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União Europeia – Fundos Estruturais Governo da República Portuguesa
PROJETOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
RELATÓRIO REFERENTE AO PROJETO PTDC/ECM/099250/2008
“Comportamento em serviço de estruturas de betão: uma abordagem multi-física das tensões
auto-induzidas”
Arrefecimento por evaporação em materiais cimentícios:
Estudos experimentais paramétricos
Autores:
Miguel Azenha
Margarida Vieira
Konstantin Kovler
Rui Faria
Guimarães, UM, 2013
2
Índice
1. Introdução ................................................................................................................. 3
2. Programa experimental ........................................................................................... 5
2.1. Estratégia e procedimento experimental ........................................................................ 5
2.2 Avaliação perda de peso................................................................................................. 6
2.2 Avaliação da variação de temperatura interna ............................................................... 7
2.3 Avaliação de variações de comprimento........................................................................ 8
3. Resultados e discussão ........................................................................................... 10
3.1 Perda de peso................................................................................................................ 10
3.2 Temperatura interna e superficial................................................................................. 11
3.3 Extensões monitorizadas .............................................................................................. 15
4. Notas finais .............................................................................................................. 18
5. Referências .............................................................................................................. 19
3
1. INTRODUÇÃO
O fenómeno de arrefecimento por evaporação está relacionado com a entalpia de mudança de fase do
líquido que evapora. De facto, para que ocorra a mudança de fase de um líquido para gás, ocorre uma
remoção de energia da superfície a partir do qual evapora. Esta é uma situação bem conhecida da
sociedade em geral, sendo particularmente intuitivos os dois exemplos que se seguem:
A sensação de frio que resulta da saída de uma piscina, devida à evaporação da água que
cobre o corpo. Esta sensação é intensificada com o vento, dado o aumento da velocidade de
evaporação, que consequentemente aumenta a energia removida da superfície do corpo. É
também do senso comum que a passagem duma toalha pelo corpo elimina a sensação de frio
mencionada.
O ambiente fresco que se faz sentir no Verão sob as árvores, com temperaturas bastante
inferiores às que se registam em zonas sombreadas por palas. A razão reside no facto da
árvore, para além de projetar sombra, ter uma superfície de evaporação bastante alargada
proporcionada pelas suas folhas. A energia removida das folhas por evaporação causa
abaixamentos de temperatura das mesmas, que de forma cumulativa resultam em
abaixamentos de temperatura significativos sob as árvores.
Como é natural, os processos de arrefecimento por evaporação acontecem também nas estruturas de
betão, tendo particular incidência no instante em que são removidas as cofragens, uma vez que ocorre
uma súbita evaporação associada à saturação do betão com água nesta fase. Esta súbita evaporação
causa também uma remoção de energia superficial que conduz por sua vez ao abaixamento da
temperatura superficial do betão. Num estudo pioneiro realizado por Konstantin Kovler (Shock of
evaporative cooling of concrete in hot dry climates, 1995), foi demonstrado que este tipo de
arrefecimento pode não ser negligenciável em climas quentes e secos. De facto, o súbito
arrefecimento da zona superficial do betão, conduz a que o mesmo fique tracionado dada a
compatibilidade com zonas mais profundas do material. Em casos de grande arrefecimento, as trações
podem atingir a resistência à tração do betão e originar fissuração. Esta problemática adquire portanto
relevância estrutural. Apesar do arrefecimento por evaporação ser uma realidade em todas as
estruturas de betão, a realidade é que só em condições muito particulares pode conduzir a fissuração
do betão (p.ex. climas desérticos). No entanto, não existem estudos praticamente nenhuns que
permitam compreender e prever as tensões residuais associadas ao arrefecimento por evaporação de
forma abrangente. Com efeito, para além do trabalho de Kovler acima assinalado, apenas se
encontraram mais duas referências bibliográficas que lidam diretamente com o tema: (i) os trabalhos
de Anton Schindler (Concrete hydration, temperature development, and setting at early-ages, 2002),
em que o modelo numérico utilizado contabiliza a entalpia de evaporação da água na análise multi-
física do comportamento do betão; (ii) os trabalhos de Azenha et al (Drying Induced Moisture Losses
from Mortar to the Environment. Part I: Experimental Research, 2007), com trabalho experimental em
argamassa e simulações numéricas exploratórias do efeito do arrefecimento superficial sobre o betão.
