(art) kaleff geometrias não-euclidianas na educação bàsica utopia ou possibilidade

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GEOMETRIA

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  • X Encontro Nacional de Educao Matemtica Educao Matemtica, Cultura e Diversidade

    Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

    Anais do X Encontro Nacional de Educao Matemtica Palestra

    1

    GEOMETRIAS NO-EUCLIDIANAS NA EDUCAO BSICA:

    UTOPIA OU POSSIBILIDADE?

    Ana Maria M. R. Kaleff

    Universidade Federal Fluminense

    [email protected]

    Resumo: Apresenta-se uma reflexo sobre a pertinncia da incluso de contedos

    introdutrios s geometrias no-euclidianas na educao bsica, a qual pode ser

    considerada como uma utopia ou como uma possibilidade. Tal incluso extrapola o mbito

    da Matemtica, alcanando as polticas educacionais orientadoras da escola e da formao

    do professor. Com essa reflexo, busca-se repensar o ensino da geometria escolar com

    vistas a se levar o aluno, ainda no Ensino Mdio, a observar outros contedos geomtricos

    para alm dos conhecimentos e paradigmas propostos por Euclides. Apresentam-se

    aspectos da histria das geometrias e duas diferentes concepes de prticas pedaggicas: a

    vigente nas licenciaturas e a proposta pelos Parmetros Curriculares Nacionais. Abordam-

    se as conseqncias dessas concepes para o ensino das geometrias, euclidiana e no-

    euclidianas. Seguem-se observaes sobre a importncia das imagens visuais e mentais, e

    da utilizao de diferentes linguagens para representar conceitos matemticos em uma

    sociedade cada vez mais influenciada pelas mdias visuais. Finaliza-se apresentando

    algumas tentativas de incluso dessas geometrias na escola bsica e como elas se

    encontram nos livros didticos do Ensino Mdio mais requisitados pelas escolas pblicas.

    Palavras-chave: Educao Bsica, Geometria Euclidiana; Geometrias no-Euclidianas;

    Livros didticos.

    INTRODUO

    O objetivo da presente contribuio apresentar uma reflexo sobre a pertinncia

    da incluso de contedos das geometrias no-euclidianas na educao bsica. Esta reflexo

    no se restringe ao mbito do conhecimento matemtico, mas envolve implicaes para as

    polticas educacionais que orientam tanto a ao docente nas escolas como a orientao

    pedaggica subjacente s prticas vigentes na formao do professor de Matemtica.

    Para essa reflexo, sero consideradas algumas implicaes relacionadas a duas

    concepes de prticas pedaggicas, a que habitualmente se encontra nos cursos de

    licenciatura e outra decorrente de uma proposta governamental para a orientao da ao

    do professor na escola bsica. Cada uma dessas prticas interfere em como so utilizadas

    as figuras no ensino das geometrias, euclidiana e no-euclidianas. Por outro lado,

    analisam-se aspectos relacionados ao papel das imagens visuais e mentais na histria da

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    construo dos conceitos matemticos. Para efeito de ilustrao, so apresentados alguns

    modelos de geometrias no-euclidianas possveis de serem utilizados na escola. Segue-se

    uma smula dos resultados de dois estudos realizados na UFF nos quais se analisou como

    se encontram os contedos no-euclidianos nos livros recentemente mais solicitados ao

    Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar (FNDE), atravs do Programa Nacional do

    Livro do Ensino Mdio (PNLEM).

    O SURGIMENTO DAS GEOMETRIAS NO-EUCLIDIANAS

    Desde a poca em que foi elaborado, aproximadamente 300 a.C., at o sculo XIX,

    o mtodo axiomtico desenvolvido por Euclides em Os Elementos foi muito bem

    considerado entre os filsofos e matemticos. No se pode colocar em dvida que essa

    obra representa a contribuio mais importante da Antiguidade para o desenvolvimento das

    Cincias, pois a geometria euclidiana (GE) tornou-se a forma de os estudiosos,

    interessados em entender a natureza e o meio ambiente, descreverem e apresentarem as

    caractersticas do nosso universo fsico. A GE considerada como uma janela para o

    entendimento do mundo a nossa volta (MLODINOV, 2004). No entanto, o Quinto

    Postulado da Geometria Euclidiana sempre foi alvo de crticas, devido a ser uma

    afirmao de redao muito elaborada e de difcil interpretao, como aponta a primorosa

    traduo de Irineu Bicudo:

    E, caso uma reta, caindo sobre duas retas, faa os ngulos interiores e

    do mesmo lado menores do que dois retos, sendo prolongadas as duas

    retas, ilimitadamente, encontrarem-se no lado no qual esto os menores

    do que dois retos (EUCLIDES, 2009).

