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165Rev. ciênc. hum., Taubaté, v.9, n.2, p.165-171, jul-dez 2003.

OPERADORES LÓGICOS E OPERADORES DISCURSIVOS:EMPREGO E LEITURA EM TEXTOS JORNALÍSTICOS

CONNECTIVES: THE USE AND READING IN JOURNALISTIC TEXTS

ORLANDO DE PAULADepartamento de Ciências Sociais e Letras

Universidade de Taubaté

RESUMO

A dissertação de mestrado “Operadores lógicos e operadores discursivos: emprego e leitura em textos jornalísticos” baseou-se em

Koch (1989, 1993) e Fávero (1999) e norteou-se por dois objetivos: i) fazer levantamento e análise das ocorrências de operadoreslógicos e de operadores discursivos em textos jornalísticos; ii) verificar a habilidade dos alunos do 1º ano do curso Bacharelado em

Computação, da Universidade de Taubaté, em explicar, por escrito, a relação de sentido que alguns operadores estabelecem nesse

tipo de texto. O resultado mostrou que há uma restrição no uso desses elementos coesivos e que os referidos alunos apresentam

dificuldade em reconhecer as relações de sentido e em explicá-las por escrito.

PALAVRAS-CHAVE: coesão textual; operadores lógicos; operadores argumentativos; relação de sentido; lingüística

textual

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é apresentar uma síntese

da dissertação de mestrado “Operadores lógicos eoperadores discursivos: emprego e leitura em textos jornalísticos”. Foram dois os objetivos que orientaram odesenvolvimento desta pesquisa. O primeiro consistiuno levantamento do emprego dos operadores do tipológico e dos operadores do tipo discursivo em dezesseis(16) textos opinativos e informativos de jornais e revistasatuais, conforme quadro “Operadores Lógicos eOperadores Discursivos” (quadro 1), organizado a partirde Koch (1989) e Fávero (1999). Outro objetivo foi averificação da capacidade dos alunos do 1º ano do cursoBacharelado em Computação, da Universidade deTaubaté, em explicar, por escrito, a relação de sentido

estabelecida por alguns desses operadores nos textosselecionados. Buscaram-se respostas a três perguntas:Qual a freqüência de uso dos operadores relacionadosno quadro 1? Há operadores que expressam tipos derelação de sentido diferentes dos apresentados noquadro 1? Os alunos do 1º ano do curso Bachareladoem Computação são capazes de explicar por escrito otipo de relação de sentido que os operadores estabelecemnos textos selecionados?

2. A coesão textual

Os operadores do tipo lógico e do tipo discursivo

são elementos de conexão interfrástica. Os primeirostêm a função de estabelecer relações lógico-semânticasentre orações de um mesmo enunciado e não podemser confundidos com os operadores lógicos propriamenteditos, expressão empregada pela lógica formal. Apesarde terem semelhanças, a lógica das línguas naturaisdifere da lógica formal, conforme Koch (1987). Osoperadores do tipo discursivo ou argumentativo têm afunção de estabelecer relações pragmáticas, retóricasou argumentativas entre orações de um mesmo período,entre dois ou mais períodos e entre parágrafos de umtexto. São responsáveis pela estruturação de enunciadosem textos, por isso também são chamados de operadoresou encadeadores do discurso, de acordo com Koch

(1989). Constituem uma nova terminologia, em relaçãoà gramática normativa, que é adotada pela LingüísticaTextual, recente ramo da lingüística moderna, surgidona década de 60, que tem, no texto, sua base central.

Esses operadores são responsáveis pela coesãotextual, um dos fatores que conferem a textualidade aotexto, a qual se dá, na definição de Koch (1989), a partirdo momento em que em um texto são empregadostermos com a principal função de estabelecer relações

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textuais. Esses termos podem ser classificadosmorfologicamente como pronome, advérbios, numerais,conjunções, locuções conjuntivas etc. São chamados derecursos de coesão textual. Para Koch (1989), o usodesses elementos coesivos atribui ao texto maiorlegibilidade, pois explicita os tipos de relação estabelecidosentre os elementos lingüísticos que o compõem. Assim,o conceito de coesão textual diz respeito a todos osprocessos de seqüencialização que asseguram umaligação significativa entre os elementos que ocorremna superfície do texto, principalmente em textoscientíficos, didáticos, expositivos e opinativos, nos quais“a coesão é altamente desejável como mecanismo demanifestação superficial de coerência” (p.19). A autorapropõe, então, a existência de duas grandes modalidadesde coesão: a coesão referencial (referenciação,remissão) e a coesão seqüencial (seqüenciação).

