artigo - primeira republica

Upload: michael-williams

Post on 13-Apr-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    1/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    A instabilidade Poltica na Primeira Repblica BrasileiraThe instability during the First Brazilian Republic

    Bernardo Goytacazes de Arajo(Ncleo de Estudos Ibricos e Ibero-Americanos UFJF

    Juiz de fora - MG)

    [email protected]

    Orientador: Prof. Dr. Ricardo Vlez Rodriguez (UFJF)

    Resumo: Este trabalho nos prove algumas linhas de entendimento sobre a instabilidade daPrimeira Repblica, no Brasil. Diferentes foras agiram para resolver o problema: mesmo que nosejamos mais um reino, no sabemos como lidar com a Repblica, sem seus problemas. Apesar doexrcito ter iniciado o processo republicano, o grupo dos positivistas, do sul do Brasil, e o grupo dos

    Republicanos, do Sudeste, organizaram outra forma de entender e pensar como o Brasil poderia seruma repblica, com o mesmo territrio, com diferentes foras econmicas (como a industria) e umimportante acordo para a governabilidade do pas. Para finalizar este processo, em 1930, GetlioVargas torna-se um novo lder e aglutina as foras em torno de si. Agora, ele o Estado e o chefeem poder. Comeamos o populismo no Brasil.

    Palavras Chave: Instabilidade; Positivismo; Liberalismo; Repblica; Castilhismo.

    Abstract: This paper provides some guide lines to understand the instability during the firstRepublic, in Brazil. Different forces acted to solve the problem: although we are not a kingdomanymore, we do not know how to deal with the republic, without its troubles. However, theBrazilian army started the Republic process, the positivism group, from the south of Brazil, and the

    Republic group, from the Southeast, organized another way to understand and to think how Brazilcould be a republic, with the same territory, with some different economic powers (such as theindustry) and an important agreement for the governability of the country. To finish this part of theprocess, in 1930, Getlio Vargas became as the new lieder and agglutinated the forces around him.Now, he is the State and the chef in power. We start the populism, in Brazil.

    Key words: Instability; Positivism; Liberalism; Republic; Castilhism.

    1 . Consideraes iniciaisDiversas foram as insatisfaes que culminaram em um processo de mudanas no,

    Brasil, em 1889. Dois elementos so marcantes no descuido da monarquia quanto aoexrcito: 1) prope-se que o exrcito s chegou a ser um componente bsico na gama de

    poderes, no final do II Reinado, j que s tomou corpo e foi revigorado, com a Guerra do

    Paraguai, levando o Brasil e a trplice aliana vitria1. 2) prope-se que este descuido

    1(...) os velhos guerreiros andavam escondidos, temerosos desse conceito (todos evitavam confirmar a suaparticipao no conflito). Essa era uma imagem real, afinal o exrcito brasileiro, vitorioso de uma guerradesesperada, no fora impedido sobre todas as formas de fazer um desfile de vitria no Rio de Janeiro? O

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    2/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    do imprio no aconteceu. O exrcito percebeu com antecipao a manobra e

    formalmente abortou a tentativa, aproveitando a oportunidade para eliminar o perigo para

    sempre: extinguindo o Imprio, criando assim uma outra equao de poder.2 Houve

    tambm a propaganda republicana, fazendo com que o Exrcito pensasse que o Imprio

    tramava a sua extino, provocando assim uma grande reao, como proposta de um novo

    resultado. Este cenrio de insatisfaes gerais fez com que a monarquia brasileira passasse,

    como outros reis e monarcas3europeus, pelo exlio e seu banimento.

    Muitas das reivindicaes feitas pelos republicanos, contra a monarquia, tinham

    como fundamento: a falta de apoio ao desenvolvimento rural, principalmente, aos

    cafeicultores do Oeste Paulista, que desejavam maior poder poltico, j que possuampoder econmico; a classe mdia brasileira que crescia e ansiava por uma maior

    participao nas decises polticas do Brasil, alm das insatisfaes do exrcito com a

    monarquia, ainda mais, ps-guerra do Paraguai.

