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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
LUCIANE TASCA
AS CONTRADIÇÕES E COMPLEMENTARIDADES NAS LEIS
URBANAS DE JUIZ DE FORA:
Dos Planos aos Projetos de Intervenção
Rio de Janeiro
2010
LUCIANE TASCA
AS CONTRADIÇÕES E COMPLEMENTARIDADES NAS LEIS
URBANAS DE JUIZ DE FORA:
Dos Planos aos Projetos de Intervenção
Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Planejamento Urbano e Regional.
Orientadora: Prof. Dr. Luciana Corrêa do Lago
Rio de Janeiro 2010
T197c Tasca, Luciane.
As contradições e complementaridades nas leis urbanas
de Juiz de Fora : dos planos aos projetos de intervenção /
Luciane Tasca. – 2010.
249 f. : il. (algumas color.) ; 30 cm.
Orientador: Luciana Corrêa do Lago.
Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional, 2010.
Bibliografia: f. 237-242.
1. Planejamento urbano – Juiz de Fora (MG).
2. Crescimento urbano – Juiz de Fora (MG). 3. Participação
social. I. Lago, Luciana Corrêa do. II. Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano e Regional. III. Título.
CDD: 711.4098151
AGRADECIMENTOS
Diante de tantas pessoas que passaram pelo meu caminho, durante esta
etapa desafiadora de minha vida, não posso deixar de agradecer especialmente, à
minha família. Aos meus pais, Julio e Consuelo, pelo eterno suporte e zelo, à minha
irmã e sobrinhos, Cristiane, Davi e Mateus, pela compreensão e incentivo durante os
momentos mais frágeis e desencorajadores dessa jornada.
Agradeço também ao meu marido Emerson, e às várias oportunidades de
exercitar a paciência, a amizade e o companheirismo. E, à Beatriz, minha filha
adorável, que no seu primeiro ano de vida, me encheu de alegria e felicidade diante
do cansaço de um dia de trabalho e estudo.
Não poderia deixar de reforçar os agradecimentos àqueles que foram
essenciais para o suporte técnico deste trabalho, lidando com os meandros da
informática, os professores Fabiana Filipino Coelho e Daniel Marchi.
Aos colegas arquitetos Klaus Chaves Alberto, Aline Calazans Marques, Álvaro
Giannini, Renata Goretti; ao Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF);
aos que me atenderam com atenção na Prefeitura de Juiz de Fora; IBGE; e aos
professores e alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo do CES/JF, meu sincero
agradecimento.
Ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), pelo
ensino valioso e pelos frutos colhidos através dele.
Por fim, à minha orientadora Luciana Corrêa do Lago, sem a qual não teria
chegado até aqui, meu muito obrigada.
E a todos, que por ventura não estiverem aqui descritos, mas que fizeram
parte deste projeto de vida e, que assim como eu têm a certeza de terem buscado
fazer o possível ao alcance de nossas forças.
RESUMO
Acompanhando as transformações nacionais, a cidade de Juiz de Fora,
Município mineiro de médio porte, caracteriza-se por significativas alterações que
não só afetaram sua antiga forma, mas também determinaram uma nova
configuração do seu espaço urbano. Baseando-se tanto na formação do seu projeto
de desenvolvimento quanto num breve diagnóstico dos seus planos e de sua forma
de planejamento urbano, pode-se ver que o conjunto das Leis Urbanas, o Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano e o Plano Estratégico consistiram em
documentos com a mesma característica: foram aplicados em uma parte da cidade
gerando obras que obedecem a um plano comum de reordenamento viário. O
espaço da cidade passa a ser, portanto, foco da atuação de diferentes atores, com
agendas e objetivos diversos, interagindo através de uma configuração específica de
práticas espaciais interligadas. A percepção da dinâmica das transformações no
ambiente construído fornece subsídios para a reflexão sobre as possibilidades e
limites de políticas que visem ao controle e ao direcionamento do crescimento e
desenvolvimento urbanos. Diante disso, estabelece-se um pressuposto: Juiz de Fora
vem repetindo o modelo e o discurso dominante nas cidades capitalistas, marcado
pela lógica do mercado e pela apropriação diferencial da riqueza e tendo, como
consequência, diferentes possibilidades de consumo. Diante desse contexto,
suscitando o debate e promovendo a consciência crítica, surgem questionamentos
quais sejam: perscrutar quem ganha e quem perde com os planos e projetos que
seguem uma linha de planejamento urbano tipicamente focada no desenvolvimento
econômico; dimensionar a real participação da população nesse processo;
compreender como os cidadãos se apropriam dessa riqueza gerada na terra urbana.
Trata-se, enfim, de questionamentos decisivos para o delineamento do quadro da
política urbana no Município.
Palavras-chave: planejamento, desenvolvimento urbano, participação social.
ABSTRACT
Following nacional transformations, Juiz de Fora, a middle-sized city in Minas
Gerais, characterizes itself for the significant alterations that not only have affected
its old formation but also determined a new configuration of its urban space. Having
as basis both the structure of its development project and a brief diagnosis of its
plans and urban planning methods, it is possible to perceive that Urban Laws,
Masterplanning for Urban Development and the Strategic Plan consisted in a set of
documents with similar aspects: they were applied to part of the city, leading to built
works that comply with a common plan of reorganization of the road network. Urban
space, then, becomes the focus for different actors and roles, with diverse agendas
and goals, interacting by means of a specific configuration of interconnected spatial
practices. The perception of the dynamics of transformations in the built environment
provides subsidies for the reflexion on the possibilities and limits of policies that aim
to control and to orient both growth and urban development. Facing this, a principle
can be established: Juiz de Fora has repeated the model and the speech that are
dominant in the capitalist cities, defined by market judgment and by the unbalanced
assets appropriation having, as consequence, different consumption possibilities.
Ahead of this context, arousing the debate and promoting critical awareness, new
matters arise as follows: to cross-examine who wins and who loses with the plans
which stick to the approach of urban planning typically focused on economic
development; to dimension the real participation of the population in this process; to
understand how citizens seize the assets generated by urban land. These are, then,
decisive issues to line up the urban policy picture of the City.
Key-words: planning, urban development, social participation
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FOTOS
Foto 01 Vista Aérea de Juiz de Fora 39
Foto 02 Garganta do Dilermando 43
Foto 03 Bairro Benfica em Juiz de Fora. Via principal, Avenida Juscelino Kubitschek
43
Foto 04 e 05 Bairro Cascatinha em Juiz de Fora (Independência Shopping)
44
Foto 06 Jardim Casablanca (população baixa renda, à esquerda) e Condomínio Granville (classe alta, à direita)
58
Foto 07 e 08 Centro de Juiz de Fora. Avenida Rio Branco e Calçadão da rua Halfeld
63
Foto 09 Avenida Barão do Rio Branco 64
Foto 10 Avenida Getulio Vargas 65
Foto 11, 12 e 13 Centro de Juiz de Fora 66
Foto 14, 15, 16, 17, 18 e 19 Independência Shopping e Spazio Design. Bairro Cascatinha em Juiz de Fora
72
Foto 20 Avenida Central. Rio de Janeiro, 1910. Plano de Melhoramentos Pereira Passos
82
Foto 21 Casa de Colonos Alemães no Século XIX
101
Foto 22 Interior da Fabrica Pantaleone Arcuri, Século XIX
102
Foto 23 Construção da Prefeitura de Juiz de Fora em 1916
103
Foto 24 Juiz de Fora. 1923 105
Foto 25 Rodovia União e Indústria 106
Foto 26 Funcionários da Fabrica Mascarenhas, Século XIX
107
Foto 27 Expansão da Zona Norte 217
Foto 28, 29, 30 e 31 BR-440 e Acesso Sul 226
ILUSTRAÇÕES
Ilustração 01 Traçado do Caminho Novo 38
Ilustração 02 Vetores de Crescimento 40
Ilustração 03 Perspectiva Aérea do Centro Monumental. Plano Agache, Rio de Janeiro,1930
81
Ilustração 04 Vale do Anhangabaú. Viaduto do Chá. São Paulo, 1930. Plano de Avenidas de Prestes Maia
83
Ilustração 05 Plano Piloto de Brasília. Lúcio Costa, 1956 85
MAPAS
Mapa 01 Município de Juiz de Fora. Perímetro Urbano: Sede e Distritos
36
Mapa 02 Evolução da Malha Urbana 1998 37
Mapa 03 Triângulo Central de Juiz de Fora. Av. Barão do Rio Branco (à esquerda), Av. Getúlio Vargas (à direita) e Av. Independência (abaixo)
41
Mapa 04 Vetores de Expansão e Ocupação em Juiz de Fora 42
Mapa 05 Campus Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora. Esquema de Acesso
45
Mapa 06 Traçado da BR-040 e sua Influência sobre Juiz de Fora
46
Mapa 07 Regiões Administrativas e Regiões Urbanas de Juiz de Fora
48
Mapa 08 Região Norte 49
Mapa 09 Região Oeste 55
Mapa 10 Região Nordeste 59
Mapa 11 Região Centro 62
Mapa 12 Mancha Urbana de Juiz de Fora. Área Central 67
Mapa 13 Região Sul 69
Mapa 14 Região Leste 74
Mapa 15 Região Sudeste 76
Mapa 16 Minas Gerais e a Zona da Mata Mineira 98
Mapa 17 BR-040. Trecho Juiz de Fora 99
Mapa 18 Zoneamento Unidade Territorial. Lei 6.910/86. Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo no Município de Juiz de Fora. Anexo 4
126
Mapa 19 Unidades Territoriais 126
Mapa 20 Setores Urbanos de Juiz de Fora em 1996 128
Mapa 21 Uso e Ocupação do Solo dos Setores Urbanos (PD, 1996). Parcelamento e Zoneamento
131
Mapa 22 Macrozoneamento 135
Mapa 23 Macro Áreas 136
Mapa 24 Regiões de Planejamento 138
Mapa 25 Parcelamento do Solo 140
Mapa 26 e 27 Comparação Regiões de Planejamento (PDDU, 2000) e Unidades Territoriais (Lei 6.910/86)
153
Mapa 28 Revitalização da Área Central 160
Mapa 29 Planos e Projetos Especiais. Parque São Pedro 169
Mapa 30 Vias Propostas. Via Remonta 174
Mapa 31 e 32 Vias Propostas. Duplicação da Avenida Brasil. Trecho 1
176
Mapa 33 e 34 Vias Propostas. Duplicação da Avenida Brasil. Trecho 2
176
Mapa 35 Mapa de Densidades e Valores da Terra Urbana 204
Mapa 36 Renda Média dos Chefes de Família por Região Administrativa.
210
Mapa 37 Localização das Micro Áreas de Exclusão Social 214
Mapa 38 Espacialização dos Projetos (PDDU e PlanoJF) 224
Mapa 39 BR-440 226
Mapa 40 Sobreposição dos Indicadores Sociais e Projetos Implementados
229
QUADROS
Quadro 01 População Juiz de Fora e seus Distritos 35
Quadro 02 Número de Bairros das Regiões Urbanas 50
Quadro 03 Regiões Urbanas 133
Quadro 04 Modelos de Parcelamento 1986 141
Quadro 05 Modelos de Parcelamento I 142
Quadro 06 Modelos de Parcelamento II 142
Quadro 07 Modelos de Parcelamento III 143 Quadro 08 Modelos de Parcelamento segundo a Proposta para
Plano Diretor de Juiz de Fora 145 Quadro 09 Comparativo dos Projetos da proposta para Plano
Diretor (1996) e dos Projetos do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (2000)
179
Quadro 10 Valores da Terra em Juiz de Fora/2004 199
Quadro 11 Abastecimento de Água. Situação por Bairros 244
Quadro 12 Esgotamento Sanitário. Situação por Bairros 246
Quadro 13 Rendimento Chefe de Domicílio 248
LISTAS DE SIGLAS
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG
Banco Nacional de Habitação – BNH
Banco Nacional do Desenvolvimento – BNDES
Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (pertencente ao Banco
Mundial) – BIRD
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Companhia de Habitação – COHAB
Companhia de Saneamento Municipal – CESAMA
Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG
Comissão de Uso e Ocupação do Solo – COMUS
Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul – CEIVAP
Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano – CNDU
Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais – DER-MG
Departamento Municipal de Água e Esgoto – DAE
Caixa Econômica Federal – CEF
Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA
Empresa Regional de Habitação de Juiz de Fora – EMCASA
Federação Hospitalar do Estado de Minas Gerais – FHEMIG
Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG
Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social – FAZ
Instituto de Pesquisa e Planejamento – IPPLAN /JF
Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB
Ministério do Interior – MINTER
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – PDDU, 2000
Plano Estratégico – PlanoJF
Plano Nacional de Desenvolvimento – PND
Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – PJF
Programa de Ação Concentrada – PAC
Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora – PD, 1996
Rede Ferroviária Federal S.A. – RFFSA
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico – SMDE
Secretaria Municipal de Obras – SMO
Secretaria de Planejamento e Gestão Estratégica – SPGE
Secretaria de Transportes – SETTRA
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE
Serviço Federal de Habitação e Urbanismo – SERFHAU
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI
Serviço Social da Indústria – SESI
Sistema Financeiro de Habitação – SFH
Sistema Único de Saúde – SUS
Unidade Básica de Saúde – UBS
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 17
1 JUIZ DE FORA: PANORAMA DE SUA REALIDADE URBANA
34
1.1 Desenvolvimento da Estrutura Urbana 35
1.2 Evolução Sócio-Espacial das Regiões Urbanas 47
2 A POLÍTICA URBANA: PLANOS E PROJETOS 79
2.1 Os Planos na Política Urbana no Brasil 79
2.2 Planejamento Urbano no Brasil e em Juiz de Fora: Teoria e Prática
93
2.3 Política Urbana em Juiz de Fora: das Leis Urbanísticas aos Planos
97
2.3.1 As Origens da Manchester Mineira 97
3 OS PLANOS EM JUIZ DE FORA E SUAS CONCEPÇÕES A PARTIR DOS ANOS 90
114
3.1 Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora em 1996 (PD, 1996)
114
3.1.1 Projetos de Lei para Revisão da Lei do Parcelamento (6.908/86) e da Lei de Uso e Ocupação do Solo (6.910/86)
127
3.2 Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora (PDDU, 2000): mudanças em relação à proposta de 1996
148
3.2.1 Projetos da Proposta para o Plano Diretor (PD, 1996) e do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU, 2000)
157
3.3 O Plano Estratégico (PlanoJF) 179
3.3.1 Projetos do Plano Estratégico (PlanoJF) 185
4 O PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DA MANCHESTER MINEIRA
196
4.1 Indicadores sobre a Desigualdade 197
4.1.1 O Mercado de Terras e a Ação do Setor Público 197
4.1.2 A Renda da População e a Produção Informal 208
4.2 Planejamento e Desenvolvimento Urbano em Juiz de Fora 215
4.3 O Espaço Urbano de Juiz de Fora como Resultado da Sobreposição de seus Planos e Projetos
221
Viva a princesa de Minas
Viva bela Juiz de Fora
Que caminha na vanguarda
Do progresso estrada afora!
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
CORO
Os seus filhos operosos
Asseguram-lhe o porvir,
Para vê-la grandiosa
Nunca têm mãos a medir...
Demos palmas, demos flores
Aos encantos da Princesa!
Ela é rica de primores
Da poesia e da beleza.
É a cidade aclamada,
Do trabalho e da instrução,
É do Cristo abençoada
Sob o sol da religião.
(Marcha à Juiz de Fora. Letra de Lindolfo Gomes e
Música de Cincinato Duque Bicallho)
17
INTRODUÇÃO
m 1994, ao ingressar no curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Juiz de Fora, eu já possuía o interesse em
aprofundar meu conhecimento sobre Juiz de Fora, MG, minha cidade natal,
buscando entender como o ambiente construído da chamada Manchester Mineira
era produzido.
Através da experiência, ainda na graduação, nas atividades de pesquisa em
habitação subnormal na cidade, pude ter contato com um programa que promovia a
requalificação das edificações, cadastramento e mapeamento das famílias em áreas
populares em parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora.
Daí em diante, meu foco de pesquisa passou a ser o campo do planejamento
urbano e da produção da cidade, em especial, das suas desigualdades.
Na dissertação de mestrado, procurou-se identificar as características da
produção do ambiente construído em Juiz de Fora, através do estudo da dinâmica
produtiva de moradias e dos novos padrões residenciais, através da análise da
produção empresarial de incorporação, da produção pela população de baixa renda
e da produção pelo Poder Público.
A partir de 2003, diante do desafio de lecionar para graduação, com a
responsabilidade de formar arquitetos e urbanistas engajados nos debates sobre a
história e as transformações arquitetônicas e urbanísticas nas cidades, percebeu-se
a possibilidade de elaborar um material didático que pudesse servir de referência
sobre Juiz de Fora, contendo aspectos de sua origem, história e desenvolvimento,
além de uma discussão acerca das ações públicas e as implicações destas na
configuração da paisagem urbana do Município.
A tese de doutorado veio então, em decorrência deste processo de busca do
conhecimento sobre a realidade da cidade caracterizada pela polarização em
relação aos municípios vizinhos, gerando demandas crescentes por serviços
públicos e por espaço urbano. Dessa forma, estendeu-se a produção de um material
teórico e reflexivo, para também, a produção de um pequeno histórico do
desenvolvimento de Juiz de Fora, sob o olhar crítico dos planos e projetos
implementados pela Prefeitura Municipal.
E
18
A questão central baseia-se na identificação das contradições entre os planos
produzidos pelas gestões públicas, a partir dos anos 90, analisados através dos
seus projetos elaborados e executados. Destacando-se a particularidade dos planos
apresentarem uma sobreposição temporal, tem-se como objetivo identificar quais
áreas da cidade foram beneficiadas prioritariamente através da implementação dos
projetos.
Baseando-se tanto na formação do seu projeto de desenvolvimento, quanto
na análise dos seus planos e de sua forma de planejamento urbano, aponta-se que
o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU, 2000) e o Plano Estratégico
(PlanoJF, de 1997)1 consistiram em documentos com a mesma característica: a
geração de ações que obedecem a uma lógica comum de reordenamento viário.
Dessa forma, nossa hipótese se baseia no entendimento de que os planos
municipais em Juiz de Fora (PDDU, 2000 e PlanoJF) não apresentam, na realidade,
contradições entre si. Apesar dos discursos teoricamente se apresentarem de forma
distinta (tendo o primeiro o forte discurso da democracia e da participação popular, e
o segundo o enfoque em projetos pontuais dinamizadores de alguns setores como
comércio, serviços, indústria, entre outros) ambos se caracterizaram por apresentar
um conjunto de projetos que ao serem aplicados no tecido urbano salientaram a
infraestrutura viária como foco prioritário das ações para o desenvolvimento urbano.
É fato que a busca do desenvolvimento, através dos planos e projetos da
Prefeitura Municipal, mesmo que privilegiando o setor econômico, e atendendo aos
interesses dos principais agentes urbanos, possibilitou a geração de riquezas para a
cidade, e apropriação de recursos públicos pelos cidadãos juizforanos. Acreditamos,
porém, que essa lógica teria resultado também, num acesso desigual a esses
recursos e à riqueza gerada por esse desenvolvimento, além de uma política urbana
elitista e de emblema rodoviarista. Política urbana esta, que desde suas primeiras
atuações veio a legitimar a localização das diferentes classes sociais dentro do
espaço urbano, marcando no território o lugar do privilégio e o lugar da pobreza.
Diante das ações do Poder Público, seja através dos projetos do PDDU, 2000
ou das ações PlanoJF (1997), surgem algumas questões, a serem respondidas na
1 Ao mencionarmos neste trabalho o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora,
aprovado em 2000, usaremos a sigla PDDU, 2000. Quando nos referirmos ao Plano Estratégico, elaborado em 1997, utilizaremos a sigla PlanoJF.
19
análise empírica, para suscitar o debate e promover a elaboração de uma
consciência crítica diante da situação.
Entendendo que a cidade é produzida através de disputas entre os vários
grupos de interesse, quais as possibilidades de apropriação dos benefícios por parte
dos diferentes grupos sociais? Através de planos e projetos focados no
desenvolvimento econômico priorizando interesses privados em detrimento do
público, como os cidadãos se apropriam dessa riqueza gerada, e qual o efeito disso
na regulação do solo urbano?
BASE TÉORICO-METODOLÓGICA
A partir do exposto, buscando traçar o caminho de pesquisa adotado neste
trabalho, passaremos a apresentar as diretrizes teórico-metodológicas que
nortearam a elaboração desta tese.
Na intenção de analisar as formas de sua produção e apropriação do espaço
urbano em Juiz de Fora, foram estabelecidos os conceitos centrais que serviram de
suporte para os fatos a serem trabalhados. Plano urbanístico, planejamento urbano,
desenvolvimento urbano, plano diretor e plano estratégico, foram adotados,
entendendo-os como estruturantes na pesquisa sobre o urbano, sobretudo, nas
cidades capitalistas.
Partindo do pressuposto de que um plano urbanístico pode ser entendido
como um conjunto de métodos e medidas a serem aplicados sobre o espaço urbano,
baseados no estabelecimento de objetivos a serem atingidos, no prazo em que
estes devem ser alcançados e nas atividades a serem executadas (SILVA, 1995),2
adotou-se como foco de análise desta tese, os principais planos traçados nos anos
90 em Juiz de Fora, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (2000) e o Plano
Estratégico (1997).
Estabelecendo uma linha de pensamento, optou-se por direcionar a pesquisa
sobre os projetos contidos em cada plano, salientando-se as possíveis contradições
existentes entre eles. Dessa forma pôde-se espacializar os projetos gerando a
visualização no espaço urbano das ações públicas, além da percepção das áreas
prioritariamente beneficiadas pelos projetos.
2 Citado em urbanidades.arq.br em13 de junho de 2008.
20
Para chegar a esse propósito, e possibilitar a percepção de que os planos
urbanísticos (e a legislação urbana que devem trazer consigo), são o resultado do
conflito de interesses num determinado momento histórico, apresentou-se um
histórico do projeto de desenvolvimento de Juiz de Fora, narrando os fatos e
referências significativas para sua feição atual.
Retrocedendo à sua primeira legislação urbana, o Código de Obras de 1938,
procurou-se mostrar o caminho seguido pela gestão urbana no Município e o sentido
de desenvolvimento, que já naquela época se pretendia para a cidade.
Diante da pouca disponibilidade de dados sociais trabalhou-se com uma
escala de análise partindo das fontes primárias do IBGE, das obtidas na PJF e nos
dados existentes nos documentos em questão. A junção desses dados possibilitou
traçar um panorama atual da cidade no que diz respeito ao quadro das
desigualdades sociais, apresentados através dos indicadores de renda mínima do
chefe de família e do valor da terra.
Buscando extrair os conhecimentos a partir dos conceitos estabelecidos,
entendemos que, diante do campo de estudos do planejamento urbano, o enfoque
sobre o desenvolvimento oferece ao pesquisador um desafiador processo pesquisa.
Esse conceito se relaciona diretamente com as ações públicas e as políticas
adotadas na intenção de traçar a configuração do espaço urbano e com o
rebatimento dessas políticas sobre os cidadãos. Tendo como estabelecido o fato de
que, dentro da lógica das cidades capitalistas, os conflitos sociais e as pressões dos
diversos agentes urbanos atuam na luta pela apropriação das riquezas geradas pelo
crescimento e pelo desenvolvimento urbano, é inerente ao modo de produção
capitalista “criar, destruir e recriar novas bases, espaços e condições para sua
expansão, construindo e alargando mercados e horizontes ampliados para a sua
valorização” (BRANDÃO, 2000).
Essa valorização abrange todo o território da cidade, levando à
mercantilização do espaço urbano como um todo.
O processo homogeneizador é atinente: à imposição pelo capital, em qualquer espaço, de seus pressupostos imanentes, à capacidade do mesmo em incorporar massas humanas à sua dinâmica, à atração de todos os entes à órbita de seu mercado; à subordinação a si de todas as unidades societárias, à busca de construção de um espaço uno de acumulação e à destruição de quaisquer barreiras espaciais e temporais que possam gerar atritos e fricções ao seu movimento geral (BRANDÃO, 2000).
21
Podemos apontar que o planejamento urbano surgiu no Brasil como uma
resposta aos problemas enfrentados pelas cidades, marcando uma mudança na
forma de encarar tais problemas. Uma alteração importante refere-se ao
reconhecimento do fenômeno urbano como algo dinâmico, a partir de meados do
século XX, o que leva a entender a cidade como resultado de sua própria história e
como algo que está, de alguma maneira, evoluindo no tempo (KOHLSDORF 1985
apud SABOYA, 2008). Dessa forma a cidade real passa a ser o foco, ao invés da
cidade ideal.
Este campo de estudo, que leva em conta os problemas urbanos e as
soluções, ou tentativas para minimizar os impactos gerados pela economia
capitalista nas cidades, antes de agir diretamente no ordenamento físico das
cidades, trabalha com os processos que as constróem, sendo uma atividade, por
excelência, multidisciplinar. Enquanto disciplina acadêmica ou como método de
atuação no ambiente urbano, o planejamento lida basicamente com os processos de
produção, estruturação e apropriação do espaço urbano. Mas, independente de uma
definição formal do termo, sabe-se que é através da ação do Poder Público sobre o
território que o processo de estruturação do espaço se organiza.
Esse espaço urbano é sem dúvida a expressão dos processos econômicos e
sociais que atuam sobre ele, bem como das políticas públicas que integram esses
processos. Ao analisar as relações entre espaço e formação econômico-social,
Santos (1979 apud BERNARDES 1986. p.84) argumenta que “elas ocorrem em um
espaço particular, e não geral, e adverte que se o conjunto de relações que
caracteriza determinada sociedade tem para cada lugar um significado particular,
este deve ser apreendido ao nível da totalidade”. Dessa forma a dimensão espacial
é inerente a qualquer política pública e não pode ser ignorada, uma vez que
sociedade e espaço são indissociáveis.
Avaliar as experiências de planejamento no Brasil implica também reconhecer
que, durante séculos o País se apresentou essencialmente agrícola, sendo nossa
história a de uma sociedade de lavradores e pastores. “No começo a cidade era bem
mais uma emanação de poder longínquo, uma vontade de marcar presença num
país distante” (SANTOS, 2005. p.19), sendo que a criação do espaço urbano tratava-
se muito mais da geração de cidades do que um processo de urbanização.
Conforme Santos (2005), baseando-se numa economia natural, as relações
entre lugares eram fracas, inconstantes, num país com tão grandes dimensões
22
territoriais. Mesmo assim, a expansão da agricultura comercial e a exploração
mineral foram base de um povoamento e da criação de riquezas redundando na
ampliação das relações sócio-econômicas e no surgimento de cidades no litoral e no
interior.
Sabe-se que processo de urbanização no Brasil iniciou-se em 1532 com a
Vila de São Vicente, no litoral paulista, sendo Salvador (Bahia), a primeira cidade
brasileira fundada em 1549. Apesar disso, o surto de urbanização só se verificou no
século XVIII, com o ciclo da mineração (SANTOS, 2005).
Santos (2005) destaca que a atividade mineradora contribuiu sobremaneira
para urbanizar o país, provocando a transferência da capital da Colônia (de Salvador
para o Rio de Janeiro em 1763) e o deslocamento do eixo produtivo do Nordeste
açucareiro para o Sudeste aurífero. Além disso, originou inúmeras vilas e cidades
(Vila Rica, Mariana, São João del Rei, Diamantina, Cuiabá entre outras), além de
promover a interiorização e o crescimento econômico brasileiro.
Foi, todavia, no final do século XIX que se conheceu a aceleração do
fenômeno da urbanização tendo a população passado de 9,9 milhões para 14,3
milhões, crescendo mais de 40% em apenas 15 anos. (SANTOS, 2005)
A herança escravista que deixou marcas no pensamento social ao longo da
República Velha (1880-1930) determinou a formação de um pensamento no qual a
necessidade de transformar o Brasil numa nação, passou a ser o objetivo principal.
A formação do povo brasileiro tinha, entretanto, no campo, a base para a
constituição dessa nação, sendo a cidade entendida como o lugar do artificialismo e,
muitas vezes da corrupção (RIBEIRO e CARDOSO, 1996)
Conforme Ribeiro e Cardoso (1996) foi a partir dessa concepção de urbano,
ou de uma ausência no tratamento da questão urbana brasileira, que as
intervenções nas cidades não chegaram a configurar exatamente um modelo de
plano urbanístico, tratando-se de intervenções localizadas com vistas a organizar o
tecido urbano para superar o atraso frente às metrópoles internacionais.
Somente a partir do papel desempenhado pelo governo central como indutor
da urbanização, a partir da Revolução de 1930 e sua acentuação nas décadas
seguintes, apoiando a expansão do setor industrial e a modernização da agricultura,
que se passou a analisar os impactos crescentes dessa urbanização no processo de
configuração do espaço brasileiro.
23
A expansão das classes médias urbanas e da especulação da terra urbana, em boa parte em resposta à demanda habitacional, por elas geradas, tornou-se pouco a pouco mais expressiva e a massa de migrantes atraídos pelas cidades avolumou-se (BERNARDES, 1986. p.84).
Com a instalação de um governo autoritário eminentemente centralista, a
partir de 1964, acumulou-se o poder de decisão e reduziu-se a autonomia dos
estados e municípios, aumentando as condições para a expansão da produção de
bens capitalistas. As ações do governo militar orientavam-se pelas prioridades
políticas, econômicas e pelos interesses do novo aparelho de estado, fazendo
multiplicarem-se as políticas setoriais, sobretudo, na segunda metade da década de
60. Bernardes (1986) lembra que essas políticas setoriais permaneceram
desvinculadas entre si (como a política habitacional), não considerando a dimensão
espacial nelas implícita, e, num descaso quanto às consequências que a
implantação de tais políticas traria para a estrutura urbana brasileira.
Na segunda metade da década de 60, ainda não se estrutura uma proposta
de planejamento e política urbana nacional, mas, pela primeira vez, ao nível do
discurso oficial, foi reconhecida a necessidade de o governo atuar diretamente nas
cidades, não apenas na oferta de habitação. A coordenação dessas ações
desencadeou a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH)3 e do Serviço
Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU).4 Mas, a distância entre a proposta
dos planejadores e os executores dessas políticas governamentais levaria ao
abandono dessas diretrizes e da articulação e integração entre os dois órgãos, que
passaram a desenvolver suas atividades de forma independente a partir de 1967.
(BERNARDES, 1986)
3 O Banco Nacional de Habitação foi criado pela Lei n. 4380/64, pela necessidade de atender à
demanda habitacional e estimular a construção civil contribuindo para a retomada do desenvolvimento. Sua estruturação como um banco nacional fez prevalecer o enfoque setorial do problema habitacional. BERNARDES, Lysia. Política Urbana: uma análise da experiência brasileira. Análise e Conjuntura, Belo Horizonte, n.1: Fundação João Pinheiro, 1986. 4 O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU) também foi criado pela Lei n. 4380/64,
mas suas atribuições se voltavam para a orientação da programação habitacional e no apoio aos estados e municípios na gestão urbana. Entretanto, o SERFHAU não teve condições de cumprir a missão que a Lei lhe confiou, ficando esvaziado pelo crescimento do BNH como potência financeira desempenhou um papel importante (de 1967 a 1973), quanto ao desenvolvimento urbano. Vinculando-se ao Ministério do Interior passou a ter competência na elaboração e coordenação de políticas de planejamento local integrado, utilizando para isso o Fundo de Desenvolvimento Local Integrado (FIPLAN). Esse instrumento veio a apoiar a expansão das ações do SERFHAU junto aos municípios, através de financiamentos para elaboração de planos e outros instrumentos formais de planejamento municipal. Para maior aprofundamento nessa questão consultar: BERNARDES, Lysia. Política Urbana: uma análise da experiência brasileira. Análise e Conjuntura, Belo Horizonte, n.1: Fundação João Pinheiro, 1986.
24
Ainda de acordo com Bernardes (1986) como fruto da aceleração da
urbanização, da agudização dos problemas urbanos e das desigualdades regionais,
a questão urbana e suas implicações passaram a ser consideradas nos anos 70.
Nesse período, a problemática urbana foi inserida na estratégia governamental
dando-se mais ênfase na questão da integração nacional. Tendo o apoio do
Ministério do Interior (MINTER) o SERFHAU expandiu sua ação, procurando uma
programação mais estruturada e de maior impacto no país, como o Programa de
Ação Concentrada (PAC), lançado pelo MINTER, visado a ordenação e
sistematização das atividades do SERFHAU como agente financeiro de planos.
A diretriz que viria enquadrar a política urbana no modelo de desenvolvimento
brasileiro foi esboçada pelo 1º Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), em 1971,
que propôs a instituição das primeiras regiões metropolitanas no País (Grande Rio e
Grande São Paulo). A ele seguiu-se em 1974 o II PND que formalizou uma política
de desenvolvimento urbano incorporando as bases da política de organização do
território brasileiro.
Para Cardoso (1997), nos anos 80, ancorado num endividamento sistemático,
os problemas urbanos no Brasil tomam um vulto maior, aprofundado pela alta taxa
de juros no mercado internacional.
Essa situação tem reflexos diretos sobre as possibilidades de ação do Estado, que passa a cortar gastos para reequilibrar as contas públicas, premidas de forma crescente pelo déficit, levando gradativamente à paralisia do setor público. Esta se manifesta principalmente através de uma crescente deterioração das políticas sociais, as primeiras a sentir os efeitos da crise fiscal, mas também através de limites ao desenvolvimento de políticas setoriais e de desenvolvimento econômico (CARDOSO, 1997. p. 80).
Assim em meados dos anos 80, o movimento Nacional de Reforma Urbana
apoiado na idéia básica da função social da cidade, posicionou-se claramente contra
a permanente e exclusiva satisfação dos interesses que na ausência de participação
política durante o período autoritário, foram responsáveis pelo nível de exclusão
social nas cidades brasileiras. Nesse sentido assumiu posição contrária à absoluta
hegemonia exercida pela propriedade privada do solo urbano, bem como aos
múltiplos processos de privatização dos equipamentos coletivos. Além disso,
questionou o recuo da esfera pública no direcionamento do crescimento urbano e
nos processos de repressão à luta desenvolvida pela população para o alcance de
25
condições de sobrevivência no espaço urbano. Fechando o documento, a
especulação com a terra urbana e a falta de visibilidade nas políticas urbanas
também fizeram parte dos debates que originaram a ementa popular pela Reforma
Urbana e, que irão formalizar a Constituição Democrática de 1988. (RIBEIRO, 1990)
Fruto desse processo definiu-se como obrigatórios, para as cidades com
população acima de 20.000 habitantes, os chamados Planos Diretores,
estabelecidos como o instrumento básico da política de desenvolvimento e
expansão urbana contendo princípios e regras orientadoras da ação dos agentes
que constroem e utilizam o espaço urbano. (BRASIL, ESTATUTO DA CIDADE,
2002). Sendo um plano urbanístico por sua natureza, mas com a especificidade de
fixar as diretrizes do desenvolvimento urbano no município, a partir de um
diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e administrativa
da cidade, e de sua região, o Plano Diretor se constitui num conjunto de propostas
para o futuro desenvolvimento socioeconômico e organização espacial dos usos do
solo urbano, das redes de infra-estrutura e de elementos fundamentais da estrutura
urbana, propostas estas definidas para curto, médio e longo prazos, e aprovadas por
lei municipal. (VILLAÇA, 1999).
Nos anos 90 o processo de globalização toma conta do cenário mundial
provocando a disseminação das regras de livre mercado, passando a economia a
ser progressivamente isenta do controle político, resultando em uma ação do Estado
somente na regulação das intervenções e no controle das pressões locais. Segundo
Bauman (1999. p.76),
a separação entre economia e política e a proteção da primeira contra a intervenção regulatória da segunda, o que resulta na perda de poder da política como um agente efetivo, auguram muito mais que uma simples mudança da distribuição do poder social.
Observa-se uma reinterpretação da questão urbana, passando a sustentá-la
na valorização das vantagens competitivas e das estratégias de desenvolvimento
local, com grande estímulo à competição interurbana. Considerando-se as propostas
e modelos de planejamento que emergem na contemporaneidade, destacamos suas
formas de divulgação, através da valorização do discurso e baseadas na utilização
do modelo de cidade competitiva como forma de obtenção do sucesso. (VAINER,
2000).
26
Para Vainer (2000) entre os modelos de planejamento urbano que
concorreram “para ocupar o trono deixado vazio pela derrocada do tradicional
padrão tecnocrático-centralizado-autoritário” podemos destacar o chamado
planejamento estratégico. Difundido no Brasil e América Latina, sobretudo pelas
agências multilaterais (BIRD e Habitat) utilizam como pano de fundo para as idéias
competitivas, o discurso dominante segundo o qual a globalização aparece como
algo inevitável.
Brevemente, três macro-processos inter-relacionados _ a saber globalização, informacionalização e expansão urbana generalizada_ parecem estar sobressaindo na direção do desaparecimento da cidade como uma forma específica de relacionamento da sociedade e território. Depois de existir por milênios, as cidades parecem estar caindo num inevitável declínio histórico no limiar do milênio (BORJA e CASTELLS, 1997. p.01).
Inspirados em conceitos e técnicas originados nas escolas de planejamento
empresarial da Harvard Business School, a sistemática do planejamento estratégico
se baseia na adoção de práticas empresariais nas cidades, considerando-se que
estas estão submetidas às mesmas condições e desafios das empresas diante da
globalização (Vainer, 2000).
Nesse âmbito, buscando a promoção da mercadoria cidade, estabelecem-se
as estratégias gerenciais traçando-se um plano de ação levando em conta as
condições internas e externas do município, bem como os pontos fortes e fracos que
determinarão os projetos a serem executados.
Enfatizando a necessária superação das limitações das formas tradicionais de
planejamento, a metodologia adotada no planejamento estratégico de cidades, se
opõe às premissas do planejamento clássico admitindo novas tendências,
descontinuidades e surpresas, focalizando ainda as alternativas para aproveitar
essas novas oportunidades (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000).
No entender de Vainer (2000) é nessa cidade, forçada a dialogar com a
economia global e com a nacional, que emergem também novos atores, novas
estratégias de resistência e uma reacomodação de forças sociais. Esses
acontecimentos recentes, difíceis de serem tematizados na sua generalidade,
solicitam pesquisas empíricas capazes de alimentar o debate sobre os caminhos
explicativos da experiência urbana atual.
27
Complementando esse pensamento, percebemos que o processo de
mudanças na política urbana e a guinada para o empresariamento, acabam por
levar ao surgimento de atividades e serviços que se consolidam através de
empregos de baixa remuneração, contribuindo assim para o aumento das
disparidades entre riqueza e pobreza urbanas. É possível perceber várias tentativas
dos governos urbanos de inovarem e de se tornarem mais empreendedores,
reorientando suas atitudes em relação à administração urbana, baseando suas
políticas na competição entre localidades, estados e regiões. Dessa forma, as
cidades assumem um comportamento empresarial em relação ao desenvolvimento
econômico e passam a se preocupar de forma mais intensa com novas estratégias
de crescimento. (HARVEY, 1996)
Diante disso, a percepção da dinâmica das transformações no espaço urbano
construído nos fornece subsídios para a reflexão sobre as possibilidades e limites de
políticas que visem ao controle e direcionamento do crescimento e desenvolvimento
urbano. Tal suporte nos permite ter elementos para avaliar, ponderar e diagnosticar
as mudanças relevantes na conformação de uma cidade.
O OBJETO
Em Juiz de Fora, nos parece notório visualizar todo esse processo através
das leis e planos elaborados, que proporcionaram ao longo de sua história a
requalificação da cidade, levando consequentemente, à valorização da terra e à
expansão das fronteiras urbanas.
No que cabe às ações de planejamento urbano, desde 1977 a Prefeitura
contava com um órgão específico, o Instituto de Pesquisa e Planejamento
(IPPLAN/JF), sendo que a partir de uma reforma administrativa em 2000, as ações e
políticas urbanas passaram a ser geridas pela Secretaria de Planejamento e Gestão
Estratégica (SPGE).
Como veremos neste trabalho, o IPPLAN/JF será responsável, em 1996 pela
elaboração de uma proposta para o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, que
contava com a revisão das Leis Urbanísticas de 1986. Este processo não se
concretizará, sendo o órgão extinto e passando-se o encargo da elaboração e
aprovação do Plano Diretor à SPGE, que o fará em 2000.
28
O processo de elaboração e aprovação do Plano Diretor (PDDU, 2000),
baseado nos princípios constitucionais de cidadania, participação e equilibrado
ordenamento do solo urbano, refletindo ainda a função social da cidade, apresenta-
se em Juiz de Fora marcado por contradições, principalmente no que cabe à
aprovação do mesmo sem o conteúdo das leis urbanas de uso e ocupação do solo.
Os projetos propostos e, aqueles que foram colocados em prática,
demonstram a política pública focada na melhoria dos acessos à cidade,
requalificação de sua estrutura urbana, priorizando os eixos de entrada e saída e as
áreas elitizadas.
Durante o ano de 1997 (sobrepondo-se à elaboração do PDDU, 2000), outra
equipe da PJF passou a elaborar o chamado Plano Estratégico de Juiz de Fora
(PlanoJF), contando com a parceria público-privada como forma de alavancar
projetos específicos que fossem capazes de desenvolver atividades produtivas
diversificadas, como a indústria do conhecimento e do agronegócio.
Sob o enfoque dos projetos que potencializam a centralidade de Juiz de Fora,
aumentando a competitividade com outros municípios, tanto no âmbito econômico
como na prestação de serviços, abrangia projetos para o desenvolvimento
econômico e profissional, através da expansão do acesso a educação básica, ao
emprego, promovendo a inserção social. Ainda pertenciam aos temas do PlanoJF, a
busca de consolidar a cidade como pólo da Zona da Mata, “melhorando as vias de
acesso à cidade, a competitividade do seu comércio e a qualidade dos serviços”,
sobretudo nas áreas de educação e saúde. Por fim, todo esse processo deveria
provocar a melhoria dos indicadores sociais, “melhorando os serviços públicos,
requalificando seu centro e transformando seus bairros em modelo de qualidade de
vida para seus moradores”. 5
Recentemente, em 2008, foram feitas novas mudanças e a SPGE foi extinta,
passando suas atribuições para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico que
agregou o termo Planejamento.6
Este processo confuso e fragmentado, em termos administrativos, reflete
diretamente o sentido de planejamento urbano adotado pelo Estado, não diferindo
5 Encarte do PlanoJF. Distribuição Gratuita. Comitê Executivo do Plano Estratégico de Juiz de Fora.
Prefeitura de Juiz de Fora, 5º andar. Endereço web:http://www.jfservice.com.br/planojf 6 A atual prefeitura de Juiz de Fora, prefeito Custódio Mattos (PSDB), vem reestruturando a antiga
Secretaria de Planejamento e Gestão Estratégica, que está, provisoriamente locada na Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Este assunto será novamente abordado no decorrer deste trabalho.
29
das ações públicas das cidades brasileiras e reforçando a idéia de que os
municípios menores tendem a seguir os modelos das grandes metrópoles.
Podemos identificar na cidade, que as empresas construtoras detêm uma
forte presença enquanto agente urbano responsável pelas pressões junto à
Prefeitura para o incremento de seus nichos de mercado, atuando espacialmente de
forma desigual, devido o baixo interesse em produzir habitações populares face ao
custo da construção.7
Assim como esses agentes, existem também os proprietários dos meios de
produção (os industriais e grandes empresas comerciais) sendo, em razão da
dimensão de suas atividades, grandes consumidores de terra urbana. Necessitando
de terrenos amplos e baratos que satisfaçam os requisitos locacionais, geram um
processo de especulação fundiária, determinante para o aumento do preço da terra,
bem como dos custos de expansão e dos imóveis (RIBEIRO, 1997).
Os proprietários fundiários, também aparecem de forma relevante na cidade,
tendo na obtenção da maior renda de suas propriedades, o interesse que estas
tenham o uso mais remunerador possível, especialmente o comercial e o residencial
de padrão elevado. Estão particularmente interessados na conversão da terra rural
em urbana, promovendo a expansão do território urbano. Compõem outro grupo que
pressiona o Poder Público, visando a interferência na definição das leis de uso e
ocupação do solo e zoneamento urbano.
Numa ação conjunta, os proprietários fundiários e as empresas construtoras
promovem a ocupação urbana através de loteamentos caracterizados pela
“urbanização de status”, conforme Corrêa (1995), traduzida na criação dos
condomínios fechados e loteamentos de padrão elevado, cujo maior atributo são as
amenidades oferecidas. Tendo nas campanhas publicitárias uma forma de exaltação
das qualidades da área, promovem o aumento do preço da terra, criando bairros
ainda mais seletivos dentro da cidade.
Corrêa (1995) aponta que o Estado é o grande maestro desses agentes, mas,
tendo sua ação pautada pela dinâmica capitalista da qual faz parte, acaba se
manifestando como mais um consumidor de espaço. Em conseqüência desse
processo, os chamados grupos sociais excluídos, têm na ocupação irregular uma
7 Este assunto foi abordado pela autora em sua dissertação de mestrado. Ver TASCA, Luciane. Juiz
de Fora na década de 90: a produção do ambiente construído urbano. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional). Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
30
forma de resistência, invadindo e apropriando-se de terrenos muitas vezes
inadequados como as encostas íngremes e áreas alagadiças.
A cidade define-se então, por uma divisão econômica, social e espacial,
estabelecendo-se, a partir da ação de todos esses agentes, a segregação das
classes sociais e a concentração da população de baixa renda em áreas específicas
do território.
Acompanhando as transformações nacionais, Juiz de Fora vem repetindo o
modelo e o discurso dominante nas cidades capitalistas marcados pela lógica do
mercado e pela apropriação diferencial da riqueza. A esse território construído são
adicionados infraestrutura, sistema viário, equipamentos, serviços, que, juntamente
com a existência ou falta de amenidades, compõem o valor da terra.
Dessa forma, a ocupação do espaço urbano é regulada pelo valor que a terra
urbana adquire, sendo este o principal elemento de sua apropriação. A cidade torna-
se, assim, um potencial de consumo, exatamente como qualquer outro produto:
consumo que se realiza segundo as possibilidades de renda de seus habitantes.
Nessa cidade, personificada em mercadoria, o sistema de produção formal,
rejeitando parte dos trabalhadores, faz com que recorram a uma economia baseada
no subemprego, resultando numa população excluída do mercado de consumo pela
insuficiência de renda (HARVEY, 1982)
A baixa capacidade de consumir caracterizará então, a ocupação das áreas
periféricas da cidade, onde o valor do solo urbano é baixo e onde não são
satisfatórios os serviços de infraestrutura e acessibilidade a centros de emprego e
serviços.
Segundo Harvey (1982) o resultado desse processo é um gradiente de
valores do solo urbano, que atinge o máximo no centro principal e vai diminuindo até
atingir um mínimo nos limites da cidade, tornando-se relevante atentar para o fato de
como se produz o espaço e, por consequência, como as classes de baixa renda se
localizam nesse espaço.
Estabelecido o desafio da pesquisa, e de acordo com os objetivos da carreira
acadêmica, buscou-se uma leitura política da legislação e dos planos urbanos, bem
como de seus projetos, na intenção de analisar os interesses e ganhos da política
urbana em Juiz de Fora. Sob o foco maior de traduzir essa análise em algo que
possa contribuir na didática e no aprendizado sobre arquitetura e urbanismo, bem
31
como outros campos do saber, não se pretendeu esgotar o assunto, mas criar um
caminho que possa desencadear interesse de novas pesquisas nesta área.
Salienta-se que a dificuldade em obter dados representou grande obstáculo à
realização deste trabalho. Além disso, a falta de informações comparativas na
escala intra-urbana impediu a comprovação dos impactos dos projetos, mas ao
longo da pesquisa pudemos perceber que, a partir dos anos 90, houve uma
alteração no valor da terra urbana, provocando mudanças na ocupação urbana.
Na medida em que o sentido rodoviarista e a priorização da circulação
tomaram lugar de destaque na maioria dos projetos traçados, diante do processo de
reorganização do tecido urbano, alguns bairros obtiveram maiores ganhos em
termos de melhorias, sendo favorecidos pela proximidade com os novos eixos
criados.
Um dos aspectos mais complexos desse desafio em reunir informações que
embasassem a pesquisa foi a falta de acesso a dados públicos, tanto no que cabe à
obtenção da lei, quanto à sua interpretação pelos cidadãos comuns tornando a
mesma um documento destituído de valor democrático, aspecto, a nosso ver,
inadmissível nas sociedades que se pretendem participativas. 8
Desvendar o significado e as contradições da legislação urbana na cidade
parece-nos relevante se queremos uma cidade para todos os cidadãos e se
buscamos a cidadania com a carga constitucional que ela carrega consigo: a de que
”Todo o poder emana do povo”. (BRASIL, 1997. Art1o Parágrafo Único. p.03)
Na intenção de elaborar um percurso coerente, tanto histórico, quanto
analítico-crítico, o primeiro capítulo considera o caminho percorrido pelo Poder
Público em Juiz de Fora para promover seu projeto de desenvolvimento até os dias
8 Juiz de Fora possui 3 Leis Urbanas Básicas que são 6.908/86 (Lei do Parcelamento do Solo),
6.909/86 (Código de Edificações) e 6.910/86 (Lei do Uso e Ocupação do Solo) disponíveis ao público através de consulta à Prefeitura de Juiz de Fora. Além dessas leis, a cidade possui o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora (PDDU_Juiz de Fora Sempre) que se encontra na própria Prefeitura ou em bibliotecas públicas ou de instituições privadas. O PDDU, como veremos mais adiante, faz uma análise físico-territorial do Município, chegando até o macrozoneamento urbano. O mesmo não especifica, portanto, as formas e categorias de parcelamento, uso e ocupação do solo. Faz-se aqui um registro de que esse material tem um texto pouco claro, extremamente técnico, e de caráter ambíguo, dando margem a interpretações diferenciadas. Salienta-se a dificuldade em obter mapas explicativos sobre os modelos de parcelamento e uso e ocupação do solo para áreas da cidade afastadas do centro (que é única Unidade Territorial detalhada na Lei 6.910/86). Quanto ao processo de aprovação de projetos, submete-se à PJF o material solicitado, recebendo-se um formulário determinando o modelo de parcelamento e categoria de uso e ocupação do solo.
32
atuais, passando pelo desenvolvimento da estrutura urbana, tendo como referência
a evolução sócio-espacial das regiões urbanas.9
A política urbana no Município, rebatidos em seus planos e projetos são o
tema do segundo capítulo, iniciando-se com um apanhando geral sobre os planos na
política urbana no Brasil. A partir disso, abordou-se aspectos da elaboração da
política urbana em Juiz de Fora, perpassando pela primeira legislação urbana (1986)
até os Planos Estratégico e Diretor (1997 e 2000, respectivamente).
Diante da necessidade de entender as concepções dos planos
implementados (a saber, PDDU e PlanoJF), descrevem-se no capítulo 3 as
peculiaridades de sua elaboração, como a proposta do plano diretor de 1996 que
contava com a revisão da mais importante, e única, legislação urbana da cidade, as
Leis do Parcelamento (6.908/86) e da Lei de Uso e Ocupação do Solo (6.910/86).
Além disso, apresentam-se os projetos dos dois planos mencionados, discutindo-se
a espacialização dos mesmos e quais áreas foram privilegiadas pelos projetos.
O quarto capítulo apresenta, a partir das informações anteriores, o projeto de
desenvolvimento da cidade de Juiz de Fora, construído ao longo do tempo através
das ações do Poder Público. Apresenta-se ainda uma leitura das desigualdades
sociais e espaciais intra-municipais, discutindo-se o mercado de terras e a ação do
setor público, bem como as formas de acesso à moradia. Em seguida,
espacializando-se os projetos urbanos do PDDU, 2000 e do Plano/JF (1997),
buscou-se identificar as sobreposições subjacentes aos programas e seus projetos e
as regiões beneficiadas com as políticas urbanas no Município.
Ao final a conclusão resgata os embasamentos da tese, procurando fazer
uma distinção entre os planos apresentados, contrapondo-se, sobretudo, a proposta
de plano diretor de 1996, o Plano Diretor aprovado em 2000, e o ideário contido no
PlanoJF. Como discussão conclusiva do trabalho aponta-se a fragilidade das leis
urbanas no Município e os efeitos dos projetos implementados sobre o padrão de
desigualdades entre os espaços da cidade, possibilitando diferentes formas de
apropriação dos investimentos públicos.
9 Em 1989, através do Decreto do Executivo 04195/1989 (que descreve as linhas divisórias das
Unidades Territoriais constantes dos mapas que compõem o Anexo 3 da Lei nº 6910, de 31 de maio de 1986), foram criadas 81 Regiões Urbanas (RU‟s) caracterizadas por unidades menores e mais coesas quanto às suas características. Elas subdividiam a porção mais contínua e densamente ocupada da cidade, não abrangendo, porém, toda a extensão do perímetro urbano.
33
No intuito maior de organizar as informações sobre a história da cidade e sua
construção enquanto lugar fizeram-se muito mais perguntas do que encontraram-se
respostas. Mas ao fazer as perguntas certas, pôde-se colocar sistematicamente os
fatos que até então apareciam desorganizados e fragmentados nessa história
urbana tão peculiar. Ao questionar o sistema que determina nosso modo de vida,
satisfizemos nosso papel enquanto pesquisadora, podendo prestar a nós mesmos e
aos demais cidadãos um serviço útil que nos ajudará e entender o que nossa cidade
é, e o que ela poderá ser no futuro.
34
1 JUIZ DE FORA: PANORAMA DE SUA REALIDADE URBANA
ntender as transformações no espaço urbano significa compreender os
vários processos que o conduziram e o possibilitaram ser o que é. A
percepção da dinâmica urbana de uma cidade fornece subsídios para a reflexão
sobre as possibilidades e limites de políticas que visem ao controle e direcionamento
do crescimento urbano levando à busca de soluções que possibilitem maior acesso
à riqueza da cidade para todos os seus cidadãos.
Diante das manifestações no espaço urbano oriundas do movimento do
capital, nos deparamos com um processo conflitivo de organização do território
segundo práticas que buscam a apropriação privada de rendimentos e onde a
valorização do lugar dentro do espaço é tanto maior quanto “o incentivo para que os
lugares se diferenciem de maneiras atrativas ao capital” (HARVEY, 1992, apud
BRANDÃO, 2000.s.p).
As transformações verificadas no quadro mundial da atualidade e o
redesenho da economia colocam uma agenda ampla e complexa de importantes
questões sobre o desafio de identificar o papel das cidades na era da globalização.
As mudanças tecnológicas e os imperativos desse processo de universalização e
abertura das fronteiras (nas diversas escalas) têm gerado novos requisitos
locacionais reafirmando as externalidades locais e regionais, desconstruindo-se as
regiões. “Tendências e contratendências medem suas respectivas forças. Muitas
ainda não tiveram o tempo e a circunstância adequados para sua efetivação.
Observadores menos atentos sugerem o fim das escalas intermediárias entre o local
e o global” (BRANDÃO, 2000.s.p).
O chamado marketing urbano e as políticas estratégicas sobre o território,
onde a visão local-global prevalece, levam as cidades a ganharem em número de
projetos voltados para o crescimento econômico visando os mercados externos. É
fato, que o movimento da acumulação do capital, se processa no espaço de forma
mutável, irregular e com alta seletividade, provocando a valorização de
determinadas áreas e a concentração de riquezas de forma discriminatória.
Certamente existe um processo de busca e seleção de lugares na cidade que
E
35
ofereçem maior capacidade de apropriação privada de rendimentos e onde a
valorização do solo urbano atinge sua expressão máxima.
Partindo do exposto, entendemos que a conformação de Juiz de Fora, a partir
de sua história (como veremos no capítulo 2), foi determinante na posição
referencial que a cidade adquiriu, entre os municípios vizinhos e as principais
capitais do país. Na intenção de acrescentar elementos para a melhor compreensão
da dinâmica urbana do Município, segue-se um panorama do desenvolvimento da
estrutura urbana e das regiões que a compõem, agregando informações que nos
ajudarão a analisar o tecido urbano e as implicações das políticas públicas adotadas
ao longo do tempo.