Para Fávero (1999), a coesão constitui umimportante fator de textualidade, que se classifica em

três tipos: a coesão referencial, a coesão recorrencial ea coesão seqüencial stricto sensu.

Como o objeto de análise deste trabalhocentraliza-se na coesão seqüencial, na qual estãoinseridos os operadores lógicos e os discursivos,trataremos desse tipo de coesão proposto por Koch(1989) e Fávero (1999).

3. A coesão seqüencial

Para essas autoras, a coesão seqüencial estárelacionada aos mecanismos empregados no texto paraque ele possa progredir. Para definir esses mecanismos,

Koch (1989) subdivide a coesão seqüencial emseqüenciação parafrástica e seqüenciação frástica, e, apartir desta, apresenta os mecanismos que constituemfatores de coesão textual, entre os quais se enquadra o“encadeamento”, que subdivide em  justaposição econexão. A conexão é, então, realizada por conectoresinterfrásticos, que, dependendo do tipo de relação queestabelecem, podem ser do tipo lógico e do tipodiscursivo. De sua parte, Fávero (1999) apresenta a“seqüenciação temporal” e a “seqüenciação porconexão”, sendo esta estabelecida por operadores dotipo lógico, operadores do tipo discursivo  e por pausas. Assim, percebem-se características comuns que

tornam a conceituação de ambas as autoras equivalentes.Vem daí a adoção do termo “operadores” (Koch, 1993),tanto para os conectores do tipo lógico, quanto para osdo tipo discursivo.

3.1 Operadores do tipo lógico

Koch (1993) considera a maioria dosenunciados que contêm proposições entre as quais se

estabelecem relações do tipo lógico como casos de frases

ligadas (Bally, 1944 apud  KOCH, 1993), portadoras

de  predicado complexo  (Ducrot, 1972 apud   KOCH,

1993): trata-se de um único enunciado, resultante de um

só ato de linguagem, visto que nenhuma das proposições

é objeto de um ato de enunciação compreensívelindependentemente do outro. Dessa forma, enquadram-

se nessa classificação as conjunções subordinativas,

que, nessa acepção, constituem simplesmente conectivos

ou operadores do tipo lógico.

Dentre as relações lógico-semânticas que os

operadores do tipo lógico podem expressar, segundo

Koch (1989) e Fávero (1999), estão:  relação de

condicionalidade, relação de causalidade, relação

de mediação, relação de disjunção, relação de

temporalidade, relação de conformidade, relação de

modo, relação de complementação e relação de

restrição ou delimitação.

3.2 Operadores do tipo discursivo/argumentativo

Os operadores , ou encadeadores de discurso,

são assim chamados por terem a função de estruturar

os enunciados em textos, por meio de encadeamentos

sucessivos de enunciados, sendo cada enunciado

resultante de um ato de fala distinto (Koch, 1989).

Baseando-se ainda na acepção de Bally (1944 apud 

KOCH, 1993), Koch (1993) afirma que os enunciados

ligados por esses operadores devem ser compreendidos

por coordenações, uma vez que, na coordenação, trata-se de duas proposições, resultantes de dois atos de

enunciação diferentes, em que a segunda proposição

toma a primeira como tema, numa sucessão de

proposições.Entre as principais relações discursivas ou

argumentativas apresentadas por Koch (1989) e Fávero

(1999) estão: relação de conjunção, relação de

disjunção argumentativa, relação de contrajunção,

relação de explicação ou justificação, relação de

comprovação, relação de conclusão, relação de

comparação, relação de generalização/extensão,

relação de especificação/exemplificação, relação decontraste, relação de correção/redefinição.