    Muitos estudiosos da Histria das Cincias e da Matemtica consideram que a

    forma moderna de raciocnio cientfico surgiu com a criao das geometrias no-

    euclidianas no incio do sculo XIX, por meio das vrias tentativas dos matemticos de

    negar o Quinto Postulado e no mais de tentar demonstrar a sua veracidade como se fosse

    um teorema. Esse postulado encontrado nos livros-textos atuais em uma verso bem

    simplificada do sculo XIX, devida ao matemtico e fsico John Playfair, a saber: em um

    FAMLIARealce

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    plano e por um ponto no pertencente a uma determinada reta, passa uma e somente uma

    reta paralela reta considerada.

    Os esforos mal sucedidos para provar esse postulado, a partir de outros quatro

    originalmente considerados por Euclides, perduraram durante mais de 2000 anos. Na

    primeira metade do sculo XIX, vrios matemticos como Karl Frederich Gauss em 1824,

    Nicolai Lobachevsky em 1829, Janos Bolyai em 1832, Georg Bernhard Riemann em 1854

    e posteriormente Eugenio Beltrami, Jules-Henri Poincar e Felix Klein concluram que a

    pretendida demonstrao no era possvel.

    Foram esses estudiosos que nos permitem, nos dias de hoje, olhar para alm da

    janela aberta pelos conhecimentos e paradigmas propostos por Euclides, pois a negao do

    Quinto Postulado teve como conseqncia a descoberta da geometria hiperblica (em

    cujos modelos existem mais de uma paralela a uma determinada reta) e da geometria

    elptica (na qual no existem retas paralelas), e o surgimento de uma variedade de sistemas

    axiomticos dedutivos alternativos ao euclidiano, conhecidos como geometrias no-

    euclidianas (GNE). Essa descoberta representa um marco histrico no desenvolvimento

    das Cincias, pois , nada menos que uma revoluo na geometria. Com o passar do

    tempo foi provado que os efeitos da descoberta no foram menos profundos em outros

    ramos da matemtica, da fsica e da filosofia (GANS, 1973, p. 4).

    Foi atravs das novas geometrias que os cientistas iniciaram a busca por explicar o

    mundo fsico dos nossos dias, por meio de ferramentas tericas modernas ligadas Teoria

    da Relatividade. Essa grande abertura cientfica e filosfica, trazida pelo surgimento das

    GNE s idias euclidianas e s de Newton relacionadas Fsica, que fez com que os

    conceitos anteriores ao sculo XIX fossem considerados insuficientes para a representao

    dos fenmenos fsicos. Embora, at ento, o conhecimento descrevesse as regularidades do

    meio ambiente, os antigos conceitos geomtricos no descreviam to bem as formas

    fragmentadas e irregulares, como aquelas normalmente encontradas na natureza.

    Foi a partir da descoberta das novas teorias geomtricas que os meios cientficos

    buscaram entender a geometria do universo e suas medidas, tentando decifrar os enigmas

    das formas microscpicas s macroscpicas, para entender melhor as leis que regem o

    Universo e o Cosmo, a aleatoriedade e o Caos (PENROSE, 1996).

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    Por outro lado, no final do sculo XIX, tambm se tornaram conhecidos alguns

    sistemas axiomticos interessantes, criados a partir de conjuntos finitos e com poucos

    elementos arbitrrios. Os modelos desses sistemas negam o Segundo Postulado de

    Euclides, o qual solicita que se considere poder sempre tambm prolongar uma reta

    limitada, continuamente, sobre uma reta (EUCLIDES, 2009). Em alguns desses modelos,

    os agrupamentos com exatamente trs elementos distintos so tratados como retas ou

    linhas, cujas relaes so estabelecidas por meio de poucos axiomas, que negam esse

    postulado, ou seja, no permitem que sempre se trace uma linha reta continua, na direo de

    si mesma, at onde se queira. Esse tipo particular de constituio terica possui as

    caractersticas do que se conhece nos dias de hoje como sistema axiomtico de geometria

    finita. Ainda em 1898, Gino Fano, estabeleceu um modelo dessas geometrias com 7 pontos

    e um outro, surgido em 1906, devido ao matemtico John. W. Young. O estudo desses

    sistemas finitos fundamental para a Matemtica Discreta, Anlise Combinatria,

    Estatstica e Teoria dos Grafos, e so importantes para os dias atuais, pois, por exemplo,

    permitem o estabelecimento de logsticas na engenharia de transportes, tanto em situaes

    relacionadas ao controle do curso de avies como no estabelecimento de linhas de metrs,

    ruas e avenidas nos grandes centros urbanos.

