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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UERJ ARTUR MESSIAS A MATERIALIZAÇÃO DA LIDERANÇA ORGÂNICA. Monografia apresentada à banca examinadora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Ciências Sociais Orientação: professora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros Por Wenderson D. Ribeiro. 2002

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ

ARTUR MESSIAS – A MATERIALIZAÇÃO DA LIDERANÇA

ORGÂNICA.

Monografia apresentada à banca examinadora do

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Ciências Sociais

Orientação: professora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros

Por

Wenderson D. Ribeiro.

2002

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Índice:

Agradecimentos....................................................................................

02

I Introdução 07

II

Os Conceitos de Gramsci sobre Bloco Histórico

13

A Sociedade Civil....................................................................................... 16

A Sociedade Política................................................................................... 19

A Estrutura Do Bloco Histórico................................................................. 22

Hegemonia.................................................................................... 23

O Novo Bloco Histórico............................................................................. 24

III O Partido dos Trabalhadores

26

IV Artur Messias – O Perfil da Liderança

40

V O Bloco Histórico Vigente

O Desenvolvimento do Capitalismo........................................................... 51

A Repercussão do Capitalismo no Brasil.................................................... 54

O processo de redemocratização do Brasil................................................. 65

VI

Conclusão

91

VII

Bibliografia

94

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Agradecimentos

“Tivemos de tomar as armas para sim nos

fazermos ouvir, tivemos de cobrir a cara para

termos rostos, tivemos de esconder nossos

rostos para sermos lembrados, tivemos de

guardar nosso passado para termos amanhã”.

Subcomandante Marcus (EZLN).

A satisfação de realizar um trabalho encontra-se na oportunidade de

estabelecer relações sociais com inúmeras pessoas e reconhece-las como

constituidoras de meus princípios de consciência social e sua compreensão.

A incessante luta para concluir meus estudos encontrava sempre

motivação na lembrança dos momentos em que pude contar com a solidariedade

de meus amigos.

Dircelene de Moraes, amiga dos momentos de grande entusiasmo como

também de dúvida e angústia além do que me proporcionou conhecer o dono

daquele olhar que me intrigou durante minha adolescência até saber tratar-se de

Ernesto Che Guevara, guerrilheiro da revolução cubana, que admiro até hoje.

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O curso pré-vestibular, realizado no IFCS-UFRJ no Rio de Janeiro no

ano de 1991, não só permitiu capacitar-me para ingressar na UERJ como

também conhecer amigos como Dicerlene, Jorge Alberto, que sempre me

socorreram em minhas empreitadas. Nosso êxito estava na amizade que

estabelecemos no decorrer do curso.

Josué Meirelles, que ao me filiar no partido verde de Nilópolis, começou

a me ajudar a forjar meu espírito militante. Ronald e Cleverson Goulart que

durante o tempo em que participamos da executiva municipal do partido

constituímos uma amizade que dura até hoje e transcende a política partidária.

Agradeço a insistência de meu pai, Dalci Fernandes Ribeiro, em penetrar

em meu mundo e tentar, mesmo com minha resistência, me passar uma grande

gama de conhecimentos e experiências e mesmo não estando, mais, em minha

companhia, sinto sua influência até hoje, de maneira forte, dolorosa, entranhada

no intimo do meu ser.

A minha mãe, Maria Madalena Dias Ribeiro, que me susteve. Durante a

infância me educou de maneira tão rígida, reflexo da altivez de seu pai.

Efraim Felipe Dias e Rita Rodrigues Dias, meus avós maternos, que me

encantaram com todo o sincretismo religioso que havia em sua casa. No interior

de Bom Jesus do Itabapoana, as idas e vindas com meus pais quando criança e já

adulto, quando só meu avô permanecia na casa, sobre seus oitenta e cinco anos

de vida, eu ouvia estórias e ensinamentos. Depois que ele se foi diminuí minhas

idas a Bom Jesus.

A Marieta da Cunha Ribeiro, minha avó paterna, por todos os domingos

em que tive a satisfação de estar reunido em família, pelos dias de férias

escolares que passei em sua companhia e pela oportunidade de ter tido tantos

sonhos na casa de Irajá.

Embora não tenha conhecido meu avô paterno, Adelino Fernandes

Ribeiro, somos um pouco de nossos pais assim como nossos pais são um pouco

de nossos avós. Trago muito do meu pai dentro de mim e acredito que um pouco

do senhor Adelino também.

Aos companheiros, das empresas pelas quais passei e que ajudaram nas

reivindicações e nas lutas que engendramos por nossos direitos.

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Aos meus amigos da turma de ciências sociais de 1994, por todas as

transformações que provocaram em minha vida. Toda a diversidade de coisas

que a UERJ me proporcionou: As rodinhas de bares, o bar do DCE, as palestras

nos auditórios...

A Ana Claudia da Silva Pitança, imprescindível na realização de todos os

projetos, sempre trazendo credibilidade ao que fazíamos. Através de seu

entusiasmo, trouxe também o amigo, Flavio Formoso sempre solícito em nos

auxiliar nos trabalhos.

A Paulo Sergio de Aquino, que das vezes que consegui encontrá-lo e aos

encontros que compareceu, viabilizou boa parte do trabalho como também meu

ingresso no partido dos trabalhadores.

Ao amigo, Hilbert Gonçalves, o Calvin, companheiro inseparável dos

finais de semanas e das inúmeras programações, como também dos momentos

difíceis. Quando fundamos a máfia, grupo de amigos, onde curtimos a noite no

Rio e Baixada Fluminense não pensamos que tomaria alguma proporção.

Aos amigos do DETRAN-RJ, que durante o processo eleitoral de 1996

mantiveram meu entusiasmo aceso até o fim.

A Marcus Anaylle, Claudia Siqueira, sua mãe dona Eunice, dona Dalva e

todos que me socorreram quando fui tragado por sucessivas tragédias, rostos que

se misturavam enquanto tudo morria a minha volta.

Carlos Magno, meu primo, meu amigo, da infância até o fim de sua vida,

sua personalidade simples, trago comigo sua influência até hoje.

A Sara Simões e Sandro, por toda nossa experiência à frente do programa

Baixada do Rock na Rádio Comunitária de Nilópolis e pelo jornal que

elaboramos também na Baixada.

Minha esposa, Elica Pereira do Rêgo Ribeiro, meu porto seguro, uma das

poucas pessoas cuja sensibilidade permitiu enxergar-me além das manifestações

que encobrem meu verdadeiro ser. Por me ensinar o caminho estreito que me

conduz à presença de Jesus Cristo, obrigado.

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Aos amigos Márcia e Taffarel, que me ajudaram a resgatar meus

princípios socialistas e auxiliaram meu estabelecimento no partido dos

trabalhadores.

Ao senhor Mariano, presidente do PT Nilópolis, que me motivou para

participar da direção do partido.

Ao amigo Artur Messias, que tem nos conduzido na construção do

partido, nos enfretamentos e embates surgidos ao longo de nossa caminhada,

trazendo à realidade idéias que percorriam meus pensamentos.

Ao professor Valter Duarte, por impedir-me de ser seduzido pelo jogo

chamado democrático.

A minha orientadora, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros que durante

todo curso me pôs a par da realidade que me mantém firme na luta.

Ao Senhor Deus que me permitiu sobreviver a tudo que me afligiu, as

pessoas que colocou em meu caminho e por me resguardar em minha

caminhada.

Ao curso de Ciências Sociais por ter remexido minhas entranhas, ter me

fragilizado num momento tão difícil, mas por me fornecer as armas teóricas para

o embate.

A Elaine Cristina e Jorge Roberto, por viabilizarem a realização deste

trabalho, nas tarefas da informática.

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I

Introdução

Através da janela do carro dos meus pais eu via o que ocorria ao meu

redor e não gostava do que via. O que estava lá fora entrava em choque com

muitas das coisas que me chegavam mastigadas através da televisão.

A educação ficou por conta da minha mãe cuja maior parte do seu tempo

era absorvido pelos afazeres domésticos. Embora meu pai tenha tido extrema

paciência, depois dos exaustivos dias de trabalho, de sentar-se comigo e

conversar; tudo pouco me aproximou do mundo real.

O período que compreendeu o meu despertar para a realidade, o deixar de

ver o mundo com os olhos de um menino foi muito curto e distinto da minha

idade cronológica. Em contrapartida, por mais infantil que pudesse parecer

comecei a idealizar o mundo que eu queria e essas construções me acompanham

até hoje.

Tudo se transformava diante dos meus olhos; abstrações produzidas pelas

indignações que me atormentavam, pareciam tão reais na minha imaginação que

provocaram em mim o interesse em coloca-lás em prática.

Durante o período em que me preparava para prestar o vestibular ganhei

de uma amiga um livro sobre a vida do Guerrilheiro argentino Ernesto Che

Guevara. Ali estava a expressão real de idéias que pareciam encontrar-se

presentes apenas na minha mente. No ano seguinte surgia a oportunidade no

partido verde, comecei a vivenciar o estabelecimento de relações com fins

organizacionais, o que me possibilitou o contato com uma pequena diversidade

de lideres cada qual já com sua história. Para mim a história estava acontecendo.

Em pouco tempo já fazia parte da executiva do partido. Sem perceber, a

Instituição me moldava embora meus princípios revolucionários ainda fossem

latentes.

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Enquanto o país se manifestava em torno do processo de Impeachment eu

acompanhava da mesa de um bar nas esquinas da Rio Branco com a Presidente

Vargas, no Rio, todo rebuliço. Itamar Franco tornou-se Presidente e eu

ingressava na Uerj. Ainda me recuperava de uma cirurgia, mas tal era à vontade

de iniciar-me nos estudos que comparecia às aulas normalmente. A Universidade

parecia ser o lugar ideal. Criei a expectativa de que conheceria membros de

algum grupo revolucionário. Durante uma entusiasmante aula de teoria

antropológica da qual a ministrante seria essa que hoje é a minha Orientadora eu,

diante da minha turma, como era de costume, deixei transparecer pensamentos e

idéias as quais foram eficazmente combatidas e desmontadas por minha

Professora e alguns amigos. Ainda que não estivesse preparado para o debate,

não me sentia vencido talvez por orgulho, mas passei a me resguardar, ter

cautela com vistas a evitar desgastes.

Diante do meu despreparo para inserir-me em movimentos populares, e o

cotidiano agitado afligido vez ou outra pelo crescente desemprego que assolava o

País, restou-me tornar-me um cientista social.

Nunca me furtei em participar dos acontecimentos de mobilização da

sociedade civil, embora sempre estivesse envolvido com questões particulares

como: o trabalho, a universidade ou a família. Quando havia uma manifestação

seja em Âmbito Nacional ou Estadual, pelo ensino público gratuito, contra o

sucateamento das universidades e a privatização das empresas públicas estive

presente, atuante, convocando amigos e companheiros para engrossarmos as

passeatas que atravessavam quando não a avenida Rio Branco a avenida Chile e

a Cinelândia.

Já me encontrava profundamente decepcionado com o partido verde, cada vez

mais distante da esquerda brasileira, e que, a nível Municipal tornava-se um

partido de conchavos. Quando do momento em que me consolidava na UERJ

como estudante atuante nas manifestações culturais e sociais da universidade me

tornava elemento aglutinador dentro do curso de ciências sociais. Com o início

da campanha para presidente, governador e deputado, a importância de Luiz

Inácio Lula da Silva e do partido dos trabalhadores permeava toda a UERJ, eu

ainda nutria alguma simpatia pôr Leonel Brizola, entretanto, não me conformava

pôr ele ter se aliado a Fernando Collor.

Muitos nomes disputavam votos na UERJ, meus amigos estavam inseridos na

campanha do vereador iguaçuano, Artur Messias, que tentava uma vaga na

Assembléia Legislativa. O nome forte do PT dentro da UERJ era o do professor

Bruno, porém ingressei na campanha do Artur, e já no início acompanhava a

agenda do candidato. O PT me rondava, mas, ainda mantinha um pé no PV.

Foram organizadas inúmeras reuniões. Todas refletiam, o quanto Artur

Messias estava integrado as pessoas que representava. Foi oferecido, a todos que

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compareciam, à oportunidade de participação na elaboração dos princípios que

norteariam a campanha. A campanha trataria da realização de projetos coletivos

e com isso deveria apresentar-se como instrumento de luta contra as velhas

práticas dominantes na política Estadual.

Os elementos ideológicos que constituem o partido dos trabalhadores como

também os princípios dos quais se vale Artur Messias para atuar perante os

grupos sociais, organizando-os e dirigindo-os de acordo com as condições sócio-

econômicas no terreno onde se moveriam.

Não alcançamos a vitória, entretanto, mobilizamos parte da sociedade civil

entorno das disparidades produzidas pela classe dominante.

O ostracismo político contribuiu para que eu não tentasse lutar contra a

aliança do PV com o PSDB no Município de Nilópolis. Em Nova Iguaçu, Artur

Messias lançava-se candidato a prefeitura onde o partido dos trabalhadores dava

uma demonstração de grande movimentador das massas.

Ao final de 1996 percebi que não havia contribuído em nada com a

formulação de uma ideologia de classe trabalhadora muito pelo contrário o meu

prestígio perante alguns companheiros de luta ficou arranhado, diante do meu

oportunismo de alcançar as instituições políticas a qualquer preço.

O partido dos trabalhadores tornava-se o grito que destoava de todo aquele

som repetitivo das demais siglas partidárias, cada vez mais o PT se embrenhava

dentro da sociedade civil brasileira provocando a formação de uma consciência

crítica em alguns de seus membros, tornando-se uma ameaça cada vez maior a

classe dominante.

A elaboração deste trabalho submeteu-se a inúmeras dúvidas até que fosse

possível chegar a uma clareza sobre o objeto, que só aconteceu através da

apreciação da obra de Gramsci a partir da qual promoveu-se uma reformulação

de todas as minhas construções teóricas e toda a minha vivência político-

partidária realizada até então.

As frustrações no partido verde me levaram a aproximar-me do PCB que se

encontrava em processo de reconstrução, minha ansiedade não me permitiu

contribuir com tão nobre tarefa. E o que era inevitável finalmente aconteceu: no

ano de 1999, eu ingressava no partido dos trabalhadores de Nilópolis e como

primeiro desafio, levantar a bandeira do partido no processo eleitoral de 2000.

Artur Messias lançava-se candidato a prefeitura do mais novo Município do

estado do Rio de Janeiro, Mesquita.

Gradativamente o partido dos trabalhadores estabelecia-se como grande

elaborador da nova intelectualidade, da unificação da teoria e prática.

O trabalho se propõe a demonstrar como o partido dos trabalhadores tem

organizado as classes subordinadas numa direção política e ideológica tornando-

se o agente orgânico que viabilizará a transformação do sistema vigente.

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Destacamos em seu interior lideranças que reproduzem seu caráter orgânico

como o companheiro Artur Messias, um fragmento transformador que compõe o

corpo transformador. O bloco histórico, cenário da ação do intelectual orgânico

cuja administração está em suas mãos, como também sua superação.

O que vimos ao longo dos anos e através do estudo da História e das

Ciências Humanas foi a implantação, consolidação e momentos de ajustes

daquilo que de pior a humanidade poderia produzir, o Sistema Capitalista.

As crises que assolaram a humanidade durante esse período foram em

sua maioria conseqüência das contradições existentes no interior do próprio

sistema. Suas promessas de desenvolvimento e bem estar social para todos se

desmancharam como açúcar na água diante do seu caráter excludente e

individualista.

A forma como conseguiu esmagar as tentativas de realizações socialistas

e comunistas demonstraram apenas o perfil hegemônico do capitalismo que

através do neoliberalismo e da globalização tem tornado todos os povos e

estados reféns daquilo que para a humanidade ainda se encontra na esfera do

sobrenatural.

Dentre os inúmeros instrumentos que utiliza para o seu avanço, e que até

os dias de hoje abre bolsões de miséria insolúveis é o investimento na formação

de lideranças, de intelectuais e que se tornou primordial para tal êxito.

A expansão do capitalismo pelos diversos Estados-Nações tornou-se

imprescindível para sua consolidação, como também, a viabilização do

desenvolvimento de indivíduos que permeiam toda a sociedade civil dos

respectivos Estados com toda a gama de conceitos capitalistas com vistas a sua

reprodução.

No Brasil, sua consolidação deu-se gradativamente acompanhando os

fatos ocorridos dentro do contexto global evidenciando o seu fortalecimento na

destituição da era Vargas, que o regime Militar e o Governo de Fernando

Henrique Cardoso procuraram apagar, moldando a população brasileira para a

eterna subserviência.

Os pequenos grupos armados surgidos ao longo de nossa história foram

dizimados e até bem pouco tempo atrás não se podia nem falar no assunto. O que

se permitiu aos anseios populares foi jogar o jogo da democracia, o processo de

representatividade político partidário. Os partidos de orientações socialistas e

comunistas perderam um pouco de sua identidade ao permitir inserir-se em tal

processo.

O surgimento do partido dos trabalhadores permitiu congregar inúmeros

setores da sociedade que buscavam o enfretamento com o sistema vigente. O seu

crescimento refletia as condições de vida do povo brasileiro e as disparidades

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existentes, confrontadas com sua elite que enriquecia cada vez mais. O partido

procurou capitalizar toda gama de insatisfações provenientes dos diversos

setores do País, tornou-se a escola de grandes lideranças, de homens combativos

com espírito revolucionário e transformador.

Dentre os valorosos lideres que se desenvolveram no interior do partido

dos trabalhadores, podemos destacar a figura de Artur Messias, jornalista, criado

no Município de Mesquita, na Baixada Fluminense. Ganhou notoriedade como

combativo membro da comunidade Fluminense, na busca para melhoria da

qualidade de vida de seus membros, em nome da justiça social e de ampliação da

cidadania. Enfrentou as oligarquias locais, seu trabalho recebeu reconhecimento

da sociedade, através de sua condução ao mandato de vereador por Nova Iguaçu

no qual se capacitou a tentar e tornar-se Deputado Estadual pelo partido dos

Trabalhadores cujo reconhecimento materializou-se através do exercício da

liderança do partido na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. A ação

parlamentar não o afastou da vida simples, nem tão pouco dos princípios que

norteiam, até hoje, seus compromissos com a comunidade.

Quando fui ao gabinete do Artur propor a realização desse trabalho e me

ofereci para participar de sua campanha a reeleição, nunca imaginei a proporção

da minha participação, nem tão pouco, o grau de organicidade da liderança do

Artur Messias e do partido dos trabalhadores.

Ao começarem os eventos de campanha, fui alçado à coordenação de

juventude. E me senti tomado por um entusiasmo, provavelmente conseqüência

das relações que estabelecia com os componentes da campanha e de ver o

empenho do Artur junto ao grupo. Tentei expandir minha participação em outros

lugares além do município de Nilópolis como para Japeri e Campo Grande no

que fui respaldado pela coordenação de campanha.

As coisas não eram tão simples como imaginei, pois, a campanha do

Artur a deputado estadual estava relacionada à de alguns deputados federais,

escolhi participar da do companheiro Luis Sérgio, ex-prefeito de Angra dos Reis,

tentava a reeleição pelo PT e sua linha de ação estava dentro do nosso campo

político.

Não havia só a campanha do Artur e do Luiz Sérgio ambas integravam a

campanha pelo governo do estado do Rio de Janeiro e pela presidência do Brasil

onde todos deveriam se empenhar junto a Benedita da Silva e Luiz Inácio Lula

da Silva.

Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil e a efervescência

e o grau de expectativa que existia no seio da sociedade civil em torno do líder

do partido dos trabalhadores, que por ter compreendido e assimilado as

pretensões desta sociedade civil, promoveria através do PT e com a participação

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dos demais partidos que o apoiaram, dos empresários e de todos aqueles que

desejassem contribuir, na formação de um pacto social em benefício do Brasil.

O medo se submeteu a esperança, que transpassou o coração de todos os

brasileiros que se manifestavam nas principais praças e avenidas do país. Com

uma alegria contagiante e do interior da onda de bandeiras vermelhas e verde-

amarelas e de sorrisos e lágrimas eu vi a face de Artur Messias e de outros

lideres conduzindo a construção do processo e a organização da massa.

Ao que devemos a formação do intelectual orgânico se não, ao conjunto

de fatores tão imprecisos quanto inexatas são as Ciências Humanas, mas dos

quais, podemos nos valer para nos aproximarmos e prepará-los para o

enfretamento. Enfrentamento este que contribuirá com o processo de construção

da liderança.

...Queria ter essa aparência revolucionária do Taffarel, a serenidade e a

coerência do Artur, falar tão efusivamente como Lindberg, ter o mesmo

entusiasmo, que meus amigos têm comigo, ser como meu pai era, ser como eu

sou...

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II

Os conceitos básicos sobre o bloco histórico segundo Gramsci

Segundo Gramsci os intelectuais orgânicos trabalham no vínculo orgânico

que une estrutura e superestrutura cuja função é exercer esse vínculo formando

uma camada diferenciada ligada à estrutura.

Cada grupo social possui sua própria camada de intelectuais, ou tende a

forma-la, sendo que a maior consciência de classe do intelectual o transfere da

condição de membro para a condição de representante da classe de onde ele se

originou.

O processo de desenvolvimento dos intelectuais está ligado a uma dialética

intelectual-massa na qual todo progresso para uma nova amplitude e

complexidade está ligado a um movimento análogo da massa dos simplórios.

Os intelectuais elaboram a ideologia da classe dominante transformando-a em

concepção do mundo, difundida em todo o campo social. Dirigir organicamente

toda a massa pôr intermédio de uma elite, cuja concepção implícita em sua

atividade humana já se tenha tornado consciência atual, não somente no plano

econômico, mas também no plano político e social.

O vínculo orgânico depende da estreiteza da relação entre o intelectual e a

classe que ele representa essencialmente na atividade que exerce no seio da

superestrutura, tornando essa classe hegemônica.

A atividade superestrutural estende-se a todos os domínios dessa classe que

aspire a orientação sendo a função primordial de seus intelectuais o exercício da

hegemonia.

Os intelectuais são encarregados de gerir a estrutura ideológica da classe

dominante no seio das organizações da sociedade civil. Os intelectuais são

igualmente os agentes da sociedade política, encarregados da gestão do aparelho

do Estado e da força armada e desfrutam de uma certa autonomia em relação à

estrutura sócio-econômica, conseqüência de sua origem social. Os intelectuais

orgânicos se tornam autônomos em relação à classe fundamental quando, no

exercício da direção cultural se desprendem da classe fundamental para

constituírem uma verdadeira superestrutura.

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A evolução de um determinado período histórico sofre inferências diretas

dessa autonomia, são homens que fazem a história quando a classe dirigente não

é mais a classe fundamental. A autonomia dos intelectuais pode provocar uma

crise orgânica, a ruptura do vínculo orgânico que a ligava aos intelectuais da

sociedade civil.

Em cada país a camada dos intelectuais foi radicalmente transformada pelo

desenvolvimento do capitalismo. Para organizar o estado, a classe dominante

desenvolveu um tipo particular de intelectual: o quadro técnico, o especialista da

ciência aplicada. Nas sociedades onde as forças econômicas desenvolveram-se

num sentido capitalista, aponto de absorver a maior parte da atividade nacional.

As afirmações de Gramsci são ainda mais válidas hoje, pois, as classes

subalternas não são mais “amorfas e atrasadas”, mas possuem uma qualificação

cultural crescente que se reflete no senso comum.

Deve-se ressaltar a importância que tem os partidos políticos na elaboração e

difusão das concepções de mundo, na medida em que elaboram essencialmente a

ética e a política adequadas a ela. Para Gramsci o partido comunista italiano

(PCI) seria o grande intelectual orgânico de sua época, seus estudos interagem

com sua participação na fundação e na organização do PCI. Os partidos são os

elaboradores das novas intelectualidades, da unificação da teoria e da prática,

selecionam individualmente a massa atuante, e esta seleção opera-se

simultaneamente nos campos prático e teórico.

O partido político formado a partir dos anseios das classes subalternas,

através do trabalho dos intelectuais orgânicos produzidos pôr essa classe,

estando ambos constituindo o partido, funcionará como o agente transformador

do bloco histórico no qual está inserido, cujos intelectuais orgânicos criarão uma

nova concepção do mundo para confrontar-se com a atual, promovendo uma

guerra ideológica, desestabilizando e rompendo os laços orgânicos entre

estrutura e superestrutura.

No Brasil, o partido dos trabalhadores foi fundado com o propósito de levar a

classe trabalhadora à condição de classe fundamental, destituindo a burguesia do

poder. Contemplando as minorias excluídas e oprimidas ao longo do bloco

histórico burguês. Sendo de extrema importância nos embrenharmos em seu

interior no qual nos deparamos com uma grande diversidade de tendências

embora todas se mantenham juntas para viabilizar o fortalecimento do partido.

Também se pode observar uma multiplicidade de indivíduos provenientes das

mais variadas classes e segmentos da sociedade, constituindo e interagindo como

partido.

Todos os indivíduos que trabalharam ou ainda trabalham na construção do

partido dos trabalhadores são fragmentos orgânicos de um todo que é o partido.

Fragmentos que se encontram em estágios diferentes de evolução cujo

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comprometimento com o partido passa pelo objetivo maior: a superação do

bloco vigente.

Dentre esses fragmentos constitutivos da organicidade do partido existem

inúmeros que poderiam servir como parâmetro de análise, a opção por Artur

Messias condiz com sua trajetória de luta, que passa pelas lutas dos

trabalhadores fluminenses e pela construção do partido dos trabalhadores.

Trajetória na qual me inseri no decorrer do trabalho.

Artur Messias desenvolvera inúmeros trabalhos de cunho comunitário antes

de ingressar no PT, sua atuação veremos mais adiante. O partido possuía meses

de existência quando de sua entrada, construiu sua liderança durante sua

juventude o que o distinguiu no interior da massa e o permitiu tornar se seu

representante.

Quando foi recebido no partido dos trabalhadores o objetivo era de fazer

avançar a luta em prol do atendimento as necessidades do grande número de

indivíduos cada vez mais pobres que se aglomeravam ao redor do estado

ocupado pela burguesia através de seus intelectuais e seus auxiliares. Estado

este, que deverá ser conquistado pela classe trabalhadora para cessar toda

ineficiência da burguesia como classe fundamental, que ao longo da história

relegou as demais classes a miséria e a subsistência.

O partido dos trabalhadores contribuía com o engajamento da sociedade civil

nas manifestações entorno de questões de interesse da população menos

favorecida, enquanto se estabelecia como liderança desta população, ao passo

que ganhava organicidade junto a sociedade civil, o que facilitaria em um

segundo momento da tomada do aparelho do estado. A superação da distinção

entre a sociedade civil e a sociedade política, promovendo a hegemonia da classe

trabalhadora.

No interior do partido dos trabalhadores a fomentação dos núcleos tornou-se a

forma de organização mais eficaz para a luta revolucionária. De fato, tal

organização favorece um maior conhecimento entre seus membros, fortalece a

solidariedade interna como também se mostrou um instrumento eficiente contra

o fenômeno eleitoral que contamina os partidos socialistas brasileiros.

Nos elementos que originaram o partido dos trabalhadores estão presentes as

principais características que comprovam seu caráter de massa: a estreita ligação

com as organizações de base e a atuação permanente junto à classe trabalhadora.

No encontro nacional, em 1980, foi deliberado que os estatutos deveriam

contemplar o poder de decisão dos núcleos, entendidos como a unidade orgânica

do partido, os encontros previam ainda a constituição de um conselho de

representantes eleitos nos núcleos.

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Os núcleos cumpriam um papel importante na medida que criavam condições

para a organização dos militantes na base do partido e funcionavam como

instrumento permanente de pressão sobre a direção do partido.

Desde 1981, Artur Messias participava do núcleo petista de seu bairro e até

1985 nunca tinha participado da direção municipal, muito embora tivesse uma

atuação pública marcante no antigo distrito de Mesquita.