3.3 Quadro-resumo dos operadores

A partir dessas considerações, foram

selecionados, no quadro a seguir, alguns tipos de relações

e alguns operadores que serviram de base para a análise.

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  4. Ocorrências dos operadores nos textos

 jornalísticos

De acordo com o primeiro objetivo da pesquisa,

a análise do emprego de operadores nos dezesseis (16)

textos jornalísticos (opinativos, informativos e descritivos)

selecionados em revistas (Veja, Você, Infoexame,

Superinteressante) e jornal (Folha de São Paulo) mostrou

que houve predomínio das relações de conjunção, de

contrajunção, de disjunção e de condicionalidade, sendoas relações de conjunção (exemplo 01) e

contrajunção (exemplo 02) as que registraram mais

ocorrências (67 para “e” e para “mas”), portanto, dois

tipos de relação expressos por operadores do tipo

discursivo, os encadeadores do discurso. Dentre as

relações do tipo lógico, ocorreram com mais freqüência

a relação de  disjunção (exemplo 03) e a de

condicionalidade (exemplo 04). Por exemplo:

(01) “ Na verdade, a questão é complexa  e ,

ao final destas linhas, vai-se sugerir que transcende

a figura do presidente.”(Veja, de 22/09/99)

(02) “As mulheres entendem de amor 

monogâmico e compulsivo por um homem, talvez

entendam de amor por uma seleção -elas torcem em

copa do mundo -,  mas ao autor dessas linhas quer 

 parecer que, por mais que freqüentem ultimamente

os estádios, e salvo raras exceções, encaram com

reservas, entre perplexas e horrorizadas, a

experiência de devotar profundo e infinito amor a

clube.” (Veja, de 04/08/1999)

(03) “Apesar das desvantagens iniciais,

você tem, sim, chances de cruzar a linha de

chegada em primeiro lugar,  ou numa posição que

 pode ser perfeitamente compensadora.” (Você,

agosto/99)

(04) “A conclusão dos especialistas é clara.

Se  você quer saúde e satisfação sexual, procure o

afeto, e não o sexo pelo sexo.” (Superinteressante

 Especial, maio/99)

A predominância de operadores do tipodiscursivo pode ser explicada pelo fato de a maioria dostextos selecionados para a análise serem textosopinativos e/ou informativos. Por isso, necessitam deoperadores argumentativos para direcionarem aargumentação. No caso específico do “e”, umaconjunção classificada pela gramática tradicional comocoordenativa, que marca uma relação de adição entresegmentos coordenados, encontramos inúmerasocorrências nos textos selecionados (mais de 200 sesomarmos suas ocorrências entre palavras, sintagmase orações), mas, como operador argumentativo, ou seja,como encadeador de enunciados, ocorreu 67 vezes.

No caso dos operadores que expressam relaçãode contrajunção, houve maior ocorrência do “mas” (67vezes). Já “no entanto” e “porém” ocorreram quatrovezes (4).

QUADRO 1- OPERADORES DO TIPO LÓGICO E DO TIPO DISCURSIVO

TIPOS DE RELAÇÕES OPERADORES DO TIPO LÓGICODisjunção: ouCondicionalidade: se, caso, desde que

Causalidade: já que, visto que, tanto (assim) que, porque, então, assim, por issoMediação: para que, para, a fim deTIPOS DE RELAÇÕES OPERADORES DO TIPO DISCURSIVO/ARGUMENTATIVODisjunção: ouConjunção: e, também, tanto quanto/como, além disso, além de, nem (=e não), nãosó...mastambém, aindaContrajunção: e (=mas), mas, no entanto, porém, entretanto, todavia, contudo, embora, apesar

de, ainda que, mesmo queExplicação: pois, porque, queConclusão: assim, portanto, logo, por isso, então, pois, por conseguinte

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Entretanto, muitos operadores possíveis e

previstos no quadro-resumo não tiveram sua ocorrência

registrada, como os operadores “caso”, “visto que”,

“então”, “a fim de”, “todavia”, “contudo”, “ainda que”,

“mesmo que” e “por conseguinte”. Outros a tiveram,

mas em número muito reduzido, como os operadores

“desde que”, “assim”, “por isso”, “para que”, “porque”,

“não só... mas também”, “porém”, “entretanto”,

“embora”, etc.

