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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
SISTEMAS DE VETORIZAÇÃO DO BENZNIDAZOL PARA O TRATAMENTO
DA DOENÇA DE CHAGAS
JOSÉ LAMARTINE SOARES SOBRINHO
RECIFE – PE
2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
SISTEMAS DE VETORIZAÇÃO DO BENZNIDAZOL PARA O TRATAMENTO
DA DOENÇA DE CHAGAS
JOSÉ LAMARTINE SOARES SOBRINHO
Tese apresentada para a obtenção do grau de Doutor no
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco.
Orientador: Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto.
RECIFE – PE
2009
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Soares Sobrinho, José Lamartine Sistemas de vetorização do benznidazol para o
tratamento da doença de Chagas / José LamartineSoares Sobrinho. – Recife : O Autor, 2009.
xi, 174 folhas ; il., fig., tab.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Ciências Farmacêuticas, 2009.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Benznidazol - Solubilidade. 2. Doença de Chagas. I. Título. 615.011 CDU (2.ed.) UFPE 615.4 CDD (22.ed.) CCS2009-142
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
TESE DE DOUTORADO
SISTEMAS DE VETORIZAÇÃO DO BENZNIDAZOL PARA O TRATAMENTO
DA DOENÇA DE CHAGAS
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto (Examinador Interno - Presidente)
Prof. Dr. Ednaldo de Lima Queiroga (Examinador Externo)
Prof. Dr. Lívio César Cunha Nunes (Examinador Externo)
Prof. Dr. Adriano Antunes S. Araújo (Examinador Externo)
Profa. Dra. Ana Cristina Lima Leite (Examinador interno)
Profa. Dra. Miracy Muniz de Albuquerque (Examinador Interno)
Prof. Dr. José de Arimatéia Dantas Lopes (Examinador Externo)
RECIFE - PE
2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins
VICE-REITOR
Prof. Dr. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva
PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro
VICE-DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Prof. Dr. Márcio Antônio de Andrade Coelho Gueiros
CHEFE DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Prof. Dr. Dalci Brondani
VICE-CHEFE DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Prof. Dr. Antonio Rodolfo de Faria
COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
FARMACÊUTICAS
Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto
VICE-COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Profª. Drª. Beate Saegesser Santos
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“Há aqueles que lutam um dia; e por isso são bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida;
Esses são os imprescindíveis”
(Bertold Bretch)
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Dedico essa tese a todos que de diferentes maneiras deram força para isso acontecer, em
especial a Monica Soares presente e atuante nas horas difíceis.
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AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. PEDRO ROLIM pelos seus ensinamentos que foram
fundamentais para a realização do trabalho e por sua amizade.
Ao Prof. Dr. JUAN TORRES-LABANDEIRA pela colaboração e orientação
desprendidos em minha estada em seu laboratório e a todos da UNIVERSIDADE DE
SANTIAGO DE COMPOSTELA (Santiago de Compostela – Espanha) pela ajuda e
atenção dedicada.
A minha equipe de trabalho ADLEY ANTONINI NEVES DE LIMA, ROBERTO
ANTÔNIO CAVADINHA CORRÊA JUNIOR, MAGALY ANDREZA MARQUES
DE LYRA, JECKSON LUIZ DA SILVA e DANILO AUGUSTO FERREIRA
FONTES por toda a ciência compartilhada e a amizade construída.
Aos colegas e amigos do LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA DOS
MEDICAMENTOS (LTM) pela forte contribuição sempre prestada.
Aos muitos amigos que entendem o que é fazer uma tese (amigos cientistas) e também a
aqueles que acham isso coisa de outro planeta, mas sempre acham bonito e apóiam.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 112 OBJETIVOS...................................................................................................................... 13
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................ 132.2 Objetivos Específicos ................................................................................................. 13
Capítulo I.......................................................................................................................... 143 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................................... 14
3.1 Artigo I - Doença de Chagas: Cem anos de descoberta ............................................. 153.2 Artigo II - Alternativas Tecnológicas para o incremento de solubilidade de Fármacos pouco solúveis .................................................................................................................. 353.3 Artigo III - Ferramentas Analíticas Aplicadas a Caracterização de Complexos de Inclusão Fármaco-Ciclodextrina....................................................................................... 55
Capítulo II ........................................................................................................................ 774 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO BENZNIDAZOL POR MEIO DE DIFERENTES TÉCNICAS ANALÍTICAS......................................................................... 77
4.1 Artigo IV - Caracterização Físico-Química do Tripanomicida Benznidazol para o Desenvolvimento de Medicamentos................................................................................. 784.2 Artigo V - Benznidazole............................................................................................. 924.3 Artigo VI - Desenvolvimento do Método Analítico de Dissolução de Benznidazol . 92
Capítulo III .................................................................................................................... 1065 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DISPERSÕES SÓLIDAS À BASE DE BENZNIDAZOL................................................................................................................ 106
5.1 Artigo VII - Dispersões Sólidas do Tripanocida Benznidazol Utilizando Polímeros Hidrofílicos..................................................................................................................... 107
Capítulo IV .................................................................................................................... 1226 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO in vitro e in vivo DE COMPLEXOS DE INCLUSÃO (FÁRMACO-CILCODEXTRINAS) À BASE DE BENZNIDAZOL.......... 122
6.1 Artigo VIII - Complexos de Inclusão no Estado Sólido Benznidazol- Ciclodextrinas Modificadas: Obtenção e Caracterização ....................................................................... 123
Capítulo V ...................................................................................................................... 1487 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS MULTICOMPONENTES (FÁRMACO-CICLODEXTRINAS-POLÍMERO) À BASE DE BENZNIDAZOL ......... 148
7.1 Artigo IX. Sistemas multicomponentes para o incremento da velocidade de dissolução do benznidazol .............................................................................................. 149
8 CONCLUSÕES............................................................................................................... 1719 PERSPECTIVAS ............................................................................................................ 17110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 173
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RESUMO
A melhoria da solubilidade de compostos fracamente solúveis é um objetivo
perseguido para os pesquisadores da química medicinal, porém mesmo havendo tal
preocupação, a grande maioria dos compostos que demonstram atividade biológica
possuem um entrave biofarmacêutico importante, a baixa solubilidade aquosa. A tecnologia
farmacêutica por meio de sistemas como dispersões sólidas e a obtenção de complexos de
inclusão utilizando ciclodextrinas surge como ferramenta útil no aumento de solubilidade
de fármacos de baixa lipofílicos. Diante do exposto o objetivo deste trabalho foi a obtenção
e caracterização do benznidazol, dispersões sólidas, de complexos de inclusão e
multicomponentes no estado sólido visando o incremento da velocidade de dissolução do
fármaco. Foram utilizados polímeros hidrofílicos, ciclodextrinas naturais (alfa, beta e
gama) além de derivados da beta ciclodextrina tais como metilada e éter sulfobutílico.
Malaxagem, rotaevaporação e liofilização foram os métodos utilizados na obtenção dos
sistemas. Na caracterização foram utilizadas as ferramentas de IV, Raman, DSC, MEV,
Raios-X e perfil de dissolução. Os sistemas obtidos (dispersões sólidas, complexos de
inclusão e multicomponentes) no estado sólido apresentaram, via de regra, bom incremento
de velocidade de dissolução frente ao BNZ isolado, fato confirmado nos cálculos da
eficiência de dissolução, com destaque para os compostos obtidos pelos processos de
rotaevaporação e liofilização. Pode-se concluir que a utilização da tecnologia farmacêutica
para a obtenção desses sistemas com o BNZ é uma alternativa promissora para uma forma
farmacêutica mais segura e eficaz para o combate a doença de Chagas.
Palavras-chaves: Solubilidade, Doença de Chagas, Ciclodextrinas.
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ABSTRACT
The drugs more soluble is an objective pursued for the researchers of medicinal
chemistry, however exactly having such concern, the great majority of the drugs that
demonstrated biological activity had an important biopharmaceutic impediment, low the
water solubility. The pharmaceutical technology by means of systems as solid dispersions
and the inclusion complexes systems using cyclodextrins appear as useful tool in the
controlled release of drugs of low solubility. The objective this work it was the attainment
and characterization of benznidazole, solid dispersions, inclusion complexes and
multicomponents systems in the solid state aiming at the increase of the dissolution rate of
the drug. Hydrophilic polymers, cyclodextrins ( , , ) had been used beyond derivatives of
the -cyclodextrins: randomly methylated -CD (RM CD) and sulfobutil ether -CD
(SB CD). Kneading, evaporated and freeze-drying had been different techniques used in
the attainment of the systems. In the characterization had been used tools of IR, Raman,
DSC, SEM, R-X and dissolution profile. The systems gotten (solid dispersions, inclusion
complex and multicomponents) in the solid state had presented usually good rate
dissolution front to the isolated BNZ, fact confirmed in the calculations of dissolution
efficiency, with prominence for composites gotten for the evaporated and freeze-drying
techniques. It can be concluded that the use of the pharmaceutical technology for the
attainment of these systems with the BNZ is a promising alternative for a pharmaceutical
form more efficient insurance and for the combat the Chagas disease.
Keywords: Solubility, Chagas disease, Cyclodextrins.
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
1 INTRODUÇÃO
Desde a descoberta da doença em 1909, por Carlos Chagas, inúmeros agentes
quimioterápicos já foram e estão sendo testados por cientistas de todo o mundo, estes têm
trabalhado no desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas para o tratamento desta
doença e na descoberta de novos alvos bioquímicos ao desenvolvimento de novas
moléculas com potencial ação anti-chagásica (COURA; CASTRO, 2002).
Apesar de não ser o fármaco ideal, devido à sua baixa solubilidade e alta toxicidade,
o benznidazol é atualmente o fármaco de escolha para o tratamento da doença de Chagas. O
conhecimento aprofundado sobre o fármaco e técnicas mais eficazes de vetorização do
mesmo em formas farmacêuticas poderá possibilitar o desenvolvimento de novas
alternativas terapêuticas para o tratamento da doença, disponibilizando-as à população em
um curto espaço de tempo e com menor custo, quando comparado a uma nova molécula a
ser introduzida na terapêutica (DOCAMPO, 2001).
O benznidazol não é apenas o fármaco de escolha, é também, o único fármaco
disponibilizado em diversos países da América. Com base nesta afirmativa, ferramentas
que possibilitem o aumento do acesso da população a este medicamento devem ser
desenvolvidas e introduzidas no mercado. Uma destas ferramentas poderá ser a otimização
da forma farmacêutica comprimido de liberação imediata já disponível no mercado, obtida
por meio do processo de granulação úmida, e a diminuição do seu custo de produção, sem
afetar a qualidade do mesmo.
Várias técnicas têm sido usadas para melhorar a solubilidade e a taxa de dissolução
de fármacos pouco solúveis em água. Estas incluem a formulação com formas não-
cristalinas, nanopartículas, microemulsões, dispersão sólida (DS), extrusão por fusão,
formação de sal e formação de complexos, além de sistemas multicomponentes solúveis em
água. Por estas técnicas tenta-se aumentar a solubilidade aparente de compostos lipofílicos
sem diminuir o seu potencial (LOFTSSON, HREINSDÓTTIR, MÁSSON, 2005).
Ciclodextrinas (CD’s) são oligossacarídeos cíclicos formados por moléculas de D-
glicose, onde a presença das hidroxilas livres na parte externa das (CD’s) confere a essas
moléculas um caráter hidrofílico. Esse arranjo estrutural das moléculas de glicose nas CD’s
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
possibilita a utilização desses compostos como hospedeiros na formação de complexos de
inclusão. A presença de uma cavidade hidrofóbica e de grupos hidroxilas livres na parte
externa da molécula permite a “dissolução” em meio aquoso de compostos (hóspedes) de
baixa solubilidade. Esse aspecto molecular tem possibilitado a utilização de CD’s em
diferentes áreas da ciência e tecnologia, sendo o principal domínio de aplicação à indústria
farmacêutica, em função da possibilidade de obtenção de novos fármacos com propriedades
físicas e químicas diferentes e o mesmo princípio ativo (UEKAMA, 2004).
As ciclodextrinas em associação com polímeros (polivinilpirrolidona e
polietilenoglicol) também podem potencializar o percentual solubilizado do fármaco em um
menor espaço de tempo (obtenção de multicomponentes).
O aumento da solubilização do ativo em um menor intervalo de tempo pode
significar diminuição de doses administradas do fármaco, além da diminuição dos efeitos
colaterais do mesmo, verificada por meios de ensaios in vitro e in vivo. Cabe ainda, antes
da obtenção de tais sistemas (dispersões sólidas, complexos de inclusão e
multicomponentes), o desenvolvimento e a otimização de métodos analíticos que são
usados na caracterização desses produtos, constituindo-se em etapa fundamental para o
desenvolvimento racional do produto e uma adequada avaliação.
13
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Obter e caracterizar compostos sólidos utilizando diferentes tipos de polímeros,
ciclodextrinas e o fármaco benznidazol, com a finalidade de aumentar a taxa e a velocidade
de dissolução deste fármaco.
2.2 Objetivos Específicos
Caracterizar físico-químicamente o fármaco benznidazol;
Desenvolver método analítico para teste de dissolução do fármaco;
Obter dispersões sólidas, complexos de inclusão e multicomponentes contendo
benznidazol;
Caracterizar compostos obtidos por meio de ferramentas de espectroscopias
como o infravermelho e raman, calorimetria exploratória diferencial, difração de
Raios-X, microscopia eletrônica de varredura e perfil de dissolução.
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Capítulo I
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Artigo I - Doença de Chagas: Cem anos de descoberta
Artigo aceito: Revista Brasileira de Farmácia
3.2 Artigo II - Alternativas Tecnológicas para o incremento de solubilidade de Fármacos pouco solúveis
Artigo publicado: Latin American Journal of Pharmacy, v. 27, n 5, p. 789-97, 2008.
3.3 Artigo III - Ferramentas Analíticas Aplicadas a Caracterização de Complexos de Inclusão Fármaco-Ciclodextrina
Artigo aceito: Revista Brasileira de Ciência Farmacêutica Básica e Aplicada
15
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
3.1 Artigo I - Doença de Chagas: Cem anos de descoberta
Resumo
A doença de Chagas é uma enfermidade endêmica na América Latina que acomete
aproximadamente 9,8 milhões de pessoas após cem anos de sua descoberta. Atualmente, a
doença de Chagas é classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma
doença negligenciada (mais prevalente nos países em desenvolvimento) e que não dispõe
de tratamentos eficazes ou adequados. A busca por alternativas ao combate à doença de
Chagas tem sido registrada ao longo desse tempo por pequenos grupos, contudo, tem-se
apenas o benznidazol disponível em território nacional. Diante disso, este trabalho
objetivou traçar um panorama situacional da doença de Chagas, enfocando as ações no
combate a parasitose, epidemiologia da doença, mercado de medicamentos, tratamentos
utilizados, novos fármacos, tecnologia farmacêutica aplicada a fármacos já utilizados, além
das políticas e ações governamentais integradas.
Palavras-chave: Benznidazol, Doença de Chagas, Doenças negligenciada.
Introdução
Em fevereiro de 1909, o médico sanitarista Carlos Chagas, após isolar o parasita
Tripanosoma cruzi, um protozoário hemoflagelado da família Trypanosomatidae e ordem
Kinetoplastida, conclui todo o ciclo biológico da doença e posteriormente a identificação
do vetor e, em sua homenagem foi denominada doença de Chagas. Essa descoberta é
considerada até hoje, única na história da ciência e saúde brasileira (SOARES-SOBRINHO
et al., 2006).
A doença de Chagas é uma enfermidade endêmica na América Latina, afetando em
torno de 10 milhões de pessoas. A doença continua sendo um grave problema de saúde
pública na América Latina, onde se estima que 4% a 5% da população possa estar infectada
pelo T. cruzi . Minas Gerais é considerado um dos Estados brasileiros com maior
prevalência da endemia chagásica, tendo sido coincidentemente o palco da descoberta da
doença (SILVA et al., 2007).
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Atualmente, a doença de Chagas é classificada pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) como uma doença negligenciada, devido à proposta de classificação das doenças
em globais (ocorrem em todo o mundo), negligenciadas (mais prevalentes nos países em
desenvolvimento) e mais negligenciadas (exclusivas dos países em desenvolvimento).
Essas denominações representam uma evolução do termo "doenças tropicais" por
contemplar os contextos de desenvolvimento político, econômico e social (MORAN et al.,
2009).
Ações ao longo desses cem anos têm sido tomadas no combate à enfermidade. O
combate à doença existe, porém o conhecimento produzido, ainda, não se reverteu de forma
efetiva em avanços terapêuticos como novos fármacos, métodos de diagnósticos e/ou
vacinas, por exemplo, apontando a necessidade de institucionalizar mecanismos que levem
os produtores a desenvolver pesquisas para o tratamento de doenças próprias da realidade
sanitária dos países pobres (BESTETTI; MARTINS; CARDINALLI-NETO, 2009).
Ao enfrentar a escassez ou falta de um tratamento adequado para essas doenças,
países atingidos por essas endemias têm, em sua população um custo elevado em
decorrência das co-morbidades trazidas por essas enfermidades. Como por exemplo, no
Brasil, os custos anuais sociais da doença de Chagas chegam próximo a 1 bilhão
(BESTETTI; MARTINS; CARDINALLI-NETO, 2009).
Diante do exposto, o trabalho objetivou traçar um panorama situacional da doença
de Chagas, enfocando as ações no combate a parasitose, discutindo aspectos tais como:
epidemiologia da doença, mercado de medicamentos, tratamentos utilizados, novos
fármacos, modelos de avaliação de ativos, tecnologia farmacêutica aplicada a fármacos já
utilizados, além das políticas e ações governamentais integradas.
Epidemiologia da Doença de Chagas
As doenças negligenciadas afetam milhares de pessoas ao redor do mundo, mas não
dispõem de tratamentos eficazes ou adequados. Em sua maioria, são doenças tropicais
infecciosas que atingem principalmente pessoas de baixa renda, como exemplo, a doença
de Chagas na América Latina, que gera um impacto devastador sobre a humanidade
(LEONARDI et al., 2009).
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Em torno de 1 bilhão de pessoas, um sexto da população mundial, sofre de uma ou
várias doenças negligenciadas. Na América Latina, a doença de Chagas, transmitida pelo
Trypanosoma cruzi, popularmente conhecido como tripanossoma americano, é considerada
uma das mais importantes infecções parasíticas, abrangendo do México até a Argentina
(MARCILI et al., 2009).
As tripanossomíases são mais comuns em áreas tropicais e subtropicais do mundo.
Mas como essas infecções parasíticas acometem muitos pacientes imunocomprometidos,
são também encontradas em países desenvolvidos (ALP et al., 2009).
Os dados epidemiológicos nos mostram que no início de 1980, o número estimado
de infectados era de 16 a 18 milhões, com uma incidência anual de 300 000 casos. Já em
2007, os valores citados foram 8 milhões de infectados com 50 000 novos casos por ano e
14 000 mortes relacionadas a complicações da doença (SENIOR, 2007; DEVELOUX et al.,
2009).
Em diversas áreas do sul da América do Sul, a incidência nos últimos 10 a 15 anos
da transmissão por T. cruzi em pessoas vem reduzindo-se com declínio de
aproximadamente 73% (ABAD-FRANCH et al., 2009). Na Colômbia, estima-se que quase
5% da população esteja infectada e, que cerca de 20% está em perigo de adquirir a doença
(FALLA et al., 2009).
A luta contra a doença de Chagas é baseada principalmente no
combate ao seu vetor. A batalha pela interrupção de sua transmissão vetorial e transfusional
já obteve êxito em países endêmicos como Chile, Uruguai e Brasil. No que diz respeito aos
países andinos e da América Central, o combate à doença parasitária é menos avançado,
dificultado pelo elevado número de espécies vetores (SOARES-SOBRINHO, 2007a).
Existem centenas de espécies conhecidas de triatomídeos, mas poucos têm um
papel evidente na transmissão aos seres humanos. Triatoma infestans é uma das espécies
antropofílica que participa da transmissão do parasito nos países do Cone Sul (Brasil, Chile,
Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia (BESTETTI; MARTINS; CARDINALLI-NETO,
2009; DEVELOUX et al., 2009).
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Além dos vetores, existem espécies animais, selvagens e domésticas, que servem de
reservatório para o parasito. Um inseto não infectado ao picar um desses animais torna-se
capaz de transmitir a doença (GUHL, 2007; PONCE, 2007).
Em áreas endêmicas, a infecção pelo T. cruzi tem acontecido geralmente após o
contato com as fezes de triatomíneos sugadores de sangue, por transmissão congênita, por
transplante de órgãos e transfusão sanguínea (MUÑOZ et al., 2009). Com a migração
maciça das zonas rurais para as zonas urbanas na América Latina, a transmissão
transfusional e congênita são mais observadas em zonas onde a transmissão vetorial foi
eliminada (BRUTUS et al., 2007). A transmissão também é possível através de plaquetas,
plasma, crioprecipitado e aglomerados de células brancas do sangue (DEVELOUX et al.,
2009).
A doença não está confinada apenas na América do Sul, com a imigração
internacional, estima-se que 700.000 pessoas infectadas estão vivendo fora do continente
americano. Casos recentes na Europa, sobretudo na Espanha, devido às migrações da
América Latina, as transmissões têm sido descritas por transfusão, transmissão congênita e
transplante (FLORES-CHÁVEZ et al., 2008; FORÉS et al., 2007). Outros países da
Europa, em menor proporção, depararam-se com esta nova realidade, como é o caso da
Suíça, Itália e França, que tem vários casos diagnosticados entre os bolivianos migrantes
nos últimos anos (LESCURE, 2008).
Doenças Negligenciadas x Mercado de Medicamentos
As doenças negligenciadas são um problema global de saúde pública, contudo, os
centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) das indústrias farmacêuticas são quase
sempre focados nas doenças globais, para as quais medicamentos podem ser produzidos e
comercializados com geração de maiores lucros. Com baixo poder aquisitivo e sem
influência política, os pacientes e sistemas de saúde de países subdesenvolvidos não
conseguiriam gerar o retorno financeiro exigido pela maior parte das empresas que
desenvolvem medicamentos (MORAN et al., 2009).
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Além disso, medicamentos atualmente disponíveis são de difícil acesso a alguns
países menos desenvolvidos e, observa-se uma crescente resistência da enfermidade com o
seu uso na terapêutica (WHO, 2009).
Entre 1975 e 2004, apenas 21 medicamentos foram registrados para doenças
tropicais, constituindo estas, mais de 11% da carga global de doenças. Durante o mesmo
período, para outras doenças foram registrados 1.535 medicamentos (DNDi, 2009a;
LEONARDI et al., 2009)
Vários centros de pesquisas e órgãos de saúde, como Instituto Pasteur – França;
Instituto de Pesquisa Médica do Quênia – Quênia; Ministério da saúde da Malásia –
Malásia; Médicos sem fronteiras – Internacional; Fundação Oswaldo Cruz – Brasil, Centro
de Otimização de Candidatos a Medicamentos, Epichem (Austrália), Universidade de
Murdoch (Austrália), Universidade Federal de Pernambuco (Brasil) e Universidade Federal
de Ouro Preto (Brasil), se empenham, tanto para melhora do tratamento atual, quanto para
criação de novos fármacos, com planos de ação para garantir que novos medicamentos
sejam desenvolvidos e que os que já existem para o tratamento de doenças negligenciadas,
em especial a doença de Chagas, possam se tornar acessíveis à população (DNDi, 2009b).
Entre os medicamentos encontrados no mercado para o tratamento da doença de
Chagas (Figura 1), o nifurtimox teve seu uso interrompido, por apresentar muitos efeitos
secundários, tendo apenas o benznidazol (BNZ) disponível no mercado, ainda com uma
série de restrições, como: baixa eficácia na fase crônica da doença, significativas variações
regionais na eficácia devido ao surgimento de resistência do T. cruzi, alta taxa de abandono
do tratamento devido aos efeitos colaterais causados pelos medicamentos, longo período de
tratamento (30 a 60 dias) e a inexistência de formulação pediátrica, ele é considerado o
fármaco de escolha (PAULA et al., 2009; MEZENCEV et al., 2009).
O órgão internacional DNDi (sigla em inglês para iniciativa de Medicamentos para
Doenças Negligenciadas - Drugs for Neglected Diseases initiative), cujo objetivo é criar e
estimular esforços para a Pesquisa e o Desenvolvimento (P&D) de medicamentos para as
doenças negligenciadas, como a doença de Chagas21, visa em seu portfólio de projetos, o
desenvolvimento da primeira formulação de benznidazol pediátrico, assinando acordo com
20
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE), atual detentor da patente
do benznidazol (LAFEPE, 2008).
Figura 1. (1) Nifurtimox. (2) Benznidazol. Fonte: (OLIVEIRA et al., 2008).
Embora as perspectivas em relação à P&D de medicamentos para as doenças
negligenciadas tenham melhorado a partir de 2003, as necessidades dos pacientes nos
países em desenvolvimento ainda estão longe de serem atendidas. Aproximadamente 3,1
mil pacientes com Chagas foram tratados pelos médicos sem fronteiras (MSF) e apenas
cerca de 2,8 mil finalizaram o tratamento com êxito (MSF, 2009).
Tratamento da Doença de Chagas
A tripanossomíase americana continua sendo um problema de saúde pública
significante e o potencial terapêutico dos agentes antichagásico é ainda muito limitado
(MEZENCEV et al., 2009).
No tratamento da doença de Chagas dispõe-se apenas do BNZ. Estudos mostraram
que utilizando a dose na fase aguda de 5 a 7 mg/kg, 2 vezes ao dia, durante 60 dias,
obtem-se 60 à 70% de curas parasitológicas, tendo como principal efeito secundário, a
dermite alérgica que pode acompanhar-se de sinais gerais. Sua limitação é para crianças e
lactentes, pois não existe apresentação pediátrica (DEVELOUX et al., 2009).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estas infecções parasíticas são
parte de um grupo de doenças negligenciadas, em que a quimioterapia ainda precisa ser
melhorada dentro das “janelas” terapêuticas (extensão de tempo em que a concentração do
medicamento oferece o desejado efeito: quando reduzida, o efeito está aquém do desejado
e, quando acima, aparecem os efeitos tóxicos) (BOURGUIGNON et al., 2009).
21
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Fontes de Novos Fármacos
O desenvolvimento de fármacos antiparasitários pode surgir através de experimentos
com produtos naturais ou sintéticos que tenham similaridade com compostos com
reconhecida atividade para outras doenças ou através de alvos metabólicos específicos para
um determinado parasita que se quer atingir (IZUMI, 2008). Como perspectivas para o
tratamento experimental da doença de Chagas, vários alvos estão sendo descobertos através
de estudos metabólicos e bioquímicos do T. cruzi, entre os quais, a síntese de esteróis e
enzimas essenciais ao desenvolvimento e multiplicação desse parasita (FIOCRUZ, 2009a).
Os difundidos na natureza podem ser isolados de fungos, de plantas superiores, de
organismos marinhos e de mamíferos, como exemplo os alcalóides -carbolínicos,
mostrando uma considerável atividade parasiticida contra o T. cruzi (VALDEZ et al.,
2009).
Vários outros compostos naturais e sintéticos foram testados para identificar agentes
com efeitos inibitórios e/ou tóxicos em T. cruzi. Entre eles, alcalóide piperina, lignanas
grandisinas e veraguensinas tetraidrofurânica, flavonóides 5,4 - dihidroxi-7-
metoxiflavonona e 5,4-dihidroxi-3,6,7-trimetoxiflavona, e compostos aromáticos sintéticos
bisfosfonatos e diamidinas que demonstraram atividade in vitro contra formas
tripomastigotas e/ou amastigotas (MEZENCEV et al., 2009).
As diamidinas aromáticas mostraram-se promissoras como futuros agentes eficazes
no tratamento de diversas infecções parasitárias, incluindo o T. cruzi. Entre elas, a
pentamidina é o único composto desta classe que foi significativamente usado em seres
humanos (ALP et al., 2009).
