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Page 1: Artigo Planejamento Solano Portela.pdf

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Planejamento e Sustentabilidade na Gestão Escolar Cristã

Francisco Solano Portela Neto

Diretor Educacional do Instituto Presbiteriano Mackenzie

Observamos que muitas de nossas instituições evangélicas são carentes de um planejamento

e organização eficazes. Talvez, como uma reação exagerada à rigidez litúrgica, hierárquica,

formal e de planejamento das denominações históricas mais estruturadas do passado, ou por

ter-se a ideia de que qualquer planejamento e organização maior, no que diz respeito às coisas

do Reino de Deus, seria uma "camisa de força" inadequada. A questão é “confiar em Deus”, e

como não há nada de errado nisso, seguimos sem planejar.

Com frequência, somos testemunhas de grandes intenções que são seguidas de parcas

realizações. Essas situações evidenciam não apenas a falta de planejamento, mas também o

fato de que a utilização de um mínimo de organização pode resultar em considerável eficiência

no encaminhamento das coisas do Reino de Deus. Se não planejamos as ações mais

imediatas, imaginem um planejamento em longo prazo: para cinco anos; para dez anos! Um

planejamento que considere a conjuntura; que coloque as ameaças e oportunidades; que vise

à estratégia a ser seguida. Que faça um levantamento dos diferenciais e dos recursos

disponíveis e reconheça as limitações; que leve ao aclaramento da visão, missão, e que traga

uma cristalização dos valores e princípios; que traduza tudo isso em objetivos exequíveis,

atingíveis e mensuráveis.

Já nos avisam as Escrituras Sagradas que os descrentes são, muitas vezes, mais sagazes e

sábios que os crentes (Lucas 16.8 — pois os filhos deste mundo são mais prudentes na sua

geração do que os filhos da luz). Temos observado as organizações "seculares" se

concentrarem no planejamento, na organização, em avaliar sob todos os ângulos, definir

responsáveis, acompanhar a execução; enquanto nós, no campo evangélico, abrimos mão de

toda esta capacidade que nos foi dada por Deus. Estamos acostumamos a creditar o sucesso

ou insucesso de algo à "vontade de Deus" ou aos ataques de Satanás, sem parar para pensar

que a boa organização nada mais é do que o exercício eficaz da mordomia dos talentos,

capacidades e recursos que Deus colocou em nossas mãos, para a sua glória.

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Encontramos na Bíblia exemplos e orientações que reforçam a necessidade do planejamento e

da organização.

Deus planejou tudo e executa o seu plano (Isaías 46.9-11). Ele deu ao homem o mandato de

dominar a Criação (Gênesis 1.28) e de sujeitá-la, para sua glória. Tendo sido criado à imagem

e semelhança de Deus, o homem é um ser que planeja também, mesmo em sua condição de

pecador e mesmo com esta imagem afetada pelo pecado. O homem, consequentemente,

procura determinar metas e visualizar suas ações antes destas ocorrerem (Provérbios 13.19 e

16.9).

Deus ensinou seu povo a planejar. Deus planejou, instituiu e determinou ao seu povo,

debaixo da Antiga Aliança, toda a sistemática das cerimônias, requerendo obediência no

cumprimento de todos os seus passos. Deus desejava, através dela, focalizar as atenções dos

israelitas no Messias que haveria de vir e redimir o seu povo. Neste sentido, o povo foi

ensinado a planejar e a organizar, em sua esfera, as festas e sacrifícios e existia considerável

rigidez litúrgica, assim como sistematização e repetição. Nada de "qualquer um faz qualquer

coisa, a qualquer hora", mas ações e obrigações definidas e todas relevantes ao enfoque

central das práticas de adoração.

O administrador José Roberto Lupi (do Instituto Jetro) chama nossa atenção para Provérbios

4:25-27 (“Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti. Pondera a

vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos. Não declines nem para a direita

nem para a esquerda; retira o teu pé do mal”), indicando que temos aqui os elementos do

planejamento. Na versão NVI, a leitura é a seguinte:

“Olhe sempre para a frente, mantenha o olhar fixo no que está adiante de você. Veja bem por

onde anda, e os seus passos serão seguros. Não se desvie nem para a direita nem para a

esquerda; afaste os seus pés da maldade”. Esses elementos são:

1) Olhe “para frente” – selecione seu alvo. Enxergue longe; como é que você quer o seu

posicionamento no futuro?

