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VESTÍGIOS CRIOULOS NA FALA RURAL DE SÃO PAULO CARENO, Mary Francisca do – UNAERP GT: Afro-Brasileiros e Educação / n.21 Agência Financiadora: FUNDUNESP – FAPESP Três tipos de questionamento apresentam-se quando a proposta é relacionar língua portuguesa e crioulização: i) O Português Vernáculo do Brasil (doravante PVB), falado pelas camadas mais pobres e sem acesso a uma educação formal, constitui-se em crioulo 1 , está em processo de descrioulização ou é um mito a sua procedência crioula? ii) O PVB consiste em um sistema único ou ele existe concomitantemente com outros padrões de língua formando um contínuo? iii) Quais os padrões de variabilidade que esse contínuo revela acerca das questões anteriores ? Qual é a relação entre diacronia e sincronia nestas situações? Essas hipóteses sobre a origem do PVB relacionam-se `a genesis das línguas crioulas e são inspiradas nas tradições Romântica e Historicista e, respectivamente, nas hipóteses universalista e substratista. Os estudiosos que seguem a proposta Universalista acreditam essencialmente que as propriedades gramaticais de 1 Crioulo é uma língua materna resultante do contato entre povos cultural e lingüisticamente diferenciados. Ao longo do processo da adoção de um crioulo, passa-se por um pidgin ( “ língua auxiliar que surge quando dois falantes de diversas línguas mutuamente ininteligíveis entram em contato estreito” ( Bickerton 1984:173). Na verdade, ambos são duas fases, dois aspectos de um mesmo processo lingüístico.

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Page 1: ARTIGO - Vestígios crioulos  na fala rural de  São  Paulo

VESTÍGIOS CRIOULOS NA FALA RURAL DE SÃO PAULOCARENO, Mary Francisca do – UNAERP GT: Afro-Brasileiros e Educação / n.21Agência Financiadora: FUNDUNESP – FAPESP

Três tipos de questionamento apresentam-se quando a proposta é relacionar língua

portuguesa e crioulização:

i) O Português Vernáculo do Brasil (doravante PVB), falado pelas camadas mais

pobres e sem acesso a uma educação formal, constitui-se em crioulo1, está em processo de

descrioulização ou é um mito a sua procedência crioula?

ii) O PVB consiste em um sistema único ou ele existe concomitantemente com

outros padrões de língua formando um contínuo?

iii) Quais os padrões de variabilidade que esse contínuo revela acerca das questões

anteriores ? Qual é a relação entre diacronia e sincronia nestas situações?

Essas hipóteses sobre a origem do PVB relacionam-se `a genesis das línguas

crioulas e são inspiradas nas tradições Romântica e Historicista e, respectivamente, nas

hipóteses universalista e substratista.

Os estudiosos que seguem a proposta Universalista acreditam essencialmente que as

propriedades gramaticais de uma língua particular refletem diretamente os aspectos

universais da capacidade da linguagem humana ( Chomsky,1981; Bickerton com seu

Bioprograma, 1981, 1984); ou acrescentam, como Givón (1984), uma visão mais

pragmático- funcional `a sua capacidade.2

A hipótese do Substrato crioulo supõe que sua genesis resulta do confronto entre

dois sistemas: as línguas nativas dos grupos colonizados e a língua de um grupo dominante.

Nesta concepção, a língua nativa deixa traços profundos na língua resultante. Ainda assim,

essa hipótese substratista precisa, segundo os autores, demonstrar a conjugação de

evidências históricas e lingüísticas relativas a cada língua. A evidência histórica que se

torna mais significante e ao mesmo tempo mais difícil de se obter ( vou voltar a esta 1 Crioulo é uma língua materna resultante do contato entre povos cultural e lingüisticamente diferenciados. Ao longo do processo da adoção de um crioulo, passa-se por um pidgin ( “ língua auxiliar que surge quando dois falantes de diversas línguas mutuamente ininteligíveis entram em contato estreito” ( Bickerton 1984:173). Na verdade, ambos são duas fases, dois aspectos de um mesmo processo lingüístico.2 Cf. Muysken,P & Smith, N. 1986:1-2. Para eles, a genesis crioula reclama por um lugar de maior destaque na história da língua (“claims the stripping away of the accretions of language history”.)

