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  • 7/26/2019 Artigo Produo

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    Necessidades de Aplicao de Ferramentas de Melhoria de

    Produtividade em Micro e Pequenas Empresas

    Paulino G. Francischini

    Departamento de Eng. de Produo da E.P.U.S.P. Av. Prof. Almeida Prado, 128Grupo de Pesquisa em Qualidade e Produtividade - e-mail: [email protected]

    Abstract

    This articles aims to provide results of a survey about the necessity of productivity

    tools in 48 micro and small firms in the State of So Paulo. The improvement is necessary duethe concurrence of importation of low technology products. The survey shows that industrial

    engineering classical tools, plant out, manufacturing methods, materials handling and 5 S

    improve the productivity.

    Keywords: productivity, small firms, tools

    1. Introduo

    A atividade de consultoria nos ltimos dois anos tem mostrado que micros e pequenasempresas passam por grandes dificuldades de adequao do seus sistemas produtivos paraenfrentar a concorrncia dos produtos importados, notadamente dos vindos da sia.

    A principal alegao destes empresrios que a escala de produo, no sentido devolume de produtos fabricados pelas suas empresas muito baixo, o que inviabiliza a reduo

    de custo e o investimento em novas mquinas mais modernas e de alta produtividade. Esteargumento apresenta quatro erros bsicos: em primeiro lugar, o custo da mo-de-obra noBrasil compatvel com o de seus concorrentes. Se utilizarmos pases mais desenvolvidos, adiferena chega a ser 20 vezes maior. Em segundo, no possuem custos de transporte edistribuio que so significativos nos produtos importados. Em terceiro, o produto que estooferecendo tem qualidade superior ao importado mas so mais caros, o que no atrai oconsumidor que, atualmente, sacrifica a qualidade em razo do preo pago. Em quarto, osprocesso produtivos apresentam perdas que oneram pesadamente os custos de produo.

    Alguns dos argumentos, no entanto, so pertinentes mas devem ser analisados dentrodo contexto em que se insere a empresa. O primeiro argumento so os pesados impostos quedevem ser pagos pela micro e pequena empresa. Verificando os fatos, nota-se que este

    problema apresenta algumas melhorias com a adoo do Simples pelo Governo Federal.Faltam seus complementos municipais e estaduais. Porm, a prtica de comercializao deseus produtos com sub-faturamento registrados em documentos fiscais adotado por mais de70% das empresas pesquisadas. O segundo argumento quanto aos encargos sociais.Constatou-se que quase 80% das empresas pesquisadas tem parte ou a totalidade dos seusfuncionrios trabalhando sem registro em carteira de trabalho ou os rendimentos registradosso abaixo do efetivamente pago, omitindo complementos salariais, horas extras, etc..Portanto, a alegao de que impostos oneram a viabilidade de comercializao necessita seranalisada de acordo com os argumentos apresentados e as prticas adotadas.

    O terceiro argumento que a micro e pequena empresa, seja ela qual for, diferentedas demais. Ferramentas de melhoria de produtividade e qualidade do resultado em todas as

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    demais empresas exceto naquela empresa. Esta argumentao, embora registrada em quasetodas as empresas pesquisadas, revela uma ingenuidade do empresrio e desconhecimento dovalor destas ferramentas como de grande auxlio. Neste caso, o desejo de encontrar umareceita de bolo que resolva os seus problemas leva a considerar estas ferramentas comoexcessivamente acadmicassem uma utilizao prtica. Esconde-se, no entanto, um desejo dereceber algo pronto, sem a necessidade de pensar no processo produtivo para aplicar as

    ferramentas de uso geral, nas particularidades de sua empresa.

    2. Levantamento de dados

    O levantamento de dados foi feito em 48 empresas industriais com at 99 funcionrioslocalizadas no Estado de So Paulo, seguindo os critrios do SEBRAE para atendimento ematividades de consultoria. A seleo da amostra foi feita de acordo com a demanda deconsultorias por tipo de atividade das empresas solicitantes. Na tabela 1 mostra-se adistribuio da amostra pesquisa por tipo de atividade:

    Atividade n.

    ConfecoMetalrgicaMveisAlimentosBrinquedosArtefatos de Borracha

    19186221

    Total 48Tabela 1 - Quantidade de empresas por tipo de atividade

    Na Tabela 2 encontra-se a distribuio das empresas por nmero de funcionrios. Amaioria das empresas (65%) foram constitudas h menos de 5 anos e, por isso, ainda esto

    em fase de consolidao de seu sistema produtivo. Estas empresas comearam com poucocapital e utilizando um galpo de dimenses reduzidas. A expanso foi feita sem uma anlisepreliminar do processo produtivo, ou seja, desordenadamente, o que causou deficinciasconsiderveis, ou seja, focos de perdas.

    de 1 a 10de 11 a 19de 20 a 29de 30 a 39de 40 a 49

    mais de 50

    1024642

    2Total 48Tabela 2 - Quantidade de empresas por n. de funcionrios

    Foi utilizado a estratgia de visitas empresa e marcao de entrevista com oproprietrio, onde foram coletados dados sobre os problemas e deficincias que a empresapassava naquele momento. Em seguida, fazia-se uma visita s instalaes da empresa paraconfirmar e complementar as informaes obtidas na entrevista e escrevia-se um relatrio dediagnstico dos problemas prioritrios a serem atacados na atividade de consultoria.

