artigo avaliação escolar emancipatoria
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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E CULTURA PIO DÉCIMO
FACULDADE PIO DÉCIMO
Curso de Pós-graduação Lato Sensu
Educação e Gestão – Pregestão III
AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA
DULCE LEONARDA DE SOUZA
ARACAJU
2009
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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E CULTURA PIO DÉCIMO
FACULDADE PIO DÉCIMO
Curso de Pós-graduação Lato Sensu
Educação e Gestão – Pregestão III
AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA
DULCE LEONARDA DE SOUZA
Artigo apresentado a Prof.ª Josevânia
Teixeira Guedes da disciplina
Metodologia da Pesquisa Científica do
curso de Pós-graduação da
Faculdade Pio Décimo.
ARACAJU
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2009
RESUMO
“Avaliação” é um tema pertinente nas atuais discussões pedagógicas. A realidade dos tempos
atuais nos mostra uma sociedade em constante mutação, diversificada e globalizada. Vivemos
a era da informação e as pessoas acompanham ou sofrem as influências de tais movimentos.
O presente artigo aborda a temática da avaliação sob o enforque da avaliação emancipatória,
com vistas a uma mudança significativa na prática educativa. A situação vivida hoje no
sistema escolar em termos de avaliação é muito problemática e tem profundas raízes. Este não
é um problema de apenas uma disciplina, curso, série ou escola, mas sim, é problema de todo
o sistema educacional inserido em um sistema social que impõem certas práticas. A era que
vivemos exige uma ressignificação das práticas educativas, voltando-se à formação e
educação de novos sujeitos. Quando falamos em novos sujeitos, os queremos críticos,
conscientes e autônomos significando que devemos realizar a avaliação segundo uma
proposta libertadora, que está voltada para o futuro que pretende transformar, a partir da
crítica, do auto-conhecimento, da autonomia para tomar decisões conscientes, levando o
educando a descrever sua própria caminhada e a criar suas próprias alternativas de ação.
PALAVRAS-CHAVES: avaliação, emancipatória, ressignificação, sistema escolar,
libertadora
ABSTRACT
"Assessment" is a relevant issue in current discussions in education. The reality of the times
shows a rapidly changing society, diverse and globalized. We live in the information and
people follow or suffer the influences of such movements. This article addresses the issue of
assessment under the hang of critical evaluation, with a view to a significant change in
educational practice. The situation experienced today in the school system in terms of
evaluation is very problematic and has deep roots. This is not a problem of a single discipline,
course, year or school, but rather a problem of the whole educational system embedded in a
social system that imposes certain practices. The era we live requires a redefinition of
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educational practices, turning to training and education of new subjects. When we talk about
new subjects, we want them critical, conscious and autonomous meaning we must conduct the
evaluation according to a proposal of liberation, which is turned towards the future that wants
to turn from the critical self-awareness, autonomy to make informed decisions taking the
student to describe his own journey and create their own alternatives for action.
KEY WORDS: assessment, emancipatory, reframing, school system, liberating
RESUMEN
"Evaluación" es una cuestión importante en los debates actuales en la educación. La realidad
de los tiempos muestra una sociedad rápidamente cambiante, diverso y globalizado. Vivimos
en la información y la gente sigue o sufrir la influencia de estos movimientos. Este artículo
aborda la cuestión de la evaluación en virtud de la caída de la evaluación crítica, con miras a
un cambio significativo en la práctica educativa. La situación que se vive hoy en el sistema
escolar en términos de evaluación es muy problemática y tiene raíces profundas. Esto no es un
problema de una sola disciplina, por supuesto, el año o la escuela, sino más bien un problema
de todo el sistema educativo integrado en un sistema social que impone determinadas
prácticas. La era en que vivimos exige una redefinición de las prácticas educativas,
convirtiendo a la formación y educación de los nuevos temas. Cuando hablamos acerca de los
nuevos temas, queremos que crítica, consciente y autónoma sentido debemos llevar a cabo la
evaluación de acuerdo con una propuesta de liberación, que está orientada hacia el futuro que
quiere convertir a partir de la conciencia crítica, la autonomía para tomar decisiones
informadas teniendo el estudiante para describir su propio camino y crear sus propias
alternativas para la acción.
PALABRAS CLAVE: evaluación, emancipador, un nuevo marco, el sistema escolar, la
liberación
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INTRODUÇÃO
Na era da tecnologia, da globalização e dos avanços científicos em que
vivemos a educação aparece com exigências ainda maiores no que diz respeito à
sua qualidade, o que faz da avaliação um tema muito importante.
Sabemos que o sistema econômico atual não precisa educar a todos os
homens, pois, sendo um sistema excludente, não têm um compromisso ético com as
pessoas e o modelo classificatório de avaliação onde os alunos são considerados
aprovados ou não, oficializa a concepção de exclusão, pois o resultado da avaliação
é considerado como sendo uma sentença, um veredicto oficial da capacidade
daquele aluno que fica registrado e perpetua-se ao longo de sua vida. Assim sendo,
a escola, a didática, o currículo escolar e, sobretudo a avaliação são reflexos da uma
complexa estrutura de relação de poder.
As discussões pedagógicas atuais trazem à tona o pertinente tema da
avaliação. Quando se pensa em discutir avaliação, é preciso ter em mente que esta
etapa do processo de ensino/aprendizagem encontra-se relacionada com a toda a
prática escolar. Portanto, é preciso que tenhamos cada vez mais professores
competentes e comprometidos, conscientes de sua força e identificados com uma
proposta política - pedagógica coerente com a avaliação realizada.
O processo avaliativo vem sempre acompanhado de dúvidas, angústias,
incertezas e até incoerências, e, no entanto, constitui-se no processo crucial para a
vida de quem está sendo avaliado. Nossa sociedade reserva às instituições
escolares o poder de conferir notas e certificados que, supostamente atestam o
conhecimento de cada um de seus educandos, o que torna muito grande a
responsabilidade de quem avalia.
