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757 ISSN 0326-2383 PALAVRAS CHAVE: Material de acondicionamento, Embalagem para medicamentos, Embalagem para cosmé- ticos, Controle microbiológico. KEY WORDS: Microbiological quality control, Packages for medicines, Packages for cosmetics, Packing materials. * Autor a quem correspondência deve ser enviada. E-mail: [email protected] Latin American Journal of Pharmacy (formerly Acta Farmacéutica Bonaerense) Lat. Am. J. Pharm. 27 (5): 757-61 (2008) Short Communication Received: July 7, 2008 Accepted: July 20, 2008 Análise Microbiológica de Embalagens para o Acondicionamento de Medicamentos e Cosméticos Flávia A.M. FIORENTINO 1 , Patrícia C. RICARTE 2 , Marcos A. CORREA 2 , Maria J.S.M. GIANNINI 3 , Vera L.B. ISAAC 1,2 & Hérida R.N. SALGADO 1,2 * 1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara, Departamento de Fármacos e Medicamentos, Laboratório de Controle Biológico de Qualidade de Fármacos e Medicamentos, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara. Rodovia Araraquara – Jaú, km 1, CEP 14801-902 – Campus Universitário, Araraquara-SP, Brasil. 2 Departamento de Fármacos e Medicamentos, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, Araraquara. Rodovia Araraquara – Jaú, km 1, CEP 14801-902 – Campus Universitário, Araraquara-SP, Brasil. 3 Departamento de Análises Clínicas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara. Rua Expedicionários do Brasil, 1621, CEP 14801-360, Araraquara-SP, Brasil. RESUMO. As exigências dos consumidores e agências reguladoras, associadas à necessidade de embala- gens mais eficientes, seguras, com boa qualidade microbiana conduziram à obtenção de embalagens que garantam a integridade do produto e a saúde do usuário. Entretanto, a embalagem pode ser fonte de con- taminação quando não obedece ao critério de qualidade microbiana. O objetivo desta pesquisa foi analisar a qualidade microbiana de material de acondicionamento de medicamentos e cosméticos disponíveis no mercado brasileiro, no que diz respeito ao cumprimento da legislação, quanto ao nível de contaminação de produtos não estéreis no Brasil. Embalagens de vidro e de plástico foram submetidas à análise microbioló- gica para verificar a presença de microrganismos viáveis. As embalagens destinadas ao acondicionamento de medicamentos cumprem com o especificado pela RDC 481 de 23/9/1999 da ANVISA, entretanto, as des- tinadas aos cosméticos não cumprem com tais exigências. O controle de qualidade microbiológico de mate- rial de acondicionamento possui importância fundamental, relacionado diretamente com a saúde pública. SUMMARY. “Microbiological Control of Packaging Materials for Medicines and Cosmetics”. Several consumers and official agencies, associated with the necessity of more efficient, safety and good microbiological quality packaging materials, conducted to the challenge of having packages which assure both the integrity of products and consumer’s health. However, the packaging material can be an important source of microorganisms when does not fulfill the microbiological quality requirements. The objective of this work was to study the microbio- logical quality of different types of packaging materials for medicines and cosmetics. The microbial quality stud- ies were conducted by analyzing representative samples by bioassay. The packing materials were analyzed for microbiological quality to verify presence of viable microorganisms. They showed the analyzed packaging mate- rials for medicines are in agreement with RDC # 481 on 23/9/1999 of ANVISA. However, the packages to store cosmetic material are not fulfilling this RDC. The microbiological quality control of packing materials has fun- damental importance for public health. INTRODUÇÃO Desde o início da troca de mercadorias ou do comércio propriamente dito, a embalagem passou a ser indispensável e, atualmente, este fato permanece, porém com outros objetivos além de simplesmente acondicionar o produto, protegê-lo e facilitar seu transporte. A embala- gem deve proteger o produto do ambiente, mi- nimizar as perdas dos seus constituintes, não in- terferir química e fisicamente com seus compo- nentes 1 , facilitar o transporte, possuir dosadores corretos, ser compatível com o tempo de valida- de do produto acondicionado, ser de fácil aqui- sição, produção e manuseio, bem como ter cus-

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Page 1: Artigo - Avaliação de embalagens.pdf

757ISSN 0326-2383

PALAVRAS CHAVE: Material de acondicionamento, Embalagem para medicamentos, Embalagem para cosmé-ticos, Controle microbiológico.KEY WORDS: Microbiological quality control, Packages for medicines, Packages for cosmetics, Packing materials.