A lignana tetraidrofurânica na sua biotransformação conduziu à formação de um
novo metabólito caracterizado como 3,4-dimetil-2-(4’-hidroxi-3’,5’-dimetoxifenil)-5-
metoxi-tetraidrofurano. O metabólito foi analisado contra o parasita T. cruzi, demonstrando
atividade tripanomicida similar ao precursor natural (VERZA et al., 2009).
Diversas plantas têm se apresentado como rica fonte de substâncias com atividade
contra as formas amastigota, epimastigota e tripomastigota do T. cruzi e, se mostram como
uma das direções promissoras na busca de fármacos eficazes na prevenção e tratamento da
doença de Chagas. Dentre os compostos encontrados nas plantas, as quinonas, flavonóides,
22
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
alcalóides, terpenos e xantonas presentes nos vegetais, foram testados para avaliar alguma
atividade contra as diferentes formas do parasita (SAÚDE-GUIMARÃES & FARIA,
2007).
As naftoquinonas representam uma importante classe de produtos naturais, com
uma grande variedade de atividades biológicas, das quais pode-se citar as atividades
antiparasitárias (RIBEIRO et al., 2008). O lapachol e seus derivados (Figura 2) são
exemplos de naftoquinonas presentes em várias espécies vegetais, os quais apresentaram
atividade contra as formas amastigota, epimastigota e tripomastigota do parasita. O seu
derivado de transformação química, a 3-alil- -lapachona, foi ativo contra formas
tripomastigotas e tem sido sugerido como uma droga alternativa para o uso em bancos de
sangue. Além disso, a epoxi- -lapachona, um derivado da -lapachona, apresentou um
perfil de baixa toxicidade e uma significativa atividade inibitória contra as formas
epimastigota e amastigota do T.cruzi (BOURGUIGNON et al., 2009).
Lapachol
O
O
O
H3C CH3
Lapachona
CH3
CH3
Lapachona
Figura 2. Estruturas químicas do Lapachol e seus derivados ( -Lapachona e -Lapachona).
Fonte: (ALVES, 2004)
Pesquisas em Andamento, Síntese de Novos Fármacos e Novos Modelos in vitro
X in vivo para Avaliação de Fármacos
Novos fármacos seguros e eficazes contra infecções parasitárias são de extrema
necessidade. Atualmente, muitos deles em uso no tratamento, apresentam vários problemas
de toxicidade, eficácia variável, falta de biodisponibilidade e a necessidade de
administração parenteral. Além disso, devido a resistência aos fármacos, tem que se visar
caminhos bioquímicos no parasita, que não traga efeitos secundários para os pacientes
(ALP et al., 2009).
23
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Pesquisas realizadas em busca de novos agentes antichagásicos têm sido feitas
também entre as fitolexinas, substâncias naturais produzidas pelas plantas como mecanismo
de defesa contra bactérias, fungos e insetos. Entre os metabólitos secundários produzidos
pelo vegetal Cruciferous, as fitolexinas apresentaram efeitos antitripanossomal,
demonstrando propriedades antiproliferativa significante nas formas amastigotas
intracelular do T. cruzi, sendo então uma perspectiva de ser um candidato para o
desenvolvimento de fármaco antichagásico (MEZENCEV et al., 2009).
Os compostos derivados de tetrahidro-1-benzazepino foram investigados
sinteticamente e farmacologicamente contra os tripanossomas. Compostos que contêm esta
unidade heterocíclica possuem uma larga escala de atividades biológicas e alguns desses
derivados têm sido obtidos com a possibilidade de serem agentes antitripanossomal quando
usados como inibidores da diidrofolato redutase, enzima do T. cruzi (PALMA et al., 2009).
Paula et al. (2009), obtiveram vários derivados do 5-nitro-heterocíclico,
nitrocompostos, os quais apresentaram atividade de inibição sobre o crescimento da forma
epimastigota, sendo relevante por devido a uma avaliação preliminar do efeito
antiproliferativo do agente antichagásico.
Considerando que o ergosterol é o principal esterol do T. cruzi, na última década, as
pesquisas vêm sendo orientadas para o desenvolvimento de um inibidor eficaz desse
esterol, e assim, neste parasito, etapas da biossíntese de esteróis que são divergentes em
relação à síntese realizada por células de mamíferos têm sido intensamente estudadas como
alvo quimioterápico (FALLA et al., 2009).
A verificação da atividade tripanossomicida de cumarinas e estiril-2-pironas obtidos dos
extratos da Polygala sabulosa (Polygalaceae) contra as formas epimastigota, tripomastigota
sanguínea e amastigota de T. cruzi foram avaliadas in vitro, mostrando potente ação
tripanocida sob as formas epimastigotas 37. Assim, também foi demonstrado com o ácido
úsnico, isolado dos extratos da Cladonia substellata, o qual foi ativo contra epimastigotas
do T. cruzi em concentrações de 5 a 30 g/mL (SAÚDE-GUIMARÃES & FARIA, 2007).
Uma nova série de derivados de tiosemicarbazona e aminoacil-tiazolidonas foi
sintetizada por Leite et al. (2009). As estruturas químicas sugerem que estes compostos
podem ter atividade anti-T. cruzi. A avaliação biológica indica que alguns destes compostos
24
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
são capazes de inibir o crescimento de T. cruzi em concentrações não citotóxicas para
células de mamíferos (LEITE et al., 2009).
Diante da extensa lista de diferentes classes de compostos que apresentaram
atividade in vitro e in vivo sobre T. cruzi, somente alopurinol, itraconazol, fluconazol e
posoconazol foram submetidos a ensaios clínicos desde a introdução do nifurtimox e do
benznidazol. Este fato se deve em muitos casos à inexistência da indicação do efeito
potencial tóxico e/ou teratogênico (em geral somente analisado em modelos in vitro),
enfatizando a necessidade do desenvolvimento de modelos experimentais mais adequados,
bem como a padronização de protocolos de ensaio in vitro, para chegar-se a um fármaco
que possa ser posteriormente submetido a ensaios clínicos (SOEIRO; CASTRO, 2008).
Os dados divulgados pelo DNDi, informam que planejam o desenvolvimento de
novas opções de tratamento para a doença de Chagas, desde a otimização de moléculas na
fase inicial do screening à realização de testes em modelos in vivo, especialmente
camundongos e cães, para avaliação da eficácia e segurança dos compostos. Entre eles os
compostos azólicos, são os mais novos candidatos para desenvolvimento pré-clínico e
clínico (DNDi, 2009).
Diante das formas indeterminadas e complicações tardias da doença de Chagas, a
legitimidade do tratamento etiológico tem sido alvo de muitas discussões. Estudos têm
sido realizados em animais e indivíduos infectados, com o objetivo de avaliar o
tratamento com benznidazol. Nos animais, o tratamento preveniu o desenvolvimento de
doença cardíaca grave, apesar da erradicação incompleta do parasita. Nos indivíduos
houve uma redução no risco de progressão de ataques cardíacos e o aumento da
percentagem no negativismo de sorologia, sem os efeitos secundários graves observados
(DEVELOUX et al., 2009)
Testes realizados com derivados de nitro-2-furil apresentaram uma excelente
atividade anti- T.cruzi frente ao nifurtimox, verificado através de estudo em animais
saudáveis com administração por via oral e intraperitoneal. De acordo com a porcentagem
da sobrevivência dos animais, resultados histológicos, bioquímicos e hematológicos, três
derivados do nitro-2-furil foram selecionados para serem testados in vivo como agentes
antichagásicos. Após análise da relação entre a estrutura química e a toxicidade aguda
25
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
anti- T. cruzi, o derivado 4-hexil-1-3-5-tri-nitro-2-furil-2-propinilideno apresentou melhor
atividade antiparasitíca e menor toxicidade (BESTETTI; MARTINS; CARDINALLI-
NETO, 2009).
Estudos realizados com pacientes crônicos submetidos ao tratamento com
benznidazol revelaram que somente um pequeno percentual dos pacientes tratados evoluiu
para a forma grave da cardiomiopatia chagásica crônica, reforçando a idéia de que o
tratamento pode alterar a evolução para esta forma. Já os estudos com jovens crônicos
tratados com o benznidazol demonstraram cerca de 60% de negativação da sorologia e
que todos ficaram menos vulneráveis a desenvolver danos cardíacos em relação ao grupo
não tratados (FIOCRUZ, 2009).
As alternativas de tratamento atual na doença de Chagas são poucas, apresentando
eficácia clínica variável, mas até hoje ainda não foi desenvolvida nenhuma opção
terapêutica efetiva. Um número de novos fármacos foi relatado por serem eficazes contra o
T. cruzi tanto in vitro como in vivo, mas nenhum foi considerado completamente
satisfatório (PALMA et al., 2009; VALDEZ et al., 2009).
Tecnologia Farmacêutica x Benznidazol
O BNZ, um derivado de 2-nitroimidazol (Figura 1) importante estrutura química
medicinal que mostra um largo espectro de atividade farmacológica, principalmente no
tratamento da doença de Chagas. Um dos mecanismos de ação relatado é relacionado à
redução do metabolismo do parasita, pois utiliza o NADH-dependente mitocondrial para a
sua ativação como um pró-fármaco (HERNÁNDEZ-NÁÑEZ et al., 2009).
Apesar do BNZ não ser o fármaco ideal, devido à sua toxicidade, além da baixa
solubilidade em água, o uso de alternativas tecnológicas, como a obtenção de complexo de
inclusão com as ciclodextrinas, têm sido particularmente usadas devido às suas
propriedades complexantes, por aumentar a solubilidade e dissolução dos fármacos pouco
solúveis e conseqüentemente sua biodisponibilidade (GUEDES et al., 2008).
Outra técnica utilizada pelos pesquisadores na área da tecnologia farmacêutica é a
obtenção de dispersões sólidas, utilizando carreadores solúveis em água, como os
polímeros hidrofílicos, o polivinilpirrolidona (PVP) e o polietilenoglicol (PEG), que têm
26
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
sido largamente empregados nestes sistemas devido aos seus baixos custos e alta
solubilidade em água (LIMA, 2008).
Lima (2008), verificou a contribuição dos sistemas de dispersões sólidas e
complexos de inclusão no incremento da taxa/velocidade de dissolução do BNZ, com
perspectivas de desenvolvimento de formas farmacêuticas mais eficazes e menos tóxicas
para o paciente chagásico.
Neste direcionamento, Lamas et al. (2006) delineou lipossomas que carreiam o
benznidazol com a finalidade de desenvolver uma forma farmacêutica que permitisse
superar a baixa solubilidade do benznidazol em meio aquoso. Desse modo, seria possível
aumentar a seletividade e reduzir a toxicidade do fármaco, contudo o método carrega como
desvantagem a necessidade da administração por via endovenosa, o que representa um
incômodo em tratamentos diários e prolongados. Outra desvantagem está relacionada com a
viabilidade comercial de tal forma farmacêutica, uma vez que seu custo é
consideravelmente mais elevado. Por se tratar de um medicamento destinado a uma doença
negligenciada, o custo do produto final está relacionado com o acesso da população a esta
alternativa terapêutica.
Outra estratégia para melhoria de eficácia biológica de fármacos é a obtenção de
complexos de metais com ligantes ativos como verificado no complexo de rutênio e aril-4-
oxotiazolilhidrazonas, os quais foram submetidos a ensaios in vitro contra formas
epimastigota e tripomastigota e avaliação da citotoxicidade em mamíferos (DONNICIA et
al., 2009).
Abordagens como a veiculação em outras formas farmacêuticas também já foram
propostas e estão em fase de desenvolvimento, tendo como exemplo formulação de
suspensão e composições dose fixa combinada, associações de diferentes ativos numa única
preparação (SOARES-SOBRINHO, 2007b).
Políticas e Ações Governamentais no Combate a Doença de Chagas
O Ministério da Saúde (MS), por intermédio das Secretarias de Ciência, Tecnologia
e Insumos Estratégicos (SCTIE) e de Vigilância em Saúde (SVS), e o Ministério da Ciência
e Tecnologia (MCT), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
27
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Tecnológico (CNPq) vem promovendo, desde 2003, Oficinas de Prioridades para definir
temas de pesquisas em acordo com as necessidades da população brasileira. Essas oficinas,
para definição de prioridades, são realizadas com a participação de gestores, pesquisadores
e profissionais da área de saúde e têm por objetivo nortear as chamadas públicas realizadas
pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, Fundações
de Amparo à Pesquisa (FAP) e Secretarias Estaduais de Saúde e de Ciência e Tecnologia e,
desta forma, coordenar a massa crítica de pesquisadores nesse campo e continuar a
fomentar pesquisas na área de doenças negligenciadas (BRASIL, 2008).
Em 2006, foi iniciado no Brasil, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em
Doenças Negligenciadas. O Programa foi objeto de um edital, que financiou 82 projetos
relacionados a diferentes doenças negligenciadas, com um investimento total de R$ 22,3
milhões. A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde é também parceira
do Programa, contribuindo tecnicamente para o processo de definição de prioridades na
área e para a avaliação dos resultados das pesquisas financiadas (BRASIL, 2009).
Um estudo recente sobre o financiamento global de inovação para doenças
negligenciadas revelou que menos de 5% do financiamento mundial de P&D para essas
doenças foram investidos nas doenças extremamente negligenciadas, tais como doença de
Chagas (MSF, 2009).
Entre 2004 e 2007, 28 pesquisas sobre doença de Chagas foram financiadas,
envolvendo investimentos da ordem de R$ 8 milhões. Desse total, 75,5% dos recursos
foram provenientes do Decit e 24,5% de parceiros como as fundações de amparo à
pesquisa. Grupos de pesquisa de todas as regiões brasileiras foram contemplados, sendo
que um pouco mais que a metade dos trabalhos foram de pesquisadores do Sudeste (53,6%)
(BRASIL, 2008).
Em novembro de 2008, foi realizado um encontro no Rio de Janeiro, que reuniu
representantes de diversas instituições e países, para definir estratégia de pesquisa
translacional em doenças negligenciadas, de forma a transformar resultados de pesquisas
em aplicações médicas para atender à população brasileira. As discussões evidenciaram a
necessidade de expandir o processo de desenvolvimento de tecnologias e medicamentos no
país; de realizar parcerias entre institutos, empresas privadas e instituições de ensino; e de
28
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
definir locais estratégicos para a realização de um programa em doenças negligenciadas,
como o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS), uma das obras do
Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), em processo de construção na Fundação
Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. A partir do encontro, foi elaborado um documento,
entregue ao Ministro da Saúde José Gomes Temporão, com vistas à criação efetiva do
Programa Translacional do Brasil em Doenças Negligenciadas, para o qual está previsto o
investimento de cerca de R$ 500 mil em 2010 (BRASIL, 2009).
Por meio de busca realizada na Pesquisa Saúde, Base de Dados Gerencial Decit do
Ministério da Saúde (www.saude.gov.br/pesquisasaude), com as palavras-chave “doença de
chagas” e “benznidazol” pode se rastrear o número de projetos e o total de recursos
financiados no período de 2002-2008 e 2005-2006, respectivamente (Tabela 1, 2 e 3).
Com a análise da tabela 4, pode-se observar que a doença de chagas dentre as sete
doenças extremamente negligenciadas com pesquisa subsidiada pelo governo é a que
possui o maior número de publicações no intervalo de 2001 a 2008, sendo apenas alcançada
atualmente pela Leishmaniose.
O número de patentes também pode ser utilizado como um indicador de
conhecimentos e inovações geradas na área, contudo há uma grande discussão acerca da
patenteabilidade de pesquisas com foco nas doenças negligenciadas, uma vez que a patente
dificulta o acesso da população a uma alternativa de diagnóstico e/ou tratamento eficaz e de
baixo custo, além de que estas patentes são muitas vezes frutos de projetos financiados pelo
governo e ao público deveriam ser retornados os seus benefícios.
Por meio de uma busca realizada no site do Instituto Nacional de Propriedade
Intelectual (INPI) (www.inpi.gov.br) com a palavra-chave “doença de Chagas” pode-se
localizar 27 patentes depositadas de 1990 a 2007, abrangendo diagnóstico, tratamentos
associados, formulações de fármacos com complexos de inclusão, técnica de extração e
composição química de extratos com atividade aplicada ao tratamento da doenças de
Chagas, dentre outros. Por meio de busca utilizando a palavra-chave “benznidazol” pode-se
localizar uma patente depositada em 2007, que visa o processo de obtenção e uso de um
composto transportador de benznidazol, a base de rutênio (INPI, 2009).
29
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
A pesquisa em bases de dados internacionais de patentes não apresentou resultados
enriquecedores ao assunto, esta afirmação pode ser justificada uma vez que o número de
patentes está diretamente relacionada ao investimento financeiro realizado por instituições
governamentais e/ou privadas e que a aplicabilidade comercial destes produtos é maior nos
países acometidos por estas doenças.
Tabela 1. Resultado da Busca dos recursos investidos em “doença de Chagas”: 2002-2008.
Síntese da Busca Modalidade de
FomentoPPSUS(Edital)
Fomento Nacional (Edital)
Contratação Direta (Contrato)
Total(Editais + Contratos)
Nº de Editais/ Contratos 65 43 62 169
Nº de Projetos 1212 1202 91 2506Nº de Recursos R$ 59.864.966,84 R$ 298.185.015,28 R$ 64.348.296,20 R$ 422.398.278,32
Fonte: Brasil, Ministério da Saúde, Departamento de Ciência e Tecnologia – Decit. Base de Dados Gerencial. Capturado em 23/05/2009.
Tabela 2. Resultado da Busca dos recursos investidos em “benznidazol”: 2005-2006.
Síntese da Busca Modalidade de
FomentoPPSUS(Edital)
Fomento Nacional (Edital)
Contratação Direta (Contrato)
Total(Editais+Contratos)
Nº de Editais/ Contratos 1 2 1 4
Nº de Projetos 1 2 1 4Nº de Recursos R$ 136.146,25 R$ 491.500,00 R$ 217.400,00 R$ 845.046,25
Fonte: Brasil, Ministério da Saúde, Departamento de Ciência e Tecnologia – Decit. Base de Dados Gerencial. Capturado em 23/05/2009.
Tabela 3. Resultado da Busca dos projetos com “benznidazol”: 2005-2006.
UF ANO Edital /Contratação Direta Título Subagenda Coordenador
DF 2005 Tratamento Multi-Fármaco da Doen...
Tratamento Multi-Fármaco da Doen...
PesquisaClínica Antonio Teixeira
PE 2005 Assistência Farmacêutica
Desenvolvimento de formas farm...
Assistência Farmacêutica
Pedro José Rolim Neto
MG 2006 Programa Pesquisa para o SUS M...
Clínica, epidemiologia e terap...
DoençasTransmissíveis Marta de Lana
RJ 2006 DoençasNegligenciadas
Inovação em medicamentos e ter...
DoençasTransmissíveis
Solange Lisboa de Castro
Fonte: Brasil, Ministério da Saúde, Departamento de Ciência e Tecnologia – Decit. Base de Dados Gerencial. Capturado em 23/05/2009
30
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Tabela 4. Publicações por autores brasileiros nas sete doenças do programa de P&D em doenças negligenciadas.
Esquist. = Esquistossomose. Leishm. = Leishmaniose. Fonte: FIOCRUZ, 2009c.
Conclusões
A busca por alternativas ao combate à doença de Chagas é secular, esforços isolados
e de pequenos grupos foram registrados ao longo desse tempo, diversas moléculas foram
sintetizadas e estudadas, duas delas foram introduzidas na terapêutica, mas desde a década
de 1980 apenas o benznidazol permanece disponível em território nacional. Na última
década observa-se uma coordenação mais efetiva dos esforços para potencializar os
conhecimentos gerados com as pesquisas nos diferentes campos da ciência, endossada pelo
papel do estado como provedor e maior financiador de saúde pública, diversos agentes
estão envolvidos nessas buscas constituindo assim um horizonte promissor no combate a
doença que completa cem anos de sua descoberta.
Referências
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Ano Dengue Hanseníase Malária Tuberculose Esquist. Leishm. Chagas Totais
2001 10 24 36 23 54 75 93 315
2002 10 17 28 26 72 97 103 353
2003 16 22 30 36 42 89 135 370
2004 15 23 35 42 66 87 125 393
2005 20 23 42 52 57 120 144 458
2006 26 21 50 59 100 136 157 549
2007 43 45 64 67 52 171 165 607
2008 68 62 83 141 61 214 236 865
Totais 208 237 368 446 504 989 1158 3910
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35
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
3.2 Artigo II. Alternativas Tecnológicas para o incremento de solubilidade de
Fármacos pouco solúveis
Resumo
O comportamento da solubilidade de fármacos permanece sendo um dos aspectos
mais desafiantes no desenvolvimento de formulação. As dispersões sólidas e os complexos
de inclusão são duas das estratégias mais promissoras para melhorar a biodisponibilidade
oral de fármacos pouco solúveis em água. Reduzindo o tamanho de partícula do fármaco ao
mínimo absoluto, e melhorando a molhabilidade do fármaco, a biodisponibilidade pode ser
significativamente melhorada. A base para a popularidade destes sistemas do ponto de vista
farmacêutico é a habilidade destes compostos de interagir com fármacos pouco solúveis em
água e candidatos a fármacos tendo por resultado um aumento em sua solubilidade aparente
em água. Esta revisão objetiva abordar o uso das ciclodextrinas e de dispersões sólidas
como alternativas das tecnologias no estudo de solubilização de fármacos.
Palavras-chave: Dispersão sólida, polímeros, complexos de inclusão, ciclodextrinas,
solubilidade.
Introdução
A administração oral é a maneira mais fácil e simples de administrar
medicamentos1,2. Devido à maior estabilidade, menor volume, dose exata e fácil produção,
as formas farmacêuticas sólidas têm muitas vantagens sobre outros tipos de formas
farmacêuticas orais. Conseqüentemente, a maioria das entidades químicas sob
desenvolvimento nos dias atuais é pretendida a serem usadas como formas farmacêuticas
sólidas que originam uma concentração in vivo no plasma eficaz e reprodutível após
administração oral3,4. De fato, muitos fármacos que são fármacos pouco solúveis em água,
não são bem absorvidos após administração oral4,5 o que pode diminuir a eficácia inerente
do fármaco6,7,8. O incremento da biodisponibilidade oral de fármacos pouco solúveis em
água constitui um dos aspectos mais desafiantes no desenvolvimento de fármacos. Embora
a formação de sal, solubilização e redução do tamanho de partícula sejam usados
36
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
geralmente para aumentar a taxa de dissolução e absorção oral e biodisponibilidade de
algumas fármacos, há algumas limitações práticas destas técnicas.
Várias técnicas têm sido usadas para melhorar a solubilidade/taxa de dissolução de
fármacos pouco solúveis em água, dentre estas, as dispersões sólidas e os complexos de
inclusão com ciclodextrinas são as mais utilizadas. O principal objetivo deste trabalho foi
mostrar a possibilidade de melhorar a solubilidade e taxa de dissolução de fármacos de
baixa solubilidade através destas técnicas.
Dispersões Sólidas
O termo dispersões sólidas (DS) tem sido utilizado para descrever uma família de
formas farmacêuticas onde o fármaco é disperso em uma matriz inerte, geralmente com o
propósito de aumentar a biodisponibilidade oral10. Em 1961, Sekiguchi e Obi
desenvolveram um método prático que pudesse superar muitas das limitações com o
aumento da biodisponibilidade de fármacos pouco solúveis em água. Este método, que mais
tarde foi denominado dispersão sólida12, envolveu a formação de misturas eutéticas de
fármacos com carreadores solúveis em água pela fusão de suas misturas físicas. Sekiguchi e
Obi sugeriram que o fármaco estava presente em uma mistura eutética em um estado
microcristalino13. Mais tarde, Goldberg et al. (1966), demonstrou que todo fármaco em uma
dispersão sólida não deve necessariamente estar presente em um estado microcristalino;
uma certa fração do fármaco deve estar dispersa de forma molecular em uma matriz, desse
modo formando uma solução sólida. Em qualquer caso, uma vez que a dispersão sólida foi
exposta em meio aquoso e o carreador dissolvido, a fármaco foi liberada como partículas
coloidais muito finas14. Por causa da área de superfície extremamente aumentada, foi
constatada a elevação da taxa de dissolução e biodisponibilidade de fármacos pouco
solúveis em água. Logo após os experimentos de Sekiguchi e Obi (1961), tinham sido
usados preferencialmente misturas eutéticas e soluções sólidas contendo dispersões
moleculares por Levy (1963), precedido por Kaning (1964)14,15,16.
Um dos principais fatores que impediam sua comercialização eram o alto custo da
tecnologia de obtenção e a instabilidade de formas não-cristalinos produzidas pelas DS.
Contudo com a redução no preço e melhorias nas tecnologias de obtenção de DS tornaram
37
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
possível seu uso comercial e estudos com aparência de formulações comerciais como as DS
de griseofulvina em polietileno. Uma destas melhorias foi o uso de polivinilpirrolidona
(PVP) e polietilenoglicol (PEG) como carreadores, conseqüentemente eles são polímeros
de baixo custo e favoreceram a formação de sais amorfos de Rosiglitazona, que foi uma
vantagem na estabilidade da DS em condições de umidade por longo período de tempo. É
evidente que a escolha do polímero ou substância para a preparação das dispersões sólidas
(além da natureza do fármaco) irá determinar as dinâmicas de dissolução. Assim a
associação do polímero hidrofílico com fármacos pouco solúveis em água determinará
aumento de solubilidade e conseqüentemente dissolução; Fármacos solúveis em água com
polímeros pouco solúveis ou insolúveis em água determinarão uma liberação retardada17.
O aumento na taxa de dissolução e solubilidade providos pelas dispersões sólidas
podem ser explicados pelo mecanismo descrito na equação de Noyes–Whitney 18,19:
dM = AD(Cs-Ct)
dt h
Onde: dM/dt é a razão de dissolução, A é a área de superfície específica particular do fármaco, D é o coeficiente de difusão, h é a espessura da camada de difusão, Cs é a solubilidade de saturação, e Ct é a concentração do fármaco no tempo t.
Como já existem diferentes expressões10 para avaliar o modelo carreador-dissolução
controlada do fármaco, seria claramente desejável derivar uma expressão na qual o
mecanismo de liberação da partícula intacta poderia ser descrito. É esboçada abaixo uma
base sugerida para tal análise. Esta abordagem foi desenvolvida na idéia do polímero sólido
rescindindo uma distância na qual uma única partícula é liberada, como indicado na Figura
1.
Vantagens das dispersões sólidas sobre outras estratégias para melhorar a
biodisponibilidade de fármacos pouco solúveis em água, melhoria na biodisponibilidade do
fármaco pela mudança de sua solubilidade em água foi possível por alterações químicas ou
de formulação20,21,22.
38
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Fig. 1. Representação esquemática da estrutura de dispersões sólidas com referência ao
modelo derivado para dissolução controlada de fármacos10.
Alterações químicas para melhorar a biodisponibilidade sem mudar o alvo ativo
podem ser conseguidas pela formação de sal ou pela incorporação de grupos polares ou
ionizáveis na estrutura principal do fármaco, resultando na formação de uma pró-fármaco.
Dispersões sólidas aparentam ser a técnica mais adequada para o aperfeiçoamento da
solubilidade de fármacos hidrofóbicos, devido à sua facilidade de obtenção e maior
aplicabilidade. Por exemplo, a formação de sal pode ser usada para fármacos fracamente
ácidas ou básicas e não para neutras. Além disso, é comum que a formação de sal não
consiga uma melhor biodisponibilidade por causa de sua conversão in vivo em forma ácida
ou básica23,24.