    3. Principais problemas apontados e solues da engenharia de produo

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    Os problemas diagnosticados durante a fase de coleta de dados foram agrupados em 6campos que so bastante conhecidos pelos engenheiros de produo mas que aparecem comopraticamente insolveis. Percebe-se, neste ponto, que o micro e pequeno empresrio necessitade auxlio para retirar de sua empresa todo o potencial que ela tem.

    3.1. Inadequao do arranjo fsico

    O histrico das empresas pesquisadas era coincidente em diversos pontos: nasceu compouco capital investido; em um pequeno galpo ou mesmo nos fundos da casa do proprietrio;poucos funcionrios no incio das atividades; as vendas eram feitas pelo proprietrio,geralmente contando com um grande cliente que sustentava a empresa; o crescimento dosnegcios exigia mais mquinas que foram adquiridas com financiamento ou capital prprio; ocrescimento da empresa foi desordenado.

    A inadequao do arranjo fsico traz como perdas: o excessivo tempo gasto em transporte dos materiais em processamento, formao de filas na entrada de mquinas,

    espao para armazenamento e tempo de armazenagem e retirada de peas dos contentoresAs ferramentas para combater estas perdas so vrias: o sistema SLP (Systematic Lay

    Out Planning) desenvolvido por Muther (1978) que permite minimizar o momento detransporte priorizando a proximidade de atividades produtivas com maior intensidade defluxo. Outro instrumento conhecido a matriz de tecnologia de grupo. O objetivo principaldesta matriz fazer o agrupamento de peas produzidas em um mesmo conjunto deequipamento, permitindo que estes equipamentos fiquem prximos, agrupados em clulas, ediminuam, conseqentemente, as distncias de transporte de materiais.

    3.2. Limpeza da fbrica

    O problema de falta de espao dentro do galpo pode ser facilmente resolvido comuma simples vassoura. Este era o conselho de um especialista japons em produtividade queiniciava seus trabalhos em pequenas empresas atravs de atividade dos 5 S. O espao do

    nobrepara o micro empresrio e no pode ser desperdiado para guardar lixo.Ao remover-se prateleiras e pilhas mal organizadas cuja nica funo guardar sobras

    de materiais que um dia sero utilizados, equipamentos sem uso ou de uso espordico (umaou duas vezes por ano), est se liberando espao precioso, e caro, que pode conter umequipamento ou bancada produtiva. Alm disso, o fluxo do processo produtivo torna-se maisgil, eliminando os obstculos que dificultavam o transporte de materiais. Em seis empresasanalisadas, evitou-se o aluguel de um novo galpo para a empresa ampliar sua capacidade

    produtiva, somente com o ganho de espao ocioso que estava escondido sob a forma deestoque de materiais e equipamentos de utilizao improvvel.plamente difundida na engenharia de produo, porm o que

    surpreende o desconhecimento, por parte dos micro e pequenos empresrios, destaferramenta to simples e de to bons resultados para o incremento em produtividade daempresa

    3.3. Estocagem de materiais

    O primeiro local a ser implementada a ferramenta dos 5S o estoque de materiais. Namaioria das empresas pesquisadas (72%) a rea destinada a estocagem de materiais

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    apresentava problemas de desordem crnica no armazenamento e localizao de produtos. Osprincipais problemas apontados foram:

    Localizao do estoque inadequada, longe dos equipamentos que iniciavam oprocesso produtivo

    Desorganizao do estoque, demonstrando a existncia de materiais estocadosdesnecessariamente, bloqueio de corredores, dificuldade de localizao e perda de

    M utilizao do espao vertical Inexistncia de inspeo de recebimento de matrias primas, ocasionando paradas

    no processo produtivo, ou reduo de sua velocidade, por inadequao do materialcomprado.

    A principal dificuldade apontada foi convencer o proprietrio que grande parte dosmateriais armazenados so desnecessrios e deveriam ser descartados para dar lugar a outrosmateriais realmente necessrios empresa. Um fato curioso que, em uma das empresas, oproprietrio optou por alugar um outro galpo ao invs de se desfazer dos materiais sem

    Outro erro que foi observado em 92% das empresas pesquisadas foi a m utilizao

    das prateleiras. Em uma estimativa feita, verificou-se que 75% do espao cbico de umaprateleira desperdiado devido prioridade dada a ocupar a rea da prateleira e desprezandoa ocupao do espao vertical at a prateleira superior.

