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 Pro gr ama de Edu cação Continuada a Distância Curso de Ar teterapia  Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados

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  • Programa de Educao Continuada a Distncia

    Curso de Arteterapia

    Aluno:

    EAD - Educao a Distncia

    Parceria entre Portal Educao e Sites Associados

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    Curso de Arteterapia

    MDULO I Ateno: O material deste mdulo est disponvel apenas como parmetro de estudos para este Programa de Educao Continuada. proibida qualquer forma de comercializao do mesmo. Os crditos do contedo aqui contido so dados aos seus respectivos autores descritos nas Referncias Bibliogrficas.

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    SUMRIO MDULO I - FUNDAMENTOS DA ARTE E DA TERAPIA INTRODUO 1 FUNDAMENTOS DA ARTE E DA TERAPIA 1.1 O QUE ARTE?

    1.2 A ARTE E SUA INFLUNCIA NA SOCIEDADE E NA CULTURA

    1.3 A ARTE COMO FONTE DO CONHECIMENTO E DA EXPRESSO

    HUMANOS

    1.4 A ARTE E A REALIDADE SOCIAL

    1.5 TERAPIA OU PSICOTERAPIA

    1.6 ORIGEM E EVOLUO DA PSICOTERAPIA

    1.7 IMPORTNCIA E UTILIZAO DA PSICOLOGIA E DA ARTETERAPIA

    MDULO II 2 HISTRIA E EVOLUO DA ARTE 2.1 IMPORTNCIA DA HISTRIA DA ARTE

    2.2 A ARTE NO MUNDO

    2.3 ARTE NO BRASIL

    MDULO III 3 UTILIZAO DOS RECURSOS ARTSTICOS NO PROCESSO TERAPUTICO 3.1 ENCONTRO DA PSICOLOGIA COM A ARTE

    3.2 PRINCIPAIS LINHAS DE ATUAO DO ARTETERAPEUTA

    3.2.1 Psicologia Analtica

    3.2.2 Gestalt

    3.2.3 Psicodrama

    3.3 MODELO DE ESTRUTURAO DAS SESSES DE ARTETERAPIA

    3.4 O CONSULTRIO

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    MDULO IV 4 AS DIVERSAS FORMAS DE EXPRESSO 4.1 DESENHO

    4.2 MSICA

    4.3 TEATRO 4.4 DANA

    4.5 ESCULTURA

    4.6 PINTURA

    5 OFICINAS DE ARTETERAPIA

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    MDULO I

    INTRODUO

    Ansiedade, fobia, estresse, anorexia, depresso, introverso, agressividade,

    transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, dificuldades de aprendizagem,

    hiperatividade. Esses e outros problemas, de origem psicolgica, so motivos de

    preocupao e o nmero de pessoas que admite sofrer de algum mal-estar

    psicolgico cresce a cada dia.

    Terapeutas estudam, constantemente, maneiras de lidar com os problemas

    humanos, as dificuldades de relacionamento e as desordens psicossomticas

    (sintomas orgnicos com causas psicolgicas).

    No processo teraputico a arte pode aproximar terapeuta e paciente, pois no

    processo de criao ambos esto mostrando, de forma indireta, sua individualidade

    e capacidade criativa. Parece um bom comeo para um tratamento que pretenda um

    autoconhecimento ou uma melhora na expresso dos sentimentos e no convvio

    social. A arte, neste sentido, pode at tornar mais rpido o processo teraputico,

    pois estaria ela mesma agindo como facilitadora.

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    A arte pode ser usada em um contexto teraputico, de duas formas:

    - Uma no sentido de perceber-se o significado da arte expressa pelo

    paciente de determinada forma;

    - Outra na exteriorizao de inmeros sentimentos (ansiedade, culpa,

    frustrao, tristeza) que fazem parte do cotidiano de todos e que usam a terapia para

    encontrar sua vlvula de escape.

    Alguns objetivos do curso:

    Conhecer a histria da arte; Conhecer a histria da terapia (psicoterapia); Conhecer as bases da arteterapia, seus elementos principais; Dialogar sobre as diversas formas de expresso artstica; Conhecer o campo de atuao da arteterapia em diferentes contextos; Exercitar a observao e a degustao de diversas formas de arte e

    de obras de artistas de diferentes pocas e gneros;

    Elaborar uma sesso de arteterapia; Visualizar modelos de interveno arteteraputica.

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    1 FUNDAMENTOS DA ARTE E DA TERAPIA

    Inicialmente, vamos desmembrar a palavra objetivo de nosso estudo e

    aprofundar nossos conhecimentos nas reas especficas: ARTE e TERAPIA.

    Procurando dar bases histricas, filosficas e cientficas para as palavras chaves

    deste curso.

    1.1 O QUE ARTE?

    Muito se comenta sobre o fazer do artista, as obras de arte, mas, afinal de

    contas o que arte?

    Segundo o conceito do dicionrio Michaelis, arte a "execuo prtica de

    uma ideia (...) complexo de regras para a produo de um efeito esttico

    determinado. Esse conceito elucida que o trabalho artstico nasce de um

    pensamento do artista, o qual transmite uma emoo e desperta sensaes no

    observador.

    Segundo o dicionrio Houaiss, arte a "produo consciente de obras,

    formas ou objetos voltada para a concretizao de um ideal de beleza e harmonia ou

    para a expresso da subjetividade humana".

    Vamos testar esse conceito? Ser que realmente as imagens de uma obra

    de arte podem despertar sentimentos, emoes?

    Abaixo, seguem duas imagens de artistas consagrados mundialmente.

    Vamos ver se voc consegue perceber que tipo de reao a imagem desperta em

    voc.

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    FIGURA 1 A PONTE JAPONESA DE GIVERNY DE CLAUDE MONET

    FONTE: Disponvel em: Acesso em: 23 jan. 2009.

    Olhe com ateno as imagens, os detalhes, as cores, o cenrio utilizado

    pelo artista. Analisar uma obra de arte sempre um exerccio de conhecimento e

    sensibilidade que alarga nossa compreenso do real. E tal fato, prova mais do que

    suficiente do abismo que existe entre o instinto e a razo humana.

    O instinto, do latim instinctu, algo inato ao ser vivo, um tipo de inteligncia

    no seu grau mais primitivo. Ele guia o homem e os animais que possuem

    um grau mais elevado em sua trajetria pela vida, nas suas aes, visando

    justamente a preservao do ser. (SANTANA, 2007).

