artigo banco de experiências para sala de aula

Upload: bfpp

Post on 25-Feb-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    1/18

    1

    BANCO DE EXPERINCIAS PARA SALA DE AULA E OUTRAS ATIVIDADES

    Robson Wander C. Lopes (IFPA)1

    1 INTRODUO

    A interveno cientfica na realidade social necessita ser planejada. No se

    faz cincia sem um projeto de pesquisa; e no se elabora um projeto de pesquisa

    sem o rigor de buscar a verdade sobre o que se pretende explicar. Assim, toda

    pesquisa cientfica necessita de parmetros ticos que conduzam a reflexo na

    relao dialgica entre pesquisador e seu objeto, entre pesquisador e pesquisado,

    entre sujeito e sujeito.

    A proposta da disciplina apresentar um Banco de experincias para a salade aula cujos objetivos especficos so os seguintes: refletir sobre a atitude

    cientfica; subsidiar a elaborao de um projeto de pesquisa com nfase na

    Educao em Direitos Humanos e propiciar relatos de experincias.

    Dessa maneira a reflexo, ora apresentada, est subdividida em sesses

    sendo que a segunda sesso busca conceituar a cincia e apresentar os tipos de

    pesquisas e suas metodologias. A terceira sesso faz uma abordagem sobre o

    projeto de pesquisa apresentando, para fins didticos, seus elementos bsicos econstitutivos. E a quarta sesso traz a proposta de um mtodo cientfico que

    considere a realidade social como uma realidade de contradies e de conflitos, pois

    se pretende apresentar de maneira resumida como elaborar um projeto de

    intervenoem Direitos Humanos; ainda nessa sesso se apresenta os elementos

    que podem auxiliar na prtica da elaborao de um projeto de interveno

    adaptando a sntese metodolgica do Ver-julgar-agir.

    2 A METODOLOGIA CIENTFICA

    A prxis docente no torna pretervel a prxis da pesquisa. Pelo contrrio, no

    h docncia, de fato, sem o conhecimento prvio da realidade que circunda e

    envolve a realidade de sala de aula, pois o conhecimento se d num processo

    dialgico entre letra e mundo.

    [...] A capacidade de aprender, no apenas para nos adaptar, mas,sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a, fala

    1Filsofo e Cientista da Religio. Mestre em Cincias da Religio (UEPA). Professor de Filosofia doIFPA.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    2/18

    2

    de nossa educabilidade a um nvel distinto do nvel do adestramento dosoutros animais ou do cultivo das plantas (FREIRE, 1996, p. 68).

    Nesse sentido, no escopo de uma explanao sucinta e orientada aos

    intentos desta disciplina, pensa-se ser importante elencar, numa sequencia didtica,alguns dos mais importantes elementos tericos e conceituais sobre a pesquisa para

    uma prtica a partir e qui, em sala de aula, reverberando o contedo estudado

    neste curso em seus diversos mdulos e tematizando a prxis docentes em direitos

    humanos no processo educacional, especificamente, nas escolas em que se

    trabalha.

    O fazer cientfico necessita que aquele que o faz tenha igualmente uma

    atitude cientfica. No qualquer fazer. Distingue-se, por definio, do senso comumentendido enquanto ao do pensamento no processo de compreenso da

    realidade. Nesse sentido a contraposio proposta por Chau (2010) indica uma

    srie de caractersticas que demarcam uma distino epistemolgica entre o senso

    comum e a atitude cientfica. Para a autora

    a cincia desconfia da verdade de nossas certezas, de nossa adesoimediata s coisas, da ausncia da crtica e da falta de curiosidade. Porisso, onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude cientfica v

    problemas e obstculos, aparncias que precisam ser explicadas e, emcertos casos, afastadas (CHAU, 2010, p. 297).

    Portanto, para quem deseja trilhar os caminhos da cincia precisa criar uma

    atitude que permita construir os objetos cientficos a partir do rduo trabalho da

    investigao, afastando-se das opinies baseadas em hbitos, preconceitos,

    tradies cristalizadas, passando a considerar que os fatos sociais devem ser

    tratados como coisas(DURKHEIM, 2004, p. 16).

    Dessa forma, a investigao cientfica h de se basear em processos

    metodolgicos, sistemticos e coerentes a fim de que haja uma verdade a ser dita

    sobre a realidade estudada. Seguindo o raciocnio sobre o saber cientfico ou a

    atitude cientfica entende-se cincia como sendo

    um conjunto de conhecimentos que se obtm atravs da utilizaoadequada de mtodos sistematizados ou cientficos capazes de apreender,controlar, interpretar e relacionar fenmenos, fatos ou situaes,envolvendo a realidade emprica ou investigada (TEIXEIRA, 2001, p. 81).

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    3/18

    3

    A cincia2, pois, um conhecimento metdico porque compreende atividades

    organizadas sistematicamente e com objetivos a serem alcanados cuja validade

    seja demonstrvel, de modo lgico e coerente, o que define o trajeto do pesquisador

    e o auxilia em possveis correes durante todo o seu percurso (MARCONI;

    LAKATOS, 2005). O mtodo, ento, torna-se, na pesquisa cientfica, um importante

    instrumento para a produo conhecimento.Todavia, importa verificar algumas das maneiras pelas quais se faz um estudo

    cientfico, ou melhor, de que maneira se realiza uma pesquisa cientfica que constitui

    e organiza a prtica dessa atitude.

    Tipos de Pesquisa CientficasAntes de tudo, importante considerar o que se entende por pesquisa

    cientfica. A pesquisa uma atividade voltada para a soluo de problemas,

    atravs do emprego de processos cientficos. [...] Parte, pois, de uma dvida ou

    problema e, com o uso do mtodo cientfico, busca uma resposta ou soluo

    (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 63). Sempre entendida como um conjunto de

    atividades que objetiva propor novas formas de conhecer independentemente da

    rea do conhecimento que a esse fim se proponha (PRESTES, 2003).Para uma viso panormica e esquemtica sobre a classificao da pesquisa

    cientfica faz-se uso da sistematizao de Gil (1999) cuja apresentao foi

    sintetizada por Baia ([sd.], p. 281). Aqui se faz uma livre adaptao da sntese

    esquemtica buscando dialogar com outros autores sobre o assunto.

