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Artigo 1. Introdução: quem tem medo de tecnologia apropriada?; 2. Muitos nomes, uma só idéia básica; 3. Âmbito e.relevância da tecnologia apropriada; 4. Tecnologia apropriada: um novo paradigma; 5. As instâncias do movimento alternativo; 6. Considerações finais. Tecnologia apropriada: . . . . amiga ou inimiga oculta? Ramon M. Garcia Professor no Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos. EA ESP / FG V. 1. INTRODUÇÃO: QUEM TEM MEDO DE TECNOLOGIA APROPRIADA? Em 26 e 27 de setembro de 1985, foi realizado, em São Paulo, um seminário sobre tecnologias apropriadas. Es- te seminário, que contou com O patrocínio da Associa- ção Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide), da Associação Brasileira de Bancos de Desenvolvimento (ABDE), do Banco de De- senvolvimento do Estado de São Paulo (Badesp), tinha como objetivo declarado a proposição de uma nova po- lítica para os bancos de desenvolvimento da América Latina. Pelo menos, era este o subtítulo que aparecia em todos os veículos de divulgação do referido seminá- rio. A sessão solene e inaugural foi presidida pelo gover- nador do estado de São Paulo, que procurou indicar os pontos de importância para o estabelecimento dessa no- va política. Definiu tecnologia como sendo um proces- so-resultado das expressões culturais de um povo, assi- nalando, a este respeito, as afinidades existentes entre nós e os demais povos da América Latina e da África. As conferências que deram início aos trabalhos do referido seminário estiveram a cargo de Sérgio Caval- canti Buarque (na época, superintendente da Agência Regional Nordeste do Conselho Nacional de Pesquisa) e Cristovam Buarque (reitor da Universidade de Brasí- lia), que procuraram demarcar um campo de idéias e re- flexões em torno do seguinte tema: Tecnologia apro- priada: uma política para os bancos de desenvolvimento da América Latina. As intervenções dos mencionados conferencistas fo- ram, desde logo, oportunas, claras e precisas. Além de reflexões originais, suscitadas pela lógica do momento, procuraram abordar algumas questões já contidas em estudo anterior de mesmo título. I Desse modo, seja durante a exposição, ou por cons- tantes referências ao texto original, os conferencistas, dentre outras coisas, foram muito felizes em ressaltar os seguintes pontos." 1. Que a definição do que vem a ser tecnologia apropria- da depende de condições específicas, culturais, políti- cas, sociais e econômicas de cada país, respeitando-se, evidentemente, seus distintos momentos históricos. Em conseqüência, o delineamento (design) efetivo dos sis- temas, processos e técnicas de produção deve ser uma tarefa específica de cada país interessado. 2. Um banco de desenvolvimento não pode ser visto, de maneira alguma, como uma instituição produtora de tecnologia. Todavia, ele intervém, de maneira podero- sa, no processo de geração, seleção, divulgação e trans- ferência de tecnologia. 3. Há necessidade de se promoverem alterações admi- nistrativas, operacionais e metodológicas que permitam a cada banco criar as condições particulares mais favo- ráveis (respeitando-se os distintos países e os diferentes momentos históricos) à escolha das alternativas relati- vas à tecnologia apropriada. Em resumo, o que essas definições estão dizendo é que "( ... ) o conceito de tecnologia apropriada (em suas Rev. Adm. Empr. Rio de Janeiro, 27(3) 26-38 jul./set. 1987

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Page 1: Artigo 1.INTRODUÇÃO: QUEM TEM MEDO DE TECNOLOGIA … · 2013-06-21 · lítica para os bancos de desenvolvimento da América Latina. Pelo menos, era este o subtítulo que aparecia

Artigo

1. Introdução: quem tem medo de tecnologiaapropriada?;

2. Muitos nomes, uma só idéia básica;3. Âmbito e.relevância da tecnologia apropriada;4. Tecnologia apropriada: um novo paradigma;

5. As instâncias do movimento alternativo;6. Considerações finais.

Tecnologia apropriada:. . . .amiga ou inimigaoculta?

Ramon M. GarciaProfessor no Departamento de Administração Geral e

Recursos Humanos. EA ESP / FG V.

1. INTRODUÇÃO: QUEM TEM MEDO DETECNOLOGIA APROPRIADA?

Em 26 e 27 de setembro de 1985, foi realizado, em SãoPaulo, um seminário sobre tecnologias apropriadas. Es-te seminário, que contou com O patrocínio da Associa-ção Latino-Americana de Instituições Financeiras deDesenvolvimento (Alide), da Associação Brasileira deBancos de Desenvolvimento (ABDE), do Banco de De-senvolvimento do Estado de São Paulo (Badesp), tinhacomo objetivo declarado a proposição de uma nova po-lítica para os bancos de desenvolvimento da AméricaLatina. Pelo menos, era este o subtítulo que apareciaem todos os veículos de divulgação do referido seminá-rio.

A sessão solene e inaugural foi presidida pelo gover-nador do estado de São Paulo, que procurou indicar ospontos de importância para o estabelecimento dessa no-va política. Definiu tecnologia como sendo um proces-so-resultado das expressões culturais de um povo, assi-nalando, a este respeito, as afinidades existentes entrenós e os demais povos da América Latina e da África.

As conferências que deram início aos trabalhos doreferido seminário estiveram a cargo de Sérgio Caval-canti Buarque (na época, superintendente da AgênciaRegional Nordeste do Conselho Nacional de Pesquisa)e Cristovam Buarque (reitor da Universidade de Brasí-lia), que procuraram demarcar um campo de idéias e re-flexões em torno do seguinte tema: Tecnologia apro-priada: uma política para os bancos de desenvolvimentoda América Latina.

As intervenções dos mencionados conferencistas fo-ram, desde logo, oportunas, claras e precisas. Além dereflexões originais, suscitadas pela lógica do momento,procuraram abordar algumas questões já contidas emestudo anterior de mesmo título. I

Desse modo, seja durante a exposição, ou por cons-tantes referências ao texto original, os conferencistas,dentre outras coisas, foram muito felizes em ressaltaros seguintes pontos."

1. Que a definição do que vem a ser tecnologia apropria-da depende de condições específicas, culturais, políti-cas, sociais e econômicas de cada país, respeitando-se,evidentemente, seus distintos momentos históricos. Emconseqüência, o delineamento (design) efetivo dos sis-temas, processos e técnicas de produção deve ser umatarefa específica de cada país interessado.

2. Um banco de desenvolvimento não pode ser visto, demaneira alguma, como uma instituição produtora detecnologia. Todavia, ele intervém, de maneira podero-sa, no processo de geração, seleção, divulgação e trans-ferência de tecnologia.

3. Há necessidade de se promoverem alterações admi-nistrativas, operacionais e metodológicas que permitama cada banco criar as condições particulares mais favo-ráveis (respeitando-se os distintos países e os diferentesmomentos históricos) à escolha das alternativas relati-vas à tecnologia apropriada.

Em resumo, o que essas definições estão dizendo éque "( ... ) o conceito de tecnologia apropriada (em suas

Rev. Adm. Empr. Rio de Janeiro, 27(3) 26-38 jul./set. 1987

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diferentes interpretações) tem a sua origem na reconsi-deração do aspecto social no desenvolvimento econô-mico, na busca do bem-estar para o conjunto da popu-lação e em uma perspectiva de desenvolvimento au-:to-sustentado e de longo prazo. Estes são os objetivosgerais (aparentemente irrefutáveis) que se procura in-tegrar a um dado modelo tecnológico, e a uma certa or-ganização dos processos produtivos. A tecnologia re-presenta, nesse sentido, um ponto de convergência eharmonização de diferentes variáveis econômicas, so-ciais, ecológicas e culturais, um vetor de estilos de de-senvolvimento, um instrumento para alcançar os obje-tivos gerais de bem-estar social, justiça, eqüidade e de-senvolvimento independente" .3

Sobre a importância da tecnologia apropriada parauma tão desejada reformulação da política de atuaçãodos bancos de desenvolvimento na América Latina, osconferencistas fizeram notar o seguinte:

"Dessa maneira, pode-se dizer que há uma perfeitaidentidade de objetivos entre a 'tecnologia apropriada'e os princípios que levaram à criação dos bancos de de-senvolvimento no continente. A diferença se encontramais nas formas de se interpretarem os objetivos e dese entenderem os caminhos e instrumentos de políticaeconômica adequados. Enquanto os defensores da tec-nologia apropriada privilegiam os elementos sociais,ecológicos e culturais, os bancos de desenvolvimentoconcentraram seus objetivos no crescimento econômi-co visto como o único meio para a consecução do de-senvolvimento e do bem-estar social.':"

Por vários motivos, estas idéias provocaram um im-pacto muito forte no plenário. Traziam, dentro de si,a ameaça da novidade. Não que estivessem dizendo al-go de inteiramente novo. Mas, sobretudo, porque, atra-vés de uma exposição clara e profunda, convidavam aspessoas a vislumbrarem esse "vibrante novo" dentro deseus velhos hábitos de raciocínio e de trabalho. Con-

, frontar-se com esta visão pluralista da "questão tecno-lógica" era mais do que poderia suportar plenário semdúvida heterogêneo, mas constituído, em sua maioria,de tecnocratas de bancos de desenvolvimento, aferra-dos a um raciocínio economicista.

