artigo o exercício dos dons na igreja

20
O EXERCÍCIO DOS DONS ESPÍRITUAIS NA IGREJA. Celso do Rozário Brasil Gonçalves 1 RESUMO Este artigo tem como objetivo principal esclarecer alguns pontos sobre o uso dos dons espirituais na igreja. Analisaremos como os dons são usados tanto de modo correto como incorreto. Além disso, procuraremos mostrar a diferença entre dons espirituais e dons naturais. PALAVRAS-CHAVE: Dons espirituais, Espírito Santo, Igreja. ABSTRACT: This article aims to clarify some main points about the use of spiritual gifts in the Church. We will look at how gifts are used correctly as incorrect. In addition, we will show the difference between spiritual gifts and natural gifts. KEYWORDS: Spiritual gifts, the Holy Spirit, the Church. INTRODUÇÃO Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes2 . Nosso objetivo através deste estudo é esclarecer alguns pontos importantes acerca do exercício dos dons espirituais na igreja. A pesquisa aqui apresentada será sucinta e objetiva porque trata-se de um artigo e, desse modo, não há como investigar todos os pormenores sobre os dons espirituais. Não iremos comentar cada um dos dons espirituais que se encontram nas Escrituras (isso demanda tempo e pesquisa profunda). Assim sendo, apresentamos uma visão focada na aplicação dos dons espirituais na igreja. 1 Formado em Teologia, nível médio, pelo Instituto Bíblico Adventista da Promessa (IBAP), São Paulo SP. [email protected] 2 I Coríntios 12.1 Almeida Corrigida e Revisada Fiel (ACRF)

Upload: celso-do-rozario-brasil-goncalves

Post on 23-Jan-2017

72 views

Category:

Spiritual


2 download

TRANSCRIPT

O EXERCÍCIO DOS DONS ESPÍRITUAIS NA IGREJA.

Celso do Rozário Brasil Gonçalves1

RESUMO

Este artigo tem como objetivo principal esclarecer alguns pontos sobre o uso dos

dons espirituais na igreja. Analisaremos como os dons são usados tanto de modo

correto como incorreto. Além disso, procuraremos mostrar a diferença entre dons

espirituais e dons naturais.

PALAVRAS-CHAVE: Dons espirituais, Espírito Santo, Igreja.

ABSTRACT:

This article aims to clarify some main points about the use of spiritual gifts in the

Church. We will look at how gifts are used correctly as incorrect. In addition, we

will show the difference between spiritual gifts and natural gifts.

KEYWORDS:

Spiritual gifts, the Holy Spirit, the Church.

INTRODUÇÃO

“Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes”2.

Nosso objetivo através deste estudo é esclarecer alguns pontos importantes acerca

do exercício dos dons espirituais na igreja.

A pesquisa aqui apresentada será sucinta e objetiva porque trata-se de um artigo e,

desse modo, não há como investigar todos os pormenores sobre os dons espirituais.

Não iremos comentar cada um dos dons espirituais que se encontram nas Escrituras

(isso demanda tempo e pesquisa profunda). Assim sendo, apresentamos uma visão

focada na aplicação dos dons espirituais na igreja.

1 Formado em Teologia, nível médio, pelo Instituto Bíblico Adventista da Promessa (IBAP), São Paulo – SP.

[email protected] 2 I Coríntios 12.1 – Almeida Corrigida e Revisada Fiel (ACRF)

1

[As referência bibliográficas disponíveis que aparecem ao longo do texto podem

ser consultadas por quem deseja ter um conhecimento mais acurado do tema aqui

exposto].

Muitos erros e confusões existem atualmente no tocante ao exercício dos dons

espirituais. Teólogos e eruditos sinceros, porém, equivocados têm defendido

ensinos antibíblicos sobre este dogma. Isso tudo tem causado estragos à Igreja de

Cristo. Todas essas coisas nos motivaram no afã de produzir um texto baseado nas

Escrituras que pudesse orientar o povo de Deus no uso correto dos dons espirituais.

Nossa igreja não ignora o perigo que há quando os dons espirituais são usados

erradamente. Observe o comentário abaixo:

“O exercício dos dons espirituais tem causado polêmica, desde o início da igreja cristã, quando o

apóstolo Paulo, orientado pelo Espírito Santo, declarou aos cristãos de Corinto: A respeito dos dons

espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes (I Cor 12.1). O problema reside justamente na

ignorância sobre o assunto. Para esclarecê-lo, o apóstolo de Cristo escreveu cartas às igrejas,

explicando quais os carismas do Espírito Santo, quais as suas finalidades e como deveriam ser

exercidos na igreja.3”

Nossa preocupação não é diferente daquela que existia na mente do apóstolo Paulo

quando disse:

“ Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.” (I

Coríntios 12.1)

Neste trabalho de pesquisa queremos mostrar como os dons espirituais devem (ou

não devem) ser exercidos no âmbito da igreja e, também, estabelecer a diferença

entre os dons espirituais e os dons naturais. Nossa investigação terá como base os

textos bíblicos do Novo Testamento, mormente, as cartas paulinas que abordam

diretamente este ensino.

Conforme já falamos, não há como esgotar o estudo acerca dos dons espirituais [e

este não é o nosso escopo], porém, desejamos que esta pesquisa sirva como uma

claraboia4 para todos os que buscam conhecimentos relacionados a este ensino.

Que Deus seja louvado!

3 O Doutrinal, p. 108, 10ª edição, 2012, SP, Igreja Adventista da Promessa – Negritos acrescentados 4 “Claraboia” - Abertura envidraçada, com caixilhos, feita no teto ou na parede externa de prédios ou casas, a fim de

permitir a passagem da luz - https://www.dicio.com.br/claraboia/ - acesso em 03.11.2016.

