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7/25/2019 ARTIGO Banco de Experincias Para Sala de Aula
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BANCO DE EXPERINCIAS PARA SALA DE AULA E OUTRAS ATIVIDADES
Robson Wander C. Lopes (IFPA)1
1 INTRODUO
A interveno cientfica na realidade social necessita ser planejada. No se
faz cincia sem um projeto de pesquisa; e no se elabora um projeto de pesquisa
sem o rigor de buscar a verdade sobre o que se pretende explicar. Assim, toda
pesquisa cientfica necessita de parmetros ticos que conduzam a reflexo na
relao dialgica entre pesquisador e seu objeto, entre pesquisador e pesquisado,
entre sujeito e sujeito.
A proposta da disciplina apresentar um Banco de experincias para a salade aula cujos objetivos especficos so os seguintes: refletir sobre a atitude
cientfica; subsidiar a elaborao de um projeto de pesquisa com nfase na
Educao em Direitos Humanos e propiciar relatos de experincias.
Dessa maneira a reflexo, ora apresentada, est subdividida em sesses
sendo que a segunda sesso busca conceituar a cincia e apresentar os tipos de
pesquisas e suas metodologias. A terceira sesso faz uma abordagem sobre o
projeto de pesquisa apresentando, para fins didticos, seus elementos bsicos econstitutivos. E a quarta sesso traz a proposta de um mtodo cientfico que
considere a realidade social como uma realidade de contradies e de conflitos, pois
se pretende apresentar de maneira resumida como elaborar um projeto de
intervenoem Direitos Humanos; ainda nessa sesso se apresenta os elementos
que podem auxiliar na prtica da elaborao de um projeto de interveno
adaptando a sntese metodolgica do Ver-julgar-agir.
2 A METODOLOGIA CIENTFICA
A prxis docente no torna pretervel a prxis da pesquisa. Pelo contrrio, no
h docncia, de fato, sem o conhecimento prvio da realidade que circunda e
envolve a realidade de sala de aula, pois o conhecimento se d num processo
dialgico entre letra e mundo.
[...] A capacidade de aprender, no apenas para nos adaptar, mas,sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a, fala
1Filsofo e Cientista da Religio. Mestre em Cincias da Religio (UEPA). Professor de Filosofia doIFPA.
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de nossa educabilidade a um nvel distinto do nvel do adestramento dosoutros animais ou do cultivo das plantas (FREIRE, 1996, p. 68).
Nesse sentido, no escopo de uma explanao sucinta e orientada aos
intentos desta disciplina, pensa-se ser importante elencar, numa sequencia didtica,alguns dos mais importantes elementos tericos e conceituais sobre a pesquisa para
uma prtica a partir e qui, em sala de aula, reverberando o contedo estudado
neste curso em seus diversos mdulos e tematizando a prxis docentes em direitos
humanos no processo educacional, especificamente, nas escolas em que se
trabalha.
O fazer cientfico necessita que aquele que o faz tenha igualmente uma
atitude cientfica. No qualquer fazer. Distingue-se, por definio, do senso comumentendido enquanto ao do pensamento no processo de compreenso da
realidade. Nesse sentido a contraposio proposta por Chau (2010) indica uma
srie de caractersticas que demarcam uma distino epistemolgica entre o senso
comum e a atitude cientfica. Para a autora
a cincia desconfia da verdade de nossas certezas, de nossa adesoimediata s coisas, da ausncia da crtica e da falta de curiosidade. Porisso, onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude cientfica v
problemas e obstculos, aparncias que precisam ser explicadas e, emcertos casos, afastadas (CHAU, 2010, p. 297).
Portanto, para quem deseja trilhar os caminhos da cincia precisa criar uma
atitude que permita construir os objetos cientficos a partir do rduo trabalho da
investigao, afastando-se das opinies baseadas em hbitos, preconceitos,
tradies cristalizadas, passando a considerar que os fatos sociais devem ser
tratados como coisas(DURKHEIM, 2004, p. 16).
Dessa forma, a investigao cientfica h de se basear em processos
metodolgicos, sistemticos e coerentes a fim de que haja uma verdade a ser dita
sobre a realidade estudada. Seguindo o raciocnio sobre o saber cientfico ou a
atitude cientfica entende-se cincia como sendo
um conjunto de conhecimentos que se obtm atravs da utilizaoadequada de mtodos sistematizados ou cientficos capazes de apreender,controlar, interpretar e relacionar fenmenos, fatos ou situaes,envolvendo a realidade emprica ou investigada (TEIXEIRA, 2001, p. 81).
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A cincia2, pois, um conhecimento metdico porque compreende atividades
organizadas sistematicamente e com objetivos a serem alcanados cuja validade
seja demonstrvel, de modo lgico e coerente, o que define o trajeto do pesquisador
e o auxilia em possveis correes durante todo o seu percurso (MARCONI;
LAKATOS, 2005). O mtodo, ento, torna-se, na pesquisa cientfica, um importante
instrumento para a produo conhecimento.Todavia, importa verificar algumas das maneiras pelas quais se faz um estudo
cientfico, ou melhor, de que maneira se realiza uma pesquisa cientfica que constitui
e organiza a prtica dessa atitude.
