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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO LUCAS RISSETTI DELBIM AVALIAÇÃO DE OBESIDADE E SOBREPESO COMO ESTRATÉGIA DE DIAGNÓSTICO PARA RISCO OCUPACIONAL: um estudo com motoristas de ônibus SÃO JOÃO DA BOA VISTA 2012

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  • CENTRO UNIVERSITRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO

    LUCAS RISSETTI DELBIM

    AVALIAO DE OBESIDADE E SOBREPESO

    COMO ESTRATGIA DE DIAGNSTICO

    PARA RISCO OCUPACIONAL: um estudo com

    motoristas de nibus

    SO JOO DA BOA VISTA 2012

  • CENTRO UNIVERSITRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO

    LUCAS RISSETTI DELBIM

    AVALIAO DE OBESIDADE E SOBREPESO

    COMO ESTRATGIA DE DIAGNSTICO

    PARA RISCO OCUPACIONAL: um estudo com

    motoristas de nibus

    Dissertao apresentada ao Centro Universitrio das Faculdades Associadas de Ensino UNIFAE, como requisito parcial para obteno do ttulo de mestre em Desenvolvimento Sustentvel e Qualidade de Vida. Orientadora: Prof. Dr rica Passos Baciuk

    SO JOO DA BOA VISTA 2012

  • FICHA CATALOGRFICA

    Catalogao na publicao elaborada pela Bibliotecria Elosa H. Graf Fernandes, CRB 8/3779, Biblioteca do Centro Universitrio das Faculdades Associadas de Ensino FAE.

    Delbim, Lucas Rissetti

    D381a Avaliao de obesidade e sobrepeso como estratgia de diagnstico para risco ocupacional: um estudo com motoristas de nibus. Lucas Rissetti Delbim. So Joo da Boa Vista, SP: [sn], 2012.

    80p. il. Dissertao (mestrado) Centro Universitrio das Faculdades Associadas de Ensino FAE;

    Orientadora: Prof. Dr. rica Passos Baciuk.

    1.Qualidade de vida 2.Obesidade 3.Risco ocupacional. I Baciuk, rica Passos. II UNIFAE. III Ttulo

    CDU- 613.71

  • LUCAS RISSETTI DELBIM

    AVALIAO DE OBESIDADE E SOBREPESO COMO

    ESTRATGIA DE DIAGNSTICO PARA RISCO

    OCUPACIONAL: um estudo com motoristas de nibus

    Dissertao apresentada ao Centro Universitrio das Faculdades Associadas de Ensino FAE como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento Sustentvel e Qualidade de Vida.

    rea de concentrao: Qualidade de Vida

    Dissertao de mestrado defendida e aprovada em 05 de outubro de 2012, pela Banca Examinadora constituda pelos professores:

    _____________________________________ Prof.. Dra. rica Passos Baciuk

    (Orientadora UNIFAE So Joo da Boa Vista SP)

    ____________________________________________ Prof. Dr. Roberto Vilarta

    (UNICAMP Campinas - SP)

    ___________________________________________ Prof. Dra. Maria Helena Cirne de Toledo (UNIFAE So Joo da Boa Vista - SP)

    ___________________________________________ Prof. Dr. Marcolino Fernandes Neto

    (UNIFAE So Joo da Boa Vista - SP)

    SO JOO DA BOA VISTA - SP

    2012

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho ao meu pai que, apesar de no estar mais entre ns, sinto sua presena constante em cada um de meus passos.

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeo minha querida esposa Elenise pelo apoio constante e

    irrestrito em todos os momentos de minha vida e por compreender minha alienao nos

    momentos de escrita e reviso do presente trabalho.

    Agradeo imensamente minha orientadora professora rica Passos Baciuk pela

    mo estendida neste longo caminho sem a qual nada disso seria possvel.

    Agradeo tambm aos professores Marcolino e Christian pelas contribuies

    estatisticamente significantes e a querida professora Maria Helena por suas

    consideraes na qualificao deste trabalho e por todas as consideraes

    complementares ao longo destes anos.

    A todos os companheiros e professores do programa de mestrado do UNIFAE

    pela partilha de saberes, anseios, angstias e principalmente conquistas e alegrias.

    A todos os meus familiares que entenderam minha ausncia em reunies de

    famlia devido imerso nesta proposta.

    Agradeo e peo novamente auxlio aos espritos de luz que sempre me

    acompanham e protegem.

  • A Terra capaz de satisfazer as necessidades de todos os indivduos, mas no a ganncia de todos os indivduos.

    (Mahatma Gandhi)

  • AUTOBIOGRAFIA DO AUTOR

    Natural de Esprito Santo do Pinhal SP, nascido em 12 de junho de 1980.

    Licenciado e bacharel em Educao Fsica pela UNIFAE (So Joo da Boa Vista SP),

    pedagogo pela UNAR (Araras SP) especialista em Fisiologia do Exerccio e Geriatria

    pela Faculdade de Medicina da USP (So Paulo SP), especialista em Obesidade e

    Emagrecimento pela Universidade Veiga de Almeida (Rio de Janeiro RJ), especialista

    em Educao Especial e Incluso pela Universidade Nova Iguau (Rio de Janeiro RJ),

    especialista em Ambiente Organizacional, Sade e Ergonomia pela Escola Aberta do

    Brasil (Vitria ES), socorrista pela Cruz Vermelha Brasileira (So Paulo SP)

    apresenta sua dissertao de mestrado em Desenvolvimento Sustentvel e Qualidade de

    Vida.

    Profissionalmente atua como professor efetivo da rede municipal de Mogi Guau

    SP h dez anos, atua tambm como professor efetivo da rede estadual de educao

    (SP) h seis anos; professor do CEGEP (Centro Guauano de Educao Profissional

    Gov. Mrio Covas Mogi Guau SP) nas disciplinas de Ergonomia, Suporte

    Emergencial Vida, Gesto Ambiental e Meio Ambiente e Qualidade de Vida;

    professor da FMG (Faculdade Mogiana do Estado de So Paulo Mogi Guau SP)

    nas disciplinas de Metodologia do Futebol e Futsal e Recreao para Grupos

    Diferenciados; consultor da Escallato Consultoria Esportiva; consultor de empresas nas

    reas de sade ocupacional e qualidade de vida no trabalho; consultor esportivo da

    Estao Conhecimento (Fundao Vale Rio de Janeiro - RJ).

    Contatos pelo e-mail: [email protected]

  • RESUMO

    A obesidade reconhecida como um importante problema de sade pblica em

    todo o mundo e est fortemente associada a distrbios metablicos e hemodinmicos.

    Alguns autores consideram que o permetro de abdmen (PAb) o melhor preditor de

    risco cardiovascular associado composio corporal, outros j consideram o ndice de

    massa corporal (IMC) como fator principal para desenvolvimento destes riscos. O

    objetivo do presente estudo centrou-se na verificao da relao da obesidade e do

    sobrepeso com fatores de risco para doenas cardiovasculares em motoristas

    profissionais de nibus de um grupo empresarial. Trata-se de um estudo de campo

    descritivo, analtico e aplicado com delineamento transversal que contou com uma

    amostra de 786 motoristas profissionais de nibus, do sexo masculino, com mdia etria

    de 41,3 8,4 anos, dos quais foram coletadas medidas antropomtricas (peso, estatura e

    permetro de abdmen), medidas sorolgicas (glicemia de jejum) e medidas fisiolgicas

    (presso arterial sistlica - PAS e presso arterial diastlica - PAD). Os dados foram

    processados e analisados atravs dos softwares MS-Excel 2010 e SPSS 14.0. O nvel de

    significncia estatstica adotado foi de 5% (p

  • ABSTRACT

    Obesity is recognized as a major public health problem worldwide and is strongly

    associated with metabolic and hemodynamic disturbances. Some authors consider that

    the abdominal perimeter (PAb) is the best predictor of cardiovascular risk associated

    with body composition, others consider the body mass index (BMI) as the main factor

    for development of these risks. The aim of this study focused on verifying the

    relationship of obesity and overweight with risk factors for cardiovascular diseases in

    professional drivers of buses of a business group. This is a field study descriptive,

    analytical and applied cross-sectional which featured a sample of 786 professional

    drivers of buses, male, with a mean age of 41.3 8.4 years, which were collected

    anthropometric data (weight, height and abdominal girth), serologic measures (fasting

    glucose) and physiological measures (systolic blood pressure - SBP and diastolic blood

    pressure - DBP). Data were processed and analyzed using the software MS-Excel 2010

    and SPSS 14.0. The level of significance was 5% (p

  • SUMRIO

    1. INTRODUO ............................................................................................... 18

    1.1 Tema geral e foco do trabalho............................................................... 18

    1.2 Justificativa ............................................................................................. 19

    1.3 Perguntas problema ............................................................................... 22

    1.4 Objetivos ................................................................................................. 22

    1.4.1 Objetivo geral .............................................................................. 22

    1.4.2 Objetivos especficos ................................................................... 23

    1.5 Hipteses ................................................................................................. 23

    1.6 Contribuies esperadas ........................................................................ 24

    2. REFERENCIAL TERICO ...................................................................... 25

    2.1 Obesidade e sobrepeso: preocupaes contemporneas ..................... 25

    2.1.1 Distrbios metablicos associados ao excesso de peso corporal ......... 29

    2.1.2 Obesidade e fatores de risco para a doena cardiovascular ......... 34

    2.2 Sade, qualidade de vida e sustentabilidade ....................................... 36

    2.3 Antropometria na identificao de sobrepeso e obesidade ................ 40

    2.3.1 O IMC na determinao do estado nutricional da populao ...... 41

    3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS.......................................... 44

    3.1 Caracterizao e clculo amostral ........................................................ 44

    3.2 Delimitaes do estudo ........................................................................... 45

    3.3 Limitaes do estudo .............................................................................. 45

    3.4 Variveis de estudo ................................................................................ 45

    3.4.1 Variveis independentes: IMC e Permetro abdominal ............... 45

    3.4.1.1 IMC ................................................................................. 45

  • 3.4.1.1.1 Equipamento utilizado ........................................ 46

    3.4.1.2 Permetro abdominal (Pab) ............................................. 46

    3.4.1.2.1 Equipamento utilizado ........................................ 47

    3.4.2 Variveis dependentes ................................................................. 47

    3.4.2.1 Fatores de risco para doenas cardiovasculares .............. 47

    3.4.3 Varivel controle: idade ............................................................... 48

    3.5 Procedimentos de coleta dos dados ....................................................... 48

    3.6 Anlise dos dados ................................................................................... 48

    3.7 Aspectos ticos ........................................................................................ 50

    4. RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................ 51

    5. CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 67

    6. REFERNCIAS .............................................................................................. 68

    7. APNDICES..................................................................................................... 78

    7.1 Apndice 1 Termo De Consentimento Livre e Esclarecido ........................... 78

    7.2 Apndice 2 Ficha de Coleta de Dados ......................................................... 79

    8. ANEXOS ............................................................................................................ 80

