arte educaçãoces.uc.pt/myces/userfiles/livros/1097_ensaio_arte_versus_educacao.pdf · ficha...
TRANSCRIPT
IludidosArte
versus
Maisa Antunes
Educação
Ficha Catalográfica
Lins, Claudia Maisa Antunes.
Arte versus educação. / Claudia Maisa A. Lins. Juazeiro:
Claudia Maisa Antunes Lins, 2013.
43 p.
ISBN 978-85-914921-0-7
1. Ensaios brasileiros 2. Arte 3. Educação I. Título
CDD B869.4
Bibliotecária Gerluce Lustosa CRB - 5/712
Copyright © 2013
Ficha Técnica
Contato da Autora: Maisa Antunes ([email protected])
Edição: Maisa Antunes, Edmar Conceição e Emiliana
Carvalho (www.emilianacarvalho.com)
Revisão ortográfica: Glaucineide Rodrigues
Arte Gráfica: Edmar Conceição
Impressão: Editora Fonte Viva – Fundação Aloysio PennaAv. Apolônio Sales, 1059 – Centro48601-195 – Paulo Afonso – BAFone: (75) 3501-3000 – Cel: (75) 9968-2968E-mail: [email protected]
Para Juca, que vive dentro de mim.
Há quem acredite que os artistas são
incumbidos de responsabilidade moral para com
os seus receptivos públicos. Se pretendem
produzir algo genuinamente artístico, tem que ser
uma arte que aprimore a humanidade, que sustente
normas e princípios éticos, não que os destrua.
Discordo.
Ética e estética, a meu ver, pertencem a duas
categorias distintas e devem permanecer
separadas uma da outra. Creio que o artista vende
a alma quando cede a pressões e molda sua arte de
acordo com as exigências éticas da sociedade. Tal
arte deixa de ser a criação de um indivíduo e passa
a ser um objeto de desejo da comunidade. Um
artista que se curva às convenções sociais está se
prostituindo. Isso, sim, é imoral. O conceito de
“moralidade na arte” é falacioso. A arte cujo
objetivo é convencer o espectador a adotar
determinada postura não é mais arte, é
propaganda.
(Henry Sobel)
Palavras dos Artistas................................07
Arte versus Educação..............................13
Palavras dos Artistas
- 07 -
Espírito Santo – Brasil
Entrevista em 15.08.2012
Maisa Antunes – A arte torna o artista uma
pessoa melhor?
Gilbert Chaudanne – Pode ser um bandido e ser
um grande artista. Não tem muitos casos na
profissão, graças a Deus (risos), mas o
Caravaggio era um cara violento, ele matou um
cara lá numa briga de cabaré. Era assim como nos
quadros dele. Agora, às vezes, o público identifica
o cidadão, o sujeito com o quadro. Por exemplo, as
pessoas acham que eu sou cristão, e eu queria até
ser, que se Deus existe e tal, mas não posso
responder a isso. Eu faço arte sacra; tenho um
gozo profundo quando eu faço a Madona, os
santos, sobretudo a Madona, mas eu sou apenas
um artista, eu faço imagem.
- 08 -
Lisboa – Portugal
Entrevista em 11.07.2012
Maisa Antunes – Ensina-se a arte?
Gonçalo M. Tavares – Um professor pode
ensinar História da Arte para a pessoa perceber
melhor um quadro. Pode-se ensinar a história da
Pintura. Isso se ensina. Ser artista é qualquer coisa
que não é ensinável, senão escolas produziriam
escritores, pintores e não produzem. Há uma parte
que não é explicável, não sei. É genética ou... Há
também um outro lado em que pessoas têm
talento, mas não têm disciplina. Há pessoas que
têm muita disciplina, aprendem tudo e não
conseguem ser artistas. Há pessoas que têm uma
vocação e um talento extraordinários e se não
tiverem tempo e disciplina também não fazem
nada.
Eu acho que algumas técnicas podem ser
ensinadas. Agora, ser um artista não se ensina, e é
complicado saber de onde vem. (...) Há uma coisa
que é marca comum de todos os escritores: é que
- 09 -
leram muito. Todos os escritores, em geral, leram
outros grandes escritores. Mas a questão difícil de
responder é: como entre duas pessoas que leram
muitíssimo, uma se torna um escritor e a outra não
consegue escrever? Isto é inexplicável
objetivamente. E é isso que faz com que, acho eu,
não seja possível ensinar alguém a ser artista.
- 10 -
- 11 -
Coimbra – Portugal
Entrevista em 19.06.2012
Maisa Antunes – Fale um pouco de sua vivência
com a arte.