A reflexão sobre o que aconteceu logo em seguida éalgo que interessa, no entanto, a um público bem maisamplo. A bem da verdade, esse apego ao paradigma eco-nomicista é algo absolutamente generalizado em nossopaís. Os mesmos tipos de reações já observei inúmerasvezes em sala de aula. E, se esta conferência tivesse si-do realizada em alguma' 'universidade de província" ,teoricamente centro de tolerância intelectual, as reaçõesteriam sido quase as mesmas.

Não obstante, o dito seminário apresentou lances ab-solutamente originais e que carecem de um maior escla-recimento. Em tais circunstâncias, é sempre possívellan-çar mão das categorias da psicopatologia (defesas pa-ranóides, fóbicas, obsessivas, epileptóides, etc.) de mo-do a nos ajudarem a entender o ocorrido.'

Entretanto, uma análise através de categorias polí-ticas nos levaria, sem dúvida alguma, a uma compreen-são bem mais fácil do problema.

Sem termos a pretensão de criar um sistema classifi-catório completo ou científico, foi-nos possível obser-var os seguintes tipos de reação:

Tecnologia apropriada

• A crítica unidimensional: "Vocês estão complicandodemais a questão."; "Para que esta 'doidura' de variá-veis sociais, políticas e ecológicas?"; "Tecnologia é tec-nologia - ora! - é apenas um fator de produção."

• A crítica impotente: "Tecnologia é algo que se adquireno mercado internacional, produzida por nações maispoderosas e de maiores recursos."

• A critica inautêntica: "Os países subdesenvolvidosnão têm capacidade para produzir uma tecnologia real-mente significativa."

• A crítica paradigmática: o paradigma tecnocráticotem como objetivo central de investigação o mercado.Este é visto como constituído de inúmeros agentes querealizam transações exclusivamente como produtoresou consumidores. Isto implica que todo comportamentoeconômico seja visto como comportamento de merca-do e que toda decisão econômica seja, direta ou indire-tamente, uma decisão de mercado."

Em poucas palavras, toda a complexidade da vidahumana associada passa a ser comandada pelo paradig-ma de mercado. Neste sentido, causou perplexidade aconduta dos dirigentes e de alguns funcionários do Ba-desp (uma das entidades patrocinadoras do seminário)que, insistentemente, advogavam uma solução de mer-cado para o problema da tecnologia. Digo perplexida-de porque, de um lado, organizara-se um evento comum título específico: "Seminário sobre tecnologiasapropriadas"; fora presidido pelo governador do esta-do, que definira tecnologia como expressão cultural deum povo; tinha-se o patrocínio de instituições financei-ras latino-americanas e nacionais: convidaram-se pa-ra a abertura conferencistas ilustres, que formularamuma solução nitidamente pluralista para o problema;e, de outro lado, uma clara e deselegante mobilizaçãodo Badesp, através do controle das comissões executi-vas e da direção dos trabalhos e decisões do seminário.Terminou-se discutindo ciência e tecnologia de um mo-do geral e seus respectivos mecanismos de mercado, emdetrimento de um aprofundamento da questão sobreuma tecnologia verdadeiramente apropriada.

Tal foi o nível de manipulação organizativa que fo-ram vários os protestos dos participantes, entre os quaiso de uma renomada pesquisadora científica do estadode São Paulo, que chegou mesmo a acusar a mesa dire-tora de conduta antiética. Outros protestos, menos in-cisivos, talvez, procuraram mostrar a incompatibilidadedaqueles procedimentos com os pressupostos da NovaRepública que acabara de se instalar.

• A crítica nominalista: "A tecnologia apropriada nãoexiste."; "Tem muitos nomes diferentes."; "Vocês,adeptos da tecnologia apropriada, nem sabem o que elaé - são incapazes de defini-la."

Essas críticas e incidentes bem demonstram que, emnosso país, as discussões sobre tecnologia apropriadaainda provocam muitas controvérsias e discussões aca-loradas. Fato que não deixa de ser estranho, uma vezque instituições internacionais de vários tipos e matizestêm aceitado discutir tranqüilamente o tema, formulan-

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do, na maioria das vezes, recomendações bem explíci-tas.?

Essas reações que surgiram no decorrer dos debates,e que acabamos delistar, poderíamos chamá-las de "crí-ticas de direita". Outras críticas existem, no entanto,e a estas chamaríamos de "críticas de esquerda":

• A críticapseudo-realista: "A proposta da tecnologiaapropriada é ingênua."; "É inviável e romântica."; "Ésaudosista e retrógrada, pois propõe um retorno às for-mas de vida e de produção tradicionais e pouco produ-tivas. "8

Estas críticas consideram-se realistas porque (segun-do suas próprias convicções) as tecnologias apropria-das não levariam em conta a dinâmica da expansão eco-nômica do capitalismo e, assim, deixariam de aprovei-tar o potencial produtivo e os reais instrumentos debem-estar social alcançado pela humanidade.

• A crítica maniqueísta: "Em verdade, o que se quercom a tecnologia apropriada é impedir o desenvolvi-mento dos países do Terceiro Mundo."; "Não queremque a gente chegue lá. "; "Não se quer um desenvolvi-mento econômico compatível com os padrões interna-cionais. "

• A Críticapseudoprogressista: "A tecnologia apropria-da reforça o 'GAP' tecnológico entre os povos do Ter-ceiro Mundo e as nações desenvolvidas."; "Consolidaa dependência e a organização internacional do traba-lho."; "Condena os países do Terceiro Mundo a seremexportadores de produtos pouco elaborados e de baixadensidade tecnológica. "

Em síntese, nosso trabalho visa a estabelecer um diá-logo com a maioria dessas críticas. As reações e as "crí-ticas de direita" são fáceis de se lidar. Elas são o resul-tado de uma possivel união existente entre a ignorân-cia e a insegurança psicológica. Já as "críticas de esquer-da" são mais difíceis de se responder. Em certas circuns-tâncias, devemos admitir que existe algo de verdade emsuas afirmações.

Não obstante, como bem assinalaram CristovamBuarque e Sérgio Buarque, "a maioria das críticas cons-titui, acima de tudo, uma resistência por parte dos téc-nicos, planificadores e políticos marcados por uma vi-são imitativa do desenvolvimento, " 9

Segundo os autores, a crítica que assinala um prová-vel reforço da "brecha tecnológica" pode, sob certascondições, constituir sólida argumentação. Contudo,"apresenta a debilidade de uma visão estritamentequantitativa do problema e das diferenças do desenvol-vimento" . O argumento seria verdadeiro se a tecnolo-gia apropriada partisse" ( ... ) da idéia de uma imitaçãode padrões, ritmo eforma de desenvolvimento econô-mico e social ... " e não buscasse "( ... ) na cultura umafonte de inspiração para um novo estilo de desenvolvi-mento ... " . Nesse contexto, a "brecha tecnológica" per-de o seu significado "( ... ) porquejá não se trata de dis-tâncias físicas ou quantitativas, senão de estilos diferen-tes de produzir, de consumir, de viver e de traba-lhar'í.!"

Não se pense com isto que a tecnologia apropriadadeva ser considerada uma panacéia para todos os pro-

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blemas de desenvolvimento de uma nação. "Essa for-ma distinta de viver e de produzir depende de condiçõesinstitucionais e políticas mas, também, de esforços decriação, adaptação e investigação em ciência e tecnolo-gia; do esforço para adequar a tecnologia já existentee para desenvolver mais tecnologia, sobretudo em re-lação a novos produtos." II

Como fizemos notar, é sempre possível assinalar asincoerências das diversas definições de tecnologia apro-priada. Contudo, em que pese essas divergências, exis-te, por outro lado, um sentimento profundamente com-partilhado de que não se pode conceituar tecnologia emum sentido absoluto. Tanto o conhecimento científicoquanto as tecnologias de caráter prático devem ofere-cer soluções dentro de uma faixa bem grande de opções,do mesmo modo que um carro pode ser projetado paraum consumo mínimo de combustível, segurança máxi-ma, altas velocidades, máximo conforto, poluição mí-nima, ou qualquer outro objetivo que vier a ser estabe-lecido.P

Nesse sentido, torna-se evidente que a tecnologia(apropriada ou não) não deve ser encarada como um da-do imutável. Suspeitamos profundamente da idéia deum determinismo tecnológico. Ao contrário, entende-mos que a tecnologia implica um processo conscientede escolhas. E essas escolhas devem ser apropriadas aosobjetivos e condições particulares de uma dada socie-dade.!'

Deste modo, a despeito das acentuadas discordân-cias e das críticas necessárias, inerentes à chamada"questão tecnológica", existe a compreensão genera-lizada de que uma tecnologia será tanto mais apropria-da quanto maior for sua contribuição para a revalori-zação das condições globais de vida e de produção -técnicas e sociais - de uma dada população humana.

Grande parte do problema seria resolvido se fizésse-mos um esforço para entender que a temática da tecno-logia apropriada revela um compromisso existencial in-teiramente distinto. Em outros termos, implica a ado-ção de um novo paradigma de conhecimento, de vidae de trabalho.

E serão justamente essas características que, em se-guida, procuraremos explicitar.