Tipos de Pesquisa CientficasAntes de tudo, importante considerar o que se entende por pesquisa
cientfica. A pesquisa uma atividade voltada para a soluo de problemas,
atravs do emprego de processos cientficos. [...] Parte, pois, de uma dvida ou
problema e, com o uso do mtodo cientfico, busca uma resposta ou soluo
(CERVO; BERVIAN, 2002, p. 63). Sempre entendida como um conjunto de
atividades que objetiva propor novas formas de conhecer independentemente da
rea do conhecimento que a esse fim se proponha (PRESTES, 2003).Para uma viso panormica e esquemtica sobre a classificao da pesquisa
cientfica faz-se uso da sistematizao de Gil (1999) cuja apresentao foi
sintetizada por Baia ([sd.], p. 281). Aqui se faz uma livre adaptao da sntese
esquemtica buscando dialogar com outros autores sobre o assunto.
Quanto natureza, a pesquisa pode ser bsica ou aplicada. Bsica: porque
visa a investigao de tema afim de gerar conhecimento sobre o mesmo, contudo
sem uma aplicao prtica imediata na sociedade. Aplicada: objetiva ainvestigao de determinada temtica com finalidades de gerar conhecimentos
dirigidos para uma aplicao especfica, a problemas focalizados (BAIA, [sd.] p.
281).
Quanto abordagem do problema, a pesquisa pode ser Quantitativa e/ou
Qualitativa. Quantitativa: quando o mtodo se apropria da anlise estatstica para o
tratamento dos dados (FIGUEIREDO, 2004, p. 102). Qualitativa: quando a pesquisa
2 A palavra Cincia tem sua raiz etimolgica no latim que segundo Gressler (2004, p. 36) Sciresignifica conhecer. A cincia , portanto uma maneira de conhecer e explicar o universo fsico esocial.
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est direcionada para a investigao dos significados das relaes humanas, onde
suas aes so influenciadas pelas emoes e/ou sentimentos aflorados diante das
situaes vivenciadas no dia-a-dia (idem ibidem, p. 106).
importante, entretanto, destacar a pesquisa qualitativa, pois os temas
recorrentes em Direitos Humanos nos fazem perceber a necessidade de seu uso em
uma anlise desse tipo. A esse respeito o papel do pesquisador toma um sentido de
envolvimento com o seu objeto pesquisado. Assim,
nos estudos qualitativos, a coleta sistemtica de dados deve ser precedidapor uma imerso do pesquisador no contexto a ser estudado. Essa faseexploratria permite que o pesquisador, sem descer ao detalhamentoexigido na pesquisa tradicional, defina pelo menos algumas questes
iniciais, bem como os procedimentos adequados investigao dessasquestes (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 148).
possvel, contudo, unir os dois tipos de pesquisa quanto abordagem do
problema, formulando uma abordagem do tipo quanti-qualitativa, alis, em cincias
sociais esse tipo de juno muito comum. a possibilidade de se fazer uma
complementao entre essas modalidades cujas palavras e nmeros, duas
linguagens fundamentais da comunicao humana, so conjugadas para o
favorecimento de um processo de explicao e de compreenso (POLIT;
HUNGLER, 1995).
Quanto aos objetivos a pesquisa pode ser exploratria, descritiva e
explicativa. Exploratria: quando tem por finalidade construir uma familiaridade com
o problema a ser estudado. Descritiva: quando a pesquisa busca expor as
caractersticas de uma populao ou de fenmeno, promovendo a relao entre
variveis adquiridas por meio de tcnicas padronizadas de coleta de dados.
Explicativa: ou seja, quando a pesquisa busca identificar os fatores que determinam
ou que contribuem para a ocorrncia dos fenmenos procurando elucidar as ra zes
pelos quais os fatos ocorrem (FIGUEIREDO, 2004, p. 104).
Quanto aos procedimentos tcnicos: pode ser bibliogrfica (livros, artigos,
jornais, etc.), documental (documentos que ainda no receberam tratamento
analtico), experimental (o pesquisador tem controle sobre a varivel independente),
levantamento (investigao direta dos participantes envolvidos no fenmeno que se
deseja estudar), estudo de caso (aprofunda a descrio de determinada realidade),
expost-facto (investigao dos fatos que ocorrem aps a realizao de um
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experimento), pesquisa-ao ou participante (a busca de resoluo de um problema
numa ao coletiva entre pesquisadores e participantes).
Ter conscincia e a compreenso desses mtodos, do tipo de abordagem,
das tcnicas e do tipo de investigao, de suma importncia para que o
pesquisador possa fazer a relao entre o objeto da pesquisa (fato ou fenmeno)
com a metodologia3adequada para os seus fins cientficos. De fato, tal conscincia
torna-se importante para assegurar os resultados a serem obtidos. Entretanto,
necessrio, antes de tudo, elaborar um projeto de pesquisa. esse constructo
terico que ir, no apenas delimitar o objeto da pesquisa, mas ajudar a definir quais
os meios e instrumentais a serem usados para compreender o que se quer saber da
realidade estudada.