António Franco – Minha experiência com a arte é
de subserviência, às vezes, e de rebeldia total,
sempre. Eu diria que a minha relação com a arte é
sem regras. Às vezes é uma necessidade violenta,
outras vezes é uma ignorância sutil: fechar os
olhos, passar ao lado. Tem um pouco de tudo, mas
nesse particular sou um homem feliz, muito feliz,
como poucos, porque tenho a felicidade de poder
me emocionar com coisas tão simples, com um
verso, uma frase musical. O simples toque de
alguns instrumentos, às vezes, põe-me a ferver.
Fujo, muitas vezes, quando ouço uma banda; se a
banda passa por mim, o mais certo é parar o carro
em cima do passeio e ir atrás dela.
- 12 -
Bahia - Brasil
Entrevista em 28.01.2011
Maisa Antunes – A arte torna o espectador
melhor?
Marcos Cesário – O fim da arte é a própria arte...
Tornar o espectador alguém “melhor” ou “pior” é
função de quem acredita nas cartilhas e nos
resultados sempre previsíveis. E o que faz da arte,
arte, é a imprevisibilidade, a espontaneidade. O
que a arte provoca e revela é o indivíduo e ela só
pode ser apreendida (não aprendida) pelo
temperamento temperado, pelo individualismo.
Albert Camus pode nos ajudar: “a verdade só
alcança o homem carnal pela carne. Por isso seus
caminhos são imprevisíveis”. E cada carne, cada
temperamento encontra-se ou perde-se em si
mesmo através das circunstâncias ou,
circunstancialmente, através de uma obra de arte.
Arte versus Educação
- 13 -
“O objetivo da arte não é dar prazer nem provocar dor.
O objetivo da arte é ser arte”. Oscar Wilde
por Maisa Antunes
Quando em agosto de 2011 lancei o livro, fruto
de minhas recentes inquietações, A Arte e a
Educação, com duas entrevistas - uma com um
arte-educador e a outra com um artista - eles
pareciam dizer coisas iguais com uma linguagem
diferente. Chego, hoje, à conclusão de que não era
apenas a linguagem e que há coisas diferentes que
nem de longe se parecem. A arte e a educação são
uma destas coisas.
Olhando mais de perto a relação que nossos
artistas contemporâneos mantêm com sua arte e o
mundo à sua volta, e olhando pelo retrovisor
embaçado da história, constatei, sem dificuldades,
que o artista está sempre à margem da religião, da
moral e da educação. Por quê? Talvez a
interpretação de Clarice Lispector nos ajude:
- 14 -
“Arte não é pureza e sim a purificação, arte não é 1
liberdade, e sim libertação” . Que pureza é esta?
Que libertação é esta? “Meu tomateiro parecia ter
tomates vermelhos porque assim queria, sem
nenhuma outra finalidade que não a de ser
vermelho, sem a menor intenção de ser útil. A
utilização do tomate para se comer é problema 2
dos humanos” .
Então era isso que o fotógrafo brasileiro,
Marcos Cesário, tentava me dizer naquela
entrevista em janeiro de 2011? Que o artista não
tem outro compromisso senão o de dar tomates
vermelhos? Não há outro compromisso do artista
senão chegar ao “absoluto”, a mais limpa e
perfeita forma de expressar a si mesmo refazendo
o mundo que ele sente e pressente. Sem
compromissos políticos, educacionais e éticos.
No filme Sociedade dos Poetas Mortos, o
professor interpretado por Robin Williams bem
________________
1 (A Descoberta do Mundo, 1999, p. 228)
2 (Idem, p. 317)
- 15 -
- 16 -
que poderia ser um arte-educador que conseguiu
alcançar o seu objetivo de iniciar seus alunos no
mundo da arte. Através da poesia, ele provocou no
temperamento de seus alunos uma diversidade de
encontros e desencontros, alguns felizes, alguns
polêmicos e em outros, trágicos – um processo
que Cesário talvez chamasse de “deseducação”. O
filme tem trechos poéticos e marcantes. Num
deles, o jovem Neil – um aluno que ao invés de
querer ser advogado como desejava e lhe exigia o
seu pai, que era um homem de princípios severos
- tenta renunciar a tudo para se tornar um ator de
teatro. O pai tenta impedi-lo de levar a cabo seus
desejos e anseios: o de fruir-se como artista.
Frustrado, mas não menos encantado com a ideia
de liberdade que a arte lhe transmitiu, Neil comete
suicídio.
Por falar em suicídio, talvez o caso mais
célebre seja o efeito do livro Os Sofrimentos do
Jovem Werther, do escritor alemão Goethe – uma
obra de 1774. O romance causou transtornos na
Europa daquela época porque centenas de jovens,
________________
3 (Todorov, A Beleza Salvará o Mundo, 2011, p. 184)
- 17 -
encantados com o clima belo e artístico que o livro
transmitia, eram, por este mesmo encantamento,
levados a buscar o mesmo fim do personagem do
livro de Goethe que, frustrado com a rejeição de
sua amada, cometia suicídio. Nem Goethe podia
prever isto. Era só um romance. Era só uma obra
de arte. Só? A poeta russa, Marina Tsvetaeva
defendeu, com sua poesia e com sua vida, a
insubmissão da arte ao poder da política e da
moral. “A poesia não deve servir a nada para além 3
dela – é a busca da sua própria perfeição” .