Nos trabalhos reportados não houve lugar a programas experimentais sistemáticos que permitissem
comprovar/compreender o comportamento do arrefecimento por evaporação em provetes de betão
com várias dimensões, e sujeitos a condições de exposição distintas (temperatura, humidade, idade de
exposição). Com o presente trabalho pretende-se dar uma contribuição original para esta temática
pouco investigada, ajudando a compreender as situações em que o fenómeno de arrefecimento por
evaporação pode ser mais relevante e contribuindo para a antecipação de cenários de fissuração ou de
geração de tensões residuais relevantes.
4
Refira-se adicionalmente a participação do Prof. Konstantin Kovler neste trabalho, tendo apoiado a
discussão sobre a relevância dos cenários em estudo no que diz respeito a dimensões de provetes,
procedimento experimental e condições ambientais em estudo.
5
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
2.1. Estratégia e procedimento experimental
O programa experimental delineado visou a avaliação dos efeitos sobre o arrefecimento por
evaporação nas primeiras idades de: (i) da dimensão do elemento; (ii) condição ambiental em termos
de temperatura e humidade; (iii) idade à qual a cofragem do provete é removida. Em termos de
composição do betão, não foram feitas variantes, tendo-se apenas selecionado uma composição com
dimensão máxima do agregado reduzida (8mm) para permitir também a realização de provetes de
reduzidas dimensões.
No que diz respeito a dimensões de provetes, foram utilizados provetes cilíndricos para tirar proveito
da axi-simetria da secagem, com diâmetros de 4cm, 10cm, 15cm e 30cm. Todos os provetes
cilíndricos tinham a mesma altura total de 25cm, com exceção para os provetes destinados a medição
de variações volumétricas com comprimentos da ordem de 100cm. Os provetes foram mantidos em
condições de total isolamento à evaporação durante um período pré-determinado, sendo então
removida a selagem lateral, mas mantida a selagem nos topos com película plástica aderente. As
dimensões e condições de selagem adotadas para os provetes conduzem a espessuras equivalentes
(h0=2×Ac/u -> ver EN1992-1) de 2cm, 5cm, 7.5cm e 15cm respetivamente para os provetes de
diâmetro 4cm, 10cm, 15cm e 30cm. Apesar de estas serem espessuras equivalentes relativamente
baixas, foram assim escolhidas por duas razões principais: (a) restrições logísticas a nível laboratorial;
(ii) pretende-se demonstrar casos com arrefecimento por evaporação significativo, sabendo-se que
assim o será em peças de reduzida dimensão (dada a menor inércia térmica do betão do núcleo da
peça).
No que diz respeito a condições ambientais para estudo dos efeitos do arrefecimento por evaporação,
e dada a disponibilidade de duas câmaras climáticas para o efeito, decidiu-se estudar um ambiente
com temperatura e humidade considerada representativa para Portugal, com T=20ºC e HR=60%, bem
como um ambiente fortemente quente e seco para avaliação do arrefecimento em condições
consideradas extremas: T=35ºC e HR=30%.
Em relação à idade à qual a selagem lateral do provete é removida, estudaram-se 3 idades
consideradas representativas para elementos verticais e horizontais de betão armado. A idade mais
jovem é de 1 dia, em correspondência com a realidade frequentemente observada em elementos
verticais como pilares/paredes. Considerou-se também a possibilidade de remoção da cofragem aos 3
dias e aos 7 dias de idade. Não foram consideradas remoções mais tardias da cofragem dada a redução
progressiva dos efeitos de arrefecimento por evaporação à medida que aumenta a idade da peça (mais
tempo para auto-dessecação e rede porosa mais fechada, diminuindo a intensidade da evaporação).