Nos moldes dos outros núcleos petistas, o de Mesquita permitiu a Artur

capacitar-se como liderança local e facilitou a mobilização da comunidade para

tratar das discussões entorno de seus interesses, e de suas prioridades. Algumas

conquistas fortaleceram Artur Messias e o partido em outros municípios da

Baixada Fluminense.

Os indícios de transformação da superestrutura começaram a aparecer quando

o partido começou a trazer à realidade possibilidades de uma organização gerida

pôr trabalhadores, para servir aos trabalhadores e demais classes empobrecidas

pela administração burguesa.

No aspecto organizacional o PT seria o primeiro partido de massa criado no

Brasil. Havia uma realidade concreta que colocava o partido no impasse comum

dos demais partidos socialistas de massa, os limites estruturais e a tendência a se

transformar em partido que privilegia a luta eleitoral, inerente a própria natureza

da massa que o partido assume e aos objetivos políticos imediatos que ele se

coloca.

Os intelectuais orgânicos dirigem, através da trama social, o complexo

superestrutural e soldam a estrutura à superestrutura legitimada em seu vínculo

orgânico como a classe fundamental. A análise de seu papel no interior do bloco

histórico permite visualizar os elementos constitutivos da estrutura e da

superestrutura.

A Sociedade Civil

A superestrutura do bloco histórico forma um conjunto complexo, em

cujo seio Gramsci distingue duas esferas essenciais: A sociedade política que

agrupa o aparelho do estado e a sociedade civil.

A origem do conceito de sociedade civil é praticamente o

desenvolvimento dos conceitos de Marx e Hegel; Marx entendeu a noção

hegeliana de sociedade civil com o conjunto das relações econômicas; Gramsci

interpreta-a como o complexo da superestrutura ideológica.

A economia política, a ciência que deve apresentar o movimento e o

comportamento das massas em suas situações e relações qualitativas e

quantitativas, é uma das ciências que nos tempos modernos surgiram como em

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seu terreno próprio demonstra para descobrir na infinita multiplicidade de

minúcias que se lhe apresentam, os princípios simples da matéria, o elemento

conceitual que as impede e dirige.

Para Marx, o homem, vivendo numa sociedade que se encontra num

certo nível de desenvolvimento histórico sente necessidades de ordem diversa.

As relações sociais que se estabelecem no decorrer do processo

econômico distinguem-se das outras espécies de relações sociais pelo fato de que

surgem por intermédio dos objetos materiais que servem a satisfação das

necessidades.

A regularidade fundamental que a economia política encontra quando

estuda as leis sociais que regem a atividade econômica dos homens, é a

dependência das relações de produção para com as forças produtivas sociais.

A propriedade dos meios de produção constitui a base, que define o

aspecto de conjunto das relações de produção bem como das relações de

distribuição. Decorre, desse fato, que as relações de produção devem ser

classificadas conforme o tipo de propriedade dos meios de produção.

As relações econômicas não são as únicas, ao seu lado em que o vínculo

social se forma por intermédio das coisas, quer dizer dos objetos materiais,

existem ainda as relações sociais decorrentes da vida familiar, as relações sociais

resultantes dos princípios e costumes existentes da atividade do poder estatal, e

as relações jurídicas resultantes das normas fixadas pelo poder do estado para

regulamentar a atividade humana.

Nessa estrutura de elementos de consciência social existente em uma

determinada sociedade, quer dizer, de consciência das relações sociais, de idéias

sociais e de atitudes sócio-psicológicas, certos elementos são indispensáveis a

um dado modo de produção.

Em cada modo de produção antagônico existem relações jurídicas e

relações políticas necessárias ao poder do estado para proteger o privilégio da

propriedade dos meios de produção em favor de uma certa parte da sociedade;

devem também nele existir idéias morais, religiosas e filosóficas capazes de

convencer o conjunto da sociedade da justiça das relações de propriedade dos

meios de produção existentes.

Todos os homens são filósofos pela própria concepção do mundo,

pertencemos sempre a um determinado grupo, precisamente, o de todos os

elementos sociais que partilham de um mesmo modo de pensar e agir: somos

conformistas de algum conformismo, somos sempre homens-massa ou homens-

coletivos.

O início da elaboração crítica é a consciência daquilo que somos

realmente, isto é, um “conhece-te a ti mesmo” como produto do processo

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histórico até hoje desenvolvido, que deixou em ti uma infinidade de traços

recebidos sem benefício no inventário.

A filosofia é uma ordem intelectual, o que nem a religião nem o senso

comum podem ser. Deve-se ver como, na realidade, também não coincidem

religião e senso comum; entretanto a religião é um elemento do senso comum

desagregado. Ademais, “senso comum” é um nome coletivo, como “religião”:

não existe um único senso comum, pois também ele é um produto e um devenir

histórico. A filosofia é a crítica e a superação da religião e do senso comum e

neste sentido, coincide com o “bom senso”.

A religião e o senso comum não podem constituir uma ordem intelectual

porque não podem reduzir-se a unidade e a coerência nem mesmo na consciência

individual, para não falarmos na consciência coletiva. O problema da religião é

de unidade de fé entre concepção do mundo e uma norma de conduta adequada a

ela.

Não existe filosofia em geral, existem diversas filosofias ou concepções

do mundo, e sempre se faz uma escolha entre elas.

O contraste entre o pensar e o agir, isto é, a coexistência de duas

concepções do mundo, uma afirmada por palavras e a outra se manifestando na

ação efetiva, nem sempre se deve à má fé.

A filosofia não pode ser destacada da política, ao contrário pode-se

demonstrar que a escolha e a crítica de uma concepção do mundo são, também

elas, fatos políticos.

A sociedade civil é um conjunto complexo sua vocação para dirigir o

bloco histórico implica adaptação do seu conteúdo.

A sociedade civil pode ser considerada sob três aspectos

complementares: como ideologia da classe dirigente, como concepção do mundo

(difundida em todas as camadas sociais para vinculá-las a classe dirigente) e

como direção ideológica da sociedade, articulando-se em três níveis: a ideologia,

a estrutura ideológica e o material ideológico.

O partido dos trabalhadores que se constituiu em seu início de

representantes de seguimentos populares e pessoas oriundas dos setores mais

pobres da sociedade brasileira, ao se inserir nesta sociedade civil procurou

perceber suas necessidades e deficiências com as quais viabilizaria

transformações que incorreriam com mudanças na superestrutura.

Com o trabalho na base da sociedade civil e a participação no pleito

eleitoral, com fins a alcançar a sociedade política, o partido dos trabalhadores

vem atuando no vínculo que as une.

Sua presença no interior da sociedade civil permitiu sua identificação

com o movimento de base inclusive contribuir com sua constituição. Assim o PT

conquistou legitimidade junto a sociedade brasileira como também, a simpatia de

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indivíduos que ingressaram no partido tornando-se não só integrantes de um

projeto de transformação mas elaboradores de ações que prestigiaram outros

setores da sociedade, ampliando as bandeiras defendidas pelo partido.

Artur Messias promoveu o resgate da cidadania nas comunidades

fluminenses ao contribuir com a organização de projetos de caráter social na

direção da formulação de políticas públicas para a população da baixada

fluminense.

Através de reuniões realizadas nas comunidades foram instituídos cursos

de formação política e cultural nos quais trouxeram a luz do esclarecimento,

meios para viabilizar o encaminhamento das questões relativas às reivindicações

da comunidade como também capacitou os indivíduos a formularem seus

próprios questionamentos.

A igreja católica, que constitui uma sociedade civil autônoma, teve papel

fundamental na construção do partido dos trabalhadores. A igreja mantém uma

unidade ideológica e através do clero tem sua religião difundida empreendendo

esforços duradouros e pacientes para desenvolver sua própria literatura e

imprensa, bem como pela organização universitária. A igreja católica possui

todos os aspectos de uma sociedade civil.

A estreita relação entre a igreja católica e o PT propiciou o surgimento de

várias lideranças oriundas dos movimentos eclesiásticos de base (pastoral

operária, pastoral da juventude etc).

O campo que a sociedade civil abrange é extremamente vasto. Domínio

da ideologia, concepção do mundo que se manifesta implicitamente em todas as

expressões da vida individual e coletiva.A sociedade civil engloba quase todas as

atividades da classe dirigente e, assim, da superestrutura: uma concepção tão

ampla da ideologia explica suficientemente porque Gramsci lhe atribui papel

essencial no bloco histórico.

A Sociedade Política

Além da sociedade civil, no seio da superestrutura encontramos a

sociedade política ou estado, que corresponde à dominação direta ou de comando

que se exprime no Estado ou no Governo Jurídico.

O Estado é a realidade em ato da idéia moral objetiva, o espírito como

vontade substancial revelada clara para si mesma, e realiza o que sabe e porque

sabe.

O Estado Político acabado ou perfeito, por sua essência, é a vida genérica

do homem por oposição à sua vida material. O Estado Político se comporta, em

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relação, a sociedade civil, de modo tão espiritualista como o céu com relação a

terra.

O homem, em sua realidade imediata, na sociedade civil, é um ser

profano, aqui, onde passa diante de si mesmo e diante dos outros por um

indivíduo real, é uma manifestação carente de verdade. No Estado, ao contrário,

onde o homem é considerado como um ser genérico, ele é o membro imaginário

de uma soberania imaginária, acha-se despojado de sua vida individual real e

dotado de uma generalidade irreal.

O Estado, como realidade em ato de vontade substancial, realidade que

esta adquire na consciência particular de si universalizada, é o racional em si e

para si: esta unidade substancial é um fim próprio absoluto, imóvel, nele a

liberdade obtém o seu valor supremo, e assim este último fim possui um direito

soberano, entre os indivíduos que, por serem membros do Estado, tem o seu mais

elevado dever.

A sociedade política agrupa o conjunto das atividades da superestrutura,

que dizem respeito à função de coerção. O momento político-militar é o

prolongamento e concretização da direção econômica e ideológica que uma

classe exerce sobre a sociedade.

A sociedade política tem por função o exercício da coerção, da

manutenção, pela força da ordem estabelecida.

O caráter fundamental do Estado e a unidade substancial como idealidade

dos seus momentos ao mesmo tempo se conservam os diferentes poderes e as

diferentes funções, mas só se conservam quando a sua legitimidade é, não

independente, mas determinada unicamente pela idéia do todo.

As diferentes funções e atividades do Estado pertencem-lhe como

momentos essenciais e são inerentes às universais e objetivas, embora se liguem,

a personalidade particular, as funções e os poderes do Estado não podem, pois,

constituir uma propriedade privada.

Muito embora o partido dos trabalhadores tenha surgido para a atender os

anseios e as aflições da classe trabalhadora e inicialmente tenha se inserido e

fomentado uma série de mobilizações populares tornou-se inevitável que o

partido almejasse a conquista do Estado, para desapropriar a burguesia do

controle da sociedade brasileira.

Desde o início o PT recorreu a participação eleitoral para divulgar seu

projeto político e atingir as instâncias de poder para viabilizar a hegemonia da

classe trabalhadora.

Ao longo de sua história, mesmo diante de inúmeros percalços o PT teve

oportunidade de ocupar cargos executivos os quais serviram para qualifica-lo a

organizar a classe trabalhadora.

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Através das eleições, o PT ia gradativamente se expandindo por todo

País, pois suas ações atendiam a uma organização de metas. Em seu interior,

Artur Messias pertencia a este grupo que contribuía com este crescimento, mas

especificamente na baixada fluminense.

Ainda que suas preocupações fossem encontrar as soluções através da

ação da massa sobre o estado burguês, Artur Messias foi levado pela massa a

condição de liderança e disputou duas candidaturas executivas.

O partido dos trabalhadores vem ao longo de sua história buscando

desmontar o estado burguês, através de pressões externas e internas. Com

manifestações por todo o País na busca de melhores condições de vida para o

povo brasileiro.

A Sociedade Civil e a Sociedade Política mantém relações permanentes,

não existe uma separação orgânica entre o consenso e a força, um e outro

colaboram alternadamente em que o papel das organizações é mais fluído do que

parece.

A opinião pública é o exemplo concreto das relações permanentes entre o

governo político e a sociedade civil que possibilita o consenso em torno de seus

atos.

O vínculo entre sociedade política e sociedade civil resulta tão estreito

que se tornam orgânico sem o intermédio de organismos privados. A classe

dominante utiliza e combina uma e outra no exercício de sua hegemonia.

As relações entre sociedade civil e sociedade política representam dois

aspectos da hegemonia da classe dominante. Numerosas organizações podem

pertencer, ao mesmo tempo, a sociedade civil e a sociedade política (partidos,

parlamento) e outras podem vincular-se a sociedade política em um certo

momento e a sociedade civil em outro (Igreja).

A importância da sociedade civil em relação à sociedade política é, a

nível estratégico, uma questão capital na qual a hegemonia se estabelece através

do desenvolvimento igualitário, tanto da sociedade política quanto da sociedade

civil, estando ambas organicamente vinculadas a classe dominante.

O grau de evolução de um bloco histórico em um sistema hegemônico

progressivo, isto é, um sistema em que a classe dirigente faz avançar o conjunto

da sociedade, o estado deve dar lugar à primazia da sociedade civil, a

hegemonia, o retraimento da sociedade civil em favor da sociedade política é

sinal de declínio do controle da classe fundamental sobre a sociedade.

O ápice da sociedade civil consiste no fim do Estado na sociedade sem

classes. O novo sistema hegemônico, formado em torno da classe operaria deve

superar a distinção entre a sociedade civil e a sociedade política. Para derrubar o

bloco dominante o novo sistema hegemônico deverá unir organicamente os dois

momentos da superestrutura a sociedade política e a sociedade civil, tal união

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será promovida no seio do partido durante a derrubada do bloco histórico e a

conquista do estado.

Em quase todas as obras de Marx há uma preocupação com o caráter das

classes sociais, as conseqüências dos seus antagonismos e lutas na sociedade

capitalista. Qualquer classe fundamental que aspire à hegemonia afirma

representar a sociedade inteira, suas funções essenciais consistem em levar a

grande massa da população a um nível cultural e moral determinado.

O proletariado, a classe revolucionária que nega o capitalismo, tem no

desenvolvimento dos antagonismos no seio do capitalismo, um aliado na luta

para criar a sociedade sem classes. Entretanto, o desenvolvimento das relações

sociais e econômicas podem resultar numa ruptura no seio do bloco histórico,

sendo o fim do Estado a condição primordial para o fim das divisões internas e

criação de um organismo social unitário.

A estrutura do bloco histórico

O amplo estudo marxista dos fenômenos econômicos e do vínculo entre a

base econômica e as classes sociais tornaram as análises gramscista a respeito da

estrutura não muito desenvolvidas, relegando a este primeiro momento do bloco

histórico a impressão da continuidade da obra marxista.

Na produção social da própria existência, os homens entram em relações

determinadas, independentes de sua vontade; estas relações de produção

correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças

produtivas e materiais. O conjunto das forças sociais e do mundo da produção,

cujas forças materiais mediante um variado grau de desenvolvimento produzem

agrupamentos sociais com função e posição na própria produção, tal conjunto

constituem a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva

uma superestrutura jurídica e política.

Gramsci frisa o caráter relativamente estático da estrutura em relação à

superestrutura do bloco histórico, o conjunto das forças materiais de produção é

o elemento menos variável.

A análise da estrutura deve ser realizada após haver findado todo o seu

processo de desenvolvimento, e não durante ele. A solução para a melhor

compreensão da estrutura será reportar-se ao passado, a estrutura é o passado,

testemunho do que foi feito e continua a subsistir como condição do presente e

do futuro.

Um dado modo de produção: que permite a certas relações de produção

e,sobretudo as relações de propriedade dos meios de produção, durar, que as

reforçam e lhes conferem permanência.

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Sendo a estrutura concebida como algo imóvel e absoluto, a modificação

das circunstâncias pela atividade humana ocorre no plano das relações entre

estrutura e superestrutura e do vínculo orgânico que as uni no seio do bloco

histórico. O vínculo orgânico está assegurado pela camada social encarregada de

gerir a superestrutura do bloco histórico – os intelectuais.

A estrutura é a base que engendra diretamente a superestrutura, que no

início é apenas o seu reflexo, durante período considerado a superestrutura

desenvolve-se entre os limites estruturais, assim a estrutura influi sobre a

atividade superestrutural.

A análise da relação estrutura-superestrutura conduz a necessidade de

distinguir seu caráter orgânico cuja articulação do bloco histórico elucida a

diferença entre essas duas esferas: a estrutura sócio-econômica e a superestrutura

ideológica e política no qual o vínculo orgânico é assegurado pelos intelectuais

no exercício da hegemonia.

Hegemonia

Através do conceito de hegemonia, compreendesse como a maioria se

decidiu a servir a minoria e como o grande número subordinado rompe as

cadeias da dominação. Sua abordagem esclarece a “lavagem cerebral” aplicada

pelo liberalismo e desvenda a mediocridade da pedagogia liberal.

À distância entre os intelectuais e a massa, que impede a construção de

um bloco social e cultural para substituir a hegemonia burguesa. O conceito de

conhecimento prático relacionando com a organicidade do pensamento e a

solidez cultural que deveria ocorrer entre os intelectuais e os simplórios, a

mesma unidade que deve existir entre teoria e prática.

A característica essencial da filosofia da práxis mais moderna consiste no

conceito histórico-político de hegemonia originado na obra de Lenin, sendo o

mais importante desenvolvimento marxista contemporâneo.

O controle da sociedade civil e política só pode ser obtido através do

alargamento da base social, graças a um sistema de aliança com outras classes

sociais, tal concepção pode apreciar a continuidade leninista e a contribuição

gramscista.

O estudo da sociedade civil e da hegemonia sublinha a importância da

direção cultural e ideológica como também econômica sendo o estado a

combinação sociedade política sociedade civil.

Gramsci diverge de Lenin no tocante a preeminência da direção cultural e

ideológica. Para Lenin, a hegemonia paira na importância maior da sociedade

política, sendo a derrubada do aparelho do Estado pela violência primordial,

Gramsci situa na primazia da sociedade civil sobre a sociedade política, cujo

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aspecto hegemônico da classe dirigente reside no controle que seus intelectuais

exercem nas demais camadas.

A classe fundamental dirige a sociedade pelo consenso, graças ao

controle que ela obtém da sociedade civil, que consiste na difusão de sua

concepção de mundo, junto aos grupos sociais, tornando o bloco histórico

hegemônico.

Através do conceito de hegemonia podemos distinguir três grupos sociais

no interior do bloco histórico: a classe fundamental, os grupos auxiliares e as

classes subalternas.

As classes subalternas são controladas através da coerção, sendo sua

unificação primordial para a formação de uma sociedade civil da qual depende a

articulação de seus intelectuais no seio do bloco histórico.

A ruptura dos laços orgânicos entre estrutura e superestrutura suscitada

pelas classes subalternas ou por um fracasso político da classe fundamental no

momento de fragilidade representativa dos intelectuais para com a classe

dirigente pode ocasionar o surgimento de um novo bloco histórico.

O novo bloco histórico

A criação de um novo bloco histórico consiste na criação de um novo

sistema hegemônico no qual a ruptura dos laços orgânicos entre estrutura e

superestrutura, frutos do distanciamento dos intelectuais orgânicos da classe

dominante suscitada pelas classes subalternas ou um fracasso político da classe

dominante.

A crise orgânica é conseqüência das contradições agravadas com a

evolução da superestrutura e a ausência de evolução paralela da estrutura.

Quando a classe dirigente deixa de fazer avançar a sociedade como um todo, o

bloco ideológico que lhe dá coesão desagrega-se.

A classe dominante não tem mais a direção das classes subalternas, os

intelectuais que as dirigem não são mais reconhecidos como expressão própria

de sua classe. Os intelectuais desses grupos sociais estão subordinados aos

intelectuais orgânicos da classe dirigente.

A crise orgânica só conduz a um novo sistema hegemônico se as classes

subordinadas antes mesmo da explosão da crise estiverem organizadas com sua

própria direção política e ideológica.

Uma classe só é hegemônica quando consegue apoderar-se do Estado,

sendo as classes subordinadas na maioria das vezes, excluídas da vida política

real por falta de intelectuais orgânicos, não podendo dotar-se de uma camada de

intelectuais senão muito lentamente.

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A classe que aspira a direção do novo bloco histórico deve gerar

intelectuais orgânicos que lhe darão sua própria concepção do mundo.

Gramsci deduziu que a estratégia das classes subordinadas deve adaptar-

se a superestrutura do bloco histórico: sendo a sociedade civil forte, a luta deve

assumir a forma de uma “guerra de posições”, sendo a sociedade civil primitiva e

gelatinosa, a luta é essencialmente político-militar, guerra de movimentos.

As classes subalternas e seus intelectuais devem adotar como estratégia

adaptar-se ao bloco histórico do qual fazem parte, em especial à relação entre a

sociedade civil e a sociedade política desse bloco.

A compreensão do bloco histórico vigente torna-se primordial para que o

intelectual orgânico desenvolva as condições necessárias a sua transformação.

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III

Partido dos Trabalhadores

No Brasil, a tradição que predominou na esquerda foi à organização

fundada na célula comunista - modelo adotado por stalinistas, trotskistas

marxistas de diversos matizes. Esta forma de organização foi questionada, de

forma determinante, em dois momentos históricos: no período posterior ao golpe

militar de 1964 - com a influência da revolução cubana e mais recentemente,

com a formação do Partido dos Trabalhadores.

Em 1980, num encontro de sindicalistas, intelectuais e esquerdistas

no restaurante Demarchi, em São Bernardo do Campo, surge o partido dos

trabalhadores. Em seus primeiros anos, O PT foi encarado por muitos como uma

“novidade Absoluta”. A novidade que o PT representa só pode ser definida e

apreendida em função da tradição anterior a ele. Com efeito, a ruptura neste

partido com a tradição marxista não é absoluta: permanecem elementos de

continuidade. A crítica aos equívocos anteriores não induz necessariamente a sua

superação. A ânsia de superar o passado pode resultar na tentação de

desconsiderá-lo, inclusive em seus aspectos positivos. Dialeticamente a

superação não tem o simples significado de descansar a experiência anterior, mas

representa o duplo esforço de negar e incorporar. Só assim torna-se possível

atingir um patamar superior. O PT é a síntese possível entre os elementos de

ruptura e de continuidade entre o novo e o velho.

A confrontação do PT com as raízes marxistas e a experiência

social-democrata apresenta analogias importantes. Apesar de pertencerem a

épocas distintas, estas tendências teriam o desafio comum de “forçarem” a

abertura e o alargamento ou a ruptura de ordens capitalistas fechadas ou

resistentes a uma democratização real do poder de renda. Este desafio expressa o

dilema de social-democracia entre a reforma e a revolução.

Podemos observar a existência de outros pontos semelhantes: são

partidos que refletem anseios mesclados de representação, participação e

emancipação de um proletariado com peso social importante e experimentado

nas lutas de caráter reivindicativo; são organizações que apresentam uma

tendência a segmentar a prática sindical e parlamentar; são partidos de massa,

com grau de centralização fluida: Heterogêneos e integrados a ordem.

Dentro desta avaliação o PT seria um elemento processual, uma

equação ainda aberta, cuja resolução no dilema social-democrata estaria jogado

para o futuro. Neste sentido, ele refletia uma “irresolução” já presente na obra do

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próprio Marx: A ausência de uma explicação, a partir de seus próprios

fundamentos metodológicos das possibilidades de integração do movimento

operário a ordem capitalista.

Esse “silêncio” teórico é resultante das tensões que influenciaram

as elaborações de Marx: a experiência do proletariado e a comuna de Paris. O

primeiro forneceu elementos que estão presentes em sua noção de partido, na

incorporação da luta reformista enquanto parte importante do processo

revolucionário, na valorização do sufrágio universal e na ênfase da revolução

enquanto obra consciente dos próprios trabalhadores. O segundo representa a

negação da ordem, a ruptura com Estado burguês e a conseqüente construção de

um novo poder (isso implica secundarizar ou negar a luta por reformas, a

participação eleitoral).

A evolução do PT nos últimos anos fornece elementos que nos

permite concluir pela negação das propostas políticas e programáticas afirmadas

em sua origem. Com efeito, ao considerarem o PT como algo ainda em disputa,

os marxistas reafirmaram e crença no seu potencial estratégico e revolucionário,

deixando para um futuro incerto a solução do “enigma” que nos legou a social-

democracia.

Este partido nasceu enquanto crítica contundente à política eleitoreira e

manipuladora das massas, própria dos partidos burgueses e populistas. Gestado

dentro da ordem, o PT manifestou o objetivo de priorizar a organização

autônoma dos trabalhadores. A participação no jogo eleitoral e parlamentar

pautava-se pela perspectiva da luta e mobilização social. O PT comprometia-se a

ser uma ferramenta na luta pela organização e pela elevação da consciência

política da classe trabalhadora, contra a ordem social vigente.

Desde o início, o PT se vê obrigado a enfrentar os desafios e dilemas que,

colocados numa realidade qualitativamente diferenciada, expressam questões

históricas já enfrentadas pelo movimento operário e popular. O PT se propunha a

fortalecer a organização do movimento dos trabalhadores, e também participar

do jogo eleitoral; tinha a tarefa de construir um movimento político capaz de se

impor como alternativa de transformação da sociedade brasileira e

simultaneamente, se via impelido a respeitar e limitar-se aos meandros da

política institucionalizada, se colocava enquanto crítico dos modelos de partidos

vanguardistas e eleitorais, mas precisava funcionar ao nível eleitoral e também

enquanto partido militante.

O PT nasceu como reflexo do movimento de massas. Enquanto tal, ele

incorporou suas energias e virtudes, mas também suas debilidades. Por outro

lado, essa identificação plena com o movimento propiciou seu crescimento e

determinou o seu caráter de partido de massas, sua forma orgânica de massas.

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Sua construção, como partido de massas, foi determinada pela realidade

objetiva do movimento e por sua relação com o elemento subjetivo, o núcleo

dirigente sindicalista, por outro lado, a construção do PT era concebida como a

maneira de superar a interpretação, considerada estreita e dogmática, do partido

de quadros. Esta crítica as organizações marxistas já estavam presentes no seu

processo de constituição.

A crítica a concepção doutrinária e dogmática da organização

pseudoleninista não solucionava a contradição expressa na dupla exigência de

construção do PT como um “partido de militância” – permanente, cotidiana, não

eleitoreiro, que requer uma estrutura de constante convocação para a prática

“política”, e, de outro lado como “partido institucional”, sujeito a uma

sistemática ditada pelo governo, condicionada ao ritmo e ao pique do “jogo

partidário”.

Objetivamente o partido não consegue compatibilizar sua função

institucional com a exigência de se construir enquanto partido estratégico,

socialista, dirigente e com a militância organizada de outro lado, à medida que

consolidava seu caráter de massa, ampliando sua potencialidade eleitoral e a

quantidade de filiados, se tornava mais frágil a sua estrutura de base e,

conseqüentemente, mais centralizado o poder na cúpula diretiva.

A concepção do PT como “partido reflexo” do movimento e a política

decorrente desta visão favoreciam este processo. Havia uma realidade concreta

que colocava o partido no impasse comum dos demais partidos socialistas de

massa. Ou seja, os limites estruturais e a tendência a se transformar em partido

que privilegia a luta eleitoral são inerentes a própria natureza de massa que o

partido assume e aos objetivos políticos imediatos que ele se coloca.

O PT tornou-se um dos partidos mais democráticos na esquerda

brasileira, mas a rigor não se pode exagerar esta democracia. Os Encontros do

partido transformaram-se em verdadeiros exercícios de manipulação dos filiados

e demonstração de força do poder material dos candidatos a candidato.

O PT se propunha a participar das eleições e disputar o jogo institucional.

Afinal enquanto partido político, ele não poderia se abster; mas, ao mesmo

tempo, ele almejava se diferenciar da tradição política brasileira se

comprometendo a subordinar a luta eleitoral “ao objetivo de organizar as massas

exploradas e sua luta”.

