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    53 Cad. Pesq. Grad. Letr., vol. 2, n. 1, jan-jun 2012.

    O ENGAJAMENTO POTICO E AS CONQUISTAS LITERRIASNO RETBULO DE SANTA JOANA CAROLINA, DE OSMAN

    LINS

    Andra Jamilly Rodrigues Leito (UFPA)

    RESUMO: O presente trabalho pretende explorar a produo literria de Osman Lins, apartir do seu engajamento potico, especificamente em relao s conquistas literrias es inovaes no Retbulo de Santa Joana Carolina, a quintadas nove narrativas quecompem a obra Nove, Novena (1966). Estabelecendo uma ruptura concreta com omodo tradicional de narrar, o escritor pernambucano busca uma maneira autntica de

    construir suas narrativas, que seja capaz de veicular uma nova compreenso acerca domundo e da existncia, correspondendo ao seu projeto literrio. A proposta que aqui seapresenta suscita o desenvolvimento de um percurso interpretativo em torno da poticade Osman Lins com o propsito de refletir acerca do processo de ressignificao dasformas literrias no Retbulo de Santa Joana Carolinacomo legtima manifestao doengajamento do escritor. Diante da grandeza experimental da narrativa de Osman Lins,optou-se pela abordagem interpretativa do engajamento potico (PAGANINI, 2000), afim de interpretar como se configura o engajamento tanto no enredo de temtica scio-

    poltica quanto no mbito da poiesis, do prprio acontecer da linguagem, a partir daapropriao criativa e original de elementos da arte medieval.

    PALAVRAS-CHAVE:Poiesis. Engajamento potico. Experimentalismo literrio.

    1. CONSIDERAES INICIAIS

    O presente estudo pretende explorar o engajamento potico configurado nacriao ficcional de Osman Lins, especificamente no que diz respeito s conquistasliterrias alcanadas no processo de construo do Retbulo de Santa Joana Carolina,a quinta das nove narrativas deNove, Novena(1966). Esta obra considerada um marcofundamental na viragem ocorrida na produo literria do escritor, devido ao alto nvel

    de experimentao presente nos seus procedimentos narrativos. As inovaes foramessenciais na trajetria de Osman Lins, pois, por um lado, significaram uma rupturacom seu fazer literrio anterior, de cunho mais intimista, e, por outro, viriam a impactarsuas obras posteriores, especialmente o romanceAvalovara (1973).

    Este estudo possui o propsito de interpretar a dimenso das conquistas literrias eo papel dessas inovaes dentro do projeto literrio do escritor pernambucano. Nestesentido, prope-se a fomentar a discusso em torno dos experimentalismos, presentes naconstruo das instncias narrativas do Retbulo de Santa Joana Carolina, comomanifestaes legtimas do engajamento potico do escritor, cujo posicionamento tico

    perpassa, em termos ontolgicos, a busca de restabelecer o elo perdido entre o homem ea divindade. O processo de ressignificao das estruturas literrias tradicionais instaurano espao da poiesisuma maneira prpria de narrar e, ao mesmo tempo, constri umnovo entendimento acerca do mundo e da existncia.

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    Diante da grandeza experimental da narrativa osmaniana, enveredou-se por umanova abordagem interpretativa, sob o vis do engajamento potico, termo designado porJoseana Paganini (2000). Constituindo-se no propsito de revalorizar a noo deengajamento, amplamente vulgarizado pela tradio literria, o engajamento poticoremete explorao de uma temtica referente a uma determinada realidade scio-

    econmica e, ao mesmo tempo, problematizao dos meios artsticos de criao noprprio mbito da poiesis, na dimenso manifestativa da linguagem. Para embasar oestudo acerca da potica de Osman Lins, realizou-se o dilogo, sobretudo, com autorescomo Joo Alexandre Barbosa (1966), Benedito Nunes (1967), Anatol Rosenfeld(1970a, 1970b), Sandra Nitrini (1987) e Ana Luiza Andrade (1987).

    A narrativa vislumbra, em seu enredo, a vida de Joana Carolina, uma mulherhumilde do interior de Pernambucano, que vive as mazelas sociais provenientes daestrutura desigual do sistema econmico dos grandes engenhos de acar e da prpriadinmica da natureza sertaneja. Por outro lado, a narrativa apresenta elementosinovadores na sua configurao textual, os quais projetam mais do que a simplesrenovao da forma esttica, mas uma nova experincia do homem em comunho plena

    com as potncias csmicas do universo, cuja representao literria tradicional j noera capaz de abarcar. As inovaes manifestam o engajamento tanto no plano dadiegesisquanto no prprio plano dapoiesis, a saber, da construo de sentidos por meioda palavra, que, em conjunto, veiculam uma nova realizao do homem no mundo.

    O percurso interpretativo aborda a configurao do engajamento potico noprprio processo de escritura da narrativa, em dilogo principalmente com as artessacras do perodo medieval: a forma pictrica do retbulo e do ornamento e a formateatral do mistrio. Em outras palavras, trata-se de compreender de que modo esseselementos manifestam-se significativamente na experincia criativa de Osman Lins,traduzindo-se em conquistas literrias, tais como a plasticidade da palavra, oaperspectivismo e a intemporalidade das construes narrativas conquistas estas asquais operam, em outra dimenso, uma nova significao a respeito da existnciahumana e da prpria atividade da escrita.

    2. O ENGAJAMENTO POTICO DE OSMAN LINS

    A obra Nove, Novena foi publicada no ano de 1966, dois anos aps o golperealizado pelos militares no Brasil. A ditadura militar foi um perodo marcado pelosrgos estatais de censura, pela ausncia de liberdade de expresso e pela supresso dosdireitos humanos e cvicos. O ataque democracia e a coero exercida sobre a

    coletividade exigia por parte do homem um posicionamento concreto diante dessasituao. No mbito da arte, o artista precisava engajar-se ativamente nos problemasscio-polticos, opor uma forte resistncia em relao aos poderosos aparelhosideolgicos do Estado ditatorial. As obras de arte, portanto, deviam possuir ocompromisso ideolgico de manifestar esse posicionamento e refletir criticamenteacerca dessa realidade opressora que consumia o pas inteiro, a ponto de se tornar, decerta forma, uma exigncia, sob pena de a obra, ao no assumir explicitamente estecompromisso, ser rotulada de alienada (PAGANINI, 2000, p. 30-31).