    Assim, instinto diz respeito a um comportamento dominado por reflexos e a

    estruturas biolgicas hereditrias. Isso faz com que o comportamento de um inseto

    seja praticamente igual ao de outro de sua espcie, hoje e sempre.

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    Depois da breve observao, vamos passar para a prxima imagem,

    trabalhando no sentido de aumentar nossa compreenso de arte, de mundo e de

    subjetividade.

    FIGURA 2 O GRITO DE EDVARD MUNCH (1893)

    FONTE: Disponvel em:

    Acesso em: 17 jan. 2009.

    E esse quadro, qual impresso ele lhe causa, em que o autor pensava ou o

    que ele sentia ao pintar essa figura?

    E ento como foi a experincia? Foi possvel perceber as relaes entre

    observador e imagem?

    Ao fixarmos os olhos na imagem, por mais que no tenhamos conscincia,

    diversos sentimentos, ideias e pensamentos surgem, quase que automaticamente.

    A Figura 1, uma tela de Claude Monet (1840-1926), artista francs, faz parte

    da srie Ninfeias, fase em que o pintor se dedicava pintura de flores do jardim de

    sua prpria casa. Neste momento da vida artstica, Monet reflete em suas telas um

    ambiente de paz, natureza, vida, luz. As obras de Monet permitem que se mergulhe

    no universo da pintura, fica fcil se transportar para a cena exposta e sentir a

    emoo de estar ali, participando da imagem.

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    As telas de Monet causam realmente uma impresso, no tem como ficar

    indiferente, o trabalho com as cores, as luzes, os reflexos e as sombras, causam um

    impacto.

    Na fase em que se dedicou pintura de lrios (1914-1922) o artista revelou

    uma enorme habilidade no trabalho com nuances e luzes. Algumas obras de Monet

    fazem uma ponte entre o real e o abstrato, pois partem de uma beleza real que os

    olhos veem para uma beleza que se consegue apenas com o treino na observao e

    na capacidade de deixar o pensamento fluir para alm da percepo visual, rumo ao

    imaginrio criativo, e esse mais um encanto nas suas obras, as quais permitem

    serem visualizadas de vrias formas, de acordo com as particularidades do

    observador. A impresso de visualizar a cena ao vivo e em cores. Quanta

    singeleza e quanta perfeio.

    As paisagens representadas so passagens para outro mundo, outra vida,

    uma vida mais tranquila, menos estressante, com ar mais puro, flores, tempo para

    descansar, cheiro de mato, som de gua jorrando...

    E quanto ao segundo quadro (Figura 2), uma obra de Edvard Munch (1863

    1944), pintor expressionista (estilo este que preserva mais a expresso das ideias e

    sentimentos do artista do que a prpria realidade). As cores so utilizadas no sentido

    de dar vida aos sentimentos do artista. O sentimento de angstia e dor que se tem

    ao olhar para o quadro no mera coincidncia. A tela parece retratar fielmente

    como Munch sentia-se na ocasio, retrato de sua revolta e desespero frente aos

    infortuitos que a vivncia terrena lhe proporcionava.

    Munch recebeu do pai uma educao extremamente rgida, para seguir a

    carreira artstica acabou rompendo laos com o patriarca da famlia e seguindo para

    Oslo na Noruega. Desde muito cedo, a imagem sinistra da morte deixou marcas em

    sua vida, ainda na sua infncia assistiu a morte da me, mais tarde perdeu duas

    irms. A doena tambm o assombrou, sua irm mais nova teve uma patologia

    psiquitrica e ele prprio vivia muito doente.

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    A figura humana, aparentemente desestruturada, doente, retratada em O

    Grito mostra o desespero de ver o mundo se desfazendo em uma grande fria,

    (note os tons de vermelho no cu) a perenidade da vida e a incapacidade frente

    morte. Certamente este cenrio capaz de retratar a impresso que se tem quando

    um ente querido vem a falecer. Ns, ali, estagnados no caminho da vida, e a morte

    roubando, sem misericrdia alguma, algum importante em nossa vida.

    A morte uma imposio desleal ao ser humano, pois no oferece trgua ou

    recursos adicionais para o combate, no se pode fazer nada, apenas se conforma,

    ou se desespera. Por ser, assim, to carrasca e provocar diversos sentimentos de

    dor, esse tema retratado frequentemente por inmeros artistas.

    Munch conseguiu uma maneira de sublimar toda essa angstia por meio da

    pintura. O que restava a ele, seno pintar o seu grito, a sua dor? A ansiedade

    demonstrada no apenas no semblante do personagem, mas tambm no fundo,

    todo estremecido pelo grito, uma percepo de mundo bastante distorcida pelos

    sentimentos de quem vive em grande sofrimento.

    A arte por seu aspecto subjetivo permite diversas interpretaes, aqui

    apresentamos uma delas, mas alguns estudiosos da obra de Munch acreditam que o

    que retratado no quadro um episdio de Tsunami e uma erupo vulcnica (o

    vermelho representaria a lava). Neste caso, o desespero representado seria das

    pessoas da regio da tragdia.

    Contudo, provavelmente todos concordam que a angstia, a doena e a

    morte so temas muito presentes em sua obra.

    Trabalhar com a morte cria um clima de melancolia e tristeza, entretanto o

    terapeuta deve tomar contato com esses temas, pois durante seu trabalho clnico

    provavelmente vai se deparar com diversas psicopatologias que iniciaram com a

    morte de uma pessoa querida.

    Pausando nossa viagem pelas telas desses dois grandes pintores, voltemos

    ao conceito de arte.

    No seu original a palavra arte vem do latim e equivale ao verbete grego

    tkne. A arte no sentido amplo significa o meio de fazer ou produzir alguma coisa,

    sabendo que tkne se traduz em criao, fabricao ou produo de algo.

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    De certa forma, as obras de arte tambm so formas de compreender a

    realidade, dentro de uma dimenso histrica, social e cultural.

    Portanto, por mais que tenhamos diferentes reflexes sobre o que arte,

    no possumos uma definio ou um conceito completo, definitivo e acabado. As

    concluses so baseadas nos conhecimentos e vivncias acumuladas ao longo da

    existncia, determinadas em grande parte pelas transformaes sociais.

