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10 NOVEMBRO 2012 PUBLICAÇÃO Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO a competição em jogo

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

10 NOVEMBRO

2012

PUBLICAÇÃO

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

O Seminário Esporte e Desenvolvimento Humano: a competição em jogo encerra as

atividades formativas realizadas pelo Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte

durante o ano de 2012, que tiveram como foco as competições esportivas durante a infância

e a adolescência.

O objetivo maior deste evento é fomentar o debate sobre o tema da competição

infantojuvenil, articulando os avanços científicos da área com propostas pedagógicas

inovadoras. Além disso, este será um momento ímpar para a discussão de novos referenciais

para eventos competitivos tão importantes à formação dos jovens.

Esta publicação sintetiza as principais ideias e conceitos trazidos pelos palestrantes, além de

reunir alguns dos trabalhos apresentados.

Desta forma, encerram-se as atividades do ano, mas não se coloca um ponto final na

questão da competição esportiva infantojuvenil, muito pelo contrário. Espera-se que os

horizontes e as práticas se ampliem para que as crianças e adolescentes se desenvolvam

esportivamente tanto em suas atividades de aprendizagem cotidianas como nos momentos

de competição.

Segue o jogo!

Equipe de Coordenação

Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte

APRESENTAÇÃO

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

A CAPACIDADE DE COMPETIÇÃO

Profa. Ms. Catalina Naomi Kaneta, Profa. Dra. Maria Tereza Silveira Böhme

(GEPETIJ – LATECA – EEFEUSP)

A capacidade de competição na modalidade esportiva específica é considerada por

Martin et al. (1999, citado por BÖHME e RÉ, 2009), como um dos componentes importantes

da capacidade de desempenho esportivo. Para estes autores o desempenho esportivo é um

aspecto fundamental no esporte quanto processo e também resultado, desta forma, a

capacidade de competição é uma qualidade necessária para os praticantes da atividade

esportiva.

De Rose Jr. (2009), afirma que a origem da competição esportiva é tão antiga quanto

a história da humanidade, e competir é um fator motivante uma vez que representa

conquistas pessoais e sociais; Marques e Oliveira (2002) apontam que não há esporte sem

competição, e opinam que aqueles que não gostam de competição, não podem gostar de

esportes.

Segundo Tubino e Moreira (2003), o treinamento esportivo é um conjunto de meios

utilizados para o desenvolvimento das qualidades técnicas, físicas e psicológicas de um

atleta ou de uma equipe, tendo como objetivo final colocá-lo em eficiência máxima em

determinada prova esportiva. Estes autores consideram que os aspectos competitivos e as

competições, inerentes ao contexto esportivo e são produtos do processo de treinamento.

No entanto, na visão de muitos pedagogos, a competição pode ser considerada um

dos componentes mais perversos do esporte (De ROSE Jr., 2009) uma vez que significa

rivalizar, lutar, disputar, classificando os melhores dos piores ou vencedores dos derrotados.

Utilizando-se o conceito de Foucault (1984) sobre perversão como perturbações de

ordem psíquica que dariam origem a tendências afetivas e morais contrárias às do ambiente

social do indivíduo pervertido; a competição no esporte poderia ser classificada desta forma

Mesa de Abertura A COMPETIÇÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: O QUE ESTÁ EM JOGO?

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

uma vez que promove valores exacerbados de concorrência e individualismo em detrimento

dos valores de igualdade e solidariedade (MARQUES, 2004).

Na psicologia do desenvolvimento, a discussão teórica e conceitual da cooperação e

competição tem como base a caracterização dos comportamentos como sendo pró ou anti-

sociais, sendo que para muitos autores, comportamentos pró-sociais são aqueles que

representam ações ou atividades consideradas como socialmente positivas, visando atender

às necessidades e ao bem-estar de outras pessoas, como, por exemplo, o altruísmo, a

generosidade, a cooperação, os sentimentos de empatia e simpatia; por outro lado,

comportamentos anti-sociais incluem ações ou atividades consideradas como socialmente

negativas, voltadas, por exemplo, à destruição ou ao prejuízo de outras pessoas, e

relacionadas a comportamentos egoístas, competitivos, hostis e agressivos.

No entanto nesta visão maniqueísta; da divisão dos polos entre o bem e o mal que

localizam a cooperação e a competição, corre se o risco de desconsiderar a complexidade do

fenômeno humano deixando aberta a possibilidade para generalizações muitas vezes

preconceituosas ou equivocadas a respeito de cooperação e competição.

Por exemplo, a cooperação promovida atualmente pelo capitalismo nomeado por

muitos de corporativismo (conceito que tem origem no sistema político utilizado na Itália

Fascista); embora represente a motivação de pessoas pertencentes a uma mesma categoria

a agirem em torno de interesses e objetivos comuns deste grupo, esta é feita com base na

imposição e tende a levar os indivíduos, mesmo de maneira não proposital a representar

ideologias do grupo no sentido da legitimação de preconceitos o que faz com que o

comportamento egocêntrico seja necessário para preservar as condições subjetivas. Desta

forma nem sempre ações cooperativas são benéficas, assim como ser egocêntrico é um

aspecto negativo.

É necessário, porém, distinguir processos de individuação e individualismo, pois o

primeiro representa a conquista e o reconhecimento da pessoa em sua condição de

originalidade, autonomia e liberdade, e o segundo relaciona-se de perto com disposições

egoístas e hostis.

Para Silva e Rubio (2003), na antiguidade, especificamente na Grécia, as competições

e a busca pelas vitórias tinham como fundamento “romper” barreiras individuais, alcançar o

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a competição em jogo

seu máximo na competição em que participava e assim aproximar-se de uma condição

divina. Para a sociedade grega helênica, os vitoriosos seriam todos aqueles que superassem

seus limites físicos pautados por uma conduta moral inquestionável. A vitória sobre o

adversário era uma decorrência desse processo, não o fim.

Neste sentido, pode se compreender a competição no esporte como auxiliar no

processo de individuação promotora de aprendizado de habilidades de disputa como

confronto, conflito, agressividade e o limite das mesmas, muitas vezes necessária em

ambientes grupais (KANETA, LEE, 2011).

Weinberg e Gould (2001) consideram que a competição tem um grande componente

de aceitação social, permitindo ao homem valorizar-se socialmente, o que corresponde a um

momento “ímpar” da prática esportiva.

A grande questão está no conceito de valor social; a ideia de valorização social

através dos dados numéricos nasceu com o esporte moderno, final do séc XVIII, e mais

especificamente se consolidou no século XIX com as características da “sociedade de

mensuração” dominadas pela ciência e pela tecnologia que transformou cada ação esportiva

em uma medida quantificada (SILVA, RUBIO, 2003). O valor dos atletas desta forma se

tornou quantificável.

Este conceito de valor social contemporâneo dificilmente pode ser extinta, no

entanto como os valores são aprendidos e principalmente seus significados são adquiridos,

talvez seja o grande desafio da prática esportiva, quais os valores pretende-se ensinar e

quais os significados pretende-se associar.

Estudos mostram que características como determinação e persistência (MASSA,

2006) são características importantes do atleta talentoso, no entanto a contribuição dos

apoiadores sociais é fundamental (BLOOM, 1985; CSIKSZENTMIHALYI, RATHUNDE, WHALEN,

1997; MORAES, RABELO, SAMELA, 2003) para determinar quais os motivos que levam uma

pessoa a se interessar pelo esporte, por que estes escolhem serem atletas de rendimento,

que limites necessitam ou desejam vencer como o recorde, o doping e a derrota; enfim a

orientação do grupo ao qual está inserido se torna providencial para a orientação

competitiva.

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a competição em jogo

Desta forma, os processos educacionais e as práticas pedagógicas são essenciais, uma

vez que são estas que darão significado à competição; o desafio e a disputa são inerentes à

práticas esportivas e aos próprios grupos sociais, os educadores e apoiadores serão aqueles

que determinam quais valores devem ser atribuídos a estes.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOOM, B.S. Developing talent in young people. New York: Ballentine, 1985.

BÖHME, M. T. S; RÉ, A. H. N. O talento esportivo e o processo de treinamento a longo prazo.

In: De ROSE JR., D. e colaboradores. Esporte e atividade física na infância e na adolescência.

Porto Alegre: Editora Artmed, 2009.

CSIKSZENTMIHALYI, M.; RATHUNDE, K.R.; WHALEN, S. Talented teenagers: the roots of

success & failure. Cambridge: University Press, 1997.

De ROSE Jr. D. Esporte, competição e estresse: implicações na infância e adolescência. In: De

Rose Jr., D. Esporte e atividade física na infância e adolescência: uma abordagem

multidisciplinar. Porto Alegre: ARTMED, cap. 7, 2009.

FOUCAULT, M. História da sexualidade (Vol. II: O uso dos prazeres). Rio de Janeiro: Graal.

1984.

KANETA, C.N.; LEE, C. L.; Aspectos Psicossociais do desenvolvimento. In: Maria Tereza

Bohme. (Org.). Esporte Infanto Juvenil Treinamento a Longo Prazo: Teoria e Prática. São

Paulo: Phorte, 2011.