1.1 DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA URBANA
Ocupando uma área total de 1.437 Km10 o Município de Juiz de Fora
apresenta-se dividido, conforme seu Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano,11
em 4 distritos: O Distrito-Sede, Torreões, Rosário de Minas e Sarandira. De acordo
com a Lei Municipal 6.910/86 o Distrito-Sede (Juiz de Fora), tem sua superfície
dividida em Área Urbana e Área Rural, sendo que o Decreto Municipal 404/88
descreve o perímetro urbano, e estabelece sua área em cerca de 400 Km2,
correspondente a 56% do total da área do Distrito-Sede, restando 44% para a Área
Rural (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2004).
Quadro 01. População Juiz de Fora e seus Distritos.
POPULAÇÃO TOTAL URBANA RURAL TAXA DE URBANIZAÇÃO
Distrito Sede 451.722 450.142 1.580 99,65%
Rosário de Minas 1.732 1.412 320 81,52%
Sarandira 1.161 770 391 66,32%
Torreões 2.181 678 1.503 31,09%
Fonte: ATLAS SOCIAL - JUIZ DE FORA: DIAGNÓSTICO. Prefeitura de Juiz de Fora: Gisele Machado Tavares (org). Juiz de Fora (MG): Prefeitura de Juiz de Fora, 2006.
Disponível em: http:// www.pjf.mg.gov.br
10
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em http://www.ibge.gov.br/cidades. Acessado em 01 de outubro de 2009. 11
Neste trabalho ao nos referirmos ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora, aprovado em 2000, adotaremos a sigla PDDU, 2000.
36
Mapa 01. Município de Juiz de Fora. Perímetro Urbano: Sede e Distritos. Fonte: ATLAS SOCIAL - JUIZ DE FORA: DIAGNÓSTICO. Prefeitura de Juiz de Fora: Gisele Machado Tavares (org). Juiz de Fora (MG): Prefeitura de Juiz de Fora, 2006. Disponível em: http:// www.pjf.mg.gov.br
De acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora (2004), como podemos ver no
Mapa 02, a conformação atual da cidade é conseqüência dos condicionamentos
geomorfológicos, das decisões políticas sobre os vetores de expansão a serem
estabelecidos e das estratégias econômicas de ligação de Juiz de Fora com outros
municípios, sejam da Zona da Mata Mineira ou de outros estados como o Rio de
Janeiro. A ocupação urbana, desde sua origem, se desenvolveu ao longo do vale do
Rio Paraibuna, eixo histórico das relações de intercâmbio entre Minas Gerais e os
portos oceânicos do Rio de Janeiro e Parati.
Sua forma originalmente linear restringiu o crescimento nesse sentido, sendo
que a linha traçada pelo principal eixo de transporte original veio posteriormente a
sofrer um processo de alargamento, induzindo novos caminhos de penetração que
37
se configuram como uma estrela, com espaços abertos entre os corredores de
desenvolvimento que se estendem em projeção. Possuindo a mancha urbana uma
área de 93,5 Km, ocupa pouco mais de 23% da área urbana, deixando desocupados
quase 77% do espaço considerado urbano (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA,
2004).
Mapa 02: Evolução da Malha Urbana 1998. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Ilustração A (cont.) p. 21.
38
Uma primeira fase de implantação da estrutura urbana de Juiz de Fora é
influenciada pela construção do Caminho Novo em 1707, permanecendo até a
década de 70, quando ocorre a modificação do traçado da BR-040, gerando um
processo de reformulação urbana. 12
Ilustração 01: Traçado do Caminho Novo. Fonte: Disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d2/rugendas_-
_defrichement_d_une_foret.jpg. Acessado em outubro de 2009.
Conforme a foto e o esquema abaixo podemos ver que o canal do Rio
Paraibuna e suas várzeas foram o berço do nascimento e implantação progressiva
da cidade, sendo até hoje, o seu principal vetor de ocupação e adensamento. A
utilização das margens como leito para as vias de transporte foram marcando, no
tempo, as diferentes etapas no processo de urbanização. O traçado original do
12
O chamado Caminho Novo foi construído em 1707 para o transporte do ouro da região de Vila Rica (Ouro Preto) até o porto do Rio de Janeiro. A partir disso, diversos povoados surgiram estimulados pelo movimento das tropas que ali transitavam, entre eles, o arraial de Santo Antônio do Paraibuna (Juiz de Fora) povoado por volta de 1713.
39
Caminho Novo, pela margem esquerda do rio, originou a localização do núcleo mais
antigo da cidade, denominado Setor Leste.13
Foto 01: Vista Aérea de Juiz de Fora. Fonte: Disponível em:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ec/juiz_de_fora_vista_aerea.jpgAcessado em outubro de 2009.
13 Esta denominação foi utilizada na proposta para Plano Diretor em 1996 (neste trabalho chamaremos de PD, 1996), e na Reforma Administrativa em 2000. Já o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano aprovado em 2000 (neste trabalho chamaremos de PDDU, 2000), utiliza a denominação de Região de Planejamento Linhares. Mais adiante veremos com maior detalhe essas diferenças de terminologia e delimitação.
40
Ilustração 02: Vetores de Crescimento. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Ilustração B. p 30.
Arte Final: Luciane Tasca
Com a construção da Estrada de Ferro D. Pedro II em 1858 e a abertura da
estrada União Indústria em 1861, consolida-se a margem direita como principal eixo
articulador do complexo urbano, delimitando a atual Área Central da cidade,
circundada pelas Avenidas Barão do Rio Branco, Independência e Getúlio Vargas
(chamado triângulo central), como mostrado no mapa abaixo.
41
Mapa 03: Triângulo Central de Juiz de Fora. Avenida Barão do Rio Branco (à esquerda), Avenida Getúlio Vargas (à direita) e Avenida Independência (abaixo).
Fonte: Prefeitura de Juiz de Fora. Arte Final: Luciane Tasca
Visualizando-se o Mapa 04, podemos entender que o traçado da Av. Rio
Branco determinou o direcionamento norte-sul prenunciando o acesso às áreas que
hoje compõem os bairros ao norte, Grama, Bandeirantes, Bom Clima, entre outros,
mediante a abertura da chamada Garganta do Dilermando em 1970, proporcionando
a ligação da MG-353 com a Área Central, constituindo-se num vetor secundário de
expansão da cidade.
42
Mapa 04: Vetores de Expansão e Ocupação em Juiz de Fora Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
43
Foto 02: Garganta do Dilermando. Fonte: Disponível em: http://www.panoramio.com/photos/original/7072167.jpg. Acessado em outubro de 2009
Foto 03: Bairro Benfica em Juiz de Fora. Via principal, Avenida Juscelino Kubitschek. Fonte: Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=893970. Acessado em outubro de 2009.
44
Outro vetor de expansão da cidade é o Bairro Benfica (Zona Norte), de
implantação mais antiga apresentando-se consolidado pela existência dos Distritos
Industriais I e II. Valendo-se também do eixo às margens do Rio Paraibuna, o
caminho entre Benfica e o Centro apresenta-se permeado por pequenas e médias
indústrias, que induziram a ocupação de novos bairros como Santa Cruz, Nova Era,
Barbosa Lage, entre outros (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2004)
Ressalta-se no que cabe às origens da estrutura urbana de Juiz de Fora, que
o Caminho Novo começou a formalizar a penetração sul/sudoeste, através dos
Bairros São Mateus, Cascatinha e Bom Pastor, além da Av. Independência,
permitindo acessar o Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora, cujo acesso
era feito pela região de Martelos.
Foto 04 e 05: Bairro Cascatinha em Juiz de Fora (Independência Shopping). Fonte: Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=899808. Acessado em outubro de 2009.
45
Mapa 05: Campus Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora. Esquema de Acesso. Fonte: Disponível em: http://www.ufjf.br/. Acessado em outubro de 2009.
O novo traçado da BR-040 na década de 1970 (como mostrado no abaixo),
influenciou a expansão da cidade, gerando uma nova dinâmica tanto na Avenida
Independência quanto na sua continuação, a Avenida Deusdedith Salgado (saída da
cidade pela BR-040/ligação com a zona sul), bem como na BR-267(saída da cidade
pela porção sudeste) e na Avenida Juscelino Kubitscheck.
46
Mapa 06: Traçado da BR-040 e sua Influência sobre Juiz de Fora. Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
Podemos destacar que o traçado da rodovia gerou a valorização dos Distritos
Industriais I e II, gerando um processo de urbanização da própria rodovia, que
passou a servir de complemento à malha viária existente, contradizendo sua
condição de via de tráfego rápido e fluido.
A partir disso, segundo o PDDU, 2000 determinam-se dois vetores principais
de ocupação e adensamento na cidade: o da Av. Rio Branco, articuladora da Área
47
Central expandida e da Av. Brasil e sua continuidade com a Av. Juscelino
Kubitschek, que representa a articulação da cidade ao longo do canal do Rio
Paraibuna. Os demais vetores, como a MG-353 e a MG-267, contribuem para fechar
o quadro de tendência de ocupação, mas subsidiários aos vetores principais. (Ver
Mapa 04. Vetores de Expansão e Ocupação em Juiz de Fora).
1.2 EVOLUÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DAS REGIÕES URBANAS14
O processo de ocupação da cidade desembocou numa configuração mais
compacta na Área Central e na porção Leste, sendo bastante esparsa nos demais
setores. No PDDU, 2000, consta, além de vazios intraurbanos no perímetro urbano,
cerca de 37.000 lotes vagos, com área inferior a 5.000m2 (de acordo com o Cadastro
de IPTU de 1995). Dessa forma, demonstrava-se um potencial físico de expansão e
adensamento na mancha urbana, que prevalece até hoje. Entretanto, em virtude de
suas características peculiares, a capacidade de absorção demográfica mostrou-se
diferenciada entre os setores urbanos.
Na intenção de possibilitar a visualização e a descrição atuais das
características das regiões em Juiz de Fora, elaborou-se um material que agregou
os dados do PDDU, 2000 (acerca das denominadas Regiões de Planejamento), e
das Regiões Administrativas de Juiz de Fora (terminologia adotada pelo decreto Lei
10.000/2001). Dessa forma foi possível obter um perfil da dinâmica socioespacial
apresentada na totalidade do espaço urbano, cujas características seguem
descritas.15
14
Destacamos que, a denominação e delimitação adotada por este trabalho assemelham-se aos chamados Setores Urbanos constantes na proposta para Plano Diretor em 1996 (conforme veremos mais adiante no capítulo 3). A exceção será somente no Setor Noroeste, que aqui foi agrupado com o Setor Norte, chamado agora de Região Norte. Destacamos ainda que os dados disponíveis são aqueles constantes na proposta de 1996, que pouco foi atualizada pelo PDDU em 2000. 15
Conforme veremos mais adiante, a ordenação urbana de Juiz de Fora, passou por várias denominações e delimitações. Na proposta para o plano diretor de 1996, o macrozoneamento determinava configuração de 8 Setores Urbanos. No Plano Diretor aprovado em 2000, utilizou-se a denominação de 7 Regiões de Planejamento. E na Reforma Administrativa de 2001, trabalhou-se com 7 Regiões Urbanas. Acrescenta-se a essa conturbada sequência de denominações que na prática, enquanto Legislação Urbana, a Lei que dispõe sobre o Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo (6.910/86), determina a divisão do Município em 16 Unidades Territoriais. Neste trabalho adotaremos o termo Região Urbana, a mesma conformação estabelecida pela Reforma Administrativa em 2001.
48
Região Urbana 1-Norte 5-Sul 2-Nordeste 6-Oeste 3-Leste 7- Centro 4-Sudeste
Mapa 07: Regiões Administrativas e Regiões Urbanas de Juiz de Fora. Fonte: ATLAS SOCIAL - JUIZ DE FORA: DIAGNÓSTICO. Prefeitura de Juiz de Fora: Gisele Machado Tavares (org). Juiz de Fora (MG): Prefeitura de Juiz de Fora, 2006. Disponível em: http:// www.pjf.mg.gov.br
49
Mapa 08: Região Norte. Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
Possuindo grandes dimensões a região Norte16 apresenta, em geral,
densidades demográficas baixas, com 0,1 hab/ha nos bairros Represa e Remonta,
16
Na Reforma Administrativa da Prefeitura de Juiz de Fora, em 2001, com a finalidade de facilitar a gestão territorial, a área do Perímetro Urbano foi subdividida em 7 Regiões Administrativas, agregando grupos de Regiões Urbanas (RU‟s), células menores e mais coesas, adotadas em 1989. As 81 Regiões Urbanas acabaram tornando-se as principais células de estudos urbanos. Além disso, sua compatibilidade com os Setores Censitários favorece o uso das informações geradas, agregadas de vários níveis, especialmente nas atividades de planejamento. Nesse caso, a Região Norte engloba aproximadamente as RP‟s Barreira, Benfica, Represa, Igrejinha e Santa Cândida (Morro do Sabão), adotadas pelo PDDU, 2000. Estas são compostas pelos bairros: Ponte Preta, Vila Esperança, Benfica, Araújo, Nova Benfica, São Judas Tadeu, Santa Cruz, Nova Era I, Nova Era II, Cidade do Sol, Barbosa Lage, Jóquei Clube, Industrial, Cerâmica, São Dimas, Esplanada, Monte Castelo, Jardim Natal, Francisco Bernardino, Milho Branco, Carlos Chagas, Represa, Remonta, Santa Cândida (Morro do Sabão).
50
3,4 hab/ha em Barreira do Triunfo, sendo um pouco mais alta em Benfica (20,6
hab/ha), assim como, Jóquei Clube (56,8 hab/ha), Bairro Industrial (98,2 hab/ha), até
os 127,6 hab/ha no Esplanada (PJF/DPGE/IBGE, 2000). A região apresenta-se
como a segunda maior do município (vindo logo após o Centro), com 96.768
habitantes, configurando uma densidade demográfica total de 6,98 hab/há (IBGE,
2000). Destaca-se um aumento significativo da densidade total, que em 1996
chegava aos 0,63 hab/ha, representando um diferencial de 9160 pessoas. Conforme
dados do Planejamento Estratégico (2004), da Diretoria de Planejamento e Gestão
Estratégica (DPGE), da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) a região Norte é composta
por 49 bairros, sendo a maior em números de bairros em todo o território urbano do
Município.
Devido às facilidades infraestruturais, desponta como a de maior potencial de
absorção. Entende-se como facilidades infraestruturais os seguintes aspectos:
ferrovia e sistema viário em ampliação; captação e adução de água facilitada pela
proximidade dos dois principais mananciais de Juiz de Fora; presença de grandes
equipamentos geradores de emprego e de núcleos terciários fortes, como Benfica.
Essas facilidades também se referem ao próprio relevo, proporcionando
integração com a Área Central, pelo vale do Rio Paraibuna. Em sua porção no
extremo norte, apresenta a vocação industrial, sendo cortada no sentido longitudinal
pela BR-040, importante rodovia federal que liga Juiz de Fora com o interior de
Minas Gerais e com os estados de São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro. Além
disso, encontra-se nesta porção o Porto Seco (região de Dias Tavares), onde são
comercializados os produtos de importação e exportação.
Quadro 02: Número de Bairros das Regiões Urbanas
nº de bairros que é formada
49
24 25
1619 21
36
15
0
10
20
30
40
50
Nort
e
Sudeste
Leste
Sul
Centr
o
Nord
este
Oeste
Rura
l
Fonte: Planejamento Estratégico. DPGE/PJF.
51
No bairro Barreira do Triunfo de acordo com o PDDU, 2000 (dados do censo
91), 56,96% dos chefes de domicílio recebiam até 2 salários mínimos (s.m.)17 e
12,34% acima de 5 s.m.. Comparando-se com o Censo 2000, percebe-se que houve
uma significativa redução da pobreza, sendo que 48% dos domicílios pesquisados
tinham chefes de família ganhando até 2 salários mínimos. A faixa acima de 5
salários mínimos, permaneceu quase inalterada com 14% dos chefes de família
(IBGE, 2000).
Em Barreira do Triunfo, de acordo com o Atlas Social (2006), existe uma área
de ocupação subnormal denominada Vila São Cristovão, com infra-estrutura urbana
parcial, formas de habitação precária e titularidade irregular da terra urbana.
Contando com cerca de 30 domicílios, as condições sócio-econômicas são baixas, e
a densidade de ocupação é mediana.
Constituindo-se, basicamente, pela área de manancial de abastecimento de
água da Represa João Penido, Represa, outro bairro da Região Norte, embora seja,
entre as regiões do perímetro urbano, a maior área, tem um baixo índice de
adensamento. Já Remonta, pertencente ao Ministério do Exército, foi considerado
pelo PDDU, 2000, como área estratégica para expansão urbana. Esta região
localiza-se no eixo de expansão traçado pelo Plano Diretor, na direção norte,
promovendo, ao mesmo tempo o direcionamento (indução) da mancha urbana, e um
limite à sua expansão.
Como no bairro Represa, onde ainda não existe rede de água, na Remonta, a
infra-estrutura também é precária: tanto a rede de esgoto quanto a rede elétrica são
deficitárias. Dos acessos às moradias, somente 11% têm pavimentação asfáltica.
Nessa porção, mais caracterizada por atividades informais e de subsistência, com
atividades econômicas de baixa expressividade, a ocupação caracteriza-se, em sua
maioria, por granjas e habitações irregulares, lotes de pequenas dimensões e vilas
militares
Os loteamentos não regularizados no bairro Represa são carentes de infra-
estrutura e ocupados por população de baixa renda, sendo que em 2000, 75,15% do
chefes de família ganhavam até 2 salários mínimos. Já na Remonta, a renda média
dos chefes de família fica com 16% ganhando de 3 a 5 s. m., e 23% até 2 s.m.
devido a existência de um condomínio de renda mais elevada.
17
Utilizaremos a sigla s.m. para a expressão salário mínimo. Destacamos que seu valor em novembro de 2009 é R$ 465,00.
52
A região de Santa Cândida (contida na Bacia Hidrográfica do Córrego
Humaitá), também na região Norte, corresponde a um grande vazio urbano, onde
predomina a ocupação com aspectos rurais de baixa densidade e grande áreas
particulares. Apesar de ser cortada pela BR-040 e a BR-267 não apresenta
crescimento urbano na área limite com as rodovias. Existe pouca expressividade
econômica no bairro e nenhuma infraestrutura instalada, devido à baixa ocupação,
havendo facilidade de instalação pela proximidade com o bairro Benfica. A ocupação
vem sofrendo mudanças com novos loteamentos e granjeamentos, havendo
interesse da Prefeitura em promover loteamentos populares. Historicamente essa
região já vem sendo utilizada para implantação de conjuntos habitacionais pelo
Poder Público, encontrando-se esta intenção, expressa no PDDU, 2000, bem como
o direcionamento da expansão urbana da cidade. Apresenta-se com topografia
favorável à ocupação, possuindo, entretanto, Áreas de Especial Interesse Ambiental,
e a Reserva Biológica de Santa Cândida. (Ver Mapa 22. Macrozoneamento)
Marco histórico da ocupação de Juiz de Fora, junto com o núcleo central, e o
mais consolidado da Região Norte, o bairro Benfica integra-se ao vale do Rio
Paraibuna, tendo sofrido um processo de expansão intenso nos últimos anos.
Integrando-se progressivamente ao conjunto da cidade, à medida que surgiam
novos empreendimentos na região, seu núcleo evoluiu quase independentemente da
malha urbana expandida a partir do Centro. Continuamente, vem recebendo uma
série de benefícios por parte do Poder Público Municipal, Estadual e mesmo
Federal, visando consolidar o bairro como Zona Industrial. A duplicação da Avenida
Juscelino Kubitschek (Av. JK), principal via que o atravessa, a localização do
terminal rodoviário bem como o binário da Avenida Brasil constituem uma série de
iniciativas voltadas para sua valorização
A ampliação dos Distritos Industriais I e II, a partir da década de 1970,
reafirmou a vocação industrial com a instalação de vários ramos, como a Paraibuna
de Papéis, a Becton Dickinson, a Facit, a Dental Duflex, a White Martins, a Master,
entre outras. Embora a ocupação concentrada ao longo da Av. JK torne a mancha
urbana linear, sua densidade no núcleo do bairro é elevada, de forma que é a
terceira região mais populosa, agrupando, só em Benfica, 17,06% da população da
cidade. Ainda que tenha boa infraestrutura para o abastecimento de água, para a
coleta de esgoto e demais serviços, dispondo, inclusive, de uma Usina de
Reciclagem e Compostagem de Lixo, o escoamento de águas pluviais é precário,
53
devido à sua localização, na várzea do rio, tendo algumas áreas inundadas, em
época de chuvas fortes.
Em relação ao uso e ocupação, existe relativa homogeneidade dada a
predominância de lotes de pequenas dimensões ocupados por residências
unifamiliares ou conjuntos habitacionais de prédios de 3 ou 4 pavimentos (Jóquei
Clube). Ao longo da história foi, e continua sendo, a porção da Região Norte mais
receptora de loteamentos populares, feitos pela Prefeitura, inicialmente com a
construção de casas térreas (Barbosa Lage) e depois com a construção de inúmeros
blocos de apartamentos (Cidade do Sol, Jóquei Clube II e III).
Destaca-se na área o loteamento Milho Branco, empreendimento da PJF, que
atende a um grande número de habitações populares e indústrias de pequeno e
médio porte, além de no Alto Jardim Natal, as vilas Bejani e Tarcísio, com famílias
transferidas de locais próximos ao Centro da cidade. Encontram-se loteamentos de
iniciativa da EMCASA18 como a Vila Esperança I, com famílias transferidas de áreas
de risco, Amazônia, São Damião, Parque das Torres e João Dickson. Somente
nessa área contam-se 235 domicílios, com infra-estrutura urbana parcial, habitação
precária e titularidade da terra irregular (exceção Vila Tarcísio que tem habitações e
titularidade regulares) e, condições sócio-econômicas muito baixas
O contingente populacional, em Benfica, caracterizava-se em 1991 com
53,7% dos chefes de família com renda até 2 salários mínimos, devido à
concentração dos maiores loteamentos populares implantados pela Prefeitura ou
iniciativa privada, bem como os fixados espontaneamente. Em 2000, 36,7% dos
chefes tinha renda até 2 salários mínimos, e 33,4% apresentou renda acima de 2 até
5 s.m..
Estes dados têm relação com a melhora no padrão sócio-econômico de
Benfica, que vem sendo alvo de intensa especulação imobiliária, em parte
18
Secretaria de Política Social. Empresa Regional de Habitação de Juiz de Fora. EMCASA. Lei 152/1987. Sociedade de economia mista regida pela Lei 6.404/76, tendo como acionista majoritário a Prefeitura de Juiz de Fora, e demais ações distribuídas pelo capital privado. Responsável pelo estudo dos problemas da habitação popular, em coordenação com os órgãos as administração pública federal, estadual ou municipal, direta ou indireta, bem como com instituições privadas com interesse no tema. Realizam o planejamento, produção e comercialização de unidades habitacionais, em especial as destinadas à população de baixa renda. Atuam ainda no repasse, ao mutuário final, dos financiamentos para aquisição de habitação ou materiais de construção; no planejamento e execução de programas de urbanização e/ou remoção de famílias em áreas de risco ou inadequadas; aquisição, urbanização e venda de terrenos; construção de obras civis na área de habitação popular; incorporação imobiliária; compra e venda de materiais de construção; locação de bens imóveis de sua propriedade. Fonte: Prefeitura de Juiz de Fora. Disponível em: http://www.emcasa.pjf.mg.gov.br/conheca.php. Acessado em outubro de 2009.
54
incentivada pelo Poder Público tendo sido apontada como vetor de expansão para a
classe média, pelo Plano Diretor. Conforme o mapa 08, da região Norte essa é uma
importante área de saída da cidade de Juiz de Fora, tendo ligação direta pela
Avenida Juscelino Kubitchek à BR-040, além disso, a cidade tem crescido na
direção norte e tende a seguir paralela à mencionada rodovia federal. (Ver Mapa 04.
Vetores de Expansão e Ocupação em Juiz de Fora).
Efetivamente, a área tem sido alvo de ocupação intensificada nos últimos
anos, sobretudo a partir de seu crescimento industrial, que tem ocasionado a
alteração da antiga paisagem de fazendas desocupadas, por novos loteamentos
padrão classe média. Sem dúvida estamos diante de uma das áreas mais
promissoras em termos de alteração na estrutura urbana do Município, e certamente
em termos de valorização da terra.19
Na porção mais a noroeste, fechando a Região Norte, tendo sua origem a
partir da linha férrea e sendo cortado também pela BR-267, está o bairro Igrejinha.
Dispondo de abastecimento de água e coleta de esgoto, caracteriza-se pelo
predomínio de uso residencial, com construções unifamiliares e, socialmente, por
população de baixa renda .
19
Destacamos que a planta de valores de Juiz de Fora, em 2004 apontava que o valor médio do m2
em Benfica era de R$49,53. Fonte:DPGE/PJF. Não foi possível fazer a atualização pois a planta de valores está sendo revista atualmente.
55
Mapa 09: Região Oeste Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
A porção Oeste20 conta com significativas possibilidades de ocupação, com
algumas restrições relativas ao abastecimento de água (altitude média de quase
200m), energia elétrica (em fase de ampliação) e sistema viário.
Deve-se acrescentar que, atualmente, a área está em processo de expansão,
contando com vários condomínios horizontais, padrão classe média alta, além de
uma crescente oferta de comércio e serviços.
20
A região Oeste engloba a RP São Pedro, adotada pelo PDDU, 2000, com os bairros Borboleta, Imperador, Nossa Senhora de Fátima, Cidade Universitária, Santos Dumont, São Pedro, Cruzeiro de Santo Antônio, Nova Califórnia, Marilândia, Parque Jardim da Serra, Novo Horizonte.
56
Comumente identificada como Cidade Alta, o bairro São Pedro (mais
populoso da região com 10.681 habitantes) estende-se no sentido leste-oeste, do
Morro do Imperador até a bacia do Córrego São Pedro, tendo sua ocupação
intensificada após a construção da BR-040. Eixo de expansão urbana a partir da
implantação da Avenida Independência. Na década de 1970, com clara intenção de
induzir a expansão para esta região, foi encomendado um Plano Diretor, definindo
um caráter de padrão de ocupação classe média-alta.
Consolidando-se este processo através da instalação do Campus da UFJF
(Universidade Federal de Juiz de Fora), do Aeroporto e do Estádio Municipal, além
da implantação do Centro de Pesquisas da EMBRAPA (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) e de numerosos condomínios horizontais e loteamentos, o
bairro limita-se com áreas de relevância ambiental. Diga-se, de passagem, é o setor
mais bem servido de áreas verdes, como o Morro do Imperador, Parque da Lajinha,
Mata da Sede do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
naturais Renováveis) e as matas ao longo da margem esquerda da Represa de São
Pedro.
Comportando 24.836 habitantes, a menor do Município, apresenta
densidades demográficas de 0,8 hab/ha no bairro Cruzeiro de Santo Antônio, 2,3
hab/ha no Morro do Imperador, contra 27,2 hab/ha em São Pedro e 36,6 hab/ha em
Martelos (onde se localiza a UFJF). No universo total da região, a densidade chega
aos 9,66 hab/ha, com 6.738 domicílios permanentes (IBGE, 2000).
A região se caracteriza como a menor do Município, quanto ao número de
habitantes, sendo, no entanto, a segunda no número de bairros que a conformam,
que são 36.
O padrão de ocupação e parcelamento caracteriza-se por diferenciações
internas, como as dimensões dos lotes e a qualidade das habitações. Num claro
processo de substituição das edificações originais por outras voltadas para a
elevação do padrão, percebe-se um processo de renovação da região com
condomínios fechados para população de renda elevada, prevalecendo o caráter
simbólico e o alto nível de status social.
As atividades econômicas existentes são bastante heterogêneas,
concentrando-se nos corredores de bairros, como São Pedro, Nossa Senhora de
Fátima, Santos Dumont, Marilândia e na parte central de Borboleta. A UFJF exerce
papel de destaque, na medida em que influenciou um processo de implantação
57
indústrias de base tecnológica, como a Quiral Química. Embora a infraestrutura
viária conte com acessos em boas condições, a circulação interna, devido à largura
das vias é deficitária. Uma das obras de intervenção propostas pelo PDDU, 2000,
nos Projetos e Programas Especiais, é o Acesso Sul (que virá a constituir uma parte
da nova rodovia a BR-440), via marginal ao Córrego de São Pedro, que foi
parcialmente implantada paralelamente à principal via do bairro São Pedro, Avenida
Presidente Costa e Silva.21
Quanto ao parcelamento do solo e ao padrão de ocupação, existem
significativas diferenciações internas. Num primeiro segmento formado pelos bairros
Borboleta e centro de São Pedro, há o retalhamento do solo com lotes reduzidos e
poucas áreas desocupadas, num crescente processo de ocupação que vem
acarretando comprometimento nas condições de infraestrutura. No segundo
segmento, no restante do bairro São Pedro, Marilândia e Santos Dumont, há
predominância de parcelamento com lotes de médio porte, com construções de
padrão inferior; nessa região, identifica-se um processo de substituição das
edificações antigas por outras de padrão mais elevado, devido à entrada de capital
imobiliário especulativo. Já com outro padrão, caracterizando população de renda
elevada, o terceiro segmento (próximo ao Morro do Imperador) apresenta-se
marcado pelos novos loteamentos fechados. Num quarto é último setor, abarcando
os bairros Parque Jardim da Serra, Nova Califórnia, Novo Horizonte, Cruzeiro de
Santo Antônio, cujo referencial é a Represa de São Pedro, podem-se identificar lotes
maiores, com padrão granjeamento.22
O setor apresentava em 1991 (de acordo com as informações disponíveis no
PDDU, 2000) renda média dos chefes de família de 2,9 salários mínimos,
apresentando “fortes disparidades entre os mais de 10 salários mínimos do
Imperador, até os menos de 2 salários mínimos no Bairro N. Sr. de Fátima”.
Descreve ainda o plano, que era também alta “a proporção de rendimentos de até 2
salários mínimos (60,20% na média da RP) em todos os bairros” (PREFEITURA DE
JUIZ DE FORA, 2004. p.66).
21
Este aspecto será discutido no capítulo 3. 22
O valor médio da terra urbana, por m2, segundo Planta de Valores da DPGE/PJF (2004) era de
R$53,87 no Borboleta, R$46,73 no bairro São Pedro e R$56,72 no Morro do Imperador. Os bairros de Nova Califórnia e Novo Horizonte apresentavam, respectivamente, valor médio de R$13,90 e R$20,78. Já o bairro Represa, ocupado por granjas, apresentava valor de R$3,97.
58
Estas disparidades internas já demonstravam a convivência entre áreas de
renda elevada e áreas de ocupação subnormal, num processo crescente de
ocupação nas margens da Represa de São Pedro. Em relação aos dados do Censo
2000, o bairro Aeroporto apontava para 18,77% dos chefes de família ganhando
mais de 5 a 10 s.m., sendo que 31,39% ficaram na faixa até 2 s.m. Acima de 10
salários mínimos apareceram 29,69% dos chefes de família. Já o Morro do
Imperador apresentou no último Censo 33,68% dos chefes de domicílio com mais de
30 s.m.. Este último bairro tem sido alterado pela ocupação intensa com
condomínios de renda elevada, num processo de especulação do solo urbano
bastante acentuado.
Convivendo com esses padrões encontram-se, sobretudo no bairro Nossa
Senhora de Fátima, várias áreas subnormais, como no Jardim Casablanca, Jardim
de Fátima e Adolfo Vireque, caracterizados por ocupações que se situam em áreas
vizinhas às mais valorizadas, como os Condomínios Jardins Imperiais, Parque
Imperial e Granville.
Foto 06: Jardim Casablanca (população baixa renda, à esquerda) e Condomínio Granville (classe alta, à direita).
Fonte: Disponível em:
http://elistas.egrupos.net/lista/encuentrohumboldt/archivo/indice/1457/msg/1504/ Acessado em outubro de 2009.
59
A região Nordeste23, conforme o mapa abaixo, em condições de absorção
semelhantes às da Oeste, tem como inconveniente a rodovia MG-353, sua única via
de acesso e já com sinais de saturação de trânsito. Apesar disso, é hoje uma área
em expansão, com loteamentos padrão classe média alta, em condomínios
horizontais unifamiliares.
Mapa 10: Região Nordeste. Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
23
Neste caso, a região Nordeste engloba a RP Grama, adotada pelo PDDU, 2000, com os bairros, Filgueiras, Parque Independência, Grama, Bom Clima, Bandeirantes, Parque Guarani, Granjas Betânia, Santa Rita, Bonfim, Marumbi, Santa Paula, Progresso, Centenário, Manoel Honório, Bairu, Nossa Senhora Aparecida, Santa Teresinha, Nossa Senhora das Graças, Eldorado.
60
Apresentando uma população de 42.615 habitantes, a região se conforma
com uma densidade demográfica de 14,95 hab/ha, representando ainda um
percentual de 24,86 pessoas por domicílio num universo de 12.124 domicílios
permanentes (IBGE, 2000).
Num comparativo em relação às demais regiões da cidade, esta se apresenta
em penúltimo lugar, quanto ao número de habitantes, sendo formada por 21 bairros,
numa média equiparada entre as regiões Sudeste, Leste, e Centro (ver Quadro 02).
Predominantemente residencial, a região de Grama mantém forte vínculo com
a região Centro, apresentando dois subcentros: Manoel Honório e Santa Teresinha.
Contando um bom sistema viário apesar do intenso tráfego de veículos de carga
pela MG-353, destaca-se que a infraestrutura no tocante ao saneamento básico tem
índices superiores a 95% nos serviços de abastecimento de água, rede de esgoto e
coleta de lixo.
As formas de ocupação opõem-se num uso de relativa diversidade em meio
ao predomínio residencial: enquanto os bairros Manoel Honório, Santa Teresinha e
seus entornos apresentam ocupação mais antiga, a vertente do bairro Grama é de
ocupação mais recente. No bairro Bandeirantes, a implantação de diversos
conjuntos habitacionais para população de baixa renda, ao longo da década de
1970, proporcionou a expansão da mancha urbana e da infraestrutura,
impulsionando, assim, uma intensa ocupação local, caracterizada por situações
diversas de ocupação e parcelamento do solo.
Num grupo de padrão elevado, com predomínio de residências unifamiliares
com nível socioeconômico elevado, estão os bairros Bairu e Bom Clima, dotados
boa qualidade e de infra-estrutura. Já os bairros Granjas Bethânea e Grama,
caracterizam-se por ocupação mais heterogênea, com moradias unifamiliares e
granjeamentos. Deve-se destacar que, ao longo da MG-353, há maior concentração
de população e, à medida que dela se afasta, notam-se novos loteamentos e granjas
de lazer. 24
A discrepância social foi apontada pelo PDDU, 2000 (dados 1991) relatando
que de um total de 19 bairros, em cerca de 17 deles a faixa de renda dos chefes de família que recebem até 2 s. m. é próxima ou superior a 50%,
24
O Valor médio do m2 da terra urbana comprova a ocupação de padrão mais elevado nos bairros
Manoel Honório R$152,03, Bairu R$ 102,07 e Bom Clima R$5313. Seguem-se Santa Teresinha R$51,49; Bandeirantes R$32,99; Grama R$13,36 e Granjas Bethânea R$11,44.
61
enquanto que, no Bairu, 55,7% recebem acima de 5 s.m. e a renda média das famílias residentes no Bom Clima é de 14,58 s.m (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2004).
Paralelo a esse processo, constava ainda no referido plano a proliferação de
ocupações por população de baixa renda, em condições precárias, inclusive nas
encostas ou beira de córregos, estando assentadas em áreas subnormais cerca de
621 famílias, sendo 128 no bairro Bandeirantes, no leito da antiga estrada de ferro
Leopoldina.
De acordo com o Censo 2000, o Bairu conta com 30,67% dos chefes de
domicílio com mais de 5 salários mínimos, apresentando uma queda em relação a
1991. Esse fato denota o aumento da mistura socioeconômica ocorrida na região,
com intensa proliferação de novos condomínios de padrões variados. Sendo um dos
eixos de saída da cidade, pela MG-353, conforma uma área de expansão, embora
apresente sérios problemas de tráfego devido ao relevo acidentado.
No Bom Clima em 2000, os dados apontavam que 68,09% dos chefes de
família ganhavam acima de 10 salários mínimos, demonstrando que os núcleos de
riqueza permaneceram e se fortaleceram em verdadeiros enclaves próximos a
outras áreas de renda mais baixa.25
No bairro Bandeirantes, os dados mais atuais informam que 31,37% dos
chefes de família ganham até 2 s. m., e 20,46% ficam na faixa de 5 a 10 s.m.,
demonstrando que o padrão classe média tem avançado para as antigas áreas de
baixa renda, que agora estão em processo de renovação. Este bairro tem recebido
novos projetos de condomínios que vêm provocando a mudança do padrão da
região. Em conseqüência disto as áreas de pobreza têm avançado sobre a periferia,
conforme discutiremos mais adiante. O número de domicílios subnormais no
Bandeirantes (comunidade Parque Guarani) alcançava em 2006, 115 moradias, com
condições sócio-econômica baixa, infra-estrutura parcial, e titularidade da terra
irregular em alguns pontos.
25
Adotamos aqui o conceito de Teresa Pires do Rio Caldeira de enclaves fortificados. Ver CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Ed. 34/Edusp, 2000.
62
Mapa 11: Região Centro. Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
Dotado de maior e melhor capacidade infraestrutural, o Centro26, se acordo
com o PDDU, 2000, embora possa comportar uma absorção demográfica de
razoáveis proporções, demandaria uma reorganização de sua estrutura, sobretudo
viária, para conter a atual saturação do tráfego e ordenar o fluxo de seus espaços
acolhendo uma absorção equilibrada.
26
Neste caso, a região Centro coincide com a adotada pelo PDDU, 2000, englobando os bairros Fábrica, Mariano Procópio, Democrata, Vale do Ipê, Santa Catarina, Jardim Glória, Santa Helena, Morro da Glória, Centro, Vila Ozanan, Poço Rico, JK_Jardim da Lua, Costa Carvalho, Santa Cecília, Mundo Novo, Parque Guaruá, Granbery, Alto dos Passos, Bom Pastor, Boa Vista, Dom Bosco, Paineiras, São Mateus.
63
Destaca-se, na configuração de Juiz de Fora, por apresentar peculiaridades e
características que lhe conferem especial forma de ocupação. Situado no Vale do
Paraibuna, em sua parte mais ampla, onde historicamente ocorreram as primeiras
ocupações, o território se expande para além do centro histórico, englobando
núcleos residenciais e subnúcleos comerciais e de serviços localizados no seu
entorno.
O tecido formado pelas ruas principais do Centro (Avenidas Rio Branco,
Independência e Getúlio Vargas, chamado triângulo central), configura uma rede de
vias e galerias, numa característica bastante peculiar da cidade, proporcionando um
tipo de convivência social específico, sobretudo nos calçadões. Registra-se a
existência de edificações de relevância histórica, correspondentes aos estilos
Neoclássico, Art Noveau, Art Decó, denotando os processos de transformação da
Manchester Mineira.
Foto 07 e 08: Centro de Juiz de Fora. Avenida Rio Branco e Calçadão da rua Halfeld. Fonte: Disponível em: http://img119.imageshack.us/img119/5084/ag17my.jpg e http://www.acessa.com/cidade/arquivo/fotos/2009/03/26-luzes_halfeld/26-luzes_halfeld.jpg. Acessado em outubro de 2009.
64
Foto 09: Avenida Barão do Rio Branco. Fonte: Disponível em: http:// www.skyscrapercity.com/showthread.php. Acessado em outubro de 2009.
Uma parte dessa região central, porém fora do triângulo, a chamada parte
baixa (entre a Avenida Getúlio Vargas e a Avenida Francisco Bernardino), apresenta
características distintas, com comércio predominante de produtos populares e de
materiais de construção em geral. Com o crescimento da cidade e do traçado da
Avenida Rio Branco, o eixo inicial de ocupação, que partia da Praça da Estação e
subia a rua Halfed, deslocou-se algumas ruas na parte superior, configurando a
imagem de parte alta aquela próxima a Avenida Rio Branco, e parte baixa aquela
próxima à Avenida Getúlio Vargas. Nesta última, localizam-se os pontos de ônibus
de acesso aos bairros da zona norte, nordeste, leste e sudeste, de ocupação de
baixa renda. Na Avenida Rio Branco, acontece a circulação sentido norte e sul,
percorrendo os bairros de melhor padrão de renda de Juiz de Fora.
65
Foto 10: Avenida Getúlio Vargas Fonte: Disponível em: http://img253.imageshack.us/i/p3143436sh0.jpg/. Acessado em outubro de 2009
Dessa forma pode-se perceber a existência de uma fronteira econômica e
social, separando e determinando o lugar de quem utiliza o centro da cidade, leia-se
triângulo central, e de quem tem acesso a outra porção do centro (parte baixa) com
características distintas.
O Poder Público tem sinalizado a intenção de revitalizar a Área Central quer
seja na parte alta, quer seja na parte baixa, buscando revalorizar seu tecido urbano
e gerar novas configurações de uso e ocupação.27
Congregando 19 bairros possui 100.088 habitantes, simbolizando dessa
forma o coração da cidade, devido às grandes concentrações de população e de
atividades, sendo marcado pela heterogeneidade tanto em termos demográficos
quanto ao nível de renda e funções.
No que refere à distribuição da população, destacam-se fortes concentrações
nos bairros Centro 21.426 habitantes (119 hab/ha), São Mateus com 18.134
habitantes (146 hab/ha) e Morro da Glória, destacando-se por apresentar a maior
27
Sobre este assunto, falaremos mais adiante, no capítulo 3, ao discutir os projetos do PDDU, 2000.
66
densidade populacional (161,8 hab/ha). Em comparação a região Centro também
possui bairros com menores densidades, como Poço Rico com 39,2 hab/ha e Vale
do Ipê com 43,2 hab/há (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2004).
Em termos de região, houve um pequeno aumento no conjunto dos bairros
que a formam, com 97.826 habitantes em 1996 chegando aos 100.088 em 2000, e
num aumento de densidade demográfica que passou de 99,9 hab/ha para 102,21
hab/ha. Em relação ao número de domicílios o Censo 2000 do IBGE apontou para
os valores de domicílios permanentes em 32.798 sendo Vila Ozanan o bairro que
apresentou maior número de pessoas por domicílio.
Foto 11, 12 e 13: Centro de Juiz de Fora. Fonte: Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?. Acessado em outubro de 2009.
67
Mapa 12: Mancha Urbana de Juiz de Fora. Área Central.
Fonte: Prefeitura de Juiz de Fora. Arte Final: Luciane Tasca
Os bairros que compõem o setor estão divididos em grupos de relativa
homogeneidade, desde os de ocupação com padrão socioeconômico médio a alto,
com forte pressão imobiliária voltada à verticalização, até aqueles de padrão de
ocupação inferior, com camadas de renda média e baixa. Acentua-se o processo de
renovação urbana, sobretudo nas áreas de melhor padrão de ocupação,
substituindo-se antigas residências unifamiliares por edificações multifamiliares, com
mais de 4 pavimentos.28
A renda dos chefes de família evidenciava em 1991 (segundo O PDDU, 2000)
a heterogeneidade do setor: cerca de 44% dos chefes ganhavam acima de 5
salários mínimos e 28% até 2 s.m., no entanto, no bairro Vale do Ipê aqueles acima
de 5 salários alcançavam 70,9% e no Dom Bosco aqueles abaixo de 2 salários
representavam 82%.
Conforme o Censo IBGE, 2000, somente no bairro Centro, 60,39% dos
chefes de família ganhavam acima de 5 salários mínimos e apenas 9,05% ficavam
na faixa abaixo de 2 salários mínimos. Podemos entender a dinâmica de uso e
ocupação do solo no Centro, dotada de ação especulativa e capital financeiro
28
Valor médio do m2 da terra urbana no Centro era em 2004 de R$1.318,36, seguido curiosamente
pelo bairro de características populares Dom Bosco R$79,65 (demonstrando o processo de renovação urbana) e o de perfil de classe média-alta, Vale do Ipê R$62,04. Planta de Valor da Terra, 2004. DPGE/PJF.
68
provocando renovação e afastamento das classes baixas para bairros mais
distantes. Esta área está sendo alvo de vários projetos, conformando um verdadeiro
canteiro de obras para faixa de mercado padrão classe média alta. Além disso, a
expectativa de esvaziamento do comércio central com a implantação do
Independência Shopping, provocou iniciativas de renovação urbana e requalificação
de espaços para a prestação de serviços. O perfil comercial têm prevalecido, mas há
também um nicho de mercado para habitação multifamiliar, sobretudo com quarto e
sala. A afirmação da vocação institucional da cidade têm incentivado a proliferação
de kitnets e apartamentos para estudantes, além dos flats, já sob o foco do turismo
de negócios.
Nos bairros Vale do Ipê, tradicionalmente de classe média-alta a situação em
2000, ficava praticamente a mesma de 1991, com 78,06% dos chefes de família
ganhando acima de 5 salários mínimos. Já no bairro Dom Bosco dos 82% abaixo de
2 s.m. em 1991, somente 50,76% permanecem em 2000 na mesma situação,
diluindo-se o restante entre os 13,31% entre 2 e 3 s.m., 12,67% de 3 a 5 salários
mínimos e 16,03% acima de 5 s.m..Esta situação corrobora com as demais já
apresentadas, reafirmando a renovação urbana das áreas de baixa renda (mais
centrais) em Juiz de Fora, sobretudo aquelas onde está havendo entrada de capital
imobiliário para classe média alta. O bairro Dom Bosco fica atrás do Independência
Shopping e do Hospital Monte Sinai (em fase de ampliação), que fazem parte da
região Sul a ser detalhada a seguir.
Segundo o Mapa de Exclusão Social, a região Centro apresentava em 2006
(Contagem 2006 do IBGE), 355 domicílios em situação de subnormalidade, com
maior concentração no bairro Dom Bosco. Sendo áreas urbanizadas, a infra-
estrutura urbana quase total, mas as condições sócio-econômicas são muito baixas.
69
Mapa 13: Região Sul Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
A Região Sul29 caracteriza-se, em sua porção situada entre a área
consolidada do Centro e o limite sul do Município, divisa com Matias Barbosa, por
uma extensão territorial estruturada de forma diferenciada. As áreas mais próximas
ao centro apresentam ocupação mais adensada, tornando-se menos compacta à
medida que se avança para os limites do Município, até se transformar numa faixa
de vazios urbanos, no Bairro Graminha
29
Neste caso, a região Sul engloba as RP‟s Santa Luzia e Cascatinha, adotadas pelo PDDU, 2000, constando dos bairros: São Geraldo, Graminha, Ipiranga, Bela Aurora, Santa Efigênia, Sagrado Coração, Santa Luzia, Cruzeiro do Sul, Aeroporto, Parque da Lajinha, Teixeiras, Cascatinha, Salvaterra.
70
Congregando uma população de 47.647 habitantes em 1996, a região Sul
alcançou em 2000, 52.984 habitantes, com densidade demográfica de 17,55 hab/ha.
Os bairros de Salvaterra e Graminha aparecem com as mais baixas densidades
demográficas, 0,3 e 3,1 hab/ha, respectivamente. As concentrações populacionais
mais substanciais situam-se em Santa Luzia (110,4 hab/ha), Cascatinha (73 hab/ha),
Ipiranga (70,2 hab/ha) e Santa Efigênia (66,7 hab/ha).
Sendo formada por 16 bairros, conforme dados do Planejamento Estratégico
(DPGE/PJF, 2004), a região é a que apresenta o menor número em relação às
demais do município (ver Quadro 02). No que tange ao número de habitantes,
aparece em quarto lugar, vindo logo após as regiões do Centro, Norte e Leste.
A população de baixa renda é amplamente majoritária, apresentando em
1991 (dados PDDU, 2000), rendimento médio de 1,86 salários mínimos, sendo que
68,5% dos chefes de família tinham rendimento até 2 salários mínimos.
Em termos de padrões sócio-econômicos apresentam-se dois conjuntos: um
formado pelos bairros Santa Luzia, Cruzeiro do Sul, Graminha e outro pelos bairros
São Geraldo e Ipiranga. Em 2000, somente no bairro Santa Luzia 40,07% dos
chefes de família estavam na faixa abaixo de 2 salários mínimos e 16,41% ficavam
entre 5 e 10 s.m. Já no São Geraldo e Ipiranga 51,88% e 50,15%, respectivamente,
estavam abaixo de 2 s.m.
O Atlas Social informou em 2006 a existência de 21 áreas de ocupação
subnormal, em todo o setor Sul, sendo o número de domicílios estimado em 1368.
Outra porção desta região, Cascatinha, principal acesso à cidade para quem
vem pelo sul do Município, tem seu crescimento ligado ao eixo das Avenidas
Independência, Paulo Japiassu Coelho e Deusdedith Salgado. Atualmente, com a
implantação do Independência Shopping, todo esse acesso foi reestruturado:
alteração do tráfego, com abertura de vias para os bairros Dom Bosco e Cidade
Universitária, além da melhoria das vias Deusdedith Salgado e das vias de acesso
ao loteamento Estrela Sul (de implantação também recente). Estes acessos
acabaram gerando um novo eixo de saída da cidade e de ligação com a região Sul,
trazendo consigo um vetor de atividades comerciais e serviços, sobretudo no ramo
de mobiliário, decoração, construção, entre outros.
A área formada pelos bairros Teixeiras, Bela Aurora e Santa Efigênia
caracteriza-se por uma ocupação mais antiga e mais adensada, com população de
padrão econômico inferior. Esta ocupação vai se rarefazendo a medida que avança
71
para os limites municipais ao sul, até apresentar faixas de vazios urbanos no bairro
Sagrado Coração. A mesma ocupação, mas de padrão mais alto, aparece no bairro
Aeroporto, onde há predominância de granjas, modificando-se em Salvaterra para
sítios e chácaras, próximo à BR-040. O bairro Cascatinha tem ocupação consolidada
com residências de bom padrão unifamiliar e multifamiliar de baixa volumetria.30
Nesta parte da região Sul, as atividades econômicas concentram-se nos
corredores de bairro, sendo que, nas avenidas principais, há tendência de
implantação de equipamentos de maior porte. A infraestrutura viária foi
recentemente reformulada, estando em boas condições os acessos aos bairros
Cascatinha, Teixeiras, Aeroporto (padrão elevado e eixo de saída da cidade em
direção à BR-040), contrapondo-se ao acesso precário aos bairros Bela Aurora,
Santa Efigênia e Sagrado Coração (padrão baixo). Quanto à coleta de lixo, redes de
água e esgoto, também existem diferenças: nos bairros próximos ao Centro, os
índices aproximam-se de 100%, mas, à medida que se afastam ou conforme o tipo
de ocupação, os índices diminuem para cerca de 80%.
Já no Aeroporto, os lotes são maiores, e, no Salvaterra, existem ainda
grandes glebas, já em processo de loteamento residencial. Esta parte possui como
via de penetração a Av. Deusdedith Salgado que, nas proximidades do limite com o
município de Matias Barbosa, faz ligação da BR-040 com o Centro, através da Av.
Independência, constituindo-se no principal acesso rodoviário a Juiz de Fora.
30
O valor médio do m2 da terra urbana apresentava-se em 2004, a partir dos bairros mais
valorizados, segundo a Planta de Valores da DPGE/PJF: Cascatinha R$193,22 (próximo ao Centro e à saída da cidade pela BR-040) e Santa Luzia R$111,22 (próximo à zona sul e à saída da cidade pela BR-040 são bairros que apresentam recente processo de renovação urbana incentivado pela infraestrutura viária criada, o Acesso Sul. Assim como estes, os bairros Teixeiras (R$71,93) e Ipiranga (R$37,69) também estão em processo de alteração de sua estrutura urbana. Por fim o mais distante do Centro, o bairro Aeroporto, contava com valore médio de R$25,62, apresentando atualmente a mesma configuração e estrutura urbana.
72
Foto: 14, 15, 16, 17, 18 e 19: Independência Shopping e Spazio Design. Bairro Cascatinha em Juiz de Fora.
Fonte: Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=899808. Acessado em outubro de 2009.
Em 2006, conforme o Atlas Social, Santa Efigênia apresentava 149
domicílios, em 3 áreas de exclusão social, com infra-estrutura urbana parcial,
titularidade da terra regular, e condições sócio-econômias baixas.
A partir do Censo 2000, pode-se ver que no bairro Aeroporto, 29,69%
apresentavam mais de 10 salários mínimos e cerca de 31,39% estavam na faixa de
rendimentos de chefe de família até 2 salários mínimos. Em Santa Efigênia a
situação caracterizava-se de padrão popular com 51,74% dos chefes de família na
faixa abaixo de 2 salários mínimos. Mesmo caso de Sagrado Coração e Bela Aurora
com 60,63%.
73
O bairro Cascatinha, que vem apresentando intenso processo de crescimento
nos últimos anos, no que cabe ao percentual de rendimentos dos chefes de família,
78,17 apresentam renda acima de 5 salários mínimos com somente 4,69% abaixo
de 2 s.m. (de acordo com o Censo 2000), fruto da ocupação da área com novas
edificações multifamiliares de padrão classe média a alta. Conforma atualmente
região de passagem entre o centro e a saída do Município em direção a BR-040.
Outro dado relevante se mostra no bairro Teixeiras (bem próximo ao Cascatinha),
tido como de padrão popular pelo PDDU, 2000. Os dados mais atuais revelam que
37,99% ganham ate 2 s.m. e 25,44% ganham acima de 5 salários mínimos. Este
quadro em reversão de área popular para padrão classe media vem sendo efetivado
pela entrada de novos empreendimentos na área e pelo foco das gestões publicas
em abrir passagem pela região ligando o centro a já mencionada rodovia federal.
Além disso outras áreas (que já estão sendo chamadas de bairros) como o Jardim
Laranjeiras e o Estrela Sul estão certamente alterando o perfil dessa região, sem
contudo estarem ainda discriminadas para validação de dados.
A Região Leste31, cujo vetor principal é o Córrego do Yung, um dos afluentes
do Rio Paraibuna, tem duas formas distintas de ocupação: de um lado, a ocupação
mais antiga das áreas planas que foi se adensando, ao longo do tempo, deixando
livres somente as encostas íngremes que caracterizam o seu perfil morfológico
(bairros São Bernardo, Jardim do Sol, Grajaú); de outro lado, à medida que ocorre a
consolidação desta ocupação, as camadas médias e baixas da população vão
sendo afastadas, ocupando as encostas íngremes de forma intensa (Vitorino Braga,
Linhares). Os efeitos de sua proximidade com o Centro garantiram-lhe, em grande
parte, asfalto e boa oferta de infraestrutura.
31
Neste caso, a região Leste engloba a RP Linhares adotada pelo PDDU, 2000, com os bairros: Bom Jardim, Linhares, Três Moinhos, Jardim do Sol, São Bernardo, Santa Cândida, São Benedito, Vila Alpina, Cesário Alvim, Santos Anjos, Vitorino Braga, Grajaú.
74
Mapa 14: Região Leste. Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
Estas melhorias beneficiaram a população, mas também causaram uma
valorização imobiliária, gerando a substituição de moradias (de padrão classe baixa
para alta) num processo de periferização demonstrado pela existência de 26 áreas
de assentamento subnormal, com 2176 domicílios em situação sócio-econômica
baixa, padrão de infra-estrutura parcial e situação de posse da terra, em sua maioria
irregular.
Apresentando uma população total de 85.667 habitantes, e densidade
demográfica de 61,81 hab/ha, a região agrega 24.760 domicílios permanentes.
75
Sendo a terceira maior região em termos de população, antecedida pelas regiões
Centro e Norte, é formada por 25 bairros, também ocupando a terceira posição num
quadro comparativo às demais regiões do município de Juiz de Fora.
As atividades econômicas comportam basicamente empresas de pequeno
porte, tendo forte vinculação como a área central, existindo homogeneidade quanto
ao saneamento básico, com índices aproximados de 95% nos serviços de
abastecimento de água, rede de esgotos, coleta de lixo e pavimentação do sistema
viário.
A forma de ocupação do espaço urbano rebate-se num uso do solo de
relativa diversificação em meio ao predomínio residencial. Este é constituído de
edificações de 1 e 2 pavimentos, havendo alguma incidência de 3 a 4 pavimentos,
com lotes de pequenas dimensões. Destaca-se a implantação de loteamentos
residenciais padrão classe média, como o Jardim do Sol e Bosque dos Pinheiros
(próximo ao São Bernardo), existindo também áreas de ocupação subnormal em
precárias condições.
Embora esteja numa faixa adjacente ao Centro, a região difere em termos
sócio-econômicos, sendo composta por bairros de baixa renda apresentando em
1991, renda média dos chefes de família de 2,12 salários mínimos, sendo que a
maior parte (62,2%) recebia até 2 salários mínimos (PREFEITURA DE JUIZ DE
FORA, 2004).