Pressionada pelo regime totalitário de Stálin,
Tsvetaeva também cometeu suicídio.
A arte talvez não seja tão “educativa” como
acreditamos poder ela ser. Talvez ela não seja tão
inofensiva.
Em sua entrevista, o pintor francês, Gilbert
Chaudanne, lembra que a arte pode até incentivar
para o mal. Ele exemplifica a afirmação com a
obra As Flores do Mal, de Charles Baudelaire, que
é “um elogio do mal, e é lindíssimo”.
- 18 -
________________
4 (1991, p. 72)
4Baudelaire, em seu livro Escritos sobre a arte ,
nos diz que “quanto mais a arte quiser ser
filosoficamente clara, mais ela se degradará e
remontará ao hieróglifo infantil; ao contrário,
quanto mais a arte se destaca do ensinamento,
mais ascenderá à beleza pura e desinteressada”.
O que Baudelaire nos afirma é que a arte não tem
intencionalidades educativas e que seu
compromisso desinteressado é com a beleza. O
norte-americano William Faulkner, quando
jovem, era um leitor voraz, um apaixonado pela
leitura, mas não conseguiu nota suficiente para se
formar pela escola secundária. Em uma entrevista
em 1956, Faulkner, já então um escritor
consagrado, fala da única responsabilidade do
escritor, do artista: “A única responsabilidade do
escritor é para com sua arte. Será inteiramente
implacável, se for bom escritor. Alimenta um
sonho. Esse sonho o angustia tanto que precisa
libertar-se dele. Até então não tem paz. O resto
________________
5 (Escritores em Ação, 1968, p. 38)
6 (Prado. In: Lopes, Adélia Prado: uma entrevista, 1995, p. 16)
- 19 -
não importa: honra, orgulho, decência,
segurança, felicidade, tudo, para que se possa
terminar seu livro. Se o escritor tiver de roubar 5
sua mãe, não hesitará” . A educação quer
transformar a arte em instrumento para servir à
ética, e/ou ainda para servir de veículo de repasse
de conhecimentos. A poeta brasileira, Adélia
Prado, lembra que ninguém pode pregar nada
através da arte: “Eu não posso pregar nada
a t r a v é s d a a r t e . E l a n ã o s e d e i x a 6
instrumentalizar” .
No século XIX, Charles Baudelaire chamou a
atenção para a ocorrência nos Estados Unidos de
um “movimento utilitário que queria arrastar a
poesia como o resto”, sobre esse referido
movimento em que surg iam “poe tas
humanitários, poetas do naufrágio universal,
poetas abolicionistas”. Edgar Allan Poe provoca e
diz que a poesia “dirige-se ao sentido do belo, e
não a outro. Submetê-la ao critério das outras
________________
7 (Poe, apud Baudelaire, Edgar Allan Poe, 2008, p. 25)
- 20 -
faculdades é injuriá-la”. Para Poe, a poesia pode
até ser “subsequente e consequentemente útil”, 7
mas “não é o seu fim – isso vem como extra!” .
Em uma entrevista, o poeta brasileiro, Mário
Quintana, quando perguntado sobre a poesia de
cunho social e político, respondeu: “A poesia
engajada? Eis aí uma questão com que, em certas
épocas, costumam ser assaltados os poetas.
Impossível não levá-la em conta quando se pensa
no que fez pela abolição da escravatura um poeta
como Castro Alves. Mas querer obrigar todos a
serem Castro Alves é forte. E, convenhamos uma
boa causa nunca salvou um mau poeta. Essa gente
poderá fazer mais pelo povo candidatando-se a
vereadores. É muito de estranhar essa campanha
contra o lirismo, isto é contra 95% da poesia de
todos os tempos. Nem pense que o poeta lírico está
fora do mundo. Os sentimentos que ele canta
pertencem a todo o mundo, a toda humanidade,
são de todos os tempos e não apenas os de sua
época – independentes de quaisquer restrições de
________________
8 (Poesia Completa, 2007, p. 744-745)
- 21 -
nacionalidades, raças, crenças ou partidos
políticos. Se não é assim, depois de resolvidos os
problemas, o que seria dos poetas? Ficariam 8
simplesmente sem assunto” . Ainda neste assunto,
há poucos meses, um prefeito de uma cidade no
interior da Bahia (Brasil) estava sendo alvo de
ataques furiosos de partidários e regionalistas que
o criticavam duramente por ter mandado decorar
a entrada do parque da cidade com uma pantera
esculpida em pedra. O filósofo-fotógrafo, Marcos
Cesário, concorda com Quintana, em que os
sentimentos do artista pertencem a todo o mundo,
independente de partidos, nacionalidades e
crenças. Cesário publicou uma pequena crônica:
“O prefeito de Senhor do Bonfim, Bahia-
Brasil, o Sr. Paulo Machado, foi criticado por ter
mandado decorar a entrada do Parque da Cidade
com uma bela pantera de pedra. Os ufanistas
protestaram: Por que pantera? Tinha que ser um
bode! Estamos no sertão!. 'O nacionalismo é a
virtude dos imbecis' (Oscar Wilde). O que dizer do
________________
9 (Crônica “Sobre Militantes, Bodes e Panteras”)
- 22 -
regionalismo?