    Quanto natureza, a pesquisa pode ser bsica ou aplicada. Bsica: porque

    visa a investigao de tema afim de gerar conhecimento sobre o mesmo, contudo

    sem uma aplicao prtica imediata na sociedade. Aplicada: objetiva ainvestigao de determinada temtica com finalidades de gerar conhecimentos

    dirigidos para uma aplicao especfica, a problemas focalizados (BAIA, [sd.] p.

    281).

    Quanto abordagem do problema, a pesquisa pode ser Quantitativa e/ou

    Qualitativa. Quantitativa: quando o mtodo se apropria da anlise estatstica para o

    tratamento dos dados (FIGUEIREDO, 2004, p. 102). Qualitativa: quando a pesquisa

    2 A palavra Cincia tem sua raiz etimolgica no latim que segundo Gressler (2004, p. 36) Sciresignifica conhecer. A cincia , portanto uma maneira de conhecer e explicar o universo fsico esocial.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    4/18

    4

    est direcionada para a investigao dos significados das relaes humanas, onde

    suas aes so influenciadas pelas emoes e/ou sentimentos aflorados diante das

    situaes vivenciadas no dia-a-dia (idem ibidem, p. 106).

    importante, entretanto, destacar a pesquisa qualitativa, pois os temas

    recorrentes em Direitos Humanos nos fazem perceber a necessidade de seu uso em

    uma anlise desse tipo. A esse respeito o papel do pesquisador toma um sentido de

    envolvimento com o seu objeto pesquisado. Assim,

    nos estudos qualitativos, a coleta sistemtica de dados deve ser precedidapor uma imerso do pesquisador no contexto a ser estudado. Essa faseexploratria permite que o pesquisador, sem descer ao detalhamentoexigido na pesquisa tradicional, defina pelo menos algumas questes

    iniciais, bem como os procedimentos adequados investigao dessasquestes (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 148).

    possvel, contudo, unir os dois tipos de pesquisa quanto abordagem do

    problema, formulando uma abordagem do tipo quanti-qualitativa, alis, em cincias

    sociais esse tipo de juno muito comum. a possibilidade de se fazer uma

    complementao entre essas modalidades cujas palavras e nmeros, duas

    linguagens fundamentais da comunicao humana, so conjugadas para o

    favorecimento de um processo de explicao e de compreenso (POLIT;

    HUNGLER, 1995).

    Quanto aos objetivos a pesquisa pode ser exploratria, descritiva e

    explicativa. Exploratria: quando tem por finalidade construir uma familiaridade com

    o problema a ser estudado. Descritiva: quando a pesquisa busca expor as

    caractersticas de uma populao ou de fenmeno, promovendo a relao entre

    variveis adquiridas por meio de tcnicas padronizadas de coleta de dados.

    Explicativa: ou seja, quando a pesquisa busca identificar os fatores que determinam

    ou que contribuem para a ocorrncia dos fenmenos procurando elucidar as ra zes

    pelos quais os fatos ocorrem (FIGUEIREDO, 2004, p. 104).

    Quanto aos procedimentos tcnicos: pode ser bibliogrfica (livros, artigos,

    jornais, etc.), documental (documentos que ainda no receberam tratamento

    analtico), experimental (o pesquisador tem controle sobre a varivel independente),

    levantamento (investigao direta dos participantes envolvidos no fenmeno que se

    deseja estudar), estudo de caso (aprofunda a descrio de determinada realidade),

    expost-facto (investigao dos fatos que ocorrem aps a realizao de um

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    5/18

    5

    experimento), pesquisa-ao ou participante (a busca de resoluo de um problema

    numa ao coletiva entre pesquisadores e participantes).

    Ter conscincia e a compreenso desses mtodos, do tipo de abordagem,

    das tcnicas e do tipo de investigao, de suma importncia para que o

    pesquisador possa fazer a relao entre o objeto da pesquisa (fato ou fenmeno)

    com a metodologia3adequada para os seus fins cientficos. De fato, tal conscincia

    torna-se importante para assegurar os resultados a serem obtidos. Entretanto,

    necessrio, antes de tudo, elaborar um projeto de pesquisa. esse constructo

    terico que ir, no apenas delimitar o objeto da pesquisa, mas ajudar a definir quais

    os meios e instrumentais a serem usados para compreender o que se quer saber da

    realidade estudada.

    3 O PROJETO DE PESQUISA

    O projeto de pesquisa consta de um planejamento detalhado com as etapas

    pr-definidas sobre alguma problemtica que o pesquisador se colocou na

    perspectiva de buscar uma soluo a tal problemtica. importante partir de

    algumas questes norteadoras para que o projeto seja elaborado: o que quero

    pesquisar? Por que devo fazer essa pesquisa? Para que essa pesquisa ir servir?Como deverei realiz-la? Quando? Quais os recursos necessrios? medida que

    as respostas vo sendo obtidas, vo surgindo alguns elementos e possibilitando a

    elaborao do esboo de um projeto que vai tomando sua forma. Importa

    apresentar, pois, uma proposta sinttica dos elementos constitutivos do projeto de

    pesquisa, conforme o quadro abaixo:

    Quadro 01: Elementos constitutivos de um Projeto de Pesquisa

    ELEMENTOS DESCRI ES

    TEMA/TTULO Apresentao sinttica da temtica que ser abordada no projeto.INTRODUO Diz ao leito:

    - sobre o que se trata o projeto, explanando sobre a temtica;- Apresentar a reviso de literatura acerca do tema abordado, devendoincluir as citaes das obras pesquisadas.- Permita que se levante uma visualizao situacional do problema,restringindo sua abordagem a apresentao das questes que conduziramvoc propor esta pesquisa.