    A obra Nove, Novena causou estranhamento e um significativo impacto nocenrio literrio brasileiro em razo das inovaes presentes na sua configuraotextual, na medida em que realizou um rompimento definitivo com os parmetros

    estabelecidos pela crtica e instaurou uma maneira prpria de narrar. Assim, oengajamento de Osman Lins manifesta-se na prpria esfera do fazer literrio, superando

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    os procedimentos tradicionais de criao artstica, tais como o preceito aristotlico dereproduo mimtica da realidade e o princpio realista da objetividade prpria do

    paradigma cientfico.O texto literrio do escritor pernambucano manifesta-se luz do que Joo

    Alexandre Barbosa (1990, p. 120) denominou de modernidade literria, na qual se

    instaura uma profunda tenso configurada no prprio nvel da construo textual, umavez que leva para o princpio de composio, e no apenas de expresso, umdescompasso entre a realidade e a sua representao, exigindo, assim, reformulao erupturas dos modelos realistas. Huma quebra com os valores literrios tradicionaise um novo posicionamento do escritor, por meio de um amplo questionamento acercado modo pelo qual se realiza a articulao entre realidade e representao no mbito dalinguagem, desse modo, trazendo-a conscientemente para o prprio proscnio da criaoartstica, no sentido de transformar a linguagem da realidade em realidade dalinguagem (BARBOSA, 1990, p. 121).

    Joseana Paganini, em sua dissertao na qual discute o processo de construo daobraA Hora da Estrela, de Clarice Lispector, props um estudo acerca do engajamento

    no campo da literatura sob um novo vis, a partir do que denominou de engajamentopotico1, em direo a uma revalorao do prprio conceito de engajamento(PAGANINI, 2000, p. 39), ampliando significativamente a sua abrangncia. Pois, oengajamento social, como vem sendo habitualmente empregado pela tradio literria,encontra-se vinculado exclusivamente representao de uma determinada situaohistrica e suas implicaes na vida de um grupo.

    O engajamento potico, por sua vez, envolve o conceito de engajamento social,manifestando-se em obras que alm de se comprometerem com a srie social e poltica,elas ainda apresentam um questionamento dos meios poticos de expresso (PAGANINI, 2000, p. 38). Portanto, no remete apenas expresso de uma temticacomprometida com uma realidade scio-poltica, ou seja, restrito ao plano da diegesis,do contedo da narrativa, mas igualmente remete ao plano da poiesis, da dimenso dalinguagemmatria-prima do escritor, por excelncia, em que a problematizao dosmeios legtimos de criao desdobra-se na prpria construo dos elementos quecompem uma obra literria:

    Enquanto o engajamento social se encontra sobretudo em uma literatura centrada nareferencialidade, que busca documentar e reinterpretar um determinado quadro poltico e histrico,as obras representantes do engajamento potico se concentram na elaborao potica da linguagemcomo forma de compreenso do mundo e do homem em sua totalidade (PAGANINI, 2000, p. 39).

    Alm de tratar de uma temtica bastante explorada pelos grandes romances

    caracterizados como regionalistas, o escritor Osman Lins revolucionou as formasartsticas existentes, especificamente as categorias envolvidas na composio danarrativa tradicional, com a adoo de novos processos literrios, sendo alguns

    provenientes da relao com outras artes, como, por exemplo, as artes plsticas e visuaisdo medievo. O engajamento do escritor pernambucano configura-se no prprio espaodapoiesis, na prpria dimenso do acontecer da linguagem, a partir da problematizaodos limites de representao do real no espao da escritura, incorporando na estrutura daobra a crise instaurada por uma redefinio do homem na dinmica do tempo e, porconseguinte, impulsionando o movimento de recriao de novas experincias literrias.

    1 O termo potico refere-se ao sentido originrio de poiesis, que, etimologicamente, significa um

    produzir que d forma, um fabricar que engendra, uma criao que organiza, ordena e instaura umarealidade nova, um ser(NUNES, 2003, p. 20). Isto , diz respeito ao prprio processo de construo desentidos de uma obra de arte.

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    As narrativas de Nove, Novena operam a partir da linguagem, do jogo com asformas literrias, uma nova relao do homem com a totalidade do real, em que ele nose coloca mais como o centro ordenador e a medida essencial das coisas. Ao instituir demodo originrio o seu vocabulrio e os elementos constituintes da sua narrativa, a obrade Osman Lins redimensiona, simultaneamente, a prpria compreenso acerca da

    existncia do homem no mundo. Anatol Rosenfeld (1970a, p. 1), discutindo acerca dosprocessos narrativos utilizados pelo escritor, afirma que

    os novos processos no so resultado de um jogo formal gratuito, mas exprimem umaexperincia mais profunda e mais pensada que a que se organizou nas obras anteriores, de feitiomais tradicional [...] So conseqncia, em ltima anlise, de reflexes ontolgicas eantropolgicas, de uma nova viso do homem e da sua relao com o universo, viso que j no captvel, de forma adequada, pelas estruturas da narrativa tradicional.

    Dentro do projeto literrio de Osman Lins, a grande originalidade de suas criaesartsticas e o alto nvel de experimentao presente nos seus procedimentos ficcionaismanifestam mais do que uma extravagncia esttica ou um jogo formal gratuito, mas

    uma experincia inaugural do homem com o real, com as potncias csmicas douniverso, que a forma literria tradicional j no era mais capaz de abarcar, por meio desuas estruturas narrativas, a grandiosidade da sua experincia como homem e comoescritor. De tal modo que a obra apresenta como subttulo simplesmente o termonarrativas, cuja abrangncia permite abarcar a proposta inovadora do texto, uma vezque rompe com as rgidas classificaes referentes aos gneros literrios consagrados,tais como o romance e o conto.

    Com base no que foi exposto, no tpico seguinte abordar-se- de que modo oengajamento potico de Osman Lins manifesta as conquistas literrias alcanadas peloRetbulo de Santa Joana Carolina no prprio plano de construo do seu tecidonarrativo, principalmente em relao aos aspectos da plasticidade e do aperspectivismo,

    a partir de uma apropriao criativa e original de elementos composicionais da criaoartstica medieval.

    3. AS CONQUISTAS LITERRIAS CONFIGURADAS NO RETBULO DESANTA JOANA CAROLINA

    Osman Lins j havia publicado anteriormente outras obras bastante festejadas pelacrtica e, inclusive, premiadas, como O visitante (1955), Os gestos (1957) e O fiel e a

    pedra(1961), mas a partir de Nove, Novenaque Osman Lins realmente se prope aradicalizar o seu fazer literrio, adotando, para tanto, procedimentos narrativosinusitados. Esta obra constitui-se como um verdadeiro marco na sua vida literria,momento de convergncia entre experincia e palavra. Neste sentido, as inovaes e asconquistas literrias implicam um novo posicionamento tico-potico dentro do projetoficcional do escritor.