    O desenvolvimento da arte no est enraizado em seu tempo, na realidade,

    ele ultrapassa a dimenso da histria e do contexto social, dinamicamente acaba

    adquirindo formas de acordo com a percepo do observador e pela sociedade

    qual ele pertence. Podemos afirmar que ela feita duas vezes, uma pelo artista e

    outra pelo observador e assim se estabelece uma relao, vejamos o diagrama

    abaixo:

    Observando o diagrama percebe-se que a relao cclica, pois a obra do

    artista recebida pelo pblico de acordo com o contexto social e cultural, mas a

    inspirao para a execuo da obra tambm surge das influncias scio-histricas

    de determinada poca.

    Esse um conceito bastante amplo e significativo, pois permite que a arte

    seja entendida, considerando, por um lado as experincias emotivas e cognitivas de

    cada espectador e, por outro, o contexto social, histrico, poltico e cultural, tanto de

    OBRA

    ARTISTA

    PBLICO

    CONTEXTO SOCIAL

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    produes quanto de anlises processuais das diversas reas da expanso artstica:

    artes visuais, msica, teatro ou dana.

    1.2 A ARTE E SUA INFLUNCIA NA SOCIEDADE E NA CULTURA

    Pela arte pensamentos tomam forma e ideais de culturas e etnias tm a

    oportunidade de serem apreciados pela sociedade no seu todo. Assim, o conceito de

    arte est ligado histria do homem e do mundo, porm no est preso

    necessariamente a determinado contexto, essencialmente mutvel.

    Para exemplificar, voltemos algumas dcadas no tempo e analisemos como

    a arte era entendida antigamente. Como ser que nossos bisavs definiriam a arte?

    Possivelmente, na poca, fosse difcil pensar em uma arte digital, ou no

    desenvolvimento de uma ciberarte (manipulao das novas tecnologias e mdias

    atuais para a construo de objetos artsticos), mas hoje esse fator determinante

    para compreendermos a arte num sentido mais amplo e completo.

    Tudo passa pelas tecnologias e a humanidade est marcada pelos desafios

    polticos, econmicos e sociais decorrentes de uma nova configurao da

    realidade, em que campos da atividade humana, esto utilizando

    intensamente as redes de comunicao e a informao computadorizada

    (SANTOS, 2006).

    O conceito de obra de arte uma construo social, no pode ser um

    trabalho isolado. A arte possibilita um dilogo com quem a observa, cria situaes

    que podem se tornar desafiantes para o apreciador e, algumas vezes, os materiais

    utilizados na prpria composio propem uma reflexo sobre o significado da arte.

    Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo de arte. Porque a

    funo da arte varia de acordo com as exigncias colocadas pela nova

    sociedade; porque uma nova sociedade governada por um novo esquema

    de condies econmicas; e porque mudanas na organizao social e,

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    portanto, mudanas nas necessidades objetivas dessa sociedade, resultam

    em uma funo diferente de arte (KOELLREUTTER, 1997).

    Contudo, a arte est ligada aos fatores histricos e sociais, mas dialoga

    ativamente com nossa sociedade, criando os estilos de poca, e acompanhando a

    evoluo do homem e da tecnologia.

    Quando se lida com as formas em artes visuais convive-se habitualmente

    com as relaes entre superfcie, espao, volume, linhas, cores e a luz.

    Cada um desses elementos tem suas prprias possibilidades expressivas e

    so ricos em significados, tanto em si mesmo como em relao aos demais.

    E todos eles so intermediados pelos autores e observadores ao se

    utilizarem de mtodos e tcnicas especficas para produzi-las e perceb-las

    (SANTOS, 2007).

    Ressalta-se ainda o valor de uma educao da prxis artstica, preocupada

    com o aprofundamento de conceitos, critrios e processos, considerando o universo

    de visualidade do mundo contemporneo e a complexidade do discurso visual, e

    EXPERINCIAS PESSOAIS

    PBLICO

    POLITCA

    CULTURA

    TECNOLOGIA

    SOCIEDADE

    FATORES HISTRICOS

    REALIDADE

    ARTE

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    nesse contexto, promovendo a ampliao e enriquecimento dos repertrios sensvel-

    cognitivos, aprofundando os modos de ver, observar, expressar e comunicar por

    meio de imagens, sons ou movimentos corporais.

    Muitas vezes, o primeiro contato que os indivduos tm com a arte na

    escola, nas aulas de arte, obrigatrias no currculo do ensino fundamental. Espera-

    se que os estudantes, nestas aulas, vivenciem intensamente o processo artstico, a

    fim de contribuir significativamente em seus modos de fazer tcnico, de

    representao imaginativa e de expressividade. Ao mesmo tempo, espera-se

    tambm que aprendam sobre os artistas e obras de arte de diferentes perodos,

    complementando assim seus conhecimentos na rea.

    Mas, ser possvel que o professor de artes trabalhe com as funes

    teraputicas do fazer artstico?

    O professor pode explorar, estudar e se especializar em arteterapia e, na

    medida do possvel, conversar sobre as produes de seus alunos, se algum caso

    chamar sua ateno e ele no conseguir dar conta em sala, aconselhvel que ele

    faa o encaminhamento do aluno para um atendimento psicolgico.

    A arte foi e sinnimo de expresso de sentimentos, emoes, revoltas,

    traumas... Nossa forma de ver a arte ou de fazer arte revela a compreenso que

    temos do mundo. Vejamos isso mais a fundo no Mdulo 3.

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    1.3 A ARTE COMO FONTE DO CONHECIMENTO E DA EXPRESSO

    HUMANOS

    Nosso mundo essencialmente visual, estamos cercados por imagens.

    Viver nos espaos urbanos deparar-se com mltiplos estmulos visuais. No

    entanto, os apelos visuais no se limitam a espaos geogrficos. Meios de

    comunicao como a televiso e a internet fazem circular imagens em tempo real

    por qualquer lugar do mundo. Isso faz com que um episdio do Japo possa ser

    visto no Brasil paralelamente ao fato. Por isso, mesmo em uma pequena cidade

    pode-se ter acesso ao mundo todo.

    Os diversos apelos visuais interferem na compreenso que se tem sobre o

    dia a dia, a vida, o trabalho, a poltica, os valores morais e contribuem para formular

    ideias sobre lugares, culturas, fatos.