    Aps as descobertas iniciais, passaram-se muitos anos, para que outros conceitos

    surgissem e permitissem descrever melhor ainda os objetos de nossa realidade, ou seja,

    aqueles objetos naturais com formas repetitivas irregulares, tortuosas ou salientes. Em

    meados do sculo XX, o matemtico Benoit Mandelbrot (1924 - ) inventou o conceito

    denominado fractal. Este termo vem de duas palavras latinas fractus e frangere que

    significam quebrar e partido, e refere-se s caractersticas naturais dos objetos que

    parecem fragmentados, irregulares e partidos, cuja dimenso pode ser expressa por um

    nmero no inteiro, fugindo da noo de duas e trs dimenses referentes aos objetos do

    plano e do espao euclidianos. Desde ento, aquela geometria que trata mais propriamente

    dos objetos naturais denominada geometria fractal e vem se consolidando como nova

    rea da Matemtica devido ao desenvolvimento dos computadores e de novas teorias

    advindas da Fsica, Biologia, Astronomia e outras Cincias.

    Resumidamente, o surgimento das novas geometrias trouxe luz uma importante

    caracterstica da prpria Matemtica que at o sculo XIX era pouco percebida, ou seja, a

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    de que Matemtica um sistema de conhecimentos construdos atravs da histria, sujeito

    a reformulaes e transformaes, cujas afirmaes, frente a determinados

    questionamentos, geram revises de seus prprios conceitos, acarretando novas teorias

    matemticas. Em sua origem, foram os processos de negao do Quinto Postulado

    euclidiano que deram origem criao de novas teorias matemticas e ao grande

    desenvolvimento da Matemtica do sculo XX e do atual.

    O SURGIMENTO DE UMA UTOPIA NO ENSINO E DE UM QUESTIONAMENTO

    Pode-se dizer que, a partir do momento histrico da criao das GNE, tambm

    surgiu uma maneira inovadora de se criar conhecimentos cientficos, qual seja, a de se

    desenvolver um novo conhecimento a partir da negao de outro previamente institudo.

    Seria utopia, no entanto, afirmar que nos cursos de formao de professores de

    Matemtica, o momento histrico da criao das GNE tem sido tratado pedagogicamente

    com a ateno que merece, dando-se oportunidade ao licenciando para que observe e

    pratique esta forma de se conceber e instituir uma nova teoria matemtica e, tambm, de

    analisar as implicaes tericas envolvidas.

    Cabe lembrar que, desde os anos 90, existem estudos internacionais que ressaltam

    explicitamente a importncia de se considerar, no ensino, a incluso de outras geometrias

    alm da GE. Portanto, h mais de uma dcada, existem propostas que buscam,

    sensibilizar colegas das universidades para um fato, considerado

    essencial e necessrio, tanto pesquisa matemtica, quanto para o

    ensino: o de um conhecimento profundo e critico da geometria

    elementar, incluindo o reconhecimento da importncia do papel da

    habilidade da visualizao, os fundamentos das geometrias noeuclidianas, bem como suas aplicaes, seus aspectos epistemolgicos,

    histricos e didticos (MAMMANA e VILLANI, 1998, p.326. Traduo

    livre da autora).

    Tudo indica que, no Brasil, a grande maioria dos cursos de licenciatura, alm de

    passarem ao largo de um bom ensino de GE e da habilidade da visualizao, muito menos

    levam em conta procedimentos didticos que permitem ao futuro professor analisar e

    comparar sistemas axiomticos diversos, com outras regras e interpretaes. Ou seja,

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    prticas que levem o licenciando para alm dos postulados e paradigmas grficos

    euclidianos. Isso tudo, portanto, leva a uma pergunta muito importante:

    Estariam os professores de Matemtica aptos a levarem outras geometrias para

    suas salas de aula?

    Dentre as muitas evidncias do pouco preparo dos professores para o ensino das

    novas geometrias, encontram-se as advindas de uma pesquisa realizada pela autora do

    presente artigo envolvendo um questionrio sobre a formao e os conhecimentos

    geomtricos desses profissionais. Essa pesquisa envolveu 53 professores do ensino bsico,

    com experincia profissional mdia de cerca de 10 anos. No questionrio, em que se usou

    o termo axioma em substituio ao de postulado, como habitualmente se encontra nos

    livros-didticos atuais, observou-se que aproximadamente 7% dos participantes afirmaram

    no saber o que seja o plano euclidiano. Cerca de 18% admitiram desconhecer os

    axiomas relativos a este plano, enquanto 20% afirmaram ignorar o que seja o quinto

    axioma de Euclides. Ainda observou-se que aproximadamente 34% declararam no

    saber o que sejam geometrias no-euclidianas ou que desconhecem outra geometria

    alm da euclidiana, enquanto que pouco mais da metade dos participantes afirmaram

    no ter estudado geometrias no-euclidianas no respectivo curso de graduao

    (KALEFF, 2007).