No Censo Demográfico do IBGE/2000, o percentual dos chefes de domicílio
ganhando menos de 2 salários, se constituía da seguinte forma: o bairro São
Benedito com 49,64%, Linhares aparece com cerca de 49,55%, Grajaú tem 31,13%,
Vitorino Braga 27,46%, São Bernardo 24,35%.
Com melhor situação dos chefes de família (faixa acima de 5 s.m.) estão os
bairros São Bernardo e Grajaú, 43,33% e 30,65% (respectivamente) O primeiro tem
sido objeto de especulação imobiliária na forma de condomínios de classe media e o
segundo já e tradicionalmente um bairro de classe média.32
32
A Planta de Valor da terra urbana apresentava em 2004, segundo DPGE/PJF, valor médio do m2,
por ordem de maiores valores o bairro Vitorino Braga com R$93,18 (área de renovação urbana, locando importante hospital da cidade e clubes esportivos); Linhares com R$54,51 (saída da cidade pela estrada União e Indústria), Grajaú R$37,60 (área já consolidada); São Benedito R$34,33 e São Bernardo com R$26,02 (expansão de condomínios classe média).
76
Mapa 15: Região Sudeste. Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
Por fim, a Região Sudeste33 configura-se estruturada pela BR-267, pelo leito
da Estrada de Ferro (RFFSA), pelo leito do Ribeirão Marmelos (afluente do
Paraibuna), que possuem trajetos confluentes, e pela Av. Francisco Valadares, que
se estende até a estrada União e Indústria, acompanhando o traçado do rio
Paraibuna.
O seu contingente populacional passou de 33.186 habitantes em 1996, para
36.758, em 2000, delineando um pequeno aumento da densidade demográfica de
25,08 (1996) para 27,78 (2000). Encontram-se bairros com densidades elevadas
como Olavo Costa com 153,6 hab/ha e Furtado de Menezes 139,6 hab/ha,
contrapondo-se a outras áreas com reduzida população como Floresta com 2,2
hab/ha. Quanto ao número de domicílios permanentes, a região possui 9.990, sendo
33
Neste caso a região Sudeste engloba a RP Lourdes adotada pelo PDDU, 2000, com os bairros, Granjas Bethel, Jardim Esperança, Retiro, Floresta, Santo Antônio, Nossa Senhora de Lourdes, Vila Ideal, Olavo Costa, Furtado de Menezes, São Geraldo e Graminha.
77
que na Vila Olavo Costa o número de pessoas por domicílio chega aos 4,13,
seguida por Vila Ideal com 3,58 pessoas/domicílio. Num aspecto geral, comparada
às outras regiões do Município, a região Sudeste se coloca em 5º lugar quanto ao
número de habitantes, sendo a 4º em termos de números de bairros que a formam
(24 no total). 34
No tocante ao saneamento básico, observam-se índices elevados nos
serviços de abastecimento de água e rede coletora de esgoto e lixo, bem como
pavimentação do sistema viário. O uso residencial é constituído de edificações de 1
e 2 pavimentos, com alguma incidência de 3 e 4 pavimentos, assentados em lotes
de pequena dimensão. Existem muitas áreas de ocupações subnormais, algumas
em áreas de risco ou insalubres, sem infraestrutura instalada.
Alguns bairros, como o Jardim Esperança, Retiro e Floresta, são, de certa
forma, desarticulados do restante da cidade, com aspectos rurais e precariedade de
serviços e equipamentos próprios de atividades urbanas.
A parcela dos chefes de família que recebia em 1991 até 2 salários mínimos é
significativa, sendo os bairros com maior índice o Olavo Costa com 88,92%, Santo
Antônio com 72,71% e Nossa Senhora de Lourdes, com 48,87%. Esses percentuais
tiveram uma queda em 2000, no número de chefes de família ganhando até 2
salários mínimos, passando a ser: 62,33% em Olavo Costa (menos 26,59%),
48,54% em Santo Antonio (queda de 24,17%) e 36,07% no bairro de Lourdes
(menos 12,8%). Este fato pode ser apontado pela melhora no padrão de algumas
dessas áreas (de origem antiga) fruto de projetos públicos de saneamento básico
(água, esgoto, iluminação, pavimentação, etc), como em Olavo Costa com 97,68%
dos domicílios ligados a rede geral de abastecimento de água e 98,51% ligados a
rede geral de esgoto ou pluvial.35 Além disso, possuindo bairros num dos eixos de
saída da cidade (Estrada União e Indústria, antiga ligação com o Rio de Janeiro,
antes da BR-040), a região vem passando por alterações em sua estrutura urbana e
no perfil de seus moradores, aumentando a mistura social.36
34
Fonte: Planejamento Estratégico/DPGE/PJF. 35
Dados DPGE/PJF, Censo demográfico IBGE, 1991 e 2000. 36
A Planta de Valor da Terra (DPGE/PJF, 2004) mencionava que Olavo Costa, memso mantendo padrão popular, possuía valor médio por m
2 de R$253,37, valor extremamente alto, certamente
atribuído devido à proximidade com o bairro Bom Pastor (zona sul) com o qual faz divisa. Furtado estava na faixa de R$53,69, seguido por Lourdes com R$37,05; Vila Ideal R$30,25 e Santo Antônio R$23,45.
78
As atividades profissionais concentram-se nos setores industrial, comercial,
serviços de pequeno porte, e mão-de-obra informal (faxineiras, lavadeiras,
domésticas, etc). Existe considerável número de áreas subnormais na região,
estimando-se em 2000, que a população assentada correspondia a 19,30% da
população total da região Leste. De acordo com o Atlas Social, 2006, a região ficou
em segundo lugar na concentração de áreas de exclusão social, com cerca de
13,73% dos domicílios do setor nessa situação.
A pior área continua sendo Olavo Costa com 535 domicílios em situação de
exclusão: infra-estrutura urbana parcial, habitação precária, condição sócio-
econômica . Em cerca de 500 domicílios a atuação do Pode Público possibilitou a
regularização da titularidade da terra, embora mantendo-se a situação de
subnormalidade.
este capítulo pudemos relacionar informações sobre o surgimento da
Manchester Mineira, de seu projeto de desenvolvimento, com dados a
respeito da estruturação e evolução sócio-espacial das regiões urbanas que
compõem o território. Este perfil inicial da cidade será de grande valia para
entendermos as características da política urbana no Município, e as peculiaridades
dos planos e projetos elaborados pelo Poder Público. Correlacionando-se esta
descrição inicial com as conclusões elaboradas a partir da pesquisa da tese, pode-
se ver através dos Mapas 35 e 36, constantes no capítulo 4, uma síntese das
informações aqui apresentadas sobre as regiões urbanas, podendo-se assim fazer
uma sobreposição entre a estrutura de cada uma delas e os projetos implementados
pela Prefeitura Municipal.
N
79
2 A POLÍTICA URBANA: PLANOS E PROJETOS
endo percorrido no Capítulo 1 um breve histórico sobre as bases da
construção do projeto de desenvolvimento de Juiz de Fora, iniciamos uma
etapa do conhecimento e da familiarização com os fatos que foram responsáveis
pela formação da estrutura urbana do Município, configurando sua feição sócio-
espacial.
Diante da evolução da cidade, podemos agregar informações para ajudar-nos a
pensar o rebatimento das políticas públicas na conformação de sua paisagem
urbana. Dessa forma, neste capítulo buscamos relacionar o contexto brasileiro dos
planos e políticas urbanas com as práticas do Poder Público de Juiz de Fora,
passando pela elaboração das Leis Urbanísticas (1986) até os planos Estratégico
(1997) e Diretor (2000).
2.1 OS PLANOS NA POLÍTICA URBANA NO BRASIL
O processo de formação do pensamento urbanístico no Brasil pode ser
dividido de forma aproximada, a partir da periodização de Ribeiro e Cardoso (1996)
em etapas pelas quais o planejamento urbano passou: 1) Planos de embelezamento
e a formação do povo brasileiro (1880 a 1930); 2) Planos de modernização sob o
foco higiênico-funcional (1930 a 1950) e 3) Planos de Desenvolvimento (1950 em
diante).
No que diz respeito às representações sobre os problemas urbanos no Brasil
e os padrões de planejamento disso decorrentes, segundo Touraine (1989 apud
RIBEIRO e CARDOSO, 1996. p.55):
a grande segmentação social, que atinge tanto as elites quanto as camadas populares, a exclusão social de amplos setores da sociedade, e a cidadania restrita, oriundas de um desenvolvimento industrial tardio, não abrangente e dependente, geram uma fragmentação social e política que caracteriza o continente. A ação coletiva estaria assim marcada pela presença de três dimensões diferentes e mesmo contraditórias: a luta de classes, a modernização e o nacionalismo (RIBEIRO e CARDOSO, 1996. p.55).
T
80
Para integrar esse três temas, os referidos autores recorrem ao conceito dos
“mitos integradores”, como sendo: I) a nacionalidade, carregada da ideologia
populista, com efeitos de exclusão e de integração; II) o desenvolvimento, tendo
como foco a modernização, que caracterizará a unidade da nação; III) o nacional-
revolucionário, cujo foco é a integração conseguida através da luta antiimperialista,
que se identifica com a luta de classes anticapitalistas.
Sob esta ótica, pode-se identificar como as idéias de nação e
desenvolvimento impuseram-se como temas centrais do pensamento social
brasileiro e como motor da ação reformadora.
Durante a Primeira República (1889 a 1930), a herança escravista determinou
uma tendência racista presente nas concepções que apontavam tanto para a
inferioridade atávica da nossa gente quanto para o branqueamento como tarefa
civilizatória. A discussão sobre a formação do povo brasileiro encaminha, na
verdade, um deslocamento do foco para a criação de uma nação brasileira de
referência mundial, cuja base se estrutura no mundo rural. A cidade era entendida
como lugar do artificialismo, da desordem social e política e da improdutividade
econômica, sendo palco para as intervenções dos reformadores urbanos desse
momento (Ribeiro e Cardoso, 1996).
Provenientes de tradição européia, principalmente, as intervenções na cidade
não configuraram exatamente um modelo de plano urbanístico, consistindo
basicamente no alargamento de vias, erradicação de ocupações de baixa renda nas
áreas mais centrais, implementação de infraestrutura e ajardinamento de parques e
praças.
Grande parte das ações, na cidade, conforme Ribeiro e Cardoso (1996)
previam abertura de novas avenidas, conectando suas partes importantes e
destruindo áreas consideradas insalubres. Somente na década de 1920, procedeu-
se a um debate sobre a necessidade da introdução do urbanismo no Brasil,
culminando, no Rio de Janeiro, com o Plano Agache, cujo objetivo era a criação de
uma nova imagem para a cidade, em conformidade com os modelos europeus.
Dessa forma, a modernização tornou-se o princípio organizador das intervenções.
Antes disso, em 1903, Pereira Passos, com a intenção de produzir uma referência
de nação e de apontar para o surgimento das novas elites, já havia promovido uma
reforma urbana.
81
Ao produzir uma intervenção orientada por um projeto – e uma imagem – da modernidade calcada em modelos externos, este modelo traz, em si, uma aceitação tácita da exclusão. A reforma Passos, no Rio de Janeiro, por exemplo, caracteriza-se por produzir um espaço público, cujo „público‟ privilegiado são as elites. Deixa de lado um enorme espaço – aquele das camadas populares – que se caracterizou como território da exclusão, da informalidade, da não-vigência das normas (RIBEIRO e CARDOSO, 1996.
p. 59).37
Ilustração 03: Perspectiva Aérea do Centro Monumental. Plano Agache, Rio de Janeiro, 1930. Fonte: LEME, Maria Cristina da Silva (coordenadora). Urbanismo no Brasil - 1895-1965. São Paulo: Studio Nobel, FAUUSP, FUPAM, 1999. p. 363
Aos poucos, os planos passaram não só a incluir toda a cidade, mas também
a se preocupar com a integração de todo o território, através da articulação entre o
centro e os bairros. Durante o período de Getúlio Vargas (1930-1950), a pobreza
deixa de ser concebida como inevitável e útil para ser formulada como obstáculo à
modernização e à constituição da nacionalidade.
Ribeiro e Cardoso (1996) apontam que dessa forma o Estado Liberal passa
por um “objetivismo tecnocrático”, de forma que a nação, para ser produzida, precisa
37
Ibidem. p. 59
82
da intervenção racional do poder público. Assim, o trabalho é encarado como
maneira de servir à pátria e como construção da cidadania. Dentro dessa nova
concepção do Estado, a política social tinha objetivos estratégicos com a
intervenção na previdência e na assistência social, melhorando as condições de vida
dos trabalhadores, através da aquisição da casa própria. Alem disso, o consumo de
habitação, o aumento da oferta de trabalho e a preservação da família pautavam o
discurso populista, garantindo a paz social.
Foto 20: Avenida Central. Rio de Janeiro, 1910. Plano de Melhoramentos Pereira Passos.
Fonte: LEME, Maria Cristina da Silva (coordenadora). Urbanismo no Brasil - 1895-
1965. São Paulo: Studio Nobel, FAUUSP,FUPAM, 1999. p. 359
O planejamento urbano no período Vargas, ainda caracterizado pelo o padrão
higiênico-funcional reproduz o discurso higienista e urbanístico dos países centrais
(desde o final do século XIX), apoiando-se nas teorias funcionalista e taylorista. As
intervenções são pautadas pela idéia de embelezamento, monumentalidade e
controle social sobre o uso do espaço, guardando um caráter modernizador e
afirmador da nacionalidade emergente. “Trata-se, aí, de reproduzir idéias, práticas e
morfologias urbanas que sintetizam a modernidade, tal como ela se expressa nos
países civilizados” (RIBEIRO e CARDOSO, 1996. p.64).
Um dos representantes desse novo tipo é o Plano de Avenidas de Prestes
Maia, em São Paulo, elaborado em 1930. Apesar do nome, tratava, sobre vários
83
aspectos, do sistema urbano, como estradas de ferro, metrô, legislação urbanística,
embelezamento e habitação. Além desse, há o já citado Plano Agache, para o Rio
de Janeiro, no final da década de 1920, marcando uma transição dos planos de
embelezamento para os planos em larga escala, que foram desenvolvidos nas
décadas de 1960 e 1970. Entre os temas tratados estão a remodelação imobiliária, o
abastecimento de água, coleta de esgoto, combate a inundações e a limpeza
pública. Evidencia-se ainda a intenção de ordenamento da cidade, usando o
zoneamento, além da legislação urbanística que versava sobre loteamentos,
desapropriações, gabaritos, edificações e estética urbana (VILLAÇA, 1999).
Entre 1950 e 1964 são iniciados os planos regionais dando conta da nova
realidade que se configura nesta época: a migração campo-cidade, o progresso
crescente de urbanização, o aumento da área urbana e a conseqüente conurbação
de alguns centros urbanos.
Ilustração 04: Vale do Anhangabaú. Viaduto do Chá. São Paulo, 1930. Plano de Avenidas de Prestes Maia.
Fonte: LEME, Maria Cristina da Silva (coordenadora). Urbanismo no Brasil - 1895-
1965. São Paulo: Studio Nobel, FAUUSP,FUPAM, 1999. p. 346
A fórmula para a superação do atraso é assumida através da valorização da
industrialização e da modernização do país, implicando num processo de
urbanização das cidades. Nesse período, a cidade foi tematizada, surgindo várias
concepções na intenção de estabelecer parâmetros para a intervenção sobre o
urbano. Na medida em que a urbanização passa a ser um dos elementos
fundamentais para a modernização do país, o urbanismo é acionado como
instrumento importante na formulação de diagnósticos sobre os problemas urbanos.
84
Dessa forma, os conceitos do Movimento Moderno, explicitados na Carta de
Atenas, pelo arquiteto Le Corbusier, colocam lado a lado o padrão higiênico e o
funcional, pautando-se na concepção da cidade como máquina de morar, trabalhar,
ter lazer e circular (LEME, 1999).
Numa clara intenção de marcar um “x” no centro do país, ocupando o território
ainda vazio do centro-oeste, e representando a modernidade através do plano
urbanístico e arquitetônico de viés modernista, Brasília surge nesse contexto como a
capital da nação brasileira. A obsessão de criar uma nova capital para o país
construída no interior do território integra a agenda do jovem político em ascensão
Juscelino Kubitschek (JK), eleito presidente em 1955. A transferência da capital
servia de resposta a uma longa lista de anseios. Para Leme (1999) além de ser
apresentada como antídoto para a corrupção, entendida como mal crônico da velha
capital (Rio de Janeiro), justificava uma política desenvolvimentista que teria na
implantação de um parque industrial voltado para a produção de automóveis sua
principal realização. “E, de quebra, bem no espírito daqueles que foram chamados
„os anos JK‟, permitia criar uma imagem de país dinâmico e contemporâneo”,
aproveitando-se para tanto o já consolidado renome da arquitetura moderna
brasileira no plano internacional, Oscar Niemeyer.38
A grande cidade dos eixos monumentais transforma-se em referência para o
mundo, e a política de JK, preconizando desenvolver o Brasil 50 anos em 5, gerou
uma grande dívida externa. Se, por um lado, abriram-se as fronteiras do país para o
mundo, por outro lado, criou-se uma enorme dívida social urbana, representada
tanto pela situação ilegal quanto pelo uso do solo, nos loteamentos e edificações
clandestinos, e nos vários tipos de invasões existentes.
As políticas desenvolvimentistas adotadas nos anos de 1950 e 1960, assim
como o milagre econômico dos anos de 1970, fomentaram o processo industrial e a
migração da população rural para a zona urbana, incrementando o crescimento das
cidades e a consequente demanda por moradia nesses centros. A riqueza gerada
38
Comparando-se com o Plano Piloto de Lúcio Costa, que comportava 400.000 habitantes, o Distrito Federal tem hoje mais de 2 milhões de habitantes, e abriga a quase totalidade das instituições públicas e dos equipamentos culturais. “ O resto da população se reparte por uma dezena se subúrbios realizados de forma apressada e a custos inferiores, que repetem os padrões urbanísticos do plano em seus defeitos, mas não em suas qualidades e têm o crescimento insensato de qualquer periferia do Terceiro Mundo.” LEME, Maria Cristina da Silva (coordenadora). Urbanismo no Brasil - 1895-1965. São Paulo: Studio Nobel, FAUUSP,FUPAM, 1999.
85
nesse processo permaneceu bastante concentrada, e o alto grau de crescimento
econômico provocou o abandono do campo na busca de melhores oportunidades
nas cidades (Ribeiro e Cardoso, 1996).
Ilustração 05: Plano Piloto de Brasília. Lúcio Costa, 1956. Fonte: Disponível em: http://www.arkitekturbo.arq.br/brasilia.gif. Acessado em outubro de 2009.
Na percepção de Maricato (2000) foi com o Banco Nacional de Habitação
(BNH), integrado ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH), criados pelo regime
militar de 1964, que as cidades brasileiras passaram a ocupar o centro de uma
política destinada a mudar seu padrão de produção. A drenagem de recursos
financeiros para o mercado habitacional, em escala nunca vista no país, ocasionou a
mudança no perfil das grandes cidades, com a verticalização promovida pelos
edifícios de apartamentos. A introdução do apartamento como principal forma de
moradia da classe média teve início ainda na década de 1940, em Copacabana no
Rio de Janeiro. Mas, foi com a implantação do SFH (1964) que o mercado de
promoção imobiliária privada, baseado no edifício de apartamentos, se consolidou
por meio de uma explosão imobiliária.
86
Infelizmente o financiamento imobiliário não impulsionou a democratização do
acesso à terra via instituição da função social da propriedade. Essa era a proposta
da reforma urbana preconizada pelos arquitetos no Congresso do Instituto dos
Arquitetos do Brasil (IAB) em 1963.
A atividade produtiva imobiliária nas cidades brasileiras não subjugou as atividades especulativas, como ocorreu nos países centrais do capitalismo. Para a maior parte da população que buscava moradia nas cidades o mercado não se abriu. O acesso das classes médias e altas foi priorizado (MARICATO, 2008. p. 21).
Com a instauração do regime militar em 1964, o tratamento populista da Era
Vargas desaparece, passando-se ao tratamento técnico das demandas sociais.
Concentram-se os esforços para se encontrar a combinação entre planejamento e
critérios técnicos e especializados desenvolvidos por profissionais distanciados da
população. A economia brasileira sofre uma queda de seu ritmo de crescimento,
chegando a apresentar uma taxa de expansão do PIB inferior ao crescimento
demográfico (MENDES, 1982).
Para Mendes (1982) neste último ano, o novo governo torna público o Plano
de Ação Econômica (PAEG) que deveria orientar o processo de decisão
governamental no sentido de promover a retomada do desenvolvimento e o controle
da pressão inflacionária, apoiando-se no BNH e no SERFHAU, cuja função era atuar
no âmbito das demandas urbanas, sobretudo no que dizia respeito à habitação.
Transferindo recursos para o setor da construção civil, estes órgãos, criaram
empregos urbanos para a população, mesmo que de baixa qualificação. Mais tarde
mudanças nas diretrizes levaram o BNH a voltar-se para o problema da urbanização
e para promoção de programas de financiamento da construção, enquanto o
SERFHAU adquiria competência para coordenar e elaborar a política nacional de
planejamento local integrado, formulada segundo linhas de desenvolvimento
regional (BIZELLI, 1998).
A partir de 1974, com a extinção do SERFHAU e com a formulação de uma
Política Nacional de Desenvolvimento Urbano,39 a intervenção pública sobre o
39
O Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano (I PND, 1972-74) foi o primeiro de uma série instituída por lei que consistiu num documento sintético, onde estavam delineados os objetivos nacionais, as estratégias para o desenvolvimento econômico, os instrumentos de política econômica e os investimentos programados para efetivar esses objetivos. Para maior aprofundamento consultar:
87
urbano reestrutura-se na esfera federal. A partir de uma proposta de
desconcentração, visando reduzir o peso do eixo Rio–São Paulo, essa política tem
como foco de atuação a busca do reequilíbrio espacial da população e das
atividades econômicas. A tônica do Plano consiste em colocar o País até o final do
século no bloco das nações desenvolvidas, mediante um processo de
desenvolvimento auto-sustentado e integrado. Isto significava uma ênfase na
modernização da empresa nacional, com vista a fortalecer a sua capacidade
competitiva, eliminando as condições de desigualdade em relação às empresas
estrangeiras. No setor público buscava-se uma atuação eficiente do Governo
mediante a definição de tarefas, de forma a preservar a viabilidade e o dinamismo
do setor privado (MENDES, 1982).
Tal política seria atingida através da interferência permanente do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Urbano (CNDU)40 nas políticas econômicas e
setoriais, procurando atender aos objetivos do desenvolvimento urbano.
A premissa básica era a atuação dos órgãos de planejamento metropolitano e
a criação de novos instrumentos que permitissem às administrações municipais
enfrentar o problema da especulação imobiliária, além do desenvolvimento de
políticas de fortalecimento dos centros de porte médio.
Ainda no âmbito do CNDU, elabora-se a primeira versão do projeto de lei de
desenvolvimento urbano, em 1977, com o objetivo de dotar o Poder Público de
instrumentos adequados para combater os processos especulativos prevalecentes
nos centros urbanos.
Durante os anos de 1970, a economia brasileira manteve um ritmo acelerado
de desenvolvimento, ancorado, sobretudo, no endividamento externo e na
perspectiva de “empurrar para frente” os problemas de desequilíbrio econômico. Já
no início dos anos 80, esses problemas ganham força, impulsionados pela alta taxa
de juros no mercado internacional e pela inflação (MENDES, 1982).
Essa situação reflete sobre as possibilidades de ação do Estado, que passa a
cortar gastos para reequilibrar as contas públicas, sendo, de acordo com Mendes
(1982). “premidas de forma crescente pelo déficit, levando gradativamente à
paralisia do setor público”. No aspecto do planejamento urbano, um reflexo imediato
MENDES, Ana Gláucia. A Experiência de Planejamento Econômico do Brasil. In: CINTRA, Antônio Octávio e HADDAD, Paulo Roberto (org). Dilemas do Planejamento Urbano e Regional no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982. 40
O CNDU foi o órgão responsável pela gestão da política urbana, no nível federal, de 1974 a 1985.
88
será o abandono do plano de médio e longo prazo, substituído pela administração
pontual das crises, caso a caso.
Os setores progressistas41 da sociedade pautavam suas estratégias nas
políticas de confrontação com o aparato estatal, forçando a democratização dos
processos decisórios e questionando o desenvolvimento das políticas de cunho
social, a partir da perspectiva democrática (RIBEIRO, 1990).
Para Ribeiro (1990) esses movimentos apontavam para a constituição de
uma noção de cidadania e de democracia diferentes das até então adotadas,
implicando no reconhecimento da legitimidade das novas organizações, e da
instituição do diálogo entre o Poder Público e o Movimento Popular organizado.
Somente em 1983, o projeto de Lei 775/83 chegou à Câmara dos Deputados,
apresentando como objetivo do desenvolvimento urbano a melhoria da qualidade de
vida nas cidades através da adequada distribuição da população e das atividades
econômicas. A participação popular é incentivada quer seja na elaboração de
planos, quer seja na elaboração de programas e projetos, cabendo ao Poder Público
facultar o acesso da comunidade às decisões do governo (CARDOSO, 1997).42
Na transição para a Nova República, em 1985, cria-se o Ministério do
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, visando a rediscussão da política
habitacional, a descentralização administrativa e a democratização das decisões
com a participação dos beneficiários nos processos decisórios.
Durante a elaboração da Constituição Federal, em 1988, foi possível
estabelecer um marco importante no processo de redemocratização do país,
assistindo-se a um confronto de correntes, grupos, instituições e idéias. A proposta
final desse movimento baseou-se em 4 princípios gerais: 1) Obrigação do Estado de
assegurar os direitos urbanos a todos os cidadãos; 2) Submissão da propriedade à
41
A elaboração da Constituição Federal Brasileira, nos anos 80, caracterizou-se por um importante processo de redemocratização do País, envolvendo movimentos sociais e associações de classe de vários setores da sociedade, desde os setores técnico-profissionais, acadêmicos, sindicatos, associações profissionais, arquitetos, engenheiros, ONG´s, entre outros. A possibilidade de apresentação das emendas populares, grande catalisadora do Movimento Nacional pela Reforma Urbana, será marcado pelo “mais complexo processo de articulação entre instituições e entre formatos de mobilização social e representação política apresentada, sob a forma de emenda popular à Assembléia Nacional Constituinte” (RIBEIRO, Ana Clara Torres. A reforma e o plano: algumas indicações gerais. In: Grazia, Grazia De. (org). Plano Diretor. Instrumento de Reforma Urbana. Rio de Janeiro: FASE, 1990. p. 14. 42
Na Câmara dos Deputados, o projeto foi encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça, onde recebeu substitutivo do presidente, deputado Bonifácio Andrade, que diminuiu a eficácia de alguns instrumentos. CARDOSO, Adauto Lúcio. Reforma Urbana e Planos Diretores: avaliação da experiência recente. Cadernos IPPUR, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 1 e 2, 1997.
89
sua função social; 3) Direito à cidade e, 4) Gestão democrática da cidade
(CARDOSO, 1997).
Neste último ano, os problemas urbanos passaram a tomar forma legal
definida, de forma que as questões pouco sistemáticas relativas ao espaço urbano
foram envoltas por controvérsias de várias ordens, especialmente quanto à
competência dos municípios para agir em matérias urbanísticas e ambientais.
A nova Constituição veio assegurar maior autonomia aos municípios, os quais
passaram a ter maior liberdade para a gestão local, consagrando o princípio da
função social da propriedade e estabelecendo sua vinculação com a função social
da cidade a ser definida pelos planos diretores municipais. “Com isso não somente a
esfera local ganhou uma dimensão estratégica adicional na implementação da
reforma urbana, como se redefiniu o campo do debate político, que se deslocou da
esfera do direito para a esfera do plano” (CARDOSO, 1997. p. 79).
Ao fim de quase 20 anos de institucionalização das práticas de planejamento
e política urbana no Brasil, a década de 1980 enseja uma reversão acentuada. Os
elementos que marcam essa mudança estão ligados a uma atmosfera de crise em
várias esferas, global, econômica, política e do próprio Estado.
Além desses aspectos, Constituição veio esclarecer outros pontos antes não
abordados ou controversos, passando a existir, a partir de então, um novo direito
coletivo: o direito ao planejamento urbano. Foram criados diversos instrumentos
importantes para a matéria urbanística municipal, como edificação compulsória, a
tributação progressiva e o solo criado. O Plano Diretor configura-se, segundo o texto
constitucional, como “o instrumento básico da política de desenvolvimento e de
expansão urbana” (Brasil, 1997.Art. 182, §1º). Para tal deve contemplar diretrizes
referentes à circulação, à habitação, ao meio ambiente, ao patrimônio histórico além
de outros aspectos relacionados ao desenvolvimento das cidades, de modo a
proporcionar melhores condições de vida à sua população. Assim,
a política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (BRASIL, 1997).
90
O conteúdo do plano diretor (obrigatório para cidades com mais de vinte mil
habitantes), aprovado pela Câmara Municipal, determinará à propriedade urbana
sua função social atendendo às exigências fundamentais de ordenação da cidade.
Mais tarde, a Lei Nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade),
regulamentará os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelecendo as
diretrizes da política urbana. No Cap. I, Art. 1º, parágrafo único: delimitou-se que
“para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas
de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em
prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do
equilíbrio ambiental”.
De acordo com o Estatuto, a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana,
possibilitando, para as presentes e futuras gerações, a garantia do direito a cidades
sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana: moradia, saneamento
ambiental, infraestrutura urbana, transporte, serviços públicos, trabalho e lazer.
Pressupõe também uma gestão democrática por meio da participação da população
e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na
formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de
desenvolvimento urbano.
O Estatuto da Cidade pressupõe que a cooperação entre os governos, a
iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização em
atendimento ao interesse social, também é parte essencial para uma política urbana
com equidade social que leve a um desenvolvimento sustentável para as cidades.
Entre os instrumentos da política urbana apresentados pela Lei
10.527/200143, capazes de proporcionar ações de planejamento urbano a longo,
médio e curto prazo, elencam-se: os planos nacionais, regionais e estaduais de
ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; o planejamento
das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; e o
planejamento municipal. Este último, aplicado na escala do município através dos
planos diretores, deverá proporcionar maior disciplina no parcelamento, no uso e na
43
BRASIL. ESTATUTO DA CIDADE. Estatuto da Cidade: guia para implementação pelos municípios e cidadãos: Lei n. 10.257, de julho de 2001, que estabelece diretrizes gerais de política urbana. Cap. II, Seção I, Art. 4
o. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de
Publicações, 2002. Disponível em http://www.estatutodacidade.org.br
91
ocupação do solo urbano, através do estabelecimento de normas de zoneamento
ambiental, da execução dos planos plurianuais, da adequação das diretrizes
orçamentárias e do orçamento anual. Estas questões somente serão alcançadas
sob uma gestão democrática e participativa, cujos planos, programas e projetos são
trabalhados buscando-se um desenvolvimento econômico e social equilibrado.
ncerrando este percurso sobre os planos na política urbana brasileira, e
ao analisarmos a formação do pensamento urbanístico no Brasil e os
padrões de planejamento adotados ao longo de sua história, podemos apontar que
no âmbito nacional, desde os primeiros planos de intervenção urbana focados no
embelezamento, até as políticas desenvolvimentistas de Vargas e JK, passando
pelo SERFHAU, a visão sobre planejamento urbano se pautou pelo econômico em
detrimento do social, pela priorização das ações em áreas de interesses privados, e
pelo tratamento superficial dos problemas existentes nas periferias urbanas.
Reproduzindo a lógica das ações públicas do Estado brasileiro, as cidades de
porte médio, entre elas Juiz de Fora, MG, também respondem pela atuação focada
no desenvolvimento urbano estruturando um projeto que reproduz a lógica
capitalista e materializa a diferença de apropriação da riqueza.
Desde a constituição do Brasil-Nação, as ações para o desenvolvimento
urbano no País, apoiando-se nas teorias funcionalista e taylorista, e nas
intervenções pautadas pela idéia de embelezamento, monumentalidade e controle
social sobre o uso do espaço, propagavam a modernização e a necessidade de
alcançar as esferas internacionais como afirmação desse projeto
desenvolvimentista. A construção da nova capital, e de um marco físico e simbólico
de referência mundial, foi o fruto gerado por essas políticas que ao mesmo tempo
em que incentivaram a industrialização e o comércio internacional, provocaram o
aumento da migração campo-cidade e o crescimento urbano, além da consequente
demanda por moradia.
Todos esses fatores serão debatidos nos momentos que antecederam a
elaboração da Constituição de 1988, sendo esta um momento singular na história,
no qual a participação de outros setores da sociedade (que não os grupos do poder)
elencando suas reivindicações, puderam fomentar o debate acerca das questões de
planejamento urbano no Brasil. A garantia, da função social da cidade, veio de
encontro às posições conservadoras que pretendiam a permanência da satisfação
E
92
dos interesses dominantes, e na ausência de participação política, responsáveis
pelo nível de exclusão social nas cidade brasileiras.
Assumindo concepções contrárias à hegemonia exercida pela propriedade
privada do solo urbano, e à especulação com a terra urbana, delinearam-se os
parâmetros para a formulação de um modelo mais igualitário de vida urbana.
A luta pela reforma urbana neste momento, será calcada na compreensão da
cidade como um produto histórico e constará de um conjunto de instrumentos de
incentivo à participação social e ao controle dos investimentos no espaço urbano,
possibilitando um crescimento ordenado para os municípios. Dessa forma, naquela
época, a definição do Plano Diretor como responsável por agregar esses
instrumentos e apontar diretrizes para colocá-los em prática, afirmava o direito ao
planejamento urbano e a políticas de desenvolvimento e expansão urbana que
pudessem promover a igualdade e a inserção sociais.
Mais tarde, o Estatuto da Cidade, regulamentado em 2001, veio a corroborar
a proposta de transformar o Brasil num País democraticamente pleno, reafirmando a
participação social e a expressão no espaço de valores sociais que contemplem as
necessidades coletivas.44
Com a globalização e a guinada para o gerenciamento urbano, o Brasil, como
todos os países capitalistas, se viu diante de um quadro de alargamento das
comunicações e transações internacionais, suscitando a reorganização de sua
estrutura econômica e das relações entre os atores sociais.
A Manchester Mineira também passou por esse processo, baseado num
projeto de desenvolvimento pautado na organização do tecido urbano com
prioridade ao enfoque viário, permeado por contradições e complementaridades
entre os planos e projetos produzidos pelas gestões públicas. Tanto o PDDU, quanto
o PlanoJF, como veremos no próximo capítulo, foram constituídos por todos esses
instrumentos elencados pela constituição, sendo, entretanto, marcados por
contradições e complementaridades.
Assim como no âmbito nacional, as ações do Poder Público no Município
geraram riquezas e apropriação de recursos públicos pela população, mas
desencadearam formas desiguais de acesso a esses recursos.
44
Sobre este assunto, para maior aprofundamento consultar: Ana Clara Torres. A reforma e o plano: algumas indicações gerais. In: Grazia, Grazia De. (org). Plano Diretor. Instrumento de Reforma Urbana. Rio de Janeiro: FASE, 1990.
93
A elite se favorece das intervenções urbanas, que provocam a expulsão das
classes indesejadas para as áreas periféricas da cidade. Há certo aumento na
qualidade de vida, mas também, da distância social que marca no território urbano a
posição a ser ocupada pelos “diferentes” cidadãos. Diferentes, aqui assinalado, por
entendermos que a referência à cidadania e inserção social se materializa, em todos
os sentidos da palavra diferença, pela desigualdade, variedade, divergência,
desarmonia e distinção.
2.2 PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL E EM JUIZ DE FORA: TEORIA E
PRÁTICA
Partindo do pressuposto de que o planejamento urbano e suas ações
efetivadas pelos planos, busca a ordenação das cidades, criando e desenvolvendo
programas que melhorem a qualidade de vida da população, entende-se que as
políticas urbanas aplicadas ao território devem estar direcionadas para o alcance da
equidade sócio-espacial.
A estrutura urbana se define então, pela apropriação diferenciada das
riquezas geradas sob a determinação do capital, configurando áreas na cidade que
se constituem nos bairros de elite, classe média e populares.
Na prática, a partir dos interesses entre os agentes privados e o governo, sob
a lógica de atuação baseada na especulação e valorização da terra, as ações de
planejamento urbano, adotadas pelo Poder Público, têm sido voltadas para o foco
estritamente econômico, atuando em áreas da cidade na intenção de favorecer os
interesses privados.
Este processo complexo inclui mudanças que levam a uma constante
reorganização espacial, que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço
urbano, densificação do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana,
relocação de infraestrutura e mudança coercitiva ou não, do conteúdo social e
econômico de determinadas áreas da cidade (CORRÊA, 1995).
Partindo das políticas públicas, pertencentes a um processo de planejamento
urbano, vão sendo criadas as condições de realização e reprodução da sociedade
capitalista, sendo que, viabilizando a acumulação de riquezas, o Estado capitalista,
acaba criando mecanismos que levam à segregação e diferenciação espacial. Para
Corrêa (1995), enfim, as diferenças de impostos territoriais, o preço dos imóveis, a
94
alocação diferenciada dos equipamentos de consumo coletivo, tendem a ampliar
cada vez mais as distâncias socias e a exclusão.
A legislação urbana pode ser apontada como uma forma de alcançar um
planejamento urbano que promova o crescimento equilibrado configurando uma
cidade na qual possamos encontrar redistribuição justa das riquezas geradas,
redução da segregação social e das barreiras existentes em determinados espaços
da cidade.
Os Planos Diretores, estabelecidos pela Constiuição de 1988, são um dos
intrumentos legais que devem conter as diretrizes vinculadas ao uso e ocupação do
solo, determinando princípios gerais, a serem detalhados e aprofundados em
legislação complementar, como as leis de uso do solo, regulamentos de
parcelamento, códigos de edificações, entre outras.
Cardoso (1997) destaca, porém, que podemos identificar conflitos de diversas
ordens envolvendo a elaboração desses planos diretores. A linguagem é
caracterizada por um teor muito mais técnico que jurídico e o desequilíbrio entre as
seções ligadas aos instrumentos de controle do uso e ocupação do solo e à política
habitacional são significativos.
Pode-se acrescentar a essa polêmica que, diante da necessidade de vários
instrumentos ou diretrizes a serem regulamentados para dar legitimidade aos planos
diretores, e tendo em vista a dificuldade de aprovação, ou revisão, de projetos de lei
de uso e ocupação do solo, estes se apresentam vazios de significado e sem
aplicação.
Em Juiz de Fora está é a questão central no debate sobre as práticas de
planejamento urbano, a falta de vontade política dos governantes, ou melhor, a
busca de não entrar em conflito com os interesses privados detentores do capital,
provoca repetidas vezes, o adiamento da revisão das leis de uso do solo,
parcelamento e zoneamento. O resultado dessa ação é a afirmação da desigualdade
sócio-espacial e no acesso aos serviços da cidade por algumas parcelas da
população.
Entre as discussões sobre a aplicabilidade dos planos diretores no Brasil,
Villaça (1999) enfatiza que a inexistência de ações práticas dos mesmos tem
facilitado a enorme confusão que hoje reina em torno do seu conceito.
O padrão mais característico de plano diretor é aquele elaborado a partir do
diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e administrativa
95
da cidade e sua região. Apresentando um conjunto de propostas para o futuro
desenvolvimento sócio-econômico e futura organização espacial dos usos do solo
urbano, das redes de infraestrutura e de elementos fundamentais da estrutura
urbana, o documento abarca um horizonte que passa pelo curto, médio e longo
prazo, dependendo de sua aprovação por lei municipal.
Em termos efetivos, pode-se dizer que não existe, no Brasil, um consenso
sobre o que é um plano diretor, e de que forma ele pode e deve ser utilizado na
cidade, para melhoria real da vida da população. Esse plano responsável pela
configuração e desenvolvimento da estrutura urbana contém diretrizes, princípios e
instrumentos que deverão ser regulamentados através de legislações urbanas, mas,
acabam se atendo a um diagnóstico físico-territorial e a formalização de uma
legislação de uso e ocupação do solo fica apenas no campo do discurso.
Sob outro enfoque, ao menos em termos de aplicação e execução das ações
públicas, os planos estratégicos, conforme Lima Junior (2000) proclamam o poder e
a autonomia locais, sendo que “ independente da posição adotada_ de negar ou
defender-se, de assumir e tirar vantagens_, em geral permanece a idéia de que o
mundo da globalização se estrutura na forma de uma dicotomia na qual o global
condiciona o local” (BORJA e CASTELLS, 1997 apud LIMA JUNIOR, 2000. p.143).
A representação do mundo globalizado através da idéia de pensar global e
agir local, funciona então, como uma espécie de mapa sobre o qual traçam-se
planos estratégicos. Nessa forma de planejamento estão depositadas as esperanças
das cidades que competem por uma posição nessa reordenação mundial operada
pela globalização.
Esses paradigmas sustentam a crença nas estratégias de desenvolvimento
local como único caminho possível de sobrevivência e sucesso, dentro da chamada
nova economia, marcada pelo empresariamento urbano (LIMA JUNIOR, 2000).
Segundo Vainer (2000) desde o final da década de 1980, as cidades (na
Europa e EUA) vêm sendo revalorizadas por trabalhos de conteúdo normativo com
diagnósticos, modelos, regras e recomendações para resolver seus problemas,
aumentando a competitividade no cenário mundial de forma a inserí-las na rota da
recuperação e do desenvolvimento. Uma vasta literatura tem sido produzida sobre a
globalização, como oportunidade de desenvolvimento, desde que as cidades se
transformem em atores políticos, representando os interesses privados e públicos.
Além disso, as agências estrangeiras passam a atuar como protagonistas e de
96
forma intensa no estabelecimento de diretrizes relativas às questões urbanas e
regionais brasileiras, apoiando e/ou induzindo a adoção de práticas institucionais
que expressam concepções e objetivos específicos do planejamento.45
Tal contextualização apresenta-se de suma importância para se entender que
a emergência das idéias situadas no campo do planejamento, destacando-se os
planos estratégicos de cidades, fazem parte de um processo de disputas sobre as
concepções de cidade e território, buscando-se uma redefinição das relações
interescalares e dos sujeitos sociais.
Os instrumentos de política urbana, produzidos e amplamente divulgados por
agências e centros internacionais, vêm sendo incorporados como grande inovação
por um número crescente de cidades. Observa-se o comprometimento de
consultores e instituições multilaterais na difusão de conceitos e métodos,
apresentando análises e propostas, como verdadeiras receitas para a aplicação de
modelos. Deve-se ressaltar, nesse ponto, que a importação de propostas, modelos e
instrumentos de planejamento de outros países é fato comum na nossa história, não
faltando, portanto, críticas e questionamentos a esse respeito. Sendo elaborados em
universos econômicos, políticos e culturais, diferentes, tais concepções não são
neutras, na medida em que estruturam relações e representam uma realidade
sócioespacial que projetam uma receita única para realidades completamente
diversas.
No processo de gestão urbana em Juiz de Fora, a menção ao
desenvolvimento é um traço marcante desde o Código de Obras de 1938 até o
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU, 2000) e o Plano Estratégico
(PlanoJF de 1997).
Apesar de estar presente no PDDU, 2000 a ênfase no desenvolvimento pode
ser melhor visualizada nas ações implementadas, por volta de 1997, com o PlanoJF,
cujos fundamentos da concepção de desenvolvimento privilegiavam a “visão
integrada”, na qual participam todos os setores da economia, valorizando as novas
formas de ação competitiva (PRFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000).
45
“Entre os modelos de planejamento urbano que concorrem para ocupar o trono vazio deixado pela derrocada do tradicional padrão tecnocrático-centralizado-autoritário está o chamado planejamento estratégico. O modelo vem sendo difundido no Brasil e na América Latina pela ação combinada de diferentes agências multilaterais (BIRD, Habitat) e de consultores internacionais, sobretudo catalães, cujo agressivo marketing aciona de maneira sistemática o sucesso de Barcelona” (VAINER, 2000. In: A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis, RJ, Vozes).
97
A ideologia contida no planejamento estratégico e na gestão da cidade, a
partir de 1997, manifesta-se através de uma leitura homogeneizadora da sociedade,
produzindo a diluição das diferenças sociais, unificando todos os habitantes em
torno de determinadas ações que contemplam interesses parciais. Dessa forma, o
ponto de vista do grupo dominante aparece para o todo social como sendo o único
racional e portador de valores universais, apresentanto seus interesses como o
interesse comum a todos os membros da sociedade (VAINER, 2000).
Na prática, pode-se entender o PlanoJF como uma articulação de ações
públicas e privadas, voltada principalmente para a revitalização econômica da
cidade, galvanizada por discursos como a conservação do meio ambiente e um
maior equilíbrio social. Assume destaque, portanto, a atração de investimentos para
a cidade, que a dotem de infraestrutura urbana, sobretudo transportes e
telecomunicações, capaz de reforçar sua posição de centro de serviços para toda a
região.
2.3 POLÍTICA URBANA EM JUIZ DE FORA: DAS LEIS URBANÍSTICAS AOS
PLANOS
2.3.1. As Origens da Manchester Mineira
Com cerca de 600 mil residentes,46 Juiz de Fora sempre buscou a vanguarda.
Alçada, em menos de 50 anos, à cidade mais populosa e importante da Província de
Minas Gerais, construiu seu espaço a partir de inovações que estruturaram
rapidamente o espaço urbano. Fato esse devido à sua função como centro agrícola,
industrial, financeiro e, atualmente, como mais importante centro regional prestador
de serviços do sudeste de Minas.
Acompanhando as transformações nacionais, sob o foco da legislação urbana
e de todo seu processo de implantação, desenvolvimento e ação, pode-se ver que o
Município, como qualquer outro, caracteriza-se por um conjunto de forças
46
População residente (estimativa em 2007) 513.348. Fonte: IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2000 - Malha municipal digital do Brasil: situação em 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. Informações de acordo com a Divisão Territorial vigente em 01.01.2001. Disponível em http://www.ibge.gov.br/cidades. Acessado em setembro 2009.
98
econômicas, sociais e, sobretudo, políticas, que regem sua construção enquanto
lugar.
A trajetória histórica da cidade contribuiu sobremaneira para legitimar sua
identidade agroexportadora, seguida da têxtil e, posteriormente, prestadora de
serviços. De fato, existiram períodos de grande expoência em termos de
crescimento econômico e investimentos, os quais foram decisivos na sua
conformação atual. Marcada, ao longo do tempo, por uma intensa migração da Zona
da Mata Mineira, exercendo forte polarização sobre os municípios vizinhos, a cidade
foi se transformando em núcleo de referência em prestação de serviços.
Mapa 16: Minas Gerais e a Zona da Mata Mineira. Fonte:Disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0b/minasgerais_meso_zonadamata.svg. Acessado em outubro de 2009.
Exercendo influências tanto em Minas Gerais quanto no Estado do Rio de
Janeiro, sua economia urbana veio desenvolvendo-se através de atividades
terciárias. Além disso, as tradicionais indústrias têxteis, cuja produção conferiu à
cidade caráter de centro industrial nacional, sofreram alterações significativas, ao
longo dos anos, transformando-se de pólo de tecelagem a referência na indústria de
vestuário. O movimento empresarial do passado, caracterizado por iniciativas de
indivíduos das altas camadas econômicas, grandes comerciantes e fazendeiros, foi
cedendo lugar aos empresários de origem modesta, da pequena burguesia urbana,
99
aos pequenos comerciantes, aos operários e aos representantes dos profissionais
liberais, com capital reduzido e de procedência interna (PREFEITURA DE JUIZ DE
FORA, 1996).
Conforme Tasca (2002) esse é o perfil econômico que prevalecia nos anos
90, tendo a rede de estabelecimentos comerciais, especialmente varejista, uma
importância regional na distribuição de bens e mercadorias, sendo esta atividade
terciária a principal responsável pela função polarizadora que o Município mantém,
até hoje, no Sudeste Mineiro.
Mapa 17: BR-040. Trecho Juiz de Fora. Fonte: Disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/89/br-040mapa.jpg. Acessado em outubro de 2009.
A origem de Juiz de Fora se deu à época das bandeiras paulistas, quando um
contingente de trabalhadores entre índios, escravos e assalariados, construiu em
1704, o Caminho Novo, sendo a mais remota origem de diversas cidades e o
primeiro passo para a ocupação do vale onde se encontra uma parcela significativa
da cidade. Nomeada Juiz de Fora, em função de ter sido vendida como sesmaria em
1713 a um juiz de fora da cidade, natural do Rio de Janeiro, continuou prosperando
em função da construção da Estrada do Paraibuna.47 Este fato constituiu o segundo
47
A referida estrada foi executada entre 1836 e 1838 para melhorar a ligação entre Vila Rica e Paraibuna aproveitando-se vários trechos do Caminho Novo.
100
impulso à formação da cidade, ocasionando o surgimento de um arraial, elevado à
categoria de vila em 1850, com o nome de Santo Antônio do Paraibuna, abrigando
então, cerca de 600 famílias (TASCA, 2002).
Em 1856 a vila tornou-se a Cidade do Paraibuna, recebendo a atual denominação de Juiz de Fora em 1865, havendo nesta época uma considerável população escrava, que alcançava mais de 4.000 pessoas para 2.400 homens livres, passando em 1872, em virtude da enorme expansão da economia cafeeira, para 18.775 para 11.604 livres (TASCA, 2002. p.18)
Com a construção do Caminho Novo, reduziu-se consideravelmente a
distância entre o Rio de Janeiro e o interior de Minas Gerais, levando à integração
da Zona da Mata à economia mineradora. Assim, o desenvolvimento em Juiz de
Fora acompanhou a implantação da cafeicultura, passando a cidade a servir, já
nessa época, como pólo de atração da população expulsa das regiões esgotadas
pela exploração do ouro.
A riqueza produzida pelo café foi responsável pela organização e reequilíbrio
das finanças públicas mineiras, possibilitando a expansão da burocracia e dos
serviços públicos, das atividades produtivas e da infra-estrutura, já que mais de 50%
dos impostos arrecadados sobre a exportação provinham dessa cultura. Como a
maior parte da produção tinha origem na Zona da Mata, também nela os efeitos
transformadores foram mais intensos, sendo Juiz de Fora o Município mais afetado
(PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996).
Os estrangeiros, atraídos pela política do governo imperial de importação de
mão-de-obra para a substituição do trabalho escravo, contribuíram para o
crescimento demográfico, existindo, porém, uma boa parte que não se adaptava à
lavoura e dirigia-se para outras atividades, especialmente a industrial, que
progressivamente passou a empregar milhares de operários. Como a demanda por
trabalhadores, em sua grande maioria já estava abastecida pelos trabalhadores
nacionais e ex-cativos, os imigrantes acabaram por se fixar na zona urbana,
valendo-se da ampla oferta de emprego, devido ao crescimento da indústria têxtil e
de alimentos. O capital cafeeiro promovia vários efeitos multiplicadores sobre a
estrutura urbana, marcando a cidade como prestadora de serviços para as
comunidades rurais do interior, sustentada por um dinâmico comércio e atividades
de lazer.
101
Foto 21: Casa de Colonos Alemães no Século XIX. Fonte: BORGES, Célia Maia (org.). Solidariedades e Conflitos: histórias de vidas e trajetórias
de grupos em Juiz de Fora. Juiz de Fora, Ed: UFJF, 2000. p. 96
Conforme Oliveira (1953) a primeira planta da cidade foi levantada pelo
engenheiro Gustavo Dodt, em 1860, tendo sido aprovada pelo Governo Provincial,
mas, devido a problemas entre o engenheiro e a Comissão de Obras Públicas da
cidade, a planta não foi seguida à risca pelas administrações de 1861-64.
Em 1861, o Município de Juiz de Fora (na época, Paraibuna) era o terceiro da
Província em arrecadação de impostos, estando à sua frente apenas os de Ouro
Preto e São João Del Rei. Em 1870, à frente de todos os municípios, teve sua sede
denominada de “Princesa da Província” (OLIVEIRA, 1953).
Segundo Paulino de Oliveira, em relevante livro sobre a História de Juiz de
Fora, o pequeno povoado alcança, então, ares de cidade moderna, ganhando, em
1870, um plano de demarcação e nivelamento de ruas, telégrafo, banco, bondes, a
primeira cervejaria, a primeira estação telefônica, contraindo ainda um empréstimo
(Lei Provincial nº. 1.393, de 1867) para calçamento da rua Direita (atual Avenida
Barão do Rio Branco).
Algumas outras obras tiveram destaque para época, como iniciativas em prol
do saneamento básico e das condições higiênicas na cidade, ensaibramento da rua
102
Halfeld (segunda via pública da cidade), construção de canais e pontes, construção
de sarjetas e bueiros.
Ainda nessa época, surgiram melhoramentos na iluminação pública da
cidade, e, em 1888, foi constituída a Companhia Mineira de Eletricidade, trazendo
para Juiz de Fora a eletricidade e a consequente prosperidade industrial.
No final do mesmo ano, a Câmara celebrou contrato com o engenheiro José
Barbosa Uchoa Cavalcanti para fazer a planta cadastral e topográfica detalhada da
cidade, compreendendo todo o perímetro urbano. A planta (que media 1,97m X
2,95m) suscitou grande controvérsia, mas acabou sendo aceita, em 1883, sem
constar, porém, o nome do autor (OLIVEIRA, 1953).
Em 1892, como relata Oliveira (1953) quando tomou posse da Presidência da
Câmara Municipal, Francisco Bernardino Rodrigues Silva, contando com o apoio da
maioria absoluta dos vereadores, solicitou o estudo de um vultoso empréstimo para
ser aplicado nas obras de saneamento da cidade. A idéia do empréstimo foi
recebida com entusiasmo, sendo aprovando (através da Resolução no 86) o
chamado plano Howyan (1892-1893) que embora tivesse como objetivo principal a
questão das águas e esgotamento sanitário, também abordou a expansão da
cidade.
Foto 22: Interior da Fábrica Pantaleone Arcuri, Século XIX. Fonte: BORGES, Célia Maia (org.). Solidariedades e Conflitos: histórias de vidas e trajetórias de grupos em Juiz de Fora. Juiz de Fora, Ed: UFJF, 2000. p. 72
103
Comemorando a aurora do século XX, o “Jornal do Comércio” publicou uma
série de artigos focalizando o desenvolvimento de Juiz de Fora, sob todos os
aspectos:
O século XX encontra esta zona de Minas transformada em centro de luminosa civilização; e, entretanto, há apenas meio século que o trabalho humano abre nestas terras o sulco indelével de sua ação. Tem sido forte a geração que aqui vai imperando e que, por isso, merecerá a consideração dos pósteros. Que os homens do século XX sejam herdeiros desse poder de iniciativa, dessa emulação vigorosa, dessa energia de vontade e dessas qualidades progressistas, eis os votos que fazemos ao assinalar o alvorecer do novo século (OLIVEIRA, 1953. p. 79)
A cidade continuava crescendo e progredindo, a “Atenas Mineira” (Oliveira,
1953) via surgir novas fontes de renda e novos empreendimentos coroando os
esforços da administração municipal e da iniciativa particular, em prol do
engrandecimento do Município.
Segundo o Álbum do Município de Juiz de Fora
poucas cidades brasileiras possuíam o brilhante movimento industrial que a cidade demonstrava pelo esforço particular assinalando a pujança do seu desenvolvimento” (ESTEVES, 2008. p.27).
Até 1916, nenhuma administração tinha cogitado introduzir na cidade o
calçamento a paralelepípedo, sendo arquivadas todas as propostas encaminhadas à
Câmara. Só na administração de José Procópio Teixeira aconteceu a primeira
pavimentação desse tipo, a princípio na rua Halfeld e, em seguida, na Av. Rio
Branco, transformada em boulevard. A partir de então, além de serem abertas novas
vias públicas, dotadas de redes de água e esgoto, foram tomadas novas medidas,
com a finalidade de melhorar o aspecto urbanístico da cidade. Proibia-se, por lei, a
construção de prédios térreos na chamada zona central e premiavam-se, com
isenção de impostos, os que construíssem casas de mais de dois pavimentos.
Instaurava-se a modernidade (Oliveira, 1953).