O primeiro teste prático dessa concepção foi às eleições de 1982. O PT

pretendia utilizar a campanha eleitoral para fortalecer sua estrutura orgânica,

incorporar novos filiados, formar núcleos e implantar-se em áreas onde sua

organização estava debilitada ou não existia.

Coerente com seus objetivos, ele propõe a formação de um fundo

financeiro comum, administrado por um comitê eleitoral unificado. O PT busca

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estabelecer normas de relacionamento com seus prováveis parlamentares e

executivos eleitos: definindo seus papéis; subordinando-os à plataforma tática e

princípios-petistas; estipulando a contribuição financeira regular; e não

admitindo a existência de candidatos natos, todos deveriam se expor à avaliação

das bases partidárias com isso evitando o oportunismo e o vanguardismo.

Embora buscasse inovar, o PT ainda se veria preso a tradição da prática

eleitoral burguesa, cuja ideologia convivia com o discurso petista e aparecia nas

atitudes concretas de muitos de seus militantes. Os comitês unificados não

conseguiram a plena socialização dos recursos. Mesmo atenuando a

desigualdade, ainda prevaleceu o poder econômico dos candidatos com maiores

recursos.

Em muitos lugares, as eleições contagiaram a jovem militância e gerou

um clima de entusiasmo febril diante das multidões que corriam aos comícios.

Para muitos, essa eleição foi à porta de entrada para a participação política

partidária.

As debilidades partidárias, que estavam encobertas pelo entusiasmo na

campanha eleitoral, vieram à tona, com efeito, desencadeado a partir dos parcos

resultados eleitorais obtidos. A crise tomaria conta do partido. Diretórios e

núcleos foram desativados; a militância desanimou e muitos se afastaram;

acirrou-se a luta interna entre as diferentes avaliações sobre a atuação do partido.

No entanto, os resultados eleitorais, embora desanimadores, são uma

amostra do nível de implantação do partido: o maior ou menor, desempenho

eleitoral foi determinado, em grande parte, pelo grau de organização e de

trabalho de base. O voto petista concentrou-se nos grandes centros industriais,

principalmente no ABCD paulista (berço do nascimento e onde elegeu um

prefeito em Diadema).

O processo eleitoral permitiu o surgimento e consolidação de novas

lideranças. Porém, expôs as contradições entre o discurso e a prática, entre a

adesão abstrata aos princípios e a prática concreta oportunista e eleitoreira,

pouco a pouco, o compromisso dos candidatos eleitos com o partido tornar-se-ia

conflitante. O poder parlamentar começava a se impor.

As eleições de 1982 colocaram em evidência a visão classista do PT,

criticada a esquerda e a direita do partido. Os primeiros porque a consideravam

insuficiente, os segundos porque consideravam-na muito radical. Estes últimos

passaram a sugerir mudanças que atenuassem o “radicalismo” petista, em nome

de adequá-lo à realidade.

Em dezembro de 1983, num comício em São Paulo, o PT lança a

campanha pelas Diretas Já! No ano seguinte, com o apoio dos governadores da

oposição burguesa, a campanha toma rumos expressivos e se transforma numa

das maiores manifestações de massas. Com esta campanha coloca-se para o

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partido um novo desafio: incorporar as alianças políticas ao seu projeto,

estratégico.

A necessidade de participar da frente democrática e a dinâmica deste

processo transformam o PT numa espécie de “ala esquerda” do movimento

democrático, mas a reboque deste. A concepção classista é diluída na maré

festiva dos grandes comícios e arranham a independência de classe defendida

pelo partido. Contudo, ele consegue manter seus compromissos e mantém a

imagem de “radical” que lhe era característica.

Esse “radicalismo”, ou seja, a imagem combativa que construiu, foi alvo

de ataques sistemáticos (principalmente após a expulsão dos parlamentares que

aderiram a candidatura Tancredo Neves e de sua recusa em participar do Colégio

Eleitoral).

Entretanto persistia a contradição, inerente a qualquer político que

decidia participar do jogo eleitoral, entre a manutenção do conteúdo

programático classista e a necessidade de ampliar a base eleitoral. O isolamento

político provocado pela postura radical na fase do Colégio Eleitoral se foi

prejudicial num primeiro momento, em médio prazo gerou dividendos políticos,

o desgaste da “Nova República” e a coerência política fortaleceram sua imagem

de partido comprometido com os interesses populares.

Paradoxalmente, também serviu como munição para os críticos à imagem

“xiita”, fortalecendo no partido os setores que defendiam um PT mais “light”.

Nas eleições para as prefeituras em 1985, essa contradição foi parcialmente

superada com a ampliação da mensagem partidária dirigido a amplos setores

sociais, em especial a classe média.

A nova estratégia deu resultados: nas capitais o partido obteve mais de

1,4 milhões de votos (cerca de 10%). O partido surpreendeu em Fortaleza-CE,

com a vitória de Maria Luíza Fontenelli. Em São Paulo, Vitória-ES, Aracaju e

Goiânia, ficaram em segundo lugar. Em 28 cidades foi o terceiro mais votado.

Os números demonstram o crescimento do partido a nível nacional e

apontam a tendência a um maior equilíbrio no tocante a implantação eleitoral do

partido.

A imagem “light” foi reafirmada na campanha eleitoral de 1986. Do

ponto de vista institucional foi um sucesso: o partido triplicou sua bancada de

deputados federais, dobrou a votação nos candidatos a governadores e senadores

e ampliou sua representação estadual (em 1982 havia eleito apenas 12 deputados

em três estados: SP, MG, RJ; agora, eram 33 deputados estaduais, distribuídos

em 13 estados da Federação).

Os sucessos eleitorais favoreciam o aprofundamento da linha política

“light”. Nas eleições de 1988, essa política se traduziu na defesa de candidaturas

que expressassem a perspectiva eleitoral. Em São Paulo a cúpula dirigente

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apoiava a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio contra Luíza Erundina – que

representava o sentimento mais à esquerda. A vitória de Erundina nas prévias

não foi assimilada por muitos dirigentes e apoiadores da outra candidatura. Essa

resistência tomou a feição de um “boicote branco” – isto é, não declarado.

Em que pese os percalços, a política moderada foi novamente fortalecida.

O partido conquistou 36 prefeituras, três vice-prefeituras em coligações com

outros partidos e ficou em 2º e 3º lugar em várias cidades (elegeu cerca de mil

vereadores em todo país).

A vitória eleitoral é ainda mais expressiva se considerarmos que as

prefeituras conquistadas representavam cerca de 30% do PIB do país. Entre elas

a mais significativa foi, sem dúvida a vitória em São Paulo (capital), seguida de

Porto Alegre e Vitória-ES. Além disso, ampliou sua base eleitoral no ABCD:

reelegeu o prefeito de Diadema, ganhou em Santo André e São Bernardo; foi

vitorioso em outras cidades importantes como Campinas, Santos e Piracicaba

(em São Paulo), além de Ipatinga, Timóteo e João Monlevade (no vale do aço

mineiro).

As eleições de 1988 inauguraram uma nova fase na vida do PT. O fato de

ser governo numa cidade como São Paulo, por sua amplitude e abrangência,

potencializa as dificuldades e os dilemas enfrentados em sua trajetória.

O ato de administrar obrigou o partido a negociar, a modificar sua

orientação e assumir outra postura. Paulatinamente os militantes envolvidos com

a administração, incorporam uma ética da responsabilidade em substituição da

ética da convicção. Nesse processo as posições contrárias às estatísticas foram

substituídas por uma postura mais próxima a negociação política.

O crescimento eleitoral credenciava o partido para disputar as eleições

presidenciais em condições mais favoráveis. A candidatura Lula, aprovada no V

Encontro Nacional (1987), foi lançada oficialmente em 13 de maio de 1989, em

São Bernardo do Campo.

A eleição presidencial representou um dos maiores testes práticos as

formulações políticas definidas pelo partido. Além do seu significado histórico,

uma avaliação crítica observa que o partido, a respeito da sua militância

aguerrida e das esperanças que despertou em milhões de pessoas em todo o país,

cometera equívocos como: a ilusão quanto à disposição da classe dominante em

respeitar o jogo eleitoral; subestimação da capacidade de coerção burguesa e da

força ideológica.

A ênfase no institucional, a flexibilização na política de alianças

proporcionou o abrandamento do programa e a diluição da candidatura Lula, os

limites e contradições na elaboração do programa de ação de governo expressam

a tentação reformista. Como dantes, o problema não está na afirmação da

reforma, mas na negação da possibilidade de transformação revolucionária da

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sociedade. Numa sociedade como a nossa, as reformas têm uma realidade em si.

Porém limitar-se ao caminho eleitoral, a própria possibilidade de sua

concretização é colocada em xeque.

Passado o momento das frustrações e das avaliações em torno da derrota

eleitoral, o entusiasmo tomou conta do partido. Os resultados obtidos na eleição

presidencial foram animadores e estimulara os defensores da “revolução pelo

voto”, para esses tudo se resume na capacidade do partido em acumular mais um

pouco.

Projetava-se nas eleições de 1990 um quadro promissor: vislumbra-se a

ampliação da bancada de deputados e a possibilidade de eleger governadores e

senadores. Tais circunstâncias favoreciam os argumentos em prol de alianças

políticas com o PDT e o PSDB inclusive com a renuncia a lançar candidaturas

próprias.

Em Pernambuco, o Encontro Estadual rechaçou a proposta de apoio a

Jarbas Vasconcellos, no Rio de Janeiro a maioria dos delegados rejeitou a

proposta de coligação com o candidato brizolista. Em Minas gerais, o candidato

apoiado pela direção foi derrotado. No Distrito Federal, foi necessário impugnar

a convenção. Contudo, no âmbito geral, elegeu um senador, 35 deputados

federais e 81 estaduais; para governador ficou em segundo lugar no Acre e no

Amapá.

Nas administrações petistas observa-se uma crescente dinâmica

conflitiva. A militância insiste em manter os princípios originais petistas,

concebendo as prefeituras como instrumentos de apoio à luta dos trabalhadores e

recusam a ocupação do aparelho do Estado aos objetivos meramente

administrativos.

As prefeituras não conseguiram implementar as definições do partido. O

apego à eficiência administrativa gerou uma inversão de prioridades que levou

muitas administrações a praticarem políticas distintas e até mesmo antagônicas

com o partido.

Vários fatores pressionam as prefeituras petistas: o cerco da imprensa

burguesa; os vícios administrativos e burocráticos da máquina; as limitações

partidárias em construir um projeto global e estratégico; o enfraquecimento do

movimento popular, a inexperiência etc. os elementos críticos apresentados não

condenam as administrações petistas. No ponto de vista de políticas voltadas ao

atendimento das demandas populares, as administrações petistas conseguiram

impor um comportamento ético na política, associado à intransigência com a

corrupção no trato da coisa pública.

De qualquer forma, o PT iniciou a década de 90 com uma influência

eleitoral inimaginável em seus primeiros anos, credenciando-se enquanto partido

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hegemônico na esquerda brasileira; enquanto alternativa de governo e referência

para os partidos populares e socialistas em vários países.

O crescimento eleitoral, a gestão nas prefeituras e a ênfase crescente na

institucionalidade geraram mudanças substanciais que afetaram o perfil

partidário. O VII Encontro Nacional reconheceu esta realidade, observando o

descompasso entre o crescimento eleitoral e a estrutura orgânica partidária.

O próprio Lula reconheceu ser preciso “voltar a acreditar naquele partido

do núcleo de base”. Que se propunha a “uma participação mais efetiva da classe

trabalhadora”.

Os núcleos já passaram por fases de glórias maior, quando reuniam

dezenas de integrantes, percorriam bairros e feiras em campanhas populares.

Hoje, estão esvaziados e, fora de temporadas eleitorais, a maioria não consegue

fazer mais do que um encontro regular por mês. Ainda assim existem núcleos de

moradores da zona sul do Rio de Janeiro, de operários da Ford, ou de professores

públicos em Belo Horizonte. Também há núcleos de movimentos sociais como o

de gays, negros e mulheres.

O I Congresso, realizado em 1991, expressou essa preocupação ao

admitir que se estabeleceu uma divisão de trabalho entre os militantes

envolvidos nos movimentos sociais, os parlamentares e executivos na frente

institucional e os dirigentes do aparelho partidário – que passaram a funcionar

como uma espécie de tribunal de “última instância” para as disputas entre os

petistas.

Esta situação é agravada pelo abismo verificado entre a direção e a base;

pelo abandono e acomodação de parcelas da militância: pela centralização do

poder nos órgãos diretivos, com o esvaziamento, desaparecimento ou

manipulação dos núcleos de bases existentes, e pela elitização crescente da

participação nas instâncias internas.

A base sindical e popular que tencionou o partido no sentido da

radicalização também se mostrou susceptível à incorporação da política eleitoral

e à burocratização. O avanço da estratégia eleitoral praticamente anulou a

influência dos setores mais à esquerda no movimento social. Tem prevalecido a

lógica da sobrevivência no sentido da ocupação de espaço da obtenção de poder

material e ou de poder político. Tal postura partidária pode estar relacionada ao

fato do partido Ter galgado a condição de partido de massa, portanto mais

poroso as impurezas de estratégias políticas.

As resoluções do I Congresso procuraram superar estes problemas,

reafirmando a necessidade de combinação da luta social com a luta institucional

e a adoção de uma política de alianças que tome em conta os setores excluídos e

marginalizados da sociedade.

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Essa combinação das frentes de lutas se insere na perspectiva de ganhar a

eleição presidencial de 1994, sendo as eleições de 1992 um momento importante

para o acúmulo de forças nesta direção. O objetivo: criar condições mais

favoráveis para conquistar o poder e construir o governo democrático e popular.

O Partido dos Trabalhadores chega em 1994 como uma estrela que brilha e

assusta. Luís Inácio Lula da Silva, patrono e líder máximo concorre à presidência

da república com mais intenções de votos do que a soma de seus adversários. O

IBOPE lhe dava, 39% das preferências, contra 17% de Fernando Henrique

Cardoso, com cinco dezenas de prefeituras, o PT tinha uma bancada de 37

parlamentares no Congresso, cálculos conservadores estimavam que faria até 70

em outubro daquele ano.

Empresários, que nos anos 70 chamavam a PM para bater em grevistas, e

que em 1989 abasteceram o cofre de Fernando Collor, chegam a conclusão que é

mais prudente ficar amigo do candidato do PT do que se arriscar a desagradar

um presidente da República.

Lula nunca foi um candidato que tranqüilizasse. Com um braço na CUT e

outro nos Sem-Terra, o PT é um partido associado à idéia de desordem, o que

torna difícil encontrar aliados para compor um possível governo.

Os petistas enfatizaram o fato de Fernando Henrique ter pedido, na

ocasião em que assumiu o ministério da fazenda, que esquecessem tudo que

escreveu. O PT preferiu ficar mudo diante do Plano Real, que a partir de 1º de

Julho de 1994 embalaria a candidatura tucana de Fernando Henrique Cardoso. O

silêncio uma velha estratégia de palanque.

O PT possui traços que não se alteram. Só não é o partido mais

personalista do país porque ainda existe o PDT de Leonel Brizola. O PT,

estruturado de norte a sul do país, o partido possuía eleitores em todos os estados

e contava e conta até os dias de hoje com uma simpatia popular muito acima da

média. Se não fosse Luís Inácio Lula da Silva, no entanto, é bem duvidoso que

tivesse a mesma força eleitoral.

Ocorre que o PT é um partido confuso, reformista, que agrada tanto a

multidões de miseráveis quanto a setores empobrecidos da classe média, todos

eles dispostos a dizer não aos usos e costumes da política brasileira. Nesses anos,

as vitórias eleitorais acentuaram o peso da institucionalidade e produziram

transformações na vida interna, no perfil e na relação do partido com o

movimento popular e sindical. Para o partido e para a sociedade as sedes

partidárias viraram arquipélagos formados por grupos a partir de composições

montadas em plenárias que, enquanto ilhas isoladas agem de forma estéril.

Evidentemente, existe a necessidade de um envolvimento de parcela da

militância com as questões burocráticas e administrativas no aparelho do partido

e na máquina estatal, entretanto, faz-se necessário uma preocupação estratégica

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com o socialismo não permitindo, ou pelo menos, limitando o crescente

aburguesamento da militância.

Tais características, não negam a importância que o PT teve e tem na

política brasileira. Não é suficiente declará-lo social-democrata ou

revolucionário para que ele o seja. Embora possamos detectar semelhanças com

a social-democracia clássica, devemos atentar para as especificidades do PT, sua

heterogeneidade nacional, a radicalidade de sua composição social e o contexto

histórico em que ele se insere.

Embora o PT tivesse elementos classistas em seu processo constitutivo,

ele nunca se arvorou enquanto partido revolucionário no sentido leninista. A

tensão presente nestes primeiros anos era precisamente entre a tendência à

institucionalização e a perspectiva nutrida pelas correntes ligadas a tradição

marxista em transformá-lo no partido estratégico revolucionário.

Ao final do processo eleitoral de 1994 embora Lula não tenha sido eleito

Presidente o partido dos trabalhadores obteve importantes vitórias, dentre as

principais, a conquista do Governo do Espírito Santo e o do Distrito Federal. Os

Governos Estaduais Petistas seguiram com êxito administrativo destaque para o

Governador do Distrito Federal, Cristóvão Buarque, cujos projetos na área de

educação alcançaram reconhecimentos do Governo Federal e das Nações

Unidas.

Embora o governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz, tenha se desfiliado

do partido e ingressado no partido verde, por problemas com a Executiva

Regional, não foi algo que causasse danos ao fortalecimento do partido ao longo

do ano de 1995, principalmente diante do fato do governo Fernando Henrique já

apresentar sinais de deficiência administrativa e cuja sustentação política já

visualizava basear-se na troca de favores e na compra de votos.

O PT urge como partido mais combativo que ainda nutre milhões de

pessoas com esperança de transformações sociais fundamentais a materialização

da cidadania para todos.

O descontentamento com o governo Fernando Henrique reflete-se nas

eleições de 1996, onde o PT elege Prefeitos em várias Capitais sendo o partido

de oposição que mais elegeu Prefeitos, em todo o País. Em 27 de julho de 1996 o

partido se faz representar através de alguns membros no encontro

intercontinental pela humanidade e contra o neoliberalismo promovido pelo

exército Zapatista de libertação Nacional (EZLN) nas montanhas de Chiapas, no

Sul do México onde também participaram membros da CUT e do MST.

No ano seguinte, o partido se movimenta em torno do encontro nacional

para escolha do próximo Presidente do partido. A escolha do novo comandante

não era a única preocupação do partido que escolheria entre Milton Temer e José

Dirceu, que tentava a reeleição, mas também a retomada do diálogo entre as

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correntes do partido, que ameaçavam a unidade e assustavam alguns aliados. O

diretório Nacional cria uma comissão para elaborar proposta de consenso, entre

grupos rivais.

Com a vitória de José Dirceu a direção dedica-se a composição com

outros partidos com vistas às eleições de 1998. Com objetivo de atrair o PDT de

Leonel Brizola e tê-lo como vice de Lula o PT do Rio deveria apoiar a

candidatura de Antony Garotinho do PDT ao governo do Rio da qual a Senadora

Benedita da Silva comporia chapa com Garotinho sendo sua vice, porém o

partido realiza prévias e Vladimir Palmeira vence, o PT Nacional intervém no

PT do Rio contra tese da candidatura própria, para garantir a aliança com o PDT.

A intervenção ascendeu ainda mais à rivalidade entre as tendências

internas do partido e embora toda militância não tenha se engajado na chapa

Garotinho Governador - Benedita Vice “Unidos pelo povo” Antony Garotinho se

elegeu governador do Rio de Janeiro.

Lula não venceu, num jogo de cartas marcadas, Fernando Henrique

Cardoso sustentado pelo PSDB, PFL, PPB, PTB, PSD, e com o apoio do PMDB

e da grande maioria dos empresários reelege-se em primeiro turno com

aproximadamente 52% dos votos tendo Luis Inácio Lula da Silva (PT) com

33,6% dos votos ficado em segundo e Ciro Gomes (PPS) com 11% dos votos em

terceiro.

Eleições realizadas com adventos das urnas eletrônicas na qual alguns

partidos lançaram candidatos a Presidente com vistas ao fortalecimento de seus

partidos numa provável mudança da legislação eleitoral.

Além de Antony Garotinho (PDT) a oposição elegeu mais seis

governadores, sendo três do PT: Olívio Dutra – Rio Grande do Sul, Jorge Viana

– Acre, Zeca do PT – Mato Grosso do Sul, O PSB dois: Capiberibe – Amapá,

Ronaldo Lessa – Alagoas e Itamar Franco (PMDB) – Minas Gerais que se tornou

opositor de Fernando Henrique ao ter sua candidatura a presidente inviabilizada

por ele com a ajuda do PMDB governista.

Mesmo tendo elegido apenas três governadores o processo eleitoral de

1998 fortaleceu ainda mais o partido em outros estados

Em são Paulo a Deputada Marta Suplicy surpreendeu, enquanto

candidata ao governo do Estado. O partido também se consolidou no Nordeste e

nas demais regiões do Brasil elegendo um grande número de Parlamentares.

Os trabalhos desenvolvidos pelos governadores, pelos Parlamentares e

por todas as instâncias que compõem o partido dos trabalhadores ao longo do

ano de 1999 qualificaram o partido para avançar nas eleições de 2000. Também

em 1999 o partido enviou comitiva para participar no 2º Encontro Americano

pela Humanidade e contra o neoliberalismo organizado pela Prefeitura de Belém

(PA) e pelo Centro Memorial Cabano.

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Depois de muitas idas e vindas, as turvas com o governador Garotinho, o

Diretório fluminense decide pela saída do governo do estado passando a exercer

forte fiscalização ao governo. Mesmo com alguns obstáculos, novamente o PT é

o partido de oposição que mais elegeu Prefeitos em todo País apesar de ter se

fragilizado no Rio de Janeiro, a eleição de Marta Suplicy para a Prefeitura de São

Paulo, Tarso Genro em Porto Alegre e outras capitais importantes preparam o

partido para o enfrentamento em 2002.

O PT teve nove milhões e 400 mil votos contra um milhão e 700 mil que

teve na eleição passada.

O partido dos trabalhadores vem atuando com determinação para que as

crises sejam enfrentadas e que as medidas sejam mais profundas do que as ações

que estão sendo tomadas para esconder a gravidade dos fatos. No Congresso, o

PT não economizou esforços para tentar aprovar a CPI da corrupção; O partido

está nas ruas ao lado dos movimentos sociais para fazer valer o direito da

população.

Dispostos a dar uma face moderada ao PT, José Dirceu e Lula iniciaram

um lento, mas implacável expurgo das correntes mais radicais. Ao darem

andamento a esse processo, fizeram ao mesmo tempo sua mais ousada aposta

pessoal. Começaram a demolir a imagem de radicalismo que sempre os definiu

junto ao eleitorado e as bases do PT.

A idéia era tornar Lula um candidato capaz de atrair mais que os 30% de

fiéis seguidores que ele consegue nas eleições. Só com uma roupagem

moderada, Lula poderia atrair eleitores fora dos bolsões sinceros mais radicais do

esquerdismo. Homem de confiança de Lula, José Dirceu, que já presidia o

partido desde 1995, tomou as rédeas de um PT em crise de identidade depois da

derrota para FHC em 1998. Conquistou o leme com uma plataforma clara e uma

intenção oculta. A plataforma assumida era fazer uma política de alianças que

tirasse do partido a pecha de intransigente, viabilizando assim a eleição de Lula.

José Dirceu já dizia em, em conversas reservadas com capitães de

industrias, que o vice de Lula seria um empresário, ato que simbolizaria a união

capital-trabalho. Quando a coligação do PT com o PL se efetivou as correntes

radicais já estavam afastadas do centro de decisões do partido.

Sob o calor da campanha, o PT agora decide primeiro e se reúne depois.

O partido, que se notabilizou pelo assembleísmo, derrepente parecia confiar

cegamente na aposta de Lula e Dirceu. Numa reunião com membros do MST,

Lula pediu que entendessem seu discurso como necessidade de campanha. O

negócio avisou, era ganhar a eleição.

Aos 56 anos, concorrendo pela quarta vez à presidência, o chefe histórico

do PT e seu grupo mais próximo dentro da legenda, vivem um clima de “Tudo

ou nada”.

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As pesquisas indicavam que os eleitores iriam conduzir Luiz Inácio Lula

da Silva à presidência da república do Brasil. A quarta maior democracia do

mundo terá escolhido um ex-torneiro mecânico cuja carreira política foi

impulsionada pela crítica impiedosa às elites e pela vigilância contra a

corrupção. Com o redirecionamento para o centro-esquerda que venceu a

tradicional resistência do eleitorado do partido dos trabalhadores e lhe rendeu

condições de ser o aspirante com mais chances de subir a rampa do palácio do

planalto, onde os demais concorrentes, José Serra (PSDB), Antony Garotinho

(PSB) e Ciro Gomes (PPS) disputavam a outra vaga para disputar com Lula caso

a eleição não fosse vencida no primeiro turno.

Durante toda a campanha o partido dos trabalhadores procurou manter-se

coeso em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, Porém, existe junto

aos setores mais esclarecidos da sociedade e até mesmo diante da população que

tem uma compreensão muito superficial, do que sejam as tendências dentro do

PT, as preocupações de que, caso Lula seja eleito, se ele conseguirá realmente

controlar os extremistas do partido, num governo petista. Nos últimos anos,

criou-se na sigla um grande bloco moderado, o campo majoritário, que

representa 70% de seus filiados. Não alinhados a tal campo permanecem 30% de

petistas que não tem medo de se dizer radicais. A recente conversão de Lula às

regras do capitalismo soa como heresia imperdoável a esses apóstolos do

socialismo.

O PT exerceu com maestria seu papel de maior partido de massa de

oposição. Seu desempenho na campanha foi dotado de eficiência e

profissionalismo e embora Lula não tenha vencido no primeiro turno, a

expectativa de toda a população brasileira não foi frustrada e sua ida para o

segundo turno, para disputar com José Serra (PSDB), permitiu reunir lideranças

como Itamar Franco, Ciro Gomes, Garotinho, Miguel Arraes, Leonel Brizola e

outros que mais do que apóia-lo contra Serra, participariam de um futuro

governo petista. Junto com outros setores da sociedade formariam um amplo

pacto social com o propósito de promover as transformações que o país

necessita.

No dia 27 de outubro de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito

presidente, nos estados o PT não obteve tanto êxito, embora tenha concorrido

com grandes chances em vários estados, venceu apenas em três: Piauí, Acre e

Matogrosso do Sul. O partido elegeu o maior número de deputados federais.

As articulações têm sido feitas em torno de garantir à Lula uma base de

sustentação, tanto na câmara quanto no senado, que lhe permita realizar as

reformas necessárias para que o país volte a crescer e gerar empregos.

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O partido é o Lócus do desenvolvimento e da construção das lideranças,

dos intelectuais orgânicos. O partido qualifica o intelectual orgânico para jogar o

jogo democrático, porém as relações sociais que se estabelecem no seio do

partido colocam em risco sua essência, sua autonomia, tornando-o um indivíduo

em constantes questionamentos e conflitos consigo mesmo.

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IV

ARTUR MESSIAS – O PERFIL DA LIDERANÇA

“A revolução se faz através do homem, mas o

homem tem de forjar, dia a dia o seu espírito

revolucionário” (Ernesto Che Guevara).

Nascido em 14 de agosto de 1961, no Hospital Geral da Polícia Militar

do Rio de Janeiro (Estácio). Filho de soldado da PM e mãe costureira, ambos

migrantes nordestinos naturais do sertão sergipano. Tendo perdido um irmão,

que morreu aos três anos de idade, ocasião em que morava em Oswaldo Cruz,

subúrbio do Rio. Em 1964, ainda criança, foram morar em Mesquita, na Baixada

Fluminense, onde reside até hoje.

