantm alerta sobre o fato de que odesenvolvimento um processo. Isto , mantemo-nos conscientes de que o permanecer em SaberQuererconverte-nos num obstculo que no s impede a continuao de nosso adiantamento,mas que nos faz retroceder, porque deter-nos colocar-nos em sentido contrrio corrente davida.

    O Ousarnos permite chegar a Ousar Julgar. A atitude de Ousarimplica que nos atrevemosa desapegar-nos do saber que alcanamos e que, em assuntos espirituais, tendemos a crer que um saber inamovvel, definitivo. A ousadia de olhar de frente o que chamamos de GrandeConstante do Desconhecido e a mudana contnua que a vida, leva-nos a um juzo lgico: arenncia, mais do que uma virtude a ser praticada, a atitude necessria para responder nossavocao de desenvolvimento. Se pretendemos manter-nos conscientes do ritmo do devenir e nonos afastar da senda que o desenvolvimento humano traa, a resposta inevitvel renunciar. Nestecontexto renunciar implica Ousarreconhecer que cada vez que tendemos a identificar-nos com opassado e a esquecer a lio de que todo conhecimento e toda conquista so contingentes,desandamos o caminho e, em conseqncia, geramos ignorncia e confuso.

    Ousar Julgar atrever-nos a encontrar novas relaes entre idias, experincias e

    acontecimentos que acreditvamos ter compreendido totalmente. aceitar que os juzos sosempre relativos a um estado de conscincia, e que a forma de ver a realidade, o que nosacontece e o que temos que fazer, deve-se atualizar ao compasso do tempo.

    Ousar Julgarnos d a viso necessria para no cair na mudana pela prpria mudana, oupelo fato de variar, ou para responder a motivaes egostas, mas para efetuar as mudanas querespondam a nossa necessidade de desenvolvimento.

    Quando aprendemos aJulgarsem aferrar-nos a um passado j consumado, aprendemos aJulgar o que se deve Esquecer: Esqueceros juzos feitos para ter liberdade suficiente para

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    discernir, compreender e responder s novas possibilidades e s necessidades prprias de cadamomento de nosso desenvolvimento. E tambmEsquecero anedtico e as vivncias carregadascom emoo exacerbada para poder recolher o fruto do vivido: Esqueceragravos, que nasceramde juzos que respondiam a contextos muito limitados; Esquecer sofrimentos por perdasdolorosas, mas que so uma constante na vida; Esquecerrancores pelo que interpretvamos que avida no nos deu ou nos tirou; Esquecertriunfos que resultaram de privilgios no merecidos;

    Esqueceros esquemas mentais que limitam nosso juzo acerca de quais so nossas possibilidadese o que temos que fazer para realiz-las.

    Ousar Julgarque o que j no tem vigncia deve-seEsquecer reconhecer o devenir noeterno presente.

    A atitude de renncia nos d liberdade para que o contedo do Esquecer alimente oTransmutar. Neste contexto, a atitude de renncia aquela que nos permite validar o aprendido,dimension-lo, faz-lo experincia assimilada e compreenso mais ampla e profunda de nsmesmos e de nosso lugar no mundo, e desprender-nos de nossa histria para poder dar o passoseguinte.

    A atitude de renncia nos leva a Ousarviver com liberdade interior; isto :

    Ousar nascer para um mundo novo com cada passo que damos no caminho de nossodesenvolvimento.

    Ousartransmutar em obra o que conquistamos espiritualmente.

    Ousarno nos apegar nem s conquistas espirituais nem s obras que elas geram.

    Ousar amar com um amor to profundo que possamos transmutar a dor e o gozo daexperincia em alimento espiritual para ns e para todas as almas.

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    6. TRANSMUTARTransmutar a chave que encerra o processo sintetizado nas nove primeiras palavras

    com que descrevemos o desenvolvimento espiritual.

    O que implica transmutarpara ns, em nossa situao atual?

    Implica centrar nosso trabalho espiritual em identificar o enfoque personalista1 com quevivemos e substitu-lo por uma conscincia de participao universal.

    O enfoque com que encaramos nosso ideal espiritual e, conseqentemente, nossa vida,baseia-se sobre suposies prvias, a maioria das quais no explcita para ns.

    Uma suposio prvia, que geralmente se oculta por trs de nossas racionalizaes, ade que somos pessoas separadas e independentes das demais. Baseamo-nos mais em nossapercepo sensorial do que em nosso discernimento. Para nossos sentidos, somos separados:vemo-nos uns aos outros com limites definidos e caractersticas prprias. Alm disso, nopercebemos diretamente que o que o outro faz em sua casa influi sobre o que ns fazemos nanossa. No sentimos que seja necessrio antecipar sempre as conseqncias que nossas aesproduziro em outros e no meio. assim que outorgamos a ns mesmos uma margem muitoelstica de liberdade para decidir como viver, sentir e pensar. Quando temos um desejoveemente, esticamos ao mximo essa margem e supomos que podemos viver a nosso caprichono mundinho em que queiramos encerrar-nos. Ainda que intelectualmente admitamos ainfluncia que exercemos sobre os outros e o meio, nossos impulsos e desejos particularesfazem com que, na prtica, prepondere a suposio implcita em nossas atitudes habituais de que temos uma vida parte e, por isso, independente.