104
Foto 23: Construção da Prefeitura de Juiz de Fora em 1916. Fonte: BORGES, Célia Maia (org.). Solidariedades e Conflitos: histórias de vidas e trajetórias
de grupos em Juiz de Fora. Juiz de Fora, Ed: UFJF, 2000. p. 165
Oliveira (1953) destaca que os setores que mais se desenvolveram foram o
da indústria têxtil, seguido da produção de alimentos e bebidas, além do comércio
que também progredia, tornando Juiz de Fora um dinâmico centro econômico,
político, social e cultural para toda a população circunvizinha. No plano político,
aconteceu um processo correspondente à situação econômica: o poder estava nas
mãos dos grandes proprietários, que compunham a maioria das cadeiras na Câmara
Municipal e lutavam arduamente pela manutenção da escravidão. As campanhas
eleitorais eram realizadas exclusivamente entre fazendeiros, sitiantes, alguns
comerciantes e donos de vendas. O povo, naquele momento, não tinha voz ativa.
105
Foto 24: Juiz de Fora. 1923. Fonte: Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=632864. Acessado em outubro de 2009.
De acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora, com a criação da Rodovia União
Indústria, ligando Juiz de Fora a Petrópolis e ao Rio de Janeiro, o sistema de
transportes sofre uma grande revolução, abrindo novos horizontes para o
desenvolvimento da cidade. Ao transformar-se em local de passagem obrigatória
entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, o Município alcança relevância comercial,
provocando uma grande concentração de capital (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA,
1996).
Aglutinando importantes interesses e tornando-se palco de grandes negócios
e intensa circulação de mercadorias, a cidade torna-se pólo econômico da Zona da
Mata, atraindo, consequentemente, um grande contingente populacional. Esse
crescimento econômico é acompanhado pelo processo de urbanização da cidade,
pela diversificação das atividades e pelo crescimento da industrialização local.
106
Foto 25: Rodovia União e Indústria. Fonte: Disponível em: http://www.pjf.mg.gov.br/. Acessado em outubro de 2009.
Em 1928, encontrava-se na chefia do Governo do Estado um político
juizforano de largo prestígio em todo o País, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, cujo
nome surgia ao lado de outros, como o Presidente do Estado de São Paulo, Dr. Julio
Prestes. Em virtude de sua posição geográfica, Juiz de Fora proporcionava
facilidades maiores que Belo Horizonte para encontros políticos. Foi numa dessas
visitas de Antônio Carlos à cidade, em 1929, que nasceu a Aliança Liberal, de cuja
campanha resultou a Revolução de 1930 (OLIVEIRA, 1953).
Quando na década de 30, o padrão industrial começou a decair, sofrendo os
reflexos do declínio da economia cafeeira na Zona da Mata, uma série de limitações
e fragilidades, como as diretrizes de política econômica adotadas para o País como
um todo, até a falta de visão estratégica dos agentes econômicos locais, para a
modernização e diversificação do parque fabril, levou o Município a um processo de
modificação na sua estrutura econômica. Dependente de matéria-prima e
tecnologias importadas e deficitária em infra-estrutura de energia elétrica e
transportes, a cidade entrou em uma fase cujas mudanças lhe imprimiram um novo
perfil. Perdendo o antigo ímpeto de crescimento industrial, modificaram-se as
relações com os demais municípios da região e a cidade se transformou, de centro
comercial atacadista em pólo regional prestador de serviços.
107
Ainda neste período de intensas modificações por todo país, muitas fábricas
da cidade, em especial as do setor têxtil, buscaram realizar alterações na tentativa
de manter sua produção, como a Santa Cruz que passou por reformulações, entre
1930 e 1945, transformando-se de malharia a produtora de tecidos de pano, devido
à maior demanda no mercado. Todas essas reformulações foram favorecidas pelos
financiamentos fornecidos pelo Banco do Brasil, que disponibilizou dinheiro para a
compra de um grande número de máquinas (Guia dos Bens Tombados de Juiz de
Fora, 2002).
Foto 26: Funcionários da Fábrica Mascarenhas, Século XIX. Fonte: BORGES, Célia Maia (org.). Solidariedades e Conflitos: histórias de vidas e trajetórias de grupos em Juiz de Fora. Juiz de Fora, Ed: UFJF, 2000. p. 141
Em 1934, assume Menelick de Carvalho, até então Chefe do Executivo
Municipal, realizando serviços relativos ao abastecimento de água, o ajardinamento
de vias e largos, construção de praças com desapropriação de prédios existentes,
construção de pontes, abertura e calçamento de várias ruas. Além dessas, outras
obras foram realizadas como a remodelação dos serviços municipais e a elaboração
do Código Tributário e do Código de Obras, de 1938 (Decreto Lei n. 23).
108
Contando com 32 capítulos, o Código de Obras de 1938 surgiu não só a partir
da necessidade de se estabelecerem regras mais precisas para a ocupação do solo
na cidade, mas, sobretudo, para normatizar sobre as edificações. Tanto é assim
que, somente no Capítulo 2, apresenta-se um princípio de zoneamento urbano,
sendo os demais, em sua maioria, relativos às normas edilícias, licenças, obrigações
dos profissionais, construções (materiais, expedição de alvarás), demolições,
estética dos edifícios, arborização, mobiliários urbanos (postes, relógios, estátuas,
letreiros, bancos de praça, etc.) e estrutura das edificações (PREFEITURA
MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA, 1938).
Existe ainda a menção às construções de “Tipo Especial” (Capítulo XIV,
Seção Única, Habitações Proletárias de Tipo Econômico), além da “Extinção das
Habitações Anti-higiências” (Capítulo XV, Título Único, Cortiços e Favelas). O
Código de Obras buscava, entre outras coisas, substituir a legislação urbana,
chegando a definir, mesmo que de forma superficial, questões como
desmembramento, arruamento, loteamento, mas não se elegendo como referencial
de planejamento urbano com vistas no ordenamento do uso do solo, bem como de
seus parcelamentos.
Na década de 40, outros planos chegaram a ser propostos na cidade, como o
plano Saboya Ribeiro de 1945-49. De acordo com a Diretoria de Comunicação da
UFJF (2008) Saboya, que era urbanista, planejava uma grande reformulação de Juiz
de Fora, que incluiria a demolição de quarteirões inteiros e a construção de amplas
avenidas. Segundo entrevista de um pesquisador sobre o tema, o arquiteto e
professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, Gustavo Abdala, constante
no referido veículo de comunicação, “ele fez um traçado novo para a cidade”, mas
as idéias contidas no projeto não saíram do papel. Seus estudos, entretanto,
resultaram em modificações que surtiram efeito posteriormente, como a construção
do Bairro Bom Pastor e o corte da Avenida Independência. Para Gustavo Abdala
fica evidente que esses projetos lançaram idéias. Eles podem não ter sido formalizados da maneira como foram desenhados, mas vários deles chegaram a ser efetivados dentro da condição de cada época (UFJF, DIRCOM, 21set 2008)
A partir de 1950, com a criação da rodovia Rio-Bahia, novas e profundas
modificações ocorreram na influência regional exercida por Juiz de Fora. A criação
109
de uma rede de estradas estaduais, a construção da rodovia Rio-Belo Horizonte, a
ligação direta com São Paulo pelo Vale do Paraibuna, alteraram o tipo de relação
entre a cidade e a Zona da Mata. Além disso, a liderança crescente de Belo
Horizonte caracterizou Juiz de Fora como uma cidade do meio do caminho. Como a
Zona da Mata, tradicionalmente agrária, não se modernizou, a população continuou
emigrando, enquanto a pecuária leiteira ocupava as terras, antes prósperas com o
café. Até mesmo para abastecimento da população com hortaliças e frutas, recorria-
se aos grandes mercados produtores do País, estabelecendo-se um desequilíbrio
entre as capacidades produtoras e consumidoras da Zona da Mata. Assim, não
havendo poder satisfatório capaz de atuar na renovação da vida rural e na
revalorização da região, o esvaziamento se fez progressivo, com o abandono quase
total das lavouras (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996).
Nessas condições, a economia urbana da cidade manteve-se, enquanto base
de sua evolução, desenvolvendo atividades terciárias que se tornaram tradicionais,
como os serviços de educação e saúde, que se ampliaram atendendo não somente
à população da Zona da Mata, mas também, outras cidades mineiras e do Estado do
Rio de Janeiro. A rede de estabelecimentos comerciais, especialmente varejista,
também merece destaque tendo importância regional na distribuição de bens e
mercadorias, contribuindo para o incremento da economia na cidade.
Além disso, essas atividades se tornaram responsáveis pela função
polarizadora que o Município mantém, até hoje, no Sudeste Mineiro, destacando-se
os serviços educacionais (ensino fundamental, médio, graduação e pós-graduação),
de saúde, jurídicos, bem como de lazer e cultura (TASCA, 2002).
Nos períodos pós 1950, o setor terciário ampliou seu desenvolvimento,
garantindo à cidade o papel tradicional de centro regional distribuidor de serviços. A
crise regional dos anos de 1950 somar-se-ia à crise nacional dos anos 1960,
agravando o quadro local.
Apesar disso, Tasca (2002) aponta que a cidade não abandonou suas
aspirações industrializadoras, ocorrendo, ainda na década de 1970, a instalação de
grandes projetos de siderúrgicas e metalúrgicas, como a Siderúrgica Mendes Júnior
(Belgo Mineira) e a Companhia Paraibuna de Metais (hoje Grupo Votorantim).
Assim, a cidade permaneceu com o Código de Obras de 1938 até que, em
1986, elaborou-se a Legislação Urbana Básica, na primeira gestão do Prefeito
Tarcísio Delgado (PMDB), passando a funcionar como instrumento planejador do
110
crescimento, inovando com a criação da COMUS (Comissão de Uso e Ocupação do
Solo).
Àquela época, por iniciativas do Programa CPM/BIRD, três leis entraram em
vigor: a 6908/86, dispondo sobre o Parcelamento do Solo; a 6909/86 sobre o Código
de Edificações e a 6910/86, sobre o Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo.
Essa legislação objetivava impor limites à desordenada expansão da cidade e
induzir o crescimento para o sentido norte, provocando a desconcentração das
zonas territoriais mais saturadas e garantindo, assim, pelo menos em tese, a
possibilidade de implantação de planos urbanísticos. Esta legislação está vigente e
ainda é a principal modeladora do espaço urbano de Juiz de Fora , podendo-se
visualizar o incentivo à ocupação da zona norte através dos vários projetos de novos
loteamentos industriais e residenciais.
Um pouco antes, em 1985, foi lançado o Plano Diretor de Água da área
urbana, tendo como objetivo estabelecer as diretrizes para o abastecimento de água
para a região, até 2011, bem como o Plano Diretor de Limpeza Urbana.
A partir de 1994, quando a montadora alemã, Mercedes Benz, demonstrou
interesse em instalar na cidade sua sede brasileira, Juiz de Fora passou a ter a
oportunidade de alavancar um processo de crescimento, ora estagnado, entrando na
guerra fiscal com outros municípios. Isso gerou novo fôlego e incentivo ao
desenvolvimento da cidade. Todavia, a entrada do capital externo e seus reais
impactos na espacialidade urbana, como no padrão residencial e incrementos no
setor imobiliário, não corresponderam ao que se esperava, demonstrando
significativa distância entre os interesses da empresa e os do Poder Público
(BASTOS, 2000).
Com a abertura da economia, a redemocratização do país e a nova
constituição alicerçada pelas novas tecnologias de mídia e informação, cidades e
regiões passaram a transitar por novos lugares e o ranking de cidades aparece
como um dos temas que logram apresentar novos espaços de investimentos para os
mais diversos tipos de empresários e corporações.
Conforme Oliveira (2006.p.32) Juiz de Fora participa dessa fase nacional-
mundial, sendo que “a qualidade de vida e a infra-estrutura da cidade constituem
uma atratividade. Tem início, provavelmente, um novo ciclo de intervenções públicas
e privadas”.
111
Nesse âmbito, depois de 11 anos, em 1996, começou a elaboração do Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora, PDDU/JF, dando ênfase à
questão da regulação do uso do solo e ocupação do solo urbano, seguindo os
requisitos da Constituição de 1988 sobre as cidades com mais de 20 mil habitantes.
No final de 1996, o documento proposta do Plano Diretor (PD, 1996)48 foi
encaminhado ao Poder Legislativo, bem como o Projeto de Lei do Parcelamento e
Uso e Ocupação do Solo e os Projetos de Lei relativos à Proteção de Mananciais
São Pedro e Espírito Santo. Porém, com a mudança de administração (eleições de
1996), o novo governo que assumiu, em 1997 (Tarcísio Delgado, PMDB), retirou o
plano e os projetos de lei, da Câmara Municipal, alegando que o mesmo não
promoveu adequada participação, sendo necessária uma revisão do documento.
Assim, a referida proposta foi congelada em 1997 e, em 1998, foi reiniciado o
processo, de reorganização de seu conteúdo, por profissionais vinculados à
Universidade Federal de Juiz de Fora.
Após as modificações realizadas o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano,
finalmente encaminhado à Câmara dos Vereadores, em 1999, foi aprovado pela Lei
n. 9.811 de 27/06/2000 (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – PDDU Juiz de
Fora para sempre).
O desenvolvimento da cidade fez surgir outras leis e decretos
regulamentando e alterando aspectos da legislação, com novas soluções para
enfrentar os desafios do crescimento do Município. Publicadas isoladamente, essas
leis precisavam ser agrupadas de forma ordenada, sendo este trabalho feito por
iniciativa dos engenheiros Manoel Pereira Tavares e José Maurício Lopes Guedes,
profissionais do quadro da Prefeitura de Juiz de Fora, resultando numa publicação,
em 1997: a Legislação Urbana de Juiz de Fora. Atualizada e Comentada (GUEDES
e TAVARES, 1997)
De forma paralela, em 1997, iniciou-se uma discussão sobre a Gestão
Estratégica de Cidades, instituindo-se um Consórcio privado com apoio da Prefeitura
e, em seguida, elaborou-se o Plano Estratégico (PlanoJF). A princípio, com um outro
olhar sobre a gestão urbana, o então prefeito Tarcísio Delgado (PMDB) integrou a
cidade ao processo de formação do Mercado Comum Sul-Americano, promovendo o
intercâmbio de empresários locais com os de outras cidades sul-americanas, com o
48
Destacamos que neste trabalho ao nos referirmos ao documento proposta para o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora, em 1996, usaremos a sigla PD, 1996.
112
objetivo de “abrir novas oportunidades de negócios para os empreendedores
locais”. 49
Este plano de ação apresentou características de atuação estratégica e
localizada sobre o tecido urbano (como as intervenções viárias, por exemplo),
marcando então, a entrada de Juiz de Fora no processo de “internacionalização da
economia e a troca de experiências com as cidades mais modernas do mundo”.50
Conforme o discurso da época, a prefeitura transformou-se num agente
impulsionador do desenvolvimento, passando o Município a fazer parte do grupo de
19 cidades sul-americanas que compõem a Rede de Mercocidades.
A aceitação de Juiz de Fora se deu, de acordo com documentos da
administração 1997/2000, em “reconhecimento aos seus excelentes níveis de
qualidade de vida e atratividade para investimentos”. Jornais da época confirmavam
que a cidade era a mais promissora de Minas Gerais, sendo que, em 1998, Juiz de
Fora ocupou o segundo melhor Índice Municipal de Desenvolvimento Humano do
Estado
Em janeiro de 2000, o poder público entregou à cidade a versão final do
PlanoJF, um documento incluindo 93 projetos em diversas áreas, sendo que 30%
deles entraram em execução antes mesmo da aprovação final do documento.
Num investimento de R$ 900 mil, com recursos da prefeitura e do Consórcio
Mantenedor, foram apresentados 344 projetos, sendo 93 aprovados, envolvendo
cerca de 198 entidades. A ênfase desse plano se dava no desenvolvimento integral,
abrangendo todos os setores da sociedade, desde os culturais, sociais, econômicos
até os físicos (OLIVEIRA, 2006)
Segundo Oliveira (2006),
Esta era a realidade do governo local da cidade de Juiz de Fora no ano de 1997. Uma visão baseada nos avanços democráticos que marcaram a história do país na década de 1980. Mas, o esforço de incorporação da participação popular no processo de tomada de dicisão do governo não impediu que, ao mesmo tempo, se desenvolvessem estratégias competitivas com intuito de levar Juiz de Fora em uma melhor posição local, com referência regional, nacional ou internacional (OLIVEIRA, 2006. p. 69).
49
Juiz de Fora. Administração 1997/2000. Assessoria Especial de Comunicação Social. Prefeitura de Juiz de Fora. Home page: http://www.pjf.mg.gov.br 50
Idem.
113
No geral a política pública brasileira, se fundamenta num grande paradoxo.
Encontramos instituições técnicas de planejamento traçando planos e leis
urbanísticas que aplicados às cidades proprocionam crescimento equilibrado, e, ao
mesmo tempo, vemos essas mesmas cidades crescer sob a lógica e os interesses
do mercado capitalista, acarretanto a apropriação seletiva do território. A
apropriação desigual em termos de acessibilidade aos bens públicos, obriga um
grande percentual de população a morar em lugares afastados, ao mesmo tempo
em que a elite se favorece com projetos intervenção e requalificação do espaço
urbano.
guisa de conclusão, destacamos que as palavras de ordem dos anos
90, atratividade e competitividade, ratificam a posição que a matriz
econômica exerce sobre as cidades. Na tentativa de conciliar os modelos de
planejamento desse período, o Plano Diretor (desde 1988) e o Plano Estratégico,
muitos governos locais (inclusive de Juiz de Fora), passaram a adotar um modelo
baseado tanto no ideário da Reforma Urbana, preconizando o direito à cidade e a
intervenção regulatória para uma melhor redistribuição da riqueza, quanto naquele
que tem no mercado e na parceria público-privada seu foco principal.
A sobreposição desses modelos em Juiz de Fora, se torna clara se
visualizamos um cenário onde por um lado (PDDU, 2000) focava-se a elaboração de
um documento com princípios de articulação de diversos agentes e constiuição de
um pacto sócioterrritorial e por outro desenvolvia-se a estratégia competitiva
(PlanoJF) visando levar a cidade a uma posição de centro econômico. Além disso,
se pensarmos nas diferentes formas de apropriação dos investimentos públicos
como resultado dessas ações sobrepostas, e de seus projetos comuns, podemos
chegar ao entendimento da realidade urbana da cidade, tendo noção da amplitude e
dos efeitos que as ações de planejamento geraram e continuam gerando no
Município.
Diante do exposto, o Capítulo 3 fará uma descrição e análise dos planos (já
mencionados em âmbito geral neste capítulo) a partir dos anos 90, apontando os
meandros de sua elaboração e os projetos elaborados e executados sobre o tecido
urbano.
A
114
3. OS PLANOS EM JUIZ DE FORA E SUAS CONCEPÇÕES A PARTIR DOS
ANOS 90
3.1 PROPOSTA PARA O PLANO DIRETOR DE JUIZ DE FORA, EM 1996 (PD,
1996)
omo resultado de um conjunto de ações visando o planejamento da
cidade, elaborou-se em Juiz de Fora, no ano de 1996 (gestão do
Prefeito Custódio Mattos_PSDB), uma proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora
(PD, 1996), passando pelas etapas do Diagnóstico e a posterior Proposições. Estas
ações buscaram criar normas e diretrizes que coordenassem o crescimento do
Município de modo ordenado e racional, mantendo e melhorando as condições
urbanas.
Evidentemente, não bastam planos, normas e leis. É preciso haver continuidade da prioridade administrativa para o planejamento e controle urbanístico. Mais importante ainda, é imprescindível o crescente envolvimento da comunidade e de cada cidadão com sua cidade. Por isso, a equipe técnica que realizou o Plano Diretor, com grande competência e dedicação, orientou-se o tempo todo pelas discussões com a comunidade e incentivou sua participação. Esperamos que este envolvimento de todos com a vida da cidade e sua qualidade constitua-se na melhor garantia do efetivo cumprimento desse Plano e de seu constante aperfeiçoamento (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996.p.05)
Partindo desse entendimento, o PD, 1996, foi estruturado em quatro volumes
contendo o Diagnóstico, as Proposições, os Anexos e os Projetos de Lei,
respectivamente. No volume I, Diagnóstico, apresentou-se, no primeiro capítulo, a
evolução histórica do Município, seguindo sua organização territorial e
caracterização geofísica e socioeconômica. Nos capítulos seguintes, abordaram-se
questões relativas à: 1) produção do espaço urbano; 2) estruturação espacial urbana
(distribuição da população, das atividades econômicas, expansão e adensamento,
infraestrutura e serviços urbanos, legislação urbana, bens de interesse histórico,
arquitetônico e cultural.); 3) qualidade do espaço urbano (qualidade ambiental,
qualidade de vida, áreas de ocupação subnormal). Encerra-se este volume
apresentando a situação atual da gestão ambiental, os cenários prospectivos e as
conclusões.
C
115
O volume II apresenta proposições definindo questões relacionadas a: 1)
ordenamento do solo (Organização Territorial; Macrozoneamento; Áreas de Especial
Interesse Ambiental, Social, Urbanístico; Modelos de Parcelamento do Solo;
Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo); 2) Projeto de Programas Especiais51; 3)
Plano de Limpeza Urbana; 4) Compatibilização com outros Planos Setoriais; 5)
Gestão Ambiental (Propostas e Instrumentos); 6) Gestão Municipal; 7) Plano Diretor
(Dispositivos Legais, Princípios da Gestão, Modelo Institucional e Instrumentos para
Implantação da Política e da Gestão Municipal). Encerra-se o volume com
recomendações complementares relativas às áreas: Interesse Cultural, Histórico e
Paisagístico; Gerenciamento do Lixo; Plano de Desenvolvimento para Zona Rural;
Desenvolvimento Florestal Sustentável e Educação Ambiental, e por fim, Programas
de Desenvolvimento Tecnológico.
Nos Anexos (volume III), apresentam-se cenários econômico-espaciais, de
1996 até 2010, abordando a questão da participação comunitária e apresentando-se
propostas da própria comunidade dos bairros para a solução de problemas. Já no
volume IV, apresentam-se os seguintes Projetos de Lei: Lei do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora, Lei do Parcelamento e do Uso e
Ocupação do Solo e Lei da Contribuição de Melhoria.
Toda base conceitual do PD, 1996 levou em consideração a Constituição
Federal de 1988 (Cap. II, Art. 182 e 183), que define a responsabilidade do
município quanto ao ordenamento do desenvolvimento e da expansão urbana e
elaboração do Plano Diretor, obrigatório para cidades com mais de 20.000
habitantes. Além disso, a aprovação da Lei Orgânica do Município de Juiz de Fora,
em 05 de abril de 1990, também foi fator decisivo para a elaboração do Plano Diretor
de Desenvolvimento.
Em 1992, aconteceu uma primeira iniciativa de elaboração do Plano Diretor
que, por questões políticas, não foi concretizado. Nessa época, foi elaborado um
documento52 constituído por uma síntese de vários documentos formulados pelos
51
A saber, Projetos e Programas Especiais: Área Central, Eixo Paraibuna, Parque Linear e Parques Urbanos de Benfica e Barbosa Lage, Via Interbairros, Via Remonta, Reestruturação Urbana de Vias Localizadas, Programa de Reestruturação e Valorização dos Bairros, Programa Integrado de Saneamento Ambiental, Programa de Recuperação e Expansão de Áreas Florestadas Urbanas, Programa de Proteção, Preservação e Promoção Cultural. PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora. Instituto de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996. 52
Diagnóstico, análise, propostas e diretrizes para elaboração do Plano Diretor de Juiz de Fora_ Uma primeira aproximação_ PJF/IPPLAN, agosto de 1992. Nota de rodapé, In: OLIVEIRA, Miriam
116
diversos técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento (IPPLAN) e demais
órgãos da Prefeitura (OLIVEIRA, 2006). Composto de três partes, o documento
apresentava informações sobre o Município, sobre a Zona da Mata e o Estado de
Minas Gerais, contendo, ainda, o corpo preliminar do plano, diagnóstico, análise e
diretrizes das áreas contempladas, abordando-se também aspectos
socioeconômicos, serviços de consumo coletivo e meio físico-territorial-ambiental.
Oliveira (2006) destaca que
em 1995 o então prefeito de Juiz de Fora, Custódio Matos, (PSDB), se propôs a reiniciar o processo de discussão e elaboração das diretrizes e prioridades mencionadas no plano anterior. A coordenação foi de competência do IPPLAN que organizou uma equipe técnica responsável pelas pesquisas e estudos, e uma equipe interprofissional e interinstitucional para a definição das estratégias de participação comunitária (OLIVEIRA, 2006.p.45)
Entre maio de 1995 e novembro de 1996, mobilizaram-se diversos setores da
prefeitura de Juiz de Fora formando um grupo que elaborou o PD, 1996. Somando-
se a esse grupo, participaram profissionais da Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), através de convênios firmados
com estas universidades, contando ainda com uma consultoria de São Paulo.
Arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento da Prefeitura de Juiz de
Fora (IPPLAN/JF), Álvaro Giannini, destaca que a elaboração do diagnóstico
demandou muito tempo em relação à elaboração das proposições. Além disso, as
mesmas foram feitas já no fim do mandato do prefeito Custódio Matos, consciente
de que a eleição estava perdida. Além disso, sabiam que as proposições iam ser
vetadas na Câmara, na medida em que o partido vencedor (Tarcísio
Delgado,PMDB) era contrário às idéias do partido da época, PSDB. 53
A cidade contava, em 1996, com dois planos setoriais detalhados: o Plano de
Limpeza Urbana e o Plano de Transportes Urbanos, em fase final de elaboração.
Entretanto, acima de tudo, salientava-se que o instrumento estratégico decisivo para
preservar e melhorar o espaço urbano de Juiz de Fora seria o Plano Diretor de
Monteiro. Plano estratégico e diretor de Juiz de Fora: modelos contraditórios ou complementares. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2006. Dissertação de Mestrado. 53
Informação obtida em entrevista informal, realizada em 20/05/2009, com o Arquiteto Álvaro Giannini, locado em 1996 no Departamento de Pesquisa e Planejamento da Prefeitura de Juiz de Fora_IPPLAN/JF.
117
Desenvolvimento Urbano, então denominado Plano Diretor do Município de Juiz de
Fora.
Nas palavras do Prefeito Custódio Mattos:
pela primeira vez na sua história, Juiz de Fora conta com um instrumento compreensivo de planejamento urbano. É bom frisar que este Plano Diretor não é, como se vê frequentemente, um documento formal que vai enfeitar estantes. Por orientação expressa, este Plano, além do diagnóstico e da parte descritiva, compreende medidas legais autoaplicáveis que terão consequências práticas imediatas. Assim, acompanham o Plano, com decorrências sistemáticas, as novas normas de uso e ocupação do solo, de parcelamento, de movimentação de terras, além de vários programas e projetos especiais. Uma vez aprovado pela Câmara Municipal, o conjunto dessas normas, mais as leis, já aprovadas ou em tramitação, para preservação de áreas específicas, dotarão o Município de um arsenal invejável para proteger-se dos efeitos nocivos do crescimento e melhorar ainda mais nossa qualidade de vida (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996. p.15)
Percebe-se o comprometimento da Prefeitura com as questões de
planejamento urbano, entendendo-se a importância da aprovação das leis de
ordenamento, uso e ocupação do solo (que datam de 1986) para a efetiva atuação
do Poder Público, de forma a proporcionar a Juiz de Fora um crescimento ordenado
e, sobretudo, planejado. Pelo menos no discurso, o planejamento fazia parte das
pautas de discussões, tendo no IPPLAN/JF54 seu centro de articulação político-
administrativo. Tanto que o Diretor Geral do referido órgão, em 1996, mencionou:
quando em 1995 a Prefeitura de Juiz de Fora incumbiu seu Instituto de Pesquisa e Planejamento – IPPLAN/JF, dos estudos para a elaboração de um Plano Diretor; interpretou de forma inequívoca a vontade latente da sociedade de „repensar a cidade‟, visando a readequação aos tempos presentes e, consequentemente, sua preparação para enfrentar os desafios do futuro (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996.p.18)
Os trabalhos de elaboração do PD, 1996 demandaram estudos que
sinalizaram três cenários, tendo em vista o futuro da cidade: num primeiro momento,
pressupunha-se a continuidade do comportamento evolutivo apresentado nos
54
De acordo com o Arquiteto Álvaro Giannini, em 2000 a chamada Reforma Administrativa colocou fim ao IPPLAN/JF, que já vinha sendo desmontado na gestão de 1996 do Prefeito Tarcísio Delgado. Seus técnicos foram locados em outras secretarias ou departamentos. Com essa reforma, criou-se o Departamento de Planejamento e Gestão Estratégica (DPGE), ao encargo de João Vitor Garcia, assessor de Tarcísio Delgado e idealizador o Plano Estratégico do Município em 1997. Informações obtidas através de entrevista informal em 20/05/2009.
118
últimos cinco anos; num segundo momento, apresentava-se a perspectiva da vinda
de empresas de médio porte; já no terceiro cenário, vislumbrava-se a vinda de uma
empresa de grande porte para Juiz de Fora.55
Através da metodologia baseada na elaboração de cenários, buscou-se
promover maior coleta de informações que pudessem demonstrar os estados
possíveis para o futuro da cidade, considerando-se um horizonte de 5 anos.
Ressalta-se que esses estados referem-se à dinâmica da economia urbana e seus
impactos sobre a utilização de infraestrutura, aos serviços públicos e à situação
financeira da administração municipal.
As perspectivas foram traçadas buscando clarificar os impactos que cada
cenário poderia ter sobre algumas variáveis: população, empregos diretos,
empregos indiretos, distribuição das atividades entre os setores primário, secundário
e terciário, demanda espacial (industrial, comercial, habitacional, de investimentos e
especulativa), demanda de infraestrutura, serviços públicos e finanças públicas.
De acordo com a proposta para a formulação dos cenários possíveis para o
Município, fez-se uma investigação do histórico e uma análise retrospectiva da
evolução econômica de Juiz de Fora.
Essa investigação delineou as seguintes etapas: a) de 1850 a 1930, fase
inicial da acumulação de capital industrial na região, promovida pela dinâmica da
economia cafeeira, estimulando o nascimento e a consolidação das primeiras
fábricas, e caracterizando-se por intensos movimentos migratórios para a região; b)
de 1930 a 1945, a economia local entra em um processo de desaceleração do
crescimento industrial, destacando-se a elaboração do Decreto-Lei n. 23 de 06, de
setembro de 1938, o Código de Obras; c) de 1945 a 1955, o setor industrial recupera
sua dinamização, provocando ativação do crescimento da economia local; d) de
1955 a 1970, o setor industrial da cidade entra em decadência, dando origem ao
contexto de estagnação da economia local, mencionando-se, que tal estagnação se
mantinha em 1996; e) de 1970 a 1990, através da atração de grandes projetos
industriais para a cidade, movimento em grande parte estimulado pela lógica
subjacente ao II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), as alianças locais
tentam promover a reindustrialização, culminando com a implantação de dois
55
Documento proposta do Plano Diretor de 1996. Anexos. Volume III. In: OLIVEIRA, Miriam Monteiro. Plano estratégico e diretor de Juiz de Fora: modelos contraditórios ou complementares. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2006. Dissertação de Mestrado.
119
projetos de grande porte – a Siderúrgica Mendes Júnior e a Cia. Paraibuna de
Metais – no entanto, em meados da década de 1980, em virtude da crise econômica
nacional, o movimento de atração perde o fôlego, e a economia local não reage ao
processo de estagnação; f) por fim, destaca-se que, de 1990 em diante,
acompanhando a recuperação da economia nacional e em virtude da intensificação
dos esforços de marketing por parte do Poder Público local, visando atrair novos
empreendimentos industriais para Juiz de Fora, ocorre uma lenta reativação da
economia loca (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996).
Na análise do panorama em 1996, aponta-se pela Prefeitura de Juiz de Fora
(1996) que, ao longo do tempo, a economia da cidade foi adquirindo contornos
assim caracterizados: 1) configuração do Município como pólo regional, nos setores
de educação, saúde, governo, infraestrutura, justiça, entre outros; 2) boa
disponibilidade de áreas infraestruturadas para recebimento de empreendimentos; 3)
estabelecimento de um empresariado local, predominantemente de pequeno e
médio porte, com baixo ânimo para iniciativas, elevada aversão a riscos e pequena
preocupação com o processo de qualidade; 4) maior mobilização das forças
produtivas locais para a promoção da retomada do desenvolvimento econômico da
cidade e região; 5) atividade pecuária caracterizada pela predominância do gado
leiteiro e da produção de leite, mas com baixo grau de competitividade; 6) agricultura
municipal significativamente esvaziada, embora as últimas iniciativas do Poder
Público tenham apresentado respostas satisfatórias; 7) no segmento industrial,
dificuldades competitivas no tradicional setor têxtil (o do vestuário constituído por
pequenas empresas e com problemas de crédito, o de móveis em estagnação, o de
produtos alimentares destacando-se e a indústria da construção civil dinamizada por
demandas de toda a região); 8) relevância para a economia municipal no setor de
comércio e serviços, valendo-se da vantagem de Juiz de Fora ser pólo regional.
Para a formatação do plano, foram identificados os principais fenômenos que,
potencialmente, poderiam influir no futuro da cidade: 1) tensões e estrangulamentos,
que dizem respeito aos conflitos e desequilíbrios, gerados pelas disputas estruturais
entre os diversos atores sociais; 2) invariantes entendidos como características do
objeto que, ao longo do tempo, não devem mudar, e as tendências de peso cuja
direção encontra-se bastante visível e consolidada; 3) por fim, as mudanças em
andamento, também consideradas como condicionantes do futuro, diferem das
tendências de peso, na medida em que dizem respeito às transformações em curso,
120
sem, contudo produzir todos os efeitos na estrutura do objeto (PREFEITURA DE
JUIZ DE FORA, 1996).
Num primeiro grupo de condicionantes, apontam-se tensões e
estrangulamentos que sinalizam gargalos estruturais presentes no objeto. Enquanto
as tensões dizem respeito aos conflitos ou disputas estruturais entre os diversos
atores, os estrangulamentos referem-se aos desequilíbrios estruturais. Seguem-se
as tensões significativas apontadas pelo PD, 1996:
1) Interesse dos empresários da construção civil (obtenção de lucros) versus
interesses do sistema de planejamento público (interesse do patrimônio,
preservação da qualidade de vida, uso adequado do solo municipal, entre
outros);
2) Disputas entre as esferas de governo federal, estadual e municipal, versus a
busca da transferência de encargos e responsabilidades;
3) Interesses dos bancários empregados nos bancos oficiais versus
necessidades de enxugamento e automatização dos mesmos, para fins de
aumento de sua competitividade com banco privados, gerando aumento do
desemprego;
4) Interesses dos ferroviários empregados na SR3-RFFSA versus processo de
privatização da Rede Ferroviária Federal S.A.;
5) Ambientalistas versus desenvolvimentistas;
6) Baixo ânimo para iniciativas do empresariado local versus maior mobilização
das alianças e forças produtivas para a retomada do desenvolvimento;
No tocante aos principais estrangulamentos identificados, destacam-se os
seguintes aspectos: necessidade de criação de empregos para a população
economicamente ativa versus capacidade de resposta do Poder Público; oferta de
mão-de-obra qualificada superior à demanda local, provocando exportação da
mesma, sobretudo de nível superior, para os grandes centros; sistema de transporte
aéreo limitado56; sistema de disposição de resíduos sólidos falho57; rede hoteleira
56
O atual Aeroporto de Juiz de Fora - Francisco Alvares de Assis (mais conhecido como Aeroporto da Serrinha) foi inaugurado em 1958. Em 2007, sua administração foi transferida da Infraero para a companhia Sinart. A Pantanal Linhas Aéreas opera 2 voos diários entre este aeroporto e o de Congonhas, em São Paulo. A TRIP opera vôos diários entre Juiz de Fora, Belo Horizonte (Pampulha) e Rio de Janeiro (Santos Dumont) com conexões para Ribeirão Preto, Curitiba, Uberlândia e outras cidades. O aeroporto é também base de operações do Aeroclube de Juiz de Fora. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Aeroporto_de_Juiz_de_Fora. Acessado em outubro de 2009. Devido a sua elevada altitude, e às constantes impossibilidades de utilização devido ao mal tempo, a PJF e o Governo do Estado promoveram a construção de um novo terminal que deveria ser de abrangência
121
com baixa qualificação de serviços; ausência de um centro de convenções para
eventos de caráter geral58; saturação do sistema viário no centro59; crescimento da
economia informal60 e baixo grau de articulação interna da economia municipal;
acomodação do empresariado local (conservadorismo das elites); poluição do Rio
Paraibuna61; burocracia; disponibilidade limitada de áreas infraestruturadas para a
ocupação industrial62; grandes dimensões da área urbana; falta de precisão ou
definição da Lei de Uso do Solo63; escassez de áreas verdes e área públicas.
O diagnóstico do PD, 1996 aponta os invariantes e as tendências de peso,
como a manutenção do papel de pólo regional da cidade e a atratividade da mesma
para investimentos industriais. Além disso, as características geográficas do
Município favorecem sua posição estratégica, sustentada por uma malha rodo-
ferroviária de importância nacional.
Neste ano apontava-se, como forte tendência para Juiz de Fora, os seguintes
aspectos: a expansão do Setor Noroeste (região do Distrito Industrial); o processo
terceirização e de privatização da concessão de serviços públicos; a
descentralização administrativa e econômica; o aumento das oportunidades de
qualificação de mão-de-obra; o adensamento de certas áreas da cidade (centro e
sul, sobretudo); e, em Minas Gerais, a alteração nos critérios de cálculo da cotação
do ICMS, com a redistribuição da transferência para os municípios mais pobres,
através do chamado “Projeto Robin Hood”.64
regional. Entretanto, a construção do Aeroporto Regional da Zona da Mata (localizado no Município de Goianá, a 40 Km do centro de Juiz de Fora, passando pelas MG-133 e 353) gerou um gasto de mais de 80 milhões de reais. Após uma série de problemas, desde financiamento, construção e aprovação pelos órgãos de aviação, o Aeroporto hoje é um terminal de cargas. 57
O Aterro Sanitário da cidade está localizado em um município vizinho, Matias Barbosa, na BR-040. Também é alvo de grande polêmica quanto à destinação final dos resíduos e a capacidade do Aterro. 58
Destaca-se que o Centro de Convenções de Juiz de Fora_Expominas_ será criado através de ações do Plano Estratégico. Este assunto será explorado no item 3.3.3.1 deste capítulo. 59
Diversas são as especulações sobre mudanças no tráfego na área central. Muitas campanhas políticas se baseiam em soluções milagrosas como o metrô de superfície e o VLT. Até hoje o que se viu foram alterações no sentido de algumas vias e viadutos nas áreas do entorno ao centro. 60
Ressalta-se o grande número de camelôs na cidade, sobretudo na área central. Ainda destacamos o significativo número de carrocinhas de cachorro-quente, empadas, e outros comestíveis. 61
O Rio Paraibuna será alvo de especulações sobre projetos, como o “Paraibuna Te Quero Vivo”. Algumas dragagens foram realizadas nas margens do rio, nas partes em que ele corta o centro da cidade. A maior parte do projeto está interrompida. 62
Podemos destacar a ampliação do Distrito Industrial, a chegada do gás natural, a abertura de vias para escoamento de mercadorias, através da rodovia BR-040. 63
Essa discussão permeia toda a tese, sendo discutida mais detidamente no item 3.1.1 deste capítulo. 64
O Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) é um tributo federal, também conhecido como Imposto Hobin Hood. Embora esteja definido na Constituição (Art.153, VII), o IGF ainda não foi regulamentado por lei complementar, faltando a definição do contribuinte, da alíquota a ser utilizada e da base de
122
Outro ponto importante dentro do documento proposto foram as mudanças
potencialmente impactantes na estrutura da cidade que estavam em andamento:
expansão do setor industrial (ocupação do Distrito Industrial III); utilização do gás
natural; privatização da BR-040 e da malha sudeste da Rede Ferroviária Federal
S.A. (RFFSA); novo grupo comandando as indústrias locais (a FACIT, a Siderúrgica
Mendes Júnior, e a Paraibuna de Metais) provocando investimentos nessas
empresas, e, sobretudo na continuidade do processo de globalização, ampliando,
portanto, a abertura comercial e a liberalização econômica.
Fechando a metodologia do plano, delimitaram-se os “Fatos Portadores de
Futuro” referentes aos condicionantes, os quais consistem em atuais mudanças
potenciais, geradoras de tendências de peso posteriormente (PREFEITURA DE
JUIZ DE FORA, 1996). Foram identificados os seguintes fatores relevantes:
a) novos investimentos industriais em Juiz de Fora (Mercedes Benz, por
exemplo);
b) atratividade econômica;
c) expansão da internet;
d) convênios ligados à área tecnológica, como o SOFTEX, CRITT (incubadoras
tecnológicas);
e) projetos agroindustriais na região (forte ligação com a fruticultura, levando a
investimentos na indústria de embalagens);
f) condicionantes políticos;
g) avanço nas telecomunicações (fibra óptica).
Apontava-se, no PD, 1996, que o Município passava por um momento de
singular importância, quando a cidade direcionava-se para um processo de
expansão das atividades econômicas, as quais poderiam trazer, de início, a
expectativa de um crescimento populacional mais acentuado. Tal referência era
relativa à vinda da empresa automobilística Mercedes Benz, e à especulação
realizada quanto às alterações econômicas recebidas. Conforme Tasca (2000) essa
cálculo. O Projeto de Lei 637/07 do deputado estadual Dinis Pinheiro do PSDB, conhecido como ICMS Solidário, propõe mudanças no IGF, objetivando criar um mecanismo de compensação financeira para aqueles municípios, principalmente os pequenos, que tivessem perda de arrecadação, tanto em percentuais quanto em valores absolutos, nos quais a redução do repasse do ICMS não é simplesmente deixar de ganhar.
123
expectativa, no entanto, não se concretizou, e os efeitos multiplicadores não alteram
significativamente a economia da cidade. 65
Destacava-se, ainda, a necessidade de
controlar a expansão da mancha urbana, indicando novos vetores de crescimento não só adequados às condições geomorfológicas, mas também em consonância com as potencialidades, vocações e tendências de cada uma das regiões, senão ainda em consonância com as expectativas da comunidade (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996.p.24)
Além disso, indicava-se a implementação de um planejamento que
contemplasse as diversas formas de ocupação, racionalizando a implantação e a
manutenção da infraestrutura. Segundo Luiz Ernesto, Diretor Geral do IPPLAN/JF, a
atuação dos agentes que intervêm no meio físico também deveria ser fiscalizada,
tendo em vista que os mesmos provocam um forte impacto ambiental, chegando a
comprometer o padrão de qualidade do próprio empreendimento. “Assim, a
conscientização de que todos somos co-responsáveis pelo espaço em que estamos
inseridos, e que amanhã usufruiremos e herdaremos, é determinante para a
promoção da qualidade de vida da comunidade” (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA,
1996.p.25)
Esta proposta refere-se também às proposições quanto à preservação do
meio ambiente, preservação do patrimônio cultural, revisão das Leis de
Parcelamento (6.908/86) e Uso e Ocupação do Solo (6.910/86), reordenando
conceitos de zoneamento e possibilitando a indução dos assentamentos nas áreas
consideradas propícias, segundo os novos vetores e tendências de ocupação.66
Destaca-se que, na intenção de não gerar conflito com os empresários da
construção civil e com os comerciantes da cidade (grandes financiadores das
campanhas do governo), os referidos Projetos de Lei foram retirados do volume final
da proposta de Plano Diretor. Este último só foi aprovado em 2000, evitando-se um
embate com as forças políticas responsáveis pela configuração de Juiz de Fora.
65
Para maior aprofundamento consultar: TASCA, Luciane. Juiz de Fora na década de 90: a produção do ambiente construído urbano. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2002. Dissertação de Mestrado. E também BASTOS, Susana Q. de Andrade. Estratégia Locacional da Industria Automobilística: O Caso da Mercedes Benz em Juiz de Fora. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2000. Dissertação de Mestrado. 66
Esse item foi retirado e não constou do PDDU, 2000, estando tal legislação desatualizada, visto que datam de 1986, sendo baseados num Código de Obras de 1938. Ver capítulo 3 item 3.1.1 e 3.2
124
Pressupunha-se, para o sucesso do Plano, a participação efetiva da
comunidade na gestão municipal, contando-se para tal, com audiências públicas
realizadas durante a elaboração do documento.
De acordo com Oliveira (2006) foram criados grupos de trabalho para fazer o
diagnóstico dos principais problemas da cidade, passando tanto pelas questões
ligadas ao meio físico e ao setor sócio-econômico quanto pelo setor de
parcelamento, uso e ocupação do solo, demonstrando o envolvimento e
comprometimento dos técnicos da Prefeitura Municipal. 67
O Diretor Geral do IPPLAN/JF, nesse período, encerra a folha de rosto do
documento, agradecendo:
ao grupo técnico de trabalho do IPPLAN/JF, que tão dedicadamente viabilizou a elaboração deste documento, superando todas as dificuldades pertinentes a um projeto deste porte, atribuímos os maiores méritos desta conquista. Que seja mantida a ebulição provocada por todo esse processo, resultando num aprimoramento constante das normas que norteiam o crescimento equilibrado de Juiz de Fora (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996.p.18)
No final de 1996, a proposta do Plano Diretor de Juiz de Fora foi
encaminhada ao Legislativo, contendo ainda o Projeto de Lei do Parcelamento e
Uso e Ocupação do Solo68 e os Projetos de Lei relativos à Proteção dos Mananciais
São Pedro e Espírito Santo.
Através do processo eleitoral de 1996, outra administração assume o governo
da cidade, em 1997, retirando-se a proposta para o Plano Diretor da Câmara
Municipal. O prefeito eleito, Tarcísio Delgado (PMDB) justifica a retirada da proposta
67
Segundo Oliveira 2006, o grupo do meio físico pesquisou a aptidão para o assentamento urbano, baseado em fatores como relevo e geologia, identificando áreas de risco e preservação ambiental. O grupo do setor sócioeconômico trabalhou com a tendência de desenvolvimento de cada área da cidade avaliando suas vocações no contexto regional, caracterizando os serviços públicos e analisando a qualidade de vida através de indicadores de renda, moradia, saneamento básico e alfabetização. Por fim, o grupo do setor de parcelamento, uso e ocupação do solo, trabalhou para a elaboração de instrumentos para definir o desenvolvimento da cidade, baseado nos dados e características levantados, como a densidade populacional de cada região e a dinâmica de evolução do espaço urbano. OLIVEIRA, Miriam Monteiro. Plano estratégico e diretor de Juiz de Fora: modelos contraditórios ou complementares. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2006. Dissertação de Mestrado. 68
Tais projetos de lei faziam parte do Volume IV do documento da proposta para Plano Diretor de Juiz de Fora, alterando significativamente as Leis 6.908/86 (Parcelamento) e 6.910/86 (Uso e Ocupação do Solo).
125
pela necessidade de “estimular e ampliar a participação e priorizar sua orientação na
busca de uma cidade cada dia mais humana”. 69
A retomada dessa discussão aconteceu sendo propostas alterações em
relação ao documento anterior, sobretudo na questão do ordenamento territorial.
Foram retirados do Plano os Projetos de Lei do Parcelamento e Uso e Ocupação do
Solo e os relativos à Proteção dos Mananciais São Pedro e Espírito Santo, tornando
o novo Plano (PDDU, 2000) pouco efetivo (OLIVEIRA, 2006).70
Conforme será discutido mais adiante, com a retirada das Leis que interferem
diretamente na configuração urbana de Juiz de Fora, tudo fica como antes: a
legislação urbana continua validada pelas Leis de 1986 (6.908, 6.909 e 6.910).
Dessa forma, continua a divisão da área urbana e rural do Município, os tipos de
Zonas de Uso e Ocupação (Zona Residencial, Comercial, Industrial, e Uso Múltiplo),
as Categorias de Uso do Solo, e o mais importante de tudo, a Divisão Territorial em
Unidades Territoriais, sendo que o Zoneamento dessa áreas, só foi detalhado na
UTI – Centro.
Durante esse processo, as alterações propostas em relação ao documento
anterior geraram insatisfação de técnicos da Prefeitura Municipal, sobretudo do
IPPLAN/JF. Com isso, a antiga equipe de trabalho sentiu-se acuada, criando-se
outra equipe para a retomada do plano, fato que gerou uma descontinuidade no
trabalho (OLIVEIRA, 2006).71
Para a realização das modificações, foi firmado um convênio entre a
Prefeitura Municipal e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), contratando-
se o Arquiteto Hélio Novak. Após as alterações, em 1999, o plano foi encaminhado
novamente à Câmara Municipal dos Vereadores, sendo aprovado pela Lei n. 9.811,
de 27 de junho de 2000.
Juiz de Fora passa a ter, finalmente, seu Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano, um elaborado diagnóstico físico-territorial, porém, sem o conteúdo
fundamental das leis de parcelamento e de uso e ocupação do solo.
69
PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. p.10 70
Ricardo Bastos (Engenheiro, membro da equipe de elaboração do PD, 1996). Entrevista em 18/01/2006. In: OLIVEIRA, Miriam Monteiro. Plano estratégico e diretor de Juiz de Fora: modelos contraditórios ou complementares. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2006. Dissertação de Mestrado. 71
Entrevista com Álvaro Giannini, Arquiteto, Diretor do Departamento de Planejamento do IPPLAN/JF, 12/01/2006. In: OLIVEIRA, Miriam Monteiro. Plano estratégico e diretor de Juiz de Fora: modelos contraditórios ou complementares. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2006. Dissertação de Mestrado.
126
Buscando entender os motivos da exclusão dos dois documentos, segue-se o
conteúdo dos projetos de revisão das referidas leis.
Mapa 18: Zoneamento Unidade Territorial. Lei 6.910/86. Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo no Município de Juiz de Fora. Anexo 4.
Fonte: Reconstituição do original.
127
Mapa 19: Unidades Territoriais. Fonte: Lei 6.910/86. Lei de Uso e Ocupação do Solo. Anexo 3. Mapa 02. Unidades
Territoriais.
3.1.1 Projetos de Lei para Revisão da Lei do Parcelamento (6.908/86) e da Lei
do Uso e Ocupação do Solo (6.910/86)
O Volume II (Proposições) do PD, 1996, apresenta a idéia de que, a partir do
diagnóstico realizado (Volume I) em Juiz de Fora, tornava-se necessária a
elaboração de um conjunto de proposições visando a um novo ordenamento para a
estrutura urbana da cidade. Essas proposições vieram configurar algumas
reformulações nas Leis de Parcelamento (6.908/86) e Uso e Ocupação do Solo
(6.910/86). A concepção geral do reordenamento proposto consistiu na articulação
ponderada de uma série de medidas amadurecidas, ao longo da elaboração do
plano: buscava, de um lado, confirmar valores historicamente consolidados e, de
outro, reordenar estruturas inadequadas que foram instalando-se à medida que a
cidade crescia, produzindo não só efeitos negativos na distribuição social do espaço,
mas também relações conflitantes entre o ambiente natural e o ambiente
construído.72
Aponta-se, ainda a necessidade de reverter a tendência de fragmentação
tanto da mancha urbana quanto do forte desequilíbrio das densidades de ocupação,
buscando, assim, a indução e o fortalecimento da ocupação da faixa, ao longo do
Rio Paraibuna, inclusive como espaço adicional de funções urbanas
desempenhadas na Área Central. Além disso, as proposições orientavam para a
descompressão da Área Central, sem, contudo, retirar seu papel dinamizador da
cidade e da região. Buscava-se o adensamento e a expansão da mancha urbana do
Setor Noroeste, através da ocupação dos vazios urbanos e incorporação de novas
áreas contíguas.
72
De acordo com a proposta para o Plano Diretor em 1996, a cidade passaria a ser dividida, em termos administrativos, em 8 Setores Urbanos, conforme Mapa 20: Setores Urbanos de Juiz de Fora em 1996.
128
Mapa 20: Setores Urbanos de Juiz de Fora em 1996. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora. Instituto
de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996. Arte Final: Luciane Tasca
129
Entre outras proposições, o controle e a coibição de adensamentos não
desejados em área de infraestrutura insuficiente (setores Leste, Nordeste e Sudeste)
mereceram destaque. Além disso, propunha-se o estímulo ao padrão granjeamento
como forma de ocupação pouco adensada, sobretudo nas proximidades no limite do
perímetro urbano (setores Norte, Noroeste, Oeste) ou área de preservação
ambiental.
Do rebatimento espacial da conceituação básica do PD, 1996, derivaram
algumas diretrizes norteadoras do ordenamento e crescimento urbano de Juiz de
Fora. Entre as mais significativas para esse trabalho apresentam-se: 1) controle do
crescimento da Área Central, sobretudo no que se refere aos empreendimentos de
serviços e negócios, geradores de tráfego e inibidores de uso residencial,
incentivando o convívio entre moradia, cultura, lazer; 2) incentivo à ocupação
ordenada da faixa que se estende ao longo do Rio Paraibuna; 3) promoção da
implantação de um parque municipal junto à Mata do Krambeck e Benfica; 4)
implantação de ligações viárias promovendo uma melhor circulação e interligação
entre as vias e as rodovias que passam pela cidade; 5) promoção do adensamento
do setor Noroeste, e controle nos setores Oeste, Sudeste e Nordeste, contenção da
ocupação nos setores Leste e Sul, fixando parâmetros compatíveis com esta
determinação. (Ver Mapa 21: Uso e Ocupação do Solo dos Setores Urbanos.
Parcelamento e Zoneamento).
Destaca-se que o setor Noroeste é a região da cidade caracterizada por um
forte vetor de crescimento, haja vista os distritos industriais e os bairros operários
que surgem ao redor das indústrias. Além disso, é porta de entrada/saída da cidade
através da rodovia BR-040, ligando Juiz de Fora ao interior de Minas Gerais, Espírito
Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras cidades. Já os setores Oeste,
Sudeste e Nordeste, são os bairros da chamada Cidade Alta, cujo impedimento à
construção se dá por ser área de preservação ambiental aos pés do Morro do
Imperador. Existem ainda aqueles que fazem divisa com outros municípios, como os
setores Leste e Sul, que já possuem ocupação acentuada.
As proposições adotaram uma sistemática baseada na fixação e formulação
de variados tipos de intervenção urbana, agrupados de acordo com sua natureza.
Um primeiro bloco constitui-se na proposta de Ordenamento do Solo, considerando
o potencial de adensamento e as restrições decorrentes do Zoneamento Ambiental.
130
Comporta ainda “área de tratamento diferenciado” com a fixação de parâmetros que
prevalecerão sobre aqueles definidos para o parcelamento, uso e ocupação do solo.
O Mapa explicativo 21 demonstra as intenções expressas na proposta para
Plano Diretor em 1996, elaboradas pelos técnicos do IPPLAN/JF, no que diz respeito
ao parcelamento e modelos de zoneamento propostos.
Outro bloco de propostas constitui-se de projetos e programas especiais, os
quais implicam recursos e iniciativas específicas, em virtude das suas implicações e
alterações no uso e ocupação do solo, provocando efeitos na cidade como um todo.
Destaca-se que estas propostas devem ser somadas aos demais planos setoriais
existentes, como o Plano Diretor de Limpeza Urbana e o Plano Diretor de Transporte
Urbano. Por fim, apresenta-se um arcabouço instrumental para auxiliar na
implementação das propostas, programas e normas que compõem o documento.
A partir do Diagnóstico (volume I) e firmados os conceitos, princípios,
objetivos e diretrizes, fez-se a proposta de reordenamento do parcelamento e do uso
de ocupação do solo, visando ao redirecionamento dos vetores de expansão da
mancha urbana de Juiz de Fora.
Manteve-se a determinação do Perímetro Urbano, definindo-se novos limites
entre a Zona Urbana e a Zona de Expansão Urbana e elaborando-se o
Macrozoneamento da Área Urbana do Distrito Sede. Além disso, foram identificadas
Áreas de Diretrizes Especiais, alvos pontuais para a intervenção do Poder Público,
com os seguintes objetivos: revitalização, recuperação de áreas degradadas,
melhorias em áreas de ocupação subnormal, equilíbrio ambiental e proteção de
algumas áreas cujo porte e relevância recomendavam atenção especial, assim
expressos no Plano Diretor de 1996:
as definições para o parcelamento, uso e ocupação do solo, através da fixação de novos índices que obedecem às diretrizes maiores de adensamento e proteção ambiental, consubstanciam-se em alterações da legislação urbana em vigor, adequando-as à lei maior que será a Lei do Plano Diretor (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 1996.p.30)
131
Mapa 21: Uso e Ocupação do Solo dos Setores Urbanos. Parcelamento e Zoneamento. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora. Instituto de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996. Arte Final: Luciane Tasca
132
De acordo com a legislação vigente (Lei 6.910/86), a organização territorial
para efeito de parcelamento, uso e ocupação do solo está baseada nas Unidades
Territoriais (UT‟s)73 que consistem em subdivisões da Área Urbana (Ver Mapa 19.