As dificuldades da infância na baixada fluminense não se aproximam das

enfrentadas no sertão nordestino, mas, possui peculiaridades das quais forjaram

no caráter do jovem Artur Messias um perfil aguerrido permeado de

inconformismo diante das circunstâncias que afligiam a ele e a todos que

estavam a sua volta, mas que o fizeram entender a necessidade de se preparar

para enfrentar as agruras da vida.

Alfabetizado nas escolas residenciais do bairro tendo passado por outras

escolas em Mesquita. Aos 15 anos matriculou-se no Liceu de Artes e Ofícios na

Praça Onze para cursar o 2º Grau, no Curso de Técnica em Eletrônica, passou

ainda pelo Colégio CETECON, em Nilópolis, vindo a concluir os estudos do 2º

grau no GPI de Cascadura.

Ter passado por várias escolas lhe permitiu observar as diferenças

existentes no ensino público e na escola particular, diferenças que restringiam a

inserção dos jovens de família mais pobres no mercado de trabalho.

Na ocasião que estudava no Liceu de Artes e Ofícios, Artur Messias,

tivera um professor de história que muito marcara a sua formação social e

política, Euclides. Os tempos eram de ditadura militar e, por iniciativa deste

professor, passara a ter contato com diversos jornais alternativos; Opinião,

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Versus, Movimento, que lhe proporcionou e a seus colegas de turma contato com

uma realidade brasileira que desconheciam.

Toda aquela gama de informações produzidas para ser o facho de luz

penetrando na obscuridade do regime militar deveriam nortear as ações de jovens

como Artur Messias dispostos a oferecer alguma resistência ao sistema vigente

levando esclarecimento a população que via e se via controlada pelas grandes

emissoras de rádio, televisão e pelos jornais todos transformados em

instrumentos de controle ideológico do governo militar.

No final dos anos 70, Artur iniciou sua participação na Igreja Católica.

No grupo jovem da Igreja de São José Operário, participou de diversos cursos de

formação social e política.

A igreja passou a elaborar e promover cursos de formação de lideranças

com o propósito de restituir a população mais pobre de meios para sua

subsistência. A igreja foi durante muito tempo a grande incentivadora da vida

social e cultural das comunidades pobres da baixada fluminense.

Integrou a Comissão de Jovens que elaboraram propostas para serem

entregues ao Bispo Dom Adriano Hipólito, delegado brasileiro na Conferência

Episcopal Latino Americana, realizada na cidade de Puebla, no México. A

Conferência de Puebla ratificou a opção preferencial pelos pobres e incorporou a

preocupação da Igreja com a Juventude.

Tendo ingressado na Pastoral da Juventude, tornou-se um dos

coordenadores de Pastoral da Diocese de Nova Iguaçu e da Equipe das Pastorais

Sociais. Esse período que se estende de 1977 até 1985 foi bastante rico em

oportunidades de formação: em 1981 ingressa no Partido dos Trabalhadores, PT,

membro do núcleo de Mesquita até 1985, embora nunca tenha participado da

Direção Municipal, tinha sempre uma atuação pública marcante.

Artur Messias contribuía com a construção do partido assim como o

partido contribuía com a sua. Homens simples, que se dispunham a se

organizarem num espaço de transformação da sociedade que transformou a todos

e os fez perceberem as restrições impostas pelas elites locais.

Artur passou a conciliar suas atividades na Igreja com a militância

política, através da iniciativa do Padre Valdir de Oliveira, a época pároco da

Igreja de Nossa Senhora das Graças, fora organizado nos meses de férias

escolares semanas de convivências, que consistiam na discussão de temas

relacionados à realidade, que contavam com a assessoria de professores

universitários e de militantes de organizações que faziam resistência à ditadura.

Nesse período ocorre o seqüestro de Dom Adriano Hipólito, explodiu a bomba

na Catedral e dezenas de Igrejas foram pichadas por agentes da repressão.

Em 1982 motivado por informações a respeito de que uma área pública

de 22.000 metros quadrados localizada no bairro Vila Emil, Mesquita, Nova

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Iguaçu, havia sido permutada pela Prefeitura pela obrigação do Mesquita Futebol

Clube construir uma escola da rede CNEC (Conselho Nacional de Escolas da

Comunidade), no Bairro de Morro Agudo, distante, portanto, de Mesquita. Artur

propõe ao Grupo Jovem da Igreja que fossem a Associação de Moradores para

tentarem uma mobilização, visando anular essa permuta, porém a Associação já

havia dado a luta contra o Clube por perdida. A partir daquele momento iniciava-

se uma outra luta a de Artur Messias e seus companheiros no sentido de disputar

as eleições da Associação.

Com o apoio de jovens e de vários moradores Artur Messias é eleito

presidente da Associação de Moradores e começa a tocar uma luta de resistência,

engendrando uma Ação Popular contra a Prefeitura de Nova Iguaçu cujo titular,

o advogado Paulo Leone, já se encontrava envolvido em uma série de denúncias

por improbidade administrativa.

Diversas reuniões, em diferentes pontos do bairro foram desenvolvidas e

a cada 15 dias era entregue em cada casa um informativo sobre o movimento.

Não havia a pretensão de se opor ao estádio de futebol, mas sim de afirmar que o

bairro não possuía outro local para construir a escola, posto de saúde e área de

lazer. A época o presidente do clube era o deputado estadual Nielsen Louzada.

Na área conhecida por todos como campo do Canarinho, em função do time de

futebol que existia, havia as ruínas da antiga escola comunitária Tobias Barreto,

construída com mão-de-obra e material doado pela comunidade. Esse fato ainda

estava vivo na memória das pessoas que acharam um absurdo ver a área ser

desviada de função e mesmo as ruínas serem demolidas pelo pessoal do clube.

Durante a resistência ao ato de demolição Artur Messias acabou sendo detido

pela polícia, a mando do deputado, fato este que irritou mais ainda a população,

tendo um grupo de mulheres apedrejado o deputado no momento em que Artur

esta sendo interrogado na Delegacia. Durante quatro meses as ruínas ficaram sob

a guarda de dois policiais durante 24 horas. Enquanto as ações populares corriam

na Justiça a Associação tomou a iniciativa de procurar o Secretário Estadual de

Educação Professor Darcy Ribeiro, que acabara de anunciar o programa de

Educação dos CIEP’s, tal iniciativa tinha a intenção de trazer uma dessas escolas

para a área do Canarinho, mas como o processo de permuta havia sido

autorizado pela Câmara Municipal de Nova Iguaçu e a Escola da CNEC havia

sido construída em Morro Agudo, pelo Clube, findado o processo jurídico, a

responsabilidade foi colocada sobre o Estado que garantiu o compromisso da

instalação de um CIEP, ainda que fosse em outra área. A princípio o Estado

sugeriu a utilização de cerca de 100 metros da Praça João Luís do Nascimento.

Através de um plebiscito, submetido aos moradores, 3200 pessoas votaram,

cerca de 80% a favor da utilização da Praça para a construção do CIEP.

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Nesse momento Artur Messias e seus companheiros vivenciaram

momentos de desgaste com o pároco da Igreja de São José operário, Daniel de

leoa, que se posicionou de maneira contrária ao grupo jovem da Igreja enquanto

diretores da associação de moradores por terem submetido à apreciação da

população a proposta do Estado. Fato este que só ocorreu devido a informações

erradas recebidas pela associação no que diz respeito à negativa do Estado em

desapropriar áreas para a construção dos CIEP’s. Não era verdade. Artur Messias

na condição de jornalista do jornal de hoje, diário da baixada fluminense, através

de uma matéria sobre reciclagem de papel em Morro Agudo, esclareceu os fatos

ao entrevistar o presidente da Associação de moradores do local, o também

jovem Paulo Alves (Paulô), este o informara que o CIEP da localidade

encontrava-se numa área desapropriada pelo Estado, por insistência da

Associação de moradores.

Sendo assim, no dia seguinte Artur messias e os demais diretores

retornaram a secretaria de educação do Estado para que parte da praça João Luiz

fosse desapropriada. Onde, hoje está o CIEP Nelson Ramos (364).

Em 1984, o grupo jovem da Igreja motivado pela integração

comunitária, através da associação de moradores promoveu uma serie de debates

sobre como desenvolver ações para fora da igreja. Influenciado pelo filme “o

xente, pois não”, Artur Messias elabora projeto para o grupo jovem atuar na

comunidade.

Na reunião do grupo deliberou-se pela criação de uma biblioteca

comunitária. O padre cedeu o espaço na igreja. Houve grande mobilização para

doações de livros e em obter diversos materiais. No dia 1º de Abril de 1985, a

biblioteca comunitária Oscar Romero foi inaugurada e funciona até hoje. A partir

daí, foi necessário conciliar o trabalho da associação de moradores e da

biblioteca comunitária, vinculada à igreja. A biblioteca desenvolveu vários

projetos comunitários ligados ao desenvolvimento da leitura e ao fomento das

manifestações culturais.

Em 1987, o grupo da Oscar Romero foi desafiado por um grupo de

padres e lideranças comunitárias a indicar um nome para concorrer a vereador

nas eleições do ano seguinte no município de Nova Iguaçu. Artur Messias foi o

indicado muito embora o grupo não se sentisse preparado para tal missão. Diante

da insistência dos padres Valdir de Oliveira e Nino Miraldi, foi realizada uma

votação dentro do grupo que resolveu aceitar. Foi uma campanha incrível, cuja

produção de um vídeo com o depoimento de diversas lideranças e as mais de

cem reuniões realizadas nas casas das pessoas da comunidade refletiram um

formato de campanha com alto grau de confiança e compromisso. Onde foram

obtidos 1.411 votos dos quais valeu a Artur Messias a 1º suplência.

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A campanha envolveu dezenas de pessoas na organização de almoços,

festas, panfletagens, confecção de material etc. Em 1991, Artur Messias assume

o mandato, no lugar da companheira Rose de Souza que se elegeu Deputada

Estadual. Tornou-se vereador para dar continuidade a militância, social e

comunitária. Priorizando educação popular e a formação política com a

participação de professores da localidade, organizou material para esclarecer a

população sobre o orçamento participativo.

Na câmara municipal encarou desafios, superou barreiras e apresentou

denúncias. Teve intensa participação na elaboração do plano diretor de

desenvolvimento urbano de Nova Iguaçu.

Artur Messias começou a trabalhar em frentes diversificadas como a

questão do subemprego, a implantação do pólo cultural no Município, o piso

salarial dos professores e a permanente preocupação com os serviços essenciais

como saneamento básico, segurança e saúde.

A intensa atividade política ampliou sua participação efetiva nas lutas

sociais da cidade. A criação e a manutenção da semana inglesa dos comerciários;

a provação dos conselhos municipais da criança e do adolescente, de educação e

de saúde; motivou a criação do fórum popular para o acompanhamento do plano

diretor de desenvolvimento urbano.

A aprovação da Lei que garante o passe livre para os estudantes de

primeiro e segundo graus, da rede pública e particular no município foi uma das

conquistas do vereador Artur Messias.

O PT possuía, nessa ocasião, dois Vereadores Artur Messias e Moacyr

de Carvalho, o mais votado de toda a Baixada Fluminense. Candidato à reeleição

em 1992 Artur obteve 1286 votos, tendo sido o mais votado da coligação.

Novamente o PT elegeu dois representantes, o outro era o professor Derli

Silveira.

Na câmara empreendeu ações de respaldo e apoio na luta dos

movimentos sociais de Nova Iguaçu e, em certa medida, da Baixada Fluminense.

Em 1993 por um dado conjuntural, conseguiu-se a aprovação da lei do passe

livre dos estudantes, que foi considerada um marco no Legislativo Iguaçuano.

Foi empreendida uma fiscalização sistemática do Executivo Municipal,

extremamente corrupto e irresponsável no trato do interesse público.

Em 1994 diversos segmentos da sociedade mobilizaram-se em torno

de sua campanha a Deputado Estadual. Nos moldes da campanha a Vereador no

que diz respeito as reuniões de casa em casa, mas em uma proporção muito

maior. No interior da UERJ, Artur Messias contou com um grupo forte e

diversificado de estudantes. Seminários e debates foram organizados. Apesar do

empenho de todos e uma expressiva votação Artur Messias não foi eleito

retornando a Câmara de Vereadores de Nova Iguaçu. Em 1996 Artur Messias

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lutava para instauração de uma comissão para investigar a crise econômica

financeira e administrativa da Prefeitura de Nova Iguaçu. Vereadores

Governistas se beneficiaram da possibilidade da instalação da comissão para

obter favores do Prefeito Altamir Gomes (PDT). Em troca dos Votos dos

Vereadores recebiam Kombi, gasolina e obras eleitorais. Uma das esperanças

para colocar o projeto em votação era a pressão que Professores Municipais

fariam, em greve, prometiam invadir a Câmara.

Altamir Gomes conseguiu através do controle que possuía sobre os

Vereadores barrar a instauração da comissão que apuraria as irregularidades em

seu Governo.

Taxado pelo prefeito como seu “Inimigo Capital”. Tendo conseguido

algumas vitórias na justiça foi reconhecido como único vereador que não

participava do esquema montado pelo Executivo Municipal.

Também em 1996 Artur candidatou-se a prefeitura de Nova Iguaçu,

quando obteve 17% dos votos válidos concorrendo contra a máquina do Estado e

da Prefeitura representados na pessoa do senhor Nelson Bornier (PSDB) e

Cornélio Ribeiro (PDT) respectivamente, foi considerado o melhor desempenho

do PT na Baixada. O partido mantivera o número de cadeiras na Câmara, duas.

Ficando em terceiro lugar um pouco abaixo de Cornélio Ribeiro eleição vencida

por Nelson Bornier.

Após o término do mandato de Vereador Artur Messias voltou atuar

como Jornalista na ONG Centro de Ação Comunitária (CEDAC), com sede no

Rio de Janeiro. As experiências adquiridas ao longo das campanhas de 1994 e

1996 qualificaram Artur Messias e seus companheiros, quando resolveram

disputar novamente uma vaga na assembléia legislativa do estado do Rio de

Janeiro em 1998, outras pessoas aderiram a campanha, muitas se encontravam

desejosas de mudanças, sentimento encontrado e boa parte da sociedade

fluminense. O partido dos trabalhadores e Artur Messias produziram uma grande

onda vermelha por toda Baixada, ajudados pelo fato da senadora Benedita da

Silva estar na chapa que concorria ao governo do estado, como vice, sendo

Antony Garotinho do PDT o candidato a governador. Artur Messias foi eleito

com 18.689 votos.

Na Assembléia Legislativa procurou dar continuidade aos trabalhos

para melhoria da qualidade de vida e pela cidadania na Baixada Fluminense. Seu

compromisso com o Rio de Janeiro fica claro na aprovação da Lei que cria no

calendário oficial do Estado, a semana do combate a violência doméstica contra

a criança e o adolescente. Mas é evidente a preocupação com a Baixada quando

propõe 12 emendas, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que destacam a

implantação de um campus avançado da UERJ em Nova Iguaçu; a construção e

conclusão de usinas de reciclagem de lixo para Belford Roxo, Nova Iguaçu e

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Queimados; A ampliação das linhas de ônibus que ligam o Centro do Rio a

Baixada entre outras.

Com propostas concretas Messias tem na coerência de suas ações e na

fidelidade aos princípios éticos a base de seus trabalhos, sempre defendendo a

administração com a participação da comunidade, como fundamental para

definir as prioridades de investimentos em todos os setores dos serviços

públicos.

Elaborou cartilha para apontar alguns caminhos que pudessem auxiliar

na construção de um projeto de vida que contribuísse com a cidadania coletiva.

Propôs-se a estimular as lutas pela garantia de uma sociedade de homens livres e

conscientes de cidadãos que buscam a implementação da democracia e a

construção de um mundo melhor.

Sua trajetória comprova o seu compromisso com o movimento

estudantil, seja no hip hop, seja nas comunidades, seja na cultura. Artur sempre

esteve com a juventude contribuindo com movimentos e construindo uma nova

realidade.

A juventude tornou-se uma frente de luta para seu mandato, um canal

de formação e organização desse público. As ações do mandato para a juventude

estiveram respaldadas através de um conselho com encontros regulares,

discutindo a intervenção do mandato para atender as demandas específicas

trazidas pela juventude.

Artur Messias tornou-se líder da bancada do PT na assembléia, nessa

condição passou a participar das reuniões da executiva estadual e do colégio de

lideres na assembléia.

Visando maior comunicação com a base partidária e com os

movimentos populares, criou o informe da bancada e organizou reuniões de

planejamento estratégico com a presença dos deputados federais, estaduais e

membros da executiva do partido.

Junto com a população do Distrito de Mesquita, Artur Messias

empreendeu esforços para sua emancipação. No ano 2000, ano eleitoral,

Mesquita o mais novo Município do Estado do Rio já se encontrava envolvido

no processo eleitoral.

Artur Messias concorreu às eleições para a Prefeitura de Mesquita

tendo ficado em segundo lugar processo no qual saiu-se vitorioso o senhor José

Montes Paixão (PDT) candidato do então Governador Antony Garotinho.

Passado o período eleitoral Artur Messias voltou às atividades na

Assembléia Legislativa, sendo reconduzido a Presidência da Comissão do

Trabalho e Seguridade Social da ALERJ. A Comissão do trabalho transformou-

se em poderoso instrumento na defesa dos direitos dos trabalhadores, destaca-se

pelo encaminhamento de casos de respeito aos direitos trabalhistas, que são

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repassados ao Ministério Público do Trabalho e a Delegacia Regional do

Trabalho. Apresentou requerimento para criação da comissão especial para

analisar projeto de Lei Federal que institui as Diretrizes Nacionais para o

saneamento básico.

O projeto além de minimizar a temática, não aborda questões como o

tratamento e o destino do lixo, além de abrir os caminhos para a privatização do

setor. Será pedida urgência para criação da comissão. A juventude é contemplada

por dois projetos de Lei, o primeiro que cria a meia passagem para os alunos da

rede particular, e o segundo que assegura prioridade de estágio em órgãos

públicos para os alunos da FAETEC.

Próximo do terceiro ano do mandato do deputado Artur Messias

realizou uma plenária com a convicção de que através do ideário petista, cada

vez mais se deve aglutinar pessoas para que o processo de elaboração e

participação seja uma constante no cotidiano de todos. O que se pretende e

partilhar experiências, recolher subsídios, ouvir criticas e sugestões criando uma

autentica “chuva de idéias” para alcançar o aperfeiçoamento do trabalho e o

cumprimento das obrigações inerentes a função do parlamentar.

Três temas passaram a ser enfatizados: o PT, o mandato e a

proximidade do pleito sugeriam que a vez era do PT. Mais que uma profissão de

fé, um alerta para identificar a dimensão da responsabilidade que todos devem

assumir. A cada dia mais e mais companheiros juntam-se nessa perspectiva.

Durante muitos anos de sua vida Artur Messias procurou justificar

para seus pais, amigos e par si mesmo, que o tempo despendido na militância

social e partidária, em reuniões, encontros, manifestações, retiros e seminários

seria compensado na medida em que seus netos ou bisnetos viveriam num

mundo mais justo e feliz. Isso lhe bastava para manter-se na luta sempre com fé

na luta. Hoje crendo ser possível iniciar um novo tempo com a eleição de Lula

presidente em 2002. Esse se tornou o principal projeto de Artur e seus

companheiros, pois, só com um governo petista acredita-se ser possível

restabelecer a crença no país, em seu povo e no futuro de uma nação soberana.

A materialização do sonho, de tornar real a utopia de uma sociedade

socialista antes que seja tarde demais e não mais possamos enfrentar o

crescimento da miséria, do desemprego, da violência, da corrupção, da falta de

respeito à vida.

O mandato do deputado Artur Messias nos coloca diariamente diante

da dura realidade de vida da maioria da nossa população. Por isso mesmo o

grande empenho para apresentar projetos e desenvolver ações que fortaleçam os

direitos de cada cidadão. Foi assim em relação a políticas para juventude, aos

direitos trabalhistas, a ampliação dos serviços de saneamento básico, as ações

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voltadas para geração de trabalho e renda, no comprometimento com a cidadania

das crianças, na democratização do acesso a cultura e a informação.

O desejo de continuar exercendo a missão que lhe foi confiada, pela

importância que ela tem no contexto da baixada fluminense, onde predominam

práticas políticas corruptas e distanciadas dos interesses populares, Artur

Messias submeteu novamente seu nome a apreciação popular e candidatou-se a

reeleição de deputado estadual.

Com a proximidade do ano de 2002, ano eleitoral, Artur Messias

passou a conciliar seus trabalhos na Assembléia com a movimentação em torno

da campanha. Foi constituída uma coordenação geral, na qual estavam

representados alguns municípios da Baixada como: Nova-Iguaçu, Mesquita,

Belford-Roxo, Nilópolis, Queimados, Japeri, o município do Rio de Janeiro e

outros municípios do interior do norte e sul fluminense também tinham

representatividade. Foi criada também uma coordenação de juventude, para

viabilizar e atender as demandas da juventude, promovendo a integração entre o

mandato, a campanha, a coordenação geral e a juventude, embora com uma

atuação autônoma. As duas coordenações possuíam reuniões regulares.

Com a saída, do então governador Antony Garotinho do cargo para

disputar a presidência da republica, a vice-governadora Benedita da Silva e o PT

assumem a direção do estado do Rio de Janeiro e Artur Messias torna-se o líder

do governo. Na condição de líder, Artur passou a levar ao governo as

preocupações e necessidades do estado, numa lógica de assegurar conquistas que

materialize cidadania a população.

Prioridades foram sendo invertidas, principalmente na Baixada

fluminense onde sempre predominou o clientelismo. Na gestão Garotinho as

prefeituras contempladas com ações limitavam-se àquelas vinculadas ao seu

projeto eleitoral. O governo do partido dos trabalhadores vem estabelecendo

diálogos e desenvolvendo ações com todas as prefeituras, onde as políticas

desenvolvidas sejam de interesse coletivo e não restritas a pequenos grupos.

Ao longo da campanha, muitos companheiros de partido e membros da

sociedade civil foram aderindo e ainda que alguns militantes estivessem

divididos com as atribuições do governo do estado isso não comprometeu o

empenho de ninguém e a campanha se expandiu por todo o estado ora em

conjunto com a campanha da governadora Benedita da Silva a reeleição e de

Lula a presidência ora com suas próprias particularidades apoiada por vários

candidatos a deputado federal do partido dos trabalhadores. Artur com sua

personalidade conciliadora prestigiava e contemplava diversas tendências do

partido materializadas no apoio que recebia de suas lideranças que iam desde

Lindberg, o cara pintada do Impeachment de Collor, passando por Luiz Sergio

ex-prefeito de Angra, até Jorge Bittar ex-secretario de planejamento do estado do

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Rio de Janeiro e muitos outros, que vieram compartilhar e contribuir com o

projeto de Artur Messias e do PT para o Estado do Rio de Janeiro.

A coordenação de juventude idealizou um seminário de planejamento

e mobilização, onde questões como: saúde e sexualidade, educação e movimento

estudantil, movimento cultural, violência, trabalho e primeiro emprego,

cidadania e direitos humanos foram amplamente discutidos, num encontro que

reuniu uma diversidade de jovens muito grande e deu motivação a campanha.

Artur Messias ratificou o compromisso com as demandas especificas do setor,

garantindo espaço à participação de jovens na formulação de políticas publicas

que auxiliem as intervenções do mandato.

A coordenação geral promoveu uma grande carreata no município de

mesquita, onde se constatou o grau de aglutinação com que a campanha de Artur

Messias podia contar, ao final da carreata mesmo exaurida a militância ainda

participou de uma confraternização. A avaliação foi unânime: “A carreata foi um

sucesso”.

Outra grande idéia da coordenação de campanha foi a realização do

“forró do Artur”, cuja idéia inicial era que fosse promovido um em cada

município, com o objetivo de permitir aos participantes da campanha de estarem

se confraternizando e trazendo novos simpatizantes.

A escassez de recursos, na campanha, não afetaram o empenho da

militância, nosso maior patrimônio, nosso valor fundamental. É a militância que

faz a diferença entre o PT e os demais partidos, que alugam braços para entregar

papel durante a corrida eleitoral.

Com a mesma determinação e o mesmo afinco com o qual se dedicava

a sua campanha, Artur Messias participava da campanha da governadora

Benedita da Silva a reeleição e de Luis Inácio Lula da Silva a presidência,

promovendo varias atividades dentre as quais, um grande “showmício” no bairro

da Chatuba em Mesquita que além da presença de Lula e Benedita contou com o

a participação de algumas lideranças do PT e pessoas vindas de todo o estado.

Artur Messias conciliava com competência, a campanha e suas

atribuições no governo. Além do corpo a corpo, panfletagens e outras atividades,

Artur e a militância feminina do PT organizaram uma caminhada das flores na

companhia da governadora Benedita; que foi iniciada em Mesquita seguindo até

Nova-Iguaçu contagiando a todos por onde passava.

A campanha de Artur também contou com o apoio do candidato à vice

na chapa de Benedita da Silva, o professor Luis Eduardo Soares, que palestrou

em alguns eventos da campanha. Para a direção do partido a reeleição de Artur

Messias, era fundamental para a construção do PT na Baixada Fluminense.

Apesar de não nos ter faltado empenho, Artur Messias não se reelegeu.

Sua votação, embora tenha sido bem maior que no pleito anterior, 27.277 votos,

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o tornaram segundo suplente, tendo o PT feito oito deputados estaduais, sendo

Carlos Minc o mais votado no Rio. A onda petista ajudou muito os candidatos

mais próximos da capital, não tendo o mesmo efeito na Baixada Fluminense. Foi

na Baixada que Benedita sofreu sua maior derrota assim como o PT e os

candidatos mais ligados a região, como Artur Messias.

Mas tanto Artur, Benedita e o PT não tiveram tempo de se lamentar,

Lula disputaria o segundo turno com José Serra (PSDB), e no dia seguinte,

segunda feira 07 de outubro, todos estavam na rua correndo atrás de votos. O

reconhecimento do povo veio no dia 27 de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva foi

eleito presidente e o estado do Rio de Janeiro foi quem lhe deu a maior votação

do país.

A superação das adversidades também faz parte do processo de

construção da liderança e a estrada não termina aqui, ainda temos muito que

construir.

O estabelecimento da liderança, do intelectual orgânico em meio à

massa, seja ela organizada ou não, se realiza a princípio mediante fatores de

caráter individuais. Obedece-se a pessoa do líder por suas qualidades

excepcionais e não em virtude de sua posição.

A confiança da Comunidade e sua devoção efetiva submetem-se em prol

de seu carisma e vocação pessoal e não devido a sua qualificação profissional. O

transcorrer do tempo em que o intelectual se movimenta, atua e a maneira como

engendra relações junto à massa conferem o grau de complexidade, sua

influência e características que ele transfere a massa. A autoridade carismática é

uma das grandes forças revolucionárias da história.

Os princípios inerentes ao caráter de Artur Messias o tornam um

fragmento orgânico inserido e pulsante dentro do corpo orgânico que é o partido

dos trabalhadores.

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V

O Bloco Histórico Vigente

O desenvolvimento do capitalismo

O processo de colonização da América foi decisivo para a formação do

capitalismo nas metrópoles européias. Os lucros da colonização da América

beneficiaram a ascensão da França e da Inglaterra, permitindo a este último país

reunir as condições econômicas, políticas e sociais que resultaram na explosão

da revolução industrial do século XVIII.

A revolução industrial resultou das transformações ocorridas na

agricultura, indústria, transporte, bancos e comunicações que propiciaram o

desenvolvimento da economia capitalista. O lugar da manufatura foi ocupado

pela grande indústria moderna; o estamento médio industrial cedeu lugar aos

industriais milionários, aos chefes de exércitos industriais, aos burgueses

modernos.

A grande indústria criou o mercado mundial, para o qual a descoberta da

América preparou o terreno. O mercado mundial deu um imenso

desenvolvimento ao comércio, à navegação, às comunicações por terra. Esse

desenvolvimento, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria; e na

proporção em que a indústria, o comércio, a navegação, as ferrovias se

estendiam, a burguesia também se desenvolvia, aumentava seus capitais e

colocava num plano secundário todas as classes legadas pela idade média.