MARQUES, R.F.R. Esporte e escola: proposta para uma ressignificação. 2004. Monografia

(Licenciatura em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de

Campinas, Campinas.

MARQUES, A.T.; OLIVEIRA, J. O treino e a competição dos mais jovens: rendimento versus

saúde. In. BARBANTI,V. J. (org). Esporte e atividade física:interação entre rendimento e

saúde. São Paulo: Manole, 2002. Cap. 4.

MASSA, M. Desenvolvimento de judocas brasileiros talentosos. Tese (Doutorado) - Escola de

Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

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a competição em jogo

MORAES, L. C.; RABELO, A. S; SAMELA, J. H. Papel dos pais no desenvolvimento de jovens

futebolista. Psicologia: Reflexão e saúde. v. 17, n. 2, p. 211-222. 2004.

MORAES, L. C.; RABELO, A. S; SAMELA, J. H. Papel dos pais no desenvolvimento de jovens

futebolista. Psicologia: Reflexão e saúde. v. 17, n. 2,p. 211-222. 2004.

SILVA, M. L.; RUBIO, K. Superação no esporte: limites individuais ou sociais? Revista

Portuguesa de Ciências do Desporto. 2003; v. 3, n. 3: 69-70.

WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2ª ed.

Porto Alegre: Artmed, 2001.

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a competição em jogo

ANÁLISE DA OPINIÃO DOS TREINADORES SOBRE AS COMPETIÇÕES INFANTO-JUVENIS

Felipe Andrés Nicia Regina Ogawa

1. INTRODUÇÃO

1.1 A competição através da história

As competições infanto-juvenis fazem parte da nossa sociedade e costumam

introduzir, incutir, exacerbar e/ou fortalecer valores e símbolos de nossa cultura a este

público. Através das competições transmitimos às crianças e adolescentes, de modo

explícito e implícito, uma série de valores que entendemos pertinentes e significativos ao

nosso tempo histórico. Solidariedade, amizade, comunhão, respeito ao outro, a importância

de competir, de evitar a derrota, de se dedicar à preparação previa e de se obter a vitória (às

vezes a qualquer custo), são alguns dos valores presentes na experiência do competir. Por

meio desta vivência, crianças e adolescentes lidam com as suas expectativas, anseios,

desejos e frustrações, além de ter que lidar com as expectativas, anseios, desejos e

frustrações de seus responsáveis e treinadores.

Dessa forma, as competições infanto-juvenis costumam seguir duas vertentes

distintas: podem reproduzir os padrões e valores estabelecidos na vida adulta, repetindo o

modelo do esporte de alto rendimento que se insere nos mercados e que atrai

consumidores do mundo inteiro; ou, essas competições também podem trazer uma

aprendizagem significativa para crianças e adolescentes, respeitando e contribuindo para

sua fase de desenvolvimento, formando cidadãos que têm a capacidade de realizar uma

Apresentação de Trabalhos BATE BOLA: 1º TEMPO

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

prática esportiva refletindo a respeito das relações de desigualdade presentes no esporte e

fora dele.

Atualmente, temos um padrão de beleza, de família, de religião, de escola e de

sociedade. Esses padrões dialogam com o processo histórico que é construído pelas diversas

forças que interagem neste determinado tempo. O esporte e as competições também fazem

parte disso. Em toda a nossa história, as competições esportivas fizeram parte de nossa

cultura, relacionando-se com os valores estabelecidos em cada época e exercendo um papel

importante em diversas culturas através dos tempos.

As competições futebolísticas realizadas nos templos Maias usavam uma espécie de

bola de látex feita com a cabeça dos inimigos e tinham a clara função de divertir o povo e de

realizar uma demonstração pública do poder do Estado. A mesma função social era utilizada

pelo Império Romano, que realizava competições de vida e morte em seus anfiteatros, como

o Coliseu, por exemplo. Até o final do século XIX o povo nativo da Ilha de Pascoa, localizada

ao extremo sul do Oceano Pacífico, utilizou-se da competição para determinar anualmente

quem exerceria o poder político e religioso da região. Essa competição representou um

grande avanço diplomático, já que pôs um fim às frequentes guerras realizadas entre os

diferentes clãs. Uma vez por ano, uma ave migratória da região ia para um determinado

ponto da ilha fazer seus ninhos e botar seus ovos. Os clãs selecionavam seus melhores

guerreiros, que competiam entre si para trazer o ovo desta ave, exigindo que seus

competidores escalassem imensos paredões de rocha, corressem grandes distâncias, além

de nadarem por quilômetros. O primeiro a apresentar o ovo intacto ao sacerdote tinha o

privilégio de ficar com as terras mais produtivas da região, garantindo a sobrevivência de sua

tribo até a próxima competição (CHAUVE, 1945; FISCHER, 2005).

Mais recentemente, governos utilizaram as competições para reafirmar sua

soberania, cativando multidões através das vitórias obtidas no esporte. As Olimpíadas de

Berlim, realizadas em 1936, foram utilizadas pelo governo nazista como forma de

propaganda de seu regime. Com estes Jogos, pretendeu-se reafirmar a tese da soberania

alemã em detrimento de outras culturas e nações. Um processo semelhante pôde ser

observado durante a Guerra Fria, em que nações aliadas ao regime soviético e aos EUA

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a competição em jogo

utilizavam as competições esportivas para reafirmar seu poderio político e militar. Na

América do Sul, a Copa do Mundo, maior evento futebolístico das nações, foi utilizada no

século 20 pelos governos brasileiros e argentinos para desviar as atenções do povo com

relação à série de perseguições e abusos cometidos por seus regimes militares.

Como referido acima, as competições esportivas podem contribuir para a dominação

dos povos, subjugando culturas e nações. Porém, existem também diversas práticas em que

governos, instituições e culturas as utilizam como forma de resgatar sua história e reafirmar

suas culturas, estimulando a reflexão crítica a respeito dos valores contemporâneos

presentes em nossa sociedade. Criado em 1997, os Jogos Indígenas (FUNAI, s.d.) por

exemplo, realizados em Tocantins, vêm resgatando a cultura nativa de diferentes povos da

região, transmitindo seus saberes e sua historicidade através das práticas competitivas

realizadas na floresta. Desde 1999, os Jogos Indígenas recebem recursos governamentais e

vêm se mostrando uma ferramenta importante para reafirmar a identidade cultural destes

povos, principalmente em relação aos indivíduos mais jovens.

1.2 Competições infanto-juvenis

As competições infanto-juvenis podem ser consideradas como uma linguagem que é

capaz de se comunicar com multidões e que, por isso, costuma ser apropriada por tantas

culturas, governos e nações em diferentes tempos históricos. Atualmente, diversas

organizações governamentais e não-governamentais vêm utilizando o esporte como

ferramenta pedagógica para trabalhar com suas crianças e adolescentes.

A disciplina presente nas regras do esporte e das competições e a rotina de

treinamentos preparatórios para os jogos costumam ser visto como elementos

disciplinadores que podem contribuir para o desenvolvimento social, físico e motor de

crianças e adolescentes. A educação formal e não formal vêem na prática esportiva uma

possibilidade de colaborar com o processo educacional das crianças e adolescentes. Para

alguns educadores, estimular a vivência esportiva competitiva neste público possibilita a

experiência de vencer. Essa experiência pode trazer a noção de processo, demonstrando que

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a competição em jogo

a vitória pode ser fruto de um planejamento que contempla um acúmulo de conhecimentos

ligados ao aperfeiçoamento da técnica e ao amadurecimento das estratégias e dos diversos

sentimentos que permeiam a experiência da competição.

Estudos apontam a possibilidade de que as competições infanto-juvenis

proporcionem a seus participantes um amadurecimento da experiência humana, gerando

um maior desenvolvimento físico e social (CARDOSO, 2007). Porém, a forma como

apreendemos essa experiência também pode promover a mera reprodução de valores,

aprofundando as relações de desigualdade entre as pessoas, servindo a uma cultura

dominante, que reproduz para o mundo das crianças e adolescentes os mesmos valores

aplicados a indústria da mercantilização das relações humanas - um dos elementos

presentes na prática atual do esporte de alto rendimento.

O presente estudo fará uma análise do discurso de instituições e educadores físicos

que realizam competições infanto-juvenis, avaliando a percepção dos profissionais e

apontando suas coerências e contradições. O objetivo é Investigar a opinião dos treinadores

no que se refere ao conteúdo, estrutura e enquadramento do sistema de competição de

crianças e jovens no contexto da formação esportiva.

2. MÉTODO

2.1 Amostra

Foram aplicados 27 questionários com técnicos de 13 instituições esportivas de

diferente natureza da cidade de São Paulo: 04 clubes sociais, 04 clubes/centros públicos; 03

organizações não-governamentais, 03 entidades privadas. Os técnicos da amostra atuavam

em 12 modalidades diferentes, conforme distribuição do gráfico 1.

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a competição em jogo

Gráfico 1 – Distribuição da amostra nas modalidades esportivas

participantes do estudo.

2.2 Instrumento

Esse questionário foi desenvolvido com base no instrumento original utilizado por

(CARDOSO, 2007). O questionário (anexo 1) continha um quadro de dados pessoais, 7

questões fechadas com escala, e uma questão aberta, que não será objeto dessa análise.