    Como se apresenta a seguir, esse desconhecimento das geometrias vem ter ampla

    influncia na prtica do professor de Matemtica.

    AS GEOMETRIAS NA FORMAO DE PROFESSORES

    Inicialmente, cabe lembrar que, nos cursos de formao de professores, na

    introduo aos modelos mais elementares de GNE, geralmente adotam-se procedimentos

    pertinentes a uma concepo de prtica de ensino considerada como formalista. Nestes

    casos, geralmente o aluno da licenciatura introduzido em sistemas axiomticos como um

    conjunto formado por regras e axiomas, cujos elementos e termos geomtricos no

    possuem o significado euclidiano conhecido desde os gregos, ou seja, no apresentam os

    paradigmas visuais grficos euclidianos. As regras e axiomas apresentam termos e palavras

    que a priori no pressupem qualquer significado e os procedimentos lgicos arrolados nas

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    atividades so os de prova e demonstrao de teoremas, os quais no incluem o uso de

    figuras.

    Em alguns destes casos, a palavra reta refere-se a conjuntos quaisquer de pontos,

    podendo at ser finitos. A palavra ponto se refere a elementos quaisquer (LOPES, 1962;

    CASTRUCCI, 1978; BARBOSA, 1995). Deste modo, conforme cada interpretao

    considerada para o sistema axiomtico, esses termos no assumem mais os significados

    euclidianos habituais, como, por exemplo, o de reta infinita (de nmero de pontos e

    comprimento infinitos). Por outro lado, tambm pressuposto que o licenciando domine as

    tcnicas de inferncia relacionadas ao raciocnio lgico e aos procedimentos de

    demonstrao. Nestes procedimentos, no se deve levar em conta as imagens obtidas por

    meio da viso e advindas da observao de representaes grficas, sendo somente

    admissvel a utilizao de tcnicas relativas a procedimentos inferenciais prprios

    expressos e uma linguagem discursiva (o portugus, no Brasil, ou uma linguagem

    simblica). Nesses casos, retas paralelas no devem ser interpretadas como eqidistantes,

    mas sim, como um conjunto de pontos que no se interceptam.

    Cabe lembrar ainda que, essa maneira formalista de se proceder nos cursos de

    Matemtica tem origem no Movimento Matemtica Moderna, o qual, no final da dcada de

    1950, veio alijar a percepo visual do processo educacional preconizando que deveriam

    ser privilegiadas caractersticas do raciocnio lgico-dedutivo, ligadas s linguagens

    simblicas. At antes dessa poca, a GE era ensinada nas escolas de maneira dedutiva e a

    partir dos 13 anos, dando-se prioridade s dedues e provas. Porm o desenho geomtrico

    tambm era intensamente trabalhado, pois compunha boa parte da grade curricular.

    Por outro lado, nas duas ltimas dcadas, observa-se uma retomada da utilizao de

    desenhos e figuras nas salas de aula. Isto , registra-se um retorno a uma concepo escolar

    imagstica, que adota a observao de figuras no desenvolvimento do raciocnio

    matemtico do aluno. Fato esse, cada vez mais acentuado pela aplicao dos recursos

    advindos da informtica, pois hoje, no se pode negar, vive-se em uma sociedade

    predominantemente visual. No Brasil, essa abordagem imagstica seria decorrente dos

    princpios norteadores sobre os quais se fundamentam os Parmetros Curriculares

    Nacionais - PCN (BRASIL, 1998) para o ensino fundamental, os Parmetros Curriculares

    Nacionais para o Ensino Mdio - PCNEM (BRASIL, 2000) e o conjunto de sugestes de

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    prticas educativas complementares denominado Orientaes Educacionais

    Complementares aos Parmetros Curriculares Nacionais do Ensino Mdio - PCN+

    (BRASIL, 2002). Esses documentos resgatam o papel das imagens no ensino da

    Matemtica, portanto, da importncia dos desenhos, figuras e grficos na formao do

    conhecimento do aluno.

    Essas duas maneiras de conceber o uso das imagens grficas advindas das

    tendncias formalista e imagstica no so incuas, tanto no mbito da formao dos

    professores como no da escola, e trazem amplas conseqncias para a poltica educacional.

    Essas se refletem na elaborao dos currculos e dos livros didticos, no desempenho do

    professor na sala de aula e no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. No que se

    segue, apresenta-se uma reflexo sobre as conseqncias dessas prticas no que concerne

    s GNE.