    JUSTIFICATIVA Apresente os argumentos indicativos da relevncia de sua investigao, ouseja, explane sobre o porqu a pesquisa significativa dentro da rea.

    OBJETIVOS Trata-se da indicao clara do que a sua pesquisa prope o que desejafazer e o que pretende alcanar. So caracterizadas pela utilizao dosverbos de ao. Objetivo Geral: indica a forma abrangente e genrica que o

    3Para Demo (1987, p. 19) a Metodologia uma preocupao instrumental. Trata das formas de sefazer cincia. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    6/18

    6

    pesquisador pretende fazer. Objetivos especficos: detalha o objetivo geral.METODOLOGIA Explicao detalhada de toda ao a ser desenvolvida. Voc indica que tipo

    de pesquisa voc pretende realizar e o subsequente desenhometodolgico, explicitando a seguir:- Participantes

    - Local- Pesquisadores- Recursos (materiais e instrumentais: entrevista, questionrio, formulrio,etc.).- Procedimento de coleta de dados, bem como de anlise dos mesmos.

    CRONOGRAMA Indica a estimativa do tempo gasto em cada etapa da pesquisa.ORAMENTO Elaborar um oramento com a estimativa dos investimentos necessrios

    para viabilizarem a realizao da pesquisa.ANEXOS (se necessrio)

    REFERNCIASBIBLIOGRFICAS

    Listagem do material usado para a construo do projeto.

    Fonte: BAIA, [sd.], p. 284.

    importante, alm do que j foi indicado acima, estar de acordo com as

    normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) atualizadas para o

    registro escrito do projeto.

    4 PARA UM PROJETO DE INTERVENO EM DIREITOS HUMANOS

    Nesta sesso se prope um mtodo cientfico que considere a realidade

    social como uma realidade de contradies e de conflitos cujos parmetros da

    pesquisa possam favorecer a transformao da realidade em consonncia com os

    objetivos pretendidos na Educao em Direitos Humanos. Pensa-se, de antemo,

    numa interveno, a partir do conhecimento cientfico, a ser realizada na prpria

    realidade escolar buscando unir teoria prtica, e vice-versa.

    Uma vez arquitetado o esboo dos elementos constitutivos da pesquisa a ser

    realizada, vale destacar a importncia da escolha de uma metodologia, isto , de se

    ter a conscincia sobre o como ir ser desenvolvido o projeto com o intuito de

    promover uma interveno na realidade a partir de um problema especficoidentificado e tematizado pelo pesquisador ou pelo grupo de pesquisadores.

    preciso definir quais os tipos da pesquisa a serem desenvolvidos no

    projeto. O que poder ser feito com base no que se indicou na segunda sesso

    deste trabalho: quanto natureza da pesquisa, a sua abordagem do problema, os

    seus objetivos e as tcnicas a serem usadas na coleta de dados.

    Apresenta-se, ento, a dialtica, como um referencial metodolgico de

    compreenso da realidade em Direitos Humanos, especialmente por corroborar com

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    7/18

    7

    a transformao da realidade. Assim, a dialtica materialista entendida nos termos

    do marxismo,

    [...] implica a convico cientfica de que, com o marxismo dialtico,encontrou-se o mtodo correto de investigao [...] A dialtica materialista uma dialtica revolucionria, [pois] trata-se da, aqui, da teoria da prxis, eno apenas no sentido que Marx lhe atribua em sua primeira crticahegeliana, quando afirmava que a teoria torna-se fora material quandoassumida pelas massas (LUKCS, 1981, p.60).

    Com isso o autor acima quer dizer que o prprio Marx no delineou em regras

    especficas o seu prprio mtodo, mas o apresentou atravs de sua aplicao

    construindo uma teoria da economia e do capitalismo. Da que o mtodo dialtico,

    ao mesmo tempo em que rompe a aparncia de eternidade das categorias, deva

    romper tambm com a sua aparncia de coisidade para abrir a via ao conhecimento

    da realidade (Id. Ibid., p. 75). Para o mesmo autor, sem o mtodo dialtico

    impossvel compreender a realidade enquantoprocesso unitrio(ibidem, p. 72).

    Marx tem em Hegel seu mtodo dialtico, mas afasta-se dele pelo simples

    fato de tratar-se de um conhecimento acerca deuma matria carente em si de

    essnciae no um auto-conhecimento destamatria que a sociedade humana

    (LUKCS, ibid., p. 77, itlicos do autor)4. Entende-se, pois, a dialtica como ao

    recproca, no sentido em que h uma relao que vai alm dos objetos imutveis

    (das essncias), pois a relao com o todo torna-se a determinao condicionante

    da forma de objetividadede todo objeto; toda mudana essencial e importante para

    o conhecimento se manifesta como mudana de relao para com a totalidade e,

    por isso mesmo,como mudana da prpria forma de objetividade e citando Marx o

    autor explica:

    Um negro um negro; somente em certas condies ele se torna umescravo. Uma mquina de fiar uma mquina de fiar; somente em certascondies ela se torna capital. Separada destas condies, ela to poucocapital como o ouro o preo do dinheiro ou o acar o preo do acar(MARX apu LUKACS, 1981, p. 74).

    Esclarece-se que o essencial metodolgico para Marx consiste centralmente

    [...] na determinao de relaes da anlise (PRADO Jr., 2001, p. 21). E assevera o

    mesmo autor que a relao entendida

    4Segundo Calvez (1959, p. 169) a atitude de Marx para com Hegel muito mais complexa de que foi

    para com outros autores, como Bauer, Stirner, e mesmo Feuerbach [...] Por um lado, a obsesso deHegel h de acompanh-lo quase toda a vida [...]. Para Prado Jr. (2001, p. 8) a assimilao dadialtica hegeliana indispensvel para se compreender a dialtica de Marx, dessa maneira, parase compreender Marx preciso compreender Hegel.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    8/18

    8

    No sentido da maneira ou modo como as afeies e situaes da Realidadeexterior ao pensamento conhecedor e que constituem o objeto doConhecimento, se dispem e compem, em si e entre si, no espao e notempo, [...] como se comporta em suma (PRADO Jr., 2001, p. 22).