Para a avaliação da intensidade do arrefecimento por evaporação e das suas consequências estruturais,
optou-se pela monitorização de: (i) perda de massa dos provetes; (ii) abaixamento de temperatura dos
provetes (iii) redução global de comprimento do provete. Repare-se que as três grandezas medidas
poderão ser correlacionáveis no contexto do arrefecimento por evaporação, apoiando a análise crítica
dos resultados e diligências de simulação numérica para validação.
Tendo em conta a impraticabilidade logística ao nível laboratorial de realizar todas as combinações
possíveis das várias variáveis identificadas, optou-se por apenas realizar os provetes de maior
diâmetro (15cm e 30cm) para os ensaios de monitorização do abaixamento de temperatura. No
entanto, em termos de idades de exposição à evaporação, foram feitos estudos para todas as idades em
todos os provetes. Recorde-se que o estudo de uma idade de exposição adicional causa a necessidade
6
de um provete de estudo adicional. O resumo dos ambientes estudados, dimensões de provetes e
técnicas experimentais aplicadas encontra-se explanado na Tabela 1.
Tabela 1 - Dimensão dos provetes e técnicas experimentais para os ambientes em estudo
Perda de massa.
Ambiente
T=20ºC e HR= 60% e
T=35ºC e HR=30%
Dimensão
h=25cm e d=4cm
h=25cm e d=10cm
Variação de
comprimento
Ambiente
T=20ºC e HR= 60% e
T=35ºC e HR=30%
Dimensão
h=100cm e d=4cm
h=100cm e d=10cm
Temperatura
Ambiente
T=20ºC e HR= 60% e
T=35ºC e HR=30%
Dimensão
h=25cm e d=4cm
h=25cm e d=10cm
h=25cm e d=15cm
h=25cm e d=30cm
A composição do micro-betão utilizado neste programa experimental está indicada na Tabela 2, onde
se pode constatar que a relação água cimento é de a/c=0.5. Esta elevada relação água cimento foi
escolhida como representativa de betões com evaporações iniciais de secagem significativas.
Todos os provetes foram betonados nas mesmas condições de temperatura e humidade, tendo
permanecido em condições seladas e na temperatura de ensaio (câmara climática) até à idade de
exposição à evaporação, em que lhes era removida a cofragem lateral e seladas as faces de topo.
Tabela 2- Composição usada nos provetes
Material Dosagens por m3 de Betão
Cimento 500 Kg
Areia fina (0-4) 713,9 Kg
Areia grossa (4-8) 761,9 Kg
SP 10 Kg
Agua 248 Kg
2.2 Avaliação perda de peso
Os provetes destinados à avaliação da perda de peso foram pesados com recurso a balanças com
precisão de 0.01g nos provetes ensaiados: 4 e 10cm de diâmetro. Recorde-se que a perda de peso não
foi avaliada para os provetes de 15 e 30 cm de diâmetro por razões logísticas. Nos provetes estudados
foram consideradas as idades de exposição de 1, 3 e 7 dias.
7
Todas os provetes foram pesados imediatamente após a remoção da selagem, e re-avaliados em
intervalos regulares, selecionados de acordo com os gradientes observados de perda de peso.
Sempre que possível, o registo da variação de peso era efetuado dentro da própria câmara climática,
com colocação permanente do provete sobre a balança – ver Figura 1 para o caso dos provetes de
menores dimensões. Este procedimento eliminou as perturbações associadas à movimentação dos
provetes para fora da câmara climática.
Em paralelo com as medições de perda de peso dos provetes, foram também efetuadas medições da
perda de água a partir de uma pequena tina de água, monitorizando-se a massa evaporada por unidade
de superfície. Este procedimento permitiu captar o potencial de evaporação de água de cada ambiente
em estudo.
a) b)
Figura 1 - Imagem da balança com os provetes de 4 cm e 10 cm, respectivamente a) e b)
2.2 Avaliação da variação de temperatura interna
A avaliação da temperatura no interior dos provetes foi feita com recurso a termopares do tipo K,
colocados na vizinhança da secção intermédia dos provetes a duas profundidades distintas: (i) a 0.5cm
da superfície do provete para registar o arrefecimento próximo da superfície; (ii) no centro geométrico
do provete para registar os efeitos globais do arrefecimento por evaporação. As medições no centro
geométrico do provete corresponderam respetivamente a profundidades de 2cm, 5cm, 7.5cm e 15cm
respetivamente para os provetes de diâmetro 4cm, 10cm, 15cm e 30cm.
