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Apropriação Social do Espaço em Áreas Residenciais Segregadas: O Projeto Rio e a Regularização Fundiária na Favela da Maré Rogério Pereira dos Santos Especialização em Política e Planejamento Urbano 2012 – IPPUR/UFRJ Resumo Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o processo de titulação social, instrumento jurídico inserido no âmbito da Regularização Fundiária de Assentamentos Informais Consolidados, que ocorreu no Conjunto de Favelas da Maré a partir de 1979, através da implementação do Programa de Erradicação da Subhabitação, o PROMORAR, que ficou conhecido na Cidade do Rio de Janeiro como PROJETO RIO. Partindo de um estudo de caso em particular, iremos abordar de que forma as famílias remanescentes do Programa obtiveram o título definitivo de compra e venda, bem como a legalização total de seus imóveis, perante a regularização no processo junto ao Banco Nacional da Habitação, o BNH, e a Secretaria de Patrimônio da União, a SPU. Baseia-se principalmente em fontes documentais, retiradas de jornais da época e alguns fragmentos da legislação vigente, bem como fontes bibliográficas sobre o tema, tendo como principal referência, a vivência deste pesquisador como morador da área em questão. Palavras – Chave Favela – PROJETO RIO – Regularização Fundiária de Assentamentos Informais Introdução Este artigo visa debater sobre a especificidade da temática da regularização fundiária dos assentamentos informais como forma da apropriação social do espaço da Cidade do Rio de Janeiro em áreas residenciais segregadas. Será discutido de que forma se deu a titulação social da área do Conjunto de Favelas da Maré, região da zona norte da cidade, através do PROJETO RIO (1979-1983), programa inserido no projeto de âmbito nacional, o PROMORAR.

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Este artigo discorre a respeito da implementação do Programa de Erradicação de Favelas - PROMORAR - que na Cidade do Rio de Janeiro ficou conhecido como PROJETO RIO, no espaço territorial do Conjunto de Favelas da Maré, durante o período de sua execução, entre 1979 à 1983. Discute, a fundo, como se deu o rearranjo territorial na Maré baseado no planejamento urbano pós programa, em relação a situação final de seus moradores junto à regularização fundiária de seus imóveis.

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  • Apropriao Social do Espao em reas Residenciais Segregadas: O Projeto Rio e a Regularizao Fundiria na Favela da Mar

    Rogrio Pereira dos Santos Especializao em Poltica e Planejamento Urbano 2012 IPPUR/UFRJ

    Resumo

    Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o processo de titulao social,

    instrumento jurdico inserido no mbito da Regularizao Fundiria de Assentamentos

    Informais Consolidados, que ocorreu no Conjunto de Favelas da Mar a partir de 1979,

    atravs da implementao do Programa de Erradicao da Subhabitao, o PROMORAR,

    que ficou conhecido na Cidade do Rio de Janeiro como PROJETO RIO.

    Partindo de um estudo de caso em particular, iremos abordar de que forma as

    famlias remanescentes do Programa obtiveram o ttulo definitivo de compra e venda, bem

    como a legalizao total de seus imveis, perante a regularizao no processo junto ao

    Banco Nacional da Habitao, o BNH, e a Secretaria de Patrimnio da Unio, a SPU.

    Baseia-se principalmente em fontes documentais, retiradas de jornais da poca e

    alguns fragmentos da legislao vigente, bem como fontes bibliogrficas sobre o tema,

    tendo como principal referncia, a vivncia deste pesquisador como morador da rea em

    questo.

    Palavras Chave

    Favela PROJETO RIO Regularizao Fundiria de Assentamentos Informais

    Introduo

    Este artigo visa debater sobre a especificidade da temtica da regularizao

    fundiria dos assentamentos informais como forma da apropriao social do espao da

    Cidade do Rio de Janeiro em reas residenciais segregadas. Ser discutido de que forma

    se deu a titulao social da rea do Conjunto de Favelas da Mar, regio da zona norte

    da cidade, atravs do PROJETO RIO (1979-1983), programa inserido no projeto de

    mbito nacional, o PROMORAR.

  • Procura-se desvendar, de forma prtica, a legalidade ou no de um determinado

    imvel, eleito para estudo de caso, situado em uma das seis favelas que a poca

    formavam o chamado Conjunto de Favelas da Mar, atual bairro Mar, aps a

    implementao do PROJETO RIO. Para tal, sero utilizadas fontes bibliogrficas e da

    legislao a respeito da regularizao fundiria, bem como uma bibliografia sobre o que

    foi o Projeto Rio e o local de consolidao do programa. Para dar conta do Objetivo e do

    Caminho de Investigao a pesquisa apresenta-se estruturada em trs captulos.

    No primeiro momento iremos abordar a histria, a formao, bem como a localizao

    do Conjunto de Favelas da Mar. Para isso sero utilizados materiais bibliogrficos

    expedidos pelas Organizaes No Governamentais, as ONGs, que atuam no territrio

    da Mar, como o CEASM (Centro de Estudos e Aes Solidrias da Mar), a Redes de

    Desenvolvimento da Mar, o Museu da Mar (vinculado ao CEASM) e do Observatrio de

    Favelas.

    Em seguida iremos esmiuar o que foi o programa federal PROMORAR que, na

    Cidade do Rio de Janeiro, ficou conhecido como PROJETO RIO e que teve sua efetiva

    implementao no Conjunto de Favelas da Mar. Trabalharemos com matrias de jornais

    da poca com referncias de dissertaes acadmicas daquele momento e com

    documentos de contratos de promessa de compra e venda e contrato definitivo de compra

    do imvel pertinente ao estudo de caso. Neste instante utilizaremos parte da legislao

    brasileira no que tange ao instrumento de poltica urbana conhecida como regularizao

    fundiria.

    No terceiro momento faremos uma anlise geral do trabalho como forma de

    concluso. Iremos verificar se os objetivos da pesquisa foram alcanados e se poderemos

    responder a questo central deste artigo: o imvel do estudo de caso , atualmente,

    legalizado ou no perante a legislao no que diz respeito titulao social.