Unidades Territoriais). Entendendo que estas UT‟s não atendiam satisfatoriamente
às necessidades de um adequado planejamento (tendo em vista as diferenças entre
os limites estabelecidos, a dinâmica urbana e a percepção espacial dos moradores),
o PD, 1996 propôs uma nova subdivisão da Área Urbana do Distrito-Sede, de modo
a redefinir os limites da Zona Urbana e da Zona de Expansão Urbana. Adotou-se o
conceito de Região Urbana (RU‟s)74 já instituído pela Lei Municipal 4219/89, como
essencial para o planejamento (assemelham-se aos bairros e setores censitários do
IBGE).
Assim a Zona Urbana passou a ser entendida como aquela delimitada pelas
81 RU‟s (conforme quadro 03) e pelos 8 Setores Urbanos, agrupados de acordo
com características de relativa homogeneidade de estruturação, localização e
atividades econômicas predominantes. Na aplicação desse critério, algumas áreas
tiveram um tratamento especial, na medida em que, por suas peculiaridades, não
foram incorporadas às RU‟s, merecendo, portanto, classificação diferenciada: o
Parque Municipal da Laginha, o Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora e
a Mata do Krambeck.
73 De acordo com a Lei 6.910, de 31 de maio 1986, que dispõe sobre o ordenamento do uso e ocupação do solo no Município de Juiz de Fora, o território da cidade era dividido em 16 Unidades Territoriais (UT‟s), as quais constituíam as subdivisões da Área Urbana do Distrito-Sede. Elas eram estabelecidas de acordo com as respectivas características físico-urbanísticas e sócioeconômicas peculiares. Destaca-se que, das 16 UT‟s, somente a UT I, correspondente à área Centro, foi detalhada, ficando as demais sem muita definição quanto ao zoneamento e modelos de parcelamento. 74 Em 1989, através do Decreto do Executivo 04195/1989 (que descreve as linhas divisórias das Unidades Territoriais constantes dos mapas que compõem o Anexo 3 da Lei nº 6910, de 31 de maio de 1986), foram criadas 81 Regiões Urbanas (RU‟s) caracterizadas por unidades menores e mais coesas quanto às suas características. Elas subdividiam a porção mais contínua e densamente ocupada da cidade, não abrangendo, porém, toda a extensão do perímetro urbano. Destaca-se que os limites entre as UT‟s e as RU‟s não são totalmente coincidentes, haja vista a metodologia utilizada no processo de regionalização ter partido da maior unidade UT para a menor RU.
133
Quadro 03: Regiões Urbanas.
REGIÕES URBANAS
01 Barreira do Triunfo 25 Jardim Sta. Helena 49 Vila Ideal 73 Progresso
02 Represa 26 Jardim Paineiras 50 Vila Olavo Costa 74 Centenário
03 Benfica 27 N. Sra. de Fátima 51 V. Furtado de Menezes 75 Sta. Terezinha
04 Sta. Cruz 28 São Pedro 52 Vila Ozanan 76 Eldorado
05 Nova Era 29 Cruz. de Sto. Antônio 53 Poço Rico 77 Bom Clima
06 Barbosa Lage 30 Nova Califórnia 54 Granbery 78 Vale dos Bandeirantes
07 Remonta 31 Novo Horizonte 55 CENTRO 79 Granjas Bethânea
08 Jóquei Clube 32 Aeroporto 56 Floresta 80 Grama
09 Jardim Natal 33 Salvaterra 57 Barão do Retiro 81 Cascatinha
10 Industrial 34 Sagr. Cor. De Jesus 58 Sto. Anto. do Paraibuna
11 Francisco Bernardino 35 São Geraldo 59 N. Sra. de Lourdes
12 Carlos Chagas 36 Sta. Efigênia 60 Costa Carvalho
13 Cerâmica 37 Ipiranga 61 Botanágua
14 São Dimas 38 Teixeiras 62 São Bernardo
15 Esplanada 39 Dom Bosco 63 Cesário Alvim
16 Monte Castelo 40 São Mateus 64 Vitorino Braga
17 Fábrica 41 Sta. Cecília 65 São Benedito
18 Mariano Procópio 42 Sta. Luzia 66 Grajaú
19 M. da Glória 43 Cruz. do Sul 67 Linhares
20 Sta. Catarina 44 Graminha 68 Sta. Rita de Cássia
21 Vale do Ipê 45 Mundo Novo 69 N. Sra. Aparecida
22 Borboleta 46 Alto dos Passos 70 Manoel Honório
23 M. do Imperador 47 Boa Vista 71 Bonfim
24 Jardim Glória 48 Bom Pastor 72 Bairu
Fonte: Lei Municipal 4219/89.
Quanto ao adensamento, são propostas duas categorias principais: a Zona
Não Adensável (ZNA) e a Zona Adensável (ZA), sendo esta subdividida em ZA-1,
ZA-2 e ZA-3. Além destas, a Zona Centro (ZC), destacada por sua complexidade e
níveis de adensamento heterogêneos, e as Zonas Especiais (ZE), constituídas pelas
áreas de proteção ambiental, institucionais e lazer. A cada uma destas zonas
corresponde um grau de adensamento, de acordo com suas características, a saber:
ZA-1: nesta categoria, classificam-se dois tipos de áreas. As primeiras
caracterizam-se pelas dificuldades de acesso e baixo potencial para expansão de
infraestrutura, além de indicarem necessidade do controle da ocupação,
preservando e melhorando a qualidade de vida existente. As demais, pela
estratégica localização do Município e por serem novos vetores de expansão
urbana, apesar do controlado adensamento, são favoráveis à ocupação. O
objetivo é um médio adensamento.
ZA-2: por estarem integradas à mancha urbana contínua, com boas condições de
acesso, facilidade para ampliação da infraestrutura urbana e dispondo de grande
número de lotes vazios, são áreas prioritárias para a ocupação. Propunha-se,
nesta área, maior adensamento.
134
ZA-3: caracterizadas pela ocupação mais antiga e horizontalizada, localizadas
próximas ao Setor Centro, já são áreas consolidadas. Devido à topografia
desfavorável, a intenção era conter seu adensamento.
ZNA: são áreas próximas aos limites do Perímetro Urbano e/ou próximas de
áreas de preservação ambiental. Por essa localização, condições
geomorfológicas inadequadas, dificuldade de implantação de infraestrutura, ou
pela tendência de parcelamentos para usos rurais ou de granjeamentos,
buscava-se na proposta de plano baixo adensamento nessas áreas.
ZC: corresponde ao Setor Centro, onde ocorre maior processo de adensamento
e visível dinâmica de renovação urbana. Apresenta alto grau de diversificação de
uso e ocupação do solo, estando sujeita à especulação imobiliária mais intensa.
Concentra atividades de interesse público, comércio, lazer, serviços, cultura,
recebendo, ainda, grande fluxo de pessoas do Município e região. O PD, 96
destaca esta área como passível de tratamento especial devido à sua
importância para a cidade, não incentivando maior adensamento do núcleo
central.
ZE: áreas sujeitas a regime urbanístico específico e mais restritivo. Compreendia
áreas de uso institucional, lazer ou de interesse de preservação e proteção
ambiental. Para essas últimas são definidos alguns critérios que visam à
preservação dos recursos naturais e à proteção ambiental, ecológica e
paisagística, detalhadas em item específico sobre zoneamento ambiental.
Destaca-se que todas as áreas cobertas por esse zoneamento são descritas,
delimitadas e apresentadas em mapas constantes no volume II, Proposições.
Além dessas zonas e seus respectivos potenciais de adensamento, o PD,
1996 define Áreas de Diretrizes Especiais (ADE‟s). Trata-se de segmentos do
território urbano, sobrepostos a uma ou mais zonas previstas no Macrozoneamento
e/ou no Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo, que, por condições peculiares,
estão sujeitos a um tratamento especial. Podem ser passíveis de obras de
revitalização, renovação ou alteração na estrutura física, sistema viário e
equipamentos urbanos. São também alvo de regularização fundiária, obras de
implantação de infraestrutura, redefinição de critérios de parcelamento, uso e
ocupação do solo, bem como proteção ambiental e ações em áreas de risco ou
insalubres. Dividem-se em Áreas de Especial Interesse Ambiental, Social e
Urbanístico.
135
A noção de macrozoneamento foi definida a partir do potencial de
adensamento das áreas de preservação e proteção ambiental e paisagística, não só
considerando as já existentes, mas também apontando a necessidade de criação de
novas unidades de conservação.
Salienta-se que o Plano Diretor aprovado em 2000 aborda a questão do
macrozoneamento de forma diferenciada, não entrando no âmbito do adensamento
previsto para cada área, cujo detalhe foi elencado. Existe apenas a menção às
Áreas de Especial Interesse, delimitando-as, conforme mapa abaixo, nos moldes da
proposta do plano de 96, entretanto sem uma abordagem mais profunda.
Mapa 22: Macrozoneamento. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora.
Instituto de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996. Arte Final: Luciane Tasca
137
Mapa 23: Macro Áreas Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Mapa 16.
Arte Final: Luciane Tasca
Outra diferença entre o PD, 96 e o PDDU, 2000 reside na questão da divisão
territorial: 8 Setores Urbanos passam a ser 7 Regiões de Planejamento (RP),
conforme o Mapa 24. A questão peculiar dessa mudança está na terminologia, na
familiaridade da população em relação aos nomes dos bairros, e nas características
semelhantes entre os que vieram a compor as RP‟s.
Mas, o grande déficit entre a proposta de 1996 e o plano aprovado, são as
alterações nos modelos de parcelamento do solo e no zoneamento. No primeiro elas
mereceram item especial, e simplesmente não constaram no PDDU, 2000.
Denotando o fato de que até hoje, não houve uma revisão das Leis de
Parcelamento do Solo (6.908/86), e Uso e Ocupação do Solo (6.910/86), percebe-se
claramente que as propostas não incorporadas no PDDU, 2000 permaneceram no
plano das idéias. Para os técnicos da Prefeitura que atuaram no PD, 1996, o
verdadeiro plano diretor está legado a um estado de livro de consulta.
138
Mapa 24: Regiões de Planejamento. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Mapa 16
Arte Final: Luciane Tasca
Quando, em 1996 a equipe do IPPLAN/JF deparou-se com os problemas da
cidade de Juiz de Fora, encarou a filosofia de que os modelos de parcelamento
precisavam ser alterados para acompanhar as transformações urbanas e os
139
avanços de uma cidade capitalista de porte médio. A Manchester Mineira precisava
organizar-se para receber novos investimentos e dar suporte à vida urbana com
qualidade.
Assim, o conceito que definiu os modelos de parcelamento seguiu os
parâmetros descritos pelo potencial de adensamento já definido no
Macrozoneamento. Em função da avaliação do desempenho da Lei Municipal
6.908/86 e dos novos dados obtidos com o diagnóstico físico-territorial, foram
criados novos modelos de parcelamento. Na realidade a alteração dos padrões
existentes permitiria uma otimização da infraestrutura instalada e dos investimentos
públicos agregados, respeitando a capacidade de adensamento e as peculiaridades
e vocações das diferentes Regiões Urbanas.
Dessa forma, o reconhecimento da extensa Área Urbana e a existência de
grandes vazios e inúmeros lotes vagos levaram à definição do granjeamento como
categoria de parcelamento, constituindo situação intermediária entre o urbano e o
rural. Assim, era possível conter o surgimento de novos loteamentos urbanos e
induzir a ocupação dos lotes vagos, existentes no interior da malha urbana.
Portanto, quanto a essa questão, as alterações seriam feitas no Capítulo III,
Seção II, Artigo 6º, da Lei 6.908/86, incluindo um quinto item em relação aos quatro
já existentes de zonas de Uso e Ocupação do Solo, a saber: I. Zona Residencial
(ZR); II. Zona Comercial (ZC); III. Zona Industrial (ZI); IV. Zona de Uso Múltiplo
(ZUM) e a inclusão, V. Zona de Granjeamento (ZG1, ZG2, ZG3) com baixo potencial
de adensamento.
Compatibilizando com o Macrozoneamento, são propostas as categorias de
planejamento:
1) para as Zonas Não Adensáveis e Zonas Especiais passíveis de ocupação
parcelamento com lotes entre 700 m2 e 5.000 m2 conforme caracterização da região,
excetuando-se áreas com Legislação Específica (Bacias das Represas de São
Pedro e Dr. João Penido);
2) para as Zonas Adensáveis 1 (ZA-1), lotes maiores ou iguais a 400 m2;
3) para as Zonas Adensáveis 2 e 3 (ZA-2 e ZA-3) e a Zona Centro (exceto Eixo
Paraibuna), lotes maiores ou iguais as 125 m2.
140
Mapa 25: Parcelamento do Solo. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora.
Instituto de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996.
141
Em relação à Lei Municipal 6.908/86, foram acrescidos o modelo de
parcelamento MP9 e a categoria de granjeamento, subdividida em ZG1, ZG2, ZG3,
além de se excluir o Anexo 3 e delimitar novo zoneamento.
Quadro 04: Modelos de Parcelamento 1986.
Fonte: Lei 6.908/86. Anexo 3.
142
Quadro 05: Modelos de Parcelamento I.
Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora. Instituto de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996. Quadro 08.
Quadro 06: Modelos de Parcelamento II.
Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora. Instituto de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996. Quadro 09.
143
Quadro 07: Modelos de Parcelamento III.
Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora. Instituto de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996. Quadro 10.
Conforme os quadros acima, quanto aos modelos de parcelamento adotados,
pode-se destacar que o MPI será destinado a loteamentos residenciais ou mistos
(inclusão de usos comerciais e prestação de serviços). Limita-se para este uso até o
MP6 (≥1.000m2 e ≤1.500m2), reafirmando-se o comprimento da quadra da legislação
vigente e estabelecendo taxas de ocupação entre 80% e 90%. Algumas normas são
adicionadas a esse modelo de parcelamento, cerceando a ocupação desordenada.
Assim, construções em áreas ou lotes acima do MP6 estarão sujeitas a diretrizes
fornecidas pelo órgão de planejamento e ouvida a Comissão de Uso do Solo
(COMUS).75
A grande diferença entre as propostas do PD, 1996 e a Lei 6.908/86, anexo 3,
baseia-se na determinação do padrão granjeamento para modelos de parcelamento
acima do MP5, que ficam sujeitos à aprovação pelo órgão competente municipal.
Dessa forma, torna-se possível controlar o surgimento de novos loteamentos e
atrelar maior rigor na aprovação de emprendimentos de grande porte.
75
Conforme a Lei 6.910/86 a COMUS, Comissão de Uso do Solo, é composta por 13 membros representantes dos seguintes órgãos e entidades: 1 do Instituto de Pesquisa e Planejamento. (IPPLAN/JF), 1 da Secretaria Municipal e Obras (SMO), 1 da Secretaria de Transportes (SETTRA), 1 do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DAE), 2 vereadores da Câmara Municipal, 1 do Clube de Engenharia de Juiz de Fora, 1 do Sindicato dos Engenheiros no Estado de Minas Gerais, 1 da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), 1 do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de Juiz de Fora, 1 da União Juizforana das Sociedades Pró-Melhoramentos de Bairros e Distritos, 1 da Federação das Sociedades Pró-Melhoramentos dos Bairros e Distritos de Juiz de Fora e Grupos Comunitários a ela afiliados e 1 do Sindicato Rural de Juiz de Fora.
144
Os parâmetros consideram o sistema viário, a infraestrutura e a
compatibilidade com o entorno como razões de ordem urbanística, podendo-se
exigir índices específicos, inclusive menores Modelos de Ocupação. O dispositivo
limita a 1.500 m2 o tamanho dos lotes sujeitos à aplicação direta dos parâmetros
urbanísticos, havendo, para cada caso acima desta metragem, uma apreciação
técnica específica.
Em relação ao MPII destinado a granjeamentos, estabelecem-se os seguintes
critérios: são mantidos os comprimentos de quadras dos módulos industriais (400m
a 500m), determinando que, em áreas que não sejam ZG‟s, poderão ser feitos
loteamentos especiais de interesse social, em modelos de MP1 e MP2 (≥125 m2 e
≤300 m2), a critério do Poder Público, mas somente após aprovação do órgão de
planejamento e ouvida a COMUS. A maior preocupação é garantir que essas áreas
não recebessem adensamento.
A critério do Poder Público, em granjeamentos a partir de ZG2 seriam,
inclusive, permitidos menores índices de infraestrutura. Mantendo o que dispõe o art.
9º da Lei Municipal 6.908/86, a abertura permitiria adequar os granjeamentos ao
contexto semirrural em que se inserem, desobrigando os loteadores de instalarem
infraestrutura característica de tecido urbano.
Por fim, de acordo com o quadro 10 do PD, 1996, ao Modelo de
Parcelamento III, destinado a loteamentos industriais e/ou a prestadores de serviço,
acrescentaram-se o modelo MP9 (lotes ≥5.000 m2) e comprimentos de quadra
maiores (400m e 500m).
Duas condições adicionais são impostas: 1) todo parcelamento industrial deve
ser precedido de análise ambiental e urbanística específicas, dando rigor ao
processo de concessão de diretrizes para esse tipo de parcelamento; 2) os modelos
menores que o MP6 poderão ser admitidos para pequenos distritos industriais, em
parcelamentos específicos, após aprovação do órgão competente e ouvida a
COMUS.
De acordo com o PD, 1996, este dispositivo regularia a abertura para
pequenos distritos industriais que abrigassem indústrias de pequeno porte,
disseminados pela malha urbana. Esses distritos permitiriam maior oferta de
empregos próximos às residências, reduzindo a demanda por transportes.
145
Quadro 08: Modelos de Parcelamento segundo a Proposta para Plano Diretor de Juiz de Fora, 1996
Modelo de Parcelamento I – Residencial ou Misto
Modelo Área do Lote (m2) Taxa
Impermeabilização (%) Macrozoneamento
MP1 >125 m2 90
MP 2 > 200 m2 90
MP3 >300 m2 90 ZA2, ZA3 e ZC
MP4 >400 m2 85 ZA1
MP5 >700 m2 80
ZNA ZE MP6 >1.000 m
2 80
Modelo de Parcelamento II – Granjeamento
MP5 > 700 m2 50
ZNA ZE
MP6 >1.000 m2 50
MP7 >1.500 m2 50
MP8 >3.000 m2 30
MP9* > 5.000 m2 20
Modelo de Parcelamento III – Industrial e/ou Prestador de Serviço
MP6 >1.000 m2 80
ZNA ZE
MP7 >1.500 m2 70
MP8 >3.000 m2 70
MP9* >5.000 m2 60
*Mudanças em relação à Lei de 6.910/86 Fonte: TASCA, Luciane. Juiz de Fora na década de 90: a produção do ambiente construído
urbano. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional). Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002
O que se percebe na elaboração destas propostas é que o estabelecimento
desses três tipos de parcelamento visava oferecer ao loteador a possibilidade da
opção e a garantia dos níveis desejados de adensamento. Assim, poder-se-ia evitar
não só que as Zonas Não Adensáveis recebessem parcelamentos diferentes do tipo
granjeamento, mas também que as Zonas Adensáveis 2 permanecessem
inutilizadas.
Ao contrario da Lei 6.908/86 que limitava a 8 modelos de parcelamento do
Município (Quadro 04. Modelos de Parcelamento 1986), as propostas de 1996
146
buscavam resguardar, de forma mais efetiva, a ocupação e a expansão da cidade,
contendo este processo nas áreas consideradas não propícias ao adensamento e/ou
expansão. Criando três categorias de parcelamento (Modelos de Parcelamento I, II,
III), acreditava-se possível estabelecer critérios mais específicos para os processos
especulativos de uso do solo em Juiz de Fora.
A partir do MP6 (>1.000 m2), seria avaliada a relação entre a área e a testada
do lote, procurando-se reduzir o impacto urbanístico ao entorno, causado pela
utilização total dos índices. Assim, o processo de concessão de diretrizes teria sua
importância reafirmada, o órgão de planejamento assumiria um papel de
coordenador do desenvolvimento urbano, o loteador exerceria os direitos de opção e
de proposta, sendo resguardados tanto os interesses públicos quanto os excessos
controlados.
Os Projetos de Lei versam ainda sobre diretrizes acerca do Zoneamento do
Uso e Ocupação do Solo (Lei 6.910/86, Cap. III, Seção II), alterando-se os artigos 6º,
7º, 8º e 9º, da referida Lei.76
Foram modificados modelos e índices, observando-se a caracterização das
áreas carentes do Município e estabelecendo-se os seguintes critérios: aptidão física
das áreas para efeito de ocupação; avaliação do potencial de infraestrutura existente
ou a ser instalado; avaliação da localização e da quantidade de terrenos vagos
disponíveis; consideração tanto da capacidade de investimento do Estado quanto da
vocação de cada região.
Os principais avanços, a partir da efetivação dessas propostas, segundo
seriam o zoneamento detalhado de toda a Área Urbana, considerando-se as
diversidades e potencialidades existentes. Além disso, seriam abertos novos usos
em áreas residenciais e reduzidos os coeficientes construtivos incompatíveis com a
estruturação da cidade.
76 No primeiro artigo acrescenta-se uma quinta zona de uso e ocupação do solo às quatro já
existentes (ZR_Zona Residencial, ZC_ Zona Comercial, ZI_ Zona Industrial e ZUM_ Zona de Uso Múltiplo), a ZG, Zona de Granjeamento (subdividida em 1, 2 e 3). No artigo 7º acrescenta-se às 3 Zonas Residenciais existentes (ZR1, ZR2, ZR3) a ZR4 com baixos modelos de ocupação. No artigo 8º composta por 5 Zonas Comerciais (ZC1, ZC2,ZC3,ZC4,ZC5) fica subdividida em sua ZC1, na ZC1A (sem estacionamento) e ZC1B (com estacionamento). GUEDES, José Maurício Lopes e TAVARES, Manuel Pereira. Legislação Urbana de Juiz de Fora. Atualizada e Comentada. Maio de 1997
147
Pode-se destacar que poderiam ser aplicados maiores coeficientes
construtivos em áreas que apresentassem condições para o adensamento
pretendido, induzindo também a ocupação em áreas preestabelecidas. A redução
dos modelos construtivos em vias com usos mais permissivos e com sobrecarga de
tráfego também é salientada, bem como a exigência de vagas para estacionamento
em edificações, em função do aumento do número de veículos em circulação.
Foram propostas novas categorias para zoneamento: a Zona Residencial 4
(ZR4), apropriada para áreas mais carentes, onde seriam permitidos baixos modelos
de ocupação, porém com maior abertura para usos. E a Zona Granjeamento (ZG),
subdividida em ZG1, ZG2, ZG3, legitimando uma tipologia de ocupação já
consagrada no Município e indicada para áreas de baixo potencial de adensamento
ou onde não haja interesse de expansão.
Além dos índices e parâmetros, algumas normas foram estipuladas no PD,
1996, entre as quais a determinação da subdivisão da Zona Comercial 1 em ZC1-A
(uso comercial sem estacionamento) e ZC1-B (uso comercial com estacionamento
obrigatório). Deve-se destacar que, quanto ao chamado Eixo Paraibuna, em toda a
extensão da área em zoneamento ZUM 1, a taxa de ocupação máxima seria de 50%
e a taxa de impermeabilização seria de acordo com o modelo de parcelamento
estipulado. Informamos que todas essas propostas foram bem detalhadas na
proposta do plano de 96, com tabelas e quadros explicativos, elencando-se as áreas
passíveis de alterações.
Este documento elaborado pelo IPPLAN/JF, contou com um diagnóstico
detalhado e, sobretudo, com facilidade de leitura para os usuários. Infelizmente, em
virtude do alto custo de elaboração (parte gráfica, encadernação em capa dura,
papel couché, tamanho fora do padrão – 55x35 cm) foi pouco divulgado.
Ainda hoje, ecoam, nas esferas da prefeitura municipal, polêmicas em torno
desta proposta não aprovada. O fato e que este trabalho serviu, em grande parte,
para fundamentar o PDDU, 2000, excetuando-se a parte que lhe dava vida, as
propostas para a revisão das leis urbanísticas de 1986.
Seguindo nosso percurso de entendimento da dinâmica urbana de Juiz de
Fora, a análise recai sobre dois aspectos preponderantes: as novidades do Plano
Diretor Oficial bem como as mudanças por ele geradas.
148
3.2 PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO (PDDU, 2000):
MUDANÇAS EM RELAÇÃO À PROPOSTA DE 1996
Aprovado pela Lei 9.811, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz
de Fora (PDDU, 2000) utilizou grande parte do diagnóstico realizado em 1996 pela
equipe responsável por sua versão inicial, ficando as alterações mais significativas
relativas ao ordenamento territorial.
A estrutura do plano apresenta, em sua Primeira Parte, as Proposições que
percorrem um roteiro de princípios, objetivos, instrumentos e políticas voltados para
a orientação dos agentes públicos e privados na gestão e produção da cidade.
Nesta parte, estão reunidas as análises e propostas que constituem o Plano Diretor
propriamente dito. Seguem-se os conceitos básicos que orientaram a elaboração do
plano, como a função social da cidade e a criação de condições para o
desenvolvimento com qualidade de vida.
Alem disso, conforme já mencionado, pautando-se nos estudos sobre a
evolução urbana do Município, faz-se uma análise física e socioeconômica propondo
uma nova ordenação do território. O conceito Vetores de Crescimento é apontado
como essencial para propor a criação das 12 RP‟s, áreas que, segundo o PDDU,
2000, servirão de base para a leitura da cidade, não só para efeito deste Plano, mas
também para integrar o sistema de Planejamento da Administração como um todo.
Definem-se ainda os princípios básicos do Plano Diretor, seus objetivos,
estratégias e funções sociais da propriedade, sendo seus instrumentos divididos em:
1)Instrumentos de Planejamento; 2)Instrumentos de Intervenção Urbana;
3)Instrumentos de Gestão Urbana.
Em sua Segunda Parte, o Plano contém ainda o Diagnóstico da Cidade,
atualizando-se (a partir do PD, 1996) alguns dados conforme a disponibilidade dos
mesmos. Realizado por equipes interdisciplinares, o trabalho abordou dados sobre
as características ambientais, sócio-econômicas e físico-territoriais.
Como instrumentos de gestão urbana, criam-se no PDDU, 2000 diversos
mecanismos voltados para a viabilização das proposições estabelecidas, desde os
voltados ao Planejamento, Intervenção Urbana até os de Gestão da Política de
Desenvolvimento Urbano.
149
Estão previstos, no quesito planejamento, quatro tipos de instrumentos: I)
Diretrizes Setoriais de Desenvolvimento; II) Macrozoneamento; III) Projetos Gerais
de Urbanificação; IV) Planos Locais de Urbanificação.
Constituem Diretrizes Setoriais de Desenvolvimento aquelas voltadas para o
desenvolvimento econômico, habitação, transporte e sistema viário, serviços
públicos e equipamentos urbanos comunitários, proteção e recuperação dos
patrimônios ambiental, paisagístico e cultural da cidade.
Aponta-se como diretrizes gerais referentes ao desenvolvimento econômico
aquelas ligadas à compatibilização estreita entre as medidas propugnadas no Plano
e as que serão especificadas no Plano Estratégico de Juiz de Fora (PlanoJF). Além
disso, menciona-se a compatibilização do desenvolvimento econômico com a
proteção do meio ambiente; a integração entre a cidade, as áreas rurais do
município, as outras cidades da sua zona de influência e, em geral, as demais
cidades do Estado de Minas Gerais.
Além estimular os empreendimentos absorvedores de mão-de-obra, em
especial junto aos bairros populares, almeja-se o estabelecimento e o
aperfeiçoamento de mecanismos de cooperação entre a Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF), em especial nas áreas relativas ao desenvolvimento
econômico, científico e tecnológico. Por fim, como diretriz geral, aponta-se a
necessidade de simplificar os procedimentos de licenciamento não só para favorecer
e estimular as pequenas e microempresas, mas também legalizar as atividades
econômicas informais.
No que diz respeito às diversas categorias de atividades, são propostas as
seguintes diretrizes específicas:
a) Atividades Industriais, Comerciais e de Serviços:
Descentralização das atividades econômicas, garantindo a coexistência do uso
residencial com o comércio, serviços e indústrias não poluidoras e de pequeno
porte;
Manutenção da vitalidade econômica do Centro da cidade, através do estímulo à
continuidade da concentração de atividades, e luta contras as externalidades
negativas criadas por ela;
Estímulo à criação de micropólos para indústrias selecionadas, cuja proximidade
possa trazer benefícios à produtividade e aproveitamento de serviços comuns;
b) Atividades Agrícolas:
150
Apoio à atividade agrícola não só nas áreas rurais, mas também nas áreas
intermediárias, caracterizadas como áreas de granjeamento;
Melhoria no sistema de abastecimento e a relação produtor consumidor;
Apoio às cooperativas;
Estímulo às hortas comunitárias, à fruticultura e à agroindústria de laticínios
c) Turismo e Lazer:
Promoção dos bens culturais e naturais da cidade como atrativos ao turismo,
através da melhoria da infraestrutura de atendimento e serviço aos turistas,
inclusive com a instalação de equipamentos, sinalização e mobiliário adequados;
Implantação e geração de unidades municipais de conservação ambiental em
condições de receber o turismo ecológico;
Co-participação da iniciativa privada, podendo ser implementada através de
operações interligadas;
Garantia de reserva de área pública de lazer nos Planos Locais de Urbanificação.
Dentro do âmbito das diretrizes econômicas, através de palestras e
seminários expositivos, com grande estímulo e participação dos setores produtores,
comerciais e de prestação de serviços, todas as iniciativas foram tomadas para a
efetivação das propostas elencadas. Percebe-se que, quando as questões urbanas
cabem ao setor econômico, apresentam-se soluções e iniciativas rápidas para que o
desenvolvimento municipal não seja prejudicado.
No plano de diretrizes gerais, foram propostos planos de habitação
assegurando a todo cidadão o direito à moradia, cabendo ao Poder Público revisar a
legislação urbanística e edilícia, alterar os padrões de parcelamento e edificação nas
áreas indicadas para tal, de forma a ampliar o acesso ao mercado formal de
habitação. Além disso, o Município assumiu o compromisso de inserir favelas e
loteamentos irregulares no planejamento da cidade, tornando-os bairros e
estabelecendo programas de assentamento para a população de baixa renda,
promovendo ainda sua regularização fundiária.
Encarregada de gerir todo esse processo, EMCASA, empresa mista que
cadastra famílias e promove a construção de casas e conjuntos habitacionais para
população de baixa renda, regulariza a questão fundiária, obtendo algum êxito nos
antigos loteamentos irregulares. Um exemplo de destaque é a Procuradoria do
151
Patrimônio Municipal, com equipe de juristas e advogados empenhados na
resolução dos casos mais complicados.
Outro importante aspecto do Plano é a criação das Áreas de Especial
Interesse Social, através dos Planos Locais de Urbanificação, contando com
pertinentes mecanismos para aplicação dos Instrumentos de Intervenção Urbana.
Para a relocação de pessoas removidas de área de risco, áreas não edificantes e
outras de interesse público, prioriza-se a oferta de lotes urbanizados e a posterior
construção de moradias de baixo custo. Quanto às iniciativas da PJF, na prática, os
entraves econômicos e a especulação fundiária determinam a oferta de habitações
para uma faixa de mercado restrita às famílias com renda acima de três salários
mínimos.
Como a situação das vias de Juiz de Fora é caótica, as diretrizes relativas ao
transporte e ao sistema viário são as mais polêmicas. Em virtude das ruas estreitas
e sem possibilidade de rápido escoamento, o vertiginoso aumento de veículos gera
constantes congestionamentos. O PDDU, 2000 estabelece a necessidade da revisão
dos Projetos de Alinhamento das ruas e das rodovias, criando novos modelos e
incorporando-os aos novos projetos de parcelamento. No entorno dos centros de
comércio e serviços, destaca-se que o planejamento urbano municipal deverá
estimular a criação e a consolidação de estacionamentos para veículos, integrados
com o sistema de transporte coletivo.
Deve-se lembrar que, atualmente, na estrutura da prefeitura municipal, não há
uma secretaria de planejamento urbano, disseminando-se estes quesitos entre duas
secretarias: a de trânsito e transporte, e a de planejamento e desenvolvimento
econômico. Mais uma vez, as propostas e diretrizes ficam bem escritas no
documento formal do Plano Diretor, sem, contudo, concretizar-se.
Quanto ao transporte público, fica estabelecido que os objetivos de
adequação da oferta às demandas atuais deverão ser perseguidos, procurando
compatibilizá-los com as propostas de uso e ocupação do solo, entretanto, posterga-
se: estímulo ao uso do transporte coletivo em detrimento do individual; orientação
dos investimentos públicos e privados; integração dos vários modos de transporte
num sistema único; criação ou melhoramento de terminais rodoviários. Por fim, o
item mais discutido na questão transporte urbano: o estudo da viabilidade de
implantação de um sistema de transporte público de alta capacidade, quer seja o
metrô de superfície, quer seja o transporte urbano troncalizado.
152
Nas campanhas políticas e na própria gestão atual, a mídia tem divulgado a
intenção da construção de terminais, viadutos e até linhas para Veículos Leves
sobre Trilhos, o chamado VLT. Apesar de provocar amplas discussões e
especulações não se percebe nenhum movimento buscando solucionar o problema.
Buscando desafogar o trânsito, na área central, e direcionar o fluxo para os bairros e
para as saídas da cidade, via BR-040, MG-353 e BR-267, a gestão atual (prefeito
Custodio Matos, PSDB) tem dado mostras de priorizar as ações na infraestrutura
viária. Pelo menos, fala-se de projetos de viadutos, transposição de linha férrea e
passagens de nível.
Constam ainda, no PDDU, 2000, algumas diretrizes referentes aos serviços
públicos e aos equipamentos urbanos e comunitários: iluminação pública,
comunicação e distribuição de energia elétrica, saneamento ambiental
(abastecimento de água, coleta, tratamento e disposição de esgotos sanitários),
limpeza urbana, drenagem, além de equipamentos de educação, saúde, segurança
pública, cultura e assistência social.
Novamente em caráter de postergação, destaca-se que, no âmbito das
diretrizes relativas aos serviços públicos, nos Planos Locais de Urbanificação (PLU),
deverão ser reservadas áreas suficientes para a instalação dos equipamentos
necessários ao sistema de abastecimento de água e de esgotos sanitários. Quanto
aos equipamentos de educação e segurança pública, os mesmos PLU‟s devem
reservar área suficiente para o estabelecimento dos equipamentos em pauta e
prever os instrumentos necessários para essa reserva.
Por fim, as diretrizes referentes ao desenvolvimento, proteção e recuperação
dos patrimônios ambiental, paisagístico e cultural da cidade, apontam para a
necessidade de proteger ou recuperar os elementos desses três gêneros de
patrimônio intangível de Juiz de Fora.
Como resultado das diretrizes estabelecidas pelo Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano, o ordenamento territorial sofreu algumas mudanças,
sendo que o perímetro urbano do Distrito-Sede, já delimitado pela Lei 6.910/86,
embora considerado grande em relação à área efetivamente urbanizada, foi
mantido, levando-se em conta que “apesar do baixo índice de urbanização em
grande parte de sua área, a sua ocupação poderá ser melhor controlada estando
dentro do âmbito deste Plano”. Consta ainda que “os limites das Áreas Urbanas nos
Distritos, os chamados Núcleos Urbanos, também definidos pela Lei 6.910/86
153
poderão ser revistos em função da sua necessidade de atendimento ao crescimento
da população” (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2004.p.27)
Tanto as UT‟s, que dividiam a área urbana do Distrito-Sede, quanto as RU‟s,
foram abolidas, dando lugar às RP‟s (Regiões de Planejamento) 77 e às UP‟s
(Unidades de Planejamento)78, as quais passam a compor os diferentes níveis de
ordenação territorial, abrangendo toda a área do perímetro urbano.
Baseando-se nesses aspectos, foram identificados os principais vetores de
crescimento e determinantes das 12 Regiões de Planejamento que passaram a
constituir a principal base territorial para o planejamento da cidade.(Ver Mapa 24.
Regiões de Planejamento)
Comparando-se os mapas abaixo, das RP‟s (PDDU, 2000) e das Unidades
Territoriais estabelecidas pela Lei 6.910/86, podemos ver que o primeiro apresenta
maior detalhamento interno da área urbana, e o segundo mostra-se mais
abrangente, agregando as áreas de expansão urbana.
Mapa 26 e 27: Comparação Regiões de Planejamento (PDDU, 2000) e Unidades Territoriais (Lei 6.910/86).
Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Regiões de Planejamento. Mapa 16. E também a Lei 6.910/86. Lei de Uso e Ocupação do Solo. Anexo 3. Mapa 02. Unidades Territoriais.
Arte Final: Luciane Tasca
77
Foram definidas, no PDDU, 2000, 12 Regiões de Planejamento (RP‟s) a partir de uma análise da mancha urbana que levou em consideração não apenas as direções e sentidos historicamente determinados, mas também os vetores atuais (em 2000) e aqueles que foram considerados relevantes como atuantes no futuro. 78
Agrupamentos de bairros com características semelhantes.
154
Inicialmente, as RP‟s foram concebidas como agregações de Regiões
Urbanas, que é o conceito de unidade espacial atualmente em uso. Entretanto, o
PDDU, 2000, tomou como unidade territorial básica o bairro, tal como as
comunidades o reconhecem, corrigindo seus limites, quando necessário, para fazê-
los corresponder a unidades censitárias existentes (setores de séries históricas
baseadas nos dados do censo).79
Dessa forma, foram adotados 111 bairros,80 sendo que para dar conta das
diferenças locais expressivas e incorporar áreas que as antigas RU‟s não
abrangiam, algumas foram subdivididas.
Evidentemente, no interior de cada RP, existem áreas de distintas
conformações topográficas e configurações quanto ao tipo e densidade da
ocupação, facilidades de infraestrutura, traçado de lotes e até características
arquitetônicas das construções. Por essa razão, cada RP foi considerada como
sendo composta de um número variável de UP‟s, definidas por uma condição de
homogeneidade relativa das tipologias referidas.
Outra relevante mudança da proposta de Plano Diretor de 1996 para o Plano
aprovado em 2000 (conforme discutido no item 3.1.1) foi a retirada dos Projetos de
Lei do Parcelamento e Uso e Ocupação do Solo e os relativos à Proteção dos
Mananciais São Pedro e Espírito Santo, havendo apenas a menção da necessidade
da revisão da referida legislação vital para o ordenamento de Juiz de Fora.
No documento final, o que foi estabelecido limitou-se à caracterização das 12
Regiões de Planejamento, abordando questões relativas à estruturação espacial,
atividades econômicas presentes, infraestrutura disponível, condições sociais e
ambientais da região. Quanto à definição de uso e ocupação do solo, há apenas
uma descrição dos tipos de ocupação já existentes, apontando-se a vocação de
cada área.
Destaca-se que, como ordenamento territorial adotado para aprovação de
projetos, continuam sendo utilizadas as antigas Unidades Territoriais da Lei de 1986,
e o zoneamento constante na mesma lei, demonstrando-se que as definições do
79
Apesar de conceber a dificuldade de retalhar a cidade como loteamento ou rua individual, o Plano
preconiza que o bairro é a unidade territorial que o habitante da cidade tem mais facilidade de reconhecer. Dessa forma, adotou-se que, embora se estenda para além do limite do bairro, é reconhecido como tal pelo morador e pela sociedade em geral. 41
Correspondem, em grande parte, às 81RU‟s. Ver Quadro 03: Regiões Urbanas conforme Lei Municipal 4219/89.
155
PDDU, 2000 ficam na teoria, sem a real aplicação no ambiente da cidade. O que fica
patente é a inocuidade do Plano Diretor de Juiz de Fora: sem aplicabilidade como lei
urbana, além de não ter alterado as diretrizes já apresentadas na proposta de 1996.
Na realidade, as mudanças na terminologia das regiões da cidade bem como
sua delimitação não resultaram em mudanças substanciais para a realidade urbana,
e para o dia-a-dia do cidadão, que nem sequer sabe da existência desses novos
nomes. Entre as mais importantes referências, o que vale para o cotidiano da
população é, além do nome do seu bairro e de outras áreas referenciais, o centro.
A intenção de validar o PDDU, 2000 para a sociedade, ainda que sem
aplicabilidade prática, aparece em algumas de suas páginas de abertura, onde se
afirma que:
alguns instrumentos criados neste Plano visam exatamente dotar o Poder Público de meios legais para possibilitar as transformações necessárias à manutenção da dinâmica da cidade. Isto permitirá que os agentes produtivos em seus mais diversos níveis trabalhem na construção da cidade, cabendo ao Poder Público o direcionamento e a condução desse processo em nome do bem-estar comum (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2004.p.17)
Entretanto, a legalidade do Plano Diretor pode ser questionada, na medida
em que não há nenhuma determinação de parâmetros urbanísticos a serem
aplicados, além do macrozoneamento da cidade, o qual determina apenas as áreas
urbanizadas e seu potencial de ocupação e adensamento.
Em relação ao Macrozoneamento, menciona-se, que o mesmo se refere ao
grau de conveniência ou inconveniência que se considera adequado para estimular
a ocupação e urbanificação81 das áreas já urbanizadas numa cidade, bem como
daquelas passíveis de urbanização. Os critérios utilizados para fixar estes graus
levam em conta, basicamente, aspectos referentes ao meio ambiente, direta ou
indiretamente. Entre os primeiros estão os aspectos geológicos, topográficos e
pedológicos, além da existência de locais que exigem conservação por alguma
razão específica (área de mananciais, de preservação da vida silvestre, entre outras.
81
O termo urbanificação é utilizado pelo campo do Direito Urbanístico, significando a correção da urbanização (processo natural do crescimento das cidades). É um procedimento de gestão urbana de modo a eliminar as distorções e desequilíbrios causados pela expansão industrial nas cidades, transformando as cidades em áreas urbanizadas através de planificações.
156
Conforme Oliveira (2006) considerou-se assim, a divisão da Área Urbana do
Distrito Sede (Juiz de Fora) em quatro macroáreas82, sendo complementadas pela
indicação de três tipos de Áreas de Especial Interesse (AEI), sujeitas a regime
urbanístico especial, independente das restrições estabelecidas na área em que
estejam inseridas. Podem ser de caráter Ambiental (AEIA)83, Social (AEIS)84 e
Urbanístico ou Paisagístico (AEIU). Todas estão devidamente delimitadas no PD,
1996 e no plano de 2000, conforme os quadros e mapas já apresentados.
No âmbito dos Instrumentos de Planejamento estão os Projetos Gerais de
Urbanificação (PGU), cujos efeitos se irradiam por toda a cidade ou em uma área
substancial. Os PGU‟s objetivam a reordenação do espaço urbano através de
projetos Urbanísticos ou Viários (estruturais e locais). São PGU‟s Urbanísticos: o
Projeto Área Central, o Projeto Eixo Paraibuna, o Parque Linear da Remonta e o
Parque São Pedro. Já as Interbairros, Remonta, Coletora da BR-040 e
Estruturadora da Cidade Alta (Via São Pedro) e a Duplicação da Avenida Brasil são
projetos de caráter Viário Estrutural. Deve-se esclarecer que estes projetos serão
foco de análise em item posterior.
Finalizando, constam, no PDDU, 2000, os Planos Locais de Urbanificação
(PLU‟s), instrumentos de planejamento a serem detalhados posteriormente,
determinando as diretrizes de parcelamento e de uso e ocupação. Deverão levar em
conta os dados e análises feitos para cada RP e as configurações específicas dos
bairros que compõem cada UP, além do cruzamento dessas informações com as
fornecidas pelo Macrozoneamento.
Trata-se de um ponto bastante conflitante, uma vez que, conforme já se
discutiu, não ocorreu a incorporação da legislação de uso e ocupação do solo e de
82
Em relação ao Instrumento de Planejamento, o Macrozoneamento de Juiz de Fora considera quatro tipos de macro-áreas: 1) áreas urbanizadas: são as que se encontram atualmente ocupadas, de maneira formal ou informal, ou apenas loteadas/arruadas, mesmo que subocupadas ou sem ocupação efetiva, ou ainda onde haja projeto de loteamento aprovado; 2) áreas de consolidação da urbanização: são os vazios urbanos no entorno imediato das áreas urbanizadas, tidos como favoráveis à ocupação urbana; 3) áreas urbanizáveis de adensamento restrito: são outras áreas não urbanizadas que, tendo ou não características ambientais favoráveis ao adensamento, extrapolem as prioridades de espaço urbanizado definidas pelo Plano Diretor no horizonte de planejamento (2010); 4) área de ocupação restrita: são áreas tipicamente desfavoráveis à ocupação urbana, do ponto de vista ambiental e de aptidão física, que deverão ser mantidas no seu estágio atual de ocupação no horizonte do projeto. OLIVEIRA, Miriam Monteiro. Plano estratégico e diretor de Juiz de Fora: modelos contraditórios ou complementares. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2006. Dissertação de Mestrado 83
AEIA é a área de estudo para avaliação, delimitação e classificação futura como Unidade de Conservação Ambiental (UCA). 84
AEIS é a área de ocupação com loteamentos
157
parcelamento, não havendo, portanto, nenhuma especificação de como aplicar as
diretrizes expostas. Diferente disso, a proposta para o plano diretor de 1996 continha
uma série de diretrizes e parâmetros urbanísticos a serem alterados na cidade,
propondo ações importantes no campo do uso e ocupação do solo e do
parcelamento (revisão das leis de 1986, 6.908 e 6.910).
Para melhor visualizar os efeitos do Plano Diretor sobre o espaço urbano
analisaremos os projetos já constantes na proposta de 1996 e os aprovados em
2000.
3.2.1 Projetos da Proposta para o Plano Diretor (PD, 1996) e do Plano Diretor
de Desenvolvimento Urbano (PDDU, 2000)
O Capítulo 3, do Volume II, Proposições, do PD, 1996, descreve um conjunto
de projetos e programas que deveriam ser implementados paralelamente às normas
contidas da proposta de ordenamento do solo. Alguns desses projetos destacam-se
por suas dimensões e características, como é o caso dos projetos Área Central, Eixo
Paraibuna, Parque Linear, e Parques Urbanos, Via Interbairros e Via Remonta.
Neles está contida boa parte da intenção explícita da proposta de reordenar o
espaço urbano, propiciando melhor articulação entre os seus segmentos,
estimulando a compactação da mancha urbana e promovendo a criação de áreas
públicas destinadas à recomposição da paisagem urbana e aos usos de recreação e
lazer ativo.
Os demais projetos referiam-se à melhoria, recuperação e preservação da
qualidade do espaço (Programa Integrado de Saneamento Ambiental e Programa de
Recuperação e Expansão de Áreas Florestadas Urbanas), além da
complementaridade da estrutura interna da mancha urbana (Reestruturação Urbana
de Vias Localizadas e Reestruturação e Valorização dos Bairros).
No contexto da estrutura do sistema viário do Município, a partir da
implantação das vias propostas e da articulação destas com as existentes,
pretendia-se, no PD, 1996, promover uma malha viária mais racional, reduzindo as
concentrações de tráfego e o tempo de deslocamento da população. Além disso, o
sistema deveria promover a preservação da função interregional da BR-040 e a
função urbana da MG-353 (Av. Juiz de Fora), no Bairro Grama. O alcance desses
objetivos fundamentavam as propostas das Vias Interbairros, Coletora da BR-040 e
158
Remonta, sendo que esta última deveria integrar um futuro anel rodoviário, pela
composição com a BR-267, nas proximidades do Bairro Floresta.
Partindo do mesmo princípio de programas e projetos, fazendo apenas
algumas diferenciações nominais e de porte, o Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano, aprovado em 2000, utilizou praticamente os mesmos projetos da proposta
de 1996: Área Central, Eixo Paraibuna, Via Interbairros, Via Remonta,
Reestruturação Urbana de Vias Localizadas, Reestruturação e Valorização dos
Bairros.
A diferença ocorreu nos projetos antes chamados de Parque Linear e
Parques Urbanos de Benfica e Barbosa Lage. Contribuindo para suprir a carência de
áreas públicas destinadas ao lazer, estes foram transformados num conjunto de
propostas para o reordenamento urbano associado ao Projeto Eixo Paraibuna,
recebendo o nome de Projeto Parque Linear da Remonta. Além disso, estipularam
determinações visando ao ordenamento do crescimento da Região de Planejamento
São Pedro, denominado Projeto Parque São Pedro.
Considerados relevantes para o crescimento e a circulação na cidade, alguns
Projetos que não faziam parte do PD, 1996 passaram a constar no PDDU, 2000: o
Projeto da Via Coletora da BR-040, o da Duplicação da Avenida Brasil e o da Via
São Pedro. Todos oriundos de uma política de abertura e ligação de Juiz de Fora
tanto com as cidades por ela polarizadas quanto com os grandes centros urbanos do
Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e interior de Minas Gerais.
Como se pode ver buscam-se ações voltadas para o melhor escoamento de
mercadorias e ao acesso à cidade. As áreas cobertas por esses projetos passaram
por um significativo crescimento e ocupação, desde o início das obras, fato que
poderia não ter acontecido se os projetos para revisão da legislação de 1986
(6.980/86 e 6.6910/86) tivessem sido incorporados no PDDU, 2000. Aplicando
modelos de parcelamento e uso do solo e restringindo a ocupação dessas áreas, os
projetos, sobretudo da Via São Pedro, impediriam um adensamento maior do já
existente.
O Programa Integrado de Saneamento Ambiental e o Programa de
Recuperação e Expansão de Áreas Florestadas Urbanas estão presentes tanto na
versão de 1996 quanto na de 2000. Fazem parte de intervenções para a melhoria da
qualidade de vida e do aumento da disponibilidade de espaços verdes nas áreas
urbanizadas, preservando os já existentes.
159
O Programa de Proteção, Preservação e Promoção Cultural (item 3.10, do
PD, 1996) não aparece no PDDU, 2000. No capítulo 4, da sessão diagnóstico, deste
último, mencionam-se apenas os bens culturais de Juiz de Fora, apresentando em
termos históricos, sua ocupação e distribuição espacial. Elencam-se, ainda, as áreas
urbanísticas e os elementos arquitetônicos que fazem parte do patrimônio cultural da
cidade.
Destaca-se que os projetos e programas apresentados no PDDU, 2000
procuram demonstrar a concepção das ações, muitas vezes apresentando até um
traçado básico, sendo que a viabilização final é apontada como uma etapa que
dependerá de levantamentos mais detalhados e de projetos executivos.
Os projetos abaixo estão apresentados apontando-se sua versão em 1996 e
como ele se configurou no PDDU, 2000. É abordada, ainda, a aplicação dos
mesmos no ambiente urbano de Juiz de Fora, analisando-se suas implicações para
o projeto de desenvolvimento do Município.
Projeto de Revitalização da Área Central
Objeto de um Programa Especial, certamente em função da sua importância
econômica, histórico-cultural, social e urbanística, a Área Central exerceu seu papel
de congregação e atração da população às múltiplas atividades e serviços
oferecidos. Aparece com destaque tanto na proposta de plano diretor em 1996
quanto no plano aprovado em 2000.
Menciona-se no PD, 1996 e no PDDU, 2000, a existência de ameaças a
vitalidade da área central, em parte, pela tendência de implantação de shopping
centers e outros grandes equipamentos (já foram implantados o Hipermercado
Carrefour, o Shopping Independência, e outros shoppings menores) além dos
avanços tecnológicos na área de informatização, como é o caso do setor financeiro.
Outro aspecto salientado é o conflito crescente entre o tráfego veicular e o trânsito
de pedestres, que demonstram claramente a saturação da Área Central,
estimulando a procura de novas alternativas para o trânsito e o transporte. Destaca-
se ainda o grande significado cultural com um acervo de relevante valor histórico
para Juiz de Fora.
Conforme o mapa abaixo, em função da extensão da área de abrangência do
projeto e das características e necessidades específicas encontradas em diferentes
160
trechos, foram criados, no PDDU, 2000, três setores, cada um exigindo diferentes
tipos de intervenção.
Mapa 28: Revitalização da Área Central.
161
Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Intervenções Propostas. Mapa19.
O Setor 1, denominado triângulo menor, onde estão concentradas as
principais atividades, caracteriza-se por maior verticalização nas construções, tendo
sido atendido, no decorrer dos anos, por ações pontuais, sem uma visão global do
problema. Esta área (e seu entorno), que faz parte da UT 1, segundo a Lei 6.910/86,
foi a única contemplada por zoneamento do uso detalhado, conforme mapa já
apresentado neste capítulo.85
Para inverter esse quadro, foi proposto
um trabalho de desenho urbano com o tratamento dos espaços públicos no sentido da valorização das pessoas e sua convivência e atendendo a quesitos como: adequação, padronização e reorganização do mobiliário urbano; redimensionamento das áreas de circulação e desenho dos pisos; normatização da publicidade e letreiros; adequação de espaços para manifestações artísticas e culturais; valorização do patrimônio histórico arquitetônico e urbanístico (PREFEITURA DE JUIZ DE FOR A, 2004.p.102)
Algumas ações foram concretizadas: criação dos Calçadões das ruas São
João e Marechal Deodoro (ainda incompleta); mudança das luminárias do Calçadão
da Rua Halfeld (alvo de críticas devido à qualidade estética e à falta de referência
para a cidade); revitalização da iluminação do Parque Halfeld; revitalização do Cine
Theatro Central. Contando com campanhas de valorização da cultura, existem ainda
os projetos já executados da revitalização da Praça da Estação (Praça Dr. João
Penido) e da Praça Antônio Carlos, ambas de relevante valor histórico para a
cidade.
O conceito de revitalização e reestruturação da área Central aparece com
destaque no PDDU, 2000, ressaltando-se que a maioria desses projetos ofereceu, e
continua a oferecer, o que preferimos chamar de readequação estética, visando o
turismo de negócios e o grande fluxo de estudantes presentes na cidade. Além
disso, deve ser destacado o foco de atividades voltado para a prestação de serviços,
dando suporte aos aspectos acima mencionados.
85
Ilustração 06: Zoneamento Unidade Territorial. Lei 6.910/86. Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo no Município de Juiz de Fora. Anexo 4. Reconstituição do original.
162
No Setor 2, que compreende o trecho entre as Avenidas Getúlio Vargas e
Francisco Bernardino, conhecida como parte baixa, as intervenções buscam sua
revitalização pelo fato de a área apresentar sinais de estagnação. Apesar da
localização central, esta parte do centro não apresentou evolução ou requalificação
de espaços, permanecendo com o caráter (historicamente adquirido) de parte baixa.
Caracteriza-se por antigas edificações neoclássicas e ecléticas, bares, pequenas
lojas, oficinas e padarias, os quais foram expoentes nos áureos tempos da
Manchester Mineira, tempos em que o desembarque na Praça da Estação
(localizada no final do eixo parte alta e parte baixa) trazia grande movimento à
cidade.
No plano de 2000, para atender ao público de padrão popular, que por ali
circula diariamente, deslocando-se do centro para os pontos de ônibus que dão
acesso aos bairros da zona norte, foram propostas medidas de restauração e
reciclagem das edificações para usos comerciais. Até hoje, só se concretizaram
duas obras: a projeção e o início das obras da Praça dos Três Poderes, projeto que
busca a ligação da parte baixa da cidade com a parte alta; a revitalização da Praça
da Estação, com troca de piso e mobiliário urbano e alteração de vias.
O Setor 3, caracterizado por grandes áreas confinadas entre a linha férrea e o
rio Paraibuna, corresponde ao trecho 2 do projeto Eixo do Paraibuna (a ser descrito
mais adiante). As medidas preconizadas para a área estão estabelecidas neste
outro projeto.
Deve-se ressaltar que as ações voltadas apresentam-se esparsas, não
seguindo uma metodologia coerente. A idéia de revitalização (dar nova vida) acabou
virando apelo para campanhas políticas e para incrementar o comércio na área,
favorecendo interesses econômicos.