2

CAPÍTULO 1 – DEFINIÇÕES, CONCEITOS E USO

1.1. O conceito de “dons espirituais”

O vocábulo Charisma, no singular, porém, geralmente usado no plural:

Charismata, ocorre dezessete vezes no Novo Testamento; dessas, quatorze vezes

em I e II Coríntios e Romanos. Existem várias definições e conceitos sobre os dons

espirituais. Vejamos alguns deles:

(1) “A expressão ‘dons espirituais’ representa a tradução comum, em português, do substantivo

grego que aparece no neutro plural, charismata, formado de charizesthai (mostrar favor, dar

gratuitamente), e que é relacionado ao substantivo charis (graça). Os Charismata, por conseguinte,

podem ser chamados com exatidão de ‘dons graciosos’”5

(2) “...Os dons espirituais são capacitações divinas para o ministério que o Espírito Santo dá em

certa medida a todos os cristãos e devem estar totalmente sob o seu controle, bem como ser usados

para a edificação da igreja para a glória de Cristo6.”

(3) “’Dons espirituais’, (gr. Pneumática, derivado de pneuma, ‘espírito’). A expressão refere-se às

manifestações sobrenaturais concedidas como dons da parte do Espírito Santo, e que operam através

dos crentes, para o seu bem comum7.”

(4) O livro: O Doutrinal afirma: “A palavra ‘dons’, no português, é a tradução da palavra grega

charisma, ou Charismata, no plural, cuja raiz é o substantivo charis, que significa ‘graça’. Uma vez

que ‘graça’ é algo recebido de forma imerecida, a definição de charisma caminha nesse sentido.

Este é um presente, uma dádiva recebida de forma gratuita e espontânea.8”

(5) “No Novo Testamento as palavras traduzidas por “dons” nos principais textos referentes aos

“dons espirituais” são carismata e pneumaticon, a primeira pode ser entendida como algo recebido

sem mérito próprio, um presente recebido mediante a graça Divina. A segunda pode ser aceita como

algo pertencente ao Espírito Santo ou Espírito de Deus.9”

(6) “O dom espiritual é uma capacidade sobrenatural e que atua no homem, quando Deus quer e

para o que Ele quer. O homem não pode dirigi-la, mas sim submeter-se à vontade divina. O exercício

dos dons espirituais pode ser exemplificado pelo instrumento musical; só, nada executa. É necessário

5 DOUGLAS., J. D, p. 444 6 MACARTHUR, 2013, p. 1545 7 Bíblia de Estudo Pentecostal, 1995 p. 1754 8 Opúsculo citado, p. 107 9 GERHARD. Friedrich,1983

3

alguém acionar as teclas e este executa a música desejada. Da mesma maneira Deus utiliza o homem

com os dons espirituais10.”

Das definições acima apresentadas depreendemos que:

(1°) Os dons são espirituais [São capacitações sobrenaturais concedidas pelo

Espírito Santo. Além disso, da palavra grega charisma; provém o termo

“carismático”, que nos ensina que eles são dons da graça de Deus. Assim, todos os

dons são carismáticos; isto é, todos eles são livremente dados por um Deus

gracioso.];

(2°) Todos os dons espirituais estão relacionados com a graça de Deus: Charis [Ou

seja, são presentes ou dádivas divinas para a Igreja, eles não são coisas que

conseguimos por méritos pessoais11]

(3°) Os dons espirituais são concedidos para a edificação da igreja (Romanos 12.6-

8; Tiago 1.17)

(4) O conceito de “dom (ou “dons) é muito abrangente. “Analisando o sentido de

carismata pode-se perceber que o sentido básico de dons vai muito além de apenas algumas dotações

especiais concedidas por Deus, pois tudo que se recebe sem merecimento pode chamar-se “dons”,

ou seja, vida, sol, chuva, salvação e muitos outros. Já através do sentido de pneumaticon, os “dons

espirituais” podem ser entendidos como algo especial proveniente do Espírito Santo12.”

“Carismata aparece seis vezes no Novo Testamento (Rm 11:29; 12:6; 1 Co 12:9, 28, 30 e 31),

enquanto que o seu singular carisma aparece oito vezes (Rm 1:11; 5:15; 5:16; 6:23; 1 Cor 7:7; 2

Cor. 1:11; 2 Tm. 1:6; e 1 Ped. 4:10), sempre se referindo a algum dom procedente do Espírito Santo.

Ao todo, carismatos e suas declinações, aparecem 17 vezes nos escritos neo-testamentários, 16 nos

escritos paulinos e apenas uma em 1 Pedro 4:10.13”

Convém, neste ponto, estabelecer uma distinção entre “os dons do Espírito” e o

“dom do Espírito”:

10 SANTOS, Enéias Manoel dos, 1987 11 “Deve ser observado que quando Paulo fala de dons em Efésios 4.7-8, ele emprega outro termo, “dorea”, que

enfatiza virtualmente a mesma verdade; isto é, que os dons espirituais são justamente isto — dons, não

recompensas.” ( Fonte: http://monergismo.com/textos/dons_espirituais/dons1_zaspel.htm - Acesso 02.11.2016 -

Realces acrescentados) 12 SANTOS. Enio dos, 2002), P. 61. 13 BibleWork 6.0

4

“Os dons do Espírito devem distinguir-se do dom do Espírito. Os primeiros descrevem as

capacidades sobrenaturais concedidas pelo Espírito para ministérios especiais; o segundo refere-se

à concessão do Espírito aos crentes conforme é ministrado por Cristo glorificado14”

A Bíblia apresenta o termo “dom do Espírito”, mas este faz referência ao próprio

Espírito Santo passando a habitar no crente e não como sendo mais um dos “dons

espirituais”.

“Um dom espiritual é um atributo especial outorgado pelo Espírito Santo a cada membro do corpo

de Cristo, como bons administradores da multiforme graça de Deus15”

TERMOS USADOS PARA DESCREVER A NATUREZA DOS DONS

(1) Pneumatika (I Co 12.1). Os críticos e opositores dos dons alegam que, no original, aqui, não

consta a palavra “dom”. Não consta neste versículo, mas consta a seguir, em I Coríntios 12 e nos

capítulos seguintes. O referido termo refere-se às manifestações sobrenaturais da parte do Espírito

Santo através dos dons (cf. I Co 12.7; I4.1).