3 O PROJETO DE PESQUISA
O projeto de pesquisa consta de um planejamento detalhado com as etapas
pr-definidas sobre alguma problemtica que o pesquisador se colocou na
perspectiva de buscar uma soluo a tal problemtica. importante partir de
algumas questes norteadoras para que o projeto seja elaborado: o que quero
pesquisar? Por que devo fazer essa pesquisa? Para que essa pesquisa ir servir?Como deverei realiz-la? Quando? Quais os recursos necessrios? medida que
as respostas vo sendo obtidas, vo surgindo alguns elementos e possibilitando a
elaborao do esboo de um projeto que vai tomando sua forma. Importa
apresentar, pois, uma proposta sinttica dos elementos constitutivos do projeto de
pesquisa, conforme o quadro abaixo:
Quadro 01: Elementos constitutivos de um Projeto de Pesquisa
ELEMENTOS DESCRI ES
TEMA/TTULO Apresentao sinttica da temtica que ser abordada no projeto.INTRODUO Diz ao leito:
- sobre o que se trata o projeto, explanando sobre a temtica;- Apresentar a reviso de literatura acerca do tema abordado, devendoincluir as citaes das obras pesquisadas.- Permita que se levante uma visualizao situacional do problema,restringindo sua abordagem a apresentao das questes que conduziramvoc propor esta pesquisa.
JUSTIFICATIVA Apresente os argumentos indicativos da relevncia de sua investigao, ouseja, explane sobre o porqu a pesquisa significativa dentro da rea.
OBJETIVOS Trata-se da indicao clara do que a sua pesquisa prope o que desejafazer e o que pretende alcanar. So caracterizadas pela utilizao dosverbos de ao. Objetivo Geral: indica a forma abrangente e genrica que o
3Para Demo (1987, p. 19) a Metodologia uma preocupao instrumental. Trata das formas de sefazer cincia. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos.
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pesquisador pretende fazer. Objetivos especficos: detalha o objetivo geral.METODOLOGIA Explicao detalhada de toda ao a ser desenvolvida. Voc indica que tipo
de pesquisa voc pretende realizar e o subsequente desenhometodolgico, explicitando a seguir:- Participantes
- Local- Pesquisadores- Recursos (materiais e instrumentais: entrevista, questionrio, formulrio,etc.).- Procedimento de coleta de dados, bem como de anlise dos mesmos.
CRONOGRAMA Indica a estimativa do tempo gasto em cada etapa da pesquisa.ORAMENTO Elaborar um oramento com a estimativa dos investimentos necessrios
para viabilizarem a realizao da pesquisa.ANEXOS (se necessrio)
REFERNCIASBIBLIOGRFICAS
Listagem do material usado para a construo do projeto.
Fonte: BAIA, [sd.], p. 284.
importante, alm do que j foi indicado acima, estar de acordo com as
normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) atualizadas para o
registro escrito do projeto.
4 PARA UM PROJETO DE INTERVENO EM DIREITOS HUMANOS
Nesta sesso se prope um mtodo cientfico que considere a realidade
social como uma realidade de contradies e de conflitos cujos parmetros da
pesquisa possam favorecer a transformao da realidade em consonncia com os
objetivos pretendidos na Educao em Direitos Humanos. Pensa-se, de antemo,
numa interveno, a partir do conhecimento cientfico, a ser realizada na prpria
realidade escolar buscando unir teoria prtica, e vice-versa.
Uma vez arquitetado o esboo dos elementos constitutivos da pesquisa a ser
realizada, vale destacar a importncia da escolha de uma metodologia, isto , de se
ter a conscincia sobre o como ir ser desenvolvido o projeto com o intuito de
promover uma interveno na realidade a partir de um problema especficoidentificado e tematizado pelo pesquisador ou pelo grupo de pesquisadores.
preciso definir quais os tipos da pesquisa a serem desenvolvidos no
projeto. O que poder ser feito com base no que se indicou na segunda sesso
deste trabalho: quanto natureza da pesquisa, a sua abordagem do problema, os
seus objetivos e as tcnicas a serem usadas na coleta de dados.
Apresenta-se, ento, a dialtica, como um referencial metodolgico de
compreenso da realidade em Direitos Humanos, especialmente por corroborar com
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a transformao da realidade. Assim, a dialtica materialista entendida nos termos
do marxismo,
[...] implica a convico cientfica de que, com o marxismo dialtico,encontrou-se o mtodo correto de investigao [...] A dialtica materialista uma dialtica revolucionria, [pois] trata-se da, aqui, da teoria da prxis, eno apenas no sentido que Marx lhe atribua em sua primeira crticahegeliana, quando afirmava que a teoria torna-se fora material quandoassumida pelas massas (LUKCS, 1981, p.60).