    Aps 67 anos, a monarquia chegava ao fim, dando incio ao perodo republicano

    sobre a tutela do Mal. Deodoro da Fonseca, assumindo provisoriamente o posto de

    presidente da Repblica. o primeiro momento importante, na construo, do processo

    democrtico brasileiro que ser repleto de conturbaes.

    2. A proclamao da Repblica e o governo de Deodoro

    A passagem do Imprio para a Repblica foi um novo elemento que muitos no

    perceberam. O processo de proclamao no teve a participao de populares e as

    incertezas sobre como manter os meios de manuteno da repblica foram constantes. Os

    vrios grupos que disputavam o poder tinham interesses diversos e divergiam quanto

    concepo e organizao da forma de governar a Repblica.

    prprio imperador no os chamava, para quem quisesse ouvir de assassinos legais? (...)TREVISAN,Leonardo. O que todo cidado precisa saber sobre instituio militar e Estado brasileiro. So Paulo: Global,1987.p.31 e 32.2Idem. p. 293VIANA, M L, Citoyens, Camaradas e Companheiros. www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/Citoyens.pdf

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    3/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    As principais lideranas regionais, como Minas Gerais, So Paulo e Rio Grande do

    Sul defendiam a idia de fundamentarmos nossa Repblica em forma federativa,

    assegurando alto grau de autonomia aos Estados que compusessem essa federao.

    Entretanto, esses mesmos grupos iriam distinguir quanto forma de governar e de

    tomar os rumos do pas. Os membros do Partido Republicano Paulista, bem como os

    polticos mineiros, defendiam o modelo liberal. A base da repblica seria constituda de

    cidados, representados na direo do Estado por um presidente eleito e pelo

    Congresso.4J os que defendiam o positivismo, eram os gachos, sobre forte influncia de

    Jlio de Castilhos. Sendo assim, o Rio Grande do Sul ficou como a principal regio de

    influncia do positivismo, e por l a tradio militar era muito forte.

    2.1. Influncias na da Repblica incipiente - A teoria dos positivistas

    No final do sculo XIX dois movimentos de importncia so citados como

    formadores de certa direo nos rumos do Brasil: a fundao do Partido Republicano e o

    desenvolvimento das correntes positivistas. Os partidrios Republicanos, apesar dos

    iderios novos, eram beneficiados, de alguma maneira, desde o imprio.5 Desta forma,

    ainda havia uma correlao entre os partidrios e a coroa, afinidade essa que no havia

    entre a coroa e os militares.

    O conflito que se deu, ps-proclamao da repblica, entre militares e Partido

    Republicano confirma a tese de que havia uma certa reserva dos militares com os

    partidrios republicanos.

    A questo do positivismo estava ligada ao carter doutrinrio, o apelo ao rigor

    cientfico e a matematizao. Seus seguidores eram vistos como pensadores e no como

    membros de ao. O que ocorre com o positivismo, aqui no Brasil - diferentemente de

    Portugal que ir trilhar um rumo com a teoria de Stuart Mill, o abandono da religio dahumanidade e as indisposies com o governo representativo ser a prtica autoritria e

    4FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. 6 Ed. So Paulo. EDUSP. p.2455As chances de subir politicamente eram reais tambm aos republicanos, desde que sobre o manto protetordo regime (no caso o imprio. TREVISAN, Leonardo. O que todo cidado precisa saber sobre instituiomilitar e Estado brasileiro. So Paulo: Global, 1987. p.32 e 33.

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    4/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    que mais tarde se caracterizaria pela prtica de autoritarismos doutrinrios, sendo o mais

    importante deles, o castilhismo.