Por razões de ordem prática não foi possível realizar todas as idades de exposição para todas as
dimensões de provetes. Na Tabela 3 são resumidos os instantes de remoção de selagem estudados
para cada provete no contexto da monitorização interna de temperaturas.
8
Tabela 3 – Dimensão dos provetes, idades de exposição, ambientes em estudo e pontos de
monitorização para os ensaios de avaliação das reduções internas de temperatura.
Ambiente Geometria do provete
Distancia dos
termopares à
superfície de secagem
Idade de
exposição
T=35⁰C e HR=30%
d=4cm e h=25 cm 0,5 cm e 2 cm 1,3 e 7
d=10cm e h=25 cm 0,5cm e 5 cm 1 e 7
d=15cm e h=25 cm 0,5cm e 7,5 cm 1
d=30cm e h=25 cm 0,5cm, 7,5cm e 15 cm 1
T=20⁰C e HR=60% d=4cm e h=25 cm 0,5 cm e 2 cm 1,3 e 7
d=10cm e h=25 cm 0,5cm e 5 cm 1,e 7
Por observação da Tabela 3 pode constatar-se que nos provetes de 4cm de diâmetro foram avaliadas
todas as datas de remoção de selagem em estudo (1, 3 e 7 dias). Para os provetes maiores foram sendo
selecionadas menos datas de remoção de selagem, mantendo-se a principal incidência nas idades mais
jovens, para as quais os efeitos de arrefecimento por evaporação serão mais intensos. Indica-se
também que no caso do provete de 30cm de diâmetro, para além da medição superficial (a 0.5cm de
profundidade) e no centro geométrico da peça (a 15cm de profundidade), foi também estudada uma
profundidade intermédia de 7.5cm para melhor compreender o perfil de temperaturas. Indica-se
também que os provetes de maior dimensão (diâmetro 15cm e 30cm) apenas foram estudados no
ambiente de maior temperatura e menor humidade (T=35ºC; HR=30%).
Dado que as variações de temperatura expectáveis em alguns dos provetes eram relativamente
reduzidas (iguais ou inferiores a 5ºC), efetuou-se um procedimento de calibração dos termporares
previamente aos ensaios para assegurar melhor acuidade dos resultados. O processo de calibração
consistiu em sujeição dos termopares a ambiente a 0ºC de temperatura para avaliação de desvios e sua
correspondente correção. Na Figura 2 pode ser observado um dos procedimentos de calibração
encetados no contexto deste trabalho.
Figura 2 – Calibração dos termopares.
2.3 Avaliação de variações de comprimento
O arrefecimento do betão associado à evaporação acarreta contrações térmicas. Uma vez que a
distribuição de temperaturas não é uniforme na peça aquando do arrefecimento por evaporação
(temperaturas mais baixas na superfície do que no interior), geram-se tensões internas associadas à
9
compatibilização das extensões. Naturalmente, a contração dos provetes estudados neste trabalho será
o resultado das deformações compatibilizadas das várias zonas da secção transversal. A medição da
deformação longitudinal do provete pode revelar-se de bastante utilidade na validação de modelos de
simulação higro-mecânica que contemplem o efeito do arrefecimento por evaporação.
A medição da deformação longitudinal dos provetes foi efetuada com recurso à fixação exterior de
comparadores mecânicos com medição baseada em microscopia ótica. Os provetes em estudo tinham
100cm de comprimento, sendo que as inserções para fixação do sistema de medição distavam entre si
de 80cm. Na Figura 3 pode observar-se um detalhe da ligação do sistema de medição ao provete.
Figura 3 – Pormenor da fixação do comparador mecânico ao provete
Os provetes, idades de exposição e ambientes estudados no contexto da medição de deformação estão
resumidos na Tabela 4.