    8.1 Parecer do Comit de tica em Pesquisa .................................................... 80

  • LISTA DE QUADROS E FIGURAS

    Quadro 1 Valores de glicemia de jejum para diagnstico de diabetes melitus ............ 30

    Quadro 2 Classificao da presso sangunea em adultos a partir de 18 anos ............. 32

    Quadro 3 Valores de referncia dos lipdeos para indivduos maiores de 21 anos ...... 34

    Quadro 4 Estudos relacionando composio corporal e riscos salutares................................ 35

    Figura 1 Delineamento da amostra estudada ................................................................ 44

    Figura 2 Correlao entre PAb e IMC .......................................................................... 55

    Figura 3 Frequncia de risco cardiovascular ................................................................ 58

    Figura 4 Comparao dos fatores de risco cardiovasculares em funo dos valores de

    observados de DP ............................................................................................................ 59

    Figura 5 Comportamento da varivel IMC por faixa etria ......................................... 59

    Figura 6 Comportamento da varivel PAb por faixa etria .......................................... 60

    Figura 7 Comportamento da varivel DP por faixa etria ............................................ 61

    Figura 8 Comportamento da varivel PAS por faixa etria.......................................... 61

    Figura 9 Comportamento da varivel PAD por faixa etria ......................................... 62

    Figura 10 Comportamento da varivel glicemia de jejum por faixa etria .................. 63

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Valores normativos de IMC para a populao adulta. ................................... 43

    Tabela 2 Valores mdios das variveis: idade, estatura, massa corporal, IMC, glicemia

    de jejum, PAS, PAD e PAb nos ncleos da empresa objeto deste estudo ...................... 52

    Tabela 3 Resultados da ANOVA para o IMC .............................................................. 53

    Tabela 4 Distribuio de frequncia para o IMC ......................................................... 54

    Tabela 5 ndices de correlao entre IMC e DP com as demais variveis ................... 56

    Tabela 6 Caracterizao do risco cardiovascular para a amostra do estudo ................. 57

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ADA American Diabetes Association

    AVE Acidente Vascular Enceflico

    CEPAL Comisso Econmica da Amrica Latina e Caribe

    DCC Doena Cardaca Coronariana

    DATASUS Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade

    DCNT Doena Crnica No Transmissvel

    DM Diabetes Mellitus

    FIBGE Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    HDL High Density Lipoprotein

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    IMC ndice de Massa Corporal

    INAN Instituto Nacional de Alimentao e Nutrio

    IOTF International Obesity Task Force

    IPEA Instituto de Poltica Econmica Aplicada

    JNC Joint National Committee

    LDL Low Density Lipoprotein

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    MS-EXCEL Microsoft Excel

    NCHS National Center for Health Statistics

    OMS Organizao Mundial da Sade

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PAb Permetro de Abdmen

    PAD Presso Arterial Diastlica

  • PAS Presso Arterial Sistlica

    PCMSO Programa de Controle Mdico da Sade Ocupacional

    PIB Produto Interno Bruto

    PNSN Pesquisa Nacional de Sade e Nutrio

    POF Pesquisa de Oramento Familiar

    SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia

    SBD Sociedade Brasileira de Diabetes

    SPSS Statistical Package for the Social Science

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    QV Qualidade de Vida

    SUS Sistema nico de Sade

    WHO World Health Organization

  • 1. INTRODUO

    1.1 Tema geral e foco do trabalho

    Est amplamente demonstrado na literatura cientfica que a obesidade apresenta

    grande associao com inmeros males para a sade, tais como: hipertenso arterial

    sistmica (HAS), doena cardaca coronariana, diabetes mellitus tipo 2 (DM),

    dislipidemias, doena pulmonar obstrutiva, steo-artrite, lombalgias, certos tipos de

    cncer, entre outros (FREEDMAN et al. 2001; FUJIMOTO et al. 1999; HEYWARD &

    STOLARCKZYK, 2000; LEAN, HAN & SEIDELL, 1998; REXRODE et al. 1998;

    NCHS, 1999). Nos ltimos 30 anos, as prevalncias de sobrepeso e obesidade em

    populaes adultas vm crescendo no s nos pases desenvolvidos como tambm nos

    pases em desenvolvimento (PEA & BACALLAO, 2000). Doro et al. (2006) afirmam

    que paralelamente ao decrscimo de atividade fsica no cotidiano do homem, constata-

    se crescente prevalncia de obesidade.

    Segundo a World Health Organization (WHO) (2003), trabalhadores braais,

    carteiros e profissionais que mantm, durante sua jornada de trabalho, altos nveis de

    atividade fsica, sofrem menor incidncia de obesidade ao confrontar com aqueles que

    passam a maior parte da jornada diria em condies de sedentarismo, ou rotinas

    hipocinticas, como os profissionais administrativos, motoristas e correlatos.

    No Brasil, a incidncia de sobrepeso e obesidade, nos ltimos vinte anos, tem

    aumentado progressivamente, alm da morbimortalidade por doenas e agravos no

    transmissveis (BARBOSA & MONTEIRO, 2006). Segundo dados da WHO (2012) e

    IBGE (2010), o Brasil apresentou em 2008 52,8% dos seus 189.612.814 habitantes

    classificados como sobrepeso ou obesos, considerando o ndice de Massa Corporal

    (IMC) maior ou igual a 25,0 Kg/m2, perfazendo um total de 100.115.565 indivduos

    com fatores de risco ou com predisposio para aquisio de fatores de risco sade

    cardiovascular.

    A Organizao Mundial da Sade (OMS) desenvolveu um Plano de Aes de

    2008 a 2013 contendo estratgias globais destinadas preveno e controle das doenas

    crnicas no transmissveis (DCNT), objetivando ajudar milhes de indivduos que

  • sofrem os efeitos tanto no quesito longevidade quanto em relao a complicaes

    secundrias. Este Plano de Aes aspira criar convenes internacionais para controle

    do tabaco, parmetros nutricionais e estmulo a atividades fsicas e sade. De certa

    forma, trata-se de um instrumento norteador (roadmap) no estabelecimento de

    iniciativas direcionadas sobrevida, preveno e gerenciamento das DCNT (WHO,

    2012).

    O presente estudo se props a verificar a composio corporal de motoristas

    profissionais e avaliar a associao com demais fatores de risco para o desenvolvimento

    de doenas cardiovasculares, possibilitando um diagnstico de risco e uma extrapolao

    populacional, devido ao grau de representatividade amostral atingido. Trata-se,

    portanto, da elaborao de uma base de dados que poder guiar futuras intervenes

    voltadas promoo da sade e qualidade de vida do trabalhador, por reduzir a

    possibilidade de intercorrncias clnicas e acidentes.

    A importncia da base de dados resultante do estudo proposto centra-se na

    escassez de valores normativos e de segurana para o grupo profissional objeto do

    mesmo. Outro aspecto de relevante importncia a elevada incidncia de

    intercorrncias clnicas em indivduos com rotinas hipocinticas, alteraes em turnos

    de trabalho e dieta inadequada, como no caso de motoristas profissionais de nibus.

    Segundo a WHO (2012), obesidade e sobrepeso, assim como as complicaes no

    transmissveis a eles associadas, so satisfatoriamente passveis de preveno. Suportes

    ambientais, informao e conscientizao de comunidades auxiliam a mudana de

    comportamento. Para tanto se torna necessria uma investigao diagnstica que sirva

    como instrumento para o planejamento de programas de interveno junto s

    comunidades, conduzindo a prticas dietticas adequadas e estimulando a participao

    em programas de atividade fsica regular, combatendo desta forma, transtornos

    relacionados ao peso corporal.

    1.2 Justificativa

    O presente trabalho buscou verificar as associaes entre IMC e o PAb com

    alguns fatores de risco para doenas cardiovasculares de motoristas profissionais de

  • nibus de um grupo empresarial que possui suas unidades (ncleos) espalhadas pela

    capital paulista e por cidades do interior do estado de So Paulo e Minas Gerais.

    Damaso (2003) afirma que a obesidade pode representar um problema de ordem

    epidemiolgica no restrita a naes desenvolvidas. No objetivo do presente estudo

    determinar o motivo real dos ndices averiguados, porm, Escrivo et al. (2000)

    afirmam que menos de 5% dos casos de obesidade so devidos a sndromes e alteraes

    orgnicas, ou seja, mais de 95% dos casos de obesidade advm de hbitos inadequados

    de vida como o sedentarismo, alteraes do ritmo circadiano e descontrole alimentar. As

    constataes acima descritas direcionam os indivduos a uma reduzida sobrevida e uma

    reduo expressiva na qualidade de vida, repercutindo de forma negativa em suas

    relaes familiares, grau de dependncia cada vez mais pronunciados, principalmente

    dos servios de sade, incluindo o consumo contnuo de frmacos.

    A escolha da populao a ser estudada justifica-se pela alta ocorrncia de

    transtornos relacionados composio corporal em profissionais que passam a maior

    parte de sua jornada realizando esforos fsicos muito prximos aos basais, denominada

    de rotina hipocintica. Desta forma, a base de dados resultante do presente estudo pode

    subsidiar futuras propostas de interveno. A escolha do IMC e do PAb como variveis

    independentes justifica-se pelo seu alto valor preditivo (KUBENA et al., 1991; GUS et

    al., 1998; TORRE et al., 2010; REZENDE et al., 2010; CARVALHO et al., 2007) e

    simples coleta dos dados necessrios ao seu clculo.

    Os motoristas profissionais esto entre os grupos de indivduos que apresentam

    maior predisposio para desenvolver sobrepeso e obesidade (FRENCH et al, 2007).

    Mesmo tendo conscincia da importncia de uma dieta balanceada e da prtica de

    atividade fsica, as oportunidades para seguirem esta conduta so muito escassas na

    maioria dos ambientes de trabalho. De um modo geral, no h condies ambientais

    favorveis para o desenvolvimento de atividades motoras durante a jornada de trabalho,

    considerando a insero de pausas laborais com foco na sade do trabalhador.

    Apesar desta realidade, h uma lacuna acerca de dados mais consistentes, com

    amostragens mais representativas deste grupo de profissionais, que apresentem

    informaes acerca da sade cardiovascular dos mesmos.

  • Os motoristas, alm de serem responsveis por suas vidas quando esto ao

    volante, podem afetar a integridade fsica de todos os passageiros que com eles viajam.

    Zhu et al. (2006) conduziram um trabalho de pesquisa avaliando 22.107 motoristas

    envolvidos em acidentes no trnsito e correlacionaram a sobrevida dos mesmos aos

    valores de IMC, os pesquisadores concluram que h risco aumentado de morte por

    colises de veculos entre homens obesos.