2. MUITOS NOMES, UMA SÓ IDÉIA BÁSICA

Os nomes são muitos: tecnologia adequada, tecnologiaintermediária, tecnologia de baixo custo, tecnologia al-ternativa, tecnologia socialmente apropriada, tecnolo-gia popular, tecnologia comunitária, tecnologia radi-cal, tecnologia emancipadora, tecnologia libertária, tec-nologia utópica, tecnologia doce, tecnologia não-vio-lenta, e muitos outros. Esses diferentes nomes não sig-nificam, entretanto, que não exista um relativo consensosobre o que vem a ser uma tecnologia apropriada. Di-zem-nos apenas que este conceito apresenta múltiplasdimensões. E os diferentes nomes refletem justamenteas diferentes prioridades que se podem atribuir a uma~imensão face às demais. Assim, por exemplo, uma tec-nologia de baixo custo dá ênfase ao uso econômico dedeterminados fatores de produção. Já uma tecnologiasocialmente apropriada acentua ainda mais a sua dimen-

Revista de Administração de Empresas

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são social. Uma tecnologia emancipadora focaliza pre-ferencialmente a dimensão política, chamando atençãopara a importância de certos valores como auto-sufi-ciência e autoconfiança (self-reliance). É ponto pacífi-co, entre os estudiosos da tecnologia (apropriada ounão), que esta envolve múltiplas dimensões, não poden-do ser plenamente compreendida se considerarmos ape-nas a sua dimensão econômica.

Assim, a maioria dos autores é concorde em apon-tar as seguintes dimensões: 14

1. Dimensão econômica. Contempla, entre outras, asquestões relativas: a) ao baixo custo de capital por pes-soa empregada; b) ao baixo custo de capital por unidadeproduzida; c) à utilização de recursos produtivos locais;d) à escala adequada de produção; e) à facilidade de fa-bricação, utilização e manutenção de sistemas e equi-pamentos.

2. Dimensão sócio-cultural. Considera, entre outrascoisas, as questões relativas: a) à adequação aos padrõesculturais de urna dada população; b) à produção de pro-dutos segundo sua qualidade intrínseca; c) à diminui-ção das desigualdades e prevenção da exploração; d) aodesencorajamento da alienação; e) ao crescimento pes-soal, apoio existencial e social nos locais de trabalho.

3. Dimensão política. Compreende, entre outras coisas,as questões relativas: a) à diversificação de oportunida-des e à circulação local de riquezas; b) ao acesso, domí-nio e autonomia de ações; c) à ampliação da auto-sufi-ciência e autoconfiança (self-reliance); d) à redução dadependência externa; e) à revalorização dos setores di-tos tradicionais; f) à modificação da organização socialdo trabalho.

4. Dimensão cientifico-tecnológica. Abrange, entre ou-tras coisas, as questões relativas: a) ao estímulo à capa-cidade inovadora local; b) à revalorização de tarefas epapéis produtivos; c) ao estímulo à pesquisa e experi-mentação tecnológica; d) à melhoria do desempenho ecompetência científico-tecnológica.

5. Dimensão ecológica. Problematiza, entre outras coi-sas, as questões relativas: a) à poluição e à exaustão dosrecursos não-renováveis; b) ao equilíbrio ecológico e aobalanço energético; c) à harmonia com a natureza e aoslimites críticos do desenvolvimento.

Nessa perspectiva, o grau de "pertinência" (appro-priateness) de uma tecnologia qualquer é uma expres-são dos distintos arranjos possíveis que pode haver en-tre as suas múltiplas dimensões, na tentativa de se re-solver um problema concreto qualquer. Para um mes-mo problema poderão existir distintas soluções tecno-lógicas, sendo que algumas serão mais apropriadas queas outras. Nesse sentido, a verdadeira compreensão doque seja tecnologia apropriada implica a sua própria crí-tica.

Em outras palavras, o próprio conceito de tecnolo-gia apropriada implica uma avaliação tecnológica pré-via. E as dimensões que foram apresentadas em reali-

Tecnologia apropriada

dade constituem "critérios substantivos" de sua própriaavaliação.

Desse modo, os rótulos podem ser vários, mas o con-teúdo é um só: encontrar as soluções tecnológicas maisapropriadas a um determinado contexto. Portanto,"( ... ) a tecnologia per senão énem apropriada nem im-própria: sua pertinência (appropriateness) pode ser de-finida somente face a certas circunstâncias econômicas,sociais, culturais e políticas." 15

Nesse ponto, devemos lembrar que "( ... ) a palavratecnologia sugere invariavelmente a idéia de materiais,seja sob a forma de usinas, de produtos ou de infra-es-trutura (estradas, instalações de armazenagem, sistemasde transportes, etc.). O material ou, fazendo uma ana-logia com a informática, o hardware é, além de tangí-vel, muito sensível. A tecnologia vai, entretanto, bemalém do material e compreende aquilo que poderíamoschamar o software ou o imaterial, que engloba o conhe-cimento, a habilidade, a experiência, o ensino e es for-mas de organização. Esta distinção entre o material eo imaterial é tão importante para a tecnologia apropria-da como foi a noção de grande escala para a tecnologiamoderna" .16

Nesse sentido, podem constituir tecnologias apro-priadas o delineamento (design) de sistemas nacionaisde saúde, a criação de novos métodos educacionais, oestabelecimento de novos sistemas de crédito, e a intro-dução de práticas administrativas que promovam, en-tre outras coisas, a redução de despesas supérfluas e asnecessidades de pessoal superqualificado. O conceito detecnologia apropriada inclui também o design industrialde produtos, uma vez que mudanças na especificaçãodesses produtos (ou no seu controle de qualidade) afe-tam os recursos produtivos de uma determinadanação. I?

Em resumo, é relativamente comum a crítica de quenão há uma definição consensual para a tecnologiaapropriada. Esta crítica; de origem profundamente con-servadora, desconsidera o fato de que a tecnologia, se-ja apropriada ou não, apresenta múltiplas dimensões.No caso da tecnologia apropriada, estas dimensões sãoexplicitamente consideradas. No caso das tecnologiasconvencionais, com a exceção da dimensão econômica,todas as demais são negligenciadas. Vimos que, por es-te motivo, os diferentes nomes para a tecnologia apro-priada são, em realidade, um reflexo das diferentes ên-fases que podem existir sobre as diferentes dimensões.

Não obstante as várias designações, a idéia básica éuma só: a valorização das condições globais de produ-ção - técnicas e sociais - de uma dada coletividade.

3. ÂMBITO E RELEVÂNCIA DA TECNOLOGIAAPROPRIADA

É comum considerar as atividades produtivas que em-pregam a tecnologia apropriada como tendo um caráterpioneiro (apresentando a feição de um projeto isolado),desempenhadas, em geral, por pessoas visionárias e idea-listas.

Entendemos, ao contrário, que as atividades alterna-tivas (ou apropriadas) ocupam um espaço político e eco-

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nôrníco próprio, apresentando uma estreita articulaçãoorgânica com os demais setores da economia.

Vistas de uma certa ótica, as atividades alternativaschegam a constituir, em nosso país como no exterior, amaioria dos empreendimentos econômicos. Multipli-cam-se, na literatura, leiga ou especializada, nacional ouestrangeira, conceitos como: economia paralela; shadoweconomy; setor D; economia quaternária; économieclandestine/ occulte/ souterraine; trabalho clandestino;double employment ou mesmo setor informal da econo-mia, admitindo-se, com isso, não só a existência concretadeste setor, como a sua incrível amplitude e extensão. 18

Se incluirmos no chamado setor alternativo todos ospequenos empreendimentos (as pequenas empresas e asassociações), estes chegam a constituir quase 90070 de to-das as empresas, empregando cerca de 30070 de todos osassalariados. As pequenas e médias empresas somadasconstituem cerca de 99070 do contingente total de em-preendimentos e empregam cerca de 80070 do total de as-salariados.'?

Dentro desta perspectiva, aquilo que hoje em dia é,desdenhosamente, chamado de setor alternativo consti-tui, em realidade, a maioria dos empreendimentos eco-nômicos. Assim, melhor seria que a chamássemos de"economia real" em contraposição à economia formal,oficial e acadêmica. Como bem apontou Joseph Huber,em verdade, "( ... ) a economia como um todo permane-ce em qualquer tempo uma economia dual. Isto signifi-ca que, de um lado, temos o trabalho no 'sistema', queforma o assim chamado setor institucional (também cha-mado setor formal) e, de outro lado, o trabalho fora do'sistema', que compõe o setor ínformal.v-?

o grande problema (e daí a rotulagem depreciativa)é que, tanto no socialismo real quanto no capitalismo oci-dental, apenas o setor formal é considerado produtivo,sendo que o setor informal é encarado como "espaço dereprodução" ou de "consumo improdutivo". Atravésdesse "colonialismo ideológico", desconsideram-se asgrandes quantidades que o "sistema" consome de pro-dutos, "( ... ) matérias-primas e força de trabalho social,que são 'produzidas' pelo setor informal e pela nature-za. "21

o intercâmbio entre os setores formal e informal sedá, freqüentemente, através da mediação de um sem-nú-mero de pequenas estruturas sócio-econômicas, queguardam uma relativa autonomia em relação a esses se-tores (se bem que o intercâmbio direto entre os dois se-tores não possa também ser negligenciado). É justamentenesta "faixa de intermediação" entre dois setores que seencontra o maior potencial para a realização dos proje-tos alternativos ou apropriados.P

À guisa de sugestão, gostaríamos de listar um conjun-to de atividades que, tanto no Brasil quanto no exterior,apresentam um grande potencial para o desenvolvimentode projetos alternativos ou apropriados.P

1. Produção de alimentos: produção e cometcializaçãode alimentos através de recursos e sistemas alternativos.

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2. Produção agricola: agricultura, horticultura, pecuá-ria apropriada; criação de pequenos animais; energia;máquinas, equipamentos e sistemas alternativos.