Com isso o autor acima quer dizer que o prprio Marx no delineou em regras
especficas o seu prprio mtodo, mas o apresentou atravs de sua aplicao
construindo uma teoria da economia e do capitalismo. Da que o mtodo dialtico,
ao mesmo tempo em que rompe a aparncia de eternidade das categorias, deva
romper tambm com a sua aparncia de coisidade para abrir a via ao conhecimento
da realidade (Id. Ibid., p. 75). Para o mesmo autor, sem o mtodo dialtico
impossvel compreender a realidade enquantoprocesso unitrio(ibidem, p. 72).
Marx tem em Hegel seu mtodo dialtico, mas afasta-se dele pelo simples
fato de tratar-se de um conhecimento acerca deuma matria carente em si de
essnciae no um auto-conhecimento destamatria que a sociedade humana
(LUKCS, ibid., p. 77, itlicos do autor)4. Entende-se, pois, a dialtica como ao
recproca, no sentido em que h uma relao que vai alm dos objetos imutveis
(das essncias), pois a relao com o todo torna-se a determinao condicionante
da forma de objetividadede todo objeto; toda mudana essencial e importante para
o conhecimento se manifesta como mudana de relao para com a totalidade e,
por isso mesmo,como mudana da prpria forma de objetividade e citando Marx o
autor explica:
Um negro um negro; somente em certas condies ele se torna umescravo. Uma mquina de fiar uma mquina de fiar; somente em certascondies ela se torna capital. Separada destas condies, ela to poucocapital como o ouro o preo do dinheiro ou o acar o preo do acar(MARX apu LUKACS, 1981, p. 74).
Esclarece-se que o essencial metodolgico para Marx consiste centralmente
[...] na determinao de relaes da anlise (PRADO Jr., 2001, p. 21). E assevera o
mesmo autor que a relao entendida
4Segundo Calvez (1959, p. 169) a atitude de Marx para com Hegel muito mais complexa de que foi
para com outros autores, como Bauer, Stirner, e mesmo Feuerbach [...] Por um lado, a obsesso deHegel h de acompanh-lo quase toda a vida [...]. Para Prado Jr. (2001, p. 8) a assimilao dadialtica hegeliana indispensvel para se compreender a dialtica de Marx, dessa maneira, parase compreender Marx preciso compreender Hegel.
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No sentido da maneira ou modo como as afeies e situaes da Realidadeexterior ao pensamento conhecedor e que constituem o objeto doConhecimento, se dispem e compem, em si e entre si, no espao e notempo, [...] como se comporta em suma (PRADO Jr., 2001, p. 22).
Para Marx nada tem seu significado sem ser considerado em sua relao, ou
melhor, nada pode ser conhecido, de fato, se no for a sua dinmica de suas
relaes que compreendem seu sistema. Da que a dialtica de Marx buscar
compreender o devir social em seu processo e no em sua essncia. Nesse sentido
no h individualidade das coisas e dos fatos se no com relao sua totalidade e
em funo desta. O mtodo dialtico uma proposio para explicar a realidade
social em suas relaes.
A dialtica de Marx [...] [...] a perspectiva da unidade universal tanto noespao (o que significa interligao, o relacionamento e integrao emconjunto, da totalidade das feies e situao da Realidade), como notempo, isto a incessante transformao desse conjunto que antesprocesso em constante devir (PRADO Jr., 2001, p. 37).
Portanto, o ponto de partida do materialismo dialtico no a conscincia
dos homens que determina a sua existncia, mas, inversamente, seu ser social
que determina a conscinciapode ultrapassar o plano puramente terico e tornar-
se problema prtico (idem, ibidem, p. 80).
Avanando na proposio de um projeto de interveno social, destaca-se
que o mtodo dialtico de Marx, acima abordado, interpretado atravs de autores
como Brecht e Freire, possibilitou a construo de uma potica do oprimido
desenvolvida por Augusto Boal, que em plena ditadura militar no Brasil, props
conceber ao dramtica e a arte cnica como uma arma de libertao.
(SANCTUM, 2012, p. 46). O que fica bastante evidente num texto explicativo sobre
sua coletnea de experincias teatrais escrita em 1974 pelo dramaturgo:
Para completar o ciclo, falta o que est atualmente ocorrendo em tantospases da Amrica Latina: a destruio das barreiras criadas pelas classesdominantes. Primeiro se destri a barreira entre atores e espectadores:todos devem representar, todos devem protagonizar as necessriastransformaes da sociedade. [...] Assim tem que ser a Potica doOprimido: a conquista dos meios de produo teatral (BOAL, 1991, p.14).
Assim como Boal, Freire tambm se valeu do mtodo dialtico porque props
a educao a partir da realidade concreta do aluno, fazendo-se conhecedor,
participante e agente de mudana do seu contexto social (ARAJO, 1999, p. 5).
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E como afirma Moacir Gadotti (apud FREIRE, 1991, p. 8) depois de Paulo
Freire ningum pode ignorar que a educao sempre um ato poltico. Portanto, a
pedagogia do oprimido freiriana tambm prxis, pois s compreendida
enquanto dialogicidade com a realidade, com o mundo, com a vida dos agentes do
processo educacional. Eis, pois algumas propriedades fundamentais do mtodo
dialtico: totalidade, relao, prxis.