2.3 Coleta de dados

O questionário foi aplicado de forma voluntária, individualmente, e cada técnico que

participou do estudo respondeu um questionário, em forma escrita. Nos casos em que o

entrevistado era técnico de mais de uma modalidade, o mesmo respondeu um questionário

por modalidade. Durante a aplicação, os pesquisadores, permaneceram junto ao técnico

para esclarecer eventuais dúvidas, sem induzir suas respostas.

2.4 Tratamento dos dados

Os dados dos questionários foram tratados no SPSS (Statistical Package for Social

Sciences) em que foram calculadas as distribuições percentuais das respostas dos

treinadores a cada uma das questões. Para a análise dos resultados foram consideradas a

frequência e o percentual válido para as questões aplicadas, a partir das quais verificou-se a

lógica predominante na concepção dos treinadores.

29%

7%

11%11%7%

11%

4%

4% 4%4% 4% 4%

Basquete

Rugby

Voleibol

Futsal

G. artística

Natação

Futebol

Squash

Tênis de Campo

Atletismo

Luta Olímpica

Karatê

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a competição em jogo

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Na análise que se segue, partiu-se do princípio da formação desportiva de longo

prazo como uma experiência vivida em sua plenitude ao longo do ciclo de vida, desse modo,

acredita-se também que, para haver maior aderência, a prática desportiva deve

proporcionar prazer e motivação ao praticante, e para que isso ocorra, faz-se necessário

considerar no planejamento e organização das atividades – treino e competição – o perfil e

os interesses dos participantes para delinear estratégias que despertem o interesse e

oportunizem diferentes experiências que buscam contribuir para a garantia do direito à

prática esportiva que, além de promover a saúde física, é indutor de cidadania.

Nesse sentido, a competição é entendida como extensão do treino e estratégia de

ensino-aprendizagem do treinamento esportivo de longo prazo em que se busca o respeito

ao desenvolvimento físico e cognitivo de cada faixa etária.

Diretrizes e orientações pedagógicas

Para cerca de 90% dos treinadores entrevistados só formação é prioridade que

deveria orientar a participação em competições na faixa etária de 6/7 anos, e quase 60%

deles acredita que essa continua sendo a prioridade na faixa etária de 8/9 anos. Pelo menos

50% deles acredita que nas 3 categorias que seguem dos 10 aos 14 anos deveria se dar mais

ênfase na formação do que nos resultados das competições. Aproximadamente 40% indicam

que na faixa etária de 13/14 anos deveria se dar mais ênfase nos resultados do que na

formação. Esses dados vão ao encontro da teoria de formação de longo prazo em que a

especialização ocorre mais tardiamente, ou seja, a medida que se avança na faixa etária,

progressivamente, é dada maior importância aos resultados, assim como ocorreu no estudo

de CARDOSO (2007).

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a competição em jogo

Gráfico 2 – Opinião dos técnicos sobre a prioridade que deve orientar a

participação em competições durante a formação esportiva

Objetivos das competições

Assim como ocorreu com o item anterior, nesse caso há uma tendência dos

treinadores de, gradativamente, migrar de preparação diversificada para especialização:

100% só preparação na faixa etária de 6/7 anos, seguido de mais de 70% na faixa etária de

8/9 anos, passando a mais de 50% para mais preparação multilateral do que especializada

nas faixas etárias seguintes, acompanhada de cerca de 40% como mais preparação

especializada que multilateral nas 2 categorias finais, que seguem dos 11 aos 14 anos.

Ênfase só nos resultadosdas competições

Mais ênfase nosresultados dascompetições do que naformação

Mais ênfase na formaçãodo que nos resultados dascompetições

Só formação

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a competição em jogo

Gráfico 3 – Opinião dos técnicos quanto à ordem que deveria orientar a preparação para

a competição para cada idade, de acordo com os objetivos formativos.

Funções da competição

No que se refere ao grau de importância da competição durante a formação

esportiva, deve-se levar em consideração a intenção e a metodologia aplicadas. Desse modo,

para os treinadores entrevistados as funções de maior ênfase são aquelas associadas aos

aspectos psicológicos e sociais, ou seja, as positivas, motivadoras e colaborativas, indicadas

como importante ou muito importante: 88,9% para possibilitar obter sucesso, se superar,

construir autoestima; 92,6% para adquirir, desenvolver valores para futura vida; 96,3% para

possibilitar estar com e fazer novos amigos; e 100% para motivar para alcançar seus

objetivos. Reforçando essa percepção, observa-se que propiciar comparação de suas

habilidades com as dos outros foi indicado por cerca de 52% dos entrevistados como pouco

ou muito pouco importante.

Só especializada

"Mais preparaçãoespecializada quemultilateral"

"Mais preparaçãomultilateral do queespecializada"

"Só preparaçãodivesificada (multilateral)"

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a competição em jogo

Gráfico 4 – Opinião dos técnicos quanto ao grau de importância que a competição

deve ter durante a formação esportiva

Valores e atitudes

Considerando-se as competições infanto-juvenis como oportunidades educativas

para introduzir, incutir ou fortalecer valores, percebe-se que, mais uma vez, para os

treinadores entrevistados, a participação competitiva deve contribuir para o

desenvolvimento de valores e desenvolvimento integral do ser humano. Isso porque a

exceção dos valores Jogar bem e Superar e ganhar dos outros, com 40,7% e 59,3%

respectivamente, todos os demais valores pesquisados foram considerados importantes ou

muito importantes por pelo menos 85% dos entrevistados.

Cabe ressaltar que nesse caso as categorias nada importante; muito pouco importante e

pouco importante foram agrupadas para essa análise.

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a competição em jogo

Gráfico 5 – Opinião dos técnicos quanto ao grau de importância dos valores e atitudes que

podem ser desenvolvidos nas crianças e jovens com participação competitiva nas etapas

de formação

Enquadramento geográfico das competições

Em relação ao enquadramento geográfico ou nível competitivo, os treinadores

entendem que nas faixas etárias iniciais a participação deve ser prioritariamente interna no

clube ou escola, podendo participar de competições locais em todas as faixas etárias. Já a

participação em competições de nível mais elevado, foi prevalente a partir dos 13/14 anos

em que 55% dos técnicos consideraram a participação em competições de nível estadual,

regional ou nacional, somados a outros 15% que recomendam também competições

internacionais. Resultados similares foram verificados por Cardoso (2007) em seu estudo.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%100%

Justiça e Honestidade

Companheirismo, estar com amigos

Compaixão, precupar-se com os outros

Demonstrar conformidade, integrar-se ao…

Ser consciencioso, dar o máximo, fazer o…

Empenho, persistência e perseverança

Prazer e diversão

Jogar bem

Aptidão e saúde

Obediência

Realização pessoal, fazer o melhor

Exibir competência e habilidade

Espírito esportivo

Coesão, incentivo e encorajamento

Tolerância

Superação, ganhar dos outros

Pouco importante Importante Muito importante

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

Gráfico 6 – Opinião dos técnicos entrevistados quanto ao nível competitivo por faixa etária

Um estudo citado por CARDOSO (2007) aponta que as competições regionais

deveriam ter início ao 13-14 anos e as competiçõess nacionais após os 15 anos. BOMPA

(2000) recomenda competições regionais por volta dos 12 anos (a depender das

características da modalidade em questão) e nacionais a partir de 14 anos, podendo chegar

até 21 anos em função das demandas da modalidade. As competições intenacionais

deveriam ser opção apenas ao jovem maduro, nos anos finais da adolescência.

Conteúdo das atividades competitivas e do treino

Gráfico 7 – Opinião dos técnicos sobre o conteúdo do treino para cada

faixa etária durante a formação esportiva

85

15

62

34

3

22

56

19

3

18

28

38

15

9

21

32

23

15

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

06-07

anos

08-09

anos

10-11

anos

11-12

anos

13-14

anos

Competições internacionais

Competições nacionais

Competições regionais/estaduais

Conpetições locais na própriacidade

Competições internas no clube ouescola

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

6-7 anos 8-9 anos 10-11

anos

11-12

anos

13-14

anos

Treino de especialização

elevada

treino de especialização inicial

Treino multilateral

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a competição em jogo

Gráfico 8 – Opinião dos técnicos sobre o conteúdo das competições

para cada faixa etária durante a formação esportiva

Os gráficos acima, no geral, demonstram coerência com a literatura. Os técnicos

reconhecem que tanto o treino quanto a competição devem ter seus conteúdos

progressivamente adaptados, partindo-se de conteúdos de treino e de competição mais

diversificados voltados para o desenvolvimento geral da criança nas idades inicias; até

chegar a conteúdos de treino e competição mais especializados para os adolescentes,

voltados para o aprefeiçoamento em determinada modalidade esportiva.

Apesar disso, chama a atenção o fato de que o percentual de técnicos que defendem

competições multilaterais nas faixas etárias iniciais não correponde, na mesma proporção,

aos conteúdos do treino. Isso significa que muitos não reconhecem a necessidade de

coerência entre os conteúdos do treino e da competição, sendo a favor de treinos

multilaterais, mas defendendo competições especializadas em idades inferiores às indicadas

na literatura (QUADRO 1).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

6-7 anos 8-9 anos 10-11

anos

11-12

anos

13-14

anos

Competições altamente

especializadas

Competições especializadas

adaptadas

Competições multilaterais

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

Quadro 1. Propostas competitivas para diferentes faixas etárias (adaptado

de BOMPA, 2000).