(2) Charismata (I Co 12.4; Rm 12.6). Falam da graça subsequente de Deus em todos os tempos e

aspectos da salvação.

(3) Diakonai (I Co 12.5). Isso fala de serviço, trabalho e ministério prático. São ministrações

sobrenaturais do Espírito através dos membros da igreja como um corpo (I Co 12.12-27).

(4) Energemata (I Co 12.6). Isto é, os dons são operações diretas do poder de Deus para a realização

de seus propósitos e para abençoar o povo (cf. vv. 9,I0).

(5) Phanerosis (I Co 12.7). Os dons são sobrenaturais da parte de Deus; mas, conforme o sentido

do termo original, aqui, eles operam igualmente na esfera do natural, do tangível, do sensível, do

visível.

(Fonte: Teologia Sistemática Pentecostal, p. 196, 2ª Edição, CPAD, RJ, 2008)

CAPÍTULO 2 - NOSSA POSTURA DIANTE DOS DONS ESPIRITUAIS

“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons

despenseiros da multiforme graça de Deus.16”

14 PEARLMAN, Myer, 2002, p. 201. Negritos acrescentados 15 ZACKRISON. James W., 1996, p. 12. 16 I Pedro 4.10 – Almeida Revista e Atualizada (ARA)

5

O texto acima transcrito faz menção à “multiforme graça de Deus”. O que significa isso? O

apóstolo Pedro está ensinando que “os dons de Deus são concedidos com alegria e fartura. Seus

despenseiros devem distribuir essas bênçãos com o mesmo espírito com que as recebem."17

Isso pode ser notado pelo contexto da passagem. O verso 9 menciona o dom da

hospitalidade18 e o verso 11 cita os dons de ensinar e servir19. Então, ser

despenseiro20 [administrador] da multiforme graça de Deus tem a ver com o

exercício dos diversos dons colocados por Cristo na Igreja. O texto não diz que

devemos ser meros despenseiros, mas bons21 despenseiros.

Notamos que para o exercício correto dos dons espirituais necessitamos de um

espírito altruísta. Os dons não pertencem àqueles que são escolhidos para usá-los.

Somos escolhidos para “servi uns aos outros” sem egoísmo ou exaltação pessoal.

“Cada pessoa é ímpar e tem uma missão sem igual, agora e na eternidade... ... Uma missão é um

meio de expressar a graça de Deus para com outros, pois nenhuma missão visa apenas o benefício

do próprio indivíduo. Todos os dons de Deus se originam em sua ·graça. Essa é a fonte de tudo de

bom que possuímos. Portanto, quando ministramos a outros, em qualquer sentido que seja,

meramente espalhamos ao redor a graça de Deus, do modo que nos foi apontado.22”

Podemos vislumbrar alguns ensinos importantes relacionados com os dons

espirituais neste trecho de I Pedro 4. Vejamos:

(1) Somos responsáveis pelo uso responsável e criterioso dos dons (I Pedro 4.10)

(2) Conscientes dos tempos nos quais vivemos devemos valorizar o exercício dos dons

(I Pedro 4.11)

(3) Os dons devem ser exercitados com humildade, levando-se em consideração que

eles pertencem a Deus e são concedidos a nós por Ele (I Pedro 4.11)

(4) O exercício dos dons espirituais na igreja deve honrar e glorificar a Deus (I Pedro

4.11)

(5) Deus deve receber o crédito pelo uso dos dons.

17 CBASD), 2014, p. 635 18 Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração (I Pedro 4.9) 19 Se alguém fala [ensina], fale [ensine] de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus

supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio

pelos séculos dos séculos. Amém! (I Pedro 4.11 – Colchetes acrescentados). 20 Despenseiros. Do grego oikonomoi, administradores. Os gregos usavam esta palavra para a administração de uma

propriedade, fosse uma casa ou terras, e a aplicavam aos escravos ou a homens livres encarregados de cuidar e administrar

a casa e as terras que pertenciam ao seu senhor. – Idem, CBASD, op.cit. p. 751., Vol. 6 21 “Bons”. Do grego “kaloi”, “excelente”, “eficiente”. 22 CHAMPLIN. R.N., vol. 4, 1995, p. 157

6

R.N. Champlin, comentando sobre a multiforme graça de Deus que se manifesta na

concessão dos dons espirituais, diz o seguinte:

“Não ·possuímos aquilo que a graça de Deus nos dá, pois tudo nos foi dado por empréstimo,

temporariamente. Se nos recusarmos a contribuir, logo deixaremos de receber. Quando o povo de

Israel ficou cobiçoso e recolheu mais maná do que era necessário para suprimento de um dia, o maná

se estragou e soltou mau cheiro, tomando-se inútil. Assim, o homem que recebe, mas não dá, logo

se tornará inútil como despenseiro da graça de Deus, e sua alma será estragada, perdendo toda a

similaridade com a natureza espiritual de Cristo. O próprio Cristo veio para servir, e não para ser

servido. (Ver Mat. 20:28)23”.

“Assim como o crente não é salvo pelas obras, mas tão-somente pela graça divina (Ef 2.8; Tt 3.5),

assim também os dons do Espírito Santo nos são concedidos pela graça de Deus para que

ninguém se engrandeça — “segundo a graça" (Rm 12.6).24”

Os dons espirituais são sobrenaturais na origem e nos resultados. O cristão que

exerce os dons espirituais na igreja deve sempre ser sensível à orientação do

Espírito Santo.

Os dons espirituais não são para usos particulares visando propósitos egoístas.

O cristão não pode usar os dons como se fosse o dono deles, porque, como vimos,

anteriormente, eles são recebidos pela graça divina e pertencem a Deus.

