artigo sobre motivação das decisões judiciais

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MANUEL ANTÓNIO LOPES ROCHA Juiz do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem A MOTIVAÇÃO DA SENTENÇA

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Artigo científico

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  • MANUEL ANTNIO LOPES ROCHAJuiz do Supremo Tribunal de Justia

    e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem

    A MOTIVAO DA SENTENA

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    Documentao e Direito Comparado, n.os 75/76 1998

    Prlogo

    Senhoras e Senhores:

    Permitam-me um breve prlogo leitura da minha comunicao de hoje.O elogio de Joo de Deus Pinheiro Farinha est feito e por quem dispe

    da maior autoridade para o fazer.O Homem a cuja memria dedicamos este Colquio est vivo na lem-

    brana dos muitos amigos e admiradores que soube granjear, entre ns eno estrangeiro.

    Deixou-nos prematuramente, quando muito havia ainda a esperarda sua aco em prol da nobre causa dos Direitos Humanos.

    Tive o privilgio de iniciar, junto dele, no j longnquo dia 7 de Outubrode 1956, uma carreira de magistrado que est prestes a terminar.

    Dos muitos ensinamentos que me prodigalizou ao longo de mais de40 anos de convvio gratificante, gostaria de recordar um que nem sempresoube seguir: as decises judiciais devem ser breves, concisas e compreen-sveis para os seus destinatrios. Vou esforar-me por segui-lo hoje, adap-tado presente comunicao.

    Deixou-me ainda um legado que, para mim, tem um valor altamente sim-blico: justamente a caneta com que redijo estas linhas e que to bem soubeusar nas suas sentenas e nos primorosos estudos jurdicos que publicou.

    Se est a ouvir-me e acredito que sim antevejo o seu sorriso bondosoe compreensivo com que ouvia as minhas opinies, mesmo quando delasdiscordava, mas que se comprazia em estimular. Era um homem tolerantee foi um cristo sincero e convicto.

    Merece, pois, descansar em paz e alegrar-se pela presena, aqui, de tan-tos amigos que o no esquecem, a tratarem de temas que eram muito gratos sua inteligncia e sua preocupao pelos valores da justia.

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    Documentao e Direito Comparado, n.os 75/76 1998

    SUMRIO

    1. A motivao como garantia integrante do conceito de Estado de Di-reito democrtico

    2. O Cdigo de Processo Penal Portugus de 1987 (ref. aos artigos 374.e 379.), influncia da legislao processual penal italiana

    3. A jurisprudncia do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.Contedo e limites do dever de motivar, luz do artigo 6., 1, daConveno Europeia dos Direitos do Homem

    4. Jurisprudncia do Supremo Tribunal de Justia

    5. Concluses

    Anexo: Contedo e forma da sentena penal Motivao de facto e de direito

    Indicaes bibliogrficas

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    1 Como justamente observa o juiz Franz Matscher na sua comunica-o, a necessidade de motivar a deciso uma das exigncias do processoequitativo, um dos Direitos do Homem consagrado no artigo 6., 1, da Con-veno Europeia 1.

    Mas logo acrescenta que a motivao no deve ter um extenso picasem embargo de dever permitir ao destinatrio da deciso e ao pblico emgeral apreender o raciocnio que conduziu o juiz a proferir tal e tal sentena.

    Corolariamente, s uma deciso revestida de motivao suficiente,permite de modo eficaz o exerccio do direito de recurso para um TribunalSuperior 2.

    A Constituio da Repblica Portuguesa dispe que as decises dos Tri-bunais so fundamentadas nos casos e nos termos previstos na lei (artigo 208.,n. 1).

    A doutrina constitucionalista mais reputada tem formulado algumasreservas a este texto, em todo o caso entendendo que a sua frase final noimplica uma discricionaridade legislativa total, havendo que interpret-la comouma garantia integrante do prprio conceito de Estado de Direito Democrtico(artigo 2. da mesma Constituio), ao menos quanto s decises judiciais quetenham por objecto a soluo da causa em juzo, como instrumento de ponde-

    1 Todos tm direito a que a sua causa seja apreciada equitativamente, publicamente e num prazo razo-vel, por um tribunal independente e imparcial, institudo pela lei, que decidir das contestaes rela-tivas a direitos e obrigaes de carcter civil ou do bem fundado de qualquer acusao em matria penal.

    2 Direito consagrado no artigo 2. do Protocolo n. 7 Conveno Europeia dos Direitos doHomem, em vigor desde 1 de Novembro de 1984:1. Qualquer pessoa declarada culpada de uma infraco penal por um tribunal, tem o direito de fazer

    examinar por uma jurisdio superior a declarao de culpabilidade ou a condenao. O exercciodeste direito, incluindo os motivos pelos quais pode ser exercido, so regulados pela lei.