Importância dos resultados - finalidades

A medida que se avança na faixa etária, progressivamente é dada maior importância

aos resultados. Vai-se de 85% nada ou muito pouco importante na faixa etária de 6 – 7 anos

para cerca de 40% pouco importante na faixa etária de 10 – 12 anos passando a mais de 81%

importante ou muito importante na faixa etária de 13 – 14 anos. Esses dados são

semelhantes aos obtidos por CARDOSO (2007) e vão ao encontro da teoria de formação de

longo prazo em que a especialização ocorre mais tardiamente.

Page 21: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

Gráfico 9 – Opinião dos técnicos quanto ao grau de importância dos resultados

em cada etapa da formação esportiva

4. CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se considerar que o objetivo do estudo foi alcançado, uma vez que o universo

bastante diverso dos treinadores entrevistados permitiu a realização de inferências e, em

certa medida, a generalização dos dados obtidos, entretanto, deve-se registrar que a

amostra foi menor do que o esperado quando do desenho do estudo.

Também não forma objeto de análise comparações entre os diferentes tipos de

instituições promotoras do esporte que participaram da amostra. Portanto, estudar e

comparar os diferentes contextos em que as crianças e jovens aprendem e competem

também podem gerar dados esclarecedores sobre como o esporte e, em especial, a

competição infanto-juvenil, tem sido organizados.

Por outro lado, cabe ainda, em estudos futuros, analisar as respostas dos técnicos em

função das modalidades esportivas e compará-las, pois sabe-se que as estruturas

Nada importante; 6-7

anos; 59,3 Nada

importante; 8-9 anos; 40,7 Nada

importante; 10-11 anos; 3,7

Muito pouco importante; 6-7

anos; 25,9 Muito pouco importante; 8-9

anos; 33,3

Muito pouco importante; 10-

11 anos; 33,3 Muito pouco importante; 11-

12 anos; 3,7

pouco importante; 6-7

anos; 7,4 pouco

importante; 8-9 anos; 11,1

pouco importante; 10-

11 anos; 37,0

pouco importante; 11-

12 anos; 40,7 pouco importante; 13-

14 anos; 18,5

Importante; 6-7 anos; 7,4

Importante; 8-9 anos; 14,8 Importante; 10-

11 anos; 18,5

Importante; 11-12 anos; 44,4

Importante; 13-14 anos; 55,6

Muito importante; 10-

11 anos; 3,7

Muito importante; 11-

12 anos; 11,1

Muito importante; 13-

14 anos; 25,9

Muito importante

Importante

pouco importante

Muito poucoimportante

Nada importante

Page 22: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

competitivas e as exigências são bastante diferentes, por exemplo, entre a ginástica artística

e o basquetebol.

ARENA e BOEHME (2006) indicam que a idade em que os jovens atletas começam a

participar de competições de forma regular e/ou federada variam de acordo com a cultura

esportiva de cada país, assim como o esporte considerado. E de modo genérico a faixa etária

de 12-14 anos é a mais preconizada na literatura para que a criança comece a participar de

um treinamento específico de determinda modalidade esportiva com finalidade competitiva,

com exceção de modalidades artísticas como ginástica, patinação e outras, que são iniciadas

anteriormente.

Pelo fato dos resultados serem concordantes com a literatura e a teoria de

treinamento esportivo de longo prazo, espera-se extrair desse estudo recomendações ou

indicativos que possam servir de referência à organização e enquadramento das

competições para crianças e jovens, bem como o quadro de valores, motivações e

finalidades associadas a elas. São eles:

A competição infanto-juvenil nas categorias iniciais é importante como ação

educativa que propicia a participação democrática de todos e contribui para o

desenvolvimento integral do ser humano, trazendo benefícios para o desenvolvimento

físico, emocional e social. De modo geral, a literatura mostra indícios de que há relação

especialização esportiva e participação precoce em competições regulares, podem

possibilitar o abandono prematuro da prática esportiva regular pelos jovens a medida que

mudam os seus interesses, as habilidades motoras pertinentes são mais complexas e os

níveis competitivos e as pressões de técnos e pais tornam-se maiores e constantes.

O Esporte deve ser entendido como linguagem, bem cultural, fenomeno social de

natureza educativa e competição como estratégia, elemento que dá sentido e no qual a

manifestação do esporte se realiza com plenitude. Assim sendo, no planejamento das

atividades desportivas deve-se incluir a necessidade de aprender a competir entre as

intenções educativas e conteúdos, a metodologia e princípios pedagógicos adotados é que

determinarão o impacto no desenvolvimento humano. Desse modo, a forma, os objetivos, a

Page 23: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

periodicidade, os critérios de avaliação, e a faixa etária são aspectos fundamentais a serem

considerados para o planejamento e organização dos treinos e dos sistemas de competições.

REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS

ARENA, S S., BOEHME, M.T.S. Federações esportivas e organização de competições para

jovens. R. bras. Ci. e Mov. 2004; 12(4):45-50.

BOMPA, J.O. Total training for young champions. Champaign, Human Kinetics, 2000.

CARDOSO, M. F. S. Para uma teoria da competição desportiva para crianças e jovens: um

estudo sobre os conteúdos, estruturas e enquadramentos das competições para os mais

jovens em Portugal. 2007. Tese (Doutorado). 273 p. Faculdade de Desporto, Universidade

do Porto, Portugal.

CHAUVE, S. La Isla de Pascua y sus mistério. traduzido para o espanhol por José María

Souviron, tercera edición, 1945.

FISCHER, S. Island at the end of the world: the turbulent history of Easter Island. Reaktion

Books, 2005.

FUNAI. VI Jogos dos Povos Indígenas. Disponível em:

http://www.funai.gov.br/indios/jogos/6o_jogos/6_jogos.htm . Acesso em: 04 nov. 2012.

Page 24: arquivo Publicação Seminário 2012

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a competição em jogo

ANEXO 1 – Questionário

Caro(a) professor(a),

Este questionário faz parte de um estudo de campo que está sendo realizado pelos alunos

do Curso ESPORTE, COMPETIÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO organizado pelo

Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte do CEPEUSP. O objetivo deste

questionário é conhecer a sua opinião sobre a organização de competições esportivas para

crianças e jovens entre 6 e 14 anos.

Para sua tranquilidade, garantimos que nenhum dado pessoal será revelado, garantindo o

sigilo absoluto das respostas dos participantes deste estudo.

Obrigado pela sua colaboração!

DADOS PESSOAIS

Idade:_______________________ É formado em Educação Física? ( ) sim ( ) não

Atua como treinador (a) em que modalidade?___________________ Em que

instituição?________________

Qual a faixa etária dos seus atletas?_______________________________________

Qual a idade para que a criança inicie a participação em competições regulares na sua

modalidade? _______

Para responder as questões abaixo, pense sobre os objetivos e a estrutura das

competições para as crianças e jovens entre 6 e 14 anos, assinalando a alternativa que,

para você, é a mais verdadeira.

1 – Assinale, para cada idade, a ordem de prioridade que deveria orientar a participação em

competições durante a formação esportiva:

Page 25: arquivo Publicação Seminário 2012

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a competição em jogo

PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO

FAIXA ETÁRIA Só formação Mais ênfase na

formação do

que nos

resultados das

competições

Mais ênfase

nos resultados

das

competições

do que na

formação

Ênfase só nos

resultados das

competições

6-7 (1) (2) (3) (4)

8-9 (1) (2) (3) (4)

10-11 (1) (2) (3) (4)

11-12 (1) (2) (3) (4)

13-14 (1) (2) (3) (4)

2 – Assinale, para cada idade, de acordo com os objetivos formativos, a ordem que deveria

orientar a preparação para a competição:

PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO

FAIXA ETÁRIA Só preparação

diversificada

(multilateral)

Mais

preparação

multilateral do

que

especializada

Mais

preparação

especializada

que

multilateral

especializada

6-7 (1) (2) (3) (4)

8-9 (1) (2) (3) (4)

10-11 (1) (2) (3) (4)

11-12 (1) (2) (3) (4)

13-14 (1) (2) (3) (4)

3 - Atribua um grau de importância às funções que a competição deve ter durante a

formação esportiva:

Page 26: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

4 – Atribua um grau de importância aos valores e atitudes que podem ser desenvolvidos nas

crianças e jovens com a participação competitiva nestas etapas de formação:

PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO

Funções das competições Nada

importan

te

Muito

pouco

important

e

Pouco

importan

te

Importan

te

Muito

importan

te

Propiciar às crianças e jovens a

comparação das suas capacidades

com as dos outros e com as suas

próprias

(1) (2) (3) (4) (5)

Criar, junto dos amigos, pares e

terceiros, uma boa imagem social

(1) (2) (3) (4) (5)

Possibilitar à criança e ao jovem

obter sucesso e se superar.