A produção industrial realizava-se em pequenas e médias fábricas, com

divisão do trabalho entre os operários, utilização das máquinas movidas a vapor,

mão de obra assalariada, produção em larga escala para possibilitar lucros aos

empresários.

A competição entre as empresas baseava-se na idéia de que produtores e

consumidores beneficiavam-se mutuamente. A livre concorrência seria um

processo natural no qual o próprio mercado teria sua auto-regulação, sem a

necessidade de intervenção do Estado na economia.

As mercadorias tiveram, num primeiro momento, seus preços barateados

e o empresariado vitorioso seriam aqueles que, por possuírem um capital maior

resistisse a esse barateamento, sobrepujando o empresário que dispunha de

menor capital: uma verdadeira batalha, na qual a ruína de pequenos capitalistas

significava o crescimento dos maiores, que adquiriam os bens dos vencidos.

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O capitalismo passava por uma nova fase, baseada nas tarifas

protecionistas que cada país punha nas suas mercadorias, para evitar a

concorrência dos outros países.

Os capitalistas perceberam que seria mais útil buscar alianças, mantendo

empresas separadas, mas sem competir entre si, estabelecendo a divisão dos

mercados e dos preços. Com o monopólio, os preços passaram a ser fixados

pelos trustes, cartéis e holding.

Com a transição do capitalismo comercial para o capitalismo

monopolista, uma nova característica foi o estabelecimento do imperialismo e do

neocolonialismo, a necessidade de novas áreas de aplicação dos capitais

industriais, esse novo colonialismo se organizava na busca de carvão, ferro,

petróleo e produtos alimentícios.

O desencadear da revolução industrial levou os países industrializados a

buscarem mercados para vender seus produtos e obter matérias-primas a baixo

preço, industrias que não mais empregam matérias-primas provenientes das mais

remotas regiões, mas em todas as partes do mundo. Em lugar do antigo

isolamento local e nacional, desenvolve-se em todas as direções um intercâmbio

universal, uma universal interdependência das nações. E isso tanto na produção

material quanto na intelectual. Os produtos intelectuais de cada nação tornam-se

patrimônio comum.

A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os

instrumentos de produção e, por conseguinte, as relações de produção, portanto

todo o conjunto das relações sociais. A necessidade de mercados cada vez mais

extensos para seus produtos. A burguesia deve estabelecer-se em toda parte,

instalar-se em todo globo.

Através da exploração do mercado mundial, a burguesia deu um caráter

cosmopolita a produção e ao consumo de todos os países. A burguesia submeteu

o campo ao domínio da cidade.

O capitalismo é um processo simultaneamente social, econômico,

político e cultural de amplas proporções, complexo e contraditório, mais ou

menos inexorável, avassalador. Influencia todas as formas de organização do

trabalho e vida social com as quais entra em contato. O modo capitalista de

produção funda-se no jogo das forças produtivas liberadas com o declínio do

feudalismo, a aceleração da acumulação originária. Na medida em que se torna

dominante, o modo capitalista de produção lança luz e sombra, formas e

movimentos, cores e sons sobre muito do que encontra pela frente.

No capitalismo as forças produtivas compreendidas sempre como forças

sociais, encontra-se todo o tempo em interação dinâmica. A competição entre os

capitais, a busca de novos processos produtivos, a conquista de outros mercados

e a procura de lucros, provocam a dinamização das forças produtivas e da forma

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pela qual elas se combinam e aplicam nos mais diversos setores da produção, nas

mais diferentes nações e regiões do mundo.

No capitalismo, da mesma forma que o método de produção os meios de

produção são constantemente ampliados, revolucionados, assim também a

divisão do trabalho, o emprego de maquinaria provoca maior emprego de

maquinaria. Na mesma proporção que se desenvolve a burguesia, ou seja, o

capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos,

que vivem apenas na medida em que encontram trabalho e que só encontram

trabalho na medida em que o seu trabalho aumente o capital.

O desenvolvimento da maquinaria e a divisão do trabalho levam o

trabalho dos proletários a perder todo caráter independente e com isso qualquer

atrativo para o operário. Esse se torna um simples acessório da máquina, do qual

só se requer operações mais simples, mais monótonas, mais fáceis de aprender.

À medida que se liberam e agilizam as forças produtivas, juntamente

com as relações de produção, demarcando as condições de liberdade e da

igualdade dos proprietários de capital e força de trabalho, organizados em forma

contratual, intensifica-se e generaliza-se a reprodução ampliada do capital.

O modo capitalista de produção pode ser visto como um todo complexo,

desigual, contraditório e dinâmico, uma totalidade aberta ou propriamente

histórica.

A indústria moderna transformou a pequena oficina do mestre artesão na

grande fábrica do capitalismo industrial. Massas de operários, aglomerados nas

fábricas, são organizadas militarmente. Não são apenas servos da classe

burguesa, do estado burguês, mas são também a cada dia e a cada hora

escravizados pela máquina.

Os operários constituem uma massa disseminada por todo o país e

dispersa pela concorrência. A aglomeração de operários em grandes massas

ainda não é o resultado da sua própria união, mas da união da burguesia, a qual,

para alcançar seus próprios objetivos políticos, são obrigados a colocar em

movimento todo o proletariado.

Toda essa dinâmica é comandada pelo capital, pelos que detêm a

propriedade e os movimentos do capital. A forma pela qual o capital se articula

e desdobra confere a ele a preeminência sobre as outras forças produtivas.

À medida que se desenvolve o capitalismo, pela dinamização e

generalização das forças produtivas e das relações de produção, o capital em

geral, adquire maior relevância, influenciando cada vez mais as condições e as

possibilidades dos capitais singulares e particulares em âmbito nacional e

setorial, regional e internacional.

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Nesse sentido é que a globalização do capitalismo pode ser vista como

produto e condição do capital em geral, no qual se realizam e se multiplicam

todas as outras formas de capital.

O predomínio do modo capitalista de produção, implicando em seu

desenvolvimento intensivo, de forma progressiva e freqüentemente avassaladora,

traduz-se nos processos de concentração e centralização do capital, frações

inteiras da classe dominante são lançadas no proletariado ou pelo menos

ameaçadas em suas condições de existência. Também elas fornecem ao

proletariado uma massa de elementos de educação.

A condição mais essencial para a existência e a dominação da classe

burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de particulares, a formação e o

aumento do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O progresso

da grande indústria vem proporcionando a união revolucionária dos

trabalhadores. A própria burguesia vem forjando as armas de sua destruição e o

avançar dos tempos tem tornado inevitável seu declínio.

A repercussão do capitalismo no Brasil

Com o desenvolvimento do capitalismo, o sistema colonial começou a

ruir. Os monopólios e privilégios comerciais assegurados pelo pacto colonial

criavam obstáculos para os setores industriais. Os setores industriais criticavam a

política mercantilista, condenavam os monopólios, os tratados, o trabalho servil

e escravo. Defenderam o trabalho assalariado, a livre concorrência e o livre

comércio.

O processo de emancipação do Brasil acelerou-se dentro do contexto de

questionamento do antigo regime na Europa, com as revoluções industrial e

francesa, com a ascensão de Napoleão Bonaparte e o bloqueio continental

imposto por ele, originando a vinda da Família Real Portuguesa para a colônia.

Também a abertura dos portos (1808) provoca um impacto político com

amplas contradições. A camada senhorial (proprietária de terras e escravos) foi

beneficiada pelas medidas de livre comércio com qualquer nação do mundo, pois

lhe permitiu livrar-se do intermediário metropolitano e, ao mesmo tempo vender

a quem melhor pagasse por suas mercadorias, obtendo maiores lucros. Do lado

britânico, o fim do monopólio colonial atendia aos interesses da burguesia

inglesa.

A nova posição brasileira dentro do império lusitano consolidou-se com a

elevação a categoria de sede do Reino Unido, formando um só corpo político

com Portugal e Algarves. Dom João VI era soberano que se consolidava no

trono português com a morte de Dona Maria I (1816).

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O processo de emancipação política não se fez acompanhar de intensas

lutas populares e de uma efetiva participação das massas. Nesse sentido, tanto a

independência como a organização do Estado brasileiro e, por extensão, o quadro

político daí decorrente estruturou-se de acordo com os anseios e aspirações das

elites rurais, detentoras das terras e do monopólio do exercício do poder.

De 1822 a 1889 institui-se um regime imperial que teve basicamente uma

dupla preocupação: a centralização política, de sorte a evitar uma possível

desintegração da unidade, estabelecida de maneira bastante artificial, devido à

ausência de uma efetiva integração econômica das diversas regiões e a exclusão

sistemática da imensa maioria da sociedade brasileira, completamente

marginalizada do processo político e econômico do país. Basta lembrar que, de

acordo com a Constituição de 1824, que esteve em vigor durante todo o período

monárquico, apenas 5% dos brasileiros, os que detinham uma determinada

renda, exerciam de fato, direitos políticos.

Assim, tanto a unidade artificial, como o não envolvimento popular,

correspondia aos interesses da classe dominante, preocupada em manter a grande

propriedade e a base escravocrata. Temos desta maneira, um fato de

homogeneização e de unidade nacional, responsável pela articulação das elites, a

respeito de interesses locais heterogêneos, em torno do regime imperial. Coube

a este manter o latifúndio e a escravidão. Para isso foi estruturado e disso deu

conta. Tanto assim que o Brasil foi o último país do ocidente a extinguir o

trabalho escravo. Quanto à estrutura fundiária, baseada na grande propriedade, é

um problema, ainda hoje, sem solução.

O período compreendido entre 1822 e 1831 é marcado, nitidamente, pela

contradição entre as tendências autoritárias e absolutistas de Dom Pedro I e o

“liberalismo” das elites escravocratas. Se inicialmente, as elites agrárias fizeram

de Dom Pedro, o representante de suas aspirações, capaz de manter a integridade

territorial e as estruturas econômico-sociais herdadas do período colonial, num

segundo momento, o passionalismo e as medidas arbitrárias do primeiro

imperador levaram as mesmas elites a procurarem outra solução.

Os conflitos entre as elites e o Imperador se manifestaram já em 1823,

quando Dom Pedro I dissolveu a Assembléia Constituinte de 1824. A oposição

se intensifica e é particularmente aguda no nordeste, onde, no mesmo ano de

1824, ocorre a Confederação do Equador, movimento de caráter antiabsolutista e

separatista. A brutal repressão do movimento de 1824 assinala o rompimento

definitivo entre o Imperador e as forças liberais.

O período regencial (1831-40) apresenta-se como uma fase intermediária

entre o I Reinado e o II Reinado (1840-89), e caracteriza-se pela intensa agitação

político-social. Esta é compreensível, na medida em que amplos setores da

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sociedade brasileira esperavam, a partir de então, transformações mais radicais e

maior liberação do regime.

No início do período regencial, organizaram-se três correntes políticas,

que apresentavam tendências divergentes entre as elites: os “restauradores”,

favoráveis à restauração de Dom Pedro I e ultra-reacionários; os “exaltados”

defensores de uma maior autonomia das províncias, representando as aspirações

das camadas urbanas; e os “moderados”, antiabsolutistas, mas monarquistas e

favoráveis à centralização político-administrativa.

De uma maneira geral, no entanto, os três grupos refletem apesar de

perspectivas diferentes, as aspirações das elites agrário-escravocratas.

Ao longo do período regencial, as três tendências desenvolvem-se dando

origem aos dois partidos políticos hegemônicos do II Reinado: o liberal e o

conservador.

Os conflitos entre as correntes políticas divergentes, acrescidos das

frustrações das massas populares, impotentes e incapazes, nesse momento de

articular uma alternativa a hegemonia das elites, são alguns dos fatores que

explicam as explosões revolucionárias do período regencial. A luta secular

contra a miséria está presente em alguns dos movimentos revolucionários,

notadamente: A cabanagem, no Pará, e a Balaiada, no Maranhão. Já outros

movimentos, como a Farroupilha, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina

refletem a oposição das elites locais contra o excessivo centralismo.

A instabilidade política do período regencial e o pânico gerado pelas

rebeliões, sobretudo a Cabanagem e a Balaiada, fazem com que a aristocracia

rural se componha em torno da solução monárquica. É dentro desse contexto

que se apressa à maioridade de Dom Pedro II, alternativa de “bom senso”, a

transitoriedade dos governos regenciais.

O II Reinado (1840-1889) é entendido pela historiografia oficial como

fase de “tranqüilidade e progresso”, enquanto Dom Pedro II é apresentado como

um soberano sábio, tolerante e conciliador. Na verdade, o período representou o

triunfo das oligarquias agrário-escravocratas, agora livres das ameaças que

estiveram presentes durante a fase regencial. Através da restauração do

Conselho de Estado, principal órgão de assessoria do Imperador, e que fora

extinto pelo ato adicional de 1834, as elites agrárias estão novamente no centro

do poder, hegemônicos e dominando o aparelho do Estado.

No plano político assiste-se a alternância dos dois partidos, o liberal e o

conservador, ambos representantes dos setores dominantes. A partir de 1847,

com a criação do cargo de presidente do conselho de ministros, institui-se o

parlamentarismo, experiência que preservou a imagem do Imperador (Chefe de

Estado), enquanto o Ministro, ou chefe de Gabinete é quem responde pelo

Governo (Chefe de Governo). Trata-se de uma experiência que, apesar de Ter

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tomado o modelo britânico como referência, no Brasil apresentou um caráter

antidemocrático, sendo conhecido pela expressão “parlamentarismo às avessas”.

A partir de 1870 torna-se evidente o declínio do regime monárquico.

Desde 1850, com a extinção do tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queiroz), a

situação das elites agrárias que operavam com base no trabalho escravo,

apresentava-se particularmente difícil. Ao mesmo tempo, um novo setor da

economia despontava pelo seu dinamismo e pela sua capacidade em desenvolver

a produção não mais apoiada no trabalho escravo, e sim no trabalho assalariado.

Por volta de 1870/80 era indiscutível a hegemonia econômica da emergente

burguesia cafeeira do oeste paulista sobre os velhos “barões do café”, do Vale do

Paraíba e sobre os decadentes senhores de engenho do nordeste. É importante

ressaltar que estes dois últimos grupos ainda operavam com base no trabalho

escravo, incompatível com o desenvolvimento capitalista. Ao mesmo tempo, o

primeiro grupo valia-se da abundante mão-de-obra decorrente da imigração.

A ascensão do oeste paulista, realizando a transição do trabalho escravo

para o trabalho livre, aprofundava a crise do Império, uma vez que as bases de

sustentação deste se encontravam entre as elites escravocratas. Era evidente a

contradição entre o emergente poder econômico da burguesia cafeeira paulista e

a hegemonia política dos senhores de engenho e dos “Barões do Café”, incapazes

de fazer frente ao maior dinamismo da economia cafeeira que se desenvolvia em

modelos capitalistas.

A inadequação do trabalho escravo antes as crescentes necessidades de

ampliação do mercado interno, as pressões internacionais inviabilizaram a

continuidade do modelo escravocrata, a monarquia, no entanto, estava de tal

forma identificada com a escravidão que a extinção desta implicaria com a

superação daquela. O próprio centralismo característico do regime monárquico

era combatido pela burguesia cafeeira paulista, favorável ao mais amplo

federalismo, ou seja, a autonomia administrativa das províncias.

A ascensão dos militares, notadamente após a Guerra do Paraguai

(1865/70), inconformados com a posição subalterna a que eram relegados pelo

Regime Imperial e cada vez mais encantados com as idéias republicanas. Os

militares, Deodoro, à frente, defendem o golpe que modifica as instituições

políticas. A monarquia encerra seus dias e o Imperador é exilado. No mesmo 15

de novembro de 1889, organiza-se o governo provisório da República.

A República resulta, pois de um acordo entre a classe média, através do

exército, e a classe até então dominante, dos cafeicultores. Cada um encara o

fato a sua maneira. Se eles se unem para a mudança de regime, a aliança não irá

continuar, no momento em que o Marechal Deodoro assume o poder. A classe

média tem, então, a sua grande chance. No entanto, o poderio dos cafeicultores é

bastante grande para, em breve, voltar ao domínio.

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Analisando-se o que acontece no Governo Provisório no primeiro

quadriênio, assiste-se a tentativa da classe média se assenhorear do poder e lá

ficar. Com efeito, a tentativa de reforma financeira idealizada pelo ministro Rui

Barbosa, já foi apontada como sendo um passo para a modificação da estrutura

econômica do País, tentando produzir a industrialização e, desta forma, apeando

os cafeicultores de seu pedestal.

A reforma financeira, que fica conhecida como “encilhamento”,

imaginado por Rui Barbosa, visa conceder facilidades de emissão a vários

bancos, incentivar a instalações de fábricas, manter uma pequena inflação, com

vistas a baratear o crédito, tais medidas, no entanto, não são do agrado dos

cafeicultores e dos grandes grupos internacionais, os quais passam a se opor

sistematicamente às reformas de Rui Barbosa.

A Reforma pretendida, tão logo Rui Barbosa deixa o Ministério, leva a

uma crise, que fica conhecida como a crise do encilhamento: As indústrias não

aparecem, tudo que existe é especulação na Bolsa: A ruína é inevitável. A

República começa seus dias provando uma das grandes crises financeiras que o

Brasil já conheceu. O fracasso dessa tentativa fortalece os cafeicultores.

A par de outras medidas, reúne-se a Assembléia Constituinte e, em 1891,

está pronta a primeira Constituição Republicana.

As eleições de 1891, feitas pelo Congresso conforme estabelece as

disposições transitórias da Constituição, apontam o Marechal Deodoro para

Presidente e o Marechal Floriano Peixoto para Vice-Presidente.

Neste primeiro Governo, os choques entre os militares e os

representantes dos cafeicultores tornam-se bem nítidos, surgindo vários conflitos

armados. O Presidente Deodoro renuncia em 23 de novembro de 1891, depois de

pressões comandadas pelo partido republicano paulista. Sucede-lhe o Vice

Floriano Peixoto, que tem a seu cargo vencer as revoltas que explodem em várias

Regiões: A Marinha está em luta e, no Rio Grande do Sul, a revolta Federalista,

iniciada em termos locais, em breve se torna uma guerra civil. Vencendo a todas

elas, Floriano consolida o novo regime.

No entanto, as eleições que se seguem, em 1894, mostram a força de São

Paulo e do café: Vitorioso Prudente de Moraes traz os cafeicultores de volta a

cena política, retornando às rédeas do poder.

Caracterizando o período como a época do “café-com-leite” ’isto é,

domínio dos Estados mais fortes, São Paulo e Minas Gerais.

A política Estadual controlada pelas oligarquias: Famílias políticas que,

apoiadas nos Coronéis conseguem manobrar eleições e perpétuar-se no poder.

Os Coronéis são elementos ricos, influentes que exercem poder quase total sobre

o Município e, especialmente sobre o meio Rural. São eles que, devido ao seu

poderio, ou, às vezes devido ameaça que representam seus capangas, influenciam

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as eleições, fazendo com que, seu candidato seja eleito, custe o que custar. Para

isto usam de todos os meios: Falsificação de títulos, das listas eleitorais, de

urnas, de votos, intimidação aos elementos de oposição. Em fim a fraude

eleitoral é a constante.

Esta enorme gama de poderes dos Coronéis e das oligarquias são

explicados, em termos políticos, pela fragilidade do poder executivo, sejam

Federal ou Estadual devido ao Federalismo imposto pela Constituição.

Cabe ao Presidente Campos Sales a oficialização do poderio das

oligarquias, ao elaborar a sua “Política de Governadores” ou Política dos

Estados, como ele a chama. Em troca do apoio as medidas presidenciais, as

oligarquias ganham todo apoio do poder executivo federal. A partir daí, São

Paulo e Minas passam a dominar o aparelho político nacional visto serem os

Estados mais populosos e mais ricos da Federação.

A oposição é impossível, mas, se manifesta em várias ocasiões. São

vários os meios utilizados, indo desde a oposição nas eleições até revoltas

envolvendo grupos populares e militares.

Os movimentos messiânicos de Canudos e contestado. Em Canudos, na

Bahia e na região do contestado, entre Paraná e Santa Catarina, lideres

messiânicos conseguem sublevar as massas miseráveis da população em

movimentos que tomam caráter políticos, de revolta contra o domínio dos

grandes Estados, ao mesmo tempo em que são protestos pelas condições de

penúria em que vivem. A campanha civilista, de 1910. Hermes da Fonseca é o

candidato situacionista. Contra ele desenvolve, Rui Barbosa, a campanha

civilista. Apesar de apoiado por vários Estados, as eleições – Fraudulentas –

apontam Hermes da Fonseca vitorioso.

Em 1921, Artur Bernardes aparece como candidato da situação. Nilo

Peçanha, apoiado por Rio, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia faz oposição

também sem sucesso. A partir de 1922, um grupo de jovens oficiais – os

tenentes, iniciam uma série de revoltas com o objetivo de tomar o poder. Partem

eles de uma visão errônea da realidade nacional, uma vez que desconhecem as

forças profundas que modelam o País. Apesar de encararem os problemas de

modo superficial acham que mudar o governante é a solução dos problemas, suas

revoltas são muito importantes, uma vez que servem para manter o “facho

revolucionário”. A primeira revolta é a do forte de Copacabana, em 1922, em

protesto contra eleição de Artur Bernardes. A seguir, há revoltas em São Paulo e

Rio Grande do Sul. De lá parti a coluna prestes que percorre todo interior

brasileiro pregando a revolução.

A contestação à política do “café-com-leite” chega ao clímax entre 1922

e 1930. As revoltas tenentistas apesar de fracas ideologicamente traduzem uma

insatisfação que é crescente, em vários setores da vida nacional. O Caminho para

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revolução está aberto e ela vai acontecer em 1930, devido a insatisfação interna e

a reflexos da ordem econômica.

A insatisfação com o domínio de São Paulo e Minas já se acentuaram na

década de 1920 particularmente com as revoltas tenentistas, paralelamente no

governo Washigton Luís acontecem fatos que, somados a insatisfação geral,

levam a revolta.

O primeiro problema é de ordem econômica: Em 1929 uma grave crise

abala as estruturas do capitalismo mundial, afetando profundamente o Brasil,

produzindo entre nós a crise do café. Milhões de sacas ficam estocadas, sem

possibilidade de saída, devido à crise mundial. Como reflexo da crise cafeeira,

toda economia nacional e abalada e os cafeicultores ficam paralisados e

endividados.

É nessa atmosfera crítica que sucedem as eleições. O candidato da

situação é Júlio Prestes governador de São Paulo. Acontece que, devido ao café-

com-leite, havia um revezamento de mineiros e paulista na presidência. E

Antônio Carlos de Andrada, governador mineiro, espera ser indicado. Seus

sonhos se frustram, com a indicação de Júlio Prestes. Rompem-se, pois, a união

de São Paulo e Minas e juntamente com Getúlio Vargas do Rio Grande do Sul e

João Pessoa, da Paraíba Antônio Carlos forma aliança liberal, que apresenta o

nome de Vargas para chapa de oposição. Nas eleições fraudulentas como

sempre, a vitória é de Prestes.

Em julho de 1930 um fato precipita os acontecimentos. João Pessoa é

assassinado, tendo sua morte causada ampla comoção nacional, devido sua

atuação nos últimos acontecimentos.

Em 3 de outubro de 1930 a revolução é deflagrada no nordeste, em

Minas e no Rio Grande do Sul em cerca de vinte dias a vitória conseguida por

Júlio Prestes, que não ocupa o cargo que é entregue a Vargas.

Com a revolução de 30, a oligarquia perde o poder, entra em decadência.

As classes sociais que então se desenvolvem rapidamente vão participar também

do governo, juntamente com as classes derrotadas em 30 e que se haviam

apressado a aderir à nova ordem.

Uma nova era no Brasil tem início com a posse de Vargas. Em termos

políticos, assinala-se o início da decadência das oligarquias e a subida de novos

grupos. Não se pode, ainda dizer que em 30 as classes médias sobem ao poder.

Na realidade o governo de Vargas é o início do chamado “Estado de

compromisso”, pois o governo não está apoiado neste ou naquele grupo social e,

sim, num acordo entre interesses divergentes.

Desta forma os primeiros anos da era Vargas são confusos, com vários

grupos pressionando o governo, em busca de uma definição. Tal situação leva a

revolta constitucionalista de São Paulo em 1932, quando a oligarquia cafeeira

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tenta voltar ao poder; leva também, a radicalização da classe média, seja à

esquerda (aliança nacional libertadora, dirigida por Luís Carlos Prestes,

socialista) seja à direita (ação integralista brasileira, fundada por Plínio Salgado,

fascista).

Em 1935 os socialistas tentam um golpe para tomar o poder, que, no

entanto, fracassa, levando ao um aumento da pressão policial e fortalecendo mais

ainda a figura de Vargas.

Em 1937, acontece o golpe de Estado, Vargas decreta o recesso do

congresso, interrompe a curta existência da Constituição de 1934, outorgando

uma nova carta, que lhe concede poderes ditatoriais. É o “Estado novo”. Os

partidos políticos são dissolvidos, inclusive a ação integralista, que tenta um

desesperado golpe, em 1938. Com o fracasso dos integralistas, a oposição

silencia. Violenta censura a imprensa completam o quadro da ditadura Vargas.

A segunda guerra mundial (1939-1945), do qual o Brasil participa ao

lado das democracias, contra os governos ditatoriais de Hitler e Mussolini, trás,

entretanto, uma série de mudanças, internas do ponto de vista político. A posição

de Vargas fica insustentável e as pressões para normalização democrática

começam a surgir. Manifesto dos mineiros, a famosa entrevista de José Américo

de Almeida ao Jornal “correio do amanhã”, é o ressurgimento da oposição.

Vargas cede, as eleições são convocadas e o país volta a conhecer a liberdade de

impressa e a anistia aos presos políticos.

Novos partidos políticos surgem: A UDN, união democrática nacional,

que congrega os adversários de Vargas, representando a burguesia nacional. O

PSD, partido social democrático, criado por inspiração de Vargas, onde se

reúnem os elementos mais conservadores, ligados, inclusive as antigas

oligarquias. O PTB, partido trabalhista brasileiro, criado também por obra de

Vargas, reunindo os grupos sindicais e populistas. O PRP, partido de

representação popular, refugio dos antigos integralistas e o PCB, partido

comunista brasileiro, criado por Luis Carlos Prestes, onde se colocam os antigos

membros da ANL.

Muda a fisionomia política do país. No entanto, acreditando que Vargas

pretende um novo golpe, os ministros militares o depõem a 29 de Outubro de

1945.

As eleições apontam a vitória do Marechal Dutra, eleito pela coligação

PSD-PTB, apoiado por Vargas.Uma nova constituição, em 1946, traz a

democracia de volta a cena. Também desta época é a tomada de posição do

governo brasileiro perante um fato novo da historia mundial, a guerra fria.

Rompe-se o relacionamento diplomático com a URSS e fecha-se o partido

comunista, sendo cassados todos os elementos que haviam sido eleitos Por essa

legenda.

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O estado populista conhece uma grave crise no governo seguinte, quando

Vargas retorna ao poder. Durante todo o período a oposição cria uma frente

contra Getulio, no que é apoiada por alguns jornais. A partir do momento que o

Presidente toma atitudes de nacionalismo econômico tais como: A criação da

Petrobrás, a tentativa da criação da eletrobrás, as medidas tendentes a controlar

as remessas indevidas de lucros das companhias estrangeiras, a verificação das

fraudes de super faturamento nos valores das mercadorias que o país importava,

a oposição se avoluma.

Em Agosto de 1954, os acontecimentos se precipitam, após o atentado ao

jornalista Carlos Lacerda, tramado pelo guarda costas de Vargas. Este nada sabe,

mas a imprensa não perde a ocasião para acusa-lo de responsável. Sua renuncia é

exigida e até mesmo os ministros militares pressionam para que tal fato

aconteça.