Tabela 4 – Provetes para os quais foi avaliada a extensão
T (⁰C) HR(%) Dimensão da cofragem Idade de exposição (dias)
20 60 h=100cm d=4 cm
(5i) h=100cm d=10 cm
(10i) 1,3 e 7
35 30 h=100cm d=4 cm
(5ii) h=100cm d=10 cm
(10ii) 1 e 7
10
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Perda de peso
Os resultados da perda em peso dos vários provetes estudados estão representados nas Figuras 04 a
07. Pode constatar-se de forma consistente os seguintes factos:
Em todos os casos, a perda de massa inicial dos provetes coincide com os valores
correspondentes à superfície de água. Isto demonstra que a evaporação inicial corresponde à
saturação superficial do betão.
A partir de um certo período tm após a exposição à secagem, a velocidade de perda de massa
começa a reduzir-se, em correspondência com o início da evaporação controlada por difusão.
O valor de tm é consistentemente mais curto à medida que aumenta o dia ao qual é removida a
cofragem. Há também uma clara diferença no instante tm entre os dois ambientes estudados,
com menores valores de tm para o ambiente mais propício à evaporação (T=35ºC; HR=30%).
Num mesmo ambiente, à medida que aumenta a idade de exposição, diminui a perda em
massa do correspondente provete.
A perda de massa nos provetes de 10cm de diâmetro é superior à perda dos provetes
homólogos de 4cm de diâmetro. Esta tendência era expectável, à luz da proporcionalidade
entre os correspondentes perímetros expostos (relação de 2.5 vezes). A relação de 2.5 vezes
no que diz respeito às perdas de peso é confirmada no ambiente de T=20ºC, mas não é
confirmada no ambiente de T=35ºC.
Os valores de perda de massa aos 3 e 7 dias são mais semelhantes entre si, do que em relação
à exposição à idade de 1 dia.
Figura 4 - Perda de peso para ambiente T=35⁰C e HR=30% para provete de d=4 cm
Figura 5 – Perda de peso para ambiente T=35⁰C e HR=30% para provete de d=10 cm
0
2
4
6
8
10
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00
Pe
rda
de
pe
so (
g)
Tempo após exposição (horas)
Ambiente T=35⁰C e HR=30%
1 dia 3 dias 7 dias Água
0
4
8
12
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50
Pe
rda
de
pe
so (
g)
Tempo após exposição (horas)
Ambiente T=35⁰C e HR=30%
1 dia 3 dias 7 dias Água
11
Figura 6 - Perda de peso para ambiente T=20⁰C e HR=60% para provete de d=4 cm
Figura 7 - Perda de peso para ambiente T=20⁰C e HR=60% para provete de d=10 cm
3.2 Temperatura interna e superficial
As temperaturas monitorizadas nos provetes em estudo estão representadas nas Figuras 13 a 19. Da
análise dos resultados é possível tirar várias ilações:
Os maiores arrefecimentos por evaporação ocorrem nos provetes mais pequenos (4cm de
diâmetro), quando sujeitos ao ambiente com maior potencial de evaporação: T=35ºC e
HR=30%. Com efeito, a temperatura a 0.5cm da superfície do provete de 4cm de diâmetro
reduziu-se de 35ºC para 26.9ºC em cerca de 1.3h quando o provete foi exposto à secagem
com apenas 1 dia de idade. Trata-se de uma redução bastante drástica de 8.1ºC num
curtíssimo espaço de tempo (menos de 80 minutos).
Atentando apenas na exposição a T=35ºC ao primeiro dia de idade, verifica-se que o provete
de 4cm sobre redução de temperatura superficial até 26.9ºC em oposição ao provete de 10cm
que vê a temperatura superficial reduzida até 29.9ºC e o provete de 35ºC tem apenas redução
até 31.7ºC. De facto, o arrefecimento superficial diminui com o aumento do tamanho do
provete devido ao facto da fonte de arrefecimento se localizar exclusivamente na superfície, e
haver propagação de calor a partir do interior do provete que está mais quente do que a
superfície. Esta inércia térmica reduz os efeitos globais do arrefecimento por evaporação.