    2. Este direito pode ser objecto de excepes relativamente a infraces menores definidas na lei ouquando o interessado foi julgado em primeira instncia pela mais alta jurisdio.

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    rao e de legitimao da prpria deciso judicial e de garantia do direito aorecurso. Nestes casos, particularmente, impe-se a fundamentao ou motiva-o fctica dos actos decisrios atravs da exposio concisa e completa dosmotivos de facto bem como das razes de direito que justificam a deciso 3.

    Devemos, por conseguinte, concluir, que a fundamentao das decisesjudiciais tem assento na Lei Fundamental como garantia integrante do conceitode Estado de Direito Democrtico, cabendo lei ordinria desenvolver talgarantia atravs de normas que realizem de um modo mais perfeito possvel ospressupostos da necessidade da fundamentao, abreviadamente o direito doscidados compreenso do raciocnio do juiz e proporcionar, do modo maiseficaz, o exerccio do direito de submeter a sentena apreciao de umajurisdio superior pela via do recurso.

    2 A nvel da lei ordinria, as leis de processo cuidam do desenvolvi-mento do princpio (constitucional) subjacente ao dever de fundamentao(ou de motivao, expresses fungveis), tanto no domnio penal como no civil eat no mbito do direito administrativo 4.

    No presente colquio, a nossa ateno incide pri macialmente sobre oprocesso penal, posto que constitui o seu tema geral, luz da Conveno Europeiados Direitos do Homem.

    O Cdigo Processo Penal de 1987 deu um passo muito importante nestamatria 5.

    assim que o seu artigo 374. descreve de modo pormenorizado o con-tedo da sentena.

    Deve esta comear por um relatrio, em que se identifique o arguido, oassistente e as partes civis, se os houver, bem como a indicao sumria dasconcluses da contestao, caso exista.

    3 Cfr., de Gomes Canotilho e Vital Moreira, a obra Constituio da Repblica Portuguesa, Anotada,3. edio, Coimbra Editora, pgs. 798 e 799.

    4 Quanto ao processo civil, v., entre outros, os artigos 659., 660. e 668. (verso de 1996). Quantoao direito administrativo, artigos 208. e 268., n. 3, da Constituio da Repblica.

    5 Na vigncia do Cdigo de Processo Penal de 1929 discutiu-se muito a questo da motivao dasdecises judiciais, na vertente da fundamentao das respostas aos quesitos em processo de querela.Tal questo foi levada at ao Tribunal Constitucional que no se pronunciou pela inconstitucionalidadedo artigo 469. daquele cdigo (cfr. acrdos de 9 de Maro e de 12 de Outubro de 1988, respecti-vamente no Boletim do Ministrio da Justia, n. 375, e Boletim do Ministrio da Justia, n. 380).Todavia, em ambos os acrdos, houve extensos votos de vencido que defenderam a soluo contrria,com largas citaes de doutrina nacional e estrangeira e referncias ao direito comparado com invoca-o do disposto no artigo 374., n. 2, do Cdigo de Processo Penal aprovada pelo Decreto-Lei n. 78/87,de 17 de Fevereiro.

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    Segue-se a motivao propriamente dita, que exige uma enumerao dosfactos provados e no provados, os motivos de facto e de direito fundantes dadeciso bem como a indicao das provas que serviram para formar a convic-o do Tribunal. Enfim, o dispositivo, que implica, entre outras coisas, a refe-rncia s disposies legais aplicveis e a concluso (o chamado silogismojudicirio).

    A omisso da motivao, nos aspectos indicados, implica a sano danulidade da sentena (artigo 379., alnea a), do referido cdigo). No secompreenderia esta sano particularmente severa se o legislador no tivesseconsiderado a motivao como elemento essencial de um processo justo eequitativo.

    Na ordem prtica, todavia, o cumprimento da injuno constitucional elegal da motivao defronta-se com algumas dificuldades, sendo tema favoritode muitos recursos para os Tribunais Superiores, dificuldades que so comunsa outras ordens jurdicas e mereceram a ateno dos rgos de Estrasburgo,como veremos mais adiante.

    Comearemos por recordar que o contedo da artigo 374. do CdigoProcesso Penal Portugus se inspira visivelmente no direito processual penalitaliano, embora no decurso dos trabalhos preparatrios daquele cdigo aindano estivesse em vigor o Cdigo de Processo Penal italiano, posto que foiaprovado pelo Decreto do Presidente da Repblica de 22 de Setembro de 1988e entrou em vigor um ano aps a sua publicao na Gazetta Ufficiale. Mas acomisso que preparou o projecto do Cdigo de Processo Penal portugusconhecia j o projecto do italiano, depois convertido em lei.