    Para Jlio de Castilhos, como para todos os pensadorespositivistas, a falncia da sociedade liberal consistia embasear-se nas transaes empricas, fruto exclusivo daprocura dos interesses materiais. (...) O lder gachopropunha ao Congresso constituinte a instaurao de umregime moralizador, baseado no na preservao de srdidosinteresses materiais, mas fundado nas virtudes republicanas.Ao ver que suas idias no tiveram efeito no plano nacional,decidiu encarnar a sua idia no governo do Rio Grande doSul.6

    Havia a busca pelo progresso, desde que a ordem prevalecesse, fazendo com quehouvesse uma tolerncia quanto a Ditadura Republicana na preservao da figura de D.

    Pedro II.7 Tudo isso se daria, pois a questo no estava na pessoa em que ocuparia este

    cargo, mas na forma como este seria governado.

    Na dcada de 1870, este apelo ganha fora dentro do corpo de oficiais do exrcito

    grupo representado pelo Mal. Floriano Peixoto. H um forte elemento agregado a todas as

    vises que circulavam pelo corpo de oficiais, pois ningum aceitaria colocar a instituio

    em risco. Com isso, a doutrina positivista teve um papel fundamental, pois a grande maioria

    de oficiais, mesmo tendo estudado, ou no, as grandes bases da doutrina, se diziam

    positivistas.

    2.2. A concepo Militar

    Dentro desta influncia militar, a idia republicana no exrcito apresentava duas

    correntes: 1) o grupo de Benjamin Constant, positivista, interessado na implantao de uma

    ditadura republicana capaz de garantir a ordem material, a quebra do monoplio da Igreja e

    do Estado sobre a educao, a religio e a cincia. 2) o grupo de militares que considerava a

    Repblica necessria para a salvao do exrcito.

    Existiam diferenas pessoais e de concepes entre ospartidrios de Deodoro e os de Floriano. Em torno do velho

    6RODRIGUEZ, Ricardo Vlez. Castilhismo, uma Filosofia da Repblica. BSB Ed do Senado. p. 1037Idem. p. 33

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    5/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    marechal reuniam-se os chamados tarimbeiros veteranos daGuerra do Paraguai. Muitos desses militares no haviamfreqentado a escola Militar e se distanciavam das idias

    positivistas. Eles derrubaram o Imprio para salvar a honrado Exrcito e no possuam uma viso elaborada daRepblica. (...) Embora Floriano no fosse positivista etambm tivesse participado da Guerra do Paraguai, osoficiais que se reuniam a sua volta eram jovens que haviamfreqentado a Escola Militar e recebido uma forte influnciado positivismo. Concebiam sua insero na sociedade comosoldados-cidados, com um sentido de dar um rumo ao pas.A repblica deveria ter ordem e tambm pregresso. (...)Apesar da profunda rivalidade existente entre os grupos nointerior do Exrcito, eles se aproximavam em um pontofundamental (...) eram porta vozes de uma instituio o

    Exrcito que era parte do aparelho do Estado.(...) Osoficiais do exrcito, positivistas ou no posicionavam-secomo adversrios do liberalismo.8

    Sendo assim, os mentores da repblica fundamentaram suas aes com as fileiras do

    exrcito que organizaram suas atitudes alvejando um golpe certeiro, que faria o Brasil

    escrever uma nova etapa em suas fileiras histricas.Entre os dias 4 e 11 de novembro de

    1889 vrios militares entre eles Benjamin Constant, convenceram o Mal Deodoro causa

    republicana. Para eles a Repblica deveria ser dotada de um poder executivo forte, oupassar por uma fase ditatorial. A autonomia das provncias era vista com cautela, pois alm

    de favorecer os interesses dos grandes proprietrios de terra, poderiam incorrer no risco de

    fragmentao do pas.

    H um apoio, por parte daqueles que tomaram voz pela repblica, para que seu

    controle pudesse se manter nas mos de uma pessoa. H um visvel apoio a concentrao de

    poder e de foras. E ns agora fazemos os mais ardentes votos a fim de que todo o poder

    poltico nas mos de um s homem de Estado e diretamente responsvel pelo pas. (...)Para termos uma repblica estvel, feliz e prspera necessrio que o governo seja

    ditatorial e no parlamentar.9

    8Idem. P 246.9Imprensa Nacional, 1915 p.216 Pronunciamento do Sr. Capito Tenente Nelson de Almeida, em nome daMarinha do Brasil.

