arruda, renato garcia. amazônia azul

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RENATO GARCIA ARRUDA AMAZÔNIA AZUL: um patrimônio a ser defendido. Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: CMG (RM1-FN) Pedro Fonseca Junior. Rio de Janeiro 2014

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Page 1: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

RENATO GARCIA ARRUDA

AMAZÔNIA AZUL:

um patrimônio a ser defendido.

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: CMG (RM1-FN) Pedro Fonseca Junior.

Rio de Janeiro 2014

Page 2: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

C2014 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. _________________________________

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Arruda, Renato Garcia. Amazônia Azul : um patrimônio a ser defendido / Renato Garcia

Arruda. - Rio de Janeiro : ESG, 2014. 62 f.: il.

Orientador: CMG (RM1-FN) Pedro Fonseca Junior. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2014.

1. Amazônia Azul®. 2. Domínio do mar. 3. CNUDM. 4. LEPLAC.

5. PROSUB. I. Título.

Page 3: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

Dedico esta monografia à minha esposa

Camila que, a despeito da distância que

nos separou, esteve sempre presente e

participante em cada etapa do

desenvolvimento deste trabalho; à minha

sogra Ivonete, por ter me fornecido meios

que me permitiram dedicar-me à pesquisa;

e aos meus filhos Camila e Rafael, por

simplesmente fazerem parte da minha vida

e por traduzirem fielmente o significado do

amor.

Page 4: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

AGRADECIMENTOS

Ao insigne orientador, CMG (RM1-FN) Pedro Fonseca Junior, pela condução

na busca do conhecimento, companheirismo, fraternidade e empenho na orientação

para a elaboração deste trabalho.

À Marinha do Brasil pela oportunidade proporcionada, possibilitando-me

realizar o Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) e apresentar o

presente estudo.

Aos componentes da Escola Superior de Guerra (ESG), pela sua excelência;

pela qualidade na transmissão dos conhecimentos pelo corpo permanente; pelo

distinto trato e apoio aos estagiários na árdua jornada acadêmica; e pela

organização e alto grau de profissionalismo na execução de seus ofícios e na

condução dos trabalhos, possibilitando amenizar nossas naturais dificuldades e

ansiedades.

Aos colegas do CAEPE 2014 – Turma “ESG 65 anos pensando o Brasil”,

pela convivência fraternal durante a realização do curso e pela honra em poder estar

ao lado de tão brilhantes e patriotas cidadãos brasileiros.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a concretização

deste empreendimento.

Page 5: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

Uma Nação que confia em seus direitos em vez de confiar em seus soldados, engana-se a si mesma e prepara a sua própria queda.

Rui Barbosa

Page 6: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

RESUMO

Esta monografia aborda a importância da Amazônia Azul® e a necessidade de

construção de sua defesa na delimitação da nossa última fronteira, na garantia de

sua soberania e no desenvolvimento do Brasil. O objetivo deste estudo é, a partir da

comprovação da importância do domínio do mar e das riquezas presentes nessa

imensa área, mostrar a importância da garantia de sua soberania através de um

poder naval com capacidade dissuasória adequada. O marco teórico utilizado foi

todo o ordenamento jurídico do mar estabelecido pela Convenção das Nações

Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Considerando-se que o tema é bastante

atual, a metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo

sobre as questões apresentadas, através da análise do conteúdo de fontes

secundárias, como legislações, livros, material extraído da internet e jornais de

grande circulação. No decorrer do trabalho, foram identificados fatos históricos que

demonstram a importância do domínio do mar para os Estados; citados os principais

conceitos do ordenamento jurídico dos mares e oceanos; apresentados os

resultados do Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira

(LEPLAC); listadas as riquezas e potencialidades das nossas águas jurisdicionais e,

por último, apresentado o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB)

e sua importância na defesa da soberania da Amazônia Azul®. A conclusão indica

que este Programa representa não apenas o início da construção da defesa das

nossas riquezas submersas, mas também o renascimento de nossa Indústria de

Defesa através de transferência de tecnologia, contribuindo, sobremaneira, no

desenvolvimento do País.

Palavras chave: Amazônia Azul®. Domínio do Mar. CNUDM. LEPLAC. PROSUB.

Page 7: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

ABSTRACT

This monograph discusses the importance of the Blue Amazon® and the need of

building its defense in the delimitation of our last frontier, in securing its sovereignty

and in the development of Brazil. The aim of this study is, from the proof of the

importance of sea domain and the wealth present in this immense area, to show the

importance of ensuring its sovereignty through a sea power with adequate deterrent

capability. Whole law of the sea established by the United Nations Convention on the

Law of the Sea (UNCLOS) was used as theoretical framework. Considering that this

topic is very current, the methodology was a bibliographic qualitative research on the

issues presented by content analysis of secondary sources such as laws, books,

material extracted from the internet and newspapers of general circulation. During the

work, historical facts that demonstrate the importance of the sea domain states were

identified; cited the main concepts of the law of the seas and oceans; presented the

results of the Plan of Survey of the Brazilian Continental Shelf (LEPLAC); listed the

wealth and potential of our territorial waters and, finally, presented the Submarine

Development Program (PROSUB) and its importance in the defense of the

sovereignty of the Blue Amazon ®. The conclusion indicates that this program is not

only the start of the construction of the defense of our underwater riches, but also the

rebirth of our Defence Industry through technology transfer, contributing, greatly, in

the development of the country.

Keywords: Blue Amazon®. Sea Domain. UNCLOS. LEPLAC. PROSUB.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 As definições constantes na CNUDM ..............................................22 FIGURA 2 Mapa de localização das linhas geofísicas do Projeto LEPLAC ......27 FIGURA 3 Proposta de extensão da plataforma continental além das 200 milhas náuticas ................................................................................28 FIGURA 4 O Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira .....29 FIGURA 5 Campos de produção e blocos de exploração do Pré-Sal ...............35 FIGURA 6 Exploração da Elevação do Rio Grande ..........................................39 FIGURA 7 O transporte marítimo do comércio exterior .....................................41 FIGURA 8 O Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul® ........................ 45

Page 9: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AJB Águas Jurisdicionais Brasileiras

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

CIRM Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

CLPC Comissão de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas

CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear

CNUDM Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

EMGEPRON Empresa Gerencial de Projetos Navais

END Estratégia Nacional de Defesa

ICN Itaguaí Construções Navais

ISBA Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos

LEPLAC Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira

MB Marinha do Brasil

MD Ministério da Defesa

MRE Ministério das Relações Exteriores

MT Mar Territorial

OM Organização Militar

ONU Organização das Nações Unidas

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PC Plataforma Continental

PEPCA Projeto de Extensão da Plataforma Continental de Angola

PND Política Nacional de Defesa

PNRM Política Nacional para os Recursos do Mar

PROSUB Programa de Desenvolvimento de Submarinos

SAR Busca e Salvamento

SECIRM Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

SISCEAB Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro

SISFRON Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras

SisGAAz Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul®

SPE Sociedade de Propósito Específico

ZC Zona Contígua

ZEE Zona Econômica Exclusiva

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ……………………………………..……………………........ 10

2 A HISTÓRIA DAS DISPUTAS PELO DOMÍNIO DO MAR ...................... 15

3 O ORDENAMENTO JURÍDICO DO MAR ............................................... 20

4 O PLANO DE LEVANTAMENTO DA PLATAFORMA CONTINENTAL

BRASILEIRA ...........................................................................................

25

5 AS RIQUEZAS E POTENCIALIDADES DA AMAZÔNIA AZUL® .......... 33

5.1 A EXPLOTAÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS E A GERAÇÃO DE

ENERGIA .................................................................................................

34

5.2 AS RESERVAS MINERAIS, O FORNECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL

E A PRODUÇÃO DE SAL ........................................................................

37

5.3 O TRANSPORTE MARÍTIMO E A PESCA .............................................. 41

5.4 O TURISMO MARÍTIMO, O LAZER E OS ESPORTES AQUÁTICOS..... 43

5.5 O SISTEMA DE GERENCIAMENTO DA AMAZÔNIA AZUL® ................ 44

6 CONSTRUINDO A DEFESA DA AMAZÔNIA AZUL®: O PROGRAMA

DE DESENVOLVIMENTO DE SUBMARINOS ........................................

47

7 CONCLUSÃO .......................................................................................... 54

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 58

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1 INTRODUÇÃO

O mar tem sido objeto de admiração do ser humano desde os tempos

antigos. Na atualidade, ele apresenta uma importância crescente em diversas áreas,

como alimentação, transporte, política, estratégia, energia, defesa, biodiversidade,

soberania e lazer. Por suas linhas de comunicação são transportados os bens que

trazem e levam o progresso e a sobrevivência da humanidade.

Desde há muito tempo, o acesso ao mar tem representado maior

possibilidade de desenvolvimento econômico e, por isso, ele tem sido palco de

intensas disputas ao longo da história.

O acesso ao mar é considerado como a base para a expansão, haja vista a observação de Friedrich Ratzel sobre o mar ser a fonte de todo o poder nacional. Para Benito Mussolini, os Estados eram mais ou menos independentes, de acordo com a sua posição marítima. (FRANÇA, 2012, p. 68).

A importância dos mares também pode ser apresentada em números.

Segundo Vallat (2012), 90% das mercadorias são transportadas via marítima,

representando um volume de negócios da ordem de 1,5 trilhão de euros, podendo

chegar a 2 trilhões em 2020. Atualmente, existem cerca de 50.000 navios mercantes

tripulados por 1,5 milhão de profissionais. Além desses, há 1,6 bilhão de pessoas

como passageiros marítimos por ano. Apesar de só se conhecer cerca de 10% da

fauna e flora marinhas, o mar representa o futuro nas áreas de energia, alimentação,

pesquisa farmacêutica e recursos minerais.

Muito importante nesse contexto foi a Convenção das Nações Unidas sobre

o Direito do Mar, que estabeleceu regras para a garantia da soberania dos países

sobre o mar, bem como seus direitos de exploração econômica da massa líquida,

solo e subsolo marinhos.

Para se entender melhor tudo isso, é necessário assimilar conhecimentos e

desenvolver sentimentos que não se encontram ao alcance de significativa parcela

da população. Isso porque o homem vive sobre a terra e é nela que se depositam

seus anseios e preocupações, apesar da imensa superioridade, em área, da massa

líquida sobre a superfície no nosso planeta.

Page 12: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

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Como as riquezas naturais dos países já se encontram caminhando para o

seu esgotamento, o descobrimento de novas e variadas reservas no leito e subsolo

marinhos contribuiu para a geração de novas estratégias, para o desenvolvimento

das atividades marítimas e para o incremento da mentalidade marítima nas

sociedades visando à proteção dessas riquezas.

Neste século, poderão ser intensificadas disputas por áreas marítimas, pelo domínio aeroespacial e por fontes de água doce, de alimentos e de energia, cada vez mais escassas. Tais questões poderão levar a ingerências em assuntos internos ou a disputas por espaços não sujeitos à soberania dos Estados, configurando quadros de conflito [...]. (BRASIL, 2012b).

Até o final do século passado, o Atlântico Sul não chamava a atenção das

grandes potências porque o tráfego marítimo na região não era muito grande e a

probabilidade de ocorrência de algum confronto militar nessa área era muito baixa.

Contudo, com a descoberta de riquezas naturais no seu solo e subsolo, ele passou a

atrair o interesse e a cobiça de muitos atores do concerto das nações. A nossa

Política Nacional de Defesa se coaduna com esse pensamento quando cita que:

“Países detentores de grande biodiversidade, enormes reservas de recursos

naturais e imensas áreas para serem incorporadas ao sistema produtivo podem

tornar-se objeto de interesse internacional”. (BRASIL, 2012b).

Faz-se mister desvendar, então, até que ponto as novas estratégias de

outras potências afetarão a nossa fronteira marítima estabelecida a leste que, como

tal, demanda especial atenção em questões de defesa, exploração econômica de

recursos naturais, preservação do meio ambiente, navegação, comércio exterior,

geração de energia, turismo, pesca, pesquisa científica e outras.

No Brasil, o mar está diretamente relacionado ao seu progresso. Por ele

fomos descobertos, consolidamos nossa independência e transacionamos quase a

totalidade do nosso comércio exterior. Contudo, o brasileiro visualiza o mar apenas

como fonte de alimentos e lazer, demonstrando uma baixa mentalidade marítima.

Após a recente descoberta do Pré-Sal é que a sociedade começou a se dar conta da

grande riqueza contida nessa área. Mas, na realidade, o mar oferece muito mais.

Inúmeros são os recursos vivos, não vivos e de serviços que o mar pode oferecer.

Deve-se, portanto, divulgar todo esse potencial para que se incremente,

gradativamente, a consciência marítima do nosso povo.

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No Brasil, apesar de 80% da população viver a menos de 200 km do litoral, pouco se sabe sobre os direitos que o país tem sobre o mar que o circunda e seu significado estratégico e econômico, fato que, de alguma forma, parece estar na raiz da escassez de políticas voltadas para o aproveitamento e proteção dos recursos e benefícios dali advindos. (CARVALHO, 2004).