Otimização de formulação incluem técnicas de solubilização e redução do tamanho
de partículas, e as dispersões sólidas estão entre elas. As dispersões sólidas são mais
aceitáveis aos pacientes que produtos de solubilização, desde que originem formas
farmacêuticas sólidas orais ao invés de líquidas, como os produtos de solubilização
geralmente fazem23,24. Trituração ou micronização para redução do tamanho de partícula
são executados geralmente como alternativa para melhorar a solubilidade, com base no
aumento da área de superfície7,10. Dispersões sólidas são mais eficientes que outras técnicas
Partícula do Fármaco
Material Sólido
Superfície sólida / Interface da camada de difusão
Polímero-rico camada de difusão
Camada de difusão / interface do volume da fase aquosa
39
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
de redução de tamanho de partículas, desde que as últimas tenham um limite de redução de
tamanho de partícula em torno de 2 a 5 mm que freqüentemente não é suficiente para
melhorar consideravelmente a solubilidade do fármaco ou a liberação do fármaco no
intestino7,24,25 e, conseqüentemente, melhorar sua biodisponibilidade23,24,26. Além disso,
sólidos que tem tamanho de partícula pequeno possuem propriedades mecânicas
deficientes, como baixo fluxo e elevada adesão, e são extremamente difíceis de segurar24,25.
Desvantagens das Dispersões Sólidas
Apesar da extensiva pesquisa com dispersões sólidas, não são usadas amplamente
em produtos comerciais, principalmente porque há a possibilidade de durante o processo
(esforço mecânico) ou o armazenamento (estresse por temperatura e umidade) o estado
não-cristalino passar para o estado cristalino27,28,29,30. O efeito da umidade no
armazenamento e estabilidade de fármacos amorfos tem interesse significativo, porque
pode aumentar a mobilidade do fármaco e promover sua cristalização30,31,32,33. Outros
fatores que limitam o sucesso desta tecnologia está na natureza do carreador, que são: o
tamanho da cadeia polimérica e a relação da razão com o fármaco na dispersão31,34.
Foi demonstrado com o polivinilpirrolidona (PVP) que o tamanho da cadeia age
negativamente no seu sucesso, além disso, o aumento da viscosidade do polímero diminui
tanto o processo de dissolução quanto a taxa de liberação 35,36. O PVP mais usado em
dispersões sólidas é o PVP K-30 pelas suas características adequadas33,37,38.
Processo de Fabricação
Método de evaporação do solvente
O método de evaporação do solvente consiste na solubilização do fármaco e
carreador em um solvente volátil que depois é evaporado39,40,41. Neste método, a
decomposição térmica das fármacos ou carreadores pode ser prevenida, desde que a
evaporação do solvente orgânico ocorra a baixa temperatura42.
Um processo básico de dispersões sólidas deste tipo consiste em dissolver a fármaco
e o polímero carreador em um solvente comum como o etanol 21,24,25, clorofórmio27,43 ou
40
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
uma mistura de etanol e diclorometano44. Normalmente, os filmes resultantes são
pulverizados e tamisados21,40,45,46.
Van Drooge et al. (2006)5 preparou uma alternativa de dispersão sólida por
atomização (spraying) em solução de povidona e diazepam em nitrogênio líquido,
formando uma suspensão que foi então liofilizada. O processo básico de liofilização
(freeze-drying) consiste em dissolver a fármaco e carreador em um solvente comum, que é
imerso em nitrogênio líquido até total congelamento.
Outro processo comum é o método de co-precipitação, no qual um co-solvente é
adicionado lentamente na solução do fármaco com o carreador, sob constante agitação. No
momento da adição do co-solvente, o fármaco e o carreador são co-precipitados para
formar micropartículas. Ao final, a suspensão resultante de micropartículas é filtrada e
seca47.
Spin-coated films é um novo processo para preparar dispersões sólidas pelo método
de evaporação do solvente, que consiste em dissolver o fármaco e o carreador em um
solvente comum que é adicionado lentamente em um substrato limpo sob alta agitação48. O
solvente é evaporado durante a rotação. Este processo é indicado para fármacos sensíveis à
umidade desde que realizado sob condições secas48. O uso de solventes orgânicos, o alto
custo de preparação e as dificuldades em remover completamente o solvente são algumas
das desvantagens com os métodos de evaporação por solvente7,42. Além disso, é também
possível que rápidas alterações nas condições usadas para a evaporação do solvente possam
gerar mudanças grandes no rendimento do produto49.
Método de fusão
Sekiguchi et al. foram os primeiros a usar o método de fusão que consiste em fundir
a fármaco junto com o carreador seguido de congelamento e pulverização para obter o
produto. No processo de fusão, a mobilidade molecular do carreador é alta o bastante para
mudar a incorporação do fármaco5. A adaptação comum à fase de fusão consiste em
suspender o ativo em um carreador previamente fundido, em vez de usar os dois num
estado fundido, reduzindo assim, a temperatura do processo6,50,51. Para resfriar e solidificar
a mistura fundida, vários processos como agitação em banho de gelo13,27, espalhamento em
41
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
camada fina de aço inoxidável seguido de esboço frio12, solidificação em placas de petri à
temperatura ambiente dentro de dessecador51,52, espalhamento em placas colocadas sob
gelo seco53, imersão em nitrogênio líquido54 ou estocado em dessecador6,55 foram usados.
Após resfriamento, a mistura deve ser pulverizada visando sua manipulação52,55. Entretanto,
o uso de altas temperaturas, e o fato de várias fármacos poderem ser degradadas pelo
processo de fusão, pode ser uma limitação deste método23.
Caracterização das Dispersões Sólidas
Os métodos que têm sido utilizados para caracterizar dispersões sólidas são
demonstrados na Tabela 1. Entre eles, os mais importantes são os métodos termoanalíticos,
difração de Raios-X, espectroscopia de Infravermelho e estudos de dissolução dos
fármacos56.
Tabela 1 Métodos de caracterização de dispersões sólidas
Métodos Microscópicos: Mc. Eletrônica de Varredura (MEV) e Mc. Eletrônica de Transmissão (MET)
Métodos Termoanalíticos: Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)
Métodos espectroscópicos: Espectroscopia no Infravermelho
Difração de Raios-X
Testes de Dissolução
Métodos Termoanalíticos
Incluem todo o exame das características dos sistemas em função da temperatura.
Entre estes, a calorimetria diferencial de varredura (DSC) é o método mais empregado. O
DSC permite a detecção quantitativa e qualitativa de todos os processos em que a entalpia é
absorvida ou produzida (transformações de fase endotérmica ou exotérmica). O método
usual de medida é o aquecimento de amostras teste e referência de tal maneira que a
temperatura das duas é mantida. Se uma transição de fase ocorre na amostra teste, calor
extra é aplicado a esta amostra de modo que sua temperatura fique na mesma faixa que na
amostra referência. O calor adicional exigido gravado e usado para quantificar a energia da
fase de transição. Transições exotérmicas, tais como, a conversão de um polimorfo em um
42
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
poliformo mais estável, pode também ser detectada. A falta de um pico de fusão no DSC
em uma dispersão sólida indica que a fármaco está presente mais no estado amorfo do que
na forma cristalina. Desde que o método seja quantitativo, o grau de cristalinidade também
pode ser calculado para sistemas em que o fármaco é em parte amorfa e em parte cristalina.
Entretanto, cristalinidade abaixo de 2% geralmente não pode ser detectada por DSC57.
Difração de Raios-X
O princípio da difração de Raios-X o feixe é aplicado na amostra, e bandas de
interferência podem ser detectadas. O ângulo cujas bandas de interferência podem ser
detectadas depende do comprimento de onda aplicado e da geometria da amostra com
respeito a periodicidades na estrutura. A Cristalinidade na amostra é refletida por uma
região característica denominada fingerprint (impressão digital) na difração do padrão.
Devido à especificidade do fingerprint, a cristalinidade na fármaco pode ser identificada
separadamente pela cristalinidade do carreador. Consequentemente, é possível com a
difração de Raios-X diferenciar entre soluções sólidas, em que a fármaco não-cristalino, e
dispersões sólidas, em que é pelo menos em parte presente na forma cristalina, não obstante
se o carreador é amorfo ou cristalino. Entretanto, cristalinidades abaixo de 5±10% podem
geralmente ser detectadas com difração de Raios-X. Verheyen et al. (2002) usou dois tipos
de difração de Raios-X na caracterização de dispersões sólidas de diazepam e temazepam
com PEG 6000: Método da Câmera de Guinier e difratometria de pó de Bragg-Brentano58.
Espectroscopia no Infravermelho
Mudanças estruturais e ausência de estrutura cristalina podem levar a mudanças nas
ligações entre grupos funcionais que podem ser detectados por espectroscopia de
Infravermelho. Como nem todos os picos no espectro IV são sensíveis a mudanças
cristalinas, e é possível diferenciá-los49.
43
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Estudos de dissolução
Experimentos de taxa de liberação não podem ser usados isolados para determinar
se uma dispersão sólida foi formada ou não. Contudo, em conjunto com outros dados
físico-químicos, eles fornecem forte evidência da formação de um sistema molecular
disperso ou aproximadamente disperso. Quando o objetivo da preparação de uma dispersão
sólida é melhorar as características de dissolução do fármaco em questão, os resultados dos
experimentos de taxa de liberação são obviamente de suma importância para avaliar o
sucesso da aproximação. Um experimento de dissolução bem desenvolvido mostrará se a
solubilidade e taxa de dissolução do fármaco foi melhorada, e também se a solução
supersaturada é estável ou tende a precipitar rapidamente.
Comparação de resultados do pó do fármaco puro e misturas físicas do fármaco com
o carreador podem ajudar a indicar se o carreador melhorou a dissolução: via solubilização
e efeitos molhantes que poderiam ser afetados por uma simples mistura dos seus
componentes, ou pela formação de uma solução/dispersão sólida58.
Complexos de Inclusão com Ciclodextrinas
As ciclodextrinas são oligossacarídeis naturais cíclicos que foram descobertos a
apenas 100 anos atrás. Foram chamadas de "cellulosine" quando descritas primeiramente
por Villiers em 189159. Logo após, Schardinger identificou as três ciclodextrinas naturais -
, - , and – (ilustrado na fig. 4b). Estes compostos foram referidos conseqüentemente
como “açúcares de Schardinger"59. Por 25 anos, entre 1911 e 1935, Pringsheim na
Alemanha era o principal pesquisador nesta área, demonstrando que a ciclodextrinas
formaram complexos aquosos estáveis com muitos outros produtos químicos. Em meados
da década de 1970, cada uma das ciclodextrinas naturais foi caracterizada estrutural e
quimicamente e muito mais complexos foram estudados. Desde a década de 1970,
extensivo trabalho foi conduzido por Szejtli et al. explorando encapsulação por
ciclodextrinas e seus derivados para aplicações industriais e farmacológicas59,60.
As ciclodextrinas compõem a família de oligossacarídeos cíclicos compostos de 5
ou mais unidades de -D-glucopiranosídeo, como uma amilose (um fragmento de amido).
Recentemente, a mais longa ciclodextrina contendo 32 unidades de 1,4-
44
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
anidroglucopiranosídeo foi bem caracterizada. As ciclodextrinas típicas clássica,
conhecidas como naturais, contêm seis, sete ou oito unidades de glicose, sendo
denominadas: -ciclodextrina: molécula com anel de seis unidades de glicose; -
ciclodextrina: molécula de sete unidades de glicose; -ciclodextrina: oito unidades de
glicose.
Ciclodextrinas são produzidas por amido proveniente de conversão enzimática. Nos
últimos anos foram encontrados uma larga escala de aplicações nas indústrias de alimentos,
farmacêutica e química, bem como na agricultura e engenharia ambiental. A estrutura
espacial cônica e a orientação dos grupos hidroxila para o exterior concebem a estes
açúcares cíclicos propriedades físico-químicas capazes de solubilizar em meio aquoso e ao
mesmo tempo encapsular na sua cavidade interior moléculas hidrofóbicas61,62,63. CDs
podem ser também usadas para melhorar a permeação de fármacos pouco solúveis e
fármacos com problema de permeação64. Isto pode ser possível devido à dúbia
característica das CDs64. Elas apresentam caráter tanto lipofílico como hidrofílico e este
mecanismo suposto é demonstrado na Figura 2.
Fig. 2. O efeito da complexação de ciclodextrina na biodisponibilidade do fármaco após administração não-parenteral64.
Membrana aquosa exterior
Barreira de difusão aquosa
Biomembrana lipofílica
CirculaçãoSistemica
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Preparação de Complexos de Inclusão
Malaxagem
Consiste em formar uma pasta a partir da adição da mínima quantidade de líquido
(água ou misturas etanol e água) suficiente para umedecer a mistura em pó de fármaco e
CD. Em escala laboratorial, é realizada em um almofariz com auxílio de um pistilo65,66,67.
Industrialmente, a mistura de componentes é efetuada em uma malaxadora. A secagem do
material pode ser feita em estufa ou diretamente na malaxadora acompanhada de
pulverização para uniformizar o tamanho de partícula.
Atomização (Spray Drying)
Representa um dos métodos mais empregados para produzir complexos de inclusão
a partir de uma solução. A mistura parcial do sistema e a rápida eliminação de água
propiciam uma eficiência de complexação elevada. Além disso, esta técnica permite
controlar o tamanho de partículas obtido em intervalos bastante estreitos, fundamental, por
exemplo, para obtenção de pós de administração pulmonar68. O baixo rendimento e o
estresse térmico são algumas das limitações desta técnica65.
Liofilização (freeze Drying)
Consiste na eliminação de solvente dos sistemas em solução, através de um prévio
congelamento e posterior secagem a pressões reduzidas. Esta técnica permite a obtenção de
complexos de inclusão com elevado rendimento e um baixo estresse térmico. Geralmente
se obtêm pós secos, amorfos e com elevado grau de interação fármaco-CD69,70. Apresenta
como desvantagens, o longo tempo de processamento e as más características de fluxo do
material obtido.
Método de Co-precipitação
Esta técnica parte de uma solução de fármaco e CD em condições muito próximas a
saturação e através de mudanças bruscas de temperatura ou adição de solventes orgânicos,
se induz a precipitação do material em forma de complexo de inclusão. Os cristais obtidos
são coletados por centrifugação ou filtração71. Este método é bastante utilizado em escala
46
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
laboratorial, sendo freqüentemente empregado na obtenção de complexos de inclusão
cristalinos com a CD. No entanto, o baixo rendimento conseguido em escalas maiores, o
risco de formação de complexos de inclusão com solventes orgânicos e o longo tempo do
processamento (um a três dias) torna-o pouco atrativo em escala industrial72.
Fluidização supercrítica
Constitui um dos métodos mais inovadores de obtenção de complexos em estado
sólido. O desenho de partículas empregando CO2 em estado supercrítico confere aos
materiais obtidos por esta técnica, características únicas quanto à interação73. Apesar de ser
um método atóxico (não utiliza solventes orgânicos), rápido, quimicamente estável (utiliza
temperaturas moderadas), de baixo custo de manutenção e com promissores resultados
descritos na literatura, ainda é uma técnica experimental e que apresenta um custo inicial
bastante elevado74.
Caracterização dos Complexos de Inclusão
Os métodos que têm sido usado para caracterizar complexos de inclusão são
relatados na Tabela 1. São os mesmos métodos utilizados na caracterização de dispersões
sólidas, com a adição de Ressonância Magnética Nuclear (RMN), método analítico mais
específico para complexos de inclusão.
Diagramas de solubilidade de fases
Este método baseado na teoria desenvolvida por Higuchi and Connors em 196575
consiste na técnica mais aproximada para caracterizar complexos de inclusão em solução.
Estes estudos podem mostrar efeitos na melhora de solubilidade na estabilidade das
inclusões e avaliação estequiométrica das mesmas. Este teste pode ser usado para estimar a
constante de acordo com o grau de estabilidade dos complexos de inclusão. A Figura 3
mostra como classificar perfis tipo A. A solubilidade linear está representando um perfil AL
no gráfico. Esta é a primeira ordem do fármaco em relação a CD. AN e AF requerem uma
interpretação mais cuidadosa devido à multiplicidade de fenômenos que podem ocorrer.
Perfis do tipo B são obtidos com a formação de complexos de baixa solubilidade aquosa,
47
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
em alguns casos, inclusive inferior à da molécula hospedeira e que precipitam à medida que
há indusão76,77.
Fig. 3 Perfis de solubilidade pela teoria de Higuchi e Connors. So é a solubilidade
intrínseca do fármaco na ausência de ciclodextrina.
Sistemas multi-componentes: Polímeros com Ciclodextrinas
Apesar das ciclodextrinas (CDs) por muito tempo terem sido usadas para formar
complexos de inclusão (CIs) solúveis e cristalinos com uma variedade de pequenas
moléculas hóspedes, Harada and Kamachi demonstraram primeiramente em 1990, usando
polietileno óxido (PEO) líquido de baixo peso molecular, que não se ligam covalentemente,
então CIs cristalinos poderiam ser formados entre os polímeros hóspedes e as CDs
hospedeiras78. Isso é realizado pelo rosqueamento dos polímeros hóspedes nas cavidades
das CD para formar pilhas cristalinas de polímeros, como ilustrado na Fig. 4f. Cadeias
poliméricas inclusas nos complexos CD-CIs apresentam os polímeros extendidos e isolados
nas cadeias dos complexos vizinhos, porque estão completamente rosqueados e confinados
nos canais estreitos das cavidades das CDs (Fig. 4f).
Ciclodextrina
Fárm
aco
Dis
solv
ido
48
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Fig. 4. (a) estrutura química da -CD ; (b) dimensões aproximadas da -, -, and -CDs;representações esquemáticas das estruturas de empacotamento das CD: (c) tipo gaiola, (d) tipo camada, (e) cristais CD tipo canal-cabeça e cauda; e (f) sistemas CD-CI contendo polímero incluso78.
Se as CDs hospedeiras no complexo polímero-CD-CIs são cuidadosamente
removidas e as cadeias de polímeros são permitidas a coalescer em um volume de amostra
sólida, então pode-se esperar que o arranjo das cadeias ou seu empacotamento, deva ser
significativamente diferente daquelas normalmente produzidas de sua combinação aleatória
e por métodos de solução ou fusão, como sugerido na Fig. 5.
As CD podem igualmente se ligar covalentemente aos polímeros para alterar suas
funcionalidades com a incorporação das CDs em suas estruturas durante a condensação em
suas cadeias laterais via reações de polimerização. A presença de ciclodextrinas ligadas
covalentemente em polímeros, além de potencializar o aumento da solubilidade de
fármacos pouco solúveis, também serve para aumentar a aceitação das ciclodextrinas em
outras áreas, como por exemplo, na retenção de aditivos, como tinturas, fragrâncias,
antibióticos, etc.
49
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Fig. 5. Representação esquemática da formação polímero CD-CI o processo de coalescência, e o polímero coalescido79.
Conclusão
A baixa solubilidade continua impactando o desenvolvimento de um grande número
de potenciais candidatos a medicamentos. A maioria das novas entidades químicas
promissoras são fármacos pouco solúveis em água, que podem apresentar reduzido efeito
terapêutico devido à sua baixa biodisponibilidade. Dispersões sólidas são um dos mais
atrativos processos para melhorar a solubilidade de fármacos pouco solúveis. Pode-se
melhorar sua estabilidade e eficiência pelo aumento de solubilidade através da interação
fármaco-polímero, fração não-cristalina, molhabilidade e porosidade da partícula. As
ciclodextrinas representam uma alternativa verdadeira neste contexto. Estes derivados do
amido são solubilizadores úteis, tanto para líquidos orais como em formas farmacêuticas
parenterais. Adicionalmente pode-se aumentar a biodisponibilidade oral de sólidos através
do aumento da taxa de dissolução secundária para aumentar a solubilidade aparente de um
composto. Enquanto que a formação de complexos de inclusão certamente é o maior
mecanismo associado com o potencial de solubilização das ciclodextrinas, efeitos
Polímero
Solventeorgânico
Tempo
Agitação
Água
Indução da Complexação
Remoção de
ciclodextrina em água com amilase
Cadeias do polímero coalecida mais linear
Complexo de inclusão em pó
Filtração do Precipitado
50
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
relacionados a não complexação e supersaturação são importantes contribuintes para
solubilização em certas circunstâncias. Polímeros hidrofílicos e ciclodextrinas agindo
isoladas com o fármaco ou formando complexos e sistemas multi-componentes são
eficientes ferramentas na solubilização de fármacos.
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
3.3 Artigo III. Ferramentas Analíticas Aplicadas na Caracterização de Complexos de
Inclusão Fármaco-Ciclodextrina
Resumo
Na indústria farmacêutica, as ciclodextrinas têm sido particularmente usadas devido
às suas propriedades complexantes, principalmente pelo aumento da solubilidade. O
ambiente lipofílico da cavidade interna das ciclodextrinas propicia condições favoráveis
para a formação de complexos de inclusão com compostos hidrófobos. Apesar do número
crescente de trabalhos utilizando essa técnica, a caracterização desses complexos constitui-
se um processo delicado. As alterações das propriedades físico-químicas das moléculas
hóspedes estão na origem da utilização de metodologias analíticas que permitam detectar
estas variações, que fornecem informações sobre o comportamento de formação dos
complexos. O objetivo deste trabalho foi discutir por meio de uma ampla revisão, os
principais métodos utilizados no passado, na atualidade e a tendência futura para
caracterização de complexos de inclusão.
Palavras-chave: caracterização, complexo de inclusão, ciclodextrina
Introdução
Na indústria farmacêutica, as ciclodextrinas (CDs) têm sido particularmente usadas
devido às suas propriedades complexantes, por aumentar: a solubilidade e dissolução dos
fármacos pouco solúveis, sua biodisponibilidade e estabilidade, diminuir a irritação
gástrica, dérmica ou ocular causada por determinados fármacos, diminuir ou eliminar
odores ou sabores desagradáveis, prevenir interações entre diferentes fármacos ou entre
fármacos e excipientes (GUEDES et al., 2009).
As CDs são oligossacarídeos cíclicos, compostos por unidades de glicose unidas
através de ligações -1,4 (GUAN et al., 2009) originados da degradação do amido pelas
enzimas glicosiltransferases, sintetizadas por alguns microrganismos (JUN et al., 2007).
56
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Nessas moléculas, os grupos hidroxilas, primários e secundários estão orientados para o
exterior do anel formado, na porção estreita e larga respectivamente, conferindo-lhe um
exterior bastante hidrofílico e uma cavidade interna hidrofóbica, onde as moléculas
hóspedes ou parte delas são encapsuladas (HAIYEE et al., 2009; SÁ-BARRETO &
CUNHA-FILHO, 2008).
As que são obtidas com maior rendimento são comumente conhecidas como CDs
naturais e contém seis, sete ou oito unidades de glicose, sendo denominadas de -
ciclodextrinas ( CD), -ciclodextrinas ( CD) e -ciclodextrinas ( CD) respectivamente
(CANNAVÀ et al., 2008).
O ambiente lipofílico da cavidade interna das ciclodextrinas propicia condições
favoráveis para a formação de complexos de inclusão com compostos hidrófobos quando se
encontram numa solução aquosa (GUEDES et al., 2008).
A principal força motriz que favorece a indusão molecular consiste na substituição
das moléculas de água, que possuem elevada entalpia, por moléculas hóspedes adequadas.
Trata-se de um processo energeticamente viável por promover uma alteração favorável de
entalpia, aumento de entropia e redução da energia total do sistema, fatores que contribuem
para o aumento da estabilidade do complexo formado. Interações eletrostáticas de Van der
Waals, interações hidrofóbicas, ligações de hidrogênio, também contribuem para formação
e estabilização dos complexos de inclusão (GÓRNAS et al., 2009).
Fármacos poucos solúveis freqüentemente manifestam biodisponibilidade in vivo
inferior quando comparados aqueles de alta solubilidade. Logo, a formação de complexos
de inclusão entre fármacos e ciclodextrinas está entre as técnicas mais vantajosas e
eficientes quando se busca melhoria nas propriedades de dissolução e biodisponibilidade de
fármacos pouco solúveis em água (SPRICIGO et al., 2008; LIMA et al., 2008).
Apesar do número crescente de trabalhos utilizando complexos de inclusão, a
caracterização desses, constitui-se um processo delicado. As propriedades físico-químicas
do fármaco e da CD livre são relativamente diferentes das que possuem estes compostos
quando estão complexados. Partindo deste conceito, qualquer metodologia que tenha
sensibilidade suficiente para medir estas diferenças pode ser utilizada para caracterizar
estes complexos sob diferentes pontos de vista, permitindo direcionar os fenômenos de
57
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
inclusão de acordo com as necessidades (BRITTO et al., 2004; CUNHA-FILHO & SÁ-
BARRETO, 2007).
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi discutir por meio de uma ampla revisão
os principais métodos utilizados no passado, na atualidade e a tendência futura para
caracterização de complexos de inclusão.
Métodos de Caracterização
Uma das principais características das CDs é o fato de formarem complexos de
inclusão quer em solução, quer no estado sólido.
As fracas interações que ocorrem entre a molécula complexada e a CD,
característica intrínseca do sistema molecular, dificultam a utilização de algumas técnicas
analíticas aplicadas à solução. Enquanto que a caracterização desses complexos de
inclusão (CI) no estado sólido, é considerada de grande interesse devido as possibilidades
de patentes (GIORDANO et al., 2001; BRITTO et al., 2004).
As alterações das propriedades físico-químicas das moléculas hóspedes estão na
origem da utilização de metodologias analíticas que permitam detectar estas variações,
conseqüentes da complexação, e que forneçam informações sobre o comportamento dos
complexos (UEKAMA et al., 1998).
A maioria dos estudos de caracterização de complexos de inclusão com CDs em
solução aquosa tem sido feito por espectroscopia de absorção visível e ultravioleta, técnica
de fluorescência e espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) (FRANCO et
al., 2009). Para os estudos que envolvem complexos em fase sólida, são utilizadas com
mais freqüência as técnicas de difração de Raios-X, estudos térmicos, espectroscopia de
infravermelho com transformada de Fourier (FIRT) e estudos de dissolução (CANNAVÁ
et al., 2008; LU et al., 2009). Mas existem relatos de outras caracterizações que estão sendo
recentemente utilizadas, mas ainda são pouco relatadas como a espectroscopia de Raman,
eletroforese capilar, potenciometria, calorimetria de titulação isotérmica (ITC), dicroísmo
circular, entre outros (VENTURINE et al., 2008).
58
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Caracterização da formação de complexos em solução
Diagrama de solubilidade de fase
A abordagem mais utilizada para o estudo inclusão\complexação é o método
descrito por Higuchi e Connors publicado em 1964 e, posteriormente revisto por Conoors
(1966), sendo considerada como a primeira verificação de complexos de inclusão em
solução. A utilização desse estudo analisa os efeitos da adição do agente complexante sobre
o composto a ser solubilizado. Essa abordagem permite a obter a constante de equilíbrio
(Equação 1) e a estequiometria da formação do complexo.
)Inclinação(1SInclinçãoK
01:1 Eq. 1
Através da análise do diagrama de solubilidade obtido com o experimento (Figura
1), pode-se classificar os complexos de inclusão formados como perfis do tipo A e B. O
tipo classificado como tipo A quando a solubilidade do substrato aumenta com o
incremento da concentração de CD. Perfis do tipo B são obtidos com a formação de
complexos de baixa solubilidade aquosa, em alguns casos, inclusive inferior à da molécula
hospedeira e que precipitam à medida que há encapsulação.
Figura 1. Diagrama de Solubilidade para avaliação dos complexos de inclusão.
Ciclodextrina
Fárm
aco
Dis
solv
ido
59
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Para muitos dos complexos formados, a variação das constantes de formação dos
complexos varia entre 100 e 20000 M-1, demonstrando que mesmo com a formação de
complexos estáveis, uma diluição de 1:100, diminui a porcentagem de complexação de
100% para 30%, o que possibilita a liberação do fármaco complexado nas membranas
biológicas. Contudo, os efeitos da diluição devem ser bem elucidas na utilização desses
complexos em formas farmacêuticas, devido a possibilidade de precipitação do fármaco
quando existe uma relação de não-linearidade da solubilidade entre fármaco-CD
(CHALLA et al., 2005).
Outros dados podem ser obtidos, quando o estudo de solubilidade é realizado em
diferentes temperaturas, sendo possível determinar a influência de parâmetros
termodinâmicos na formação dos CI (MARCELO et al., 2008). Dentre esses parâmetros
podemos citar a entalpia ( H) da complexação, que pode ser determinada utilizando a
equação de Van’t Hoff (GRILLO et al., 2008a).