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    6/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    A participao popular no golpe foi nfima, j que estes no estavam a par do que

    estava ocorrendo. Aristides Lobo, em sua famosa carta nos conta: Por hora, a cor do

    governo puramente militar e dever ser assim. O fato foi deles, deles s, porque a

    colaborao de elemento civil foi quase nula. O povo assistiu aquilo bestializado, atnito e

    surpreso, sem conhecer o que significava. Por isso foi muito pequena a resistncia

    encontrada pelos republicanos proclamao feita em 15 de Novembro de 1889, na Praa

    da Aclimao.

    Aps a sada da famlia imperial do Brasil, inmeras prises foram decretadas, e

    alguns integrantes do antigo governo monrquico e personalidades influentes do meio

    foram tambm exilados. Os meios de informao, em especial a imprensa, ligados monarquia tambm foram calados. Com a abolio da Cmara, do Senado e do Conselho de

    Estado, implanta-se no Brasil a ditadura das Espadas.

    Na constituio do primeiro governo, Deodoro o faz de maneira bastante ecltica j

    que positivistas, republicanos histricos e liberais estivessem juntos em uma mesma forma

    de governabilidade.

    2.3. A influncia dos Liberais na constituio

    Os partidrios da Repblica liberal apressaram-se em garantir a convocao de uma

    Assemblia Constituinte, temerosos do prolongamento de uma semiditadura sob o comando

    pessoal de Deodoro. Apesar de todo este caldeiro ideolgico, a Constituio, a primeira da

    repblica, fora promulgada em 24 de Fevereiro de 1891. Deodoro, ento, foi confirmado

    como chefe de governo, constituindo um governo pessoal.

    No imprio havia o poder moderador que controlava as aes do imperador, j na

    repblica, pela forma como Rui Barbosa havia proposto, copiando a declarao dos Estados

    Unidos, esta terceira via de controle e de ao, que poderia limitar os ditames de umatirania, ou de uma ditadura pessoal, no ocorreram carecendo a Repblica deste parmetro,

    que por muitos anos mostrou-se necessrio.

    A primeira constituio Republicana foi inspirada na Constituio dos EUA,

    consagrando assim a Repblica Federativa Liberal. A chave de autonomia dos Estados,

    estava no artigo 65, pargrafo 2 da Constituio. A se diz caber aos Estados poderes e

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    7/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    direitos que no lhes fossem negados por dispositivos do texto constitucional. Os Estados

    ficaram autorizados a exercer atribuies diversas como as de contrair emprstimos no

    exterior e organizar as foras pblicas estaduais.10

    Entretanto, toda esta fora dos Estados no se comparava a um ultrafederalismo.

    Essa idia era defendida pelos positivistas gachos que concordavam com a idia da Unio

    ter menos poderes de ao que os Estados. O esfacelamento do poder central era um grande

    risco, que nem militares nem paulistas estavam dispostos a ver. A Unio ficou com a

    organizao das foras nacionais e, com o direito inequvoco, de intervir no Estado caso

    necessrio, a fim de restabelecer a ordem, garantindo a forma federativa. E por fim, a

    constituio11

    instalou no Brasil a tripartio de poder.Com a volta do Parlamento reacendeu-se um princpio de conflito, em que veremos

    uma luta entre os dois poderes: executivo e legislativo. No tolerando mais esta diviso de

    poder, Deodoro resolve dissolver a casa parlamentar em 3 de novembro de 1891. Entretanto

    essa prerrogativa no lhe era disposta. Ou seja, sem ainda ter completado um ano de sua

    existncia a Repblica fica sem a sua principal casa de representao e de debate, perdendo

    o rumo de um caminho, que a posteriori, mostrar-se-ia bastante tortuoso. A reviso que

    Deodoro prometeu ao fechar o Congresso seria no sentido de fortalecer o poder executivo e

    a Unio, alm de uma comedida autonomia dos Estados, sem correr os riscos de um

    esfacelamento da unidade nacional.