A fim de promover a mentalidade marítima na população brasileira, nos

níveis necessários e coerentes com a dimensão de uma grande Nação oceânica

com tradições históricas ligadas ao mar, são necessárias inúmeras ações de

estímulo e conscientização. Há de se investir nos professores do ensino

fundamental para que, desde a tenra infância, a criança já entenda a importância do

oceano para o desenvolvimento do nosso País. Mas tão importante quanto a

preocupação com a conscientização da sociedade e com o avanço do conhecimento

sobre o mar, são as iniciativas para a proteção de todo esse patrimônio. Para isso, a

Marinha vem adotando, desde 2004, o conceito Amazônia Azul® para representar a

região marítima de área similar à nossa Região Amazônica e tão rica quanto esta no

que tange à biodiversidade e riquezas minerais. Essa Amazônia Azul® surge, então,

como um grande nicho de riquezas naturais a ser objeto de futura gestão, mesmo

ainda sendo uma área pouco conhecida dos brasileiros.

Como os limites da área marítima em que um Estado tem direito à

exploração e explotação podem ser estendidos dependendo da sua plataforma

continental, o Brasil apresentou um trabalho junto à Comissão de Limites da

Plataforma Continental das Nações Unidas, visando ter direitos sobre uma

Amazônia Azul® ainda maior e que definirá, possivelmente, a última fronteira do

nosso País.

Porém, para a garantia da soberania de uma área tão extensa, é necessário

que se possua um poder naval compatível com a estatura político-estratégica do

País. Para isso, derivado da Estratégia Nacional de Defesa, a Marinha criou o seu

Programa de Articulação e Equipamento, onde são definidos os tipos e quantidades

de meios necessários para a correta defesa de toda essa área marítima.

Para o cumprimento da tarefa básica de negar o uso do mar e a

consequente proteção da Amazônia Azul®, foi criado o Programa de

Desenvolvimento de Submarinos que prevê, dentre outras coisas, a transferência de

tecnologia vinda da França. Isso vai permitir que o País não só volte a incentivar sua

indústria de defesa, mas, sobretudo, dê um imenso salto tecnológico que será

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concretizado com o projeto e a construção do primeiro submarino com propulsão

nuclear do Brasil, fazendo com que ingresse em um seleto grupo de países com

esta capacitação no mundo.

Portanto, este trabalho busca examinar a importância da Amazônia Azul® e

da construção de sua defesa na delimitação da nossa última fronteira e no

desenvolvimento do Brasil. Para tal, serão identificados os fatos históricos que

demonstrem a importância do domínio do mar para os Estados; serão apresentados

os principais conceitos do ordenamento jurídico dos mares e oceanos; será

apresentado o Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira; serão

exemplificadas algumas riquezas e potencialidades da Amazônia Azul®; e,

finalmente, será apresentado o Programa de Desenvolvimento de Submarinos e sua

importância na defesa da Amazônia Azul®.

Este estudo se justifica por sua relevância social, no sentido de que amplia a

divulgação para a sociedade da importância e dos potenciais da Amazônia Azul®,

contribuindo para o incremento da mentalidade marítima como instrumento de

desenvolvimento econômico e social; por sua relevância acadêmica, por estimular a

comunidade científica a produzir estudos mais detalhados sobre o mar, para a

descoberta de novas fontes de riqueza; e por sua relevância pessoal, pelo fato de

permitir o aprofundamento do conhecimento sobre o tema.

O marco teórico utilizado para este trabalho foi o ordenamento jurídico do

mar, estabelecido pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.

Considerando-se que o tema é bastante atual, a metodologia utilizada foi uma

pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo sobre as questões apresentadas, através

da análise do conteúdo de fontes secundárias, como legislações, livros, material

extraído da internet e jornais de grande circulação.

O trabalho tem início com uma busca de embasamento histórico sobre a

importância do mar, de forma a se respaldar o fato de ele ter sido motivo e palco de

grandes conflitos na história.

A seguir, será realizado um estudo sobre o ordenamento jurídico do mar,

para se levantar os direitos e deveres dos Estados costeiros.

Na sequência, serão analisados os resultados do levantamento da

plataforma continental brasileira, para a apresentação de solicitação de extensão da

mesma à Comissão de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas.

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Posteriormente, serão apresentadas as potencialidades e riquezas que

tornam a Amazônia Azul® de fundamental importância para o País, de forma que se

crie consciência da imperativa necessidade da sua defesa para a manutenção de

sua soberania.

Finalmente, será apresentado o Programa de Desenvolvimento de

Submarinos, o que ele trará de avanço tecnológico para o Brasil e o que ele

representará na defesa das nossas águas.

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2 A HISTÓRIA DAS DISPUTAS PELO DOMÍNIO DO MAR

Desde remotas épocas da história da civilização que o homem já se utilizava

do mar como rota para chegar a outros locais e dele retirava alimento através da

pesca. A partir do momento em que novas terras foram descobertas e por ele

passaram a trafegar muitas riquezas, a disputa pela sua conquista tornou-se intensa.

Dominá-lo significava ter grande vantagem no controle da pesca e do comércio.

Muitas foram as passagens da história em que o mar foi palco de disputas decisivas

que acabaram por determinar os destinos da civilização humana até os nossos dias.

Na Antiguidade, a Batalha Naval de Salamina, em 480 a.C., foi o registro

mais importante de guerra pelo domínio do mar, sendo considerada a primeira

grande batalha naval decisiva da história ocidental. Nela, os gregos, a despeito de

estarem muito inferiorizados em relação aos persas, acabaram derrotando sua

grande e poderosa esquadra, que simplesmente deixou de existir. Com o domínio do

mar, os gregos impediram que os persas se utilizassem de suas linhas de

comunicação marítimas para o suprimento logístico do seu exército que, diante

dessa dificuldade, se viu forçado à retirada. Nesse episódio, o domínio do mar foi

decisivo para a salvação da Grécia. (BRASIL, 1971).

Dois séculos mais tarde, durante a Segunda Guerra Púnica, os

cartaginenses vinham obtendo sucessivas vitórias sobre Roma em terra, mas o

poder naval desta representava um grande fator de dissuasão. O fator determinante

para o fim do conflito foi a realização de um grande desembarque romano nas

proximidades de Cartago, que só foi possível pelo domínio do mar que Roma

exercia.

Na Idade Média, era comum a ação de corsários prejudicando as principais

linhas de comunicação marítimas, pois já era intenso o tráfego de riquezas trazidas

de além-mar, principalmente metais preciosos extraídos da América. Um dos

grandes impérios de então era o espanhol, que se via constantemente ameaçado

por corsários ingleses. Por isso, a Espanha planeja invadir a Inglaterra e prepara

uma grande esquadra. Porém, os ingleses conseguem impor à armada espanhola

uma derrota definitiva, garantindo, assim, a integridade do seu território.

No século seguinte, mais uma vez o domínio do mar é motivo de conflito. Os

holandeses substituíram os portugueses e os espanhóis no transporte de

Page 17: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

16

especiarias do Oriente e, com o enfraquecimento da Inglaterra por uma guerra civil,

vieram a se apropriar de várias linhas de comunicação com a América. Como forma

de retomar esse comércio perdido e voltar a obter o domínio do mar, a Inglaterra

instituiu, em 1651, o Ato de Navegação, que estabeleceu que qualquer bem

destinado àquele país deveria ser transportado apenas por navio inglês ou por navio

de bandeira do país de origem da mercadoria. Além disso, ainda exigiu que todos os

navios que navegassem pelo Canal da Mancha arriassem seus pavilhões caso

encontrassem um navio inglês. Isso fez com que fossem deflagradas várias guerras

pelo comércio marítimo e pelo domínio do mar ao longo do Século XVII, que

consolidaram a Inglaterra como grande potência marítima. (REIS; ALMEIDA, 2012).

No Século XVIII, a Espanha se enfraqueceu pela guerra de sucessão, e

ingleses e franceses se defrontaram no mar pelo controle das linhas de

comunicação com o Novo Mundo. Os ingleses procuraram sempre forçar uma

batalha decisiva com os franceses e estes, inferiorizados no mar, procuravam atacar

o comércio marítimo inimigo utilizando-se de corsários.

Após a Revolução Francesa, Napoleão, consciente da superioridade inglesa

no mar, priorizou a formação de uma esquadra forte para se contrapor à Grã-

Bretanha. Porém, a Royal Navy1 permaneceu impondo um severo bloqueio marítimo

aos navios franceses que, apesar de todos os esforços, não conseguiram suplantar

o amplo domínio inglês no mar. A Batalha Naval de Trafalgar, em 1805, interrompeu

os planos franceses, confirmando a superioridade naval inglesa. Mais uma vez,

então, um fato da história demonstra que o domínio do mar faz manter a integridade

de um país, evitando sua invasão pelo inimigo.

No período contemporâneo, durante o Século XIX, o domínio britânico no

mar se firmou, constituindo a chamada Pax Britânica. Seus navios se faziam

presentes em todos os mares do planeta em ações de intervenção ou simples ações

diplomáticas. Nesse século, por conta da Revolução Industrial, os navios ganharam

em poderio militar, resistência e manobrabilidade. Outro processo de colonialismo

por busca de novos mercados teve início, trazendo rivalidades entre as grandes

potências ocidentais e levando a uma corrida armamentista sem precedentes, em

que navios cada vez mais poderosos começaram a ser construídos. (REIS;

ALMEIDA, 2012).

1 Real Marinha Britânica.

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17

Ainda considerando o mar como ambiente relevante para grandes

conquistas, a transição entre os Séculos XIX e XX foi permeada de discussões

sobre estratégias e táticas navais, e marcada por um grande desenvolvimento do

poder naval. A nova corrida colonial, a busca por novas riquezas, a necessidade de

se manter a segurança das novas linhas comerciais marítimas e a evolução

tecnológica ocorrida levaram o mundo à beira de uma grande conflagração.

Qualquer distúrbio da ordem internacional poderia levar os países a um

enfrentamento sem controle e nunca antes visto, o que se materializou com o início

da Primeira Guerra Mundial.

A Grã-Bretanha ainda era a maior potência naval do mundo e procurou

realizar a proteção de suas linhas comerciais e o bloqueio da frota de alto-mar

germânica em seus portos. Os alemães, por sua vez, sabedores da grande

dependência inglesa do mar, utilizaram-se da guerra de corso contra as linhas de

comunicação britânicas, intensificada, a partir de 1915, pela utilização de

submarinos.

O domínio do mar dos aliados foi determinante para a conclusão do conflito

em terra, no sentido em que permitiu que o envio de milhares de soldados

americanos para o teatro de operações na Europa fosse um sucesso. Além disso,

com o estabelecimento do sistema de comboios para proteger as linhas de comércio

e um eficiente sistema de ataque aos submarinos alemães, as perdas dos navios

mercantes aliados foram sensivelmente reduzidas.

No período entre guerras, cresce o poderio militar-naval dos Estados Unidos

da América (EUA) e do Japão. A Alemanha de Hitler ignora o Tratado de Versalhes

e nova corrida armamentista tem vez, criando um ambiente propício para outra

guerra de maior magnitude que a primeira. Mais uma vez a Alemanha se utilizou da

guerra de corso com submarinos contra as linhas de comunicação aliadas e

novamente a disputa no mar infligia danos consideráveis às atividades econômicas

em terra. Com as derrotas de Alemanha e Japão, tem fim a Segunda Grande Guerra

e, como legado da guerra no mar desses últimos grandes conflitos, dois engenhos

surgiram como armas formidáveis para o controle de área marítima e para a

negação do uso do mar: o porta-aviões e o submarino, respectivamente. (REIS;

ALMEIDA, 2012, p. 52).

Em relação ao mundo do pós-guerra:

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18

A incerteza não os tornou menos beligerantes, porém foram revestidos de uma belicosidade pessimista. O poder de aplicar as armas nucleares não os dotou de capacidade de utilização. O mar havia realmente tornado o poder de fogo maior e mais abrangente, mas também havia fragilizado a capacidade. Da Coreia de 1950 à Líbia de 2011, o mar continua a ser objeto direto de disputas beligerantes. [...] No pós-Guerra Fria o oceano vê aumentar o número de marinhas bem como as dissimetrias entre os Estados. [...] A ascensão chinesa demonstra que o mar pode ser uma ferramenta de projeção de poder dissuasivo. (FRANÇA, 2012, p. 75).

Vivemos, atualmente, em um período de transição da ordem mundial. Alguns

autores acreditam que o mundo é, hoje, multipolar, com a presença de várias

potências regionais; outros creem em um período de uma única potência

hegemônica mundial, chamado de Pax Americana. O fato é que o mar continua

sendo a principal rota para as trocas culturais e comerciais do mundo. E, por isso,

permanece de fundamental importância a proteção dessas linhas de comunicação

marítimas por onde trafegam a quase totalidade das riquezas produzidas.