[A] proposta dialgica parte de um contexto concreto para responder aomesmo contexto. Nessa relao o professor convida os alunos a pensar.No basta saber ler mecanicamente (Eva viu a uva). necessriocompreender qual a posio que Eva ocupa no seu contexto social, quemtrabalha para produzir uvas e quem lucra com este trabalho (ARAJO,1999, p. 57).
Aproximam-se, em suas concepes metodolgicas, Augusto Boal e Paulo
Freire. Embora tenham elaborado e aplicado suas pesquisas, seus estudos e seus
mtodos em ambientes profissionais diversos, os objetivos de ambos, todavia,
assemelham-se se olhados a partir do processo educativo e, sobretudo, no que diz
respeito interveno social, ou melhor, transformao da sociedade.
Ao considerar-se os tipos de pesquisas possvel utilizar de uma metodologia
consagrada, no Brasil e na Amrica Latina, pelo movimento social, de forma
particular pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)5, que teve seu auge nas
dcadas de 1960 a 1980.
Apontar aquelas dcadas como auge do uso desse mtodo (metodologia) no
significa dizer que o mesmo no tenha mais sua importncia na pesquisa,
especialmente na anlise dos dados coletados, ainda hoje.
Longe de queremos afirmar que as Comunidades Eclesiais de Base sejam asoluo definitiva para os nossos problemas de dficit de cidadania e de
segurana, acreditamos que elas ainda continuam transmitindo sonhos,reinventando o mundo, deste mundo que vive longe das comunidades(COUTINHO, 2009, 195, grifos do autor).
5Embora a reflexo proposta no seja um estudo sobre as CEBs, vlido fazer uma nota ttulo dedefinio em Cincias Sociais. Assim, utiliza-se das seguintes consideraes: para Lwy (1988, p.14) CEBs um pequeno grupo de vizinhos que pertencem ao mesmo bairro popular [...] e queregularmente busca conhecer a Bblia, lendo-a e debatendo-a luz de sua prpria experincia devida. [...] Com ajuda do clero, as discusses e debates da comunidade se ampliam para uma lutasocial: moradia, luz eltrica, acesso gua, a luta pela terra na zona rural. ParaGohn (2007, p.259) as CEBs [...] tm uma estruturao rgida segundo prticas assemblesticas e no umaorganizao formal em termos de cargos [...]. Respaldavam-se na prpria estrutura eclesial, na qualas hierarquias eram mantidas. Baseando-se nos autores acima, pode-se concluir, com a ajuda de
Macedo (1986) que CEBs, um tipo popular de catolicismo, originalmente uma ao pastoral daIgreja, que ao ser proposta como nova maneira de renovar a organizao das estruturas eclesiaispassou a ser apropriada pela organizao dos leigos. Uma organizao voltada para as reflexes eas prticas sociais e religiosas cuja polaridade entre f e poltica interfere na transformao social.
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No se pretende aqui apelar para uma apologia teolgica. Muito menos
professar credibilidade a uma determinada confisso religiosa. Contudo, ao
considerar a Teologia da Libertao enquanto saber sistemtico e as CEBsenquanto instituio social verifica-se que tais categorias de anlises marcaram
dcadas na histria latino-americana e brasileira promovendo transformaes
sociais e polticas em diversos lugares.
Quer-se com essa reflexo verificar simplesmente se a sntese metodolgica
das CEBs, adaptao do mtodo dialtico, poderia de alguma maneira contribuir
com a elaborao de um projeto de interveno social na Educao em Direitos
Humanos. E o modelo de tratamento de dados dessa metodologia possibilita umaanlise dialtica e dialgica da realidade social.
Antes, porm, necessrio desenvolver uma breve reflexo acerca dos
elementos epistemolgicos da metodologia usada nas CEBs.
As CEBs e grande parte do movimento social no Brasil e na Amrica Latina,
usando do referencial terico do mtodo dialtico, o adaptou numa sntese
metodolgica que ficou conhecida como VER, JULGAR e AGIR6.
O mtodo se desenvolve em trs momentos: (VER) partir da realidade davida, (JULGAR) confrontar os desafios levantados pela realidade existente,(AGIR) partir para uma ao de transformao do meio. Essa metodologiajoga os militantes dentro da realidade e faz ponte entre educao e vida,educao e poltica (ARAJO, 1999, p. 58).
O movimento social, de modo particular, as Comunidades Eclesiais de Base
desenvolveram a sntese metodolgica da dialtica, com suas bases tericas como
uma inovao de uma prxis de interveno social, ainda que tenha sido de
fundamentao religiosa.