    Basta comparar o artigo 546. do Cdigo italiano com o artigo 374. donosso para que no se suscitem quaisquer dvidas 6.

    A preocupao com as exigncias da fundamentao revelada no CdigoProcesso Penal alemo (Strafprozessordnung) atravs de um conjunto de dis-posies, como as dos 260 (Urteil, sentena), 261 (Frei Beweiswirdigung,livre apreciao da prova, 264 (Gegenstand des Urteils, o objecto da sentena)e 267. (Urteilsgrunde, fundamentao da sentena), que no interessa aqui

    6 Em particular, a comparao do texto do n. 2 do artigo 374. com o da alnea e) do n. 1 do artigo 546.do Cdigo Italiano:La concisa esposizione dei motivi di fatto e di diritto su cui la decisione fondata, con lindicazionedelle prove poste a base della decisione stessa e lenunciazione delle ragioni per le quali il giudiceritiene non attendibili le prove contrarie.As diferenas textuais so de pequena monta. O texto portugus tem a mais a enumerao dos factosprovados e no provados e, a menos, a enunciao das razes pelas quais o juiz considera noatendveis as provas contrrias.

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    examinar em profundidade. Mas, sobretudo a ltima, regula com notvelmincia a questo da fundamentao dos julgados.

    Significativas das dificuldades apontadas que surgem na transposio dosprincpios para a prtica quotidiana dos Tribunais, no tocante ao contedo damotivao, so as decises da Cassao italiana, cuja resenha devo gentilezado juiz Carlo Russo e que se anexam presente comunicao (a traduo daminha responsabilidade).

    3 A jurisprudncia do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem no muito abundante em tema da motivao de sentena, e tem-se movido emtorno da noo de processo equitativo constante do citado artigo 6., 1, daConveno Europeia. Esta noo respeita tanto ao processo civil como ao proces-so penal. Mas quanto a este que reportamos preferentemente as presentesconsideraes, face ao tema geral do presente Colquio.

    Comearemos por recordar, ab initio, que o 3 daquele artigo consagra odireito de qualquer acusado, nomeadamente, a ser informado ... da natureza eda causa da acusao contra ele deduzida.

    Por natureza entende-se a qualificao jurdica da acusao, relativa-mente ao direito interno. E por causa, devem entender-se os factos materiaisimputados ao acusado. Tanto a Comisso como o Tribunal so unnimes quantoa este ponto 7.

    A jurisprudncia do Tribunal Europeu tem observado que, no obstanteos Estados contratantes gozarem de uma grande liberdade na escolha dos meiosadequados ao respeito do imperativo do artigo 6. do Conveno, sempre osjuzes devem indicar com suficiente clareza os motivos fundantes da deciso,pois s assim o acusado pode exercer o direito aos recursos disponveis. E atarefa do Tribunal Europeu consiste em averiguar se a via seguida na matriaconduz, em determinado litgio, a resultados compatveis com a Conveno 8.

    O artigo 6., 1, obriga de facto os tribunais a motivarem as suas deci-ses, mas no pode ser entendido como exigindo uma resposta pormenorizada

    7 O acusado deve ser prevenido da base jurdica e fctica das reprovaes contra ele formuladas. A basejurdica a natureza da acusao. A base fctica a causa da acusao. Sobre o assunto, cfr. o artigo deJean-Claude Soyer e Michele de Salvia, na obra colectiva La Convention Europenne des Droits delHomme, Commentaire article par article, sob a direco de Louis-Edmond Pettiti, EmmanuelDecaux e Pierre-Henri Imbert, Economica pg. 273, com citao do caso Kamasinky c. ustriade 19 de Dezembro de 1989, sentena publicada na Srie A, n. 168, 79.A Srie A refere-se Colectnea Publications de la Cour Europenne des Droits de lHomme, doGreffe de la Cour, Ed. Card Heymanns Verlag KG.Doravante, qualquer referncia a essa Srie reporta-se s ditas Publications.

    8 Sentena de 16 de Dezembro de 1992, no Caso Hadjianastassiun c. Grcia, Srie A, vol. 52, pg. 16, 39.

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    a cada argumento. De igual modo, o Tribunal Europeu no chamado a averi-guar se os argumentos foram adequadamente tratados.

    A extenso da motivao, por outro lado, pode variar consoante a naturezada deciso. necessrio atender, nomeadamente, diversidade dos meios deque um litigante pode usar em justia e s diferenas, nas disposies legais,costumes, concepes doutrinais, apresentao e redaco das sentenas. As-sim sendo, a questo de saber se um Tribunal faltou obrigao de motivar, quedecorre do artigo 6. da Conveno, s pode analisar-se luz das circuns-tncias do caso concreto 9.

    Por seu turno, a doutrina da especialidade tem desenvolvido o tema damotivao no quadro do direito a um processo equitativo.