    Para Marx nada tem seu significado sem ser considerado em sua relao, ou

    melhor, nada pode ser conhecido, de fato, se no for a sua dinmica de suas

    relaes que compreendem seu sistema. Da que a dialtica de Marx buscar

    compreender o devir social em seu processo e no em sua essncia. Nesse sentido

    no h individualidade das coisas e dos fatos se no com relao sua totalidade e

    em funo desta. O mtodo dialtico uma proposio para explicar a realidade

    social em suas relaes.

    A dialtica de Marx [...] [...] a perspectiva da unidade universal tanto noespao (o que significa interligao, o relacionamento e integrao emconjunto, da totalidade das feies e situao da Realidade), como notempo, isto a incessante transformao desse conjunto que antesprocesso em constante devir (PRADO Jr., 2001, p. 37).

    Portanto, o ponto de partida do materialismo dialtico no a conscincia

    dos homens que determina a sua existncia, mas, inversamente, seu ser social

    que determina a conscinciapode ultrapassar o plano puramente terico e tornar-

    se problema prtico (idem, ibidem, p. 80).

    Avanando na proposio de um projeto de interveno social, destaca-se

    que o mtodo dialtico de Marx, acima abordado, interpretado atravs de autores

    como Brecht e Freire, possibilitou a construo de uma potica do oprimido

    desenvolvida por Augusto Boal, que em plena ditadura militar no Brasil, props

    conceber ao dramtica e a arte cnica como uma arma de libertao.

    (SANCTUM, 2012, p. 46). O que fica bastante evidente num texto explicativo sobre

    sua coletnea de experincias teatrais escrita em 1974 pelo dramaturgo:

    Para completar o ciclo, falta o que est atualmente ocorrendo em tantospases da Amrica Latina: a destruio das barreiras criadas pelas classesdominantes. Primeiro se destri a barreira entre atores e espectadores:todos devem representar, todos devem protagonizar as necessriastransformaes da sociedade. [...] Assim tem que ser a Potica doOprimido: a conquista dos meios de produo teatral (BOAL, 1991, p.14).

    Assim como Boal, Freire tambm se valeu do mtodo dialtico porque props

    a educao a partir da realidade concreta do aluno, fazendo-se conhecedor,

    participante e agente de mudana do seu contexto social (ARAJO, 1999, p. 5).

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    9/18

    9

    E como afirma Moacir Gadotti (apud FREIRE, 1991, p. 8) depois de Paulo

    Freire ningum pode ignorar que a educao sempre um ato poltico. Portanto, a

    pedagogia do oprimido freiriana tambm prxis, pois s compreendida

    enquanto dialogicidade com a realidade, com o mundo, com a vida dos agentes do

    processo educacional. Eis, pois algumas propriedades fundamentais do mtodo

    dialtico: totalidade, relao, prxis.

    [A] proposta dialgica parte de um contexto concreto para responder aomesmo contexto. Nessa relao o professor convida os alunos a pensar.No basta saber ler mecanicamente (Eva viu a uva). necessriocompreender qual a posio que Eva ocupa no seu contexto social, quemtrabalha para produzir uvas e quem lucra com este trabalho (ARAJO,1999, p. 57).

    Aproximam-se, em suas concepes metodolgicas, Augusto Boal e Paulo

    Freire. Embora tenham elaborado e aplicado suas pesquisas, seus estudos e seus

    mtodos em ambientes profissionais diversos, os objetivos de ambos, todavia,

    assemelham-se se olhados a partir do processo educativo e, sobretudo, no que diz

    respeito interveno social, ou melhor, transformao da sociedade.

    Ao considerar-se os tipos de pesquisas possvel utilizar de uma metodologia

    consagrada, no Brasil e na Amrica Latina, pelo movimento social, de forma

    particular pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)5, que teve seu auge nas

    dcadas de 1960 a 1980.

    Apontar aquelas dcadas como auge do uso desse mtodo (metodologia) no

    significa dizer que o mesmo no tenha mais sua importncia na pesquisa,

    especialmente na anlise dos dados coletados, ainda hoje.

    Longe de queremos afirmar que as Comunidades Eclesiais de Base sejam asoluo definitiva para os nossos problemas de dficit de cidadania e de

    segurana, acreditamos que elas ainda continuam transmitindo sonhos,reinventando o mundo, deste mundo que vive longe das comunidades(COUTINHO, 2009, 195, grifos do autor).

    5Embora a reflexo proposta no seja um estudo sobre as CEBs, vlido fazer uma nota ttulo dedefinio em Cincias Sociais. Assim, utiliza-se das seguintes consideraes: para Lwy (1988, p.14) CEBs um pequeno grupo de vizinhos que pertencem ao mesmo bairro popular [...] e queregularmente busca conhecer a Bblia, lendo-a e debatendo-a luz de sua prpria experincia devida. [...] Com ajuda do clero, as discusses e debates da comunidade se ampliam para uma lutasocial: moradia, luz eltrica, acesso gua, a luta pela terra na zona rural. ParaGohn (2007, p.259) as CEBs [...] tm uma estruturao rgida segundo prticas assemblesticas e no umaorganizao formal em termos de cargos [...]. Respaldavam-se na prpria estrutura eclesial, na qualas hierarquias eram mantidas. Baseando-se nos autores acima, pode-se concluir, com a ajuda de

    Macedo (1986) que CEBs, um tipo popular de catolicismo, originalmente uma ao pastoral daIgreja, que ao ser proposta como nova maneira de renovar a organizao das estruturas eclesiaispassou a ser apropriada pela organizao dos leigos. Uma organizao voltada para as reflexes eas prticas sociais e religiosas cuja polaridade entre f e poltica interfere na transformao social.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    10/18

    10

    No se pretende aqui apelar para uma apologia teolgica. Muito menos

    professar credibilidade a uma determinada confisso religiosa. Contudo, ao

    considerar a Teologia da Libertao enquanto saber sistemtico e as CEBsenquanto instituio social verifica-se que tais categorias de anlises marcaram

    dcadas na histria latino-americana e brasileira promovendo transformaes

    sociais e polticas em diversos lugares.