Perini (1996), em sua Gramática descritiva do

 português, na tentativa de descrever uma variedade

padrão do português escrito, optou por considerar padrão

geral a linguagem utilizada em textos jornalísticos e

técnicos por ela apresentar uma grande uniformidade

em todo o Brasil. Esses textos, segundo o autor,

oferecem uma uniformidade de estrutura que permite

elaborar a descrição com maior coerência. No entanto,de acordo com esta pesquisa, os textos selecionados

apresentam um uso restrito dos elementos coesivos, o

que indica uma possível mudança lexical no Português

do Brasil, caracterizada pelo desaparecimento de itens

lexicais da categoria dos operadores.

Com base nessas observações, considerando a

variedade de conectivos existentes em nossa língua,

pode-se afirmar que está havendo uma restrição das

possibilidades de uso desses operadores em textos

 jornalísticos (opinativos/informativos).

5. Ocorrências dos operadores nos textos jornalísticos com sentidos diferentes

Os operadores  já que  e  po is ,  segundo

levantamento e análise, foram empregados com sentidos

diferentes dos estabelecidos no quadro- resumo: duas

ocorrências em que  já que  expressa relação de

explicação/justificação (exemplo 05) e uma ocorrência

em que pois expressa relação de contrajunção (exemplo

06).

Apesar de  já que  ser apresentado como um

operador que expressa relação de causalidade, conforme

quadro-resumo, ele ocorre duas vezes expressando

relação de explicação ou de justificação, como em (05),

em que a relação de causalidade não é evidente, se

considerarmos que essa relação (p  porque q) diz

respeito à conexão de duas orações, uma das quais

apresenta a causa que acarreta a conseqüência contida

na outra. Vê-se que em (05)  já que evidencia muito

mais uma relação de explicação ou justificação para o

fato de as empresas controlarem o e-mail, uma vez que

os equipamentos e documentos produzidos são de

propriedade da empresa:

(05) “Do ponto de vista legal, as empresas

estão amparadas em seu intuito de controlar o e-

mail,  já que  os equipamentos utilizados e os

documentos produzidos em horário de trabalho

são de sua propriedade.” (Info Exame, janeiro/99)

Para Vogt (1988), a operação que a conjunção

 já que  realiza é semelhante às realizadas por  pois e

 porque: operação argumentativa. Nesse sentido, essas

conjunções constituem, então, operadores

argumentativos.

Dessa forma, essa análise permite que vejamos

uma aproximação semântica entre as relações de

causalidade e explicação e que cheguemos à conclusãoque o operador “já que”, além de figurar como operador

do tipo lógico, expressando uma relação de causalidade,

também pode ocorrer como operador do tipo discursivo,

expressando uma relação de explicação. Em obra mais

recente, Koch (1997) inclui o operador já que  como

operador de causalidade.

Já o operador pois chamou-nos a atenção por

assumir o valor de contrajunção, valor bem diferente

dos que lhe são atribuídos, como em (06):

(06) “Desde que os antigos gregos criaram

a palavra felicidade, por volta do século VII antes

de Cristo, seu sentido sempre foi nebuloso, abstrato. Assunto para filósofos, poetas e místicos _ nunca

 para os cientistas, sempre às voltas com problemas

objetivos.  Pois agora a ciência resolveu destrinchar 

a questão.” (Superinteressante especial, maio/99)