Além disso, considerando que as ameaças atuais não são claras e os

inimigos não são bem definidos, as inquietações em relação à segurança

internacional se configuram a partir de ações de grupos desprovidos de

características de Estado-Nação. São as chamadas novas ameaças2, que

mostraram ao mundo o seu potencial no atentado terrorista ao World Trade Center,

em Nova Iorque, EUA, em 11 de setembro de 2001. Nesse sentido, o domínio do

mar torna-se fator importante para impedir ou dificultar que quaisquer dessas

ameaças atinjam, via marítima, a sociedade ou o patrimônio de uma nação.

Preocupado com o caráter amplo e difuso dessas novas ameaças, os EUA

promoveram, em 2006, o Sea Forum, quando ficou latente a importância da criação

de alianças de cooperação entre Estados, visando à garantia da segurança

internacional dos mares e oceanos para temas de pirataria, contrabando, tráfico

humano, imigração ilegal e transporte de armas de destruição em massa.

(MCDOUGALL, 2011 apud MAIA, 2012, p. 135).

Entretanto, com a crescente escassez de recursos naturais, esse novo

sistema internacional vai ter que lidar, de agora em diante, com disputas por

riquezas intocadas que se encontram no subsolo marinho.

2 As novas ameaças mais comuns são o terrorismo; os crimes transnacionais; o tráfico de armas, drogas ou pessoas; a imigração indesejada e ilegal; as armas de destruição em massa; a poluição descontrolada etc.

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Contudo, a real batalha política pelo oceano ainda nem começou. Ainda que haja uma série de regulamentações acerca dos limites laterais marítimos, da fixação dos limites marítimos, da zona econômica exclusiva, as águas internacionais são mais patrulhadas do que jamais foram antes na História, o mar ainda está longe de ser conhecido e mapeado. O oceano como meio, teatro e objetivo (motivo) representa 97,5% das águas de todo o planeta o que demonstra que o seu peso na política de equilíbrio de poder desempenhará um papel sem precedentes na vida das relações internacionais do século XXI. (FRANÇA, 2012, p. 77).

O domínio do mar representará, efetivamente, o acesso às riquezas

escondidas em uma determinada área e será isso que guiará os rumos do controle

dos oceanos nas relações internacionais. Daí a importância de o Brasil desenvolver

capacidade tecnológica para explorá-las e possuir um poder naval adequado e com

capacidade dissuasória.

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3 O ORDENAMENTO JURÍDICO DO MAR

Os primeiros sinais do delineamento de um direito internacional sobre o mar

começaram a aparecer apenas no Século XIX, através de alguns tratados bilaterais.

Antes disso, várias foram as teses jurídicas aplicadas, como por exemplo, a do

alcance do projetil de canhão, na qual a jurisdição de um Estado sobre o mar se

dava da costa até o limite de alcance do tiro de um canhão, ou seja, cerca de uma

légua ou 3 milhas náuticas, tendo sido os EUA o primeiro Estado a adotar este

critério para delimitação do mar territorial.

Com o incremento das atividades econômicas marítimas, esta regra foi

sendo, aos poucos, abandonada e a largura do mar territorial foi gradualmente

ampliada para 6 e depois para 12 milhas náuticas.

Até o início do Século XX, as relações envolvendo o mar foram disciplinadas

por costumes que por vezes não eram aceitos por alguns países e apenas as

decisões que levavam em conta alguma jurisprudência eram capazes de normatizar

minimamente as relações entre eles. Contudo, já se tinha a plena consciência da

necessidade de codificação das normas relativas aos direitos e deveres dos Estados

costeiros sobre o mar. Uma primeira tentativa de projeto de convenção foi realizada

pela Sociedade das Nações, em 1930, durante a Conferência de Haia, não tendo

havido, contudo, consenso entre os 47 Estados participantes.

Terminada a Segunda Grande Guerra, foi criada a Organização das Nações

Unidas (ONU) e convocada a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Direito

do Mar, em Genebra, para examinar aspectos jurídicos, técnicos, econômicos e

políticos referentes ao mar. Foi realizada em 1958 e contou com a participação de

86 países. Dela, foram elaboradas 4 convenções internacionais: a Convenção sobre

o Mar Territorial e Zona Contígua; a Convenção sobre o Alto-Mar; a Convenção

sobre a Pesca e Conservação dos Recursos Biológicos do Mar; e a Convenção

sobre a Plataforma Continental. Porém, elas não definiram claramente alguns

assuntos polêmicos, como a delimitação da largura do mar territorial e de zonas de

pesca. Por isso, foi convocada a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre o

Direito do Mar, que se reuniu em Genebra, em 1960, e tampouco conseguiu o

esperado consenso nos temas considerados controversos, constituindo-se, assim,

em um grande fracasso. (FIORATI, 1999).

Page 22: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

21

Seguindo uma tendência sul-americana, o Brasil resolveu incluir

definitivamente o Atlântico Sul como espaço estratégico para a sua geopolítica.

Diante da falta de regulamentação até então, estabeleceu, através do Decreto-Lei nº

1.098, de 25 de março de 1970, que o seu mar territorial abrangeria uma faixa de

200 milhas náuticas medidas a partir da linha de baixa-mar do seu litoral continental

e insular. Além disso, ainda estabeleceu que a sua soberania se estenderia ao

espaço aéreo acima do mar territorial, bem como ao leito e subsolo deste mar. Cabe

comentar que, anteriormente, pelo Decreto-Lei nº 44, de 18 de novembro de 1966,

essa faixa era de apenas 6 milhas náuticas de largura.

Porém, essa posição adotada pelo governo brasileiro de então foi mais

radical que a dos seus vizinhos próximos, no sentido em que passou a exercer todas

as prerrogativas de soberania e restringiu os direitos dos navios estrangeiros de

circularem livremente nessa área. (MORRIS, 1979 apud PENHA, 2012, p. 117).

Por isso, os EUA se posicionaram firmemente contra a decisão brasileira,

promovendo retaliações às importações de produtos brasileiros, o que abalou as

relações bilaterais entre eles.

A Terceira Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM),

realizada entre 1973 e 1982, conseguiu finalmente atingir um consenso em muitos

dos temas debatidos, levando à assinatura, em Montego Bay, Jamaica, de um

documento de 320 artigos que disciplinam todos os aspectos referentes ao mar.

A partir da entrada em vigor da CNUDM em 1994, foram definidas áreas

adicionais de soberania dos Estados costeiros, que podem ser entendidas como

suas novas fronteiras. “Na fixação do mar territorial ocorreu um exemplo de fronteira

dinâmica, de fronteira geopolítica, de fronteira móvel que avançou. [...] O mar

territorial suscita o problema da fixação da fronteira lateral marítima.” (SOARES,

1973, p. 337).

A CNUDM atribuiu aos Estados costeiros direitos e deveres sobre espaços

marítimos. No Brasil, as definições dessas mesmas áreas foram sancionadas pela

Lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993. Ficaram, então, estabelecidos: o mar territorial

(MT), a zona contígua (ZC), a zona econômica exclusiva (ZEE) e a plataforma

continental (PC), ilustrados esquematicamente na Figura 1.

Page 23: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

22

Figura 1 – As definições constantes na CNUDM. Fonte: MOURA NETO (2014).

No MT brasileiro, é reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o

direito de passagem inocente, e a soberania do Brasil nesta área estende-se, além

da massa líquida, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo.

Na ZC, o Brasil pode fazer cumprir medidas de fiscalização para evitar

infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários, no

seu território ou no seu MT; e para reprimir as infrações às leis e aos regulamentos,

no seu território ou no seu MT.

Na ZEE, o Brasil possui soberania para exploração e aproveitamento,

conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas

sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a

outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins

econômicos. Sob sua jurisdição, o Brasil possui o direito exclusivo de regulamentar a

investigação científica marinha, a proteção e a preservação do meio marítimo, bem

como a construção, operação e uso de todos os tipos de ilhas artificiais, instalações

e estruturas. Investigação científica marinha e a realização de exercícios ou

manobras militares, em particular as que impliquem o uso de armas ou explosivos

por parte de outros Estados, somente mediante consentimento prévio do governo

brasileiro. Apesar disso, a lei reconhece a todos os Estados, na ZEE, as liberdades

de navegação e sobrevoo, bem como de outros usos do mar internacionalmente

Page 24: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

23

lícitos, relacionados com as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de

navios e aeronaves. Cabe comentar que consta da nossa Constituição Federal, de

1988, que todos os recursos naturais deste espaço pertencem à União.

Na PC, o Brasil tem direito de exploração dos recursos minerais e outros não

vivos do leito do mar e subsolo, bem como organismos vivos pertencentes a

espécies sedentárias, isto é, aquelas que no período de captura estão imóveis no

leito do mar ou no seu subsolo, ou que só podem mover-se em constante contato

físico com esse leito ou subsolo. Assim como na ZEE, o Brasil possui direito

exclusivo de regulamentar a investigação científica marinha, a proteção e

preservação do meio marinho, bem como a construção, operação e o uso de todos

os tipos de ilhas artificiais, instalações e estruturas. Do mesmo modo, investigação

científica marinha por parte de outros Estados dependem do consentimento prévio

do governo brasileiro, que tem direito exclusivo de autorizar e regulamentar as

perfurações na plataforma continental, quaisquer que sejam os seus fins. Também

de acordo com a Constituição Federal de 1988, os recursos naturais da PC

pertencem à União.

Além dessas importantes definições, todas as partes do mar não incluídas

na ZEE, no MT ou nas águas interiores de um Estado, nem nas águas

arquipelágicas de um Estado arquipélago são chamadas de alto-mar. Nele, é

assegurado a todos os Estados a liberdade de: navegação; sobrevoo; colocar cabos

e dutos submarinos; construir ilhas artificiais e outras instalações permitidas pelo

direito internacional; pesca; e de investigação científica. (CONVENÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, 1985, p. 89).

O artigo 76 da CNUDM prevê a possibilidade de um Estado costeiro ampliar

os limites de sua PC até uma distância máxima de 350 milhas náuticas da costa.

Para que isso ocorra, ele deverá submeter à Comissão de Limites da Plataforma

Continental das Nações Unidas (CLPC) informações e dados geodésicos que

comprovem que sua PC continua além das 200 milhas náuticas até atingir o bordo

exterior da margem continental. Após a aprovação por parte dessa Comissão, há o

reconhecimento da ONU e todos os direitos do Estado sobre essa nova área

passam a ser legítimos.

Tomando por base a possibilidade da presença de riquezas nessas áreas, o

Estado costeiro que venha a aumentar a largura de sua PC estará,

consequentemente, tendo acesso a mais riquezas naturais.

Page 25: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

24

Em função do aumento de interesse pelos minérios localizados na área, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos prevê um aumento considerável no número de pleitos de aumento dos limites da plataforma continental para além das 200 milhas náuticas perante a Comissão de Limites da Plataforma Continental: o que está no solo e subsolo da plataforma continental é soberanamente do estado costeiro. (MORE; REI, 2012, p. 199).

Até o ano de 2010, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos

estimava em 69 o número de Estados com potencial de expansão dos limites de

suas PC. (International Seabed Authority, 2010, p. 16).

A ampliação do interesse dos Estados sobre os espaços marinhos ainda

deve crescer com o acesso a tecnologias para pesquisa, exploração e explotação de

recursos marinhos.

O domínio cada ver maior de tecnologias que permitam a explotação de recursos naturais marinhos a grandes profundidades fará aumentar o interesse dos diversos Estados sobre esses espaços oceânicos e suas riquezas. Por isso e cada vez mais, o Oceano Atlântico gradativamente tem sido reconhecido como um importante espaço para o ciclo vital do estado brasileiro em todas as suas perspectivas física, cultural, econômica, legal e institucional. (BORGESE, 1998 apud MORE, 2012, p. 239).

Tendo conhecimento de que sua PC se estendia, em vários trechos do

litoral, além das 200 milhas náuticas da costa e preocupado em garantir seus

direitos sobre todas as riquezas de suas águas, o Brasil se apressou em levantar

dados e informações que lhe permitissem apresentar uma proposta de alteração dos

limites da PC na CLPC. Para isso, realizou o levantamento de toda a sua PC,

cumprindo o Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC).

Page 26: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

25

4 O PLANO DE LEVANTAMENTO DA PLATAFORMA CONTINENTAL

BRASILEIRA

Com os objetivos de formar recursos humanos; desenvolver pesquisa,

ciência e tecnologia marinhas; e explorar de forma sustentável os recursos do mar,

das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e das áreas

costeiras adjacentes, foi aprovada, pelo Decreto nº 5.377, de 23 de fevereiro de

2005, a Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM), cuja finalidade é:

orientar o desenvolvimento das atividades que visem à efetiva utilização, exploração e aproveitamento dos recursos vivos, minerais e energéticos do Mar Territorial, da Zona Econômica Exclusiva e da Plataforma Continental, de acordo com os interesses nacionais, de forma racional e sustentável para o desenvolvimento socioeconômico do País, gerando emprego e renda e contribuindo para a inserção social. (BRASIL, 2005).