Paralelamente a isso, persistem os problemas, como a excessiva
concentração de atividades, o intenso fluxo de veículos e a passagem da linha
férrea, que provoca interrupção do trânsito em vários momentos do dia.
Os avanços precisam ser ressaltados em relação à preservação do
patrimônio histórico (como o Cine Theatro Central e as ruas-galeria) e aos processos
de tombamento de alguns imóveis.
Apesar da recente construção de um shopping na saída da cidade, sentido
Sul, a vivacidade do Centro, com seu movimento diário de lazer, negócios, trabalho
163
e comércio, não diminuiu de intensidade, continuando a representar o coração da
cidade.
Projeto Eixo Paraibuna
Embora o vale do Rio Paraibuna cumpra o papel de estruturador original da
ocupação urbana, consagrada com a implantação histórica do Caminho Novo e com
a rede rodo-ferroviária que o acompanha, iniciou-se um processo de esvaziamento
da ocupação e de desintegração de sua linearidade. Isso aconteceu após as
implantações dos distritos industriais e da BR-040. A ocupação remanescente não
condiz com seu significado físico, urbano e sócioeconômico, relegando este
segmento a uma via de ligação e ao escoamento sanitário. Fato comum na nossa
história, demos às costas ao Rio Paraibuna e a todo seu potencial de utilização.
O Projeto Eixo Paraibuna mostra a intenção de recuperar o significado do rio,
estabelecendo diretrizes orientadoras das ocupações futuras, que farão de seu vale
o complemento natural do pólo central, resgatando sua estrutura articuladora do
desenvolvimento da cidade.
O PDDU, 2000 menciona que várias providências deveriam ser tomadas em
sincronia com a implantação gradual da proposta. O que se vê é que pouco foi feito,
não passando da elaboração dos projetos e implantação de ações pontuais, como
ajardinamento e revitalização de trechos mais centrais do seu leito.
A primeira etapa apontada deveria começar com a recuperação da qualidade
das águas do Rio, mediante a implantação das metas definidas pelo CEIVAP86 e
pelo Plano Diretor de Esgotamento Sanitário (1986) ou de novas diretrizes e
alternativas, somadas à recomposição e tratamento paisagístico das margens.
Quanto à recuperação da qualidade das águas, o projeto não chegou a se
implementado, ficando as atividades paralisadas com a mudança do governo.87
Alegando irregularidades no processo, a atual gestão (Custódio Mattos) cancelou o
processo de licitação para o projeto de despoluição do rio, adiando mais uma vez a
recuperação do Paraibuna.
86
Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. 87
Algumas medidas começaram a ser implantadas através do Programa “Paraibuna Te Quero Vivo”, que pretendia desenvolver ações no sentido da despoluição do rio e da urbanização das suas margens. Ações pouco significativas foram realizadas, e as obras de dragagem e despoluição estão paralisadas.
164
A segunda etapa mencionada tem relação com a desejável integração do
Projeto com os outros a ele vinculados, como o Parque Linear e a Via Remonta e,
fundamentalmente, com as intervenções a serem realizadas na Área Central. Outro
elemento a ser considerado refere-se à Mata do Krambeck, cuja conformação e
posição estratégica exigem sua preservação e valorização na inserção urbana.
Atualmente, Universidade Federal de Juiz de Fora tem projeto para criação de um
Jardim Botânico na reserva, possibilitando a preservação de suas espécies.
Seguem-se ainda outras diretrizes básicas que deverão ser obedecidas como
termos de referência na concepção dos projetos a serem implantados:
reformulação do sistema viário longitudinal e das transposições da ferrovia e do
Rio, de acordo com o Plano Diretor de Transportes Urbanos (PDTU);
promoção de usos múltiplos nas faixas “aedificandi”, além aplicação de
instrumentos de intervenção urbana que favoreçam a renovação urbana, tais
como as Operações Interligadas e a Transferência do Direito de Construir (esses
instrumentos já estavam previstos no PD, 1996, mas não chegaram a ser
aplicados em 2000).
Os modelos construtivos propostos deverão permitir a transparência visual
dos atributos do rio através de baixas taxas de ocupação e estímulo à edificação
verticalizada.88 Outro dado importante, conforme já mencionado, é que os
88
Os estudos realizados, já no PD 1996, sobre o Eixo do Rio Paraibuna, demonstraram a existência de trechos diferenciados, sendo destacados, de sudeste para noroeste, seus distintos aspectos. As recomendações sobre o ordenamento do solo nesta área constam tanto no PD, 1996 (de forma mais detalhada) quanto no PDDU, 2000 (de forma mais resumida): - Trecho 1 - Poço Rico / Rua Halfeld: região caracterizada pela convivência de usos habitacional, prestação de serviços e existência de áreas institucionais (Campo da RFFSA e Clube Tupinambás), ao longo da Av. Brasil. Recomendava-se um Tipo de Ocupação que permitisse maior adensamento e volumetria, bem como incentivo à associação natural de usos. - Trecho 2 - Rua Halfeld / Praça Agassis: certamente, esta é a mais valorizada área do Eixo, considerada extensão física natural do Centro. Constitui-se de trecho estratégico para fins de renovação urbana. Aponta-se que o seu potencial de adensamento deve ser estudado com cautela, pois pretende-se obter uma paisagem urbana distinta da densa massa presente na Área Central. Para garantir a preservação das condições de ventilação, iluminação e permeabilidade, recomenda-se a utilização de baixas taxas de ocupação e estímulo à edificação verticalizada. - Trecho 3 - Praça Agassis / Corredor da Av. Rui Barbosa: área de influência do complexo arquitetônico-paisagístico do Museu Mariano Procópio. Sua ocupação é antiga, horizontal e, embora mista, predominantemente habitacional. O PDDU aponta que se deve procurar manter os aspectos territoriais e volumétricos existentes nesse trecho. - Trecho 4 - Corredor da Av. Rui Barbosa/ Corredor da Rua Tereza Cristina: este pequeno trecho apresenta ocupação essencialmente habitacional. Porém, destaca-se que o trecho deve ser objeto de estudo diferenciado que viabilize as intervenções viárias previstas. - Trecho 5 - Corredor da Rua Tereza Cristina / Rodoviária: configura-se uma área de transição do contexto de bairro para o conjunto de grandes equipamentos comerciais, horizontalizados, numa região estratégica em relação ao sistema viário, com possibilidade de verticalização. Menciona-se a necessidade de se implantar um tipo de ocupação que permita a expansão de sua vocação industrial.
165
parcelamentos no Eixo Paraibuna terão modelos diferenciados para cada trecho,
variando do MP4 ao MP6 (≥400m2 e ≤1.500m2), com zoneamento de uso múltiplo.
Na realidade, sua grande questão é a participação no projeto de estruturação
viária (o chamado binário da Avenida Brasil e a criação do transporte troncalizado),
financiado pelo BNDES, e no projeto JF Bairros, de reurbanização de favelas com
recursos do Habitar Brasil. De acordo com as propostas, o eixo do Rio Paraibuna
serviria de ligação da cidade com a zona Norte, através da implementação da Via
Remonta e do Terminal Rodoviário de Benfica, promovendo a integração (pelo
menos viária) com o restante da cidade.
Este último programa foi levado adiante, até a 2ª gestão do Prefeito Tarcísio
Delgado (1997), entretanto, com o prefeito sucessor Alberto Bejani (2000), os
recursos não estavam mais disponíveis, e as ações foram de pouca
expressividade.89
Parque Linear da Remonta
Localizado na margem esquerda do rio Paraibuna, no trecho compreendido
entre Benfica e Barbosa Lage, o complexo do Parque Linear se desenvolveria numa
área “non aedificandi”, de largura variável dentro de uma faixa de até 120 m.
- Trecho 6 - Rodoviária / Trevo do Rotary: situada em frente à Mata do Krambeck, sua ocupação é caracterizada pela convivência de grandes equipamentos comerciais e residências, em lotes e prédios pequenos. O PDDU, 2000 aponta essa região como propícia ao adensamento e à verticalização. - Trecho 7 - Trevo Rotary / Benfica: último trecho da várzea, com ocupação predominantemente habitacional, ao lado de extensas áreas institucionais (IMBEL, 4º GAC, Colégio Militar). Situa-se em frente ao grande vazio urbano, na margem esquerda do Rio, que ensejou a proposição de um Parque Linear. Neste trecho indica-se uma ocupação mista 89
O site da PJF, em 3 de junho de 2005, noticiava: “Projeto de revitalização do Rio Paraibuna vai melhorar consideravelmente a qualidade de vida em JF e região: O Programa de Recuperação Ambiental do Rio Paraibuna é mais um exemplo da constante preocupação da atual Administração do prefeito Alberto Bejani com o meio ambiente. O projeto, desenvolvido pela Prefeitura, por intermédio da Diretoria de Planejamento e Gestão Estratégica, consiste em uma completa reestruturação de todo o chamado Eixo-Paraibuna, incluindo o rio e toda a área próxima ao seu curso, em Juiz de Fora. O investimento para a realização de todo o projeto será de US$ 39 milhões, valor já sinalizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como possível de ser financiado. Além de descontaminar as águas do rio, o programa vai possibilitar uma reorientação na expansão urbana. Para a liberação do financiamento, a Prefeitura está trabalhando intensivamente para conseguir a aprovação do governo federal, junto à Secretaria do Tesouro Nacional (STN). A documentação totalmente atualizada já foi enviada ao BID, na última semana, como acertado na viagem que o prefeito Alberto Bejani fez a Washington no início do ano. Etapas importantes compõem o projeto, como a urbanização, a recuperação de áreas degradadas, o reassentamento de famílias/regularização fundiária e a despoluição do Rio Paraibuna e afluentes. A grandiosidade do Programa de Revitalização Ambiental do Paraibuna se dá pela complexidade das ações e das inúmeras obras a serem realizadas pela Prefeitura.” Disponível em< http://www.pjf.mg.gov.br/noticias/view.php?modo=link2&idnoticia2=3255>
166
Associado ao Projeto Eixo Paraibuna, o Parque Linear faz parte das diretrizes
propostas para o reordenamento urbano, contribuindo para suprir a carência de
áreas públicas destinadas ao lazer. Observando a distribuição das áreas verdes
dentro da mancha urbana, percebe-se sua extensão inadequada junto à malha viária
e seu déficit em áreas públicas e de lazer ativo. Sendo assim, o projeto do Parque
Linear visa suprir parte destas deficiências, sem prejuízo da função de articuladores
espaciais e de molduras paisagísticas.90
O PDDU, 2000 destaca que o complexo proposto, além da promoção de um
grande espaço de lazer, deveria induzir a expansão da mancha urbana para uma
área contígua de características favoráveis ao assentamento, que hoje se constitui
na Região Urbana Remonta, geradora de uma descontinuidade no crescimento da
cidade.
Além disso, a proposta apontava que a ligação viária, que se incorporaria à
faixa do Parque, estruturando a margem esquerda do rio e interligando-a com a Via
Remonta, deveria ser dotada de pista dupla e ciclovia. O projeto dispõe também de
um programa específico que deveria ser detalhado no projeto definitivo,
contemplando: arranjo paisagístico; arquitetura dos espaços de lazer ativo e
contemplativo, tais como passeios e percursos induzidos; equipamentos esportivos,
como quadras, pistas e serviços; praças de alimentação; espaços para espetáculos
com equipamentos e serviços específicos; equipamentos de manutenção, controle e
fiscalização. Infelizmente, a boa qualidade das idéias contidas no projeto mais uma
vez rebateram na ausência de vontade política para a implementação das propostas.
A partir do trecho da Mata do Krambeck (próximo à rodoviária), toda a
margem esquerda do rio Paraibuna, até o bairro Benfica, seria um parque linear,
contando com os equipamentos já descritos. Contendo em si a Via Remonta, este
projeto, na verdade, revitalizaria toda margem do rio em direção à saída da cidade,
no sentido Norte, e daí para a BR-040, sentido Belo Horizonte. Passaria pelos
bairros populares, conteria a ocupação da margem do rio e serviria de eixo entre o
centro e a rodovia federal mencionada.
Repetindo as antigas práticas do Estado brasileiro em termos de
planejamento urbano, restritas às intervenções com caráter de embelezamento, a
90
Fazia parte, no PD, 1996, do Projeto Parque Linear e Parques Urbanos de Benfica e Barbosa Lage (item 3.3, Volume II, Proposições). PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Proposta para o Plano Diretor de Juiz de Fora.Instituto de Pesquisa e Planejamento. Proposições. Volume II, novembro de 1996.
167
Manchester Mineira também usou de projetos de revitalização (só ao nível estético)
cujos propósitos crescem a passos largos em direção aos eixos os econômicos do
país.
Parque São Pedro
Parte de um conjunto de propostas que visavam ao ordenamento do
crescimento da região São Pedro (oeste), este Parque tinha como proposta suprir a
carência de áreas públicas de lazer que a cidade apresentava. Conforme o mapa
abaixo, de acordo com o PDDU, 2000, o objetivo principal deste projeto era a
preservação da represa de São Pedro, com urbanização e tratamento paisagístico
de toda a sua orla. Entretanto, sabemos que a especulação fundiária intensificaria a
ocupação do entorno da represa, processo que, diga-se, de passagem, já vem
acontecendo.
O PD, 1996 não faz menção a este projeto, destacando-se que a área
engloba a represa de São Pedro, manancial de abastecimento de água para a
cidade. Em virtude de sua importância para a qualidade e proteção das reservas de
água na cidade, os técnicos do antigo IPPLAN/JF eram contra a ocupação da
região, fato que se arrasta numa antiga polêmica. Já o PDDU, 2000 e seu corpo
técnico acreditavam que o projeto era exequível, com algumas restrições: embora se
permitissem grandes equipamentos, como supermercados, concessionárias de
automóveis, clubes entre outros, proceder-se-ia a uma contenção de loteamentos
para habitação.
Como não se realizou o alinhamento das vias, o projeto não foi adiante. Além
disso, apesar da existência de verba do DNIT para realizar a ligação da via com a
BR-040, criando uma via ao longo da represa e preservando-a, não houve aceitação
do órgão competente da PJF, paralisando-se as obras. Dentro desse processo
conflituoso, o fato é que as margens da represa continuam sendo ocupadas, e a
especulação imobiliária continua intensa, inclusive com a pesquisa para implantação
de um condomínio Alphaville.
Tudo isso gera polêmicas entre o setor imobiliário, os empreendedores da
construção civil e de loteamentos urbanos, os arquitetos do IAB/JF, os técnicos da
prefeitura, os órgãos ambientais e a população em geral. Área de fronteira para a
expansão das empresas imobiliárias e construtoras em Juiz de Fora, a região tem
168
sido alvo de intenso processo especulativo, com o crescimento de loteamentos para
condomínios de padrão classe média alta. O conflito aqui estabelecido pauta-se na
luta desigual pelo acesso à moradia urbana de qualidade: as ações públicas
fortalecem os grupos de maior poder na cidade (as construtoras e loteadoras), em
detrimento de esparsos investimentos nas áreas da periferia.
169
Mapa 29: Planos e Projetos Especiais. Parque São Pedro. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Figura 2.
170
Projeto Via Interbairros
Os estudos realizados nas regiões de São Pedro, Santa Cândida e Benfica,
bairros populares da cidade, serviram de base para conceituar a via proposta. Eles
demonstravam que estas regiões são, além de carentes, deficientes nos seus
sistemas viários de interligação, fato que se reflete praticamente em boa parte da
circulação da cidade, especialmente na Área Central. Tais estudos já faziam parte
das análises do PD, 1996, sendo utilizadas também pelo PDDU, 2000.
São Pedro (oeste), onde se encontra a chamada Cidade Alta (com bairros de
classe média alta e condomínios de renda elevada), concentra pólos geradores de
tráfego. Esses pólos são representados por equipamentos de grande porte (UFJF,
Aeroporto e Estádio Municipal), abrigando, ainda, áreas de interesse cultural,
paisagístico e ambiental: Morro do Imperador, Parque da Lajinha, reserva Biológica
de Santa Cândida, fazenda São Judas Tadeu e represa de São Pedro. Ao mesmo
tempo, Benfica (norte), de ocupação mais antiga, também vem sofrendo um
contínuo processo de crescimento e ocupação. Essa expansão vem sendo
estimulada, ao longo dos anos, por investimentos públicos que, para atração de
grandes indústrias, dotaram a região de boa infraestrutura (água, energia elétrica,
rede de telecomunicações e gás natural). Lembramos que esta região foi apontada
como vetor de crescimento nos planos abordados, sendo incentivada e planejada
sua ocupação, bem como sua ligação com a área central.
A fábrica Mercedes-Benz e as empresas direta e indiretamente envolvidas na
sua instalação são apontadas como definidoras do caráter industrial do extremo
norte deste setor, estabelecendo sobre os demais setores, forte atratividade em
função da expectativa de emprego.
A proposta da Via Interbairros91 contribui, então, para a solução de algumas
questões já estabelecidas, como a incorporação de espaços vazios à malha urbana;
91 O traçado da Via Interbairros inicia-se no cruzamento da Rua Álvaro José Rodrigues com Rua “U”, no loteamento Aeroporto, em direção ao curso d‟água oriundo do pequeno lago, em frente ao Estádio Municipal. Quando encontra este pequeno córrego, segue margeando-o, cruza o final da Av. Presidente Costa e Silva e continua até encontrar o Córrego São Pedro, próximo ao Campo de Futebol do Clube Guaporé. Nesse ponto, segue em direção à Rua José Lourenço, confundindo-se com um pequeno trecho desta e com o final da Av. Senhor dos Passos, em direção ao Kartódromo, segue a estrada existente, que contorna o talude do Kartódromo e a Fazenda São Judas Tadeu. Quase nos limites desta fazenda, a Via toma a direção do Bairro Carlos Chagas, passando à montante deste. Neste trecho está prevista passagem inferior à Via. Do Bairro Carlos Chagas, já no Setor Noroeste, passa entre os loteamentos Milho Branco e Encosta do Sol, aproveitando parte de
171
conexão entre áreas vizinhas; busca de integração física, sócio-cultural, econômica
e política dos bairros; redução da pressão na Área Central através do deslocamento
do tráfego nos sentidos sul-noroeste-sul e oeste-noroeste-oeste.
Na realidade, a intenção é a realização de uma ligação entre a cidade alta
(com grande concentração de condomínios fechados padrão classe média alta) e a
região norte (na saída da cidade), criando um eixo de saída rápida para a BR-040.
Esse eixo possibilitaria maior capilaridade ao sistema viário e, logicamente,
favoreceria a circulação dos bairros mais nobres até a rodovia federal. Este projeto
está em andamento, sob intensa especulação, mas resultará na nova rodovia federal
a BR-440 que ligará o bairro Mariano Procópio (porção noroeste do centro) à BR-
040 no sentido norte. (Ver Mapa 39. Espacialização dos Projetos)
Além dessa via o DER-MG desenvolveu projeto de duplicação da Avenida
Deusdedith Salgado, num trecho entre a BR-040 e o Parque da Lajinha: duplicada,
em conjunto com a Avenida Guadalajara, já em pista dupla, e com a Avenida
Vereador Jair Nascimento, interliga-se diretamente com a Via Interbairros. A
continuidade das vias possibilitará a absorção do tráfego da BR-040,
descongestionando o tráfego na Área Central, principalmente no restante da
Avenida Deusdedith Salgado, nas Avenidas Paulo Japyassu Coelho e
Independência, facilitando o escoamento de veículos na direção centro BR-040.
O grande ganho com esse projeto é uma saída facilitada da cidade em
direção aos eixos econômicos do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, e
interior de Minas Gerais. Na esteira desse processo, a população ganha com
algumas linhas de ônibus servindo de acesso aos distritos de Juiz de Fora e aos
seus Municípios vizinhos. Além do inconveniente de ter uma rodovia federal
cortando a cidade, este projeto poderá trazer uma alteração dentro de um tecido
vias construídas neste último, e segue no sentido do córrego Humaitá. Quando encontra este curso d‟água, segue margeando-o, no sentido da sua nascente e continua utilizando o leito da antiga estrada de Humaitá (hoje Estrada Vereador Raimundo Hargreaves). A proposta, neste trecho, incorpora áreas inseridas em grandes vazios urbanos com bom potencial de adensamento, que estão delineadas no mapa de zoneamento, através de propostas de parcelamento e de uso e ocupação do solo. Continuando, a Via deixa a estrada de Humaitá, em direção à BR-267. A transposição desta estrada se faz próxima à área da Fábrica de Cobertores São Vicente, seguindo em direção à Santa Cruz. Neste bairro propõe-se estabelecer um binário com a Av. Dr. Simeão de Faria, na margem direita do córrego Santa Cruz, contribuindo sobremaneira para a solução viária local. A partir da Av. Dr. Simeão de Faria, segue em direção a Benfica, através da Rua A (Loteamento São Francisco de Paula) e encontra no ponto alto a Rua João Lourenço Marcelino, interligando-a à Rua Evaristo da Veiga.
172
urbano já sedimentado (que são os bairros Vale do Ipê, e Morro da Glória, contando
com várias edificações residenciais). Por outro lado, a especulação fundiária terá um
prato cheio para novos empreendimentos, locando novos loteamentos ao longo
desta nova rodovia.
Projeto Via Remonta
A implantação da Via Remonta, ligação viária dos bairros Grama e Granjas
Bethânea com Barbosa Lage (MG-353 até o Acesso Norte), é apontada como um
projeto de fundamental importância para o desenvolvimento urbano e para a
disciplina do trânsito na cidade. Proposta de caráter estrutural, na medida em que
atende, simultaneamente, a vários objetivos: facilitar o acesso à BR-267/BR-040,
especialmente dos veículos pesados, provenientes da Zona da Mata (principalmente
dos municípios de Viçosa, Rio Pomba, Ubá e Rio Novo), que atualmente passam
pelo Centro da cidade, em direção ao sul de Minas, Belo Horizonte e Rio de Janeiro;
oferecer uma alternativa para os veículos que, partindo dos bairros Granjas
Bethânea, Grama e adjacentes, queiram atingir o Norte e Noroeste do Perímetro
Urbano; contribuir para aliviar congestionamentos na área central e amenizar a
poluição do ar nas áreas urbanizadas; assumir papel de indutor de ocupação em
áreas favoráveis, ao longo de seu traçado, dentro de um contexto de média
densidade.92
O Projeto já contava com este detalhamento no PD, 1996, sendo
aperfeiçoado no PDDU, 2000. Destaca-se que ele foi executado, criando uma
ligação alternativa entre a área central (maior renda) de Juiz de Fora e os bairros da
zona norte (população de baixa renda). Pode-se frisar que esta via também serviu
para tornar a entrada/saída da cidade de acessos facilitados, na medida em que
92
Durante os estudos iniciais da Via Remonta, procurou-se evitar um traçado próximo à bacia hidrográfica da represa Dr. João Penido, pelas pressões indesejáveis (adensamento, poluição e desmatamento) que uma obra desta natureza pode causar. Com o auxílio das aerofotos de 1983, estudou-se o aproveitamento dos traçados já existentes de estradas vicinais, buscando retificá-las. O traçado da Via Remonta inicia-se, então, no Bairro Barbosa Lage, pela estrada que dá acesso à ASE (Associação dos Sargentos do Exército), onde faz conexão com o Acesso Norte. Daí, segue no sentido nordeste, passando pela área da Remonta. Antes de atingir a MG-353, a Via se bifurca: um ramo continua no mesmo sentido até atingir a rodovia, completando a ligação com o Bairro Granjas Bethânea e adjacentes; o outro ramo segue paralelo à rodovia MG-353 até se conectar com ela na altura do Hospital Dr. João Penido, cumprindo a função de atenuar as pressões sobre o Bairro Grama, sobrecarregado pelo tráfego dessa estrada.
173
percorre um longo trecho fora da área de tráfego intenso, acompanhando o leito do
rio Paraibuna, em trechos pouco utilizados.
Transformou-se, assim, em uma via expressa, abrigando grandes
equipamentos, como o Supermercado Atacadista Makro, entre outras empresas.
Além de fazer ligação com o Bairro Industrial, é um dos acessos à BR-040. Destaca-
se o crescimento da região com a expansão de loteamentos e novos condomínios
horizontais para classe média, bem como de conjuntos habitacionais promovidos
pelo Poder Público. Dessa forma, influenciada pela via e contando com ocupações
de padrão médio (condomínios), nas áreas mais elevadas, e com padrão popular,
nas áreas próximas à linha férrea (conjuntos habitacionais), a região vem crescendo.
Pode-se apontar também que esta via já contava, em 1996, com áreas de
ocupação irregular, sobretudo nas margens do rio, quadro praticamente inalterado.93
93
Para maior aprofundameto ver: TASCA, Luciane. Juiz de Fora na década de 90: a produção do ambiente construído urbano. Rio de Janeiro: UFRJ/IPPUR, 2002. Dissertação de Mestrado
174
Mapa 30: Vias Propostas. Via Remonta. Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Figura 2. Figura 4 A.
Projeto Via Coletora da BR-040
Apontando para propostas de estruturação do sistema viário do Município e a
manutenção do caráter rodoviário da BR-040, o Projeto Via Coletora da BR-040, que
não fazia parte do PD, 1996, passou a constar no PDDU, 2000, preservando sua
função de ligação interregional, retirando o tráfego local. Sua proposta além de
atender a essa demanda, integra, juntamente com a Via Interbairros, os bairros que
a atravessam.
175
Por outro lado, a Via Coletora servirá de barreira ao crescimento da cidade,
em direção à BR-040, tendência já verificada em mais de um ponto, ao longo do
trecho em que esta atravessa o Município. Toda a faixa compreendida entre a BR-
040 e sua Via Coletora deverá ter um tipo de ocupação bastante restritivo, devendo-
se, inclusive, evitar qualquer acesso pela rodovia.
Não se deve relegar a importância desta BR para Juiz de Fora, exigindo,
portanto, facilidade de acessos a ela, já que não só toda a circulação na cidade, mas
também entrada/saída para as diversas regiões do país passam por esta via. Além
disso, muitos equipamentos, como o Centro de Convenções de Juiz de Fora
(Expominas JF), foram e, estão sendo locados tanto na própria rodovia quanto nos
seus acessos. Outros exemplos podem ser citados: a rede de supermercados
Bahamas montou sua rede de atacado (Suprir Aki) na Avenida Deusdedith Salgado;
algumas faculdades locaram-se no mesmo acesso, como a Faculdade de Medicina
Suprema. Como já se explicitou, trata-se de uma importante rota de acesso a Juiz
de Fora. Esta importância já havia sido fortalecida, quando da ação do Plano JF, na
instalação da Fábrica Mercedes Benz. Como se pode perceber, subjaz a esse os
interesses dos novos capitais em Juiz de Fora.
Projeto de Duplicação da Avenida Brasil
A Avenida Brasil é o principal eixo viário de ligação do centro da cidade com
os bairros Benfica, Barreira e Represa. A construção da pista, à margem esquerda
do rio Paraibuna (a partir do cruzamento com a Avenida Rui Barbosa, no Bairro
Santa Terezinha, até a Avenida JK, no Bairro Ponte Preta), representa não só
importante fator de integração dessas regiões, mas também escoamento do tráfego
intenso, que hoje se dá somente pela margem direita do rio.
Este Projeto, que fazia parte do PD, 1996, como proposta de reestruturação
urbana, ganhou relevância no PDDU, 2000, sendo executado até o trecho que
antecede a Mata do Krambeck (área de proteção ambiental), onde se criou grande
polêmica sobre sua continuidade.
176
Mapa 31 e 32: Vias Propostas. Duplicação da Avenida Brasil. Trecho 1 Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Figura 2. Figura 4 A. Figura 6 A e 6 B. Escala 1:20.000.
Mapa 33 e 34: Vias Propostas. Duplicação da Avenida Brasil. Trecho 2 Fonte: PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004. Proposições. Figura 2. Figura 4 A. Figura 6 C e 6 D. Escala 1:20.000.
177
Projeto Via São Pedro
Também não constando no PD, 1996, foi apontado pelo PDDU, 2000 como
de grande importância para o ordenamento da região. Seu crescimento
desordenado e um intenso processo de crescimento de loteamentos e condomínios
fechados foi motivo de atenção e de propostas específicas.
Como já descrito, a ligação entre o Mariano Procópio e a BR-040, por esta
via, tem a intenção de estruturar e articular os acessos aos diversos bairros da
região e desta com outras regiões, em especial Santa Cândida e Benfica, pela Via
Interbairros e Coletora ou com o Centro, através da Avenida Brasil.
Alvo de questionamentos dos técnicos da PJF quanto ao seu impacto na área
de proteção do manancial da Represa João Penido, o projeto via São Pedro ainda
conta com um trecho interrompido.
Projeto de Reestruturação Urbana de Vias Localizadas
Constando no PD, 1996 e no PDDU, 2000, este Projeto aponta como
necessárias algumas ações de complementações viárias importantes não só para
proporcionar redução da sobrecarga de tráfego em vias estruturantes fundamentais,
mas também para melhor articular a circulação entre bairros. Neste ínterim, são
descritas algumas ações prioritárias, para as quais os estudos do Plano Diretor de
Transportes Urbanos (PDTU) deverão indicar novas intervenções.
A reestruturação urbana de algumas vias aconteceu de forma esparsa,
concentrado-se os projetos nas vias de maior circulação, como o prolongamento da
rua Coronel Vidal (atrás da Rodoviária – Terminal Miguel Mansur) e a da Avenida
Ibitiguaia, o chamado Acesso Sul, ligando os bairros da zona Sul com a BR-040, por
exemplo.
Programa de Reestruturação e Valorização dos Bairros
Os estudos realizados no PD, 1996 foram utilizados no Volume II
(Diagnóstico) do PDDU, 2000, mostrando uma distribuição desigual dos benefícios
oferecidos pela cidade, incluindo a disponibilidade de espaços para atividades
comunitárias e de lazer, infraestrutura adequada e oferta de serviços de saúde e
educação, entre outros.
178
Tanto em 1996 quanto em 2000, os planos apontavam que o Programa de
Reestruturação e Valorização dos Bairros deveria ser elaborado com a combinação
de criatividade técnica e a contribuição da população dos bairros contemplados com
as intervenções.
Previstas para o Programa, destacaram-se a criação de áreas públicas para o
desenvolvimento de atividades comunitárias, de caráter cultural, de lazer,
abastecimento e convivência. Tendo em vista a significativa carência destes
espaços, na cidade, principalmente nos bairros periféricos, frisava-se a importância
de se aproveitarem os poucos locais disponíveis para usos múltiplos e de forma
integrada, em função das efetivas prioridades expressas pela população.
Além disso, as demandas identificadas apontavam para a melhoria e
ampliação dos equipamentos públicos, dos serviços de saúde e educação, a
implantação de áreas verdes, a instalação e/ou melhoria dos serviços de água,
esgoto, energia, iluminação pública, limpeza urbana e transportes coletivos.
Para sua viabilização, destacou-se que os mesmos estavam vinculados aos
instrumentos dos PLU´s, a serem elaborados para cada região estabelecida.
Também ficou estabelecido, no item Instrumentos de Gestão da Política de
Desenvolvimento Urbano, que a gestão ficaria sob encargo do órgão a ser criado:
Conselhos Locais de Política Urbana.
Todo o detalhamento posterior do Plano Diretor, 2000 ficou dependente dos
Planos Locais de Urbanificação, os quais determinariam as diretrizes de
parcelamento e de uso e ocupação para cada Unidade de Planejamento, dentro de
suas respectivas Regiões de Planejamento94.
Na prática, alguns projetos foram criados sob outro enfoque, no programa JF
Bairros, que focalizava as AEIS e AEIA. Ele previa melhoria de infraestrutura,
calçamento, e execução de habitação de interesse social, contando para tal com
recursos do BNDES (cerca de 60 milhões) em uma linha específica de
financiamentos para áreas de favelas, nos moldes do favela-bairro, no Rio de
Janeiro. Ao final, fez-se o levantamento das áreas, aprovaram-se os projetos, mas
pouco se executou.
94
Os PLUs deverão levar em conta os dados e as análises feitas para cada Região de Planejamento e as configurações específicas dos bairros que compõem cada Unidade de Planejamento, além do cruzamento dessas informações com as fornecidas pelo Macrozoneamento.
179
Diante do exposto, na intenção de melhor visualizar a situação dos projetos
tanto do PD, 1996 quanto àqueles constantes no PDDU, 2000, elaborou-se o quadro
abaixo de forma comparativa, podendo-se assim compreender que a maioria dos
projetos já faziam parte das propostas, tendo sido elaborados em 1996 e
permanecendo com o mesmo caráter no Plano Diretor de 2000 (com exceção do
projeto Parque Linear da Remonta que foi chamado em 1996 de Parque Linear e
Parque Urbano de Benfica e Barbosa Lage).
Apenas os projetos Parque São Pedro, Via Coletora da BR-040, Duplicação
da Av. Brasil e Via São Pedro, focados em infraestrutura viária, não constavam do
PD, 1996, sendo incorporados em 2000.
Quadro 09: Comparativo dos Projetos da proposta para Plano Diretor (1996) e dos Projetos do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (2000)
PROJETOS PROPOSTOS E PROJETOS IMPLEMENTADOS
PD, 1996 PDDU, 2000
1. Revitalização da Área Central
2. Eixo Paraibuna
3. Parque Linear da Remonta *Chamado Pq. Linear e Pq Urbano de Benfica e Barbosa Lage em 1996
4. Parque São Pedro
5. Via Interbairros 6. Via Remonta
7. Via Coletora da BR-040
8. Duplicação da Av. Brasil
9. Via São Pedro
10.Reestruturação Urbana de Vias Localizadas
11. Programa de Reestruturação e Valorização dos Bairros
Projetos constantes
3.3 O PLANO ESTRATÉGICO (PLANOJF)
Juiz de Fora teve muito clara a sua identidade e vocação enquanto cidade industrial_ a Manchester Mineira_ e guarda resíduos preciosos deste período. Hoje, a cidade precisa se repensar e se definir regionalmente, estando consciente de que no mundo deste fim de século, as cidades estarão cada vez mais próximas e interligadas numa rede mundial e que suas populações estarão sempre mais exigentes com relação ao acesso aos bens sociais e culturais (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000.P.11)
No final de 1996, após o mandato de Custódio Mattos (PSDB), elege-se, pela
segunda vez não consecutiva, o prefeito da cidade de Juiz de Fora, Tarcísio
180
Delgado (PMDB). Em seu segundo mandato, iniciado em janeiro de 1997, mantinha
o discurso da participação democrática, promovendo, inclusive, a implantação do
Orçamento Participativo de Juiz de Fora, coordenado, na época, pela Secretaria de
Governo.
A nova gestão apontava para a necessidade de mudanças no setor público,
aumentando os espaços decisórios e as possibilidades democráticas. Paralelamente
a esse debate balizado nos princípios de participação cidadã, tem início o processo
de implantação do planejamento urbano baseado em ações estratégicas.
Em março de 1997, essa forma de planejamento começou a se concretizar na
cidade de Barcelona, Espanha, durante o seminário “As Cidades Latino-americanas
e do Caribe no Novo Século”. Participaram desse seminário, na época, o prefeito
Tarcísio Delgado, o então Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico
(SMDE) e Diretor Executivo do Plano Estratégico, João Carlos Vitor Garcia, e o
diretor do IPPLAN/JF, Jean Kamil.
A política dessas ações, tendo em mente a realidade história da cidade,
buscava potencializar suas qualidades, quer seja como pólo de desenvolvimento
industrial, quer seja como pólo comercial ou de serviços.
A partir disso, com a realização na cidade, em abril de 1997 do seminário “A
cidade como sujeito do desenvolvimento: a necessidade de uma visão de longo
prazo” foram mobilizados os agentes econômicos, atores sociais diversos e
formadores de opinião, construindo expressivas lideranças na cidade. Dessa forma,
de acordo com Oliveira (2006) iniciou-se o processo de sensibilização da sociedade,
tornando-se o marco inicial da discussão pública em torno do planejamento
estratégico em Juiz de Fora. Nesse evento, os responsáveis por essa prática nas
cidades de Barcelona e do Rio de Janeiro, apresentaram suas experiências,
métodos e resultados.95
A continuidade dos trabalhos ocorreu através da definição de uma estrutura
organizacional, denominada estrutura fixa, para a elaboração do PlanoJF,
compreendendo quatro órgãos básicos: Conselho da Cidade, Conselho Diretor,
Comitê Executivo e Consórcio Mantenedor. Este último, formado em agosto de
95
Conforme Oliveira (2006), estivam presentes nesse seminário, Manuel de Forn e seu assessor Jaume Rivera, de Barcelona (GFE Associats Ltda.), e Rodrigo Lopes (Dragagem Fluvial Ltda.) e Ricardo Rebouças (Prospectiva Consultoria e Planejamento Ltda.), participantes do Plano Estratégico do Rio de Janeiro.
181
1997, teve como função mobilizar, divulgar e organizar a participação do setor
empresarial no esforço de sustentação institucional e financeiro do plano.
As atividades de coordenação, implementação e promoção do Consórcio
foram desempenhadas pelo Centro Industrial, Associação Comercial, Câmara de
Dirigentes Lojistas, Associação das Micro e Pequenas Empresas de Juiz de Fora e
Agência de Desenvolvimento de Juiz de Fora e Região. Esta parceria entre os
setores público e privado, expressa na constituição do Consórcio, garantiu suporte
financeiro à realização do PlanoJF e possibilitou a contratação da consultoria
especializada. A empresa contratada foi a GFE Associats Ltda., da cidade de
Barcelona na Espanha, presidida por Manuel de Forn.
A partir das reuniões entre o Comitê Executivo e os promotores do Consórcio
Mantenedor, foi identificado o grupo de pessoas que formariam o Conselho Diretor e
o Conselho da Cidade. O primeiro foi composto por 31 membros, representados por
“cidadãos com liderança, e conhecimento, poder decisório sobre ações de impacto
na cidade e com a responsabilidade de orientar e acompanhar as decisões da
equipe executiva” (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000.p.22).
O Conselho Diretor tem a responsabilidade direta pelo processo de elaboração do Plano Estratégico de Juiz de Fora – PlanoJF, orientando e acompanhando os trabalhos do Comitê Executivo e tomando as decisões necessárias para o estabelecimento de um modelo de cidade desejado pelos juizforanos. Nosso envolvimento com esse processo nasceu da convicção de que a cidade de Juiz de Fora se encontra em um momento peculiar, passando por um ciclo de intervenções público-privadas importante, inserindo-se no circuito dos processos globalizados. É preciso definir, de forma consensual, o futuro que desejamos. Isso exige de todos ações para estimular o desenvolvimento, criar novas estruturas sociais, gerar novos padrões de qualidade de vida e enriquecer nossa vida cultural. Mas, exige também, ações para afastar aquilo que pode colocar em risco a qualidade que construímos ao longo de nossa história (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000.p.07)
96
96
Conselho Diretor: Almir José da Silva Filho (Café Toko Ltda.), Aloísio José de Vasconcelos Barbosa (Associação Comercial de Juiz de Fora), Antônio Carlos Guimarães Rocha (Clube de Engenharia), Carlos Alberto Xavier de Vilhena (Banco Santander Brasil S.A.), Carlos Henrique Leal Teixeira Junior (U & M Construção Pesada), Cláudio Horta Mendes (Belgo Mineira Participação Ind. e Com. S.A.), Duarte Vilela (Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária – EMBRAPA), Erickson Luiz e Aragão (Sistema Pio XII), Flávio Geraldo de Paula (ANSAL – Auto N. Sr. Aparecida Ltda.), Geraldo Ferreira Gomes (IPPLAN/JF – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Juiz de Fora), Jean Kamil (CESAMA – Cia de Saneamento e Pesquisa do Meio Ambiente), João Carlos Vitor Garcia (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico – SMDE), João Márcio Queiroga (Companhia Paraibuna de Metais Agência de Desenvolvimento Juiz de Fora e Região), Jorge Kapeluso (Banco Real S.A), José A. A. dos Reis (Carrefour Ind. e Com. Ltda.), José Manuel Raposo (Sindicato Rural), José Ventura (SINEPE – Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Superior de Minas Gerais – Região Sudeste), Jovino Campos (Supermercado Bahamas Ltda.), Juscélio Mansur (Paraibuna Turismo), Júlio Fontana
182
O Conselho da Cidade “órgão máximo de participação institucional e cidadã,
constituído por representantes dos mais diversos segmentos sociais com a
responsabilidade de homologar e aprovar as diretrizes do Plano” foi instalado em
agosto de 1998, sendo composto por 202 membros representativos da comunidade.
Este conselho foi o responsável por homologar o PlanoJF em todos os seus níveis,
passando pelo Diagnóstico, pelos Objetivos e pelas Estratégias.
Conforme o Relatório do Plano Estratégico de Juiz de Fora, além da estrutura
fixa, contou ainda com uma estrutura variável constituída pelos seguintes grupos de
trabalho:
Grupos de Diagnóstico: integrados por cidadãos “capazes de oferecer uma visão
crítica e pró-ativa da realidade e das tendências que afetam a cidade”. Estes
grupos se reuniram nos meses de agosto e setembro de 1998.
Grupos de Propostas: compostos por cidadãos capazes de “identificar projetos
relevantes e de priorizá-los de acordo com os critérios de exiquibilidade,
relevância e sinergia, impacto temporal e imprescindibilidade”. Esta fase ocorreu
nos meses de abril a junho de 1998, destacando-se que foi realizada antes
mesmo do diagnóstico.
Grupos de Impulsão: compostos por pessoas “acostumadas a tomar decisões,
com perfil de formadores de opinião, para a promoção e acompanhamento de
projetos do Plano”. Estes grupos iniciaram seu trabalho em março de 2000.97
Os trabalhos do PlanoJF estruturaram-se em 4 fases de elaboração
consecutivas, culminando com a fase de implementação.
Iniciando (Fase 1) com a organização da cooperação dos setores públicos e
privado e das estruturas permanentes do Plano, buscou-se, num primeiro momento,
a efetivação dos instrumentos legais e de negociação. Ainda nesta fase, definiu-se a
Neto (MRS Logística S.A), Luiz Antônio Valle Arantes (Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF), Luiz Geraldo Soranço (Centro Industrial JF), Luiz Gonzaga Delgado (EMCASA – Empresa Regional de Habitação de Juiz de Fora), Luiz Ricardo Queiroz (TV Panorama), Marcos Madureira (Mercedes Benz do Brasil), Marcos Neves (Tribuna de Minas), Nelson Fonseca Leite (Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG), Ney Acyr (Brasil Center / EMBRATEL), Pedro Antônio Jonsson (CONCER – Cia. De Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio), Ronaldo Juliani Esteves (Telemig Celular) e Ronaldo Mockdece (Câmara dos Dirigentes Lojistas). PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Plano Estratégico da Cidade de Juiz de Fora. PlanoJF. Relatório Final. Consórcio Mantenedor, Juiz de Fora, 2000.p.07 97
Ibidem.
183
estruturação do Consórcio Mantenedor, a constituição do Comitê Executivo, do
Conselho da Cidade e do Conselho Diretor.
A Fase 2, do Diagnóstico, teve início com um Pré-Diagnóstico, constituído do
estudo de fontes documentais, entrevistas com personalidades da cidade e com a
aplicação de questionários qualitativos estruturados para apurar a percepção de
problemas e alternativas para a cidade.98
A partir dos resultados alcançados, foram definidos os Temas Críticos: cada
um deles analisado posteriormente por um Grupo de Trabalho de Diagnóstico,
composto por cidadãos escolhidos através das entidades mais significativas, como a
Câmara dos Dirigentes Lojistas, Empresariado local, Associações de Bairro, entre
outros. Entre agosto e setembro de 1998, de acordo com a metodologia traçada
pelos consultores (a exemplo do Planejamento Estratégico de Barcelona), esta fase
baseou-se em um processo desenvolvido de forma interativa, sendo instalados
grupos de diagnósticos nas áreas de Atividades Econômicas, Qualidade do Espaço
Urbano, Desenvolvimento e Coesão Social e Identidade e Cidadania, envolvendo
cerca de 95 pessoas.
O trabalho destes grupos resultou numa análise do ambiente interno da
cidade, estabelecendo-se pontos fortes, pontos fracos, ameaças, oportunidades e
tendências, todos estes aprovados pelo Comitê Executivo. Além das atividades
desenvolvidas pelos Grupos de Diagnóstico, o referido comitê organizou seminários
internos para a discussão do ambiente externo, contando com a participação de
economistas, arquitetos e urbanistas. Ao final dessa fase, definiu-se o Objetivo
Central, ou seja, o modelo de cidade desejado e factível, bem como as Linhas
Estratégicas a serem adotadas para a sua execução.
Após as fases de Organização e Diagnóstico, passou-se à Fase 3, Análise de
Propostas, sendo preparado um manual, de acordo com o Relatório Final do
PlanoJF, com uma ficha distribuída à comunidade para apresentação de projetos.
Utilizou-se também da captação de projetos por telefone, através do sistema 0800.
98
Nesta etapa foram entrevistados, no mês de agosto de 1997, 20 secretários ligados à Administração Municipal. Em março de 1998 foram efetuadas cerca de 50 entrevistas com personalidades ligadas à história recente da cidade. O conteúdo dessas entrevistas embasou a elaboração do questionário qualitativo aplicado a 250 personalidades ligadas aos diversos segmentos sociais, norteando os aspectos mais significativos a serem explorados nas entrevistas de diagnóstico. PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Plano Estratégico da Cidade de Juiz de Fora. PlanoJF. Relatório Final. Consórcio Mantenedor, Juiz de Fora, 2000.
184
No total, foram apresentados 334 projetos, sendo 271 por fichas de propostas, e 63
pelo 0800.
O Comitê Executivo classificou os projetos recebidos dentro das 5 Linhas
Estratégicas, anteriormente definidas, assim distribuídas: Cidade Competitiva, 54
projetos: Cidade Educadora, 34 projetos; Cidade Eficiente, 32 projetos; Cidade com
Espaço Urbano Atrativo, 83 projetos e Cidade Solidária, 68 projetos.
Para avaliar, discutir e priorizar estes projetos, além de efetuar novas
propostas, 5 Grupos de Trabalho (GT) foram instalados: um para cada Linha
Estratégica, num total de 166 participantes, reunindo-se nos meses de maio a junho
de 1999, compostos por técnicos da Prefeitura e representantes da UFJF e outras
entidades.
Cada GT de Propostas analisou e discutiu projetos de sua Linha Estratégica,
resultando na seleção, classificação e priorização dos mesmos. Dessa forma, foram
selecionados, por cada grupo, os projetos considerados estratégicos e capazes de
alavancar e transformar a cidade.
Projetos priorizados por Linha: Cidade Competitiva (33); Cidade Educadora
(19); Cidade Eficiente (18); Cidade com Espaço Urbano Atrativo (20); Cidade
Solidária (32); total: 122 projetos.
Concluída a participação destes grupos, o Comitê Executivo sistematizou os
resultados apresentados, aglutinando e unificando projetos de acordo com sua
complementaridade e similaridade. Conhecido o universo das propostas, passou-se
a analisar o modo de agrupá-los, de forma a traduzí-los em estratégias capazes de
promover a transformação da cidade. Nesse sentido, foram definidas as 3
Estratégias que compõem o PlanoJF: Juiz de Fora, Cidade de Oportunidades,
composta de 2 objetivos, 9 ações e 34 projetos; Juiz de Fora, Cidade Pólo da Zona
da Mata, com 2 objetivos, 5 ações e 17 projetos; Juiz de Fora, Cidade de Qualidade,
com 4 objetivos, 12 ações e 42 projetos, perfazendo um total de 93
projetos.(PRFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000).
Esses projetos, que serão descritos abaixo, formam um grupo de ações
voltadas, em sua maioria para dinamização da economia, incremento do setor
industrial, melhoria da prestação de serviços e reafirmação do caráter centralizador
da cidade de Juiz de Fora. Visualizando os projetos, dentro de suas linhas
estratégicas, chegaremos em etapa importante para a compreensão da totalidade
185
das ações públicas no Município, haja visto já termos percorrido o Código de Obras
de 1938, a Legislação Urbanística de 1986 e o Plano Diretor de 2000.
3.3.1 Projetos do Plano Estratégico (PlanoJF)
Retomando nossa questão central, baseada na identificação das contradições
e complementaridades entre os planos produzidos pelo Poder Público, sob o foco de
seus projetos, procurou-se nas particularidades dos planos, como a sua
sobreposição temporal, apontar quais áreas da cidade foram beneficiadas
prioritariamente através da implementação desses projetos.
Compondo mais uma etapa para análise de tal questão, acrescentando as
intenções do PlanoJF, cujos projetos se apresentam focados no desenvolvimento
econômico, buscamos material para responder entre outras questões da tese, como
os cidadãos se apropriam dessa riqueza gerada, e qual o efeito disso na regulação
do solo urbano?
A partir dos limites desenhados pelo processo de diagnóstico da cidade, as
conclusões foram sintetizadas no Objetivo Central definido para o PlanoJF. Neste
sentido, procurou-se explicitar um modelo desejado, possível e consensual de
desenvolvimento. Destacamos que esse modelo já vem sido adotado pelo Poder
Público, mesmo nos outros planos, baseado na idéia de elevar os padrões
econômicos da cidade voltando-a para os mercados externos.
Com a intenção de delimitar os percursos para se alcançar a referência de
cidade almejada, foram traçadas as 5 Linhas Estratégicas, trabalhadas na fase de
Propostas: Cidade Educadora, Cidade Solidária, Cidade com Espaço Urbano
Atrativo, Cidade Competitiva e Cidade Eficiente.
Posteriormente, de forma mais prática, as ações foram reorganizadas em 3
Estratégias, a seguir descritas: Juiz de Fora: Cidade de Oportunidades; Juiz de Fora:
Cidade Pólo da Zona da Mata; Juiz de Fora: Cidade de Qualidade.
Juiz de Fora: Cidade de Oportunidades
Desenvolver atividades produtivas diversificadas, reforçando a indústria do conhecimento e agronegócios, potencializando oportunidades de desenvolvimento econômico e profissional, através da expansão do acesso à educação básica, formação e requalificação profissionais,
186
empregabilidade e inserção social (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000. p.30)
Com o objetivo central de promover a prosperidade econômica com
benefícios diretos para toda a população da cidade, essa estratégia opõe-se a um
mero crescimento econômico. Por um lado, foram priorizadas ações diretas sobre as
atividades produtivas, com ênfase nos seguintes campos do conhecimento e da
tecnologia: telecomunicações; informática; incubação de empreendimentos de alta
densidade tecnológica. Foram contemplados ainda os aspectos relacionados à
instalação de novas infraestruturas e os relacionados às atividades industriais,
agronegócios, comerciais e serviços. Por outro lado, privilegiaram-se as
oportunidades de desenvolvimento econômico e profissional, através do apoio aos
pequenos empreendedores, da capacitação e qualificação profissionais dos
trabalhadores, além de fomentar a empregabilidade e a inserção social das
comunidades carentes.
Quanto ao apoio à instalação de indústrias intensivas em conhecimento,
criando novas oportunidades nas áreas de telecomunicações e informática,
elencam-se os seguintes projetos: 1) Pólo Audiovisual de Juiz de Fora; 2) Centro
Contemporâneo de Cultura (núcleo tecnológico focado na pesquisa e no
desenvolvimento aplicados no âmbito da realidade virtual e 3D; 3) Incentivo a
empresas de base tecnológica (fomento ao processo de incubação de empresas); 4)
Complexo de Telecomunicações e Informática (aproveitando a infraestrutura de fibra
ótica); 5) Núcleo Softex (consolidar a indústria do conhecimento através de projetos
para o setor de software e serviços de informática voltados para o mercado global).
A maioria dos projetos acima mencionados contou com a parceria PJF e setor
privado, tendo ainda a participação dos governos federal e estadual. Em alguns
casos, também houveram convênios entre a UFJF e a PJF, além de fundações
como a FAPEMIG e a Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia. Em março de
2000, ano da publicação do documento do Plano Estratégico de Desenvolvimento
Urbano de Juiz de Fora – MG, o PlanoJF, boa parte desses projetos encontrava-se
em execução, sendo que atualmente alguns ainda não forma finalizados.
Ainda dentro desta primeira estratégia, visou-se ao desenvolvimento da
infraestrutura para a atividade industrial. Nesse sentido, buscaram-se critérios de
atratividade para a captação ou manutenção de atividades produtivas, na intenção
187
de instalar novas áreas industriais e implementar uma política de incentivo à
utilização do gás natural. Dessa forma, traçaram-se os seguintes projetos: 1)
Atração de Investimentos (baseados na vocação do Município, criando incentivos,
gerando empregos, melhoria da qualidade de vida e divulgação da imagem da
cidade); 2) Aumento da utilização do gás natural na matriz energética; 3) Ampliação
do Distrito Industrial de Juiz de Fora, com a implantação o novo Mini-Distrito
Industrial, disponibilizando novas áreas industriais com infraestrutura adequada.
Contou-se com parceiras entre a PJF e os governos Federal e Estadual, além da
Petrobrás, CEMIG e Centro Industrial de Juiz de Fora. Todos estes projetos
encontravam-se, no ano 2000, em estudo, sendo que atualmente a PJF têm criado
incentivos (fiscais e infraestrutura, por exemplo) na intenção de atrair novos
investimentos, sobretudo, novas indústrias para a cidade. Tem-se hoje alguns
loteamentos industriais, como o Park Sul, localizado no município de Matias Barbosa
(na rodovia BR-040), com indústrias de pequeno porte que servem a Juiz de Fora.
Entre outras ações, podem-se elencar: fomento ao agronegócio
(implementando políticas de incentivo ao desenvolvimento de novos
empreendimentos e criando infraestrutura rural adequada); ampliação da oferta de
equipamentos e serviços de apoio à atividade empresarial (criando infraestrutura
hoteleira, centro de convenções e condições adequadas ao desenvolvimento
industrial, logístico, comercial e de serviços); estímulo à implantação de programas
de qualidade (sobretudo da construção civil); apoio aos pequenos empreendedores
(como linhas de crédito e capacitação de fornecedores para as grandes empresas
locais); facilitação do acesso ao ensino fundamental de qualidade (expandindo o
atendimento à educação básica, criando rede de acesso à internet e erradicando o
analfabetismo); ampliação das oportunidades de formação profissional (criando o
Restaurante Escola, o Centro de Formação profissional para jovens e adultos, entre
outros projetos); por fim o favorecimento da empregabilidade e a inserção social,
através da capacitação profissional, em áreas de pobreza, e da formação de
cooperativas populares.
Conforme será discutido no capítulo 4, entre os projetos elencados para cada
ação mencionada, deve-se ressaltar que a maioria ou encontrava-se em estudo ou
seria desenvolvido em 2000. Atualmente, já se encontram executados os projetos
relativos aos equipamentos e serviços de apoio à atividade empresarial, como o
Centro de Convenções Expominas JF. A rede hoteleira também vem apresentando
188
crescimento, bem como o acesso à educação e formação profissional. Dentre os
projetos polêmicos que ainda não saíram do papel está o Restaurante Popular, com
obras inacabadas e sem previsão de reinício.
Em relação às parcerias, citam-se os convênios PJF, SEBRAE, SESI, SENAI,
Sindicatos de Classe, CUT, Concessionárias de Telecomunicação, Empresas de
Informática, Caixa Econômica Federal, Receita Federal, Secretaria Estadual da
Fazenda, entre outros.
Juiz de Fora, Cidade Pólo da Zona da Mata
Consolidar Juiz de Fora como capital da Zona da Mata, melhorando sua acessibilidade, ampliando suas atividades de comércio e serviços e buscando excelência nas áreas de saúde e educação (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000.p.46)
Destacando o papel desempenhado por Juiz de Fora como pólo atrativo de
todo seu entorno, tendo ação integradora da Região da Zona da Mata, essa
estratégia buscou formar um bloco que pudesse assumir um papel de destaque no
cenário nacional. Seus projetos potencializam a atratividade exercida pela cidade,
fortalecendo suas atividades econômicas e consolidando-a como pólo regional. A
atenção especial volta-se para as áreas nas quais a cidade já se destaca, como
educação, saúde e logística. Criando organizações de atuação regional e que
promovendo oferta de serviços avançados em saúde e educação, suas ações são
voltadas para a requalificação e transformação da acessibilidade: “Ao enfatizar o
alcance de novos padrões de referência na saúde, educação e cultura e a
consolidação da cidade como integradora de seu entorno, esta estratégia apresenta
a contribuição mais direta ao Objetivo do Plano Estratégico” (PREFEITURA DE JUIZ
DE FORA, 2000).