12
12
1
2
KKln
TRTTTH Eq. 2
Para as mudanças de energia livre de Gibbs ( G) e de entropia ( S) da
complexação, utilizam-se as equações 3 e 4, respectivamente (JUN et al., 2007):
ST-HG Eq. 3
TG-HS Eq. 4
A partir da obtenção do valor de G é possível demonstrar a espontaneidade da
reação, sendo possível avaliar se a mesma é favorável para a solubilização aquosa do
fármaco. Em geral, a formação do CI está associada a valores de G < 0, que é
proporcional ao aumento da temperatura ( S < 0) e da concentração do agente
solubilizante, mas também está deve ser considerada a natureza química da molécula
hóspede na previsão da complexação. Nesse caso, também pode ser analisado qual
60
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
complexante causa o melhor incremento na solubilidade aquosa, pois quanto maior a
contribuição para o valor negativo de G, melhor o efeito solubilizante (PATEL et al.,
2008).
Jun et al. (2007) realizaram o diagrama de solubilidade de fases da sinvastatina na
presença de concentrações crescentes de hidroxipropil- -ciclodextrina (HP- -CD) e em
diversas temperaturas, sendo obtidos valores crescentes das constantes de complexação, o
que é justificado pela provável redução das interações de Van der Waals e das forças
hidrofóbicas com a elevação da temperatura. Resultado das mudanças nos parâmetros
termodinâmicos durante a complexação, verificando assim a espontaneidade da
complexação. Apesar de favorecer a complexação, o aumento da temperatura também pode
desestabilizar o complexo. A estabilidade térmica, em geral, varia de acordo com a
molécula hospede e a CD, mas variações de temperatura entre 50-60ºC pode acarretar a
decomposição de alguns complexos (VALLE, 2004).
Espectroscopia de ultravioleta visível
A espectrofotometria de absorção molecular na região ultravioleta/visível (UV/VIS)
é um método analítico baseado na propriedade das espécies iônicas ou moleculares de
absorver determinados comprimentos de onda da radiação UV/VIS. No processo de
absorção da radiação, a energia dos fótons é transferida para as moléculas do meio material
provocando transições eletrônicas associadas a transições vibracionais e rotacionais (LEAL
et al., 2008).
Tendo em vista que os níveis energéticos das moléculas são quantizados, a absorção
pode ser considerada como um processo específico relacionado com a estrutura da espécie
absorvente, que determina a energia envolvida na transição, e com a probabilidade de que a
transição ocorra. A intensidade da radiação que incide na amostra pode ser medida e
relacionada com a concentração da espécie absorvente (ROCHA et al., 2004).
O ponto de intersecção de um grupo de espectros sobrepostos expressos em função
da concentração, evidência a presença de uma mistura de dois estados e é denominado
ponto isosbéstico. Em relação à espectroscopia de UV-Vis, a presença de um ponto
isosbéstico pode ser considerada uma forte evidência para a formação de complexo de
61
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
inclusão. Por outro lado, a inexistência de ponto isosbéstico não significa a ausência de
complexos de inclusão, uma vez que este constitui somente uma parte da evidência em
estudos de sistemas envolvendo complexos, a qual é importante juntamente com outras
provas consistentes (VENTURINE et al., 2008).
Zhang et al. (2009) verificaram a formação do CI do ácido caféico com a HP- -CD
em solução através dessa técnica, onde foi observado um incremento na absorção nos
comprimentos de onda entre 283 e 309 nm com o aumento da concentração da HP- -CD
que variou de 0-6,0 x 10-3 M.
Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear
A espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) é uma das técnicas mais
utilizadas na investigação da estabilidade, estequiometria, energia do processo de
complexação e geometria dos complexos de inclusão em solução e no estado sólido
(BOUQUET et al., 2007), principalmente quando existem resultados contraditórios obtidos
por outras técnicas, permitindo obter de forma direta as interações que ocorrem entre as
moléculas hóspedes e a CD, sendo capaz de diferenciar qual parte da estrutura química do
fármaco está sendo complexada, fornecendo informações sobre a geometria de
complexação (VEIGA et al., 2006).
Estas informações podem ser obtidas principalmente usando espectroscopia
monodimensional (H1 RMN), baseadas nas alterações de deslocamento químico, quando
ocorre a formação do complexo de inclusão da CD e o fármaco, sendo considerada como a
metodologia mais importante e rigorosa para a comprovação da formação de complexos em
solução, devido a sensibilidade para detectar os fenômenos de complexação (FIGUEIRAS
et al., 2006).
A modificação nos sinais da CD observado através dessa técnica é conseqüência
direta das alterações causadas pela associação com o substrato, que altera o microambiente
ao redor dos átomos de hidrogênio no interior da cavidade. Da mesma forma, o substrato
incluído sofre alteração na leitura dos sinais correspondentes aos átomos que penetram na
cavidade da CD, a qual constitui um microambiente diferente daquele em que ele estava
originalmente solvatado (VENTURINE et al., 2008).
62
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
RMN- H1 detecta durante a complexação o deslocamento químico para valores de
campo mais alto para os H-3 e H-5 localizados no interior da cavidade. Enquanto que os
hidrogênios da superfície externa da CD (H-1, H-2, H-4 e H-6) não são afetados ou sofrem
desvios mínimos (VEIGA et al., 2006).
As técnicas bidimensionais avançadas, tais como ROESY, revelam imagens
detalhadas da geometria do complexo de inclusão em solução, permitindo o detalhamento
estrutural de estruturas complexas contendo CDs modificadas com grau de substituição
variável (DUPUY et al., 2005).
Spamer et al. (2002) averiguaram a geometria do complexo furosemida/ -
ciclodextrina pela técnica bidimensional ROESY e demonstraram que o anel furano da
molécula de furosemida é capaz de acomodar-se por completo na cavidade da -CD,
confirmando a capacidade de complexação.
Técnica de Job
A técnica de variação contínua (“Job plot”) baseia-se na variação de um parâmetro
físico-químico observado na presença de ciclodextrina e que pode ser medido por técnicas
espectroscópicas, como RMN ou fluorescência (SHAFI & SHIHRY, 2009; GRILLO et al.,
2008b). Esta técnica foi utilizada na determinação da estequiometria de complexos de
inclusão envolvendo a -CD, fornecendo ótimos resultados (FRACETO et al., 2007).
Devido à habilidade das CDs de formarem complexos com uma grande variedade
de compostos, a sua presença em solução pode promover alterações das propriedades
físicas, químicas ou biológicas das moléculas hóspedes. No caso das moléculas
fluorescentes, a inclusão no interior da cavidade da CD é conhecida pelo efeito da
intensidade de florescência (GÓRNAS et al., 2009). Misiuk & Zalewska (2009) utilizaram
esta técnica para determinar a estequiometria através do UV do complexo do trazodone
com o HP- CD.
Modelagem Molecular
As estruturas moleculares dos fármacos e das CD podem ser construídas através de
programas computacionais ou utilizando base de dados estruturais como o ambridge
63
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Crystallographic Data Centre (FAUCCI, MELANI & MURA, 2000). No estudo de
modelagem molecular, o CI é simulado, e é verificada a orientação do fármaco na cavidade
das CDs (ARAÚJO et al., 2009).
A estrutura molecular com a mínima energia conformacional pode ser encontrada
através de métodos funcionais da teoria da densidade (DFT) e métodos semi-empirícos, e
os cálculos do estado de excitação eletrônica podem ser executados através de programas
específicos (ARAÚJO et al., 2009; ALTONEN et al., 2008). Como exemplo de métodos
semi-empíricos, o AM1, PM3 e PM6 têm sido bastante utilizados para simular geometrias
de CD e dos prováveis complexos em solução e em fase gasosa (BRITO et al., 2004).
A predição computacional de espectros vibracionais, também pode ser usada para
compreender melhor a estrutura intra e intermolecular, incluindo a conformação molecular,
e a ligação intermolecular nos sólidos e soluções (ALTONEN, 2008). Nos estudos
computacionais de Vueba e colaboradores (2006), foi previsto os espectros do cetoprofeno
nas duas conformações da menor energia, e comparando os espectros com espectros
experimentais, encontrou-se apenas uma conformação de baixa energia, tanto nos estados
líquidos e sólidos.
A simulação de espectros vibracionais também tem sido utilizada para estudar CI.
Rossi et al. (2006) estudaram a estrutura do complexo de inclusão indometacina-CD
utilizando o método de simulação vibracional molecular. Verificou-se que em solução,
uma parte da molécula (cloro-benzeno) da indometacina se insere na CD através da
cavidade maior e a amida é afetada pelo processo de inclusão (ALTONEN, 2008).
Determinação por HPLC
A caracterização dos CI formados entre a molécula hóspede e a CD pode ser
realizada através do estudo de retenção por HPLC. As CDs são adicionadas na fase móvel e
a retenção do soluto estará condicionada pela partição do fármaco entre a fase móvel e
estacionária, e a complexação do soluto com a ciclodextrina. O tempo de retenção diminui
à medida que aumenta a concentração de ciclodextrina na fase móvel, devido à provável
formação do complexo fármaco-CD, o que melhora a solubilidade do soluto na fase móvel,
reduzindo o tempo de retenção na coluna (MELO et al., 2008).
64
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
De acordo com o tempo de retenção do soluto e o volume morto da coluna os
fatores de capacidade são calculados para cado fármaco na presença de concentrações
crescentes de CD. Na presença desta, leva a uma contribuição adicional no comportamento
da retenção do fármaco devido ao processo do complexação (GRILLO et al., 2008b).
Caracterização da formação de complexos no estado sólido
Métodos Térmoanalíticos
Os métodos térmicos são amplamente utilizados na caracterização das CD e dos
seus complexos, principalmente pela rapidez das análises (GIORDANO et al., 2001).
Dentre o mais utilizado, tem-se a calorimetria exploratória diferencial de varredura (DSC),
que permite a detecção quali-quantitativa de todos os processos em que requer produção de
energia (FIGUEIRAS et al., 2007).
É uma técnica bastante utilizada na prática farmacêutica, devido a sua habilidade de
fornecer informações detalhadas sobre as propriedades físicas e energéticas de uma
substância, mostrando-se como um instrumento analítico importante na caracterização de
interações no estado sólido entre fármacos e CD (ARAÚJO et al., 2009). A formação do CI
pode ser identificada nos perfis de DSC, pelo desaparecimento de picos endotérmicos ou
exotérmicos e variações relevantes na entalpia do fármaco puro e complexado
(FIGUEIRAS et al., 2007; RIBEIRO et al., 2008).
Bouquet et al. (2007) utilizaram a técnica de DSC para identificar complexos de
paclitaxel e randomizada metilada- -cyclodextrina (RAME- -CD), no qual verificou-se nos
termogramas do complexo, o desaparecimento do pico de fusão endotérmico do fármaco,
típico da possível formação de complexos, verificado também em outros trabalhos
(BETTINETTI et al., 2002).
Técnicas cristalográficas de Raios-X
Dentre as várias técnicas de caracterização de materiais, a técnica de difração de
Raios-X é a mais indicada na determinação das fases cristalinas. Dentre as vantagens da
65
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
técnica de difração de Raios-X para a caracterização de fases, destacam-se a simplicidade e
rapidez do método, a confiabilidade dos resultados obtidos (pois o perfil de difração obtido
é característico para cada fase cristalina), a possibilidade de análise de materiais compostos
por uma mistura de fases e uma análise quantitativa destas fases (ALBERS et al., 2002).
A cristalinidade é determinada através da comparação dos principais picos dos
padrões de difração dos sistemas complexados comparados aos picos dos compostos
isoladamente. A relação utilizada para a realização do cálculo ao grau de cristalinidade é
(RDC) = ISA/IREF, onde ISA é a altura do pico da amostra sob investigação e IREF é a altura do
pico do fármaco de referência (FIGUEIRA et al., 2007).
Também são citados alguns experimentos com o objetivo de verificar a
recristalização após alguns dias da obtenção, que possam garantir a estabilidade dos
produtos obtidos e a efetividade do incremento da solubilidade durante um intervalo de
tempo (FRANCO et al., 2001).
Espectrofotometria de absorção na região do infravermelho com transformada de
Fourier
A formação dos complexos de inclusão na fase sólida pode ser avaliada pela
comparação de espectros de infravermelho do fármaco puro e dos complexos sólidos
obtidos por diferentes métodos de preparação (SPRICIGO, 2008). Para isso, são verificadas
interações a nível molecular, detectando as mudanças significativas na forma e na posição
das faixas de absorbância, através do espectro vibracional dos diferentes grupos funcionais
das moléculas de fármacos complexados e livres.
Entre todas as técnicas, os métodos espectroscópicos oferecem algumas vantagens
importantes na análise dos complexos, por ser não-destrutiva, permitir informações
químicas, ser rápido e utilizar pequenas quantidades de material (microgramas)
(CANNAVA et al., 2009; ALTONEM et al., 2008). Recentemente, Cupri e colaboradores
(2007) aplicaram esta técnica para caracterizar complexos de genisteína com -
ciclodextrinas em estado sólido.
66
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A microscopia eletrônica de varredura é utilizada em várias áreas do conhecimento,
sendo amplamente utilizado para estudar os aspectos estruturais dos materiais. O uso desta
técnica vem se tornando mais freqüente por fornecer informações com detalhe, com
aumentos de até 300.000 vezes, do estado de cristalização de produtos obtidos por
diferentes técnicas de complexação e dispersão (DUARTE et al., 2003; RIBEIRO et al.,
2008). O conhecimento detalhado da microestrutura dos materiais permite o entendimento
e, em muitos casos, até a previsão das propriedades e do comportamento dos mesmos. A
partir do MEV, avaliar-se a contribuição com relação a diminuição da cristalinidade das
partículas obtidas através dos diversos métodos para a formação dos CI no estado sólido, à
medida que permite a visualização e diferenciação das partículas de CD e dos cristais dos
fármacos (PRALHAD & RAJENDRAKUMA, 2004).
Em geral, as partículas de ciclodextrina são globulares, medindo de 1 a 180 μm,
enquanto que os fármacos apresentam-se na forma de cristais menores, com formato
irregular, mas com uma distribuição de tamanho de partícula mais homogênea (RIBEIRO
et al., 2003). Nas misturas físicas é possível distinguir as partículas de fármaco das
partículas de ciclodextrina. Porém, quando um complexo é formado, o estado cristalino
resultante é diferente do obtido pela simples mistura da molécula hóspede com a CD.
Apesar dos estudos de MEV serem inadequados para confirmar a formação de
complexos de inclusão, as alterações drásticas na forma das partículas, bem como no seu
aspecto e tamanho apontam para a existência de novas espécies.
Recentemente, Soares-Sobrinho e colaboradores (2008) verificaram que nos
complexos de benznidazol com a metil- -ciclodextrina randomizada (RM CD) e Sulfa-
butil-éter- -ciclodextrina (SBE CD) obtidos por misturas físicas (MF), malaxagem (MLX),
liofilização (LIO) e co-evaporação (ECO), apresentaram mudanças no aspecto morfológico
das partículas, tanto das ciclodextrinas como do fármaco, assim observado nas
fotomicrografias realizadas por MEV (Figura 2).
67
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Propriedades de Dissolução
A solubilidade de um fármaco constitui requisito prévio à absorção e obtenção de
resposta clínica, para a maioria dos medicamentos administrados por via oral, neste
contexto, a complexação de fármacos com CD vem se mostrando uma técnica eficaz
(RAMA et al., 2006).
Figura 2. Fotografias da Microscopia Eletrônica de Varredura (Grupo I) microfotografia eletrônica de varredura do benznidazol (A), RM CD (B), MF (C), MLX (D), LIO (E) e COE (F). (Grupo II) microfotografia eletrônica de varredura do benznidazol (G), SBE CD(H), MF (I), MLX (J), LIO (L) COE (M).
A
FE
CB
D
Grupo I
Grupo II
G
ML
H
J
I
68
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Os efeitos da complexação sobre tais propriedades podem ser atribuídos a fatores
como mudança no estado cristalino do fármaco, aumento da molhabilidade dos sólidos e da
solubilidade aparente dos fármacos (SPRICIGO et al., 2008), justificando-se assim, a
importância e necessidade dos estudos de dissolução.
Os ensaios de dissolução permitem prever o comportamento , utilizando meios de
dissolução que se assemelhem às condições fisiológicas, considerando fatores como
condições sink, presença de tensoativos e a influência dos padrões de motilidade na
dissolução (RAMA et al., 2006).
Os dados de dissolução podem ser apresentados e tratados utilizando vários métodos
de análise: perfis de dissolução, tempos de dissolução, fração de fármaco dissolvido num
intervalo de tempo e eficiência de dissolução (RAMA et al., 2006), permitindo avaliar a
contribuição no incremento da solubilidade do fármaco, e consequentemente sua
biodisponibilidade e eficácia clínica in vivo.
Outros métodos
Calorimetria de Titulação isotérmica (ITC)
A titulação calorimétrica isotérmica é uma das mais importantes ferramentas
utilizadas no estudo de processos de complexometria. Esta técnica utiliza como fundamento
a medida direta do fluxo de calor envolvido em uma reação, geralmente resultante da
quebra e formação de interações intermoleculares. Ela pode estimar parâmetros
termodinâmicos do processo de complexação, como mudanças na Energia Livre de Gibbs
( G), entalpia ( H) e entropia ( S), determinando a estequiometria de ligação da
interação entre duas ou mais moléculas em solução e a constante de formação de complexo
de inclusão (SOUSA et al., 2008).
Espectroscopia Raman
A espectroscopia de Raman, durante as duas últimas décadas, tem sido uma
ferramenta de pesquisa bastante usada na área farmacêutica. Embora haja uma abundância
das publicações recentes que tratem das aplicações da espectroscopia de Raman, o número
de estudos quantitativos é ainda limitado. Diversos trabalhos demonstram o número de
69
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
vantagens da técnica de Raman sobre a de infravermelho, principalmente por não haver
interferência da água nos espectros. Mas também apresentam algumas desvantagens, como
equipamento de alto custo e a complexidade dos lasers e dos sistemas de detectores
(ALTONEN, 2008).
A técnica de Raman é uma espectroscopia molecular vibracional que deriva de um
processo de espalhamento de luz. É principalmente aplicado para vibração simétrica, grupo
não polar e banda homoatômica, tais como S=S, S–S, N=N, C=C e O=O. Enquanto a
espectroscopia de infravermelho é aplicada para vibração assimétrica, grupo polar e banda
heteroatômica, como C=O, O–H e H–Cl. Portanto, estes dois tipos de espectroscopia são
complementares para caracterizar a formação de complexos de inclusão (LU et al, 2009).
Conclusão
Diante da vasta utilização de ciclodextrinas na obtenção de complexos de inclusão
com diferentes fármacos que possuem baixa solubilidade, métodos de caracterização estão
sendo ampliados, possibilitando sua melhor compreensão e controle. Esta revisão mostrou
as diversas ferramentas analíticas existentes na atualidade para identificação de alterações
nas propriedades físico-químicas das moléculas hóspedes nos complexos de inclusão, que
vão desde técnicas simples de estudo de solubilidade até técnicas espectroscópicas mais
complexas, fornecendo informações sobre o comportamento dos complexos, nos estados
sólido e líquido, que também podem ser utilizadas quando as ciclodextrinas estão
associadas em sistemas multicomponentes.
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Capítulo II
4 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO BENZNIDAZOL POR MEIO DE
DIFERENTES TÉCNICAS ANALÍTICAS
4.1 Artigo IV - Caracterização Físico-química do Tripanomicida Benznidazol para o
Desenvolvimento de Medicamentos
Artigo submetido ao Latin American Journal of Pharmacy
4.2 Artigo V - Benznidazole
Em anexo: Artigo Publicado na Acta Crystallographica Section E. (2008). E64, p. 634
[doi:10.1107/S1600536808005023 ]
4.3 Artigo VI - Desenvolvimento do Método Analítico de Dissolução de Benznidazol
Artigo Aceito para publicação na Revista Química Nova
78
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
4.1 Artigo IV - Caracterização Físico-Química do Tripanomicida Benznidazol para o
Desenvolvimento de Medicamentos
Resumo
Este trabalho objetivou a caracterização físico-química do benznidazol (BNZ),
utilizando diversas técnicas. Os dados obtidos nos ensaios de infravermelho mostram as
características principais a carbonila e deformação N-H; as vibrações devido ao grupo
benzílico e imidazólico. O BNZ apresentou pico endotérmico em aproximadamente 190ºC
referente a fusão. O perfil difractométrico revela a presença de picos de maior intensidade a
7,5; 16,5 e 22 º2 , evidenciando o comportamento cristalino do BNZ, ratificado com as
micrografias obtidas. Obteve-se um percentual dissolvido de BNZ de aproximadamente
25% em 60 min. Os resultados permitiram a determinação detalhada das características do
fármaco (classe II), passo relevante na produção de medicamentos.
Palavras-Chave: Doença de Chagas, Pré-formulação, Solubilidade.
Introdução
O conhecimento das propriedades físico-químicas dos fármacos é um fator
indispensável durante o desenvolvimento das formas farmacêuticas. Portanto, a
caracterização do princípio ativo, deve ser o primeiro passo no planejamento, de modo que
as informações obtidas possibilitem uma abordagem racional no desenvolvimento da
formulação. Essa primeira fase é conhecida como pré-formulação1,2.
Fatores como a presença de diferentes formas polimórficas, impurezas, tamanhos e
formatos cristalinos na matéria-prima utilizada, devem possibilitar o controle adequado do
material em questão. A mudança da forma cristalina pode acarretar alterações na
temperatura de fusão, densidade, solubilidade, estabilidade física ou química, dissolução e
biodisponibilidade de um fármaco e de sua formulação. A caracterização é realizada através
de técnicas diversas tais como, análise térmica, determinações do tamanho da partícula e da
área superficial, espectrométricas (UV e IV/RAMAN), difração de Raios-X, modelagem
molecular, avaliação do perfil de dissolução, entre outros3.
79
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Ao se tratar de fármacos de baixa solubilidade, a etapa de pré-formulação, torna-se
ainda de maior relevância devido aos ensaios usualmente utilizados no controle de
qualidade de matérias-primas, podendo não ser discriminativo, ocasionando desvios de
qualidade antes (qualificação de fornecedores), durante (processo produtivo) e após
(estabilidade de acompanhamento) a produção das formas farmacêuticas1,3.
O BNZ é classificado como classe II (reduzida solubilidade e alta permeabilidade)
de acordo com o sistema de classificação biofarmacêutica, sendo fracamente solúvel em
água e nos fluidos aquosos, sendo que sua absorção limitada pela velocidade de dissolução
e solubilidade4.
Com o objetivo se alterar sua solubilidade, além de impedir a ocorrência de
possíveis eventos, como por exemplo, a diminuição de solubilidade do ativo (ocorrência de
polimorfos), várias técnicas vem sendo aplicadas, dentre elas a de dispersão sólida,
complexos de inclusão4.
Alguns estudos com o Benznidazol (BNZ), um derivado nitroimidazol (Figura 1),
com diferentes abordagens como desenvolvimento de métodos analíticos para determinação
de teor5,6, compatibilidade fármaco-excipiente7, forma farmacêutica8 e caracterização são
relatados9, sendo este fármaco de extrema importância no tratamento da doença de Chagas,
infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, por ser o único agente terapêutico
disponível, especialmente efetivo na fase aguda de infecção10.
Figura 1: Estrutura química do BNZ
Durante a utilização destas técnicas, diversos estudos de caracterização com o
fármaco isolado e associado a outras substâncias necessitam ser realizados, demonstrando a
80
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
importância do conhecimento prévio das características físico-químicas do fármaco,
possibilitando o controle adequado dos processos de produção, essencial para garantir
qualidade do medicamento, assegurando sua eficiência e segurança.
Desvios nas características recomendadas podem significar riscos graves para a
saúde dos pacientes. Um exemplo desta situação foi descrita quando a baixa qualidade de
amostras de medicamentos contendo primaquina em um estudo de 12 amostras de 9
diferentes fabricantes foram reprovadas em ensaios quali-quantitativos descritos na
Farmacopéia Americana11.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi realizar a caracterização do BNZ,
fornecendo conhecimentos básicos e complementares aos que já se encontram disponível
na literatura, necessários ao desenvolvimento racional de formulações, através de diferentes
técnicas, com a finalidade de produzir e controlar formas farmacêuticas estáveis e eficazes.
Material e Métodos
Material
Benznidazol (BNZ), N-benzil-2-(2-nitroimidazol-1-il)acetamida foi cedido pelo
Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE). Com pureza estimada, por
meio de técnica de DSC e cromatografia líquida de alta eficiência, de 99,9%9.
Métodos de Caracterizações Físico-Químicas
Foram utilizadas as técnicas de difração de Raios-X (DR-X), calorimetria
exploratória diferencial (DSC), espectroscopia no infravermelho (IV), microscopia
eletrônica de varredura (MEV) e dissolução.
Difração de Raios-X
Os resultados de difração de Raios-X de pó foram obtidos utilizando equipamento
copper radiation (40 Kv, 30 mA), com o difratômetro Philips PW 1729 (Philips Corp,
Holanda), geometria de Bragg-Brentano com intervalo de 2<2 <60, tamanho de fenda de
0,02º e tempo de tomada de 2 segundos.
81
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)
Amostras de peso entre 3 a 4 mg foram colocadas em porta amostra de alumínio e
aquecida de 30ºC a 250ºC na razão de 10ºC.min 1 utilizando módulo de temperatura DSC
Q100 calorímetro (TA Instruments, New Castle, DE). Foi utilizado Nitrogênio como gás de
purga, com fluxo de 50 mL.min 1. A calibração da temperatura e razão de aquecimento foi
realizada com padrão de índio.
Espectroscopia de Infravermelho
O espectro de infravermelho foi obtido utilizando equipamento Bruker IFS-66V
spectrometer (Bruker Daltonics Inc, Bremen, Alemanha). As amostras foram misturadas
com brometo de potássio e obtidas pastilhas.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
Morfologia das superfícies das amostras foram examinadas utilizando LEO- 435VP
microscópio eletrônico de varredura (Leica Microsystems, Cambridge, RU). Particulas
foram fixadas em suporte recobertas por ouro sob vácuo.
Estudos de Dissolução
Os estudos de dissolução foram realizados seguindo especificações do Food and
Drug Administration (FDA) e United State Pharmacopea (USP) utilizando pá como
aparato (Turu Grau DT-6, Barcelona, Espanha) a 75 rpm e 37ºC (±0,5ºC). O volume de 900
mL de ácido clorídrico mais cloreto de sódio, pH 1,2 foi utilizado como meio. Amostras do
BNZ foram colocadas em cápsulas com 50 mg de BNZ com partícula de tamanho entre 50-
200 m. Os tempos de coleta foram de 5, 10, 15, 20, 30, 45 e 60 minutos, onde após
filtração determinou-se a concentração das amostras por espectrofotometria a 324 nm. Para
cada sistema obtido 3 replicatas foram testadas. O perfil de dissolução foi avaliados
utilizando-se eficiência de dissolução nos intervalos de 15 e 20 minutos (DE15 e DE20)12.
Resultados e Discussões
82
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Difração de Raios-X
Para a análise do difratograma do BNZ no estado sólido, O perfil difractométrico do
fármaco revela a presença de 3 picos de maior intensidade a 7,5; 16,5 e 22 º2 , além de
diversos picos secundários, evidenciando o comportamento cristalino do BNZ, sugerindo
que o fármaco analisado apresenta-se como um composto de características cristalinas.