    Quer-se com essa reflexo verificar simplesmente se a sntese metodolgica

    das CEBs, adaptao do mtodo dialtico, poderia de alguma maneira contribuir

    com a elaborao de um projeto de interveno social na Educao em Direitos

    Humanos. E o modelo de tratamento de dados dessa metodologia possibilita umaanlise dialtica e dialgica da realidade social.

    Antes, porm, necessrio desenvolver uma breve reflexo acerca dos

    elementos epistemolgicos da metodologia usada nas CEBs.

    As CEBs e grande parte do movimento social no Brasil e na Amrica Latina,

    usando do referencial terico do mtodo dialtico, o adaptou numa sntese

    metodolgica que ficou conhecida como VER, JULGAR e AGIR6.

    O mtodo se desenvolve em trs momentos: (VER) partir da realidade davida, (JULGAR) confrontar os desafios levantados pela realidade existente,(AGIR) partir para uma ao de transformao do meio. Essa metodologiajoga os militantes dentro da realidade e faz ponte entre educao e vida,educao e poltica (ARAJO, 1999, p. 58).

    O movimento social, de modo particular, as Comunidades Eclesiais de Base

    desenvolveram a sntese metodolgica da dialtica, com suas bases tericas como

    uma inovao de uma prxis de interveno social, ainda que tenha sido de

    fundamentao religiosa.

    A Teologia da Libertao teve um papel importante e fundamental no

    desenvolvimento da metodologia do Ver, julgar e agir nas CEBs. Pois tal Teologia

    tornou-se uma das dimenses tericas de maior abrangncia popular da prxis

    6 Arajo (1999, p. 58) faz uma breve exposio sobre as origens histricas desta sntesemetodolgica e afirma que o mtodo Ver Julgar Agir uma metodologia criada pelo PadreCardjin, [no] trabalho pastoral com jovens operrios da periferia de Bruxelas, na Blgica. [...] E foiintroduzido no Brasil atravs da Ao Catlica, juntamente com os movimentos eclesiais, dentre os

    quais podemos citar [...] o MEB Movimento de Educao de Base [que era] a experincia maisimportante [para] repensar o papel das classes populares e a (sic) introduzir novas prticaspedaggicas.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    11/18

    11

    libertadora, no Brasil e na Amrica Latina. Sobre a seu tipo de abordagem, importa

    destacar o seguinte:

    a teologia da libertao [...] tenta articular uma leitura da realidade a partirdos pobres e no interesse da libertao dos pobres: em funo disto acionaas cincias do homem e da sociedade, medita teologicamente e postulaaes pastorais que ajudem a caminhada dos oprimidos (BOFF; BOFF,1980, p.20).

    A reviravolta da compreenso teolgica como reflexo sobre a prxis

    estabelece uma nova epistemologia que permite o aprofundamento cientfico

    anterior reflexo teolgica. Seguindo o mtodo do Ver, julgar e agir na anlise da

    realidade social, econmica e poltica, possvel definir critrios de reflexo

    teolgica e de prtica pastoral luz da opo preferencial pelos pobres, naconstruo de uma nova sociedade (GUTIRREZ, 2000).

    Gustavo Gutirrez, Hugo Assman, Leonardo Boff e Clodovis Boff, com suas

    diversas obras publicadas, especialmente nas dcadas de 1970-1980, tiveram uma

    participao fundamental no desenvolvimento e na adaptao do mtodo dialtico

    para o campo da teologia e da pastoral no Brasil e na Amrica Latina cujas bases

    foram estabelecidas nas mediaes scio-analtica e hermenutica, fundamentadas

    na prxis.Dentre os autores acima mencionados, percebe-se que Gutirrez o terico

    de maior profundidade na elaborao originria do pensamento teolgico da

    libertao. Foi a partir de seu encontro com militantes da Ao Catlica, em plena

    ditadura militar no Brasil, que ele elaborou suas reflexes que depois seriam

    transformadas em Teologia da Libertao (MARL et al.,1985).

    A Teologia da Libertao foi muitas vezes criticada, devido o instrumental

    marxista utilizado por seus tericos

    7

    ; contudo, ela tornou-se o referencial reflexivodas anlises da realidade luz da bblia, atravs do mtodo ver-julgar-agir para as

    CEBs8. E as CEBs j nascem com uma vocao para a reflexo crtica da realidade

    na qual est inserida.

    A reflexo nas CEB no se reduz a uma totalizao ad intra (para dentro),mas se abre ao exerccio da razo crtica, desocultando os mecanismos

    7Michael Lwy (1988) faz um levantamento panormico sobre os tericos marxistas cujas fontes, noobstante suas crticas religio, muitas vezes endereadas diretamente ao catolicismo, serviram de

    base reflexiva e metodolgica para a fundamentao inicial da Teologia da Libertao no Brasil e naAmrica Latina.

    8 Segundo Novaes (1985, p. 59) o mtodo do ver, julgar e agir resume-se em estabelecer, a partir dodepoimento dos participantes, os interesses antagnicos entre os pobres e os poderosos.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    12/18

    12

    geradores de sua pobreza. Percebe, ao nvel da f, a iniquidade socialcomo pecado que contradiz o projeto histrico de Deus. Ensaia, ao nvel degrupo, uma prtica libertadora. Esta rede de comunidade possui o seucentro sociolgico e cultural no mundo dos pobres; estabelece relaeshorizontais e vinculaes entre pessoas e pequenos grupos. No tem

    acesso aos meios de comunicao e cumpre, no meio popular, umadiscreta denncia proftica com os inevitveis riscos (BOFF, 1980, p. 73).