Entre as ações apresentadas, a primeira delas diz respeito à requalificação e
revitalização do centro da cidade (área compreendida entre as avenidas Rio Branco,
Independência e Francisco Bernardino), apontando, para tal, 2 grandes projetos:
primeiramente, a reurbanização das praças e ruas da área central, sobretudo as
Praças da Estação e do Riachuelo, restaurando seus conjuntos arquitetônicos do
entorno e requalificando seus usos; além disso, reformar a Praça Antônio Carlos,
incorporando-a ao Espaço Mascarenhas e transformado-a em efetiva área de lazer,
integrada às atividades culturais e comerciais existentes. Embora estes projetos
189
tenham sido executados melhorando o aspecto das áreas atendidas e resolvendo
algumas questões, como o transporte e o trânsito, ainda assim não foram inseridos
novos usos nem houve uma verdadeira requalificação do espaço urbano.
Continuando no âmbito dos projetos de requalificação do centro, encontram-
se ações relativas à implantação de passagem subterrânea de veículos, na Avenida
Rio Branco, integrando o Parque Halfeld e os calçadões da Rua Halfeld e Marechal
Deodoro (não executado); reurbanização das Avenidas Getúlio Vargas e Francisco
Bernardino (executado parcialmente); revitalização e valorização dos edifícios-
galeria (parcialmente executado) e a transformação das Ruas Marechal Deodoro,
Batista de Oliveira e Mister Moore em ruas de pedestres (houve somente o
fechamento das ruas para circulação de veículos, sem qualquer trabalho na
execução do piso do calçadão). Moradores e lojistas, entidades de classe, SEBRAE,
setor privado, ONG PERMEAR, Instituto dos Arquitetos do Brasil, Unidade Juiz de
Fora (IAB/JF) foram os responsáveis por essas ações (ou pela sua elaboração).
Num segundo momento, apresentou-se o projeto de revitalização de imóveis
de interesse histórico-cultural e promoção da atratividade da área central. Como
premissa para a execução dessas ações, buscou-se, através dos projetos integrar,
revitalizar e valorizar a área central da cidade, com ordenamento das funções
urbanas, requalificando o comércio, melhorando a paisagem e valorizando o
patrimônio cultural.
Como parte das ações desta estratégia, deve-se destacar ainda a promoção
de obras para melhoria dos acessos à cidade, fortalecendo a acessibilidade aérea e
rodoferroviária de Juiz de Fora, consolidando a região como unidade territorial,
social e econômica. Entre os projetos que fizeram parte desta ação, devem ser
elencados: duplicação da rodovia BR-040 (entre Matias Barbosa e Belo Horizonte);
requalificação do trecho da rodovia BR-267 (trecho Leopoldina – Juiz de Fora);
recuperação e ampliação do Aeroporto de Juiz de Fora ou a construção de um novo
Aeroporto Regional. As principais parcerias aconteceram entre a PJF e DNER,
DER/MG, INFRAERO, governos Federal e do Estado. Corroborando o projeto de
desenvolvimento da Manchester Mineira, todas as obras de infraestrutura viária
foram executadas em parceiras diversas. Somente o Aeroporto Regional da Zona da
Mata (como já informamos) permanece sem concretização.
Um terceiro grupo de ações orientou-se para o desenvolvimento de iniciativas
de abrangência regional, com projetos de consolidação do Consórcio Intermunicipal
190
da Zona da Mata, Campos das Vertentes e Sul de Minas. Esse consórcio
possibilitava a disponibilidade de base de dados com interligação, em rede, dos
municípios e ações e projetos integrados (projeto em execução desde 2000). Além
desse projeto, menciona-se a criação de uma rede regional de tecnologia
envolvendo todos os órgãos de Ciência e Tecnologia da região e gerenciada por um
Conselho Diretor de Desenvolvimento Tecnológico. Seu objetivo seria fornecer
reforço às estruturas existentes de apoio ao desenvolvimento tecnológico das
empresas locais. Apesar de terem sido firmadas parcerias entre a UFJF, SEBRAE,
SENAI, EMBRAPA, PJF, o projeto ficou na etapa dos estudos.
A expansão da oferta de cursos universitários aparece como quarto grupo de
ações desta estratégia, bem como a criação de um programa na TV sobre educação
“tornando o diálogo entre escola e comunidade mais prazeroso e informal”. A
primeira ação voltou-se para o incentivo à expansão da oferta de cursos de
graduação e pós-graduação, nas diversas Instituições de Ensino Superior da cidade.
Além disso, propunham cursos de mestrado e doutorado, de modo a atender à
demanda regional consolidando a vocação educacional do Município. Esta ação vem
sendo executada, observando-se o crescente número de novas instituições de
ensino superior e novas ofertas de cursos tecnológicos e de graduação. Já a
segunda ação não obteve financiamento, não sendo executada.
Por fim, desse grupo de ações, devem-se ressaltar as iniciativas para elevar a
qualidade dos serviços de saúde, redimensionando e elevando a novo patamar de
qualidade os serviços oferecidos à região, através de investimentos em
equipamentos e treinamento de pessoal.
Entre os projetos desta ação, devem-se destacar os seguintes
empreendimentos: o novo Hospital Universitário (já executado, contando com
subsídios da PJF); a Telemedicina (instalação de infraestrutura de serviços e
comunicação de dados entre instituições de saúde do Município e região); a
Educação para profissionais de saúde (oferecendo capacitação e educação
continuada para profissionais da área de saúde, em execução); o Centro de Atenção
Odontológica Multidisciplinar do paciente portador de necessidades especiais; a
Zona da Mata Transplantes (criação da Central de Notificação e Morte Encefálica,
Captação, Armazenamento e Distribuição de Órgãos de Cadáveres, no Hospital
Regional Dr. João Penido e consequente realização de transplantes na Santa Casa
de Misericórdia de Juiz de Fora e Hospital Universitário, atendo municípios da Zona
191
da Mata Mineira, Vertentes e Sul de Minas, e de parte do Estado do Rio de Janeiro),
projeto em execução sob a responsabilidade da PJF e FHEMIG (Federação
Hospitalar do Estado de Minas Gerais).
Juiz de Fora, Cidade de Qualidade
Esta última estratégia complementa as outras duas, na medida em que
procura disponibilizar, de forma concreta e imediata para o dia-a-dia do cidadão, os
resultados decorrentes dos projetos da estratégia Juiz de Fora, Cidade de
Oportunidades e das ações que consolidarão a cidade como referência regional
dentro da estratégia Juiz de Fora, Cidade Pólo da Zona da Mata. Trata-se de
projetos que
requalificam a estrutura urbana da cidade, melhoram sua mobilidade interna, buscam integrá-la aos seus recursos naturais, consolidam-na como espaço de excelência em gestão pública, além de reforçar sua estrutura se segurança pública e ampliar a oferta de saúde às áreas desassistidas (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000.p 56)
Destaca-se, que esta estratégia contribui para o alcance do Objetivo Central
do Plano Estratégico ao abordar temas como o equilíbrio do espaço urbano, respeito
à coisa pública e ao meio ambiente.
Tendo o maior número de ações, num total de 12 grandes grupos, destacam-
se as seguintes ações, visando à ampliação da estrutura viária da cidade: projetos
executados de implantação de mão-dupla na Avenida Brasil (binário); interligação da
Cidade Alta à Zona Norte, através da Via Interbairros (ver projetos do PDDU, 2000);
implantação de pista dupla na Avenida Deusdedith Salgado (saída da Zona Sul para
a BR-040).
A ampliação da mobilidade e da qualidade do transporte coletivo também
aparece com destaque, sobretudo no projeto de criação do sistema troncalizado de
transporte coletivo urbano. Esse projeto buscava dotar o transporte coletivo de um
sistema tronco alimentador de linhas troncais, linhas alimentadoras e terminais de
integração, capaz de descongestionar as vias centrais e permitir maior mobilidade.
Chegou a ser executado, mas, devido à falta de estrutura operacional, com
192
insuficiência de veículos para atender à demanda e poucos terminais, o sistema foi
desativado e as obras realizadas servem de suporte para outras atividades.
Outros projetos desta ação que foram executados: ampliação e
melhoramento do Terminal Rodoviário Miguel Mansur; “Acessibilidade para todos”,
projeto de eliminação de barreiras arquitetônicas nos espaços públicos e adaptação
de veículos de transporte coletivo urbano às normas que garantem condições de uso
para idosos, crianças e deficientes.
Focados na municipalização da gestão ambiental, outras ações se
concentram nos projetos: Implantação do Sistema Municipal do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (em execução); Código Ambiental do Município (em
execução); Zoneamento Ambiental (a desenvolver); Prevenção à Ocupação em
Áreas de risco (a desenvolver). A recuperação do meio natural, os projetos de
arborização dos espaços públicos e reflorestamento de encostas e topos de morros,
a recuperação da área degradada do Morro do Alemão e a Implantação do Parque
Ecológico da Laginha, todos estes executados, também constam nessa estratégia.
Como sexta grande ação da linha estratégica, a modernização da
administração municipal aparece com 7 projetos relacionados, a saber: 1)
Reestruturação da Administração Municipal (em estudo); 2) Modernização da
administração fiscal (em estudo); 3) Monitoração dos Índices de Qualidade de Vida
(a desenvolver); 4) Capacitação permanente dos servidores municipais
(desenvolvimento parcial); 5) Reestruturação das bases de dados municipais e dos
sistemas de informação ao cidadão (desenvolvimento parcial); 6) Implementação do
posto de atendimento (executado); 7) Qualidade 10 X Tolerância 0 (estímulo à
criação de ONGs de natureza social, projeto a desenvolver).
Visando reforçar a capacidade de regulamentação e fiscalização para
aprimorar esses instrumentos municipais, essa ação traz em seu conjunto de
projetos: Revisão e Compilação da Legislação Urbana; Reorganização da
Fiscalização Municipal; Implantação do Código Sanitário e da Vigilância Sanitária
municipais.
O primeiro projeto, segundo o PlanoJF buscava
efetuar ampla revisão da legislação urbana com edição de coletâneas em meio magnético e impresso, visando, através de grande divulgação, melhor relacionamento da administração municipal com os contribuintes – que
193
disporão de um conjunto de orientações claras e atuais (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2000.p.78)
Esse assunto polêmico já havia sido alvo de especulações, desde 1996 e, em
2000, com a aprovação PDDU, 2000 a questão foi finalizada, sem a revisão das leis
de Parcelamento (6.908/86) e Uso e Ocupação do Solo (6.910/86). Mais uma vez
em pauta no discurso da gestão pública, sendo foco de intenções não validadas por
toda a sociedade, sobretudo pelos setores interessados diretamente na construção
do espaço da cidade, esse assunto estava “em estudo”, em 2000, e assim
permanece até hoje. Os dois outros projetos também encontram-se na mesma
situação ou, sendo mais otimista, “a desenvolver”.
Encontravam-se em estudo os projetos relativos à ação de reestruturação da
área de saneamento básico: 1) Gerenciamento integrado do lixo e entulho; 2)
Criação de empresa prestadora de serviços de saneamento; 3) Criação do Conselho
Municipal de Saneamento; 4) Implementação do programa integrado de saneamento
ambiental das bacias hidrográficas do Município.
Boa parte desses projetos permanece sem efetivação ou está em fase inicial
de desenvolvimento. Um dos maiores problemas da gestão urbana atual é alavancar
tantos projetos elaborados, entretanto com uma defasagem de quase 10 anos. As
dificuldades do poder público em implementá-los, voltando-se diretamente à
população, residem na política elitista e conservadora, cujo foco central ainda é a
ligação de Juiz de Fora com uma rede de cidades, fortalecendo os laços econômicos
e enfraquecendo cada vez mais os laços com o cidadão das classes populares.
As ações de ampliação da oferta de serviços na área de saúde também têm
destaque no PlanoJF, estando algumas em execução: criação de Unidades de
Saúde, em áreas desassistidas; ampliação do Programa de Agente Comunitário. As
demais encontram-se “a desenvolver”: renovação e ampliação do sistema Resgate;
implementação da atenção integral à pessoa portadora de deficiência no SUS;
tratamento homeopático nas UBS.
A criação de rede de serviços de apoio social é mencionada no plano como
ação a ser executada, para garantir os serviços de assistência social, promovendo a
articulação de agentes e instituições públicas e privadas envolvidas. O único projeto
desta ação (Articulação das ações de assistência social em rede única) encontra-se
“a desenvolver”.
194
A penúltima ação desta terceira estratégia é a promoção da melhoria dos
serviços na área de segurança pública, com um único projeto em andamento:
construção e recuperação de Postos Policiais, aquisição de viaturas, contratação de
policiais. Os demais projetos encontram-se em fase de “estudo” ou “a desenvolver”:
criação do Conselho de Defesa Social do Município e incremento dos Conselhos
Comunitários de bairros; Centro de Inteligência para as questões de narcotráfico e
crime organizado; Casa Abrigo (abrigo para vítimas de violência doméstica e ou
ameaça).
Encerrando o documento do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano
de Juiz de Fora, a última ação buscava estabelecer as bases institucionais para o
desenvolvimento do esporte, lazer e cultura na cidade, promovendo a convivência e
integração cidadã, através de atividades esportivas, recreativas e artísticas. Todos
os projetos encontram na fase “a desenvolver”: criação de um órgão autônomo para
a gestão dos desportos, recreação e lazer; elaboração de políticas de financiamento
destas atividades, através do Fundo Municipal de Esporte e Lazer; elaboração de
legislação específica para permitir a utilização dos recursos fiscais no
desenvolvimento de atividades culturais, através da Legislação de Incentivo a
Projetos Culturais.
o final desta exposição, percebe-se que, dos projetos elencados,
aqueles cuja ênfase recai no foco econômico, e de infraestrutura viária
foram os mais desenvolvidos, resultando em ações diretas sobre o tecido urbano. Já
os voltados para a melhoria da qualidade de vida da população, elevando níveis de
acessibilidade à moradia e serviços urbanos para todos os cidadãos, tiveram ou
ainda têm entraves das mais diversas ordens.
É fato que estamos diante de uma cidade caracterizada pela polarização
sobre os municípios vizinhos, possuindo fortes demandas em relação aos serviços
que oferece. O tecido urbano, por sua vez, demonstra a tentativa de atender a essas
demandas, com inúmeros empreendimentos de cunho residencial, industrial e
comercial.
Sabemos, através do histórico do desenvolvimento de Juiz de Fora, que as
políticas públicas, vistas sob o aspecto de seus planos e projetos, vêm buscando a
afirmação da vocação centralizadora de atividades do Município, além de sua
inserção no mundo globalizado.
A
195
Diante da questão central que permeia este trabalho, de identificar as
contradições e complementaridades entre os planos produzidos pelas gestões
públicas, sustentamos a hipótese de que a busca pelo desenvolvimento apesar de
privilegiar os setores econômicos, também possibilitou a geração de riquezas para a
cidade, e apropriação de recursos públicos pelos cidadãos.
Acreditamos, todavia, que essa apropriação se efetivou de forma desigual,
pautada numa política urbana cujas ações obedeceram a uma lógica comum de
reordenamento viário. Nessa medida o sentido rodoviarista e a priorização da
circulação, observada nos planos e projetos, materializou espacialmente no tecido
urbano a desigualdade social: de um lado os bairros favorecidos pela proximidade
com os novos eixos criados, apresentando melhorias em sua estrutura; de outro os
bairros que não se valeram desses projetos e continuam fazendo parte da agenda
de necessidades da PJF.
Caminhando para a conclusão e a delimitação do projeto de desenvolvimento
da Manchester Mineira, será discutido, no capítulo 4, a implementação dos planos
(PDDU, 2000 e PlanoJF) e as sobreposições pertinentes aos mesmos.
Contando com alguns indicadores, como a atuação do mercado de terras, a
ação do setor público e as formas de acesso à moradia, e também com a
espacialização dos projetos urbanos, identificaremos as sobreposições subjacentes
aos programas, e as formas de apropriação dos investimentos gerados a partir das
políticas urbanas no Município.
196
4 O PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DA MANCHESTER MINEIRA
legado das experiências de planejamento urbano no Brasil, passando
pela nossa origem agrária até a sociedade em desenvolvimento hoje
em dia, nos revela uma realidade urbana pautada pela ausência do tratamento da
questão urbana, resultando num modelo urbanístico marcado pela diferenciação
sócio-espacial.
Na década de 80, com o Movimento Nacional de Reforma Urbana, apoiado
na concepção da função social que as cidades deveriam ter (o uso social do espaço
para o bem coletivo em detrimento do privado) iniciou-se uma jornada a procura das
práticas de planejamento urbano que pudessem tratar dos problemas das cidades
de forma equitativa e melhorar a vida de todos. O resultado desse processo nos
parece um grande ganho em relação ao que (não) tínhamos: a Constituição de 1988
fortaleceu a vontade dos movimentos sociais de enfim, preparar o Brasil para
enfrentar os desafios de ser uma nação democrática.
Pautado por uma política de abertura das fronteiras do país frente os
investimentos externos, o desenvolvimento (e a dependência externa brasileira, já
existente, desde nossa colonização) tornou-se slogan público. Desde os primeiros
planos de intervenção urbana focados no embelezamento, as políticas
desenvolvimentistas de Vargas e JK, e o SERFHAU, a visão sobre planejamento
urbano se pautou pelo econômico em detrimento do social, pela priorização das
ações em áreas de interesses privados, e pelo tratamento superficial dos problemas
existentes nas periferias urbanas.
Reproduzindo a lógica capitalista brasileira, as cidades de porte médio, entre
elas Juiz de Fora, MG, também pautaram suas ações no trato das questões urbanas
baseadas numa concepção de desenvolvimento estruturada em um projeto que
reproduz a dinâmica do capitalismo e materializa a diferença nas formas de
apropriação da riqueza.
Para sustentar a nossa questão central da tese, e identificar as contradições
entre os planos e projetos produzidos pelo Poder Público na Manchester Mineira,
assim como as sobreposições existentes, percorremos os meandros da elaboração
e implementação das leis urbanísticas e das formas de atuação do Estado no
Município.
O
197
Assim, buscando validar nossa hipótese de que a busca do desenvolvimento,
materializada nos planos e projetos da Prefeitura e no privilégio dos setores
econômicos, gerou ao mesmo tempo riquezas para a cidade, e apropriação
desigual, fortalecendo a diferença e o lugar de cada classe no tecido urbano,
apresentaremos alguns indicadores que possam demonstrar a atuação do mercado
de terras e as ações de planejamento do setor público que contribuíram para a
formação da estrutura de valores do solo.
Discutiremos também, como resultado final das práticas públicas, as formas
de acesso à moradia, e a produção informal da cidade, finalizando com a
espacialização dos programas e projetos urbanos, bem como suas sobreposições,
chegando ao entendimento conclusivo sobre o reflexo espacial das políticas urbanas
em Juiz de Fora.
4.1 INDICADORES SOBRE A DESIGUALDADE
4.1.1 O Mercado de Terras e a Ação do Setor Público
A partir das idéias desenvolvidas neste trabalho, podemos concluir que Juiz
de Fora possui uma estrutura que confirma as mesmas tendências especulativas
observadas nas grandes cidades, onde os proprietários fundiários agem como
coadjuvantes em relação à valorização da terra urbana, principalmente os
proprietários de grandes terrenos.
De acordo com o PDDU, 2000, a relação do número de lotes vagos pelo
número de edificações existentes, em 1996, era de 1 para 2, significando que a
estrutura urbana possuía potencial de adensamento para absorver acréscimo de um
terço das edificações.
A existência de áreas vazias de grande porte na cidade, públicas ou privadas,
que ainda se mantém intactas remanescentes de glebas antigas, provocam
pressões da atividade imobiliária, gerando a especulação fundiária e expansão da
ocupação urbana que estende seus limites.
Esse processo que lida com a venda da terra, de acordo com Campos Filho
(1992) e, consequentemente com a renda gerada por essa atividade, é no modo de
produção capitalista uma forma pela qual os proprietários fundiários “recebem uma
renda transferida dos outros setores produtivos da economia, especialmente através
198
de investimentos públicos em infraestrutura e serviços urbanos”, meios coletivos de
produção e consumo ao nível do espaço urbano (CAMPOS FILHO, 1992.p.48).
Na construção desse espaço, inúmeras são as contradições e tensões,
gerando fortes conflitos e correntes cruzadas. Desse modo, Harvey (1982, p. 06)
aponta que a “sociedade capitalista precisa, por necessidade, criar uma paisagem
física, uma massa de recursos físicos construídos pelo homem à sua própria
imagem, apropriada, em linhas gerais, às finalidades da produção e do consumo”.
Assim, o ambiente construído urbano tem um papel peculiar com relação ao
conjunto de recursos que ele oferece, desde as ruas, os sistemas de esgoto, as
áreas de lazer, a iluminação, tudo, é consumido coletivamente, cabendo ao Estado a
provisão de tais bens públicos.
As classes médias urbanas proprietárias e mesmo os setores do capital
(beneficiados pela política pública) têm na especulação fundiária uma forma segura
de não perder lucros com o processo inflacionário, e até uma possibilidade de
ganhos de valor. Na medida em que as cidades crescem horizontalmente os
terrenos vão se tornando cada vez mais centrais, embora fixos no espaço. Essa
expansão situa-os próximos dos investimentos públicos, em infraestrutura e serviços
urbanos, que se fazem do centro para a periferia, geradores de renda diferencial, ou
seja, de valorização imobiliária.
Sabemos que é a utilização capitalista do solo urbano que confere à
propriedade privada da terra um valor, sendo os preços fundiários formados a partir
de uma demanda dos agentes capitalistas que precisam dessas terras para valorizar
seus capitais.
Conforme Tasca (2002) as camadas média e média-alta existentes em Juiz
de Fora, formadas por pequenos empresários, comerciantes e profissionais liberais,
são detentores de rendimentos que permitem a formação de um excedente.
Acumulando este excedente, viabilizam a ampliação do patrimônio, através da
aplicação deste rendimento na aquisição de imóveis, seja para moradia própria ou
para aluguel. A isto, somam-se os compradores originários de municípios
polarizados por Juiz de Fora, que adquirem imóveis afim de manter uma segunda
residência ou na intenção de destiná-los aos filhos que irão cursar faculdades,
havendo ainda a possibilidade de alugá-los. 99
99
A dinâmica da produção imobiliária de incorporação em Juiz de Fora foi analisada pela autora em sua dissertação de mestrado, em 2000. Recorrendo-se ao Sindicato das Indústrias da Construção
199
Embora o fenômeno se manifeste de forma dispersa em toda a área urbana,
destaca-se o grande número de lotes ociosos e/ou subutilizados, especialmente na
área central. É notório o grande número de estacionamentos situados em terrenos
aguardando valorização imobiliária. Recentemente temos observado a reversão
desse quadro, com vários empreendimentos de apartamentos residenciais (quarto e
sala, principalmente) e edifícios comerciais.
Através da densidade demográfica, podemos ver a reacomodação da
população, sendo que no bairro Centro (coração da cidade) esta teve expressiva
queda de 1996 a 2000, enquanto no setor como um todo aumentou. Demonstrando
a saída de população para os bairros do entorno, de 133,8 hab/ha passou-se a 119
hab/ha (no bairro Centro) e de 99,9 hab/ha para 102,21hab/ha em toda a área
central.100 O preço da terra no Centro, como detalhado no Quadro 10, que girava em
torno de 1.318,36 R$m2, em 2004, é o mais elevado, com grande diferença em
relação aos outros bairros, como exemplo, o Alto dos Passos que vem em segundo
lugar na planta de valores com R$547,62 m2, menos da metade do Centro.101
Quadro 10: Valores da Terra em Juiz de Fora/2004
Valores da Terra em Juiz de Fora/2004
Região Urbana
Valor máximo das AIíquotas na RU (R$/m²)
Máximo Mínimo Médio
Barreira do Triunfo 24,51 0,98 12,75
Represa 7,37 0,57 3,97
Benfica 98,08 0,98 49,53
Sta. Cruz 490,40 0,98 245,69
Nova Era 98,08 3,93 51,01
Civil (SINDUSCON) da cidade, traçou-se um direcionamento dos sub-mercados existentes e suas empresas mais expoentes, de acordo com a definição do próprio sindicato. Dessa forma mapeou-se a estrutura de produção do espaço urbano em termos de incorporação, detectando a viabilidade ao acesso da moradia no Município. Algumas empresas analisadas naquela época, ainda se apresentam atuantes no mercado, como a Aguiar Villela (com 80% de sua produção para população de baixa renda, com parceria com a Caixa Econômica Federal), o Grupo Rezato (padrão classe média), a Villa Construções e Empreendimentos (padrão classe alta) e a Predial Godinho (loteamentos urbanizados para classe alta)). Em 2002, a autora obteve informações diretas em entrevista com os responsáveis pelas empresas citadas, sendo que atualmente a cidade tem recebido a entrada de empresas de outros municípios como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Para maior aprofundamento consultar TASCA, Luciane. Juiz de Fora na década de 90: a produção do ambiente construído urbano. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional). Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. 100 Fonte: IBGE. Contagem Populacional 1996 e Censo 2000. 101
Fonte: Planta de Valor da Terra. SPGE/PJF. 2004.
200
Barbosa Lage 81,73 4,91 43,32
Remonta 57,21 0,57 28,89
Jóquei Clube 98,08 9,00 53,54
Jardim Natal 98,08 16,34 57,21
Industrial 40,87 4,58 22,73
Francisco Bernardino 130,78 4,91 67,85
Carlos Chagas 22,88 22,88 22,88
Cerâmica 130,78 13,07 71,93
São Dimas 98,08 98,08 98,08
Esplanada 62,11 35,95 49,03
Monte Castelo 40,87 1,48 21,18
Fábrica 124,25 9,80 67,03
Mariano Procópio 351,45 24,51 187,98
M. da Glória 637,53 52,29 344,91
Sta. Catarina 351,45 9,80 180,63
Vale do Ipê 122,60 1,48 62,04
Borboleta 106,25 1,48 53,87
M. do Imperador 111,96 1,48 56,72
Jardim Glória 196,17 21,25 108,71
Jd. Sta. Helena 523,09 122,60 322,85
Jd. Paineiras 294,24 125,86 210,05
N.Sr.de Fátima 91,98 14,72 53,35
São Pedro 91,98 1,48 46,73
Cruz. De Sto. Antônio 32,69 1,48 17,09
Nova Califórnia 14,72 13,07 13,90
Novo Horizonte 30,10 11,45 20,78
Aeroporto 49,26 1,97 25,62
Salvaterra 32,69 1,48 17,09
Sagr. Cor. De Jesus 19,62 12,38 16,00
São Geraldo 19,62 13,07 16,35
Sta. Efigênia 24,51 12,38 18,45
Ipiranga 73,89 1,48 37,69
Teixeiras 106,26 37,60 71,93
Dom Bosco 108,43 40,87 74,65
São Mateus 817,32 62,11 439,72
Sta. Cecília 130,78 32,69 81,74
Sta. Luzia 207,71 14,72 111,22
Cruz. do Sul 40,87 14,72 27,80
Graminha 207,71 1,48 104,60
Mundo Novo 179,81 44,13 111,97
Alto dos Passos 899,06 196,17 547,62
Boa Vista 490,40 156,90 323,65
Bom Pastor 948,12 32,69 490,41
Vila Ideal 45,78 14,72 30,25
Vila Olavo Costa 490,40 16,34 253,37
201
V. Furtado de Menezes 98,08 9,29 53,69
V. Ozanan 98,08 19,62 58,85
Poço rico 253,38 16,26 134,82
Granbery 457,72 73,89 265,81
CENTRO 2615,46 21,25 1318,36
Floresta 12,38 9,80 11,09
Barão do Retiro 22,88 2,77 12,83
Sto. Ant. do Paraibuna 44,13 2,77 23,45
N. Sr. de Lourdes 65,40 8,70 37,05
Costa Carvalho 138,94 21,25 80,10
Botanágua 215,77 57,21 136,49
São Bernardo 49,26 2,77 26,02
Cesário Alvim 52,32 24,51 38,42
Vitorino Braga 148,76 37,60 93,18
São Benedito 52,32 16,34 34,33
Grajaú 57,21 17,98 37,60
Linhares 106,25 2,77 54,51
Sta. Rita de Cássia 106,25 16,34 61,30
N. Sr. Aparecida 32,69 13,07 22,88
Manoel Honório 269,72 34,34 152,03
Bonfim 68,66 42,51 55,59
Bairu 122,60 83,38 102,99
Progresso 65,40 2,77 34,09
Centenário 163,47 8,18 85,83
Sta. Terezinha 73,57 29,41 51,49
Eldorado 40,87 24,51 32,69
Bom Clima 73,57 32,69 53,13
V. dos Bandeirantes 65,40 0,57 32,99
Granjas Bethânea 16,34 6,53 11,44
Grama 26,34 0,57 13,46
Cascatinha 351,45 34,98 193,22
Fonte: Planta de Valor da Terra. SPGE/PJF. 2004
Assim mesmo, diante das mudanças atuais e da impossibilidade de
comparação com novos dados (planta de valores está em processo de atualização),
podemos deduzir que o coração da cidade ainda tem seu lugar preservado,
representando o ponto nodal de todos os fluxos dentro do tecido urbano.
A Cidade Alta (Oeste) alvo das empresas especializadas em loteamentos,
também mantém um estoque de áreas de razoáveis dimensões no mercado de
terras urbanas. Desde a implantação da UFJF, na década de 70, até os recentes
condomínios fechados dos anos 90, essa região vem absorvendo crescimento e
202
aumento de sua densidade. Comparando-se alguns bairros dessa zona em relação
ao seu crescimento demográfico, podemos ver que nas áreas onde surgiram novos
condomínios, a densidade aumentou significativamente: Morro do Imperador (grande
número de condomínios fechados) subiu de 1,1hab/ha, para 2,3 hab/ha e São Pedro
(bairro que estrutura a região) passou de 23,7 hab/ha, para 27,2 hab/ha.102 O preço
da terra consta na planta de valores de 2004 como sendo R$56,72 m2 no Morro do
Imperador e R$46,73 m2 em São Pedro. Comparativamente com outros bairros da
cidade estes apresentam valores baixos, se elencarmos Bom Pastor e São Mateus
(Centro) com R$490,78m2 e R$439,72m2.
Podemos mencionar ainda, Benfica (Norte) cuja renovação urbana pode ser
medida pelo número de novos loteamentos e pela alteração em sua estrutura
urbana. Passando de uma densidade de 18,2 ha/ha em 1991 para 20,6 hab/ha em
2000, as características de bairro popular foram sendo alteradas, com a expansão
industrial e residencial para classe média. Os valores da terra urbana aqui
(R$49,53m2), se comparados com outras áreas mais nobres da cidade, como zona
Oeste (R$56,72m2 no M. do Imperador) onde se localizam os principais condomínios
de classe média alta da cidade, apresentam pouca variação. Ou seja, o custo da
construção em Benfica é quase o mesmo dos loteamentos da Cidade Alta. Diante da
necessidade de alimentar o mercado da terra urbana, e estando esta última em
processo de consolidação, a zona Norte oferece espaço de sobra para novos
empreendimentos.
Com uma população de 18.111 pessoas, Benfica vem construindo a própria
história, sendo considerada quase independente da cidade por seus moradores.
Segundo a Sociedade de Pró-Melhoramento (SPM), já houve em 1963 a tentativa de
separar a área através da transformação da então vila, em distrito. Mas em 1968, a
idéia caiu por terra, com a incorporação do distrito à Juiz de Fora. 103
Possuindo comércio diversificado, unidades de saúde pública, escolas,
transporte urbano, estando localizada a 7 Km do Centro da cidade, Benfica e toda a
Zona Norte concentram a maior riqueza industrial e, atualmente, a principal rota de
atração de investimentos e novos negócios em Juiz de Fora. Representando 85% do
Produto Interno Bruto (PIB) da cidade, estão direcionados para lá os principais
planos de expansão empresarial do Município. Com topografia privilegiada, ferrovia,
102
Fonte: IBGE. Contagem Populacional 1996 e Censo 2000. 103
Fonte: Benficanet.com.
203
gasoduto e rodovias de acesso ao Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Sul de Minas, a
PJF aponta que é preciso otimizar a ocupação, haja vista a existência de 8 milhões
de metros quadrados disponíveis. A maior oferta de terrenos está no entorno das
rodovias, sendo necessário viabilizar o acesso, para que haja ocupação. Além disso,
“as áreas precisam de infraestrutura, pontes, energia, saneamento e estradas”,
conforme o presidente da FIEMG Regional Zona da Mata (Federação das Indústrias
do Estado de Minas Gerias), Francisco Campolina (Jornal Tribuna de Minas, Ano
XXVII, 2009).
Já a região Nordeste, cortada pela MG-353, teve pouca variação na
densidade de seus bairros, e em sua densidade geral, passando de 13,91hab/ha em
1996 para 14,95hab/ha em 2000. Contendo bairros de padrão elevado como Bom
Clima e Bairu, a região também conta com alguns de padrão popular como
Bandeirantes, Eldorado e Progresso. Os valores da terra urbana circulam em torno
de R$53,13m2 no Bom Clima, R$102,99 m2 no Bairu, R$32,99 m2 no Bandeirantes,
R$32,69 m2 no Eldorado e R$34,09 m2 no Progresso. Com exceção dos bairros
mais elitizados, os preços na maioria da região são baixos, podendo-se traçar um
perfil de área popular já consolidada. Devido às impossibilidades físicas e relevo
acidentado, não é apontada como área de expansão urbana, devendo ser ocupada
com restrições.
A porção Sul, entre o Centro e limite com o município de Matias Barbosa,
possui bairros com densidades elevadas como Santa Luzia (110,4 hab/ha), e
Cascatinha (73 hab/ha) e também a maior parte da população de baixa renda, com
21 áreas de ocupação subnormal. Sendo parte do eixo de saída da cidade (BR-040),
o bairro Cascatinha apresenta expoência, tendo ocorrido significativo aumento na
densidade de 1996 a 2000, passando de 59,8 hab/ha para 73 hab/ha. O preço da
terra em 2004 apresentava-se elevado neste último (R$193,22m2) e em Santa Luzia
(R$111,22m2). Com a implantação de um shopping center, e de centros comerciais,
a zona Sul passa por rápidas mudanças, apresentando modificações na paisagem,
com intensificação do uso do solo, sobretudo para residências multifamiliares.
A face Leste do tecido urbano, com ocupação antiga e de moradias
populares, apesar da proximidade com o Centro, não tem o mesmo perfil. Fazendo
parte da cidade baixa teve pouco aumento em sua densidade (60,14 em 1996 e
61,81em 2000). Os preços da terra são baixos, semelhantes aos do nordeste, cerca
de R$54,51m2 no Linhares, R$37,60 m2 no Grajaú; R$34,33 m2 em São Benedito e
204
R$26,02 m2 no São Bernardo. A exceção é o bairro Vitorino Braga com R$93,18 m2,
que apesar de padrão popular é uma área de renovação urbana, locando importante
hospital da cidade e clubes esportivos.
Fechando a malha urbana a região Sudeste, estruturada pela BR-267,
contém os bairros mais pobres da cidade, com densidades elevadas como Olavo
Costa com 153,6 hab/ha e Furtado de Menezes 139,6 hab/ha, contrapondo-se a
outras áreas com reduzida população como Floresta com 2,2 hab/ha. As duas
primeiras áreas se caracterizam por habitações populares e áreas subnormais,
apesar do curioso valor da terra urbana: Olavo Costa, R$253,37m2, Furtado
R$53,69m2, podendo-se atribuir esse fato à fronteira que fazem com a zona Sul. Os
outros bairros apresentavam em 2004, valores mais baixos: Lourdes com R$37,05
m2; Vila Ideal R$30,25 m2 e Santo Antônio R$23,45m2.
204
Mapa 35: Mapa de Densidades e Valores da Terra Urbana Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
205
Influência do planejamento urbano e das práticas públicas, em Juiz de
Fora, no mercado de terras urbanas pode ser medida, se retrocedermos
por volta dos anos 70, quando a Administração Pública passou por uma
reorganização, sendo criado em 1977 o IPPLAN/JF.104
Nesse processo, em decorrência da proposta de reestruturação visando a
melhoria e a consolidação da atuação municipal, através do planejamento da cidade,
elaborou-se o Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI). Este plano
enfatizava a estrutura intra-urbana e o sistema viário, criando a base cartográfica
que foi utilizada mais tarde. Já estava presente nesta ação o mesmo sentido
rodoviarista que será utilizado em todos os outros planos posteriores de governo.
Algumas diretrizes urbanas foram também delineadas nessa época, em
planos específicos como o Plano Geral de Transportes, os Planos Diretores da
Cidade Alta e Zona Norte, Plano Paisagístico e Ambiental Urbano. Para intervir na
produção do espaço urbano o Poder Público contava com algumas fontes de
recursos financeiros e técnicos como o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
(BDMG) e a Fundação João Pinheiro.
O Distrito Industrial I, implantado pela Companhia de Distritos Industriais, foi
inaugurado em 1975, a partir de uma política de promoção da interiorização das
indústrias,105 permitindo a expansão da cidade para a porção mais a oeste da região
Norte (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2004). Desde então, essa região (próxima
à saída da cidade pela BR-040, sentido Belo Horizonte), vem sendo traçada como
vetor de expansão e crescimento urbano.
A partir do acordo firmado em 20 de julho de 1979 a cidade recebeu recursos
da ordem de 22 milhões de dólares, a fundo perdido (significando 90% do total
104
Como já apontamos, o IPPLAN/JF foi destituído na administração 2000, ficando seus técnicos separados em secretarias diferentes. Desde então, existiram vários órgão de planejamento, sendo que atualmente, não existe uma secretaria especifica de ação de planejamento urbano, fazendo parte da promessa do atual prefeito (Custódio Matos) a criação de uma secretaria dotada de força de ação., capaz de gerenciar o desenvolvimento de Juiz de Fora. Destacamos que até a data atual (outubro de 2009) nada foi efetivamente implementado. 105
De acordo com o PDDU, 2000, o Governo Federal da época entendeu que seria necessário interiorizar o setor industrial, como forma de conter o inchaço das grandes cidades. Entre as medidas adotadas, foram criados o Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano (CNDU) e o Programa Cidade de Porte Médio (COM/BIRD). Este último objetivava, em suas linhas mestras, estimular novos pontos de desenvolvimento, desconcentrando as atividades econômicas e a população, promovendo uma melhor ocupação do território nacional. Qualquer definição de política urbana, no nível nacional, encontraria uma rede de cidades em potencial em condições de absorver parte do fluxo migratório das metrópoles. Juiz de Fora foi inserida neste programa para a absorção do contingente populacional que se deslocava para Belo Horizonte e Rio de Janeiro. PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Juiz de Fora Sempre. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora (MG): FUNALFA Edições, 2004.
A
206
previsto para custeio dos projetos) repassados pelo Banco Mundial aos Governos
Federal e Estadual. Aplicados a partir de 1982, permitiram que a Prefeitura
investisse em grande escala, nas áreas de administração e planejamento, educação,
urbanismo, saúde, saneamento, transporte, abastecimento de gêneros e apoio para
pequena e microempresa. As mudanças oriundas desses investimentos serviram
para dinamizar investimentos em transporte, melhoria de infraestrutura em alguns
bairros da cidade, até mesmo a implantação de uma legislação urbana de fato. Na
verdade, até então não existiam leis sobre o Uso e Ocupação do Solo e nem de
Ordenamento, sendo utilizado o Código de Obras de 1938, baseado em princípios
edilícios, em sua maioria.
Os investimentos, especialmente o do Programa CPM/BIRD (encerrado em
1986) foram incentivo para a valorização de várias áreas periféricas, devido à
expansão da infraestrutura e serviços públicos, bem com para a articulação do
Centro através das modificações implantadas no sistema viário. Essa expansão foi
acompanhada pela produção de moradias populares, sendo feitos conjuntos
habitacionais com recursos do COM/BIRD, Caixa Econômica Federal (CEF) e do
sistema COHAB/SFH, boa parte delas na zona Norte.
De 1983 a 1988 seguiram-se intervenções específicas na produção de
moradias, como o Projeto Habitacional do Milho Branco (dentro da proposta do
Minidistrito Industrial), iniciado com recursos do COM/BIRD e construções no em
Nova Era, com recursos da CEF. Além disso, dentro do sistema COHAB/SFH,
conjuntos residenciais deram origem a bairros como Barbosa Lage, sendo que
Jardim Casablanca, Jardim Natal, Benfica, Adolfo Vireque foram objeto de projetos
específicos de infraestrutura, financiados pelos Ministérios da Integração Regional e
do Bem Estar Social.
A partir de 1987 e até 1990 os empréstimos do Fundo de Apoio ao
Desenvolvimento Social (FAS) da CEF no valor de U$3.100.000 permitiram a
execução de projetos nas áreas de saneamento, urbanismo, assistência e
previdência social e transportes. Neste mesmo período era constituído o PRÓ-
MUNICÍPIO, voltado para a melhoria da infraestrutura, substituído em 1992 pelo
PRÓ-SANEAR, financiado pela CEF e PJF, tendo sido administrado pela CESAMA
(Companhia de Saneamento Municipal).
Com a aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de
Fora, em 2000, através do diagnóstico da mancha urbana, diretrizes foram traçadas
207
na intenção de determinar práticas de planejamento a serem adotadas. Além disso
(como analisaremos adiante), uma série de projetos foi elaborada, em diversos
pontos da cidade, focando sobretudo o reordenamento viário, seguido de
infraestrutura básica. De forma sobreposta, em 1997, o PlanoJF foi responsável pela
visão estratégica associada à visão macro do PDDU,2000, lançando mão de 93
projetos focados em diversas áreas, sobressaindo porém, a lógica rodoviarista.
Nesse âmbito, as diversas demandas por solo urbano, que se definem pelas
condições de valorização dos capitais e pela importância da localização para cada
um deles, fazem com que se construa uma hierarquia de mercados fundiários em
função dessa dinâmica, gerando consequentemente, um hierarquia de uso do solo
urbano. Dentro dessa perspectiva a infraestrutura aparece como ponto vital na
transformação dos valores do solo, provocando a reorganização e o caráter mutável
da estrutura urbana.
Acompanhando esse desenvolvimento planejado em Juiz de Fora e, tomando
como referência o parâmetro infraestrutura, analisando-se o percentual dos
domicílios urbanos dotados de canalização interna e ligação à rede geral de
abastecimento de água em 1991, podemos ver que estes já chegavam a 91,74%.
Em 2000 este número subiu para 95,18% dotados de rede geral. No aspecto de
domicílios com rede de esgoto 88,15 % deles tinham, em 1991, instalação sanitária
ligada à rede geral, subindo para 93,13% em 2000.106 Isto revela a situação (num
quadro geral da cidade) da melhoria da infraestrutura urbana nos bairros do
Município, apresentando condições para uma melhor qualidade de vida.
Todavia, afirmamos que a redistribuição dos recursos públicos no sentido de
reduzir as desigualdades sócio-territoriais não aconteceu. Apesar da melhoria nas
condições de moradia da cidade como um todo, inclusive nas áreas populares, em
muitas destas, o transporte urbano ainda é deficiente; a freqüência no
abastecimento de água é irregular; a coleta de lixo é precária, sendo feita em alguns
pontos, obrigando o morador a percorrer certas distâncias (o que invariavelmente
não ocorre) e a drenagem pluvial não é suficiente para evitar inundações. Além
disso, a dinâmica dos valores da terra, como vimos anteriormente, obedece à lógica
da criação de melhorias e externalidades para elevar o preço do solo, determinando
áreas privilegiadas em detrimento de outras. Sob o conceito de desenvolvimento
106
Dados IBGE. Censos 1991 e 2000.
208
urbano, mas com o tratamento priorizado na circulação viária na cidade, vemos que
os bairros que participam desse circuito se valem de novos investimentos,
alavancando crescimento e adensamento.
Assim, apesar da infraestrutura (como podemos ver em termos numéricos nos
Quadros 11 e 12 do Anexo A) atender a quase todo o Município, o acesso aos
recursos urbanos ainda é desigual e o mapa de valores dessa colcha de retalhos
que é a cidade, obedece aos preceitos que pautam nosso modo de produção.
4.1.2 A Renda da População e a Produção Informal
As dificuldades de acessibilidade à renda e à habitação encontram raízes
profundas na conformação da cidade, desde o processo histórico de ocupação das
áreas menos nobres pela classe operária, mantendo a elite da Manchester Mineira a
certa distância. Foi o caso dos operários que construíram a Estrada União e
Indústria, alocados no Alto dos Passos, e dos imigrantes alemães e italianos
alocados em São Pedro, Borboleta e Fábrica. Com o desenvolvimento da cidade as
áreas centrais, que correspondiam às condições físico-naturais mais favoráveis,
foram sendo, gradativamente ocupadas por segmentos privilegiados, restando à
população pobre as áreas periféricas, de topografia desfavorável, mas onde a terra e
a moradia eram mais acessíveis.
Em termos urbanísticos, nas décadas de 80 e 90 houve um processo de
verticalização do Centro e de seu entorno, em contraposição a um crescimento
horizontalizado na periferia. Nesta, os terrenos são vendidos a preços reduzidos e
em várias parcelas, financiados pelo Poder Público ou pela iniciativa privada,
apresentando, entretanto, deficiências em relação ao Centro da cidade.
De acordo com os dados Censo IBGE 1991, a distribuição percentual de
renda da zona urbana de Juiz de Fora demonstrava que, mais de 40% dos chefes
de família recebia até 2 salários mínimos e nem 10% entrava na faixa dos 10 s.m.107
O Mapa 35, e o Quadro 13, apresentam a distribuição da Renda Média dos Chefes
de Família por Região Administrativa, em 2000, demonstrando que 34,38% dos
chefes permaneceu na faixa até 2 s.m, demonstrando a redução da pobreza em
relação à renda do chefe de família. Além disso, 14,34% chegaram à mais de 10
107
Fonte: Censo Demográfico IBGE/1991.
209
salários mínimos, sendo que 14,66% ganham até 1 s.m., 15,67% ganham de 3 a 5 e
18,01 de 5 a 10 s.m. (IBGE, 2000).
210
Mapa 36: Renda Média dos Chefes de Família por Região Administrativa. Fonte: Censo Demográfico IBGE 2000. Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
211
A proliferação de novas áreas de ocupação irregular revela uma escala
tendente a cronicidade, comprometendo a qualidade de vida, e a equidade sócio-
espacial. O processo é gerado a partir da dificuldade de aquisição de terrenos e,
uma vez de posse deles, por meio de diversas estratégias, a saída é a construção
de casas, às vezes com alguma forma de financiamento, ou pela autoconstrução e
mutirão.
A revalorização das áreas centrais para a elite e a criação de novas áreas
habitacionais para as mesmas, promovem uma transformação de uso e uma
conversão espacial que gera a remoção induzida ou espontânea das populações
empobrecidas, sem condições de arcar com os novos custos. Assim a cidade
continua a se “reproduzir e a crescer em contínua destruição/reconstrução,
envolvendo agentes variados e respondendo a diversas necessidades sociais”
(CARDOSO, 1996.p.17).
A dinâmica urbana é então
fruto de processos complexos que articulam-se a interesses conflitantes. A produção do ambiente construído responde a diversos padrões, os quais podem ser organizados em função dos tipos de agentes envolvidos, dos condicionantes institucionais à sua atuação e das demandas a serem atendidas. Responsável por cerca de 90% do parque imobiliário, a produção da moradia é um dos principais vetores da expansão urbana (CARDOSO, 1996.p.17)
De acordo com o Plano Diretor, em 1991 o número de domicílios em situação
de subnormalidade, chegava a 8.075, distribuídos por 47 Regiões Urbanas da
cidade. A região Leste era a que apresentava o maior número de domicílios, cerca
de 728, seguida pela Sudeste e Centro com, 700 e 500 domicílios respectivamente.
As regiões Sul e Nordeste tinham 450 e 434 domicílios cada.
Os dados referentes a essa situação tiveram significativa alteração como
relatado pelo Altas Social de Juiz de Fora. A quantidade de domicílios
diagnosticados em situação de subnormalidade alcançou 11.115 na totalidade da
cidade, em 147 áreas identificadas como de exclusão social, como mostrado no
Mapa 37.
Como áreas de ocupação subnormal, são considerados os assentamentos
originados de ocupações irregulares, caracterizados pela invasão de propriedade
pública ou privada, sem infra-estrutura e serviços públicos definidos como redes de
212
água e esgoto, coletoras de águas pluviais, iluminação pública e particular,
calçamento, coleta de lixo e posse da terra.
A noção de áreas subnormais só existe em relação à normalidade de outras
áreas, admitindo-se as diferenças de habitabilidade, infraestrutura e estrutura
urbanística de suas áreas vizinhas, resultando num quadro de segregação social e
espacial.
No levantamento realizado em 96 (quando do diagnóstico para o PD, 1996) e
nas atualizações posteriores (PDDU, 2000), foram incluídos os loteamentos de
iniciativa PJF, que também apresentam fortes diferenciações com as imediações ou
se caracterizam pela pendência quanto à posse da terra e/ou implementação de
infraestrutura. Conforme esses dados estima-se que mais de 8% da população da
cidade vive em situação de submoradia.
A região Norte aparece como a de maior incidência de domicílios em situação
caracterizada de Grupo I (prioridade máxima de atuação, carência total nos aspectos
considerados)108, sendo que de um total de 27.622 domicílios registrados na região,
3.909, cerca de 14,15% são subnormais (ocupações irregulares caracterizadas pela
invasão de propriedade pública ou privada). Segue-se neste grupo a região
Nordeste com 2 áreas de exclusão social e cerca de 90 domicílios. Em terceiro lugar
vem as regiões Leste e Sudeste, ainda no Grupo I, com 50 e 25, domicílios
subnormais, respectivamente. Configuram as situações mais graves na cidade, que,
no entanto, apresentam grande amplitude, entre 20 e 80 domicílios registrados,
totalizando 502 em 11 áreas da cidade.
108
Grupo I é o conjunto de prioridade máxima com carência em todos os aspectos considerados pelo Mapa da Exclusão do Atlas Social de Juiz de Fora. Possui áreas de concentração de pobreza sem urbanização, com problemas fundiários, e algumas em situação de risco. Indicam-se situações de completa exclusão social, envolvendo demandas de ordem coletiva e também de questões de propriedade e renda. Em oposição a ele o Grupo V inclui as áreas indicadas em pesquisa de datas anteriores com áreas de exclusão social, mas que alcançaram condição de vida que provavelmente os retirará do grupo de atendimento de políticas sociais. São áreas já urbanizadas que passaram por melhorias de condições sócio-econômicas induzidas ou espontâneas e não apresentam características de assentamento socialmente excluído. O Grupo III, deve ser foco de projetos de desenvolvimento econômico, social e revitalização de moradias, concentrando áreas de pobreza já urbanizadas, com algumas intervenções de melhoria. Não demandam intervenções de infra-estrutura, podendo restar a requalificação de moradias, mas persistindo a questão sócio-econômica como fator dominante. Os Grupos II e IV são situações intermediárias de deficiências, dirigindo para propostas de intervenção diversas, sendo que o II, possui áreas de pobreza parcialmente urbanizadas, demandando intervenções que incluem, geralmente, a regularização da posse da terra. Já o Grupo IV, caracteriza-se por áreas de concentração de pobreza, com baixa densidade populacional. São comunidades de baixa renda, residentes em áreas de ocupação esparsa, em geral com características rurais. Idem.
213
O grupo com maior frequência de áreas excluídas é o II (parcialmente
urbanizadas), com maior concentração também na região Norte, englobando
carências de variada ordem.
Entre os Grupos I e II estão apontadas 74 candidatas à lista de Áreas de
Especial Interesse Social, entretanto, fica claro no documento que estas áreas
deverão ser regulamentadas na revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano. Ainda sem data definida para tal ação, mais uma vez a PJF elabora um
diagnóstico de sua situação, e não define ações práticas para a resolução dos
problemas encontrados. Destacamos que esses problemas não são novos, já
constando no PDDU 2000, um total de 109 assentamentos subnormais, que
correspondem aos Grupos I e II do documento estatístico de 2000.
Dada a dificuldade de alcançar uma solução coletiva, através da
regularização dos loteamentos, os moradores desses assentamentos têm se valido,
individualmente, da obtenção da posse da terra por usucapião. A noção de equidade
social, rebatida em equidade espacial, é um aspecto vago para esses moradores,
que tem como única opção ocupar áreas da cidade sem realmente fazer parte dela.
As invasões constituem outro aspecto responsável pela periferização da
cidade desafiando o ordenamento e o controle do espaço urbano. Construídos em
áreas ainda não dotadas de urbanização completa, essas habitações são de caráter
precário, adquirindo padrão mais elevado na medida em que os moradores
melhoram de situação ou passam a garantir sua permanência no local.
Não sendo um problema exclusivo de Juiz de Fora, mas também de outros
grandes centros brasileiros, essas situações representam um crescente na
problemática urbana. Os índices relativamente baixos do rendimento dos chefes de
família e as condições habitacionais precárias denotam a existência de um
contingente populacional urbano desfavorecido, vivendo em condições sociais
abaixo dos padrões das áreas centrais.
No que se refere ao parcelamento da terra, a atividade informal supera as
envolvidas nos loteamentos aprovados, e a morosidade na aprovação dos projetos
impulsiona o infrator a utilizá-lo como desculpa para justificar o descumprimento da
lei.
214
Mapa 37: Localização das Micro Áreas de Exclusão Social. Fonte: ATLAS SOCIAL - JUIZ DE FORA: DIAGNÓSTICO. Prefeitura de Juiz de Fora: Gisele Machado Tavares (org). Juiz de Fora (MG): Prefeitura de Juiz de Fora, 2006. Disponível em: http:// www.pjf.mg.gov.br. Arte Final: Luciane Tasca
Soma-se a isto a legislação urbana não ser familiarizada e acessível a todos
os cidadãos, sendo confusa e ambígua em muitos casos. Além disso, a
descontinuidade nas gestões e falta de revisão das leis urbanas, contribuem para
maneiras não legais de ocupação do solo.
O reflexo dessa dinâmica, oriunda da ação especulativa do uso e ocupação
do solo, é o baixo padrão urbanístico dos loteamentos irregulares, caracterizado pela
215
infraestrutura precária, adensamento em áreas impróprias para o assentamento
humano e carência de equipamentos urbanos em geral.
A deficiente política habitacional (nas várias esferas de governo) levam à
exacerbação do problema, configurando em Juiz de Fora um panorama similar ao da
maioria das cidades brasileiras. A atuação mais efetiva fica ao encargo da EMCASA,
que atua em parceria com o setor privado, cadastrando famílias com renda familiar
superior a 3 salários mínimos. Mas, todavia, o acesso à moradia para a população
com renda inferior à 3 salários, fora do mercado de trabalho, ou sem renda fixa,
permanece inexistente.
Em detrimento desses fatores, a segregação residencial e o afastamento das
populações pobres das áreas privilegiadas na cidade, produzindo um espaço urbano
fora dos padrões formais, é a expressão espacial das diferenças sociais.
Se pudéssemos contar com um desenvolvimento urbano planejado, cujas
características se baseassem num maior equilíbrio na organização e na situação das
classes no espaço, poderíamos evitar reiterar a lógica dual de segregação das
populações pobres nas periferias urbanas que encontramos nas cidades capitalistas.
4.2 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO URBANO EM JUIZ DE FORA
Diversos são os obstáculos a uma ação planejada no espaço urbano das
cidades capitalistas. Condicionar os investimentos públicos e os esforços das
administrações, bem como regular os investimentos privados, visando seguir
diretrizes construídas democraticamente, ao longo de um período não é tarefa das
mais simples.
As dificuldades e limitações históricas para a ação de planejamento
democrático na sociedade brasileira e, em Juiz de Fora, descritas neste trabalho,
foram e continuam sendo palco de debates, revelando as inúmeras limitações à
elaboração de propostas alternativas (democráticas e igualitárias). Diante da
impossibilidade de se tomar o ambiente construído de forma independente da
sociedade que o constrói e o ocupa, o espaço urbano reflete as relações sociais
participando ativamente de sua reprodução. Nesse sentido ele é objeto e agente de
permanências e de mudanças influenciando e sendo influenciado pelas relações
sociais.
