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  • CAPTULO 8

    TRABALHOS DO MARINHEIRO

    SEO A VOLTAS

    8.1. Definies Chamam-se trabalhos do marinheiro ou obras do marinhei-ro os diferentes trabalhos de bordo pelos quais as lonas e os cabos se prendem,so emendados ou se fazem fixos, ou, ainda, so preparados para qualquer aplica-o especial.

    Eles s podem ser bem conhecidos pela prtica intensa, mas as ilustraes,as definies e as explicaes abaixo daro uma idia e, ainda mais, mostraro autilidade de cada um. Podem ser enumerados, de modo geral, como falcaas, ns,voltas, malhas, aboaduras, botes, alas, mos, estropos, costuras, pinhas,rabichos, gaxetas, coxins e redes.

    Ns e voltas so os diferentes entrelaamentos feitos a mo e pelos quais oscabos se prendem pelo chicote ou pelo seio. Se dados corretamente aumentam deresistncia quando se porta pelo cabo; entretanto, podem ser desfeitos com facili-dade pela mo do homem. Se mal dados, podem recorrer no momento em que aplicado um esforo sobre o cabo, e so s vezes difceis de desfazer, por ficaremmordidos.

    Apresentamos neste captulo todos os ns e voltas considerados clssicosnos trabalhos do marinheiro em todas as marinhas e em todos os tempos. Algunsdeles j caram em desuso e tm apenas interesse instrutivo ou servem como orna-mento. A maioria, porm, constituda por trabalhos que, realizados por um mari-nheiro hbil, so de grande valor a bordo, pela segurana que apresentam e pelafacilidade com que so feitos e desfeitos. Quem os souber fazer estar apto arealizar qualquer amarrao nas fainas necessrias a bordo. H, certamente, outrosns e voltas e muitos outros podem ser deduzidos, mas sero mais complicados,ou menos seguros. Ao consultar as figuras e ao estudar a confeco de ns, importante tambm no esquecer que alguns nse voltas tomam aspectos diferentes quando vis-tos de diversos ngulos.

    Cabo solteiro um pedao de cabo queno tem aplicao especial e que est mopara ser empregado em qualquer mister. Tome-mos um cabo solteiro (fig. 8-1). Se a parte quevai de 1 a 2, suposta de grande comprimento,estiver portanto sob a tenso de um esforo de-terminado, ou mesmo, se apenas deu volta emum objeto, ser chamado o vivo do cabo. Qual-quer parte do cabo compreendida entre 2 e 3(passando ou no por d e b) ser chamada oseio do cabo. A parte entre 3 e 4 ser o chicote.Ao cabo que se v na figura damos um seio, ou Fig. 8-1 Cabo solteiro

  • ARTE NAVAL380

    uma dobra y. Este seio, tal como est dado, vai servir para comear alguns ns,conforme veremos adiante. O chicote 4 do cabo est falcaado (art. 8.46).

    Um cabo, passando em torno de um objeto qualquer em uma s volta decircunferncia, sem morder ou dar qualquer n, d uma volta singela. Dando duasou mais voltas de circunferncia em torno do mesmo objeto, d voltas redondas.

    8.2. Resistncia dos ns, voltas e costuras Ao fazer uma amarraoqualquer, convm lembrar-se que nenhum n, volta ou costura pode ser to resisten-te quanto o prprio cabo. A razo simples, pois enquanto no vivo do cabo o esforo distribudo uniformemente pelos cordes, no ponto de amarrao h dobras maisou menos acentuadas e h distores que ocasionam a sobrecarga do esforosobre um determinado cordo ou sobre certo nmero de fios de carreta. Por isto, seum cabo tem um n, volta ou costura, e sofre um esforo de trao demasiado, quase certo que se parta no ponto de amarrao.

    A resistncia aproximada de alguns tipos de amarrao em percentagem daresistncia do prprio cabo dada no quadro abaixo, organizada pela ColumbianRope Company, Auburn, NY, EUA, de acordo com experincias feitas em cabosnovos:

    8.3. Voltas So dadas, com o chicote ou como seio de um cabo, em torno de um objeto qualquer.

    8.4. Meia-volta (fig. 8-2) a volta usadacomumente nos embrulhos, a qual se d com o chico-te de um cabo e pode-se desfazer facilmente. Pode serdada em torno de um objeto, mas nesta forma no muito usada a bordo; pode ser dada num cabo sobre simesmo, e ento se aplica em um cabo fino, para no

    odimobaC %111

    ocesobaC %001

    omedarutsoC %001

    ohlitapasme,aces,omedarutsoC %09-59

    adnoderarutsoC %58

    axietafedatloV %67

    setocsiodeadnoderatlov,ariebiredatloV %56-07

    aiugedsiaL %06

    leifedatloV %06

    atocseedN %55

    otieridN %54

    atlov-aieM %54

    Fig. 8-2 Meia-volta

  • TRABALHOS DO MARINHEIRO 381

    deixar o chicote desgurnir de um gorne ou para no deix-lo descochar. Sua principal funo servir como base ouparte de outros ns. Muitas vezes a meia-volta apareceespontaneamente em um cabo solteiro mal acondiciona-do; convm, ento, desfaz-la imediatamente, porque,depois de apertada, difcil de ser desfeita. Um cabo commeia-volta perde mais da metade de sua fora (art. 8.2).

    8.5. Volta de fiador (fig. 8-3) Uma volta que lembrao nmero oito. Para constru-la, passa-se o chicote emtorno de a e por trs de z e depois mete-se por dentro doseio b, apertando em seguida.

    dada, por exemplo, no chicote do tirador de umatalha, a fim de no deixar desgurnir; para este fim supe-rior meia-volta, pois no fica mordido, sendo desfeitomais facilmente.

    um n simetricamente perfeito; sua aplicaoprtica restrita, mas muito usado como n ornamen-tal, por sua beleza e simplicidade de desenho.