Construir sua auto-imagem e auto-

estima

(1) (2) (3) (4) (5)

Adquirir e desenvolver valores para

a sua futura vida em sociedade

(1) (2) (3) (4) (5)

Possibilitar às crianças e jovens

estarem com os amigos fazerem

novos amigos

(1) (2) (3) (4) (5)

Motivar para alcançar seus objetivos (1) (2) (3) (4) (5)

Page 27: arquivo Publicação Seminário 2012

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a competição em jogo

PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO

Valores Nada

importan

te

Muito

pouco

important

e

Pouco

importan

te

Importan

te

Muito

importan

te

Ser justo, honesto, não enganar (1) (2) (3) (4) (5)

Ser companheiro, estar com amigos (1) (2) (3) (4) (5)

Ter compaixão, preocupar-se com

as pessoas ao seu redor

(1) (2) (3) (4) (5)

Demonstrar conformidade, integrar-

se ao grupo

(1) (2) (3) (4) (5)

Ser consciencioso, dar o máximo,

fazer o melhor

(1) (2) (3) (4) (5)

Empenhar-se, ser persistente e

perseverante no jogo e na

competição

(1) (2) (3) (4) (5)

Ter prazer, se divertir (1) (2) (3) (4) (5)

Jogar bem (1) (2) (3) (4) (5)

Tornar-se mais apto e mais saudável

pelo esporte

(1) (2) (3) (4) (5)

Ser obediente, fazer o que lhe

pedem

(1) (2) (3) (4) (5)

Ter realização pessoal, fazer o

melhor que pode

(1) (2) (3) (4) (5)

Ter boa imagem púbica, parecer

bem, as pessoas gostam de mim

(1) (2) (3) (4) (5)

Ter auto-realização, sentir-se bem

quando joga

(1) (2) (3) (4) (5)

Exibir competência e habilidade,

realizar bem as habilidades e

(1) (2) (3) (4) (5)

Page 28: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

5 – Considerando apenas o caso da sua modalidade, assinale o nível competitivo que deve

haver para as faixas etárias abaixo:

6 – Assinale o conteúdo do treino e o conteúdo da competição indicados para cada faixa

etária durante a formação esportiva:

técnicas

Mostrar espírito esportivo, ter

comportamento apropriado, não ser

um mau perdedor

(1) (2) (3) (4) (5)

Ser coeso, incentivar e encorajar a

equipe quando as coisas são difíceis

(1) (2) (3) (4) (5)

Ser tolerante, envolver-se com

outros mesmo não gostando deles

(1) (2) (3) (4) (5)

Superar e ganhar dos outros (1) (2) (3) (4) (5)

PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO

Faixa

etária

Competições

internas no

clube ou

escola

Competições

locais na

própria

cidade

Competições

regionais/estaduais

Competições

nacionais

Competições

internacionais

6-7 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

8-9 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

10-11 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

11-12 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

13-14 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Faixa

etária

Conteúdo do treino Conteúdo da competição

Treino Treino de Treino de Competições Competições Competições

Page 29: arquivo Publicação Seminário 2012

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a competição em jogo

7 – Atribua um grau de importância aos resultados em cada etapa da formação esportiva:

QUESTÃO ABERTA - Quais temas você gostaria de ter nos cursos de formação de técnicos,

referentes ao papel da competição no processo formativo, a sua organização e a preparação

das crianças e jovens para participar?

multilateral especialização

inicial

especialização

elevada

multilaterais especializadas

adaptadas

altamente

especializadas

6-7 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

8-9 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

10-11 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

11-12 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

13-14 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO

Faixa etária Nada

important

e

Muito

pouco

important

e

Pouco

important

e

Important

e

Muito

important

e

6-7 (1) (2) (3) (4) (5)

8-9 (1) (2) (3) (4) (5)

10-11 (1) (2) (3) (4) (5)

11-12 (1) (2) (3) (4) (5)

13-14 (1) (2) (3) (4) (5)

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a competição em jogo

ANÁLISE DOS REGULAMENTOS AS COMPETIÇÕES INFANTO-JUVENIS EM DIFERENTES

CONTEXTOS

Amanda Busch Rigo Neves Bezerra

Priscila Regina da Silva Lourenço

Regina Helena Conceição Oliveira

1. INTRODUÇÃO

A competição é inerente ao esporte, fenômeno que pode acontecer em diversos

ambientes e que exige dos participantes expectativas, objetivos, limitações e possibilidades

(MARQUES et al., 2008). Faz parte do processo de formação esportiva inicial, porém com

adaptações compatíveis com o desenvolvimento biopsicossocial.

Durante o processo de formação do indivíduo, as características maturacionais

influenciam diretamente no desempenho esportivo e pode influenciar nos resultados das

competições. Por esta razão, os autores defendem as diferenciações e adaptações nos

eventos competitivos esportivos. Segundo REVERDITO et al. (2008), para que o esporte seja

ensinado em sua plenitude, deve-se ensinar nossos jovens a competir e desta forma, “a

participação competitiva deve contribuir para o desenvolvimento dos valores, especialmente

com aqueles relacionados ao senso de justiça, honestidade e tolerância e compaixão”

(CARDOSO, 2007)

De acordo com diversos estudiosos da área (MARQUES et. Al, 2007; ARENA E

BOHME, 2004; CARDOSO, 2007; LUGUETTI et al., 2011), é necessário que em cada faixa

etária existam adequações das mais diversas formas (material utilizado, espaço, duração,

entre outros), pois para cada momento do desenvolvimento do ser humano, existe uma

possibilidade e condição de aprendizado diferente. Contudo, é importante lembrar que,

ainda que estes ajustes sejam necessários, é preciso ter cuidado para evitar a

descaracterização da atividade, ou tirar atratividade da mesma para que esta prática não

seja desestimulada.

Page 31: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

Quadro 1. Propostas competitivas para diferentes faixas etárias (adaptado de BOMPA,

2000).

Segundo WEINECK (2000), a criança não é um adulto em miniatura e por isso, não deve

ser submetida a treinamentos reduzidos, e que consequentemente seria submetida a

competições com cargas parecidas com as profissionais:

“Um dos principais motivos para a diversidade biológico-esportiva de crianças e

adolescentes quando comparados aos adultos é dado pelo fato de que as crianças

e adolescentes ainda se encontram na fase de crescimento, onde surgem inúmeras

alterações e particularidades físicas, psicológicas e psicossociais, que provocam

consequências para a atividade corporal, ou esportiva e, portanto, para a

capacidade de suportar carga e competir.” (p.?)

KROGER E ROTH (2002) lembram que a especialização precoce pode vir

acompanhada por um abandono precoce, antes mesmo de ter chegado ao alto nível de

rendimento. Isso também porque nessa época em que ocorre a especialização precoce, o

organismo infantil não está preparado para as cargas intensivas de treinamento,

acarretando em malefícios à saúde de todas as naturezas (físico, motor, social e psicológico)

de crianças e adolescentes.

Proporcionar atividades prazerosas no início da aprendizagem esportiva, despertar o

interesse e desenvolver a multilateralidade, são fatores que influenciam positivamente a

Page 32: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

criança e o adolescente ao longo dos anos. Os treinamentos com cargas coerentes à faixa

etária e nível maturacional dos indivíduos, evitam o afastamento por lesões ou estresse

físico e/ou psicológico.

Em um estudo organizado por ARENA e BOHME (2004) com as federações esportivas

e organizações de competições para jovens, os diretores, vice-diretores e presidentes de

diferentes modalidades foram indagados sobre diversas questões que dizem respeito às suas

competições. Uma das questões levantadas foi que as Confederações Internacionais destas

modalidades sugerem idades iniciais para o início da participação de crianças em

competições.. Contudo, verificou-se no estudo, que na maior parte das modalidades, com

exceção da Ginástica, esta idade não é respeitada no Brasil. A justificativa destas entidades

foi de que, por conta da grande quantidade de praticantes em clubes e instituições de

treinamento, existe a necessidade de oferecer as competições cada vez mais cedo.

Entretanto, ao mesmo tempo, observa-se a necessidade de que, para participar destas

competições, as crianças precisam de experiência necessária em determinada modalidade 1

ou 2 anos antes de começar a competir.

Em contra partida ao argumento das autoridades que representam as federações e

confederações, segundo ARENA e BOHME (2004), o fato de haver competições cada vez

mais cedo, faz com que as instituições necessitem treinar seus “mini atletas” precocemente,

o que vai de encontro à literatura quando observamos as idades indicadas para iniciação à

especialização nas diversas modalidades esportivas (MARTIN, 1998 apud BÖHME, 2002;

BOMPA, 2002; GRECO E BENDA 1998).

Atualmente, nos variados contextos - prática de lazer, escola, clubes e projetos

sociais - existem diferentes competições para as crianças e jovens. É possível que existam

crianças e jovens que participem de 2 ou mais tipos de competições ao longo do mesmo

período por praticarem esporte em diferentes contextos.

Assim, nos questionamos como se dá a formação de um indivíduo que recebe, das

instituições esportivas que são sua referência, diferentes informações quando participa

destas competições. Ao mesmo tempo, entendemos como principal e importante a atuação

do educador, técnico ou professor mediando estes processos educativos.