    Ao perceber que toda esta forma de governo levaria a um caos civil, com a

    eminncia de uma guerra, Deodoro renuncia e quem assume em seu lugar outro Marechal,

    Floriano Peixoto. No convocando eleies, como seria proposto, Floriano governa o Brasil

    como vice. Ao passar dos meses, alguns militares de outras foras resolvem fazer um

    manifesto, cobrando de Floriano o comprimento da Constituio, afim de que se

    convocassem novas eleies, com o intuito de recompor um governo para a Repblica.Floriano, simplesmente, demite a esses militares, e os reforma, lanando com isso, as bases

    para a grande instabilidade e falta de apoio que seu governo teve.

    10FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. 6 Ed. So Paulo. EDUSP. p.248.11A constituinte de 1891 visa repor tudo em seus devidos lugares. A referencia feita s foras armadas fazemdas mesmas um elemento institucional nacional permanente, ou seja, sem sofrer ameaas de extino.TREVISAN, Leonardo. O que todo cidado precisa saber sobre instituio militar e Estado brasileiro.

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    8/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    A repudia a Floriano fora to intensa, que esse no tinha condies de manter-se no

    poder. Fato que comprovado pela no eleio de um sucessor. Quem vence as eleies de

    1894 foi Prudente de Morais, lder consagrado da causa republicana.

    O resumo da repblica das espadas foi o governo Deodoro marcado pelo nepotismo

    o que acabou levando sua renncia e sua substituio pelo vice-presidente Floriano

    Peixoto cuja principal tarefa foi sufocar as revoltas nos Estados reforando o poder

    presidencial. A pacificao do pas e a falta de articulao impediram a continuao dos

    militares no poder. Sendo assim, o Partido republicano Paulista indica o sucessor de

    Floriano Peixoto, o paulista Prudente de Morais.

    3. Os civis e a Repblica Velha

    com Prudente de Morais que de fato se iniciar uma tentativa de organizao da

    Repblica com o fim da Revolta da Armada e com os movimentos liberais no Rio Grande

    do Sul. Outro momento marcante no governo de Prudente de Morais ser a herana de

    Canudos. 12

    Tentando aniquilar a oposio feita a seu governo, Prudente manda prender

    parlamentares que se opunham ao regime, iniciando assim, a prtica autoritria. Ou seja,

    apesar de se manter a bandeira constitucional, institucionalizou-se um regime que

    subjugava o Congresso vontade do presidente. Alm disso, h uma forte influncia das

    lideranas regionais. Com os atos de Prudente, os prximos governantes tero como

    princpio, sufocar os movimentos feitos pelo parlamento, j que a justificativa apresentada

    foi a no escolha do modelo parlamentarista e sim do modelo presidencialista.

    Mantendo a mesma linha de controle nas mos de um s governante, Campos Sales,

    presidente que substituiu Prudente, fez o reconhecimento de mandato com os

    parlamentares. Para manter o controle de toda a situao e assegurar a maioria noCongresso seriam degolados os parlamentares, que provenientes de algum distrito que

    deveria ser do governo, no merecessem a confiana do mesmo. Isso significaria que as

    oposies nos estados, sem resistncias municipais, haveria de ser esmagada pelo grande

    121893 a 1897 guerra que durou quase todo o mandato de Prudente.