3. Indústria de transformação: oficinas de produção,consertos e manutenção; indústria ambiental e energé-tica; produção de arte e artesania; tipografia, impres-soras; construção civil.

4. Circulação: formas alternativas de organização vi-sando:a) a transportes e vias públicas: táxis, consertos, mu-danças, construção civil e manutenção de ruas e estra-das;b) ao comércio: mercearias, quiosques, agências de via-gem, agências de publicidade, cooperativas;c) a livrarias ou sistemas alternativos de fornecimento,expedição e venda de livros.

5. Infra-estrutura de lazer: bares, cafés, restaurantes,centros de reunião e associação, centros de férias,centros de comunicação, cinemas e galerias.

6. Informação e relações públicas: mídia (filmes e ví-deos), gráficas, serviços fotográficos, serviços de dati-lografia, editoras, revistas e periódicos.

7. Serviços de auto-administração: projetos de coorde-nação e organização (assessorias, informações, formasde organização, estabelecimento de redes - networ-king).

8. Serviços sócio-profissionais: voltados para: .a) crianças: lojas infantis, grupos de pais e crianças, cre-ches;b) escolas: educação de adultos, escolas populares su-periores, universidades;c) saúde: medicina natural, restaurantes naturais, far-mácias alternativas, terapias físicas;d) apoio terapêutico: pedagogia social e assistência so-cial a jovens.

9. Atividades culturais: arte, esportes, ciência (teatro,circo, música, danças, autodefesa).

10. Atividades tecnocientificas: concepção, projeto eavaliação de tecnologias apropriadas nos vários setoresprodutivos.

11. Infra-estrutura polftica:a) iniciativas civis (desenvolvimento de comunidades,clubes de compras);b) comitês de cidadãos (comitês de defesa dos direitoshumanos, de inquilinos, de defesa de preços);c) iniciativas partidárias (eventos, promoções especiais,grupos de pressão).

Como se pode perceber, a presente lista de camposde atividades não tem a pretensão de ser completa. Éapenas uma referência de caráter geral para demonstraro grande potencial das atividades ditas alternativas.

Insistimos, uma vez mais, que o movimento a favorde uma tecnologia apropriada não é algo que se colocaà margem da sociedade, mas, muito pelo contrário, en-

Revista de Administração de Empresas

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contra-se em íntima relação com as suas estruturas maisorgânicas. Ao se analisarem o âmbito e a relevância des-se conjunto de atividades, percebe-se claramente quenão estamos diante de uma proposta romântica ou in-gênua. Muito menos ainda pode ser ela considerada sau-dosista ou mesmo retrógrada. A sua articulação maisprofunda, entretanto, com o conjunto da sociedade ca-pitalista será objeto de discussão nos próximos tópicos.

Em síntese, diríamos, como Johan Galtung, que aproposta de uma tecnologia apropriada constitui, alémde um amplo movimento, um conjunto de políticas e depráticas que apontam para transformações sociais pro-fundas de tudo aquilo que, dentro de uma dada forma-ção social, se encontra fundamentalmente mal desen-volvido.é"

4. TECNOLOGIA APROPRIADA: UM NOVOPARADIGMA

Thomas S. Kuhn teve grandes dificuldades quando em-pregou, pela primeira vez, nos anos 60, o conceito deparadigma, em seu livro A estrutura das revoluções cien-tificas. Poucas foram as pessoas que souberam enten-der o verdadeiro sentido de sua obra. Foi acusado, en-tre outras coisas, de subjetivismo, irracionalismo e re-lativismo. De lá para cá, o conceito se popularizou, masas dificuldades advindas de seu emprego ainda persis-tem. Alguns analistas de seu trabalho chegaram mesmoa catalogar 22 maneiras diferentes pelas quais o termoteria sido utilizado em seu mencionado livro.

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Segundo o autor, entretanto, na maior parte de suaobra o termo paradigma "~(o .. ) é usado em dois sentidosdiferentes. De um lado, indica toda a constelação decrenças, valores, técnicas, etc. partilhados pelos mem-bros de uma comunidade determinada. De outro, de-nota um tipo de elemento dessa constelação: as soluçõesconcretas de quebra-cabeças que, empregados comomodelos ou exemplos, podem substituir regras explíci-tas como base para a solução dos restantes quebra-ca-beças da ciência normal" .26

Como bem apontou Marilyn Ferguson, em um sen-tido mais direto, "um paradigma é uma estrutura depensamento (em grego paradigma tem o significado demodelo). Um paradigma é um esquema para a com-preensão e explicação de certos aspectos da realidade.Ainda que Kuhn tenha-se referido à ciência, a expres-são foi mais amplamente adotada. Fala-se de paradig-mas educacionais, paradigmas para o planejamento decidades, mudanças de paradigma na medicina, etc ':27

Assim, o paradigma não só constitui o âmago de nos-so sistema de pensamento, como também organiza, sig-nificativamente, a maneira como discriminamos as nos-sas experiências e as vivenciamos, concebemos os nos-sos métodos de atuação e trabalho e os instrumentosadequados à sua realízaçãc.PÉ por esse motivo que Kuhn indaga: "Mas a expe-

riência dos sentidos é fixa e neutra? Serão as teorias sim-ples interpretações humanas de determinados da-dos?"29 E responde: "As operações e medições que umcientista empreende em seu laboratório não são o 'da-do' da experiência, mas o 'coletado com dificuldade'

Tecnologia apropriada

( ... ). As operações e medições, de maneira muito maisclara que a experiência imediata da qual em parte deri-vam, são determinadas por um paradigma."3o

Nesse sentido, o que Kuhn chama paradigma é algoidêntico ao "Ecro" (esquema conceitual relacional eoperativo) de Pichon-Riviere e à noção de "interessecognitivo" em Haberrnas.ê!

Por conseguinte, postula-se que a presença de um no-vo paradigma implica uma forma de pensamento intei-ramente diferente, "( ... ) implica um princípio que sem-pre existiu, mas do qual não nos apercebemos". Isto fazcom que o novo paradigma seja mais adequado que ovelho. "Prevê com mais precisão. E, além do mais, es-cancara portas e janelas a novas explorações. "32

A mudança de um paradigma para outro, através doqual surge uma nova maneira de ver as coisas, ou de umanova tradição científica' '( ... ) está longe de ser um pro-cesso cumulativo, obtido através de uma articulação dovelho paradigma. É antes uma reconstrução da âréa deestudos a partir de novos princípios; reconstrução quealtera algumas das generalizações teóricas mais elemen-tares do paradigma, bem como muitos dos seus méto-dos e aplicações"."

Em virtude disso, os novos paradigmas "( ... ) são qua-se sempre recebidos com frieza, até mesmo com zomba-ria e hostilidade. Aquilo que desvendam é atacado porsua heresia" .34A história das idéias políticas e científi-cas sempre registrou a existência de inúmeros paradig-mas que sofreram uma oposição terrível à sua época, sen-do mesmo completamente rechaçados.

Quando a mudança pode se completar - e o novo pa-radigma pode, assim, demonstrar a sua superioridadediscriminativa, explicativa, preditiva e operativa -, osproblemas envolvidos não são de grande monta. Asmaiores dificuldades surgem durante o período de tran-sição, quando então poderá haver uma coexistência re-lativa (nunca completa) entre os modelos explicativos dedeterminados tipos de problemas - sua focalização emétodos de resolução - que têm por base os velhos pa-radigmas e aqueles que se apóiam no novo.P

A visualização da tecnologia como uma' 'invenção so-cial" , ou melhor, como um "ato de cultura" , na qual in-terferem inúmeras dimensões, constitui, sem dúvida, umnovo pradigma. Como tal, coexiste com as visões eco-nornicistas mais tradicionais da tecnologia como fator deprodução ou como elemento privilegiado dos processosglobais de acumulação e transferência de capital. Nes-sas circunstâncias, o novo paradigma está sujeito a so-frer, como vimos, as reações típicas de rejeição, incom-preensão e hostilidade.

Outro problema a ser considerado diz respeito à pró-pria gênese do novo paradigma. Como o seu nascimentose dá dentro das "velhas" condições estruturais e cul-turais, é de se esperar que seja formulado, a princípio,de maneira esquemática e imperfeita. Apresenta algunselementos "fora de posição" em relação ao conjuntoda nova proposta, constituindo aquilo que os psicólo-gos gestaltistas chamam, de maneira algo imprecisa, de"forma imperfeita" ou "má Gestalt" . Esses elementos"fora de posição", de um lado, representam a sobre-vivência indevida de certos vestígios da velha tradição,e, de outro lado, podem significar a antecipação, ao ní-

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vel dos desejos, de certas características da nova "uto-pia" que se quer construir. Apesar de "imperfeito", fa-ce à sua própria gênese, é o novo paradigma, contudo,que permite, como assinalou Marilyn Ferguson, "escan-carar portas e janelas a novas explorações't " e, alémdisso, capacitar certos agentes ativos a agirem inteligen-temente em sua realidade e, deste modo, a realizaremo seu projeto histórico. "A história sempre se realizaatravés de imperfeições", dizem os filósofos.ê? De for-mas imperfeitas para formas cada vez mais perfeitas,e assim sucessivamente.