    Um diagnstico adequado pode conduzir as intervenes de maneira mais

    eficiente. Assim, tanto os resultados averiguados, como sua base de dados podero ser

    utilizados futuramente pelo departamento mdico do grupo empresarial, objeto do

    presente estudo e demais rgos interessados na insero de prticas preventivas, a fim

    de instrumentalizar propostas voltadas sade e qualidade de vida deste e de outros

    grupos profissionais, uma vez que muitos so responsveis pelo sustento prprio e de

    seus familiares. Sobremaneira, a construo da sustentabilidade deve obrigatoriamente

    passar pela garantia de parmetros de sade adequados, desta forma, cuidados voltados

    preveno primria de transtornos salutares figura-se importante capitulo na

    contemplao da longevidade e qualidade de vida dos indivduos.

    Foca-se a sustentabilidade e a contemplao do Triple Bottom Line (Sachs, 2002)

    do presente trabalho nos seguintes aspectos:

    1 - Ambiental: como um parmetro de mudana paradigmtica da cultura

    contempornea que necessita de revises sobre como as organizaes mantm suas

    estruturas fsicas e raramente dispe de opes para que seus colaboradores

    desenvolvam, dentro de sua jornada de trabalho, aes de combate ao sedentarismo e

    cuidados alimentares do cotidiano. Alm de revises sobre a dinmica dos servios de

    sade e conscientizao da populao de como utiliz-los, com aes que rumam em

    direo reduo na dependncia medicamentosa e nas intercorrncias clnicas

    associadas a indesejveis e potencialmente perigosos, ndices de composio corporal.

    2 - Social: a presente pesquisa se prope a instrumentalizar campanhas voltadas

    promoo em sade dos trabalhadores reduzindo desta forma as limitaes laborais que,

    comprometem os oramentos familiares, devido no s impossibilidade laborativa,

    mas tambm ao nus que determinadas condies salutares demandam.

  • 3 - Econmico: na vertente econmica fato que quanto maior o risco

    cardiovascular associado, maior o grau de dependncia dos sistemas pblicos e privados

    de sade, gerando elevado nus e impossibilitando o redirecionamento de recursos para

    o tratamento de condies clnicas mais severas e no passveis de preveno.

    Considerando o segundo setor (empresa privada), a reduo de custos com afastamentos

    mdicos e absentesmo pode representar fator de considervel importncia tambm no

    resultado lquido das empresas (Bottom Line).

    Segundo dados fornecidos pelo grupo empresarial objeto do presente estudo, o

    ndice de absentesmo mdico dos motoristas em 2011 atingiu a marca de 0,91% (sendo

    a meta estipulada para o perodo de 0,73%). Desta forma possvel identificar

    alteraes econmicas da empresa devido ao elevado ndice (em relao meta) de

    absentesmo. Segundo dados do departamento mdico, cerca de 18% dos atestados

    apresentados faziam referncias a fatores de risco cardiovasculares e suas complicaes,

    em especial surtos hipertensivos.

    O interesse em estudar o proposto tema calca-se no potencial risco associado aos

    motoristas profissionais que apresentam rotinas laborais de intensa exigncia

    psicolgica e fsica, responsabilizados pela segurana dos pedestres e usurios, longas

    jornadas de trabalho e estado de ateno permanente e estressante, e que, alm disso,

    so submetidos a condies de trabalho, repouso e alimentao frequentemente

    inadequadas, sendo potenciais geradores de acidentes, aumentando sobremaneira o risco

    pelo nmero de pessoas envolvidas (SANTOS e MENDES, 1999). Estudos que

    determinem a prevalncia de obesidade so importantes, uma vez que a mesma est

    diretamente relacionada com maior morbimortalidade (POLANCZYK et al., 1991).

    1.3 Perguntas problema

    Qual a frequncia de obesidade e sobrepeso apresentada por motoristas

    profissionais de nibus de um grupo empresarial? Qual a relao entre os valores de

    IMC e os demais indicadores de transtornos cardiovasculares e qual o

    comprometimento da sade cardiovascular que os mesmos apresentam segundo os

    indicadores selecionados?

  • 1.4 Objetivos

    1.4.1 Objetivo geral

    Verificar a relao da obesidade e do sobrepeso com fatores de risco para doenas

    cardiovasculares e metablicas em motoristas profissionais de nibus de um grupo

    empresarial.

    1.4.2 Objetivos especficos

    1. Investigar a frequncia de obesidade e sobrepeso em motoristas

    profissionais de nibus de um grupo empresarial.

    2. Investigar a relao do IMC com presso arterial sistlica (PAS) e presso

    arterial diastlica (PAD), permetro de abdmen (PAb) e glicemia de

    jejum dos avaliados.

    3. Caracterizar o risco cardiovascular da populao estudada.

    4. Instrumentalizar futuras intervenes em sade e qualidade de vida, em

    populaes que apresentem estilo de vida semelhante ao dos profissionais

    avaliados.

    1.5 Hipteses

    1. A composio corporal dos funcionrios apresentar diferenas

    significativas entre os ncleos (cidades) avaliados.

    2. Ser elevada a prevalncia de obesidade e sobrepeso entre os avaliados.

    3. Haver correlao positiva entre o IMC e a PAS.

    4. No haver correlao entre o IMC e PAD.

    5. Haver correlao positiva entre o IMC e PAb.

  • 6. Haver correlao positiva entre o IMC e glicemia de jejum.

    7. Haver correlao positiva entre o PAb e glicemia de jejum.

    8. Haver correlao positiva entre o PAb e PAS.

    9. Sero significativos os ndices de elevados nveis pressricos entre os

    avaliados.

    10. Sero significativos os ndices elevados de glicemia de jejum entre os

    avaliados.

    1.6 Contribuies esperadas

    O presente estudo busca estabelecer uma linha de referncia em relao a alguns

    indicadores de sade cardiovascular entre motoristas profissionais de nibus, que

    apresentam uma rotina laboral sedentria com fatores complicadores da qualidade de

    vida, como: rotatividade de turnos de trabalho, alimentao inadequada e eventos de

    estresse gerados pela situao do trfego contemporneo. Espera-se, atravs da

    mensurao e comparao de variveis antropomtricas, fisiolgicas e metablicas,

    estabelecer um parmetro de sade cardiovascular do grupo profissional estudado, com

    a possibilidade de proposituras para intervenes que possam no s implementar a

    sade e a qualidade de vida dos indivduos que a elas se submetam, mas, tambm

    reduo no risco de acidentes de trnsito gerados partir de intercorrncias causadas

    por condies cardiovasculares de risco, com a possibilidade de extrapolao para

    outras populaes que, via de regra apresentem rotinas laborais semelhantes

    populao deste estudo.

    A presente pesquisa prope tambm a apresentao de dados a partir de uma

    amostra representativa de motoristas profissionais, preenchendo de forma parcial uma

    lacuna em relao a dados normativos e de segurana referentes ao grupo profissional

    em questo. A base de dados antropomtricos resultante do estudo poder ser utilizada

    como comparativa em outras propostas transversais com outras populaes dado o alto

    grau de reprodutibilidade dos procedimentos de avaliao propostos no escopo deste

    trabalho.

  • O presente trabalho aspira apresentar de forma informativa a condio de risco

    cardiovascular a cada um dos avaliados de maneira a suplantar a impercia do senso

    comum e, por meio de ferramentas cientificamente validadas, com elevado valor

    preditivo, neste caso o IMC e demais variveis antropomtricas utilizadas, propor

    alternativas para a melhora da condio de sade cardiovascular dos indivduos

    submetidos s rotinas de avaliao, com a possibilidade de extrapolao para outras

    populaes.

    2. REFERENCIAL TERICO

    2.1 Obesidade e sobrepeso: preocupaes contemporneas

    Obesidade, nediez ou pimelose (tecnicamente, do grego pimel = gordura eose =

    processo mrbido) uma doena na qual a reserva de gordura aumenta at o ponto em

    que a sua quantidade acarrete prejuzos sade do indivduo, elevando os ndices de

    morbidade e mortalidade (WHO, 1998; DAMASO, 2003).

    Ebbeling et al (2002) afirmam que a obesidade uma doena multi-sistmica com

    consequncias potenciais devastadoras. No obstante a esta informao, so fartas as

    publicaes cientficas que demonstram a importncia do diagnstico e tratamento da

    obesidade que se trata de uma sndrome plurimetablica de gnese multifatorial e

    acometimento severo (AMIGO, 2005). Para Sichieri e Moura (2009), o aumento da

    prevalncia da obesidade e suas consequncias adversas, como diabetes mellitus,

    doena cardiovascular e alguns tipos de cncer, bem como os custos associados ao seu

    tratamento, fazem com que fatores associados a essa epidemia crescente sejam

    recorrentemente escrutinados. Tal situao semelhante em pases desenvolvidos e no

    Brasil.

    O sobrepeso e as flutuaes de ganho de peso na vida adulta tambm esto

    relacionados ao aumento do risco de mortalidade e de desenvolvimento de DCNT

    (COELHO et al., 2009).

  • Durante as duas ltimas dcadas a prevalncia de sobrepeso e obesidade na

    populao adulta tem aumentado exponencialmente em nveis mundiais (EBBELING et

    al., 2002).

    Em pases desenvolvidos e em desenvolvimento, a obesidade considerada um

    grande problema de sade pblica, sendo assim visto, pela OMS, como uma pandemia

    (WHO, 1998).

    Segundo pesquisas conduzidas pelo National Center for Health Statistics (NCHS)

    desde 1960, o sobrepeso e a obesidade so padres de comum ocorrncia na populao

    norte americana. Em 1998 a World Health Organization sugeriu internacionalmente a

    criao de uma fora tarefa contra a obesidade, e o United States Institute of Health

    publicou um guia sobre preveno e tratamento de sobrepeso e obesidade (AMIGO,

    2005).

    importante salientar que o Brasil, assim como diversos pases da Amrica

    Latina, vive nas ltimas duas dcadas uma rpida transio demogrfica,

    epidemiolgica e nutricional. O ponto que mais chama a ateno o marcante aumento

    na prevalncia de obesidade nos diversos subgrupos populacionais de praticamente toda

    a Amrica Latina, onde previses mostram que, at 2025, o Brasil ser considerado o

    quinto pas com maior prevalncia de obesidade em sua populao (BOUCHARD,

    2000; KAC e VELASQUEZ-MELNDEZ, 2003; SALA, 2003; RIQUE et al. 2002).

    Coelho et al. (2009) lembram que, as prevalncias de excesso de peso e obesidade

    aumentaram substancialmente nas duas ltimas dcadas.