    Nosso cotidiano est povoado de imagens da mdia, propagandas, folhetos,

    fotos, imagens, reportagens, enfim, h muitas formas visuais. Todas essas formas

    correspondem a maneiras de interpretar o mundo. So maneiras de se integrar ao

    tempo e ao espao.

    As imagens postas em jogo no cotidiano instauram a necessidade de

    interpretao, isso porque so formas criadas a partir de certa cultura, dentro de

    uma ideologia, ou seja, no so neutras.

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    Ao criar uma determinada obra, o artista se vale da matria construda

    socialmente. Como parte da cultura, a arte a maneira de indicar os

    caminhos poticos trilhados por aquele grupo. Criar uma obra de arte vai

    alm da utilizao da linguagem (desenho, pintura, escultura), vai alm do

    domnio tcnico, porque criar uma forma demanda reflexo, conhecimento

    sobre o objeto. Alm disso, a obra de arte comunica ideias (PEREIRA,

    2007).

    A arte de rua, um muro grafitado, uma parede desenhada, so transmisses

    de ideias, concepes de mundo, formas de pensar.

    Os elementos de visualidade apresentam-se sempre articulados

    expressivamente e em situaes compositivas indicadas por: movimentos

    (reais ou aparentes), direes, ritmos, simetrias/assimetrias, contrastes,

    tenses, proporo, etc. E so percebidas por ns nessa totalidade, embora

    seja possvel discrimin-la quando aprendemos a fazer exerccios e anlises

    visuais. (SANTOS, 2007).

    Para fins didticos, o processo de leitura de imagens pode ser baseado na

    estrutura abaixo:

    Elementos da visualidade: ponto, linha, forma, espao, volume, textura, cor observando a relao entre eles e dando uma especial ateno

    composio, ritmo, variao, contrastes, harmonia, tenso.

    Estilo: figurativo, no figurativo, abstrato, naturalista.

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    Tcnica: desenho, pintura, escultura, gravura, grafite, instalao, fotografia.

    Artista: informaes sobre suas principais obras, traos de personalidade, curiosidades.

    Perodo: pr-histrico, antigo, medieval, moderno ou contemporneo.

    A arte uma ponte que nos leva a conhecer e expressar os sentimentos, e a

    forma de nossa conscincia apreend-los por meio da experincia esttica. Na

    arte, busca-se concretizar os sentimentos numa forma, que a conscincia capta de

    maneira mais global e abrangente do que no pensamento rotineiro (DUARTE JR,

    2000).

    Concebe-se sentimento enquanto apreenso da situao em que nos

    encontramos, que precede qualquer significao que os smbolos

    expressam. O sentir anterior ao pensar, e compreende aspectos

    perceptivos e aspectos emocionais (LANGER, 1980).

    preciso que se verifique como a arte se constitui num elemento

    teraputico; como ela prov elementos para que o homem desenvolva sua atividade

    significadora, ampliando seu conhecimento a regies que a percepo e o

    simbolismo conceitual no alcanam.

    Destaca-se a necessidade de traar uma distino entre os conceitos de

    comunicao e expresso, para melhor compreender a abrangncia destes nas

    atividades artsticas. Quando se faz referncia comunicao, comumente o termo

    traz mente a ideia de transmisso de significados explcitos, por meio da

    linguagem. Por outro lado, a expresso tem uma conotao de indicao,

    desvendamento de sentimentos.

    A imaginao o que diferencia o homem de qualquer outro ser vivo, por

    meio dela possvel transcender ao imediatismo das coisas e projetar o que ainda

    no existe. Certamente somos movidos pela possibilidade do vir a ser, a

    dimenso da utopia, a capacidade de projetar algo novo sobre as antigas estruturas

    tanto internas como externas.

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    Nesse sentido, a atividade artstica resulta de uma organizao de

    experincias individuais, pois o desenho, a pintura ou a escultura, a msica, a dana

    ou o teatro trazem importantes aspectos de um conjunto de experincias pessoais

    (do autor), organizadas em um todo significativo.

    A arte muito mais que um simples passatempo, busca-se por meio das

    diferentes expresses artsticas desenvolver uma conscincia esttica, ou seja, uma

    atitude harmoniosa e equilibrada perante o mundo, em que os sentimentos, a razo

    e a imaginao se integram.

    A conscincia esttica a busca de uma viso global do sentido da

    existncia; um sentido pessoal, criado a partir dos sentimentos e da compreenso da

    realidade circundante. a capacidade de deciso e escolha, o que exige atitudes de

    anlise e crtica para que o homem no se submeta imposio de valores e

    sentidos, mas que possa selecion-los e recri-los segundo sua prpria realidade

    existencial.

    A arte para o homem a possibilidade de manifestao de seus sentimentos

    mais complexos, projetando por meio de formas, linhas, cores, sons, gestos e ritmos

    uma nova realidade, um novo mundo.

    Um mundo onde a harmonia se estabelece a partir da utilizao de materiais

    cuja natureza se opem como, por exemplo: gua e fogo, tinta e terra,

    estabelecendo dessa forma uma relao de dependncia e continuidade entre as

    formas projetadas.

    Os espelhos so usados para ver o

    rosto, a arte para ver a alma. George Bernard Shaw (escritor irlands).

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    As relaes que se estabelecem entre os diferentes materiais, anunciam a

    possibilidade do vir a ser, algo novo surge de estruturas antigas, o resultado do

    olhar criativo, que apesar de contextos existenciais diversos consegue sonhar.

    Assim, todo fazer nasce de um sonho. O primeiro movimento do sonhar a

    idealizao, ou seja, a possibilidade de imaginar, visualizar o novo, denunciar uma

    realidade, tendo em vista a realidade vivenciada e a realidade sonhada.

    Nesse sentido, a ao do arteterapeuta de grande responsabilidade, pois

    trata de contedos subjetivos e carregados emocionalmente. A funo desses

    profissionais parece ser duplamente desafiadora, j que tambm precisam ser

    consideradas, durante o processo, pois complexas questes da subjetividade de

    cada homem e mulher, coparticipantes na rdua tarefa de reconstruir os caminhos

    da prpria sensibilidade, emoo e intuio (SANTOS, 2006).