Criada pelo Decreto nº 74.557, de 12 de setembro de 1974, a Comissão

Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), que é um colegiado integrado por

representantes de 18 Ministérios e Secretarias de Estado e coordenado pelo

Comandante da Marinha, tem a responsabilidade de conduzir todos os assuntos

afetos à PNRM.

Esse colegiado também coordena diversos programas relacionados ao mar,

como o Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na

Zona Econômica Exclusiva (REVIZEE)3; o Programa Antártico Brasileiro4; o

Programa Train-Sea-Coast Brasil5; o Programa Arquipélago de São Pedro e São

Paulo (PROARQUIPÉLAGO)6; o Programa Mentalidade Marítima7; e o Programa de

3 Realiza o levantamento dos potenciais sustentáveis de captura dos recursos vivos na ZEE.

4 Iniciado há mais de 20 anos, fez do Brasil membro consultivo do Tratado da Antártica, e suas pesquisas dão elevado prestígio internacional ao País.

5 Coordenado pela ONU, visa capacitar recursos humanos que atuam nas áreas costeiras e oceânicas.

6 Desenvolvido para consolidar o direito do Brasil de contar com uma área marítima ao seu redor de 200 milhas de raio (ZEE), ainda desenvolve programa de pesquisa de recursos marinhos.

7 Tem como objetivo conscientizar a população brasileira da importância do mar para o cidadão e para o País.

Page 27: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

26

Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira

(REMPLAC)8.

A Marinha é responsável, também, pela Secretaria da CIRM, Organização

Militar dirigida por um Contra-Almirante da ativa.

Em junho de 1987, o Brasil, através de iniciativa da Marinha e da CIRM,

resolveu dar início a um ambicioso projeto para realizar um minucioso trabalho de

levantamento da PC brasileira, além das 200 milhas náuticas, com o propósito de

determinar seus limites exteriores, com base no artigo 76 da CNUDM que, no seu

item 8 relata:

Informações sobre os limites da plataforma continental, além das 200 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, devem ser submetidas pelo Estado costeiro à Comissão de Limites da Plataforma Continental, estabelecida de conformidade com o Anexo II, com base numa representação geográfica equitativa. A Comissão fará recomendações aos Estados costeiros sobre questões relacionadas com o estabelecimento dos limites exteriores da sua plataforma continental. Os limites da plataforma continental estabelecidos pelo estado costeiro com base nessas recomendações serão definitivos e obrigatórios. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, 1985, p. 82, grifo nosso).

Dois anos depois, foi instituído, pelo Decreto n° 98.145, de 15 de setembro

de 1989, o LEPLAC, cuja meta é definir, no seu enfoque jurídico, o limite da PC além

das 200 milhas da ZEE, em conformidade com os critérios estabelecidos.

A partir da entrada em vigor da CNUDM, em 16 de novembro de 1994, o

Brasil teria um prazo de 10 anos para concluir as atividades do LEPLAC e submeter,

à CLPC, o limite exterior da sua plataforma continental jurídica (PCJ), prazo este

posteriormente alterado para 13 de maio de 2009.

Os critérios utilizados apresentam conceitos geodésicos, hidrográficos,

geológicos e geofísicos de natureza complexa, o que contribuiu para que o País

necessitasse de longo tempo para coletar e processar esses dados, fruto da grande

extensão da nossa costa. Esse projeto, coordenado pela CIRM, contou com a

participação de diversos navios hidrográficos e oceanográficos da Diretoria de

Hidrografia e Navegação (DHN), em 20 diferentes Comissões LEPLAC, além de

especialistas da Empresa Brasileira de Petróleo S.A. (PETROBRAS), da Marinha do

Brasil e da comunidade científica. Foram coletados dados ao longo de mais de

8 Tem como objetivo efetuar o levantamento da plataforma continental, detalhar locais de interesse geoeconômico e avaliar depósitos minerais.

Page 28: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

27

230.000 km de perfis distribuídos ao longo da margem continental, do Oiapoque ao

Chuí, até uma distância do litoral de aproximadamente 350 milhas náuticas,

conforme a Figura 2.

Figura 2 – Mapa de localização das linhas geofísicas do Projeto LEPLAC. Fonte: MOURA NETO (2014).

Após 17 anos de trabalho, foi concluída a etapa de aquisição de dados de

sísmica de reflexão multicanal, gravimetria, magnetometria e batimetria, o que

permitiu que fosse apresentado, em 2004, à CLPC, o pleito pela extensão de nossa

PC além do limite das 200 milhas náuticas da ZEE.

Conforme ilustrado na Figura 3, além da área da nossa ZEE, que é cerca de

3.500.000 km², o resultado apontou que o País possui uma extensa área de PCJ de,

aproximadamente, 950.000 km². A jurisdição sobre todo esse mar de 4.500.000 km²

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28

significa a incorporação de uma região marítima que é um pouco maior que a

metade da área continental do nosso território, de 8.511.996 km², onde o Brasil

exercerá direitos de soberania e jurisdição, conforme o caso, no que diz respeito à

exploração e ao aproveitamento dos recursos naturais e explotação de recursos

minerais marinhos. (MOURA NETO, 2014).

Desde o início do LEPLAC, em 1987, a PETROBRAS tem arcado com cerca

de metade dos custos para a aquisição e processamento dos dados geofísicos,

cabendo o restante à Marinha do Brasil, através do emprego dos navios e execução

do projeto.

Figura 3 – Proposta de extensão da plataforma continental além das 200 milhas náuticas. Fonte: MOURA NETO (2014).

Em abril de 2007, após concluir a análise da nossa proposta, a CLPC

encaminhou suas recomendações ao governo brasileiro, segundo as quais o Brasil

poderá formalizar sua proposta que permitirá a incorporação de, no mínimo, 750.000

km² e, no máximo, 950.000 km², em valores aproximados (MOURA NETO, 2014), o

que significa que 200.000 km² poderiam não ser aceitos.

Em julho do mesmo ano, o Grupo de Trabalho para Acompanhamento da

Proposta do Limite Exterior da Plataforma Continental Brasileira (GT LEPLAC)

apresentou à Subcomissão para o LEPLAC os pontos discordantes das

Page 30: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

29

recomendações da CLPC. Como consequência, foi sugerido à CIRM que fosse dada

continuidade às atividades do GT LEPLAC, com vistas à elaboração de uma

Proposta Revisada de Limite Exterior da Plataforma Continental Brasileira, além das

200 milhas, a ser posteriormente novamente encaminhada à CLPC.

Demonstrando preocupação com a soberania sobre sua PC, mesmo antes

da definição de seus limites externos, a CIRM, através da resolução nº 03, de 26 de

agosto de 2010, aprovou a recomendação da Subcomissão para o LEPLAC, de que:

independentemente de o limite exterior da plataforma Continental (PC) além das 200 milhas náuticas não ter sido definitivamente estabelecido, o Brasil tem o direito de avaliar previamente os pedidos de autorização para a realização de pesquisa na sua PC além das 200 MN, tendo como base a proposta de limite exterior encaminhada à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC), em 2004, e publicada na página eletrônica da ONU. (BRASIL, 2010).

Figura 4 – O Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC). Fonte: MOURA NETO (2014).

A Figura 4 mostra, então, em um tom de cor mais claro, a extensão das 200

milhas náuticas da costa (ZEE); em tom intermediário, a área de plataforma

continental além das 200 milhas náuticas, pleiteada e aceita junto à CLPC; e, em

tom mais escuro, a área de 200.000 km² da proposta ainda em discussão junto à

ONU. Portanto, no total, foram contestadas 4 áreas: 20.000 km² do Cone do

Page 31: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

30

Amazonas, 110.000 km² da Cadeia Norte-Brasileira, 20.000 km² da Cadeia Vitória-

Trindade e 50.000 km² da Margem Continental Sul.

Para a confecção de uma proposta revisada de limite exterior da plataforma

continental brasileira além das 200 milhas, o Presidente da República sancionou a

Lei nº 11.824, de 13 de novembro de 2008, por meio da qual aprova um crédito

especial para custear as despesas necessárias. Além disso, foi necessário o

processamento e a interpretação dos dados já coletados, realizados por equipes em

terra, e o levantamento, processamento e interpretação de novos dados obtidos por

navios de pesquisas, no mar, o que foi realizado a partir de março de 2009.

(BRASIL, 2012c).

Para a obtenção de novos dados geofísicos ao longo da nossa costa, foi

necessária a contratação, a partir de março de 2009, de dois navios de pesquisa

estrangeiros. O NPq M/V Sea Surveyor, de bandeira de Bahamas, realizou 13

comissões, onde foram coletados dados de batimetria multifeixe, sísmica multicanal,

gravimetria, magnetometria, sonobóias e perfilador de subfundo; em todas as

pernadas desta comissão estavam presentes pesquisadores das universidades e

observadores de mamíferos marinhos, quando da realização de sísmica multicanal,

além de um oficial da Marinha do Brasil. Já o R/V Professor Logachev, de bandeira

russa, realizou dragagens de rochas frescas na Cadeia Vitória-Trindade (13

amostras) e na Cadeia Norte-Brasileira (17 amostras). Durante as comissões,

igualmente embarcaram pesquisadores das universidades e um oficial da Marinha

do Brasil (BRASIL, 2012c). Essa coleta foi encerrada em maio de 2010, dando-se

início às confecções dos relatórios devidos. O Relatório da Área Sul encontra-se

pronto e os das demais áreas têm previsão de prontificação para o segundo

semestre de 2014. O relatório final a ser entregue à CLPC deverá estar pronto em

julho de 2015. (MOURA NETO, 2014).

Este documento leva, por trás dos dados e informações coletados, uma

grande esperança de que as áreas propostas sejam aceitas. É a última etapa da

demarcação da nossa fronteira oriental. “Fica, assim, identificada a magnitude da

importância das resoluções da Comissão de Limites da Plataforma Continental da

ONU, pois estamos consolidando o Brasil para o Leste.” (BARBOSA JUNIOR, 2012,

p. 222).

O acréscimo dessas áreas abrirá novas possibilidades para as gerações de

brasileiros vindouras, no sentido em que, no futuro, com acesso a novas tecnologias,

Page 32: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

31

possam ser descobertas outras riquezas que projetarão ainda mais o Brasil no

cenário internacional.

Sem dúvida, a definição do limite exterior da plataforma continental será um legado de fundamental importância para o futuro das próximas gerações de brasileiros, que verão aumentadas as possibilidades de descoberta de novas reservas de petróleo e gás, de exploração de recursos minerais em grandes profundidades, e de explorar recursos da biodiversidade marinha, que a ciência atual reconhece como um dos campos mais promissores do desenvolvimento da biogenética. (BRASIL, 2012c).

O resultado final do LEPLAC não se limita apenas à emissão de um relatório

para ser entregue à CLPC. Mais do que isso, ele permitiu um grande

desenvolvimento e capacitação técnica para a obtenção dos resultados. Fruto desse

trabalho e experiência adquirida:

o Brasil passou a ter uma capacitação técnica ímpar no que concerne ao estabelecimento do limite exterior da plataforma continental, além das duzentas milhas náuticas. Tal experiência abre perspectivas para nosso País atuar na área de cooperação técnica internacional, em condições de prestar assessoria a outros Estados costeiros no estabelecimento do limite exterior de suas respectivas plataformas continentais. (BRASIL, 2012c).

Tal cooperação técnica internacional funciona como apoio à política externa

do País. Um exemplo concreto foi o Projeto de Extensão da Plataforma Continental

de Angola (PEPCA), assinado em abril de 2011, através de um Entendimento

Técnico entre os MD do Brasil e de Angola. Seu objetivo foi auxiliar aquele país a

obter os dados referentes ao mapeamento do fundo marinho a fim de reivindicar,

junto à ONU, o reconhecimento da extensão de sua plataforma continental. O

projeto foi concluído em 20 meses, contemplando, inclusive, a formação de pessoal

angolano em cursos de mestrado e doutorado no Brasil. O Relatório de Submissão

confeccionado pela EMGEPRON9 foi entregue em outubro de 2013. (MOURA

NETO, 2014).

9 A Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON) é uma empresa pública, criada em 09/06/1982, vinculada ao Ministério da Defesa por intermédio do Comando da Marinha do Brasil, que tem como finalidades principais: promover a Indústria Militar Naval Brasileira; gerenciar projetos integrantes de programas aprovados pelo Comando da Marinha; e promover e executar atividades vinculadas à obtenção e manutenção de material militar naval. A Empresa atua na gerência de projetos, contratada pela MB, e também na comercialização de produtos e serviços disponibilizados pelo setor naval da indústria da defesa nacional, incluindo embarcações militares, reparos navais, sistemas de combate embarcados, munição de artilharia, serviços oceanográficos e apoio logístico, entre outros.