    O desafio experimental a que a narrativa se prope reside no significativo dilogoestabelecido com os elementos artsticos da tradio medieval, incorporando-os etransfigurando-os originalmente no prprio processo de escritura do seu texto. Oescritor pernambucano possua um declarado fascnio e interesse pelas obras de artesmedievais, que se intensificou durante uma viagem feita Europa em 1961, como

    bolsista daAlliance Franaise:

    E a viagem me marcaria muito porque nela viriam a se definir certas coisas que j se esboavamno meu esprito antes de partir. Eu diria que a principal experincia desta minha temporada, que

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    me marcou e marcar o resto da minha vida, foi o contato com os vitrais e com a arte romnica, aarte medieval em geral (LINS, 1979, p. 212).

    A arte realizada no perodo da Idade Mdia essencialmente teocntrica, mstica ereligiosa, ressaltando o carter espiritual e metafsico da experincia do homem nomundo, em sua relao com a divindade. Dessa forma, a valorizao da esttica da artemedieval instaura, segundo Osman Lins (1979,p. 214), na criao artstica uma visodas coisas que se ope quela viso antropocntrica do homem renascentista, em que oser humano no mais se situa como o centro ordenador e dominador das coisas, mas secoloca em conexo direta com as foras e as potncias do universo que o excedem.

    A emergncia cientfica e tecnolgica, suscitada no perodo histrico doRenascimento por ocasio das Grandes Navegaes, determina uma nova dinmica dohomem em relao com o mundo, em que ele se constitui enquanto sujeito capaz dedefinir a realidade exclusivamente pelo conhecimento lgico-racional e deinstrumentalizar as foras naturais para fins prticos. A partir da Renascena,vislumbra-se o processo de dessacralizao da arte, uma vez que o homem se desfaz da

    sua ligao espiritual com a ordem divina, suplantando-a. Desse modo, o ser humanovai ficando cada vez mais cego para o mundo, e seus liames com o universo afrouxam(LINS, 1979, p. 17), instaurando-se uma ciso com a totalidade absoluta das coisas e aharmonia csmica estabelecida entre os elementos celestes, presentes na experinciamtica dos tempos primordiais:

    Na Antigidade o universo tinha uma forma e um centro; seu movimento estava regido por umritmo cclico [...] Tudo era um todo. Agora o espao se desagrega e se expande; o tempo se tornadescontnuo; e o mundo se torna descontnuo; e o mundo, o todo se desfaz em pedaos. Dispersodo homem, errante em um espao que tambm se dispersa, errante em sua prpria disperso (PAZ,1996, p. 101).

    O dilogo com a arte medieval possibilita ao escritor pernambucano atualiz-la nasua experincia criativa e, assim, recolocar o homem em comunho com o divino e coma instncia espiritual que rege as foras csmicas do universo. H, na obra Nove,

    Novena, uma busca incessante de restituir a dimenso espiritual do mundo, a unidadeperdida entre o humano e a divindade, bem como de reagir contra o estado geral dedisperso e a fragmentao do real. Pois, atravs da experincia do sagrado, doencontro com a realidade transumana, que nasce a idia de que alguma coisa existerealmente, de que existem valores absolutos, capazes de guiar o homem e de conferiruma significao existncia humana (ELIADE, 1972, p. 123-124, grifo do autor).

    A narrativa central intitulada Retbulo de Santa Joana Carolina baseada naav paterna de Osman Lins de mesmo nome apresenta a via sacra da personagem-

    ttulo por uma existncia atravessada por injustias e infortnios, entremeada poracontecimentos alusivos s Sagradas Escrituras. Uma das personagens, inclusive, chegaa dizer o seguinte a respeito de Joana: Vinha, de dentro dela, uma serenidade como aque descobrimos nas imagens de santo, as mais grosseiras. Um som de eternidade(LINS, 1994, p. 86)2. A narrativa divide-se em doze Mistrios, em que cada personagemnarra um momento particular da vida de Joana Carolina, a comear pelo seu nascimentoe, por fim, a sua morte.

    Viva e com cinco filhos para prover, Joana Carolina uma mulher humilde esimples que vive no interior do serto pernambucano e sofre com as profundas mazelas

    2

    A partir daqui, as citaes da narrativa sero identificadas pelo seu nome abreviado (RSJC) e o nmerocorrespondente da pgina, valendo-se da seguinte edio: LINS, Osman.Nove, novena: narrativas. 4. ed.So Paulo: Companhia das Letras, 1994.

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    sociais de uma sociedade marcada pela rgida estrutura patriarcal dos grandes engenhosde acar, na qual uns detm os meios de produo e outros vendem a sua fora detrabalho em troca de condies mnimas de subsistncia. Por outro lado, a prpriadinmica devastadora da natureza do serto, que se alterna entre secas e inundaes,impe dificuldades vivncia do homem do serto. Joana oferece os seus servios como

    professora do primrio, a fim de garantir a sobrevivncia de sua famlia, sem jamais sedesvirtuar de sua dignidade e de sua integridade moral.Embora aborde uma temtica muito cara aos grandes romancistas nordestinos,

    sobretudo os da dcada de 30 e 40, como Graciliano Ramos, Jos Lins de Rego, Rachelde Queiroz, entre outros, acerca da condio social do homem sertanejo, o qual padececom as imposies do patro e de uma natureza hostil, a narrativa de Osman Linsdesvincula-se da retrica essencialmente ideolgica e do modo documental de narrar

    prprio da vertente literria dita regionalista, que impe a literatura engage com todaa sua carga de intencionalidade combativa, voltada para a revoluo ou para a reforma,em prol da denncia, que corresponde demanda de um segmento marginalizado dasociedade, isto , a servio de determinada causa, grupo, classes, doutrina ou partido

    (CASTELLO, 2004, p. 360).Na narrativa-retbulo, por sua vez, o engajamento se d prioritariamente no

    compromisso com o trabalho livre de criao e na radicalizao das formas literrias, oque possibilita na poiesisda obra, ou melhor, no seu prprio processo de construo,realizar uma nova articulao com a realidade, partindo de uma apropriao criativa eoriginal de elementos composicionais da criao artstica do medievo, como a formateatral do mistrio e a forma pictrica dos ornamentos e do retbulo. Assim, esseselementos operam a desestabilizao dos esteretipos assentados sobre o povonordestino, na medida em que lanam a personagem de Joana Carolina em umadimenso que extrapola o espao fsico:

    Mas esta narrativa construda em 12 quadros ou mistrios, cada um deles relacionado com ossmbolos do zodaco. Ento j no mais uma histria de uma mulher vivendo em Pernambuco, a histria de uma mulher que viveu em Pernambuco projetada contra as constelaes, projetadacontra o mundo (LINS, 1979, p. 223).