    1. A Apropriao Social do Espao em reas Residenciais Segregadas:

    O Conjunto de Favelas da Mar

    As reas residenciais segregadas representam um ponto relevante no que tange aos

    processos de reproduo das relaes de produo no bojo do qual se situam as diversas

    classes sociais e suas ramificaes, assim por dizer, os bairros - que so os locais de

    reproduo dos diversos grupos sociais, como afirma Santos (apud Corra 1999, p.125).

    O PROJETO RIO foi concebido em 26/06/1979, atravs da Exposio de Motivos

    n 066/79, assinada pelo ento Ministro do Interior do Governo do Presidente Joo

  • Baptista Figueiredo, Mrio Andreazza. Neste sentido, iremos detalhar a rea da Mar no

    momento de implementao do Programa.

    poca de implementao do PROJETO RIO, o Conjunto de Favelas da Mar1 era

    formado por seis favelas um uma rea territorial de 81,3 hectares (VALLADARES, 1985,

    p. 35): Morro do Timbu, Baixa do Sapateiro, Nova Holanda, Parque Mar, Parque Unio

    e Parque Major Rubens Vaz. A Mar neste momento era delimitada, pela Avenida

    Brigadeiro Trompowsky via de acesso ao Aeroporto Internacional do Galeo , a

    Avenida Brasil, a Avenida Bento Ribeiro Dantas (atual Linha Amarela) e pela Ilha do

    Fundo e Baa de Guanabara, pertencendo a X Regio Administrativa, situada no bairro

    de Ramos.

    Nesta poca a Mar detinha cerca de 80% de sua rea ocupada pertencentes, at

    1980, s seguintes entidades governamentais: Ministrio do Exrcito, Ministrio da

    Marinha, o IAPAS, o Banco Central e Banco do Brasil, os 20% restantes so terrenos

    aforados a terceiros, conforme Valladares (apud Oliveira et alli, 1983, p. 214).

    Ainda esta autora, referindo-se a publicidade que foi dada ao Conjunto de Favelas

    da Mar quando da instalao e implementao do PROJETO RIO, em 1979:

    A formao do Conjunto de Favelas da Mar se deu em reas que remontam ao

    sculo XVI, o chamado Porto de Inhama, que serviu para escoar os produtos

    explorados e cultivados nesta poro carioca. Conforme afirma a ONG CEASM, esse

    Porto desenvolveu importante papel econmico para o subrbio e terminou seus dias

    abrigando a Colnia de Pescadores Z-6 e devido aos sucessivos aterros na rea,

    desapareceu nas primeiras dcadas do sculo XX (Histria da Mar em captulos).

    Ainda de acordo com informaes dessa ONG, entre meados dos sculos XVII e

    XVIII, a rea da Mar fazia parte da Freguesia Rural de Inhama e integrava uma grande

    1 Atualmente o bairro Mar formado por dezesseis comunidades. O recorte definido pelo IBGE ignorou a condio formal de bairro da Mar, estabelecida desde o final da dcada de 80, reconhecendo as comunidades locais como Unidades Territoriais Especficas a maior concentrao de populao de baixa renda do municpio do Rio de Janeiro. As 16 comunidades so: Morro do Timbu (1930/1940), Baixa do Sapateiro (1947), Conjunto Marclio Dias (1948), Parque Mar (1953), Parque Roquete Pinto (1955), Parque Rubens Vaz (1951/1961), Parque Unio (1961), Nova Holanda (1962), Praia de Ramos (1962), Conjunto Esperana (1982), Vila do Joo (1982), Vila do Pinheiro (1989), Conjunto Pinheiro (1989), Conjunto Bento Ribeiro Dantas ou Fogo Cruzado (1992), Nova Mar (1996) e Salsa e Merengue (2000), SANTOS (Apud Censo Mar).

    Estas favelas ganharam visibilidade e os jornais da poca dedicaram grandes espaos a artigos sobre suas condies sociais e fsicas e sobre as origens da populao que as constitua. Trs anos depois, em 1983, surgiram as primeiras anlises do Projeto Rio e estes estudos abordaram, de forma mais sistemtica, um pouco da histria da ocupao e expanso das seis favelas, bem como a experincia associativa nestas comunidades faveladas (VALLADARES, 1985 p. 35).

  • propriedade: a Fazenda do Engenho da Pedra, cujas terras abrangiam os atuais bairros

    de Olaria, Ramos, Bonsucesso e parte de Manguinhos.

    No incio do sculo XX, pequenos ncleos de povoamento, quase sempre formados

    por pescadores, j se aglutinavam em torno dos portos desta rea. Mas este processo

    acelerou-se mesmo com a reforma urbana do Prefeito Pereira Passos, que expulsou a

    populao mais pobre do centro da cidade, provocando a ocupao das zonas perifricas.

    Neste sentido, a ocupao da rea que hoje abriga o Conjunto de Favelas da Mar se

    deu na Ponta do Thybau2, atual Morro do Timbu assim descrita:

    Em 1954 fundada a Associao de Moradores do Timbu, uma das primeiras em

    favelas do Rio de Janeiro. Aos poucos a organizao comunitria comeou a render

    frutos, tais como a distribuio de gua, eletricidade, esgoto, pavimentao e coleta de

    lixo. Com o PROJETO RIO, os moradores da rea conseguiram a propriedade da terra,

    via regularizao fundiria.

    Enquanto a favela do Morro do Timbu apresentou um lento crescimento,

    permanecendo, na dcada de 40 do sculo passado, com poucos habitantes, surgia, ao

    final deste perodo (1947), a primeira grande concentrao humana que foi a Baixa do

    Sapateiro, que, na poca, teve sua formao a partir de um pequeno grupo de barracos

    construdos sobre palafitas. No h consenso sobre a origem do nome.

    Em 1950, surgem as primeiras moradias do Parque Mar, como um prolongamento

    da ocupao ocorrida na Baixa do Sapateiro, e essa rea tornou-se bastante atrativa s

    populaes que chegavam com o fluxo migratrio, principalmente da Regio Nordeste. A

    rea que ia sendo ocupada pelos moradores do Parque da Mar (em 1953 j

    consolidada) era dominada pela lama, por vegetao de mangue e pelo movimento das

    guas, tendo ocorrido a partir da dcada de 60, uma grande expanso da ocupao em

    direo Baa da Guanabara, sendo o Parque Mar, nesta poca, predominantemente

    dominado pelas palafitas.