    No Brasil, os resultados da Pesquisa Nacional de Sade e Nutrio (PNSN),

    realizada em 1989, j evidenciavam um aumento da obesidade e reduo dos ndices de

    desnutrio, particularmente em regies economicamente mais desenvolvidas

    (MINISTRIO DA SADE, 2005). Dados da Pesquisa de Oramento Familiar (POF),

    realizada pelo IBGE em 2002/03, confirmaram essa tendncia, com a obesidade

    acometendo 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres (IBGE, 2010). Esse fato merece

    destaque, pois o excesso de peso localizado principalmente na regio abdominal est

    diretamente associado s alteraes no perfil lipdico, ao aumento da presso arterial e

    hiperinsulinemia, fatores esses que aumentam o risco para diabetes tipo 2 e doenas

    cardiovasculares (OLIVEIRA; MELLO e CINTRA, 2004).

  • Os dois maiores tipos de deposio de gorduras atualmente reconhecidos so o

    excesso de gordura subcutnea tronco-abdominal (conhecida como androide) e excesso

    de gordura gluteofemoral (conhecido como ginoide). A obesidade androide com

    gordura acumulada principalmente na regio abdominal a mais comum entre homens,

    sendo o envelhecimento um importante fator para o desenvolvimento da obesidade

    visceral, apresentando maior correlao com a resistncia insulnica. A gordura

    abdominal tambm est altamente correlacionada com doena arterial coronria, HAS e

    dislipidemias (BARTNESS; BAMSHAD, 1998; PNICAUD et al., 2000).

    Na obesidade ginoide, os depsitos de gorduras so criados ao redor das coxas e

    ndegas, sendo esta mais comum em mulheres, ocorrendo como reserva energtica para

    suportar as demandas da gravidez e lactao. Este tipo de obesidade no leva a prejuzos

    no metabolismo de glicose se comparados com a obesidade androide. No entanto, a

    combinao dos dois tipos de obesidade, tambm vista em sua maioria nas mulheres,

    acarreta maior risco de anormalidade na glicemia de jejum, assim como nos lipdeos e

    na presso arterial (DIETZ, 1998).

    Atualmente, a obesidade, assim como os outros componentes acima descritos,

    no mais vista como um problema que acomete apenas os pases desenvolvidos, mas

    tambm populaes menos favorecidas, e com isso, necessria, alm de mudana no

    estilo de vida, uma diversidade maior de intervenes e apoio governamental com

    implementao de aes claras de preveno e combate a estas enfermidades (KAC e

    VELASQUEZ-MELNDEZ, 2003).

    O diagnstico de distrbios da composio corporal e fatores correlatos de

    fundamental importncia para estabelecimento de polticas pblicas de interveno,

    tanto profilticas quanto nos tratamentos para desvios j instalados (THE WORLD

    HEALTH REPORT, 2002).

    Aps uma metanlise envolvendo seis estudos transversais com amostras

    representativas de pases diferentes (Brasil, Gr Bretanha, Hong Kong, Holanda,

    Singapura e Estados Unidos), Cole et al. (2000) afirmaram que os pontos de corte para

    sobrepeso e obesidade baseados em estudos populacionais mundiais podem ser

    aplicados para determinar em adultos, crianas e adolescentes, o aumento dos riscos de

    morbidade relacionados com a obesidade.

  • Khawali et al. (2012) pontuam que, h quatro dcadas um dos maiores problemas

    de sade pblica do Brasil era a desnutrio, porm, foi substitudo pelo excesso de

    peso corporal acometendo 40,6 % da populao adulta.

    Os estudos sobre prevalncia de sobrepeso e obesidade no Brasil so escassos.

    Normalmente os dados disponveis a esse respeito so aqueles obtidos na Pesquisa

    Nacional sobre Sade e Nutrio (PNSN), um estudo transversal, de base domiciliar,

    realizado de junho a setembro de 1989 pelo Instituto Nacional de Alimentao e

    Nutrio (INAN), em conjunto com a Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica (FIBGE) e Instituto de Poltica Econmica Aplicada (IPEA).

    Em particular, no grupo profissional objeto da presente proposta de estudo, h

    carncia de resultados provenientes de levantamentos com delineamentos mais

    abrangentes e amostras mais representativas.

    Segundo Heyward e Stolarczyk (2000), as quantidades dos diferentes

    componentes corporais sofrem alteraes durante toda a vida dos indivduos, o que

    torna a composio corporal uma caracterstica extremamente dinmica, alterando-se

    em funo de aspectos fisiolgicos, como crescimento e desenvolvimento, e aspectos

    ambientais, como estado nutricional, profisso e nvel de atividade fsica.

    Apesar do reconhecimento de algumas anormalidades metablicas desde 1923

    (KYLIN, 1923), foi Reaven (1988) quem criou o termo Sndrome X, hoje conhecida

    principalmente como Sndrome Metablica. Esta sndrome caracterizada como um

    transtorno complexo, definido por um conjunto de fatores de riscos cardiovasculares,

    normalmente ligado ao depsito central de gordura e resistncia insulina (SBC,

    2007; CAVAGIONI et al., 2008). Independente de grupos ou entidades que a

    caracterizem, os fatores de risco adotados para sua definio so basicamente os

    mesmos, sendo eles: obesidade (principalmente obesidade abdominal), HAS, distrbios

    no metabolismo da glicose e hipertrigliceridemia e/ou baixos nveis de HDL colesterol

    (STEEMBURGO et. al, 2007).

  • Para Coelho et al. (2009) um elevado ganho de peso na vida adulta tem sido

    associado ao aumento da incidncia de cncer de mama, doena cardiovascular na meia-

    idade e em fases mais tardias da vida, e sndrome metablica.

    Hipertenso arterial sistmica e o DM so DCNT de alta prevalncia, cujos

    fatores de risco e complicaes representam hoje a maior carga de doenas em todo o

    mundo (BARRETO, 2004). Contudo so patologias passveis de preveno.

    Dentre as doenas cardiovasculares, o acidente vascular cerebral e a doena

    coronariana aguda, so responsveis por 65% dos bitos na populao adulta; 40% das

    aposentadorias precoces, segundo o Instituto de Seguridade Social e por 14% das

    internaes na faixa etria de 30 a 69 anos (MINISTRIO DA SADE, 2005).

    A Poltica Nacional de Ateno Integral Hipertenso Arterial e ao Diabetes

    objetiva articular e integrar aes nos diferentes nveis de complexidade e nos setores

    pblicos e privados para reduzir os fatores de risco e a morbimortalidade por essas

    doenas e suas complicaes, priorizando a promoo de hbitos saudveis de vida,

    preveno e diagnstico precoce, e ateno de qualidade na ateno bsica

    (MINISTRIO DA SADE, 2005).

    O Ministrio da Sade estabeleceu as diretrizes e metas do Plano de

    Reorganizao da Ateno Hipertenso Arterial e ao Diabetes Mellitus no Sistema

    nico de Sade, definindo prioridades e estabelecendo como diretrizes principais a

    atualizao dos profissionais da rede bsica, a garantia do diagnstico e a vinculao do

    paciente s unidades de sade para tratamento e acompanhamento, com o objetivo de

    promover a reestruturao e a ampliao do atendimento resolutivo e de qualidade para

    os portadores dessas patologias na rede pblica de servios de sade (DUARTE, 2005).

    A preveno e o controle da hipertenso arterial e do DM so aes prioritrias

    na Ateno Bsica. As duas patologias referenciadas so consequncia, muitas vezes, do

    excesso de peso corporal. Vrios estudos tm registrado que o PAb aumentado e

    indicadores de distribuio da gordura corporal descompensados, esto associados a

    ocorrncias de doenas metablicas e cardiovasculares, dentre elas a HAS

    (HASSELMAN et al., 2008).

  • A gentica, o sedentarismo, o tabagismo, o ganho ponderal progressivo e uma

    dieta rica em carboidratos refinados, gorduras saturadas e pobre em fibras alimentares,

    contribuem para um alto ndice de mortalidade e morbidade (PITSAVOS et al., 2003).

    2.1.1 Distrbios metablicos associados ao excesso de peso corporal

    O DM uma doena crnica, grave, de evoluo lenta e progressiva, que acomete

    milhares de pessoas em todo mundo, necessitando de tratamento intensivo e orientao

    mdica adequada, atingindo um grande nmero de pessoas em todos os nveis sociais

    (VILARTA et al., 2004).

    O DM tipo 2 uma doena que na maioria dos casos, est instalada muito antes

    de ser devidamente diagnosticada, sendo considerada uma sndrome de etiologia

    mltipla (FERRANINI, 1998; SBD, 2005).

    Os fatores de risco para o DM tipo 2 envolvem componentes genticos e

    ambientais, sendo eles a histria familiar de diabetes, idade avanada, obesidade

    (particularmente a abdominal), homeostase deficiente da glicose, raa ou etnia. Sendo

    assim, a obesidade combinada com a predisposio gentica so fatores cruciais para o

    desenvolvimento do diabetes tipo 2 (ADA, 2006).

    A hiperglicemia crnica do DM ligada a danos e falhas (em longo prazo) de

    rgos, especialmente os olhos, rins, nervos, corao e vasos sanguneos (ADA, 2006).

    Dentre as complicaes mais expressivas encontram-se a retinopatia, com potencial

    para perda da viso, nefropatia, podendo levar a falha renal, neuropatia perifrica, com

    risco de ulceraes nos ps e amputaes, e neuropatia autonmica, causando sintomas

    gastrointestinais, cardiovasculares, geniturinrios e disfuno sexual (ADA, 2006).

    As estatsticas de morbimortalidade apontam que o DM tipo 2 constitui a quinta

    indicao de hospitalizao de brasileiros, estando tambm entre as dez principais

    causas de morte no Brasil (DATASUS, 1998). Dados da Organizao Mundial da Sade

    (WHO, 2012) indicam que 9,6% da populao brasileira apresenta valores indesejveis

    (superiores a 110 mg/dL) de glicemia de jejum, sugerindo um nmero importante de

    indivduos com predisposio para desenvolvimento ou em quadro diabtico.

  • Os valores normativos para diagnstico de diabetes, propostos pela SBD (2011)

    encontram-se apresentados no Quadro 1.

    QUADRO 1: Valores de glicemia de jejum para diagnstico de diabetes melitus

    Condio Glicemia de Jejum Aps carga de glicose

    Normal Entre 70 e 99 mg/dl Inferior a 140 mg/dl

    Intolerncia 100 a 125 mg/dl -

    Diabetes Igual ou acima de 126 mg/dl -

    FONTE: (SBD, 2011) Adaptado pelo autor

    A HAS outro distrbio metablico associado obesidade. Em 1978, a WHO

    definiu HAS como uma doena caracterizada pelo aumento crnico da presso arterial

    sistlica (PAS) e/ou diastlica (PAD). Esta conceituao implica a considerao de

    fatores como o diagnstico da doena, que depende de medidas de presso arterial,

    apresentando uma variabilidade, sendo esta considerada elevada em relao a um

    determinado padro de normalidade (WHO, 1998).