    No intuito de argumentar a favor da Teologia da Libertao e desarticular as

    crticas que a acusavam de uma teologia marxista, alguns autores debatiam acerca

    de uma reposio da centralidade reflexiva a fim de elucidar os seus estatutos

    epistemolgicos para que o a teologia no fosse confundida com outros saberes ou

    com outras cincias. Assim,

    A teologia um discurso muito especfico sobre a realidade social,econmica, poltica, teolgico-cultural. Ela v essa realidade a partir da [...]Palavra de Deus. Para ela poder realizar essa perspectiva, precisadecodificar o texto social a partir das cincias sociais. A teologia dalibertao se faz com uma palavra segunda, a palavra da f, articulada comuma palavra primeira, que so as cincias sociais. evidente que ascincias sociais, aqui, so tomadas como momento, como mediao, comoinstrumentao do entendimento da realidade social, inclusive o marxismo(BOFF e BOFF apud ROLIM, 1992, p.26-27).

    Nesse sentido, com base na exposio desta sesso, o que est sendo

    proposto aqui uma reflexo metodolgica, a partir da experincia pastoral dasCEBs. Trata-se de uma considerao em parte inversa e em parte adaptada. Pois o

    que se pretende no a produo de reflexo teolgica, mas cientfica, embora a

    finalidade, em parte, seja em seu mbito teolgico libertador, seja em seu mbito

    cientfico, continua sendo a mesma: transformar a realidade social.

    Para fins didticos, apresenta-se a seguir uma adaptao da metodologia do

    Ver, julgar e agir 9, na perspectiva da elaborao do projeto de interveno social e

    sua aplicao em cincias sociais. Considera-se nesta apresentao uma breve

    fundamentao terica para o entendimento sobre cada etapa da sntese

    metodolgica.

    9 A proposta, ora apresentada, est baseada na especfica experincia do autor no campo da pesquisajunto s CEBs do municpio de Gurup-PA, desde 1992 at os dias atuais. Parte dessa experinciaest sistematizada em sua dissertao de mestrado intitulada CEBs ribeirinhas: anlise doprocesso de organizao das Comunidades Eclesiais de Base em Gurup-PA (LOPES, 2013).

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    13/18

    13

    Quadro 02: Etapas da sntese metodolgica do VER-JULGAR-AGIR adaptadas para apesquisa em Educao em Direitos Humanos.

    ETAPAS DESCRI ES

    VER

    Sugestes de tipos de pesquisas a seremtrabalhados para uma anlise dialtica:- Aplicada (quanto natureza);- Quanti-qualitativa (quanto abordagem doproblema);- Explicativa (quanto aos objetivos);- Levantamento (quanto o procedimento tcnico)- Pesquisa-ao e participante (quanto oprocedimento tcnico)

    Contudo, podem-se seguir outras conjugaesdependendo da criatividade e dos objetivos

    pretendidos.

    PREMISSAS:1. De acordo com o sistema de exerccio ejogos do teatro do oprimido, Boal (2008)classifica em cinco categorias o seuarsenal cnico e prope a categoria IVcom o ttulo ver tudo o que se olha paradesalienar (ds-especializar) ossentidos e o corpo do ator.

    2. Freire (1996, p. 113) ao refletir queensinar exige escutar afirma: aoescutar, como sujeito e no como objeto,a fala comunicante de algum, [me fazprocurar] entrarno movimento interno do

    seu pensamento, virando linguagem (id.ibid.,p. 117). Portanto, ouvir, no apenas um exerccio auditivo e sim umaprtica de compreenso dos significadose dos sentidos da realidade humana.

    3. Cardoso Oliveira (2006, p. 19) aoapresentar sua aula inaugural sobre otrabalho do antroplogo intui, com baseem sua experincia de pesquisador quetalvez a primeira experincia dopesquisador de campo ou no campoesteja na domesticao terica de seuolhar. Isso porque, a partir do momento

    em que nos sentimos preparados para ainvestigao emprica, o objeto, sobre oqual dirigimos o nosso olhar, j foipreviamente alterado pelo prprio modode visualiz-lo. Ao lado disso, o mesmoautor considera que para a coleta dedados h de se saber ouvir (ibid., p.22).

    CONSIDERAES: o momento dadelimitao da problemtica comum quepreocupa a comunidade local, visualizada combase nos dados pesquisados em sua

    totalidade. O tema, certamente precisa serdiscutido e definido coletivamente, entre osparticipantes da pesquisa, articulada em umsistema de relaes, isto , em sua complexaabrangncia social, econmica, poltica, etc.Trata-se da etapa que busca as razes, ascausas, os significados do problema gerador dapesquisa que coincide com o problema sociallocal na comunidade (grupo) pesquisada.

    JULGARPREMISSAS:

    1. Sartre (1973, p. 15) diz que Estamos

    ss e sem desculpas. o que traduzireidizendo que o homem est condenado aser livre. Condenado, porque no secriou a si prprio; e no entanto livre,

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    14/18

    14

    porque uma vez lanado ao mundo responsvel por tudo quanto fizer.

    2. Diz Levinas10 (1982, p. 80): O Tu nomatars a primeira palavra do rosto.Ora, uma ordem. H no aparecer do

    rosto um mandamento, como se algumsenhor me falasse. Apesar de tudo, aomesmo tempo o rosto de autrem est nu: o pobre por quem posso tudo e a quemtudo devo. E eu, que sou eu, masenquanto primeira pessoa, sou aqueleque encontra processos para responderao apelo.

    3. Aps um longo debate sobre asdesiluses da moralidade ps-moderna,Bauman (1997, p. 285) indica que aconscincia moral enquantoresponsabilidade moral, sempre [...]

    est a antes de qualquer resseguro ouprova e depois de qualquer escusa ouabsolvio. E sentencia: Se duvidasconsulta tua conscincia.