    A histria do Parque Rubens Vaz teve incio no ano de 1951, quando surgem no

    local os primeiros barracos. A rea, nesta poca, era conhecida como Areal, devido

    grande quantidade de areia espalhada no local, por ocasio da drenagem e canalizao

    2 O nome da favela passa a ser o da regio, que era conhecida como thybau, do tupi-guarani, "entre as guas", o que denota terem sido os ndios os primeiros habitantes do lugar.

    A partir da mesma poca, a enseada de Inhama, que se estendia da Ponta do Caju at a Ponta do Thybau (atual Morro do Timbu), teve sua orla de manguezais destruda pela ao de diversos aterros, como veremos mais adiante. A Ponta do Thybau, por ser uma poro de terra firme, foi uma das primeiras reas a ser povoada na Mar atual. Era o incio de povoao do atual Complexo da Mar (www.ceasm.org.br).

  • do Canal da Porturia. Quando uma pessoa chegava rea para fixar residncia, j era

    avisada de que no deveria construir margem da Avenida Brasil, porque esta seria

    futuramente alargada, como de fato foi e, sendo assim, ningum construiu sua habitao

    a menos de 40 metros da via.

    O advogado Magarinos Torres ligado ao PCB e que tinha um escritrio nesta

    localidade o mesmo que defendeu a populao e seu direito de permanecerem na rea

    hoje conhecida como Parque Major Rubens Vaz, deu todas as coordenadas para a

    estruturao da comunidade Parque Unio, em 1959, e esta localidade foi uma das reas

    com um certo planejamento de ocupao, pois ele demarcou reas para a permanncia

    dessa populao, que se consolida em 1961.

    Nova Holanda foi concebida como um Centro de Habitao Provisria (CHP) que

    funcionaria como um local de triagem, dentro da poltica de remoes do governo, que

    visava muito mais retirar ncleos favelados de reas nobres da cidade, do que resolver o

    problema habitacional. A tarefa de controlar o processo de transferncia dos moradores

    de favelas a serem erradicadas ficou a cargo da Fundao Leo XIII, que foi incorporada

    Secretaria de Servio Social da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Seu processo

    de formao se deu da seguinte forma:

    A produo do espao urbano no acontece de maneira isolada, um somatrio das

    prticas sociais atravs das relaes polticas, econmicas e culturais e que constituem

    diferentes formas espaciais. Neste sentido, o Conjunto de Favelas da Mar, se apresenta

    como um exemplo fiel da chamada fragmentao do tecido scio-poltico espacial,

    conforme assinala Souza (2003, p. 90), devido sua rea territorial estar inserida em um

    contexto de esquecimento, por parte do poder pblico, com a excluso da chamada

    cidade formal.

    Conclumos, desta forma, a apresentao do processo de formao do Conjunto de

    Favelas da Mar que, passa a configurar-se no momento de implantao do Programa,

    A comunidade Nova Holanda (1962) teve um processo de ocupao completamen-te diferente, para no dizer oposto, ao das demais formaes que vimos at agora. Sua origem no foi um invaso espontnea, nem mesmo uma invaso planejada, como ocorreu no Parque Unio. A comunidade de Nova Holanda foi inteiramente planejada e construda pelo poder pblico na dcada de 60, no governo Carlos Lacerda, sobre um imenso aterro realizado ao lado do Parque Mar. As dimenses do aterro realizado impressionaram tanto que influenciaram at a escolha do nome da comunidade, uma homenagem Holanda, o pas europeu quase inteiramente construdo abaixo do nvel do mar sobre aterros e diques. Outra semelhana so as roldanas, que podemos encontrar em algumas casas e que indicam que as mudanas eram feitas por cabos externos, exatamente como ocorre em cidades holandesas, principalmente Amsterd (www.ceasm.org.br).

  • conforme visualizado na figura 1. A partir deste momento, iniciaremos a discusso a

    respeito do Programa de Erradicao da Subhabitao, o PROJETO RIO. Figura 1 Configurao Territorial da Mar em 1979

    Fonte: Silva, 1984

    2. PROJETO RIO E ONA FAVELA DA MAR

    Em 25/06/1979 na

    habitacional, atravs da E

    do Interior do Governo

    documento oficial rezava

    Desta forma, nas pa

    habitaes subhumanas,

    erradicando-as, quando

    discursar sobre o projeto

    De incio o Program

    estendido a outras capit

    divulgao nos meios de

    (Em PlaneaterrosolucPas,Janequint

    PROGRAMA DE TITULAO DE PROPRIEDADES

    sce o PROMORAR, resposta do governo a problemtica

    xposio de Motivos Ministerial n 66, por intermdio do Ministro

    do Presidente Joo Baptista Figueiredo, Mrio Andreazza. O

    que:

    lavras de Valla, o programa visava solucionar o problema das

    as favelas e as palafitas, urbanizando-as, quando possvel, e

    eram vistas como caso perdido, nas palavras do Ministro ao

    (1986 p.141).

    a seria implementado na rea da Mar e, posteriormente, seria

    ais do pas. Foi batizado como PROJETO RIO obtendo ampla

    comunicaes da poca. Era interesse do Governo realar o

    conjunto com os Ministrios da Marinha e da Fazenda e Secretaria de jamento da PR). Programa de recuperao de reas alagadas, atravs de hidrulico, com o aproveitamento de bancos de areia prximos, objetivando ionar a questo da submoradia nas zonas faveladas de diversas capitais do com prioridade para a rea da Favela da Mar, nos Municpios do Rio de iro e Duque de Caxias. "Aprovo. Em 25.6.79." (Fonte: Dirio Oficial da Unio, a feira 28/06/1979, Seo I Parte I, p. 9115).

  • Programa, principalmente, nos jornais lidos pela classe mdia3, buscando aproximao

    desse leitor com a atitude do poder pblico face a realidade de momento, no que tange

    ao dficit habitacional.