Vendo-se só, Vargas prefere o caminho do suicídio, que é a sua grande

vitória. A comoção que toma conta do país transforma-se em consciência da

realidade, quando “a carta testamento“ ao presidente é conhecida. Os opositores

são obrigados a recuar, devido ao impacto que o fato provocou.

A crise se torna aguda, no intervalo até a posse de Juscelino. Sua eleição

é vista como continuação do populismo e a oposição ressurge, tentando evitar a

posse do candidato eleito. Somente a intervenção decisiva do Marechal Lott,

ministro da guerra, consegue evitar que o golpe contra as instituições aconteça,

em novembro de 1955.

Dentro da crise porque passa o Estado populista, o governo JK é um

hiato de tranqüilidade. Dotado de grande simpatia pessoal e de uma

extraordinária capacidade de conciliação, o novo presidente consegue contornar

algumas crises que surgem em seu mandato e leva a todo país a pensar em

termos de desenvolvimento econômico.

A decadência do populismo acentua-se no quadriênio seguinte, visto que

o novo presidente Jânio Quadros, eleito com uma votação estrondosa, não

permanece no poder mais que sete meses, apresentando sua renúncia em agosto

de 1961.

O governo Jânio é bastante contraditório, governando em 1961, época

crítica no cenário mundial devido aos conflitos entre EUA e URSS, ele tenta

realizar uma política externa independente, no mesmo tempo em que ameaça de

nacionalização algumas poderosas empresas estrangeiras. São medidas que

trazem perplexidade a todo país e que culminam a vinte e cinco de agosto,

quando Jânio renuncia, alegando pressões de “forças ocultas”.

A confusão que se segue é enorme. O vice-presidente, João Goulart, se

encontra na China, os ministros militares opinam contrariamente a sua volta; o

congresso e alguns governadores exigem que a constituição seja respeitada, o

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país está à beira da guerra civil. A solução conciliatória é uma emenda à

constituição estabelecendo o parlamentarismo.

Aplicação do novo sistema, no entanto, não consegue o êxito almejado e,

em 1963, após um plebiscito, volta-se ao presidencialismo.

Fala-se muito em reforma de base, tais como a reforma agrária. No

entanto elas não surgem. A oposição a Goulart é visível. Radicalizam-se os

ânimos. Os grupos conservadores acusam o presidente de aderir ao socialismo;

os grupos de esquerda não se conformam com a lentidão do presidente. Ele

queda solitário, sem apoio de lado algum.

A inabilidade de Goulart, somada a confusão em que vive o país e aos

problemas econômicos, levam ao movimento contrário: Em 31 de março de 1964

o general Olímpio Mourão Filho dirige um pronunciamento contra o presidente,

no que é apoiado pelas forças armadas, no dia seguinte tudo se consuma. Goulart

é deposto. Chega ao fim o estado populista no Brasil.

A vida política no Brasil se modifica amplamente a partir do movimento

de 1964. Em nove de abril é editado o ato institucional número 1, o qual

mantém a constituição de 1946 em vigor; marca as eleições presidenciais para

onze de abril; estabelece normas para projeto de emenda constitucional e

projetos de lei relativo a despesa pública; outorga poderes ao presidente para

decretar estado de sítio; suspende as garantias de estabilidade e vitaliciedade;

estabelece normas para punição de funcionários públicos e a cassação de

mandato.

Com o ato institucional nº 2, todos o partidos políticos existentes são

instintos, e através da lei orgânica dos partidos, dois novos são formados: A

Arena (Aliança Renovadora Nacional) onde se reúnem os elementos

situacionistas, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), de oposição.

Assim é que, no primeiro período, a classe política é bastante sacrificada

com as cassações de mandatos, que desfigura bastante o poder legislativo. É a

época da “linha dura”: Em nome do combate a subversão e a corrupção, centenas

de elementos são cassados, aposentados ou processados, mantendo os políticos

em constantes sobressaltos.

O ciclo de crescimento econômico e de aparente prosperidade que se

iniciou em 1967 e se prolongou até 1973, crescimento e modernização que não

beneficiava as classes trabalhadoras. Pelo contrário, quanto mais o País crescia,

tanto mais piorava a vida do povo.

O governo de Costa e Silva e, sobretudo o governo Médici

caracterizaram-se pelo chamado “milagre econômico”, cuja paternidade

costumava a ser atribuída ao ministro da fazenda desses dois governos: Delfin

Neto. O ministro Delfin Neto dizia que era para o povo ter paciência: “Temos de

esperar o bolo crescer para depois distribuir os pedaços”.

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Grande parte da Classe Média até que gostava daquilo tudo. Afinal, a

ditadura, além de modernizar a indústria de base, estimulou a de bens de

consumo duráveis. A família de classe média se realizava existencialmente

comprando TV em cores, aparelhagens de som, automóveis, eletrodomésticos. E

até a classe operária foi arrastada nesse processo de crença na ascensão social

baseada na aquisição de bens de consumo.

O “Milagre Econômico” assentou-se em duas bases: De um lado, o

endividamento externo para a obtenção de tecnologia estrangeira; de outro, a

concentração de renda para criar um mercado consumidor daqueles produtos.

Segundo os cálculos do Sociólogo Fernando Henrique Cardoso, no ano

de 1970, o mercado de consumo para os eletrodomésticos e automóveis era

constituído por, aproximadamente, cinco milhões de pessoas de altíssima renda e

mais uns 15 milhões que puderam participar, Bem ou Mal, do “Consumismo”

graças à expansão do crédito ao consumidor. Desta forma, o mercado ganhou

uma forma concêntrica, de que a grande maioria da população se encontra ainda

hoje, excluída. Daí a denominação, dada pelo próprio Fernando Henrique

Cardoso, de “industrialização excludente” ao Modelo Econômico.

O “Milagre Brasileiro” teve ainda uma outra face, igualmente terrível,

pois comprometeu a própria soberania nacional. Trata-se da crescente dominação

de nossa economia pelas multinacionais, através do crescente e inquietante

processo de endividamento externo. O modelo se esgotava e a crise chegava

mais rápida.

O novo General Presidente, Ernesto Geisel assumiu o governo num

momento difícil da economia do Brasil e do Mundo. Para alimentar o

crescimento, ele pediu emprestado aos banqueiros estrangeiros e tratou de emitir

Papel-Moeda. A inflação começou a aumentar e engolir salários. Era o fim do

“Milagre Econômico”. O crescimento da insatisfação ficava claro com o

aumento de votos do MDB e os resultados nas eleições para Deputado Federal e

estadual e para o Senado, em 1974 e 1978, o MDB teve ótima votação.

O Presidente Geisel apostava na distensão lenta e gradual. Para isso, usou

de habilidade para derrubar seus opositores.

Em 1978, no último ano do governo Geisel, as Forças Populares e

Democráticas em fim se colocaram em cena. Emergiram com as greves em maio

daquele ano, na Região do ABCD Paulista onde cerca de 100 mil operários

Metalúrgicos cruzaram os braços, exigindo melhores salários. Lideres Sindicais,

como Luiz Inácio da Silva (Lula) ganharam então grande Notoriedade.

A Eleição e a posse do General Figueiredo deram-se num contexto de

alargamento do debate Político, marcado pelo fim do famigerado AI-5. Na

verdade, a ditadura encontrava-se em declínio. A crise econômica: Inflação,

diminuição do crescimento econômico, aumento da pobreza. Foi só o governo

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Geisel abrandar a censura para que os escândalos de corrupção no governo

começassem a aparecer.

Uma grande esperança nasceu nos primeiros meses do governo

Figueiredo. O otimismo que o avanço da forças democráticas autorizava não

dava razão, entretanto, para uma esperança demasiadamente eufórica, não só

porque o “Modelo Econômico” persistia, e com os mesmos homens em sua

direção, mas também porque o AI-5 foi substituído pelas “Salvaguardas” e pelo

“Estado de Emergência”.

Em nenhum momento do regime a oposição Democrática se calou.

Todavia a partir de 1975, essa oposição passou a atuar de outro jeito. Não eram

mais estudantes jogando pedras para enfrentar a Polícia como nas memoráveis

passeatas de 1968, nem eram meia dúzia de guerrilheiros cutucando a onça

blindada com uma vara curta. Agora a luta contra o regime ainda tinha o mesmo

ardor, o mesmo idealismo, só que com maturidade, com substância. O segredo

era a mobilização da Sociedade Civil.

O quinto e último General-Presidente do regime Militar, João Batista

Figueiredo, assumiu o poder com o aparente propósito de restabelecer a

democracia. A crescente impopularidade fazia do regime Militar algo

insustentável.

Mas bastasse que o governo desse alguns tímidos sinais em favor da

democracia para que os setores mais radicais, supostamente compostos por

Militares ligados à “Comunidade de Informações”, começassem a agir com

violência.

Os episódios sangrentos do segundo semestre de 1980 e início de 1981

não estão, até hoje, plenamente esclarecidos. Conforme notícias veiculadas, os

vários atentados foram praticados por forças Policial-Militares comprometidas

com a repressão, a tortura e o assassinato de presos políticos. Segundo se

conjeturou, tais forças agiram por temor ao revanchismo, que julgavam

inevitável com a restauração do estado de direito e da democracia.

A processo de redemocratização do Brasil

O governo falava em abertura, mas criava artifícios para manter o

controle da situação. A Ditadura Militar tinha a participação ativa de muitos

civis, incluindo empresários, administradores e os políticos da Arena. Para

dividir as oposições, Figueiredo baixou a nova Lei Orgânica dos Partidos (1979)

que acabava com a divisão Arena e MDB. Foi assim que nasceram cinco novos

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partidos políticos: O PDS (Partido Democrático Social) é a antiga Arena

disfarçada, constituída dos Políticos que apoiavam a Ditadura. Ele foi concebido

no bojo da reforma partidária planejada pelo falecido ministro Petrônio Portela,

logo no começo do governo Figueiredo e o seu padrinho de crisma foi o então

todo-poderoso ministro Golbery do Couto e Silva, a maquiavélica inteligência

política de larga influência em todo o governo militar. General Golbery que

maquinava trocar os sinais, inverter as marcas partidárias do PSD.

O PDS começou a ser imaginado no final do governo Geisel, quando as

preocupações com a distensão do regime, dentro da fórmula caracterizada pelos

três adjetivos clássicos: lenta, gradual e segura. Geisel começou a abrir de fato

quando acabou com a censura à imprensa e deu um basta na tortura. Cedeu

terreno para uma composição que ajeitasse a casa.

Em pleno governo Figueiredo, quando a distensão foi substituída pela

abertura e passou de uma concessão do sistema, avalizado pelo presidente

Ernesto Geisel a um compromisso, um juramento do João.

O senador José Sarney, que presidia a Arena e herdou o PDS, queria que

o nascituro assumisse, descaradamente, o seu papel e comparecesse ao registro

civil para assinar o nome PPB, partido do povo brasileiro, Golbery não quis

chegar a tanto. Mas a sigla PDS foi armada com o confessado propósito de

exorcizar as parecenças udenistas que malsinaram a Arena, insinuando as

lembranças e os parentescos com o PSD, partido de sabedorias velhacas,

agarrado ao poder, muito mais autêntico e competente no seu amor ao governo.

O PDS, como o PSD, vota o que o governo manda. Como o PSD ou

como Arena.

O PMDB, que já foi um movimento, uma frente e que hoje é partido até

no nome por força da legislação episódica, manipulada pelo governo, muda, mas

não acaba. Não acaba porque está embutido numa grande manobra de

conveniências pela qual transita a política brasileira.

Em qualquer ponto que se corte a história desse partido, se inscreve entre

as regras de um jogo. De azar. Assim, a cada etapa seguinte: um sabe que pode

perder pouco; o outro sabe que não pode ganhar muito. Se a banca quebrar, o

jogo acaba. Não interessa a nenhum dos dois.

Um exercício penoso que se repete desde 1965, quando o AI-2 dissolveu

as 13 siglas partidárias existentes no governo Castelo Branco. Os órfãos dessa

operação, agrupados em minguados blocos, abrigaram-se no movimento

democrático brasileiro, como único referencial partidário capaz de enfrentar a

ameaça do governo fazerem os políticos da oposição descerem pelo ralo.

Presidido na criação pelo combativo senador Oscar Passos (fundador do

não menos combativo PTB do Acre) e, com a morte de Passos, pelo pessedista

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Ulisses Guimarães (deputado federal desde 1951 e tão flexível que permaneceu

na presidência até sua morte).

Com Figueiredo no governo, a anistia que trouxe de volta os cassados e o

pluripartidarismo, o PMDB assistiu à evasão de vários quadros importantes, mas

continuou sendo o mais numeroso partido da oposição. Quando Figueiredo

estendeu uma das mãos, depois a outra, e acusou a oposição de não toma-las

entre as suas, o PMDB respondeu que estavam vazias. E haja retórica, pois ao

governo interessava enfraquecer o adversário, jamais tê-lo ao seu lado.

Incorporado o partido popular, o PMDB parecia reforçado para ganhar novos

espaços.

O PTB ressurgiu, mas não nos termos sonhados pelos herdeiros políticos

de Getúlio Vargas e João Goulart. A grande maioria dos sobreviventes do PTB

estava incluída nos quadros do PMDB. Leonel Brizola ainda no exílio, iniciou

uma articulação para a ressurreição do PTB, mas encontrou duas dificuldades. A

primeira a iniciativa da ex-deputada Ivete Vargas de formar ela mesma o partido

e conter dentro do esquema definido o ex-governador do Rio Grande do Sul. A

segunda, a resistência do senador Pedro Simon, que organizara a oposição

gaúcha em torno do PMDB.

Na realidade o PTB era anteriormente um partido de base gaúcha, de

quadros gaúchos, de comando gaúcho. Expandiu-se no Rio no período de João

Goulart, graças ao pacto com os partidos de extrema esquerda, mas jamais se

consolidou em São Paulo, em Minas e em outros estados importantes. Surgia

aqui e ali como força marginal, beneficiando-se de alianças.

A justiça eleitoral registrou o partido organizado por Ivete Vargas e,

depois de uma anulação de registro, revalidou-o. A legenda definitivamente fora

das mãos de Brizola e dos trabalhistas históricos. Mas a ex-deputada organizou

assim mesmo o partido com resíduos trabalhistas, que foram se dispersando, seja

para aderir ao brizolismo, seja para aderir ao PMDB. Mas Ivete não desistiu e

agindo com oportunismo conseguiu recompor quadros políticos com gente que

não abrira espaço nas legendas existentes. Três adesões foram decisivas para

gerar o novo PTB: Jânio Quadros, em São Paulo, que no passado teve apoio de

todos os partidos menos do PTB, Sandra Cavalcanti, herdeira do lacerdismo, e

Paulo Pimentel, egresso do sistema de Ney Braga, fundador e secretário geral do

PDC. Com isso, o PTB ganhou viabilidade eleitoral, mas perdeu vínculo com o

passado.

“Um partido é como uma estrada. Primeiro abre-se uma picada. Depois,

vêm os sinalizadores. Mais tarde, chega a turma da terraplanagem. Em seguida,

coloca-se o asfalto. Só então chega o pessoal que usa a estrada”. A receita é do

ex-governador Leonel Brizola. Do projeto monumental que desembocava num

PTB capaz de atender os reclamos de uma sociedade em constante mutação,

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apoderou-se a advogada Ivete Vargas. E ao ex-governador do Rio Grande do

Sul, no verão seguinte, só restou uma saída: abrir, com resignação, nova picada.

A persistência de Leonel Brizola assusta seus adversários e críticos. É

uma das principais constantes de sua intensa atuação política, que se volta, de

maneira aplicada, para abertura cada vez maior de novos espaços. Sabem todos,

que superando adversidades, de picada em picada, ele acabará, qualquer dia

desses, abrindo realmente uma grande estrada partidária. O PDT, partido que foi

obrigado a improvisar ao perder o PTB para Ivete Vargas. À primeira vista, o

programa do PDT (partido democrático trabalhista) parece voltado com

exclusividade para atração das minorias marginalizadas pelos partidos maiores.

Único partido a reivindicar e a usar a cadeia nacional de rádio e televisão para

debater o seu programa, o PDT pode expor com bastante clareza, no início tudo

o que propõe. E se havia preocupação dos seus lideres com os problemas do

índio, da mulher, do negro, do menor, do jovem e do trabalhador, ficou claro, na

ocupação dos espaços de centenas de veículos de comunicação de massa, que

Brizola e o seu partido também tinham compromissos com um elenco de

reformas políticas e sociais. A proposta do PDT passa, em suma, pela

convocação de uma Assembléia nacional constituinte.

Nos dez estados que concentram 80% dos eleitores brasileiros, a presença

do PDT não chega a ser empolgante, mas se instaura com sucesso no Rio Grande

do Sul e no Rio de Janeiro onde mostra quadros mais atuantes, formados em

grande maioria, por políticos testados nas urnas. A implosão do PMDB, depois

de receber os egressos do extinto PP, deu ao partido de Brizola uma liderança

importante: a do senador Saturnino Braga. Saturnino levou, pelo menos, para o

PDT, um carisma de muita seriedade e um pequeno, mas unido grupo de

técnicos.

Em São Paulo, Teresinha Zerbini, a líder dos principais movimentos pela

anistia, disputada por todos os partidos da área de oposição, acabou optando pelo

PDT. Ela representava, como outros quadros não comprometidos com o passado

político do país, as esperanças de Brizola para chegar à democracia social que

conheceu em suas viagens pela Europa.

A idéia de uma proposta partidária, que possa, passando pelo

trabalhismo, desaguar no socialismo democrático, nasceu naturalmente, nos

longos contatos com Mário Soares e Willy Brant.

A concepção de Brizola, e por conseqüência a do PDT quanto às

fórmulas para uma reorganização mais criteriosa da sociedade brasileira pode

pecar, em certos aspectos, pela inocência.

Os metalúrgicos do ABC, interessados em canalizar politicamente sua

batalha anual das greves, haviam resolvido criar um partido próprio. O partido

dos trabalhadores nasceu com força inesperada, o descontentamento da esquerda

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urbana brasileira com as posições do partido comunista e o fascínio exercido por

seu principal militante, o líder metalúrgico Luiz Inácio da Silva, cujo apelido

Lula, tornou-se marca conhecida nacionalmente.

Entre o partido proposto pelo deputado Benedito Marcílio, líder sindical

eleito graças ao apoio da convergência socialista, e o construído por Lula e seus

companheiros. O PT é o único partido na história da política nacional que não

nasceu de articulações de cúpula, mas surgiu de esforço partindo da base para o

topo. A organização do partido tem sólidas raízes plantadas na desilusão da

classe operária especializada do ABC paulista com o populismo dos anos 60. Os

metalúrgicos deixaram o campo atrasado e participaram do processo

desenvolvimentista de JK, sem vislumbrar a mão que afaga do estado varguista,

mas apenas o braço que apedreja do quase onipotente aparelho estatal montado

depois de 1964. Daí, as origens do PT repousarem na luta pela autonomia

sindical, contra a interferência paternalista do estado na disputa entre patrões e

empregados. A ideologia petista adicionou-se o socialismo marxista aprendido

na Universidade por intelectuais como Francisco Weffort ou lideres radicais

egressos das chamadas “classes dominantes” como o ex-estudante Wladimir

Palmeira, misturou-se à experiência de luta de um velho militante comunista

como Apolônio de Carvalho para moldar, de forma decisiva, o discurso do PT.

Já o caráter da organização petista, baseado nos núcleos, uma forma de

tomar decisões de baixo para cima, é evidentemente uma experiência aprendida

pelos líderes sindicais na greve de 1980, quando a prática política das

comunidades eclesiais de base serviu de forma de sustentação ao movimento

paredista operário, em termos de organização. Quando abrigou os lideres

sindicais escorraçados do sindicato pelo ministério do trabalho, a igreja provou a

superioridade de seus métodos de organização e a presença constante de seu

agente, Frei Beto, na casa do líder maior do movimento, Lula, deu consistência

de doutrina a esses métodos.

A ex-freira Irmã Passoni, a atriz Bete Mendes, o promotor Hélio Bicudo,

o escritor Jorge Andrade e o ex-estudante de sociologia que liderou a selvagem

greve de Osasco em 1968, José Ibrahim, são pedras de um mosaico

contraditório, mas vivo.

Ainda houve um partido de existência efêmera, o PP (Partido Popular),

que tinha pouco de popular, já que sua liderança estava nas mãos de grandes

banqueiros e políticos tradicionais como Tancredo Neves. Mas como a Lei

eleitoral de 1982 obrigava a votação de todos os candidatos (De vereador a

governador) do mesmo partido, o PP acabou se fundindo ao PMDB.

Com o restabelecimento dos partidos, concomitantemente, em 1982,

realizaram-se as eleições diretas para governador, a oposição obteve vitórias

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espetaculares: Franco Montoro (PMDB-SP), Leonel Brizola (PDT-RJ) e

Tancredo Neves (PMDB-MG), embora tenha perdido no Rio Grande do Sul.

Apesar do visível esgotamento do regime e de sua impopularidade, os

militares pretendiam continuar no poder. Contra essa possibilidade, em

novembro de 1983 foi lançada a campanha das Diretas para Presidente.

Praticamente o País inteiro tomou parte, lutando pelo direito de votar para

Presidente. Nos últimos comícios, no Rio de Janeiro e em São Paulo reuniram-se

milhões de pessoas. Foram as maiores manifestações de massa da História do

Brasil.

Não bastou toda essa demonstração de inconformidade do povo com o

regime Militar. No dia 25 de Abril de 1984, a Emenda Dante de Oliveira foi

rejeitada no Congresso Nacional. Não adiantou a união dos Partidos de oposição.

O PDS, Presidido por José Sarney, manteve-se coeso e fiel à Ditadura e

derrotou a emenda. Dava para botar o povo de novo na rua para protestar e exigir

uma nova votação. Mas a cúpula do PMDB já estava armando um acordo com

políticos descontentes do PDS. Praticamente só o PT, ainda pequeno, protestou

contra a armação.

A liderança do PMDB, tendo Tancredo Neves como candidato a

Presidência, passou a concentrar toda sua força política no colégio eleitoral,

defendendo as eleições indiretas. Tancredo Neves começou a se preparar para

enfrentar, na eleição indireta o candidato do PDS, Paulo Salim Maluf.

A obstinação com que Maluf lançou-se como candidato a Presidência

pelo seu partido impondo humilhantes derrotas a Mário Andreaza, minou a

unidade do PDS, muitos perceberam que não dava para Maluf. Liderados pelo

Senador José Sarney e pelo Vice de Maluf, Aureliano Chaves, não mais disposto

a suportar a situação criada pela obstinação de Maluf, passaram a comandar uma

poderosa dissidência do PDS, formalizando em julho de 1984 a frente liberal que

no colégio Eleitoral apoiaram Tancredo Neves.

O acordo entre o PMDB e a frente liberal deu origem a Aliança

Democrática que se expressava na candidatura de Tancredo Neves a Presidente e

de José Sarney a Vice-Presidente. Esta súbita transformação do Presidente do

PDS em candidato a Vice-Presidente na chapa do partido de oposição, o PMDB,

os políticos brasileiros costumavam atribuir ao “Caráter Dinâmico” do processo

político. Graças a cisão do PDS, Tancredo Neves conseguiu reunir maioria no

colégio eleitoral, batendo facilmente Maluf na eleição indireta de novembro de

1984.

Entretanto no dia 14 de março de 1985, um dia antes de sua posse, o

Presidente eleito foi submetido às pressas a uma operação no hospital de base de

Brasília. Depois de 39 dias de internamento, Tancredo Neves faleceu em 21 de

Abril de 1985, no Instituto do Coração em São Paulo, para onde havia sido

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transferido. As condições e as circunstâncias que envolveram tais

acontecimentos suscitam dúvidas até hoje na cabeça do povo brasileiro.

Por ironia da História, a nova “República” como Tancredo batizara o

período que iria começar o seu mandato, acabou tendo como Presidente: José

Sarney. Exatamente o ex-líder do regime no Senado. A tragédia da história se

repetia como Farsa.

O homem entrou na Presidência pelos Fundos: Líder do PDS até a última

hora, quando pulou para o PMDB, queria mostrar para o Brasil que tinha se

convertido a Democracia. O problema é que seu Governo era apoiado pelo

PMDB em aliança com um PFL cheio de gente que foi do PDS cada um deles

exigindo cargos. E Sarney usaria seu coração e o bolso do contribuinte para

nomear todo mundo.

Tancredo Neves, ao formar a equipe ministerial, nomeou Francisco

Dornelles como ministro da Fazenda. Esta indicação desagradou profundamente

os economistas do PMDB, afinal, Dornelles era um fiel aliado de Delfim Neto.

Além disso, entre João Sayad, da secretaria de planejamento, e Dornelles não

havia nenhuma identidade de princípios.

Em agosto de 1985, Dornelles se demitiu, e Sarney o substitui pelo

empresário Dílson Funaro que trouxe consigo os economistas da USP que há

anos vinham criticando o modelo econômico instaurado pela Ditadura Militar.

Contudo, decorridos alguns meses, a inflação ao invés de ser debelada,

disparou. Em fevereiro de 1986, de surpresa, foi desencadeado um vigoroso

plano de estabilização econômica a fim de acabar com a inflação. Os preços

foram congelados, e o cruzeiro foi substituído pelo cruzado. Quanto aos salários,

ficou estabelecido que seriam reajustados quando a inflação atingisse 20%.

A adesão da população ao Plano Cruzado foi imediata. Com a lista dos

produtos tabelados e uma pronta atuação contra as remarcações de preços, a

inflação não tinha por onde escapar. Para uma Sociedade que convivia com uma

inflação crônica, o congelamento trouxe duas conseqüências imediatas: A

explosão do consumo e o desestimulo a poupança.

O governo estava fazendo tudo para manter o congelamento, que a final

deu ao Presidente Sarney um alto índice de popularidade (92% de aprovação, em

1986). Indiretamente isso favorecia ao PMDB, partido de Sarney e economistas

do plano cruzado. Manteve-se o congelamento, sem nenhuma medida que

corrigisse as distorções, com vistas às eleições de novembro de 1986. A tática

funcionou: O PMDB elegeu 22 governadores, com exceção do estado de

Sergipe, e 54% das cadeiras do Congresso.

Imediatamente depois das eleições, o governo lança o Plano Cruzado II,

com as seguintes medidas: Liberação de alguns produtos do congelamento;

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elevação de 80% dos preços dos automóveis, aumento das tarifas de energia

elétrica, telefone e correio e aumento dos impostos sobre cigarros e bebidas.

Nos primeiros meses de 1987 o Plano Cruzado já mostrava sinais de

evidente fracasso: A inflação saltou de 6,37% em agosto de 1986, para 14,4%

em maio de 1987. O gatilho salarial começou a ser disparado para todos os

trabalhadores, complicando ainda mais o quadro econômico.

Incapaz de solucionar os problemas que se acumulavam, Dílson Funaro

demite-se, para o seu lugar foi indicado o economista e empresário Luis Carlos

Bresser Pereira. Em julho de 1987 a inflação atingiu a cifra recorde de 26%. O

novo ministro lançou o Plano Bresser que incluía congelamento de preços por

dois meses; aumento de tarifas e impostos; cancelamento de grandes obras

públicas, extinção do gatilho salarial.

O fracasso dos planos econômicos parecia ter conferido ao governo

Sarney maior prudência em relação a novos choques econômicos.

Maílson da Nóbrega Sucessor de Bresser ateve-se, ao longo de 1988, a

uma Política sem Lances espetaculares, que, por isso foi denominado arroz-com-

feijão. Já no final de 1988 eram insistentes os boatos de um novo choque

econômico, que, de fato, se concretizou em 15 de janeiro de 1989, com o Plano

Verão. Foi criado o “Cruzado Novo” com o corte de três zeros do Cruzado

Velho. A sociedade, depois de tantas decepções, não se mostrou receptiva, e o

Plano Verão, como os anteriores, também fracassou.

Durante o governo Sarney, parecia que os tempos autoritários estavam

sendo deixados para trás. Os partidos comunistas (PCB e PC do B), foram

legalizados e elegeram alguns deputados, no entanto os votos da esquerda cada

vez mais se dirigiam ao PT.