Outro ponto importante que queremos destacar é: O cristão não se torna espiritual

ou santo só porque possui dons espirituais. O exercício dos dons espirituais não

nos isenta da busca da santidade exigida por Deus. Este foi o grande erro dos irmãos

da igreja de Corinto. Eles abundavam em dons (não faltava dom nenhum na igreja

de Corinto).25 Porém, o apóstolo Paulo os reprovou severamente, dizendo: “E eu,

irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a

meninos em Cristo26.”

Os cristãos de Corinto, embora fossem dotados de vários dons espirituais, foram

considerados por Paulo como: “Carnais” e “imaturos” (“meninos em Cristo”).

Assim, não podemos confundir “espiritualidade” com “dons espirituais”. São

coisas diferentes. A espiritualidade é subjetiva (é a comunhão, a vida diária e a

intimidade do cristão com Deus).

“Por causa da imaturidade deles, Paulo não pôde alimentá-los com carne em sua primeira visita. A

palavra grega usada para carnal (de sarkinos) significa literalmente, feito de carne, sendo

23 Opúsculo citado, 1995, p. 157 24 GILBERTO, Antonio, 2008, p. 195 25 “De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Coríntios 1.7 –

ACRF) 26 I Coríntios 3.1 (ACRF)

7

equivalente da expressão, na carne... Por trás de sarkinos está o pensamento de fraqueza (cons.

Mt. 26: 41), conforme a palavra crianças confirma.27”

“Paulo não foi capaz de falar a estas pessoas como se estivessem cheias do Espírito porque, embora

convertidas, eram carnais (sarkinos). A palavra significa “pessoas ainda carnais em seu modo de

pensar e agir, e incapazes, como um homem verdadeiramente espiritual, de julgar corretamente

todas as coisas”. Outro estudioso interpreta esta palavra, carnais, como “aquilo que um homem

não consegue deixar de ser, além de um estado de submissão à lei mais elevada do Espírito, e

enriquecido e elevado por ela””28

Qual era o problema na igreja de Corinto? Os dons? Não! Mas, sim o mau uso

dos dons! Qualquer dom exercido por alguém que é negligente com a sua vida

espiritual servirá apenas de pedra de tropeço e não resultará em bênção para si

mesmo e para a Igreja de Cristo.

Sem dúvida, a direção do Espírito Santo, o amor, o equilíbrio emocional, o domínio

próprio, a humildade, a mansidão são coisas indispensáveis para o exercício correto

dos dons espirituais na igreja.

Precisamos ter uma visão bíblica clara acerca dos dons espirituais. Assim, com

certeza, evitaremos problemas gravíssimos que atrapalham o desenvolvimento da

obra de Deus. Os dons espirituais são imprescindíveis na Igreja. Qualquer

denominação que os negligencie tende a esfriar e morrer espiritualmente.

“O grande pregador e pastor inglês C.H. Spurgeon, em um dos seus escritos relata a história de uma

velhinha que morava numa instituição para idosos pobres que ele certo dia visitou. Nos pertences

dessa senhora foi encontrado um documento bancário antigo, que lhe fora entregue como lembrança

por alguém muito rico. Com permissão da velhinha, o pastor Spurgeon levou o documento a um

banco e ficou sabendo que se tratava de uma elevada quantia em depósito, suficiente para aquela

senhora viver muito bem pelo resto da vida.

Partindo desse fato, Spurgeon concluiu que muitos crentes vivem em estado de grande pobreza

espiritual por ignorarem as infinitas riquezas espirituais que estão a seu dispor, em Cristo, se

as buscarem, conforme lemos em Efésios 3.8. Neste contexto, está a riqueza dos dons espirituais.

Daí São Paulo escrever aos coríntios: “Acerca dos dons espirituais, não quero irmãos que sejais

ignorantes” (I Co 12.1)29”.

2.1. O mau uso dos dons espirituais

27 MOODY 28 BEACON, 2006p. Vol. 8, 255 29GILBERTO, Antônio, 2008, p. 195

8

Os dons espirituais são concedidos para a edificação da Igreja. Mas, por causa do

seu mau uso, vidas têm sido destruídas e muitos irmãos são feridos e magoados por

aqueles que, de modo incorreto utilizam os dons que receberam de Deus.

No livro: Teologia Sistemática Pentecostal, página 202, o pastor Antonio Gilberto

aborda os problemas existentes na igreja de Corinto decorrentes do mau uso dos

dons espirituais. Ele afirma o seguinte:

“No entanto, a igreja estava envolvida em diversas dissensões e litígios (I Co1.10; 6.I-II; II. 18),

pecados morais graves (I Co 5), além de desordem no culto de adoração a Deus (I Co 11.17-

19).”

Ele especifica, em seguida, cada problema existente naquela congregação. Observe.

“1) Dissensão ou partidarismo (I Co 11.18; 1.10-13; 3.4-6). “Ouço que, quando vos ajuntais na

igreja, há entre vós dissensões”. O termo “dissensões” empregado em I Coríntios II.17 e 1.10

descreve a destruição da unidade cristã por meio da carnalidade. Em vez de gratidão a Deus, para

promover a comunhão uns para com os outros e “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”

(Ef 4.3), os crentes reuniam-se para o culto com “espírito faccioso”.

2) Carnalidade (I Co 3.1-3). “Não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais” (v.I).

Havia membros da igreja de Corinto guiados e cheios do Espírito Santo (I Co 1.4-9; Rm 8.14), mas

muitos eram carnais (v.I). Carnal, como já vimos, é o crente, ele ou ela, cuja vida não é regida pelo

Espírito (Rm 8.5-8); que tem muita dificuldade de entender os assuntos espirituais (I Co 2.14) e vive

em contendas, difamações. A mente e a língua do carnal é malfazeja até durante o sono (cf. Rm 8.5;

G1 5.I9-2I; Pv 4.16). Esse tipo de crente é uma perturbação no culto de adoração a Deus.