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questão relacionando-a `a história do Brasil no período pós-escravidão) está diretamente

relacionada ao período inicial de utilização de mão escrava em uma dada colônia

No caso do português vernáculo do Brasil, - representado aqui pelos exemplos de

língua falada em uma área rural do Sudoeste do Estado de São Paulo - evidências históricas

e lingüísticas demonstram que a hipótese do substrato pode ser adequada para o estudo

dessa variação lingüística não- padronizada. A pesquisa tem essa finalidade: apresentar e

dar a conhecer aos professores de comunidades tradicionais e estudiosos de línguas usadas

por habitantes de comunidades negras rurais, evidências históricas e dados lingüísticas que

podem trazer `a tona a discussão não muito clara sobre a contribuição das línguas de

substrato, em especial das línguas africanas para a formação do PVB.

Para justificar a pesquisa e verificando a grande concentração de afro-brasileiros no

Vale do Ribeira, a) eu tenho que reconhecer que é urgente fazer uma pesquisa acerca da

real participação das línguas africanas na formação do PVB, uma vez que os detentores da

história e da cultura locais estão em idade bastante avançada; b) eu espero que esta espécie

de estudo possa contribuir com dados mais atuais e de uso comum para uma discussão

sobre os processos de crioulização dentro da formação da PVB e c) finalmente, eu espero

contribuir de algum modo para resolver ou amenizar os problemas educacionais resultantes

do ensino de língua padrão nas escolas rurais brasileiras.

PARTE I - CONTEXTO SOCIO-HISTÓRICO DO PVB

O PVB é uma variedade diferente do Português Padrão falado no Brasil.(doravante

PPB). Aquele é o resultado de uma ampla variedade de traços gramaticais encontrados na

fala de pessoas de baixa renda e com um mínimo de escolarizacão. Este distancia-se

radicalmente da modalidade falada por essa população, sobretudo dos habitantes de áreas

rurais.

Alguns autores, por diferentes razões, consideram o PVB como uma corrupção do

Português Europeu; outro grupo adota, em tese, a proposta Universalista, pois, baseado no

aspecto interno das línguas, defende que o PVB está seguindo o processo normal de

evolução como qualquer língua. Contudo, um terceiro grupo de autores consideram-no

resultado do contato íntimo entre três línguas: as línguas nativas dos índios, os dialetos do

português europeu e as diferentes línguas africanas faladas pelos escravos. Sem mencionar

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ainda os diferentes dialetos que certamente surgiram do contato entre essas línguas3. Esse

terceiro grupo está mais próximo da proposta Substratista.

A terceira proposta sustenta a idéia da importância dos estudos sobre a origem de

algum crioulo de base portuguesa falado pelos escravos africanos que foram trazidos ao

Brasil pelo povo Português. Dado que os crioulos quase sempre fazem parte de

comunidades bilingües (atualmente, temos como exemplos em Guiné-Bissau, Havaí,

Papua-Nova Guiné, etc) ou comunidades multilingües ( atualmente, Haiti e Cabo Verde,

entre outras), a complexa situação lingüística do português colonial brasileiro com as três

línguas formadoras pode ter criado uma situação de coexistência de três línguas em

situação de desigualdade. Esta proposta permeará o presente trabalho.

O estreito contato com as línguas africanas, durante o período colonial e sua

provável pidginização e os conseqüentes processos de crioulização foram já apresentados

por antigos estudiosos da língua portuguesa como Coelho (1880), (Mendonça (1973),

Raimundo (1933). Mais recentemente, embora admitindo a composição de crioulos e semi-

crioulos no Brasil devido ao fato de que os escravos teriam aprendido imperfeitamente a

língua portuguesa, Melo (1975), Elia (1979) e Silva Neto (1986) refutam a idéia de

qualquer procedência crioula na constituição do português falado no Brasil. Os dados

sociais e históricos, pelo contrário, dão o suporte necessário para se sustentar a idéia de

uma teoria acerca da grande importância do estudo de uma prévia crioulização na

constituição do PPB.4

1. EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS 1.1. Características sócio-históricas do crioulo

As línguas crioulas estão sempre relacionadas com uma história de contato

lingüístico entre diferentes povos. Segundo DeCamp 1971:25 e Bollée 1977:49-53 ( apud