    3.4. Movimentao de materiais

    O tempo gasto com transporte de materiais considerado improdutivo e, portanto,deve ser minimizado ou eliminado. Um especialista japons em produtividade apontava doisinimigos da produtividade em uma empresa: a empilhadeira e a correia transportadora. Noprimeiro caso, argumentava que um veculo de custo elevado, lento e anti-ergonmico paramanobrar, no deve ser utilizado indiscriminadamente por uma empresa. A empilhadeira

    somente devia ser utilizada quando, de fato, houvesse necessidade de estocageme destinadaspara a movimentao vertical de materiais, razo pela qual foram projetadas.A existncia de esteiras rolantes em uma fbrica geralmente esconde erros de arranjo

    fsico, uma vez que o fluxo de materiais catico. Muitas vezes, a colocao de uma esteirarolante ataca os efeitos da baixa produtividade e no suas causas.

    Uma porcentagem considervel das empresas pesquisadas (35%) argumentou que amelhor soluo para a empresa seria a compra de uma esteira para auxiliar na movimentaode materiais. A compra no era feita, segundo os empresrios, por falta de recursos. Nota-se,outra vez, que a tendncia dos empresrios o combate dos efeitos da baixa produtividade e

    da esteira rolante esconde a incapacidade ou odespreparo para buscar outras solues que no so bvias para o observador comum.

    Os remdios para estes males passam por uma reduo drstica da necessidade demovimentao atravs de adequao do arranjo fsico e a escolha de mtodos de transportemais apropriados para cada etapa do processo produtivo, principalmente procurando utilizar agravidade como fora motora.

    3.5. Movimentos do trabalhador

    Quem no sentiu um certo desconforto ao ter que admitir que Estudo de Movimentos ede Temposde Ralph Barnes (1977) um livro ultrapassado ( s ver as fotos!), mas no foiescrito nada melhor depois dele?. O estudo de tempos e mtodos considerado um campo quej teve sua fase de grandes aplicaes, mas que hoje seu uso limitado.

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    Concordaramos com este argumento se as micro e pequenas empresas no Brasilestivessem com uma percentagem considervel de automao em seu processo produtivo. Oque observamos exatamente o contrrio, com cada uma delas tendo que se apoiar notrabalho manual de seus funcionrios.

    Assim, uma perda considervel de produtividade devido no aplicao dos 22Princpios de Economia de Movimentos compilados por Barnes (1977): uso do corpo

    humano, organizao do local de trabalho e projeto de ferramentas e equipamentos. Ainadequao deste ponto leva a movimentos improdutivos e fadiga do operador.

    3.6. Refugos e retrabalhos

    Em 92% das empresas pesquisadas no investiam em treinamento bsico para seusfuncionrios. Todo o treinamento era do tipo on the job, onde o novo funcionrio aprendia asatividades sob a superviso do proprietrio ou encarregado da produo. Em todas estasempresas, a reclamao principal a constante incapacidade dos operadores de obedecerem sordens dadas, falta de iniciativa, repetio de erros, etc. Observou-se em vrios casos que ofuncionrio fazia as operaes de maneira errada por falta de desconhecimento do modo

    correto de faz-la, uma vez que as explicaes eram confusas e pouco precisas.A ferramenta indicada para isso o desenvolvimento de mtodos corretos de trabalhoa partir das sugestes dos operrios mais experientes e a elaborao de procedimentoscorrespondentes.

    Outra carncia apontada foi a predominncia de anlises qualitativas para resolverproblemas da qualidade ao invs de incentivar a investigao a partir de fatos e dados. Istopoderia ser facilmente resolvido com a aplicao das ferramentas bsicas da qualidade que osmesmos 92% dos empresrios entrevistados alegavam desconhecer.

    4. Concluso

    A aplicao de ferramentas conhecidas da Engenharia de Produo podem auxiliar amelhorar a produtividade das empresas atravs da diminuio das perdas no processoprodutivo. Estas ferramentas so desconhecidas pelos micros e pequenos empresrios quenecessitam de conhecimento e treinamento em suas aplicaes.

    es propostas por estas ferramentas requerem investimentos compatveis coma capacidade deste tipo de empresa.

    5. Bibliografia

    Barnes, R.M. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho. So Paulo,

    Edgard Blcher, 1977.

    Riggs, J.L.Administrao da produo: planejamento, anlise e controle, uma abordagem

    sistmica. So Paulo, Atlas, 1976.

    Muther, R Planejamento do Lay out. sistema SLP. So Paulo, Edgard Blcher, 1978Mondem, Y Sistema Toyota de Produo. So Paulo. IMAM. 1986.