6. A leitura dos operadores

Quanto ao segundo objetivo, verificação da

habilidade dos alunos do 1º ano do curso Bacharelado

em Computação em explicar por escrito a relação de

sentido estabelecida por alguns operadores, o resultado

da análise mostrou-nos que os alunos têm dificuldade

em explicar por escrito a relação de sentido estabelecida

pelos operadores nos textos, pois foram 110 (35%)

explicações adequadas, 74 (23,6%) inadequadas e 130

(41,4%) parcialmente adequadas. Se considerarmos

apenas as explicações parcialmente adequadas, podemos

afirmar que os alunos “entenderam” o tipo de relação,

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mas não conseguiram se expressar por escrito. Em suasexplicações, os alunos usaram termos semelhantes aoque encontramos em nossas gramáticas e livros didáticos,como, por exemplo: alternância para “ou”; condição para“se”; explicação para “tanto assim que”, “pois”, “porque”

e “já que”; oposição para “porém” e “mas”; concessãopara “embora”; conclusão para “portanto” etc. Cabelembrar que, para avaliar as explicações, não foi exigidodos alunos o emprego da terminologia da gramáticanormativa, muito menos da Lingüistica Textual. Apesardisso, o que se constatou foi o uso mecânico de palavrasque são associadas às conjunções pela sua popularidade.Esse uso reflete, provavelmente, o tipo de trabalhorealizado em sala de aula pelos docentes.

Outro aspecto refere-se aos textos que maiscontribuíram para as respostas adequadas. Nos textos

opinativos/descritivos, os quais apresentam assuntosespecíficos da área de informática, o índice deexplicações adequadas foi de 54,5% (60 explicaçõesadequadas) contra 45,5% (50 explicações adequadas)dos textos argumentativos, nos quais há defesa de idéiase de opiniões com vocabulário mais complexo.

 

6.1  Explicações adequadas

Para a análise das explicações, foramconsideradas adequadas aquelas em que o conectivomarcado foi devidamente contextualizado, ou seja, os

alunos conseguiram apresentar a relação de sentidoestabelecida pelo operador, justificando com as idéiasdo texto. Os operadores com mais explicaçõesadequadas foram: “não só...mas também” (75%), “se”(50,0%), “porque” (50%), “assim”(50%),“portanto”(43,5%), “logo” (42,9%) e “mas” (40,0%). Aadequação das explicações foi perceptível, pois os alunosconseguiram relacionar os operadores ao tipo de relaçãoestabelecido nos textos.

6.2 Explicações inadequadas

Quanto às explicações consideradasinadequadas, foram 74, correspondendo a 23,6%. Osoperadores com maior incidência de explicaçõesinadequadas foram: “no entanto”(41,6%), “desde que”(37,5%) e “já que” (37,5). Cabe lembrar que o critérioestabelecido para a inadequação consistiu naincoerência da explicação, ou seja, seria considerada

inadequada a explicação em que o operador selecionadonão estivesse devidamente contextualizado, não estivesserelacionado coerentemente ao tipo de relação e às idéiasdo texto.

6.3 Explicações parcialmente adequadas

No que concerne às explicações parcialmenteadequadas, constatamos o índice de 41,4% (130explicações, somando os três tipos de explicações).Desse índice, 29,3% (92 explicações) referem-se aoterceiro tipo de explicações , ou seja, aquelas em quehavia a apresentação do tipo de relação em uma palavraou duas e uma explicação vaga ou generalizada; 9,6%(30 explicações), ao segundo tipo, ou seja, apenas a umaexplicação generalizada; e 2,5% (8 explicações) ao

primeiro tipo, isto é, apenas a classificação do operadorem uma palavra ou duas.Os operadores com maior índice de explicações

parcialmente adequadas foram: “tanto assimque”(100%), “para que”(75%), “porém” (75%), “logo”(57,1%), “porque”(50%), “embora”(50%), “pois”(48,4%), “ou” (46,9%), “já que” (43,8%) e “mas”(43,6%).

  7. Conclusão sobre as explicações dos alunos

Observa-se que os alunos tiveram uma

facilidade maior com os operadores do tipo discursivo.Destacam-se “não só...mas também”, “assim”,“porque”, “portanto” e “mas”. Dentre os operadores dotipo lógico, destaca-se o operador “se”. Os operadoresque apresentaram mais dificuldade aos alunos foram “noentanto” (operador do tipo discursivo), “desde que”(operador do tipo lógico) e “já que” (operador do tipológico de causalidade e também operador argumentativode explicação).