    A presso arterial tem relao direta com o risco de morte e morbidez. No

    entanto, os limites de presso arterial normais so considerados arbitrrios, devendo-se

    ento considerar na avaliao do paciente a presena de fatores de risco, leses de

    rgo-alvo, assim como doenas associadas. A preciso do diagnstico de HAS se d

    puramente aos cuidados nas medidas da presso arterial. Com isso, diminuem-se

    diagnsticos errneos tanto de hipertenso arterial como de normotenso e suas

    consequncias sade do indivduo e no custo social que isto envolve (SBC, 2007).

    A deposio de gordura na regio abdominal caracteriza a obesidade abdominal

    visceral, que o mais grave fator de risco cardiovascular e de distrbio na homeostase

    glicose-insulina do que a obesidade generalizada. Esta associada HAS,

    dislipidemias, fibrinlise, acelerao da progresso da aterosclerose e fatores

    psicossociais (MARTINS e MARINHO, 2003).

    O peso corporal um determinante da presso sangunea na grande maioria dos

    grupos tnicos em todas as idades. O risco de desenvolvimento de HAS aumentado

  • em at seis vezes em pessoas com sobrepeso, se comparadas s populaes com peso

    dentro da faixa de normalidade, levando-se em conta o IMC do indivduo (JNC, 1997).

    A reduo de trs mmHg na PAS, de acordo com a JNC (1997), diminuiria a

    mortalidade por acidente vascular enceflico (AVE) em 8%. Com isso, as pessoas em

    alto risco devem ser muito estimuladas a adotar estilos de vida mais saudveis, sendo

    essencial tanto para a preveno quanto para o controle da hipertenso (JOHNSON et

    al, 2002).

    O Quadro 2 apresenta os valores que permitem classificar indivduos adultos

    acima de 18 anos, de acordo com os nveis de presso arterial, verificado em milmetros

    de mercrio (mmHg):

    QUADRO 2: Classificao da presso sangunea (mmHg) em adultos a partir de 18 anos

    Classificao PAS (mmHg) PAD (mmHg)

    tima

  • A dislipidemia um conceito recente na histria da medicina, derivado dos

    estudos sobre a ligao entre os nveis de gorduras e elementos de sua composio

    presentes no sangue, com a ocorrncia de doenas cardiovasculares e metablicas. Essa

    relao hoje bem conhecida e os nveis elevados dessas substncias antecedem a

    ocorrncia das doenas em muitos anos. So alteraes do metabolismo das gorduras,

    repercutindo sobre os nveis de triglicerdeos, LDL colesterol e HDL colesterol, e as

    concentraes de seus diferentes componentes presentes na circulao sangunea

    (FAGHERAZZI et al., 2008).

    O colesterol uma substncia necessria ao nosso organismo, mas quando suas

    taxas no sangue se elevam, pode tornar-se um fator de risco para a sade. Est presente

    na formao da membrana das clulas do corpo e em alguns hormnios, alm de servir

    como uma capa protetora para os nervos. O colesterol produzido pelo organismo

    humano e tambm ingerido atravs de alimentos gordurosos. O colesterol e outras

    gorduras no podem dissolver-se no sangue, onde a parte no utilizada pelos tecidos

    deve ser eliminada pelo fgado com a ajuda do HDL colesterol (SILVA, 2007).

    As dislipidemias so fatores determinantes para o desenvolvimento de doenas

    cardiovasculares, estando classificadas entre os mais importantes fatores de risco para

    doena cardiovascular aterosclertica, juntamente com a HAS, a obesidade e o diabetes

    mellitus (CARVALHO et al., 2007). Esses fatores de risco no so exclusivos de

    adultos. Cada vez mais surgem em crianas e adolescentes e estima-se que atinjam

    38,5% das crianas no mundo. A herana gentica, o sexo e a idade tm grande

    importncia para o desenvolvimento das dislipidemias (SCHERR, 2007).

    Existem definies mais detalhadas para o seu diagnstico, tendo sua

    classificao laboratorial e etiolgica (SBC, 2007). Na classificao laboratorial

    recomendado que seja realizada em indivduos em dieta livre e sem uso de medicao

    hipolipemiantes por pelo menos quatro semanas. Existe nesta classificao:

    hipercolesterolemia isolada (aumento do colesterol total e/ou LDL-colesterol);

    hipertrigliceridemia isolada (aumento dos triglicerdeos); hiperlipidemia mista (aumento

    do colesterol total e dos triglicerdeos); diminuio isolada do HDL-colesterol ou

    associada ao aumento dos triglicerdeos ou LDL-colesterol (SBC, 2007; SBD, 2011).

    J na classificao etiolgica, o clnico precisa identificar as possveis causas da

    dislipidemia, podendo ser classificada em primrias (de origem gentica) e secundrias,

  • que so causadas por outras doenas ou medicamentos (hipotireoidismo, diabetes

    mellitus, sndrome nefrtica, insuficincia renal crnica, obesidade, alcoolismo, ictercia

    obstrutiva, uso de doses elevadas de diurticos, betabloqueadores, corticosteroides e

    anabolizantes) (CARVALHO et al., 2007).

    Em um estudo brasileiro, realizado em nove capitais, envolvendo 8.045

    indivduos com idades entre 25 e 44 anos, foi encontrada mdia de colesterol srico

    total de 18339,8 mg/dl. Os valores mais elevados foram encontrados no sexo feminino

    e na faixa etria acima dos 35 anos, com colesterol total elevado encontrado em 8,8%

    dos indivduos (GUIMARES; LIMA e MOTA, 1998).

    Os valores de referncia dados pela SBC dos lpides (2007) para indivduos

    maiores de vinte anos de idade esto identificados no Quadro 3:

    QUADRO 3: Valores de referncia dos lipdeos para indivduos maiores de 21 anos

    timo Desejvel Limtrofe Alto Muito Alto Baixo

    Colesterol

    total (mg/dl)

  • A obesidade tem sido reconhecida como fator de risco independente para doena

    cardaca coronariana (DCC) (MANSON et al., 1992). O estudo de Framinghan

    (Framingham Heart Study, 1948/1971) considerou a obesidade como o terceiro mais

    importante fator preditivo de DCC (CARVALHO et al., 2007), ficando atrs s das

    alteraes sricas de lpides e da idade.

    Cole et al. (2000) lembram que alteraes metablicas, tambm consideradas

    como fatores de risco para DCC, como a dislipidemia, a HAS e o aumento da insulina

    plasmtica, esto associados obesidade.

    A hiperinsulinemia, bastante frequente em adolescentes e adultos obesos, um

    potencial e independente fator de risco para a doena cardiovascular (GOMES, 2006).

    Segundo o mesmo autor, estudos cientficos tm demonstrados nveis alterados de

    leptina, um hormnio secretado pelos adipcitos, e de homocistena, um aminocido

    no essencial que tem sido apontado por alguns autores como fator independente de

    doena cardiovascular, em adio resistncia insulnica, que podem estar presentes em

    indivduos com altos valores de IMC (NEVES et al., 2004).

    Fisberg (1995) afirma que a hiper-homocistena tem sido associada com

    desenvolvimento da aterosclerose em pacientes obesos. Porm, o estudo conduzido por

    Faria et al. (2009) no encontrou correlao entre homocistena e as variveis de

    composio corporal.

    Esta contraposio apresentada corrobora a necessidade de utilizao de

    metodologias complementares de avaliaes para construo de diagnsticos mais

    slidos, e acompanhamentos longitudinais mais bem delineados.

    Cavagioni et al. (2008) avaliaram 258 motoristas profissionais de transporte de

    cargas, do sexo masculino, que trafegavam pela rodovia federal BR-116, trecho paulista

    (Rgis Bitencourt), utilizando a mesma metodologia proposta por este estudo para

    clculo do IMC, verificaram que 82% eram obesos ou sobrepesos. Neste mesmo estudo,

    destaca-se a prevalncia de HAS (37%) e elevada porcentagem de alteraes no

    colesterol e triglicrides (33% e 38% respectivamente).

    Desta forma, conclui-se que a obesidade e o excesso de peso corporal so fatores

    que contribuem para o surgimento de doenas cardiovasculares e, em alguns casos a

  • reduo dos nveis de qualidade de vida pela elevao nos nveis de dependncia de

    frmacos e demais tratamentos paliativos.

    Cabe ressaltar que a promoo da sade, por meio de aes educativas, dentro ou

    fora das empresas, pode sensibilizar a populao para a auto responsabilidade, adoo

    de um estilo de vida mais saudvel, reduo dos fatores de risco, reduo dos sintomas

    de doenas crnicas e consequentemente melhoria da qualidade de vida (LIMONGI-

    FRANA, 2005).

    O Quadro 4 apresenta sinteticamente alguns estudos publicados relacionando a

    composio corporal dos indivduos e riscos salutares.

    QUADRO 4: Estudos relacionados composio corporal e riscos salutares

    Estudos Amostra Principais Resultados

    Poeta et al. (2010)

    Rev. Assoc. Med Bras

    50 crianas obesas e 81 crianas no grupo controle

    Crianas obesas apresentaram nveis de qualidade de vida estatisticamente inferiores ao grupo controle.

    Zhu et al. (2006)

    American Journal of Public Health

    22.107 vtimas de colises no trnsito

    Correlao positiva entre IMC e risco de morte entre os motoristas do sexo masculino.

    Cavagioniet al. (2008)

    Arq Bras Endocrinol Metab

    258 motoristas profissionais

    Presena expressiva de fatores de risco cardiovasculares e sndrome metablica na populao estudada.

    Rezende et al. (2010)

    Rev. Bras Med Esporte

    98 homens adultos

    O IMC apresenta alta correlao (r2=0,884) para a determinao de obesidade.

    French et al. (2007)

    International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity UK

    1.092 trabalhadores do trnsito Apresentaram prevalncia de 56% de obesidade, seguindo a metodologia do IMC proposta pela OMS.

    FONTE: Construdo pelo autor

    2.2 Sade, qualidade de vida e sustentabilidade

  • A expanso econmica do perodo ps Segunda Guerra Mundial trouxe a

    concepo de que o desenvolvimento era medido pelo grau de industrializao das

    economias nacionais. No entanto, em alguns pases a industrializao no resultou no

    desenvolvimento esperado, em especial nos aspectos de educao e sade. Este fato

    lanou desconfiana sobre a percepo de crescimento econmico como sinnimo de

    desenvolvimento, aspecto que passou a ser questionado por economistas do mundo na

    dcada de 60, com destaque aos estudos realizados pela Comisso Econmica da

    Amrica Latina e Caribe (CEPAL) e pela Organizao das Naes Unidas ONU

    (GONALVES, 2005; GVCES, 2008).