    ABERTURAS PARA SE IR ALM DA JANELA DE EUCLIDES

    A nfase na retomada do papel das imagens para a organizao dos currculos se

    apresenta nos Parmetros, principalmente nos PCN+. Nesses, a geometria tratada como

    um tema cujo papel estruturante pode levar o aluno do Ensino Mdio a olhar para alm da

    janela de Euclides, ou seja, a poder desenvolver habilidades relativas a medidas e

    grandezas, permitindo-o a avanar na percepo do processo histrico de construo do

    conhecimento matemtico para alm do euclidiano. Segundo essas orientaes,

    [...] especialmente adequado mostrar diferentes modelos explicativos do espao e suas formas numa viso sistematizada da

    geometria com linguagens e raciocnios diferentes daqueles

    aprendidos no ensino fundamental com a geometria clssica

    euclidiana (BRASIL, 2002, p. 125).

    Ainda, segundo os PCN+, ao aluno deve ser dada a oportunidade de perceber como

    a cincia Matemtica valida e apresenta seus conhecimentos, bem como ela auxilia no

    desenvolvimento do pensamento lgico-dedutivo e no entendimento de aspectos mais

    estruturados da linguagem simblica matemtica. Essa maneira de orientar a aprendizagem

    no visa memorizao de um conjunto de postulados e de demonstraes, mas busca

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    levar o aluno a perceber representaes matemticas diferentes para um mesmo conceito,

    bem como a entender que uma afirmao matemtica considerada verdadeira por ser o

    resultado de uma deduo lgica. Esta, se apresentando na forma de um encadeamento

    lgico e como consequncia de outras proposies provadas previamente a partir de um

    conjunto de afirmaes (postulados ou axiomas), aceitas como verdadeiras.

    De forma bem direta e objetiva, em um documento regional, as Diretrizes

    Curriculares da Educao Bsica - Matemtica - do Estado do Paran apontam que nos

    ensinos fundamental e mdio, [...] o contedo estruturante geometrias se desdobra nos

    seguintes contedos: Geometria Plana; Geometria Espacial; Geometria Analtica, e

    noes bsicas de Geometria no-euclidiana. (PARAN, 2008, p.55). Particularmente,

    em relao ao Ensino Mdio, destacam que os estudos das noes de geometrias no-

    euclidianas devem ir alm daqueles modelos cuja origem deve-se negao direta do

    Quinto Postulado. Consideram que alm das geometrias hiperblica e elptica, a geometria

    dos fractais deve tambm ser abordada, pois esta abre oportunidade para a explorao do

    floco de neve e da curva de Koch; do tringulo e do tapete de Sierpinski, conduzindo o

    aluno a refletir e observar o senso esttico presente nessas entidades geomtricas,

    estendendo-o para as suas propriedades.

    Pelo exposto e enfatizado pelos documentos citados, desejvel que na educao

    bsica o aluno seja confrontado com uma quebra de paradigmas para alm da pura

    memorizao, por meio do reconhecimento da importncia das figuras, bem como do

    entendimento de outras linguagens grficas e de uma introduo ao raciocnio lgico-

    dedutivo no-euclidiano. Portanto, desejvel que se apresente a concepo imagstica na

    sala de aula acompanhada de procedimentos que levem ao desenvolvimento de recursos

    por meio de inferncias lgicas. Essa inteno vem valorizar a diversidade no tratamento

    do conhecimento geomtrico na escola e abrir portas para a incluso de modelos

    introdutrios s geometrias no-euclidianas, indo-se para alm do vislumbrado atravs da

    janela de Euclides.

    O PODER DAS IMAGENS E A QUEBRA DE PARADIGMAS

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    Antes de se exemplificar modelos introdutrios s GNE, preciso ser enfatizado

    que, na histria das geometrias, foram registradas grandes dificuldades quando os

    estudiosos tentaram passar das concepes euclidianas para as abstraes no-euclidianas,

    pois as imagens visuais, percebidas do mundo real, sempre influenciaram a representao

    dos conceitos geomtricos. Essa influncia perdurou durante mais de 2000 anos, at o

    surgimento dos modelos axiomticos das GNE. Estes modelos foram os primeiros

    conjuntos de regras matemticas passveis de interpretaes e representaes grficas, na

    forma de desenhos, que no correspondiam ao esperado pela percepo visual. Portanto,

    modelos que fogem ao conhecimento gerado pelo senso comum.