2) Mantenha o foco; o “olhar fixo” – Concentre-se nos seus objetivos;

3) Veja “por onde anda” – pondere os caminhos; tome pé de sua situação atual; avalie as

finanças e recursos; nunca gaste ou invista mais do que a renda, ou a capacidade de

captação; faça o orçamento prévio e reja-se rigidamente por ele; faça uma revisão de suas

práticas, se elas consomem mais do que entra;

4) Dê “passos seguros” – caminhe pelo percurso mais curto (“os teus caminhos sejam retos”);

firmemente rumo ao alvo;

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5) Não se desvie – Não permita que os atalhos - as coisas que não são essenciais ou aquelas

que são atraentes, mas não contribuem para o “core business” - o tirem do rumo correto;

6) Afaste-se da maldade – mantenha um caminhar ético, que agrada a Deus; preserve a

reputação sua e o testemunho de sua escola.

7) Saiba o Custo! Uma lição simples de Planejamento Financeiro: A Construção da Torre.

Vemos em Lucas 14:28-30, “Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se

assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? 29

Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a

virem zombem dele, 30 dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar”. Os

vs. 31-33 referem-se ao rei que sai à guerra e tem que planejar todos os aspectos e a

estratégia, para que mesmo sendo mais fraco, possa sair-se bem. Planejar financeiramente

faz parte da boa administração cristã. O Senhorio de Deus é sobre, absolutamente, todas as

coisas, inclusive sobre as riquezas e os recursos. O profeta Ageu escreveu que o Senhor

dos Exércitos disse: "minha é a prata e meu é o ouro" (Ageu 2.8). Desde os tempos de

Moisés havia a compreensão que "é Ele que te dá força para adquirires riquezas..."

(Deuteronômio 8.18). Rodolfo Garcia Montosa – Instituto Jetro.

Tenha consciência das limitações e concentre-se na esfera de atuação que Deus lhe deu. Se

gestor, na gestão da escola. Se professor, na gestão da sala de aula. Se coordenador, na

administração do segmento. Não se frustre nem frustre outros, tentando controlar o que não lhe

cabe. Isso só gerará ansiedade e desespero.

José Bernardo (Jetro), em um artigo: “Eliminando a Ansiedade na Administração”, traça um

paralelo dos nossos empreendimentos e responsabilidades, com a travessia dos discípulos no

barquinho, na Galileia:

Considere o barquinho no mar da Galileia como sua escola. Jesus está

dormindo na popa, longe do leme, e nos pediu para levá-lo no barco até o outro

lado do mar. Devemos usar nossas habilidades e nos concentrar em manejar a

âncora, as velas, o leme... Enfim, tudo que é administrável e Jesus espera que o

façamos. Mas nós não podemos administrar o vento e o mar. Durante a

tempestade, devemos confiar em Cristo para controlar o incontrolável, mas antes

e depois administraremos aquilo que pode ser administrado e assim chegaremos

ao objetivo.

Normalmente, esses seis aspectos são administráveis:

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Público – escolher com quem trabalhar (não é possível decidir pelas pessoas, nem

mudar os gostos delas);

Produto – ter diferenciais (não se pode controlar o governo, as leis, o clima);

Propaganda – controlar e torná-la eficaz (não se pode escolher seus concorrentes,

nem determinar o que eles têm de fazer);

Pessoal – treinamento, para obter maiores resultados (não se pode controlar os pais e

responsáveis);

Passo – é possível determinar a velocidade e definir os sistemas (não se pode controlar

a economia, mas, sim, agir para ser mais eficiente);

Preço – controlando os investimentos, compatibilizando com os benefícios (não se

pode controlar o mercado, mas sim, adequar os benefícios e diferenciais ao preço que

necessita cobrar). Faça o seu barco navegar!

Na carta de Tiago (4.13-16), vemos que ao planejar devemos ter consciência da nossa

fragilidade e que Deus detém o controle de tudo e de todos e está acima de nossas intenções e

planos. Se qualificarmos o nosso planejamento com o reconhecimento da sua soberania,

indicando que as coisas planejadas ocorrerão “se Deus quiser”, então podemos e devemos

planejar o que faremos e executaremos. “Faremos isto ou aquilo”, diz o texto, se Deus nos

conservar com vida. Podemos até ter a expectativa de resultados (“teremos lucro”), mas estes

advirão dele.

Deus se agrada quando planejamos, reconhecendo nossa dependência dele. Somos

“mordomos” (administradores) na Criação de Deus. O planejamento e a organização

começaram com Adão – antes do pecado, antes da Queda. Na escola, o planejamento tem de

ser muito mais abrangente do que o mero planejamento pedagógico – esse é essencial, mas

não é tudo. Devemos planejar todos os aspectos operacionais (quer da escola; quer das

nossas salas de aula). O cuidado com as finanças da escola é dever de cada colaborador.

Pode representar a diferença entre a sustentabilidade – e a continuidade de bênçãos para

muitos – e a descontinuidade – e o encerramento da nossa influência e testemunho. Que Deus

nos abençoe e nos ensine a planejar, sempre confiando n’Ele.