* Autor a quem correspondência deve ser enviada. E-mail: [email protected]

Latin American Journal of Pharmacy(formerly Acta Farmacéutica Bonaerense)Lat. Am. J. Pharm. 27 (5): 757-61 (2008)

Short Communication

Received: July 7, 2008Accepted: July 20, 2008

Análise Microbiológica de Embalagenspara o Acondicionamento de Medicamentos e Cosméticos

Flávia A.M. FIORENTINO 1, Patrícia C. RICARTE 2, Marcos A. CORREA 2,Maria J.S.M. GIANNINI 3, Vera L.B. ISAAC 1,2 & Hérida R.N. SALGADO 1,2 *

1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas,Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara, Departamento de Fármacos e Medicamentos,

Laboratório de Controle Biológico de Qualidade de Fármacos e Medicamentos,Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara.

Rodovia Araraquara – Jaú, km 1, CEP 14801-902 – Campus Universitário, Araraquara-SP, Brasil.2 Departamento de Fármacos e Medicamentos, Faculdade de Ciências Farmacêuticas,

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, Araraquara.Rodovia Araraquara – Jaú, km 1, CEP 14801-902 – Campus Universitário, Araraquara-SP, Brasil.

3 Departamento de Análises Clínicas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas,Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara.

Rua Expedicionários do Brasil, 1621, CEP 14801-360, Araraquara-SP, Brasil.

RESUMO. As exigências dos consumidores e agências reguladoras, associadas à necessidade de embala-gens mais eficientes, seguras, com boa qualidade microbiana conduziram à obtenção de embalagens quegarantam a integridade do produto e a saúde do usuário. Entretanto, a embalagem pode ser fonte de con-taminação quando não obedece ao critério de qualidade microbiana. O objetivo desta pesquisa foi analisara qualidade microbiana de material de acondicionamento de medicamentos e cosméticos disponíveis nomercado brasileiro, no que diz respeito ao cumprimento da legislação, quanto ao nível de contaminação deprodutos não estéreis no Brasil. Embalagens de vidro e de plástico foram submetidas à análise microbioló-gica para verificar a presença de microrganismos viáveis. As embalagens destinadas ao acondicionamentode medicamentos cumprem com o especificado pela RDC 481 de 23/9/1999 da ANVISA, entretanto, as des-tinadas aos cosméticos não cumprem com tais exigências. O controle de qualidade microbiológico de mate-rial de acondicionamento possui importância fundamental, relacionado diretamente com a saúde pública. SUMMARY. “Microbiological Control of Packaging Materials for Medicines and Cosmetics”. Several consumersand official agencies, associated with the necessity of more efficient, safety and good microbiological qualitypackaging materials, conducted to the challenge of having packages which assure both the integrity of productsand consumer’s health. However, the packaging material can be an important source of microorganisms whendoes not fulfill the microbiological quality requirements. The objective of this work was to study the microbio-logical quality of different types of packaging materials for medicines and cosmetics. The microbial quality stud-ies were conducted by analyzing representative samples by bioassay. The packing materials were analyzed formicrobiological quality to verify presence of viable microorganisms. They showed the analyzed packaging mate-rials for medicines are in agreement with RDC # 481 on 23/9/1999 of ANVISA. However, the packages to storecosmetic material are not fulfilling this RDC. The microbiological quality control of packing materials has fun-damental importance for public health.

INTRODUÇÃODesde o início da troca de mercadorias ou

do comércio propriamente dito, a embalagempassou a ser indispensável e, atualmente, estefato permanece, porém com outros objetivosalém de simplesmente acondicionar o produto,protegê-lo e facilitar seu transporte. A embala-

gem deve proteger o produto do ambiente, mi-nimizar as perdas dos seus constituintes, não in-terferir química e fisicamente com seus compo-nentes 1, facilitar o transporte, possuir dosadorescorretos, ser compatível com o tempo de valida-de do produto acondicionado, ser de fácil aqui-sição, produção e manuseio, bem como ter cus-

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to adequado e impedir adulterações e falsifica-ções do produto 2.