Semana passada, levei minha filha de cinco
anos pela primeira vez à cidade de São Paulo. Ela
não perguntou, afirmou: 'Pai, São Paulo são
muitos países'. Sim filha, nosso país são muitos
países. Somos africanos, chineses, italianos,
portugueses... Muitas raças, muitas espécies,
faunas. Temos muitos abutres, macacos,
elefantes, pandas, poucos sabiás, bodes, leões,
panteras e uma diversidade de antas. Filha, Arte é
'mundos no mundo'. A Arte é um corpo de Bode 9
com cara de Pantera ” .
Em uma entrevista concedida ao jornalista
Plinio Apuleyo Mendoza, o colombiano
“recriador de mundos”, Gabriel García Márquez
fala-se como socialista e como artista: “Quero que
o mundo seja socialista e acredito que mais cedo
ou mais tarde será. Mas tenho muitas reservas
quanto ao que entre nós se deu em chamar
literatura comprometida, ou mais exatamente o
romance social (...). Na realidade, o dever de um
- 23 -
________________
10 (Márquez, Cheiro de Goiaba, 1982, p.65-66)
11 (Um episódio em Porto Alegre, 2002, p. 122)
escritor, e o dever revolucionário, se quisermos, é 10
o de escrever bem” .
Em outubro de 1939, o mestre brasileiro da
crônica, Rubem Braga, diz à alma do artista, a sua
alma solitária de artista: “No fim da guerra da
Espanha dizem que foi preso na fronteira da
França um anarquista espanhol. Perguntaram-
lhe se ele estava ao lado dos republicanos. Disse
que não. Estava ao lado dos nacionalistas?
Também não. Concluíram que o homem não tinha
tomado parte da luta. Mas ele explicou orgulhoso,
com um profundo desprezo por nacionalistas e
republicanos:
- Eu tinha um fuzil-metralhadora e lutava por 11
conta própria...” .
O poeta chileno, Pablo Neruda, tão
reconhecido pelo seu engajamento social,
confessou em seu livro Confesso Que Vivi sua
busca pelo belo, sua busca pela perfeição estética
da palavra, a busca universal do artista: “Cheguei,
________________
12 (1982-83, p. 179)13 (Sobre a leitura, 2009, p .08)
- 24 -
através de uma dura lição de estética e de busca,
através dos labirintos da palavra escrita, a ser 12
poeta de meu povo” . E cada artista vai de
encontro e aos desencontros dos labirintos do seu
próprio temperamento artístico. Aí ele está só,
levado, usado. O poeta-cantor jamaicano, Bob
Marley, foi perguntado, em uma entrevista, se
usava a música em prol de causas sociais; ele
respondeu: “Eu uso a música? Não, a música me
usa”.
Na apresentação do livro Sobre a Leitura, de
Marcel Proust, José Augusto Morão aborda o
pensamento de J. Geninasca: “a literatura não
tem que defender teses, nem que argumentar em
nome de defesas dogmáticas”, ela não se inscreve
“em razão do eventual comprometimento dos
autores, mas, sobretudo graças ao potencial de
descomprometimento que ela liberta”. E diz
ainda, que a paixão poética não pode se
“degenerar em ideologia, instalar verdades a 13
partilhar, fixar objetivos ou definir condutas” .
- 25 -
Todorov nos diz que: “Esta é a verdadeira razão,
portanto, da impossibilidade de recrutar os
artistas para o serviço do Bem: seu juramento
primeiro é em vista do Verdadeiro, e, quando os
dois entram em conflito ,é este último que vence.
Assim, Goethe tinha de matar Werther: 'Aqui a lei
da arte é diametralmente oposta a lei moral. (...)