    CONSIDERAES: Se para a Teologia daLibertao a realidade social analisada combase nos cnones bblico-religiosos; aqui ser areflexo tica que auxiliar no julgamento darealidade estudada. Esta etapa o momento dedefinir os padres que possibilitem uma prxis.Uma interveno na realidade olhada (vista) eouvida, cujos ideais de mudanas, em seus

    princpios norteadores no so impostos pelopesquisador, mas urgem e emanam dos prpriossujeitos da pesquisa, portanto, tambm dopesquisador. Educao em Direitos Humanospressupe um cabedal terico que indiquereferncia para a soluo da problemtica qualse quer solucionar e transformar a realidadesocial local seja em seus fundamentos ticosseja em seus fundamentos legais (jurdicos) quejustifiquem o desejo de mudana.

    AGIRPREMISSAS:

    1. Se o olhar e o ouvir podem serconsiderados como os atos cognitivosmais preliminares no trabalho de campo[...] , seguramente, no ato de escrever,portanto na configurao final do produtodesse trabalho, que a questo doconhecimento torna-se tanto ou maiscrtica (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2006,p. 25).

    2. Parafraseando Geertz (1978, p. 26), opapel do cientista social (pesquisador)no est na sua capacidade em captar

    10 Emmanuel Levinas, importante filsofo da tica, nasceu em janeiro de 1906 em Kaunas, naLitunia. Cursou filosofia em Estrasburgo (1923-1930). Foi discpulo de Husserl e Hidegger.Profssor de filosofia na Universidade de Poitiers (1964), de Paris-Nanterre (1967), depois, naSorbona (1973).

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    15/18

    15

    os fatos [...] mas no grau em que ele(cientista) capaz de esclarecer o queocorre [nesse fato] para reduzir aperplexidade que os problemas sociaisnos causam.

    CONSIDERAES: A produo do textodissertativo e reflexivo, acerca da realidadeestudada, demonstrando suas significaes,mas, sobretudo suas transformaes a partir deuma mudana de atitude poltica dosparticipantes da pesquisa e qui dacomunidade envolvida no estudo realizado, serao por excelncia do pesquisador; pois suasconsideraes auferidas da pesquisa realizadadevem ser devolvidas comunidade estudada.Entretanto, considera-se de suma importncia,para a realizao de um projeto de interveno,

    que o compromisso do pesquisador sejacoerente com sua atitude tica e, no intuito que ainterveno surta o efeito desejado, h anecessidade de definir aes concretas que, defato, concorram para as solues dos problemasidentificados e refletidos pelos participantes dapesquisa e pela comunidade envolvida. Assim, atcnica 5W2H11 auxilia na elaborao de umprojeto que possibilitar a interveno a partirdas reflexes promovidas pela metodologia doVer-julgar-agir. A partir das concluses reflexivasdas etapas aqui delineadas, elabora-se umaplanilha com os seguintes questionamentos: O

    que? (qual ao ser desenvolvida?); Quando?(quando a ao ser desenvolvida?); Por qu?(Por que se optou por este caminho?); Onde?(onde a ao ser desenvolvida?); Quem?(quem realizar a ao?); Quanto custa?(Quanto custar as aes pensadas?); Como?(Como a ao ser realizada?).

    FONTE: Elaborado o pelo autor.

    Portanto, dentre as finalidades desta metodologia est o seu fim tico-poltico

    no processo educativo. Intervir na realidade para transform-la pressupe que algo

    no est sendo politicamente justo como deveria ser.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    A partir da reflexo sobre a sntese metodolgica do ver-julgar-agir se props

    uma metodologia para um projeto de interveno. O que no significa que se deve

    teologizar os dados obtidos na pesquisa a partir de suas problemticas formuladas.

    O importante, com base na exemplificao exposta no corpo deste trabalho,

    verificar se o que foi metodologicamente vlido na transformao social com base na

    11Confira a apresentao dos quadros 02 e 03 de Baia ([sd.], p. 286).

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    16/18

    16

    f dos agentes das CEBs, no seja, por sua vez, igualmente vlido para uma

    interveno e transformao social a partir da razo e da cincia, dos agentes da

    educao no campo dos Direitos Humanos. Seguindo, sem dvida, um caminho

    inverso, mas com as mesmas finalidades: transformar a realidade.

    Retomando os objetivos desta disciplina, quais sejam: apresentar conceitos

    de metodologia cientfica, propor um plano de ao com nfase na Educao em

    Direitos Humanos e possibilitar relatos de experincias, a partir da realidade

    situacional de sala de aula, convidou-se aos leitores (discentes) a articularem uma

    aproximao metodolgica entre a pesquisa cientfica e a aplicao adaptada do

    mtodo dialtico utilizado nas CEBs.

    de suma importncia que o pesquisador (ou grupo de pesquisadores) definao que deve ser pesquisado, para qu e por qu? Nesse sentido, a tematizao da

    problemtica fundamental antes do desenvolvimento das etapas. Da mesma

    maneira, a escolha dos tipos de pesquisa que ser desenvolvida tambm deve

    anteceder o momento de anlise, pois o que se apresentou no em si mesmo um

    tipo de pesquisa cientfica, mas uma metodologia (um instrumental) de anlise dos

    dados que se pretende interveno social.

    Ademais, insiste-se em ressaltar que s ser possvel avanar por estecaminho se no horizonte estiver o ideal de uma realidade diferente (melhor/mais

    justa) que se quer alcanar. Trata-se do aspecto tico que transcende e que

    favorece o empenho dos sujeitos da pesquisa (participantes) em querer transformar

    a realidade indesejada em realidade desejada.

    REFERNCIAS

    ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O mtodo nas cinciasnaturais e sociais: pesquisa qualitativa e quantitativa. So Paulo: Pioneira, 1998.

    ARAJO, Deuzimar Serra. Uma metodologia dialgica e proativa para alfabetizao dejovens e adultos. (Dissertao). Mestrado em Cincias da Educao. UniversidadeEstadual do Maranho - UEMA. Caxias - MA, 1999.