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    1.4 A ARTE E A REALIDADE SOCIAL

    Diferentemente de outros meios de comunicao e expresso, a arte torna a

    vida e o cotidiano rico em significados, mesmo quando no h uma conscincia clara

    disso.

    Sujeito e objeto se fundem em uma nica composio, afirmando para o

    mundo, que h beleza nas diferenas, que a beleza emerge de diferentes formas e

    necessita do diferente para estabelecer uma nova forma.

    O que se busca nas atividades artsticas promover ao homem maior

    liberdade para a autoexpresso, libertando-se de amarras que o impedem de ser

    completo e viver plenamente sua condio humana.

    Mesmo que aparentemente existam animais mais livres da dependncia dos

    instintos ou reflexos automticos, podemos dizer que existe um grande abismo entre

    o comportamento dos animais e o dos seres humanos. Para dar um s exemplo,

    mesmo o chipanz mais evoludo possui apenas rudimentos do que permitiria

    desenvolver a linguagem simblica e tudo o que dela resulta: aprender, reelaborar o

    contedo aprendido e promover o novo (inveno).

    Isso quer dizer que a vida animal , em grande medida, uma repetio do

    padro bsico vivido por sua espcie. J o ser humano tem, individualmente e como

    espcie, a capacidade de romper com boa parte do seu passado, questionar o

    presente e criar a novidade futura. E a arte prova disso, ou melhor, a arte pode

    servir como instrumento de interpretao deste universo cultural humano que o

    distingue dos outros seres vivos na face da terra.

    H estudiosos que veem na obra de arte uma manifestao pura e simples

    da sensibilidade do artista. Outros a encaram como uma atividade plenamente

    ldica, gratuita, livre de quaisquer preocupaes utilitrias ou condicionamentos

    exteriores a sua produo artstica.

  • 22

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    No preciso negar totalmente a validade de cada uma dessas concepes

    para reconhecer na atividade artstica outra caracterstica importante: o fato de que a

    arte um fenmeno social. Isso significa que praticamente impossvel situar uma

    obra de arte sem estabelecer um vnculo entre ela e determinada sociedade

    (MAGALHES, 2008).

    A arte um fenmeno social, pois o artista um ser social. Como ser social,

    o artista reflete na obra de arte sua maneira prpria de sentir o mundo em que vive,

    as alegrias e as angstias, os problemas e as esperanas de seu momento histrico.

    Tais mudanas na arte refletem as transformaes que se processam na

    realidade social. A arte evidencia sempre o momento histrico do homem, cada

    poca, com suas caractersticas, contando o seu momento de vida faz um percurso

    prprio na representao, como questo de sobrevivncia (SANTOS, 2006).

    MOMENTO HISTRICO

    SOCIEDADE

    ARTISTA

  • 23

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    O pensador hngaro Georg Luckcs (1885-1971), afirma o seguinte

    conceito: Os artistas vivem em sociedade e queira ou no existe uma influncia

    recproca entre ele e a sociedade. O artista queira ou no se apoia numa

    determinada concepo do mundo, que ele exprime igualmente em seu estilo.

    A obra de arte percebida socialmente pelo pblico por mais ntima e

    subjetiva que seja a experincia do artista deixada em sua obra, esta ser

    sempre percebida de alguma maneira pelas pessoas. A obra de arte ser,

    ento, um elemento social de comunicao da mensagem de seu criador.

    No que diz respeito ao artista, as relaes de sua arte com a sociedade

    podem ser de paz e harmonia, de fuga e iluso, de protestos e revolta.

    Quanto sociedade considerando principalmente os rgos do Estado,

    seu relacionamento com determinada arte pode ser de ajuda e incentivo ou

    de censura e limitao atividade criadora (MAGALHES, 2008).

    Como fenmeno social, a arte possui, portanto, relaes com a sociedade.

    Essas relaes no so estticas e imutveis, mas, ao contrrio, so dinmicas,

    modificando-se conforme o contexto histrico (MAGALHES, 2008.). E envolvem

    trs elementos fundamentais: a obra de arte, o seu autor e o pblico. Foram-se em

    torno desses trs elementos os vnculos entre arte e sociedade num vasto sistema

    solidrio de influncias recprocas.

    Entende-se que a arte capaz de fazer flexibilizar pensamentos e relaes,

    em que o criador sempre capaz de conectar e mudar as interaes produzidas no

    mundo da imagem pr-concebida. Percebe as transformaes e se percebe

    transformador.

    De certa forma, a esttica migra para a vida do sujeito preparando-o para o

    entendimento e para a resoluo, tornando-o cidado, consciente de si e espelho

    para o outro, utilizando-se de sua iniciativa e poder de deciso.

  • 24

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    FIGURA 3 - IMAGEM PAUL KLEE

    FONTE: Disponvel em:

    . Acesso em: 18 fev. 2009.

    O indivduo criativo supera a capacidade de imitar, produzir fatos, conectar a

    outras relaes. As relaes criadas estaro sempre se conectando e formando

    novas tenses que o suprem para outras formaes estticas e/ou vivenciais.

    Verifica-se um cruzamento entre esttica e tica e/ou carter, quando se

    descobre que o belo pode despertar as virtudes positivas no indivduo e, por isso,

    deve fazer parte de sua educao.

    Vamos para mais uma atividade prtica?

    Olhe para a pintura abaixo e observe atentamente seus detalhes, tais como:

    As cores que foram utilizadas. A disposio da figura no espao. uma obra figurativa ou abstrata? E voc, qual a sua maneira de perceber o mundo? Que sentimentos ela melhor representaria?

  • 25

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    FIGURA 4 O NASCIMENTO DE VNUS, DE SANDRO BOTTICELLI, SC. XV

    FONTE: Disponvel em: Acesso em: 18 fev. 2009.

    A pintura de Botticelli foi feita por encomenda de Lorenzo Di Mdici para

    servir de afresco para sua residncia. A tela retrata a deusa Vnus surgindo dentro

    de uma concha em meio ao oceano, possivelmente foi inspirada na mitologia grega.

    A repercusso desta obra no foi muito positiva na poca, pois a arte era repleta de

    temas catlicos, alm de no se ater (necessariamente) a religiosidade acreditava-

    se que a obra tinha influncias pags.

    E voc que influncias pode perceber nesta obra?