A Teologia da Libertao teve um papel importante e fundamental no
desenvolvimento da metodologia do Ver, julgar e agir nas CEBs. Pois tal Teologia
tornou-se uma das dimenses tericas de maior abrangncia popular da prxis
6 Arajo (1999, p. 58) faz uma breve exposio sobre as origens histricas desta sntesemetodolgica e afirma que o mtodo Ver Julgar Agir uma metodologia criada pelo PadreCardjin, [no] trabalho pastoral com jovens operrios da periferia de Bruxelas, na Blgica. [...] E foiintroduzido no Brasil atravs da Ao Catlica, juntamente com os movimentos eclesiais, dentre os
quais podemos citar [...] o MEB Movimento de Educao de Base [que era] a experincia maisimportante [para] repensar o papel das classes populares e a (sic) introduzir novas prticaspedaggicas.
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libertadora, no Brasil e na Amrica Latina. Sobre a seu tipo de abordagem, importa
destacar o seguinte:
a teologia da libertao [...] tenta articular uma leitura da realidade a partirdos pobres e no interesse da libertao dos pobres: em funo disto acionaas cincias do homem e da sociedade, medita teologicamente e postulaaes pastorais que ajudem a caminhada dos oprimidos (BOFF; BOFF,1980, p.20).
A reviravolta da compreenso teolgica como reflexo sobre a prxis
estabelece uma nova epistemologia que permite o aprofundamento cientfico
anterior reflexo teolgica. Seguindo o mtodo do Ver, julgar e agir na anlise da
realidade social, econmica e poltica, possvel definir critrios de reflexo
teolgica e de prtica pastoral luz da opo preferencial pelos pobres, naconstruo de uma nova sociedade (GUTIRREZ, 2000).
Gustavo Gutirrez, Hugo Assman, Leonardo Boff e Clodovis Boff, com suas
diversas obras publicadas, especialmente nas dcadas de 1970-1980, tiveram uma
participao fundamental no desenvolvimento e na adaptao do mtodo dialtico
para o campo da teologia e da pastoral no Brasil e na Amrica Latina cujas bases
foram estabelecidas nas mediaes scio-analtica e hermenutica, fundamentadas
na prxis.Dentre os autores acima mencionados, percebe-se que Gutirrez o terico
de maior profundidade na elaborao originria do pensamento teolgico da
libertao. Foi a partir de seu encontro com militantes da Ao Catlica, em plena
ditadura militar no Brasil, que ele elaborou suas reflexes que depois seriam
transformadas em Teologia da Libertao (MARL et al.,1985).
A Teologia da Libertao foi muitas vezes criticada, devido o instrumental
marxista utilizado por seus tericos
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; contudo, ela tornou-se o referencial reflexivodas anlises da realidade luz da bblia, atravs do mtodo ver-julgar-agir para as
CEBs8. E as CEBs j nascem com uma vocao para a reflexo crtica da realidade
na qual est inserida.
A reflexo nas CEB no se reduz a uma totalizao ad intra (para dentro),mas se abre ao exerccio da razo crtica, desocultando os mecanismos
7Michael Lwy (1988) faz um levantamento panormico sobre os tericos marxistas cujas fontes, noobstante suas crticas religio, muitas vezes endereadas diretamente ao catolicismo, serviram de
base reflexiva e metodolgica para a fundamentao inicial da Teologia da Libertao no Brasil e naAmrica Latina.
8 Segundo Novaes (1985, p. 59) o mtodo do ver, julgar e agir resume-se em estabelecer, a partir dodepoimento dos participantes, os interesses antagnicos entre os pobres e os poderosos.
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geradores de sua pobreza. Percebe, ao nvel da f, a iniquidade socialcomo pecado que contradiz o projeto histrico de Deus. Ensaia, ao nvel degrupo, uma prtica libertadora. Esta rede de comunidade possui o seucentro sociolgico e cultural no mundo dos pobres; estabelece relaeshorizontais e vinculaes entre pessoas e pequenos grupos. No tem
acesso aos meios de comunicao e cumpre, no meio popular, umadiscreta denncia proftica com os inevitveis riscos (BOFF, 1980, p. 73).
No intuito de argumentar a favor da Teologia da Libertao e desarticular as
crticas que a acusavam de uma teologia marxista, alguns autores debatiam acerca
de uma reposio da centralidade reflexiva a fim de elucidar os seus estatutos
epistemolgicos para que o a teologia no fosse confundida com outros saberes ou
com outras cincias. Assim,
A teologia um discurso muito especfico sobre a realidade social,econmica, poltica, teolgico-cultural. Ela v essa realidade a partir da [...]Palavra de Deus. Para ela poder realizar essa perspectiva, precisadecodificar o texto social a partir das cincias sociais. A teologia dalibertao se faz com uma palavra segunda, a palavra da f, articulada comuma palavra primeira, que so as cincias sociais. evidente que ascincias sociais, aqui, so tomadas como momento, como mediao, comoinstrumentao do entendimento da realidade social, inclusive o marxismo(BOFF e BOFF apud ROLIM, 1992, p.26-27).
Nesse sentido, com base na exposio desta sesso, o que est sendo
proposto aqui uma reflexo metodolgica, a partir da experincia pastoral dasCEBs. Trata-se de uma considerao em parte inversa e em parte adaptada. Pois o
que se pretende no a produo de reflexo teolgica, mas cientfica, embora a
finalidade, em parte, seja em seu mbito teolgico libertador, seja em seu mbito
cientfico, continua sendo a mesma: transformar a realidade social.
