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IMUNOLOGIA DA GESTAÇÃO Michelon et al. ARTIGO ESPECIAL

Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 50 (2): 145-151, abr.-jun. 2006 145

Imunologia da gestação

Pregnancy immunology

ARTIGO ESPECIAL

TATIANA MICHELON – Médica do La-boratório de Imunologia de Transplantes daSanta Casa de Porto Alegre, doutora em Pa-tologia, pesquisadora PRODOC-CAPES doPrograma de Pós-Graduação em Patologia daFundação Faculdade Federal de CiênciasMédicas de Porto Alegre.JANAÍNA GOMES DA SILVEIRA – Bió-loga do Laboratório de Imunologia de Trans-plantes da Santa Casa de Porto Alegre.MÁRCIA GRAUDENZ – Médica, Douto-ra em Patologia, Coordenadora do Programade Pós-Graduação em Patologia da Funda-ção Faculdade Federal de Ciências Médicasde Porto Alegre.JORGE NEUMANN – Médico, Diretor doLaboratório de Imunologia de Transplantesda Santa Casa de Porto Alegre.

Laboratório de Imunologia de Transplantes– Santa Casa de Porto Alegre. Pós-Gradua-ção em Patologia – Fundação Faculdade Fe-deral de Ciências Médicas de Porto Alegre

Endereço para correspondência:Tatiana MichelonAv. Otto Niemeyer 1025/31091910-001 – Porto Alegre – RS, BrasilFone: (51) 3214 8670

[email protected]

I NTRODUÇÃO

A perda gestacional é a complica-ção mais freqüente da gestação. Oabortamento espontâneo pode ser ob-servado em até 15% das mulheres,ocorrendo principalmente no primeirotrimestre da gestação. A incidência deabortamentos espontâneos é semelhan-te entre as mulheres com gestação na-tural ou obtida através de técnicas demedicina reprodutiva (1).

Casos de abortamentos recorren-tes são vistos em até 5% dos casais,sendo que uma causa específica paraas perdas costuma ser evidenciadaem apenas 50% dos casos (2). Entreas causas mais comumente identifi-

Recebido: 06/03/2006 – Aprovado: 24/03/2006

RESUMO

Do ponto de vista imunológico, a gestação somente é possível porque uma intrincadarede imunorregulatória é disparada com o objetivo único de desenvolver um estado detolerância materno-fetal e permitir a implantação e manutenção do concepto até que hajacondições de sobrevivência fora da cavidade uterina.

Entre os fatores envolvidos nessa complexa rede imunomodulatória para a tolerânciae regulação do desenvolvimento fetal e formação da placenta, destacam-se: a influênciahormonal sobre o sistema imune materno, o reconhecimento das moléculas do ComplexoPrincipal de Histocompatibilidade paterno (expressas pelo embrião), as citocinas libera-das no meio, o controle da citoxicidade direta das células Natural Killer uterinas e ativida-de das células T regulatórias. A seguir, uma revisão abrangente e atual da literatura discu-te de maneira simplificada tais mecanismos.

UNITERMOS: Imunologia, Gestação, Aloimunotolerância.

ABSTRACT

From the immunological point of view, pregnancy is possible because a complex im-munorregulatory network is triggered in order to develop a feto-maternal tolerance fromthe implantation through the birth.

The most important mechanisms involved in the gestational immunotolerance systemare debated in this paper and include: maternal hormonal influence on the immune sys-tem, the allorecognition of the Human Leukocyte Antigen (HLA) molecules expressed bythe embryo, local cytokines profile, Natural Killer cells cytotoxicity and the role of regu-latory T cells.

KEY WORDS: Pregnancy, Immunology, Alloimmunotolerance.

cadas, estão: as alterações cromos-sômicas (aneuploidias envolvendo oscromossomos 13, 16, 18, 21, 22, x e y),anomalias uterinas (septos, sinéquias,etc.), distúrbios endócrinos (hiperti-reoidismo, diabete melito descom-pensado, infecções, síndrome de ová-rios policísticos) e os estados pró-trombóticos (trombofilias auto-imu-nes e de origem genética) (3).