1 0 2 0 3 0 4 00
2 5
5 0
7 5
1 0 0
Inte
nsid
ade
rela
tiva
(%)
2 º th e ta
Figura 2: Difratograma de Raios-X do BNZ
Outra técnica cristalográfica mais sofisticada utilizada é o ensaio de difração de
Raios-X de monocristal. Este, por sua vez, é o único capaz de estabelecer com precisão a
estrutura geométrica do cristal15. A conformação cristalográfica do BNZ, realizado por
Soares-Sobrinho9, descreve a orientação relativa dos três fragmentos planares, o grupo
imidazol (A), grupo benzil (B) e fragmento acetamida (C), com seus correspondentes
ângulos diedro, sendo eles: A/C = 88,17; B/C = 67,12 e A/B = 21,05. Estes três fragmentos
planares podem ser visualizados através da estrutura tridimensional na Figura 3.
83
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
C
Figura 3: Estrutura molecular tridimensional do BNZ.
As limitações dessa técnica incluem a dificuldade de obtenção de um cristal isolado,
com tamanho adequado ao ensaio, a complexa análise dos dados e os elevados custos
envolvidos15.
Calorimetria Exploratória Diferencial
As técnicas de análise térmica apresentam aplicações em diversos ramos da ciência,
entre eles a indústria farmacêutica, pelo fato de serem alternativas rápidas e seguras para
caracterização e estudo das matérias-primas16.
O ponto de fusão do BNZ, preconizado pela Farmacopéia Brasileira IV ed.,
apresenta-se como uma propriedade física que auxilia na sua identificação, análise de
pureza e estabilidade; contudo, outras técnicas mais modernas e complexas vêm sendo
utilizadas17,18.
A curva de DSC realizada para a verificação da faixa de fusão do BNZ (Figura 4) na
razão de 10ºC.min-1 evidenciou um pico endotérmico correspondente a temperatura do
ponto de fusão de 191,68 ºC com valor de reação com E de -119,71 J.g-1 correspondente a
faixa de fusão relatada na literatura4,17. Quando esse experimento é realizado com pequenas
variações de temperatura do pico de fusão mesmo que em diferentes razões de
aquecimento, revela indícios da ausência de polimorfos.
A
B
C
84
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0 3 0 0
T e m p e ra tu ra ºC
End
otér
mic
o
Figura 4: Curva de DSC do BNZ para verificação da faixa de fusão
Ainda para a verificação de polimorfos no BNZ (Figura 5), realizou-se por DSC um
aquecimento inicial, na razão de 10 ºC.min-1, para a verificação do ponto de fusão do
fármaco, correspondente ao pico endotérmico de 191,68ºC, como relatado inicialmente na
verificação da pureza do BNZ e, posteriormente, através de resfriamento da amostra
fundida, induziu-se a recristalização do fármaco, com o objetivo de verificar, através de um
segundo aquecimento, mudanças da rede cristalina pela formação de arranjos estruturais
diferentes, devido às variações das condições de temperatura sofridas, podendo haver a
formação de estruturas metaestáveis, o que seria verificado pela alteração do ponto de fusão
inicial. Contudo, nesse caso, verificou-se a ausência de polimorfos, devido a não
modificação do pico endotérmico do BNZ.
85
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0
1 º a q u e c im e n to
End
otér
mic
o
T e m p e r a tu r a º C
2 º a q u e c im e n to
e s f r ia m e n to
Figura 5: Curva de DSC do BNZ para verificação de polimorfos
Soares-Sobrinho e colaboradores4 realizaram estudos de compatibilidade de pré-
formulados a base de BNZ através de análise termogravimétrica (TGA), utilizando
excipientes consagrados na indústria farmacêutica para a compressão direta, como as
celuloses cristalinas (CM) 102 e 250, lactose anidra e glicolato de amido sódico.
Os estudos termogravimétricos do BNZ e de suas misturas binárias utilizando TG,
demonstram inicialmente que o BNZ isolado é termicamente estável até 233,76°C e
apresenta etapa principal de decomposição entre 233,76 a 319, 35°C, com perda de massa
de 43,32%, comprovando compatibilidade entre fármaco e excipientes.
Espectroscopia no Infravermelho
No setor farmacêutico, é usada em inúmeras aplicações, como identificação de
fármacos, avaliação da pureza, estudos de compatibilidade e freqüentemente, cristalinidade
e discriminação de polimorfos, para avaliar se as condições experimentais foram
adequadamente estabelecidas, uma vez que o polimorfismo pode ser a causa de diferenças
no desempenho de formulações farmacêuticas18,19.
86
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
O espectro no IV do BNZ (Figura 6) apresenta picos característicos, principalmente
com relação as bandas típicas das amidas (vibração de estiramento N-H), estiramento de
carbonila (banda amida I) e deformação N-H (banda amida II), além das vibrações devidos
aos grupos benzílico e imidazólico, e em particular, ao grupo nitro. A banda devido as
vibrações de estiramento N-H, encontra-se em 3330 cm-1. A banda de estiramento da
carbonila encontra-se em 1685 cm-1 e a deformação de N-H (amida II) em 1565 cm-1,
característica da amida secundária. Além dessas, a banda em 1318 cm-1 é atribuída ao
estiramento C-N. O conjunto de bandas em 3180, 3160, 3120, 3090 e 3000 cm-1 surgem das
vibrações de estiramento simétrico e assimétrico de metileno do grupo benzila e o
estiramento dos C-H’s aromáticos, embora estejam em região de onda maior do que o
previsto.
A região dos harmônicos e bandas de combinação (2000 a 1667 cm-1),
freqüentemente útil na determinação do número e posição de substituintes em anéis
aromáticos, parece pouco informativa no espectro, não sendo observadas as quatro bandas
de pequena intensidade que caracterizariam o benzeno monossubstituído presente na
molécula. A banda em 1380 cm-1 é relativa à vibração do estiramento simétrico do grupo
nitro; enquanto que o estiramento deve-se à banda assimétrica em 1498 cm-1, parcialmente
encoberta pela banda de maior intensidade em 1515 cm-1, não excluindo a possibilidade de
que esta banda também esteja relacionada ao estiramento assimétrico do grupo nitro. Na
região de menor freqüência, podemos atribuir as bandas de 1265 e 1180 cm-1 a vibrações de
deformação C-H no plano e fora do plano, respectivamente, no anel imidazólico. Na
freqüência de 713 cm-1 encontramos ainda a vibração de deformação fora do plano da
fenila.
87
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
3 5 0 0 3 0 0 0 2 5 0 0 2 0 0 0 1 5 0 0 1 0 0 0 5 0 0
c m - 1
Figura 6: Espectro do BNZ no IV e pela técnica de Raman
Microscopia Eletrônica de Varredura
Figura 7: Fotomicrografias por MEV dos cristais do BNZ.
O tamanho de partícula e o estado cristalino do fármaco influenciam diretamente o
perfil de dissolução, podendo a superfície efetiva apresentada pelo fármaco ser diretamente
proporcional ao tamanho das partículas do mesmo18. O tamanho e a morfologia das
partículas dos componentes da formulação também podem interferir na estabilidade
química dos produtos farmacêuticos, podendo promover alteração da aparência do produto
e na uniformidade de dose20. Para a análise desses parâmetros, comumente utiliza-se a
técnica de microscopia eletrônica de varredura (MEV).
88
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Com esta finalidade, obteve-se fotomicrografias das amostras de BNZ, apresentadas
na Figura 7, onde foi observado o aspecto cristalino e irregular das partículas do fármaco,
confirmando os resultados das análises do difratograma de Raios-X. Os resultados obtidos
por essas técnicas auxiliam na compreensão dos dados encontrados nos estudos de
dissolução realizados com o fármaco.
Estudo de Dissolução
Substâncias cristalinas, como o BNZ, apresentam suas moléculas dispostas em um
arranjo cristalino definido9 são caracterizadas por propriedades peculiares no que diz
respeito a sua solubilização, sendo possível correlacionar a estrutura do retículo cristalino
com o ponto de fusão e a velocidade de dissolução. Verifica-se que fármacos com alto
ponto de fusão possuem um retículo cristalino forte e conseqüentemente a remoção das
suas moléculas torna-se um processo extremamente energético, o que acarreta sua baixa
velocidade de dissolução21.
O sucesso no desenvolvimento de novos fármacos requer não apenas estudos de
otimização das interações ligante-receptor, como também é preciso que o fármaco atinja
seu alvo. Para que a absorção do fármaco ocorra é necessário que as suas moléculas estejam
em solução no local de absorção. Logo, a dissolução da forma farmacêutica sólida nos
fluidos gastrintestinais é um pré-requisito para que ocorra a absorção seguida da
distribuição do fármaco para a circulação sistêmica, dependente em parte, da solubilidade
do fármaco no meio que o rodeia22.
A existência de polimorfos é uma das principais fontes de variação no
comportamento de dissolução dos fármacos, sendo que a influência sobre a velocidade de
dissolução é determinada pelas mudanças na solubilidade dos distintos polimorfos. Por isso
há uma necessidade prática de se caracterizar as formas sólidas de uma substância através
de estudos de dissolução, que podem ser produzidas por processos farmacêuticos
convencionais: cristalização, moagem, secagem por congelamento, pulverização, dispersão
sólida, entre outras13,19.
Para fármacos da classe II, como o BNZ, a escolha do meio deve ser realizada de
forma criteriosa, alguns meios propostos são claramente não fisiológicos, o que pode ser
89
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
aceitável para controle de qualidade, mas não quando se deseja fazer alguma inferência
sobre o comportamento in vivo da formulação, para produtos que contenham fármacos
pouco solúveis em água recomenda-se o uso de surfactantes23 com o objetivo de atingir a
condição sink24.
Devido sua baixa solubilidade, relacionada a suas características físico-químicas,
evidenciou-se que a taxa de dissolução do BNZ foi lenta, sendo de 29,4% de BNZ
dissolvido no intervalo de 60 minutos, apresentando eficiência de dissolução nos tempos 15
e 20 min de 12,30±1,23 e 14,2±1,29 respectivamente. Tais resultados apontam que a
vetorização desse ativo é relevante diante das características intrínsicas da molécula,
comprovados pelos dados publicados anteriormente por Soares-Sobrinho e
colaboradores8,25.
Figura 8: Perfil de dissolução do BNZ
Conclusão
Para o desenvolvimento de uma forma farmacêutica estável e com percentuais de
biodisponibilidade adequados é necessário conhecer as propriedades físicas e químicas dos
fármacos, principalmente de baixa solubilidade como o BNZ. Este estudo foi considerado
significativo para a caracterização deste fármaco, o qual forneceu informações necessárias
para o desenvolvimento das formas farmacêuticas, além da utilização de técnicas que
possibilitam o incremento da solubilidade do fármaco. As diversas técnicas utilizadas na
90
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
caracterização são de indispensável importância, pois permitiram a determinação de várias
características como o ponto de fusão, a confirmação da ausência de polimorfos e da
conformação da molécula do BZN, morfologia e geometria do cristal, podendo essas
características influenciarem significativamente na velocidade de dissolução de produtos
farmacêuticos.
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
4.2 Artigo V - Benznidazol
Ver anexo
4.3 Artigo VI - Desenvolvimento do Método Analítico de Dissolução de Benznidazol
Resumo
O desenvolvimento de método analítico para testes de dissolução é de fundamental
importância tanto para o controle de qualidade, como também para o desenvolvimento de
medicamentos. O benznidazol (BNZ), fármaco utilizado na terapia para a Doença de
Chagas na forma farmacêutica comprimidos, não possui até o momento método. Diante do
exposto o objetivo deste trabalho foi desenvolver método de dissolução para comprimidos a
base de benznidazol. Utilizou-se três diferentes tipos de meio de dissolução, velocidades de
rotação de 50 e 75 rpm e aparato tipo pá. A realização de perfis de dissolução do
medicamento foi comparada por ferramentas estatísticas como fator de semelhança e
diferença, além de eficiência de dissolução. O doseamento foi realizado por
espectrofotometria a 324 nm. As condições de ensaio mais adequadas de acordo com os
resultados obtidos foram tampão cloreto de sódio\ácido clorídrico pH 1,2; com velocidade
de rotação de 75 rpm e pá como aparato. Diante dos resultados pode-se concluir que o
método desenvolvido constitui-se numa alternativa eficaz para doseamento do BNZ em
ensaios de dissolução de comprimidos.
Palavras-Chave: Dissolução, Velocidade de Rotação, Doença de Chagas, Benznidazol.
Introdução
O benznidazol, apesar de não ser o fármaco ideal, devido a sua baixa solubilidade
(classe biofarmacêutica II) e alta toxicidade, é atualmente o fármaco de escolha para o
tratamento da doença de Chagas (DOCAMPO, 2001). A tripanossomíase humana sul-
americana ou doença de Chagas é uma doença negligenciada. Estima-se que a prevalência
global da doença de Chagas seja de 9,8 milhões de pessoas infectadas. A batalha contra esta
doença, resultado da infecção pelo Trypanosoma cruzi, já obteve êxitos na interrupção da
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
transmissão vetorial e transfusional da doença na maioria dos países endêmicos, contudo,
estas 9,8 milhões de pessoas infectadas ainda não dispõem de um tratamento
medicamentoso adequado (SCHOFIELD; JANNIN; SALVATELLA, 2006).
Métodos analíticos adequados, como o teste de teor e dissolução, são importantes
para a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos de forma racional, em atendimento
aos órgãos reguladores, necessitando haver um desenvolvimento e validação desses
métodos para posterior aplicação na P&D de produtos farmacêuticos (SOARES-
SOBRINHO, 2006).
Dissolução pode ser definida de forma simplificada como o processo pelo qual o
fármaco é liberado de sua forma farmacêutica e se torna disponível para ser absorvido pelo
organismo (AZAMI, 2007). Testes de dissolução in vitro são uma importante ferramenta
para controle de qualidade em diferentes estágios do ciclo de vida de um medicamento
(SIEWERT, 2003).
Nos primeiros estágios do desenvolvimento farmacotécnico são úteis para
identificar variáveis críticas na produção, escolher entre diferentes formulações, otimizá-las
e fazer avaliações de risco, como no caso de formas de liberação controlada (MANADAS,
2002). Existem três categorias de ensaios de dissolução para medicamentos de liberação
imediata: dissolução de um único ponto, com dois pontos e perfis de dissolução, que
permitem avaliar e comparar a cinética de dissolução e a eficiência de dissolução de
determinado produto (STORPIRTS, 1998).
Para fármacos que não possuem monografia oficial existe a necessidade de
desenvolver ensaios de dissolução que possam prever o comportamento in vivo dos
mesmos. A avaliação do perfil de dissolução, em três diferentes meios, na faixa de pH
fisiológico é recomendada como suporte no desenvolvimento e otimização do método de
dissolução, bem como no estabelecimento de correlações in vitro-in vivo (ADAMS, 2001;
MOORE, 1996; FDA, 1997).
Fator importante a ser considerado na escolha do meio de dissolução é a
classificação biofarmacêutica do fármaco. Fármacos classe I dissolverão bem em qualquer
meio aquoso, desde que não haja qualquer problema de desintegração. Já para fármacos da
classe II é preciso haver cuidado na escolha do meio, alguns meios propostos são
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
claramente não fisiológicos, o que pode ser aceitável para controle de qualidade, mas não
quando se deseja fazer alguma inferência sobre o comportamento in vivo da formulação,
para produtos que contenham fármacos pouco solúveis em água recomenda-se o uso de
surfactantes (FDA, 1997) com o objetivo de atingir a condição Sink (AZAMI, 2007). Em
seguida deve ser escolhido método analítico adequado para realizar a quantificação do
fármaco em solução, o método deve ser suficientemente sensível para determinar com
exatidão a quantidade da substância na amostra (SKOUG, 1997).
A escolha do aparato deve ser baseada na capacidade de apresentar resultados
consistentes e admitir algum grau de automação (ABDOU, 1989). O aparato tipo cesta é
geralmente usado para formas não desintegrantes com velocidade de agitação de 50 a 100
rpm, enquanto que o aparato tipo pá pode ser utilizado tanto para formas desintegrantes
quanto para as não desintegrantes a 50 ou 75 rpm (FDA,1997).
Diante da inexistência de método publicado, seja oficial ou em revistas científicas,
referentes ao teste de dissolução para comprimido de benznidazol, o presente trabalho teve
por objetivo o desenvolvimento e validação de um método adequado.
Material e Métodos
Instrumentação
Foram utilizados nos experimentos balança analítica Bioprecisa, modelo FA 2104N;
sonicador Limp sonic; durômetro Varian, modelo VK 200; friabilômetro Press Test;
desintegrador Nova Ética, modelo 301-AC; dissolutor Varian, modelo VK 7010;
espectrofotômetro UV micronal, modelo B 582.
Material e reagentes
Utilizou-se para o estudo: Padrão de trabalho de benznidazol, com teor de 99,9%
fornecido pelo LAFEPE; água purificada; benznidazol matéria-prima; etanol; tampão
acetato de sódio pH 4,5; tampão fosfato de sódio pH 7,2; tampão HCl 0,1 N + NaCl pH 1,2;
comprimidos de benznidazol desenvolvidos no Laboratório de Tecnologia dos
Medicamentos (LTM) e comprimidos de referência Rochagan®, Roche.
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Validação do Método de Doseamento por UV
O método utilizado para realização do doseamento do percentual dissolvido de BNZ
nos testes de dissolução foi adaptado do trabalho publicado por Soares-Sobrinho e
colaboradores (2006) para uso em experimental. A validação do método foi realizada
segundo ICH (1996) onde foram avaliados os parâmetros de especificidade, linearidade,
precisão e exatidão. Especificidade: Foram obtidos espectros de absorção na região do
UV-visível das soluções placebo, padrão e amostra a fim de verificar-se a interferência das
formulações nas determinações espectrofotométricas do BNZ. Linearidade: Este ensaio foi
realizado com a análise de regressão linear pelo método dos mínimos quadrados dos pontos
médios de três curvas autênticas com seis pontos nas concentrações de 5 μg/mL, 10 μg/
mL, 15 μg/mL, 20 μg/mL, 30 μg/mL e 50 μg/mL do padrão de trabalho de benznidazol. O
coeficiente de correlação obtido foi a partir da média das três curvas. Exatidão: Foi
escolhida para realização da exatidão as concentrações de 20, 80 e 120%, os valores foram
baseados nos percentuais que poderiam ser encontrados durante o perfil de dissolução.
Precisão: Foram obtidas soluções nas concentrações de 50 e 100% da substância padrão e
avaliados quanto ao coeficiente de variação das amostras.
Testes físicos e doseamento/uniformidade de conteúdo dos comprimidos
Os testes de dureza, friabilidade, desintegração, peso médio e uniformidade de
conteúdo dos produtos utilizados no estudo (Benznidazol-LTM e Rochagan) foram
realizados conforme Farmacopéia Americana (USP 30).
Teor
Preparo da solução padrão
Pesou-se precisamente 25 mg do padrão de trabalho benznidazol, transferiu-se
quantitativamente para balão de 50 mL, completou-se o volume com etanol, sonicou-se por
10 minutos. Pipetou-se 2 mL dessa solução e estes foram transferidos para balão
volumétrico de 50 mL, completou-se o volume com água. A leitura procedeu-se em
espectrofotômetro com comprimento de onda de 324 nm, utilizando-se água como branco.
A concentração teórica de leitura foi de 20 μg/mL.
96
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Preparo da solução amostra
Matéria-prima: O preparo desta solução procedeu-se da mesma maneira que o
preparo da solução padrão, utilizando 25 mg de benznidazol matéria-prima. Comprimido: O
preparo desta solução também obedeceu ao mesmo procedimento acima citado, utilizando o
equivalente a 25mg de benznidazol, contudo se deve filtrar a solução da primeira diluição
antes de proceder a técnica (SOARES-SOBRINHO, 2006). Foram pesados 10
comprimidos, que foram triturados em grau e pistilo e realizado doseamento segundo
método descrito por Soares-Sobrinho e colaboradores (2006).
Desenvolvimento do Método de Dissolução
Foram consideradas as condições testadas conforme Tabela 1, três meios de
dissolução, obedecendo ao gradiente do pH fisiológico, aparato 2 (Pá) , velocidade de
rotação de 50 rpm e 75 rpm (USP 30). Volume de coleta de 2 mL, havendo reposição
imediata de meio. Os meios de dissolução foram aquecidos a 40ºC e em seguida sonicados,
o volume utilizado nas cubas foi 900 mL, estabilização da temperatura da solução em 37,0
± 0,5°C e as alíquotas foram retiradas nos tempos de 15, 30, 45, 60, 90 e 120 min. As
amostras realizadas em quadruplicata, com posterior leitura no espectrofotômetro a 324 nm.
Além da analise da estabilidade do fármaco no meio de dissolução pelo período de 24 horas
e a influência da filtração da amostra.
Preparo das amostras: a amostra coletada foi filtrada em membrana com
porosidade 0,45 μm e diluída com água ultra-pura a fim de se obter uma concentração final
de 22,2 g/mL de BNZ.
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Tabela 1: Condições utilizadas nos testes de dissolução
A avaliação da influência da filtração foi testada com a preparação de soluções de
BNZ matéria-prima e Benznidazol-LTM em tampão cloreto de sódio\ácido clorídrico pH
1,2, as amostras foram analisadas por espectrofotometria UV-visível antes e após o
processo de filtração com membrana de acetato 0,45 μm. O estudo de estabilidade do BNZ
em solução (meio utilizado no teste de dissolução), avaliado por meio de soluções de BNZ
e Benznidazol-LTM as quais foram mantidas em temperatura ambiente por um período de
24 h, a temperatura de 37,5ºC.
Estudo comparativo entre Produtos e Perfis de dissolução
Para o estudo comparativo entre os produtos de obtenção local (benznidazol-LTM)
e o produto produzido pela Roche (Rochagan) foi realizado os testes de peso médio, dureza,
friabilidade, desintegração, teor e uniformidade de conteúdo (USP30), como também foi
realizada análise comparativa dos perfis de dissolução, utilizando o método de dissolução
desenvolvido e ferramentas estatísticas, modelo independente, como fator de semelhança
(F2) (equação 1), fator de diferença (F1) (equação 2) e eficiência de dissolução (ED)
(equação 3), conforme observou-se em trabalhos previamente publicados por Martinello &
Serra (2008).
Equação 1
Condição Aparato Meio (900 mL) Velocidade(rpm)
I Tampão cloreto de sódio/ácido clorídrico pH 1,2 II Tampão Acetato pH 4,5 III Tampão fosfato pH 7,2
50
IV Tampão cloreto de sódio/ácido clorídrico pH 1,2 V Tampão Acetato pH 4,5 VI
Pá
Tampão fosfato pH 7,2 75
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Equação 2
Equação 3
Essas ferramentas comparativas também foram utilizadas para mensurar a influência
dos fatores, natureza do meio de dissolução e velocidade de rotação entre as condições
testadas, durante o desenvolvimento do teste de dissolução.
Resultados e Discussões
Validação do método de UV
O método para quantificação do BNZ mostrou-se específico pois não houve
interferência do placebo, no pico de absorção máximo do BNZ, em 324 nm. Para os ensaios
de linearidade obteve-se r2 igual a 0,999 e equação da reta y=0,030; sem falta de ajuste para
a reta obtida além da distribuição aleatória dos resíduos. Para o parâmetro exatidão,
verificou-se uma variação de 99,3 a 100,8% e a média de recuperação entre 99,4 a 100,4%.
Na verificação de precisão foram obtidos coeficientes de variação para as soluções testadas
50 e 100% de 0,7 e 0,6%, respectivamente. Diante dos resultados obtidos pode-se ter
segurança para utilização desse método na evolução do desenvolvimento do teste de
dissolução (ICH, 1996).
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Testes Físicos e Doseamento/Uniformidade dos produtos
Tabela 2: Controle de Qualidade físicos dos comprimidos: Benznidazol-LTM e Rochagan. Dureza
Kgf
Friabilidade
%
Peso Médio
DP
Desintegração
Segundos
Teor
% (DP)
Unif. de conteúdo
% (DP)
BNZ LTM 6,3 0,01 0,35 >30 99,8 (0,5) 99,7 (0,25)
Rochagan 5,1 0,01 0,45 >30 100,1 (0,3) 100,2 (0,3)
Os controles físicos, além do doseamento e uniformidade de conteúdo dos produtos
analisados, permitem uma análise mais completa. Dados importantes para dirimir qualquer
dúvida no momento da comparação entre os perfis de dissolução dos medicamentos em
estudo, como observado na Tabela 2, encontram-se os resultados de todos os parâmetros
acima citado.
Desenvolvimento do Método de Dissolução
Diante da inexistência de monografia farmacopéica ou método descrito em
literatura, embora disponível comercialmente o produto BNZ comprimidos de 100 mg, foi
desenvolvido o teste de dissolução para tal produto, assim como verificado para outros
medicamentos disponíveis no mercado mundial (SONI, 2008).
Baseado no guia para testes de dissolução (FDA, 1997) utilizou-se o aparato pá
como aparato para forma farmacêutica comprimido e 50 ou 75 rpm como velocidade de
rotação. A influência da velocidade de rotação pode ser verificada na figura 1. Para os
ensaios de dissolução realizados com tampão pH 7,2 (Tabela 1: condições III e VI) a
influência da velocidade de agitação é notória (Figura 1-C), apresentando valores de F1 de
40,35 e F2 de 53,67.
Para o tampão pH 4,5 (Tabela 1: condições II e V) observou-se também grande
influência do parâmetro velocidade de agitação (Figura 1-B), apresentando valores de F1 de
27,02 e F2 de 63,73, por fim os ensaios realizados com o meio de pH 1,2 (Tabela 1:
condições I e IV) apresentaram as menores diferenças relativos ao parâmetro velocidade de
100
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
agitação, como verificado na Figura 1-A, com F1 de 18,91 e F2 de 63,95, apesar de
constituírem-se em diferenças estatisticamente significativas.
Figura 1: Perfis de dissolução dos comprimidos de BNZ em cada meio com comparativo
entre as duas velocidades de rotação. A) Tampão fosfato pH 7,2; B) Tampão acetato pH
4,5; C) Tampão NaCl/HCl pH 1,2.
Para definição do meio de dissolução (pH 7,2; 4,5 ou 1,2) mais adequado na
utilização do método, comparou-se os perfis de dissolução nas duas velocidades pré-
estabelecidas de acordo com trabalhos de BREIER e colaboradores (2005), conforme
observado na figura 2. Nos perfis de dissolução utilizando velocidade de 50 rpm, verifica-
se acentuada diferença de acordo com a figura 2-A e confirmada por valores de F1 e F2
para todas as comparações (pH 7,2 x pH 4,5; pH 7,2 x pH 1,2; pH 4,5 x pH 1,2), conforme
tabela 3, apesar que os percentuais de fármaco dissolvido ao fim do teste (120 min), com
exceção do ensaio que utilizou meio pH 1,2, apresentaram valores abaixo de 80%. Nos
ensaios que foram realizados com velocidade de rotação de 75 rpm, assim como verificado
para velocidade de 50 rpm, diferenças significativas porém numa intensidade menor
conforme figura 2-B e valores de F1 e F2 (tabela 3). O poder discriminativo do teste de
dissolução, com a velocidade de 75 rpm foi diminuído, porém um percentual maior de
fármaco foi dissolvido ao fim do teste (120 min), como observado para os meios de pH 1,2
101
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
e 4,5 com valores aproximadamente de 90% e para o meio pH 7,2 com valores de
aproximadamente de 80%.
Tabela 3: Valores de F1 e F2 para todas as condições testadas (I a VIII)
f1/f2 HCl 50 Acetato 50 Fosfato 50
HCl 50 18,49/72,19 70,28/51,96
Acetato 50 18,49/72,19 43,70/61,93
Fosfato 50 70,28/51,96 43,70/61,93
Tabela f1/f2 HCl 75 Acetato 75 Fosfato 75
HCl 75 14,24/66,92 25,26/62,84
Acetato 75 14,24/66,92 11,83/72,48
Fosfato 75 25,26/62,84 11,83/72,48
Figura 2. Perfis de dissolução dos comprimidos de BNZ comparativo entre os três meios de
dissolução. Gráfico A: 50 rpm; Gráfico B: 75 rpm
Uma maneira também utilizada para fins comparativos de dissolução é a eficiência
de dissolução (ED) (KHAN, 1975), conforme tabela 4 pode-se verificar diferenças entre as
condições testadas, apontando para a condição IV com maior eficiência de dissolução.