Todo educador é avaliado e deve avaliar continuamente para melhorar o
processo de ensino e aprendizagem, cultivando a responsabilidade ética, pois a
avaliação sempre inclui uma dimensão de discernimento. Podemos nos perguntar:
Por que avaliar? Para buscar a melhoria da qualidade da docência; otimizar o que é
o objeto da avaliação; evitar erros na ação docente; revisar os resultados das ações
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planejadas e procurar sempre inovar na própria prática educativa, construindo uma
práxis pedagógica que tenha como princípios a reflexão sobre e na ação.
O presente artigo tem como objetivos investigar e refletir sobre as propostas de
avaliação emancipatória, analisando se esta prática é possível, assim como
compreender as diferentes concepções de avaliação para construir um referencial
acerca das mesmas que possibilidade de reflexão e possa auxiliar na construção de
um novo modo de avaliar.
Valendo-nos de referencial bibliográfico e das experiências e constatações
resultantes das práticas de ensino, construímos o texto que aqui é apresentado
tendo a seguinte estrutura: primeiramente far-se-á uma análise das concepções e
conceitos de avaliação segundo os mais diversos autores, seguindo-se para uma
reflexão da prática educativa realizadas nos dias atuais em nossas escolas. A partir
daí, o enfoque abordado é o da avaliação libertadora como sendo um possível
caminho para mudar as práticas de avaliação que cristalizaram-se ao longo de
muitos anos e por fim, as considerações finais que tratam sobre a alternativa de
avaliação estudada e busca responder à inquietação inicial que gerou a presente
obra, ou seja, é possível desenvolver uma avaliação emancipatória?
CONCEITUANDO AVALIAÇÃO
Por que discutir a avaliação? Para que abordar novamente esta temática se
tais discussões e estudos em geral não contribuem em nada para a mudança da
prática educativa?
A avaliação está no âmago das contradições do sistema educativo, e este é
um terreno que carece de ousadia para a criação de novos indicadores capazes de
revolucionar esta prática milenar...
Penso ser de suma importância lançar um novo olhar sobre esta temática,
porém, com um enfoque diferente e inquietante que seja capaz de instigar a todos
os que vierem a refletir sobre o mesmo, desafiando cada um para a construção de
um novo modo de desenvolver a avaliação... Surge a questão: O QUE É AVALIAR?
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A prática escolar usualmente denominada de avaliação é constituída muito
mais de provas e exames do que de avaliação. Esta prática de provas/exames tem
origem na escola moderna a partir dos séculos XVI e XVII. Algumas expressões das
experiências pedagógicas deste período e que sistematizaram o modo de agir com
provas e exames encontram-se nas práticas das pedagogias jesuíticas (século XVI),
comeniana (século XVII) e lassalista (fins do século XVII e início do século XVIII).
Assim sendo, a prática que conhecemos é herdeira deste período, onde
aconteceu a cristalização da sociedade burguesa, marcada pela exclusão e
marginalização de grande parte dos elementos da sociedade.
A prática de provas e exames exclui parte dos alunos porque se baseia no
julgamento, enquanto a avaliação pode incluí-los devido ao fato de proceder por
diagnóstico e assim incluir o educando no curso da aprendizagem satisfatória, que
integre todas as suas experiências de vida.
Enquanto as finalidades e funções das provas e exames são compatíveis com a sociedade burguesa, as da avaliação as questionam, por isso, torna-se difícil realizar a avaliação na integralidade de seu conceito, no exercício de atividades educacionais (LUCKESI, 1991, p.171).
Como vimos, cristalizou-se em nossas escolas a prática de provas e exames
como um dos recursos para classificar os educandos, selecionando-os e os tratando
de maneira diferenciada, preocupando-se com os princípios burgueses da
individualidade e da competitividade.
Uma das funções atribuídas ao exame é determinar se um sujeito pode ser promovido de uma série para outra. Sob esta ideia central aparecem outras duas funções: permitir o ingresso de um individuo em um sistema particular (caso do exame de admissão) ou legitimar o saber de um individuo através da certificação ou da outorga de um titulo profissional [...]. (ESTEBAN, 2002, p. 58)
A polêmica em torno do que realmente seja a avaliação no campo
educacional é bastante grande. Embora muito já se tenha discutido, o tema está
longe de uma abordagem consensual.
A avaliação é essencial à educação. Inerente e indissociável enquanto concebida como problematizadora, questionamento, reflexão sobre a ação. Educar fazer ato de sujeito é problematizar o mundo em que vivemos para superar as contradições,
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comprometendo-se com esse mundo para recriá-lo constantemente (GADOTTI, 1984, p.52).
A denominação avaliação da aprendizagem é atribuída a Ralph Tyler, em
meados dos anos 30, que afirmava que o processo de avaliação servia para
determinar em que medida os objetivos educacionais estão realmente sendo
alcançados pelo programa do currículo e do ensino.
Um clássico ao se falar em avaliação é a obra de Bloom, Hastings e Madaus:
Manual de avaliação formativa e somativa do aprendizado escolar, que apresenta
várias dimensões do conceito de avaliação. Dizem eles que a avaliação é um
método de coleta e de processamento dos dados necessários à melhoria da
aprendizagem e do ensino, o que vem ao encontro das ideias de Mattos e
Vasconcellos. Afirmam também que a avaliação auxilia no esclarecimento das metas
e dos objetivos educacionais na medida em que o desenvolvimento do aluno está se
processando da maneira desejada, sendo também um sistema de controle de
qualidade pelo qual se pode determinar a cada passo do processo de ensino-
aprendizagem, se este está ou não sendo eficaz, indicando mudanças a serem
feitas para assegurar sua eficácia.
Todas as definições acima apresentadas encontram-se permeadas pela
concepção de que a avaliação é um processo continuo e sistemático que faz parte
do processo ensino-aprendizagem de forma a orientar o mesmo para que os
educandos possam conhecer seus erros e seus acertos, diagnosticando as
dificuldades para poder planejar novas atividades de forma a que todos alcancem os
objetivos propostos.
Portanto, os autores deixam claro a necessidade de conceber a avaliação
como uma incessante busca de compreensão das dificuldades do educando e na
dinamização de novas oportunidades de conhecimento. Processo este que implica
em uma reconstrução do significado do ato de avaliar, que não acontecerá por
experiências isoladas ou fragmentadas, mas por uma ação conjunta e continuada
que ultrapasse os muros das instituições escolares e esteja pautado na vontade de
mudar... “A construção do ressignificado da avaliação pressupõe dos educadores
um enfoque critico da educação e do seu papel social” (HOFFMANN, 1991, p.112).