Em certos casos, a criação artística é (...) uma
necessária atrofia da consciência, essa falha
moral sem a qual a arte não existe'. Se quisermos
que a arte sirva ao bem, será porque já
renunciamos a arte. É por isso que, se você quer
servir a Deus ou aos homens, se você quer servir
em geral, fazer uma obra do bem, inscreva-se no
exército da salvação ou em qualquer outro lugar
e deixe a poesia pra lá'. Esta é a razão profunda
do suicídio de Maiakovski: ou o homem devia
vencer o poeta (como aconteceu durante sua
vida),ou o poeta leva a melhor sobre o homem,
causando assim sua morte. Ele poderia ter se
dado conta disso mais cedo: 'Pode-se ser poeta e
estar no partido? Não.'. Desde que ouve a voz do
________________
14 (Todorov, A Beleza Salvará o Mundo, 2011, p. 187)15 (O Livro das Ignorãças, 2009, p. 21)16 (Schama, 2010, p. 10)
- 26 -
mundo, o poeta se vê obrigado a lhe responder –
ou então não é poeta. Ele não é senhor de seus
pensamentos e de seus juízos; não pode,
portanto, colocá-los a serviço de nenhum 14
programa” .
O poeta brasileiro, Manoel de Barros,
expressou esta condição de liberdade artística: 15
“Poesia é voar fora da asa” . Sim, esta é a
condição do artista, “voar fora da asa”, fora dos
compromissos, voar para fora do previsível, voar
em direção ao avesso das convenções.
A arte pode agradar e agredir. Simon Schama,
em o Poder da Arte, diz que “a grande arte tem
péssimos modos”. Obras que aparentemente se
mostram silenciosas e delicadas, na verdade são
truculentas, impiedosas e astutas, “as maiores
pinturas lhe aplicam uma chave de cabeça,
acabam com a sua compostura e, ato contínuo, 16
põem-se a reorganizar seu senso de realidade” .
Talvez seja por isso que o poeta e pedagogo
________________
17 (Oscar Wilde, 1980, p. 08)18 (Todorov, A Beleza Salvará o Mundo, 2011, p. 08)
- 27 -
José António Franco confessou que sua
experiência com a arte, às vezes, é de
subserviência, e ao mesmo tempo de rebeldia
total, porque é uma relação sem regras – sempre.
Este “comunicador de beleza” afirma que a arte é
uma necessidade violenta: “A arte é contra-
natura no sistema educativo”, porque “o sistema
educativo não visa o desenvolvimento do
raciocínio divergente”.
No prefácio do seu livro, O Retrato de Dorian
Gray, Oscar Wilde afirma: “Toda arte é 17completamente inútil” . O que Wilde queria nos
dizer? “A beleza, seja a de uma paisagem, a de um
encontro ou de uma obra de arte, não remete a
algo para além dessas coisas, mas nos faz 18apreciá-las enquanto tais” .
A educação é pautada para agir a partir da
homogeneização; da uniformização dos
indivíduos. Mesmo considerando os movimentos
anticolonialistas existentes hoje na educação,
esta, oficialmente, ainda está presa a dogmas
________________
19(Henry Miller, Obscenidade e reflexão, 2004, p. 36)20 (Portugal, 2010, p. 88)21 (Oscar Wilde, 1980, p. 07)
- 28 -
morais, interesses econômicos e às exigências
burocráticas e racionalizadas de produção
intelectual, que formam e enquadram o cidadão de
acordo com as necessidades de sustentabilidade
de um sistema capitalista e utilitarista. Como a arte
é dar forma a “certas forças vitais e misteriosas 1 9
q u e p ro c u r a m e x p r i m i r - s e ” , e l a é
condicionalmente livre para nascer; recusa toda
forma de uniformização.
O poeta-escritor português, Miguel Torga,
sabia: “Não há arte onde o homem não é livre e a 20
natureza não quer” . E é sempre uma violência à
natureza do artista satisfazer as exigências éticas e
morais. O escritor irlandês, Oscar Wilde,
esclarece: “Um livro não é de modo algum moral
ou imoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis 21
tudo” . Eis aí a verdade e a condição do artista: a
estética. É justamente por isso que o artista não
tolera a opinião pública, este porta-voz da
educação e da moral de todas as épocas, a
________________
22 (F. Pessoa, Os Portugueses - a opinião pública, 2008)
23 (Cartas a Théo, 1997, p. 84)
- 29 -
22“pseudo-inteligência de épocas” . É também
Fernando Pessoa que afirma: “O essencial da arte
é exprimir; o que se exprime não interessa”.
A vida do genial escritor francês, Marcel
Proust, também não nos parece a de um homem lá
muito “ajuizado” – mandou lacrar as janelas do
seu apartamento para isolar-se do mundo real e
manteve, até sua morte, seu mundo ideal afastado
do mundo racional, real. O que diríamos de
alguém que se confina no seu próprio mundo em
nome de sua arte? Que exemplos podem tirar os
educadores de um homem como este que,
descuidando da sua já frágil saúde, abreviou sua
morte em nome de seu perfeccionismo fanático?