    Esta tendncia se expressa tambm em nosso trabalho espiritual. Sentir-nos separadosnos leva a enfocar nosso desenvolvimento e o adiantamento humano de forma personalista.Importa-nos, sobremaneira, quanto benefcio pessoal conseguimos com o que fazemos, emedimos nosso adiantamento segundo vamos alcanando nossas metas particulares;definitivamente, nossa felicidade pessoal. Reduzimos nosso trabalho espiritual ao que

    pensamos que temos que fazer para conseguir um triunfo espiritual prprio. Em conseqncia,centramos nossa inteno e ateno a tal ponto sobre ns mesmos, que a importncia queatribumos ao que ocorre ao nosso redor depende de como afete a ns mesmos e ao que nosinteressa.

    Apesar de que a informao que j temos nos d uma viso grandiosa do universo naqual cada parte opera em harmonia com todas as demais, vivemos atentando contra nossaprpria sobrevivncia: agrupamo-nos por convenincia e mantemos lutas competitivas paraconseguir preponderncia dentro de nosso grupo e preponderncia deste sobre os demaisgrupos, apenas atenuadas pela inteno, mais terica do que prtica, de procurar o bem detodos.

    Se bem que estejamos capacitados para discernir os efeitos que produzimos nos demais

    e no meio, atravs de nossas atitudes e aes, escolhemos quando observar e quando ignoraresses efeitos. E, quando os observamos, ns os interpretamos e atribumos responsabilidadessegundo nossa convenincia.

    Como impulsionar o processo de transmutao do enfoque personalista num enfoquemais universal, que expanda nosso estado de conscincia?

    Atravs da ao.

    1 Personalista: que subordina o interesse comum a objetivos pessoais

  • 8/9/2019 As Dez Palavras Do to Espiritual

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  • 8/9/2019 As Dez Palavras Do to Espiritual

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    Para estimular o desenvolvimento de uma conscincia universal, a reunio de almas deCafh se expressa em grupos de membros de Cafh. Estes grupos refletem sem dvida deforma incompleta e em muito pequena escala a diversidade de caractersticas, antecedentese interesses que se encontra na sociedade humana. medida que o grupo consiga relacionar-se de forma integrada e trabalhe como equipe e que cada grupo se relacione e trabalhe dessamaneira com os outros grupos, poderemos ir superando a separatividade, a competio

    interesseira e a tendncia a preocupar-nos s por e ocupar-nos de ns mesmos, que tantoatenta contra nosso desenvolvimento. E medida que no faamos diferena entre integrareste grupo ou aquele, iremos superando nossa tendncia a formar grupos parte.

    Apliquemos o mesmo critrio a nosso conceito de realizao espiritual. Em vez debuscar uma liberao espiritual particular e pessoal, movidos pelo desejo subjacente deescapar da dor de viver num mundo no qual, em nossa condio atual, o sofrimento inevitvel, demo-nos conta de que a senda rumo liberao passa atravs da participao.

    Enamoremo-nos da liberdade que nos d superar os limites nos quais nos encerra aignorncia que alimentamos com nosso egosmo. Reconheamos a inter-relao da grandetrama da vida e impulsionemos nossa noo de ser pelas linhas de sua rede. Reconheamos anecessidade de atuar de forma ajustada, procurando sempre o bem comum, que sempre ser

    nosso prprio bem.Encaremos nosso desenvolvimento como um processo de transmutao de conscincia

    em ato, e de ato em conscincia, de acordo com o antigo aforismo: fazer da mente, matria eda matria, mente. A experincia se derrama em ao e a ao devm em experincia; aexperincia da ao amplia o estado de conscincia; este se expressa em ao, e assimsucessivamente.

    Transmutemos, ento, nosso sentido de participao em trabalho integrado e em equipe,e o trabalho integrado e em equipe numa conscincia de participao.

    Comecemos por mudar nossas reaes automticas por uma forma de atuar deliberadaque se expresse em:

    Validar em vez de desqualificarCooperar em vez de rivalizar

    Compreender em vez de porfiar

    Ajudar em vez de censurar e zangar-se

    Incorporar em vez de excluir ou excluir-se

    Ampliar o ponto de vista em vez de entrincheirar-se

    Quando transformarmos em hbito estas respostas deliberadas, teremos comeado atransmut-las em significado compartilhado. O compartilhar significado nos darcompreenses mais profundas da renncia e nos abrir o caminho rumo conscincia de ser

    em participao.Completar esta transmutao a realizao espiritual imediata que podemos alcanar,

    um bem que indispensvel que doemos humanidade nesta etapa de seu desenvolvimento.

    Faamos nossa contribuio, ento, para que todos cheguemos a interagir de formaajustada e todos consigamos um estado de participao mais universal. Seus frutos sero paz,progresso e felicidade.