Para fins didticos, apresenta-se a seguir uma adaptao da metodologia do
Ver, julgar e agir 9, na perspectiva da elaborao do projeto de interveno social e
sua aplicao em cincias sociais. Considera-se nesta apresentao uma breve
fundamentao terica para o entendimento sobre cada etapa da sntese
metodolgica.
9 A proposta, ora apresentada, est baseada na especfica experincia do autor no campo da pesquisajunto s CEBs do municpio de Gurup-PA, desde 1992 at os dias atuais. Parte dessa experinciaest sistematizada em sua dissertao de mestrado intitulada CEBs ribeirinhas: anlise doprocesso de organizao das Comunidades Eclesiais de Base em Gurup-PA (LOPES, 2013).
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Quadro 02: Etapas da sntese metodolgica do VER-JULGAR-AGIR adaptadas para apesquisa em Educao em Direitos Humanos.
ETAPAS DESCRI ES
VER
Sugestes de tipos de pesquisas a seremtrabalhados para uma anlise dialtica:- Aplicada (quanto natureza);- Quanti-qualitativa (quanto abordagem doproblema);- Explicativa (quanto aos objetivos);- Levantamento (quanto o procedimento tcnico)- Pesquisa-ao e participante (quanto oprocedimento tcnico)
Contudo, podem-se seguir outras conjugaesdependendo da criatividade e dos objetivos
pretendidos.
PREMISSAS:1. De acordo com o sistema de exerccio ejogos do teatro do oprimido, Boal (2008)classifica em cinco categorias o seuarsenal cnico e prope a categoria IVcom o ttulo ver tudo o que se olha paradesalienar (ds-especializar) ossentidos e o corpo do ator.
2. Freire (1996, p. 113) ao refletir queensinar exige escutar afirma: aoescutar, como sujeito e no como objeto,a fala comunicante de algum, [me fazprocurar] entrarno movimento interno do
seu pensamento, virando linguagem (id.ibid.,p. 117). Portanto, ouvir, no apenas um exerccio auditivo e sim umaprtica de compreenso dos significadose dos sentidos da realidade humana.
3. Cardoso Oliveira (2006, p. 19) aoapresentar sua aula inaugural sobre otrabalho do antroplogo intui, com baseem sua experincia de pesquisador quetalvez a primeira experincia dopesquisador de campo ou no campoesteja na domesticao terica de seuolhar. Isso porque, a partir do momento
em que nos sentimos preparados para ainvestigao emprica, o objeto, sobre oqual dirigimos o nosso olhar, j foipreviamente alterado pelo prprio modode visualiz-lo. Ao lado disso, o mesmoautor considera que para a coleta dedados h de se saber ouvir (ibid., p.22).
CONSIDERAES: o momento dadelimitao da problemtica comum quepreocupa a comunidade local, visualizada combase nos dados pesquisados em sua
totalidade. O tema, certamente precisa serdiscutido e definido coletivamente, entre osparticipantes da pesquisa, articulada em umsistema de relaes, isto , em sua complexaabrangncia social, econmica, poltica, etc.Trata-se da etapa que busca as razes, ascausas, os significados do problema gerador dapesquisa que coincide com o problema sociallocal na comunidade (grupo) pesquisada.
JULGARPREMISSAS:
1. Sartre (1973, p. 15) diz que Estamos
ss e sem desculpas. o que traduzireidizendo que o homem est condenado aser livre. Condenado, porque no secriou a si prprio; e no entanto livre,
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porque uma vez lanado ao mundo responsvel por tudo quanto fizer.
2. Diz Levinas10 (1982, p. 80): O Tu nomatars a primeira palavra do rosto.Ora, uma ordem. H no aparecer do
rosto um mandamento, como se algumsenhor me falasse. Apesar de tudo, aomesmo tempo o rosto de autrem est nu: o pobre por quem posso tudo e a quemtudo devo. E eu, que sou eu, masenquanto primeira pessoa, sou aqueleque encontra processos para responderao apelo.
3. Aps um longo debate sobre asdesiluses da moralidade ps-moderna,Bauman (1997, p. 285) indica que aconscincia moral enquantoresponsabilidade moral, sempre [...]
est a antes de qualquer resseguro ouprova e depois de qualquer escusa ouabsolvio. E sentencia: Se duvidasconsulta tua conscincia.
CONSIDERAES: Se para a Teologia daLibertao a realidade social analisada combase nos cnones bblico-religiosos; aqui ser areflexo tica que auxiliar no julgamento darealidade estudada. Esta etapa o momento dedefinir os padres que possibilitem uma prxis.Uma interveno na realidade olhada (vista) eouvida, cujos ideais de mudanas, em seus
princpios norteadores no so impostos pelopesquisador, mas urgem e emanam dos prpriossujeitos da pesquisa, portanto, tambm dopesquisador. Educao em Direitos Humanospressupe um cabedal terico que indiquereferncia para a soluo da problemtica qualse quer solucionar e transformar a realidadesocial local seja em seus fundamentos ticosseja em seus fundamentos legais (jurdicos) quejustifiquem o desejo de mudana.