É curioso observar que existe apossibilidade de uma interação de di-ferentes sistemas que pode estar im-plicada de forma complexa nas per-das gestacionais não explicadas porfatores isolados (4, 5, 6, 7, 8). Doponto de vista imunológico, a gesta-ção somente é possível porque uma

intrincada rede imunorregulatória édisparada com o objetivo único dedesenvolver um estado de tolerânciamaterno-fetal e permitir a implanta-ção e manutenção do concepto atéque haja condições de sobrevivênciafora da cavidade uterina.

Entre os fatores envolvidos nessacomplexa rede imunomodulatória paraa tolerância e regulação do desenvol-vimento fetal e formação da placenta,destacam-se: a influência hormonalsobre o Sistema Imune materno, o re-conhecimento das moléculas do Com-plexo Principal de Histocompatibilida-de paterno (expressas pelo embrião),as citocinas liberadas no meio, o con-trole da citoxicidade direta das célulasNatural Killer uterinas e atividade dascélulas T regulatórias. A seguir, umarevisão abrangente e atual da literatu-ra discute de maneira simplificada taismecanismos.

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IMUNOLOGIA DA GESTAÇÃO Michelon et al. ARTIGO ESPECIAL

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I MUNOLOGIA DAGESTAÇÃO

Os avanços do conhecimento emimunologia permitiram que diversossegmentos da Medicina se desenvol-vessem rapidamente. Áreas privilegia-das por esse desenvolvimento foram ostransplantes de órgãos e tecidos e a re-produção humana.

O sistema imune é responsável portoda e qualquer relação entre o orga-nismo do indivíduo e fatores externosou agressores ao seu estado fisiológi-co habitual, tais como vírus, bactérias,fungos, corpo estranho, tumores oureações inflamatórias.

A gestação constitui um fenômenoímpar no organismo humano no que serefere ao comportamento do sistemaimune. Data de 1953 o lançamento dahipótese de Peter Medawar de que oembrião se comporta no organismomaterno como um enxerto semi-alogê-nico, estando, portanto, vulnerável àsteorias de rejeição e tolerância imuno-lógica (9). De fato, o produto gesta-cional contém metade do seu materialgenético de origem materna e a outrametade de origem paterna, sendo, por-tanto, estranho ao sistema imune damãe, que deverá abrigá-lo durante todaa gestação. O excepcional é que de al-guma forma esse embrião é reconheci-do pelo sistema imune materno, sem queseja disparada uma resposta contra a suapermanência e desenvolvimento naque-le ambiente, como ocorreria em qualqueroutra circunstância de exposição ao ma-terial genético proveniente de outro in-divíduo não idêntico (ex.: transplante deórgãos induzindo rejeição).

Outra peculiaridade é que o iníciodo desenvolvimento do produto gesta-cional é fortemente caracterizado pelaintensa proliferação celular (embrião eplacentação), à semelhança do que ocor-re com os tumores. Porém, na vigênciade gestação, o sistema imune maternonão dispara mecanismos visando ao blo-queio dessa proliferação, como seria es-perado em situações patológicas (ex.:tumores). Com isso, garante um am-biente favorável para o desenvolvimen-to do concepto até um estado de matu-

ração com capacidade de vida extra-uterina. Esse fenômeno pode ser desig-nado “tolerância imunológica”.

A ocorrência de um status imuno-lógico próprio do período gestacionalpode ser evidenciada também pela ob-servação de que algumas doenças deorigem auto-imune assumem compor-tamentos típicos de agravamento ou deatenuação durante o período gestacio-nal, na dependência do padrão deresposta imune que caracteriza a doen-ça de base. Dessa forma, caracteristi-camente doenças auto-imunes decor-rentes de exacerbação de respostas in-flamatórias (ex.: artrite reumatóide)são atenuadas ao iniciar-se a homeos-tase gestacional, enquanto doenças ca-racteristicamente dependentes da açãode auto-anticorpos são agravadas deforma importante nessa circunstância(ex.: lúpus eritematoso sistêmico).