    Ao mesmo tempo fortaleceram-se duas abordagens mais amplas sobre

    desenvolvimento e, por quase duas dcadas, foi intenso o debate sobre a necessidade de

    se compreender tal processo para alm do Produto Interno Bruto per capita (PIB per

    capita) (VEIGA, 2002). A equivalncia entre crescimento econmico e

    desenvolvimento s poderia sair de cena quando surgisse um indicador alternativo ao

    PIB per capita. E foi por isso que, em 1987, o Programa das Naes Unidas para o

    Desenvolvimento (PNUD) organizou, com imenso esforo intelectual coletivo, a

    criao do ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), que combina a renda per capita

    com os indicadores de sade, expectativa de vida e de educao (PNUD, s/d). Porm

    faz-se necessrio a manuteno de indicadores voltados ao desenvolvimento e no s ao

    alcance dos mesmos. As diretrizes principais para se contemplar o desenvolvimento

    sustentvel encontram-se em dois documentos consagrados: o Relatrio Brundtland e a

    Agenda 21 (MMA, 2009; SANTOS, 2011).

    Uma comisso da ONU foi criada em 1983, aps uma avaliao dos 10 anos da

    Conferncia de Estocolmo, com o objetivo de promover audincias em todo o mundo e

    produzir um resultado formal das discusses, esta comisso foi chefiada pela primeira

    ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland. No documento intitulado Relatrio de

    Brundtland, apresentado em 1987, se prope a sustentabilidade como o atendimento

    das necessidades do presente sem comprometimento das possibilidades das geraes

    futuras atenderem suas prprias necessidades. Basicamente focando questes

    relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento (GRN, 1996).

  • J a Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a

    construo de sociedades sustentveis, em diferentes bases geogrficas, que concilia

    mtodos de proteo ambiental, justia social e eficincia econmica (MMA, 2009).

    A sade, pensada na perspectiva de desenvolvimento humano e sustentvel,

    considera os indivduos em sua complexidade e incorpora a dimenso ambiental, adoo

    de um paradigma que considera no s a esperana de vida ao nascer, mas tambm o

    direito de vida em um planeta saudvel e de forma saudvel (LOPES, 1999). nessa

    perspectiva que se discute hoje a sade pblica.

    A OMS definiu a sade pblica como a cincia e a arte de promover, proteger e

    recuperar a sade por meio de medidas de alcance coletivo e de motivao da

    populao (OMS, 2006).

    A sade pblica deve ter como objetivo o estudo e a busca de solues para

    problemas que levam ao agravo da sade e da qualidade de vida da populao,

    considerando, para tanto, os sistemas sociocultural, ambiental e econmico (PHILIPPI

    & MALHEIROS, 2005), no obstante a possibilidade de reduo da incidncia de

    molstias passveis de preveno por intermdio de prticas cotidianas elementares.

    O movimento de transformao do conceito da sade coletiva, dentro da sade

    pblica, une-se sustentabilidade de forma clara. O trabalho terico e emprico no

    campo da sade coletiva, desenvolvido em instituies acadmicas, deu suporte a um

    movimento poltico iniciado em meados dos anos 70, em torno da crise da sade, no

    contexto das lutas pela democratizao do pas. Esse movimento difundiu-se em centros

    de estudos, associaes profissionais, sindicatos de trabalhadores, organizaes

    comunitrias, religiosas e partidos polticos, contribuindo para a formulao e execuo

    de um conjunto de mudanas identificadas como a Reforma Sanitria Brasileira

    (BERMUDEZ et al, 2008). As proposies desse movimento incluem uma profunda

    modificao na concepo de sade e seu entendimento como direito de cidadania e

    dever do Estado. Postula mudanas no modelo gerencial, organizativo e operativo dos

    servios de sade, na formao e capacitao de pessoal no setor, no desenvolvimento

    cientfico e tecnolgico nesta rea e, principalmente, nos nveis de conscincia sanitria

    e de participao crtica e criativa dos diversos atores sociais no processo de

  • reorientao das polticas econmicas e sociais no pas, tendo em vista a melhoria dos

    nveis de vida e a reduo das desigualdades sociais. (ISC, 2009).

    Deparando-se com os conceitos acima referendados de desenvolvimento

    sustentvel e as definies de sade, observa-se a inter-relao dos fundamentos e sua

    similaridade em propsitos. A sade, ou a condio de vida, na sua mais profunda

    interpretao, situa-se no cerne deste conceito, como princpio, meio ou fim, no

    processo do entendimento do desenvolvimento sustentvel de forma no dissociada da

    qualidade de vida dos indivduos (BANCO MUNDIAL, 1998; PHILIPPI &

    MALHEIROS, 2005).

    Quando se discute qualidade de vida (QV), deve-se lembrar de sua conceituao

    como "a percepo do individuo de sua posio na vida, no contexto da cultura e

    sistema de valores nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas,

    padres e preocupaes" (WHO, 1998).

    A VIII Conferncia Nacional de Sade Pblica, realizada em 1986, marco

    importante no Brasil para a discusso da relao sade/doena, ampliou este conceito,

    incluindo na definio de sade, o acesso a condies de vida e trabalho, bem como o

    acesso igualitrio dos servios de promoo, proteo e recuperao de sade,

    colocando como uma das condies fundamentais a integridade da ateno sade e

    participao social (PHILIPPI, 2005). Esses conceitos tm orientado as pesquisas

    atravs da aplicao dos instrumentos que considerem a percepo do indivduo frente

    s suas demandas e relaes cotidianas.

    A sade considerada como um componente da qualidade de vida, pois fornece

    informaes a respeito da interferncia da condio clnica na dinmica de vida dos

    indivduos. Esta avaliao deveria ser considerada em indivduos com excesso de peso e

    utilizada como argumento para o devido tratamento (RAVENS-SIEBERER et al, 2001).

    Ainda no mbito da QV um dos fatores amplamente investigado a atividade

    fsica como veculo essencial de transio da fase adulta para a fase idosa de maneira

    saudvel, j que ela pode melhorar as funes orgnicas, garantir maior independncia

  • pessoal e ter efeito benfico no controle, tratamento e preveno de DCNT

    (MATSUDO & MATSUDO, 1993).

    A preveno primria implica em modificaes de hbitos humanos, tais como o

    consumo de produtos e padres de energia e transporte, uma transformao que muitos

    especialistas acreditam que traria incontveis benefcios para a sade e para o meio

    ambiente (VORMITTAG, 2008). A sade, inserida no ncleo do modelo

    desenvolvimentista atual e com a perspectiva de qualidade de vida para todos, deve

    seguir ao lado das necessidades e oportunidades deste novo caminho a ser trilhado.

    Entretanto, como discutido anteriormente, os elevados ndices de obesidade e sobrepeso

    entre a populao nas diversas faixas etrias, representa emblematicamente na no

    sustentabilidade do modo de vida da sociedade contempornea brasileira (ETHOS,

    2010), evidenciando a necessidade de aes resolutivas de diversos atores sociais.

    Fundamentado no princpio constitucional de que a sade um direito de todos

    e um dever do Estado, o Sistema nico de Sade (SUS) tem como doutrina a

    universalidade, a equidade e a integralidade, tendo como diretrizes a hierarquizao e

    regionalizao, a descentralizao, o controle social, a participao complementar do

    setor privado e a poltica de recursos humanos (MS, 2005). Neste conceito, como

    aponta Buss (2000), agrega-se ao papel da comunidade a responsabilidade inegvel do

    Estado na promoo da sade de indivduos e populaes, porm, de igual

    importncia e incontestvel relevncia a responsabilizao mltipla que tambm deve

    ser atribuda ao segundo setor, haja vista que, os indivduos passam grande parte de suas

    vidas trabalhando e possibilitando a continuidade (sustentabilidade) das organizaes.

    S h desenvolvimento quando os benefcios do crescimento servem

    ampliao das capacidades humanas, entendidas como o que as pessoas podem ser ou

    fazer na vida. Ter uma vida longa, saudvel e digna, ser instrudo, ter acesso aos

    recursos bsicos necessrios e ser capaz de participar da vida da comunidade so as

    capacidades humanas mais elementares. Na ausncia dessas quatro, estaro

    indisponveis todas as outras possveis escolhas, e muitas oportunidades na vida

    permanecero inacessveis. Centra-se neste ponto a proposta do presente trabalho que

    emana da possibilidade de se pensar a sustentabilidade, ou melhor, procedimentos

    sustentveis, enquanto parmetros indissociveis para a promoo em sade.

  • Pela insuficiente estrutura de atendimento primrio disponvel nos rgos

    pblicos de sade, torna-se evidente a necessidade de campanhas preventivas e

    educacionais partindo de corporaes privadas e do terceiro setor, visto que, como cita

    Vilarta (2007), a falta de conhecimento da populao, assim como a falta de informao

    por parte de programas pblicos de sade, faz com que as DCNT tomem propores

    alarmantes. Alm da disponibilizao de informao, faz-se necessria uma articulao

    efetiva entre organizao e indivduo no direcionamento de campanhas em promoo

    sade.

    2.3 A antropometria na identificao de sobrepeso e obesidade

    A antropometria, que consiste na avaliao das dimenses fsicas e da composio

    global do corpo humano, tem se revelado como mtodo isolado mais utilizado para o

    diagnstico nutricional pela facilidade de utilizao, baixo custo e inocuidade

    (SIGULEM, DEVINCENZI & LESSA, 2000; PEIXOTO et al., 2007).

    Os ndices antropomtricos como peso/estatura (P/E), peso/idade (P/I),

    estatura/idade (E/I), ndice de massa corporal (IMC), ndice ponderal (IP), entre outros,

    so normalmente utilizados para identificar o estado nutricional utilizando-se valores

    normativos estabelecidos a partir de estudos populacionais. O ndice IMC e a medida do

    permetro de abdmen (PAb) tm sido amplamente utilizados na avaliao do excesso

    de peso e da obesidade abdominal. Estas so medidas recomendadas pela World Health

    Organization e pelo National Heart, Lung, and Blood Institute of the National Institute

    of Health (REZENDE et al., 2010).

    ndices antropomtricos distintos, em particular o IMC para a classificao de

    sobrepeso e obesidade, tm sido utilizados para avaliar a associao entre excesso de

    peso e morbidade cardiovascular (HASSELMAN et al., 2008).

    Os mtodos antropomtricos so aplicveis para grandes amostras e podem

    proporcionar estimativas nacionais e dados para anlises de mudanas seculares

    (COSTA, 2003). Para o mesmo autor, a estimativa da composio corporal, por meio de

    medidas antropomtricas, utiliza dados de relativa simplicidade de obteno, como

    massa corporal, estatura, permetros e dimetros sseos, e espessuras de dobras

  • cutneas. Nesse sentido, os indicadores antropomtricos de avaliao da obesidade esto

    sendo utilizados com muita frequncia na avaliao populacional e clnica por muitos

    profissionais para a deteco de risco cardiovascular. Isto em virtude de apresentar

    relao estreita com vrios indicadores de risco metablico (VILART, 2007).