    A narrativa de Osman Lins ultrapassa os contornos geogrficos do sertonordestino onde se desenrola a existncia de Joana, atingindo os domnios absolutos doser humano em relao ntima com um cosmos sacralizado. De acordo com Ferraz(2003, p. 32), por meio da encenao de uma ordem metafsica a reger o universo,representada pela manifestao do sagrado, o autor reage fragmentao do mundocontemporneo, recuperando um eixo ontolgico que reunifica homem e natureza sob

    um fundamento comum. H, portanto, uma recolocao do lugar do homem no mundo,no mais situado em face do universo, em uma posio distanciada e controlando-ocomo se fosse o seu criador, mas nele inserido plenamente, como parte integrante nadinmica espiritual configurada no espao astronmico dos signos zodiacais que soreferidos na narrativa.

    A narrativa em questo configura-se em doze Mistrios, que apresentam, em seucorpo textual, ornamentos introdutrios e micronarrativas relacionados a episdios

    pontuais da existncia da personagem-ttulo, tais como: o nascimento, a infncia, ocasamento, a velhice e a morte. O mistrio consiste em uma forma artstica da IdadeMdia, que se constitui como uma realizao dramtica de passagens das sagradasescrituras ou de biografias de santos. Implicados na viso teleolgica da Histria, os

    enredos desenvolviam-se em uma estrutura circular: vida-morte-renascimento(SOARES, 2004, p. 170-171). Sendo assim, a narrativa ilustra o percurso de

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    sacralizao de Joana Carolina, desde o seu nascimento at o instante iluminador de suamorte.

    Cada Mistrio est interligado a um signo do ciclo do Zodaco, iniciando com ode Libra e finalizando com o de Virgem. Os signos so aludidos ou referidosexplicitamente ao longo do Mistrio ao qual pertencem. Segundo Anatol Rosenfeld

    (1970a, p. 4), a correlao entre os mistrios e os signos inscreve a vida de Joana notempo mtico circular das constelaes, religando a dimenses csmicas, semelhanados ornatos, cuja funo expressa a de tecer o mundo e de criar vnculos entre ohomem e o universo.

    O ornamento verbal realiza, no incio de cada Mistrio com a exceo doltimo, cujo ornamento se incorporou tessitura da micronarrativa , uma evocao

    potica acerca do mundo, anunciando plasticamente a micronarrativa e vislumbrando aunidade por meio da palavra. Dessa forma, o ornamento um recurso literrioimprescindvel na potica de Osman Lins, pois, promovendo a ligao mais ntimacom a totalidade das coisas e com os cosmos, os ornamentos osmanianos podem serconsiderados como uma grande alegoria da harmonia csmica, incluindo-se nela o

    homem (NITRINI,1987, p. 203).Para Hans Sedlmayr (apud NITRINI, 1987, p. 203), o ornamento uma

    manifestao artstica que

    pressupe uma ordenao das prprias coisas: alm de caracterizar o valor adorno, tem de seconformar com o ordenado, que o interpreta e pode ter uma significao profunda no s nosentido espacial, mas estabelecendo uma peculiar e caracterstica relao de unio entre o homeme as coisas.

    Na esteira do pensamento do historiador austraco, o ornamento do StimoMistrio autocomenta-se, no sentido de que apresenta a sua prpria concepo deornamento, ligada noo de ordem e de harmonia, a partir da referncia a matrias-

    primas e utenslios relacionados atividade de coser, configurando a imagemcosmicizada da criaocomoum trabalho artesanal realizado por meio de mos quetecem e enredam tessituras de significaes. Assim, o ornamento evoca a reconciliao

    profunda entre o homem e o mundo:

    No por ser-nos teis que o burel ou o linho representam uma vitria TAPECEIRA BASTIDORROCA L do nosso engenho; sim por serem tecidos, por cantar neles uma ordem, o sereno, ofirme e rigoroso enlace da L COSER AGULHA CAPUCHO L urdidura, das linhas enredadas.Assim que suas expresses FIANDEIRA CARNEIRO FUSO L mais nobres so aquelas emque, com ainda maior disciplina, floresce o ornamento: no croch, no tapete, no brocado (RSJC,p.89).

    A arte medieval fundamentalmente manual e rica em detalhes, de um trabalhominucioso executado pelos artesos. As iluminuras, por exemplo, so fundamentais nacomposio dos manuscritos medievais e representam mais do que apenas elementosdecorativos, mas a prpria essncia da obra de arte em conexo com a esfera espiritual:As oficinas dos copistas, calgrafos e iluminadores scriptoriatornar-se-iam centrosde atividade artstica, pois o manuscrito com a palavra de Deus um objeto sagradocuja beleza visual deve refletir a importncia do contedo (JANSON, 2001, p. 366,grifo do autor).

    Neste sentido, o ornamento torna-se uma autntica possibilidade de restaurar ovnculo sagrado entre o homem e as potncias csmicas do universo, na medida em que

    estabelece uma ligao com um plano elevado e com a experincia da totalidade domundo. De acordo com o escritor Osman Lins (1979, p. 224), a arte que recusa o

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    ornamento, a meu ver, uma arte a caminho da morte. Porque eu penso que o fato denos voltarmos para o cosmos que enriquece o que estamos fazendo, tanto nas nossascriaes como nas nossas relaes humanas.

    A respeito dos ornamentos presentes no incio de cada Mistrio, emboraaparentem possuir um carter apenas decorativo ou figurativo, desvinculados

    semanticamente da matria da narrativa, Sandra Nitrini (1987, p. 203) alerta: Trata-se,no entanto, de uma falsa gratuidade, pois os ornatos entretm uma relao estreita com asignificao da obra, imbricados na prpria configurao dos elementos da narrativa. Oornamento do Primeiro Mistrio, por exemplo, instaura o espao astronmico douniverso e a harmonia perfeita estabelecida entre os seus componentes, regulados pelainvisvel balana. E, ao mesmo tempo, a micronarrativa manifesta, por meio da voznarrativa da parteira, o nascimento de Joana Carolina, o seu advento ao mundo, sob adimenso csmica do stimo signo do Zodaco, a Balana, que se refere tanto aoequilbrio entre os planetas e as constelaes, quanto conduta de justia e serenidadeque permear a tortuosa travessia da personagem pela existncia:

    As estrelas cadentes e as que permanecem, blidos, cometas que atravessam o espao comorpteis, grandes nebulosas, rios de fogo e de magnitude, as ordenadas aglomeraes, o espaodesdobrado, as amplides refletidas nos espelhos do Tempo, o Sol e os planetas, nossa Lua e suasquatro fases, tudo medido pela invisvel balana, com o plen num prato, no outro as constelaes,e que regula com a mesma certeza, a distncia, a vertigem, o peso e os nmeros (RSJC, p.72).