Couto 1996:35) “ não há nenhuma maneira segura de identificar como crioulo uma língua

cuja história seja desconhecida”

Em geral, os crioulos surgem quando crianças adotam um pidgin como língua

materna. O pidgin, por sua vez, é o resultado do contato entre povos que possuem línguas

mutuamente ininteligíveis. O crioulo surge em comunidades bilingües ou multilíngües e,

3 Nesse sentido, consulte Holm 1994 e Mello, a sair1 e 2.4 A linguagem usada pelos escravos pode ter sido um crioulo ou um dialeto crioulo. Eles vinham das mais diferentes tribos africanas e no Brasil, foram distribuídos nas diversas áreas geográficas ( São Paulo incluído).

3

Mary Francisca do Careno, 03/01/-1,
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quase sempre em ilhas ou em regiões isoladas, critério conhecido como insularidade.

Segundo Fields (1995) as condições necessárias para dar lugar `a crioulização são

similares `a situação socio-histórica no Brasil na época de sua colonização, ou seja: i)

existência de um grupo dominante branco e outro subordinado grupo escravo com pouca

interação social entre eles; ii) existência de um período em que o segundo grupo era

altamente numeroso que o primeiro 5 (Considere o número de importação de africanos para

o Brasil); iii) constante afluxo de novos escravos africanos para o país.

1.2. Contexto histórico brasileiro

É de conhecimento geral que o Brasil é considerado o maior importador de escravos

africanos do mundo, tendo recebido 38% de todos os escravos trazidos para o Novo

Mundo, comparado com os 4,5% que foram para a América Britânica. (cf. Curtin

1975:41).6 Holm ( 1992:299) insiste na possibilidade de um emergente crioulo,

caracterizado por situação sociolingüística criada com indivíduos oriundos dos mais

diversos locais, utilizando línguas diferentes e obrigados a viver juntos constantemente.”

A idéia sobre a crioulização prévia foi proposta não somente por ele, mas também

por Guy (1981e 1989). Eles têm feito pesquisas com línguas cuja história lingüística

crioula ou cuja história lingüística apresenta influência de crioulização.7

Com relação `a influência africana, o desinteresse seja, talvez, entre outros fatores,

devido `a não existência dos muitos documentos históricos sobre a escravidão Sob esse e

outros fatores, os autores que defendem a proposta acerca de um evolução lingüística

normal, ou seja, os que seguem a hipótese universalista têm arguído que se as variedades do

crioulo português tivessem existido no Brasil, elas teriam desaparecido logo, sem profundas

interferências na formação do PVB8.

5 Edison Carneiro, em sua Antologia do Negro Brasileiro (Rio de Janeiro:Ediouro[1985], p. 73), relata que “ o negro era, em certos pontos do país, a maioria esmagadora da população. Houve um tempo, no Rio de Janeiro, em que, para 660.000 negros, havia apenas 37.000 brancos: e, na Bahia, havia 19 negros para cada branco...”.6 Apud Holm, 1992:299. Seus palavras textuais : “ Brazil eventually became the world’s greatest importer of slaves, receiving 38% of all African brought to the New World, as compared to 4,5 who went to British North America (Curtin 1975:41). However, the point at which these Africans arrived, the sociolinguistic situation they found, and the portion of the population they comprised are factors of crucial importance regarding the possible emergence of a creole.”7 Baxter (1993) apresentou dois exemplos desses processos: Gullah, in South Carolina e o Palenqueiro, em San Basilio, na Colômbia.8 Cf. Tarallo 1993 e também Naro &Scherre, 1993.

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Esses argumentos, todavia, i) não explicam as causas de o PVB ser tão distinto do

PPB nos níveis fonético e sintático; ii) não esclarecem porque o PVB possui características

típicas de outros crioulos de base portuguesa; iii) não fornecem soluções aos efeitos

causados, no setor educacional, pelo ensino do PPB para uma clientela que só conhece o

PVB.9 Em contrapartida, iv) estimulam pessoas a fazer pesquisas a respeito do tema , pois

em outros países onde a escravidão existiu e a principal língua não é o crioulo, línguas

crioulas têm sobrevivido em comunidades isoladas, principalmente em `areas onde houve

uma grande concentração do povo africano. (cf.Guy 1989).