3) Intemperança (I Co I I.2I). Na liturgia da igreja primitiva era comum a Ceia do Senhor ser

precedida por uma festividade chamada de agápe ou festa de amor (2 Pe 2.13; Jd v.I2). No entanto,

alguns crentes coríntios em vez de fortalecerem o amor e a unidade cristã antes da Ceia do Senhor,

embriagavam-se. Os ricos se fartavam de tudo, enquanto os pobres padeciam fome (v.2I). Isso

alguns faziam “para sua própria condenação” ou castigo (v.29). Esses cristãos cometiam o erro de

transformar uma festa espiritual, o culto, em uma festa profana. Veja as consequências disso nos

versículos 30,3130.”

O mau uso dos dons ocorre quando:

(1) Não são exercidos com amor fraternal

30 GILBERTO. Antônio, 2008, pp. 202, 203

9

Paulo disse: “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais31...”

O amor é a base para o exercício correto dos dons espirituais. Paulo dedica um

capítulo inteiro para falar do amor (I Coríntios 13). Isso nos ensina que, na verdade,

na obra de Deus tudo deve ser feito com amor.

“Para o exercício dos dons na igreja o amor precisa estar presente. O apóstolo cita dois instrumentos

antigos [ “...o bronze que soa ou como o címbalo que retine.” – I Coríntios 13.1 u.p. – ARA)] que

executados desordenadamente não produzem sons melódicos. A prática dos dons espirituais sem o

AMOR será semelhante ao ruído dos instrumentos mencionados, o único objetivo será a vanglória

pessoal, chamar a atenção para si32.”

O nosso livro “O Doutrinal” apresenta os seguintes motivos baseados no amor

para o uso correto dos dons espirituais:

“1. No ambiente do amor, os dons devem ser usados para unificar.

2. No ambiente do amor, os dons devem ser usados para edificar.

3. No ambiente do amor, os dons devem ser buscados com critério.33”

(2) São usados em proveito próprio

Podemos citar alguns exemplos de pessoas que usaram (ou tentaram usar) os dons

em proveito próprio:

(a) Balaão

Para agradar Balaque, rei dos moabitas, o profeta Balaão recusou-se a cumprir com

a ordem de Deus e, egoisticamente, seguiu os desejos carnais do seu coração:

Consultou a Deus quando já conhecia a Sua vontade;

Preferiu agradar a Balaque;

Mesmo sendo impedido por Deus de amaldiçoar os israelitas, Balaão sugere para

Balaque que seduza o povo de Deus com mulheres moabitas e com seus ídolos

conduzindo-os ao pecado;

Balaão é o protótipo dos falsos profetas que são mercenários, que negociam com os

dons de Deus, que se vendem por presentes.34

(b) Simão, praticante de magia (Atos 8.9)

No livro de Atos dos Apóstolos, lemos:

31 I Coríntios 14.1 (ACRF) 32 SANTOS. Enéias Manoel dos, op. cit., p. 8 – Colchetes acrescentados. 33 Opúsculo citado, Página, 114. 34 Leia: Números 23.1,12,13,14 e 31.16

10

“Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo.

E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes

ofereceu dinheiro,

Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba

o Espírito Santo.

Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus

se alcança por dinheiro.

Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus.

Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o

pensamento do teu coração;

Pois vejo que estás em fel de amargura, e em laço de iniquidade.

Respondendo, porém, Simão, disse: Orai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes

venha sobre mim.35”

Simão, o mágico, tentou comprar o dom de Deus, mas foi castigado imediatamente.

O seu pecado até hoje continua sendo praticado por muitos religiosos que,

inescrupulosamente, são mais negociantes da fé, do que servos de Deus.

O pecado de Simão: “Simonia é a venda de favores divinos, bênçãos, cargos eclesiásticos,

prosperidade material, bens espirituais, coisas sagradas, perdões, objetos ungidos, etc. em troca de

dinheiro. É o ato de pagar por sacramentos e consequentemente por cargos eclesiásticos ou posições

na hierarquia da igreja. A etimologia da palavra provém de Simão Mago, personagem referido nos

Atos dos Apóstolos (8.18-19), que procurou comprar de São Pedro o poder de transmitir pela

imposição das mãos o Espírito Santo ou de efetuar milagres.36”

(c) Os exorcistas ambulantes

• Eram os filhos de um judeu, Sumo Sacerdote, chamado Ceva. O primeiro sinal de

distorção: eram “exorcistas ambulantes”; era quase um negócio. Outra distorção:

tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre possessos de espíritos malignos,

dizendo: “Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega” (Atos 19.13);

• O espírito maligno lhes respondeu: “Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas

vós, quem sois vós?” (verso 15);

• “O possesso do espírito maligno saltou sobre eles, subjugando a todos, e de tal

modo prevaleceu contra eles, que, desnudos e feridos, fugiram daquela casa.” (Atos

19. 16). Ao invés de exorcizarem o espírito maligno, eles é que foram expulsos da

casa onde estavam;

35 Atos 8:17-24 – Negritos acrescentados (ARCF) 36Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Simonia - Acesso em 03.11.2016

11

• Note que todos ficaram com medo. O nome do Senhor Jesus foi minimizado. Hoje

a maneira de exorcizar é levar Cristo aos corações.

(3) Exaltam o homem

Os dons espirituais não são regalias de uma elite da igreja, pois a Bíblia afirma que

a manifestação do Espírito é concedida a CADA UM, ou seja, cada membro da

igreja pode e deve procurar com zelo, os melhores dons, isto é, os dons que poderão

ser mais úteis no seu ministério eclesiástico e na sua vida (I Coríntios 12.31).

Muitos, na igreja, procuram os dons que dão mais status e destaque entre os irmãos,

ou seja, os dons cuja manifestação é mais evidente e provoca mais impacto

momentâneo.

Por que? Gostam de se exaltar! Que tristeza!

Paulo afirmou que o amor: “...não se ensoberbece...” (I Coríntios 13.4 u.p - ACRF).

“Ensoberbecer (physioutai) significa inflar, ofegar, suspirar. Portanto, quer dizer

“inchado de orgulho, vaidade, e autoestima... O amor elimina esse sentido

interior de auto-exaltação, assim como a sua manifestação exterior37.”