    Cada Mistrio constitui um quadro diferente que compe a totalidade do retbulo.A narrativa de Osman Lins, portanto, aproxima-se da linguagem arquitetnica da formaretabular, a partir de uma escritura que privilegia a encenao de imagens e o estratovisual do texto, sublinhando a faceta pictrica e plstica do discurso osmaniano(NITRINI, 1987, p. 209). Na micronarrativa do Primeiro Mistrio, a personagem da

    parteira narra o momento do nascimento de Joana Carolina, revivendo-o e recriando-o,como se estivesse enunciando a partir de um quadro figurativo, que proporciona a visode Joana Carolina ainda beb, da me Totnia, dos irmos e, igualmente, de si prpria,configurados na cena narrativa:

    L estou, negra e moa, sopesando-a (to leve!), sob o olhar grande de Totnia, que me pergunta: gente ou homem? [...] Aquelas quatro crianas que nos olham, perfiladas do outro lado dacama, guardando nos punhos fechados sobre o peito seus destinos sem brilho, so as marcasdaquelas passagens [do marido] sem aviso, sem durao: Suzana, Joo, Filomena e Lucina (RSJC,

    p. 72-73, grifo nosso).

    J na micronarrativa do Stimo Mistrio, a personagem de Laura, filha de Joana

    Carolina, narra, ou melhor, pinta com palavras a cena em que a me tenta salvar a suairm, Maria do Carmo, da doena de bexiga que assola a famlia. Como uma autnticailustrao frente de um espectador, a narradora identifica as personagens, incluindo-seela, de acordo com a disposio no enquadre da pea:

    Maria do Carmo, Carminha, irm querida, minha companheira verdadeira, porque mulher, morreranaquela doena cujo nome no soubemos. Nela que mame aplicando o clister, com a bexiga de

    boi na extremidade do canudo de carrapateira. Assemelha-se, minha irmzinha, a um grotescosoprador de vidro. Sou eu a de tranas. N, lvaro e To no aparecem. Mas estavam a,amontoados conosco nessa pea, todos queimando de febre (RSJC, p. 92, grifo nosso).

    No ornamento do Oitavo Mistrio, h uma sequncia enumerativa de palavras

    relacionadas entre si, cuja disposio ressalta a sua camada sonora e introduz um ritmopotico (NITRINI,1987, p. 248), construindo paulatinamente um segmento descritivo,

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    um quadro-vivo, o qual alude rotina de trabalho de um engenho do Nordeste rural,patriarcal, escravocrata e dependente do ciclo econmico do acar:

    O massap, a cana, a caiana, a roxa, a demerara, a fita, o engenho, a bica, o mel, a taxa, oalambique, a aguardente, o acar, o eito, o cassaco, o feitor, o cabo, o senhor, a soca, a ressoca, a

    planta, a replanta, o ancinho, o arado, o boi, o cavalo, o carro, o carreiro, a charrua, o sulco, oenxerto, o buraco, o inverno, o vero, a enchente, a seca, o estrume, o bagao, o fogo, a capinao,a foice, o corte, o machado, o faco, a moagem, a moenda, a conta, o barraco, a cerca, o aude, aenxada, o rifle, a ajuda, o cambo, o cabra, o padrinho, o mandado, o mando (RSJC, p. 94).

    A escritura da narrativa de Osman Lins evoca a prpria plasticidade do processode construo pictrica dos ornamentos e das imagens retabulares. Sendo assim, operanos movimentos arquitetnicos da criao a recuperao das esquecidas origensartesanais da obra de arte, do gesto vivo de escrever e, sobretudo, da foraessencialmente visual da palavra, cujo potencial criador nomeia e, por assim dizer,concebe um mundo pleno de sentidos.

    Em relao ao aperspectivismo, h de se discutir, em princpio, o fundamento da

    perspectiva, cuja noo geral no mbito das artes surge na Grcia Antiga e,posteriormente, reintroduzida no perodo do Renascimento. Isso se explica, pois,segundo a hiptese apresentada por Anatol Rosenfeld (1996, p. 77), a perspectiva sejaum recurso para a conquista artstica do mundo terreno, isto , da realidade sensvel. uma caracterstica tpica de pocas em que se acentua a emancipao do indivduo,fenmeno fundamental da poca sofista e renascentista. Desse modo, a perspectiva

    projeta o mundo a partir de uma viso antropocntrica do mundo, referida conscincia humana que lhe impe leis e ptica subjetivas (ROSENFELD, 1996, p.78), uma vez que se coloca arbitrariamente na posio soberana de sujeito doconhecimento com o propsito de abarc-lo em sua verdade absoluta. Isto , todo oempenho do homem est em instituir, luz do cogito cartesiano, definies e

    representaes sobre questes que atravessam o homem e o mundo; acreditando, noauge de sua pretenso, esgot-las em teorias conceituais.

    O universo medieval, por seu turno, alheio e indiferente dimensoperspectvica, correspondendo a uma construo particular acerca do mundo: como aTerra imvel, fixa no centro do mundo, assim o homem tem uma posio fixa nomundo e no uma posio em face dele. A ordem depende da mente divina e no dahumana (ROSENFELD, 1996, p. 78, grifo do autor). O homem no se constitui comoo fundamento e a razo de ser das coisas. O mundo quem o acolhe no seu vigorar, nasua dinmica de realizao, doando as possibilidades de existncia e os horizontes desentido. H, portanto, uma fora maior que rege e, ao mesmo tempo, instaura omovimento csmico do universo e que o ente humano, por sua vez, no capaz deapreender na sua limitada faculdade racional.

    A viso aperspectvica da Idade Mdia ressalta um momento histrico marcadoespiritualmente pelo teocentrismo, ou seja, Deus como o princpio e a causa final dascoisas. Assim, as realizaes humanasproduzidas durante o medievo, como reflexo daviso geral do homem medieval, tendiam a ver as coisas como se eles no estivessemfixados num determinado lugar. Isso levava a uma viso do mundo muito mais rica, nolimitava a viso das coisas condio carnal (LINS, 1979, p. 213-214). Neste sentido,as obras artsticas e arquitetnicas apontam para uma realidade absoluta que transpe aesfera terrena, em que no existe uma perspectiva central, e sim a totalidadetransfigurada no conjunto e, simultaneamente, em cada segmento, como a prpria

    encenao da unidade divina:

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    Um templo maia, uma catedral medieval ou um palcio barroco era alguma coisa mais do quemonumentos: pontos sensveis do espao e do tempo, observatrios privilegiados de onde ohomem podia contemplar o mundo e o transmundo como um todo. Sua orientao correspondia auma viso simblica do universo; a forma e a disposio de suas partes abriam uma perspectiva

    plural, verdadeira encruzilhada de caminhos visuais: para cima e para baixo, na direo dos quatropontos cardeais (PAZ, 1996, p. 102-103).