Contemplando a vida de Proust, entendemos
melhor a afirmação do pintor holandês Van Gogh,
que tinha frequentes surtos de loucura e, num
destes surtos, cortou a própria orelha. Numa carta
ao seu irmão Théo, Van Gogh escreve como quem 23
grita: “A arte é ciumenta” . Desse ciúme bem
________________
24 (Todorov, A Beleza Salvará o Mundo, 2011, p.106)
- 30 -
entendia e vivia o pintor Cézanne, que não falava
com quase ninguém, não se alimentava de forma
adequada e não foi ao enterro de sua própria mãe,
que tanto amava, para não interromper o ritmo
obsessivo de seu trabalho – ele“teve de se afastar
de tudo , não com desdém , mas com heroísmo de
alguém que escolhe as aparências da morte por 24
amor à vida” .
Quando estive em Vitória do Espírito Santo
(Brasil), na casa-ateliê do pintor francês
Chaudanne, que mora há 33 anos no Brasil, a
primeira pergunta que, calada e instintivamente,
fiz a mim mesma foi: “como alguém pode viver e
criar em um lugar como este!?”. Para Chaudanne,
havia uma ordem naquela “desordem” que fugia
aos meus limitados olhos. Aos meus tão educados
olhos. Como posso interpretar um homem que
respira e dorme, como ele mesmo diz, num “caos
criador”? Era, ali, no meio de tintas e telas que
estava a sua condição de criar, ali, respirando e
transpirando a recriação do seu próprio mundo.
- 31 -
Parece que a arte e os artistas não são assim
exemplos educados a serem seguidos. O que um
artista pode ensinar? Suas buscas fanáticas pelos
seus ideais estéticos? O que as obras de arte
podem nos dar? Tranquilidade? Respeito às
normas sociais? Será que as obras de arte não
podem nos perturbar, desequilibrar nossos maus
equilibrados sentimentos? Sim, a arte pode
transformar ou revelar comportamentos. Isto é
sempre algo bom? Se nos tornarmos, através do
encantamento de um quadro de Chaudanne, mais
violentos ou mais indisplicentes quanto aos
nossos deveres sociais, é uma boa transformação
dentro do quadro social? Se um daqueles retratos
encantadores e cobertos de sombras amorais, de
Marcos Cesário, nos levar a cometer atos
apaixonados e amorais?
As escolas estariam mesmo prontas para lidar
com alunos transgressores de currículos? E se a
arte não é nem moral, nem imoral, como a
educação reenquadrará os enquadramentos
provocantes do artista e fotógrafo britânico David
Hamilton e suas belíssimas imagens de
________________
25 (A Descoberta do Mundo, 1999, p. 228)
- 32 -
adolescentes se masturbando? Imagens
esteticamente encantadoras, mas amorais e
provocantes, as mesmas imagens que foram
proibidas pela moral, pela religião e pela
educação, de serem expostas em diversos países.
“O artista perfeito”, no olhar de Clarice
Lispector, é aquele naturalmente deseducado, o
que faz a lição ao contrário do ensinado. Não é o
que tem liberdade dada, é aquele que se liberta do
instituído, do convencionado, é aquele que se
torna inocente, é aquele que tem quase “todos os 25
sentidos libertos do utilitarismo” . Clarice fala,
ainda, que, mesmo se nos propuséssemos a fazer
de uma criança um artista, tendo como base a
conservação dos sentidos alertas e puros, o
verdadeiro artista não seria despertado. De acordo
com Clarice, essa criança faria arte “se seguisse o
caminho inverso”, porque o artista sente a
necessidade de transformar as coisas dando-lhes
uma realidade maior. A escritora diz, ainda, que os
desenhos expostos das crianças, por mais que
sejam belos, não se tratam propriamente de
________________
26 (Gullar, Revista de História, 2010)
- 33 -
exposição de arte. E que, por mais que as crianças
pintem como Picasso, é mais justo louvar Picasso
que as crianças porque, diferente das crianças,
Picasso não era inocente, ele tornou-se inocente.
Em outras palavras, tornou-se livre do que lhe
ensinaram a ser e fazer, transgrediu as normas da
própria pintura, ignorando os gostos e os
princípios da sociedade de sua época.
Na arte, na criação artística, não há
compromisso com o instituído, com o dito, com o
definido, com a convenção. Ao contrário da
educação – que se preocupa com a realidade, com
o convencional – “A arte existe, porque a 26
realidade só não dá conta” . O poeta brasileiro,
Ferreira Gullar, sabe o que diz. A arte transvê o
real. A educação, através de seus instrumentos
metodológico-pedagógicos, ancora-se na velha
mania de medir o quê e quanto o menino
aprendeu; de comparar os resultados em
organismos diferentes com dinâmicas singulares
que estão sempre a mudar. Um personagem do
________________
27 (O Senhor Juarroz, 2004, p. 45)
28 (O Senhor Breton, 2008, p. 15)
29 (Poema “Um Olhar”, 2006)
- 34 -
escritor português Gonçalo M. Tavares, o Senhor
Juarroz, disse ao médico quando este o queria
pesar: “Pese-me apenas quando eu acabar de 27mudar” . Assim, a criança poderia, se pudesse,
dizer aos professores: “Meçam-me quando eu
acabar de desaprender”. Se na própria educação
há situações em que os resultados são
incontroláveis, como medir os resultados do
contato visceral e contemplativo com as obras de
arte? Outro personagem de Tavares, o Senhor
Breton, esclarece: “Um verso não tem currículo”;
“um verso quando é forte e bom, vem sem nada 28
atrás, sem percurso” .