Por esse motivo, absolutizar as imperfeições de umnovo paradigma (o que não significa que não se devamassinalar os seus elementos "fora de posição") só po-de ser entendido como algo atribuível à compulsão psi-cológica, má fé política, ou narcisismo intelectual. Pou-cos são aqueles que se apercebem de que a ordem mate-rial e espiritual que governa a nossa vida atual consti-tuiu, no passado, um "paradigma imperfeito" e, comotal, coexistiu, lado a lado, com a ordem hegemônica dasua época."

Poucos, também, são capazes de perceber que as ba-ses conceituais e materiais do capitalismo atual se en-contram em franca transformação. O "sistema de pro-dução em massa de produtos padronizados" , respon-sável pela modelagem das sociedades contemporâneasnas suas características mais gerais - suas cidades, suasinstituições, sua forma de governo, e, por fim, a manei-ra peculiar como as pessoas passaram a se autodefinir-, não é mais francamente hegemônico. Em face de umconjunto, ainda não muito bem definido, de condiçõespolíticas, sociais, econômicas e, sobretudo, tecnológi-cas, a hegemonia que antes pertencia ao "sistema deprodução em massa de produtos padronizados" começaa se transferir para os chamados' 'sistemas flexíveis deprodução" , ligados em sua maioria à produção de pro-dutos de precisão, produtos feitos sob medida, e pro-dutos de alta densidade tecnológica.ê?

Os mais otimistas chegam a admitir que essas mudan-ças conduzirão a um aumento de produtividade de talordem que, nesse contexto, "( ... ) a justiça social não éincompatível com o crescimento econômico, mas essen-cial a ele. A organização social baseada na eqüidade, se-gurança e participação gerará maior produtividade doque a que se assenta na cobiça e no medo" .40

Os pessimistas não chegam a negar a existência demudanças nas relações econômicas, quer no âmbito in-ternacional, quer no nacional. Contudo, duvidam queelas possam conduzir a um real desenvolvimento dascondições materiais e espirituais da existência humana,à implantação de uma nova ordem produtiva. Presas fá-ceis de um paradigma "mecânico-fatalista", os pessi-mistas acabam exaltando a' 'autodinâmíca das estrutu-ras", concepção de natureza metafísica que evoca qua-dros conceituais que negam a presença ativa dos agen-tes sociais ou situam os processos históricos de trans-formação muito além do seu alcance efetivo.

São largamente conhecidas as explicações impoten-tes de certas teorias econômicas que encontram respos-tas para tudo através da constante referência a precisosmecanismos de equilibração automática ("mão invisí-vel", de Adam Smith) ou de inércia social (reproduçãoampliada do capital).

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De um ponto de vista epistemológico, as interpreta-ções "mecânico-fatalistas" da realidade são ingênuas,porque se baseiam no diretamente visível- nas aparên-cias de um fenômeno qualquer. Vêem apenas a "pseu-doconcreticidade" e confundem matéria com massa. 41

De um ponto de vista psicológico, são delirantes, poisas categorias teóricas que empregam se sobrepõem à rea-lidade, representando-a através de conceitos de eleva-da abstração intelectual, que acabam negando a rique-za, diversidade e pluralidade da existência humana.

De um ponto de vista político, o paradigma' 'mecâ-nico-fatalista" , a despeito do radicalismo verbal que os-tenta, é conservador, pois aborda a realidade apenas doponto de vista de sua atualidade, negando-se a introdu-zir, em suas interpretações, a possibilidade, ou seja, asvirtualidades relativas às transformações das condiçõesatuais de existência.

Outros, por sua vez, procuram uma posição de equi-distância em relação ao otimismo/pessimismo e adotamum paradigma que se poderia chamar de "dialéti-co-transformador" . Admitem que nos períodos de tran-sição é comum a coexistência de distintas formas. Nãoolham para o novo como um "hipercorreto", em bus-ca de perfeição. Sabem tranqüilamente que um paradig-ma superior, de um ponto de vista histórico ou científi-co, deverá sempre entrar em relativo conflito com umaordem hegemônica estabelecida. Deste ponto de vista,abstêm-se de analisar o novo paradigma através das ca-tegorias teóricas do velho - tarefa que, além de equi-vocada, é, sem dúvida, pouco enriquecedora.

5. AS INSTÂNCIAS DO MOVIMENTOALTERNA TIVO

Para Adam Smith (e grande número dos economistasatuais), a riqueza das nações consiste na produção demanufaturas. "O consumo é o único fim e objetivo deprodução" .42 A produção e o consumo de coca-cola,chicletes e tranqüilizantes constitui, sem dúvida, parcelasignificativa da renda nacional da maioria dos países di-tos desenvolvidos. Não há, contudo, qualquer critériode ordem substantiva que nos diga que um incrementodo consumo desses itens possa ser aceito como índicede civilização.

Nesse contexto, é bem-vinda a observação de JoãoBernardo quando diz: "( ... ) não é no campo do consu-mo que se pode pôr em causa a 'sociedade de consumo' .No capitalismo o consumidor, enquanto tal, está sepa-rado da produção dos produtos e não pode influenciá-ladecisivamente; a função única dos produtos é a reali-zação do lucro, não obedecendo a critérios de necessi-dade social, e a sua comercialização oculta, por detrásda aparência de mercadoria, as verdadeiras relações so-ciais que lhe estão na base". 43

Porém, o mencionado autor assume, estranhamen-te, uma posição teórica de grande ingenuidade, quan-do afirma: "( ... ) o capitalismo não pode, nas circuns-tâncias atuais, escolher uma alternativa que simultanea-mente lhe permita a reorganização das condições geraisde produção e a expansão do mercado de bens de con-sumo: a razão dessa incapacidade reside no regime deexploração' :44

Revista de Administração de Empresas

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Tanto as soluções formais, "dentro do sistema",através da criação dos "sistemas flexíveis de produção" ,quanto as soluções informais "fora do sistema", atra-vés das iniciativas alternativas, são respostas plausíveisa esse tipo de dilema."

Assim, concessões desnecessárias, ou talvez incons-cientes, a um tipo de raciocínio "mecânico-fatalista"levam o autor ao delírio quando atribui ao movimentoalternativo, de um modo geral, e ao movimento ecoló-gico, em particular, a intenção programática de uma re-dução da produção e de uma privação do consumo in-dividual. É nesse sentido que afirma: "Em toda litera-tura ecológica, uma condição básica sustenta explicita-mente e repetidamente a reorganização das condiçõesgerais de produção: uma forte redução, e depois, a es-tagnação do consumo particular.' '46 A bem da verda-de, diga-se que a idéia de crescimento zero surgiu e sepopularizou mais entre os círculos convencionais de eco-nomistas do que entre os ecologistas. O próprio JoãoBernardo aponta o "Clube de Roma" e algumas cor-porações multinacionais como os principais interessa-dos nessa ordem de idéias."?

As propostas, tanto alternativasquanto ecológicas,não se baseiam no crescimento zero, mas, muito pelocontrário, na revalorização de um conjunto de ativida-des produtivas, seja do setor informal (contracultura)ou do setor intermediário, propriamente alternativo dassociedades.P O que dá sentido a esses movimentos éum novo conceito de riqueza das nações que, na práti-ca, se está materializando através da edificação de umaverdadeira pluralidade econômica, social e política dassociedades. Assim, a despeito de algumas contradiçõesexistentes, realiza-se, na prática, um projeto de trans-formação social que, ao invés de reduzir o produto na-cional, adiciona à riqueza social um conjunto de pro-dutos e serviços que antes eram discriminados e colo-cados à margem da sociedade.

A assunção da pluralidade é, para os movimentos al-ternativos, mais uma constatação empirica do que umpressuposto ideológico. Como faz notar Norberto Bob-bio, "antes de ser uma teoria, o pluralismo é uma situa-ção objetiva, na qual estamos imersos. Que a atual so-ciedade [italiana] seja uma sociedade pluralista não éuma invenção dos católicos ou dos comunistas e inclu-sive os que não são nem católicos nem comunistas pro-curam interpretá-la, cada um a seu modo, e dela pro-curam prever a evolução (para não ficarem atrás) ou ainvolução (para apresentarem remédio) ".49

Na perspectiva da pluralidade, portanto, a observa-ção de João Bernardo de que "o objetivo da correnteecológica consiste em descobrir uma maneira de ultra-passar a crise da produtividade, mantendo-se, porém,no quadro das relações sociais básicas que definem o ca-pitalismo" merece ser melhor qualificada. 50

À luz da discussão que estamos empreendendo, con-sideramos conservadora (mesmo que faça largo empre-go de uma terminologia marxista) toda análise que des-creve apenas uma face da realidade, sua atualidade, edesconsidera a outra face, a possibilidade de sua trans-formação. O movimento ecológico (e também o alter-nativo) compreende um conjunto muito vasto e com-plexo de distintas correntes ideológicas. Se essas críti-cas chegam a ser válidas para um segmento dele, sem

Tecnologia apropriada

qualquer dúvida não se aplicam ao conjunto do movi-mento. Muito menos ainda, se foram dirigidas às pos-sibilidades de sua transformação futura.