102
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Para os resultados obtidos antes e após filtração, não verificou-se mudanças
significativas com intervalo de confiança de p>0,05. Os resultados para estabilidade da
solução de BNZ e comprimidos de BNZ foi na faixa de 99 a 101%, demonstrando a
manutenção da integridade química da amostra durante o ensaio.
Tabela 4. Valores de eficiências de dissolução no tempo 120 min.
Condição de Teste ED%
I 43,27
II 33,25
III 17,14
IV 44,12
V 41,00
VI 36,73
Estudo comparativo entre Produtos
O estudo comparativo que foi desenvolvido entre o Benznidazol-LTM frente ao
Rochagan, por meio de análises de controle de qualidade para a forma farmacêutica em
questão, utilizando métodos gerais da farmacopéia brasileira quarta edição
(FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988).
Além do perfil de dissolução realizado após desenvolvimento de método para teste
de dissolução, demonstrou que apesar dos testes físico-químicos (Tabela 2), serem
semelhantes, o contrário foi verificado no perfil de dissolução onde, por meio da
comparação dos perfis dos produtos testados Figura 3. Esta diferença pode ser confirmada
através da ED nos tempos de 45, 60, 90 e 120 min (Tabela 5), além dos valores de F1 20,97
e F2 61,96.
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Figura 3. Perfil de dissolução comparativo entre produtos
Tabela 5: Eficiência de dissolução Benznidazol-LTM X Rochagan em diferentes tempos
Tempo (min) BNZ – LTM Rochagan
45 41,46 30,1
60 43,26 33,1
90 43,8 37,22
120 44,12 39,7
Conclusão
O desenvolvimento de testes para ensaios de dissolução in vitro de medicamentos é
muito importante. A inexistência de método específico para o produto comprimido de BNZ
em compêndios oficiais e literatura científica, vem colaborar com a definição de método
específico para tal finalidade, com as devidas especificações, constituindo-se em método
adequado ao uso. Com aparato pá, velocidade de rotação de 75 rpm, volume de meio 900
mL, meio de dissolução tampão cloreto de sódio/ác. Clorídrico pH 1,2; duração do ensaio
de 120 min, com dois pontos de coleta para ensaios de controle de qualidade lote a lote com
especificações de > Q de 70 e 80% para os tempos 60 e 120 min respectivamente em
acordo com guia para testes de dissolução (FDA, 1997) para substâncias de classe
biofarmacêutica II (baixa solubilidade), além de realização de perfis de dissolução para o
desenvolvimento e otimização de formulações a base de BNZ.
104
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
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106
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Capítulo III
5 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DISPERSÕES SÓLIDAS À BASE DE
BENZNIDAZOL
5.1 Artigo VII - Dispersões Sólidas à base de Benznidazol Utilizando PEG e PVP com
Potencial Atividade Tripanomicida
Artigo a ser submetido
107
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
5.1 Artigo VII - Dispersões Sólidas do Tripanocida Benznidazol Utilizando Polímeros
Hidrofílicos
Resumo
Várias técnicas têm sido utilizadas para melhorar a solubilidade/ taxa de dissolução
de fármacos pouco solúveis em água. Entre elas, as disperses sólidas (DS) são mais
frequentemente usadas. O objetivo deste trabalho foi investigar o incremento na velocidade
de dissolução de dispersões sólidas de benznidazol contendo PEG 6000 ou PVP K30, por
meio de caracterização físico-química. O incremento na velocidade de dissolução do BNZ
pode ser alcançado pela formação de processados malaxados (MX) ou evaporados (EV).
Baseado nos resultados pôde-se constatar que as dispersões sólidas foram muito eficientes
na melhoria dessa característica, além de verificar-se que o processo de obtenção desses
sistemas (MX e EV) possuem influência direta para proporcionar uma interação adequada
entre os componentes (BNZ-polímero), fato comprovado nas comparações dos resultados
com as misturas físicas. Dessa maneira, formas farmacêuticas sólidas orais de BNZ com
PVP K30 e PEG 6000 com alta taxa de dissolução podem ser produzidas. Constituindo-se
assim, como alternativa na busca de um tratamento mais eficaz para a Doença de Chagas.
Palavras-chaves: Doença de Chagas, Solubilização, Dissolução, Carreadores.
Introdução
A doença de Chagas, ou tripanossomíase americana, é uma doença causada pelo
Trypanosoma cruzi, um protozoário flagelado. Extendendo-se do sul dos Estados Unidos
até o sul da América do Sul, o T. cruzi é transmitido principalmente por vetores mais
comumente em áreas rurais. Outros mecanismos de transmissão são transfusão de sangue,
via transplacental, transplante de órgão de doador infectado e, mais raramente, via oral e
acidentes de laboratório (Prata, 2001). Compartilhamento de agulhas intravenosas com
outra pessoa é outro meio de transmissão (Auger et al., 2005, Nijar & Bigio, 2007).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde no boletim epidemiológico 2003,
na América Latina, a doença afeta cerca de 25% da população, com 16 a 18 milhões de
108
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
pessoas infectadas e cerca de 100 milhões com alto risco de infecção. Através da migração
urbana, a doença de Chagas tornou-se um problema de saúde não-endêmico em cidades e
países (Diaz 2005). Nos Estados Unidos, aproximadamente 50 000 a 100 000 imigrantes
têm evidências de infecção crônica pelo T. cruzi (Kirchhoff, 1993). Em anos recentes,
muitos casos não associados ao vetor têm sido diagnosticados nos Estados Unidos, Canadá,
e Europa (Nijjar & Bigio, 2007; Maguire, 2006).
Benznidazol, N-benzil-2-(2-nitroimidazol-1-il)acetamida (BNZ) (Fig. 1), o único
fármaco tripanocida aprovado na Argentina e Brasil (Coura & Castro, 2002) de acordo com
Do Campo (2001) tem sido a única fármaco específica no tratamento da doença de Chagas.
Esta fármaco tem sido eficaz apenas no estágio inicial da doença e no primeiro estágio na
fase crônica. Dois dos principais problemas deste fármaco são sua toxicidade e baixa
solubilidade.
As únicas quimioterapias tripanocidas disponíveis para a doença de Chagas são
formas farmacêuticas sólidas, mas têm as desvantagens associadas com a absorção oral de
fármacos pouco solúveis (Lamas, 2006). Várias técnicas têm sido utilizadas para melhorar a
solubilidade/ taxa de dissolução de fármacos pouco solúveis em água. Entre elas, as
dispersões sólidas (DS) (Serajuddin, 1999; Leuner & Dressman, 2000; Craig, 2002) são
mais frequentemente usadas. Nas DS, polímeros hidrofílicos têm sido comumente usados
como carreadores. Polivinilpirrolidona (PVP) e polietilenoglicol (PEG) têm sido
vastamente empregados pelo seu baixo custo e alta solubilidade aquosa. Ambos os
polímeros são livremente solúveis em água e são disponíveis em vários pesos moleculares.
O tamanho molecular de ambos os polímeros favorece a formação de dispersões sólidas
(Franco et al., 2001; Verheyen et al., 2002; Tantishaiyakul et al., 1999; Ruan et al., 2005).
Diante do exposto o objetivo deste trabalho foi investigar o incremento na
velocidade de dissolução de dispersões sólidas contendo PEG 6000 ou PVP K-30,
utilizando na caracterização das dispersões as técnicas de Calorimetria Diferencial
Exploratória (DSC), infravermelho com transformada de Fourier (IVTF), microscopia
eletrônica de varredura (MEV), difração de Raios-X (DRX), estudo químico-teórico, bem
como estudos de solubilidade/dissolução.
109
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Figura 1: Estrutura química do BNZ
Materiais e métodos
Materiais
Utilizou-se Benznidazol doado pela Roche (Brasil); Polietilenoglicol 6000 (PEG
6000) foi fornecido pela Valdequímica (Brasil); Polivinilpirrolidona K-30 (PVP K-30) foi
fornecido pela BASF (Alemanha); acetonitrila, metanol e etanol foram obtidos da Cinetica
(Brasil).
Doseamento do BNZ
A concentração de BNZ foi medida pelo método espectrofotométrico UV, de acordo
com metodologia desenvolvida e validada por Soares-Sobrinho et al. (2006). Na preparação
da solução padrão, pesou-se precisamente 25 mg do padrão de trabalho de BNZ, transferiu-
se quantitativamente para balão de 50 mL, completou-se o volume com etanol, sonicou-se
por 10 minutos. Pipetou-se 2 mL dessa solução e transferiu-se para balão volumétrico de 50
mL, completou-se o volume com água. Se procedeu a leitura em espectrofotômetro em
comprimento de onda de 324 nm, utilizando-se água como branco. A concentração teórica
de leitura foi de 20 μg/mL. Para o preparo da solução-amostra procedeu-se da mesma
maneira que o preparo da solução padrão, utilizando 25 mg de BNZ matéria-prima.
110
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Preparação de misturas físicas e dispersões sólidas
Misturas Físicas (MF)
O Benznidazol e os excipientes (PVP K30, PEG 6000) foram precisamente pesados
na razão de 1:1 fármaco/polímero (p/p), misturados e pulverizados em grau com pistilo até
a mistura homogênea ser obtida. A mistura foi passada em tamis com malha de 250 μm e
armazenada em dessecador.
Dispersões sólidas
Evaporados (EV)
Dispersões sólidas de BNZ em PVP K30 e PEG 6000 contendo a razão (1:1 p/p
fármaco/polímero) foram preparadas pelo método de solvente por rotaevaporação. O BNZ e
o polímero foram dissolvidos em uma quantidade mínima de uma mistura
metanol:acetonitrila (50:50 v/v). A mistura de solventes foi retirada por evaporação em
rotaevaporador, sob pressão reduzida e temperatura a 50ºC. O resíduo resultante foi seco
sob vácuo e estocado em dessecador. Após secagem, o resíduo foi homogeneizado em grau
com pistilo, e então tamisado em malha de 250 μm.
Malaxados (MX)
O sistema MX foi preparado pela mistura física num grau pela adição lenta de
solução etanol/água (1:1 v/v), em uma quantidade de 20%, e misturados até o sistema
homogêneo ser obtido (Hedges, 1998). As amostras foram secas em estufa industrial a 50ºC
por 14 horas e após secagem, o pó resultante foi tamisado em malha de 250 μm.
Caracterização das Misturas Físicas (MF) e Processados (EV e MX)
Infravermelho com transformada de Fourier - FTIR
Os espectros de FTIR das amostras foram obtidos em um espetrômetro
SHIMADZU FTIR 8400 (Japão). As amostras foram preparadas em pastilhas de KBr (2
mg de amostra em 200 mg de KBr). As micrografias foram obtidas de 4000 a 400 cm 1 de
resolução de 1 cm.
111
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Modelagem molecular de interações fármaco–polímero(MM)
As estruturas teóricas dos complexos de hidrogênio PVP···Benznidazol e
PEG···Benznidazol foram obtidas através de cálculos de otimização de geometria utilizando
o método B3LYP/6-31G (d,p). Utilizando critérios padrões de convergência, todos os
cálculos foram executados no programa GAUSSIAN 03. Os valores das energias de
interação intermoleculares ( E) foram determinados através da equação 1 e os resultados
das energias de interação intermoleculares E foram corrigidos pelos valores das Energias
de Ponto Zero (ZPE) vibracional (McQuarrie, 1973) e pelo cálculo do Erro de Superposição
do Conjunto de Base (BSSE) (Boys & Bernardi, 1970).
E = E(Complexo de hidrogênio) – [E(Monômeros)] (Eq.1)
Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC)
A caracterização térmica das amostras foi determinada por um calorímetro
diferencial de varredura Shimadzu – Thermal Analyzer DT 40 DSC 50/50Q com amostras
de 2 mg precisamente pesadas que foram colocados em recipiente da amostra de alumínio e
aquecidas em uma razão de 10ºC.min-1 e temperatura entre 30 e 350ºC.
Difração de pó de Raios-X (DRX)
As analises de DRX das dispersões em forma de filmes finos foram executadas em
amostras orientadas aleatórias, varrendo sobre o intervalo de 5–55º 2 , em um difratômetro
Siemens PW1710, com geometria Bragg–Brentano ( , 2 ) e radiação Ni-filtrado CuKj.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
As imagens das amostras foram analisadas por um microscópio eletrônico de
varredura (AKASHI SX-40, Japão). As amostras foram montadas em uma fita adesiva de
carbono de dupla face, levadas a banho de ouro no metalizador (DENTON VACUM,
DESK II) antes de serem analisadas. As figuras foram observadas em uma ampliação de
600-fold a 2000-fold.
112
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Dissolução In vitro
Estudos de dissolução in vitro foram executados seguindo especificações do Food
and Drug Administration (FDA) para fármacos pouco solúveis usando a United States
Pharmacopeia (USP) aparato de dissolução 2 (pá) (Varian Inc. VK 7010) a 75 rpm e 37ºC
(±0,5ºC) (USP 1997). O meio de dissolução usado foi HCl 0,1 M com NaCl, pH 1,2 em um
volume de 900 mL por cuba. Em intervalos de tempo pré-determinados, amostras de 5 ml
foram retiradas do meio de dissolução com reposição e filtradas em filtro de membrana de
0,45 m analisadas por espectrofotometria a 324 nm (Soares-Sobrinho, 2006). Para cada
sistema binário 4 replicatas foram testadas.
Resultados e Discussão
IVTF
O espectro no infravermelho do BNZ é relativamente complexo dadas as diferenças
funcionais características da molécula. As características principais são: a carbonila
(amida I) e deformação N-H (amida II); as vibrações devido ao grupo benzílico e
imidazólico e, em individual, ao grupo nitro (Nothenberg, 1983). A identificação da amida
secundária parece isenta de dúvidas. Ligações N-H em alguns pontos distintos, com
clareza, a banda devido a vibrações de estiramento, em 3330 cm-1. O mesmo pode ser dito
considerando a banda relativa ao estiramento da carbonila (amida I) observada em 1685
cm-1. Para vibrações de deformação N-H (amida II), em 1685 cm-1, também pode ser
considerada a característica da amida secundária. Foi atribuído ainda a banda de 1318 cm-1
para um estiramento C-N (amida III) (Fig 2).
113
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Fig. 2. Espectro IV de componentes isolados e misturas físicas e dispersões sólidas de
BNZ, PVP and PEG
Quando compara-se a MF e a DS em torno de 3330 cm-1 esse pico sempre diminui,
sendo este pico o estiramento N-H da molécula do BNZ, existindo uma interação polímero
com esse grupamento.
O pico em torno de 1685 cm-1 se alarga, sempre mais nas dispersões do que nas
MFs, esse pico é devido ao C=O da amida do BNZ, como já observamos que houve
interação no N-H, talvez por estar na mesma região exista uma interação com esse
grupamento, fato confirmado com os resultados obtidos na modelagem molecular (Fig 3).
Em 1565 cm-1 também há uma diminuição do pico; este pico também é referente à
vibração N-H, já discutida acima. Existe a diminuição e até aparecimento de novos picos na
região de 1500 cm-1, são picos C=O e C=C do anel benzênico. Em 1318 cm-1 há o
114
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
alargamento do pico, referente à ligação C-N da amida do BNZ, portanto prova-se a
existência de interação entre o PVP e a parte da amida do BNZ, mesmo que sejam fracas.
Modelagem Molecular das interações fármaco–polímero
Na Tabela 1 são apresentados os principais resultados estruturais e energéticos dos
dois complexos de hidrogênio formados entre os polímeros PVP e PEG, e a molécula do
BNZ.
Tabela 1. Resultados estruturais e energéticos de PVP BNZ (a) e PEG BNZ (b)
complexos de hidrogênio, obtidos com os cálculos B3LYP/6-31G(d,p).
Parâmetros (a)
PVP BNZ
(b)
PEG BNZ
RI 2.187 2.399
RII 2.390 2.379
RIII 2.312 —
E 20.90 6.60
* Valores para as distâncias R são dados em Ångstrons
** Valores de E são dados em kcal.mol-1.
As energias de interação intermoleculares E (corrigido por BSSE e ZPE) de 6.6 e
20.90 kJ.mol-1 obtidas através do cálculo B3LYP/6-31G(d,p) foram determinados para os
complexos mais estáveis, os quais são representados na figura 3 pelas estruturas (a) e (b),
respectivamente. Diante destes resultados, foi demonstrado que a estabilidade da interação
entre a molécula do Benznidazol e o monômero PVP foi três vezes maior quando
comparada com o PEG. Além disso, pode-se ver na tabela 1 que a dispersão sólida com
PVP é formado por três ligações de hidrogênio, enquanto com o PEG, apenas duas ligações
de hidrogênio foram identificadas. A figura 3 ilustra a geometria otimizada obtida para os
complexos de hidrogênio (a) e (b)
115
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Fig. 3. Geometrias Otimizadas obtida dos complexos de hidrogênio PVP BNZ (a) e
PEG BNZ (b) obtidas do cálculo B3LYP/6-31G(d,p).
Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC)
As curvas de DSC obtidas do material puro, processados e suas correspondentes
misturas físicas foram representadas na fig. 4. O BNZ possui em seu comportamento
térmico um pico endotérmico em aproximadamente 190ºC referente ao ponto de fusão da
substância pura, confirmando dados anteriormente publicados (Soares-Sobrinho, 2008). O
PEG possui pico característico endotérmico em aproximadamente 65,4ºC, para o PVP onde
pode-se observar uma leve curva , no sentido endotérmico no intervalo de 50-120ºC devido
a evaporação de água do material.
O pico característico do BNZ foi perdido, significando a perda de estrutura
cristalina do fármaco em todas as amostras (misturas físicas e processados). As Dispersões
sólidas de BNZ tanto com PEG como PVP mostraram quase o mesmo comportamento
térmico de suas misturas físicas, a ausência de picos do BNZ sugere que o fármaco foi
completamente solubilizado na fase líquida dos polímeros, fenômeno relatado
anteriormente por (AUGUSTIJNS & MOOTER, 2000; ECHEZARRETA-LOPEZ et al.,
2000). A análise térmica por DSC não é, neste caso, uma ferramenta analítica conclusiva na
busca de indícios de interações fármaco polímero.
116
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Fig 4. Curvas DSC para componentes isolados e sistemas binários de BNZ, PVP e PEG, sendo: SDEPEG dispersão sólida com PEG obtida em rotaevaporador, SDKNPEG dispersão sólida com PEG obtida por malaxagem, PMPEG a mistura física do BNZ com PEG, SDEPVP dispersão sólida com PVP obtida em rotaevaporador, SDKNPVP dispersão sólida com PVP obtida por malaxagem, PMPEG a mistura física do BNZ com PVP.
Difração de pó de Raios-X
Os difratogramas do padrão de BNZ (c) revelaram que o BNZ é um composto
cristalino, mostrando dois picos de difração muito fortes a 2 em torno de 7.0° e 17.0°
respectivamente, enquanto outros presentes em menor intensidade a 2 um em torno de
11.0° e outro de 22.5°. Entretanto, mesmo que seja um material cristalino, nas dispersões
sólidas na matriz do PVP esses picos perdem intensidade, caracterizando uma tendência ao
estado amorfo, característico do PVP puro (fig. 5d) e sugerindo que o PVP inibe a
cristalização do BNZ, tanto na dispersão sólida por malaxagem (fig. 5b) quanto na obtida
por rotaevaporação (fig. 5f), apesar da amostra rotaevaporada apresentar uma redução mais
acentuada desses picos característicos, principalmente o pico em torno de 17.0°. Por outro
lado, os difratogramas nas dispersões sólidas de BNZ/PEG revelam que o BNZ pode ter
sofrido recristalização durante o processo de preparação das dispersões após evaporação do
solvente (fig. 7g). O PEG tem dois picos fortes característicos a 2 , 19.0° e 23.0° (fig. 5e) e
nas dispersões de BNZ/PEG estes picos característicos foram reduzidos, e o pico
característico do BNZ em torno de 7.0° foi reduzido tanto na dispersão malaxada
117
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
BNZ/PEG (fig. 5a) quanto na dispersão coevaporada BNZ/PEG (fig. 5g). Esta redução de
picos característicos fortes pode contribuir para uma melhora de solubilidade, já que formas
amorfas têm mais facilidade de solubilização do que as formas cristalinas.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A fig. 6 ilustra as micrografias dos materiais puros (BNZ, PEG, PVP), das misturas
físicas (BNZ-Polímero) e dos processados (MX e EV). O BNZ (a) existe como cristais bem
definidos e tamanhos variados, o PVP K30 (b) apresenta-se como partículas ou parte destas
de naturezas amorfas. O PEG 6000 (c) consiste de largas partículas cristalinas de tamanho
irregular. Nas misturas físicas (d, e), as características dos cristais de BNZ, que foram
misturados com partículas de excipientes ou aderidas em sua superfície, mantendo o
aspecto cristalino do fármaco como observado também nas figuras 4 e 5 (caracterizações
por meio de DSC e DRX). Caso contrário foi observado nos processados (f, g), pois
aparecem na forma de partículas irregulares onde a morfologia original de ambos os
componentes desaparece e agregados minúsculos de partes amorfas de tamanho irregular
estão presentes. Conseqüentemente, a redução de tamanho de partícula, aumento da área de
superfície, e a interação entre os carreadores hidrofílicos e o BNZ podem ser responsáveis
pelo aumento da solubilidade do fármaco observado pelas partículas dos processados (MX
e EV), confirmados pelos resultados de dissolução apresentados na figura 7.
cfbda ge
Fig. 5. Difratogramas de Raios-X de BNZ,
PVP e PEG e de respectivas misturas
físicas e dispersões sólidas: a-
coevaporado BNZ-PEG, b-coevaporado
BNZ-PVP, c- PEG,d- PVP, e- BNZ, f-
malaxado BNZ-PVP, malaxado BNZ-
PEG.
118
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Fig. 6. MEV micrografias dos componentes isolados e misturas físicas (MF) e dispersões
sólidas (DS) de BNZ, PVP e PEG. (a). BNZ; (b). PVP; (c). PEG; (d). MF BNZ/PVP; (e).
MF BNZ/PEG; (f). DS BNZ/PVP (EV); (g). DS BNZ/PEG (EV).
Estudos de dissolução
As curvas de dissolução do BNZ e das várias misturas binárias são representadas na
fig. 7. Os perfis de taxa de liberação foram plotados como percentual de BNZ dissolvidos
dos processados, misturas físicas e BNZ puro versus o tempo. Foi evidente que a taxa de
dissolução do BNZ puro foi lenta, menos que 10% de BNZ sendo dissolvido em 1 h.
Comparando com o BNZ puro, a taxa de dissolução do BNZ das misturas físicas
mostrou-se mais elevada, demonstrando que mesmo sem haver interação química, apenas a
119
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
mistura do fármaco pouco solúvel com o polímero hidrofílico já melhora suas
características de dissolução. O incremento da taxa de dissolução observado nas misturas
físicas deve ser principalmente atribuído ao efeito hidrofílico dos carreadores, que pode
reduzir a tensão interfacial entre o BNZ e o meio de dissolução, conduzindo assim a um
aumento na taxa de dissolução. Na figura 7, observa-se que, quando comparando as
misturas físicas com as dispersões sólidas, todas as dispersões proporcionaram um efeito
maior na taxa de dissolução do que as respectivas misturas físicas. Comparando com o
BNZ puro, BNZ foi liberado mais rapidamente nas DS coevaporadas do que nas DS
malaxadas, e em ambos os processos, o PVP mostrou um incremento da taxa de dissolução
mais acentuado do que nas DS com PEG.
Fig. 7. curvas de dissolução do BNZ isolado, das misturas físicas e dispersões sólidas com PVP e PEG: a-BNZ, b- mistura física BNZ-PVP, c- coevaporado BNZ-PVP, d- malaxado BNZ-PVP, e- mistura física BNZ-PEG, f- coevaporado BNZ-PEG, g- malaxado BNZ-PEG.
A taxa de dissolução do BNZ das misturas físicas e em todas as dispersões sólidas
com PEG 6000 e PVP K30 foi significativamente maior que o BNZ isolado (Fig. 7), isto
demonstrou os efeitos solubilizantes do PEG e do PVP. Vários mecanismos têm sido
propostos para explicar o aumento na cinética de dissolução de fármacos em dispersões
sólidas, como a diminuição da cristalinidade, aumento da molhabilidade, e redução do
tamanho de particulas do fármaco são considerados fatores predominantes (Craig, 2002).
120
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Conclusão
Neste trabalho, o incremento na velocidade de dissolução do BNZ foi alcançado
pela formação de processados, utilizando polímeros hidrofílicos como PVP K30 e PEG
6000. Baseado nos resultados pôde-se constatar que as dispersões sólidas foram muito
eficientes na melhoria dessa característica, além de verificar-se que o processo de obtenção
desses sistemas (MX e EV) possuem influência direta para proporcionar uma interação
adequada entre os componentes (BNZ-polímero), fato comprovado nas comparações dos
resultados das MFs. Dessa maneira, formas farmacêuticas sólidas orais de BNZ com PVP
K30 e PEG 6000 com alta taxa de dissolução podem ser produzidas. Constituindo-se assim
em alternativa na busca de um tratamento mais eficaz para a Doença de Chagas.
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122
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Capítulo IV 6 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO in vitro e in vivo DE COMPLEXOS DE
INCLUSÃO (FÁRMACO-CICLODEXTRINAS) À BASE DE BENZNIDAZOL
6.1 Artigo VIII – Complexos de Inclusão no Estado Sólido Benznidazol-
Ciclodextrinas Modificadas: Obtenção e Caracterização
Artigo submetido à International Journal of Pharmaceutics (em anexo)
Depósito de Patente (em anexo)
123
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
6.1 Artigo VIII - Complexos de Inclusão no Estado Sólido Benznidazol-
Ciclodextrinas Modificadas: Obtenção e Caracterização
Resumo
O presente trabalho objetivou a caracterização da formação de complexos de
inclusão entre o tripanomicida benznidazol (BNZ) e diferentes tipos de ciclodextrinas
naturais (CDs) ( , , ) e -ciclodextrinas modificadas: randomizada metilada -CD
(RM CD), hidroxipropil -CD (HP CD) e sulfobutileter -CD (SB CD). O diagrama de
solubilidade mostrou uma estequiometria de complexação de 1:1 (mol:mol) entre o BNZ e
as CDs utilizadas. As maiores constantes de complexação (K1:1) para o BNZ foram obtidas
com RM CD e SB CD, ambas foram selecionadas para as preparações no estado sólido,
utilizando os processos de malaxagem, liofilização e evaporação. Esses sistemas binários
foram caracterizados por modelagem molecular, calorimetria exploratória diferencial,
infravermelho com transformada de Fourier, Raman, difração de Raios-X, microscopia
eletrônica de varredura e dissolução. Os resultados sugerem a formação de complexos de
inclusão no estado sólido de acordo com as técnicas utilizadas na caracterização, além de
aumentar a taxa de dissolução do BNZ se comparar-se com o BNZ isolado e as misturas
físicas. Diferenças significativas foram detectadas nas preparações de acordo com a técnica
utilizada na obtenção, constituindo-se em um requisito importante na obtenção dos sistemas
Palavras-chaves: Complexo de inclusão, Doença de Chagas, Benznidazol.
INTRODUÇÃO
Desde a descoberta da doença em 1909 por Carlos Chagas inúmeros agentes
quimioterápicos já foram e estão sendo testados por cientistas de todo o mundo, estes têm
trabalhado no desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas para o tratamento desta
doença, da descoberta de novos alvos bioquímicos ao desenvolvimento de novas moléculas
com potencial ação anti-chagásica (COURA; CASTRO, 2002).
Apesar de não ser o fármaco ideal, devido a sua baixa solubilidade e alta toxicidade,
o benznidazol (BNZ) é atualmente o fármaco de escolha para o tratamento da doença de
124
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Chagas. O conhecimento aprofundado sobre o fármaco e técnicas mais eficazes de
vetorização do mesmo em formas farmacêuticas poderá possibilitar o desenvolvimento de
novas alternativas terapêuticas para o tratamento da doença, disponibilizando-as a
população em um curto espaço de tempo e com menor custo quando comparado a uma
nova molécula a ser introduzida na terapêutica (DOCAMPO, 2001).