    Comea por recordar que o direito a um processo equitativo exige, emregra, que as decises sejam motivadas, o que se compreende facilmente: ointeressado deve ser persuadido de que se fez justia e que os meios articula-dos foram examinados pelo juiz; e a enumerao dos pontos de facto e dedireito sobre os quais se funda a deciso deve permitir-lhe avaliar as probabili-dades de sucesso dos recursos.

    A motivao , por conseguinte, um elemento de transparncia da justia,inerente a qualquer acto jurisdicional.

    Todavia, esta regra no absoluta. Constitui objecto de uma apreciaorelativa, na base de uma certa latitude deixada do juiz nacional. E a extenso damotivao depende das circunstncias especficas, nomeadamente da natu-reza e da complexidade do caso.

    Assim, quando a lei nacional subordina a receptibilidade de um recursode uma deciso pela qual a jurisdio competente declara que o recurso le-vanta uma questo de direito muito importante e apresenta probabilidades desucesso (processo anglo-saxnico de leave of appeal), pode bastar que a deci-so se limite citao da disposio legal que prev motivos de rejeio daautorizao de apelao 10.

    9 Sentenas nos casos Van de Hurk c. Holanda e Ruiz Torija e Hiro Balani c. Espanha, respectiva-mente de 19 de Abril de 1994 e de 9 de Dezembro de 1994, Srie A, vol. 288, pg. 20, 61, evol. 303, pgs. 12, 29, e pg. 29, 27.

    10 Compare-se com o disposto nos artigos 417., n. 2, alnea c), e 420. do Cdigo de Processo Penalportugus (rejeio por falta de motivao ou por manifesta improcedncia do recurso). Nestecaso o acrdo limita-se a identificar o tribunal recorrido, o processo e os seus sujeitos e aespecificar sumariamente os fundamentos da deciso.Sobre as razes de poltica criminal que subjazem ao instituto da rejeio, v. o prembulo do Cdigode Processo Penal, III, alnea c), e os artigos de Jos Narciso Cunha Rodrigues (O novo Cdigo deProcesso Penal, Centro de Estudos Judicirios, Almedina, pg. 386) e de Figueiredo Dias (O NovoCdigo de Processo Penal, separata do Boletim do Ministrio da Justia, n. 369, pg. 18).

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    De acordo com a Comisso Europeia dos Direitos do Homem, ao rejeitarum recurso, a jurisdio competente pode, em princpio, limitar-se apropria-o dos motivos da deciso.

    Alis, a exigncia de motivao deve acomodar-se s particularidades doprocesso perante tribunais de jri, caso em que os jurados no tm que motivara sua convico.

    A Comisso considera igualmente que os motivos expostos por uma ju-risdio no devem tratar em particular todos os pontos que uma das partesconsidera fundamentais na sua argumentao. As partes no tm o direito(absoluto) de exigir do tribunal que enuncie os motivos pelos quais ele rejeitacada um dos seus argumentos.

    Dito de outra maneira, o juiz no obrigado a responder s conclusesque se revelem sem pertinncia. Do simples facto de as sentenas criticadasserem menos longas e pormenorizadas do que as concluses formuladas emapelao e nas memrias em cassao, no pode indeferir-se que se ilide apresuno segundo a qual uma deciso motivada responde s exigncias doartigo 6.

    O princpio do processo equitativo pode, por conseguinte, acomodar-secom motivaes sumrias.

    Impe-se, todavia, uma motivao precisa quando o meio invocado pe-rante o juiz, supondo que fundado, de natureza a influenciar a deciso.

    A obrigao de motivar assume uma importncia particular quando setrata de rejeitar uma pretenso na base de uma disposio de sentido ambguo.

    Assim, no caso H. c. Blgica, o requerente criticava um processo dereinscrio no quadro da Ordem dos Advogados, solicitada perante o Conselhodessa Ordem. O artigo 471. do Cdigo Judicirio subordinava semelhantereinscrio existncia de circunstncias excepcionais. Neste caso, o Tribu-nal Europeu considerou que o requerente tinha srias dificuldades em fornecerprova adequada das circunstncias excepcionais que poderiam autorizar asua reinscrio e que, em particular, nem as disposies pertinentes nem ajurisprudncia do Conselho da Ordem forneciam indicaes sobre o quedeveria entender-se por circunstncias excepcionais. Breve, essa impre-ciso exigia uma motivao adequada das decises pelas quais o pedido darequerente havia sido rejeitado 11.

    Por ltimo, convm distinguir entre defeito de motivao e erro de mo-tivao. Assim, em vo um requerente pode queixar-se de que um tribunalhavia fundado a deciso sobre uma fico. Com efeito, os rgos da Conven-

    11 Sentena de 30 de Novembro de 1987, Srie A, n. 127, pg. 35, 53.

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    o so incompetentes para censurar erros de facto ou de direito pretensamentecometidos pelas jurisdies internas, salvo se, e na medida em que, esses erroslhes paream de natureza a constituir um atentado aos direitos e liberdadesreconhecidos na Conveno 12.