    De acordo com Sandra Nitrini (1987, p. 71), a estrutura composicional dasnarrativas que compem a obra Nove, Novena baseia-se, em geral, na forma de umretbulo, na medida em que as sequncias narrativas esto dispostas em um sistema de

    justaposio, ou seja, configuradas em segmentos descontnuos e independentes entre si.O retbulo uma construo artstica prpria da esttica medieval, esculpida em pedraou madeira e localizada, em geral, nos altares de igrejas, com a figurao plstica deaes em grandes painis, os quais ilustram cenas bblicas ou sobre a vida de santos.

    Alm de possuir uma conotao religiosa, a forma especfica do retbulopossibilita o processo de descronologizao das estruturas narrativas, pois estabeleceuma ruptura com a linearidade temporal e a ordenao cronolgica das construes

    narrativas, a partir de uma encenao simultnea dos eventos narrados em quadros, oque permite uma viso panormica dos acontecimentos. Essa uma das caractersticasprincipais da arte pertencente ao perodo medieval. Conforme Arnold Hauser (1995, p.280),

    A forma bsica da arte gtica a justaposio. Quer a obra individual seja composta de numerosaspartes relativamente independentes ou no seja analisvel em tais partes, quer seja umarepresentao pictrica ou plstica, pica ou dramtica, sempre dominada pelo princpio daexpanso e no da concentrao, de coordenao e no de subordinao, da seqncia aberta e noda forma geomtrica fechada.

    Assim, o fruidor levado a percorrer as diversas cenas ilustradas, sem que haja

    uma perspectiva central e unificadora, instaurando um dilogo aberto e criativo com atessitura intrnseca da obra no momento da leitura. No campo literrio, esse fatorincidiu diretamente sobre a categoria do narrador, que assumia tradicionalmente o papelde intermedirio, aquele que mantinha sob total controle e oniscincia o desenrolar damatria narrada, entretanto perdeu a sua fora centralizadora, pluralizando-se emdiversos planos.

    Nos dozes Mistrios que compem a narrativa, o foco narrativo marcado poruma rotatividade entre o discurso das personagens, em direo a um aperspectivismo,

    pois, ao facilitar o acesso voz narrativa a uma multiplicidade de personagens, adissoluo da perspectiva constitui um recurso tcnico baseado na concepo de umaliteratura voltada para a voz coletiva (NITRINI,1987, p. 173). A despolarizao dafigura do narrador, provocada pelo entrecruzamento de diferentes vozes narrativas quenarram um determinado momento da existncia de Joana Carolina, aponta para uma voz

    plural pela qual se transcende a problemtica concentrada numa personagemindividualizada (NITRINI, 1987, p. 174).

    As personagens tornam-se as prprias narradoras, sem a interveno do ponto devista central e externo de um narrador. So pelas suas prprias vozes que o leitorvislumbra acontecimentos relacionados histria da personagem-ttulo, o que acabacorroborando para uma viso global acerca da sua existncia, a partir de vrios ngulos.Dessa forma, a polifonia constitui o tom geral da perspectiva narrativa em Nove,novena (NITRINI, 1987, p. 173), em que cada personagem manifesta-se

    sucessivamente no prprio plano da narrativa, compartilhando suas experincias, suasmemrias e seus sentimentos mais ntimos, porm sempre articulados imagem

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    santificada de Joana Carolina. Pois, como observa Benedito Nunes (1967), todos osplanos em rodzio, todas as perspectivas permutantes, produzem, no entanto, em virtudedo tema que os atravessa, e que ordena as estrias parciais de que a histria total secompe, um s efeito de convergncia.

    A dissoluo do foco central da narrativa instaura um mundo flutuante, com

    sucessivos centros de gravidade (LINS, 1974, p. 175), na qualas vrias personagens sealternam na posio do narradorassumido, em geral, na primeira pessoa do singular,cabendo aos sinais grfico-visuais3, presentes no incio de cada segmento narrativo, o

    papel de identific-las e de organizar as suas falas intercaladas na totalidade do texto.Sandra Nitrini (1987, p. 169) reconhece que a utilizao desses sinais decorre derazes de ordem estrutural, servindo para demarcar a mudana de voz, visto que, emvrias narrativas, os acontecimentos so revelados por mais de uma personagem, svezes simultaneamente, ou ento, num ritmo alternativo muito rpido.

    Alm de que as personagens, embora sejam habitantes do interior de Pernambuco,no se centram em aspectos descritivos referentes cor local e dispensam o recursorealista de um falar estereotipado configurado nos romances regionalistas, repudiando

    a simples caracterizao sinttica ou lxica no linguajar dos vrios personagens,alcanava representar uma verdade mais ampla e significativa (LINS, 1974, p. 174).Portanto, as personagens situam-se para alm do homem sertanejo e a categoria donarrador, por sua vez, aponta para uma instncia originria, a voz do prprio Homem,que institui poeticamente a unidade por meio do discurso modulado das personagens, natentativa de reuni-los sob uma mesma dimenso, cujo operar restitui o estado primordialem que os seres e o real experenciavam a comunho plena.

    A transposio da forma pictrica do retbulo medieval para a configuraotextual da narrativa de Osman Lins implica um processo altamente criativo deconstruo de um retbulo moderno, o qual evoca, semelhana do original, aexperincia da simultaneidade das cenas narrativas. Estas se espacializam no plano daescritura, suprimindo o fluxo temporal linear, em direo a um imenso presente, umnico presente narrativo. De acordo com os estudos de Joseph Frank acerca da narrativamoderna, reunidos na obra intitulada The Widening Gyre, o procedimento daespacializao corresponde busca de uma nova temporalidade, que, a partir daaproximao entre as artes literrias e as artes visuais, se rompe com o encadeamentocronolgico pela justaposio espacial. Diz o crtico norte-americano: Passado e

    presente so apreendidos espacialmente, enlaados numa unidade atemporal que,embora possa acentuar diferenas superficiais, elimina qualquer sensao de seqncia

    pelo prprio ato de justaposio (FRANK apud BARBOSA, 1990, p. 135).O crtico Anatol Rosenfeld (1996), ao comentar os processos criativos da arte

    moderna, discute o fenmeno da desrealizao, que abarca tanto a arte pictrica quantoas vanguardas literrias, como o cubismo, o expressionismo e o surrealismo, uma vezque tais manifestaes artsticas no se prendem mais a uma mera reproduo mimticada realidade. Sendo assim, o que se verifica, alm do desaparecimento da perspectiva, a existncia de uma relao de equidade entre a eliminao do espao, ou da iluso de

    3 Segundo Ana Luiza Andrade (1987, p. 126), esses signos so auto-referenciais, guisa de umaiconografia medieval: por exemplo, o pssaro amestrado por lvaro e Jernimo, o smbolo damasculinidade em biologia, mas tambm a flecha do amor de Jernimo; a roda do carro de boi etambm a roda da fortuna. O garfo aparece sempre em conexo com o demnio, as foras do mal,assim como a cruz em conexo com a Igreja. traz os poderes geradores da natureza, a emanao da

    causa primeira, a harmonia e o conflito interior, o homem indicado pelo quadriltero assim como quatroso os elementos materiais e o tringulo o esprito. O crculo o dinamismo e o smbolo doinfinito.