Luckesi (1997) define a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso, no
sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para
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compreender isso, importa distinguir a avaliação de julgamento, sendo este um ato
de distinguir o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A
avaliação tem por base acolher uma situação, para então ajuizar sua qualidade
tendo em vista dar-lhe suporte de mudança se necessário.
O movimento que caracteriza as práticas escolares cotidianas explicita a
impossibilidade de se reduzir avaliação a um conjunto de momentos estanques que
costuram fragmentos do processo ensino/aprendizagem, perspectiva que limita
(quando não impede) a possibilidade de os sujeitos construírem conhecimentos num
movimento dialógico. Especialmente quando atuamos na escola pública freqüentada
prioritariamente pelas crianças das classes populares, que trazem conhecimentos,
vivências, lógicas e expectativas muito diferentes daqueles que articulam a prática
pedagógica hegemônica. Incorporar a heterogeneidade de saberes presente na vida
escolar exige que a lógica da avaliação se aproxime a um dinâmico caleidoscópio
em que o resultado se transforma segundo os movimentos que conduzem a (re)
articulação dos fragmentos.
Para Vasconcellos (1998), a avaliação deve ser um processo abrangente da
existência humana, que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de
captar seus avanços, suas resistências, suas dificuldades e possibilitar uma tomada
de decisões sobre as atividades didáticas seguinte. De acordo com ele, a avaliação
deveria acontecer acompanhando a pessoa em seu processo de crescimento e ser
encarada com um instrumento facilitador de tal processo, e não como inibidor do
mesmo, marcando as pessoas de forma negativa pelo resto de suas vidas. Ela
deveria possibilitar nosso crescimento, porque aponta limites da ação e provoca a
descoberta de novos posicionamentos.
Por que a avaliação marca negativamente? Quem gosta de ser avaliado? Por
que temos tanto medo da avaliação?
Basta falar em avaliação que o ambiente já se torna um pouco pesado, tenso.
Poucos gostam de ser avaliados... Talvez porque os atos que permearam nossa
vida em torno da avaliação sempre serviram para punir, desautorizar ou constranger
alguém... Está é a prática que mais está presente em nossas escolas e em nosso
cotidiano. No entanto, segundo MATTOS (1999) a avaliação deveria ser encarada
como um “sintonizador da nossa vontade de melhorarmos sempre mais”. Assim
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sendo, ela deveria possibilitar nosso crescimento porque aponta os limites de nossa
ação e provoca a descoberta de novos posicionamentos.
HOFFMANN (1991) afirma que da pré-escola à universidade, crianças e
jovens são constantemente sentenciados por seus comportamentos e tarefas...
Formal ou informalmente, cada vez que a criança brinca, fala, responde ou faz tarefas, está sendo observada e julgada por seus professores. A isto se denomina avaliação. Esta concepção abrange as ações de observação e julgamento, limitando-se a elas (p.69).
A avaliação sempre foi uma atividade de controle, que visava selecionar...
Neste sentido o prazer de aprender desaparece, pois a aprendizagem se resume em
notas e provas. O processo, ou o ato de realizar uma avaliação vai, além disto,
estando inserido dentro de um ensino integral, onde o professor acompanha o
processo desenvolvido pelo educando, auxiliando-o em seu percurso escolar,
fundamentando-se no diálogo, reajustando continuamente o processo de ensino de
forma a que todos consigam alcançar com sucesso os objetivos definidos, revelando
suas potencialidades.
O sentido fundamental da ação avaliativa é o movimento, a transformação... o que implica num processo de interação educador e educando, num engajamento pessoas a que nenhum educador pode se furtar sob pena de ver completamente descaracterizada a avaliação em seu sentido dinâmico (HOFFMANN, 1991, p.110).
Sob esta perspectiva, avaliar deixa de significar fazer um julgamento sobre a
aprendizagem do aluno, para servir como momento capaz de revelar o que o mesmo
sabe os caminhos que percorreu para alcançar o conhecimento demonstrado, seu
processo de construção de conhecimento, podendo potencializar, revelar suas
possibilidades de avanço e suas necessidades para que a supere. A avaliação
propicia um momento de mudança, avanço, progresso, enfim, aprendizagem. Ela é
processual, contínua, participativa, diagnóstica e investigativa. A avaliação faz parte
do ato educativo, do processo de aprendizagem, avalia-se para diagnosticar
avanços e entraves, para interferir, agir, problematizar e redefinir os rumos e
caminhos a serem percorridos.
[...] o processo avaliativo a que me refiro é um método investigativo que prescinde da correção tradicional, impositiva e coercitiva. Pressupõe isso sim, que o professor esteja cada vez mais alerta e se
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debruce compreensivamente sobre todas as manifestações do educando (HOFFMANN, 1991, p. 79)
Diz-nos a LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96,
que a avaliação deve ser contínua e priorizar a qualidade e o processo de
aprendizagem, sendo que os aspectos qualitativos devem prevalecer sobre os
quantitativos. Porém, para que a avaliação sirva à aprendizagem é essencial que os
professores conheçam cada um de seus alunos e suas necessidades, pois somente
assim, poderá pensar em diferentes alternativas para que todos os alunos alcancem
os objetivos. Nesta perspectiva, a avaliação parte de duas premissas básicas:
confiança na possibilidade dos educandos construírem suas próprias verdades e a
valorização de seus interesses e manifestações.
Conforme MACHADO (2000), para avaliar é preciso ir além da medida,
recorrendo a indicadores mais complexos e a indícios de competência, tendo em
vista que não se avalia por avaliar, mas para fundamentar uma decisão.
PERRRENOUD (1999) também compartilha desta ideia ao afirmar que a avaliação
não é um fim em si, mas uma engrenagem do funcionamento didático. Enfatiza a
prática dos professores ao afirmar: “A avaliação tradicional, não satisfeita em criar
fracassos, empobrece as aprendizagens e induz, nos professores, didáticas
conservadoras e, nos alunos, estratégias utilitaristas” (p. 18).