Todas essas situações corroborama necessidade do desenvolvimento deum padrão de resposta alo-imune du-rante a gestação destinada à “proteção”do concepto desde o início da sua for-mação até o momento do nascimento.Esse é um padrão único, pelas pecu-liaridades discutidas acima, que diver-ge da resposta imune esperada para si-tuações similares não-gestacionais vi-venciadas pelo indivíduo. Dessa for-ma, desvios da resposta alo-imune aoembrião podem ser causa de complica-ções gestacionais e/ou de infertilidade.

Entre os fatores envolvidos nessaintrincada rede imunomodulatória paraa tolerância e regulação do desenvol-vimento fetal e formação da placenta,destacam-se: a influência hormonalsobre o sistema imune materno, o re-conhecimento das moléculas do Com-plexo Principal de Histocompatibilida-de paterno (expresso pelo embrião), ascitocinas liberadas no meio, o controleda citoxicidade direta das células Natu-ral Killer (NK) uterinas (uNK) e ativi-dade das células T regulatórias (T reg).

1. Influência hormonal sobreo sistema imune materno

Eventos decorrentes da própriaovulação, cópula e fertilização resul-

tam em modificações imuno-inflama-tórias na superfície mucosa do tratoreprodutivo feminino, com implicaçãodireta na implantação do blastocisto.A própria exposição ao sêmen e a ou-tros componentes do esperma contri-buem para um efeito imunossupressorsobre a superfície mucosa do trato re-produtivo feminino (10, 11).

Os hormônios esteróides induzidosdesde o momento da ovulação tambémassumem esse efeito, modulando a ati-vidade das células apresentadoras deantígenos (CAA), tanto da linhagemmielóide como linfóide, com relaçãodireta sobre as respostas imunológicasdaí decorrentes (12, 13). Na decídua,os leucócitos constituem uma popula-ção proeminente de células, incluindocélulas NK, macrófagos e células T(14, 15, 16), e estas células são respon-sáveis por alertar o sistema imune ma-terno para a presença de aloantígenosdurante toda a gestação (11, 17).

De uma forma geral, a progestero-na é o hormônio feminino com ativi-dade mais peculiar sobre o sistemaimune materno e na interface mater-no-fetal. A progesterona por si só écapaz de suprimir a função efetora dascélulas T, exercendo um efeito diretode modulação de canais de potássio damembrana celular e também sobre osíons-cálcio, com efeito direto sobre aexpressão gênica dessas células (18).

Talvez o mais importante efeito imu-norregulatório da progesterona estejarelacionado com a sua ação sobre os lin-fócitos T, cujos receptores de célula T(TCR) são do tipo γδ. Esse tipo de linfó-cito T, sob o estímulo alogênico, passa aexpressar também receptores para a pro-gesterona. A partir disso, sob altas con-centrações desse hormônio, tais linfóci-tos passam a sintetizar uma proteína imu-nomodulatória, chamada de Fator Blo-queador Induzido pela Progesterona(Progesterone Induced Blocking Factor– PIBF) (19, 20, 21, 22). Essa proteínaPIBF inibe a liberação de ácido aracdô-nico, inibe a atividade das células NK emodifica o balanço de citocinas (23).

Comparados a gestações normais,casos patológicos apresentam baixosníveis de PIBF (24). Todavia, apesarde o tratamento com progesterona re-

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duzir o risco para abortamento (25), osníveis de PIBF não são diferentes aose comparar pacientes tratadas comesse hormônio que evoluem ou nãocom aborto (26).

Dessa forma, é possível que em al-gumas circunstâncias o semi-aloenxer-to fetal seja incapaz de induzir a ex-pressão de receptores para progestero-na em linfócitos T γδ, de modo queapenas a suplementação com proges-terona seja insuficiente para desenca-dear uma resposta alo-imune adequa-da para a manutenção da gestação (27).

Portanto, a inter-relação imuno-en-dócrina pode constituir papel importan-te na fisiopatologia do abortamento eda falha primária de implantação, semque os níveis hormonais estejam ne-cessariamente alterados.