As Forças Políticas em confronto em novembro de 1986, ano do

lançamento do Plano Cruzado, as eleições para a renovação da Câmara dos

deputados e de dois terços do Senado, resultaram na vitória estrondosa do

PMDB. Os deputados e senadores eleitos tinham uma tarefa importante: Redigir

uma nova Constituição em Substituição à da Ditadura Militar, outorgada em

1967, desde o início dos trabalhos, a Constituinte se dividiu em dois grupos de

Políticos. De um lado, o bloco progressista, formado por parlamentares dos

partidos de esquerda (PT, PCB, PC do B) e de centro esquerda (PDT e um

pessoal do PMDB que, na maioria depois fundaria um novo partido, o PSDB).

Do outro lado, o bloco do “Centrão”, formado por políticos conservadores (no

Brasil, a direita tem vergonha e gosta de se dizer de centro), basicamente do

PFL, PDS, PL, PTB e vários do PMDB.

A oportunidade de criar uma nova ordem constitucional trouxe inúmeros

interesses conflitantes que podem, em rigor ser reduzidos a dois pólos: Os

interesses dos empresários e os interesses dos trabalhadores.

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A nova Constituição foi finalmente promulgada em 5 de maio de 1988

em suas disposições transitórias, ela previa, entretanto, a sua revisão e a

definição, por um plebiscito, da forma e no sistema de governo: República ou

Monarquia e Presidencialismo ou Parlamentarismo. A Constituição de 1988

consagrava as liberdades tradicionais com o fim da censura prévia e condenava a

tortura.

Depois de 29 anos, finalmente os brasileiros puderam exercer o direito de

escolher o Presidente da República. As eleições foram realizadas em dois turnos.

As primeiras pesquisas de 1989 apontavam a liderança das candidaturas de

Brizola (PDT) e de Lula (PT). A possibilidade de um governo de esquerda era

bem concreta e naturalmente assustou o empresariado. Quando apareceu o

caçador de Marajás, Fernando Collor de Mello. Veio quase como que do nada e,

de repente, as pesquisas o apontavam como favorito para vencer as eleições

presidenciais de 1989.

Collor nasceu em família tradicional, neto de Lindolpho Collor ministro

de Getúlio, filho do Senador Arnon Mello (UDN), conhecido por ter assassinado

a tiros um colega durante uma sessão do congresso. Collor foi prefeito de

Maceió na época do regime, como Deputado do PDS, no colégio eleitoral votou

em Paulo Maluf contra Tancredo Neves. Quando os tempos mudaram Sarney

saiu do PDS e foi para o PMDB e Sarney, após a morte de Tancredo, tornou-se

Presidente Collor oportunamente foi para o PMDB, aproveitando o entusiasmo

do plano cruzado elegeu-se governador de Alagoas. Com vistas à presidência

montou um esquema publicitário, perseguir funcionários públicos com altos

salários, os chamados marajás. Os jornais do País não poupavam elogios ao

jovem governador que “combatia a corrupção”.

O vencedor disparado do primeiro turno das eleições presidências de

1989 foi Fernando Collor. A emoção ficou por conta do segundo lugar, para ver

quem iria disputar o segundo turno com Collor, Brizola ou Lula, Mário Covas

ficou em quarto lugar.

Leonel Brizola (PDT) teve resultados excepcionais no Rio Grande do Sul

e no Rio de Janeiro, estados onde tinha sido governador. O PT de Lula era

organizado em quase todo País. Em 1988 já tinha mostrado sua força elegendo

prefeitos em diversas cidades importantes do País. Sua grande força são os

militantes do PT, geralmente estudantes e sindicalistas que trabalham de graça,

só por idealismo, o socialismo não era mais visto como uma coisa do diabo,

resultado: Lula venceu Brizola por uma leve vantagem.

No segundo turno, Brizola falou em “Engolir o sapo barbudo” e apoiou

Lula com sinceridade transferindo muitos votos para o candidato petista, além do

PSB e do PC do B, Lula tinha agora o apoio do PCB de Roberto Freire e até dos

tucanos do PSDB, apesar de esses últimos terem ficado meio em cima do muro.

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Collor recebeu apoio dos empresários e da poderosa Rede Globo, resultado,

Collor venceu as eleições. Vitória apertada, mais que aliviou a classe dominante.

Durante toda campanha, Collor acusou Lula de querer confiscar o

dinheiro das cadernetas de poupança. Pois assim que assumiu a Presidência

ordenou que o dinheiro fosse bloqueado. Ninguém poderia sacar além de uma

certa quantia e o governo só devolveria o dinheiro depois de um ano, em

prestações.

A ministra da economia Zélia Cardoso de Mello comandava as mudanças

econômicas. Ela acabou com o cruzado e fez a moeda voltar cruzeiro, os preços

foram congelados, embora os aluguéis, as mensalidades escolares e as tarifas

elétricas continuassem sendo reajustados.

O projeto econômico do governo Collor era apoiado no neoliberalismo.

As empresas multinacionais passaram a ser responsáveis pela maior parte do

volume de produção e comércio do mundo. O que significava que os

investimentos no estrangeiro eram cada vez maiores e a economia se tornava

globalizada, o volume de capitais gerados pelas empresas superou o que estava

nas mãos do Estado o que incentivava a privatização de empresas estatais. A

concorrência entre Europa Ocidental, Japão e EUA exigiu um aumento da

eficácia na produção e uma busca frenética por novos mercados.

O efeito do choque, contudo, foi superficial embora tenha baixado a

inflação de 84,3% em março para 7,87% em maio, já em dezembro de 1990 ela

retornou a casa dos 18,3% por isso em fevereiro de 1991, um novo choque foi

desencadeado: com um outro congelamento de preços e salários, prefixação dos

juros, o plano Collor II. Também se mostrou sem resultados.

A essa altura, já era público e ruidoso o romance entre a ministra da

economia Zélia Cardoso de Mello e o ministro da justiça Bernardo Cabral. Este

já havia se demitido em outubro de 1990. Quando a ministra, cuja credibilidade à

frente da economia estava em jogo, também ela, tomou o mesmo caminho, em

maio de 1991, sendo substituída pelo diplomata Marcílio Marques Moreira. O

novo ministro descartou novos choques, preferindo enfrentar a inflação com uma

política abertamente recessionista, mediante a elevação dos juros.

Collor não teve tempo de concluir seus trabalhos. No meio do seu

mandato as denúncias de corrupção acabaram por afasta-lo do poder. A

utilização do cargo para obter, para si ou para outrem, vantagens materiais

caracteriza a corrupção política. O governo Collor mostrou-se pródigo nessa

peculiar especialidade.

Toda rede de corrupção era formada mesmo, segundo se supõe por

Collor e PC Farias a princípio, embora ninguém desconhecesse, a atuação

desenvolta de Paulo César Farias em nome de Collor, pelos meandros do poder,

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a resignada aceitação do fato pela sociedade refletia apenas a tradição de

impunidade que reinava em casos semelhantes.

A publicação de uma explosiva entrevista na qual Pedro Collor, irmão do

Presidente, na revista Veja em maio de 1992, denunciou o envolvimento do ex-

tesoureiro de campanha, PC Farias e do Presidente em atos de corrupção.

As denúncias de Pedro Collor tinham a sua origem, conforme noticiou a

empresa, numa disputa familiar. PC Farias, sob as ordens do Presidente,

anunciava o lançamento do Jornal Tribuna de Alagoas, em concorrência direta

com a Gazeta de Alagoas pertencente a família Collor e dirigida, justamente, por

Pedro Collor. As denúncias foram feitas, aparentemente, para inviabilizar o

empreendimento rival.

A repercussão das denúncias não deixou alternativa aos Parlamentares

senão criar uma CPI para a apuração do caso. A opinião do ministro Bornhausem

refletia o ceticismo geral: “Não vai dar em nada”, disse. E de fato isso parecia se

confirmar, pela falta de provas consistentes. Mas apenas até a entrada em cena

do motorista, Eriberto Freire França. Numa entrevista à revista ISTO É ele

confirmou as denúncias: Ao contrário do que alegava o Presidente, a sua relação

com o PC continuava ativa e muito estreita, pois Eriberto revelou que todas as

contas pessoais e familiares de Collor eram pagas pelo ex-tesoureiro de

campanha.

Daí para frente, com a quebra do sigilo bancário, a CPI foi desvendando,

passo a passo, a teia de corrupção encabeçada pelo esquema Collor/PC.

A reação da opinião pública, particularmente da juventude que saiu as

ruas pedindo o Impeachment, criou em fim o clima propício para a derrubada de

Collor. No dia dois de Outubro, Collor recebia a notificação que o afastava do

cargo, assumindo interinamente o Vice Itamar Franco, até a conclusão do

processo.

Collor ainda tentou várias manobras para evitar o Impeachment, mais foi

derrotado em todas as tentativas. Finalmente no dia 29 de Dezembro de 1992, no

momento em que o senado deveria concluir o julgamento, Collor apresenta sua

renúncia, numa última manobra para evitar a cassação. Inutilmente, pois o

senado decidiu dar andamento ao processo que suspendeu os seus direitos

políticos por oito anos. Assume o vice-presidente: Itamar Franco.

Itamar tinha hábitos bem mais austeros do que Collor. Não aparecia

pilotando jet-ski ou motos japonesas de última geração. No começo do governo,

a inflação disparou, temperamental, Itamar dava umas broncas, xingava

ministros na frente da Imprensa e depois ficava quieto. Trouxe de volta o antigo

fusca da Volkswagen, que o Brasil não mais produzia por ser considerado

antiquado.

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A inflação no País era uma coisa irritante, o novo presidente chegou ao

poder em condições excepcionais. Com amplo apoio político. As eleições de

1994 começaram a esquentar. Lula, do PT saiu na frente nas pesquisas de

opinião. O PT tinha feito algumas boas prefeituras e seus deputados eram

famosos pela dedicação ao trabalho Parlamentar.

O PSDB tinha algumas cartas na manga a principal era o fato de ter um

governo nas mãos: Fernando Henrique Cardoso (FHC) era o ministro no

comando da economia. O PSDB também possuía políticos com boa reputação

como Mário Covas (SP) Tasso Jereissati e Ciro Gomes (CE).

Os economistas do PSDB adaptaram os planos econômicos utilizados no

México e na Argentina a realidade brasileira, nascia o Plano Real.

A principal medida do plano foi criar uma nova moeda, o Real, que foi

equiparado ao dólar. O dólar seria a âncora, a referência absoluta para todos os

preços.

O resultado inicial foi empolgante: A inflação diminuiu, os trabalhadores

podiam comprar a crédito, porque as prestações eram as mesmas todos os meses.

Todo mundo comprando, economia reaquecida. FHC e sua equipe pareciam ter

realizado um milagre econômico. A Rede Globo voltava a dar força total para o

seu candidato, no caso, o Tucano.

O PT não percebeu a importância da queda da inflação. Seus dirigentes

chegaram a declarar que a inflação não era o maior problema do País. Foi fácil o

PSDB dizer que: “Se Lula for eleito, o Plano Real será extinto e a inflação

retornará ao Brasil”. As eleições de 1994 nem precisaram de segundo turno,

FHC venceu facilmente. Lula, em segundo lugar, veio bem depois. Nas eleições

para governador o PSDB elegeu nos principais estados.

FHC assumiu a presidência da República apoiado por uma confortável

maioria no Congresso. Praticamente todos os grandes partidos o apoiavam

principalmente o PSDB, claro, e o PFL. Na presidência do Congresso, nada mais

nada menos do que José Sarney (PMDB). O ex-presidente continuava com força

total. As exceções críticas a FHC eram o PT e PDT. Claro que isso não

significava ser fácil governar. Na verdade, toda vez que o governo queria que um

projeto fosse apoiado pelo congresso, tinha de oferecer alguma coisa em troca

para seus aliados, por mais que isso pudesse chocar o próprio FHC continuou

procedendo desta forma ao longo de todo o seu governo.

Através de negociações espúrias, FHC conseguiu aprovar a reeleição e

ainda que por mais uma vez a insatisfação popular tenha se refletido nas eleições

de 1996, nas quais os partidos de esquerda tenham obtido prefeituras

importantes, a imagem do governo e do Presidente continuavam imponentes e o

permitiram se eleger novamente Presidente em 1998, diante de uma fraca

dobradinha Lula (PT) Presidente, Brizola (PDT) Vice que ficou em segundo

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tendo Ciro Gomes ex-ministro de Itamar ficado com um terceiro lugar

concorrendo pelo nanico PPS. Eleição vencida por FHC em primeiro turno.

Ainda que tenha perdido a Presidência os partidos de esquerda

conseguiram eleger seis governadores. Estados importantes como Rio de Janeiro

e Rio Grande do Sul. O ex-presidente, Itamar Franco, apesar de no PMDB era

Ferrenho opositor de FHC elegendo-se governador de Minas Gerais e

contabilizando sete estados sob o controle da oposição.

O ano em que se iniciaram os novos mandatos refletiam a predisposição

de governadores, deputados e do Presidente em desenvolverem trabalhos e

projetos com objetivo de interferir no mapa da sucessão municipal em 2000.

Após as eleições é evidente o fortalecimento maior do partido dos trabalhadores,

que elegeu prefeitos em importantes capitais, como também, pode ficar clara a

pretensão presidencial do governador do estado do Rio de Janeiro, Antony

Garotinho, que se lançou numa corrida desenfreada por diversas cidades do País.

Após o resultado das urnas verificou-se que a hegemonia da base

governista estava ameaçada. Divergências sugiram no interior da própria base.

Durante todo período do governo FHC, ficou acertado que o PMDB e

PFL se revezariam na Presidência da Câmara e do Senado, acordo descumprido

por iniciativa do PMDB e do PSDB que elegeu Jader Barbalho (PMDB)

Presidente do Senado e Aécio Neves (PSDB) Presidente da Câmara, com vistas a

enfraquecer o PFL dentro da aliança.

O Senador Antônio Carlos Magalhães (PFL) em vistas de ser cassado

em conseqüência da violação do painel eletrônico do Congresso, junto com o

Senador José Roberto Arruda (PSDB) renunciou para não se tornar inelegível o

mesmo feito por Arruda. Tudo após uma disputa de poder entre Jader Barbalho e

Antônio Carlos Magalhães, e após sua renúncia ACM promove uma intensa

campanha para desgastar Jader Barbalho que passa a ser investigado por desvio

de dinheiro público no Banco do Pará. Quando o cerco aperta em torno de Jader

ele também renuncia, mas o PMDB mantém a Presidência do Senado.

O PFL permanece no governo, mas muitos do grupo de ACM são

afastados. Com a corrida presidencial PSDB e PMDB começam apresentar

divergências em seu interior. No PSDB a disputa é pulverizada, o adiamento da

decisão de FHC em apoiar um nome, embora demonstre simpatia por seu

ministro da Saúde José Serra, permite que alguns se sintam a vontade em lançar-

se na disputa pela vaga de candidato a Presidente, como Tasso Jereissati,

governador do Ceará, Paulo Renato, ministro da educação, e Aécio Neves

Presidente da Câmara. No PMDB a disputa é mais polarizada entre o governador

de Minas Itamar Franco e o PMDB governista.

Em meio a tantas indefinições o PFL lança a candidatura de Roseana

Sarney, governadora do Maranhão, à Presidência, através da exposição maciça

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de sua imagem no horário ao que o partido tinha direito. Colheu frutos imediatos

tendo Roseana alcançado o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto dos

principais Institutos do País.

Nos partidos de esquerda Lula do PT permanecia absoluto no primeiro

lugar das pesquisas o governador do Rio, Antony Garotinho após expressar seu

interesse em candidatar-se rompeu com seu partido o PDT, após uma disputa

pelo controle do partido, travada com seu antigo aliado, o Presidente do partido e

ex-governador do Rio, Leonel Brizola, que se contrariou com sua decisão em

disputar a presidência. Antes que a disputa se encerre, Garotinho ingressa no

PSB levando consigo um grande número de aliados e parlamentares.

O PPS, do ex-ministro Ciro Gomes, não conseguiu o crescimento que

pretendia desde a última eleição, porém atraiu o PTB de Roberto Jéferson que

mesmo fechando uma aliança, ainda beneficiava-se da proximidade do governo

FHC. Leonel Brizola ensaiou uma aliança em torno do seu PDT, Ciro Gomes e

Itamar Franco que não se efetuou devido à insistência de Itamar em permanecer

no PMDB para disputar as prévias do partido mesmo tendo sido enfraquecido

pela ala governista, que mudou as regras da convenção.

Tanto as lideranças de esquerda quanto os partidos de direita ainda

acreditam no entendimento para a formação de frentes ou alianças, embora cada

qual busque o seu fortalecimento individual.

No PPB, o ministro Pratini de Moraes lançou-se candidato a presidente

pelo partido, deixando clara a pretensão de um melhor lugar na aliança

governista.

Após um período de especulações entorno de candidaturas, e uma

disputa acirrada entre Tasso Jereissati e José Serra, o PSDB referenda o nome do

ex-ministro da saúde e agora candidato oficial à presidente da república, José

Serra, com o aval de FHC e a aceitação de Tasso Jereissati e seu grupo.

Entretanto a candidatura de Roseana Sarney já se consolidara no segundo lugar

das pesquisas e quando tudo indicava que os tucanos disputariam o eleitorado

conservador com o PFL, entra em cena a polícia federal, que numa operação que

deveria ser sigilosa, apreende no interior da empresa LUNUS, de propriedade de

Roseana Sarney e de seu marido Jorge Murad, seis milhões de dólares. A ação da

polícia recebeu cobertura da imprensa e o fato explodiu como uma bomba no

colo da família Sarney e do PFL. Roseana exigiu uma demonstração de apoio

por parte do partido ou em contrapartida renunciaria a candidatura. Depois de

anos no poder, um fato histórico, o PFL abandona o governo, enquanto isso, a

candidatura de Roseana agoniza, os canais de comunicação funcionam como

vitrine, a demora nas explicações cria um clima de instabilidade e desconfiança

dentro do PFL. Depois da derrocada nas pesquisas Roseana Sarney abandona a

disputa a presidência e prepara-se para tentar senado.

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Com a saída de Roseana, a disputa pelo 2 lugar ficou mais equilibrada,

principalmente pelo fato de José Serra, que durante todas as projeções anteriores

encontrava-se na quinta colocação patinando em torno dos 4% e 5% subiu

misteriosamente para o 2 lugar com 17%, segundo alguns institutos de pesquisa

do país.

O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, beneficiava-se do desgaste

da base governista e da troca de acusações entre lideranças e parlamentares do

PFL e do PSDB.

Ciro Gomes oficializa a frente trabalhista, constituída pelo seu partido, o

PPS, presidido pelo senador Roberto Freire, o PDT do ex-governador Leonel

Brizola e o PTB do deputado Roberto Jéferson.

Através de uma consulta feita ao tribunal superior eleitoral o deputado

federal Miro Teixeira (PDT-RJ) suscitou a verticalização das coligações, nas

quais, os partidos ficariam impedidos de fazer coligações estaduais das que

fossem diferentes das feitas a nível federal. Num primeiro momento tal medida

beneficiou a candidatura tucana, pois dificultou as negociações que se iniciavam

entre o partido dos trabalhadores e o partido liberal, que se encontrava sobre

forte influência da igreja Universal e enfraqueceu as pretensões de Antony

Garotinho em ampliar seu tempo de televisão. Contudo o PFL ensaiava uma

aproximação com Ciro Gomes no que foram rechaçados pelo senador Roberto

Freire e embora houvesse interesse dos demais membros da frente trabalhista,

com a concretização da verticalização isso não ocorreu.

Depois de uma reunião a portas fechadas, entre o ministro da fazenda,

Pedro Malan e membros da comunidade financeira internacional, alguns

representantes de bancos começaram a sugerir precauções quanto a investir no

Brasil, em função do risco da vitória de Lula do PT, tal prognóstico rendeu

críticas de todas as instâncias da sociedade, inclusive do presidente Fernando

Henrique, que em nota divulgada na imprensa, desqualificou os referidos

pronunciamentos.

Quando tudo parecia voltar a normalidade da disputa eleitoral, denúncias

de propina envolvendo Ricardo Sergio Oliveira, ex-diretor da área internacional

do Banco do Brasil é identificado como caixa de campanha de José Serra e do

presidente Fernando Henrique, abriram uma crise sem precedentes e uma guerra

de notas oficiais entre PSDB e PFL que exige a retirada da candidatura do

tucano. A crise estreitou as relações entre o PSDB e o PMDB. Os lideres do

PMDB, depois da distensão da crise, escolhem a deputada Rita Camata do

Espírito Santo para ser vice de Serra, vaga para qual, também era cogitado o

senador Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, que ao ser preterido por Rita

Camata voltou a compor com o PMDB oposicionista.

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Em Minas Gerais, depois da cúpula do PMDB nacional tê-lo impedido de

ser candidato à presidência, o governador Itamar Franco sofre novo golpe, o

PMDB do seu estado, controlado pelo seu vice, Newton Cardoso, o impede de

tentar a reeleição sendo ele Newton eleito como candidato do partido ao governo

de Minas. Com a experiência de quem aprendeu a nadar na turbulência, Itamar

Franco declara seu apoio a Lula para presidente e Aécio Neves para governador

de Minas.

Com o início do horário eleitoral gratuito, em agosto, a candidatura de

José Serra, até então desacreditada começa a dar sinais de crescimento. O que se

observa é a alternância entre o 2, 3 e o 4 lugar em que se revezam Ciro

Gomes, José Serra e Antony Garotinho, enquanto Lula permanecia absoluto no

1 lugar. Com a convicção de somente apresentar propostas e com uma postura

serena e conciliadora Luiz Inácio Lula da Silva, abria uma vantagem em relação

aos demais candidatos e dava sinais de ser possível uma vitória no 1 turno.

O candidato tucano conseguiu desconstruir a imagem de seu principal

adversário, Ciro Gomes. O candidato do PPS conheceu o céu e o inferno em sua

campanha eleitoral. Começou com pouco mais de 10% das intenções de voto, em

março. Melhorou com a exposição na imprensa, mais por causa da ajuda da

mulher, a atriz Patrícia Pillar. Porém, tropeçou na própria língua ao chamar de

“burro” o ouvinte de um programa de rádio na Bahia. Fez piada de mau gosto

com a própria mulher e obteve a rejeição do eleitorado feminino. Seus erros

foram maciçamente explorados por José Serra (PSDB), que usou recursos e o

tempo maior de exposição na televisão para mostrar as falhas. Nos debates, Serra

voltou a usar esses argumentos, contribuindo deforma decisiva para o declínio de

Ciro nas pesquisas.

Mas a estratégia não funcionou quando o ataque foi direcionado para

Luiz Inácio Lula da Silva. Os tucanos admitem que a campanha se atrapalhou

um pouco com a artilharia. Outro fator que contribuiu para prejudicar a

campanha tucana foi a crise financeira. Dinheiro houve, mas ele foi praticamente

todo para a mídia leia-se o marqueteiro Nizan Guanaes e companhia que fizeram

um programa de TV milionário. Por causa disso faltou dinheiro para investir

mais em outdoors, confecção de camisetas e apoio aos candidatos nos Estados.

Como se não bastasse todos os problemas pelos quais Ciro Gomes já

havia passado, denúncias de corrupção contra o coordenador de campanha, José

Carlos Martinez, provocaram nova queda do candidato. Logo em seguida foi a

vez das denúncias contra o seu vice, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da força

sindical, uma suspeita não comprovada de desvio de verbas do fundo de amparo

ao trabalhador (FAT). O PPS de Alagoas provocou constrangimento a campanha

de Ciro Gomes ao coligar-se com o PRTB do ex-presidente Fernando Collor,

associando a imagem de Ciro a Collor, o que foi explorado por seus adversários,

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sendo necessária a intervenção do presidente do partido, o senador Roberto

Freire, para que o apoio do PPS não se concretizasse.

A baixa representatividade política nacional do PSB e o pouco tempo nos

programas de TV, não impediram Antony Garotinho de surpreender seus

adversários. A queda de Ciro colocou Garotinho novamente no páreo para

disputar o segundo turno.

A hesitação de Serra em admitir que era o candidato do governo custou-

lhe caro, o presidente Fernando Henrique só decidiu entrar firme em sua

campanha a poucos dias da eleição.

O sereno e sorridente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tentava, pela

quarta vez obter o aval das urnas para chegar ao palácio do planalto, estava longe

do candidato sisudo e radical, que em 1989 assustava parte do eleitorado. Treze

anos se passaram e, coincidência ou não, o numero 13 do candidato não sai do

primeiro lugar da pesquisa de intenção de voto.

Vítima de sucessivas derrotas, o petista cansou de apanhar. Mas também

optou por não bater. Porem, não e só a política do “faça amor não faça guerra”

que vem alimentando a candidatura do ex-torneiro mecânico. Lula e o PT

partiram em busca de alianças políticas. E buscaram técnicos dentro e fora do

partido para assinar um projeto de governo. Outro ponto-chave perseguido foi à

abertura do diálogo, requisito importante para qualquer estadista, tendo o

empresário José Alencar como carro chefe, bons interlocutores e idéias que

passam longe da moratória um dia defendida, o petista abriu espaços para ser

ouvido nos setores mais delicados. Assim, trilhou a aceitação de sua candidatura.

Ao povo, Lula acena com um Brasil mais justo socialmente e ai, não

vacila em lançar mão da experiência dos tempos de sindicalista. “Sou o único

capaz de fazer o pacto social no Brasil”, diz sem modéstia.

Ao contrario do que planejaram os artífices da verticalização, as

coligações foram feitas de acordo com os interesses regionais, produzindo

alianças mais exóticas e programáticas.

No caso das candidaturas aos governos estaduais, diferente do que

ocorria no plano nacional, com quatro candidaturas consolidadas, sendo três de

oposição ao atual governo FHC. Nos estados, as pesquisas de intenção de votos

anunciavam um país melhor como resultado das eleições. Na maioria dos estados

o governador seria escolhido no primeiro turno. Sendo reeleitos os que fizeram

boa administração, não importa o partido ao qual pertenciam. Assim, Jorge

Viana no Acre, e Zeca do PT, de Matogrosso do Sul, poderiam liquidar a fatura

no primeiro turno, bem como Esperidião Amin, do PPB de Santa Catarina, e

Jarbas Vasconcelos, PMDB de Pernambuco. O PMDB esperava fazer ainda

Joaquim Roriz, do Distrito Federal.

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O PFL tinha a expectativa de fazer dois governadores, sucessores de

correligionários bem avaliados pela população de seus estados: Bahia, Paulo

Souto, que foi governador, teria uma vitória que o credenciaria a sucessão de

Antonio Carlos Magalhães na chefia política do estado. Em Tocantins Marcelo

Miranda será o sucessor do governador Siqueira Campos, criador do estado e o

pai da pátria tocantinense.

Outro governador que poderia fazer o sucessor no primeiro turno era

Tasso Jereissati, do PSDB do Ceará que vinha para o senado. Apoiava Lúcio

Alcântara, um dos melhores senadores da república.

É provável que Marconi Perillo, também do PSDB, fosse reeleito em

Goiás.

As eleições em Alagoas indicavam a vitória de Ronaldo Lessa, do PSB e

atual governador contra o ex-presidente Fernando Collor. As grandes

interrogações eram as eleições de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Em

São Paulo, que representa 22% do eleitorado nacional, Paulo Maluf, do PPB,

como é tradicional disputaria o governo do estado contra o governador Geraldo

Alckmin, do PSDB. No Rio Grande do Sul, a tradição gaúcha é que o

governador não faça o seu sucessor. A disputa no Paraná deve se dar num

segundo turno entre os ex-governadores Álvaro Dias, do PDT, e Roberto

Requião, do PMDB.