A embalagem primária, é aquela que está emcontato direto com o produto durante todo otempo 3. Por embalagem secundária, entende-seo material que protege a embalagem primária epor acessórios, tudo que acompanha a embala-gem primária, como, por exemplo, caixas, cartu-chos e todo este conjunto deve ajudar na segu-rança, manuseio e como promoção de marke-ting do produto 3,4.

A embalagem é fundamental tanto para em-belezar os produtos, quanto para destacá-losnos pontos de venda. Em sua evolução as em-balagens mantiveram suas funções básicas, po-rém adquiriram outros propósitos como atrair aatenção de consumidor, ser um diferencial doproduto e motivar a venda, uma vez que a con-corrência determina que a embalagem deve per-suadir por si mesma e “vender o que protegetanto quanto proteger o que vende” 5. Com asnovas leis de defesa do consumidor cresceramas exigências e as embalagens tiveram que seradaptadas sem perder o poder atrativo 6.

Recentemente, foram lançados na Feira deEmbalagens em Frankfurt, na Alemanha, seloscoloridos que mudam de cor, caso o produto te-nha sido mantido em temperatura inadequada àsua conservação. Esta inovação representa umcuidado com a estabilidade de produtos termos-sensíveis, como os medicamentos e cosméticos.

Neste aspecto, a embalagem pode desempe-nhar um papel decisivo na aquisição de umproduto, principalmente de um cosmético. En-quanto a indústria cosmética utiliza a variaçãodo design das embalagens como apelo de mar-keting e instrumento de venda, a indústria far-macêutica não pode variá-lo completamente, al-terando normalmente as cores e o logotipo doslaboratórios.

Cada vez mais o fabricante de produtos cos-méticos e de medicamentos vem se preocupan-do com a contaminação microbiana, principal-mente com o surgimento da Resolução RDC 33do Ministério da Saúde de Brasil (2000) 7 e de-pois com a RDC 67 (2007) 8, que dispõem sobreas boas práticas de fabricação e controle, nãodevendo esquecer a importância do papel daembalagem na contaminação microbiana 9.

A literatura não refere exatamente o períodoe o povo que descobriu o vidro. É conhecidoque os egípcios, os assírios, os fenícios, os babi-lônios, os gregos e os romanos realizavam tra-balhos com o vidro. Era conhecida, inclusive, afórmula de uma pasta de vidro maleável, com a

qual os egípcios faziam pequenos vidros paraadornos pessoais. Alguns destes objetos foramencontrados no sarcófago de Tutancamon, emperfeito estado de conservação. Os egípcios fo-ram o primeiro povo a utilizar o vidro na fabri-cação de embalagens (vasilhas abertas como jar-ros e tigelas), e também produziam recipientespara cosméticos, bálsamo e frascos para perfu-mes.

Plásticos são materiais produzidos por gran-des cadeias moleculares chamadas polímeros,que são formadas por moléculas menores, cha-madas monômeros. Os plásticos são produzidosatravés de um processo químico chamado poli-merização, o qual proporciona a união químicade monômeros para formar, finalmente, os polí-meros, que podem ser de origem natural ou sin-tética. Os polímeros naturais, como, por exem-plo, algodão, fibra, madeira, cabelos, chifre deboi, látex, gomas, etc, são comuns em animais eem vegetais. Os sintéticos, tais como os plásti-cos, são obtidos por reações químicas. As pro-priedades do material são determinadas pelo ta-manho e pela estrutura da molécula do políme-ro.

Foram encontrados na literatura, poucos tra-balhos descrevendo o controle de qualidade demateriais de acondicionamento. Neste contexto,Santoro 10 descreve o estudo de estabilidade deemulsões contendo protetores solares acondi-cionadas em vidros, plásticos e materiais metáli-cos.

Não há a exigência de esterilidade para aembalagem de produtos não estéreis, entretantodeve cumprir os critérios dos órgãos oficiais. Aremoção de resíduos através do processo de la-vagem apresenta ponderações, quanto à quali-dade da água utilizada e a processos de seca-gem, a fim de que não haja desenvolvimentomicrobiano. Obviamente, frascos plásticos comlimitada resistência térmica merecem atenção es-pecial 11.