    A importncia de se trabalhar as GNE, at mesmo na escola e, principalmente, no

    mbito da licenciatura, reside no fato dessas teorias possibilitarem a quebra de paradigmas

    e padres visuais, trazendo o visualmente inesperado para a sala de aula e a oportunidade

    de criao de novas imagens e conceitos. Ou seja, de possibilitar trazer padres de

    desenhos e relacion-los a expresses e palavras com outros significados alm dos

    euclidianos, unindo-se aspectos geomtricos aparentemente antagnicos, quando

    apresentados em diferentes linguagens e em outros registros grficos de representao.

    Quem no se lembra da imagem de uma reta linear, continua e paralela ao plano do

    cho, quando ouve o termo reta? Quem no imagina dois segmentos retilneos

    eqidistantes quando ouve a expresso retas paralelas? Como mostra a pesquisa realizada

    na UFF, imagens como essas surgem e impregnam a nossa mente de maneira espontnea.

    Interferir e quebrar com tais procedimentos mentais, to poderosos e comuns a todos, se

    apresenta como um rduo trabalho para a escola...

    Se for considerado o comportamento do professor, a incluso dos novos

    conhecimentos geomtricos na escola pode no se realizar, pois, at mesmo no mbito da

    formao continuada, se apresenta uma ampla variedade de dificuldades ligadas a essas

    imagens, ao uso da linguagem e resoluo de problemas introdutrios s GNE, as quais

    se refletem no desempenho profissional, como constatado nas porcentagens apresentadas

    anteriormente, advindas da pesquisa realizada pela autora (KALEFF, 2007).

    No que se segue, apresentam-se alguns modelos de GNE que tanto podem ser

    introduzidos no ensino bsico como vir a ajudar o professor a transformar os seus prprios

    conhecimentos. Esses modelos visam a preparar o profissional para melhor entender como

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    o aluno pode ter o comportamento geomtrico influenciado por essas imagens na criao

    de novos conceitos e nos estudos futuros mais avanados em Matemtica.

    MODELOS DE GEOMETRIAS NO-EUCLIDIANAS: POSSIBILIDADES

    Existe uma variedade de exemplos de modelos de GNE que permitem ao

    licenciando e ao professor observar situaes introdutrias e a complementaridade entre

    aspectos ligados a ambas as concepes didticas, imagstica e formalista. Por exemplo,

    em alguns desses modelos podem ser vistos at mesmo desenhos de circunferncias que

    so denominadas retas, ou mesmo traos, na forma de segmentos lineares retilneos finitos,

    que apesar de no conservarem a mesma distncia so denominados retas paralelas.

    Muitos exemplos interessantes de representaes de retas com aparncia visual inesperada

    podem ser encontrados na literatura. Entre os modelos introdutrios mais sugestivos esto

    alguns de geometrias hiperblicas: o circulo cujas retas so cordas, criado por Klein; o do

    circulo cujas retas so circunferncias ortogonais e o do semiplano superior, ambos

    criados por Poincar. Neste ltimo, as retas so ou semicircunferncias com centro em um

    ponto da reta que determina o semiplano, ou semiretas com origem nela e perpendiculares

    ela (FRANCO DE OLIVEIRA, 1995; KALEFF, 2005).

    Figura 1 Exemplos de retas no modelo de Klein e nos de Poincar.

    Entre os sistemas possveis de serem levados para a escola, cabe lembrar outra

    geometria, criada com fins didticos e designada em ingls por Taxicab Geometry. Em

    lngua portuguesa, designada por Geometria do Motorista do Txi, Pombalina, do Taxista,

    ou ainda do Txi, a qual tem por base terica a adaptao de uma mtrica particular e

    pertencente a uma famlia de espaos mtricos criados pelo matemtico Hermann

    Minkowski, ainda no sculo XIX.

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    So vrios os motivos que levam os educadores matemticos a proporem o ensino

    da Geometria do Txi (GT) nas escolas. Nessa direo, ela pode ser apresentada com a

    inteno de se integrar a Matemtica ao cotidiano do aluno e para a formao do cidado,

    pois se apresenta em todos os lugares, no podendo, portanto, deixar de ser encontrada no

    espao das salas de aula e at das ruas. Assim sendo, a GT modela mais fielmente uma

    geografia urbana do que a prpria GE.

    Na GT, se calcula a distncia entre dois pontos por meio da soma de dois valores

    numricos absolutos, isto , medindo-se o comprimento dos menores caminhos percorridos

    - em trechos horizontais e verticais, considerados segundo um determinado referencial -

    respeitados os limites fsicos das construes, estabelecidos por meio de ruas, paralelas ou

    perpendiculares entre si. Por outro lado, na GE, considera-se a distncia (euclidiana) entre

    dois pontos como sendo o comprimento do segmento de reta que os une, obtida, portanto,

    com o auxilio do Teorema de Pitgoras.