No livro Memórias Inventadas – a segunda
infância, Manoel de Barros lembra a namorada
que via, que transvia certo de um modo errado. “O
que ela via não era uma garça na beira do rio, o 29
que ela via era um rio na beira da garça” . O olho
torto do poeta é como o olho da namorada de
________________
30 (Schama, O poder da arte, 2010, p. 11)
31 (Uma biblioteca da literatura universal, 2010, p. 56)
- 35 -
Manoel, despratica as normas, transvê o mundo. A
educação vê a garça na beira do rio, a arte vê o rio
na beira da garça, assim “a arte não reproduz o
que há de conhecimento no mundo visível, mas o 30substitui por uma realidade que é toda dela” .
A escola pode até ser mais um lugar para
compartilharmos e contemplarmos obras de arte,
contemplar sem compromissos educativos e
curriculares. Hermann Hesse nos transmite este
gozo contemplativo: “os livros querem ser
gozados e amados com calma e seriedade. Só
então nos revelarão as suas íntimas belezas e 31
virtudes” . Infelizmente, o sistema educacional
escolar violenta nossa individualidade. Este
mesmo genial escritor alemão teve problemas de
adaptação à vida escolar. Em curto espaço de
tempo muda de escola, mas isso só reforça seu
mal-estar, com consequências orgânica e
psicológica. “Embora Hesse de início parecesse
encantado com sua nova posição de estudante em
Maulbronn, dentro de meio ano fugiu da escola e
________________
32 (Ziolkowski apud Hesse, Minha Vida, 1976, p. 16)
- 36 -
teve de ser trazido de volta pelos guardas da força
pública local. De março a maio de 1892, sua
saúde piorou e ele entrou em estado de espírito de
tal abatimento e abjeção que os pais finalmente o
retiraram de Maulbronn. Se pudermos acreditar
em 'autobiografia resumida', os problemas
escolares de Hesse podem em parte ser explicados
por sua decisão, tomada aos treze anos, de tornar-
se escritor – ofício, ao que observa, para o qual
não existe qualquer currículo prescrito. Por ano e
meio foi mandado de uma escola para outra, mas
tais mudanças levaram apenas à tentativa de
suicídio e ataques cada vez mais fortes de dor de
cabeça e vertigem. No outono de 1893, Hesse
suplicou aos pais que simplesmente o tirassem da
escola e assim, com dezesseis anos, encerrou sua 32
educação formal” .
Há de se considerar, também, que a escola tem
dificuldades de lidar com o indivíduo,
principalmente se ele for criativo, sendo ele artista
ou não, porque foge ao controle das
________________
33 (Galeano, Espelhos, 2008, p. 242)34 (501 Escritores, 2009, p. 623)35 (Simplesmente Drummond, 2002, p. 25)
- 37 -
previsibilidades das ações pedagógicas. O
cientista Thomas Edison, que patenteou mais de
mil invenções, dentre elas, a lâmpada
incandescente, a locomotiva elétrica, o fonógrafo
e o projetor de cinema, quando ainda era garoto
foi rejeitado pela escola. O professor justificou: 33
“Esse menino é oco” . Já o poeta brasileiro,
Carlos Drummond de Andrade, foi expulso do
Colégio dos Jesuítas sob a justificativa de 34
“insubmissão mental” . Talvez este episódio
tenha colaborado para que, mais tarde,
Drummond retratasse uma escola, um
“Professor” ideal: “O professor disserta\Sobre
ponto difícil do programa.\Um aluno
dorme,\Cansado das canseiras desta vida.\O
professor vai sacudi-lo?\Vai repreendê-
lo?\Não.\O professor baixa a voz\Com medo de 35
acordá-lo” .
A escola não soube identificar o espírito
criativo e inquieto no olhar do menino Marcos
________________
36 (Revista Cult, nº 155, p. 47)
37 (Carta de Exupéry para sua mãe Buenos Aires, 1939. In: O Pequeno Príncipe – Los Vibros Mas Pequenos Del Mundo, desde 1970, Editora Pedro Alberto Briceño Polo)
38 (Quarto livro de crônicas, 2011, p. 93)
- 38 -
Cesário. A cultura da homogeneização, de que
todos devem ser iguais, não o compreendeu. A
escola o rejeitou e o expulsou.
O cineasta brasileiro, Glauber Rocha, também
não conseguiu se adaptar ao ritmo escolar. Depois
de sucessivas expulsões dos estabelecimentos de
ensino, pediu a sua mãe: “Mãe, me ensine a ler e 36escrever, e com o resto eu me viro” .