O objetivo desta pesquisa foi desenvolvermetodologia de análise para avaliar a contami-nação microbiana em material de acondiciona-mento de medicamentos e cosméticos, a fim deque possa ser implantada junto aos setores res-ponsáveis por este processo.

MATERIAL E MÉTODOSForam utilizadas cinco embalagens de vidro

com capacidade de 20, 30, 60, 100 e 150 mL edoze de plástico com capacidade entre 10 e 150mL, gentilmente doadas pelo laboratório de cos-metologia da Faculdade de Ciências Farmacêuti-

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cas da Universidade Estadual Paulista Júlio deMesquita Filho de Araraquara (Fig. 1).

Foi realizada a desinfecção externa das em-balagens de vidro, destinadas ao acondiciona-mento de medicamentos, com etanol 70%. Emseguida, as embalagens foram lavadas interna-mente com solução fisiológica estéril. Desta so-lução de lavagem, 1 mL foi transferido para pla-cas de Petri estéril. Posteriormente, foi adiciona-do ágar tioglicolato ou ágar Sabouraud, na tem-peratura de 46 °C ± 1°C, de acordo com a técni-ca pour plate. Após a solidificação do ágar, asplacas foram incubadas a 35 °C ± 1 °C por 2dias e a 25 °C ± 1 °C por 7 dias, para verificar ao desenvolvimento de colônias bacterianas efúngicas, respectivamente. O teste foi realizadoem triplicata 4,11,12. A mesma metodologia descri-ta acima foi utilizada para as embalagens deplástico.

RESULTADOSNas embalagens destinadas ao acondiciona-

mento de medicamentos, foi observado após 48h de incubação o crescimento de uma colôniabacteriana em uma placa de Petri, que continhaamostra da embalagem de 100 mL. Este resulta-do confere que as embalagens de vidro analisa-das encontravam-se em boas condições quantoao crescimento bacteriano.

Na análise de fungos e leveduras para as em-balagens de vidro, após sete dias de incubação,houve crescimento de uma colônia fúngica, decoloração preta, em duas placas de Petri, quecontinham amostras das embalagens de 150 mL;uma colônia de cor preta, semelhante à anteriorem uma placa de Petri, a qual continha amostrada embalagem de 100 mL e em uma placa dePetri, que continha amostra da embalagem de30 mL, houve crescimento de cinco colônias,

Figura 1. Embalagens de vidro de 20, 30, 60, 100 e 150 mL (esquerda) e embalagens de plástico com capacida-de entre 10 e 150 mL (direita), analisadas neste estudo.

Figura 2. Fungos isolados das embalagens de vidro eplástico. 1. Cladophialophora sp; 2. Aureobasidiumsp; 3. Aspergillus fumigatus.

uma de coloração alaranjada, outra diferente dasdemais de coloração amarela e as demais ce cornegra. Devido ao crescimento de fungo invasivode cor branco-acizentado, apenas dois dos fun-gos puderam ser identificados e estes corres-pondiam aos microrganismos Aureobasidium spe Cladophialophora sp., que são fungos presen-tes normalmente no ar. Para as embalagensplásticas não foram detectadas bactérias nos ma-teriais analisados, entretanto foi identificada apresença de Aspergillus fumigatus em sete das12 amostras estudadas e este resultado pode servisto na Figura 2.

DISCUSSÃOO processo de envase e rotulagem de fárma-

cos, medicamentos e cosméticos é uma preocu-pação constante para as farmácias e indústriasdestes produtos. A troca de produtos, colocadosequivocadamente em material de acondiciona-mento inapropriado, a perda das característicasdo produto, as contaminações cruzadas, a perda

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da estabilidade têm sido freqüentemente docu-mentados. O acondicionamento de produtos re-quer cuidados importantes e procedimentos emconcordância às boas práticas de fabricação, ouseja, Current Good Manufacturing Practices(CGMP) 13. Portanto, a embalagem é o resultadode compromisso com a qualidade, representadapor alguns fatores. Resumidamente, o primeirofator poderia ser citado como a função física demanuseio e proteção, tanto do produtor e doconsumidor, bem como do meio ambiente,quanto ao aspecto de sustentabilidade. Há, tam-bém, a função competitiva de comunicação eagente promotor de vendas, e a função econô-mica, relacionada ao custo total do produto.