O principal agente desta mudança e desta reconstrução é o educador, suas
concepções e sua prática educativa... Temos claro que nenhuma prática é neutra e
que esta sempre serve a um ou outro modelo político de desenvolvimento
econômico. O alicerce escolar encontra-se numa teia de relações entre os
educadores, educandos e suas famílias... E em se falar sobre avaliação, esta é uma
relação tensa. Portanto, a reconstrução da prática avaliativa supõe professores com
formação crítica, capazes de ampliar seu horizonte de compreensão e o
reconhecimento da necessidade de uma formação constante, bem como, disposição
para ser sujeito da mudança e construir algo diferente.
O conceito de professor como mediador vem explicitar uma nova função
docente que nem sempre é aceita, pois pode representar ao professor um
enfraquecimento do que ele efetivamente sabe desempenhar – informar, propor
atividades, avaliar, disciplinar ou pode parecer-lhe que se exigem funções para as
quais ele não esteja preparado.
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A PRÁTICA PEDAGÓGICA
O tema avaliação configura-se gradativamente mais problemático na educação na medida em que se amplia à contradição entre o discurso e a prática dos educadores. Embora os professores ainda relacionem estreitamente a ação avaliativa a uma prática de provas finais e atribuição de graus classificatórios, os critica mesmos o significado desta prática nos debates em torno do assunto (HOFFMANN, 1991, p. 28).
O que falar da prática avaliativa que acontece em nossas escolas? Por que o
discurso do professor é inovador enquanto sua prática é conservadora? O que dá
origem a esta contradição? Velhos mitos impregnam a prática avaliativa que desde
sempre esteve a serviço do autoritarismo dos professores.
HOFFMANN (1991) acredita que a contradição entre o discurso e a prática de
alguns educadores e principalmente a ação classificatória e autoritária exercida pela
maioria, encontra explicação na concepção de avaliação do educador, reflexo de
sua história como aluno e professor. Existe a vontade de fazer diferente, porém não
se sabe como fazer... Assim, o primeiro passo seria tomar consciência destas
influências para que não se venha a reproduzir o que se contesta no discurso: o
autoritarismo e a arbitrariedade.
Os educadores constroem seu jeito de ensinar no cotidiano da sala de aula, e
é a partir daí que deve se conduzir uma reflexão sobre sua prática e a construção de
uma identidade profissional. Neste contexto, o educador também pode construir e
produzir uma teoria, a partir do momento que se transforma em investigador, ou
seja, quando se debruça sobre sua prática, fundamentando-a e iluminado-a sob a
luz da teoria.
Ao longo dos tempos, teoria e prática aparecem em lados opostos, como se
fossem dissociados, e o “estado” desta relação é objeto de críticas e controvérsias
onde se acentua exatamente a ausência da mesma. “[...] O teste foi considerado
como um instrumento cientifico, válido e objetivo que poderia determinar uma
infinidade de fatores psicológicos de um individuo. [...]” (ESTEBAN, 2002, p.64).
Assim sendo, percebemos que a contradição existente entre o que o
professor faz e o que acredita tem suas raízes também na formação dos mesmos.
Quem educa o educador?
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Tendo em vista que o ser docente se constrói nas relações com o mundo,
com os outros e com as contingências que o levam a optar pelo magistério, é
preciso que se busque um debate acerca desta contradição, para que, como nos diz
SANTOS (2000), no eclipse da razão com o cosmos tenhamos a verdade mais pura
e o conhecimento mais prudente para a vida mais decente. Nós mesmas enquanto
acadêmicas do curso de Pedagogia pudemos sentir esta discrepância, pois muitos
dos nossos educadores leia-se a grande maioria, defende um tipo de teoria
enquanto age de acordo com outra. Estabelece-se uma relação dicotômica entre a
teoria e a prática, pois os educadores não conseguem possibilitar a coexistência dos
dois termos num mesmo processo.
O processo avaliativo é o alvo mais complexo onde se percebe esta
contradição, pois os educadores sentem dificuldade de instaurar a prática de
conversar com os alunos sobre os resultados, para que juntos possam analisar e
reconstituir o processo de conhecimento na busca de superação das falhas e dos
erros cometidos.
A avaliação é utilizada pela maioria dos professores para motivar os alunos,
impor determinados comportamentos, enfim, é um mecanismo de controle que
desencadeia uma relação de poder.
LUCKESI (1997) afirma que o medo e o fetiche são mecanismos
imprescindíveis numa sociedade que não opera na transparência, mas sim nos
subterfúgios, e a avaliação em nossas escolas está muito mais articulada com a
reprovação do que com a aprovação, e daí vem a sua contribuição para a
seletividade social. A nota é que determina tudo e é em função dela que se vive à
prática escolar. “[...] constatamos que a prática da avaliação é atravessada por
questões disciplinares, de controle dos alunos, de castigo de condutas sociais que
os alunos apresentam dentro e fora da escola” (LUCKESI, 1997, p.73).
É desconfortável para qualquer educador o rótulo de que a avaliação serve
como instrumento de coação, de controle, ainda mais quando se tem em mente uma
conotação negativa desta ação de controlar. “[...] no sistema educacional, a
avaliação é hoje o instrumento de controle oficial, o ‘selo’ do sistema, o respaldo
legal para a reprovação/aprovação, para o certificado, para o diploma, para a
matrícula, etc. [...]” (VASCONCELLOS, 1998, p.30) .
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Sabemos que aos educadores é confiada a tarefa de fazer com que os alunos
aprendam que sejam estimulados em suas mais diversas manifestações, que
saibam sonhar e cultivar valores que lhes possam dar suporte em toda sua vida, que
saibam argumentar e não sejam meros executores de projetos sonhados por outras
pessoas, mas sim, que se tornem sujeitos de sua própria história, a começar pelo
seu processo de aprendizagem.
Já nos diz LUCKESI (1997), que é preciso comprometer-se com uma
concepção pedagógica que esteja preocupada com a perspectiva de que o
educando aproprie-se criticamente de conhecimentos e habilidades necessários à
sua realização como sujeito critico dentro da atual sociedade neoliberalista,
permeada pelos princípios da competição e do individualismo, características do
modo capitalista de produção.