Page 33: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

A mediação propicia um diálogo verdadeiro entre os envolvidos, momento em que

ambos se ouvem, cada qual confiando suas razões aos mediadores, com maior autenticidade

e abertura para negociação de propostas e contrapropostas. O educador deve procurar

utilizar maneiras didáticas de intervenção se adequando ao ambiente em que está inserido,

e propondo aos educandos envolvidos novas maneiras de resolver estas situações.

No contexto do Esporte Educacional, percebemos que as competições estão cada vez

mais adaptadas e adequadas às diferentes faixas etárias e, os objetivos estão atrelados às

práticas desenvolvidas por cada Instituição. Isto possibilita que os participantes possam

passar por este processo de maneira gradativa e de forma educativa, o que contribui para a

continuidade da prática.

É preciso lembrar que a competição, assim como a prática de esportes, deve fazer

sentido em todo o seu processo e, nas idades iniciais até aproximadamente 10 anos, deve

ser multivariada e com premiação para todos. Nas fases seguintes, a partir de 11 anos, é

necessário respeitar as características físicas e cognitivas dos jovens praticantes dando-se

sentido à prática e, neste momento, não necessariamente premiar a todos, uma vez que o

entendimento desta recompensa passa também a ser o foco do trabalho com estes jovens.

Com este contexto, pode-se trabalhar com diferentes metas para cada grupo em uma

mesma competição, pois desta forma, estimulam-se variadas possibilidades de êxito, mesmo

que não se tenha a recompensa da premiação. Este procedimento, segundo MARQUES

(2001), pode proporcionar a prática em diferentes processos competitivos (seja esportivo ou

em outros contextos) nos momentos seguintes da sua vida.

2. OBJETIVO DO ESTUDO

Analisar e comprar regulamentos de competições infanto-juvenis de diferentes

instituições e contextos.

3. MÉTODO

a. Amostra

Foram analisados 04 regulamentos das competições de instituições da cidade de São

Paulo, que desenvolvem programas de iniciação e formação esportiva em diferentes

Page 34: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

contextos: 02 clubes sociais, 01 organização não governamental, e 01 programa esportivo

desenvolvido por uma universidade pública.

b. Coleta de dados

Os regulamentos foram obtidos através de contato com as instituições, que

disponibilizaram seus documentos para participação no estudo.

c. Tratamento dos dados

Os regulamentos foram analisados por meio de 07 categorias, criadas com base na literatura

estudada (MEIER; ARENA E BOHME 2004, MARQUES et al.; 2008), considerando-se alguns

dos principais tópicos debatidos sobre a caracterização e diferenciação das competições

infanto-juvenis:

1. Objetivo da competição,

2. Quantidade de competições,

3. Premiação,

4. Sistema de disputa,

5. Tipo de atividade,

6. Atuação do técnico/professor/educador,

7. Materiais.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

A competição é um momento em que a Instituição, que a promove, tem para apresentar

e compartilhar o que é trabalhado durante suas atividades com os participantes.

Desta forma, pode-se observar durante os eventos o desenvolvimento dos educandos e

estes, podem expressar os mais diversos comportamentos, o que será subsídio para que

mais tarde, em suas atividades institucionais, os educadores e responsáveis possam dar

continuidade ao trabalho, levando em consideração muitos aspectos do indivíduo, além das

questões motoras.

Page 35: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

OBJETIVOS DAS COMPETIÇÕES

Os principais focos das competições analisadas foram: integração entre os

participantes e as diversas instituições; possibilidades de experimentar e vivenciar novas e

diferentes habilidades em um só evento; praticar modalidades específicas ou ou variadas.

De acordo com o que pudemos analisar nos regulamentos, as instituições tem o foco

no desenvolvimento integral da criança, mantendo as competições de acordo com a

literatura, que traz a importância de aumentar de forma gradativa a especificidade das

atividades oferecidas durante os eventos, começando com brincadeiras e jogos de

habilidades multivariadas a partir dos 3 anos, extrapolando as possibilidades das diferentes

práticas, com muitas variações e adequações de acordo com a faixa etária e o objetivo dos

eventos.

Uma vez que os eventos são estruturados desta maneira, nos permite pensar que a

atividades propostas durante o ano estão de acordo com o desenvolvimento integral dos

educandos.

A integração entre os participantes das competições foi uma das maiores

preocupações, pois em todos os eventos alguma forma de interação, entre grupos ou

equipes, é pensada para que adversários se enfrentem durante a atividade e possam

dialogar durante ou depois dos jogos (educandos a partir de 11 anos). Quando este foco é

voltado para as crianças menores de 10 anos, eles se misturam em atividades lúdicas e

brincadeiras variadas, pois não há a formação prévia de equipes específicas.

QUANTIDADE DE COMPETIÇÕES

No gráfico abaixo (1) observaremos a quantidade de competições oferecidas pelas

instituições, que vai de encontro à literatura em alguns aspectos quando esta indica

aumento gradativo na quantidade de competições que cada indivíduo deve participar ao

longo do crescimento. Isto porque, o gráfico nos indica uma quantidade maior de eventos

esportivos para crianças abaixo de 11 anos e menor quantidade para jovens até 16. (BOMPA,

2000 apud ARENA e BOHME, 2004).

Page 36: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

Gráfico 1 – Quantidade de Competições

No quadro 1, BOMPA (2000) sugere a quantidade de competições que uma criança /

jovem deve praticar durante 1 ano em cada faixa etária. Além disso, também trás o tipo de

atividade que deve ser promovida para cada faixa etária durante os eventos esportivos, com

a preocupação no desenvolvimento integral de forma continuada.

PREMIAÇÃO

Os mesmos autores que corroboram com as questões relacionadas às diferentes

adaptações necessárias para as faixas etárias mais novas, trazem a ideia de que é

extremamente importante considerar a prática lúdica e multivariada para crianças até 10

anos e festivais esportivos para crianças até 12 anos, possibilitando a premiação a todos.

A exigência precoce da vitória, que trás consigo a premiação dos melhores, podem

levar à desmotivação da prática esportiva. Isto porque, se exigido de forma exacerbada bons

resultados, e se estes não forem alcançados, o jovem pode se desestimular entendendo que

há grande dificuldade de atingir este objetivo e se identificando como incapaz de atingir

bons resultados (BOMPA, 2000; COELHO 2000 apud CARDOSO, 2007) .

Page 37: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

Gráfico 2 – Premiação

A premiação precisa estar presente no processo pedagógico das diferentes competições.

Contudo, em cada faixa etária, há a necessidade de se verificar o sentido da competição e a

premiação oferecida. É importante perceber que a partir do momento em que se tem 1 a 3

lugar, o jovem pode identificar o momento em que se encontra no seu desempenho

esportivo e elaborar estratégias para que possa melhorar. Além disso, entendendo isto,

saberá lidar melhor com a vitória ou derrota, pois a finalidade das competições não são

iguais para todos. Segundo MARTENS et al. (1995) apud CARDOSO (2007) “o treino e a

competição ajudam no desenvolvimento das responsabilidades, na aceitação dos outros e, o

mais importante, na aceitação de si próprio.”

É possível observar no gráfico 2 que as instituições participantes deste estudo procuram

premiar todos os participantes nas faixas etárias iniciais, corroborando com os autores nas

condições de especificações de cada faixa etária. Assim, todos tem a oportunidade de

participar de atividades multivariadas e, quando participam de competições específicas nas

idades a cima de 12 , de acordo com as tabelas (anexo 2), há adaptações na forma de

competir que possibilitam o êxito em diversos aspectos e existem metas a serem atingidas, o

que possibilita maior quantidade de sucesso em uma mesma competição.

Page 38: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

SISTEMA DE DISPUTA

Os sistemas de disputada nas competições analisadas trazem muita diversidade, pois

para cada categoria, são propostas adaptações pertinentes às possibilidades tanto motoras

quanto cognitivas.

Em sua maioria, para as idades entre 3 a 10 anos, as instituições promovem atividades

em circuitos com estabelecimento de metas em que os educandos participam de jogos

aleatoriamente, escolhendo a cada rodada a brincadeira que mais interessa, tendo como

objetivo, participar de todas as estações ou, são organizados em equipes com integrantes de

outras instituições e o foco é a participação de todos.

Conforme as idades vão aumentando, são promovidos jogos com características mais

formais, contudo ainda adaptados às faixas etárias, possibilitando o melhor aproveitamento

da dinâmica educativa dos eventos.

Em todas as competições, desde as idades menores, até os maiores entre 15 e 16 anos,

as atividades sofrem adaptações para que todos os participantes possam vivenciar os

conteúdos desenvolvidos durante o ano em suas instituições. Estas mudanças acontecem

tanto em relação ao regulamento (quem participa e como são determinados os participantes

– Carta de Competências/ IDE), regras durante os jogos, quantidade de jogadores,

chaveamentos procurando o equilíbrio entre as equipes participantes.

Estas adequações favorecem também o que os autores indicam sobre a premiação

para cada faixa etária. Desta forma, seja com brindes para todos ou medalhas para os

vencedores, em algum momento todos têm a possibilidade do êxito durante a competição, o

que a torna mais atrativa e estimulante para quem participa.