    4 Jurisprudncia do Supremo Tribunal de Justia

    Questes de motivao da sentena constituem tema predilecto eminmeros recursos para o Supremo Tribunal de Justia, abrangendo variadosaspectos, como a falta de indicao das provas que serviram para formar aconvico do tribunal ou a falta de indicao das fontes de prova, a apreciaocrtica dessas provas, a falta de indicao dos factos provados e no provados,a incompreenso do raciocnio lgico ou racional dos julgadores, omisses depronncia, a fundamentao deficiente, a deficiente exposio dos motivos dadeciso, e as referncias matria da contestao criticadas pela omisso damesma, etc.

    Todavia, s em casos muito contados este Supremo tem anulado julga-mentos por violao do artigo 374. do Cdigo de Processo Penal.

    Quer isto dizer que a lei de processo propicia frequentes impugnaes,a partir de uma concepo, diramos maximalista, das prescries relativas motivao da sentena.

    A falta de indicao das provas que fundamentam a deciso, quandototal, considerada causa de nulidade por fora do artigo 379. do Cdigo deProcesso Penal, conjugado com o artigo 374., n. 2.

    Idem, em geral, quando a sentena impugnada omite qualquer menorelativa aos factos no provados, o que no se confunde com a exigncia degrande mincia na indicao, devendo o tribunal deixar bem claro que todos osfactos alegados com interesse para a deciso foram apreciados.

    Relativamente aos factos alegados na contestao, a tendncia nosentido de que nem tudo o que dela consta tem de ser levado fundamentao,impondo-se a seleco dos factos com interesse para a deciso, quer se consi-derem provados ou no provados.

    Uma fundamentao deficiente pode ser causa de nulidade, dado que amotivao deve ser tal que, intraprocessualmente, permita aos sujeitos proces-

    12 O que se diz no texto respigado da obra La Convention Europenne des Droits de 1'Homme, deRusen Ergec e Jacques Velu, Bruyllant Bruxelles, 1990, pgs. 408 e segs. Ver tambm, aConveno Europeia dos Direitos do Homem, de Ireneu Cabral Barreto, Aequitas/Ed. Notcias,pg. 96 e seguintes.

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    suais e ao tribunal superior o exame do processo lgico ao racional que lhesubjaz; e, extraprocessualmente, a fundamentao deve assegurar, pelo seucontedo, um respeito efectivo do princpio de legalidade na sentena.

    Em termos doutrinrios, interessa destacar um acrdo de 19.5.94 (pro-cesso n. 46 279) no qual se ponderou que o comando do artigo 374., n. 2, doCdigo de Processo Penal, mandando proceder a uma exposio tanto quantopossvel completa, ainda que concisa, dos motivos de facto e de direito quefundamentam a deciso, com indicao das provas que serviram para funda-mentar a sua convico, no pode ser entendido no sentido de que se exige queo julgador exponha pormenorizada e completamente todo o raciocnio lgicoque se encontra na base da sua convico de dar como provado um certofacto.

    Justamente porque a lei de processo fala em indicao sumria das con-cluses contidas na contestao, se tiver sido apresentada e em exposiotanto quanto possvel completa, ainda que concisa, dos motivos de facto e dedireito que fundamentam a deciso (artigo 374., n.os 1, alnea d), e 2) evidenteque uma sentena no releva da necessidade de uma pormenorizao ex-cessiva ou desproporcionada, devendo conter aquele mnimo de refernciasque persuadam os interessados de que se fez justia e lhe possibilitem avaliaras probabilidades de sucesso nos recursos que decidam interpor, do mesmomodo que faculte ao tribunal superior as condies necessrias e suficientes apreciao dos meios de impugnao contra ela deduzidos.

    Neste sentido, a sentena assume-se mais como uma arte de bem julgardo que como um trabalho cientfico ou doutrinrio, e nessa medida, satisfaz asexigncias da jurisprudncia do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem,acima recordadas, em tema de motivao.

    Como sucede com a jurisprudncia italiana, a que se reporta a resenhaque vai em anexo.

    O que no significa que se espere uma conteno nos recursos, dado que,como a jurisprudncia europeia revela, no existe um critrio seguro e infal-vel na matria de motivao, apto a resolver todos os casos.

    Como se observa nas sentenas acima citadas, se certo que o artigo 6., 1, da Conveno Europeia obriga os tribunais a motivar as suas decises, talno significa que exija uma resposta detalhada a cada argumento.