    De forma complementar Zhu et al. (2004) endossam a utilizao de tcnicas

    combinadas, como por exemplo IMC e PAb, na identificao de fatores de risco para

    doenas cardiovasculares.

    2.3.1 O IMC na determinao do estado nutricional da populao adulta

    Criado no ano de 1833 pelo polmata Lambert Quetelet para avaliao de

    superfcie corporal, o ndice de Quetelet, tambm conhecido como ndice de Massa

    Corporal calculado dividindo o valor do peso corporal do indivduo (expresso em

    quilogramas) pelo quadrado da medida da estatura (expressa em metros); a unidade de

    medida resultante, portanto, Kg/m2 (COSTA, 2003).

    O IMC um dos indicadores antropomtricos mais utilizados na identificao de

    indivduos em risco nutricional. Isso ocorre em virtude da sua facilidade de aplicao,

    seu baixo custo e pequena variao entre avaliadores (SAMPAIO e FIGUEIREDO,

    2005).

    Rezende et al. (2010) afirmam que o IMC largamente utilizado para

    determinao dos padres de adiposidade na populao por apresentar uma correlao

    muito interessante (r2=0,866), portanto aproximadamente 87% de correlao, com

    nveis de gordura corporal verificados por outras metodologias de avaliao. Como

    afirmam Torre et al. (2010), o IMC tem sido escolhido como um mtodo substituto de

    avaliao da gordura corporal por apresentar uma correlao satisfatria com o

    contedo total de gordura corporal, sendo tambm um indicador de morbidade e

    mortalidade, mesmo nos nveis de sobrepeso. Porm, Tarastchuk et al. (2008) constatam

    que embora o IMC seja uma medida simples, conveniente e at agora vlida para estudo

    da obesidade, medidas de obesidade central, principalmente permetro abdominal e

    relao cintura-quadril alteradas, tm se mostrado mais relacionadas tanto com risco

    coronariano elevado, quanto com infarto agudo do miocrdio. Conclui-se, portanto, que

  • o IMC um indicador fidedigno a ser utilizado, mas necessita de avaliaes

    complementares para diagnsticos mais complexos e posicionamentos clnicos mais

    acurados.

    Como afirmam Rezende et al. (2010), as categorias de IMC de adultos no so

    diferenciadas segundo o sexo, alm de abranger uma ampla faixa etria (20 a 59 anos).

    Um fator que limita a aplicao do IMC que ele no capaz de fornecer

    informaes relacionadas com a composio corporal. Pessoas com elevada quantidade

    de massa muscular podem apresentar elevado IMC, mesmo que a gordura corporal no

    seja excessiva. Porm, como j apresentado, h maior prevalncia entre a populao de

    excesso de gordura corporal quando comparada quantidade de massa magra. Ainda

    assim, apesar do IMC ser uma excelente medida de obesidade, ele no considera a

    variao na distribuio da gordura corporal. Desta forma ferramentas auxiliares

    combinadas, como o permetro de abdmen, so de inegvel valia (LEAN et al., 1995;

    CABRERA et al., 2005).

    A Organizao Mundial da Sade (OMS) recomenda para indivduos adultos,

    uma faixa de IMC de 18,5 a 24,9 kg/m2. A Tabela 1 apresenta valores normativos de

    IMC para a populao adulta e sugere que se evitem ganhos de peso maiores do que 5

    kg ao longo da vida adulta (COELHO et al., 2009). Os referidos indicadores

    apresentam-se como uma das metodologias para acompanhamento longitudinal das

    populaes mais empregadas em todo mundo, pela sua gil operacionalizao e

    importante correlao com nveis de composio corporal (REZENDE et al. 2010;

    TORRE et al. 2010).

    TABELA 1: Valores normativos de IMC para a populao adulta

    IMC ndice de Massa Corporal (Kg/m2) DIAGNSTICO

    Abaixo de 18,5 Abaixo do Peso Adequado

    De 18,6 a 24,9 Eutrfico (Peso Adequado)

    De 25,0 a 29,9 Sobrepeso

    De 30,0 a 34,9 Obesidade Grau I

    De 35,0 a 39,9 Obesidade Grau II

  • Acima de 40,0 Obesidade Grau III

    FONTE: WHO, 2012 Adaptado pelo autor

  • 3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    A classificao quanto ao tipo de pesquisa foi baseada na taxionomia de Vergara

    (2005). Trata-se de uma pesquisa de campo descritiva, analtica e aplicada com

    delineamento transversal, utilizando fontes bibliogrficas, documentais e com a base de

    anlise quantitativa.

    3.1 Caracterizao e clculo amostral

    Para o desenvolvimento do estudo foram avaliados motoristas profissionais de

    nibus do quadro ativo de uma empresa especializada em transporte de passageiros que

    possui suas garagens (ncleos) distribudas entre o interior do estado de So Paulo e

    Minas Gerais. Todos os motoristas avaliados foram do sexo masculino.

    O nmero total de motoristas profissionais (na data de coleta) que integram o

    quadro tcnico de profissionais do trfego da empresa, objeto do presente estudo, era de

    1035 indivduos. Segundo clculo amostral conduzido, considerando uma populao

    total de 1035 indivduos, com nvel de confiabilidade de 95% e intervalo de confiana

    1,8 tem-se como resultado uma amostragem igual a 786 indivduos.

    A amostra considerada para a presente proposta de estudo foi obtida subtraindo do

    total de profissionais aqueles que no foram considerados elegveis para o estudo

    segundo os critrios de excluso ou descontinuidade. A Figura 1 apresenta o

    delineamento da amostra estudada:

    FIGURA 1: Delineamento da amostra estudada Fonte: Elaborada pelo autor para fins de interpretao

    1035 indivduos

    Amostra do Estudo (X) X=1035 - (A+B)

    Excludos (A)

    Perdas (B)

    X = 786 indivduos

    Nvel de confiabilidade = 95% Intervalo de confiana = 1,8

  • Como critrios de excluso foram considerados: estar afastado (licena mdica) e

    possuir mais de 59,9 anos de idade. Foram consideradas perdas aqueles indivduos que

    no assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apndice 1)

    demonstrando desta forma a no aceitao dos termos propostos pelo presente estudo.

    3.2 - Delimitaes do estudo

    Participaram do estudo apenas os motoristas que estavam em atividade

    profissional no perodo de realizao das coletas das variveis

    antropomtricas (realizadas nos meses de maro, abril e maio de 2012).

    Todas as medidas antropomtricas foram realizadas pelo autor do estudo

    para que no houvesse influncia de diferenas entre avaliadores na coleta

    dos dados.

    3.3 - Limitaes do estudo

    Trata-se de um estudo de corte transversal, sem pretenses de

    acompanhamento longitudinal e esteve sujeito aceitao dos

    profissionais mediante assinatura de TCLE e atendimentos aos critrios

    de excluso propostos e j apresentados.

    Os indivduos avaliados foram comunicados da realizao do estudo no

    momento da coleta dos dados (pois se trata de um procedimento de rotina

    do departamento mdico da empresa objeto do presente estudo), no

    sendo possvel a realizao de nenhum tipo de cuidado pr coleta,

    reduzindo desta forma a possibilidade de vis.

    O estudo apresenta homogeneidade da amostra do ponto de vista da

    atividade profissional, portanto um fator que deve ser considerado nas

    anlises e inferncias propostas pelos resultados obtidos.

    3.4 Variveis de estudo

    3.4.1 Variveis independentes: IMC e Permetro Abdominal.

    3.4.1.1 IMC

  • O IMC obtido dividindo-se a massa corporal em quilogramas pelo quadrado da

    estatura em metros (kg/m2) (COSTA, 2003).

    Estatura: A estatura foi verificada, em centmetros (cm), seguindo padronizao

    proposta por Gordon et al. (1988). O avaliado deve estar descalo ou com meias

    finas e o mnimo possvel de roupas para que a posio do corpo possa ser vista.

    Ele deve ficar em posio anatmica, sobre a base do estadimetro, formando

    um ngulo reto com a borda vertical do aparelho. A massa do avaliado deve

    estar distribuda em ambos os ps e a cabea posicionada no Plano Horizontal de

    Frankfurt. O equipamento utilizado para medir a estatura dos avaliados foi um

    estadimetro da marca Kawee com preciso de 1 mm. Este equipamento foi

    criado especificamente para este fim e apresenta confiabilidade certificada para

    tal procedimento.

    Massa corporal: Esta varivel foi medida, em quilogramas (Kg), segundo a

    metodologia proposta por Gordon et al. (1988). O avaliado deve estar em p, de

    costas para a escala da balana, com afastamento lateral dos ps, estando a

    plataforma abaixo dos mesmos. O avaliado deve usar o mnimo de roupa

    possvel e a medida registrada com preciso de 100 g. O equipamento utilizado

    para a medio da massa corporal foi uma balana antropomtrica da marca

    Toledo com preciso de 100 g e capacidade mxima de 200 Kg, aferida e

    calibrada, garantindo confiabilidade para a realizao de tal procedimento.

    3.4.1.1.1 - Equipamento utilizado

    O clculo do IMC foi realizado com o auxlio de uma planilha eletrnica, do

    software MS-Excel 2010, desenvolvida para este estudo e alimentada manualmente.

    O IMC foi classificado segundo os valores normativos propostos pela OMS

    (WHO, 1998) em: abaixo do peso, eutrfico, sobrepeso e obeso, de acordo com a

    Tabela 1.

    3.4.1.2 Permetro de Abdmen (PAb)

    A medida do PAb foi expressa em centmetros (cm) e coletada segundo a

    metodologia proposta por Gordon et al. (1988), a saber: o indivduo deve estar de p

    com o abdome relaxado, braos estendidos ao longo do corpo, a fita mtrica foi

  • colocada no ponto mdio entre a crista ilaca e o ltimo arco costal, sem comprimir os

    tecidos. Para classificao da distribuio de gordura central foram utilizados os pontos

    de corte propostos pelo ACSM (2003), sendo os valores menores: que 102 cm

    considerados sem risco cardiovascular associado, 102 cm incio de risco cardiovascular

    associado e acima de 102 cm risco cardiovascular associado presente.

    3.4.1.2.1 - Equipamento utilizado

    Foi utilizada uma trena antropomtrica inelstica da marca Sanny com 200 cm de

    extenso e preciso de 1 mm, equipamento concebido para este fim.

    3.4.2 Variveis dependentes: Fatores de risco para doenas cardiovasculares (PAS, PAD e glicemia de jejum).

    3.4.2.1 Fatores de risco para doenas cardiovasculares

    As variveis relacionadas aos fatores de risco para doenas cardiovasculares

    definidas no presente estudo so PAS, PAD e glicemia de jejum.

    A verificao de riscos para doenas foi obtida atravs dos registros dos

    pronturios mdicos de cada funcionrio, realizadas periodicamente.