    O PROMORAR se

    e teria, como principais

    Custo do Banco Naciona

    Erradicar, atravs

    construdas sob

    condies mnim

    compem aglom

    invases, etc;

    Propiciar a pe

    anteriormente se

    Promover a re

    inundaes, med

    do Departamento

    desenvolvimento

    A Unidade Executiv

    e emergncias Sociais

    rgos assemelhados, o

    os agentes promotores

    Municpios, as conce

    assemelhados, ou ain

    Beneficirios Finais, ser

    Territrios Federais, os

    rgos governamentais

    BNH (com recursos pr

    Federal, Estadual e Mun

    Em relao s re

    Poggiese as definia da s

    3 Erradicao de favelas coAndreazza anuncia plano co

    O BNdragaunidae, deUrbanresultria desenvolvido inserido no Plano Nacional da Habitao Popular

    objetivos, segundo o Departamento de Planejamento e Anlise de l de Habitao (1982), trs itens relacionados a seguir:

    da eliminao e conseqente substituio por outras moradias

    projeto aprovado pelo BNH, as subabitaes destitudas das

    as de servios, conforto e salubridade, especialmente as que

    erados conhecidos por palafitas, mocambos, favelas,

    rmanncia das populaes beneficiadas nas reas onde

    localizavam, aps a eliminao das subabitaes;

    cuperao de assentamentos de submoradias, sujeitas a

    iante a utilizao de sistemas de aterro, sob a responsabilidade

    Nacional de Obras de Saneamento DNOS, para efeito de

    nessas reas de projetos aprovados no mbito do PROMORAR.

    a do programa caberia Carteira de Erradicao da Subabitao

    (CESHE/BNH); os agentes financeiros seriam as COHABs e

    s bancos oficiais e estabelecimentos de crdito aceitos pelo BNH;

    seriam os Governos dos Estados, os Territrios Federais, os

    ssionrias de servios pblicos, as COHABs e rgos

    da, outras entidades, a critrio da Diretoria do BNH e, os

    iam os adquirentes das unidades habitacionais, os Estados, os

    Municpios, as concessionrias de servios pblicos ou outros

    aceitos pelo BNH. As fontes de recursos do programa seriam o

    prios, recursos internos e externos captados) e os Governos

    icipais (BNH, 1982).

    as de atuao de cada rgo envolvido no projeto, Hctor Atlio

    eguinte forma:

    mea pelo Rio de Janeiro e Caxias (Jornal do Brasil de 29/06/1979, p. 24). ntra favelas (O Estado de So Paulo de 29/06/1979, p. 16).

    H participa financiando as obras; o DNOS executa as obras da orla martima, ndo e aterrando uma faixa do mar, com o que a Ilha do Fundo ficar praticamente ao territrio. So atribudos FUNDREM os aspectos de desenvolvimento urbano ntro dessa competncia, foi realizada a concorrncia para a elaborao do Plano de izao. Na resposta ao Edital apresentaram-se onze consultoras de projetos ando vencedora a proposta da ENGEVIX S.A. (1981, p. 3).

  • Na viso de Valla, o Programa tinha como propsitos principais os seguintes pontos:

    * Eliminar os focos de poluio da Baa e recuperar as praias, preservando a

    ecologia local;

    * Ordenar o espao u

    navegao da Baa;

    * Prover soluo para

    * Solucionar os prob

    Ilhas do Fundo e do Gov

    vida humana; e

    * Recuperar e urban

    atual, que dever ser m

    atendimento escolar e de

    p. 142).

    Aps a assinatura d

    Federal e Estadual, confi

    objeto do programa nas t

    entre a FUNDREM, a CED

    para a execuo do levan

    Esta autora afirma a

    (entre junho de 1980 a m

    cmbio de 1980, envolven

    Secretaria Municipal de D

    Na tentativa de se cr

    Tabela 1, com quantitativo

    Mar a CODEFAM4 e

    um presidente, todos lig

    (SILVA, 1984). Essa asso

    moradores e as entidad

    atuao foi assim definida

    4 A CODEFAM conseguiu criatransformou-se em um rgo (SANTOS, 2005).

    Por vatrasassocCODpress2005rbano, recuperando a paisagem e melhorando as condies de

    o sistema virio (Avenida Brasil), h muito tempo reclamada; lemas de saneamento ambiental e bsico de reas prximas s

    ernador, onde a poluio atinge nveis elevados, inadequados

    izar as favelas existentes na rea, sem remoo da populao

    antida em condies adequadas de habitao, emprego e

    sade, nas mesmas reas onde vive atualmente (VALLA 1996,

    e um protocolo de intenes envolvendo esferas dos governos

    gurou-se, neste momento, o compromisso de urbanizar a rea

    rs instncias. O passo seguinte foi a assinatura de convnios

    AE e a CEG, assim como a contratao da fundao pelo BNH

    tamento cadastral da Mar (SILVA, 1984).

    inda que esse levantamento foi desenvolvido em nove meses

    aro de 1981), a um custo estimado de US$ 131.000, segundo

    do, sob a Coordenao da FUNDREM, a Fundao Leo XIII, a

    esenvolvimento Social e a CEHAB/RJ.

    iar uma voz de defesa em relao aos moradores da Mar (ver

    populacional), criada a Comisso de Defesa das Favelas da

    m 10/06/1979, composta de cinco diretores, dois assessores e

    ados a entidades representativas das seis favelas da Mar

    ciao teve o mrito de ser o canal de comunicao entre os

    es envolvidas do programa, principalmente o DNOS, e sua

    :

    r um espao de participao na elaborao definitiva do Projeto Rio e fundamental na luta dos favelados pela posse definitiva de seu barraco.

    rias vezes surgiam desconfianas por parte dos moradores devido aos os nas obras e ao no cumprimento dos cronogramas e, neste sentido, as iaes de moradores tiveram um papel de suma importncia ao criarem a

    EFAM Comisso de Defesas das Favelas da Mar onde exerceram forte o para que as promessas de campanha fossem cumpridas (SANTOS, ).

  • Na realidade, a populao da Mar, mesmo com a criao da CODEFAM, era pouco

    ouvida pelo poder pblico. Os moradores tiveram participao em momentos pontuais,

    como, por exemplo, no instante em que a empresa responsvel pelas obras, a ENGEVIX,

    iniciou o processo de disposio das ruas. Nesse instante a populao foi ouvida no

    sentido de melhoria do projeto.