“A palavra grega – phisao – que designa a soberba significa ‘inflar’. Ao enchermos algo com ar

fazemos com que pareça maior do que o é na realidade; fingimos, exageramos. Quanto mais cheio

está o balão, mais fácil estar de se esvaziar. Quando Deus realiza algo, há sempre para nós o perigo

de acharmos que não foi o bastante, somos tentados a aumentar um pouquinho, para parecer maior.

Deus sempre faz o que lhe convém, não é preciso exagerar. Por isso é bom recordarmos: A causa é

de Deus. Cumpramos com humildade o que ele determinou, no lugar designado, I Tim. 6.4; Prov.

16.18.38”

A exaltação humana no exercício indevido dos dons acontece porque transforma

certos irmãos com dons de “revelações”, “visões”, “profecias”, “curas”, etc, no

único canal de comunicação com a Divindade, num tipo de “oráculo39” com

respostas para todas as perguntas dos inquiridores.

Às vezes observamos que, os irmãos que são “usados por Deus” e manifestam dons

espirituais gozam de regalias e são tratados como mais “santos” e “espirituais” por

grande parte da membresia. Esse erro é muito prejudicial para a Igreja: Há a

exaltação do dom que é usado na igreja, em detrimento do Doador do dom; há

37 BEACON. Comentário, 2006, Vol. 8, p. 340 38 SANTOS. Enéias Manoel dos, opúsculo citado, p. 10 39 O oráculo é em caráter de significado etmológico, a resposta dada por uma divindade a uma questão pessoal através

de artes divinatórias, disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Or%C3%A1culo

12

substituição do poder de Deus, pelo “poder” do homem. Isso é usurpar o lugar de

Deus, é receber uma honra que pertence unicamente a Deus.

“Uma pessoa que recebeu do Senhor dons do Espírito não significa que ela alcançou um estado de

perfeição e que é merecedora das bênçãos de Deus. As manifestações e operações do Espírito Santo

por meio de um crente jamais devem ser motivo de orgulho, seja ele quem for40.”

“Se alguém reconhece que tem recebido dons espirituais para um ministério de poder, o primeiro

passo não é sair fazendo demonstrações pueris, escandalosas e antibíblicas. Não. O primeiro passo

é conhecer o que a Bíblia ensina sobre um determinado ministério.41”

2.2. O uso correto dos dons espirituais

Atualmente ficamos muito preocupados com o mau uso dos dons espirituais. Eles

têm sido usados de maneira indiscriminada, sem amor ao próximo (muitos irmãos

têm sido feridos), sem temor a Deus, sem ordem, sem reverência, sem a decência

necessária para o bom exercício dos mesmos.

A preocupação de Paulo a respeito do uso incorreto dos dons espirituais é muito

grande. Ele utiliza praticamente três capítulos de I Coríntios (12,13 e 14) com

orientações especiais visando corrigir posturas e regulamentar o exercício dos dons

no seio da igreja.

Quando os dons espirituais são usados corretamente?

O padrão bíblico mostra pelo menos, dois princípios no exercício correto dos dons

espirituais:

(1) Quando são usados para glorificar a Deus

“Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o

poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence

a glória e poder para todo o sempre. Amém.42”

Os dons espirituais pertencem a Deus. Não devem jamais ser usados para

engrandecer qualquer membro da igreja ou para benefício pessoal de alguém, mas

para a glória, a honra e o louvor de Deus.

40 GILBTO. Antônio, 2008, p. 195 41 Idem, p. 206 42 I Pedro 4.11 (ACRF) - Negritos acrescentados

13

“Sempre deve-se ter em vista que em todas as coisas seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo.

Aqui Pedro insere uma bênção, dando glória a Deus pelo que acabou de dizer43.”

(2) Quando são usados para a edificação da Igreja

“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros

para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para

edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do

Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.44”

“...os dons ministeriais e espirituais têm por fito promover o crescimento, o bem-estar e a

edificação, ou seja, o progresso e o desenvolvimento contínuos da igreja.45”

A igreja é simbolizada na Bíblia por um edifício espiritual e os dons devem ser

usados para a edificação desse prédio (I Coríntios 3.16; I Pedro 2.5).

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra

da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual

também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.46”

“...edificados...” O crente se toma parte de um “organismo vivo”, que é um “templo”, por

semelhante modo, visto ser a “habitação” de Deus no Espírito. E isso pode ser comparado com o

que Pedro diz sobre as “pedras vivas”, que compõem uma “casa espiritual”, a esfera de “sacrifícios

espirituais” aceitáveis a Deus. (Ver I Ped. 2:5). Pode-se observar que nessa passagem da primeira

epístola de Pedro (versículos quarto e sexto), Cristo Jesus também aparece como a “pedra de

esquina”, o que torna aquele trecho diretamente paralelo a este.47”

“Esses dons são formas de capacitação sobrenatural de pessoas, para a “edificação do corpo de

Cristo” como um todo, e também para a bem-aventurança de seus membros, individualmente (vv.3-

5,12,17,26).48”

“A finalidade dos dons espirituais é a edificação da igreja, o amadurecimento do corpo de Cristo (cf.

1 Co, 14.5,12,26; Ef. 4.16), até que Ele volte: “...de modo que não vos falta nenhum dom, enquanto

aguardais a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 1;17). O Espírito Santo “usa os dons do

cristão individual para a edificação da igreja. Sobre isso, o texto de Efésios 4:11-12 é bem claro.49”

“Toda energia e poder sem controle é desastroso. Estudando I Coríntios 14.26,32,33 e 40, vemos

que Deus nos concede dons, mas não é responsável pelo mau uso deles, por desobediência do

43 MOODY. Comentário bíblico - Disponível em:

http://www.batistas-mg.org.br/wp content/uploads/2014/05/1Cor%C3%ADntios-Moody.pdf – acesso em 02.11.16 44 Efésios 4:11-13 (ACRF) 45 CHAMPLIN. R.N. 1995, p. 602, Vol. 4 46 Efésios 2:20-22 (ARCF) – Negritos acrescentados 47 CHAPLIN. R. N, 1995, Vol. 4 48 GILERTO, Antônio, 2008, p.196 49 O Doutrinal, 2012, p. 110

14

portador à doutrina bíblica, ou por ignorância desta. A eletricidade quando domada nas subestações,

torna-se apropriada ao consumo doméstico, mas nas linhas de alta tensão é letal e destruidora.