    A extenso do dever de motivar pode variar segundo a natureza da deci-so e o Tribunal Europeu no se dispensou de sublinhar que necessrio terem conta a diversidade dos meios que um litigante pode invocar em justiae as diferenas entre os Estados em matria de disposies legais, costumes,concepes doutrinais, apresentao e redaco das sentenas. por isso quea questo de saber se um tribunal faltou sua obrigao de motivar s pode

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    analisar-se luz das circunstncias da espcie, cuja variedade no consente aformulao de um critrio unitrio.

    5 Concluses:

    a) O processo equitativo garantido no artigo 6. da Conveno Europeiados Direitos do Homem, pressupe a motivao das decises judi-cirias, que consiste na correcta enunciao dos pontos de facto e dedireito fundantes das mesmas, em ordem a garantir a transparnciada justia, a persuadir os interessados e a permitir-lhes avaliar as pro-babilidades de sucesso nos recursos;

    b) Uma motivao deficiente ou inexacta deve ser equiparada falta demotivao;

    c) A motivao conforme as exigncias do processo equitativo no obrigaa uma resposta minuciosa a todos os argumentos das partes, conten-tando-se com uma descrio clara dos motivos fundantes da deciso;

    d) A extenso da motivao funo das circunstncias especficas,nomeadamente da natureza e da complexidade do caso;

    e) O princpio do processo equitativo compatvel com motivao su-mria, mas impe-se uma motivao precisa quando o meio submetido apreciao do juiz, caso se revele fundado, de natureza a influen-ciar a deciso;

    f) A obrigao de motivar reveste uma importncia peculiar quando setrate de apreciar uma pretenso na base de uma disposio de sentidoambguo, caso em que exigvel uma motivao adequada e propor-cional complexidade da hiptese.

    MANUEL ANTNIO LOPES ROCHA Nascido a 21 de Julho de 1931,foi sucessivamente magistrado do Ministrio Pblico e judicial, Juiz doSupremo Tribunal Administrativo, sendo actualmente Juiz Conselheiro doSupremo Tribunal de Justia e, desde 1991, Juiz do Tribunal Europeu dosDireitos do Homem. , ainda, membro do Conselho Nacional de ticapara as Cincias da Vida. Autor de projectos de textos legislativos sobredireito econmico e penal e ainda estudos sobre direito penal, do ambiente,biotica e criminalidade informtica. Membro das comisses de revisodos cdigos penal e de processo penal.

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    ANEXO

    CONTEDO E FORMA DA SENTENA PENALMOTIVOS DE FACTO E DE DIREITO

    O tema da sentena penal tratado no Ttulo III do Cdigo de ProcessoPenal (artigos 525.-548.).

    O artigo 546. dedicado especificamente aos requisitos da sentenae diz o seguinte:

    1. A sentena contm:

    a) A meno em nome do povo italiano e a indicao da autoridadeque a profere;

    b) A identidade do acusado ou outras indicaes pessoais destinadas aidentific-lo bem como a identidade das outras partes privadas;

    c) A acusao;d) A indicao das concluses das partes;e) Uma concisa exposio dos motivos de facto e de direito que funda-

    mentam a deciso, com a indicao das provas que baseiam a mesmadeciso e a enunciao das razes pelas quais o juiz considera noatendveis as provas em contrrio;

    f) O dispositivo, com a indicao das normas legais aplicveis;g) A data e a assinatura do juiz.

    2. A sentena do tribunal colegial subscrita pelo presidente e pelojuiz-relator. Se, por morte ou outro impedimento, o presidente no puder subs-crever, prov assinatura, com prvia meno do impedimento, o membromais antigo do colgio; se o relator no puder assinar, assina unicamente opresidente, mediante prvia meno do impedimento (artigo 615.).

    3. Alm do caso previsto no artigo 125., n. 3, a sentena nula se faltaou so incompletos os elementos essenciais do dispositivo ou na falta de assi-natura do juiz.

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    Em termos gerais, o princpio adoptado no Cdigo o de que a moti-vao tem por escopo permitir o controlo do processo lgico atravs do qualo julgador chega deciso.

    Na especificidade, no suscitando questes particulares (de interpretaoe de aplicao) os requisitos formais indicados nas alneas a) e b) do artigo 546.,todavia convm relevar a indicao da imputao exigida na alnea c), e suacorrelao com o disposto nos artigos 405., n. 1, e 417., alnea b): a impu-tao formulada pelo Ministrio Pblico aquando do exerccio da acopenal, em sede de requerimento (promoo) do reenvio a juzo (artigo 405.)e deve conter de acordo com o artigo 417., alnea b) a enunciao dofacto, das circunstncias agravantes e das que possam implicar a aplicao demedidas de segurana, com indicao dos correspondentes artigos da lei.