Page 33: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

32

Além do cumprimento das tarefas que lhe foram impostas quando da sua

criação, o LEPLAC ainda deixou como legado para o País a produção de um

importante acervo de dados batimétricos, sísmicos, gravimétricos e

magnetométricos, que se encontra disponível para o desenvolvimento de teses de

pós-graduação em nível de mestrado ou doutorado, e uma grande demonstração

internacional de que o Brasil é capaz de marcar sua presença no Atlântico Sul, na

área de empreendimentos oceanográficos.

Definido o “mar que nos pertence”, cabe-nos conhecer todo o seu potencial

e importância, para que possamos extrair de forma sustentável suas riquezas,

utilizá-lo para o nosso desenvolvimento e, principalmente, defendê-lo da cobiça

externa.

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33

5 AS RIQUEZAS E POTENCIALIDADES DA AMAZÔNIA AZUL®

A população mundial, hoje, já ultrapassa a casa dos 7,2 bilhões de

habitantes. É natural que a produção de bens e alimentos comece a apresentar

problemas e, por serem mais facilmente conhecidos, os espaços terrestres vêm

demonstrando sinais de esgotamento, principalmente de ordem energética e

ambiental.

Por isso, o crescimento do conhecimento humano sobre os oceanos vem

contribuindo para resolver diversos problemas em que o mar tem se apresentado

como solução nas suas diversas formas de utilização.

O mar sempre esteve relacionado com o progresso do Brasil, desde o seu descobrimento. A natural vocação marítima brasileira é respaldada pelo seu extenso litoral e pela importância estratégica do Atlântico Sul. [...] Nessa imensa área, incluída a camada do pré-sal, estão as maiores reservas de petróleo e gás, fontes de energia imprescindíveis para o desenvolvimento do País, além da existência de grande potencial pesqueiro, mineral e de outros recursos naturais. (BRASIL, 2012b).

Contudo, os aspectos ambientais impõem a necessidade de o mar ser

explorado racionalmente, a despeito do grande desenvolvimento da ciência e da

rápida evolução tecnológica.

Apesar de ser grande a riqueza encontrada nos fundos marinhos, muitos

países não possuem o domínio da tecnologia necessária para a sua exploração.

Isso está gerando uma verdadeira corrida colonialista para o mar, onde a

demarcação de um espaço marítimo por um país caracteriza-se por uma

correspondente restrição a outros. (DIAS, 2013, p. 48).

Muitos dos países do Atlântico Sul, onde se concentram grandes depósitos

de minérios e recursos pesqueiros, passam por sérios problemas relacionados ao

mar, como a pesca ilegal, a pirataria, o depósito de lixo tóxico e o tráfico ilícito. Isso

se deve às suas baixas capacidades de projeção de soberania sobre seus espaços

marítimos. Estima-se, por exemplo, que apenas a pesca ilegal traga um prejuízo de

cerca de 1 bilhão de dólares por ano aos africanos. Essa fragilidade dá margem à

entrada de potências extrarregionais com pretexto de defenderem seus interesses

políticos e econômicos na região. (PENHA, 2012, p. 123).

Page 35: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

34

Um exemplo dessa corrida colonialista é a presença da China no

desenvolvimento de projetos de infraestrutura e exploração de recursos naturais no

continente africano. Outro exemplo foi a reativação da 4ª Frota Naval americana em

meados de 2008, o que causou apreensão entre diplomatas, militares e políticos

brasileiros. Ela havia sido criada especialmente para o cenário estratégico da 2ª

Guerra Mundial e esteve desativada por 60 anos. (EQUIVALENTE..., 2012).

Além do transporte marítimo e da pesca, conhecidos desde a Antiguidade, o

mar tem se mostrado economicamente viável na explotação de petróleo, gás natural

e recursos minerais; na geração de energia, através da utilização de ondas, marés,

variações térmicas ou mesmo pela instalação de campos eólicos na sua superfície;

na farmacologia, através da utilização de algas marinhas; no turismo, pelo transporte

de número cada vez maior de pessoas; e no lazer, com a criação de novos esportes

aquáticos.

5.1 A EXPLOTAÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS E A GERAÇÃO DE ENERGIA

O Brasil foi dependente da importação de petróleo por décadas. A extração

de petróleo e gás no mar traz uma série de dificuldades de várias ordens que tornam

seu custo maior do que em terra. Com os choques do petróleo de 1973 e 1979, a

Organização de Países Produtores de Petróleo elevou o preço do barril de menos de

1 dólar para valores entre 20 e 40 dólares. Isso tornou o investimento em

tecnologias para a extração em águas profundas economicamente viável. (VIDIGAL

et al., 2006, p. 130).

Com o passar dos anos e o aumento do consumo, já se vislumbra o

esgotamento das reservas de petróleo e gás do mundo. Por isso, eles tornam-se

cada vez mais valiosos. Enquanto nenhuma outra fonte de energia renovável

aparece para substituir o petróleo, é importante a descoberta de novas reservas,

como tem acontecido no Pré-Sal. Essas descobertas em sítios cada vez mais

profundos têm tornado mandatório o desenvolvimento de novas tecnologias para

superar tamanho desafio. Por isso, é de suma importância o envolvimento direto de

universidades e centros de pesquisa nesta temática.

Page 36: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

35

Figura 5 – Campos de produção e blocos de exploração do Pré-Sal. Fonte: MOURA NETO (2014).

Com a descoberta de novas reservas e com o início da exploração de alguns

poços, o Brasil possui, em estatística realizada em janeiro de 2014,

aproximadamente 91,9% da produção de petróleo e 70,6% da produção de gás

natural explotados de campos marítimos (ANP, 2014), sendo que as bacias de

Campos e Santos respondem por 89,5% da produção nacional de petróleo.

(MOURA NETO, 2014).

A nossa produção total de petróleo superou a marca de 2 milhões de barris

por dia, e a de gás natural 80 milhões de m3 por dia. Especificamente na Bacia do

Pré-Sal (Figura 5), cujas reservas são estimadas em 35 bilhões de barris, a

produção de petróleo chegou a 358,8 mil barris por dia, respondendo por 17,5% do

total diário produzido. (AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E

BIOCOMBUSTÍVEIS, 2014).

Como as bacias petrolíferas estão cada vez mais afastadas da costa, o fator

logístico e a defesa das instalações se tornaram fatores determinantes para sua

exploração econômica. Pela sua grande importância para a Nação, uma possível

interrupção da produção de petróleo e gás natural proveniente dos poços marítimos

levaria o País a um verdadeiro colapso energético.

Quanto à geração de energia dos mares, ela pode ser devida às ondas,

marés e gradiente térmico.

Page 37: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

36

Onda, em uma de suas definições, é a elevação e depressão da camada

superficial de uma massa líquida, isto é, energia cinética transportada pela água em

movimento. Esta energia advém das ondas oceânicas e é considerada energia

limpa, ou seja, sem quaisquer custos para o meio ambiente.

Aqui no Brasil, visando a converter essa energia das ondas em energia

elétrica, foi realizada uma parceria entre Furnas10, Coppe/UFRJ11 e a empresa

Seahorse Wave Energy. Como passo inicial para o desenvolvimento dessa nova

tecnologia, terá início, em 2015, a operação do primeiro protótipo que será operado

pela Marinha na Ilha Rasa, no Rio de Janeiro. A geração inicial será de 100 KW,

suficiente para iluminar 200 residências. Esse ambicioso projeto, com tecnologia

100% brasileira, visa primordialmente a atender as plataformas de petróleo do Pré-

Sal, pois representam verdadeiras cidades flutuantes com demandas crescentes de

energia elétrica. (LUNA, 2013).

Um outro projeto piloto chamado Usina de Ondas, financiado pela Tractebel

Energia, através do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional

de Energia Elétrica, com o apoio do governo do Ceará, está instalado no Porto do

Pecém, no litoral do Ceará, a 60 quilômetros da capital Fortaleza. O local foi

escolhido estrategicamente por possuir ventos constantes, que garantem a presença

permanente de ondas. (NASCIMENTO, 2013).

Marés são as alterações do nível das águas do mar causadas pela

interferência gravitacional da Lua e do Sol sobre o campo gravítico da Terra12. As

variações do nível da água do mar em relação a um nível médio definem a amplitude

de maré. Diariamente essa amplitude varia desde o nível mínimo, chamado de

baixa-mar, até o seu nível máximo, chamado de preamar. As maiores amplitudes

ocorrem quando há um alinhamento entre o Sol, a Terra e a Lua, dentro de um ciclo

lunar completo de 29 dias.

Em alguns poucos lugares do mundo, ocorrem variações de marés

realmente espetaculares, como no Canal de Bristol, na Inglaterra (16,30m) e no

Estreito de Davis, na França (15,25m). No Brasil, destacam-se: a Ilha de Maracá, no

Amapá (9,60m) e Itaqui, no Maranhão (7,30m). (VIDIGAL et al., 2006, p. 143).

10

Estatal responsável por 10% da geração de energia elétrica do Brasil. 11

Instituto de pós-graduação e pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 12

Definição de 16 mar. 2014 da Wikipédia. Acesso em: 27 abr. 2014.

Page 38: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

37

A variação da altura da superfície do mar entre as preamares e as baixa-

mares é realizada por fluxos de massas de água, chamados correntes de maré, que

entram e saem de baías e estuários. Esse deslocamento de massa d’água é

energia. Seu aproveitamento energético requer a construção de barragens e

instalações geradoras de eletricidade (turbinas) que trabalham nas duas direções

(enchente e vazante), em locais onde a água possa ser acumulada e forçada a

passar por essas turbinas. Claro é que isso apenas ocorrerá em locais onde a

topografia litorânea favorecer e a amplitude de maré seja, no mínimo, de 5,5m.

(ENERGIA..., 2014).

O último tipo de energia oceânica usa as diferenças de temperatura do mar.

A água do mar é mais quente na superfície porque está exposta à radiação solar. De

forma geral, há uma distribuição vertical média de temperaturas nos oceanos, de

26ºC a 2ºC. Essa diferença de temperatura poderá ser aproveitada através de

máquinas térmicas que acionam uma turbina, que gera energia elétrica.

Além de todas essas formas de geração de energia elétrica a partir do mar,

cabe comentar, também, uma outra potencialidade. O mar pode ser utilizado como

local de instalação de turbinas de vento em proveito da energia eólica. Existem

vários locais próximos ao litoral onde sopram ventos constantes. Em terra, esses

ventos podem ter diversos obstáculos, como construções, relevo e outros. O mar

apresenta área disponível e pista suficiente para o desenvolvimento do

deslocamento dessas massas de ar. A construção de turbinas de vento nessas

áreas pode representar um grande benefício, além de também utilizar-se de energia

limpa e renovável. No Brasil, o litoral do Ceará representa o maior potencial do País

na produção desse tipo de energia.

5.2 AS RESERVAS MINERAIS, O FORNECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL E A

PRODUÇÃO DE SAL

A mineração marinha não é um empreendimento novo [...] vários depósitos minerais já são amplamente explorados em algumas zonas econômicas exclusivas ao redor do mundo [...] representando um potencial de bilhões de dólares, que utiliza avançadas tecnologias. (CAVALCANTI, 2011).

Page 39: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

38

Toda essa ainda desconhecida riqueza mineral do subsolo marinho pode um

dia tornar-se uma necessidade premente de energia e matérias-primas. Diversos

processos geológicos e geoquímicos que conduzem à concentração de metais

(nódulos polimetálicos, crostas cobaltíferas e sulfetos hidrotermais) em mar profundo

foram identificados nos últimos 30 anos. Estas descobertas abrem oportunidades

para a pesquisa e identificação de recursos minerais nos oceanos. (CAVALCANTI,

2011).

Qualquer depósito mineral marinho pode se tornar um recurso importante a

médio e longo prazos. Por isso, é fundamental manter total atenção ao

desenvolvimento de estudos relacionados à sua exploração e explotação.

Ainda segundo Cavalcanti (2011), o Brasil deve investir em tecnologia de

pesquisa e lavra mineral em mar profundo, para que o País reduza o atraso

tecnológico em relação a outras nações, bem como tenha capacidade técnica de

realizar pesquisas minerais em áreas de jurisdição internacional adjacente à nossa

PCJ.

Como exemplos, o Brasil está desenvolvendo o Programa de Prospecção e

Exploração de Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial

(PROAREA), coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), que tem

como propósito identificar e avaliar a potencialidade mineral de locais com

importância econômica e político-estratégica, situados além das águas jurisdicionais

brasileiras (AJB). Além deste, ainda desenvolve o Projeto Crostas Cobaltíferas da

Elevação do Rio Grande (PROERG), através de pesquisas geológica e geofísica na

Elevação do Rio Grande, situada a 400 milhas náuticas da costa (Figura 6), onde

ocorre a incidência de crostas cobaltíferas. (MOURA NETO, 2014).