O BNZ (Figura 1) não é apenas o fármaco de escolha, é também o único fármaco
disponibilizado em diversos países da América, com base nesta afirmativa, ferramentas que
possibilitem o aumento do acesso da população a este medicamento devem ser
desenvolvidas e introduzidas ao mercado. Uma destas ferramentas poderá ser a otimização
da forma farmacêutica comprimido de liberação imediata já disponível no mercado, obtida
por meio do processo de granulação úmida, e a diminuição do seu custo de produção, sem
afetar na qualidade do mesmo.
Várias técnicas têm sido usadas para melhorar a solubilidade e a taxa de dissolução
de fármacos pouco solúveis em água. Estas incluem a formulação com formas amorfas
sólidas, nanopartículas, microemulsões, dispersão sólida (DS), extrusão por fusão,
formação de sal e formação de complexos solúveis em água. Por estas técnicas tenta-se
aumentar a solubilidade aparente de compostos lipofílicos sem diminuir a otimização de
seu potencial (LOFTSSON, HREINSDÓTTIR, MÁSSON, 2005).
Ciclodextrinas (CD’s) são oligossacarídeos cíclicos formados por moléculas de D-
glicose, onde a presença das hidroxilas livres na parte externa das (CD’s) confere a essas
moléculas um caráter hidrofílico. Esse arranjo estrutural das moléculas de glicose nas CD’s
possibilita a utilização desses compostos como hospedeiros na formação de complexos de
inclusão. A presença de uma cavidade hidrofóbica e de grupos hidroxilas livres na parte
externa da molécula permite a “dissolução” em meio aquoso de compostos (hóspedes) de
baixa solubilidade.
Esse aspecto molecular tem possibilitado a utilização de CD’s em diferentes áreas
da ciência e tecnologia, sendo o principal domínio de aplicação à indústria farmacêutica,
em função da possibilidade de obtenção de novos fármacos com propriedades físicas e
químicas diferentes e o mesmo princípio ativo (UEKAMA, 2004). Este trabalho tem o
125
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
objetivo de obter e caracterizar complexos de inclusão (benznidazol- ciclodextrinas) no
estado sólido.
Figura 1: Estrutura química do BNZ
Material e Métodos
Material
Benznidazol (BNZ), N-benzil-2-(2-nitroimidazol-1-il)acetamida foi cedido pelo
Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE). Com pureza estimada por
meio de técnica de DSC e cromatografia líquida de alta eficiência de 99,9%. CD e
RM CD (com grau de substituição molar de 0,57) foi doada pela indústria Roquette
(Barcelona, Espanha); HP CD (com grau de substituição molar de 2,7) pela Janssen
Pharmaceutica (Beerse, Belgica) e a SB CD (com grau de substituição molar de 1,0) por
CyDex (Lenexa, KS). Todos os outros materiais utilizados foram de grau analítico. As
soluções foram preparadas utilizando água destilada e membranas filtrantes de porosidade
de 0,22 m Millipore (Millipore Corp, Billerica, MA).
Método Analítico
O método espectrofotométrico por UV foi adaptado de Soares-Sobrinho e
Colaboradores (2006) para quantificação do BNZ utilizando o espectrofotometro UV-
visível Agilent 8453 (Agilent Corp, Santa Clara, CA) com detector de arranjo de diodo a
324 nm. A curva de calibração em água foi utilizada, nas concentrações de 4 a 40 g mL 1.
A adição das ciclodextrinas não alterou os espectros do BNZ nas soluções estudadas.
126
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Diagrama de Solubilidade de Fases
Os estudos de diagrama de fases foram realizados de acordo com trabalho de
Higuchi e Connors (1965). Excesso de BNZ (~30 mg) foi adicionado a 5 mL de solução
aquosa contendo concentrações crescentes de CDs, nas concentrações de 0% a 1,5% (p/v)
para CD; 0% a 2% (p/v) para e CD; 0% a 4% (p/v) para HP CD, RM CD e SB CD.
As suspensões foram postas em banho de ultra-som por 15 minutos e submetidas a agitação
e temperatura controlada por meio de um banho termostatizado por sete dias e 25 ºC, tempo
suficiente para garantir o equilíbrio da solução formada. As amostras foram filtradas e
apropriadamente diluídas. O BNZ foi determinado por meio de espectrofotometria
conforme descrito acima. Os experimentos forma realizados em triplicata. A constante de
associação fármaco-ciclodextrina (K1:1) foi calculada para a porção linear do diagrama
assumindo uma estequiometria de 1:1, utilizando a equação abaixo:
SlopeSSlopeK10
1:1 (S0 : solubilidade do BNZ na ausência de CD).
Modelagem Molecular
A geometria de otimização dos complexos de inclusão BNZ-RM CD e BNZ-
SBE CD foram realizados no vácuo e na presença de água utilizando MM2, programa
HiperChem (release 6.03 for windows). A presença de água foi simulada em uma caixa de
25x25x25 Å com aproximadamente 200 moléculas e no mínimo de distância de 2,3 Å entre
o soluto e as moléculas de água. A conformação mais estável foi considerada pela menor
interação de energia (LIPKOWITZ,1998; POSE-VILARNOVO et al, 2001).
127
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Preparação dos Complexos no Estado Sólido
Preparação por Misturas Físicas (PM)
A mistura física de (PM) de BNZ e ciclodextrinas RM CD ou SBE CD foi obtida
por mistura em misturador WAB T2C mixer (Willy A. Bachofen Corp, Basel, Switzerland)
na proporção de 1:1 molar durante vinte minutos.
Preparação por Malaxados (KN)
Os compostos obtidos por malaxagem foram obtidos a partir de mistura física em
grau por lenta adição de solução hidroalcoolica (etanol-água) 1:1 v/v, no percentual
correspondente de 20% p/p, e misturado até obtenção de material homogêneo (HEDGES,
1998). As amostras foram secadas a 40ºC por 24 horas e homegeneizada.
Preparação por Liofilizados (FD)
Misturas físicas foram solubilizadas em solução hidroalcoolica (1:1 v/v). A solução
foi congelada sob imersão em nitrogênio liquido e posteriormente liofilizada em aparato
(Labconco Corp, Kansas City, MO).
Preparação por Co-Evaporados (COE)
A mistura física foi solubilizada em solução hidroalcoolica (1:1 v/v). A solução foi
evaporada sob vácuo a 50ºC em rotaevaporador.
Caracterização dos Complexos no Estado Sólido
Difração de Raios-X (DRX)
Os resultados de difração de Raios-X de pó foram coletados usando equipamento
copper radiation (40 Kv, 30 mA), on a Philips PW 1729 difratômetro (Philips Corp,
Netherlands) com geometria de Bragg-Brentano, com 2<2 <60 de intervalo com
tamanho de fenda de 0,02º e timer de 2 segundos por tomada.
128
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)
Amostras de peso entre 3 a 4 mg foram colocadas em panela de alumínio e aquecida
de 30ºC a 250ºC na razão de aquecimento de 10 ºC min 1 utilizando módulo de
temperatura DSC Q100 calorímetro (TA Instruments, New Castle, DE). Foi utilizado
nitrogênio como gás de purga, com fluxo de 50 mL min 1. A calibração da temperatura e
razão de aquecimento foi realizada com padrão de índio.
Espectroscopia de Infravermelho
O espectro de infravermelho foi obtido utilizando equipamento Bruker IFS-66V
spectrometer (Bruker Daltonics Inc, Bremen, Germany). As amostras foram misturadas e
obtidas pastilhas com brometo de potássio.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
Morfologia das superfícies das amostras foram examinadas utilizando LEO- 435VP
microscópio eletrônico de varredura (Leica Microsystems, Cambridge, UK). Particulas
foram fixadas em suporte recobertas por ouro sob vácuo.
Estudos de Dissolução
Os estudos de dissolução foram realizados seguindo especificações do Food and
Drug Administration (FDA) e United State Pharmacopea (USP) utilizando pá como
aparato (Turu Grau DT-6, Barcelona, Spain) a 75 rpm e 37ºC (±0,5ºC). O volume de 900
mL de ácido clorídrico mais cloreto de sódio, pH 1,2 foi utilizado como meio. Amostras
dos complexos foram colocadas em cápsulas com o equivalente a 50 mg de BNZ com
tamanho de partícula entre 50-200 m. Os tempos de coleta foram de 5, 10, 15, 20, 30, 45 e
60 minutos, onde após filtração determinou-se a concentração das amostras por
espectrofotometria a 324 nm. Para cada sistema obtido 3 replicatas foram testadas. Os
perfis de dissolução foram avaliados utilizando-se eficiência de dissolução nos intervalos
de 15 e 20 minutos (DE15 e DE20) (KHAN, 1972).
129
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Resultados e Discussões
Diagrama de Solubilidade de Fase
Neste trabalho foi utilizado para determinação da constante de complexação obtida
entre o BNZ e todas as ciclodextrinas o diagrama de solubilidade de fases (Figura 2). O
aumento de solubilidade foi muito influenciado pelo tipo de CD utilizado, porém em todas
as ocasiões verificou-se aumento linear da solubilidade em função das concentrações de
CDs estudadas.
Figura 2. Diagrama de solubilidade de fases do BNZ em função da concentração de
ciclodextrina a 25ºC em água.
De acordo com Higuchi and Connors (1965) os diagramas obtidos podem ser
clasificados como do tipo AL sugerindo uma estequiometria 1:1 mol:mol BNZ-CD. A
constante de associação (K1:1) obtida com a CD e seus derivados (HP CD, RM CD,
SB CD) foi quase 2 duas vezes maior que as outras CDs ( CD and CD) (Figura 2).
Os bons resultados de solubilização da RM CD pode ser considerado devido a
presença dos grupos metilas os quais pode-se extender a região hidrofóbica da cavidade da
ciclodextrina favorecendo a complexação da molécula do BNZ (MURA et al, 2005).
Fenômeno similar acontece com os grupamentos hidroxipropil e sulfobutil eter.
130
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Diante dos resultados obtidos nos diagramas de solubilidade de fases, selecionou-se
dois derivados de CD (RM CD, SB CD) devido apresentarem maiores capacidades de
solubilização frente ao BNZ. Em geral as características desses dois derivados, como alta
solubilidade aquosa, baixa toxicidade e alta eficiência de solubilização, faz dessas CDs
bons candidatos para complexos de inclusão em formas farmacêuticas sólidas de uso oral
(JACQUET et al, 2005).
Modelagem Molecular
A partir da análise da estrutura química do BNZ (figura 3) é possível distinguir duas
regiões que poderiam incluir-se na cavidade da ciclodextrina – a porção imidazólica da
molécula e seu grupamento benzênico, de maneira que todas as simulações realizadas
consideraram estas duas possibilidades. A modelagem molecular foi realizada em pressão
reduzida e também considerando a presença da água como solvente. As energias calculadas
para os sistemas de estequiometrias 1:1 e 1:2 (fármaco:ciclodextrina) encontram-se
descritas nas Tabelas 1 e 2. A estequiometria de inclusão 2:1 não pôde ser determinada,
uma vez que o modelo matemático de otimização expulsava uma das moléculas de fármaco
da cavidade devido a elevada instabilidade desta eventual associação causada
provavelmente por impedimento estérico.
Figura 3. Estrutura molecular de BNZ
131
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Tabela 1. Entalpia calculada para formação estequiométrica de complexos 1:1 BNZ-
RM CD e BNZ- SBE CD.
Tabela 2. Entalpia calculada para formação estequiométrica de complexos 1:2 BNZ-
RM CD e BNZ- SBE CD.
Em todos os casos, as conformações mais estáveis foram conseguidas em presença
de solvente. Uma representação ilustrativa da abordagem em meio aquoso utilizada
encontra-se plotada na figura 4.
Grupo incluído H (Kcal.mol-1)
Pressão Reduzida Meio aquoso BNZ-CD
RM CD SBE CD RM CD SBE CD
imidazol-estreito 86,3 333,4 -519,3 -296,7
benzeno-estreito 85,3 334,3 -532,4 -207,7
benzeno-largo 90,5 330,1 -511,8 -243,3
imidazol-largo 82,7 320,1 -518,6 -259,2
Grupo incluído H (Kcal.mol-1)
Vácuo Meio aquoso CD-BNZ-CD
RM CD SBE CD RM CD SBE CD
estreito-benzeno/imidazol-
estreito 166,0 604,2 -298,8 -13,6
estreito - benzeno /imidazol-
largo162,3 619,0 -335,3 -10,3
largo - benzeno /imidazol- largo 158,9 598,8 -317,7 -4,1
largo - benzeno /imidazol-
estreito 164,4 581,3 -352,5 -17,22
132
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
A estequiometria 1:1 apresentou-se como a estequiometria de maior estabilidade.
Nos complexos de estequiometria 1:2 (fármaco:CD), o volume dos substituintes das
ciclodextrinas modificadas (RM CD e SBE CD) inviabilizam a formação de complexos
com esta estequiometria, também por uma questão estérica, apresentando valores muito
elevados de entalpia. No caso da SBE CD, a repulsão eletrostática ocasionada pelos grupos
substituintes contribui para que as diferenças entálpicas sejam ainda mais acentuadas
quando comparadas com a estequiometria 1:1 (tabelas 1 e 2) (OKIMOTO et al., 1996). Os
complexos de inclusão energeticamente mais favoráveis foram obtidos com a RM CD. Nas
simulações realizadas em vácuo não parece haver diferenças importantes entre as
conformações avaliadas, o que sugere a coexistência de todas as conformações nos
complexos de inclusão com BNZ (Figura 5). No entanto, na simulação em meio aquoso dos
complexos BNZ-RM CD pode-se apreciar uma pequena diferencia de entalpia para a
conformação em que a porção aromática da molécula esta inserida pela parte estreita da
ciclodextrina, aparentando ser mais estável que as demais (Tabela 1).
Figura 4. Complexo de inclusão BNZ-RM CD optimizado por MM2 com grupo
metil introduzido pela cavidade larga da ciclodextrina
133
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Figura 5. Possibilidades estruturais de BNZ-RM CD (A) e BNZ- SB CD(B) por MM2.
Caracterização dos Complexos no Estado Sólido
Difração de Raios-X de Pó
Figura 6. Difração de R-x de Pó Legenda: benznidazol (BNZ), betaciclodextrina metilada randomizada (RM CD), sulfobutil éter betacilcodextrina (SB CD), misturas físicas (PM) e processados coevaporados (EV), liofilizados (FD) e malaxados (KN), onde na coluna A está os compostos relacionados com a RM CD e na coluna B os compostos relacionados a SB CD.
134
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Foram obtidos difratogramas de R-x de pó das amostras isoladas (BNZ, RM CD e
SB CD), misturas físicas (PM) e processados coevaporados (EV), liofilizados (FD) e
malaxados (KN), afim de investigar indícios da formação de complexos de inclusão
fármaco-CD (Figura 6). O perfil difractométrico do fármaco revela a presença de 3 picos de
maior intensidade a 7,5; 16,5 e 22 º2 , além de diversos picos secundários, evidenciando o
comportamento cristalino do BNZ. O inverso é verificado nos difratogramas das CDs que
apresentam-se predominantemente não-cristalinas.
As misturas físicas, tanto para RM CD como para SB CD correspondem ao
somatório dos dois perfis, havendo uma atenuação na intensidade dos picos do BNZ devido
a concentração do mesmo na amostra. Pode-se verificar a modificação de alguns picos
característicos do BNZ, além do desaparecimento ou diminuição de outros nos preparados
processados (KN, FD e EV) conforme Figura 6, o que pode ser considerado como uma
evidência de interação entre os componentes favorecida pelo processamento das amostras.
Na coluna 1 (figura 6) pode-se observar a diminuição do pico nas preparações KN,
FD e EV frente a PM, além do aparecimento de novos picos próximos do pico inicial
característico do BNZ a 7,5 º2 . O aparecimento de novos picos não correspondentes aos
componetes originais é uma forte evidência de formação de uma nova fase cristalina que
pode corresponder ao complexo de inclusão fármaco-ciclodextrina.
Na coluna 2 destaca-se o desaparecimento e atenuação de picos na região de
compreendida entre 20 e 26 º2 para amostra FD o que pode indicar a perda do perfil
cristalino nesta amostra, também interpretado como uma evidência de interação entre BNZ
e a RM CD.
Para as misturas contendo SB CD, pode-se detectar pequenas variações na
intensidade relativa dos picos referentes ao fármaco (Figura 6: colunas 3 e 4) nas amostras
processadas, porém de difícil interpretação, uma vez que estas variações podem estar
ocasionadas por um efeito de orientação preferencial dos cristais. Para a preparação FD
(figura 6- B) pode-se notar um perfil não-cristalino mais acentuado, com a
descaracterização dos picos cristalinos principais do fármaco e da mesma forma que
ocorreu com a correspondente preparação na figura 6- A, pode indicar interação entre os
componentes.
135
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Diante dessas mudanças verificadas nos difratogramas pode-se afirmar que existem
consistentes evidências de interação e conseqüentemente, possível formação de complexos
de inclusão (FOKUDA, 2007; JUN, 2007).
Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)
As misturas binárias apresentam deslocamento a temperaturas inferiores e
alargamento do pico endotérmico correspondente a fusão do fármaco, mais intensos nas
misturas com RMBCD (figura 7-A). Este efeito também se aprecia nas PM de forma
ligeramente menos intensa. Isto pode ser explicado pela interação propiciada pelo porcesso
de aquecimento inerente ao ensaio de DSC.
Figura 7. Curvas de DSC. Sendo: benznidazol (BNZ), betaciclodextrina metilada randomizada (RM CD), sulfobutil éter betacilcodextrina (SB CD), misturas físicas (PM) e processados coevaporados (EV), liofilizados (FD) e malaxados (KN), onde na coluna A está os compostos relacionados com a RM CD e na coluna B os compostos relacionados a SB CD.
136
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Na PM de BNZ-RMBCD se observa ainda uma subida exotérmica logo após a fusão
do fármaco que pode estar relacionada com a formação de complexos de inclusão do
fármaco fundido. Este fenômeno é menos perceptível nos processados KN, FD e EV uma
vez que estes preparados já apresentam uma fração da mistura complexada previamente.
Cabe ainda comentar o perfil térmico apresentado pelo KN oriundo da mistura
binária BNZ-RMBCD que apresenta uma acentuada perda de resolução do pico de fusão de
BNZ, não se descartando a hipótese de superposição de fenômenos térmicos entre fases
cristalinas diferentes.
Espectroscopia no Infravermelho com transformada de Fourier e Raman
Os resultados obtidos de FTIR e Raman para as misturas de BNZ e RM CD
apresentados na Figura 8 mostram ligeiras alterações na região correspondente a vibrações
de estiramento do grupo benzeno do BNZ (3100-2900 cm-1), principalmente para as
amostras EV e FD. Também observa-se modificações nas bandas correspondentes ao
fármaco nas regiões de 1300-1000 cm-1, relacionadas as ligações C-N do grupamento
amida. Estes resultados apontam a uma interação concentrada na porção centro-aromática
do fármaco, o que indica uma possível inclusão do BNZ na ciclodextrina através do seu
grupo benzeno. Os dados espectroscópicos estão de acordo com os resultados encontrados
na modelagem molecular, que sugerem valores de entalpias mais favoráveis para o
complexo de inclusão obtido pela parte aromática do BNZ incluído pelo lado estreito da
ciclodextrina (Tabela 1).
Para as misturas de BNZ e SB CD os espectros de FTIR e Raman (figura 9) não
revelam interações apreciáveis. Apenas ligeiros deslocamentos ou diminuição de
intensidade relativa na posição de algumas bandas correspondentes ao fármaco podem ser
apreciados nas regiões de 3300-3200 cm-1 e 1300-1200 cm-1. Estas regiões praticamente
coincidem com as encontradas para as misturas de BNZ e RM CD, no entanto, neste caso,
as mudanças são bem menos perceptíveis.
137
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Figura 8. Espectro de FTIR e RAMAN de BNZ, RMBCD e de seus preparados PM, KN, FD e EV.
Figura 9. Espectro de FTIR e RAMAN de BNZ, SBBCD e de seus preparados PM, KN, FD e EV
138
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
Figura 10. Fotografias da Microscopia Eletrônica de Varredura
(Grupo I) microfotografia eletrônica de varredura do benznidazol (A), RM CD (B), PM (C), KN (D), FD (E) e EV (F). (Grupo II) microfotografia eletrônica de varredura do benznidazol (G), SB CD (H), PM (I), KN (J), FD (L) EV (M).
A
FE
CB
D
Grupo I
Grupo II
G
ML
H
J
I
139
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Mudanças morfológicas podem ser empregadas como evidência para verificar-se
interações entre as moléculas e formação de complexos (CIRRI et al., 2005; FERNÁNDEZ
et al., 2002). As fotomicrografias selecionadas do BNZ, RM CD e SB CD além dos
sistemas binários estão apresentadas na Figura 10. O BNZ é caracterizado por cristais
regulares (SOARES-SOBRINH0, 2008), enquanto a RM CD e SB CD são originalmente
compostas por partículas esféricas bem características (FIGUEIRAS, 2007). Então diante
da análise da Figura 10 pode-se afirmar que nas misturas físicas parece haver uma
associação mais intensa entre BNZ e RM CD (CDs se encontra aderida na superfície do
fármaco). De maneira geral todos os processados apresentam mudanças no aspecto
morfológico das partículas, não se observando partículas amorfas características das CDs
não manipuladas. Os KN formam agregados (grânulos) particulares de tamanhos mais ou
menos uniformes. Os FD de ambas CDs e o EV da RM CD apresentam uma redução nos
tamanhos de partículas que assumem forma de agulhas completamente diferentes dos
materiais de partida. O COE da SB CD esta modificação na forma e redução do tamanho
de partícula parece menos intensa.
Estudos de Dissolução
Os testes de dissolução estão apresentados na Figura 11. Para avaliação foram
calculados a eficiência de dissolução após 15 e 20 minutos (DE15 e DE20), para os produtos
obtidos conforme Tabela 3. O incremento de dissolução para complexos de inclusão de
diferentes fármacos tem sido explicado com base na alta energia estado amorfo, redução de
cristalinidade, como a diminuição da tensão interfacial entre água-fármaco insolúvel e a
indução do meio de dissolução pela ciclodextrinas com a alta solubilidade do complexo
(FERNANDES, 2002).
140
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Tabela 6. Eficiência de dissolução
PM KN FD EV Tempo
(min) BNZ
RM CD SB CD RM CD SB CD RM CD SB CD RM CD SB CD
14,2 54,4 37,8 81,8 54,2 81,0 81,8 87,6 81,9 26
(1,3) (1,9) (3,7) (1,1) (1,9) (1,7) (2,2) (1,8) (1,5)
12,4 46,9 28,8 77,8 48,7 74,7 76,1 83,4 75,8 15
(1,2) (2,6) (3,7) (1,2) (2,1) (2,8) (2,0) (1,3) (1,3)
Figura 11. Perfis de dissolução. A) Perfis de dissolução do BNZ, mistura física BNZ-RM CD(PM), malaxado BNZ-RM CD (KN), coevaporado BNZ-RM CD (EV) e liofilizado BNZ-RM CD(FD); B) Perfis de dissolução do BNZ, mistura física BNZ-SB CD (PM), malaxado BNZ-SB CD(KN), coevaporado BNZ-SB CD (EV) e liofilizado BNZ-SB CD (FD).
Tempo (minutos)
Tempo (minutos)
141
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Diferenças significativas foram observadas entre o fármaco puro, mistura física e
suas formas processadas (KN, FD e EV) no que se refere a percentual solubilizado de ativo.
Após 5 min, o percentual dissolvido de fármaco puro é de aproximadamente 12% e acima
de 80% quando complexado com os derivados de CD, com exceção do KN
sulfobutylether CD onde pode-se verificar a dissolução de apenas 50% em 5 minutos. As
misturas físicas apresentaram uma diferença considerável se compararmos frente ao
fármaco puro, tal fato é explicado pelo simples contato mecânico entre o ativo e o
carreador, além de atribuir um aumento na molhabilidade das PMs na presença de
ciclodextrinas (ARIAS, 2002).
Finalmente é possível observar que os sistemas obtidos por meio de KN, FD e EV
demonstraram um percentual de aproximadamente 100%, com exceção do KNS ECD.
O percentual de dissolução em ordem crescent foi: BNZ < PMSB CD < PMRM CD =
KNSB CD < KNRM CD = FDs = EVs.
Estes resultados sugerem que FD and EV são os métodos mais recomendados na
preparação de complexos de inclusão BNZ e CDs, com grande eficiência de complexação.
O método de KN poderá ser utilizado para obtenção do complexo BNZ:RM CD.
Conclusão
A importância na determinação de monocristal para fármacos cristalinos é de
relevância para o controle de qualidade, devido a possibilidade de surgimento de
polimorfos podendo afetar a dissolução do ativo. Também pode-se ressaltar a possibilidade
de indexação dos dados do monocristal para fins comparativos envolvendo formulações e
em sistemas de liberação, como complexos de inclusão e dispersões sólidas com BNZ, com
um grau de certeza razoável sobre a manutenção ou não do cristal original.
Os resultados de caracterização para os complexos de inclusão, assim como os
dados de simulação molecular, revelam uma maior interação do BNZ com a RM CD, no
entanto, os resultados de velocidade de dissolução mostram-se equivalentes ao dos
preparados elaborados com SB CD e seus valores de constantes de estabilidade, baseados
na solubilidade, são inclusive melhores para esta ciclodextrina. Isto pode ser explicado pela
presença de grupos sulfonados ionizados na molécula de SB CD que repelem-se entre si
142
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
estendendo a região hidrofóbica da molécula à porção externa da ciclodextrina. Assim, a
formação de complexos com o BNZ pode ocorrer não somente pela sua inclusão na
cavidade da ciclodextrina, mas também pela interação com as cadeias alquilas dos
substituintes (THOMPSON, 1997; ZIA et al., 2001).
Pode-se então afirmar que a obtenção de complexos de inclusão BNZ:CDs é uma
alternativa para ter-se uma melhor dissolução do fármaco, possibilitando diversas
vantagens frente a veiculação tradicional, abrindo possibilidades para um tratamento,
utilizando tal fármaco, de maneira mais segura e eficaz.
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148
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Capítulo V7 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS MULTICOMPONENTES
(FÁRMACO-CICLODEXTRINAS-POLÍMERO) À BASE DE BENZNIDAZOL
7.1 Artigo IX. Sistemas multicomponentes para o incremento da velocidade de
dissolução do benznidazol
Artigo a ser submetido
149
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
7.1 Artigo IX. Obtenção de sistemas multicomponentes para o incremento da
velocidade de dissolução do benznidazol
ResumoEste trabalho teve como objetivo a obtenção e caracterização de sistemas
multicomponentes benznidazol-ciclodextrina-polímero, no estado sólido, além de otimizar
a quantidade necessária de ciclodextrina (CD) a ser utilizada nas preparações, com a
finalidade de incremento da velocidade de dissolução do benznidazol (BNZ), na busca de
um sistema adequado à administração oral. Foram utilizados polivinilpirrolidona(PVP) e
hidroxipropilmetilcelulose (HPMC) como polímeros hidrossolúveis, ciclodextrina metilada
randomizada como agente complexante, em diferentes proporções (1:1; 1:0,66; 1:0,33 e
1:0,17 mol:mol) e benznidazol como complexado. Utilizou-se malaxagem e evaporação
como processos de obtenção dos sistemas e as técnicas de microscopia eletrônica de
varredura, difração de Raios-X, infra-vermelho além de perfis de dissolução. Os resultados
obtidos mostraram que o HPMC na concentração de 0,1% foi mais eficiente na
solubilização do BNZ, sendo a concentração selecionada para formulação no estado sólido
dos sistemas multicomponentes. Nos sistemas obtidos verificou-se a semelhança, no estado
sólido, entre as preparações BNZ-CD e BNZ-CD-HPMC, tanto de perfil de dissolução
quanto nas caracterizações realizadas, demonstrando pouco poder de incremento do HPMC
nas preparações testadas frente aos complexos formados BNZ-CD. Porém, os perfis de
dissolução obtidos demonstraram semelhança entre as proporções testadas apresentando
dissolução maior que 80% até 15 minutos, apesar de verificar-se diferenças quando da
análise das preparações com a proporção de 1:0,17 BNZ:CD (mol:mol). Pode-se então
concluir com base nos resultados apresentados que a obtenção de sistemas
multicomponentes testados (estado sólido), não aumentou a taxa de dissolução do BNZ nas
preparações, também ficou evidente a influência do processo utilizado (MX e EV)
traduzidos nos resultados de caracterização das preparações e por fim a possibilidade de
otimizar a quantidade de ciclodextrina para futuras formulações contendo BNZ, diminuindo
o volume das preparações de forma a tornar mais eficiente tais sistemas.