O escritor francês, Antoine Saint-Exupéry,
sofreu com os castigos que lhe eram aplicados
constantemente na escola. Já adulto, o autor do
Pequeno Príncipe lembra destes tristes episódios
numa carta escrita para sua mãe: “Quando era
menininho e voltava a casa com minha caderneta
de colegial às costas, chorando porque me tinham
castigado, bastava-me beijar-te para esquecê-lo 37
tudo...” .38
Em sua crônica “Já escrevi isto amanhã” ,
________________
39 (Wilde, A Alma do Homem Sob o socialismo, 2008, p. 63)
- 39 -
António Lobo Antunes, sensível escritor
português, confessa “nunca escrevo em folha de
papel pautado porque me lembra a escola”. Papel
pautado lembra um professor intolerante a puxar
os pelos do nariz e a berrar: “Diz o predicativo do
sujeito, idiota”. Lobo Antunes e os colegas a
gaguejarem duvidosamente o nome do
predicativo do sujeito, ouviam a voz tirânica:
“Nunca hás de ser ninguém na vida”. E o poeta, na
sua introspecção, reflete: “o fato de o nome
predicativo do sujeito me impedir de ser alguém
na vida preocupava-me”.
Arte versus Educação é uma breve reflexão,
um convite humilde a contemplarmos pontos
controversos presentes no conceito e no próprio
fazer da disciplina Arte-Educação: “Se um homem
aborda uma obra de arte com a intenção de
exercer autoridade sobre ela e o artista, ele a está
abordando com um tal espírito que lhe impede 39
receber dela a impressão artística” .
Podemos concluir que a arte não se submete a
- 40 -
currículos. Nós, professores, precisamos buscar o
caminho para sermos “comunicadores de beleza”.
O que é ser comunicador de beleza? É encantar,
compartilhar a poesia expressada nas diferentes
formas artísticas, possibilitar, sem cobrança de
notas, uma contemplação estética e, com sorte,
provocar, nos raros e talentosos, um encontro com
sua vocação. Reconheçamos nossa limitação: não
somos artistas, tampouco formadores de artistas,
somos p ro fe s so re s , comun icado re s . . .
Contempladores? Acredito que isto podemos ser,
contempladores e comunicadores de beleza, a
mesma beleza que pode comunicar e provocar a
dor... Como podemos prever?
Em uma palestra proferida em Manchester, em
10 de julho de 1857, o escritor britânico, John
Ruskin, afirmou: “Sempre faz-se necessário
descobrir o artista, e não fabricá-lo. Fabricar um
artista é tão pouco possível quanto fabricar ouro.
Você pode encontrá-lo e refiná-lo; desencavá-lo
em estado bruto, como a pepita que se extrai do
riacho, trazê-lo pra casa e transformá-lo em
________________
40 (A Descoberta e a Aplicação da Arte, 2004, p. 39)
- 41 -
moeda corrente ou em baixela, mas você não pode
gerar do nada nenhum grânulo dele. Certa
quantidade de inteligência artística é nascida a
cada ano em toda nação, maior ou menor de
acordo com a natureza e o refinamento da nação
ou raça humana; mas trata-se de uma quantidade
fixa anual, impossível de ser aumentada por um 40
único grânulo” .
O poeta e pedagogo, José António Franco, é
um comunicador de beleza. Reconhece que não
tem pretensão de formar artistas. Como poeta, ele
sabe que isto é impossível. O que Franco quer é
comunicar e compartilhar poesia e o que ele não
quer “é que de modo algum as crianças se afastem
do direito de fruir a poesia”. Isto eu também não
quero. Mas nós, os professores, é que não
podemos prever os resultados de cada obra de arte
em cada aluno, em cada indivíduo. Nós somos
professores e não videntes. Podemos ver, mas a
arte, não o artista, porque o próprio artista quando
tenta impor funções à sua obra só consegue
- 42 -
rebaixar a beleza instintiva de sua criação. A arte,
sim, transvê. A educação é levada a afirmar que
“um mais um será sempre dois” e uma obra de arte
pode querer nos dizer que “um mais um é igual a
três”. A arte é como um tomateiro de Clarice
Lispector. O que importa para o tomateiro é
transmitir naturalmente “tomates vermelhos”. Se
o tomate for rejeitado, devorado, degustado ou
vomitado, não é problema do tomateiro. Talvez
possamos concluir esta breve reflexão assim: se a
arte vai ser rejeitada, devorada, degustada ou
vomitada, não é problema da arte ou dos artistas,
tampouco um problema nosso, os educadores.
Arte versus Educação
Maisa Antunes
- 43 -
Arte
Maisa Antunes
versus
Educaçãodar prazer nem provocar
ser arte”.
dor. O objetivo da arte é
“O objetivo da arte não é