Essa situação ajusta-se `a existente hoje no Vale do Ribeira. Há controvérsias sobre

o número de escravos em São Paulo, durante o período colonial. Enquanto Varnhagen

admitia escravidão africana, em São Vicente, dezessete anos após a sua fundação; Florestan

Fernandes (apud Moura, 1988:221-2) afirma que em São Paulo o número de escravos, em

fins do século XVI, era muito pequeno. Somente em 1607 aparece mencionado, pela

primeira vez, em um inventário um negro de Guiné e apenas no século XIX, com o impulso

econômico do surto do café, o afluxo de escravos atinge o seu auge.10

1.3. Contexto histórico do Vale do Ribeira

No Brasil, com a intensificação dos estudos atuais sobre o PVB, exemplos de

remanescentes de línguas africanas foram descobertos na comunidade rural de Cafundó,

bairro campesino do município de Salto de Pirapora ( SP)11 , na cidade de Bom Despacho

( MG).12 e em Helvecia, no sudeste da Bahia.13

As comunidades paulistas estão localizadas na “área denominada Vale do Ribeira, a

Sudoeste do Estado e algumas delas são constituídas por uma única família, como exemplo,

Nhunguara e Cangume. Todas elas concentram uma grande população afro-brasileira e

possuem uma história social e regional bastante peculiar o que me levou `a hipótese de que

9 A língua falada na zona rural ou a fala urbana não-padrão, utilizada pela população de baixa renda e pouco acesso `a escolarização, têm interferido em todos os graus da educação no Brasil. O estudo dessas variedades de fala trás `a tona a questão política e sociológica da discriminação da linguagem usada pela classe baixa ou de menor poder aquisitivo, oriunda de regiões pobres do país. Este tipo de discriminação é evidente em qualquer situação da vida cotidiana brasileira, o que acarreta interferência nas relações interpessoais.10 Os primeiros escravos no Brasil podem ter sido trazidos durante o período das plantações de cana (1516 e 1526 com Pero Capito). Acredita-se que havia africanos nos navios de Cabral. Outra razão bastante forte é que o Brasil foi o último país a dar liberdade aos seus escravos. 11 Fry, P.& Vogt, C.& Gnerre, M. , 1981.12 Queiroz, Sonia, 1984.13 cf Baxter,1992 e Baxter & Lucchesi & Guimarães, 1995.

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eles são antigos quilombos ( sociedades formadas e mantidas por escravos durante todo o

período de escravidão no Brasil e espalhadas por todo o território nacional).14

Esses atuais habitantes são descendentes desses antigos escravos que devem ter

fugido para esta região: i) das fazendas locais15;ii) dos navios portugueses que levavam

escravos da `Africa ou de outros estados brasileiros para a zona litorânea de Iguape e

Cananéia16; iii) dos grupos de escravos que fugiam para o Vale do Ribeira, principalmente

após 1870, após promoverem algumas rebeliões nos centros urbanos da região.17

A região onde se localizam apresenta algumas razões históricas e geográficas que

justificam a presença de remanescentes de antigos quilombos nos locais.

a) Por ter sido área de mineração:

Em 1531, Martim Afonso de Souza já conhecia as riquezas do solo dessa área.

Desde 1570, havia várias notícias a respeito do ouro de São Paulo, principalmente na região

que é revelado pela criação, em 1630, da primeira Casa da Moeda de São Paulo em Iguape.