Se é importante aprender aquilo que se ensina na escola, a função “da avaliação será possibilitar ao educador condições de compreensão do estágio em que o aluno se encontra, tendo em vista poder trabalhar com ele para que saia do estágio defasado em que se encontra e possa avançar em termos dos conhecimentos necessários (LUCKESI, 1997, p.80).
Assim sendo, o educador que estiver disposto a dar um novo
encaminhamento para a prática da avaliação escolar deverá estar preocupado em
redefinir ou definir os rumos de sua ação pedagógica, atentando para os princípios
que norteiam esta nova prática, sendo o diálogo uma das premissas básicas, na
busca de investigar, problematizar, emancipar e ampliar perspectivas.
LUCKESI (1997) afirma que para esta mudança acontecer é preciso que o
educador assuma um posicionamento pedagógico claro e explícito, tendo em vista
que enquanto avaliamos exercemos um ato político, mesmo quando não o
pretendemos. Também é preciso buscar novos rumos da prática educacional, pois
“teoria e prática formam uma unidade na ação para a transformação”, bem como é
necessário resgatar a avaliação em sua essência constitutiva, concebendo-o como
um “instrumento dialético do avanço”, sendo o identificador de novos rumos.
[...] se a ação avaliativa deve partir do fazer da criança e do jovem, essa ação intenciona, principalmente, a compreensão cada vez maior dos fenômenos e dos objetos. O que caberia, pois, observar é se o educador é consciente da provocação necessária ao processo de compreender. (HOFFMANN, 1991, p. 71).
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Reconstruir a cultura escolar sobre o processo de avaliação a fim de inverter
seu sentido, de modo que de produtor de fracasso se torne articulador do sucesso
escolar das crianças tem sido um desafio para todos os professores, pois os
mesmos não possuem conhecimento necessário para avaliar de fato e trabalhar os
resultados dessa avaliação buscando a construção do conhecimento por parte do
aluno e de si mesmo.
“[...] o professor deve assumir a responsabilidade de refletir sobre toda a produção de conhecimento do aluno, promovendo o movimento, favorecendo a iniciativa e a curiosidade no perguntar e no responder e construindo novos saberes junto com os alunos” (IDEM, p. 75).
Embora haja certo consenso em torno da necessidade e da viabilidade de
realizar uma avaliação compatível com a concepção de aprendizagem como um
processo permanente, marcado por continuidades, rupturas e retrocessos, os
processos e resultados escolares continuam profundamente marcados pela ótica da
homogeneidade, fazendo coincidir avaliar e julgar. A avaliação realizada na sala de
aula articula sujeitos e contextos diversos, confrontando os múltiplos conhecimentos
que perpassam o saber, o fazer e o pensar de alunos, alunas, professores e
professoras.
Nessa perspectiva emancipatória de avaliação o professor não poderá ficar
somente no lápis e papel como instrumento avaliativo do seu aluno, e sim partir para
observações sistemáticas, debates, trabalho em equipe, diálogo, sendo este a
melhor fonte para o verdadeiro conhecimento do aluno.
Os instrumentos de avaliação não podem ser usados como tortura, mas como
um processo de inter-relação entre professor e aluno, que está a serviço de uma
pedagogia preocupada com a transformação social. A partir do momento que o
professor se propõe avaliar, deverá ter em mente o objetivo desta avaliação, o que
ajuda a decidir que tipo de informação se deve recorrer e como analisá-la. Partindo
de uma linha emancipatória a avaliação tem por objetivo garantir a qualidade da
aprendizagem do aluno, sendo que ela deverá fazer parte do processo de
construção e aquisição do conhecimento do mesmo.
Ainda que a sala de aula seja constituída pelo movimento, pela surpresa, pela
turbulência, pela desordem, pela diferença, as práticas escolares e os processos
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ensino/aprendizagem estão estruturados para conduzir à homogeneidade, à
convergência, à linearidade, considerados essenciais para uma boa relação
pedagógica. A uniformidade simplifica a realidade produzindo recortes que
apresentam a sala de aula através de alguns de seus fragmentos; ignorando muitos
outros que a configuram produz uma colagem que, em sua parcialidade, pretende
representar o real. Tentando evitar o caos e supervalorizando a ordem propõe a
relação ensino/aprendizagem, e a avaliação como um de seus processos, pelo o
que ela não pode ser inviabilizando muitas de suas possibilidades.
Construir uma avaliação capaz de dialogar com complexidade, com
multiplicidade de conhecimento, com as particularidades dos indivíduos vendo como
diferentes numa visão de diversidade de lógicas e conceitos devem proporcionar a
investigação e a interrogação constante, revelando num instrumento importante para
os educadores comprometidos numa escola democrática, desafiando-se para novas
estratégias diante dos desafios e dificuldades encontradas.
Segundo observações realizadas no decorrer das práticas de ensino
ocorridas ao longo do curso, em geral, os professores acreditam que a avaliação
deve ser um recurso para o seu planejamento, sendo também julgamento de idéias,
ou seja, você julga, e a partir daí constrói uma metodologia que beneficie os
envolvidos no processo (professor x aluno), alguns promovem avaliação mutua. O
ato de avaliar não indica a aprovação ou a reprovação, porém, é um meio que
aponta as dificuldades dos alunos e norteia o trabalho.
Em suas falas, os professores destacaram a importância de avaliar o aluno
como um todo: avaliar aquilo que aprendeu com suas dificuldades, potencialidades e
também habilidades e competências, através da observação e anotações de
atividades, atitudes, envolvimento, evoluções, aspectos cognitivos, participação,
vivência de valores, crescimento intelectual e também com trabalhos valorizados
individuais e em grupo, envolvendo os conteúdos estudados e notas com parecer
descritivo. Também ocorre através de provas, trabalhos de pesquisa,
aproveitamento ou não na sala de aula. Procurando avaliar o cognitivo, não só
“decoreba”, mas o que realmente aprendeu e o que leva para sua vida cotidiana.
Almejam uma avaliação participativa, libertadora, humanizante, diagnóstica e
transformadora e qualitativa, não podendo ser classificatória e sim dinâmica,
contínua, integrada, progressiva, voltada para os sujeitos, abrangente e cooperativa.