2. HLA-G e anticorposbloqueadores

A partir da implantação, o princi-pal tecido que confronta o sistema imu-ne materno é constituído pelas célulastrofoblásticas, as quais passam a repre-sentar a interface materno-embrioná-ria. Além da expressão diferenciada demoléculas HLA, responsáveis pelaidentificação do que é “próprio” e“não-próprio” no organismo de cadaindivíduo, estas células têm um poten-cial peculiar de resposta às citocinaspresentes no meio. Essas característi-cas são responsáveis pelo comporta-mento de “tolerância imunológica” aostecidos embrionários, fundamentalpara o desenvolvimento de uma gesta-ção normal.

As células do sinciotrofoblasto, res-ponsáveis pela nutrição do embrião,produção de βhCG e progesterona, sãooriginadas a partir do citotrofoblasto,envolvem praticamente toda a super-fície fetal e não expressam moléculasHLA. Por outro lado, as células cito-trofoblásticas (vilositárias, extravilosi-tárias, endovasculares e intersticiais)expressam pequena quantidade demoléculas HLA de classe I (28).

O citotrofoblasto extraviloso ex-pressa um tipo de molécula HLA declasse I, chamado HLA-G, com expres-

são limitada à placenta e células epite-liais tímicas (29). As células que ex-pressam HLA-G têm um importantepapel imunorregulatório, conferindouma menor suscetibilidade à lise me-diada pelas células NK. Além disso, asmoléculas HLA-G podem confundir ouatrapalhar a função de reconhecimen-to por parte do complexo receptor decélulas T maternas. Considerando-seque nenhuma célula trofoblástica ex-pressa HLA de classe II (30), essascélulas são, portanto, incapazes de es-timular diretamente as células T hel-per para o disparo de reações imuno-lógicas mais complexas (31). Dessaforma, sem qualquer expressão de mo-léculas HLA de classe I e II, as célulastrofoblásticas vilosas não podem fun-cionar como alvo de respostas citotó-xicas mediadas por células T duranteuma gestação normal (29, 32).

No caso de gestação normal, as cé-lulas do sinciotrofoblasto constituemalvo de ligação de anticorpos mater-nos, dirigidos contra as moléculas HLApaternas presentes nos tecidos embrio-nários. Estes anticorpos são conheci-dos como “anticorpos bloqueadores”,uma vez que funcionam como prote-ção à resposta citotóxica materna con-tra o embrião. Eles podem ser detecta-dos desde as primeiras fases da gesta-ção, permanecem por tempo indeter-minado na circulação materna e podemrecrudescer diante de um novo desafioantigênico no caso de nova gestação,especialmente se proveniente do mes-mo pai, como decorrência de memóriaimunológica específica.

Em condições normais, a simplesmodificação do perfil de citocinas ca-racterístico da gestação (Th2) está as-sociada a uma grande produção de an-ticorpos. A peculiaridade neste caso éque estes anticorpos não têm a capaci-dade de ativar complemento localmen-te e por isso não desencadeiam umaresposta imune efetiva no sentido declearance antigênico e fagocitose. Essacaracterística lhe é conferida graças auma glicosilação local de uma das re-giões Fab da molécula do anticorpoIgG, resultando em uma conformaçãoassimétrica. Acredita-se que o objeti-vo final de tais anticorpos é recobrir a

interface materno-fetal via HLA-G ecom isso bloquear a citotoxicidade lo-cal (33).

Quando o casal compartilha dosmesmos antígenos HLA DQα, as mo-léculas HLA-G desenvolvidas nos te-cidos placentários são exatamente asmesmas que um dia a mãe utilizou parao seu próprio desenvolvimento intra-útero. Como resultado, não ocorre aformação de anticorpos bloqueadorese o sistema imune materno reconhecea gestação como um tecido própriocom crescimento anômalo desenfrea-do (34). Portanto, de forma simplifi-cada, podemos inferir que as molécu-las HLA-G representam o estímulopaterno para a produção de anticorposbloqueadores que protegerão o embriãoe permitirão o desenvolvimento dostecidos placentários.