Segundo um documentos datado de 29/04/1793, constante no Arquivo do Estado de

São Paulo, sob o número de ordem 347, Romam de França descobriu uma lavra em um

*córrego vizinho, em Nhungóara (o grifo é nosso). Em documento de 2 de junho de 1798

(ou 1791?), sob a mesma ordem enviado pelo mestre de Campo José (T)omas (I)ecemos,

solicita-se auxílio ao Guarda-mor Antonio Bueno da Silveira "p.effeito de descubrim hum

corrego, vila y riacho incognito nos matos duAnhaunguara".(cf. Careno, 1995:65)

14 Moura, C. (1986:8) afirma que os escravos não foram testemunhas mudas de uma história para a qual não existiam senão como uma espécie de instrumento passivo. Pelo contrário, o número de quilombos espalhados pelo Brasil foi muito grande. Para o autor, o quilombo não foi um fenômeno esporádico e o Brasil , de acordo com essa versão da Metrópole, “ se converteu, praticamente, em um conjunto de quilombos.” Em São Paulo, ele contabiliza 11, sendo três deles localizados na região que englobava o Vale do Ribeira: Quilombo de Santos, Quilombo de Itapetininga e Quilombo de Piracicaba. (cf. p.29). 15 Moura, 1988:225-242 apresenta longas passagens a respeito de escravos fugidos na região . Uma delas, bastante representativa para o nosso intento relata em nota de rodapé: “ Este José de Oliveira é um dos muitos elementos marginalizados da sociedade colonial que uniam a sua situação `a dos escravos fugidos ou rebeldes. “ Desertor e criminoso”, fortificou-se ne estrada de Apiaí, tendo a sua casa cheia de buracos para atirar através deles caso fossem prendê-lo. Era auxiliado por ´escravos fugidos´que abandonavam a fazendo das vizinhanças.´ Consultar também Careno, 1995. 16 Sobre esses fatos consultar Canabrava ,1950 17 Essa questão é citada insistentemente nos relatórios de governadores das cidades próximas (Presidentes de Província) encontrados no Arquivo do Estado de São Paulo. Ver nº de ordem 4453, de 22/1/1853; nº de ordem 5577, docs. 47 e 04. Moura, 1988:237, relata que “ escravos de diversos municípios paulistas, inclusive Itapetininga, insubordinavam-se contra os seus senhores e “ em quilombos ou quadrilhas, munidos de flechas e outras armas, atacavam os viandantes das fazendas”. Pelo noticiário dos jornais da época, parece que depois de 1870 os escravos estavam em verdadeira debandada. Quando não se organizavam em pequenos quilombos, como ocorreu em diversas partes da província, fugiam isoladamente para as metas onde permaneciam.” O destaque é meu.

6

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Devido a esses fatos, pode ter sido desenvolvida alguma língua crioula ou línguas

secretas que se apresentam em alguns aspectos lingüísticos encontrados atualmente na

região e em outras áreas brasileiras onde houve uma grande concentração de africanos.18

b) Por ser um local de difícil acesso e com escasso desenvolvimento econômico:

A região serve perfeitamente como área de esconderijo: região acidentada, altas

montanhas, dezenas de cavernas, densa vegetação, área sujeita a inundações.

Esquecida dos investimentos do governo e da economia privada, só mais

recentemente foi centro das atenções. Guerrilheiros alojados em pontos estratégicos da

região, no final da década de 60 (sessenta), fizeram com que o governo construísse uma

grande rodovia (BR116) e pequenas estradas entre as cidades e os bairros. O fato também

teve repercussão na rede educacional, pois só a partir dessa época foram construídas escolas

o que condicionou uma diminuição do índice de analfabetismo.19

Essa situação certamente vai se inverter com o projeto da construção das quatro

usinas hidrelétricas - Tijuco Alto, Funil, Batatal e Itaoca - que a CBA ( Companhia

Brasileira de Alumínio), da empresa Votorantin, pretende construir ao longo do Rio Ribeira

de Iguape. O deslocamento e a desestruturação grupal dos habitantes da região ribeirinha

serão terríveis e inevitáveis. O projeto que trata de geração de energia elétrica, se

concretizado, inundará mais de vinte comunidades negras, grande parte do Vale do Ribeira.