    Embora a GT pouco difira conceitualmente da GE, pois o faz apenas pela

    modificao da definio de distncia, esse pequeno detalhe matemtico, apresenta uma

    grande diferena, quando observado do ponto de vista da concepo imagstica para a sala

    de aula. Ou seja, as diferenas dos traados grficos das figuras, em ambas as geometrias,

    permitem ao aluno observar variaes das formas e tamanhos entre os desenhos

    padronizados da GE e aqueles das novas figuras na GT. Essas variaes de traados dos

    desenhos podem ser percebidas at mesmo por jovens adolescentes. Por exemplo, o

    conceito circunferncia, ainda que apresente uma mesma definio nas duas geometrias,

    permite duas formas de traado. Na GE, como curva padro e redondinha e, outra, na GT,

    como um quadrado.

    A GT permite ainda se chegar negao de um dos axiomas euclidianos de

    congruncia, o conhecido como LAL, tal seja: Se dois tringulos ABC e DEF tm lado,

    ngulo e lado consecutivos respectivamente congruentes, ento estes dois tringulos so

    congruentes.

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    Figura 2 Exemplo de duas figuras na GT que negam o axioma LAL.

    Cabe lembrar como essa peculiar GT est ligada a algumas experincias brasileiras

    j realizadas para o ensino das GNE, desde a ltima srie do ensino fundamental at o

    curso superior. Ela tratada por Kaleff e Nascimento (2004), que, de uma maneira muito

    concreta, mostram que a GT pode ser modelada por meio de uma maquete de um bairro.

    Por sua vez, Fossa (2003) e Noronha (2006) apresentam extensas colees de atividades

    para a sala de aula envolvendo o traado de uma cidade e o desenho de redes. Uma rede

    quadriculada d origem chamada geometria urbana e uma rede isomtrica geometria

    isoperimtrica. Com base em uma pesquisa bem fundamentada na experimentao, com

    vistas construo do entendimento dos conceitos de circunferncia e elipse a partir da

    intuio, Noronha apresenta uma proposta de ensino para o 4 ciclo do ensino fundamental

    baseada na modelagem matemtica dessas duas geometrias e na resoluo de problemas.

    Existem outras GNE que tm sido pesquisadas com vistas ao ensino. o caso da

    geometria da esfera, com sua interdisciplinaridade intrnseca geografia, cuja aplicao ao

    ensino fundamental proposta por Martos (2002), em estudo baseado em uma experincia

    envolvendo tambm turmas da 9 srie. Neste estudo, o uso de vrios materiais

    manipulveis possibilita modelar a reta na forma de um crculo mximo, bem como

    comparar distncias e medidas de ngulos na GE e na geometria esfrica. Para tanto,

    Martos utiliza uma esfera de Lnrt (LNRT, 1996).

    As experincias relatadas mostram que existem caminhos para que outros sistemas

    geomtricos alm do euclidiano possam ser introduzidos at mesmo nas escolas de ensino

    bsico. Tal possibilidade, no entanto, est vinculada ao livro didtico, ou seja, principal

    ferramenta utilizada na sala de aula pelos professores desse nvel escolar. Dessa forma,

    uma nova pergunta se coloca:

    Como os livros didticos tratam as GNE?

    A B

    C D

    E F

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    AS GEOMETRIAS NO-EUCLIDIANAS NOS LIVROS DIDTICOS

    Os modelos finitos de Young e Fano podem ser encontrados principalmente entre

    os autores brasileiros pioneiros dos tratamentos axiomticos que modificam os axiomas

    euclidianos, como os j mencionados Lopes, Castrucci e Barbosa; no entanto, isso no

    acontece nos livros para o Ensino Mdio. preciso ser ressaltado que, em Portugal, as

    geometrias finitas apareceram nos livros didticos para esse nvel de ensino j no final da

    dcada de 1990 (JORGE et al, 1999).

    Por outro lado, a to instigante GT j foi introduzida no Brasil por Antnio J. L.

    Bigode, com o nome de geometria do taxista, em livro didtico para a antiga 8 srie, atual

    9 ano do Ensino Fundamental (BIGODE, 2002). No entanto, em relao aos livros

    didticos para o Ensino Mdio recentemente mais solicitados ao PNLEM pelas escolas

    pblicas, isso ainda no acontece, como foi observado em dois estudos realizados na UFF.

    Nesses, analisaram-se as trs colees de livros didticos mais pedidas pelos professores

    em 2006 e 2008.