Para todas as situações analisadas, à medida que aumenta a idade à qual o provete é exposto,
diminui de forma consistente a queda de temperatura superficial e interior. Esta tendência foi
verificada em todos os casos de análise exceto para a exposição do provete de 10cm a T=35ºC
aos 7 dias de idade, representado na Figura 13. Considera-se que poderá ter acontecido um
problema experimental neste caso em específico, dada a ausência de outra explicação
plausível.
0
2
4
6
8
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00
Pe
rda
de
pe
so (
g)
Tempo após exposição (horas)
Ambiente T=20 ⁰C e HR=60%
dia 1 dia 3 dia 7 Água
0
4
8
12
16
20
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00
Pe
rda
de
pe
so (
g)
Tempo após exposição (horas)
Ambiente T=20 ⁰C e HR=60
dia 1 dia 3 dia 7 Água
12
De uma forma geral, o instante em que é atingido o valor da temperatura mínima superficial
diminui à medida que aumenta a idade de exposição á secagem. Constata-se também um
aumento consistente deste instante em correspondência com o aumento da dimensão do
provete. Nas experiências realizadas, este valor teve o valor máximo de 4.5 horas (ver Figura
14 correspondente ao provete de 30cm sujeito a T=35ºC e exposto a 1 dia de idade) e o valor
mínimo de ~20 minutos (ver Figura 17 correspondente ao provete de 4cm sujeito a T=20ºC e
exposto aos 7 dias de idade).
A duração do período durante o qual se faz sentir o arrefecimento por evaporação é bastante
curta. Com efeito, em praticamente todos os ensaios efetuados se verificou que ao final de 12
horas a peça em estudo já tinha regressado ao equilíbrio térmico com o ambiente circundante.
É também de registar a existência de vários casos em que o regresso ao equilíbrio térmico
ocorreu em períodos da ordem de grandeza de 3-6 horas.
Em todos os provetes estudados, os gradientes térmicos entre o interior e as zonas próximas
da superfície no instante de temperatura mínima são sempre extremamente baixos, cifrando-
se sempre abaixo de 1ºC independentemente da idade de exposição e do ambiente
circundante. Estas medições são indiciadoras de baixos níveis de restrição interna à
deformação ao nível da secção transversal, logo também causando baixas tensões. Há no
entanto que ter em conta que em casos de aplicação real, pode haver condições de restrição
externa à deformação que impeçam as deformações térmicas associadas ao arrefecimento por
evaporação, levando portanto à geração de tensões internas relevantes.
As variações de temperatura registadas no ambiente T=20ºC;HR=60% são bastante inferiores
às verificadas no caso do ambiente T=35ºC; HR=30%. De facto, tomando o exemplo do
provete de 4cm de diâmetro exposto ao 1º dia de idade, verifica-se uma diminuição de
temperatura de 2.7ºC apenas para T=20ºC, quando comparado com os 8.1ºC de diminuição
registados para T=35ºC. Por outro lado, para exposição aos 7 dias de idade nos provetes de
4cm, verifica-se que para T=35ºC a diminuição de temperatura é de 1.6ºC em oposição a
1.2ºC verificados para T=20ºC. De uma forma geral confirmou-se que nos ambientes típicos
em Portugal/Europa, os efeitos do arrefecimento por evaporação poderão ser baixos a
negligenciáveis, em oposição ao que ocorrerá em ambientes quentes e secos (p.ex. climas
desérticos).