Outra constatação refere-se à relação entre osoperadores mais freqüentes nos textos e as explicaçõesadequadas, e entre os menos freqüentes e as explicaçõesinadequadas. É bem provável que o fato de os operadoresserem freqüentes tornaram-nos mais conhecidos, o quefacilitou a leitura dos alunos. Apesar disso, não podemosafirmar que esses alunos lêem os operadoresadequadamente em todos os contextos apenas porqueesses operadores são muito empregados em textos. Ocontexto pode interferir e dificultar a interpretação, fato

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 já obse rv ad o pe la s ex pl icações co ns ider adasparcialmente adequadas. De outra forma, constatamosque o tipo de texto também exerce uma influênciapositiva, pois facilita a leitura, uma vez que os operadores

assinalados no grupo de textos opinativos/descritivostiveram mais explicações adequadas: são textos comassuntos relacionados à área de estudo desses alunos.

No entanto, outros fatores podem ter interferidona leitura dos alunos como, por exemplo, a não utilizaçãode determinadas estratégias de leitura e os exercíciosdescontextualizados, praticados no processo ensino–aprendizagem desses elementos, no sentido de revelarsuas dificuldades, fato que precisa ser refletido, visandoa uma proposta de reformulação do ensino desseselementos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar, chegou-se à seguinte conclusão:i) em relação ao quadro de possibilidades da língua,organizado a partir de Koch (1989) e Fávero (1999), oemprego de operadores em textos jornalísticos éreduzido; ii) para os tipos de relação em que há váriosoperadores possíveis, observa-se a forte predominânciade uso de um dos operadores: Se (Condicionalidade);

Porque (Causalidade); E (conjunção); Mas

(contrajunção); Pois (explicação; iii) alguns operadoresapresentaram sentidos diferentes dos previstos noquadro-resumo, como  já que, que expressa umarelação de causalidade e foi empregado como operadorde explicação e justificação; e o operador  pois, queexpressa relações de explicação e de conclusão e foiempregado com sentido de contrajunção. iv) em relaçãoà verificação da habilidade dos alunos em explicar, porescrito, a relação de sentido estabelecida pelosoperadores, os dados mostraram que os referidos alunos

têm dificuldade em reconhecer as relações de sentido eem explicá-las por escrito, apesar de conseguiremclassificar os operadores, provável reflexo de umaaprendizagem baseada no ensino descontextualizado dagramática, que, como já comentou Marcuschi (1997),privilegia a memorização, e de uma prática superficialde leitura, que despreza o texto na sua totalidade.

ABSTRACT

The cohesion elements are fundamental for textualorganization. Besides connecting clauses, periods and

paragraphs, they are responsible for the establishmentof the meaning relationships in and between statements,seeking textual cohesion, one of the factors that makesa text. They are called logical connectives and discursive/ argumentative connectives, according to TextualLinguistics. However, we notice two problematicsituations in relation to these elements: the first refersto their limited use in journalistic texts; the second tothe teaching without contextualization. These situationsprobably prevent the development of the students’ textualcompetence, one of the main objectives in the teachingof mother tongue. This research is about the frequencyof these connectives in journalistic texts, and theverification of the students capability to explain, in writtenform, the meaning relationship that the connectives or,

if, since, as much, to, therefore, but, however,

nonetheless,  because, thus  and so establish in texts.The research was realized with the 1st year students of Computating course at Taubaté University. For theconnectives frequency follow up, 16 journalistic textswere chosen, and, among them, 8 were sellected, each

one with 5 connectives marked to check the studentscapability to explain them. The result showed that thereis a limited use of these connective elements, as well asa meaning variation that the connectives have; it alsoshowed that the students have difficulty when expressingtheir thoughts in written form.

KEY WORDS: textual cohesion; connectives; meaningrelation; Textual Linguistics

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Orlando de Paula é Professor Assistente III noDepartamento de Ciências Sociais e Letras daUniversidade de Taubaté

Rua Dr. Lúcio Toledo Freitas, 170 - CrispimCEP: 12402-300 - Pindamonhangaba - SPe-mail: [email protected]

Tramitação:

Artigo recebido em: 25/03/2003Aceito para publicação em: 28/05/2003

171Rev. ciênc. hum., Taubaté, v.9, n.2, p.165-171, jul-dez 2003.