Como enfaticamente assinalou Fernando Gabeira,"( ... ) sob o manto da defesa ecológica estão reunidosnum mesmo campo pessoas com visão de mundo bas-tante diferente, num espectro que vai desde o conser-vador até o inflamado revolucionário" .51

Por sua vez, João Bernardo deixa antever que nãodesconsidera a pluralidade, quando assinala que em al-guns países de fraca industrialização ainda sobrevive umconjunto de interesses econômicos e sociais ligados amodos de produção pré-capitalistas. Nessascircunstân-cias, torna-se possível um reordenamento do campo deinteresses sociais, em virtude de contradições internasao sistema, bem como externas, relativas "( ... ) à situa-ção marginal que as classes capitalistas destes países ocu-pam relativamente aos grandes centros mundiais de acu-mulação de capital" .52

A essa reflexão deve-se acrescentar, no entanto, quea pluralidade econômica não é própria somente das na-ções ditas subdesenvolvidas. Joseph Huber, falando apartir das condições de vida da Alemanha Ocidental, as-sinalaque "( ... ) a economia como um todo permaneceem qualquer tempo uma economia dual" .53 Robert B.Reich, descrevendo a próxima "fronteira americana",fala-nos do advento dos sistemas flexíveis de produçãoe da pluralidade a ser alcançada pela sociedade do seupaís, graças à nova articulação produzida por esses sis-temas com os demais setores da economia. 54 A mesmalinha de raciocínio é defendida por Alvin Tofler, quandofala em "funções de arcabouço" e "funções modula-res" , deixando transparecer que a mesma função estru-turante que, no passado, era desempenhada pelo siste-ma industrial (em relação a setores ditos pré-capitalis-tas) é agora realizada pelo "sistema flexível", que, as-sim, passa a articular o setor industrial convencional eos demais setores econômicos.P

Essas transformações que se operam nos países cên-tricos criam um quadro muito complexo e extremamen-te ambivalente para os países do Terceiro Mundo. Foipreciso que esses processos de diferenciação ocorressemnessas nações ditas mais desenvolvidas para que come-çássemos a enxergar a nossa própria pluralidade. A iro-nia disso tudo é que esta sempre existiu, mas não era vis-ta por nós com bons olhos, dada a prevalência de umparadigma cognitivo que sempre definiu produção (ouatividade produtiva) como sendo tudo aquilo que eraprocessado pelo setor formal e estabelecido da econo-mia. Os demais setores sempre foram depreciativamenteconsiderados "espaços de reprodução" ou de "consu-mo improdutivo".

O próprio João Bernardo, em outra obra de sua au-toria (Marx crítico de Marx), ao proceder à crítica danoção de totalidade em Hegel, acaba (não intencional-mente) realizando magnífica defesa da pluralidade e dodesenvolvimento multilinear. Segundo o autor, esse"todo hegeliano" nada mais é do que a persistência, nodiscurso marxista (notadamente na forma de exposiçãode Marx no Capitah, de um paradigma cognitivo devi-do a Hegel, o qual deve ser distinguido da verdadeiraestrutura implícita da obra de Marx.t" "O todo hege-

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liano, inestruturado e conceptualmente decomponívelem elementos reciprocamente idênticos ao todo ... "57

Creio que vale a pena reproduzirmos uma longa ci-tação do autor, para precisarmos melhor a presentequestão.

"Nessa forma lógica, um todo transforma-se nou-tro, pela evolução global dos seus elementos, visto quequalquer deles é considerado como expressão liura dotodo. A concepção da transformação em Hegel inte-gra-se naquelas formas lógicas em que a evolução épen-sada como simultaneamente em todos os elementos (... ).A lógica de Hegel articula a transformação e a perpe-tuação, e a prática social que nela se representa acabasempre, quando convertida de subversora em domina-dora, por reforçar os elementos de perpetuação. O pen-samento dialético de Hegel é conjuntamente 'conserva-dor' e 'revolucionário', se estas designações se lhe po-dem aplicar (... ). Na lógica de Hegel há efetivamentepassagem de um todo para outro, uma evolução da rea-lidade global, existindo verdadeiramente uma passa-gem. Na lógica implícita da obra de Marx, porém, nãopode falar-se de passagem, mas de reorganização do to-do. "58

É aqui que talvez devêssemos falar que o João Ber-nardo da sua obra mais séria é crítico do João Bernar-do do manifesto antiecológico.

A leida variedade requerida dos ciberneticistas, o de-senvolvimento desigual e multilinear dos estruturalis-tas, a biocenose dos ecologistas, todas essas idéias fa-lam-nos de uma reorganização do todo, por múltiplase variadas formas, e não dão ultrapassagem de um to-do abstrato para outro todo qualquer, também abstra-to.

João Bernardo define ecologia como um "( ... ) pro-jeto global e ideologicamente articulado de remodela-ção das condições gerais de produção e de reestrutura-ção interna do capitalismo em novos mecanismos defuncionamento econômico e social" .59 .

Essa definição tão ampla de ecologia nos permitiu es-tender ao movimento alternativo de um modo geral ascríticas que faz, especificamente, ao movimento ecoló-gico. Pois, o movimento alternativo visa, particular-mente, a isto: a revalorização das condições globais devida e de produção - técnicas e sociais - de uma dadacoletividade. A verdadeira natureza dessa reorganiza-ção e revalorização, entretanto, foi por nós deixada mui-to clara quando das nossas discussões sobre tecnologiaapropriada. E nessemomento torna-se transparente, pe-lo encaminhamento que estamos dando à questão.

Por esse motivo, face ao que foi exposto e, sobretu-do, face à análise do autor acerca do paradigma ocultoem Marx, causou perplexidade a seguinte definição: "Omovimento ecológico é, hoje, o inimigo oculto".6O

Como bem ponderou Fernando Gabeira, "a existên-cia de armadilhas que, às vezes, podem transformar aproposta alternativa numa proposta conservadora nãodeve significar uma inibição, mas uma alavanca parapensar seu crescimento (... ). Se deixamos de lado ten-tativas isoladas e pensamos nas grandes possibilidadesque abriria para o Brasil uma compreensão nacional deesgotamento do modelo consumista do tipo norte-ame-ricano e europeu, acharíamos um caminho mais amploainda ".61

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As idéias-chavesnessa citação parecem ser' 'caminhoamplo" e "pensar possibilidades" . E elas nos remetemao centro de nossas discussões: apreender a reorgani-zação do todo, não pela sua aparência e atualidade, maspelo que revela de essencial e possível. Uma análise con-duzida nesses termos revelaria que a riqueza e plurali-dade do movimento alternativo e/ ou ecológico não es-condem uma natureza essencialmente conservadora emenos ainda podem ser consideradas, face a isto, "o ini-migo oculto do proletariado". 62

Vislumbramos pelo menos três instâncias capazes decaracterizar as articulações do movimento alternativo(ou de utilização das tecnologias apropriadas) com oconjunto da sociedade capitalista, as quais constituemnão só configurações múltiplas e diferenciadas, comotambém distintas possibilidades de evolução (melhor di-zendo: de reorganização do todo):

1. Uma instância em que o movimento alternativo oude utilização de tecnologia apropriada se insere numaperspectiva desenvolvimentista, que visa, consciente ouinconscientemente, a "racionalizar" determinadas ar-ticulações internas entre um setor hegemônico qualquer(sejam os setores oligopolizados convencionais ou osmodernos "sistemas flexíveisde produção") eos demaissetores da economia. Se os movimentos alternativos,dentro dessa perspectiva, não efetuarem qualquer crí-tica aos processos de acumulação capitalista, sem dú-vida alguma poderão ser considerados simples "peçasde compensação" dos mecanismos gerais de ajustamen-to da estrutura geral de produção, com forte apoio nasinovações de caráter tecnológico. 63É a perspectiva queHuber chamou de "ruptura superindustrial" uma re-novada ênfase no crescimento industrial com forteapoio nos avanços da' 'grande tecnologia alternativa",da microeletrônica, da biotecnologia, etc.64Nesse con-texto, as críticas de João Bernardo seriam plenamentejustificadas.

2. Uma instância em que o movimento alternativo oude utilização da tecnologia apropriada se insere numaperspectiva de desenvolvimento qualitativo ou seletivo.Tende, consciente ou inconscientemente, a coexistircom a reprodução do capital, mas com grandes "( ... )reservas ou discordâncias face a alguns processos con-siderados social e individualmente perniciosos, como apoluição do ar e da água, o desequilíbrio ecológico, adevastação dos recursos naturais, a expressiva concen-tração de renda, o stress causado pela velocidade dasinovações, etc" .65Significa, segundo Huber, "( ... ) re-conhecer os atuais limites ecológicos e passar a uma so-ciedade de prestação de serviçosajustada ecologicamen-te, capaz de seacomodar a certas condições materiais deescassez, seja mediante um pluralismo democrático deelite, em bases capitalistas, ou mediante um regime di-tatorial, à maneira das burocracias unitárias orien-tais".66 Nesse contexto, as críticas de João Bernardo,para serem adequadas, requerem algumas modificaçõessignificativas.