TIPO DE ATIVIDADE

De acordo com a proposta de BOMPA (2000), há vários tipos de competição mais

adequados às diferentes faixas etárias. Em relação ao tipo de atividade, o autor faz distinção

entre atividades competitivas multivariadas, nas quais as crianças são estimuladas a

competir em várias modalidades ou atividades que exijam várias habilidades motoras; ou

atividades competitivas específicas, em que os competidores participam de atividades mais

Page 39: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

formais e em uma única modalidade esportiva, com adequações, conforme dito no item

anterior.

Gráfico 3 – Tipo de Atividades

Ao analisarmos os regulamentos, identificamos que em todas as idades os jovens são

estimulados a participar de diversas atividades, mesmo quando participam de modalidades

específicas, pois têm a possibilidade de, em um único evento, praticar mais de um esporte.

Durante todo o ano, podem participar de muitas competições. Porém, conforme vão

crescendo, as atividades começam a ser especificadas e os educandos têm a possibilidade de

escolher de quais participarão, desenvolvendo sua autonomia e colocando em prática as

habilidades e competências desenvolvidas ao longo do processo educativo nas instituições.

ATUAÇÃO DO TÉCNICO/PROFESSOR/EDUCADOR

Levando-se em conta que para possibilitar a participação em competições, o jovem deve

aprender a competir, entendemos que o Educador tem papel fundamental neste processo.

Com a construção de valores morais e éticos, o esporte contribui para a formação dos

indivíduos. Assim, as atividades das quais eles participam precisam fazer sentido para que a

continuidade da prática esportiva seja garantida (MARQUES et al. 2008; CARDOSO, 2007;

REVERDITO, 2008).

No gráfico 4 observamos que o Educador, nas Instituições estudadas, tem diversas

funções nas competições e que, de acordo com cada faixa etária, podem ou não exercer

Page 40: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

funções específicas, como arbitrar jogos. É possível identificar neste gráfico que das diversas

atribuições pelas quais os educadores são responsáveis, a Mediação e Orientação são as

mais esperadas nas instituições analisadas.

Gráfico 4 – Funções do Educador

De acordo com TAVARES (2002), a mediação define-se como um processo informal,

voluntário, onde um educador observa seus educandos e a resolução de suas questões. O

papel do educador é ajudar na comunicação através da neutralização de emoções, formando

opiniões e negociações para a resolução do conflito.

Segundo CARDOSO (2007), isto deve acontecer, pois são eles que conhecem e

identificam as necessidades de intervenções a serem feitas durante um jogo. Muitas vezes,

apitam os jogos das categorias mais novas (abaixo de 12 anos) melhor que árbitros oficiais

das diversas modalidades, pois com o conhecimento da área de atuação e experiência tem a

possibilidade de fazer melhores mediações.

Dois fatores extremamente relevantes na opinião dos alunos no que se referem às

características dos melhores educadores são aqueles que percebem os educandos como

indivíduos capazes de aprender e desenvolver suas habilidades. Além disso, são pessoas que

ajudam os educandos a se perceberem como únicos, especiais e diferentes de outras

pessoas e considera relevantes suas dificuldades e potencialidades durante o processo de

aprendizagem.

Page 41: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

MATERIAIS

Com as adaptações e adequações das atividades propostas durante as competições, os

materiais seguem as mesmas características e vão ao encontro destas questões, pois além

de pensar no que pode ser o mais apropriado para cada faixa etária, existe a possibilidade de

oportunizar a vivência de materiais diferentes e em grande volume.

Esta variação de materiais (e atividades) possibilita a ampliação do repertorio motor

do indivíduo e ampliação das possibilidades de desenvolvimento e conhecimento da criança.

5. CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme a literatura analisada e os resultados obtidos de acordo com os regulamentos,

identificamos que nas faixas etárias iniciais há um número maior de competições oferecidas

pelas instituições, ao contrario do que os autores identificam como ideal, pois segundo eles

conforme ocorre o aumento das faixas etárias deve haver aumento gradativo das

competições oferecidas ao longo do ano, começando a partir dos quatro anos de idade com

atividades lúdicas e multivariadas sem a presença de competições formais.

Concluímos que a competição bem direcionada contribui para a motivação a prática ao

decorrer de sua vivencia no meio competitivo. Estes eventos esportivos direcionados de

forma adequada, identificando o praticante como um sujeito em formação, contribui para a

construção de valores morais e desenvolvimento de competências que podem, e devem, ser

utilizados nos diferentes contextos da vida de cada individuo. Para que isto seja possível o

educador é “peça chave”.

A premiação e o sistema de disputa, conforme verificadas tanto nos gráficos como na

literatura, estão de acordo com as faixas etárias indicadas e analisadas, contudo há uma

diminuição gradativa na premiação por participação começando aos nove anos de idade, em

que a partir desse momento também são premiados os melhores colocados e os

participantes, dependendo do objetivo de cada competição.

A competição não pode ser vista como o fim do processo, mas parte deste, que

possibilitará mais uma forma de atuação e prática dos conhecimentos adquiridos. Todas as

instituições, por trabalharem com o foco no desenvolvimento humano, preocupam-se em

adequar as competições promovidas, respeitando as características etárias.

Page 42: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

Identificamos que para analise da carga competitiva há necessidade de maior

aprofundamento sobre a quantidade e duração das competições das quais participam as

instituições analisadas em cada faixa etária.

Os regulamentos analisados para o desenvolvimento desta pesquisa, provém de

instituições que trabalham com Educação pelo esporte ou nestas categorias, desenvolvem o

trabalho como “escolas de esporte”, que não especializam o desenvolvimento de

modalidades específicas e por isso, não promovem este tipo de competição neste formato.

É preciso lembrar que as mesmas crianças estão inseridas nos diferentes contextos

competitivos, em alguns momentos ao longo do mesmo período. Desta forma entendemos

que faz-se necessária um plano de desenvolvimento esportivo nacional que proporcione, às

crianças e jovens da mesma faixa etária dos diferentes contextos, o mesmo processo de

aprendizagem esportiva contribuindo para o desenvolvimento humano de forma integral,

assim como acontece na maior parte dos projetos e programas que trabalham com a

Educação pelo Esporte.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ARENA, Simone S. e BÖHME, Maria Tereza S. Federações esportivas e organização de

competições para jovens. In: Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 12, n.4 pp 45-

50, 2004.

2. BÖHME, Maria Tereza S. O talento esportivo e o processo de treinamento a longo prazo. Cap. 9

In: DE ROSE, Dante Jr. Esporte e Atividade Física na Infância e na Adolescência: uma abordagem

multidisciplinar. Artmed Editora. Porto Alegre, 2002.

3. BOMPA, Tudor O. Treinamento total para jovens campeões. Caps. 1 e 2, Editora Manole Ltda.

Barueri, 2002.

4. CARDOSO, Marcelo F. S. Para uma teoria da competição desportiva para crianças e jovens. In:

Faculdade de Desporto: Universidade do Porto, 2007.

5. GRECO, Pablo J. & BENDA, Rodolfo N. Iniciação Esportiva Universal: Da aprendizagem motora ao

treinamento técnico. Vol. 1. Editora UFMG. Belo Horizonte, 1998.

Page 43: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

6. KRÖGER, Christian & ROTH, Klaus. Escola da Bola: Um ABC para iniciantes esportivos. Tradução:

Prof. Dr. Pablo Juan Greco. Páginas: 8-9. Editora Phorte. São Paulo, 2002.

7. LUGUETTI, Carla N. et al. Gestão de práticas esportivas escolares no ensino fundamental no

município de Santos. In: Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 25, n.2. pp

237-249, 2011

8. MARQUES, Renato F. R. et al. O esporte contemporâneo e o modelo de concepção das formas

de manifestação do esporte. In: CONEXÕES, Revista da Faculdade de Educação Física da

UNICAMP, Campinas, v. 6, n.2 Pp. 42 – 61, 2008.

9. REVERDITTO, Riller S. Competições escolares: reflexão e ação em pedagogia do esporte para

fazer a diferença na escola. In: Pensar a Prática, v.11, n.1, pp 37-45, 2008.

10. TAVARES, F.H.; Mediação e conciliação. cap. 1 Editora Mandamentos. Belo Horizonte, 2002.

11. WEINECK, Jürgen. Biologia do Esporte. Pp 245 – 264. Editora Manole, São Paulo, 2000.

Page 44: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

7. ANEXOS

a. Síntese dos Regulamentos

Instituição 1

Objetivo CategoriasDuração / Qdade

de JogosPremiação Sistema de Disputa Tipos de Atividades

Atuação dos Educadores /

Técnicos e Professores

Materiais

Utilizados

Introduzir as crianças no ambiente esportivo de forma leve

e descontraída, através da participação em uma atividade

com caráter lúdico, com o desenolvimento de diversas

habilidades motoras.

5 a 8 anos1h30min (5

Brincadeiras)

Todas as

categorias

Educandos das

diferentes instiuições

são misturados

Brincadeiras com caráter

lúdico

Acompanhar, orientar e incentivar

sua equipe durante o Circuito

Materiais

específicos das

atividades

Oferecer a oportunidade de participar de atividades de

Handebol, Basquete e futebol, de forma pré-desportiva

valorizando a aquisição das habilidades das modalidades

9 a 11

anos1h(3 jogos) 1º a 3º

Cada equipe disputa

um jogo e soma pontos

para classificação final

Jogos pré-desportivos de

Handebol, Basquete e

Futebol com 14 min de

duração.