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    9/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    acrdo do governo central, que formara a invencvel coligao do Governo Federal com os

    governos Estaduais. Assim sendo, no ano de 1900, 74 mandatos de deputados no foram

    reconhecidos.13

    Tendo o parlamentar mais velho o direito de organizar os trabalhos da casa, fica o

    exerccio do poder, tambm na cmara, nas mos de uma elite conservadora que ao

    reformular o regimento tem por finalidade preparar o meio prtico de encaminhar as

    diferentes solues que as anunciadas exigncias da verificao de poderes da futura

    cmara tinham imposto aos polticos. Assim a Cmara os afinaria com o Presidente que

    entrou neste acordo.14

    No parecer de um dos parlamentares da poca, a combinao entre a vontade dopresidente a os relatos da Cmara, j faziam parte de uma estratgia do presidente de fazer

    toda a sua poltica com os governadores e presidentes dos Estados, outorgando a estes a

    aos amigos locais todos os favores e meios que os partidos auferem quando se acham em

    posse do poder.15Com o poder para governar, tendo o parlamento em suas mos, Campos

    Sales tem no Estado de stio um instrumento valioso e que frequentemente era utilizado.

    A poltica dos governadores, efetiva a troca de favores entre a Presidncia e os

    governadores Estaduais, teve a finalidade de neutralizar ainda mais as foras oposicionistas

    no Congresso. Em seu livro Da Propaganda Presidncia C. Sales (1908) diz encontrar

    no Brasil somente fraes do Partido Republicano Federal, no propriamente um partido

    poltico, mas apenas uma grande agregao de elementos antagnicos.

    Tal poltica se complementar, no famoso binmio do Caf com Leite, que ser uma

    alternncia na governabilidade do pas entre Minas Gerais e So Paulo. Sero eleitos

    presidentes da Repblica neste perodo: Rodrigues Alves, Afonso Pena e Nilo Peanha.

    Para o mandato seguinte fora escolhido o ministro da guerra, o ento Mal. Hermes da

    Fonseca. Um fator preponderante de suas aes foi a troca dos governadores estaduais

    13A maior degolano governo de Campos Sales foi a de 1912, em que mais de 91 mandatos parlamentares noforam reconhecidos. Foi mais de 40% do parlamento no legitimado. (PILETTI, Nelson & ARRUDA, Jos.Toda a Histria. Ed. tica).14Anais da Cmara, sesso 20.10.1898 p.489.15Idem.P.489

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    10/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    gerando uma situao de crise ainda maior, pois desmontara o acordo feito outrora de

    partilhar, com as oligarquias estaduais, o controle poltico do Brasil.

    Cada oligarquia estadual controlava seu curral eleitoral e prestava contas

    presidncia. Entretanto essa, no se oporia aos desmandos e caprichos do coronelismo

    presente nas diversas regies do pas. Onde havia mais de uma oligarquia, o governo

    apoiava aquela que lhe era mais coerente e propcia. Por isso, ao substituir os governadores,

    Hermes da Fonseca gerou uma instabilidade enorme, em sua governabilidade e nos

    Estados. Contudo, na eleio seguinte foi eleito o presidente Venceslau Brs que coincidiu

    com o incio e fim da Primeira Guerra. Posteriormente, teremos o governo de Rodrigues

    Alves, Delfim Moreira e Epitcio Pessoa.Na primeira eleio da dcada de vinte o presidente eleito foi Artur Bernardes, que

    contou com muitos movimentos contrrios, inclusive do prprio exrcito que queria a volta

    de Hermes. Ao final do governo de Bernardes eclodiu uma imensa guerra civil no RS, com

    o objetivo de finalizar as sucessivas reeleies no Estado com o governante Borges de

    Medeiros que, desde o incio do sculo, no saia do controle do governo. Ao final de 1926

    o governo federal interveio e fez-se uma reforma na constituio, afim de que o RS

    passasse a adotar uma estrutura governamental idntica a estrutura federal, com a

    substituio de poderes garantida.16

    4. Getlio Vargas e o Castilhismo

    A vertente do Castilhismo continuou forte no Brasil, e com ela as heranas do

    positivismo. O maior representante ser Vargas e No se pode falar nele, sem citarmos esta

    importante vertente de ao, que vigorou por muitos anos no Rio Grande do Sul, formando

    toda uma gerao de lideranas.