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    espao, na pintura e a sucesso temporal no romance. Ademais, a arte moderna instaurauma nova maneira de pensar o homem e a realidade, devido saturao de umaideologia pautada na tica de um indivduo renascentista-racionalista.

    A partir de uma ruptura concreta com as convenes literrias da prosaoitocentista predominantemente realista-naturalista, as narrativas pertencentes

    modernidade literria estabelecem uma dissoluo da linearidade, do princpio dacausalidade e da ordenao cronolgica, na medida em que transpe de modosignificativo o domnio cronolgico do tempo. As ntidas delimitaes entre passado,

    presente e futuro demonstram-se ilusrias, e que, na verdade, compunham uma nicatotalidade, misturando-se e confundindo-se de maneira involuntria. Desse modo, asfronteiras temporais determinadas pela ao arbitrria do homem desaparecem,formando um continuumindivisvel.

    A construo da tessitura da narrativa Retbulo deSanta Joana Carolina remetea uma temporalidade mtica, ou melhor, a um tempo original, forte, sagrado(ELIADE, 1972, p. 38), em que no h diferenciaes entre as instncias temporais.Tudo era uno, eterno e reversvel, por meio de um fluxo circular, de uma viso cclica

    da vida em consonncia com a dinmica das quatro estaes do ano e o movimentoharmnico dos astros celestes. Aproximando-se da experincia sagrada dos mitos, osquais instauram a reunio religiosa no sentido de religare, ao de ligarcom asforas absolutas do cosmos. Portanto, a vida de Joana Carolina est projetada diante dagrandeza csmica do universo e, simultaneamente, inserida em uma dimenso na qualvige a sacralidade em sua plenitude, em direo a um presente intemporal que abarcaem si a totalidade da experincia do homem no mundo.

    Cada Mistrio que compe a narrativa apresenta um episdio distinto e particularda existncia da personagem de Joana. Entre eles, porm, no h uma sequnciacronolgica e causal linear, uma vez que da infncia da personagem-ttulo passa-seautomaticamente para os seus onze anos de idade; em seguida, a narrativa d um saltotemporal para o momento em que se encontra com o seu futuro marido, Jernimo Jos;logo depois, vislumbra-se a velhice de Joana Carolina; e, por fim, o momento derradeirode sua morte.

    Isso ocorre na esfera macrotextual da narrativa-retbulo, j no plano daorganizao interna dos Mistrios a subverso dos valores literrios tradicionais no sed somente no elemento do tempo, mas tambm no do espao. Na micronarrativa doPrimeiro Mistrio, a personagem da parteira inicia a sua narrao referindo-se a umtempo passado, do longo perodo no qual estabeleceu vnculos fraternos com a famliade Joana Carolina. No prosseguimento de sua narrao, ela antecipa fatos que iroacontecer posteriormente com essa famlia, como a morte de Totnia trinte e seis anos

    aps o nascimento de sua filha Joana:Acompanhei, durante muitos anos, Joana Carolina e os seus. [...] Dizem dos filhos serem coisasplantadas, promessas de amparo. Com todos esses, Totnia acabar seus dias na pobreza [...]Joana, apenas, Joana Carolina, apesar da pobreza, serseu arrimo: a velha haverde morrer aosseus cuidados, em sua casa, daqui a trinta e seis anos, no Engenho de Serra Grande (RSJC, p. 72-73, grifo nosso).

    Como se pode observar, existe uma quebra na linearidade do registro temporal apartir da mudana da forma verbal do passado (acompanhei) para as do futuro(acabar, haver, ser). Assim, os eventos passados misturam-se aos eventosfuturos, em virtude de a narrao da parteira ocorrer quando os acontecimentos futuros

    que, em tese, ainda iriam se suceder, j terem se concretizado. A narrao manifesta,no nvel da enunciao, a distncia temporal entre os eventos do passado e o momento

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    presente no qual a personagem se situa para narrar, rompendo com o princpio daverossimilhana e assumindo, conscientemente, a sua condio de ficcionalidade, umavez que deixa transparecer na prpria escritura do texto os bastidores envolvidos no

    processo de criao.Na micronarrativa do Quarto Mistrio, vislumbra-se o entrecruzamento entre as

    formas verbais, suscitado pela falta de perspectiva temporal, merc da fuso dasdimenses do passado e do futuro pelo que o autor chama presentificao. O prpriotempo se achata, torna-se plano, presente intemporal (ROSENFELD, 1970a, p. 5). Omomento futuro (daqui a anos,partiremos no mundo) quando lvaro e N partiroem busca de um emprego, deixando a me junto com os seus irmos Tefanes e Laura,irrompe em meio narrao, a qual alude a um tempo passado, em que estes nemhaviam nascido ainda (ainda no nascidos):

    Eu e N apanharemos essa inclinao [gostar de animais] e, de certo modo, por causa disto que,daqui a anos, quando nossa me, ele [o pai] j morto, estiver penando no Engenho Serra Grande,

    partiremos no mundo, procura de emprego, deixando-a com Tefanes e Laura, nossos irmosmais novos, ainda no nascidos. Depois a tiraremos do engenho de volta para a cidade. Por agora

    somos dois meninos, deitados em folhas de bananeira, nossa me curvada sobre ns, atiando ofogareiro com alfazema (RSJC, p. 78, grifo nosso).

    Neste sentido, o quadro delineado configura-se a partir de um processo dejustaposio, isto , de sobreposio de planos temporais, em que os deslocamentostanto no espao quanto no tempo corroboram para a presentificao das personagensdos irmos (Por agora somos dois meninos) no traado da narrao, que refora oseu espao literrio, que enfatiza a sua identidade mais como texto do que comoestrutura narrativa (NITRINI,1987, p. 72). Para alm do aspecto meramente formal, anarrativa osmaniana enaltece o movimento da escritura que engendra a tessitura dotexto, o gesto potico da palavra que tece imagens, os quais so capazes de evocar, de

    trazer a lume e de atualizar realidades perdidas em um tempo remoto. As cenas,portanto, ao serem desenhadas no ato de enunciao, so presentificadas no plano dalinguagem, colocando-se plasticamente diante do leitor.