Ou seja, 11 mil hectares de terra e 4 mil famílias serão removidas da região. 20

QUADRO III- COMUNIDADES NEGRAS DO VALE DO RIBEIRA/SP

MIRACATU - Bairro BiguazinhoJUQUIÁ - Bairro Morro SecoELDORADO - Abobral André Lopes

Cordas Ivaporunduva Nhunguara Pedro Cubas Sapatu São Pedro

BARRA DO TURVO - Cedro Reginaldo Ribeirão Grande

18 Mello (forthcoming1), relata que “ mining activities concentrated large numbers of slaves in the same locality for extended periods of time. Some authors have claimed that African languages survived in these areas for some time( ) or that secret languages ensuing from the relexification of portuguese by African lexical items eventually were adopted by the slave population.”19 “A situação foi atenuada, em 1966, pela abertura da rodovia BR 116, que serve a algumas de suas áreas. Suas cidades, relativamente pobres e de pequena população, estão ligadas através do Rio Ribeira de Iguape e seus afluentes, que até o início do século eram a única via de acesso a outras regiões do Estado.” (Careno,1995: 60) 20 Ler a respeito os artigos, dos seguintes periódicos: A Tribuna do Ribeira (29 ago.1990); Sem Fronteiras ( nº 214, Nov. 1993); O Estado de São Paulo (28 dez. 1993); Jornal da Tarde (02 ago 1994).

7

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IPORANGA - Andorinhas Barra dos Pilões Castelhanos Córrego das Águas Claras

Enseada Funil Jurumirim Maria Rosa Ocorrência Pilões Poço Grande Praia Grande

APIAÍ - Barra do Chapéu (*) Cambutas Cangume (Itaoca*) Encapoeirado ou Pinheiro Alto

Gurutuva Ribeirãozinho ITAPEVA - Jaó

CANANÉIA - Bairro MandìraUBATUBA - Saco da Banana ( divisa com Caraguatatuba)

(*) Localidades que se tornaram municípios.

2. EVIDÊNCIAS LINGÜÍSTICAS DO PVB - 2.1. Noções sobre língua crioula

Não têm havido muitos acordos sobre a definição do grupo de línguas chamado de

pidgins e crioulos. Embora todos os lingüistas concordem sobre a existência de tal grupo,

que congrega mais de uma língua e inclui um grande número de falantes sobre que os

estudos sobre os pidgins e crioulos têm agora se tornado um importante campo dentro da

Lingüística, ainda assim muitos autores não concordam sobre a definição dessas línguas.

A língua crioula está quase sempre relacionada `a questão do Pidgin. Tarallo &

Alkmin (1987:15) afirmam que o Pidgin é como as demais línguas naturais, uma língua

com espaço e tempo estabelecidos, em um determinado local e por um período específico

de tempo. Transmitido de pai para filho, segundo a melhor das tradições, pode acarretar a

aquisição de falantes nativos: as crianças. O pidgin deixa, conseqüentemente, de ser língua

de ninguém e torna-se língua natural. Diz-se, então, na literatura que o pidgin se criouliza.

Quando passa a ser a língua de um grupo, língua-mãe, portanto, temos um crioulo.

Uma vez crioulizada, circunstâncias sociais, históricas e políticas podem, determinar

o retorno dessa língua natural emergente para um dos pais que o gerou, superstrato, a língua

do dominador. No caso presente, o Português europeu. Estaremos, nessa etapa da história

da língua, presenciando o contínuum pós-crioulo, isto é, o crioulo se descrioulizando? A

fala dos indivíduos pode ser vista como um continuum, considerando-se a descrioulização

como um mecanismo de mudança lingüística.

Para Valdman, 1978 (apud Tarallo/Alkmin,1987) as características próprias de um

crioulo são: i) ausência de distinção de gênero; ii) não-obrigatoriedade de marcador de

plural; iii) verbos não flexionados; iv) relacionamento paratático no interior do sintagma

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nominal; v) ausência de hipotaxe; vi) contruções passivas; vii) vogais arredondadas; viii)

certos grupos consonantais; ix)léxico pobre com vocábulos abstratos geralmente ausentes e

pouco terminologia técnico-científica.

2.3.Contexto Lingüístico do Vale do Ribeira.

Questão: certas variedades do PVB, encontradas no Vale do Ribeira foram, em algum

período de tempo, crioulizadas?. Os exemplos e a discussão se pautam nessa hipótese de

que, e, tempos remotos, “ a transmissão lingüística irregular em populações rurais tenha

dado lugar a tendências estruturais divergentes visíveis nos dialetos rurais hoje em dia, e

que encontram paralelos tipológicos nas línguas crioulas.”21.