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Neste sentido PERRENOUD (1999) comenta que os alunos são considerados
como tendo alcançado êxito ou fracasso na escola porque são avaliados em função
dos avaliadores, os quais firma-se através dos conteúdos, programas e outros que
acabam por conduzir todo o processo educativo, sem conduzir à diversidade e às
competências desejadas, somente classificam. Para LUCKESI (1997) a avaliação da
aprendizagem escolar é um recurso pedagógico útil e necessário para auxiliar os
educadores e educandos, sendo um objetivo diagnosticar e incluir o educando no
curso de uma aprendizagem satisfatória.
Os critérios avaliativos citados pelas professoras destacam: a auto-avaliação
do aluno e do professor; o conhecimento construído e seu uso no cotidiano;
conceitos elaborados, pensamento crítico; expressão oral e escrita; interesse,
capacidade de pesquisa. Também a presença marcante, valores, atitudes (as
inteligências múltiplas – aquilo que o aluno tem maior facilidade), o progresso obtido
desde o começo do ano.
Evidenciam as competências no processo de avaliação quando avaliam o
aluno num todo, sendo ele um ser pensante, responsável, capaz. Quando se faz
uma avaliação apenas para medir, calcular, classificar a quantidade de acertos não
adianta nada. O aluno obtém uma nota e pronto. Quando a avaliação é uma
pesquisa, quando se observa, se analisa as habilidades que o aluno tem na
resolução dos problemas, tornam-se evidentes suas competências. PERRENOUD
(1999) traz como princípio da avaliação formativa a construção da competência,
sendo assim necessário otimizar este processo para ampliar os saberes e as
habilidades da maioria, o que deve contar é o saber e não a classificação. Precisa
assim avaliar seriamente as competências.
As competências não podem ser avaliadas por lápis e papel segundo
PERRENOUD (1999), o aluno precisa exercitar suas habilidades, que o levarão a
aquisição de grandes competências. Nesse caso a avaliação não diz respeito ao
adquirido, mas aos processos. É impossível avaliar as competências de forma
generalizada, elas são realizadas em tempos diferentes, onde cada um mostra o que
sabe fazer agindo, raciocinando em voz alta, tomando iniciativas e riscos,
precisando o professor estabelecer balanços individuais e formativos de suas
competências.
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Defendendo a avaliação como diagnóstica LUCKESI (2000) trabalha sem o
conceito de aprovação e reprovação, o ideal não seria existir notas. PERRENOUD
(1999) discute a idéia da escola trabalhar com o conceito de fracassado sendo
aquele que não adquiriu no prazo mínimo os conhecimentos e competências
estabelecidas pela instituição escolar. A escola classifica os alunos e não trabalha
com o erro, tentando empreendê-lo e modificá-los, adquirindo forças para declarar
quem fracassa e quem tem êxito. Precisa trabalhar com a diversidade, no individual
para o coletivo.
A prova como a nota é utilizada como um instrumento de ameaça e castigo,
como é revelada nas falas dos professores:
“Quem conversar vai descontar ponto e deixar de castigo, sem recreio. Quem escreveu errado tirei nota.” (professora A) “Ah! Conversaram na hora da explicação, na próxima aula terá prova” (professora B)
Percebe-se, portanto uma contradição entre teoria e a prática revelada na fala
dos alunos e professores, sendo que o prazer de aprender do educando foi
substituído pelo medo das provas e exames.
Conforme LUCKESI (1997), os professores se utilizam dos procedimentos de
avaliação como elementos motivadores dos estudantes e por meio da ameaça os
mesmos estão sempre na expectativa de virem ou não a serem aprovados.
Analisando a escola tradicional, de concepção positivista neoliberal, avalia-se
a cada bimestre, sendo diagnóstica apenas no início do ano. Em cada bimestre há
provas, trabalhos, comunicação aos pais e no final do ano é tempo de classificar:
aprovado ou reprovado como decorrência normal deste processo.
Surge a necessidade de o professor acompanhar todo o processo de
aprendizagem desenvolvido pelo educando, ajudando-o em seu percurso escolar,
tendo como fundamento o diálogo e reajustando continuamente o processo de
ensino, aonde todos chegam e alcançam com sucesso os objetivos definidos.
Tudo isso pressupõe o envolvimento educador x educando, sendo que o
educador deve estar cada vez mais alerta, debruçando-se compreensivamente
sobre todas as manifestações do educando, interagindo com o mesmo e construindo
um processo de ensino/aprendizagem coletivo. Faz-se necessário que o educador
assuma um posicionamento pedagógico claro e construa no seu dia a dia um elo
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entre a teoria e a prática que formam a unidade na ação para a transformação, bem
como, ter na avaliação um instrumento dialético de avanço para a identificação de
novos rumos norteadores da prática educativa.
AVALIAR SOB A PERSPECTIVA DE EMANCIPAR
Até o presente momento, temos claro que a avaliação deve proporcionar um
momento de mudança, avanço, progresso, enfim, aprendizagem, pois ela é
processual, contínua, participativa, diagnóstica e investigativa. Temos clareza de
que a avaliação faz parte do ato educativo, do processo de aprendizagem, e que
avalia-se para diagnosticar avanços e entraves, para agir, problematizar, interferir e
redefinir os rumos e caminhos a serem percorridos.
Percebemos também a contradição entre a teoria e a prática de alguns
professores que, por um ou outro motivo é um dos ranços que a pedagogia deve
buscar superar, em função de colocar a avaliação escolar a serviço de uma prática
pedagógica que entenda e esteja preocupada com a educação como mecanismo de
transformação social, na busca da superação do autoritarismo enraizado em nossas
salas de aula, e ao estabelecimento da autonomia do educando.
Desta forma, concordo com a afirmação de HOFFMANN (1991, p 114) que
diz que “a reconstrução da avaliação não acontecerá por experiências isoladas, mas
por uma ação continuada e que ultrapasse os muros das instituições”.
Parece que este é o desafio maior: construir os meios para se efetivar na
prática uma avaliação sob a perspectiva emancipatória.