    Entre as colees escolhidas em 2006, foram analisadas as duas primeiras:

    Matemtica Aula por Aula (BARRETO FILHO & SILVA, 2003) e Matemtica (DANTE,

    2004). Entre as mais solicitadas em 2008, foi analisada a terceira Matemtica (DANTE,

    2008), a qual apresenta os contedos das trs sries do Ensino Mdio em um nico

    volume. Os resultados dessas anlises esto resumidos em Kaleff e Franca (2008) e em

    Kaleff e Morett (2010), respectivamente.

    Nos volumes 1 e 2 da coleo Matemtica Aula por Aula, foi verificada a presena

    de uma mesma citao relativamente a retas paralelas, na qual os autores fazem meno

    existncia das GNE e da sua importncia no desenvolvimento da Matemtica, nos textos

    introdutrios aos captulos Progresses e Retomando Progresses, respectivamente. O

    segundo volume se encerra com outra citao, no contexto de A geometria no mundo

    cientfico. A narrativa dessa citao muito semelhante anterior e tambm trata somente

    do aparecimento histrico das GNE. O livro faz meno a uma reportagem da revista

    Superinteressante que considera os fractais como A matemtica do delrio.

    Na segunda coleo Matemtica, foram encontradas quinze citaes referentes s

    retas paralelas e uma s GNE. Em relao a essas geometrias, a coleo apresenta, sem

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    muito destaque, e em uma seo destinada leitura complementar, um resumo histrico

    sobre a GE e o surgimento das GNE. O texto considera o Quinto Postulado como viga-

    mestra da geometria euclidiana, explicando ainda que foi a partir da desconsiderao

    desse postulado que surgiram os novos sistemas geomtricos no-euclidianos. Embora o

    livro reconhea o surgimento dessas outras geometrias como determinante para o avano

    das cincias, essa coleo tambm no traz nenhuma atividade didtica que permita ao

    aluno vivenciar alguma noo no-euclidiana. Isso poderia ser realizado, por exemplo, no

    primeiro volume, no captulo Funes, no qual proposto um exerccio que trata de

    coordenadas geogrficas e faz referncia superfcie e ao globo terrestre. No entanto, nem

    a geometria esfrica e nem as suas retas, na forma de circunferncias mximas, so

    tratadas, ainda que sejam utilizados termos geomtricos como o de paralelos geogrficos.

    Por sua vez, o mesmo autor da coleo anterior, na verso editada em volume nico

    para 2008, apresenta postura semelhante, exibindo somente uma referncia histrica sobre

    o surgimento das GNE. Nesse volume no h meno aos fractais.

    Dos estudos realizados, pode-se afirmar que os livros didticos apresentam uma

    louvvel preocupao em seguir as orientaes dos PCN, PCNEM e PCN+, quando se

    referem s GNE em citaes histricas motivadoras para o desenvolvimento de outros

    contedos matemticos ou em exerccios de aplicao. Embora os livros no tenham a

    preocupao em introduzir contedos de outras geometrias alm da GE. Pode-se afirmar

    que lamentavelmente os autores no se preocupam em explorar desenhos que chamem a

    ateno do aluno para a existncia de outras representaes grficas, o que viria a

    potencializar a quebra dos padres e paradigmas visuais euclidianos. Tudo indica que, no

    caso das GNE, os autores de livros didticos muito contribuiriam se viessem a repensar e

    reconsiderar como apresentam os novos contedos geomtricos.

    Com base nas pesquisas aqui relatadas, acredita-se que os livros deveriam

    considerar as dificuldades relacionadas s representaes euclidianas, bem como as

    diversas formas grficas pelas quais os novos contedos geomtricos no-euclidianos

    podem ser representados. Tal exerccio no se constitui em mais um revisitar de noes e

    partes lgicas constitutivas da Matemtica, independentes das representaes e linguagens,

    mas, requer tambm a considerao daquelas dimenses advindas das relaes entre o

    ensino e a aprendizagem. Pelo apresentado, as concepes imagstica e formalista,

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    consideradas por alguns meios acadmicos como antagnicas, poderiam ser tomadas como

    complementares quando se tratam das prticas pedaggicas que visam a levar o professor e

    o aluno para alm das concepes geomtricas euclidianas elementares.

    Resumidamente, para se ir alm da utopia e se ter a possibilidade de introduzir as

    GNE na escola bsica, necessrio que sejam consideradas as pesquisas realizadas pelos

    educadores matemticos que vm tratando das maneiras de se apresentar contedos

    geomtricos a crianas e adultos. necessria a cooperao de todos, no s no nvel da

    formao do professor, mas tambm no dos autores dos livros didticos para que os

    professores e alunos possam entender e ultrapassar as dificuldades inerentes ao processo de

    aprendizagem, para que se possa vir a ter a possibilidade de enxergar para alm dos

    padres euclidianos e da janela aberta por Euclides.

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