Palavras-Chaves: Solubilidade, Doença de Chagas, Ciclodextrina
150
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Introdução
A introdução de ciclodextrinas (CD) em formulações farmacêuticas, promove um
aumento do volume das preparações no estado sólido. Em termos de finalidade de
preparação, mesmo em condições ideais, a complexação com CDs resulta rm um aumento
do volume das preparações de quatro a dez vezes. Concretamente, considerando 1 g de um
complexo sólido (fármaco-CD), apenas 100 a 250 mg de seu peso corresponderá ao peso do
fármaco, assumindo que o peso molecular do princípio ativo e da CD variam
respectivamente entre 200-400 g/mol e 1200-1500 g/mol. Tal fato, limita o uso das CDs em
formas farmacêuticas sólidas para administração oral, aos ativos que possuam boas
propriedades complexantes e que sejam farmacologicamente ativos em dosagens superiores
a 200 mg (RIBEIRO et al., 2005).
A eficiência da complexação das CDs em geral é baixa e por conseqüência são
necessárias elevadas quantidades de CDs para se atingir o desejado efeito complexante,
solubilizante e estabilizante (CHALLA et al., 2005).
Existe um número significativo de fármacos com grupo amina (caso do
benznidazol), que formam com sucesso complexos de inclusão (CI) com CDs. Alguns
requisitos são essenciais para que estes formem complexos multicomponentes com CDs,
como possuírem solubilidade aquosa baixa, preferencialmente abaixo de 0,1 mg/mL e
apresentar uma estabilidade adequada a preparação (UEKAMA et al.,1998; VALLE, 2004),
como exemplo tem-se cetoconazol, miconazol, itraconazol entre outros (VEIGA et al.,
1999).
A eficiência de complexação das CDs pode ser aumentada por adição ao meio de
complexação uma reduzida quantidade de polímero hidrossolúvel, seguida de aquecimento
em autoclave resultando na formação de um complexo multicomponente fármaco-CD-
polímero hidrossolúvel também designado por co-complexo (fármaco-CD)-polímero. Este
sistema apresenta um notável aumento de solubilidade comparativamente ao
correspondente complexo binário (BETTINETTI et al., 2002).
Os polímeros interagem com as CDs e com os complexos fármaco-CD, quer por
estabelecimento de interações com a superfície externa da molécula de CD, quer por
151
Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
formação de CI. As interações estabelecidas são do tipo de Van der Walls e ligações de
hidrogênio (RIBEIRO et al., 2005).
Os polímeros hidrossolúveis são vastamente utilizados como excipientes em
aplicações farmacêuticas, por exemplo como agente emulsionantes e suspensores, agentes
floculantes, de revestimento e modeladores da velocidade de dissolução (RIBEIRO et al.,
2008).
O mecanismo pelo qual a eficiência de complexação das CDs é aumentada na
presença de polímeros hidrossolúveis não está totalmente esclarecido. Contudo existe um
mecanismo proposto com base na analogia dos aumentos de solubilidade conferidos pelo
polímero nas soluções aquosas de tensioativos, segundo este pressuposto, o mecanismo de
complexação associado à formação dos complexos multicomponentes com polímero deverá
ser semelhante à formação dos complexos tensoativo-polímero. Em conclusão, os políeros
hidrossolúveis interagem com as moléculas de CDs ou com os complexos fármaco-CD,
formando complexos multicomponentes fármaco-CD-polímero (LIMA et al., 2008).
É comum adicionar-se um excesso de CD nas preparações, para prevenir eventuais
problemas, resultante da falta de estabilidade dos complexos, é importante utilizar a
quantidade correta de CD, uma quantidade excessiva poderá resultar em uma
biodisponibilidade não otimizada, além do entrave tecnológico (volume da preparação) e
financeiro (custo da preparação) (FIGUEIRAS et al., 2006).
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo a obtenção e
caracterização de sistemas multicomponentes fármaco-CD-polímero, no estado sólido, além
de otimizar a quantidade necessária de CD a ser utilizada nas preparações com a finalidade
de incremento da velocidade de dissolução do benznidazol, na busca de um sistema
adequado à administração oral.
Material e Métodos
Materiais
Benznidazol (BNZ), N-benzil-2-(2-nitroimidazol-1-il)acetamida foi cedido pelo
Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE). Com pureza estimada por
meio de técnica de DSC e cromatografia líquida de alta eficiência de 99,9%. RM CD (com
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grau de substituição molar de 0,57) foi doada pela indústria Roquette (Barcelona, Espanha);
Todos os outros materiais utilizados foram de grau analítico. As soluções foram preparadas
utilizando água destilada e membranas filtrantes de porosidade de 0,22 m Millipore
(Millipore Corp, Billerica, MA).
Método Analítico
O método espectrofotométrico por UV foi adaptado de Soares-Sobrinho e
Colaboradores (2006) para quantificação do BNZ utilizando o espectrofotometro UV-
visível Agilent 8453 (Agilent Corp, Santa Clara, CA) com detector de arranjo de iodo a 324
nm. A curva de calibração em água foi utilizada, nas concentrações de 4 a 40 g/mL. A
adição das ciclodextrinas não alterou os espectros do BNZ nas soluções estudadas.
Estudo de Solubilidade
No âmbito dos estudos de solubilidade efetuados no presente trabalho está a
importância do conhecimento do comportamento da molécula hóspede (BNZ) e da CD na
presença de polímeros hidrossolúveis em solução. Tais estudos foram realizados segundo o
método de Higuchi e Connors (HIGUCHI e CONNORS, 1965)
Estudo do efeito dos polímeros, numa concentração fixa de ciclodextrina
Os estudos foram realizados numa solução de RM CD na concentração fixa de 2%,
à qual adicionaram concentrações crescentes de polivinilpirrolidona (PVP) e
hidroxipropilcelulose (HPMC) a semelhança dos estudos efetuados por Loftsson e
colaboradores (LOFTSSON et al., 1994). Devido a divergência de viscosidades
apresentadas pelos polímeros, as soluções de PVP e HPMC foram preparadas em diferentes
concentrações. No caso do PVP, as concentrações utilizadas variaram de 0,01 a 0,5% (p/v),
enquanto para HPMC as concentrações foram de 0,01 a 0,25% (p/v).
Quantidades em excesso de BNZ foram colocados em ampolas de vidro com
capacidade de 5 mL , com 4 mL de solução de RM CD com concentrações crescente dos
polímeros. As ampolas foram seladas em maçarico e colocadas em banho com agitação
mecânica, temperatura de 25ºC por 72 horas. Terminado o período as amostras foram
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filtradas por meio de membranas filtrantes de poro de 0,45 μm e doseadas por
espectrofotometria. Parte das amostras foram submetidas a aquecimento em autoclave a
120ºC durante 20 minutos. Todas as concentrações das amostras foram feitas em triplicata.
Estudo do efeito do polímero associado a CD
Foi realizado à semelhança do anterior, apenas variando algumas condições como o
meio de preparação das soluções de CD, uma vez que estas foram obtidas não em água
mais sim em solução de HPMC 0,1% (p/v). As concentrações de RM CD utilizadas foram
0,1; 0,5; 1; 2; 3 e 4% (p/v).
Preparação dos Complexos no Estado Sólido
Os complexos BNZ-RM CD com e sem polímero (HPMC 0,1%) foram preparados
de acordo com as seguintes relações molares: 1:1; 1:0,66; 1:0,33; 1:0,17; utilizando as
técnicas de malaxagem e evaporação. Prepararam-se também misturas físicas (MF)
contituídas pelos mesmos componentes dos complexos para termo de comparação.
Preparação de Misturas Físicas (PM)
As misturas físicas de (PM) de BNZ, RM CD e HPMC foram obtidas por
mistura em misturador WAB T2C mixer (Willy A. Bachofen Corp, Basel, Switzerland) as
seguintes relações molares: 1:1; 1:0,66; 1:0,33; 1:0,17 vinte minutos.
Preparação dos Malaxados (KN)
Os compostos obtidos por malaxagem foram obtidos a partir de mistura física em
grau por lenta adição de solução hidroalcoolica (etanol-água) 1:1 v/v, no percentual
correspondente de 20% p/p, e misturado até obtenção de material homogêneo (HEDGES,
1998). As amostras foram secadas a 40ºC por 24 horas e homegeneizada.
Preparação dos Evaporados (EV)
A mistura física foi solubilizada em solução hidroalcoolica (1:1 v/v). A solução foi
evaporada sob vácuo a 50 ºC em rotaevaporador.
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Caracterização dos Complexos no Estado Sólido
Difração de Raios-X (DRX)
Os resultados de difração de Raios-X de pó foram obtidos usando equipamento
copper radiation (40 Kv, 30 mA), on a Philips PW 1729 difratômetro (Philips Corp,
Netherlands) com geometria de Bragg-Brentano, com 2<2 <60 de intervalo com
tamanho de fenda de 0,02º e timer de 2 segundos por tomada.
Espectroscopia de Infravermelho
O espectro de infravermelho foi obtido utilizando equipamento Bruker IFS-66V
spectrometer (Bruker Daltonics Inc, Bremen, Germany) de 400 a 400 cm-1. As amostras
foram misturadas e obtidas pastilhas com brometo de potássio.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
Morfologia das superfícies das amostras foram examinadas utilizando LEO- 435VP
microscópio eletrônico de varredura (Leica Microsystems, Cambridge, UK). Particulas
foram fixadas em suporte recobertas por ouro sob vácuo.
Estudos de Dissolução
Os estudos de dissolução foram realizados seguindo especificações do Food and
Drug Administration (FDA) e United State Pharmacopea (USP) utilizando pá como
aparato (Turu Grau DT-6, Barcelona, Spain) a 75 rpm e 37ºC (±0,5ºC). O volume de 900
mL de ácido clorídrico mais cloreto de sódio, pH 1,2 foi utilizado como meio. Amostras
dos complexos foram colocadas em cápsulas com o equivalente a 50 mg de BNZ com
tamanho de partícula entre 50-200 m. Os tempos de coleta foram de 5, 10, 15, 20, 30, 45 e
60 minutos, onde após filtração determinou-se a concentração das amostras por
espectrofotometria a 324 nm. Para cada sistema obtido 3 replicatas foram testadas. Os
perfis de dissolução foram avaliados utilizando-se eficiência de dissolução nos intervalos
de 15 e 20 minutos (DE15 e DE20) (KHAN, 1972).
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Resultados e Discussões
Trabalhos anteriores realizados (SOARES-SOBRINHO et al., 2009) obtiveram
tanto no estado líquido como sólido complexos de inclusão (BNZ-CD) utilizando diversos
tipos de CD, entre essas a RM CD, tais experimentos foram realizados na proporção molar
de 1:1 fármaco:ciclodextrina, estabelecendo claramente o mecanismo de complexação
BNZ- RM CD.
Estudo do efeito dos polímeros PVP e HPMC em diferentes concentrações com uma
concentração fixa de ciclodextrina
Nessa etapa objetivou-se verificar o acréscimo da taxa de solubilização do BNZ
induzido pelos polímeros PVP e HPMC. Os resultados também permitiram determinar o
tipo e a concentração utilizada de polímero para a formação de complexos
multicomponentes BNZ-CD-polímero, esses resultados encontram-se graficamente
representados na figura 1.
Figura 1. Diagrama de solubilidade BNZ em concentração fixa de CD (2%) utilizando PVP e HPMC em diferentes concentrações
Os resultados demonstram que a taxa de solubilização do BNZ, numa solução
contendo 2% de RM CD, na presença de concentrações crescentes de PVP e HPMC, com e
sem aquecimento, aumenta até ser atingida uma concentração ótima a partir da qual deixa
% Polímero [ ] Polímero
PVPPVP aquecimento
HPMCHPMC aquecimento
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de haver acréscimo no valor de solubilização. Os valores que demonstraram os melhores
resultados 0,25% p/p com PVP e 0,1% p/p com HPMC, estes valores colaboram com os
valores encontrados em trabalhos anteriores (LOFTSSON, SIGURDARDOTTIR, 1994;
RIBEIRO et al., 2005). Também foi verificado nos resultados, que o aquecimento tem
influência direta na taxa de solubilização do BNZ, mais evidente para os sistemas com
HPMC, constituindo em opção para sistemas no estado líquido.
Estudo do efeito do polímero associado à diferentes concentrações de ciclodextrina
O diagrama de solubilidade de fases do BNZ obtidos utilizando RM CD e HPMC
0,1% está representando na Figura 2. Pode-se observar o aumento da taxa de complexação,
ao comparar a reta referente ao sistema BNZ- RM CD frente aos dois sistemas BNZ-
RM CD –HPMC com e sem aquecimento.
À semelhança dos complexos binários BNZ-CD avaliados anteriormente, os
diagramas de solubilidade de fase obtidos para os sistemas ternários BNZ-CD-polímero,
são lineares, classificados por HIGUCHI e CONNORS (1961) em diagrama tipo AL,
indicando a formação de complexos de primeira ordem.
Figura 2. Diagrama de solubilidade BNZ em concentração fixa de HPMC (0,1%) utilizando RM CD em diferentes concentrações com e sem aquecimento
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Caracterização do Estado Sólido
Preparação dos Complexos no Estado Sólido
Existem diversos processos pelos quais se obtêm CI em estado sólido, porém não se
pode eleger um método de preparação como sendo o mais apropriado, uma vez que cada
processo tem de ser desenvolvido em função do fármaco a complexar, das ciclodextrinas e
outros agentes complexantes. A seleção do método para a obtenção é muitas vezes feita em
função da simplicidade, rendimento e facilidade quando da transposição de escala desse
processo (HEDGES, 1998).
Os complexos multicomponentes investigados em solução pelo método de
solubilidade de fases evidenciaram diagramas de solubilidade do tipo AL e portanto
solúveis, assim foram selecionados dois diferentes métodos de preparação nomeadamente
malaxagem e evaporação. Os rendimentos obtidos com os métodos de MX e EV
apresentaram valores acima de 95%, constituindo-se em processos adequados para
continuação do estudo.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
As micrografias obtidas para os sistemas BNZ-CD com e sem polímero, nas
diversas proporções, estão apresentadas nas figuras 3 e 4. Essas micrografias são
frequentemente utilizadas para a observação dos apectos morfológicos microscópicos dos
componentes singulares, isto é, fármacos, ciclodextrinas, polímero, bem como dos produtos
resultantes dos processos de obtenção (NAIDU et al., 2004).
O BNZ é caracterizado por cristais regulares (SOARES-SOBRINH0, 2008),
enquanto a RM CD é originalmente compostas por partículas de características esféricas
(FIGUEIRAS, 2007), assim como o HPMC, típicos de materiais amorfos. Então diante da
análise da figura 4 e 5 pode-se afirmar que nas misturas físicas parece haver uma
associação entre BNZ e RMBCD (CDs se encontra aderida na superfície do fármaco). De
maneira geral todos os processados apresentam mudanças no aspecto morfológico das
partículas, não se observando partículas amorfas características das CDs não manipuladas.
Os MX formam agregados (grânulos) particulares de tamanhos mais ou menos uniformes.
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Os EV apresentam uma redução nos tamanhos de partículas que assumem forma de agulhas
completamente diferentes dos materiais de partida. Não houve diferenças entre os
complexos com e sem polímeros.
Apesar dos estudos de MEV serem inadequados para confirmar a formação de
complexos de inclusão, as alterações drásticas na forma das partículas, no seu aspecto e
tamanho apontam para a existência de novas fases sólidas nos produtos obtidos (MX e EV).
Estas novas fases sólidas poderão estar simplesmente relacionadas com alterações no hábito
cristalino desses produtos, ou ainda constituírem uma forte indicação para a formação de
complexos de inclusão, apesar de necessitarem de posteriores confirmações por meio de
técnicas mais específicas como difração de Raios x, calorimetria exploratória diferencial,
infra vermelho, entre outras.
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Figura 3. Micrografias da Microscopia Eletrônica de Varredura dos sistemas com polímero:
A-BNZ; B-RM CD; C-HPMC; 1:1 D-MF; E-MX; F-EV; 1:0,66 G-MF; H-MX; I- EV;
1:0,33 J-MF; K-MX; L-EV; 1:0,17 M-MF; N-MX; O-EV
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Figura 4. Micrografias da Microscopia Eletrônica de Varredura dos sistemas sem polímero:
A-BNZ; B-RM CD; 1:1 D’-MF; E’-MX; F’-EV; 1:0,66 G’-MF; H’-MX; I’- EV; 1:0,33 J’-
MF; K’-MX; L’-EV; 1:0,17 M’-MF; N’-MX; O’-EV
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Difração de Raio- X
Figura 5. Perfis de difração de Raios-X dos sistemas BNZ-CD com e sem polímeros nas diversas proporções
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Os difratogramas dos componentes isolados e respectivos sistemas com e sem
polímero utilizado, encontram-se representados na figura 5. O perfil de difração do BNZ
põe em evidência o seu caráter criatalino, demostrando numerosos picos de difração de
elevada intensidade.
Foram obtidos difratogramas de R-x de pó das amostras isoladas (BNZ, RM CD e
HPMC), misturas físicas (MF) e processados evaporados (EV) e malaxados (MX), afim de
investigar indícios da formação de complexos de inclusão fármaco-CD (Figura 5). O perfil
difractométrico do fármaco revela a presença de 3 picos de maior intensidade a 7,5; 16,5 e
22 º2 , além de diversos picos secundários, evidenciando o comportamento cristalino do
BNZ. O inverso é verificado nos difratogramas da CD e do polímero que apresentam-se
predominantemente amorfas.
A comparação dos perfis de difração dos componentes puros com os obtidos com as
misturas físicas do sistemas permitiu verificar a inexistência de variações expressivas entre
os difratogramas das MFs, sendo estas correspondentes a simples justaposição dos
difratogramas dos componentes isolados. Os perfis de difração dos malaxados e evaporados
com e sem polímero, ostetam um caráter cristalino, contudo a comparaçãso com o
difratograma da respectiva MF permite detectar o desaparecimento de alguns picos do
ativo, além do aparecimento ou modificação de picos já existentes. Por sua vez, ao
comparar os sistemas BNZ-CD-polímero e BNZ-CD, em todas as proporções obtidas
evidenciou-se perfil cristalino semelhante, não sendo útil para diferenciação enter os dois
sistemas. Ribeiro e colaboradores confirmam tais resultados, observando os difratogramas
das preparações com e sem polímero para o fármaco vimpocetina e a beta ciclodextrina
(2005).
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Infravermelho com Transformada de Fourier (IV)
Figura 6. Espectros de infra-vermelho dos sistemas com e sem polímero: Sequência BNZ-
RM CD-HPMC: BNZ, RM CD, HPMC, MF, MX e EV; Sequência BNZ-RM CD: BNZ,
RM CD, MF, MX e EV
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A espectroscopia de infravermelho é uma ferramenta analítica que pode ser utilizada
para avaliação da ocorrência de interações entre moléculas no estado sólido. Contudo, este
método apresenta algumas limitações no estudo da formação de complexos de inclusão
fármaco-cilcodextrina.
O espectrograma no IV do BNZ (Figura 6) apresenta picos característicos,
principalmente com relação as bandas típicas das amidas (vibração de estiramento N-H),
estiramento de carbonila (banda amida I) e deformação N-H (banda amida II), além das
vibrações devido ao grupo benzílico e imidazólico, e em particular, ao grupo nitro. A banda
devido as vibrações de estiramento N-H, encontra-se em 3330 cm-1. A banda de
estiramento da carbonila encontra-se em 1685 cm-1 e a deformação de N-H (amida II) em
1565 cm-1, característica da amida secundária. Além dessas, a banda em 1318 cm-1 é
atribuída ao estiramento C-N. O conjunto de bandas em 3180, 3160, 3120, 3090 e 3000 cm-
1 surgem das vibrações de estiramento simétrico e assimétrico de metileno do grupo benzila
e o estiramento do C-H aromático, embora estejam em de número de onda maior do que o
previsto.
Nos espectros de IV correspondentes às MFs com BNZ- RM CD não se detectam
alterações significativas das bandas de absorção características do BNZ, o que demonstra a
não existência de interações importantes entre BNZ e os outros componentes das
preparações.
Os resultados obtidos de IV para os processados de BNZ-RM CD-HPMC (Figura
6) mostram ligeiras alterações na região correspondente a vibrações de estiramento do
grupo benzeno do BNZ (3100-2900 cm-1), para as amostras EV e MX. Também observa-se
modificações nas bandas correspondentes ao fármaco nas regiões de 1300-1000 cm-1,
relacionadas as ligações C-N do grupamento amida. Estes resultados apontam a uma
interação concentrada na parte centro-aromática do fármaco, o que indica uma possível
inclusão do BNZ na ciclodextrina através do seu grupo benzeno.
Como observado nas caracterizações anteriores, MEV e difração de Raios-X, não
observou-se diferenças entre os compostos binários frente aos ternários. Apesar da
possibilidade de visualização mais detalhada de algumas bandas típicas do BNZ, que
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inicialmente eram encobertas pela quantidade (1:1mol:mol) são notadas com a diminuição
nas proporções de CD ao longo das formulações.
Avaliação“in vitro” dos Perfis de Dissolução dos Sistemas BNZ-CD-Polímero e BNZ-CD
Figura 7. Perfis de dissolução das diferentes proporções BNZ:RM CD com e sem polímero
O estudo das propriedades de dissolução dos complexos de inclusão em estado
sólido constitui uma investigação de rotina laboratorial quando se trabalha com fármaco-
cilcodextrinas, apesar dos estudos de solubilidade de fases serem de grande importância sob
o ponto de vista teórico, em termos práticos o método de solubilização mais informativo é o
ensaio de dissolução, revelando não somente melhorias na solubilização de fármacos
complexados, como também informação acerca da cinética de dissolução dos complexos.
Os sistemas de dissolução do BNZ nos sistemas obtidos, encontra-se representados
na figura 7. Os valores de eficiência de dissolução (ED) 15 e 20 minutos, são mostrados no
quadro 1.
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Para uma análise mais crítica, deve-se discutir os resultados obtidos nos perfis de
dissolução levando em consideração o incremento de velocidade de solubilização do BNZ,
alguns pontos podem ser atores principais neste quesito como a influência da presença ou
não de HPMC a 0,1% nas preparações, o método empregado na obtenção dos complexos e
proporção fármaco:ciclodextrina nas formulações.
Quadro 1. Eficiência de dissolução 15 e 20 minutos das proporções BNZ: RM CD com e sem polímero
EV MX MF Proporções BNZ:CD(mol:mol)
Componentes dos Sistemas ED15 ED20 ED15 ED20 ED15 ED20
BNZ-CD-HPMC 83,4 88,7 60,9 69,6 49,5 56,5 1:1 BNZ-CD 83,5 87,7 77,7 81,6 46,9 54,4 BNZ-CD-HPMC 81,4 86 61,9 69,3 51 57,5 1:0,66 BNZ-CD 84,4 89,4 68,4 73 46,1 54,3 BNZ-CD-HPMC 80,9 86,9 53,4 61,5 50,9 57,6 1:0,33 BNZ-CD 84,5 89 66,2 73 47,9 56,9 BNZ-CD-HPMC 83,8 88 22,5 30,7 24 33,2 1:0,17 BNZ-CD 48,9 58,5 41,6 53,2 14,4 48,1
Legenda: ED-eficiéncia de dissoluçao; EV-evaporado; MX- malaxado; MF- mistura fisica
A influência do HPMC no incremento na velocidade de dissolução, não foi
confirmada pelos resultados de ED dos compostos sólidos testados, contrariando os
resultados encontrados na forma líquida, onde verificou-se um ganho considerável de
solubilização do BNZ na presença do HPMC. Pode-se atribuir a não potencialização no
incremento de dissolução do BNZ , nas preparações sólidas contendo polímero, devido ao
pequeno aporte ou não uniformidade na distribuição da formulação, além dos processos
utilizados para a obtenção dos sistemas.
Os métodos de preparo empregados (MX, EV e MF) tiveram resultados distintos
como verificado nos perfis de dissolução (figura 7) e ED (quadro 1), deixando claro que a
escolha do processo para a obtenção dos complexos deve ser escolhido de forma a propiciar
as condições adequadas a formação dos mesmos.
Ao analisar as diferentes proporções BNZ:CD, obteve-se resultados semelhantes
para as proporções (1:1, 1:0,66, 1:033), possuindo percentuais próximos com valores acima
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de 80% até 15 minutos. A excessão da proporção 1:0,17 onde obtve-se percentuais
menores (figura 7 e quadro 1). Ainda deve-se levar em consideração, a tempo de atribuir a
capacidade no incremento de dissolução do BNZ, o processo utilizado na confecção dos
mesmos, pois como descrito acima os processos tem papel preponderante nos resultados
revelados nos perfis de dissolução.
Conclusões
A aplicação articulada de diferentes metodologias analíticas permitiu caracterizar
pormenorizadamente os sistemas multicomponentes (MF e MX, EV) obtidos no estado
sólido. Todos os complexos demonstram diferenças morfológicas, estruturais e perfis
espectroscópicos distintos das moléculas livres de BNZ e CD.
Pode-se então concluir com base nos resultados apresentados que a obtenção de
sistemas multicomponentes testados (estado sólido), não aumentou a taxa de dissolução do
BNZ nas preparações, também ficou evidente a influência do processo utilizado (MX e EV)
traduzidos nos resultados de caracterização das preparações e por fim a possibilidade de
otimizar a quantidade de ciclodextrina para futuras formulações contendo BNZ, diminuindo
o volume das preparações de forma a tornar mais eficiente tais sistemas.
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Conclusões e Perspectivas
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8 CONCLUSÕES
A importância na determinação de monocristal, desenvolvimento de método de
dissolução e por fim a caracterização físico-química para fármacos cristalinos é de
relevância para o controle de qualidade, quando da produção de preparações a base de
benznidazol em escala industrial.
Os resultados das caracterizações de dispersões sólidas, complexos de inclusão e
multicomponentes foram elucidativas, comprovando a interação entre os componentes dos
sistemas fundamentando o aumento na velocidade de dissolução das preparações obtidas.
Pode-se então afirmar que a obtenção de dispersões sólidas (BNZ-Polímero),
complexos de inclusão (BNZ:CDs) e multicomponentes (BNZ:CDs:Polímero) são
alternativas para ter-se uma melhor dissolução do fármaco, possibilitando diversas
vantagens frente a veiculação tradicional, utilizando tal fármaco, de maneira mais segura e
eficaz.
9 PERSPECTIVAS
As perspectivas do nosso trabalho se voltam à realização de testes in vivo utilizando
os sistemas obtidos (dispersões sólidas, complexos de inclusão e multicomponentes),
obtenção e caracterização de sistemas no estado líquido, além da realização de estudos
detalhados de estabilidade do fármaco (testes de estresse, elucidação de rota e cinética
degradativa e desenvovlvimernto de método indicativo de estabilidade).
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
Referências
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Soares-Sobrinho, J. L. Sistemas de Vetorização do Benznidazol para o tratamento da Doença de Chagas.
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Anexos