No Rio de Janeiro ocorria um caso bem peculiar, a vice-governadora

Benedita da Silva foi convencida por Luiz Inácio e José Dirceu a desistir da

candidatura ao senado para assumir o governo do estado no lugar de Antony

Garotinho, para mostrar, durante nove meses, o modo de governar petista,

proporcionar uma plataforma mais sólida para Lula e ainda concorrer à reeleição.

A transição não foi nada tranqüila nem tão pouco transparente. Casos

como o do secretário de segurança Josias Quintal que entregou a chave de seu

gabinete ao porteiro do edifício da secretaria de segurança no prédio da Central

do Brasil.

Inúmeras acusações foram parar na imprensa, referentes aos recursos do

estado. Antony Garotinho alegava ter deixado o estado saneado com os cofres

com recursos para arcar com os compromissos, porém, a governadora Benedita

acusa o ex-governador de ter deixado um déficit financeiro previsto nos 12

meses do ano de R$ 1,3 bilhão.

Mas a governadora estava diante de uma situação no mínimo atípica e

delicada. Governar o estado do Rio de Janeiro com as dificuldades que ele

apresentava sem afetar a campanha de Lula a presidência, se defender das

críticas do ex-governador Garotinho sem obstruir o canal de apoio a Lula em um

possível segundo turno e ainda impulsionar sua campanha a reeleição. Tarefa

árdua na qual Artur Messias como líder do governo e militante do partido dos

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trabalhadores exerceu com maestria, no apoio que ele e vários companheiros

deram a governadora.

Quando Benedita da Silva começava a ganhar certa credibilidade junto

ao povo fluminense, o assassinato do jornalista Tim Lopes cai como uma bomba

sobre a governadora e o PT, a imprensa, em especial a Rede Globo, começou a

exercer pressão para a elucidação do caso e a prisão dos responsáveis. O

criminoso conhecido com Elias Maluco é o principal suspeito.

Benedita responde com ações enérgicas para conter a sensação de

descontrole que envolve o estado. Quase todos os envolvido na morte de Tim

Lopes são presos, alguns morrem em confronto com a polícia, só faltava Elias

Maluco, mas os resultados deram um novo alento ao governo. Tudo se refletia na

militância, em min principalmente. No quartel tentava manter, junto aos policiais

a confiança na governadora. As informações que saiam na imprensa eram

sempre conferidas junto ao gabinete do deputado Artur Messias.

Algumas medidas do governo deram mais mobilidade a polícia,

entretanto as questões salariais deixavam a todos apreensivos e incrédulos.

Quando tudo parecia voltar a normalidade, no complexo penitenciário de

Bangu, o traficante Fernandinho Beira-Mar, com ajuda de alguns comparsas,

inicia uma rebelião no presídio de Bangu um com o objetivo de eliminar o seu

principal rival, o traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Ue, líder de uma facção

criminosa rival e alguns de seus amigos. Após obter êxito e matar Ue,

Fernandinho Beira-Mar faz agentes penitenciários reféns, tem início as

negociações com a polícia, a cúpula da secretaria de segurança se reúne com a

governadora Benedita da Silva e ela autoriza a invasão do presídio, entretanto

não foi necessário, tendo em vista que as negociações avançaram até a rendição

de Fernandinho Beira-Mar e os demais criminosos.

Do episódio ficou a certeza de que o governo petista não se submeteria

ao crime organizado, que alguns membros da sociedade civil denominavam

estado paralelo. O acontecido não alterou o quadro político, da sucessão

estadual, que vigorava naquele momento, no qual Rosinha Garotinho (PSB),

mulher do ex-governador, liderava as pesquisas de intenção de voto com 32% da

preferência do eleitorado. A governadora Benedita da Silva disputava o segundo

lugar com Jorge Roberto Silveira (PDT), ex-prefeito de Niterói, ambos com

índices variando entorno dos 14 e 16% e Solange Amaral candidata do prefeito

do Rio, César Maia, com 8%.

A governadora Benedita da Silva através da secretaria de segurança e seu

serviço de inteligência imprime com determinação e afinco contra os criminosos

do estado no objetivo de prender Elias Maluco, após a ocupação da favela da

grota no subúrbio do Rio e munidos de mandatos judiciais para revistar todas as

residências, a polícia prende Elias Maluco, sem a necessidade de efetuar um

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disparo. O fato recebe agradecimentos da emissora, onde Tim Lopes trabalhava,

a Rede Globo, também é referendado pelo presidente da república, Fernando

Henrique Cardoso e algumas autoridades internacionais. A militância do PT é

contagiada, a expectativa é de que os acontecimentos possam impulsionar a

candidatura da governadora para o segundo lugar e ainda forçar um segundo

turno.

Para retribuir o sacrifício feito pela governadora, Lula intensifica a

campanha no Rio, passa a participar de um número maior de eventos no estado

para ajudar a campanha de sua companheira Benedita. Artur Messias auxilia na

organização e na mobilização da militância para um maior engajamento na

campanha de Lula e Benedita.

A democracia brasileira estava prestes a levar ao poder, Luiz Inácio Lula

da Silva, candidato pelo partido dos trabalhadores. Lula tinha uma pequena

chance estatística de ganhar no primeiro turno, mas sua presença no segundo

turno estava praticamente assegurada, salvo desastres de ultima hora.

Depois da queda de Ciro, Lula tomou o lugar do cearense como alvo do

tiroteio eleitoral. Sua competência foi questionada nos programas eleitorais do

tucano José Serra.

É cada vez menor o número de pessoas que duvidam dos compromissos

democráticos do partido dos trabalhadores e de seu candidato à presidência. Lula

é aplaudido nos encontros com banqueiros, empresários e pecuaristas, mas as

ambigüidades em torno dele ainda não se dissiparam.

Todo mundo reconhece, a começar pelo próprio Lula, que o Brasil e o PT

amadureceram. É impossível imaginar hoje uma volta ao padrão primitivo da

ingerência do estado na economia como ocorreu durante o regime militar ou

mesmo na redemocratização do período José Sarney. Os militares investiram

dinheiro do contribuinte em projetos fantasiosos, como a colonização forçada e

irresponsável da Amazônia ou a posse da tecnologia nuclear que poderia

transformar o Brasil numa potência bélica. José Sarney promoveu o truculento e

desastroso congelamento de preços do plano cruzado, seguido da prisão e

empresários e da falta de produtos nos supermercados. Nada disso é sequer

imaginável no Brasil atual, um país que, com todos os seus males, pratica as

regras econômicas universais no mundo globalizado.

O candidato que lidera as pesquisas sempre exerce um fascínio sobre

parte do eleitorado, dos políticos aos empresários. É normal que assim seja.

Nunca, porém essa revoada favoreceu, no plano nacional, um candidato de

esquerda, até porque um candidato de esquerda nunca chegou tão perto do

palácio do planalto, como Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Daí por que tudo

que esta acontecendo é novidade. Com chances de ganhar no primeiro turno,

Lula está colhendo votos onde menos se esperava.

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Lula já contava com o apoio do ex-presidente José Sarney e de sua filha,

a ex-governadora Roseana, e a simpatia cada vez mais desinibida do ex-senador

Antonio Carlos Magalhães. No PMDB, partido que oficialmente está com o

tucano José Serra, Lula já garimpou votos nos diretórios de doze estados. Agora

pode exibir também seu pelotão empresarial. Alguns desses empresários já

mantinham uma relação com os petistas, mas sobretudo na esfera social. É o

caso de Eugênio Staub, da Gradiente, Ivo Rocesset, da Valisere entre outros.

No meio político, a adesão à candidatura resultou de fatores diversos.

Entre os partidos, a migração deve-se a insatisfação com o desenho das alianças

regionais, como é o caso do PMDB de Santa Catarina. Entre os candidatos

menos conhecidos, o movimento é produto do instinto de sobrevivência dos

políticos, que tendem a ficar ao lado dos vitoriosos, como aconteceu com os

liderados de ACM na Bahia. E, entre os caciques políticos, o voto em Lula é

também uma tentativa de qualificar-se para influir num eventual governo petista,

caso em que se encaixam os ex-presidentes José Sarney e Itamar Franco que

também apóia Lula abertamente e chegou a presenteá-lo com um depoimento no

horário eleitoral gratuito na televisão.

Uma campanha atípica em muitos aspectos e principalmente na

precocidade de seu início, que teve em curso a marca de um sistema eleitoral

arcaico clamando por reforma e em seu desenlace, o encontro com a

modernidade da informatização total da votação. Outra marca, a verticalização

imposta pelo TSE, que informalizou as alianças proibidas em nome da coerência.

Mas, sem dúvida a campanha mais democrática desde 1989.

No caso da disputa presidencial, nunca os candidatos tiveram tão amplo

acesso aos meios de comunicação. Nem tivemos os candidatos nanicos de

aluguel poluindo o debate. Os candidatos de ultra-esquerda pregaram suas

crenças em espaços proporcionais ao desempenho nas pesquisas, mas não foram

pistoleiros de aluguel. De acesso ninguém pode reclamar, atestou Lula no ciclo

de debates do Globo.

Dois cenários se desenhavam. A vitória de Lula no primeiro turno, um

fato de maior relevância não só para o Brasil. Mas igual era a chance de não

alcançar a maioria absoluta com a passagem de Serra para o segundo turno.

Embora o PT dizia-se preparado para o cenário do segundo turno, no

comando da campanha de Lula as providências sugeriam o contrário.

Lula não ganhou no dia 06 de outubro o presente que pediu ao eleitorado

no dia do seu registro de nascimento. Lula (PT) obteve 46.44%, José Serra

(PSDB), ficou em segundo com 23.20%, Antony Garotinho (PSB), que

surpreendeu a muitos correligionários e aos que não acreditavam em seu

desempenho com 17.87%, Ciro Gomes (PPS), que foi massacrado pela equipe de

Serra, chegou a 11.97%, José Maria (PSTU), alcançou apenas 0.47% um pouco

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mais que Rui Pimenta (PCO), que ficou com 0.05%. De qualquer forma, Lula

chegou com enorme vantagem sobre José Serra, a um segundo turno que

prometia mais confronto, se não uma luta sangrenta. Sua vantagem era grande,

embora a experiência ensina que segundo turno é outro jogo. Eram mais três

semanas estressantes para o Brasil e de ganhos para os especuladores.

A preocupação do PT era administrar o resultado. O desafio de Serra era

reformular o discurso que até então foi mais oposicionista do que de

continuidade.

A chegada de Serra ao segundo turno confirma de certo modo o preceito

de que o governo é sempre capaz de ter pelo menos 20% dos votos. No seu caso,

entretanto isso nunca ficará completamente claro, pois o governo ficou distante

da campanha na medida em que ele tentou se desvincular e adotou o discurso

quase oposicionista. Mas prometer continuidade, e não a mudança, no quadro

brasileiro seria pedir o inconcebível a qualquer candidato que esteja realmente

em busca da vitória. E quanto a isso Serra nunca deixou dúvidas, o que lhe valeu

a acusação de ter atropelado gente demais pelo caminho em busca da candidatura

e depois da oportunidade de chegar ao segundo turno para enfrentar Lula.

O partido dos trabalhadores (PT) sai do primeiro turno das eleições

fortalecido, atingindo seu maior crescimento eleitoral em 22 anos de existência.

Em vários estados e no congresso, a legenda aumentou sua representação,

chegando quase ao dobro em alguns casos.

Embora a magia da transferência de votos seja uma ciência ainda

desconhecida dos estrategistas eleitorais, o candidato à presidência, Luiz Inácio

Lula da Silva sai na frente do seu adversário tucano, José Serra, na disputa por

apoios entre os governadores que foram eleitos no primeiro turno. Dos 13 já

escolhidos pelo povo sete pretendiam apoiar o petista, quatro o tucano e dois

prometeram ficar neutros no segundo turno.

Apesar de Lula ter mais apoios, o eleitorado que governado por aliados

do PT e do PSDB praticamente se equivalem. Juntos Jorge Viana (PT-AC),

Blairo Maggi (PPS-AM), Ronaldo Lessa (PSB-AL), Eduardo Braga (PPS-MT),

Wellington Dias (PT-PI), e Rosinha Matheus (PSB-RJ) governarão 18% dos 115

milhões de eleitores. Já Marconi Perillo (PSDB-GO), Aécio Neves (PSDB-MG),

Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) e Marcelo Miranda (PFL-TO) vão governar

19% dos eleitores.

O governador eleito do Espírito Santo, Paulo Hartung (PSB), embora

tenha vindo do PSDB e seja amigo de um dos coordenadores do programa do

PSDB, Luiz Paulo Velloso Lucas, prefeito de Vitória; preferiu ficar neutro já o

futuro governador da Bahia, Paulo Souto (PFL), aliado do senador eleito

Antônio Carlos Magalhães, que vai votar no petista ainda não havia decidido.

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A transferências de votos dos governadores, eleitos no primeiro turno,

dependeria do empenho de cada um deles.

Tão logo terminou a apuração, Leonel Brizola (PDT), que havia sido

derrotado na eleição para o senado e que no decorrer da campanha chegou a

sugerir a Ciro Gomes que desistisse em favor de Lula, declarou apoio irrestrito

dele e do PDT ao petista para o segundo turno e o mesmo destino tomou Ciro

Gomes e o PPS, ambos declararam que o apoio não estava condicionado a cargos

em um futuro governo Lula, embora a todo o momento Lula externou a vontade

de realizar um governo amplo.

O PSB formalizou o apoio a Lula com algumas restrições de Antony

Garotinho. Garotinho pediria votos para Lula sem dividir palanque com o PT do

Rio.

O vice de Ciro Gomes, Paulo pereira da Silva (PTB), anunciou que

apoiaria o petista, iniciativa referendada pelo presidente do PTB José Carlos

Martinez e os demais membros do partido a exceção do deputado federal reeleito

Roberto Jéferson (PTB-RJ), que optou pela neutralidade.

Enéas Carneiro (PRONA), que desistiu de concorrer à presidência e foi

eleito o deputado federal mais votado da história do país e ainda ajudou a eleger

cinco correligionários no estado de São Paulo, também optou pela neutralidade.

José Serra recebeu apoio do PPB, embora tal apoio não incluísse Delfim

Neto e Paulo Maluf. A executiva nacional do PFL aprovou a proposta do vice-

presidente Marco Maciel que recomendava apoio ao tucano, José Serra, no

segundo turno. A recomendação fazia uma ressalva de que seriam respeitadas as

particularidades estaduais. Na prática isso significava que os partido não ia

obrigar ninguém a apoiar Serra, como é o caso dos senadores eleitos Antônio

Carlos Magalhães (BA) E Roseana Sarney (MA) que já haviam declarado apoio

a Luiz Inácio Lula da Silva. O mesmo problema existia no PMDB, partido de

sustentação da candidatura de José Serra. Dos quatro estados em que o PMDB

disputava o governo, em três havia aliança com o PT. E o governador Itamar

Franco, aliado de primeira hora de Lula, aumentou ainda mais sua disposição na

campanha do petista.

A expressiva votação de Garotinho no primeiro turno, impulsionada pelo

eleitorado evangélico, fez com que Lula e Serra se dedicassem com afinco na

busca de eleitores desse seguimento para o segundo turno. Serra foi escolhido

pela igreja do Evangelho Quadrangular e por setores da Assembléia de Deus

ligados ao pastor Manuel Ferreira. Mas boa parte da Assembléia ficou ao lado do

petista. Lula recebeu ainda o apoio de lideranças da igreja Universal do Reino de

Deus, Batista, Presbiteriana e Adventista.

O presidente Fernando Henrique Cardoso aumentou sua dedicação nas

articulações políticas para o segundo turno da candidatura José Serra (PSDB). A

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estratégia dos articuladores da campanha do tucano era convencer o eleitor de

que era uma nova fase e que o jogo estava zero a zero. O tom dos programas de

televisão teriam um toque de emoção, que foi a tônica dos programas de seu

adversário, Luiz Inácio Lula da Silva.

Outra estratégia era mostrar que Lula era incompetente. Serra passou os

programas dizendo que Lula estava fugindo dos debates e o PT defendia-se

mostrando que Lula já havia participado de um número suficiente de debates e

que o pouco tempo que antecedia o segundo turno o ideal seria um único debate

em cadeia nacional com todas as emissoras, mas somente a Rede Globo iria

realizar, dois dias antes da eleição. Porém a principal polêmica do segundo turno

poderia ser apelidada de “Guerra das Estrelas”. No dia 14 de outubro, quando

recomeçou a propaganda eleitoral na TV, a atriz Regina Duarte, no programa de

Serra afirmou que estava com medo de um possível governo Lula e suscitou

polêmica no meio artístico e em toda a sociedade, no dia seguinte o PT deu a

resposta. Paloma Duarte procurou a equipe de Lula e gravou depoimento, sem

citar Regina, em que dizia estar chocada com o uso do terrorismo e do medo.

O debate realizado pela Rede Globo, no dia 25 de outubro, transcorreu

com algumas novidades, a estrutura do debate, copiada do que foi feito na ultima

eleição presidencial dos Estados Unidos. As perguntas eram feitas por eleitores

indecisos, os candidatos se movimentavam numa espécie de arena. Além dos

candidatos terem procurado expor suas propostas para implementar mudanças ao

país o clima entre Lula e Serra era de evidente cordialidade fechando com chave

de ouro o processo democrático brasileiro.

Lula em seu ultimo programa eleitoral conclamou a militância petista e a

toda a sociedade brasileira para fiscalizarem as eleições. No dia 27 de outubro de

2002, por volta das 21:h, antes mesmo que todas as urnas tivessem sido

apuradas, mas com uma margem segura e irreversível, Luiz Inácio Lula da Silva,

foi declarado presidente da república do Brasil. O povo tomou as principais ruas

do país, uma explosão de cores em vermelho verde e amarelo, nas bandeiras do

PT e do Brasil, uma verdadeira onda da democracia.

O candidato derrotado, José Serra, logo em seguida, deu depoimento

agradecendo aos brasileiros por sua votação e aos participantes de sua campanha

pelo empenho e companheirismo. Felicitou o então presidente eleito sem citar

seu nome.

Luiz Inácio Lula da Silva, o operário que construiu o partido dos

trabalhadores e completara 57 anos de vida, no dia 27 de outubro, foi eleito

presidente da república do Brasil com mais de 51 milhões de votos, num dia

histórico para o país. As 22.h 41m, depois de receber um telefonema do

candidato derrotado, José Serra, que lhe desejou boa sorte, Lula falou pela

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primeira vez como presidente eleito. Ao lado da mulher, Marisa, e do vice, José

Alencar (PL), fez um breve pronunciamento, marcado por muita emoção.

O publicitário Duda Mendonça, responsável pela propaganda da

campanha petista no rádio e na televisão, diz que o marketing político contribuiu

apenas com 10% para a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Duda disse que os

grandes responsáveis pela vitória de Lula são o partido dos trabalhadores e o país

que amadureceu e entendeu que a “A esperança venceu o medo”.

O deputado reeleito José Dirceu, presidente nacional do PT, declarou

depois da vitória de Lula, que o partido começaria a governar o país com o pé

esquerdo, uma referência à posição ideológica que sempre adotou. No entanto,

José Dirceu observou que a sua posição preferida é a de centro-esquerda e que o

PT precisava ter humildade para reconhecer que não pode tudo e que precisa dos

adversários para resolver os problemas do Brasil. Uma das principais propostas

de Lula alardeada e enfatizada durante a campanha era a proposta de um pacto

social, aglutinando a todos que tivessem interesse em contribuir com a

transformação do país.

Os principais berços do PT, onde o partido nasceu e onde hoje é governo,

não foram contaminados pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. O partido do

presidente eleito elegeu apenas três governadores, dois no primeiro turno e um

no segundo turno, e perdeu o governo do Rio Grande do Sul. O PSDB do

candidato derrotado, José Serra, por outro lado, governará sete estados os dois

mais importantes, São Paulo e Minas. Em São Paulo, o governador Geraldo

Alckmin (PSDB) foi reeleito, derrotando o petista José Genoino. O PT não

conseguiu manter o governo do Rio Grande do Sul, onde o atual prefeito de

Porto Alegre Tarso Genro, foi derrotado pelo peemedebista Germano Rigotto.

O PT só elegeu o governador do Mato grosso do Sul, Zéca do PT, que foi

reeleito derrotando a tucana Marisa serrano. O partido também perdeu no

Distrito Federal onde Joaquim Roriz (PMDB) se reelegeu e derrotou Geraldo

Magela. No Ceará o tucano Lúcio Alcântara derrotou o petista José Airton. Em

Sergipe, José Eduardo Dutra (PT) perdeu para João Alves (PFL). No Amapá a

petista Dalva Figueiredo foi derrotada por Waldez Góes, do PDT.

Em Santa Catarina, Luiz Henrique Silveira, do PMDB, foi eleito com

50.34% dos votos contra 49.66% de Esperidião Amin (PPB). Na Paraíba Cássio

Cunha Lima (PSDB) derrotou Roberto Paulino (PMDB).

O PSDB ainda elegeu Ivo Casol, em Rondônia que derrotou José Bianco

do PFL. Em Roraima, o governador Flamarion Portela (PSL) derrotou Ottomar

Pinto (PTB). E o Rio Grande do Norte elegeu Vilma Faria, do PSB que derrotou

Fernando Freire (PPB).

As derrotas dos governadores petistas não tiraram o brilho da estrela,

nem tão pouco, a reorganização do mapa político do Brasil irá impedir Luiz

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Inácio Lula da Silva de estabelecer os acordos necessários com os governadores

de outros partidos, com fim a realização da tão sonhada transformação do país.

O sistema parlamentar brasileiro é um processo viciado, um jogo de

cartas marcadas. Um campo desfavorável para os partidos populares em sua

busca por justiça social, uma prisão para os movimentos sociais, um labirinto

para o intelectual orgânico que identifica na implosão de suas paredes a saída

para o exercício de sua condição de liderança da massa.

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VI

Conclusão

“O que habita no esconderijo do altíssimo, e

descansa a sombra do onipotente, diz ao

Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu

em quem confio, pois Ele te livrará do laço do

passarinheiro, e da peste perniciosa...”.

(Salmo 91:1-3).

Cada indivíduo reage de uma forma bem particular a cada situação

ocorrida no meio social em que vive.

O inconformismo que acomete um individuo diante das injustiças

promovidas ao seu redor é algo significativo para torna-lo um agente

transformador.

Não se pode elaborar uma receita para a produção de lideranças,

entretanto a análise do bloco histórico vigente, em toda sua intensidade, se dispor

a modifica-lo e capacitar-se através de uma educação comprometida com as

classes populares já qualifica qualquer individuo para iniciar-se na construção do

perfil do intelectual orgânico.

Formar lideranças através de uma educação popular e um conjunto de

condições e ferramentas pedagógicas que permitam aos grupos refletirem sobre

sua pratica de luta, compreender sua dimensão de classe e buscar os avanços

organizativos necessários à luta de libertação.

Fazer educação comprometida com interesses históricos das classes

populares; fortalecer a consciência de classe e o poder popular; reforçar a luta

das classes populares na construção do socialismo.

Nesse sentido a formação de lideranças deve ser compreendida na

perspectiva da construção e consolidação das organizações populares e com a

ação política revolucionaria.

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A questão da formação de lideranças na pratica popular é uma tarefa

central e que vem se tornando cada vez mais urgente e necessária porque: na

caminhada das lutas populares, o processo de conscientização se da de forma

desigual. Algumas pessoas avançam mais rapidamente e outras mais lentamente.

Isto é próprio da dinâmica das lutas populares e por isso é preciso dar uma

resposta a isto. Assim o objetivo da formação de liderança é criar e multiplicar

educadores do próprio movimento popular, para que eles possam cumprir

efetivamente sua função de “fermento na massa”.

O numero de lideranças existentes e capacitadas é ainda bem reduzido

para dar conta de tantas tarefas novas e cada vez mais complexas. Isto tem

provocado uma sobrecarga muito grande das lideranças existentes e por outro

lado dificultado que se possa dar passos mais rápidos e eficientes, no sentido de

consolidar essas novas organizações populares que vão sendo construídas.

Observa-se um número crescente de lutas populares em todos os cantos deste

País. Observa-se ainda, na base desses movimentos, um grande anseio de

mudanças uma forte combatividade, e por outro lado uma grande dificuldade das

organizações populares em articular e dar direção política a todo esse potencial.

Acreditamos que o número pequeno de lideranças populares,

efetivamente capacitadas para dar conta das tarefas de direção do movimento, é

um dos fatores determinante do quadro acima exposto. Por isso acreditamos que

a formação de lideranças em todos os níveis e de forma planejada e sistemática é

tarefa prioritária na construção de uma hegemonia popular hoje no Brasil.

Há lideranças que sustentam tudo. Entram no ativismo, assumem todo o

trabalho, não deixam os outros companheiros aprenderem a lidar com as tarefas.

Isto promove um desgaste para a pessoa e para a luta.

A verdadeira liderança não é de uma pessoa, mas é coletiva. Precisamos

sempre descobrir lideranças novas, abrir o trabalho, confiar em lideranças que

provocam a resposta dos companheiros, que ajudam a crescer, que animam,

orientam e respeitam os outros.

Quando falamos em lideranças estamos nos referindo diretamente as

tarefas da luta. Liderança não é coisa que a gente nasce para ser, não deve ser

exercida de forma personalista e não pode ser encarada como privilegio. Assim

sendo a liderança pode ser exercida por qualquer pessoa desde que para isso ela

se disponha, seja capacitada e encarne o projeto político do movimento.

A liderança surge, se vincula e deve ser controlada dentro de uma direção

coletiva do movimento e por tanto não deve e não pode se restringir a uma

pessoa; uma pessoa pode e deve encarnar mais publicamente o papel da

liderança e neste caso cabe a direção coletiva, avaliar quem melhor pode cumprir

esse papel, projetando essa liderança no trabalho de massa.

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Exercer a liderança que corresponda às necessidades do povo, todos tem

possibilidade de exercer, através da pratica da vida do grupo, mas não podemos

deixar isso ao acaso, precisamos formar lideranças.

Acreditamos que a formação de lideranças é uma tarefa indispensável ao

avanço e a consolidação da autonomia das organizações populares e ao

desenvolvimento da democracia substantiva nestas organizações. Dentro desta

concepção a prioridade esta no desenvolvimento dos grupos e organizações

populares e é no interesse deles e a partir da sua pratica concreta de luta, que

devemos nos preocupar com a formação das lideranças, indispensáveis para o

crescimento autônomo e democrático destas organizações. Para dar conta das

inúmeras tarefas de articulação dos movimentos populares e para a multiplicação

permanente de novas lideranças populares.

Um desafio fundamental no trabalho de formação de lideranças é o

desenvolvimento de uma metodologia coerente com esta proposta. Toda ação

educativa envolve um processo de criação e recriação do conhecimento. Tal

concepção metodológica expressa-se em conceber a relação entre teoria e

pratica. Partir da pratica teorizar sobre ela e voltar a pratica.

É importante formular um plano de formação onde se tenha bem claro os

objetivos a curto, médios e longo prazo. Isto para evitar que encontros e

treinamentos não sejam apenas momentos episódicos, mas sejam algo

permanente, planejado onde a questão da continuidade esteja sempre presente.

Isto requer entre outras coisas, que nas organizações populares hajam pessoas

capacitadas para levar a frente este trabalho.

O partido dos trabalhadores referendado pelos anseios da sociedade civil

obstina-se a ocupar a sociedade política permitindo fundi-las em seu interior para

promover, além das transformações necessárias no bloco histórico atual, elaborar

a ideologia da classe trabalhadora para que ela crie um sistema hegemônico.

A pretensão na constituição de um curso de formação política baseado

nas considerações de Gramsci, na evolução da trajetória do partido dos

trabalhadores e do companheiro Artur Messias, ainda que não tornem homens

simples em intelectuais orgânicos ou grandes lideres de massa, dão o ponta pé

inicial nessa nobre luta de transformação da sociedade. Apenas o remoto desejo

de aspirar a esta luta, já faz de nossa existência um algo diferente da dos

demais...

“E que ninguém mais ouse desafiar a classe trabalhadora”.

Luiz Inácio Lula da Silva

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VII

Bibliografia

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