3. Linfócitos T e citocinas

Funcionando como um tecido imu-nológico especializado, a decídua eseus componentes assumem várias fun-ções, entre elas um papel essencial naimplantação e manutenção da gestação(35, 36). Os leucócitos deciduais po-dem contribuir direta e indiretamentepela expressão de receptores que poten-cialmente medeiam o reconhecimentodo trofoblasto fetal, a invasão trofo-blástica e a produção de citocinas queregulam e modulam a resposta imunematerna e a função vascular (37, 38).

Em uma gestação normal, as célu-las trofoblásticas são resistentes à lisepor linfócitos T citotóxicos, citotoxi-cidade direta pelas células NK e cito-toxicidade dependente de anticorpo,esta última também ação das célulasNK locais (32). Nesse contexto, as ci-tocinas assumem um papel complexo,atuando diretamente sobre a modula-ção da resposta imune. Elas atuamcomo mediadores responsáveis pelocomportamento individual e pela inte-ração dos diferentes tipos celulares nainterface materno-fetal. Podem ser pro-duzidas por macrófagos, linfócitos,células NK e pelas próprias células tro-foblásticas e agem através de vias com-plexas de feedback positivo ou negati-

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vo, controlando o nível de ativação in-flamatória nesse microambiente.

Diferentes subpopulações de linfó-citos T induzem a produção de um gru-po distinto de citocinas, responsáveispela evolução ou pela interrupção dagestação. Dessa forma, linfócitos Thelper tipo 1 (Th1) produzem IL-2,interferon gama (INFg) e fator de ne-crose tumoral beta (TNFb), que são ca-racteristicamente indutoras da imunida-de celular e de abortamento. LinfócitosT helper tipo 2 (Th2), todavia, produ-zem IL-3, IL-4 e IL-10, as quais promo-vem a produção de anticorpos bloquea-dores da atividade citotóxica, mantêm ascélulas NK deciduais inibidas e têm po-tencial antiinflamatório (4, 39, 40, 41).

Macrófagos estimulados liberamTNFa, que é capaz de induzir as célu-las NK a liberar IFNg. Este último ain-da promove um feedback positivo paraa ativação continuada de macrófagos eoutras células produtoras de TNFa nainterface materno-fetal, fortalecendoum ambiente citotóxico. Os linfócitosT do tipo Th1 são também importantefonte dessas citocinas pró-inflamató-rias, especialmente pela ação da IL-2,que é potente estimuladora da ativaçãoNK-macrofágica na interface materno-fetal. É interessante observar que partedo mecanismo pró-inflamatório promo-vido pelo IFNg é resultante da induçãoda expressão de moléculas HLA declasse I e II, as quais constituirão alvopara uma “alo-rejeição” materno-fetal,cujo reconhecimento pelas células Tmaternas será facilitado pela presençade TNF no meio (39, 42, 43).

Ao contrário, células Th2 têm opotencial de suprimir essa ativação de-letéria à gestação (4, 42, 43), especial-mente pela ação de IL-4 e IL-10, ini-bindo a ativação de células NK uteri-nas (4, 44). Além disso, as células tro-foblásticas liberam as interleucinas IL-4 e IL-7, que, à semelhança das citoci-nas produzidas pelos linfócitos Th2,promovem um feedback negativo paraas citocinas pró-inflamatórias Th1(TNFa, IL-2, IFNg e IL-18). A Figura 1demonstra esquematicamente essamudança do perfil de citocinas e o des-balanço pró-Th2 necessário para a

manutenção do microambiente gesta-cional e a alo-imunotolerância aos te-cidos feto-placentários.

4. Células NK

As células NK são células do siste-ma imune inato, são reconhecidas pelasua atividade citotóxica direta in vitroe possuem antígenos de superfície queas caracterizam: CD16 e CD56. CD16é um receptor de baixa afinidade paraIgG, está presente na maioria das célu-las NK e é responsável pela função decitotoxicidade celular dependente deanticorpo. Conforme a intensidade daexpressão do CD56, essas células po-dem ainda ser diferenciadas em duaspopulações: CD56dim e CD56bright. Ascélulas CD56dim são altamente citotó-xicas, enquanto as células CD56bright

são pouco citotóxicas, porém são tam-bém produtoras de citocinas imunor-regulatórias com perfil pró-inflamató-rio, como IFNg e TNFa (45).