    Com a previso da alnea d), o legislador instituiu o dever do juiz, de darconta (referir) das concluses das partes.

    Todavia, desatendeu as pretenses da Doutrina que propunha que a senten-a indicasse todos os argumentos das partes durante a discusso. Claro que aconformidade entre a deciso e os argumentos das partes pode ser asseguradaatravs da indicao a que se refere a alnea e), onde devem ser enunciadasas razes da inatendibilidade das provas aduzidas (cfr. DAmbrosio, noComentrio ao Novo Cdigo, pg. 588).

    Relativamente indicao dos motivos de facto e de direito que funda-mentam a deciso, a sentena deve conter uma exposio concisa (alnea e)).

    A propsito, a Jurisprudncia, j na vigncia do velho Cdigo, vinha afir-mando que a motivao da sentena deve conter os requisitos de correcode completamento e de lgica.

    Neste sentido, ver Cass. Pen. 10/6/1982:

    Em tema da obrigao de motivao da sentena, esta, para ser legal,deve apresentar as caractersticas fundamentais da correco, no sentido dasua aderncia aos elementos probatrios adquiridos, do completamento, nosentido da sua extenso a todos os elementos relevantes para a formao dosjuzos sectoriais conducentes ao juzo decisrio e da lgica, no sentido dasua conformidade aos cnones que presidem s formas do raciocnio e que aeste confiram a natureza de acto de demonstrao da realidade.

    Viola, por conseguinte, tais princpios, a sentena que, num processoindicirio para o crime de massacre, omite o exame pormenorizado da efi-ccia probatria de todos os elementos processuais (constitudos por elemen-

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    Documentao e Direito Comparado, n.os 75/76 1998

    tos de prova directa ou indirecta) no os avaliando na sua globalidade e na suaconcatenao lgica e cronolgica, de modo que venha a faltar a sntese dojuzo de valor dos elementos considerados, sobre os quais deve basear-se qual-quer estatuio (Cass. Penal Mass. 1983, 958).

    E ainda, mais recente, Cass. Penale 27/5/1992:

    A obrigao de motivao da sentena satisfatria quando o juiz valoracriticamente todos os elementos de prova, indicando, com total coerncia lgi-co-jurdica, aqueles cuja relevncia interessa sua convico; assim, no cum-pre esse dever e, consequentemente, est ferida de nulidade a sentena,em cuja motivao, conforme resulta do texto da deciso impugnada, o juizutiliza, ao explicar o seu raciocnio, argumentos apodcticos e, por isso, inaceit-veis no plano lgico, sem referncia a especficos e bem individualizados ele-mentos de facto (in Mass. Cass. Pen., 1992, fasc. 10, 81).

    Ainda sobre o tema, ver: Cassazione Penale sez. V, 21 de Maio de 1992,Cass. Pen. 1993, 2909 (s.m.):

    Na motivao da sentena o juiz de mrito no obrigado a umaanlise aprofundada de todas as dedues das partes e a proceder a um examepormenorizado de todos os elementos do processo, sendo suficiente que,mesmo por meio de uma valorao global daquelas dedues e elementos,explique, de forma lgica e adequada, as razes que determinaram a sua con-vico, assim demonstrando que considerou todos os factos decisivos, caso emque devem considerar-se implicitamente desatendidas as dedues da defesaque, ainda que no expressamente refutadas, sejam logicamente incompa-tveis com a deciso adoptada;

    Cassazione Penale, sez. V, 21 de Maio de 1992, Cass. Pen. 1993,2909 (s.m.):

    A deficincia de motivao, enquanto causa de nulidade da sentena,no pode ser invocada com base numa crtica fragmentria dos singulares pontosda mesma. Com efeito, a sentena constitui um todo coerente e orgnico, noqual, para os fins de controlo crtico sobre a existncia de uma motivaovlida, nenhum ponto pode ser apreciado isoladamente, mas sim em relaocom os restantes. Por conseguinte, a razo de uma determinada estatuio pode

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    resultar de outros pontos da sentena relativamente aos quais seja feita refe-rncia, ainda que implcita.

    Cassazione Penale sez. VI, de 11 de Julho de 1990, Cass. pen. 1992,1294 (s.m.):

    No pode denunciar-se, por vcio de motivao, a sentena que, mesmosinteticamente, mas de forma completa e adequada, mostra que o juiz tomouem considerao os factos relevantes evidenciados nos autos e indicou as ra-zes essenciais da convico a que chegou, em ordem a uma correcta qualifi-cao jurdica dos mesmos factos e congruncia da pena aplicvel, quandofor consentido que a medida desta possa obter acordo das partes, ainda quemediante certas condies (em sede de motivao, a S.C. esclareceu que norelevam as frmulas utilizadas pelo juiz para exteriorizar a sua convico ecumprir a obrigao de motivar, sendo suficiente que revele o resultado da suaconvico atravs de expresses adequadas s finalidades da providncia,ainda que sinteticamente, no caso concreto, a expresso concorrendo as con-dies da lei.