O objetivo do desafio que se enfrenta, quanto a uma perspectiva mediadora da avaliação é principalmente, a tomada de consciência coletiva dos educadores sobre sua prática, desvelando-lhes princípios coercitivos e direcionando a ação avaliativa no caminho das relações dinâmicas e dialógicas na educação (HOFFMANN, 1991, p. 81).
Assim sendo, a redefinição da prática avaliativa escolar só se torna possível
mediante um compromisso com a democratização do ato pedagógico, sendo este
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um ato mais participativo, desenvolvido contínua e participativamente, assinalando
estratégias que possam ajudar tanto alunos quanto professores a compreender e
intervir no processo coletivo de construção de conhecimentos.
A avaliação como prática de investigação pode ser uma alternativa às propostas excludentes por buscar uma ação coerente com a concepção de conhecimento como processo dinâmico, dialógico, fronteiriço, constituído nos marcos das múltiplas tensões sociais (ESTEBAN, 2001, p. 185)
Portanto, faz-se necessário compreender e realizar a avaliação comprometida
com o ato pedagógico, como um instrumento de compreensão do estágio em que se
encontra o aluno, diagnosticando sua situação e redefinindo estratégias para sua
aprendizagem. De acordo com LUCKESI (1990), considera-se que a avaliação
esteja comprometida com uma proposta pedagógica histórica-crítica, preocupando-
se com a apropriação crítica dos conhecimentos e habilidades necessárias para que
o educando torne-se sujeito critico dentro da atual sociedade.
Se a avaliação não assumir a forma diagnóstica, ela não poderá estar a serviço da proposta política – “estar interessado que o educando aprenda e se desenvolva” –, pois se a avaliação continua sendo utilizada de forma classificatória, como tem sido até hoje, não viabiliza uma tomada de decisão em função da construção de resultados esperados (LUCKESI, 1990, p. 32).
Assim sendo, esta mudança na prática avaliativa implica uma mudança
paradigmática no pensamento no que se refere ao aprendizado e ao ensino. Esta
mudança exige que os educadores aprendam como compartilhar a tomada de
decisões no que diz respeito ao processo educativo com colegas, pais e estudantes,
bem como repensar para que sirvam o ensino e a avaliação. Neste sentido volta-se
à velha questão: a serviço de que e de quem está o processo de ensino-
aprendizagem? Que tipo de sujeitos se quer construir com as atuais práticas
avaliativas?
Há também a necessidade de harmonizar as expectativas da avaliação entre
família e escola e entre os diferentes níveis de ensino, bem como sobre a questão
do tempo e dos recursos que ajudam ou impedem a implementação de novas
práticas de avaliação nas rotinas das escolas.
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Avaliar sob a perspectiva de emancipar implica uma avaliação autêntica,
direta e profunda. Exige dos educadores um olhar cuidadoso, pois em um processo
de educação transformadora não se pode pensar que a avaliação deva ser efetuada
apenas por um dos agentes do processo. É necessário que educando e educador
participem de todas as fases do processo educativo, assim como da avaliação e da
determinação do valor representativo que o sistema escolar impõe, ou seja, da nota
ou conceito. “Avaliar significa emitir um julgamento de valor ou mérito. [...] dessa
maneira, associa-se uma concepção de conhecimento, mas também a emissão de
juízo de valores.” (ANTUNES, 2002, p.10).
Sob esta perspectiva, a avaliação encontra seu sentido no processo de
interação entre os envolvidos no processo, sendo um instrumento auxiliar de um
processo de conquista do conhecimento. É preciso parar de olhar somente para as
tarefas realizadas, mas perceber que o processo de construção de conhecimento de
forma dialógica, e o processo avaliativo como auxiliar do mesmo. “Avaliar a
aprendizagem significa valer-se de uma grande diversidade de atividades que
possam colocar o conteúdo que se quer ver apreendido em diferentes contextos
particulares.” (IDEM, p.32).
A avaliação libertadora está apoiada na colaboração, no comprometimento
com a mudança de paradigmas e com a formação de novas pessoas, e na vontade
de transformar a realidade. Portanto, é preciso um trabalho planejado e executado
com a participação de todos e que tenha resultados concretos.
SAUL (2002), afirma que a avaliação emancipatória caracteriza-se como um
processo de descrição e análise critica de certa realidade com vistas à
transformação da mesma, e por isso está voltada para programas de avaliação
educacionais ou sociais.
Ela está situada numa vertente político-pedagógica cujo interesse primordial é emancipador, ou seja, libertador, visando provocar a crítica, de modo a libertar o sujeito de condicionamentos deterministas. O compromisso principal desta avaliação é o de fazer com que as pessoas direta ou indiretamente envolvidas em uma ação educacional escrevam a sua ‘própria história’ e gerem suas próprias alternativas de ação. A avaliação emancipatória tem dois objetivos básicos: iluminar o caminho da transformação e beneficiar as audiências no sentido de torná–las autodeterminadas. O primeiro objetivo indica que essa avaliação está comprometida com o futuro, com o que se pretende transformar a partir do autoconhecimento
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crítico do concreto, do real, que possibilita a clarificação de alternativas para a revisão deste real. O segundo objetivo ‘aposta’ no valor emancipador desta abordagem, para os agentes que integram um programa educacional. Acredita que esse processo pode permitir que o homem, através da consciência crítica, imprima uma direção a suas ações nos contextos em que se situa, de acordo com valores que elege e com os quais se compromete no decurso de sua historicidade (IDEM, p.128).
Os conceitos básicos envolvidos nesta proposta são: libertação, decisão
democrática, transformação e crítica educativa.
A emancipação busca uma conscientização crítica da realidade, prevendo
alternativas para a solução dos problemas levantados. Vindo ao encontro do que
PAULO FREIRE (1996) chama de “problematização dialógica”, que busca
desenvolver uma postura crítica da qual resulta a percepção de que não podemos
continuar anestesiando nosso espírito crítico e servindo à domesticação dos
homens. A problematização da realidade e a análise crítica das atitudes de cada um
permitem aos educandos se inserir criticamente em seu contexto social.