3. Uma instância em que o movimento alternativo, oude utilização da tecnologia apropriada, se insere numaperspectiva a favor de um ecossocialismo democrático

Revi8ta de Administração de Empresa8

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e economicamente pluralista, que teria por objetivosconscientes: a crítica da acumulação capitalista, a diver-sificação do aparato produtivo e melhor distribuição dariqueza social dentre os diferentes setores da economiaplural. 67 Tal perspectiva apresenta, segundo váríos au-tores, inúmeros aspectos positivos "( ... ) ao denuncia-rem as conseqüências do atual desenvolvimento tecno-lógico sob a direção do grande capital. Também desta-cam a necessidade de reduzir a dependência dos paísesem vias de desenvolvimento das matrizes tecnológicasgeradas a partir dos interesses de reprodução das eco-nomias altamente desenvolvidas. O apelo ao desenvol-vimento de uma 'confiança em si', de tecnologias au-tóctones, de sistemas tecnológicos integrados geradosa partir de problemas concretos de cada formação so-cial, de estímulo à criatividade, de respeito a uma rela-ção harmônica homem-natureza, assim como das pro-posições que visem a reformular as políticas nacionaise dos organismos internacionais de ciência e tecnologiapara atenderem às particularidades de cada formaçãosocial, representa um avanço nas consciências e um pro-gresso nas suas manifestações concretas. Essas propo-sições constituem uma força ideológica mobilizadoracapaz de estimular reflexões mais profundas e que atin-jam a raiz das questões" .68 Nesse contexto, as críticasde João Bernardo são inteiramente inadequadas.

Assim, João Bernardo, o crítico do "todo hegelia-no" , acaba realizando uma crítica indiferenciada, ines-truturada, e portanto hegeliana, das propostas ecoló-gicas e/ou alternativas. E, da mesma maneira que He-gel, suas observações acabam sendo mais conservado-ras do que revolucionárias.ê?

Insiste que entre os ecologistas de vários matizes é de"melhor bom-tom" realizar, em seus "textos de pro-paganda" ou em brochuras de mera afirmação indivi-dual", graves ofensas "( ... ) ao movimento operário eaos proletários enquanto pessoas, por formas tão vis queultrapassam freqüentemente o estilo até agora reserva-do a certa literatura fascista" .70 Posso garantir que,para um militante bem-intencionado do movimentoecológico, ser de longe comparado a um fascista é uminsulto bem grave; só ultrapassado, talvez, pela acusa-ção de "inimigo oculto" do proletariado.

De minha parte, nunca tive a oportunidade de encon-trar, na literatura nacional ou estrangeira, qualquer re-ferência crítica aos proletários enquanto pessoas. Seriauma situação especificamente portuguesa? Não sei...

Sei, no entanto, que críticas existem, e em grande nú-mero, não aos proletários enquanto pessoas, mas, de ummodo bem qualificado, dirigidas à chamada condiçãoproletária. Essas críticas, contudo, não provêm de pes-soas ligadas ao movimento ecológico e/ ou alternativo.Elas foram criteriosamente elaboradas pelo próprioMarx, e inteligentemente desenvolvidas, através das nu-merosas contribuições de vários autores marxistas, neo-marxistas ou socialistas de distintas orientações.

Jacques Ellul, por exemplo, afirma: "O proletárionada sabe, nada tem a dizer, em nada esclarece a con-dição do mundo moderno. Assim, não é aquilo que ooperário pensa, quer ou a que visa que interessa a Marx.Ele não acredita de forma alguma num 'bom' pensa-mento operário. Não é preciso estar à escuta do que oproletariado diz.' '71

Tecnologia aproprillda

Em verdade, o próprio Marx, na Sagradafamt7ia, as-sim se manifestou: "Não se trata de saber o que este ouaquele proletário, ou mesmo o proletário como um to-do, propõe-se momentaneamente como objetivo. Tra-ta-se de saber o que o proletário é e o que deve histori-camente realizar de acordo com o seu ser.' >72

Para Gorz, a condição proletária é sinônimo de des-tituição, de despojamento, falta de autonomia, e de"alienação perpétua. "73 Para Ellul, o proletário é um"homem desenraizado, explorado, urbanizado, sem pá-tria, sem família, sem cultura, sem saúde, reduzido a um'apêndice' da máquina. "74

Assim, "( ... ) o proletário não é absolutamente ummodelo de homem, o que se deve tornar a humanida-de. ( ... ) Sofrendo a totalidade das alienações, sendo re-duzido à negação de tudo que faz uma vida humana, oproletário só pode negar a própria condição, e daí de-sempenhar um papel histórico que é a supressão daqui-lo que está na origem da sua desumanização: o capita-lismo. Assim, o movimento histórico não é a negaçãodo capitalismo porque ele seria injusto, etc., mas, istosim, a negação, no proletário, daquilo que faz dele umaausência do homem (... ). Mas, negando a própria con-dição, procurando destruí-la, nesse próprio momento,destrói obrigatoriamente todas as alienações que pesamsobre o homem, já que concentra em si todas as aliena-ções. Negando a si mesmo (e não pode fazer diferente-mente, já que não pode suportar a negação em si mes-mo de tudo que é humano) o proletário destrói as alie-nações que todos os homens sofrem em graus mais oumenos graves" )5

Creio que estas críticas se podem subscrever. Deixa-mos bem claro que elas são dirigidas à condição prole-tária. A negação da negação. A transformação da "alie-nação perpétua" e da "ausência do homem".

Em resumo, diz Gorz, "a 'verdadeira vida' está emoutro lugar, só se é proletário por azar, à espera de al-go melhor". 76

E, para concluir, indagaria, juntamente com Ellul:o que se encontra na origem profunda deste bloqueioque impede a lucidez e a conseqüente supressão da con-dição proletária? "( ... ) É a convicção de que ela é im-possível, é um conjunto de preconceitos, de 'paradig-mas', diria Kuhn, de 'dados imediatos da consciência'social; ora, isso pode modificar-se por uma transforma-ção da compreensão dos fenômenos, uma 'epistemolo-gia' diferente, uma nova apresentação das realidades so-ciais, uma tomada de consciência das gravidades, dasurgências, das prioridades. Tudo isso organizado emfunção de uma espécie de inventário crítico dos valoresde nossa civilização ".77

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de uma situção existencialmente vivida, tive-mos a oportunidade de analisar um conjunto de incom-preensões, preconceitos e hostilidades relacionadas coma chamada "questão tecnológica".

Grande parte dessas reações comportam, sem dúvi-da, uma explicação psicológica, à qual nos furtamos deexplicitar. Deixo essa tarefa para os psicólogos profis-sionais. Diria apenas que sempre tive muita curiosida-

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de em tentar entender por que propostas teóricas de ca-ráter revolucionário, como, por.exemplo, as de Marx,ou mesmo as de Freud, acabam sendo apropriadas jus-tamente ao reverso de sua motivação original. Em rea-lidade passam a constituir defesas emocionais e/ ou blo-queios cognitivos à emergência do novo. Abrigados den-tro de um "todo ideológico" , indiferenciado e mono-lítico, certos indivíduos acabam desqualificando, siste-maticamente, toda e qualquer possibilidade de renova-ção.

De um ponto de vista estético-cognitivo, essas pes-soas poderiam ser chamadas de hipercorretas: queremtudo perfeito. E a exigência de perfeição será tantomaior quanto maior for a necessidade de justificar o seupróprio imobilismo. A ironia disto tudo, e também a in-versão a: ser notada, é que a negação da mudança se fazem nome de uma ortodoxia aparentemente revolucio-nária. Não é apenas coincidência que o "marxis-mo-mais-ruinzinho-da-praça"; o marxismo positivis-ta de direita, "das estruturas. autopropelidas " ,dos sin-cronismos; o "marxismo capenga", das atualidadessem possibilidades, seja largamente cultivado nas esco-las de economia e de administração de empresas do País,constituindo, assim, elemento integrante e racionaliza-dor da "má consciência" desses profissionais.

Nos meus 17 anos de magistério, em escolas de ad-ministração de empresas, pude observar que são justa-mente esses "marxistas" de orientação "mecânico-fa-talista" os que, em sala de aula, se comportam de ma-neira mais delirante. Catarse, de resto, necessária paraaqueles que, depois das aulas, devem se dirigir aos seusimportantes afazeres, onde se dão muito bem com as im-portantes personagens do governo ou do mundo dos ne-gócios. São essas pessoas e também os "conservado-res-por-inércia" , "idólatras da engenhoca" (como di-ria Nobert Wiener), os seduzidos pelo "fetiche da tec-nologia" , aqueles que mais se opõem à proposta da tec-nologia apropriada.

Essas reações são, de certo modo, compreensíveis,uma vez que os novos paradigmas, como fez notar Ma-rilyn Ferguson, "( ... ) são quase sempre recebidos comfrieza, até mesmo com zombaria e hostilidade" , pois sãojustamente eles que permitiriam "escancarar portas ejanelas a novas explorações" . Para aqueles que não que-rem ou não podem tolerar essa' 'renovação de ar" , umnovo paradigma é sempre um "inimigo perigoso".

Ao longo de nossa exposição, procuramos deixar cla-ro que o movimento a favor da tecnologia apropriadanão se alinha dentro de uma visão de mundo conven-cionai ou, ainda, dentro de uma "teoria da revoluçãoproletária" .

Coincidente com a observação de alguns autores (co-mo, por exemplo, André Gorz e Jacques Ellul), uma sig-nificativa parcela do movimento alternativo, face à suaessência autonomista, propõe claramente a transforma-ção dessa "condição proletária", para eles, sinônimode destituição, desenraizamento, heteronomia,"alie-nação perpétua" .

Os "proletários", diz André Gorz, são o "decalquedo capital"; os "burgueses" , os seus mais prestimosos"servidores'{.I" É preciso "dizer adeus" a essa situa-ção.