A regulação da sua função depen-de da ativação dos seus diferentes re-ceptores. Elas possuem receptores deativação (KAR – Killer ActivatingReceptors) e de inibição (KIR – KillerInhibitory Receptors) do seu potencialcitotóxico. Na gestação normal, as cé-lulas trofoblásticas produzem IL-4 eIL-7, que induzem uma estimulação delinfócitos Th2 e um aumento do nú-mero de receptores inibidores nas cé-lulas NK deciduais, mantendo as célu-las NK com fenótipo não-ativado, ouseja, CD56+CD16–. Essas células sãochamadas de células NK uterinas, sãocapazes de reconhecer o HLA-G fetale ainda são produtoras de fatores su-pressores da citotoxicidade (37, 46).

As citocinas Th1 são ditas induto-ras de abortamento devido à sua capa-cidade de induzir na interface mater-no-fetal a diferenciação fenotípica dascélulas NK em células ativadas, ou seja,CD56+CD16+. Células NK com essefenótipo perpetuam o ambiente rico emIL-2, TNF e IFNg, com perfil Th1 pró-

Figura 1 – Representação esquemática do desbalanço pró-Th2, fundamental paraa manutenção da alo-imunotolerância característica da gestação normal.

Tecidos feto-placentários

Sistema imune materno

Resposta Th2 Resposta Th1

IL-4, IL-10IFN γ, TNF β, IL-2

NK

IL-3, IL-4, IL7, IL-10

Gravidez normal Gravidez interrompida

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inflamatório e pró-trombótico, devidoà ativação subseqüente das células en-doteliais (39, 40, 41, 47).

Por fim, acredita-se que durante agestação ocorra no território decidual,à semelhança do que ocorre no timo,um processo de maturação linfocitária,o qual é crucial para o bom desenvol-vimento da gestação. Dessa forma, abase para a fisiopatologia do aborta-mento espontâneo de repetição estariacentrada na ativação de células NKatravés de citocinas, ou seja, transfor-mando-as de células CD56+CD16-

(produtoras de fatores supressores, pró-Th2) em células CD56+CD16+ (cito-tóxicas e pró-inflamatórias) (44), ou,de outra forma, a não transformaçãodo fenótipo das células NK para umpadrão não-citolítico. Além da defi-ciência de células NK uterinas comfenótipo CD56+CD16-, pacientes queapresentam abortamentos espontâneosde repetição também possuem um nú-mero aumentado de células NK ativa-das (CD56+CD16+) na decídua e nosangue periférico (29, 32).

Análises com a técnica de microar-ray mais citometria de fluxo e RT-PCRdemonstram que o fenótipo das célu-las NK uterinas (CD16-CD56bright) édiferente das células NK de sangueperiférico (CD16+CD56dim) e que asprimeiras dispõem de um potencial im-munorregulatório não demonstrado emcélulas NK de sangue periférico (48).Essas observações sugerem que as cé-lulas NK uterinas representam umasubpopulação distinta das células NKcirculantes ou ainda que sofram umadiferenciação tecido-específica que ascaracterizam de forma tão peculiar.Todavia, além do que se conhece comrelação às citocinas locais, ainda sãodesconhecidos os eventuais fatores res-ponsáveis pelo controle do influxo,proliferação e diferenciação endome-trial das células NK.

Apesar da grande discussão na li-teratura e da grande necessidade de ummarcador periférico para tais diagnós-ticos, ainda se considera que a quanti-ficação de células NK de sangue peri-férico é incapaz de refletir o que de fatoacontece na interface materno-fetal(49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56). Dessa

forma, também não apresenta correla-ção com o número de perdas gestacio-nais prévias e é incapaz também depredizer o sucesso após procedimentode fertilização in vitro (45, 57).