    16A dcada de vinte tambm foi um perodo de intensos conflitos ideolgicos e de contestao perante aRepblica do Caf com Leite. Aps o governo de Artur Bernardes, um membro do Partido RepublicanoMineiro, seguiu-se Washington Lus, do Partido Republicano Paulista, que governou o Brasil de 1926 a 1930.Entretanto, seguindo a tradio, o prximo governador deveria ser um mineiro, mas Washington Lus impsJlio Prestes, tambm do Partido Republicano Paulista. (PILETTI, Nelson & ARRUDA, Jos. Toda aHistria. Ed. tica)

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    11/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    A idia de Julio de Castilhos foi adaptar o positivismo, para a realidade nacional,

    em especial porque o mesmo participou da constituinte de 1891. Entretanto, suas idias no

    foram acatadas, resolvendo apostar suas intenes no RS. Por l, fez a constituio

    estadual, adequando-a aos parmetros do positivismo, j que sua ao no era uma

    representao mecnica dos ideais comteanos.

    Para Castilhos o bem pblico ultrapassava os limites dos interesses materiais dos

    indivduos para tornar-se individual e espiritual. O bem pblico se d na sociedade

    moralizada, pelo Estado forte, que impe o discernimento individual em benefcio do bem-

    estar da coletividade. Vlez (2000) nos adverte que Castilhos entendia estar se devotando a

    uma causa maior e no no exerccio de uma ditadura em benefcio prprio.Assim, pode-se entender que no RS, houve a experincia de estruturao de uma

    repblica positivista, ao longo de toda a repblica velha, que se perpetrou no governo de

    Borges de Medeiros possuindo como caracterstica bsica de ao a pureza das intenes:

    O bem pblico interpretado como reino das virtudes e o exerccio da tutela moralizadora

    do Estado sobre a sociedade.

    Segundo Antnio Paim, ao estabelecer como ponto de partida, que a racionalidade

    da sociedade encarna-se no como projeo da razo individual, nos moldes do liberalismo,

    o castilhismo nada mais fazia do que situar-se do lado das mltiplas reaes conservadoras.

    Assim, o Castilhismo se fundamentou como uma forma de governo, que se propunha a

    levar, com um governo centralizado e forte, a um desenvolvimento progressista.

    A primeira tentativa de repassar esta prtica Castilhista, do mbito regional para o

    nacional, foi com Pinheiro Machado, entretanto, o mesmo no obteve xito. Essa ocorreu

    com Vargas que foi criado e teve seu desenvolvimento nesta doutrina.

    Vargas formou seu esprito na repblica positivista Rio Grandense. Ao chegar ao

    Rio, para o exerccio de seu mandato legislativo, encontrava-se enquadrado no jargopositivista de sua terra natal. Ele reconhece ser o regime Rio Grandense centralizador e

    rigorosamente alicerado nem executivo forte, mas que, no entanto, era a expresso de uma

    cincia social.

    Vargas, ao passar pelo parlamento ter uma viso na s dos problemas do Rio

    Grande do Sul, mas do contexto nacional, principalmente, quando toma contato com as

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    12/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    obras de Oliveira Viana. Esta viso lhe permitir articular meios de entendimento para as

    solues dos problemas nacionais. Em muitos pronunciamentos, a viso de Vargas, sobre

    as polticas de pequenos estados pequenos centros governamentais tais como os Estados

    na federao, seria uma boa forma de governabilidade. Entretanto, quando ser projetado

    no cenrio nacional, percebe-se que Vargas era mais terico neste aspecto, que realmente

    professo de tal ideal.

    No cenrio nacional foi desfeita a aliana entre Paulistas e Mineiros. As oligarquias

    decadentes foram buscar apoio no governo gacho formulando a Revoluo de 30. Os

    gachos tomaram fora com Getlio e iniciaram um movimento revolucionrio a 3 de

    outubro de 1930. Washington Luis foi deposto e Jlio Prestes impedido de ser empossado.Um ms depois, entregaram-lhe o governo do pas. A Revoluo saiu vitoriosa e Getlio o

    novo presidente, dando incio a um novo perodo na Histria Nacional, que ficou conhecido

    como a Era Vargas, com fortes caractersticas castilhistas e populistas.