O Código de Mineração relativo às crostas cobaltíferas foi aprovado pela

Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISBA) em julho de 2012. Os

resultados das pesquisas do PROERG permitiram que o País encaminhasse a sua

proposta de exploração da Elevação do Rio Grande, ao ISBA, em 31 de dezembro

de 2013. (MOURA NETO, 2014). Estudos preliminares revelaram o potencial mineral

da região, onde foram encontradas crostas ferromanganesíferas com indícios de

ferro, manganês e cobalto. Com a aprovação do plano de trabalho, em julho de

2014, e pelos termos da concessão, o Brasil terá 15 anos para pesquisar, com

exclusividade, 150 blocos, cada um com 20 km², reunidos em oito grandes grupos.

(BAIMA, 2014).

Page 40: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

39

Figura 6 – Exploração da Elevação do Rio Grande. Fonte: Site DefesaNet (2014).

Nos últimos 4 anos foram investidos cerca de R$ 90 milhões do Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC) nas pesquisas no Atlântico Sul. Para este ano

de 2014 estão previstos mais R$ 20 milhões; e para os próximos 5 anos, com a

aprovação do pedido brasileiro pela ISBA, R$ 11 milhões vão ser gastos

especificamente em pesquisas na Elevação do Rio Grande. (ATLÂNTICO..., 2014).

Esta pró-atividade é de grande importância, pois permite ao País estar à

frente na garantia dos direitos exploratórios nas áreas internacionais oceânicas.

Cabe ressaltar, porém, que há um desafio a ser superado: a extração

mineral marinha causa impacto ao meio ambiente. Isso pode representar um fator

limitador para a explotação dessas riquezas, dependendo da reação da opinião

pública e de órgãos ambientais.

Em relação à água potável disponível no planeta, sabe-se que a quantidade

de água doce produzida pelo seu ciclo natural não sofre alteração. Contudo, apesar

de essencial para a vida, tornou-se um problema em todos os continentes. Apesar

de 75% da superfície da Terra ser recoberta por água, apenas 3% desse total é de

água doce; e deste pequeno percentual, apenas um terço está acessível para o

Page 41: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

40

consumo humano e produção de alimentos, pois o restante encontra-se em geleiras,

calotas polares e lençóis freáticos profundos.

Seguem, abaixo, alguns dados relevantes sobre a água:

- oceanos: 97,2%;

- geleiras e calotas de gelo: 2,15%;

- água presente no subsolo: 0,62% (aproximadamente);

- águas da superfície (rios, lagos, biomassa): 0,029% (aproximadamente);

- água presente na atmosfera: 0,001% (aproximadamente);

- somente 0,5% da água doce (em estado líquido) do planeta está acessível

na superfície;

- cerca de 70% da água doce disponível no Brasil está na Bacia Amazônica;

- as indústrias do Brasil consomem cerca de 100 mil litros de água por

segundo; e

- cerca de 70% da água doce é consumida pelo setor agrícola. (ÁGUA...,

2014).

Embora seja uma substância abundante em nosso planeta, especialistas alertam para um possível colapso das reservas de água doce, que vêm se tornando uma raridade em vários países. A quantidade de água no mundo permanece constante, ao passo que a procura aumenta a cada dia e, somada a essa procura, tem-se atitudes e comportamentos que vão do desperdício à poluição, resultando numa relação desigual entre natureza e seres humanos - enquanto as reservas de água estão diminuindo, a demanda cresce de forma dramática e em um ritmo insustentável. (DECICINO, 2007).

Por tudo isso, as águas salgadas dos mares e oceanos apresentam-se como

a solução desse problema, utilizando-as para transformá-las em água potável. Dois

processos são normalmente utilizados: a destilação e a desmineralização. Na

segunda, duas tecnologias se fazem presentes: a troca iônica, com o emprego de

resinas sintéticas; e a osmose reversa, através de membranas sintéticas porosas.

Segundo Vidigal et al. (2006), alguns países deficientes em recursos hídricos, como

Arábia Saudita e Israel, possuem plantas produtoras de água potável, utilizando a

tecnologia da osmose reversa com a água do mar.

Com relação ao sal, alguns fatores favorecem a sua produção. Águas

superficiais tropicais possuem maior salinidade, pois a evaporação excede as

chuvas. Por isso, as condições ideais para a indústria salineira é utilizar-se de uma

região de muito Sol, muito vento e pouca chuva. Nesse sentido, destaca-se o litoral

Page 42: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

41

do estado do Rio Grande do Norte que é o maior produtor de sal do Brasil. (VIDIGAL

et al., 2006, p. 147).

5.3 O TRANSPORTE MARÍTIMO E A PESCA

O dado mais relevante em relação ao comércio exterior brasileiro é que

cerca de 95% dele é realizado por via marítima. Esse elevado percentual nos leva,

instintivamente, a nos preocuparmos com a marinha mercante nacional e com a

segurança desses navios. Segundo Moura Neto (2014), “Em caso de crise ou

conflito, a interrupção das linhas de comunicação marítimas poderia causar o

colapso da economia brasileira que seria privada dos insumos a serem importados e

dos produtos a serem exportados.” Tal assertiva corrobora o anteriormente citado

por Carvalho (2004), que declarou: “[...] somos de tal maneira dependentes do

tráfego marítimo que ele se constitui em uma de nossas grandes vulnerabilidades”.

Figura 7 – O transporte marítimo do comércio exterior. Fonte: MOURA NETO (2014).

Para se dimensionar o comércio exterior marítimo brasileiro, no ano de 2013,

1073 navios mercantes navegaram, por dia, nas nossas diversas linhas de

Page 43: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

42

comunicação marítimas (Figura 7), o que envolveu, entre exportações e

importações, valores da ordem de US$ 202 bilhões, em 2008; US$ 150 bilhões, em

2009; US$ 201 bilhões, em 2010; US$ 256 bilhões, em 2011 (MOURA NETO, 2012

apud SEGOVIA, 2012), e US$ 482 bilhões, em 2013. (MOURA NETO, 2014).

Não é demais citar a importância do transporte marítimo como fator de segurança nacional. Lembremos que, nos momentos de crise e conflitos, o mar é o grande palco, onde muitas ações se desenvolvem. Tais ações afetam todos os setores nacionais, sejam políticos, estratégicos, ou econômicos, uma vez que a circulação de bens e mercadorias é feita, majoritariamente, por via marítima. A importância estratégica da existência de uma frota mercante significativa é, pois, indiscutível. (VIDIGAL et al., 2006, p. 106).

Contudo, a indústria de construção naval passou pela maior crise de sua

história nos anos 1980-1990, o que fez com que, na atualidade, apenas 3% do

nosso comércio exterior pelo mar seja transportado por navios de bandeira

brasileira. Isso faz com que o País tenha um gasto muito alto com frete. Em 2013, as

despesas com fretes marítimos chegaram a US$ 28 bilhões, sendo que apenas 3%

desse total foram destinados aos armadores nacionais. Ademais, nos últimos 4

anos, esse custo do frete marítimo internacional teve um aumento de 82%, sendo

responsável por cerca de 6% do total do comércio exterior, impactando

negativamente na balança comercial e no valor final dos bens importados. (MOURA

NETO, 2014).

Essa vulnerabilidade expressa pela nossa Marinha Mercante é significativa,

no sentido em que afeta o desenvolvimento nacional em 2 vertentes: a econômica,

conforme anteriormente exposto; e a soberania, pela impossibilidade de ocupação

dos nossos mares por navios brasileiros, povoando o nosso “território marítimo” e,

ao mesmo tempo, contribuindo para a mobilização militar. Isso quer dizer que a

dependência de navios estrangeiros para exportar e importar significa

vulnerabilidade a ações indiretas de outros países sobre nossa economia; e falta de

navios passíveis de serem mobilizados em caso de envolvimento do País em um

conflito ou crise internacional, em quantidade relevante.

Quanto às riquezas oriundas da pesca, estas também nos alertam para a

necessidade de vigilância da nossa Amazônia Azul®. Não se deve esquecer que já

nos envolvemos em uma crise internacional com a França, no século passado, em

nossas águas, na chamada Guerra da Lagosta. Ela teve início na década de 1960,

Page 44: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

43

quando barcos franceses passaram a pescar no litoral de Pernambuco, após esgotar

a captura da lagosta em seu próprio litoral e nos países da costa ocidental africana.

Aqui, a exportação anual havia saltado de 40 toneladas, em 1955, para 1.741

toneladas em 1961. O Brasil lucrava, assim, quase US$ 3 milhões, por ano, com

esse comércio. Após algumas apreensões do governo brasileiro e uma grande

discordância quanto à possibilidade ou não de outro país realizar pesca naquela

área, a crise atingiu tal ponto que a França enviou um navio de guerra para proteger

seus pesqueiros, enquanto o Brasil determinou o deslocamento de diversos navios

da Marinha para aquele litoral. Por conta de uma boa diplomacia, a Guerra da

Lagosta não passou de uma hostilidade entre nações, pois, em 10 de março de

1963, a França retirou seu navio de guerra e os pesqueiros por ele protegidos. O

Brasil conseguia, então, impor sua vontade, apesar da intimidação militar de um país

com poderio bélico muito maior. (BRAGA, 2009). Não podemos descartar a

possibilidade de que outro fato similar a este volte a acontecer e que seu desfecho

não necessariamente seja como o ocorrido no último século.

No ano passado, a pesca brasileira teve um bom desempenho. Além de

recuperar os estoques de espécies importantes, como a sardinha e a lagosta,

alcançou uma produção histórica, com volume acima de 2,5 milhões de toneladas,

meta do Plano Safra da Pesca e Aquicultura prevista apenas para o final de 2014.

(BRASIL, 2014).

A despeito desse bom rendimento, sabe-se que as nossas águas, pelo

índice de salinidade e elevada temperatura, com a consequente baixa concentração

de nutrientes, possuem poucas possibilidades de incremento na pesca, à exceção

da pesca oceânica de atuns e afins, e da pesca da anchoíta no extremo sul do

Brasil. (MOURA NETO, 2014).

Com essas limitações impostas pelo meio ambiente para a elevação dos

índices de pesca no Brasil, é na aquicultura que o País apresenta potencial para

desenvolver em escala a sua produção, tendo grande possibilidade de se tornar um

dos maiores produtores mundiais. (BRASIL, 2014).

Page 45: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

44

5.4 O TURISMO MARÍTIMO, O LAZER E OS ESPORTES AQUÁTICOS

O potencial econômico do turismo marítimo brasileiro é muito grande. Sua

extensa costa de clima favorável e paisagens paradisíacas atraem, cada vez mais,

turistas de vários lugares. Além disso, o País encontra-se distante de locais onde

ocorrem conflitos e riscos oriundos das novas ameaças. Por isso, essa atividade

encontra-se em franca expansão e deve conquistar ainda mais espaço entre os

roteiros da próxima década.

O Brasil ocupa a terceira posição entre os países com maior potencial de

exploração de águas internas navegáveis e hoje é, também, considerado um dos

maiores mercados mundiais de cruzeiros marítimos.

De acordo com a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, a temporada

2013/2014 contou com a presença de 11 navios no litoral do País, atendendo a

cerca de 648 mil passageiros em 230 roteiros de viagens pelo mar. (BRASIL...,

2013).

Para ratificar o nosso grande potencial nessa área turística, segundo o

estudo “Perfil do Turista de Aventura e do Ecoturista no Brasil”, de cada 10 pessoas

que viajam pelo Brasil, 5 têm interesse em atividades de lazer ou turismo que

envolvam água, ou seja, atividades em mares, rios, cachoeiras etc.

Quanto à prática de esportes aquáticos, apesar de o Brasil possuir um

extenso litoral e inúmeros lagos, rios, lagoas, corredeiras, represas, cachoeiras e

outros espaços, estas atividades limitam-se apenas a iniciativas descentralizadas de

alguns interessados.

Nas diversas praias do nosso litoral, alguns outros esportes também são

praticados de forma isolada, como o surfe, prancha a vela, body board, stand-up

paddle e outros. O importante é que pelas suas características e pelo nosso clima, o

País possui grande potencial para o desenvolvimento de qualquer que seja o

esporte aquático, desde que com o devido incentivo e promoção.

Page 46: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

45

5.5 O SISTEMA DE GERENCIAMENTO DA AMAZÔNIA AZUL®

Dentre as diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa (END), consta

“desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o espaço aéreo, o território e

as águas jurisdicionais brasileiras”. (BRASIL, 2008b). O Sistema de Gerenciamento

da Amazônia Azul® (SisGAAz) será um conjunto de diversos sistemas que já

possuímos e vai possibilitar um total conhecimento sobre o que se passa na

superfície e no espaço aéreo das águas jurisdicionais brasileiras e em boa parte do

Atlântico Sul. Visa a monitorar a Amazônia Azul® e prover dados para a estrutura de

comando e controle e de inteligência operacional da Marinha para a defesa das

nossas riquezas, plataformas de petróleo, portos, ilhas e vias marítimas. O SisGAAz

também contribuirá com a vigilância e a segurança marítimas, emergências SAR13,

prevenção da poluição ambiental e reação às chamadas novas ameaças.