    Presso arterial sistmica Foram consideradas as medianas dos valores

    registrados nos pronturios para PAS e PAD das trs ltimas medidas. A opo

    pelas medianas justifica-se pela influncia que as mdias recebem dos valores

    extremos da distribuio. As medidas de presso arterial foram coletadas por

    profissionais da rea da sade utilizando equipamentos especficos e validados

    para tal procedimento (esfigmomanmetros aneroides), estes valores foram

    expressos em milmetros de mercrio (mmHg).

    Valores de glicemia de jejum Foram considerados os valores de glicemia de

    jejum medidos em exame sorolgico conduzido por laboratrios credenciados.

    Estes valores foram expressos em miligramas por decilitro de sangue (mg/dL).

    Considera-se a glicemia de jejum como indicador metablico para o diagnstico

    de diabetes ou intolerncia glicmica (SBD, 2011).

  • 3.4.3 Varivel controle: idade

    O clculo da idade foi realizado com o auxlio de uma planilha eletrnica, do

    software MS-Excel 2010, desenvolvida para este estudo e alimentada manualmente.

    Considerou-se a data de nascimento do indivduo e gerou-se o valor da idade

    considerando a data da realizao da coleta dos dados antropomtricos.

    3.5 Procedimentos de coleta dos dados

    Os dados antropomtricos foram coletados nas datas dos exames mdicos

    peridicos durante os meses de maro, abril e maio do ano de 2012, parte integrante do

    Programa de Controle Mdico da Sade Ocupacional (PCMSO) da empresa. Foram

    coletados nas dependncias da empresa. As medidas foram realizadas em ambiente

    adequado e os participantes do estudo foram avaliados de forma individual e privativa.

    Os funcionrios foram encaminhados sala de avaliao por ordem de chegada

    sem prvio agendamento. As variveis antropomtricas foram coletadas segundo

    descrio em tpico especfico. As duas variveis (massa corporal e estatura) foram

    digitadas em planilha eletrnica (ficha de coleta de dados Apndice 2) e o clculo do

    IMC foi realizado pelo software MS Excel 2010. Os dados foram migrados para uma

    base que foi utilizada para realizao das anlises estatsticas, bem como as informaes

    sobre a PAS e a PAD, glicemia de jejum, PAb e data de nascimento.

    Todas as variveis antropomtricas coletadas foram medidas pelo mesmo

    avaliador (o autor deste estudo), minimizando desta forma, os erros (variaes) de

    coleta.

    3.6 Anlise dos dados

    As fichas foram revisadas e corrigidas quanto ao seu preenchimento (digitao) e

    qualidade de informao, confrontando-se com registros dos dados dos pronturios

    mdicos. A partir das informaes contidas nas fichas utilizadas para coleta de dados

  • (Apndice 2), foi elaborada uma base de dados atravs do software MS-Excel 2010. Os

    dados foram digitados e, aps a digitao, submetidos a uma limpeza e testes de

    consistncia para assegurar a legitimidade das informaes a serem analisadas.

    Foi utilizada a anlise descritiva unidimensional por meio de mdia aritmtica,

    desvio padro e coeficiente de variao, seguindo as diretrizes para clculo propostas

    por Toledo e Ovalle (1985) e Doria Filho (1999), para determinao de valores

    populacionais, e valores absolutos para os resultados individuais. Todos os clculos e

    grficos foram gerados a partir das ferramentas disponveis no software MS-Excel 2010.

    Os ndices de composio corporal foram calculados por meio dos valores

    percentuais de indivduos em cada condio (abaixo do peso, peso adequado, sobrepeso

    e obesidade), conforme classificao da WHO (1998).

    Os valores normativos para confrontao esto apresentados na Tabela 1.

    A determinao dos fatores de risco para doenas cardiovasculares (variveis

    dependentes) foi conduzida atravs de anlise das variveis independentes (quando estas

    apresentaram escores indesejados) e a frequncia de ocorrncia de nveis indesejados

    das variveis dependentes.

    A ANOVA (anlise de varincia) foi utilizada para verificar se houve ou no

    diferenas significativas (sistemticas) entre os ncleos (cidades) em relao varivel

    IMC. O nvel de significncia estatstica estabelecido foi de 5% (p

  • 3.7 Aspectos ticos

    Na realizao desta pesquisa foram cumpridos os princpios enunciados na

    Declarao de Helsinque de 1964 (WILLIAMS, 2008) e da Resoluo 196/96 do

    Conselho Nacional de Sade (BIOTICA, 1996).

    No houve riscos para os participantes deste estudo. Os indivduos que

    apresentaram alteraes significativamente pertinentes sua prpria sade foram

    informados sobre tal ocorrncia e devidamente orientados pelo responsvel do estudo.

    Os procedimentos de coleta de dados foram rigorosamente cumpridos de acordo com as

    orientaes e determinaes do CEP (Comit de tica em Pesquisa) do UNIFAE.

    Foi e ser preservada a identificao dos participantes da pesquisa, assim como

    no houve nus aos mesmos.

    Independentemente dos resultados apresentados os participantes do estudo

    receberam informaes sobre sua condio de composio corporal (laudo individual

    impresso), no entanto no sofreram nem sofrero nenhum tipo de tratamento

    diferenciado por parte da empresa objeto do presente estudo.

  • 4. RESULTADOS E DISCUSSO

    Os resultados foram obtidos a partir de uma amostra de 786 motoristas, dividida

    em 13 ncleos (cidades) do interior e capital do estado de So Paulo e interior do estado

    de Minas Gerais. Amostra que representa nvel de confiabilidade de 95% e intervalo de

    confiana de 1,8 de uma populao composta por 1035 indivduos.

    A anlise dos dados e a extrapolao das concluses devem considerar as

    caractersticas da populao estudada.

    As variveis idade, estatura, massa, IMC, glicemia de jejum, PAS, PAD e PAb

    so de costumeira mensurao nas rotinas dos exames mdicos peridicos, tanto pela

    gil operacionalizao das coletas como pelo elevado valor preditivo (KUBENA et al.,

    1991; GUS et al., 1998; TORRE et al., 2010; REZENDE et al., 2010), constituindo um

    importante fator norteador de intervenes.

    Na Tabela 2 podem-se observar os valores mdios e desvio padro das variveis

    consideradas para cada um dos ncleos em estudo.

    O ncleo 4 apresentou a maior mdia de idade (45,35 8,01 anos) j o ncleo 13

    apresentou a menor mdia etria (38,89 7,73 anos). A diferena entre os dois ncleos

    (maior e menor ndice etrio) conferiu um intervalo de 6,46 anos, confirmando a

    homogeneidade do grupo estudado.

    Em relao varivel IMC o ncleo 1 foi o que apresentou maior valor mdio

    (29,14 2,81 Kg/m2) e o ncleo com menor valor mdio para esta varivel foi o ncleo

    12 (26,33 4,21 Kg/m2). O intervalo calculado de 2,81 Kg/m2. Em relao aos valores

    normativos propostos para a referida varivel, no h elevado risco populacional na

    avaliao do IMC, pois o ncleo que apresentou maior ndice mdio ficou abaixo de

    30,0 Kg/m2, valor considerado pela OMS como incio do risco cardiovascular

    relacionado composio corporal (WHO, 1998).

    Considerando a varivel glicemia de jejum o ncleo 9 apresentou maior ndice

    mdio com escore em 99,92 12,70 mg/dL. J o ncleo 7 apresentou o menor valor

    mdio para a mesma varivel (84,90 18,17 mg/dL). A diferena dos extremos

    apresentou valor de intervalo igual a 15,02 mg/dL. O valor mximo verificado (mdia

    do ncleo 9) encontra-se ligeiramente acima do valor de corte para glicemia de jejum

  • que deve ser inferior a 99 mg/dL (SBD, 2011 e ADA, 2006), fato que justifica um alerta

    ao grupo que apresentou tal ndice, pois aes preventivas no incio da alterao dos

    indicadores podem apresentar-se de forma mais eficiente (SBD, 2011).

    TABELA 2: Valores mdios das variveis idade, estatura, massa corporal, IMC,

    glicemia de jejum, PAS, PAD e PAb nos ncleos da empresa objeto deste estudo.

    Ncleo

    s

    Idade

    (anos)

    Estatura

    (cm)

    Massa

    (Kg)

    IMC

    (Kg/m2)

    Glicemia

    (mg/dL)

    PAS

    (mmHg)

    PAD

    (mmHg)

    PAb

    (cm)

    1 41,588,1

    2

    173,486,7

    9

    87,5716,9

    4

    29,145,2

    5 96,1522,9

    126,6111,3

    5 81,538,05

    102,3013,9

    1

    2 41,708,6

    7

    171,526,9

    9

    80,6111,2

    9

    27,423,6

    9

    90,3712,8

    6

    126,1814,6

    8 81,978,18 97,609,22

    3 41,769,4

    3

    173,187,3

    7

    83,7216,2

    8

    27,925,0

    2

    94,4025,4

    2

    126,6812,2

    8 80,907,11 99,4012,90

    4 45,358,0

    1

    173,416,2

    7 86,0715,7

    28,574,7

    3

    93,5816,6

    2

    124,6210,3

    8 80,776,52 99,438,13

    5 41,048,4

    0

    172,156,4

    1

    84,8217,0

    3

    28,514,8

    3

    91,3617,9

    0

    129,3613,4

    2 82,557,93 97,3610,81

    6 41,588,0

    4

    172,888,7

    2

    80,9219,6

    0

    26,895,1

    5

    94,5022,7

    9

    128,4511,2

    1

    81,9010,3

    0 92,7211,95

    7 42,857,9

    3

    173,203,0

    4 81,009,90

    26,942,6

    6

    84,9018,1

    7

    132,5016,8

    2 85,507,59 97,398,38

    8 38,998,6

    0

    173,656,6

    5

    80,9914,9

    6

    26,854,7

    4

    90,2212,7

    0

    127,9613,2

    3 83,068,47 94,3611,67

    9 39,398,0

    4

    173,375,3

    5

    84,0113,2

    0

    27,964,2

    7

    99,9225,9

    7

    128,4511,8

    0 83,067,28 98,1811,28

    10 41,138,9

    0

    173,106,5

    9

    84,6415,8

    8

    28,225,0

    4

    93,7815,7

    2

    126,6314,5

    6 81,387,25 94,209,42

    11 41,749,1

    8

    173,808,3

    3

    82,2215,8

    2

    27,063,7

    7

    93,2511,5

    2

    129,4312,3

    5 80,577,33 93,998,83

    12 41,258,2

    0

    173,056,8

    7

    79,0014,1

    9

    26,334,2

    1

    90,0619,3

    1

    126,0711,0

    9 79,887,20 93,3910,08

    13 38,897,7

    3

    174,746,6

    2

    86,5414,8

    1

    28,324,4

    9

    97,0024,0

    5

    127,9010,3

    1 81,459,76 98,759,05

    FONTE: Elaborada pelo au