    A ordem no-linear das narrativas possibilita a quebra das barreiras temporais eespaciais, possibilitando, no plano da narrao, uma simultaneidade psicolgica4, umatemporalidade ubqua. Passado, presente e futuro constituem uma s unidade, emdireo intemporalidade essencial das coisas, possibilitado ao homem alcanar acondio divina da onipresena. Por exemplo, a narrativa Pentgono de Hahn, aterceira das nove narrativas que compem a obra, inicia-se com uma alternncia entre as

    personagens do menino e do celibatrio, indicada pela recorrncia dos sinais grficos epelo jogo entre as formas verbais do pretrito imperfeito (foram) e do presente doindicativo (so), possibilitando, no plano da narrao, uma coexistncia perfeita notempo e no espao:

    Em diferentes cidades, eu aqui em Goiana, eu na Vitria, assistimoso nmero de

    Hahn, e essas duas vezes foram, soidnticas, tudo se cumprindo com uma regularidadepolida nos ensaios (RSJC, p. 30, grifo nosso).

    Note-se que o sinal evidencia claramente uma fuso dos sinais referentes a doispersonagens distintos, sugerindo que estes so, na verdade, uma nica pessoa em

    4 Expresso empregada por Joo Alexandre Barbosa no seu artigo intitulado Nove Novena Novidade(1966).

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    momentos distintos de sua existncia infncia e maturidade. Desse modo, MarisaSimons (2004, p. 182-183) afirma que a juno dos dois sinais em um s correspondeao espelhamento de dois momentos vitais de um s indivduo, a um nico celibatrio,textualmente ubiquizado no processo de presentificao da escritura.

    Em suma, as conquistas literrias alcanadas pelo Retbulo de Santa Joana

    Carolina manifestam a amplitude do engajamento potico de Osman Lins. Pois, apesarde a narrativa referir-se a uma temtica scio-poltica caracterstica de uma literaturadita regionalista, ela afasta-se desta por configurar o engajamento prioritariamente nastramas da linguagem, a saber, no seu prprio processo de escritura, que, ao mesmotempo que ressignifica as formas literrias consagradas, atua na reconstruo dossentidos acerca da existncia do homem nordestino. A narrativa do escritor

    pernambucano, ao questionar a representao literria tradicional, instaura uma maneiraoriginal de narrar luz de uma sofisticada elaborao ficcional, a qual assimilacriativamente os procedimentos artsticos do perodo medieval, como o retbulo, osornamentos e os mistrios na prpria configurao dos elementos constituintes do tecidonarrativo.

    A partir desse dilogo enriquecedor com as artes plsticas e visuais do medievo,os experimentalismos literrios operam uma nova dinmica do homem com o mundo ecom a totalidade das coisas. Segundo Anatol Rosenfeld (1970b, p. 4), poder-se-ia falartalvez, no caso de Osman Lins, de um cosmocentrismo em substituio aoantropocentrismo. Com os processos narrativos complexos [...] procura reproduzir estaviso plana, aperspectvica, presentificadora comumente presente na arte medieval.Assim, o elemento artstico, transcendendo o aspecto meramente formal, estindissociavelmente relacionado ao elemento tico, uma vez que, partindo dessa novareflexo, o homem no se projeta mais no centro criador do mundo, no papel de sujeitoracional e controlador, mas se encontra plenamente integrado dimenso sagrada daexistncia, em comunho espiritual com a divindade e sob a regncia csmica das

    potncias do universo, do movimento harmnico dos astros celestes.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    O compromisso de Osman Lins com a arte literria e com a atividade de escrituraapresenta-se no processo de ressignificao das formas literrias e das categoriastradicionais da narrativa, explorando a descoberta e a conquista de novas realizaes

    poticas e, assim, multiplicando as possibilidades de renovao da linguagem literria.Lins instaura uma maneira prpria de narrar, uma potica prpria, que, acima de tudo,

    procura resgatar o elo perdido entre o homem e o real, o homem e a divindade. Trata-se,portanto, de um escritor que, valendo-se de meios originais de criao, refleteprofundamente acerca do homem e da sua condio no mundo, redimensionando-os apartir de um trabalho livre e criativo na prpria construo de suas narrativas.

    Neste sentido, o engajamento do escritor pernambucano no se apresenta somenteno enredo vinculado a uma temtica scio-poltica caracterstica de uma literatura ditaregional, na medida em que se centra na existncia de uma mulher comum querepresenta a saga do povo nordestino, mas configura-se prioritariamente no prpriombito da poiesis, no acontecer originrio da linguagem, cuja intensa fora deexperimentao presente nas instncias narrativas manifesta no a mera subverso ouextravagncia no plano formaltpico de uma postura vanguardista, porm uma nova

    experincia do homem com a realidade do mundo que o cerca, cuja representaoliterria tradicional j no mais capaz de comportar.

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    No Retbulo de Santa Joana Carolina, a construo da narrativa e dos seuselementos em dilogo com os elementos da arte medieval aponta para uma compreenso

    particular acerca da existncia humana e da prpria ao de criar. A forma pictrica doretbulo evoca, no plano da narrao, uma viso aperspectvica e simultnea doseventos narrados, em que se vislumbra a possibilidade real de transcender a

    problemtica das diferenciaes temporais entre os domnios do passado, do presente edo futuro, culminando no processo de presentificao, ou melhor, na configurao deum imenso presente narrativo que abarca a totalidade da experincia humana no prprioespao da escritura do texto.

    A instncia do narrador, por sua vez, no se coloca na posio mxima de detentorda verdade sobre a dimenso da diegese ou no domnio absoluto sobre o desenrolar docontedo narrado, mas despolariza-se na figura de diferentes personagens identificadas por meio da utilizao de sinais grfico-visuais que assumemalternadamente a voz narrativa no conjunto dos doze Mistrios, em direo constituio de uma voz coletiva e atemporal, na qual reside a enunciao genuna da

    poesia do ser. Sendo assim, o homem no se situa mais no lugar central de sujeito

    criador das coisas. Pelo contrrio, a prpria obra de arte realiza a sua abertura diante dosintrpretes, mediante o tecer de vrias mos e a miscelnea de cenas que constroem

    plstica e imageticamente uma multiplicidade de tessituras de significaes acerca domundo e da existncia.

    O prprio percurso da escritura da narrativa evoca o processo de construo dasformas pictricas dos ornamentos e dos retbulos. Nos movimentos arquitetnicos dacriao, restaura-se o trabalho artesanal de realizao da obra de arte e, sobretudo, a

    potncia essencialmente visual da palavra. A obra literria , por excelncia, linguagem,jogo instaurado na prpria dinmica das palavras, as quais impulsionam vitalmente arevelao e a transfigurao do real em diferentes matizes e dimenses. Na narrativacentral de Nove, Novena, a encenao da palavra potica investe-se de um legtimocomprometimento no propsito de restabelecer a ordem sagrada do mundo, bem comodo gesto criador do homem. Osman Lins assume, de fato, a misso de um autnticoescritor que faz da experincia criativa com a literatura o seu empenho incessante contrao esvaziamento do sentido do humano e da prpria arte.

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