Figura 8 – O Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul®. Fonte: Site DefesaNet (2014).

O SisGAAz foi concebido para ser um sistema de monitoramento e controle relacionado ao conceito internacional de segurança marítima e para a proteção do litoral brasileiro. Foi projetado para se tornar o principal sistema de comando e controle da Marinha e prevê a gestão das atividades ligadas

13

Busca e salvamento (do inglês: Search and Rescue).

Page 47: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

46

ao mar que envolvam vigilância, monitoramento, prevenção da poluição, recursos naturais, entre outras. O Sistema visa ao incremento do conhecimento sobre o ambiente marítimo e o posicionamento, caso necessário, dos meios operativos disponíveis, para responder prontamente às crises ou emergências que ocorram no litoral brasileiro. (BRASIL, 2012a).

Será implementado por fases, tendo sido a primeira o delineio da arquitetura.

Até o fim do ano de 2014, empresas serão contratadas para integrar toda uma série

de sistemas que a Marinha já opera. Posteriormente, serão incorporados vários

sensores e veículos aéreos não tripulados, devendo todo o sistema estar

plenamente operacional até 2025.

O SisGAAz será integrado ao SISFRON14 do Exército Brasileiro e ao

SISCEAB15 da Força Aérea Brasileira. Além disso, também integrará navios,

aeronaves e submarinos através de link de dados. Em uma outra fase futura, está

prevista a inclusão no sistema de radares costeiros, radares OTH16 e satélites.

(PEREIRA, 2010).

14

Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras - com base em monitoramento/controle, mobilidade e presença, permitirá à Força Terrestre manter as fronteiras monitoradas e responder prontamente a qualquer ameaça ou agressão, especialmente na região Amazônica.

15

Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro. 16

Radares Over The Horizon – sistema de radares com capacidade de detectar alvos a distâncias muito longas, tipicamente a milhares de quilômetros. Definição de 23 maio 2014 da Wikipédia. Acesso em: 3 ago. 2014.

Page 48: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

47

6 CONSTRUINDO A DEFESA DA AMAZÔNIA AZUL®: O PROGRAMA DE

DESENVOLVIMENTO DE SUBMARINOS

Por todo esse potencial e diversidade de riquezas, a Amazônia Azul®

juntamente com a Amazônia Legal brasileira representam duas áreas

estrategicamente vitais para o desenvolvimento do nosso País. Por outro lado, a

crescente escassez de bens naturais em outros países pode fazer com que eles se

interessem pelo Brasil com grande cobiça. Por isso, é de fundamental importância

que tenhamos Forças Armadas corretamente dimensionadas à estatura político-

estratégica de um País que deseja ter voz cada vez mais ativa no concerto das

nações.

Para a compreensão da Amazônia Azul® como a nossa última fronteira que

está sendo delimitada, cabe, então, a definição de dois conceitos: soberania e

fronteira sobre uma massa líquida.

Quanto à análise do termo soberania, segundo Bonavides (1996, p. 122), do

ponto de vista externo, a soberania é apenas qualidade do poder, que a organização

estatal poderá ostentar ou deixar de ostentar, enquanto do ponto de vista interno, faz

que o poder do Estado se sobreponha incontrastavelmente aos demais poderes

sociais, que lhes ficam subordinados. Ademais, dentro da doutrina contemporânea

do direito público, soberania é a “capacidade do Estado a uma autovinculação e

autodeterminação jurídica exclusiva.” (JELLINEK apud BONAVIDES, 1996, p. 125).

Quanto à análise do termo fronteira, segundo Soares (1973):

A lição da História prova que a fronteira tem seu dinamismo. A fronteira avança ou recua; a fronteira pode ser um limite natural, como pode ser um limite artificial. [...] Se a fronteira é condicionamento resultante de uma política, então se impõe ter em linha de conta [...] a existência de uma “política de fronteiras”. [...] Fronteira abandonada e morta não constitui afirmação de soberania. [...] a fronteira é sempre uma “isóbara política que fixa o equilíbrio entre duas pressões”.

Considerando uma análise de fronteira sobre uma massa líquida, como o

limite das águas jurisdicionais brasileiras (AJB), esta fronteira seria delimitada por

linhas imaginárias sobre o mar, que não existem fisicamente. O que vai defini-las e

fazer com que sejam respeitadas são os navios da Marinha realizando suas

patrulhas ou ação de presença. (MOURA NETO, 2014).

Page 49: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

48

Por isso, para que tenhamos nossa fronteira da Amazônia Azul® respeitada

e para que possamos garantir a soberania sobre ela, é de fundamental importância

garantir a ocupação desse novo espaço. Para tal, é necessário que o governo

desenvolva uma estratégia específica para a expansão da nossa Marinha Mercante.

Ademais, para a sua defesa e patrulhamento, é premente que o Brasil possua uma

Marinha moderna, equilibrada e balanceada, corretamente equipada e apta a

cumprir, efetivamente, os seus deveres e tarefas nessa imensidão azul.

Para que, em futuro próximo, se possa dispor de uma estrutura capaz de fazer valer nossos direitos no mar, é preciso que sejam delineadas e implementadas políticas para a exploração racional e sustentada das riquezas da nossa "Amazônia azul", bem como que sejam alocados os meios necessários para a vigilância e a proteção dos interesses do Brasil no mar. (CARVALHO, 2004).

Em resumo, se o nosso País tiver a capacidade de controlar, povoar,

explorar e defender a Amazônia Azul®, isto significará transformá-la em uma

fronteira viva, garantindo a soberania sobre ela, e cunhando-a de uma identidade

jurídica que o Brasil reconhece, por jurisprudência, como vitoriosa na resolução de

controvérsias territoriais: o uti possidetis (DIAS, 2013, p. 36).

Com a conscientização da sociedade para a necessidade premente de

defesa das nossas riquezas da Amazônia Azul®, o ponto de partida para todas as

ações decorrentes foi a END, aprovada no ano de 2008. Nesse documento,

decorrente da Política Nacional de Defesa (PND), constam como diretrizes afetas à

Amazônia Azul®: dissuadir a concentração de forças hostis nos limites das AJB;

desenvolver capacidades de monitorar e controlar essas águas; e adensar a

presença de unidades da Marinha nas fronteiras das AJB, através de tarefas de

vigilância.

A partir dessas diretrizes, a Marinha estabeleceu seus objetivos estratégicos.

Dentre as 4 tarefas básicas do poder naval, a END estabeleceu, como prioridade,

assegurar os meios para a negação do uso do mar a qualquer concentração de

forças inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima. Isso teve implicações

diretas na reconfiguração das nossas forças navais, no sentido em que ficou definido

que:

o Brasil contará com força naval submarina de envergadura, composta de submarinos convencionais e de submarinos de propulsão nuclear. O Brasil

Page 50: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

49

manterá e desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos de propulsão convencional, como de propulsão nuclear. Acelerará os investimentos e as parcerias necessários para executar o projeto do submarino de propulsão nuclear. Armará os submarinos com mísseis e desenvolverá capacitações para projetá-los e fabricá-los. Cuidará de ganhar autonomia nas tecnologias cibernéticas que guiem os submarinos e seus sistemas de armas, e que lhes possibilitem atuar em rede com as outras forças navais, terrestres e aéreas. (BRASIL, 2008b).

Além do citado anteriormente, ainda possuem aderência com a Amazônia

Azul® os seguintes objetivos estratégicos: a capacitação operacional da Marinha

para o monitoramento da superfície do mar a partir do espaço; e a aceleração do

trabalho de instalação das novas bases de submarinos convencionais e de

propulsão nuclear.

A partir da END, a Marinha estabeleceu o seu Plano de Articulação e

Equipamento (PAEMB) onde estão previstos os meios necessários para se atingir o

dimensionamento adequado da Força, dividindo-a, inclusive, em 2 esquadras e 2

forças de fuzileiros da esquadra, sediando uma delas mais próxima à foz do Rio

Amazonas. Especificamente para negar o uso do mar em toda a extensão da

Amazônia Azul®, o PAEMB prevê a necessidade de 15 submarinos convencionais

(S-BR) até 2037, de forma a que se tenha capacidade de manter constante patrulha

nas 5 áreas focais estabelecidas: foz do Rio Amazonas, Cabo Calcanhar, Vitória,

Rio de Janeiro e Santos; e 6 submarinos de propulsão nuclear (SN-BR) até 2047, de

modo que toda a extensão das AJB seja dividida em 6 zonas de patrulha, com 750

mil km² cada.

Para a concretização deste plano, houve a necessidade de se buscar um

parceiro estratégico. Em todo o mundo, a França e a Rússia são os únicos países

que desenvolvem e produzem, simultaneamente, submarinos convencionais e

nucleares. Entre os diversos fatores analisados pela Marinha na ocasião da escolha

do parceiro tecnológico para o Programa de Desenvolvimento de Submarinos

(PROSUB), a disposição da França em transferir tecnologia para o Brasil foi

determinante.

Em 23 de dezembro de 2008, foi assinada, então, uma parceria estratégica

entre o Brasil e a França em várias áreas. Na Defesa, consta, entre outros, a

cooperação em submarinos, com o desenvolvimento e a produção compartilhados

de 4 submarinos da classe Scorpène; a assistência da França no desenvolvimento

Page 51: ARRUDA, Renato Garcia. Amazônia Azul

50

da parte não-nuclear do projeto de um submarino brasileiro de propulsão nuclear; e

apoio na construção de uma base de submarinos e de um estaleiro de construção.

Derivado desse documento, foi firmado, por ambos os Ministros da Defesa,

um acordo entre os dois governos na área de submarinos, onde também foi incluída

a transferência de conhecimento acadêmico na área de ciência e tecnologia.

Ter um submarino com propulsão nuclear é um antigo sonho da Marinha.

Tudo começou pela busca do domínio da tecnologia nuclear no País, iniciada na

década de 1970. Desde então, importantes resultados foram alcançados,

culminando com o domínio completo do ciclo do combustível nuclear, uma conquista

do Programa Nuclear da Marinha (PNM). A capacidade de fabricar o próprio

combustível nuclear para fins pacíficos coloca o Brasil em uma posição diferenciada

no cenário internacional. Atualmente, apenas 5 países detêm esta tecnologia: China,

Estados Unidos, França, Inglaterra e Rússia. Com este empreendimento, o Brasil

passa a integrar esta seleta lista, uma vez que o reator nuclear e a propulsão do SN-

BR serão desenvolvidos no País pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo

(CTMSP). Este reator nuclear também poderá ser utilizado em diversos outros

campos da sociedade, como energia, medicina, agricultura, indústria e outros.

O PNM traz consigo um arrasto de conhecimento tecnológico e de

capacitação de pessoas incomensurável, fato este que contribuirá para a evolução

de diversos outros setores produtivos. Desde a sua criação, o Brasil vem adquirindo

uma considerável expertise para o desenvolvimento e a produção de componentes e

equipamentos, fruto da inovação e de pesquisas inéditas conduzidas pela

cooperação entre universidades, empresas e a própria Marinha. São produtos com

alto valor agregado, derivados de uma tecnologia crítica e, quase sempre,

indisponíveis no mercado internacional. (PADILHA, 2013).

Com a criação do PROSUB, ficaram sob sua responsabilidade a construção

de: um estaleiro para fabricar submarinos, uma base para apoiá-los, 4 submarinos

convencionais e 1 submarino de propulsão nuclear. Como este programa visa,

também, a promover a indústria nacional de defesa, a Marinha contratou a DCNS17

que, por sua vez, associou-se à construtora brasileira Odebrecht para formar o

Consórcio Baía de Sepetiba, responsável pela construção do estaleiro e da base de

submarinos, em Itaguaí, no estado do Rio de Janeiro.

17

Direction des Constructions Navales et Services – empresa estatal francesa, uma das líderes mundiais na área de construção naval.

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51

Para a construção dos submarinos, foi instituída uma Sociedade de

Propósito Específico (SPE), denominada Itaguaí Construções Navais (ICN), também

formada pela Odebrecht e pela DCNS, mas tendo a Marinha como detentora de uma

ação preferencial. Estima-se que cada um dos submarinos a ser produzido no Brasil

contará com mais de 36 mil itens a serem fabricados aqui, por mais de 100

empresas brasileiras. Essa capacitação da indústria nacional de defesa, incluindo a

transferência de tecnologia e a expressiva nacionalização de equipamentos, vai

permitir que a qualificação alcançada pelos profissionais brasileiros possa ser

utilizada em diversos outros segmentos da indústria nacional, o que elevará o

patamar tecnológico dessas empresas e possibilitará a criação de mais empregos.