A contagem do número total de microrganis-mos foi realizada pela técnica de Pour Plate porproporcionar crescimento tanto de microrganis-mos aeróbios quanto de anaeróbios. O ágar tio-glicolato é adequado ao cultivo de microrganis-mos aeróbios e anaeróbios, enquanto que oágar Sabouraud é adequado para o cultivo e di-ferenciação de fungos 11.

Os valores encontrados para quantidades decolônias bacterianas e fúngicas/placa em emba-lagens destinadas ao acondicionamento de me-dicamentos estão de acordo com o permitidopela RDC 481 de 23/9/1999 da ANVISA, pois,para produtos farmacêuticos, o número total demicrorganismos presentes deve ser entre 102 a103 UFC/g (mL) ou no máximo 5 x 102 a 5 x 103

UFC/g (mL) de amostra e ausência de Staphylo-coccus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Sal-monella e Eschericiha coli 4,11,14. Portanto, paraas embalagens destinadas a estes produtos, ado-tam-se os mesmos valores, porém não se devetrabalhar com estas que apresentem o limite má-ximo de microrganismos permitido, pois o valorde unidades formadoras de colônia (UFC) dasembalagens e do próprio material ultrapassarãoo limite permitido e colocarão em risco a quali-dade final do produto.

Em relação à contaminação microbiana, osprodutos cosméticos são classificados em tipo Ie tipo II, especificamente classificando-os em re-lação à área de aplicação e a faixa etária, cujoslimites microbianos são variáveis 14,15.

Os cosméticos do tipo I são destinados àárea dos olhos, para bebês e para adolescentescom acnes, nos quais o limite é 102 ou, no má-ximo, 5 x 102 UFC/g (mL) de microrganismostotais aeróbicos. Para os produtos do tipo II,que são destinados às demais áreas do corpo, olimite preconizado é de 103 ou, no máximo, 5 x103 UFC/g (mL) de amostra. É importante salien-

tar que para ambas as classes os produtos de-vem apresentar ausência de Staphylococcus au-reus, Pseudomonas aeruginosa, Salmonella sp. eEscherichia coli 4,11,14 e os talcos devem apresen-tar ausência de clostrídios sulfito-redutores.

A identificação de Aspergillus fumigatus nasembalagens destinadas ao envasamento de cos-méticos, compromete a qualidade microbiológi-ca deste material de envase, uma vez que estefungo é ubiqüitário e causador de importantespatologias humanas, incluindo infecções hospi-talares 16. Esta análise é indispensável para ga-rantir a integridade do produto durante o seuprazo de validade, bem como assegurar a eficá-cia do tratamento e a saúde do usuário.

CONCLUSÃOO controle de qualidade microbiológico é

importantíssimo para avaliar pontos críticos decontaminação e estabelecer normas de controle,a fim de obter produtos de excelente qualidade,estabilidade e confiança. O controle de qualida-de microbiológico de material de acondiciona-mento possui importância fundamental, relacio-nado diretamente com a saúde pública, já queuma embalagem contaminada transfere a conta-minação para o produto armazenado.

Por isso, no desenvolvimento de novas em-balagens, deve-se levar em conta não apenas oapelo de marketing, mas também materiais quesejam possíveis de se efetuar a limpeza adequa-da durante o processo de sua obtenção, a fimde não ocasionar riscos ao consumidor e oquestionamento quanto à confiabilidade do pro-duto e da empresa produtora.

Agradecimentos. Os autores agradecem o apoio fi-nanceiro recebido do CNPq (Brasília), FUNDUNESP(São Paulo), FAPESP (São Paulo) e PADC-FCF (Arara-quara), pelo apoio aos projetos desenvolvidos no La-boratório de Controle Biológico de Qualidade daFCF-UNESP, à Maria de Fátima Rodrigues, Elaine Tos-cano Miranda e Francisco Rocatelli, pelo apoio técni-co.

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