Figura 8 - Temperaturas medidas no provete com d=4cm , para ambiente T=35⁰C e HR=30% e
exposição a 1 dia de idade
Figura 9 - Temperaturas medidas, no provete com d=4cm para ambiente T=35⁰C e HR=30% e
26
27.5
29
30.5
32
33.5
35
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Tem
pe
ratu
ra (⁰
C)
Tempo (horas)
0.5 cm da superficie de secagem
2 cm da superficie de secagem
2929.5
3030.5
3131.5
3232.5
3333.5
3434.5
35
0 1 2 3 4 5 6
Tem
pe
ratu
ra (
⁰C)
Tempo (horas)
2cm da superficie de secagem
0.5cm da superficie de secagem
13
exposição ao 3º dia de idade
Figura 10 - Temperaturas medidas, no provete com d=4cm, para ambiente T=35⁰C e HR=30% e
exposição ao 7º dia de idade
Figura 11 - Temperaturas medidas, no provete d=10cm para ambiente T=35⁰C e HR=30% e
exposição ao 1º dia de idade
Figura 12 - Temperaturas medidas, no provete d=10cm para ambiente T=35⁰C e HR=30% e
exposição ao 3º dia de idade
Figura 13 - Temperaturas medidas, no provete com d=10cm para ambiente T=35⁰C e HR=30% e
32
32.5
33
33.5
34
34.5
35
0 1 2 3
Tem
pe
ratu
ra (⁰
C)
Tempo (horas)
5 cm da superficie de secgem
0.5 cm da superficie de secagem
29
30
31
32
33
34
35
0 1.5 3 4.5 6 7.5 9
0.5 cm da superficie de secagem
5 cm da superficie de secagem
34
34.2
34.4
34.6
34.8
35
0.00 1.00 2.00 3.00
0.5 cm da superficie de secagem
5 cm da superficie de secagem
30
31
32
33
34
35
0 1 2 3 4 5 6
Tem
pe
ratu
ra (
⁰C)
Tempo (horas)
5 cm da superficie de secagem
0.5 cm da superficie de secagem
14
exposição ao 7º dia de idade
Figura 14 - Temperaturas medidas, no provete d=30cm para ambiente T=35⁰C e HR=30% e
exposição ao 1º dia de idade
Figura 15 - Temperaturas medidas no provete com d=4cm , para ambiente T=20⁰C e HR=60% e
exposição ao 1º dia de idade
Figura 16 - Temperaturas medidas no provete d=4cm , para ambiente T=20⁰C e HR=60% e
exposição ao 3º dia de idade
31
32
33
34
35
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tem
pe
ratu
ra (
⁰)
Tempo (horas)
0.5 cm da superficie de secagem
7.5 cm da superficie de secagem
15 cm da superficie de secagem
17
17.5
18
18.5
19
19.5
20
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tem
pe
ratu
ra (
⁰C)
Tempo (horas)
0.5cm da superficie de secagem
5 cm da superficie de secagem
17.5
18
18.5
19
19.5
20
0 1 2 3 4 5
Tem
pe
ratu
ra (⁰
C)
Tempo (horas)
0.5 cm da superficie de secagem
2 cm da superficie de secagem
15
Figura 17 - Temperaturas medidas no provete d=4cm, para ambiente T=20⁰C e HR=60% e exposição
ao 7º dia de idade
Figura 18 - Temperaturas medidas no provete d=10 cm , para ambiente T=20⁰C e HR=60% e
exposição ao 1º dia de idade
Figura 19 - Temperaturas medidas no provete d=10cm , para ambiente T=20⁰C e HR=60% e
exposição ao 7º dia de idade
3.3 Extensões monitorizadas
Os resultados dos ensaios estão representados nas Figuras 20 a 23 os quais reproduzem as evoluções
da extensão monitorizada nas amostras. É necessário ter em conta que as extensões monitorizadas
contemplam o efeito combinado das deformações térmicas e da retração de secagem, pelo que é difícil
fazer comparações sem recurso a apoio de simulação numérica. Com efeito, seria necessária uma
forma eficaz de separar os dois tipos de deformação (origem térmica e origem na retração de
secagem) para poder analisar de forma cuidada cada uma delas.