Segundo o Contra-Almirante Newton de Almeida Costa Neto, gerente do

empreendimento modular da construção do estaleiro e da base naval:

É importante que cada vez mais, empresas nacionais se capacitem para atender a esta demanda porque, no futuro, o Brasil será o único país da América Latina com capacitação e infraestrutura para exportar produtos e serviços de aplicação dual – militar e civil – e de alto valor agregado, assim como fazem os demais integrantes do seleto grupo de países detentores desta tecnologia nuclear naval. (PADILHA, 2013).

A primeira parcela da infraestrutura que vai capacitar o País para a

construção e manutenção de submarinos convencionais e de propulsão nuclear foi

inaugurada pela Presidenta da República, no dia 1 de março de 2013: a Unidade de

Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM). Até o presente momento, na construção

da UFEM, base e estaleiro, foi obtido um índice de participação da indústria nacional

de cerca de 90%. Além disso, as obras estão contribuindo para uma expressiva

geração de empregos, sendo esperado atingir, no período de pico, 9 mil empregos

diretos e 27 mil empregos indiretos. (COSTA NETO, 2013).

Dados atualizados até fevereiro de 2014 mostram os seguintes prazos de

prontificação das diversas etapas do PROSUB: estaleiro de construção até

novembro de 2015; estaleiro de manutenção até outubro de 2019; e base naval até

novembro de 2017. O Submarino Riachuelo (S-40), o primeiro dos 4 submarinos

convencionais, cuja fabricação estará pronta em 2016, será entregue para operação

em dezembro de 2017, após os inúmeros testes a que será submetido. Os outros

submarinos convencionais serão entregues em abril de 2019 (Submarino Humaitá –

S-41), julho de 2020 (Submarino Tonelero – S-42) e janeiro de 2022 (Submarino

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Angostura – S-43). O submarino com propulsão nuclear, Submarino Álvaro Alberto

(SN-10), teve seu projeto iniciado em julho de 2013 no CTMSP e deverá ficar pronto

em 2023, seguindo-se cerca de 2 anos de testes no mar, antes de entrar em

operação. (MOURA NETO, 2014).

Esta é uma obra ímpar para o Brasil e um grande desafio para a Marinha e empresas envolvidas, pois apesar da excepcional capacitação brasileira no campo da Engenharia e da experiência nacional na construção de usinas nucleares, este empreendimento constitui a primeira instalação naval nuclear empreendida no País, o que, inevitavelmente, encerra um alto grau de ineditismo com imensos desafios de projeto e de execução. (PADILHA, 2013).

Um dos grandes desafios do PROSUB é o desenvolvimento do projeto da

área nuclear. A ausência de referências similares no País, assim como de

normatização brasileira especifica para as exigências nucleares envolvendo o

estaleiro, a base naval e o submarino, resulta na necessidade de uma análise

criteriosa dos quesitos de segurança e de riscos do empreendimento para a

determinação dos critérios essenciais do projeto. Tal trabalho tem como principais

ferramentas o conhecimento dos profissionais e a expertise de instituições e de

empresas envolvidas direta e indiretamente com o desenvolvimento do programa.

Todos os setores ligados tanto ao licenciamento quanto à construção da área

nuclear têm que buscar soluções inovadoras para os diversos problemas. Por isso,

são extremamente necessárias as discussões entre técnicos da Marinha, das

empresas e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), objetivando

transmitir maior confiança e transparência aos diversos trabalhos. A participação da

CNEN no PROSUB não se resumirá às avaliações do projeto para a emissão das

licenças ambiental, de construção e de operação. Na posição de órgão responsável

pela regulação, licenciamento e controle das atividades nucleares no Brasil, a

atuação da CNEN será permanente ao longo de todo o período de operação do

estaleiro e base naval em assuntos pertinentes a área nuclear do empreendimento.

(PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE SUBMARINOS, 2012).

Portanto, muito mais do que simplesmente um programa de projeto e

construção de submarinos que se encerrará com a incorporação do primeiro

submarino com propulsão nuclear brasileiro, o PROSUB passou a ser um programa

de Estado que, em seu arrasto, trará inúmeros benefícios para o País, como o

fortalecimento da sua indústria nacional, a aplicação dual (civil e militar) de vários

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itens desenvolvidos, a independência em relação ao mercado externo e o

aprimoramento da qualificação técnica de profissionais brasileiros.

Pode-se dizer, então, que o PROSUB é o primeiro passo para a efetiva

defesa do nosso patrimônio na Amazônia Azul®. O grande poder de dissuasão

conferido a um submarino de propulsão nuclear colocará o Brasil no estado da arte

em relação à negação do uso do mar. Ainda levará um tempo para que o País atinja

o número de submarinos pretendidos no PAEMB, mas este primeiro passo já

demonstra para o mundo o potencial de um País emergente que quer ser líder

regional no Atlântico Sul e um ator de voz ativa nas relações internacionais do

Século XXI.

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7 CONCLUSÃO

Para compreendermos muitas das coisas que vivemos na atualidade, temos

que voltar ao passado e buscar suas origens e explicações para, assim, melhor

entender o presente.

Analisando especificamente o ambiente marinho não é diferente. É no

passado que verificamos várias ocorrências de disputas pelo domínio do mar que

foram decisivas para a conclusão de guerras e, consequentemente, para a

condução dos destinos da humanidade. Os primeiros relatos são da época de

Cartago e da Grécia Antiga, quando sequer os canhões haviam sido inventados.

Na Antiguidade, o objetivo dessas disputas era apenas para obter o controle

sobre zonas de pesca e importantes rotas de comércio. Porém, com a definição e a

utilização de linhas de comunicação marítimas para o transporte das riquezas de

além-mar, aumentou a cobiça de alguns países e muitos foram os conflitos no

cenário mundial.

A partir do Século XIX, com o aumento do poderio militar dos navios, essas

disputas se tornaram mais intensas, até porque o valor envolvido nas transações

comerciais aumentava. E assim foi até a Guerra Fria.

Hoje em dia, vivemos em uma era em que a principal preocupação é com as

chamadas novas ameaças, com destaque para o terrorismo e a pirataria. Em

paralelo, com a proximidade do esgotamento de muitas reservas minerais e o

descobrimento de imensas riquezas no subsolo marinho, o mar voltou a fazer parte

dos principais interesses da agenda das grandes potências.

Sabe-se que, no futuro, o domínio do mar representará acesso às últimas

riquezas do nosso planeta. E quanto maior for a atuação de determinado ator nessa

área, mais ele terá voz ativa no concerto internacional de nações.

Visando a definir os direitos e deveres dos Estados sobre os mares e

oceanos, após algumas fracassadas tentativas, foi formalizada a CNUDM. Agora o

que se vê é a corrida de alguns países para realizar o levantamento de suas PC

visando à solicitação da extensão das mesmas junto à ONU e, com isso, terem seus

direitos reconhecidos sobre uma área marítima maior e, possivelmente, sobre maior

número de riquezas.

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Nesse contexto, foi criado, no Brasil, o LEPLAC que por mais de 2 décadas

realizou um detalhado levantamento do nosso leito marinho para a definição da

nossa PCJ.

No entanto, apesar desse grande esforço, é latente a falta de mentalidade

marítima da nossa sociedade. E justamente por não ter atribuído adequada

prioridade às atividades marítimas que o Brasil deixou de desenvolver tanto uma

força naval poderosa quanto uma marinha mercante corretamente dimensionada,

principalmente por conta do elevado percentual do nosso comércio exterior que

trafega pelo mar. Soma-se a isso, uma escassez de políticas nacionais voltadas

para o aproveitamento pleno dos potenciais do mar.

Na busca de mitigar esta situação, a Marinha vem disseminando, desde o

início deste século, o termo Amazônia Azul®, na tentativa de, fazendo uma

correlação com a nossa tão divulgada Amazônia, chamar a atenção do povo para

essa imensa área tão cheia de riquezas.

Com isso, o nosso País terá um longo caminho pela frente para desenvolver

uma adequada capacidade tecnológica para explotação desses bens e um grande

poder de dissuasão para defendê-los.

É evidente a importância econômica e estratégica da Amazônia Azul® para

o Brasil. Quanto maior o conhecimento de sua potencialidade, mais deveremos estar

atentos à preservação dos interesses nacionais e à consequente necessidade de

efetivo monitoramento e constante presença nessa área de grande valor para o

País. Nesse contexto, o SisGAAZ surge como elo fundamental para permitir seu

gerenciamento, contribuindo, decisivamente, para uma melhor defesa e proteção

desse nosso patrimônio.

Diferentemente do que ocorreu no Brasil durante a expansão econômica

para o oeste, o desenvolvimento brasileiro a partir da Amazônia Azul® está apenas

no seu começo. É mister, portanto, que seja realizado um grande esforço por parte

do Estado, da comunidade científica, dos setores industrial e de serviços e mesmo

das Forças Armadas, para que se obtenha o apoio necessário de políticas públicas

específicas, um desenvolvimento científico-tecnológico em tecnologias de oceanos e

ciências do mar, uma transformação do perfil produtivo do País e a preparação da

defesa dessa imensa área, de forma a que tenhamos uma estratégia nacional

brasileira para o mar como forma de promover a exploração sustentável das

riquezas disponíveis na nossa PCJ. É de suma importância, também, que a

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sociedade brasileira, juntamente ao Estado, mobilize-se e participe ativamente no

planejamento ambiental, econômico, social e científico-tecnológico do futuro do

nosso mar.

Para que tudo isso aconteça, é essencial que se criem mecanismos que

atendam a toda a gama de interesses dos diversos setores relacionados à Amazônia

Azul®. Deve-se definir os atores envolvidos além do Estado e garantir suas

participações nos processos de discussão, tomada de decisão e implementação de

ações.

Quando analisamos a expansão da nossa área de jurisdição para o leste, a

crescente exploração de recursos naturais existentes no mar, as nossas

vulnerabilidades estratégicas e a grande importância das linhas de comunicação

marítimas para o nosso País, verificamos que o espaço marítimo brasileiro

representa, hoje, um local a ser estudado, investido, defendido e sustentavelmente

explorado, porque nele reside a prosperidade do Brasil. Temos a responsabilidade

de garantir às gerações vindouras o usufruto dos benefícios que poderão advir

dessa área.

Pensar na Amazônia Azul® como a nossa última fronteira a ser demarcada

impõe-nos um enorme desafio enquanto País emergente que somos, porque o

povoamento, o controle, a garantia de sua soberania e a capacidade de explotação

estão diretamente relacionados a um poder naval que se faça presente, à existência

de um poder marítimo devidamente dimensionado à estatura da Nação, ao

desenvolvimento de tecnologias específicas, muitas das quais ainda não dominadas,

e a uma diplomacia atuante em todos os fóruns mundiais e regionais que tratem de

assuntos relacionados aos mares e oceanos.

Porém, para a correta ação dissuasória na defesa da Amazônia Azul®,

prevista na PND, é necessário que se possua meios navais com tal capacidade. Daí

a enorme importância do PROSUB, cujos benefícios já extrapolaram a fronteira da

Marinha ou da Defesa para a esfera nacional, devido ao propósito final de um Brasil

independente tecnologicamente, baseado em 3 alicerces fundamentais:

nacionalização, transferência tecnológica, e capacitação de pessoal. Com isso,

ganham a indústria, os profissionais capacitados, a Marinha, a Defesa, a sociedade

e o País.

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A decisão americana de reativar a IV Frota no Atlântico Sul indica sua

preocupação com a perspectiva de que a região se torne um dos grandes centros

produtores de petróleo e, com isso, atraia a cobiça de nações inter-regionais.

A presença de um submarino com propulsão nuclear vai garantir ao Brasil o

poder dissuasório necessário para que seja respeitado como um grande ator no

cenário internacional.

Enfim, analisando cuidadosamente todo o ambiente representado pela

nossa Amazônia Azul®, em que pese não haver ameaças claramente identificadas

até o momento, faz-se mister nos atermos a todas as suas vertentes, verificando

uma a uma as suas demandas, de forma a que tenhamos um País preparado para

se contrapor a possíveis ações externas, não esquecendo que, nesse caso, a ação

diplomática tornar-se-á evidentemente vital na busca da resolução de quaisquer

controvérsias que porventura apareçam. Não de deve olvidar, tampouco, que as

nossas forças navais podem ser bem empregadas como fator dissuasório, através

de visitas a portos estrangeiros, passagens inocentes em determinadas áreas, ou

mesmo pelo simples posicionamento em pontos focais.

Portanto, como ainda necessitamos de um tempo maior para atingirmos um

avançado nível tecnológico e possuirmos um poder naval e marítimo condizentes

com nossa estatura política, estratégica e econômica, o mais importante, neste

momento, é estabelecer políticas de Estado que visem a consolidar nossa soberania

sobre o espaço oceânico brasileiro, considerando, principalmente, elementos

específicos de política, estratégia e diplomacia.

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