    Essa relao de estreitamento entre a CODEFAM e o DNOS, resultou, para os

    moradores da Mar, em um documento oficial emitido pela Comisso, com algumas

    reivindicaes da populao. De acordo com Valladares, as principais eram:

    No remoo das favelas;

    Possibilidade de dilogo entre presidentes de associaes e tcnicos do BNH;

    Urbanizao completa da rea consolidada das seis favelas, inclusive com a venda

    dos lotes aos moradores;

    Construo de casas baixas, e no de apartamentos em terrenos urbanizados para

    as famlias residentes nas palafitas (VALLADARES 1985, p. 77).

    Conforme o projeto inicial, o rgo responsvel pela campanha de esclarecimentos

    do programa seria a Fundao Leo XIII, que se responsabilizaria pelos contatos com as

    lideranas comunitrias neste sentido, abrir-se-ia um canal de comunicao e de

    participao dos moradores.

    Em 22.06.1979 houve uma reunio na UFRJ com membros do grupo de trabalho,

    criado pela Reitoria da Universidade, para estudar as conseqncias do PROJETO RIO

    na rea do campus. Paralelamente a essa reunio o DCE da UFRJ e o Centro

    Acadmico de Engenharia promoveram um debate entre professores, estudantes,

    representantes das Favelas da Mar, da Federao das Associaes de Favelas do Rio

    de Janeiro e parlamentares, sobre a urbanizao e erradicao das favelas. Alm de

  • manifestarem desconfiana em relao ao projeto, todos so favorveis participao da

    comunidade favelada nas decises, para a garantia da posse das terras.

    Neste sentido, o Presidente da CODEFAM, Manuellino Silva, fez o seguinte

    comentrio respeito das remoes das favelas:

    O Presidente das Associaes de Favelas do Rio de Janeiro, Irineu Guimares,

    corrobora o pensamento de Manuellino Silva, quando cita que:

    Continuando a saga por apoio, a CODEFAM, requisitou auxlio a Dom Eugenio

    Sales, Cardeal da Cidade do Rio de Janeiro a poca, para que este realasse a

    necessidade dos moradores serem ouvidos para o bom andamento do projeto5. Em

    16/07/1979, um ilustre personagem visita o Conjunto de Favelas da Mar, o arquiteto

    Oscar Niemeyer (vide foto 1), que caminhou por boa parte da regio e pode constatar

    que, contrrio a que muitos diziam, a mancha de palafitas no eram a maior parte das

    habitaes, e sim, as favelas como verdadeiros bairros6.

    Nesse instante ocorrem dois pontos positivos a favor dos moradores da Mar. Como

    noticiado na mdia7, apenas os moradores das palafitas seriam remanejados para futuras

    localidades a serem construdas em outras reas na Mar, como citado anteriormente.

    Esse acordo teria sido realizado entre o DNOS, a CODEFAM e os alunos e professores

    da Faculdade Silva e Souza, onde o arquiteto lecionava.

    5 Jornal O Globo, 19/06/1979, p. 09. 6 Jornal O Globo, 16/07/1979, p. 09 e 17/07/1979, p. 13. 7 Jornal O Globo, 27/07/1979, p. 11.

    O Governo me pediu um crdito de confiana que eu no posso dar, pois temos apenas a palavra do Ministro e um acordo verbal com o Diretor-Geral do DNOS. Mas os governos mudam. Polticos e idias mudam. No temos garantias porque no conhecemos o projeto. Soubemos, pelos jornais, de um esboo apenas. No sabemos os interesses que existem por trs disso tudo (Jornal do Brasil de 22/06/1979, p. 15).

    As comunidades faveladas nunca tiveram apoio oficial. O Governo tem verbas para fazer praas, parques, urbanizar toda a Barra da Tijuca, mas no pode dar uma manilha para o favelado fazer seu sistema de esgoto. A opinio da CODEFAM e da Faferj uma s: as comunidades tm de participar das decises para garantir a posse de suas terras (Ibidem).

  • Foto 1 Oscar Niemeyer em visita a Mar

    Fonte: Stio da Ao Comunitria do Brasil8

    Ao trmino do programa, foram erguidas duas vilas de casas (novas favelas na

    Mar), a Vila do Joo e Vila do Pinheiro9 e dois conjuntos habitacionais (de acordo com o

    IBGE os conjuntos habitacionais no so considerados favelas), o Conjunto Pinheiro e o

    Conjunto Esperana.

    De acordo com Valladares (1985 p. 72)

    casas-embrio e 2.760 apartamentos e no S

    apartamentos, totalizando 5.311 casas e 4.040 a

    Esta mesma autora afirma que seriam dist

    terrenos aos moradores da rea consolidada d

    feita a preo simblico com diferentes formas

    poderiam ultrapassar a 10% do salrio mnimo

    O PROJETO RIO poderia ser dividido em

    e que foi marcado pela criao de um grupo

    assinado entre o Governo Chagas Freitas, o M

    8 Disponvel em: http://www.acaocomunitaria.org.br/instit19.10.2012. 9 De acordo com Steinert este foi o setor que teve o melhprevista a implementao de 4.300 lotes, sendo 1.300 nsobre o aterro hidrulico (1983 p. 171).

    De acordo com a CODEFAM a primeira

    vitria para os moradores da Mar era o

    apoio dado pelos tcnicos da Engevix que

    deram suporte populao no sentido de

    serem os responsveis pelo projeto de

    arruamento e que somente as moradias

    que, de alguma forma, prejudicassem o

    traado das ruas viriam a baixo, e os

    barracos que localizavam-se na rea de

    aterro poderiam ser substitudos por

    sobrados com vos independentes. J a

    segunda conquista seria a garantia de

    que fossem construdas casas mistas

    (vila de casas e apartamentos), de acordo

    com as suas reivindicaes. foram erguidas no Setor Pinheiro 4.272

    etor Mar 1.039 casas-embrio e 1.280

    partamentos.

    ribudos 12.000 ttulos de propriedade dos

    as seis favelas e esta distribuio seria

    de pagamento, cujas mensalidades no

    (Ibidem p. 73).

    dois momentos distintos: de 1979 a 1981,

    de trabalho, resultante de um protocolo

    inistro do Interior e um representante do

    ucional/apresentacao_1024x768.html Acesso em

    or tratamento pela Consultora, a Engevix, pois foi o trecho prioritrio sobre o solo existente e 3.000

  • Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, em 15/06/1979, e o segundo instante foi de 1981

    at o fim do programa em 1984.