Primeiramente, apresento como a amostra está constituída e, a seguir, discuto alguns

aspectos divergentes entre o PPB e PVB, comparo os aspectos encontrados nos enunciados

gravados, apresentando aspectos fonético/fonológicos, morfossintáticos e léxico-semântico.

Finalmente, faço uma comparação entre exemplos de negação da variedade encontrada no

Vale e também constantes em línguas crioulas.22

Os critérios para a escolha das comunidades foram basicamente três: lugares

isolados, distantes dos grandes centros, de vida pastoril e habitados basicamente por

população da raça negra. Considerando-se a existência de mais de vinte bairros nessas

condições na região do Vale do Ribeira, escolhi cinco comunidades rurais: Abobral,

Nhunguara, São Pedro, Cangume e Córrego das Águas Claras.

Quanto às qualidades exigidas do informante: ser iletrado, ser pessoa nascida no

lugar, filho de gente do lugar ou a ele ter chegado até os cinco anos de idade; se casado,

deve o cônjuge ser da região; ter viajado pouco; ter trinta anos ou mais; ser negro.

O corpus investigado para a negativa totalizou 321 contextos lingüísticos e a mostra

constituiu-se de doze mulheres e sete homens, sendo cinco moradores de Abobral, quatro

de Cangume, cinco de Nhunguara, quatro do bairro São Pedro e um do bairro Córrego das

Águas Claras. Os critérios para a transcrição das 13 fitas foram basicamente os adotados

pelo Projeto NURC com adaptação , levando-se em conta os objetivos da pesquisa:

a) Para captar peculiaridades de pronúncia, que permitissem a identificação do registro,

fugi muitas vezes à ortografia oficial sem, contudo, optar por uma transcrição

21 Baxter, apud Mello, a sair2:25.22 Ums descrição mais detalhada dos aspectos lingüísticos poderão ser vistos em Careno, 1991.

9

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rigorosamente fonética, a qual me pareceu desnecessária para toda a análise; b) as

interferências do transcritor ou da autora, para explicar melhor qualquer contexto, são

colocadas entre colchetes, por exemplo: - QUINZI noiti di posá djenti [com a viúva ou

com o viúvo recente] ... mode a djenti ficá suzinha ... num ficá com MEdu ... (JO14NH); c)

o diálogo para as gravações é sempre do tipo DID (Diálogo entre Informante(s) e

Documentador(es)); d) a sigla entre parênteses, no final dos exemplos, indica a seguinte

seqüência:(ex. JO14NH) letra inicial do primeiro nome ou apelido pelo qual o informante é

mais conhecido; número da fita e sigla da comunidade. Adotei AB para Abobral,NH para

Nhunguara, SP para São Pedro, CM para Cangume, CC para o Córrego das Águas Claras,

EP ( Eldorado Paulista); IP ( Iporanga) e AP (Apiaí). O (*) indica que o dado não foi

levantado; h) as normas de transcrição nos exemplos de língua falada são: ( )

(incompreensão de segmentos); / (truncamentos); :: (alongamento que pode ser aumentado

para ::: ou mais); ? (interrogação); ... (qualquer pausa); (( )) (comentário descritivo do

transcritor); -- -- (comentários que quebram a seqüência temática); [ (simultaneidade de

vozes); Na entonação enfática, usei letra maiúscula. A hipótese do que se ouviu é colocada

entre parênteses.

ANÁLISE DOS DADOS

Os processos fonético-fonológicos, morfossintático e semântico do PVB e que

possuem identidade com as línguas africanas, crioulas ou dialetos não-padronizados,

incluem vários fenômenos. Vou apresentar apenas um exemplo de cada um deles,

expostos a seguir.

(i) Processos fonético-fonológicos: sistema de vogais com 7 (sete) elementos oral tônicos

Em fonologia, Castro (1977:60) tem defendido a idéia da similaridade entre os

sistemas fonéticos do PVB e duas línguas africanas: Iorubá and Fon :23 Holm (1988:113)

confirma e comenta que esse sistema de sete vogais é encontrado “não só nas línguas Kwá

como Yorubá, Bini e Ewe, mas também nas línguas Mande como Bandara e Susu.”