  • 26

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    1.5 TERAPIA OU PSICOTERAPIA

    Nesta unidade vamos abordar a terapia propriamente dita. E neste

    momento, importante explicar o porqu da escolha da psicologia como base neste

    estudo. Levando-se em conta que o termo terapia permite inmeras formas de

    abordagem e diversos profissionais atuantes.

    De acordo com a Associao Brasileira de Arteterapia, podem atuar como

    arteterapeutas profissionais com graduao na rea de sade como medicina,

    psicologia, enfermagem, fisioterapia, etc, e que tenham curso de extenso em

    arteterapia.

    Contudo, independente da graduao que o profissional tenha cursado de

    extrema importncia que estude ou atualize seus conhecimentos em psicologia para

    dar suporte a sua atuao profissional, permitindo que o profissional esteja

    capacitado para fazer avaliaes e intervenes arteteraputicas.

    Para tanto, esse curso, permite um estudo geral da origem da psicologia e

    da sua evoluo no decorrer da histria do homem. importante para o trabalho

    teraputico que esses conhecimentos sejam ampliados, com ajuda de cursos, livros,

    especializaes. Lembrando sempre que este curso no pretende formar

    arteterapeutas, mas sim atualizar sobre os conhecimentos de arteterapia.

  • 27

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    1.6 ORIGEM E EVOLUO DA PSICOTERAPIA

    FONTE: Clip-art Word

    Um retrospecto e uma breve viso panormica da atual psicologia formam o

    contedo das consideraes iniciais desta unidade, pois de relevante importncia

    a psicologia para o desenvolvimento do trabalho do arteterapeuta.

    O termo psico tem origem grega, vem de psique , cujo significado alma. J o termo terapia, tambm de origem grega, tem o significado de tratamento ou

    cuidado com a sade. Desta forma, psicoterapia significa tratamento da alma.

    Aqueles que tratam ou cuidam de almas so os psicoterapeutas.

    Falando de uma maneira mais cientfica, poderamos dizer que: a Psicologia

    a cincia que estuda o comportamento humano e seus processos mentais, ou

    seja, estuda o que motiva, sustenta o comportamento humano, os processos

    mentais, as sensao, a emoo, a percepo, a aprendizagem, a inteligncia...

    (Disponvel em: Acesso em: 18 fev. 2009)

    Assim, qualquer disfuno comportamental ou mental objeto de estudo e

    atuao psicoteraputica.

    O homem, desde os primrdios da humanidade, vem desenvolvendo aes

    para com o cuidado com as almas e/ou mentes. O Homem dito primitivo, ou pr-

    histrico, de cerca de 5 a 10.000 anos, no conhecia a escrita e seus conhecimentos

    eram passados oralmente de gerao a gerao. De modo geral, todas as

    sociedades primitivas, viviam de forma totalmente integrada natureza.

    A concepo adotada nesta poca admitia que o ser humano era um ser

    integrado natureza e ao Cosmos. Assim, o homem era parte integrante do todo, da

  • 28

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    natureza, e tambm formado por elementos desse todo. Essa viso explicativa sobre

    a natureza humana deu origem a um sistema de explicaes para se compreender o

    mundo e o prprio homem.

    Essas explicaes ou princpios so chamados de pensamentos mticos,

    cuja preocupao dar uma explicao plausvel para a existncia de determinado

    fenmeno. Assim, por exemplo, se explica a origem do universo por mitos sobre

    Tup. O pensamento mtico caracterstico do ser humano, e mesmo hoje,

    utilizamos essa forma de pensar quando explicamos determinado fenmeno no

    tendo como base o pensamento lgico cientfico.

    As dramatizaes, os rituais, o uso de ervas, plantas e animais eram

    comuns nesta poca. Tudo para restabelecer o equilbrio entre Homem x Natureza.

    No Xamanismo, uma filosofia de vida bastante antiga, que busca o encontro

    do homem com a natureza e com seu prprio mundo interior, as prticas ritualsticas

    individuais ou coletivas, as danas tribais, os sacrifcios, entre outras, eram as

    formas de tratamento das almas, que adoeciam por perderem sua capacidade de

    integrao com a natureza. Nesse sentido, surge a arte como elemento de cura. A

    confeco de bonecos (vodus), o uso da pintura corporal e ritualstica, a confeco

    de objetos especficos para as curas ou para uso do doente, as msicas e danas

    entre outras, so elementos da arte que se associam ao tratamento da alma.

    FIGURA 5 XAMANISMO E RITUAIS

    FONTE: Disponvel em: .

    Acesso em: 18 fev. 2009.

  • 29

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    Dessa forma, a arte passa a integrar um cdigo ou uma

    linguagem a servio das necessidades humanas. A arte

    passa a ser uma forma de expresso do pensamento

    humano, de suas vises de mundo, de seus

    pensamentos, de sua forma de viver o cotidiano. A

    pintura, o desenho, a escultura (criao de objetos de

    barro, de madeira, de pedra, etc.) passam a ter um

    objetivo, no s de expresso, mas tambm de aes

    de cura.

    A partir do momento em que o homem domina a escrita, a transmisso dos

    conhecimentos toma outra dimenso, bem maior e mais abrangente. O mundo

    ocidental tem como referncia do incio desse perodo, chamado de Idade Antiga, o

    ano 600 a.C. na Grcia.

    Os primeiros pensadores gregos comearam a questionar a forma de

    explicao da natureza por princpios mticos. No era mais plausvel uma

    explicao que se baseasse apenas em suposies (Disponvel em:

    Acesso

    em: 18 fev. 2009.)

    A partir desse ponto, as coisas deveriam ser explicadas por elas mesmas,

    isso , deve-se explicar a natureza, compreendendo como ela a partir de seus

    prprios elementos. Assim, as primeiras explicaes sobre o universo, versavam

    sobre sua estrutura e formao. Buscando analisar do que as coisas so feitas e

    como funcionam que o conhecimento produzido. A esse processo denominou-se

    pensamento lgico.

    O pensamento lgico deve ser capaz no s de explicar as coisas do

    universo, mas tambm as coisas da prpria natureza humana. Pensar, por exemplo,

    qual a essncia da natureza humana. Como podemos nos conhecer? Quais so

    nossas capacidades? Quais so nossas virtudes? Como posso entender a alma

    humana?