    Esse grupo de trabalho recebeu a tarefa de definir as responsabilidades dos

    diversos rgos pblicos que viriam a participar de forma direta no PROJETO RIO. Os

    trabalhos desse grupo tiveram a superviso do CNDU (Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Urbano) e foram coordenados pelo DNOS e compostos da seguinte

    forma:

    Ao nvel federal, participavam os representantes do DNOS, do BNH e do Ministrio

    do Interior;

    Ao nvel estadual, participavam os representantes da Secretaria de Obras e

    Servios Pblicos (a SEOSP), da Secretaria de Planejamento da Governadoria do

    Estado do Rio de Janeiro (a SPGERJ) e da FUNDREM;

    Ao nvel municipal, participava o representante da Secretaria Municipal de

    Planejamento a SMP (VALLADARES, 1985).

    Aps esse instante o Grupo de Trabalho apresentou um documento tcnico que

    definiu os preceitos que deveriam orientar as propostas sociais, de saneamento e

    financeiras do projeto neste caso, era condio bsica de execuo do programa que no

    houvesse remoes dos moradores de seu territrio de origem.

    Em julho de 1980 a empresa ENGEVIX Estudos e Projetos S/A foi a vencedora

    da licitao pblica que foi aberta em janeiro de 1980, pela FUNDREM. Essa empresa

    definiu o projeto em trs momentos:

    a) Incio das obras de aterramento e relao mais estreita entre o DNOS,

    representante do Ministrio do Interior e a CODEFAM, representante dos

    moradores da Mar.

    b) Etapa de implementao das obras do PROJETO RIO, com o levantamento

    cadastral realizado pela FUNDREM (junho de 1980 a maro de 1981).

    c) O BNH passa a exercer supremacia sobre os rgos pblicos envolvidos no

    projeto (junho de 1981). O banco tornar-se-ia o responsvel pela realizao do

    trabalho relativo titulao da propriedade atravs da Diretoria de Terras e

    pelo cadastramento das palafitas, atravs da SESHE (ibidem, p. 81).

    A distribuio dos ttulos de propriedade para os moradores teve incio na favela do

    Morro do Timbu, em junho de 1981. Em agosto desse mesmo ano j haviam sido

    distribudos 562 ttulos 40,3% do total previsto para esta favela (ibidem).

    De forma resumida podemos pontuar as realizaes do PROJET RIO at 1984 na

    rea prioritria:

  • Obras de aterro: Concludos um total de 256,2 hectares nos seguintes setores: a)

    Setor Caju (30 ha), Setor Pinheiros (66 ha), Setor Mar (35 ha), Setor Ramos (7,2

    ha) e Setor Misses (115 ha).

    Obras de instalao de Unidades Residenciais: Setor Pinheiros: 1.546 unidades

    habitacionais que compem a Vila do Joo; Vila Pinheiro (2.300 casas e 1.360

    apartamentos);

    Obras de Infra estrutura: Criao das vilas do Joo e Pinheiro

    Sintetizando, o PROJETO RIO, no que concerne s reas do Conjunto de Favelas

    da Mar, teve como finalidade realizar interveno que se apia em trs grandes linhas

    de ao: a erradicao das palafitas com o remanejamento da populao para o setor

    Pinheiro e Vila do Joo; a transferncia da propriedade aos moradores do Conjunto de

    Favelas da Mar no removidos; e a urbanizao da rea remanescente da Mar.

    (SILVA, 1984).

    De acordo com a FUNDREM, o objetivo maior do PROJETO RIO

    Aps esse balano das realizaes implementadas pelo PROJETO RIO no Conjunto

    de Favelas da Mar, iremos neste instante, discutir como se deu o processo de

    regularizao fundiria no caso selecionado para estudo.

    3. O PROGRAMA DE TITULAO DE PROPRIEDADES NA MAR: UM ESTUDO DE CASO

    Antes de adentrar-mos na discusso a respeito da regularizao fundiria do caso

    proposto neste artigo, convm debruarmos nossa ateno legislao brasileira no que

    tange proposta desse captulo.

    De acordo com a Lei Federal n 11.977, de 07/07/2009, a Regularizao Fundiria

    de Assentamentos Urbanos, assim definida:

    De acordo com a cartilha elaborada pelo Ministrio das Cidades (2010, p. 11), os

    assentamentos apresentam normalmente dois tipos de irregularidade fundiria:

    a recuperao de reas alagadas s margens da Baa de Guanabara, entre a Ponta do Caju, no municpio do Rio de Janeiro, e a foz do Rio Iguau no Municpio de Duque de Caxias, passando essas reas a se beneficiar de um programa de melhorias fsico-urbansticas e sociais (1979, p. 3).

    consiste no conjunto de medidas jurdicas, urbansticas, ambientais e sociais que visam regularizao de assentamentos irregulares e titulao de seus ocupantes, de modo a garantir o direito social moradia, o pleno desenvolvimento das funes sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (Art. 46).

  • irregularidade dominial, quando o possuidor ocupa uma terra pblica ou privada, sem

    qualquer ttulo que lhe d garantia jurdica sobre essa posse; e, urbanstica e ambiental,

    quando o parcelamento no est de acordo com a legislao urbanstica e ambiental e

    no foi devidamente licenciado. A efetiva integrao cidade requer o enfrentamento de

    todas essas questes, por isso a regularizao envolve um conjunto de medidas. Alm

    disso, quando se trata de assentamentos de populao de baixa renda, so necessrias

    tambm medidas sociais, de forma a buscar a insero plena das pessoas cidade.