    Cass., 27 de Junho de 1989, Modeo, Cass. pen., 1991, 113. ConfirmeCass., de 6 de Dezembro de 1986, Usai, ivi 1988, 1932:

    Se o juiz de mrito considerou provado que o facto foi praticado peloacusado e se correctamente deu parte, na motivao, da existncia de provasque nesse sentido levam a uma certeza, no pode exigir-se ao mesmo juiz quese detenha sobre eventuais hipteses que a defesa prope como teoricamentecapazes de orientar as indagaes para pistas alternativas, salvo tratando-sede factos especficos e objectivamente certos, capazes de fazer seriamentevacilar o juzo de responsabilidade que deriva dos elementos probatriosadquiridos.

    Cass., 23 de Novembro de 1988, Uliana, Cass. pen., 1991, 606:

    A motivao da sentena constitui uma incindvel unidade lgico-jurdica,no uma soma de segmentos autnomos, cada um dos quais concerne o aut-nomo e separado exame de uma questo singular, divorciada das restantes;enquanto, pelo contrrio, a soluo de toda e qualquer questo singular, demodo a que no subsistam contradies intrnsecas, deve coerentemente coin-cidir e compenetrar-se com a dada a todas as outras, a fim de dar vida a uma

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    unidade racional concreta e incindvel. Por conseguinte, de excluir, na motiva-o da deciso, a necessidade de renovadas e separadas argumentaes sobrecada um dos singulares pontos em apreciao, sempre que estes se refiram aquestes sobre as quais o juiz j havia dado as razes da sua convico.

    (No caso concreto, o recorrente lamentava uma motivao deficiente, emordem ao quantum de pena aplicada pelo juiz de fundo, no lhe parecendosuficiente o exposto na sentena em tema de exame dos aspectos objectivos esubjectivos atinentes ao tipo legal).

    A motivao considerada como uma garantia fundamental do direitodo acusado a um processo justo.

    A Suprema Corte di Cassazione tem afirmado que, para se respeitaro princpio expresso no artigo 6. da Conveno Europeia dos Direitos doHomem, ao acusado deve ser garantido o direito de, no decurso do processo,fazer valer uma diversa leitura do facto constante da acusao; e, com istorelacionado, a motivao da sentena no deve deixar espao para outraalternativa vlida, ainda que relativamente quelas dedues defensivasatravs das quais se prope uma diversa reconstruo e valorao do facto(Cass. Pen., 10/2/1986; Cass. Pen., 3/6/1986).

    O artigo 546., alnea e), impe ao juiz o seguinte:

    1) Que indique todas as provas, a favor ou contra, que constituem a baseda deciso;

    2) Diga as razes pelas quais no atendeu s provas contrrias decisotomada.

    Esta disposio considerada como um elemento essencial para que amotivao constitua um remdio contra o arbtrio, ou, dito de outro modo,para sujeitar a deciso a um maior controlo da parte da colectividade.

    Esta disposio deve ser coordenada com a norma do artigo 192., I, doCdigo de Processo Penal, que dispe, em tema de avaliao da prova, que ojuiz avalia a prova dando conta, na motivao, dos resultados adquiridos edos critrios adoptados.

    Assinale-se, por fim, sempre em tema de motivao da sentena, que afalta de apreciao de uma prova decisiva, quando a parte a requereu ao abrigodo artigo 495., n. 2; e a falta ou manifesto ilogismo da motivao, quando ovcio resulta do texto da deciso impugnada constituem fundamento de

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    interposio de recurso para a Cassao, conforme o artigo 606., I, docitado Cdigo.

    Os elementos constantes das alneas f) e g) no suscitam problemas par-ticulares de interpretao.

    (Traduo da resenha jurisprudencial do Juiz Carlo Russo pelo Juiz Con-selheiro Lopes Rocha).

    INDICAES BIBLIOGRFICAS

    Atti del Procedimento penal Forma e struttura, in GiurisprudenzaSistematica di diritto processuale penale diretta da M. Chiavario e E. Marzaduri,UTET 1996;

    Commento al Nuovo Codice di Procedura Penale, coordinato daM. Chiavario, vol. V, UTET 1991.

    Altra Bibliografia ivi indicata.

    DAmbrosio Commento al Nuovo Codice di Procedura Penale.

    Atti del Procedimento Penale Forma e Strutura,Giurisprudenza sistematica di diritto processuale penale,directa da M. Chiavario e E. Marzaduri, UTET 1996

    Commento al Nuovo Codice di Procedura Penale,Coordinato da M. Chiavario, vol. V,UTET 1991.