No entanto, pode constatar-se que as extensões verificadas diminuem com o aumento da idade de
exposição em todos os casos. Isto deve-se ao efeito combinado da redução do efeito de arrefecimento
18.5
19
19.5
20
0 1 2 3
Tem
pe
ratu
ra (⁰
C)
Tempo (horas)
0.5 cm da superficie de secagem
2 cm da superficie de secagem
17
18
19
20
0 2 4 6 8 10 12 14
Tem
pe
ratu
ra (⁰
C)
Tempo (horas)
5 cm da superficie de secagem
19.2
19.4
19.6
19.8
20
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00
Tem
pe
ratu
ra (
⁰C)
Tempo (horas)
0.5 cm da superficie de secagem
5 cm da superficie de secagem
16
por evaporação com o aumento da densidade da rede porosa que diminui a perda de água (logo a
diminui também a retração de secagem).
Observa-se também que o aumento do diâmetro do provete leva a diminuição das extensões medidas.
Este efeito é essencialmente motivado pela maior espessura equivalente dos provetes de maior
diâmetro, o que diminui a velocidade das deformações de retração de secagem.
Naturalmente, no ambiente T=20ºC;RH=60%, as extensões de encurtamento térmico e de retração são
mais baixas do que as verificadas com T=35ºC;RH=30%. Isto deve-se ao potencial distinto de
evaporação dos dois tipos de ambiente.
Figura 20 – Retração no provete com d=4cm, para ambiente T=35⁰C e HR=30% para exposições aos
1,3 e 7 dias de idade
Figura 21 – Retração no provete com d=10cm, para ambiente T=35⁰C e HR=30% para exposições
aos 1 e 7 dias de idade
Figura 22 – Retração no provete d=4cm, para ambiente T=20⁰C e HR=60% pare exposições aos 1,3
e 7 dias de idade
-250
-200
-150
-100
-50
0
0.0 1.5 3.0 4.5 6.0 7.5 9.0
Exte
nsã
o (
mic
ro-s
trai
n)
Tempo (horas)
1 dia de idade 3 dia idade 7 dia de idade
-100
-80
-60
-40
-20
0
0 1.5 3 4.5 6 7.5 9
Exte
nsã
o (
mic
ro-s
trai
n)
Tempo (horas)
1 dia de idade 7 dia de idade
-100
-80
-60
-40
-20
0
0 2 4 6 8 10 12
Exte
nsã
o (
mic
ro-s
trai
n)
Tempo (horas)
1 dia de idade 3 dia de idade 7 dia idade
17
Figura 23 - Retração no provete d=10cm, para ambiente T=20⁰C e HR=60% para exposições a 1 e 7
dias de idade
-40
-30
-20
-10
0
0 1.5 3 4.5 6 7.5 9
ext
en
saão
(m
icro
-str
ain
)
Tempo (horas) 1 dia de idade 7 dia de idade
18
4. NOTAS FINAIS
No presente relatório foram explanados e analisados os resultados dum programa experimental
alargado orientado para a compreensão dos fenómenos de arrefecimento por evaporação no betão,
bem como das suas consequências termo-mecânicas. O programa incluiu a análise paramétrica dos
efeitos da dimensão do provete, da idade de exposição à secagem, e do ambiente circundante (em
termos de temperatura e humidade). Foram efetuadas medições de perda de massa, temperatura
interior/superficial e encurtamento aquando da exposição à secagem. Os resultados obtidos são
coerentes com o expectável em face dos fenómenos envolvidos.
Com o presente relatório ficam lançadas as bases para validação de modelos de simulação numérica
do arrefecimento por evaporação com recurso a metodologias multi-físicas para análises termo-higro-
mecânicas. Com esse tipo de análises validadas, será possível quantificar o nível de tensões associado
aos fenómenos de arrefecimento por evaporação e avaliar a sua importância em casos concretos de
aplicação in-situ.
19
5. REFERÊNCIAS
Azenha, M., Maekawa, K., Ishida, T., & Faria, R. (2007). Drying Induced Moisture Losses from
Mortar to the Environment. Part I: Experimental Research. Materials and Structures, 40, 801-
811. Kovler, K. (1995). Shock of evaporative cooling of concrete in hot dry climates. Concrete
International, 17(10).
Schindler, A. (2002). Concrete hydration, temperature development, and setting at early-ages. PhD
Thesis. University of Texas at Austin.