A decisão democrática implica um envolvimento de todos na tomada das
decisões, tanto no que diz respeito à avaliação quanto nas demais decisões sobre o
que ensinar como ensinar, porque e para que ensinar. Como já falamos
anteriormente, é preciso envolver a todos os que fazem parte da comunidade
escolar para discutir a proposta político pedagógica da escola, e todos os seus
delineamentos afins.
A transformação sugere exatamente a mudança de atitudes e conseqüente
engajamento com lutas sociais e políticas, pois através da prática emancipatória,
constrói-se um saber que reflete o mundo e os homens... Constroem-se homens e
mulheres que se assume como sujeitos históricos, conscientes de um mundo que
está sendo que se encontra em constante transformação a partir da ação de cada
um. Pois, enquanto seres da práxis, os seres humanos transformam o mundo de
acordo com suas necessidades e finalidades impregnando-o com sua presença
criadora, e “ao transformarem o mundo, transformam-se também”.
A crítica educativa incide sobre toda a proposta educativa, considerando não
apenas os processos, mas também os resultados obtidos ao longo do percurso,
tendo a finalidade de reorientar novos processos.
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Três momentos caracterizam esta proposta, sendo eles, a descrição da
realidade, a crítica da realidade e a criação coletiva – momentos não estanques, que
por vezes interpretam, constituindo-se em etapas de um mesmo e articulado
movimento.
Os procedimentos da avaliação previstos por esta modalidade, que se localiza
dentre aqueles de abordagem qualitativa, caracterizam-se por métodos dialógicos e
participantes; predomina o uso de entrevistas livres, debates, análise de
depoimentos, observação participante e análise documental. Não são desprezados
os dados quantitativos, mas a ótica de análise é eminentemente qualitativa.
Nesse paradigma o avaliador assume o papel de coordenador dos trabalhos avaliativos e de um orientador dessas ações. Sua função básica consiste em promover situações e/ou propor uma tarefa que favoreça o diálogo, a discussão, a busca e a análise critica sobre o funcionamento real de um programa. Sua ação seguinte é a de estimular a iniciativa do grupo na reformulação e recondução do programa (SAUL, 2001, p.63).
Assim, acreditamos que o educador pode continuar valendo-se de diferentes
instrumentos avaliativos, deste que sob a perspectiva de discutir com os educandos
os resultados obtidos e utilizar a avaliação para melhorar as atividades de ensino e
de aprendizagem. A avaliação sob a perspectiva de emancipação utiliza-se de
instrumentos avaliativos localizados dentre aqueles de abordagem qualitativa, ou
seja, que se caracterizam por métodos dialógicos e participantes, predominando o
uso de entrevistas livres, debates, análises de depoimentos, observação participante
e análise documental. Outro ponto fundamental é o de que o educador tenha
experiência nas áreas de pesquisa e avaliação, sobretudo em avaliação qualitativas
e participantes.
Questão fundamental é saber qual o perfil de pessoa que se quer formar, de
acordo com a proposta da escola. Uma mudança fundamental passa pelo sujeito,
mas passa também pelas relações dentro da escola. Se sonharmos com uma
sociedade em que todos tenham voz e vez, então é preciso modificar tudo.
PERRENOUD (1999) afirma que mudar a avaliação é mudar a escola.
VASCONCELLOS (1998) diz que mudar a avaliação é mudar a sociedade... No final
o que está se discutindo é um projeto de sociedade. Nós acreditamos em uma
sociedade que tenha lugar para todos? É possível construí-la?
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É preciso que tanto educador quanto ao educando saibam compreender o
seu espaço de autonomia e começar a construir esta nova sociedade com novos e
pequenos passos, construídos coletiva e concretamente. O educador precisa desta
perspectiva de processo para resgatar sua alegria no ensinar e sua potência
enquanto professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou apresentar a avaliação como sendo um processo
investigativo, democrático e libertador, ressaltando a importância da coerência entre
a proposta pedagógica e a avaliação adotada, fundamentando-se numa
epistemologia do conhecimento.
“Avaliação” é um tema pertinente nas atuais discussões pedagógicas. A
realidade dos tempos atuais nos mostra uma sociedade em constante mutação,
diversificada e globalizada. Vivemos a era da informação e as pessoas
acompanham ou sofrem as influências de tais movimentos.
O presente trabalho aborda a temática da avaliação sob o enforque da
avaliação emancipatória, com vistas a uma mudança significativa na prática
educativa. A situação vivida hoje no sistema escolar em termos de avaliação é muito
problemática e tem profundas raízes. Este não é um problema de apenas uma
disciplina, curso, série ou escola, mas sim, é problema de todo o sistema
educacional inserido em um sistema social que impõem certas práticas.
A era que vivemos exige uma ressignificação das práticas educativas,
voltando-se à formação e educação de novos sujeitos. Quando falamos em novos
sujeitos, os queremos críticos, conscientes e autônomos significando que devemos
realizar a avaliação segundo uma proposta libertadora, que está voltada para o
futuro que pretende transformar, a partir da crítica, do auto-conhecimento, da
autonomia para tomar decisões conscientes, levando o educando a descrever sua
própria caminhada e a criar suas próprias alternativas de ação.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANTUNES. C. Avaliação da Aprendizgem Escolar. 3 ed. Petrópolis – RJ Vozes,
2003 (Fascículo 11)
ESTEBAN, M. T. et alu. O que sabe quem erra? Reflexões sobre a avaliação e o
fracasso escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia: diálogo e conflito. São Paulo: Ática, 1993.
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as retas do caminho. Porto
Alegre: Mediação: 2001.
LIMA, Adriana de Oliveira. Avaliação Escolar – Julgamento x Construção. 9.ª edição,
Petrópolis, Vozes, 2004.
LUCKESI, Cipriano. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e
proposições. São Paulo: Cortez, 1997.
PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 1999.
SAUL, Ana Maria, Avaliação Emancipatória. São Paulo: Cortez, 1991, pp. 7-71.
SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que Avaliar? Como Avaliar? – Critérios e
instrumentos. 10ª edição, Vozes, Petrópolis, 2004.
VASCONCELLOS, C. S. Avaliação – Concepção Dialética – Libertadora do
Processo de Avaliação Escolar, 9 ed – São Paulo. Libertad: 1998. – (Cadernos
Pedagógicos do Libertad; v. 3).
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