AGIRPREMISSAS:
1. Se o olhar e o ouvir podem serconsiderados como os atos cognitivosmais preliminares no trabalho de campo[...] , seguramente, no ato de escrever,portanto na configurao final do produtodesse trabalho, que a questo doconhecimento torna-se tanto ou maiscrtica (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2006,p. 25).
2. Parafraseando Geertz (1978, p. 26), opapel do cientista social (pesquisador)no est na sua capacidade em captar
10 Emmanuel Levinas, importante filsofo da tica, nasceu em janeiro de 1906 em Kaunas, naLitunia. Cursou filosofia em Estrasburgo (1923-1930). Foi discpulo de Husserl e Hidegger.Profssor de filosofia na Universidade de Poitiers (1964), de Paris-Nanterre (1967), depois, naSorbona (1973).
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os fatos [...] mas no grau em que ele(cientista) capaz de esclarecer o queocorre [nesse fato] para reduzir aperplexidade que os problemas sociaisnos causam.
CONSIDERAES: A produo do textodissertativo e reflexivo, acerca da realidadeestudada, demonstrando suas significaes,mas, sobretudo suas transformaes a partir deuma mudana de atitude poltica dosparticipantes da pesquisa e qui dacomunidade envolvida no estudo realizado, serao por excelncia do pesquisador; pois suasconsideraes auferidas da pesquisa realizadadevem ser devolvidas comunidade estudada.Entretanto, considera-se de suma importncia,para a realizao de um projeto de interveno,
que o compromisso do pesquisador sejacoerente com sua atitude tica e, no intuito que ainterveno surta o efeito desejado, h anecessidade de definir aes concretas que, defato, concorram para as solues dos problemasidentificados e refletidos pelos participantes dapesquisa e pela comunidade envolvida. Assim, atcnica 5W2H11 auxilia na elaborao de umprojeto que possibilitar a interveno a partirdas reflexes promovidas pela metodologia doVer-julgar-agir. A partir das concluses reflexivasdas etapas aqui delineadas, elabora-se umaplanilha com os seguintes questionamentos: O
que? (qual ao ser desenvolvida?); Quando?(quando a ao ser desenvolvida?); Por qu?(Por que se optou por este caminho?); Onde?(onde a ao ser desenvolvida?); Quem?(quem realizar a ao?); Quanto custa?(Quanto custar as aes pensadas?); Como?(Como a ao ser realizada?).
FONTE: Elaborado o pelo autor.
Portanto, dentre as finalidades desta metodologia est o seu fim tico-poltico
no processo educativo. Intervir na realidade para transform-la pressupe que algo
no est sendo politicamente justo como deveria ser.
5 CONSIDERAES FINAIS
A partir da reflexo sobre a sntese metodolgica do ver-julgar-agir se props
uma metodologia para um projeto de interveno. O que no significa que se deve
teologizar os dados obtidos na pesquisa a partir de suas problemticas formuladas.
O importante, com base na exemplificao exposta no corpo deste trabalho,
verificar se o que foi metodologicamente vlido na transformao social com base na
11Confira a apresentao dos quadros 02 e 03 de Baia ([sd.], p. 286).
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f dos agentes das CEBs, no seja, por sua vez, igualmente vlido para uma
interveno e transformao social a partir da razo e da cincia, dos agentes da
educao no campo dos Direitos Humanos. Seguindo, sem dvida, um caminho
inverso, mas com as mesmas finalidades: transformar a realidade.
Retomando os objetivos desta disciplina, quais sejam: apresentar conceitos
de metodologia cientfica, propor um plano de ao com nfase na Educao em
Direitos Humanos e possibilitar relatos de experincias, a partir da realidade
situacional de sala de aula, convidou-se aos leitores (discentes) a articularem uma
aproximao metodolgica entre a pesquisa cientfica e a aplicao adaptada do
mtodo dialtico utilizado nas CEBs.
de suma importncia que o pesquisador (ou grupo de pesquisadores) definao que deve ser pesquisado, para qu e por qu? Nesse sentido, a tematizao da
problemtica fundamental antes do desenvolvimento das etapas. Da mesma
maneira, a escolha dos tipos de pesquisa que ser desenvolvida tambm deve
anteceder o momento de anlise, pois o que se apresentou no em si mesmo um
tipo de pesquisa cientfica, mas uma metodologia (um instrumental) de anlise dos
dados que se pretende interveno social.
Ademais, insiste-se em ressaltar que s ser possvel avanar por estecaminho se no horizonte estiver o ideal de uma realidade diferente (melhor/mais
justa) que se quer alcanar. Trata-se do aspecto tico que transcende e que
favorece o empenho dos sujeitos da pesquisa (participantes) em querer transformar
a realidade indesejada em realidade desejada.
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