(1) /u / / i /

/ o / / e /

23 Para exemplificar as semelhanças, Castro apresenta modelos estruturais do português e de línguas africanas em questão e assegura que "o sistema vocálico de sete elementos do português do Brasil coincide praticamente com os do iorubá e do fon, que também conhecem as nasais correspondentes e (coincide também) com as setes vogais orais ( reconstruídas no protobanto) de um bom número de línguas banto atuais, entre elas, no plano fônico, o quimbundo, o quicongo e o umbundo." Outro trecho: "com exceção da nasal silábica N para as línguas africanas, a vogal ( V) é sempre centro de sílabas."

10

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/ó / / é /

/ a /

ii) Processos morfossintático:

1) redução das flexões que indicam concordância de gênero e número no sintagma

nominal. Holm (1989:195) identificou esse traço também no espanhol não-padrão do

Palenqueiro.

2) a estrutura negativa. As línguas crioulas têm a mesma estrutura do PVB: uso de

uma ou mais partícula negativa preverbal e/ou pós verbo. Algumas estruturas:

. Negativa Simples Preverbal. (NEG1).:

PVB= meu avô... nossa... quem num cunheci eli (T64CM) PPB= ‘ Meu avô... nossa... quem não o conhece ?’

Negativa Simples Posverbal (NEG3): PVB= “ \Tem venda aqui?\ tem nada (T64CM) /Existe venda por aqui?/ ( ) Existe nada.

2.2. A dupla negação com NEG preverbal + V + NEG posverbal: 53) PVB= "saci diabu dessas coisa num ixisti não " (I - 49B4 - IP)

PPB= ‘ Saci, diabo dessas coisas não existe.Lorenzino noticia que a negação dupla é normal em Angolar.

AN= “ Kikie na methe me wa “ . ‘fish NEG want eat NEG ‘ [Fish don’t want to eat] (Lorenzino, forthcoming)

PVB= “ u pexi num qué cumê não.” [O peixe não quer comer ] O Crioulo Português da Guiné-Bissau (GB) ou Kryol é falado como uma

segunda língua em Guiné-Bissau e Casamance, no Sul do Senegal, por cerca de dois terços

da população. A língua oficial é a Portuguesa e o Crioulo é praticamente a língua

nacional.Com relação `a negação, Kihm (1994) notou que a negação em Kryol é expresso

pelo morfema ka. Couto (1994:96) recolheu o seguinte exemplo da dupla negação na de

moradores da Guiné-Bissau:

(64) GB= “ i ka bin inda” He NEG comes NEG

PVB= “ eli num vem não’ [ Ele não vem.]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se pelos dados comparativos que há uma homologia histórico-social e

lingüística entre as línguas estudadas neste trabalho. Do ponto de vista etno-lingüístico i)

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todas as línguas são faladas por uma população destacadamente formada por africanos ou

descendentes de africanos; ii) todos os locais possuem uma história de escravidão. O Brasil

é considerado o maior importador de escravos do mundo, tendo recebido 38% de todos os

africanos trazidos para o Novo Mundo. (cf. Holm 1992:299)

A região do Vale do Ribeira apresenta uma homologia em diferentes pontos de vista

com estes outros povos. i) econômico: minas de ouro no início da civilização de São Paulo;

ii) geográfico: a região é formada por muitas cavernas, montanhas, vegetação espessa e os

bairros estão posicionados em lugares de difícil acesso; iii) sócio-cultural; ainda existem

algumas habitações que lembram o estilo africano de construção com casas de pau-a- pique,

chão de terra batida, caminhos tortuosos entre as casas e os bairros.

A fala dos habitantes da região apresenta também uma homologia estrutural com os

crioulos e línguas não-padronizadas estudados. Devido a este fator, ela tem se mantido

muito próxima do diassistema crioulo de base. (cf.Granda 1978:576) Os diversos traços

que identificam as línguas crioulas são encontradas na fala dos habitantes do Vale do

Ribeira, ou seja, vocabulário restrito, ausência de gênero, uso de tempos reais, morfologia

inflexional, eliminação de elementos gramaticais, redução drástica de aspectos redundantes,

uso da dupla negação.

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