    8.6. Cote (fig. 8-4) uma volta singela em queuma das partes do cabo morde a outra; raramente usa-do s, servindo para rematar outras voltas. Como estrepresentado na figura 8-4, serve para prender momenta-neamente o chicote de um cabo que no dever sofreresforo, e que deve ser de dimetro moderado. A figura8-5 (II ) tambm mostra um cote.

    8.7. Volta de fiel singela (fig. 8-5) So dois co-tes dados um contra o outro, de modo que os dois chico-tes saiam por entre eles e em sentidos contrrios. A figura 8-5 mostra, em trs est-gios sucessivos, como se d uma volta de fiel singela, comeando pelo chicote.

    Fig. 8-3 Volta de fiador

    Fig. 8-4 Cote

    Fig. 8-5 Volta de fiel singela

  • ARTE NAVAL382

    a volta mais usada a bordo para se passar um fielou uma adria em torno de um balastre, um olhal, ou ump-de-carneiro. til tambm para amarrar um cabo fino emtorno de um mais grosso, como por exemplo so osenfrechates amarrados aos ovns das enxrcias. A figura 8-6 mostra como se d volta de fiel singela, pelo seio do cabo.A volta de fiel deve ser empregada onde a tenso no caboseja constante. Nos outros casos deve ser rematada comum cote ou um boto.

    8.8. Volta de fiel dobrada (fig.8-7) comeada e terminada como a

    volta de fiel singela, mas, como se pode ver na figura 8-7, huma volta a mais entre o primeiro e o ultimo cote, ou seja, oprimeiro cote mordido com volta redonda.

    O grande valor desta volta que nunca recorre, e, destemodo, pode ser usada para agentar qualquer cabo em tornode um mais grosso, ou em torno de um p-de-carneiro; muitousada para dar volta aos fiis das macas nos ps-de-carneiro epara aboar um cabo (art. 8.142).

    8.9. Volta singela e cotes (fig. 8-8) Volta redonda e cotes (fig. 8-9) Um, dois ou mais cotes rematando uma volta singela ou uma volta redonda. Se fordado apenas um cote, deve-se abotoar (art. 8.64) o chicote do cabo. A volta comdois cotes no se desfaz como a anterior, mas tambm recorre, a menos que seabotoe o chicote. Os dois cotes devem ser dados no mesmo sentido.

    Servem para agentar um cabo ao anete de um ancorote, boa de umaembarcao, ao arganu de uma bia etc. A volta redonda e dois cotes pode serusada para agentar uma espia em um cabeo, mas deve-se ento colocar umpedao de madeira separando os dois cotes, ou abotoar o chicote.

    Fig. 8-8 Volta singelae dois cotes

    Fig. 8-9 Volta redondae dois cotes

    Fig. 8-6 Volta de fielsingela, dada pelo

    seio de cabo

    Fig. 8-7 Volta defiel dobrada

  • TRABALHOS DO MARINHEIRO 383

    8.10. Volta da ribeira (fig. 8-10) D-se uma vol-ta em torno do objeto e depois um cote, enleando o chi-cote em torno do prprio cabo. Serve para amarrar ummastro, uma antena e, de modo geral, objetos leves, paraiar.

    8.11. Volta da ribeira e cote (fig. 8-11) D-seprimeiro o cote, conforme a figura, e depois d-se, com ochicote do cabo, a volta da ribeira. Serve para os mes-mos fins da volta da ribeira, mas o cote d mais seguran-a, pois o objeto fica preso em duas partes. til parasegurar um madeiro que se reboca.

    8.12. Volta singelamordida, em gatos (fig. 8-12) Conforme o nome diz, um cote sobre um gato;

    logo que comea o esforo sobre ocabo, o vivo dele morde o chicote. Ser-ve para prender, com presteza, umcabo a qualquer gato fixo ou aparelhode iar. Quando demandar pouca for-a, faz-se como se v em (a); se forpreciso fora e houver receio de queo gato se abra, faz-se como se v em(b) ou em (c).

    8.13. Volta redonda mordida,em gatos a mesma volta anteri-or, com uma volta redonda em vez devolta singela, apresentando maior se-

    gurana. As voltas mordidas em gatos no so muito empregadas atualmente; prefervel fazer o balso singelo (art. 8.25) e pass-lo no gato, a no ser que o chicoteseja curto demais para dar o lais de guia.

    8.14. Boca-de-lobo singela (fig. 8-13) Serve para a amarrao provisria,pelo gato, de qualquer aparelho de iar e para amarrar qualquer cabo, pelo seio oupelo chicote, a um gato fixo. Pode-se portar o cabo pelos dois chicotes ou por umdeles somente; no ltimo caso, substitui as voltas mordidas em gatos, apresentan-do maior segurana.

    Primeiramente, dobra-se o cabo, como se v em (I ). Faz-se ento passar ochicote c por trs da parte d e por cima do seio a, entre a e b, conforme mostra a

    Fig. 8-12 Volta singela mordida

    Fig. 8-10 Voltada ribeira

    Fig. 8-11 Volta da ribeira e cote

  • ARTE NAVAL384

    linha pontilhada. Passa-se ento o gato por dentro dos dois seios a e b, conformemostra a figura em (II ). O cabo porta melhor pelo chicote c.

    8.15. Boca-de-lobo dobrada (fig. 8-14) Serve paraos mesmos fins da bo