Também não adianta ter um bom freio no carro sem o seu potente motor, como muitos fazem nas

igrejas mornas, frias e secas. Elas têm freio e direção no “carro”, porém falta-lhes o ativo e poderoso

motor.

O uso dos dons na igreja deve ser regulado e equilibrado pela Palavra de Deus, corretamente

entendida, interpretada e aplicada. A Palavra e o Espírito interpenetram-se e combinam-se em sua

operação conjunta na igreja. A Palavra é a espada do Espírito, e o Espírito interpreta e emprega a

Palavra.50”

2.3. Lista dos dons espirituais

Romanos 12 I Coríntios 12 Efésios 4 Citados

Profecia Sabedoria Apóstolos Celibato (I Cor. 7.7)

Ensino Conhecimento Evangelistas Pobreza voluntária

(I Cor.13.3)

Serviço Fé Pastores Martírio (I Cor. 13.3)

Contribuição Cura Hospitalidade (I Pedro 4.9)

Liderança Milagres Exorcismo (At. 8.5-8)

Misericórdia Discernimento

de espíritos

Intercessão (At. 12.12)

Exortação Línguas Missionário (Rm. 11.13)

Interpretação

de línguas

Socorro

Administração

(Governo)

50 GILERTO. Antônio, 2008, pp. 200, 201

15

1.3.3. Classificação dos dons espirituais

1º - DONS DE REVELAÇÃO.

Revelar significa tirar o véu, divulgar, fazer conhecer sobrenaturalmente, mostrar, descobrir. Os dons de

revelação capacitam para SABER de forma sobrenatural. Três são os dons que concedem poder para

saber sobrenaturalmente: A Palavra da Ciência, Palavra da Sabedoria e Discernimento dos espíritos.

2º - DONS DE PODER.

Trata-se da virtude do Espírito Santo em conceder poder para agir sobrenaturalmente. Três são estes

dons: Fé, Operação de Maravilhas e Dons de Curar.

3) DONS DE INSPIRAÇÃO.

“Inspiração divina é a ação especial de Deus através do Espírito santo em uma pessoa santificada, de

forma que esta fala somente o que Deus quer.” Os dons de inspiração capacitam para falar de maneira

sobrenatural. Igualmente três são os dons que capacitam para falar de maneira sobrenatural: Variedade

de Línguas, Interpretação das Línguas, e Profecia que objetivam transmitir a vontade divina.

CAPÍTULO 3 – DONS ESPIRITUAIS E NATURAIS

3.1. Conceito e Diferença entre dons espirituais e dons naturais

Já vimos que os dons espirituais são manifestações sobrenaturais concedidas, pelo

Espírito com a finalidade de edificação da Igreja.

Convém salientar que existe diferença entre dons espirituais e talentos ou dons

naturais.

O talento natural é a capacidade que uma pessoa tem de executar algo de modo

espontâneo. Pode ser hereditário ou adquirido com estudo, dedicação e persistência.

Muitas vezes as pessoas confundem dons espirituais com talentos [dons] naturais.

Porém, são duas coisas distintas.

Talento: Deriva do latim: “talentum”, do grego antigo: τάλαντον, talanton,

significando “escala”, “balança”. Disposição natural ou qualidade superior;

Grande capacidade; Pessoa possuidora de inteligência rara.

16

Dom natural é a capacidade concedida por Deus a todos os homens

indistintamente, com o objetivo de adestra-los para o serviço à humanidade e à

própria realização, na esfera natural.

O Talento Natural pode e deve ser desenvolvido ao longo da vida.

Pode ou não ser colocado à serviço de Deus. Pode ou não ser colocado à serviço da

humanidade. Pode ou não ser colocado à serviço do próprio indivíduo. Pode ou não

ser colocado à serviço do bem ou do mal.

“ O dom natural provém da capacidade humana, do próprio intelecto do homem. O

homem pode se utilizar do dom natural para agir segundo o seu pensamento

“Talentos naturais também são dádivas dadas por Deus (tg 1.17), todavia, não é preciso ser um

cristão para recebe-las. Uma pessoa pode, por exemplo, ter grandes dons naturais de sabedoria e

ciência, sem nunca ter recebido o Espírito de Deus. Então, de novo frisamos, dons “espirituais não

são talentos. Os dons espirituais são dados por Deus para fins espirituais, e apenas para cristãos.51”

“A tendência de confundir dons espirituais com talentos naturais. O erro neste caso está na

tendência de ir para um extremo ou outro: fazer dos dons espirituais e talentos naturais Sinônimos

por um lado ou antônimos por outro.

Cada pessoa nasce com um potencial latente que deve ser desenvolvido e empregado para a glória

de Deus. Isto é mordomia. Mas quando o Novo Testamento fala sobre dons espirituais, vai além

disto. Paulo fala que o Espírito Santo “distribui, particularmente, a cada um como quer” (1 Co

12:11). Isto sugere um relacionamento direto e imediato entre Deus e o homem através da conversão

e vida no Espírito. Os dons do Espírito resultam da operação do Espírito na vida de um crente, e,

portanto, não são simplesmente o uso prudente e fiel dos talentos naturais. Os dons devem ser

entendidos literalmente como dons do Espírito52”.

3.2. Deus pode usar os dons naturais na sua obra

Será que Deus não valoriza os dons naturais? É claro que sim!