    A irregularidade fundiria no se restringe aos assentamentos populares, existindo

    tambm bairros e loteamentos formados por famlias de mdia e alta renda que se

    encontram fora das leis. No caso dos assentamentos populares, os moradores foram

    obrigados a viver num bairro irregular por falta de alternativa legal de moradia. Nos

    demais, houve a opo por construir suas casas nos loteamentos e condomnios

    irregulares, apesar de terem condies financeiras para adquirir uma residncia

    legalizada. Para que se tenha um ordenamento legal que compreenda toda a cidade,

    necessrio regularizar esses dois tipos de situao, mas as condies e instrumentos

    devem ser diferenciados. Assim, a Lei Federal n 11.977/2009 definiu dois tipos bsicos

    de regularizao fundiria para dar conta dessas situaes:

    regularizao fundiria de interesse social: aplicvel a assentamentos irregulares

    ocupados predominantemente por populao de baixa renda em que a garantia do

    direito constitucional moradia justifica que se apliquem instrumentos,

    procedimentos e requisitos tcnicos especiais; e

    regularizao fundiria de interesse especfico: aplicvel a assentamentos

    irregulares no enquadrados como de interesse social. Nesses assentamentos no

    se podem utilizar as condies especiais desenhadas para a regularizao

    fundiria de interesse social (Ministrio das Cidades, 2010 p. 12).

    A regularizao fundiria um processo realizado coletivamente, que depende da

    participao e da atuao articulada de diversos atores, em momentos e com papis

    especficos, de acordo com as caractersticas da rea e com as condies existentes para

    a regularizao. De acordo com a Lei, os seguintes atores tm legitimidade para

    promover regularizao fundiria: a Unio, os estados, o Distrito Federal e os municpios;

    a populao moradora dos assentamentos informais, de maneira individual ou em grupo;

    cooperativas habitacionais, associaes de moradores, organizaes sociais,

    organizaes da sociedade civil de interesse pblico; e entidades civis constitudas com a

    finalidade de promover atividades ligadas desenvolvimento urbano ou regularizao

    fundiria (ibidem).

  • Na viso de Alfonsin, a regularizao fundiria define-se como

    O direito moradia10 e o direito s cidades sustentveis so os fundamentos para a

    promoo de uma poltica urbana que priorize a urbanizao e a legalizao dos

    assentamentos precrios, visando a melhorar as condies de vida, tanto no aspecto da

    moradia como no aspecto ambiental, tendo como meta um programa de titulao das

    propriedades, a fim de legalizar a permanncia de populaes moradoras de reas

    urbanas ocupadas em desconformidade com a lei, integrando essas populaes ao

    espao urbano, de modo a aumentar sua qualidade de vida e resgatar sua cidadania.

    Nesse contexto, o Brasil instituiu a usucapio urbana11 e a concesso de uso

    especial para fins de moradia como instrumentos jurdicos capazes de mediar os conflitos

    fundirios em crescente evoluo na sociedade urbana brasileira, legalizando, cada um

    sua forma, os assentamentos irregulares.

    Neste momento iremos abordar a experincia do estudo de caso aplicado

    regularizao fundiria.

    A regularizao fundiria das reas ocupadas por favelas um importante

    instrumento de cidadania e de incluso social. A titulao do domnio destas reas

    confere a seus moradores maior segurana quanto sua permanncia no local e garantia

    de prestao regular de servios pblicos. Representa, ainda, a oportunidade de uma

    maior apropriao de valor econmico, seja no caso de alienao do imvel ocupado ou

    na obteno de crdito, uma vez que a propriedade pode ser utilizada como garantia real

    para contrair emprstimo (COMPANS 2003, p 41).

    10 A moradia adequada foi reconhecida como direito humano em 1948, com a Declarao Universal dos Direitos Humanos, tornando-se um direito humano universal, aceito e aplicvel em todas as partes do mundo como um dos direitos fundamentais para a vida humana. O direito moradia integra o direito a um padro de vida adequapessoa ter acesso a ummental. A moradia adeqhabitabilidade, a no adequao cultural (http 11 Conforme a Lei n 10de at duzentos e cinutilizando-a para sua mde outro imvel urbano

    um processo conduzido em parceria pelo poder Pblico e populao beneficiria, envolvendo as dimenses jurdica, fsica e social de uma interveno que prioritariamente objetiva legalizar a permanncia de moradores de reas urbanas ocupadas irregularmente para fins de moradia e acessoriamente promove melhorias no ambiente urbano e na qualidade de vida do assentamento bem como incentiva o plano exerccio da cidadania pela comunidade-sujeito do projeto (ALFONSIN, 1997, p. 24). do. No se resume a apenas um teto e quatro paredes, mas ao direito de toda lar e a uma comunidade seguros para viver em paz, dignidade e sade fsica e

    uada deve incluir: segurana da posse, disponibilidade de servios, custo acessvel, discriminao e priorizao de grupos vulnerveis, a localizao adequada e ://direitoamoradia.org/?page_id=46&lang=pt).

    .257/2001 de 10/07/2001, aquele que possuir como sua rea ou edificao urbana qenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposio,

    oradia ou de sua famlia, adquirir-lhe- o domnio, desde que no seja proprietrio ou rural.

  • Aps a retirada dos moradores residentes nas palafitas, por volta de 1981/1982, e a

    alocao destes nas novas favelas surgidas naquele instante, Conjunto Esperana e Vila

    do Joo (ambas em 1982) e Vila do Pinheiro e Conjunto Pinheiros (1989), passa-se a um

    novo momento em relao quelas famlias que continuaram em seu local de origem, a

    regularizao fundiria de seus imveis.

    Como dito anteriormente, os ttulos foram concedidos a partir de junho de 1981, na

    favela do Morro do Timbu, e concludos em 1983. Isso se deu motivado pelo fato desta

    favela ser a nica instalada em rea seca, no pantanosa, evitando desta forma, gastos

    desnecessrios em aterramento da regio, realocando, desta forma, o capital em outra

    espcie de investimento, como por exemplo, a construo de habitaes em alvenaria,

    bem como, servios bsicos, como afirma Vaz (1994, p. 5).