    Para responder a essas questes os filsofos gregos passam a desenvolver

    suas teorias ou explicaes. Plato pesquisou e pensou sobre a natureza

  • 30

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    transcendente do homem. Scrates vai questionar a prpria essncia do ser

    humano, em sua famosa frase: Conhece-te a ti mesmo, que revela a essncia de

    seu pensamento. Esse perodo chamado de antropocntrico.

    FIGURA 6 PLATO E SCRATES

    FONTE: Disponvel em: .

    Acesso em: 19 fev. 2009.

    A partir desse ponto, a alma considerada como algo a ser desenvolvido,

    visto que a condio natural do homem desenvolver-se, e a condio patolgica

    ou de doena seria a incapacidade de desenvolvimento da alma. A cura para a alma

    seria a recuperao da capacidade de seu desenvolvimento, e a a filosofia teria um

    grande papel. A arte da cura est mais para o intelectual do que para as aes

    materiais. A cura da alma passa a ser dissociada da materialidade e da natureza,

    preciso entender a alma por meio de sua expresso moral (as paixes humanas) e

    por meio de seu pensamento. Da surge a ideia de que Scrates foi o primeiro

    psicoterapeuta, pois comeou a usar da indagao, do raciocnio, como forma de

    investigao e desenvolvimento da alma humana.

    O conceito sobre alma comea a mudar a partir do domnio do pensamento

    cristo, j a partir dos primeiros sculos at os anos 1200 d.C. aproximadamente. No

    chamado perodo teocntrico (Deus o centro de tudo) todo o conhecimento deve

    estar sob a perspectiva da bblia. Deste modo, a alma humana considerada como

    dissociada do corpo. O corpo o lugar do pecado, das imperfeies, do mal. A alma,

    ou esprito deve prevalecer sobre o corpo, salvando o homem do pecado.

  • 31

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    O tratamento dado para as almas doentes so

    os exorcismos, privaes (jejuns alimentares),

    sacrifcios, sangrias e flagelaes, eram as formas

    mais comuns de busca da cura para a alma doente,

    sempre buscando o fortalecimento do esprito.

    A partir do renascimento e o declnio do perodo de domnio religioso sobre a

    cincia e a arte, aos poucos as ideias sobre alma comeam a se desvincular da

    religio. O pensamento de Descartes foi primordial nesse sentido. Sua frase

    mxima: Penso, logo existo, traduz o sentido a ser dado alma a partir de ento. A

    alma passa a ser considerada como razo. O adoecer psquico passa a significar a

    perda da razo, e ento se refora o sentido de loucura como irracionalidade.

    medida que as cincias eram retomadas, os estudos

    sobre a biologia, a medicina e engenharia avanavam,

    tambm as bases para uma nova maneira de se pensar o

    psiquismo humano foram se estabelecendo.

    O crebro reconhecidamente o rgo responsvel

    pela coordenao de vrias atividades corporais, como a viso, audio e

    pensamento. Os novos conhecimentos sobre o corpo humano deram margem para

    se pensar em fenmenos especficos, tal como a memria e a percepo.

    Com o objetivo de se estudar o fenmeno de como se tem a conscincia da

    percepo dos sentidos vo surgir os primeiros psiclogos. Entre eles Wundt,

    considerado o pai da psicologia moderna. Seus estudos em laboratrios especficos

    deram psicologia o status de cincia autnoma. Assim, aquilo que era considerado

    a alma, ou psiquismo, passa a ser objeto de estudo, agora com o nome de

    conscincia do homem.

  • 32

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    FIGURA 7 WILHELM WUNDT (1832 1920)

    Os laboratrios de Wundt implantados na Alemanha em meados do sculo

    XIX foram a base para a divulgao da psicologia como uma cincia investigativa da

    conscincia humana.

    A emergncia do capitalismo, do mecanicismo e do empirismo foram fatores

    coadjuvantes para uma nova compreenso do ser humano.

    A divulgao dos conhecimentos de Wundt comea a alar a Europa e a

    Amrica. Na Inglaterra, unem-se as influncias das descobertas de Darwin (a

    evoluo das espcies) e os estudos comparativos sobre as capacidades e

    habilidades humanas comeam a se desenvolver. Cientistas como Galton elaboram

    estudos sobre a hereditariedade e as diferenas individuais.

    Nos Estados Unidos, no incio do sculo XX, influenciado pelo forte

    pragmatismo os cientistas buscaram aliar os estudos da natureza humana ao senso

    de utilidade. Surge ento a psicologia aplicada. Desse modo, a psicologia vai

    estabelecendo mais um ramo alm da investigao e passa a ser uma profisso. Os

    conhecimentos avanam, os testes psicolgicos comeam a ser aplicados nas

    empresas, no exrcito, nas escolas e por fim chega aos consultrios.

    Enquanto isso, na Europa, inicia-se a consolidao da psicoterapia por meio

    das descobertas de Freud. Em seus estudos sobre histeria e sonhos, Freud

    descobre o inconsciente, e com isso a comprovao de que nem todos os nossos

    comportamentos so conscientes e racionais, independente de a pessoa ser ou no

    doente. Todo o ser humano tem um inconsciente sob o qual construdo seu eu ou

    ego.

    FIGURA 8 SIGMUND FREUD (1856 1939)

  • 33

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    Os estudos da psicologia relevam que alguns comportamentos so ditados

    pelo inconsciente e que possvel se ter acesso a ele por meio do processo de

    anlise dos sonhos, dos atos falhos e das piadas ou chistes. A esse processo

    Freud denominou de psicanlise.

    O seu seguidor mais brilhante, Carl Jung, comea a aplicar a psicanlise em

    pacientes psicticos. No entanto, os mtodos de Freud no surtem os mesmos

    efeitos. Jung passa, ento, a utilizar outras formas de contato com seus pacientes.

    Ele prope que seus pacientes pintem, desenhem, faam esculturas, e outros tipos

    de arte para expressar seus sentimentos.

    Jung, psiquiatra e psicoterapeuta, um dos maiores estudiosos da vida

    interior e um dos precursores da Psicologia Profunda, descobriu que o inconsciente

    e os conflitos e traumas podem ser expressos pela arte. Entre 1907 e 1912,

    colaborou com Freud a ponto de ter sido cogitado pelo mestre Sigmund como seu

    sucessor.