    A ideologia de Estado, ajustado ao modelo dos crticos daPrimeira Repblica e aos idelogos autoritrios da revoluode 30, pode ser vista como uma construo intelectual quesintetiza e d direo prtica a um clima de idias e deaspiraes polticas de grande relevncia nas ltimas dcadas

    do sculo XIX e na primeira metade do XX. Condensa todareao filosfica ao iluminismo e ao utilitarismo. (...) aconstituio de uma viso de mundo poltico na qual soafugentadas todas as representaes conducentes noo deum mercado poltico exorcizado em proveito dasrepresentaes fundadas no princpio da autoridade e emsupostos consensos valorativos.17

    5. Consideraes finais

    Todo o processo de instalao da Repblica, no Brasil, bem como sua

    fundamentao e consolidao, se mostraram instveis a ponto de colocarmos a integridadedo pas e das instituies republicanas em risco. Muitos interesses e orientaes polticas

    estiveram presentes neste cenrio. Oligarquias, grupos decadentes, foras internacionais,

    conjunturas de mercado, a primeira grande guerra, e a grande depresso foram os

    amalgamas desta construo.

    17FAUSTO, Boris. Histria Geral e da Civilizao Brasileira. Vol 9. p.385

  • 7/26/2019 Artigo - Primeira Republica

    13/13

    RevistaEstudos Filosficosn 3 /2009 verso eletrnica ISSN 2177-2967http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosoficos

    DFIME UFSJ - So Joo del-Rei-MGPg. 129 141

    Pensar a construo do Brasil, tambm levar em conta as foras polticas que

    agiram, contando com o positivismo, o castilhismo, o liberalismo, o conservadorismo e at

    o ponto getulista do populismo, onde vrias filosofias polticas se encontraram.

    Analisar as bases do Brasil de hoje, retomar estes 120 anos de Repblica e

    perceber que ainda carecemos de uma identidade e de bases para que possamos proceder e

    levar a nossa governabilidade avante. definir um rumo da coisa pblica para o bem do

    pblico e no a certos interesses especficos de alguns grupos, ou partidos. Vivia-se na

    tutela de patriarcas e lutamos para que no sejam mais necessrios, para que nossos

    dirigentes governem para o bem da coletividade.

    Este trabalho enfoca a diversidade constitutiva do Brasil e a importncia deinstituies como o exrcito e o legislativo, bem como dos ditames do caf e da incipiente

    industrializao que o pas passava. a retomada de um processo do qual, hoje ainda,

    somos signatrios. a primeira etapa da histria republicana, do Brasil.

    Referncias:COTRIM, Gilberto.Histria Global Brasil e Geral 8 Ed. So Paulo: Saraiva, 2007.

    FAUSTO, Boris. Histria do Brasil.6 Ed. So Paulo: EDUSP, 1999.

    LIMA, Luiz Costa.Euclides da Cunha: contrastes e confrontos do Brasil. Rio de Janeiro:Contraponto: PETROBRAS, 2000. 60p

    RIBEIRO, Gladys Sabina. Mata Galegos: Os portugueses e os conflitos de trabalho naRepblica Velha. So Paulo: Editora Brasiliense. 1989.

    TREVISAN, Leonardo. O que todo cidado precisa saber sobre instituio militar e oEstado Brasileiro So Paulo: Global, 1987.

    VLEZ, Ricardo. Castilhismo: uma Filosofia da Repblica. BSB: Senado Federal,Conselho Editorial, 2000. 294p.

    VICENTINO, Cludio; DORIGO, Gianpaolo. Histria para o Ensino Mdio. So Paulo:Scipione, 2001.

    Data de registro: 22 de maro de 2009Data de aceite: 29 de maio de 2009