    Alm da regularizao fundiria, o PROJETO RIO previa, tambm, a urbanizao da

    regio e, neste sentido, o Morro do Timbu assistiu a um maior impacto no que tange

    questo da aferio de ttulos de propriedade. Isso remete ao fato de que por iniciativa

    dos prprios moradores, alguns servios pblicos j tinham sido conquistados, como gua

    e energia eltrica, alm da coleta de lixo que j era realizada pela Comlurb.

    Em relao ao programa de titulao das propriedades, de acordo com Valladares,

    at outubro de 1984, a Diretoria de Terras do BNH havia entregue 4.889 ttulos

    provisrios, distribudos da seguinte forma pelas seis favelas da Mar: Morro do Timbu

    (707), Baixa do Sapateiro (737), Parque Mar (545), Parque Rubens Vaz (932), Parque

    Unio (1.367) e Nova Holanda (601) (VALLADARES, 1985, p. 88).

    O imvel que ilustra o estudo de caso que realizamos situava-se, a poca do

    PROJETO RIO, no Parque Residencial da Baixa do Sapateiro, situado no condomnio 50-

    A lote 11 e com benfeitoria edificada no Beco So Bento, n 08, na favela Baixa do

    Sapateiro.

    De acordo com o documento de Contrato de Promessa de Compra e Venda, que foi

    celebrado em 28/09/1983, entre o promitente comprador, o Sr. Edesio Pereira dos Santos,

    morador do endereo supracitado, Mario Castorrino Fontes Brito (diretor da BNH), Antonio

    Luiz Candal Fonseca (diretor financeiro da Caixa Econmica Federal) e mais duas

    testemunhas, Lia Bandeira de Mello e a outra testemunha com nome ilegvel, foi

    registrado no Cartrio do 6 Ofcio do Registros de Imveis em 27/05/1988.

    Aps a tramitao do processo acima, em 27/04/1990, atravs do mesmo cartrio

    citado anteriormente, h a assinatura do Contrato Definitivo de Compra e Venda que

    envolve a CEF, de um lado como vendedora, e o promitente comprador, Sr. Edesio. Desta

    forma o morador conseguiu, luz da legislao vigente poca, a titulao definitiva do

  • seu imvel. Todo o processo tramitou via Secretaria de Patrimnio da Unio (SPU), onde

    o Sr. Edesio, por diversas vezes, teve que comparecer para efetivar etapas de todo o

    processo burocrtico.

    Esse processo que o morador citado requereu junto a SPU denominado Titulao

    Social, que, no entender do ITERJ (Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de

    Janeiro), outorgado para famlias que residem em prprios estaduais ou em imveis de

    sua posse, mediante termos administrativos de concesso e de promessa de concesso

    de uso, respectivamente, valendo-se para a expedio desses instrumentos de

    regularizao fundiria de interesse social da Lei Complementar n 08/77, com as

    alteraes determinadas pelas Leis Complementares ns 26/81 e 45/85 e da Lei n

    2.184/93.

    O ITERJ entende ainda que, no campo da regularizao fundiria de interesse

    social, pode-se inserir, alm e atravessando a questo da moradia formal, aquela

    relacionada com a funcionalizao do instituto jurdico da propriedade urbana e rural,

    conferida pelos destinatrios dessa interveno da Administrao Pblica no campo da

    regularizao fundiria aos imveis de posse ou de propriedade do Estado do Rio de

    Janeiro, aperfeioando, com isso, a construo da chamada propriedade socialmente til.

    Esse mesmo rgo atenta ao princpio da universalizao do direito moradia

    formal e evoluo jurdica das ferramentas de regularizao fundiria de interesse social

    postas disposio das comunidades consolidadas em imveis pblicos e de particulares

    e do poder pblico responsvel pela execuo da poltica de regularizao fundiria.

    Desta forma, o imvel do Sr. Edesio, a partir do instrumento de poltica urbana

    denominado titulao social, enquadrado no tema da regularizao fundiria, alcana seu

    objetivo final, que a regularizao do seu imvel junto aos rgos competentes.

    Vale destacar, ainda, que poucos moradores fizeram todo o trmite legal que o Sr.

    Edesio realizou na regularizao de seu imvel, motivo esse que fez esse pesquisador

    tomar como estudo de caso o imvel citado, que na verdade, sempre representou a minha

    residncia.

    4. CONCLUSO

    Como tentativa de concluso deste artigo podemos afirmar que o objetivo proposto

    no incio foi alcanado no que tange regularizao do imvel utilizado como estudo de

    caso. Afirma-se ainda que o imvel considerado legal do ponto de vista da legislao

    brasileira em vigor poca do processo.

  • Uma das principais caractersticas destas ocupaes em favelas a insegurana

    jurdica dos ocupantes em razo da possibilidade de conflito fundirio, e a ameaa

    concreta de expulso com base em aes judiciais de reintegrao de posse. Outra

    caracterstica desta ocupao a existncia de um parcelamento, uso e ocupao do

    solo informal que, em geral, no se enquadra nas normas das legislaes de uso e

    ocupao do solo, nem nas da legislao ambiental (COSTA e BUENO, 2002, p. 70).

    A existncia de ocupaes e favelas situadas em reas particulares tem gerado uma

    tenso constante, pois muitas vezes resultam em despejos violentos e, principalmente, na

    violao do direito moradia, com derrubada de casas e perda dos utenslios e bens

    mveis dos ocupantes .

    O PROJETO RIO, como visto anteriormente, foi um programa j inserido na poltica

    governamental de no remoo, e o instrumento jurdico procurado para atenuar as

    dificuldades jurdicas foi do condomnio horizontal, onde cada quadra de casas

    equivaleria a um condomnio, como consta do imvel do estudo de caso, e esse

    instrumento jurdico teve respaldo na legislao vigente da poca atravs da Lei n

    4.591/64, que dispe sobre o condomnio em edificaes e as incorporaes imobilirias,

    como aponta Magalhes (apud GONALVES, 2006). Neste caso, a diviso em lotes era,

    na viso de Gonalves (2006, p. 13), um ttulo de propriedade semelhante ao de um

    apartamento. Esse programa serviu de experincia e mostrou o quanto difcil

    implementar a regularizao fundiria em espaos residenciais segregados, neste caso, a

    favela.

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