    FIGURA 9 CARL JUNG (1875 - 1961)

  • 34

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    Jung revela a funo do simbolismo nas artes e nas expresses do

    inconsciente. Identifica que h temas universais comuns a todos os homens,

    independente de origem, idade ou cor. Os arqutipos seriam expresses desses

    temas, tal como os relacionados s funes de me (o oceano, por exemplo) e de

    pai (o sol, por exemplo).

    Jung tambm passa a investigar os mitos (lembram do pensamento mtico

    mencionado no incio do texto) e descobre que eles continuam sendo produzidos por

    nossas mentes, embora recontextualizados.

    FIGURA 10 QUADRO SINTTICO DAS RAZES DA PSICOLOGIA (FREIRE,1998)

  • 35

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

  • 36

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    1.7 IMPORTNCIA E UTILIZAO DA PSICOLOGIA E DA ARTETERAPIA

    No contexto atual, estamos permeados pela necessidade de agilidade, perfeio,

    tolerncia, autoestima, consumo, equilbrio, sucesso, poder, beleza, bom relacionamento,

    famlia.

    Mas ser possvel em nossa formao humana preencher todos esses requisitos?

    Possivelmente no. Neste contexto surge a Psicologia, no sentido de melhorar

    nossa capacidade para tolerar frustraes, melhorando nosso convvio social, nossa

    capacidade de trabalho e por consequncia, nossa autoestima e qualidade de vida.

    As trs grandes reas de atuao da psicologia so:

    Atualmente, entende-se que essas reas de atuao se ramificam em atuaes

    mais especficas, mas tambm muito importantes dentro da ao do terapeuta, tais como:

    psicologia do trnsito, psicologia hospitalar, psicologia forense, psicologia comunitria,

    psicologia do esporte, dentre outras.

    Apenas como destaque, pois faz parte da psicologia clnica, relevante lembrar a

    psicologia de grupo ou dinmica de grupo, herana da gestalt e que constitui uma ala de

    interesse e de grande utilizao no momento. uma tcnica que usada para melhorar o

    relacionamento dos diversos membros de um grupo. Serve, tambm, para facilitar a

    discusso de problemas nas empresas, nas escolas, na famlia, etc., o que, fora de uma

    dinmica de grupo, seria difcil e complicado.

    PSICOLOGIA

    CLNICA ESCOLAR OU EDUCACIONAL

    ORGANIZACIONAL

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    Hoje comum, nas escolas, nas indstrias e em

    reas do comrcio, do desporto, etc., contar com um

    departamento de psicologia, responsvel pela aplicao

    de testes de aptido, pela orientao e ajustamento do

    grupo. A psicologia est presente em todos os ramos

    da sociedade e tornou-se parte integrante e

    imprescindvel da vida moderna. A era do profissionalismo

    trouxe a era da especializao, e os campos de atuao

    do psiclogo so, hoje, mais concretos e especficos.

    A psicologia de hoje se caracteriza pela abertura e democratizao do seu

    sistema global, o que gerou a enorme diversidade de interesse, de pesquisa, a

    multiplicidade de correntes, compondo um painel de minisistemas. O uso do mtodo cientfico

    constitui parte integrante de suas atividades, o que comprova sua identidade como cincia.

    FIGURA 11 PSICOTERAPIA EM GRUPO

    FONTE: Disponvel em:

    Acesso em: 18 fev. 2009.

    A arteterapia permite atuao em qualquer ramo da psicologia. Pode-se

    trabalhar com expresses artsticas no consultrio (nos atendimentos individuais e

    no grupo); nas escolas. A arteterapia ajuda a despertar a capacidade criativa e a

    expressividade dos alunos; nas empresas, aumenta a motivao e a interao entre

  • 38

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    a equipe. Existem pesquisas de trabalhos arteteraputicos realizados em hospitais,

    escolas, comunidades, consultrios, grupos de adolescentes, escolas especiais e

    empresas.

    Trabalhando com arteterapia muitas descobertas so possveis, desde a

    mistura de cores at a composio de imagens que comunicam emoes reprimidas

    ou desconhecidas. A alegria de tocar a argila, que materializa objetos e

    personagens.

    Segundo Philippini (1994) ser arteterapeuta partilhar do prazer:

    Prazer de participar de pontes para aqueles que j no podem ou querem

    falar, pontes frgeis ou slidas, com fios, arames, madeira ou s vezes

    apenas sonhos... Prazer de ver na metamorfose de velhas caixas, o

    surgimento de cofres, casas, castelos, configurando proteo e abrigo de

    lembranas e desejos. Prazer de ver o nascimento de criaturas fantsticas

    aparecendo de repente, das dobras de um retalho ou das muitas sobras do

    lixo domstico. Prazer, enfim, de ver surgir o novo, a possibilidade, a

    promessa. No dia a dia, sou observadora participante e privilegiada da

    abertura de novos canais de comunicao, que facilitam o acesso do

    inconsciente, atravs das mltiplas formas de expresso, da

    experimentao, criao, destruio e recriao de diferentes materiais

    expressivos. (PHILIPPINI, 1994).

    Na vida no existem somente prazeres, claro. Muitas vezes, h problemas,

    desarranjos, frustraes, tristezas, resistncias, mas as cores, as imagens

    disformes, tambm comunicam esses afetos. Assim, cabe ao arteterapeuta ajudar o

    paciente a se equilibrar entre a euforia da alegria e o sofrimento da dor, acreditando

    que o trabalho teraputico produtivo resulta de muita dedicao, desde a escolha

    adequada de materiais expressivos at o favorecimento de estratgias que

    favoream transformaes.

    Philippini (1994) afirma que um processo arteteraputico bem-sucedido

    depende da harmonia de um complexo conjunto de variveis, que facilitam a

    descoberta de si mesmo. E para isso necessrio no perder de vista que os

    processos de criao, apesar de singulares, so regidos por princpios universais e

  • 39

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    arquetpicos, e que os materiais expressivos, como veculos da criao, possuem

    propriedades teraputicas que devem ser conhecidas e respeitadas.

    Desta forma, os recursos de expresso em Arteterapia podero permitir que

    acontecimentos aprisionados no inconsciente sejam simbolizados e configurados em

    imagens, que possam conduzir conscincia informaes deste universo obscuro. A

    simbologia configurada em materialidade, leva compreenso, transformao,

    estruturao e expanso de toda a personalidade do indivduo criador.

    ----------- FIM MDULO I -----------