36

De nossa parte, deixamos claro que vemos o movi-mento alternativo como uma esperança. Esperança vol-tada não só para os aspectos de organização da produ-ção e do trabalho. Mas, sobretudo, ligada às opçõesexistenciais mais profundas dos seres humanos, suas va-lorizações de vida e de morte; as suas valências mais ín-timas, relacionadas ao bom, ao belo, ao verdadeiro, eao justo. Diz Gorz: "não há socialização possível da ter-nura, do amor, da criação e do prazer (ou do êxtase) es-téticos, do sofrimento, do luto, da angústia" .79

Em um certo sentido, vivemos uma época privilegia-da. Aquela que assiste ao desmoronamento de todas asortodoxias. É uma época onde tudo de bom e de malcoexiste, dialeticamente, a um só tempo. Onde o gro-tesco e o sublime andam de mãos dadas.

Nessa perspectiva, os acontecimentos históricos nãosão determinados, com exclusividade, pela autodinâmi-ca das estruturas. Estas, quando muito, delimitam umcampo de possibilidades. C rumo definitivo dos acon-tecimentos, porém, é conseguido através da compreen-são e da ação efetiva dos seus protagonistas mais con-seqüentes. O que se fará do movimento alternativo de-penderá, portanto, da lucidez e da atuação efetiva dosseus atores mais dedicados.

1Buarque, Cristovam & Buarque, Sérgio C. Tecnologia apro-priada: una política para la banca de desarollo de América La-tina. Lima, Associación Latino-Americana de InstitucionesFinanceiras de Desarollo, 1983.

2Yer Buarque, Cristovam &Buarque, Sérgio C. op. cito p. 2,3.3Ibid. p. 71. Grifo nosso.

4Ibid. p. 72.

5Yer Bleger, José. Grupos operativos no ensino. In: Temasde psicologia. São Paulo, Martins Fontes, 1985. p. 70-5.

6Yer Dopfer, Kurt (org.). A economia dofuturo. Rio de Ja-neiro, Zahar , 1979. p. 13 e 58.

7Yer Proposal from a program in appropriate technology.Washington, Agency for International Development. V.S.Government Printing Office, 1977.8Yer Buarque, Cristovam &Buarque, Sérgio C. op. cit. p. 68

Revista de Administração de Empresas

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9Ibid. p. 68. Grifo nosso.

JOlbid. p. 71. Grifo nosso.

llIbid. p. 71. Grifo nosso.

12Ver Technology for development, London, Voluntary Co-mitee on Overseas Aid and Devélopment, 1977. introdução.

13Ibid. introdução.

14Ver Dagnino, Renato Peixoto. Tecnologia apropriada-uma alternativa? Dissertação de mestrado apresentada ao De-partamento de Economia da Universidade de Brasília, dez.1977~p. 79-89; Buarque, Cristovam & Buarque Sérgio, C. op.cit. p. 67; Ignacy Sachs, Ecodesarollo, concepto, aplicacción,implícaciones. México, Comercio Exterior, 30(7), jun. 1980;e Sachs, Ignacy. Strategies de I'ecodéveloppement. Paris, Ou-vríeres, 1980.

15Jequier, N. & Blanc, G. Appropriate technology directory.Paris, OECD, 1979. p. 8.

16Jequier, Nicolas. La technologie appropriée: problemes etpromesses, Paris, OECD, 1976. Apud Carvalho, HorárioMartins de. Tecnologia socialmente apropriada: muito alémda questão semântica. Londrina, Fundação Instituto Agro-nômico do Paraná, 1982. p. 26. Grifo nosso.

I7Ver Proposal for a program in appropriate technology.Washington, AlD, 1977. p. 12.

18Ver Huber, Joseph. Quem deve mudar todas as coisas: asalternativas do movimento alternativo. Rio de Janeiro, Paze Terra, 1985. p. 46.

19Ibid. p. 47, 48.

2oIbid. p. 49.

2lIbid. p. 49.

22Não desenvolveremos aqui a questão relativa à "posição deintermediação do setor alternativo". Para uma discussão maiscompleta, remetemos o leitor à já citada obra de Joseph Hu-ber Quem deve mudar todas as coisas... , p. 37-133.

23Esta lista é uma versão modificada das atividades de pro-dução, serviço e trabalho político descritas por Huber, Joseph.op. cit. p. 36.

24Galtung, Johan. Los azules y los rojos; los verdes y los par-dos: una evaluación de movimentos políticos alternativos, pu-blicado originalmente na Revista Alternativa, n? 1, Santia-go do Chile, 1983, e reproduzido no Boletim de Ciências So-ciais, n? 34 (jul.z'set.), Florianópolis, Universidade Federalde Santa Catarina, 1984. p. 28-9.

25Masterman, Margareth. The nature of a paradigm, cri ti-cism and the growth of knowledge. Cambridge, 1970. ApudKuhn, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. SãoPaulo, Perspectiva, 1982. p. 226.

26Kuhn, Thomas S. op. cit. p. 218.

27Ferguson, Marilyn. A conspiração aquariana. Rio de J anei-ro, Record, 1980. p. 26.

28Kuhn, Thomas S. op. cit. p. 48, 165.

29Ibid. p. 161.

30Ibid. p. 161, 162.

31Ver Pichon-Riviere, Enrique. O processo grupal. São Pau-lo, Martins Fontes, 1986; e Habermas, Jurgen. Knowledgeanshuman interests. Boston, Beacon Press, 1971.

Tecnologia apropriada

3~Ferguson, Marilyn. op. cit. p. 27.

3.1Kuhn, Thomas S. op. cit , p. 116. Grifo nosso.

34Ferguson, Marilyn. op. cit. p. 27.

35Kuhn, Thomas S. op. cit. p. 116.

36Ferguson, Marilyn. op. cit.

37Afirmação devida a Guerreiro Ramos.

38Yer Polanyi, Karl. The great transformation. New York ,Rinehart, 1944. (Existe tradução brasileira da Editora Cam-pus, Rio de Janeiro.)

39Yer Reich, Robert B. A próxima fronteira americana. Riode Janeiro, Record, 1983.

4OId. ibid. p. 33.

41Para uma discussão sobre a pseudoconcreticidade, ver Ko-sik, Karel. Dialética do concreto. Rio de Janeiro, Paz e Ter-ra.

42Apud Naisbitt, John. Megatendências. São Paulo,Abril/Círculo do Livro, 1983.

43Bernardo, João. O inimigo oculto. Ensaio sobre a luta declasses. Manifesto antiec .Jógico. Porto, Afrontamento, 1979.p. 180.

44Ibid. p. 174.

45Em relação aos "sistemas flexíveis de produção", ver:Reich, Robert B. op. cit.; Naisbitt, John. op. cit.; Tofler AI-vin. Empresasflexíveis. Rio de Janeiro, Record, 1986. Em re-lação ao movimento alternativo, ver: Huber, Joseph. op. cit;Ferguson, Marilyn. op. cit; Herderson, Hazel. Creatingalter-nativefutures. New York, Berkley Publ., 1978.

46Bernardo, João. op. cit. p. 172.

47Ibid, p. 154.

48Ver Huber, Joseph. op. cit. p. 83-133.

49Bobbio, Norberto. O futuro da democracia. Rio de J anei-ro, Paz e Terra, 1986. p. 59.

50Bernardo, João. op. cit. p. 167. Chamo atenção para a idéiade ultrapassagem, que será melhor explicitada quando da dis-cussão sobre o todo hegeliano.

5lGabeira, Fernando. Vida alternativa, Porto Alegre, L &PM, 1986. p. 79.

52Bernardo, João. op. cit. p. 195-6.

53Huber, Joseph. op. cit.

54Reich, Robert B. op. cit.

55Tofler, Alvin. A empresa flexível. cit. p. 153-207.

56Bernardo, João. Marx crítico de Marx. livro I?, vol. lIl.Porto, Afrontamento, 1977. p. 191 e segs.

57Ibid. p. 191.

58Ibid. p. 192, 193, 194. Grifo nosso.

59Bernardo, João. O inimigo oculto. cit. p. 153.

60Ibid. p. 95, 199.

6lGabeira, Fernando. op. cit. p. 39, 43.

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62Yer Carvalho, Horácio Martins. op. cito p. 19,30; e Huber,Joseph. op. cito p. 137, 147.

63Carvalho, Horácio Martins. op. cito p. 19,20.

64Yer Huber, Joseph. op. cito p. 138-9.

65Carvalho, Horácio Martins. op. cito p. 19.

66Huber, Joseph. op. cito p. 138.

70Bernardo, João. O inimigo oculto. cito p. 187.

7lEllul, Jacques. Mudar de revolução. O inelutável proleta-riado. Rio de Janeiro, Rocco, 1985. p. 15.

72Apud Gorz, André. Adeus ao proletariado. Rio de Janei-ro, Forense - Universitária, 1982. p. 27, 28.

73Ibid. p. 47,48,49.

74Ellul, Jacques. op. cito p. 14

75Ibid. p. 15.

76Gorz, André. op. cito p. 46.

77Ellul, Jacques. op. cito p. 271.

78Gorz, André. op. cito p. 46, 56.

79Ibid. p. 110.

67Ibid. p. 138, 139.

68Yer Carvalho, Horácio Martins. op. cito p. 29, 30.

69Diz João Bernardo: "O modelo a uma só empresa, desdo-brável numa multiplicidade de empresas reciprocamente idên-ticas, repetitivamente, constitui um todo inestruturado, emque a unidade e a identidade se confundem." In: Marx críti-co de Marx. op. cito p. 192.

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