A valorização clínica da quantifi-cação de células NK no endométrio éainda a mais fidedigna, porém com cut-offs de normalidade ainda discutíveis,dificultando a avaliação do seu valorprognóstico nos casos de abortamentorecorrente (58).

5. Células T regulatórias

O mecanismo primário responsávelpela tolerância aos auto-antígenos é adeleção clonal dos linfócitos T auto-reativos que ocorre no timo. Todavia,algumas células T auto-reativas esca-pam a esse processo e reconhecem an-tígenos teciduais periféricos. Dessa for-ma, células T auto-reativas estão nor-malmente presentes em todos os indi-víduos. Todavia, a ocorrência de doen-ças auto-imunes é relativamente rara.Isso indica que um mecanismo de to-lerância periférica aos auto-antígenosdeve estar continuamente funcionante,para evitar doenças auto-imunes (59).

Existe o consenso de que a popula-ção de células T CD4+CD25high é a res-ponsável por essa atividade imuno-re-gulatória antígeno-específica. Essascélulas estão envolvidas com os me-canismos de tolerância periférica, to-lerância aos transplantes e tolerânciamaterno-fetal, sendo, portanto, chama-das células “T regulatórias” (Treg)(60). Podem ser encontradas em san-gue periférico, timo, linfonodos e san-gue de cordão umbilical (61, 62).

As células CD4+CD25high expres-sam um gene chamado FoxP3. A trans-dução desse gene indica a expressãode CD25+, fortemente associado à fun-ção regulatória das células T. Um pro-blema encontrado é que a expressão deCD25 na membrana também indica aexpressão do receptor para IL2, umacitocina Th1. Portanto, em tecidos ati-vados, como, por exemplo, a decídua,o melhor indicador de função imuno-modulatória, ou seja, células Treg, é adetecção de FoxP3 em linfócito T.

Quando FoxP3 é expresso em célulasT CD4+CD25–, ocorre uma diferencia-ção dessas células em linfócitos TCD4+CD25+ com capacidade imuno-regulatória (63, 64).

Essas células inibem a imunoesti-mulação convencional das células Tatravés de contato célula-a-célula ouatravés de citocinas imunossupresso-ras, como IL10 e TGFb. Outros meca-nismos ainda têm sido propostos, comoa estimulação da indoleaminadioxina-genase (IDO) nesses linfócitos, enzi-ma importante no metabolismo do trip-tofano e essencial para a ativação lin-focitária em geral (60).

Na gestação, essa atividade é espe-cificamente dirigida aos aloantígenospaternos, regulando toda a intrincadarede de atividade imune relacionada aoalorreconhecimento, implantação, pla-centação e desenvolvimento fetal (60).Apesar de os mecanismos específicosde sua ação imunomodulatória na ges-tação ainda estarem sendo estudados,a proporção de células Treg na decí-dua e no sangue periférico aumenta nafase de gestação precoce (65, 66). Alémdisso, a ausência de células Treg levaà perda gestacional devido a uma re-jeição imunológica ao feto (67).

Essas observações reforçam o pa-pel fundamental dessas células no me-canismo de tolerância materno-fetal,especialmente após a demonstração deque essas células sofrem um aumentono sangue periférico no período pre-coce gestacional, com pico no segun-do trimestre, declinando no períodopós-parto (68).

C ONCLUSÃO

Para a ocorrência de uma gestaçãonormal, o sistema imune materno ne-cessita reconhecer os tecidos feto-pla-centários e disparar uma complexaresposta imunorregulatória que, a prio-ri, pode ser vista no organismo huma-no apenas nessa situação. Mecanismosenvolvendo uma intrincada rede de co-municação através de citocinas, molé-culas e receptores de diferentes tiposcelulares que compõem o sistema imu-ne local, ou seja, decidual, são respon-

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Na atualidade, a imunologia da re-produção constitui um capítulo adju-vante na compreensão e resolução decasos obstétricos complexos, podendooferecer investigação, diagnóstico e te-rapia específicos, que, em última análi-se, complementam a rotina reprodutiva.

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IMUNOLOGIA DA GESTAÇÃO Michelon et al. ARTIGO ESPECIAL

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