    BAIA, Sarah. Plano de ao educacional e avaliao. Mdulo VII. In: Aperfeioamento emEducao para Direitos Humanos. Belm: IFPA, UAB, DEAD, [sd.], p. 268-323.

    BAUMAN, Zygmunt. tica ps-moderna.Traduo Joo Rezende Costa. So Paulo.Paulus, 1997. (Critrios ticos).

    BOAL, Augusto. Jogos para atores e no atores. 11 ed. Rio de Janeiro: CivilizaoBrasileira, 2008.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    17/18

    17

    ______. Teatro do oprimido e outras poticas polticas.6 ed. Rio de Janeiro: CivilizaoBrasileira, 1991.

    BOFF, Leonardo. O caminhar da Igreja com os oprimidos: do vale de lgrimas terraprometida. Rio de Janeiro: Codecri, 1980a.

    BOFF, Leonardo; BOFF, Clodovis. Da libertao: o sentido teolgico das libertaes scio-histricas. 2 ed. Petrpolis: Vozes, 1980.

    CALVEZ, Jean-Yves. O pensamento de Karl Marx.Traduo Agostinho Veloso. Porto:Livraria Tavares Martins, 1959.

    CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antroplogo.2 ed. Braslia: Paralelo 15;So Paulo: Editora Unesp, 2006.

    CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia cientfica. 5. ed. So Paulo:Pearson Prentice Hall, 2002.

    CHAU, Marilena. Iniciao filosofia: ensino mdio. So Paulo: tica, 2010.

    COUTINHO, Srgio Ricardo. Comunidades eclesiais de base: presente, passado e futurointeraes. In: Informaes: Cultura e Comunidade, v. 5 n. 6, p. 183196, 2009.

    DEMO, Pedro. Introduo metodologia da cincia. 2. ed. So Paulo: Atlas, 1987.

    DURKHEIM, mile. As regras do mtodo sociolgico. So Paulo: Martin Claret, 2004.

    FIGUEIREDO, Nbia Maria Almeida de (org.). Mtodo e metodologia na pesquisacientfica. So Caetano do Sul-SP: Difuso Editora, 2004.

    FREIRE, Paulo. Educao e Mudana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. (ColeoEducao e Comunicao).

    ______. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo:Paz e Terra, 1996. (Coleo Leitura).

    GEERTZ, Clifford. A interpretao das culturas. Traduo de Fanny Wrobel. Rio deJaneiro: Zahar, 1978.

    GIL, Antonio Carlos. Mtodo e tcnicas de pesquisa social. So Paulo: Atlas, 1999.

    GOHN, Maria da Glria. Movimentos sociais no incio do sculo XXI. Petrpolis: Vozes,2007.

    GRESSLER, Lori Alice. Introduo pesquisa: projetos e relatrios. 2. ed. So Paulo:Loyola, 2004.

    GUTIRREZ, Gustavo. Teologia da libertao: perspectivas. Traduo Yvone Maria deCampos Teixeira da Silva e Marcos Marcionilo. So Paulo: Loyola, 2000.

    LEVINAS, Emmanuel. tica e infinito: dilogos com Philippe Nemo. Traduo Joo Gama.Lisboa: Edies 70, 1982.

  • 7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula

    18/18

    18

    LOPES, Robson Wander C. CEBs ribeirinhas: anlise do processo de organizao dasComunidades Eclesiais de Base em Gurup-PA. (Dissertao). Mestrado em Cincias daReligio. UEPA. Belm, 2013.

    LWY, Michael. Marxism and Liberation Theology. Notebooks for study and research.Number 10. Amsterdam: International Institute for Research and Education,1988.

    LUKCS, Gyrgy. Sociologia. Organizado por Jos Paulo Netto. Traduo Jos PauloNetto e Carlos Nelson Coutinho. So Paulo: tica, 1981. (Grandes cientistas sociais, 20).

    MACEDO, Carmen Cinira de Andrade. Tempo de gnesis: o povo das ComunidadesEclesiais de Base. Brasiliense, So Paulo, 1986.

    MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologiacientfica. 6.ed. So Paulo: Atlas, 2005.

    MARL, Ren; CALDERON, Mario; PETITDEMANGE, Guy. Pourquoi la thologie de lalibration? Cahiers de lactualit religieuse et sociale, Hors-Srie, supplment au n. 307.Paris: Assas-Editions, 1985.

    NOVAES, Regina R. Igreja Catlica, Reforma Agrria e Nova Repblica. Religio eSociedade 12 (3): 54-62, 1985.

    POLIT, D. F.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3. ed., PortoAlegre: Artes Mdicas, 1995.

    PRADO Jr., Caio. Teoria marxista do conhecimento e mtodo dialtico materialista.Edio Riendo Castigat Mores. Verso para eBookeBooksBrasil, 2001. Disponvel em:

    www.jahr.org.Acesso em: 18/04/2014.

    PRESTES, Maria Luci de Mesquita. A pesquisa e a construo do conhecimentocientfico: do planejamento aos textos, da escola academia. 2.ed. So Paulo: Rspel,2003.

    ROLIM, Francisco Cartaxo. Teologia da libertao no Brasil: 1980-1986. In: SANCHIS,Pierre (org.). Catolicismo: cotidiano e movimentos. Grupo de Estudos do Catolicismo doISER. So Paulo: Loyola, 1992. p. 9-79.

    SANCTUM, Flavio. Do negativo social transformao do real: aproximaes entre Boal eAdorno. In: Em Pauta. Sala Preta, PPGAC. Vol. 12, n. 2, dez 2012, p. 45-50.

    SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo um humanismo. Traduo Verglio Ferreira.So Paulo: Abril, 1973. (Coleo Os pensadores).

    TEIXEIRA, Elizabeth. As trs metodologias:acadmica, da cincia e da pesquisa. 4. ed.Belm: UNAMA, 2001.

    http://www.jahr.org/http://www.jahr.org/http://www.jahr.org/