Por exemplo, os construtores do tabernáculo no deserto foram chamados e

receberam habilidades especiais do Senhor Deus. Essas habilidades artísticas e de

construção são mencionadas nos livro de Êxodo, observe:

“Depois falou o SENHOR a Moisés, dizendo:

51 O Doutrinal, 2012, op. cit. pp. 107, 108. 52 Disponível em: http://crfernandes.blogspot.com.br/2010/03/igreja-e-os-dons-espirituais.html - Acesso 02.11.2016

17

Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá,

E o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência, em todo o lavor,

Para elaborar projetos, e trabalhar em ouro, em prata, e em cobre,

E em lapidar pedras para engastar, e em entalhes de madeira, para trabalhar em todo o lavor.

E eis que eu tenho posto com ele a Aoliabe, o filho de Aisamaque, da tribo de Dã, e tenho dado

sabedoria ao coração de todos aqueles que são hábeis, para que façam tudo o que te tenho

ordenado.53”

Comentando a passagem bíblica acima transcrita, R.N. Champlin, Ph.D., afirma:

“A obra do Senhor requer especialistas em várias áreas, visto que o ministério é muito diversificado,

tal como um corpo humano compõe-se de muitos membros, cada qual com a sua função específica...

Bezalel (vs. 1) e Aoliabe (vs. 6) foram homens especiais, dotados de habilidades necessárias para

assumirem a liderança na construção do tabernáculo e seus móveis e utensílios. Eles foram os

homens de Deus para aquele momento, capazes de cumprir aquela tarefa. Cada indivíduo tem seu

próprio papel e seu momento próprio, de acordo com os ditames da vontade divina.54”

“Depois disse Moisés aos filhos de Israel: Eis que o Senhor tem chamado por nome a Bezalel, filho

de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá.

E o Espírito de Deus o encheu de sabedoria, entendimento, ciência e em todo o lavor,

E para criar invenções, para trabalhar em ouro, e em prata, e em cobre,

E em lapidar de pedras para engastar, e em entalhar madeira, e para trabalhar em toda a

obra esmerada.

Também lhe dispôs o coração para ensinar a outros; a ele e a Aoliabe, o filho de Aisamaque, da

tribo de Dã.

Encheu-os de sabedoria do coração, para fazer toda a obra de mestre, até a mais engenhosa, e

a do gravador, em azul, e em púrpura, em carmesim, e em linho fino, e do tecelão; fazendo toda a

obra, e criando invenções.55”

Queira notar que as habilidades concedidas a esses homens eram aparentemente

uma combinação de talentos [dons] naturais enriquecidos pelas bênçãos do Senhor

e dons espirituais, como a capacidade de ensinar, para que mais pessoas pudessem

ajudar na construção do tabernáculo.

53 Êxodo 31.1-6 (ACRF) 54 CHAMPLIN. R. N, 2001, Vol. 1, p, 1443 55 Êxodo 35:30-35 (ACRF)

18

Assim, talentos naturais podem ser transformados por Deus em dons espirituais.

Porém, não há conflito entre ambos. A diferença é que os dons espirituais são

especificamente concedidos pelo Espírito Santo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tivemos a oportunidade de aprender que o exercício correto dos dons espirituais

redunda em vários benefícios para a Igreja, mormente a sua edificação: “Que fareis,

pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem

revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.” (1

Coríntios 14.26)

Os dons são presentes [dádivas divinas] que adornam a igreja. Nenhum dom é

outorgado por merecimento pessoal e a posse de qualquer um deles não é sinônimo

de santidade ou espiritualidade.

Outro ponto abordado e que não deve ser ignorado é: O amor é a base para o

exercício eficaz dos dons espirituais no corpo de Cristo. Dons espirituais destituídos

do amor são como notas falsas [servem apenas de ilusão, mas não têm valor].

Os dons de Deus são indispensáveis para a Igreja. Eles existem e continuarão

existindo até a Vinda de Cristo. Não podemos, de modo algum, negligenciá-los. Foi

por isso que Paulo ordenou:

“Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais56...”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bíblia de Estudo Pentecostal, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1995.

BibleWork 6.0

BEACON. Comentário, Vol. 8, Romanos a I e II Coríntios, 1ª edição, CPAD, 2006.

CBASD. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, Vol. 7, Casa Publicadora

Brasileira, Tatuí, SP, 2014.

CHAMPLIN. R.N,

56 I Coríntios 14.1 (ACRF)

19

________________O Novo Testamento Interpretado, Volumes 4 e 6, , Editora

Candeia, SP, 1995.

________________O Antigo Testamento Interpretado, Vol. 1, Editora Hagnos, 2ª

Edição, SP, 2001

DOUGLAS, J. D, O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. 1, Edições Vida Nova, SP,

1990.

GERHARD. Friedrich, e Geoffrey W. Bromiley, Theological dictionary of the New

Testament (Grand Rapids, EUA: William B. Eerdmans Publishing Company,

1983), 9: 404-405 e 6: 332, 876.

GILBERTO, Antônio, Teologia Sistemática Pentecostal, 2ª Edição, CPAD, RJ,

2008

MACARTHUR, Bíblia de Estudos, Sociedade Bíblica do Brasil, SP

MOODY. Comentário Bíblico, I Coríntios - Disponível em:

http://www.batistas-mg.org.br/wpcontent/uploads/2014/05/1Cor%C3%ADntios-

Moody.pdf– Acesso em 02.11.2016

O Doutrinal, 10ª edição, 2012, SP, Igreja Adventista da Promessa

PEARLMAN. Myer, Conhecendo as doutrinas da Bíblia (São Paulo, SP: Vida,

2002)

SANTOS. Enéias Manoel dos Lições bíblicas, Out/Dez – 1987, , IAP.

SANTOS. Enio dos, O Espírito Santo no passado, presente e futuro: batismo com

o espírito, carismatismo e dom de línguas, milagres e curas (Ijuí, RS: Colméia,

2002.

ZACKRISON. James W., Dones espirituales practicos (Argentina: Asociacion

Casa Editora Sudamericana, 1996.