216
É impossível esperar que uma sociedade como a nossa, radicalmente desigual e autoritária, baseada em relações de privilégio e arbitrariedade, possa produzir cidades que não tenham essas características. Esse reconhecimento não impede de ver a cidade, na sua produção, sua manutenção, seu funcionamento e sua fruição como um campo de lutas e de conquistas (MARICATO, 2008.p.54)
Analisando os planos e leis urbanas produzidos no Brasil e a ineficiência dos
mesmos, podemos visualizar que as intenções modernizadoras aparecem
descoladas da implementação de políticas efetivas de mudanças na dinâmica
capitalista já estabelecida sobre o ambiente.
A distância entre o plano e a gestão se presta ainda ao papel ideológico de
encobrir palavras e conceitos que no entendimento de Maricato (2008) estabelecem-
se a partir do fato da execução dos projetos serem realizados pelas empreiteiras,
grandes financiadoras das campanhas eleitorais, obedecendo à lógica da extração
da renda imobiliária e do bem-estar da cidade oficial.
O conjunto dessas ações formam um cenário segregado marcado pela
exclusão, onde as leis se aplicam a uma parte da cidade, através de políticas sociais
inexistentes ou constituídas apenas por ações pontuais compensatórias.
As bases da formação do projeto de desenvolvimento de Juiz de Fora,
detalhadas nesta tese através do enfoque no planejamento urbano e num breve
diagnóstico sobre a situação dos planos e programas do governo local, apontaram
para uma sobreposição de discursos e projetos. Sob a ideologia do
desenvolvimento, as Leis Urbanas (6.908/86 e 6.910/86), o Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano (2000) e o Plano Estratégico (1997), constituíram-se em
documentos aplicados em uma parte da cidade obedecendo a um plano maior de
reordenamento viário.
É importante destacar que cabe ao Poder Público a capacidade legislativa de
induzir ou direcionar o desenvolvimento urbano. No seu princípio de impedir certos
padrões de ocupação do solo, a ação da lei fica restrita conforme a capacidade
política ou administrativa para se fazer valer as normas prescritas. Por outro lado,
em relação a indução do crescimento, ou direcionamento, as possibilidades são
ainda mais remotas. Cardoso (1996) enfatiza que “a produção empresarial tem
fortes condicionantes macroeconômicos e institucionais e esses são os fatores mais
relevantes para a alteração de sua dinâmica” (CARDOSO, 1996.p.78). Soma-se a
isto o fato do mercado orientar-se segundo a lógica da expansão e de localização
217
particular, privilegiando certas áreas segundo condições de lucratividade. A que se
mencionar que a atuação diferenciada dos capitais e suas diversas formas de
produção da cidade entram num embate contra a idéia de um desenvolvimento
urbano planejado em que haja políticas redistributivas e inserção social de fato.
A indução, em Juiz de Fora, à expansão na direção Norte faz parte das
estratégias que buscam orientar os investimentos públicos e as localizações das
obras urbanas, com a finalidade de criar um novo espaço de valorização para o
capital imobiliário.
Foto 27: Expansão da Zona Norte
Fonte: Luciane Tasca. 23/02/2010
O incentivo através da legislação de ocupação dessa porção da cidade,
ocasionando entrada de capital imobiliário e especulação fundiária, promove e
reforça o direcionamento da mancha urbana em direção à BR-040, eixo viário de
ligação do Município com outros centros urbanos.
As diversas tentativas de revisão da legislação urbana de 1986 esbarraram
no interesse em manter uma lei que se apresenta confusa, de difícil entendimento e
acesso. Dessa forma, seu conhecimento fica restrito ao meio técnico e aos que
buscam aprovação de projetos. Além disso, o conservadorismo das elites e suas
estratégias de ação consolidam e legitimam o lugar da classe baixa na cidade.
218
Legitimação esta, de origem histórica e construída sobre um discurso de
desenvolvimentismo desde a Manchester Mineira até os dias de hoje.
Durante o processo de trabalho em torno da proposta para o plano diretor, em
1996, e das mudanças a serem feitas nas leis de 1986, acreditava-se na
necessidade de reverter a tendência de fragmentação da mancha urbana e do
desequilíbrio das densidades de ocupação, fortalecendo e induzindo a ocupação ao
longo do Rio Paraibuna. Esta ocupação poderia fortalecer o trecho como espaço
expandido da área central. Orientavam também as proposições para a
descompressão do centro, mantendo, entretanto, sua vitalidade e potencial
polarizador. Outro viés importante era adensamento e a expansão da mancha
urbana a Noroeste, através da ocupação dos vazios urbanos e incorporação de
novas áreas e a coibição de adensamentos não desejados em áreas sem
infraestrutura suficiente (setores Leste, Nordeste e Sudeste). Propunha-se o
estímulo ao padrão granjeamento (lotes acima de 1.000 e até 5.000 m2) como forma
de ocupação pouco adensada, sobretudo nos limites do perímetro urbano (setores
Norte, Noroeste, Oeste) ou em áreas de preservação ambiental.
Configurando área de expansão, sujeita a diretrizes especiais, pelo PD,1996,
a chamada região Noroeste (nossa análise agregou noroeste ao norte), deveria ser
consolidada como eixo de crescimento, devido à disponibilidade de terras.
Sugerindo-se modelos de parcelamento com lotes variando de 300 a 1.500 m2, a
proposta estimulava a ocupação, restringindo-a somente nos limites ao perímetro
urbano. Este conceito continuou presente no PDDU, 2000, embora não se tenha
alterado os modelos de parcelamento já existentes na 6.910/86. O PlanoJF também
seguiu essa orientação claramente, salientando a vocação industrial da região e o
novo foco de investimentos que poderia ser gerado com o incremento da
infraestrutura local. A chamada região Norte constituía-se como área de proteção de
mananciais devido à existência da Represa João Penido e a Remonta.
A região Nordeste, assim como feito pelo PDDU, 2000, não foi incentivada
para adensamento, devendo o mesmo acontecer de forma controlada. Os Projetos
do PlanoJF não chegaram a tratar da área, a não ser pela melhoria de seus acessos
à BR-353. Assim como esta, Leste, Sudeste e Sul, foram designadas como áreas a
conter a ocupação, também não sendo trabalhadas, a não ser pelo caráter viário, no
PDDU e no PlanoJF. Salientamos que a proposta de 1996 previa o padrão
granjeamento nas fronteiras dessas áreas.
219
Para aguçar o debate destacamos a região Centro e a Oeste, uma de caráter
estruturador e concentrador de atividades, e a outra de caráter expansivo para
condomínios de renda elevada. No PD,1996 previa-se a descompressão da área
central, aliviando o tráfego intenso e a verticalização. Apesar disso os modelos de
parcelamento poderiam ser de 300 a 1.500m2, num leque de oportunidades
construtivas que demonstrava a existência de vazios urbanos em seu interior e o
desnecessário adensamento. Já a região Oeste (Cidade Alta) apareceu como área
onde deveria ser feito o controle do adensamento, com lotes de 400 a 1.500m2 e
legislação específica no Morro do Imperador (área de proteção ambiental).
A partir do exposto neste texto, concluímos que caso este projeto de lei de
1996 fosse aprovado junto com o plano diretor, haveria um controle maior do
crescimento e do adensamento urbano na cidade, sobretudo no Centro e na Cidade
Alta. Não interessando ao capital imobiliário, haja vista serem áreas
infraestruturadas e cheias de amenidades (caso dos condomínios da região oeste,
com mata nativa, tranquilidade, segurança) com projetos voltados para a classe alta,
as forças hegemônicas, em Juiz de Fora, promoveram a retirada do projeto de lei da
Câmara Municipal interrompendo um olhar sobre a estrutura urbana da cidade, e a
perspectiva de um melhor ordenamento do uso e ocupação do solo.
Com o suporte dos conceitos de Harvey (1996), as pesquisas sobre o
ambiente construído demonstram que o espaço urbano é foco da atuação de
diferentes atores com objetivos e agendas diversos, interagindo através de
configurações espaciais interligadas. A produção de novas estruturas e padrões
ecológicos numa forma de cidade expandida tem importância para a maneira como
a produção, as trocas e o consumo estão organizados e como as relações sociais
são estabelecidas. A partir disso, a configuração do ambiente construído se baseia
no exercício do poder (financeiro e político), e na integração espacial da ação social.
Dentro dessa lógica produtiva a abordagem das administrações urbanas
baseadas nos conceitos de gerenciamento deu lugar às formas de ação
empresariais, baseadas no conceito que as cidades, sob o sistema capitalista,
deveriam assumir um comportamento empresarial para a obtenção de benefícios
positivos.
A característica central dessa noção da cidade como mercadoria, passa pela
parceria público-privada, na qual as tradicionais reivindicações locais estão
integradas com a utilização dos poderes públicos para tentar atrair fontes externas
220
de financiamentos, novos investimentos diretos e fontes geradoras de emprego. A
atividade dessa parceria tem uma concepção especulativa, estando sujeita às
dificuldades e perigos inerentes aos empreendimentos imobiliários coordenados.
Dentre os planos e projetos das gestões urbanas em Juiz de Fora, podemos
destacar no PlanoJF a visão empresarial, calcada no empreendimento de políticas
voltadas para o desenvolvimento econômico, inserção (e atração) da cidade em
novos mercados, e confirmação de seu papel polarizador. As intervenções viárias
recorrentes promovem a abertura das fronteiras do Município na “era da
globalização”, reiterando o discurso de pensar globalmente e agir localmente.
Muitas das inovações e investimentos destinados a tornar as cidades
atraentes foram utilizadas de forma semelhante em vários lugares do mundo. O
emblema do marketing urbano, salientando as vantagens competitivas dentro de
uma rede de cidades, serve assim, para desviar o foco central dos problemas
urbanos, como a falta de moradia e a desigualdade social e espacial.
Em termos de representação política nas cidades, os cidadãos delegam
direitos e prerrogativas a um grupo de pessoas, para que elas exerçam o poder, em
nome do povo, nas funções legislativa e de governo. Este sentido geral e universal
da representação política obedece a regulamentos e procedimentos específicos e
diferentes de um país para outro, em diferentes épocas. Na Constituição de 1988, foi
estabelecido:
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I_ a soberania; II_ a cidadania; III_ a dignidade da pessoa humana; IV_ os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V_ o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1997.p.03)
Diante do espaço urbano capitalista em que vivemos o princípio da soberania
popular, reconhecido teoricamente na lei maior, revela-se na prática, em alguns atos
formais de legitimação das decisões aleatórias tomadas por parcelas menores da
sociedade.
221
De certa forma é no âmago dos fatos sociais que se engendram continuamente novos fatos políticos, mas não se permite ao povo ter uma percepção muito nítida dos liames existentes entre o ordenamento jurídico da representação política, de um lado, e o conjunto dos sistemas sociais, políticos, econômicos e culturais, de outro lado (MARTINEZ, 1997.p.22).
Sem a visão, ou a compreensão clara dessas realidades, que permanecem
obscurecidas para a maioria, os cidadãos inseridos nos processos econômicos que
estruturam o meio urbano, constróem e reconstróem a cidade a partir das leis de
mercado, fundamentadas na lógica fundiária e na renda da terra. 109
Finalizando, ao defrontarem-se com esta realidade, as camadas populares,
guardando profundas desigualdades a partir de sua inserção no processo de
produção e distribuição de riquezas, utilizam os processos de favelização e
periferizaçao como saída para a sobrevivência dentro da cidade. Nesses lugares, a
irregularidade e a ilegalidade do acesso à terra, a carência de equipamentos e
serviços urbanos, as dificuldades de acesso aos transportes, acabam impedindo a
mobilidade de sua população no espaço da cidade.
4.3 O ESPAÇO URBANO DE JUIZ DE FORA COMO RESULTADO DA
SOBREPOSIÇÃO DE SEUS PLANOS E PROJETOS
A cidade de Juiz de Fora, localizada estrategicamente na zona da mata
mineira, próxima aos centros urbanos mais importantes do país, veio ao longo de
sua formação histórica construindo sua identidade a partir de alguns pontos chaves.
A menção ao desenvolvimento é um traço marcante nas iniciativas de planejamento,
desde o Código de Obras de 1938 até o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
(PDDU, 2000) e o Plano Estratégico (Plano/JF de 1997).
Abordada no PDDU, 2000 essa ênfase também prevalesce nos projetos e nas
ações implementadas por volta de 1997, com o Plano/JF. Valorizando as formas de
ação competitiva, iniciou-se um processo de guerra fiscal com outros municípios na
intenção de atrair investimentos.
Lembremos que esta visão estratégica, trabalhada em paralelo com a revisão
da proposta para o plano diretor (em 1996), focava ainda na articulação de ações
públicas e privadas, voltadas principalmente para a revitalização econômica da
109
Para maior aprofundamento consultar: HARVEY, David. A justiça social e a cidade. São Paulo: Hucitec, 1980.
222
cidade, galvanizada por discursos como a conservação do meio ambiente e um
maior equilíbrio social. Além disso, o marketing urbano em torno de Juiz de Fora
buscava a atração de investimentos, salientando a necessidade de melhorar sua
infraestrutura, sobretudo transportes e telecomunicações, tornando a cidade um
centro de serviços avançados na região.
Diante dessa pesquisa e de todo o material que foi possível obter para
costurar essa colcha de retalhos que é a cidade, que de fato, o projeto de
desenvolvimento da Manchester Mineira, se baseia em aspectos ideológicos
conservadores atrelados a uma elite dominante e de ações hgemônicas, desde os
áureos tempos dos barões do café.
Esta ideologia contida no discurso do planejamento e na gestão da cidade,
pode ser vista através da leitura homogeneizadora da sociedade, produzindo a
diluição das diferenças sociais, unificando todos os habitantes em torno de
determinadas ações que contemplam interesses parciais. O grupo dominante
aparece para o todo social como sendo o único racional e portador de valores
universais, apresentanto seus interesses como o interesse comum a todos os
membros da sociedade (VAINER, 2000).
Conforme já apresentado neste trabalho, dentro dos Instrumentos de Gestão
previstos no PDDU, 2000, encontram-se os Instrumentos de Planejamento, que
devem contar com os Projetos Gerais de Urbanificação (PGU‟s) para sua aplicação.
Estes projetos objetivam a reordenação do espaço urbano através de projetos
urbanísticos ou viários devendo alcançar toda a cidade ou uma parte dela.
Os PGU‟s podem ter caráter Urbanístico, Viário Estrutural e Viário Local,
estando atrelados ao Macrozoneamento e às indicações de Áreas Especiais de
Interesse Social (AEIS), Ambiental (AEIA) ou Urbanístico e Paisagístico (AEIU)
Através da espacialização dos projetos, no Mapa 38, podemos identificar os
PGU‟s Urbanísticos com os projetos: 1) Revitalização da Área Central, 2) Eixo
Paraibuna, 3) Parque Linear da Remonta e 4) Parque São Pedro (AEIA). Deste
grupo de projetos somente os dois primeiros já estavam presentes na proposta de
1996 para o plano diretor, sendo os 2 últimos incorporados na versão de 2000 (ver
quadro 09.p.145). Como PGU‟s Viários Estruturais, podemos apontar os projetos da
1) Via Interbairros, 2) Via Remonta, 3) Via Coletora da BR-040, 4) Via São Pedro
(estruturadora da Cidade Alta) e 5) Duplicação da Avenida Brasil. No PD, 1996
apenas os projetos da Via Interbairros e da Via Remonta são descritos, ficando os
223
demais como novas propostas do PDDU, 2000. No último grupo, dos PGU‟s Viários
Locais, aparecem os projetos de pequeno porte, de caráter mais pontual.
Mapa 38: Espacialização dos Projetos (PDDU e PlanoJF) Fonte: Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
224
Em todos os Projetos Gerais de Urbanificação constantes do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano aprovado em 2000, o caráter de melhoria da infraestrutura
viária sobressai. Sob o viés do desenvolvimento urbano a circulação viária é alvo
direto de todos os projetos, ou indireto como a Revitalização da Área Central e,
consequentemente, sua ligação com os eixos de entrada e saída da cidade.
Podemos dizer que de 1996 a 2000, poucas alterações nesse foco ocorreram,
mesmo tendo havido mudanças na gestão urbana.
Destacamos que o projeto de Revitalização da Área Central é tema recorrente
no PDDU, 2000, tendo sido referenciado na proposta de 1996, apresentando esta
área uma detalhada descrição de atividades, uso e ocupação. A preocupação básica
do projeto, que ainda permanece, é manter a atração gerada no centro da cidade,
buscando acompanhar as mudanças do mercado consumidor no Município.
Com as políticas de incentivo à educação e o surgimento de novos cursos de
graduação, reforçando o papel educacional que a UFJF (implantada nos anos 60) já
exercia, a cidade recebe um fluxo visível de estudantes, tendo inclusive aumentado
o número de bares e festas estudantis. Além desse mercado, sendo prestadora de
serviços, Juiz de Fora também é rota de passagem entre municípios, oferecendo
lugares de repouso, alimentação, lazer, cultura e comércio.
Acreditamos, que a expectativa de um futuro esvaziamento do centro em
função do shopping, não se concretizará rapidamente. Dificilmente esse mercado
consumidor que encontra no centro da cidade o acesso a todos os serviços citados,
e com bons preços, se reverterá para um local onde o preço dos aluguéis de lojas é
alto e onde os produtos vendidos são elitizados.110 Podemos acrescentar ainda, que
o coração de Juiz de Fora é a área da cidade que mais tem iniciativas de projetos,
sendo marcada intensamente pela produção imobiliária, residencial ou comercial.
O projeto do Eixo Paraibuna, acompanhando seu leito, também já estava
presente nos projetos da PJF desde 1996, buscando-se a requalificação de toda a
faixa ao longo do rio, principalmente aquela próxima ao centro. A intenção de alterar
a visão da cidade (que deu as costas ao rio) estava presente em alguns aspectos do
projeto, como as áreas de lazer, caminhada, decks sobre o leito do rio, permitindo
110
Não se encontra no âmbito desse trabalho discutir sobre este aspecto, mas esses equipamentos promovem o consumo elitizado, e apesar de terem acesso público, são criados para um consumidor de padrão sócio-econômico elevado. Salvo os casos de shoppings populares, que não é a questão.
225
um novo olhar sobre o mesmo. Pressupunha-se, entretanto, para a complementação
do projeto, a despoluição do Paraibuna, contando com investimentos externos.
Problemas nas licitações e suspeitas de desvio de verbas colocaram entraves à
execução das obras, continuando a cidade a dar às costas ao seu principal eixo
estruturador.
Como complemento a este projeto, o Parque Linear da Remonta deveria
compor um arranjo paisagístico melhorando a circulação viária e o lazer. Na
realidade estava expressa a iniciativa de induzir a expansão urbana na direção
Norte, passando pela região da Remonta, área do exército que provoca
descontinuidade da mancha urbana.
A dificuldade administrativa e os entraves políticos acabaram gerando o
atraso e a não concretização do projeto. A Via Remonta foi criada, mas o projeto
completo, contando com o parque não foi adiante. Se olharmos atentamente,
podemos ver que a principal intenção foi executada. A melhoria viária e a ligação
com a zona Norte e os Distritos Industriais, bem como à BR-040, teve amplo
sucesso, levando ao início de um processo de adensamento dessa região.
O Parque São Pedro, projeto constante do PDDU, 2000, fazia parte de
iniciativas de ordenamento da região do bairro São Pedro, e da estratégia de ligação
do centro da cidade com a BR-040 através da via São Pedro (já executada). O
problema é que esta via deveria margear um dos mananciais de abastecimento de
água para a cidade que é a Represa de São Pedro. A situação conflituosa está
ainda sem definição, ficando a área sujeita a intensa especulação imobiliária. Sendo
fronteira urbana e estando próximo à rodovia federal, este projeto, como os demais,
favoreceria a circulação na cidade e sua ligação com os mercados externos.
Sobrepondo-se a esse projeto, a Via Interbairros, que está sendo executada,
promove a criação de uma nova rodovia federal (a BR-440) que deverá passar pela
Cidade Alta, (porção oeste da cidade) cortando-a na direção sudoeste-noroeste.
226
Mapa 39: BR-440
Fonte: Acessa.com. disponível em:
http://www.acessa.com/cidade/arquivo/jfhoje/2009/03/03-br440/br-440.jpg.
Acessado em janeiro de 2010
Foto 28, 29, 30 e 31: BR-440 e Acesso Sul
Fonte: Luciane Tasca. 23/02/2010
227
Os demais projetos do PDDU, 2000, também focam em ações de melhoria e
reorganização viária, alguns em escala de bairros, provocando ajustes na malha
urbana. Comparando-se com os projetos do PlanoJF, sob o enfoque do
desenvolvimento econômico, são elencados em 3 grandes estratégias uma série de
ações abarcando principalmente as áreas de conhecimento, tecnologia, indústria,
comércio, serviços, formação profissional, todas elas potencializando a atratividade
do Município e reforçando seu papel de cidade pólo.
A formulação das ações se baseia num horizonte bastante definido,
buscando-se através dos projetos alcançar um modelo desejado de
desenvolvimento para Juiz de Fora. Essa idéia transparece nos projetos, a princípio
indicando caminhos de uma ampla participação da sociedade na escolha e no
direcionamento das ações.
A promoção da prosperidade econômica com benefícios diretos a toda a
população da cidade, apontada como contrária a um mero crescimento econômico
vem destacada logo na primeira estratégia do PlanoJF, Juiz de Fora: Cidade de
Oportunidades.
O reforço aos projetos no campo do conhecimento, do agronegócio, da
expansão da educação, da infraestrutura industrial, aparece como geradores de
empregabilidade e inserção social.
Já a segunda estratégia destaca o papel de pólo atrativo da cidade
promovendo os projetos que consolidem esta posição de Juiz de Fora, fortalecendo
suas atividades econômicas com ênfase nas áreas de saúde, educação e logística.
Termos como “requalificação” e “revitalização” apontam para os projetos na área
central (reforçado o PDDU, 2000) além de outros nas áreas de preservação do
patrimônio histórico e cultural, também corroborando com o Plano Diretor.
Por fim, “Juiz de Fora: Cidade de Qualidade” é a estratégia que busca
promover oportunidades, visando ações de impacto para o Município. Reforça-se a
idéia da requalificação da estrutura urbana, melhorando sua mobilidade interna e
externa. Mais uma vez o enfoque viário é preponderante.
Dentro ainda dessa última estratégia, aparece como ação a modernização da
administração municipal, contando dentre os vários projetos com a revisão e
compilação da legislação urbana. Este é um dos projetos que não foi realizado,
estando sem data prevista o início da sua realização. A falta de uma secretaria de
228
planejamento voltada para ações visando o melhor ordenamento do uso e ocupação
da cidade demonstra o estado de inércia no qual o Município se insere.111
Interessa-nos destacar este ponto, pois, entende-se que o projeto de
desenvolvimento de Juiz de Fora vem seguindo uma lógica que ultrapassa a esfera
da administração pública. Deixando de lado o campo das diferenças entre os
governos, parece-nos que a idéia de desenvolvimento é a mesma em todas as
gestões. Podemos elaborar então, que todo o campo de decisões sobre a
construção do Município enquanto lugar referencial vem seguindo o direcionamento
traçado a partir dos grupos de interesse presentes em seu espaço urbano.
Assim, reforçamos a existência de uma sobreposição entre os projetos viários
e de requalificação do centro, orientados por uma mesma visão de cidade e pelos
mesmos objetivos baseados no atendimento às expectativas do mercado fundiário,
imobiliário e da construção civil. O PDDU, 2000 utilizou-se dos projetos da proposta
de 1996, apenas desdobrando-os de acordo com o foco estratégico a ser atendido.
Como podemos ver no Mapa 40, na medida em que os projetos tiveram um
forte aspecto rodoviarista, e de tratamento da infraestrutura viária, ocorreram
reorganizações dentro do tecido urbano, sendo que os bairros atendidos por este
foco receberam maiores investimentos, e, portanto apropriação de riqueza. Em
detrimento destes bairros, aqueles já caracterizados por população de baixa renda,
obtiveram ganhos de ordem menor, permanecendo o caráter popular que mantém a
determinação do lugar das classes dentro do território urbano.
111
Atualmente a antiga Secretaria de Planejamento foi destituída ficando suas atribuições ligadas à nova Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico. A administração divulga que está em processo de reorganização do referido órgão.
229
Mapa 40: Sobreposição dos Indicadores Sociais e Projetos Implementados Fonte: Censo Demográfico IBGE 2000. Mapa base Goolge Earth. Disponível em http://earth.google.com. Arte Final: Luciane Tasca
230
5 CONCLUSÃO
A despeito de elaborar uma conclusão sobre os fatos apresentados nesta
tese, me deparei com a pergunta sempre presente em minha mente, no percurso
acadêmico que venho seguindo.
Em Juiz de Fora, MG, cidade com merecido destaque no cenário regional,
com atividades no comércio e prestação de serviços de referência para seu entorno,
com atrativos locacionais como a posição entre os eixos RJ-SP-BH-ES, com uma
paisagem peculiar de cidade média, como podemos compreender a produção do
espaço e a ação dos agentes urbanos que o compõe? Talvez indo mais além,
continuando a insistir na solução para essa questão, como se constituem, a partir
das iniciativas do Poder Público, as relações sócio-espaciais dentro desse tecido
urbano?
Chegando enfim, ao ponto de partida dessa pesquisa e que moveu todo esse
processo do conhecimento, entendendo que a produção do espaço nas cidades
capitalistas ocorre sob a ação dos vários grupos de interesse, qual a forma de
apropriação dos benefícios por parte dos diferentes grupos sociais? E como se
estabelece a dinâmica da regulação do solo urbano?
No caminho de análise seguido, após o percurso teórico e histórico que
fizemos, seguido da apresentação da situação atual de Juiz de Fora, retornamos à
discussão central procurando identificar nos planos apresentados (PDDU, 2000 e
PlanoJF) as contradições e complementaridades existentes.
Dentro desse aspecto é importante salientar que a proposta de plano diretor
elaborada em 1996, contém todo o diagnóstico da cidade, trazendo consigo uma
série de proposições, inclusive a revisão da legislação urbana que data de 1986.
Essa proposta carrega consigo o ideário da Reforma Urbana buscando um
desenvolvimento urbano que possibilite a melhoria da qualidade de vida e a
redistribuição das riquezas.
Referenciando a Constituição de 1988, o PD, 1996 enfocava a
responsabilidade municipal no ordenamento do desenvolvimento e da expansão
urbana, salientando a importância da elaboração do Plano Diretor.
Baseando-se nesse forte conceito, a PJF naquela época, pautava-se na
regulamentação dos artigos 182 e 183 da nova lei como base para o
estabelecimento de normas para regular o uso da propriedade urbana em prol do
231
bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos. O discurso do PD, 1996
enfatizava que o caminho aberto pela lei de 1988 promoveria as bases legais que
levariam as prefeituras municipais a agir com mais eficiência na resolução dos
problemas urbanos, incentivando a gestão democrática da cidade.
Apesar desse esforço (que demandou certo tempo, e se encerrou no fim do
mandato de prefeito Custódio Mattos_PSDB, dezembro de 1996), e certamente por
questões políticas, a proposta não obteve sucesso, sendo retirada da câmara
municipal pelo novo prefeito Tarcísio Delgado_PMDB.
Em 2000, sob um nova roupagem, mas contendo o diagnóstico já realizado
em 1996, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano é aprovado, sob o mesmo
governo do PMDB. A grande contradição entre esses dois planos, ou entre a
proposta original e a readequação feita em 2000, foi o enfoque que passou de
ideário da Reforma Urbana para empresariamento urbano e competitividade como
forma de alavancar o desenvolvimento.
Como já descrito, no lapso de tempo entre a proposta (1996) e o plano (2000)
houveram mudanças internas na PJF que levaram a política urbana a assumir o viés
da globalização e do marketing urbano. Baseando-se na competição inter-urbana (e
na guerra fiscal, que se estabeleceu) o Poder Público passou a adotar o PlanoJF
(plano de ação estratégica) como dinamizador de projetos capazes de inserir a
cidade na rota das relações econômicas globalizadas.
Assumindo essa postura, segundo Maricato (2000 apud HARVEY 1992.
p.168)
A estética estável da modernização fordista foi substituída pela instabilidade, pela efemeridade, pelo espetáculo, pela mercantilização da cultura. Ganham importância inédita a marca, a imagem. A importância do investimento na marca chega a ser, para a indústria, tão importante quanto nas máquinas.
Corroborando com Maricato (2000), acreditamos que essa discussão sobre o
marketing urbano adotado como emblema do planejamento dito estratégico,
transforma o espaço urbano não apenas em um cenário para as relações sociais,
mas ainda numa instância ativa para a dominação econômica ou ideológica.
O forte conteúdo desse discurso pode ser encontrado no PlanoJF salientando
os pontos forte e os pontos fracos do município, dando ênfase aos projetos
232
dinamizadores da economia. Através dessa visão de futuro e de um cenário que
precisa ser alterado para acompanhar o mundo globalizado, dilui-se o conflito social,
a desigualdade no acesso à terra urbana e a distância sócio-espacial que se
estabelecesse.
Nesse ínterim, o documento proposto para o plano diretor (PD, 1996) saiu de
cena, não estando disponível para consulta, senão por intermédio daqueles que dele
tinham participado. A pouca divulgação do documento alcançou apenas os meios
técnicos e institucionais como a UFJF, num claro desperdício de investimentos e
pesquisas.112
O Plano Diretor aprovado contou com uma encadernação mais simples, mas
também simplificou e retirou do escopo da proposta (que lhe deu origem) o conteúdo
normativo que já não fazia parte do discurso político em 2000. Tendo superado a
fase da ideologia reformadora, era o momento do discurso da cidade mercadoria e
da necessidade de promover o crescimento e o desenvolvimento urbanos através de
ações que trabalhavam com a idéia de cidade-empresa.
Intencionando a reversão do apelo ideológico o PDDU, 2000 já trazia a
menção à visão estratégica (incorporada à gestão urbana em 1997) buscando
adotar ações pautadas no empresariamento urbano.
Vainer (2000) aponta que a problemática da competitividade urbana ganhou
nos anos 90 destaque no cenário mundial. Foi impressionante o número de cidades
no Brasil e na América Latina em geral, que contrataram (e continuam) os serviços
de consultoria, sobretudo dos catalães e seus discípulos.
A cidade é uma mercadoria a ser vendida, num mercado extremamente competitivo, em que outras cidades também estão à venda. Isto explicaria que o chamado marketing urbano se imponha cada vez mais como uma esfera específica e determinante do processo de planejamento e gestão de cidades. Ao mesmo tempo, aí encontramos as bases para entender o comportamento de muitos prefeitos, que mais parecem vendedores ambulantes que dirigentes políticos” (VAINER, 2000.p.78).
Nessas condições a gestão urbana passa a buscar atributos a serem
vendidos de acordo com a necessidade dos clientes. A venda da cidade é
necessariamente, a venda de atributos específicos valorizados pelo capital, como
112
Faço uma pausa aqui, para justificar e salientar a grande relevância de reviver a história urbana de Juiz de Fora, redesenhado os fatos que foram determinantes para sua configuração atual. Estando no curso de graduação em 1996, pude ter contato com o exemplar do PD, 1996, tendo feito algumas anotações e cópias de parte do documento, hoje de difícil acesso.
233
espaços para convenções e feiras, parques industriais e tecnológicos, oficinas de
informação e assessoramento a investidores e empresários, além de torres de
comunicação e comércio. (BORJA & FORN apud VAINER, 2000.p.79)
A fragilidade da legislação urbana, no que cabe à sua vinculação com os
interesses políticos dos gestores municipais, e com os discursos ideológicos que os
compõem se mostra clara neste quadro apresentado sobre Juiz de Fora.
É fato, que uma lei urbana é sempre o resultado do conflito oriundo dos
interesses num determinado marco histórico, mas em Juiz de Fora, os interesses
permaneceram os mesmos, no que diz respeito à manutenção do sistema
regulatório do ordenamento e uso do solo urbano.
Mesmo que novos olhares tenham surgido de um corpo técnico da PJF e de
outros profissionais, as pressões intrínsecas ao modo de produção do espaço
urbano juizforano permaneceram presentes e reinantes.
Dessa contradição de discursos (pelo menos entre o PD, 1996 e o PDDU,
2000), podemos apontar também complementaridades, mas de outra ordem. O
PDDU, 2000 utilizou boa parte dos projetos da proposta de 1996, apenas
desdobrando-os de acordo com o foco estratégico pretendido.
Já entre o PDDU, 2000 e o PlanoJF, apesar de possuírem focos
diferenciados, o primeiro um plano físico-territorial (contando com definições de
macrozoneamento) e o segundo um plano de ação estratégica, ambos possuem ao
nível dos projetos uma linha em comum: o reordenamento viário como ponto chave
para o alargamento das fronteiras econômicas de Juiz de Fora.
Nesse complexo jogo de poderes e disputas dentro do espaço urbano, (como
vimos nos Mapas produzidos) os efeitos dos projetos implementados sobre o padrão
de desigualdades espaciais se mostraram complementares, ao nível do enfoque
viário e, contraditórios, ao nível da apropriação dos benefícios por parte dos
diferentes grupos sociais. Assim, legitima-se a localização das diferentes classes
sociais dentro do espaço urbano, determinando o lugar do privilégio e o lugar da
pobreza.
Ainda sob os conceitos de Vainer (2000), explorando um pouco mais a
maneira como a transformação da cidade em mercadoria (de luxo) repercute no
olhar sobre a pobreza, podemos ver a “transfiguração” desta última em ambiente, ou
entorno social.
234
Os pobres são entorno ou ambiente pela simples razão de que não se constituem, nem os autóctones, nem os virtuais imigrantes, em demanda solvável. Em todos os níveis, tanto do ponto de vista concreto (infraestruturas, subsídios, favores fiscais, apoios institucionais e financeiros de todo o tipo) quanto do ponto de vista da imagem, não resta dúvida: a mercadoria-cidade tem um público consumidor muito específico e qualificado (VAINER, 2000.p.82)
Por outro lado podemos destacar também a sobreposição entre os próprios
projetos que se orientam pela mesma intenção de atender às expectativas e
demandas do mercado fundiário e imobiliário na cidade nas áreas centrais e nos
eixos de entrada e saída. Os efeitos na regulação do solo urbano e a especulação
imobiliária gerada legitima os protagonistas dessa “nova” cidade, direcionando a
apropriação dos investimentos do Poder Público para os grupos privados.
A busca do desenvolvimento promovida através dos planos e projetos
certamente possibilitou a geração de riquezas e apropriação de recursos públicos,
mesmo que seu foco tenha privilegiando o setor econômico e favorecido os
interesses dos principais agentes urbanos.
Porém, essa lógica capitalista certamente resultou também num acesso
desigual aos recursos e à riqueza gerada por esse desenvolvimento, reafirmando
com a política urbana, o privilegio da elite com projetos de caráter rodoviarista.
Maricato (2000.p.124) discutindo planejamento estratégico, esclarece bem
este fato reforçando que
não é por falta de Planos Urbanísticos que as cidades brasileiras apresentam problemas graves. Não é também, necessariamente, devido à má qualidade desses planos, mas porque seu crescimento se faz ao largo dos planos aprovados nas Câmaras Municipais, que seguem interesses tradicionais da política local e grupos específicos ligados ao governo de plantão.
O plano-discurso cumpre um papel ideológico, promovendo o afastamento do
real motor que comanda os investimentos urbanos (VILLAÇA, 1999). A fragilidade
da legislação urbana constitui um instrumento para o exercício arbitrário do poder,
favorecendo interesses particulares. Assim a ilegalidade e a segregação sócio-
espacial que caracteriza o padrão de ocupação é funcional para o sistema, através
da manutenção do baixo custo de reprodução da força de trabalho, favorecendo o
mercado imobiliário especulativo (MARICATO, 2000).
235
O reflexo espacial desse processo se revela através da concentração de
renda em poucas parcelas da população, provocando a concentração espacial em
partes da cidade, especialmente as centrais dotadas de maior qualidade de serviços
e infraestrutura. Os segmentos de menor poder aquisitivo, por outro lado, acabam
por se localizar nas áreas mais distantes, mas condizentes com sua faixa de renda.
Colaboram para manutenção desse processo, aumentando as disparidades
entre as camadas sociais, os investimentos públicos que tendem a ser
implementados em áreas já dotadas de infraestrutura, atendendo aos interesses do
capital especulativo.
Dentro desse panorama sobre Juiz de Fora, tendo refeito, ainda que com
imperfeições, o caminho percorrido pela cidade na construção de seu projeto de
desenvolvimento, pudemos encontrar algumas respostas para antigos
questionamentos. A dinâmica da produção do espaço urbano e os entendimentos
fragmentados sobre a legislação urbana e sobre os planos e projetos municipais foi
se tornando, ao avançar da pesquisa, um pouco mais clara e consistente.
Os mesmos questionamentos antigos sobre o reflexo dessas práticas públicas
no espaço também puderam ser melhor compreendidos, e sobretudo melhor
vizualizados, percebendo-se a distância social que separa as classes dentro do
tecido urbano de Juiz de Fora.
É notório que essa forma de organização e configuração do espaço é inerente
ao modo de produção capitalista, como também é notória a segregação social que
faz parte do sistema.
Apesar disso, mesmo que possa parecer uma visão simplificadora e ingênua,
acreditamos que o planejamento urbano, como prática de pensar a cidade de hoje,
para que ela possa ser melhor no futuro, pode ser efetivando com a garantia de um
acesso igualitário ao solo urbano.
Durante este percurso, por diversos momentos enxerguei uma realidade
contraditória e complexa. A diferença na determinação do lugar de cada classe
social, a contradição entre políticas participativas e democráticas e olhares voltados
para o campo econômico e a competitividade urbana. Vanguarda nas discussões
sobre planejamento urbano e atraso quanto à instituição de uma secretaria
específica para tratar tal questão.
História e futuro. Passado e presente. Modernidade e conservadorismo.
Enfim, contradições e complementaridades que dizem respeito a uma sociedade,
236
que como outras, ainda estão a procura de mecanismos mais efetivos que realmente
possam constituir um espaço urbano mais igualitário.
237
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JORNAIS Jornal Tribuna de Minas. Juiz de Fora. 22/11/2009. Ano XXVII. No 5207.
244
ANEXO A
Quadro 11: Abastecimento de Água. Situação por Bairros
Abastecimento de Água
Bairros
Rede Geral
No domicílios
particulares permanentes Total
Canalizada em
pelo menos um cômodo
Canalizada só na
propriedade ou terreno
Juiz de Fora....................................... 132 465 126 245 125 669 576
Aeroporto....................................... 293 275 275 -
Alto dos Passos......................... 1 551 1 551 1 551 -
Bairu.................................................. 1 343 1 341 1 294 47
Barão do Retiro........................... 1 903 1 749 1 748 1
Barbosa Lage................................ 3 392 3 385 3 368 17
Barreira do Triunfo...................... 602 453 452 1
Benfica............................................. 4 909 4 840 4 820 20
Boa Vista........................................ 494 494 494 -
Bom Pastor................................... 1 742 1 739 1 738 1
Bomba de Fogo........................... 500 498 494 4
Bonfim............................................. 772 767 765 2
Borboleta........................................ 1 407 1 293 1 285 8
Botanagua...................................... 428 426 426 -
Carlos Chagas.............................. 458 433 433 -
Cascatinha..................................... 1 535 1 534 1 534 -
Centenário...................................... 351 351 351 -
Centro.............................................. 8 140 8 138 8 133 5
Cerâmica......................................... 973 947 947 -
Cesário Alvim............................... 361 359 359 -
Costa Carvalho............................ 2 164 2 155 2 152 3
Cruzeiro de Santo Antônio...... 184 69 69 -
Dom Bosco................................... 1 247 1 220 1 208 12
Eldorado.......................................... 1 843 1 835 1 824 11
Esplanada....................................... 902 898 897 1
Fábrica............................................. 1 274 1 274 1 272 2
Floresta........................................... 252 210 207 3
Francisco Bernardino................ 2 276 2 239 2 229 10
Grajaú............................................... 1 853 1 850 1 850 -
Grambery......................................... 1 596 1 595 1 594 1
Graminha......................................... 624 354 346 8
Granjas Bethania......................... 846 799 798 1
Industrial.......................................... 913 907 907 -
Ipiranga............................................. 4 067 3 934 3 922 12
Jardim Bonclima.......................... 163 163 163 -
Jardim Glória................................. 1 040 1 038 1 038 -
Jardim Natal................................... 1 451 1 424 1 422 2
Jardim Paineiras.......................... 1 222 1 217 1 216 1
Jardim Santa Helena.................. 1 837 1 837 1 836 1
Jóckey Club................................... 1 302 1 287 1 284 3
Linhares........................................... 3 013 2 660 2 654 6
Manoel Honório.......................... 2 006 1 974 1 973 1
245
Mariano Procópio...................... 685 685 685 -
Martelos.......................................... 1 211 1 127 1 124 3
Meggliolário................................... 1 967 1 966 1 966 -
Monte Castelo............................. 1 546 1 505 1 503 2
Morro da Glória............................ 1 205 1 204 1 203 1
Morro do Imperador................... 190 190 190 -
Muçunge da Grama.................... 2 536 1 923 1 908 15
Mundo Novo................................. 1 033 1 033 1 033 -
Nossa Senhora de Lourdes.... 2 101 2 063 2 062 1
Nova Califórnia............................ 48 48 48 -
Nova Era......................................... 2 148 2 126 2 124 2
Novo Horizonte........................... 451 392 391 1
Ozanan............................................. 446 443 439 4
Poço Rico...................................... 1 014 1 013 1 000 13
Progresso...................................... 4 815 4 754 4 749 5
Remonta......................................... 101 74 74 -
Reprêsa........................................... 161 11 11 -
Sagrado Coração de Jesus.... 569 568 566 2
Salvaterra........................................ 63 22 22 -
Santa Catarina.............................. 541 541 540 1
Santa Cecília................................. 993 987 897 90
Santa Cruz...................................... 4 148 3 900 3 874 26
Santa Efigênia............................... 1 608 1 582 1 559 23
Santa Luzia..................................... 3 923 3 856 3 788 68
Santa Rita de Cássia.................. 1 445 1 419 1 416 3
Santa Terezinha............................ 2 797 2 777 2 770 7
Santo Antônio do Paraibuna.. 2 361 2 180 2 172 8
São Benedito................................ 4 045 3 948 3 933 15
São Bernardo................................ 1 080 1 074 1 070 4
São Dimas...................................... 54 54 54 -
São Geraldo................................... 557 489 483 6
São Mateus................................... 6 068 6 003 5 998 5
São Pedro...................................... 2 954 2 813 2 810 3
Teixeiras.......................................... 1 466 1 422 1 421 1
Vale do Ipê...................................... 465 465 465 -
Vale dos Bandeirantes.............. 3 254 3 076 3 064 12
Vila Furtado de Menezes.......... 734 734 732 2
Vila Ideal........................................... 1 561 1 519 1 514 5
Vila Olavo Costa.......................... 1 078 1 053 1 023 30
Vitorino Braga............................... 1 245 1 229 1 225 4
Sem especificação..................... 4 569 2 465 2 435 30
Fonte: IBGE. Censo 2000
246
Quadro 12: Esgotamento Sanitário. Situação por Bairros
Esgotamento Sanitário
Bairros
No domicílios
particulares permanentes
Tinham Banheiro ou Sanitário
Tipo de Esgotamento Sanitário
Total
Rede geral de esgoto ou pluvial
Fossa séptica
Fossa rudimentar
Não tinham banheiro
nem sanitário
Juiz de Fora....................................... 132 465 132 106 123 522 1 305 1 453 359
Aeroporto....................................... 293 293 270 2 1 -
Alto dos Passos......................... 1 551 1 550 1 550 - - 1
Bairu.................................................. 1 343 1 342 1 296 - - 1
Barão do Retiro........................... 1 903 1 895 1 717 13 - 8
Barbosa Lage................................ 3 392 3 384 3 311 7 6 8
Barreira do Triunfo...................... 602 600 484 46 5 2
Benfica............................................. 4 909 4 879 4 648 59 23 30
Boa Vista........................................ 494 494 494 - - -
Bom Pastor................................... 1 742 1 742 1 740 - 2 -
Bomba de Fogo........................... 500 499 496 2 1 1
Bonfim............................................. 772 771 713 2 - 1
Borboleta........................................ 1 407 1 401 1 214 13 57 6
Botanagua...................................... 428 427 424 1 2 1
Carlos Chagas.............................. 458 456 436 - 1 2
Cascatinha..................................... 1 535 1 535 1 535 - - -
Centenário...................................... 351 351 351 - - -
Centro.............................................. 8 140 8 137 8 135 2 - 3
Cerâmica......................................... 973 969 965 2 1 4
Cesário Alvim............................... 361 361 361 - - -
Costa Carvalho............................ 2 164 2 162 2 149 7 6 2
Cruzeiro de Santo Antônio...... 184 184 72 5 58 -
Dom Bosco................................... 1 247 1 228 1 217 - 9 19
Eldorado.......................................... 1 843 1 840 1 815 12 - 3
Esplanada....................................... 902 898 897 - - 4
Fábrica............................................. 1 274 1 270 1 270 - - 4
Floresta........................................... 252 252 149 15 8 -
Francisco Bernardino................ 2 276 2 268 2 205 1 6 8
Grajaú............................................... 1 853 1 852 1 843 3 6 1
Grambery......................................... 1 596 1 596 1 596 - - -
Graminha......................................... 624 621 187 69 133 3
Granjas Bethania......................... 846 843 678 73 75 3
Industrial.......................................... 913 913 913 - - -
Ipiranga............................................. 4 067 4 055 3 657 36 72 12
Jardim Bonclima.......................... 163 163 163 - - -
Jardim Glória................................. 1 040 1 040 1 038 2 - -
Jardim Natal................................... 1 451 1 448 1 385 6 25 3
Jardim Paineiras.......................... 1 222 1 221 1 220 - - 1
Jardim Santa Helena.................. 1 837 1 837 1 836 - 1 -
Jóckey Club................................... 1 302 1 298 1 295 1 - 4
Linhares........................................... 3 013 3 006 2 448 95 9 7
Manoel Honório.......................... 2 006 2 005 2 001 1 2 1
Mariano Procópio...................... 685 684 684 - - 1
Martelos.......................................... 1 211 1 208 1 117 - 25 3
Meggliolário................................... 1 967 1 962 1 951 9 - 5
247
Monte Castelo............................. 1 546 1 541 1 529 - - 5
Morro da Glória............................ 1 205 1 203 1 202 - 1 2
Morro do Imperador................... 190 190 190 - - -
Muçunge da Grama.................... 2 536 2 525 1 927 74 104 11
Mundo Novo................................. 1 033 1 033 1 033 - - -
Nossa Senhora de Lourdes.... 2 101 2 100 1 947 25 6 1
Nova Califórnia............................ 48 48 46 - 2 -
Nova Era......................................... 2 148 2 144 2 092 - 19 4
Novo Horizonte........................... 451 450 379 29 15 1
Ozanan............................................. 446 446 445 - - -
Poço Rico...................................... 1 014 1 013 1 002 1 10 1
Progresso...................................... 4 815 4 812 4 379 26 37 3
Remonta......................................... 101 98 78 2 11 3
Reprêsa........................................... 161 158 2 95 4 3
Sagrado Coração de Jesus.... 569 568 565 3 - 1
Salvaterra........................................ 63 63 16 34 4 -
Santa Catarina.............................. 541 541 535 - 1 -
Santa Cecília................................. 993 991 987 1 2 2
Santa Cruz...................................... 4 148 4 128 3 800 12 62 20
Santa Efigênia............................... 1 608 1 606 1 479 11 9 2
Santa Luzia..................................... 3 923 3 920 3 770 9 25 3
Santa Rita de Cássia.................. 1 445 1 441 1 383 28 12 4
Santa Terezinha............................ 2 797 2 788 2 669 19 1 9
Santo Antônio do Paraibuna.. 2 361 2 342 2 199 58 64 19
São Benedito................................ 4 045 4 039 3 945 17 3 6
São Bernardo................................ 1 080 1 079 1 069 1 7 1
São Dimas...................................... 54 54 54 - - -
São Geraldo................................... 557 554 474 1 14 3
São Mateus................................... 6 068 6 065 6 063 1 1 3
São Pedro...................................... 2 954 2 949 2 602 24 92 5
Teixeiras.......................................... 1 466 1 465 1 412 5 15 1
Vale do Ipê...................................... 465 465 465 - - -
Vale dos Bandeirantes.............. 3 254 3 241 3 061 42 22 13
Vila Furtado de Menezes.......... 734 734 733 1 - -
Vila Ideal........................................... 1 561 1 560 1 519 9 22 1
Vila Olavo Costa.......................... 1 078 1 064 1 062 1 - 14
Vitorino Braga............................... 1 245 1 245 1 170 - 4 -
Fonte: IBGE. Censo 2000.
248
Quadro 13: Rendimento Chefe de Domicílio
A Rendimento Nominal Mensal do Chefe de Domicílio
Bairros
No domicílios
particulares permanentes
Classes de Rendimento
Até 1/4
Mais de
1/4 a 1/2
Mais de 1/2 a
3/4
Mais de 3/4 a 1
Mais de 1 a 1 1/4
Mais de
1 1/4 a 1 1/2
Mais de
1 1/2 a 2
Mais de
5 a 10
Mais de
10 a 15
Mais de 30
Sem rendimento
(3)
132 465 102 531 851 17
934 2 263 6 743 17 116
23 863
7 276
3 501 6 467
Juiz de Fora............................................ 293 - 2 1 34 4 7 44 55 28 21 7
Aeroporto............................................ 1 551 - 1 1 64 7 20 60 450 212 109 54
Alto dos Passos.............................. 1 343 - 1 4 52 6 14 77 412 181 69 25
Bairu....................................................... 1 903 3 12 16 401 44 142 350 207 15 4 119
Barão do Retiro................................ 3 392 4 24 29 373 58 151 475 692 138 11 171
Barbosa Lage..................................... 602 - 4 9 110 18 31 116 83 10 2 25
Barreira do Triunfo........................... 4 909 4 39 47 676 97 266 673 832 145 14 378
Benfica.................................................. 494 - - 2 17 2 6 24 114 46 79 27
Boa Vista............................................. 1 742 - - - 44 6 23 42 396 193 382 28
Bom Pastor........................................ 500 1 2 3 86 15 19 75 82 23 2 27
Bomba de Fogo................................ 772 - 2 3 101 14 37 96 180 39 4 47
Bonfim.................................................. 1 407 - 5 9 177 26 67 194 271 60 8 90
Borboleta............................................. 428 - - 1 41 1 7 37 118 37 3 11
Botanagua........................................... 458 - 1 4 47 6 14 35 122 44 2 17
Carlos Chagas................................... 1 535 - - 1 20 4 9 38 483 238 109 26
Cascatinha.......................................... 351 - - 3 52 5 20 55 62 17 2 13
Centenário........................................... 8 140 1 4 6 258 40 86 342 2 344 998 805 189
Centro................................................... 973 2 5 3 112 14 31 112 215 58 4 42
Cerâmica.............................................. 361 1 - - 36 3 18 30 91 28 3 10
Cesário Alvim.................................... 2 164 1 10 17 356 41 117 315 380 91 11 124
Costa Carvalho................................. 184 2 1 1 31 1 12 22 20 12 13 4
Cruzeiro de Santo Antônio........... 1 247 1 8 10 278 29 100 207 119 36 9 90
Dom Bosco........................................ 1 843 - 11 19 264 42 84 225 343 83 10 86
Eldorado............................................... 902 1 4 8 169 16 47 152 124 16 2 55
Esplanada............................................ 1 274 - 1 7 79 13 32 113 387 122 22 34
Fábrica.................................................. 252 - - - 32 7 18 47 40 5 3 5
Floresta................................................ 2 276 3 10 19 261 41 128 342 364 69 3 140
Francisco Bernardino..................... 1 853 1 8 13 205 32 88 230 382 92 14 57
Grajaú.................................................... 1 596 - - 2 30 8 19 47 447 226 164 36
Grambery.............................................. 624 - 2 2 157 14 62 102 59 23 15 31
Graminha.............................................. 846 3 5 9 168 26 72 138 74 18 8 81
Granjas Bethania.............................. 913 1 1 4 84 19 36 110 240 35 1 20
Industrial............................................... 4 067 8 32 45 839 91 317 708 414 57 8 263
Ipiranga.................................................. 163 - - - - - 1 1 39 27 30 2
Jardim Bonclima............................... 1 040 - - 6 49 12 24 65 279 110 49 30
Jardim Glória...................................... 1 451 3 12 14 263 39 144 294 114 10 - 74
Jardim Natal........................................ 1 222 - - 2 70 6 28 64 357 158 69 43
Jardim Paineiras............................... 1 837 - - - 47 2 21 40 430 251 323 39
Jardim Santa Helena....................... 1 302 1 4 14 257 34 94 219 117 23 2 112
Jóckey Club........................................ 3 013 1 13 28 589 54 235 573 247 57 11 148
Linhares................................................ 2 006 - - 2 226 24 60 194 490 168 42 83
Manoel Honório............................... 685 - 1 - 28 2 12 35 239 86 20 8
Mariano Procópio........................... 1 211 - 16 11 221 27 85 192 125 19 9 106
249
Martelos............................................... 1 967 - 10 9 318 51 115 370 288 43 2 54
Meggliolário........................................ 1 546 1 3 8 242 28 73 215 261 54 5 96
Monte Castelo.................................. 1 205 - - - 48 5 13 53 431 176 42 15
Morro da Glória................................. 190 - - 2 6 1 3 8 24 16 64 2
Morro do Imperador........................ 2 536 6 14 24 480 66 232 469 246 32 10 171
Muçunge da Grama......................... 1 033 1 2 3 105 8 32 77 267 104 16 40
Mundo Novo...................................... 2 101 - 3 14 274 20 126 321 413 89 18 77
Nossa Senhora de Lourdes......... 48 - - - 9 - 4 11 4 4 2 2
Nova Califórnia................................. 2 148 - 5 11 192 35 93 278 503 76 9 101
Nova Era.............................................. 451 - - 3 73 5 26 54 59 31 27 21
Novo Horizonte................................ 446 3 4 8 103 16 25 68 52 12 1 35
Ozanan.................................................. 1 014 - 1 3 97 12 24 99 270 74 14 38
Poço Rico........................................... 4 815 3 15 35 807 109 314 776 661 134 10 306
Progresso........................................... 101 - - 1 11 - 3 8 16 10 3 5
Remonta.............................................. 161 - - 5 65 2 21 28 5 2 1 4
Reprêsa................................................ 569 1 5 4 151 16 48 120 23 1 - 68
Sagrado Coração de Jesus......... 63 - - 1 14 - 4 9 8 3 9 1
Salvaterra............................................. 541 - - 3 17 5 7 22 178 78 27 4
Santa Catarina................................... 993 3 6 3 143 21 57 142 172 39 5 59
Santa Cecília...................................... 4 148 5 32 50 695 110 309 810 417 53 5 220
Santa Cruz........................................... 1 608 3 14 16 316 47 119 317 103 10 - 150
Santa Efigênia.................................... 3 923 3 14 26 651 73 208 597 644 126 22 202
Santa Luzia.......................................... 1 445 4 9 21 359 42 132 293 96 14 - 72
Santa Rita de Cássia....................... 2 797 4 5 19 367 40 114 301 667 180 43 136
Santa Terezinha................................. 2 361 1 16 15 451 59 187 417 227 36 4 190
Santo Antônio do Paraibuna....... 4 045 5 17 36 802 92 318 738 429 60 4 239
São Benedito..................................... 1 080 1 4 8 97 15 37 101 267 88 28 28
São Bernardo..................................... 54 - - - 4 1 3 9 11 2 - 2
São Dimas........................................... 557 - 9 6 120 13 49 92 35 8 2 80
São Geraldo........................................ 6 068 1 1 8 220 41 77 276 1 733 836 480 149
São Mateus........................................ 2 954 3 12 19 457 41 203 514 425 105 36 110
São Pedro........................................... 1 466 1 7 9 224 23 68 225 239 51 21 51
Teixeiras............................................... 465 - 1 - 13 1 4 16 112 71 59 12
Vale do Ipê........................................... 3 254 3 9 15 379 54 161 400 666 185 29 137
Vale dos Bandeirantes................... 734 - 4 6 144 17 43 97 112 20 3 35
Vila Furtado de Menezes............... 1 561 - 7 16 303 58 118 253 169 46 3 78
Vila Ideal................................................ 1 078 3 17 17 301 36 92 206 39 4 - 110
Vila Olavo Costa............................... 1 245 1 2 - 126 15 44 154 301 58 14 59
Vitorino Braga.................................... 4 569 4 42 52 1
346 135 433 862 251 41 12 331
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000.