Não especificadoBolas H1L, Bolão e

Basquete Mirim

Oferecer a oportunidade de competir na modalidade,

valorizando a aquisição das habilidades específicas

11 a 15

anos20min por jogo 1º a 3º

Todos contra todos,

campeão definido por

pontos

Jogos específicos da

modalidadeNão especificado Bolas H1L

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a competição em jogo

Instituição 2

Objetivo CategoriasDuração / Qdade

de JogosPremiação Sistema de Disputa Tipos de Atividades

Atuação dos Educadores /

Técnicos e Professores

Materiais

Utilizados

3 e 4 anos24 min (8 estações

de 3 min)

Acompanhar, orientar e incentivar

sua equipe durante o Circuito

Materiais

específicos das

atividades

5 e 6 anos 40 min (4X10min)Acompanhar, orientar e incentivar

sua equipe durante o Circuito

Materiais

específicos das

atividades

5 a 7 anosApresentações de

1min30seg a 3min

Coreografias com temas

diferenciados a cada ano e

realizadas em um espaço de

10mX10m em Supefície de

EVA com pequeno

amortecimento.

Não especificado Livre

7 a 11

anos (7 e 8

anos; 9 a

11 anos)

40 min (4X10min)

Circuito de habilidades

motoras com temas variados

a cada ano

Ficarão responsáveis por uma

nova equipe, devendo

acompanhar, orientar e motivar

sua equipe.

Materiais

específicos das

atividades

Circuito, sem

pontuação

Todos os

participantes

Atividades em circuito

relacionadas às habilidades

"naturais" (básicas) e aos

movimentos dos jogos de

quadra, não necessitando

treinamento antecipado

Derpertar e estimular o gosto pela

prática desportiva, através de

atividades lúdicas com fins

educativos; Promover entre as

entidades um intercâmbio nas faixas

etárias abordadas.

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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a competição em jogo

Instituição 3

Objetivo CategoriasDuração / Qdade

de JogosPremiação Sistema de Disputa Tipos de Atividades

Atuação dos Educadores /

Técnicos e Professores

Materiais

Utilizados

6 a 10

anos

10 a 15 min (6

estações - Duração

de 3h)

Brindes para

todos os

participantes

Circuito de atividades.

Os educandos devem

preencher um cartão de

atividades para trocar

pelos brindes ao final

do evento.

Jogos e brincadeiras com

diferentes temas

Mediar e orientar os educandos

em cada atividade; Os educandos

ficam livres durante o evento e

escolhem individualmente as

atividades que farão a cada

rodada

Materiais

específicos das

atividades

10 a 12

anos

(Iniciantes

,

intermedi

ário e

Avançado)

Jogos de 3X3

(meia quadra)

com duração de

10min

1º a 3º de

cada chave

As equipes são

separadas por chaves

para classificação entre

Chave ouro e prata,

para possibilitar maior

quantidade de equipes

premiadas

Jogos de Streetball com

regras adaptadas à cada

categoria; Para a categoria

Iniciantes, os jogos são pré-

desportivos no sistema de

4X4, com regras e metas

adaptadas.

Mediação e arbitragem dos jogosBolas de Basquete

da categoria mirim

13 a 14

anos

10min cada jogo (5

a 8 jogos em 1 dia)

1º a 3º de

cada chave

As equipes são

separadas por chaves

para classificação entre

Chave ouro e prata,

para possibilitar maior

quantidade de equipes

premiadas

Jogos 5 X 5 com regras

adaptadas para possibilitar

maior possibilidade de jogo

entre equipes de níveis

diferentes (isto varia de

acordo com o tempo de

participação no projeto)

Acompanhar suas equipes e

mediar durante os jogos

Bolas de Basquete

respectiva à

categoria

15 a 16

anos

40 min cada jogo,

com 4 tempos de

10min - 1 jogo por

mês

1º a 3º

As equipes jogam todas

contra todas para

classificação por pontos

corridos. Disputam o

primeiro lugar os 2

melhores colocados do

campeonato e o 3º

lugar os 3º e 4º lugares.

Jogos de Basquete com as

regras oficiais

Acompanhar suas equipes e

mediar durante os jogos

Bolas de Basquete

respectiva à

categoria

Promover um espaço de vivência

educativa e integração entre os

participantes do projeto, visando

fortalecer os valores do esporte, por

intermédio de atividades que

envolvam o basquete e jogos pré-

desportivos.

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

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a competição em jogo

Instituição 4

Objetivo CategoriasDuração / Qdade

de JogosPremiação Sistema de Disputa Tipos de Atividades

Atuação dos Educadores /

Técnicos e Professores

Materiais

Utilizados

9 e 10

anos

Estações de

atividades com 20

min (preparação,

jogo, avaliação)

Brinde de

participação para

todos os

participantes

Cada educando participa das atividades em circuito e

deve preencher o "Passaporte do Desenvolvimento",

Cada jogo exige que o educando atinja uma meta.

Circuito de 8 jogos com

habilidades motoras diversas

Materiais

específicos das

atividades

11 e 12

anos6 rodadas (30min)

Cada equipe receberá um Mapa de Desenvolvimento

e separadas em grupos de acordo com seus IDE´s.

Circuito de 6 jogos pré-

desportivos: Voleibol, handebol,

Futebol, flag e ultimate frisbee;

Cada equipe terão uma Ficha de

Índice de desenvolvimento

esportivo (IDE)"

Materiais

específicos das

atividades

13 e 14Adequada a cada

modalidade.

Cada modalidade terá seu próprio sistema de disputa

de acordo com a quantidade de equipes participantes,

respeitando as regras oficiais para a faixa etária e

adaptações necessárias para um melhor

aproveitamento da dinâmica educativa como redução

do campo, como futebol; São estabelecidas metas

para cada modalidade.

Torneio de Voleibol; Handebol,

Futsal, Futebol de Campo,

Materiais

específicos das

atividades

15 e 16

anos

Adequada a cada

modalidade.

As estruturas de disputa tem como prioridade propor

condições mais igualitárias de jogo e de

possibilidades de ser campeão, além de estimular o

desenvolvimento através de metas e de uma prática

mais autônoma e de possibilitar que as equipes

joguem o máximo possível. Para isso, a cada dia, o

grupo de adolescentes estará dividido em torneios

simultâneos de 2 modalidades. São estabelecidas

metas em diferentes categorias, tanto durante o jogo,

quanto antes e depois como responsabilidade e

comprometimento da equipe.

Torneiro de Streetball

(Basquete), Handebol, Street

Soccer, Voleibol

Materiais

específicos das

atividades

De acordo com as necessidades

de cada grupo, as instiuições

participantes deverão se

organizar para compor o quadro

de mediadores. Os mediadores

deverão participar de curso

específico a ser oferecido pela

organização

NÃO ESPECIFICADO NO REGULAMENTO

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Brinde de

participação para

todos os

participantes e

medalhas para 2

equipes.

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a competição em jogo

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

A COMPETIÇÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: LUGARES E SUJEITOS DO JOGO

Ms. Carla Nascimento Luguetti

INTRODUÇÃO

O direito à prática esportiva é assegurado por lei às crianças e jovens brasileiros,

afirmado na Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e no Estatuto da

Criança e do Adolescente. Entendido como um fenômeno sociocultural, o esporte pode

assumir múltiplas formas e sentidos; por exemplo, assumir a forma e o sentido de alto

rendimento na infância podendo ser contraditório ao potencial educativo. Contudo, o

esporte não tem nada de essencialmente bom ou mau: ele é o que fazemos dele. A

qualidade do programa que oferecemos determina a forma e o sentido que este esporte

assume.

Nesse contexto, as competições são parte inerente ao esporte e importante parte da

pratica pedagógica dos professores/treinadores. Procuraremos discutir nesse cenário como

se organizam as praticas de competição no âmbito escolar, com ênfase no contra-turno

(Praticas Esportivas Escolares). Num primeiro momento apresentaremos o quadro atua da

competição nesta área, ilustrados com dados e pesquisas em vários níveis (municipal,

estadual e nacional). Num segundo momento apresentaremos modelos pedagógicos que

enfatizam a competição como elemento integrado e alinhado a pratica pedagógica do

professor/treinador, destacando o ‘’Sport Education Model (SEM.)’’ e o ‘’Teaching Personal

and Social Responsability (TPSR)’’. Esperamos que a apresentação de tais modelos

pedagógicos nos aponte caminhos reais para inovarmos na prática pedagógica, sobretudo

no âmbito escolar.

Mesa Redonda A COMPETIÇÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: LUGARES E SUJEITOS DO JOGO

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

A competição no âmbito escolar

Atualmente, aponta-se um crescimento do esporte oferecido em programas que

ocorrem no contra-turno das escolas, chamados Práticas Esportivas Escolares (PEEs). Tais

práticas devem estar ligadas ao projeto político pedagógico da escola, ou seja, consideradas

parte integrante desta instituição. Considerando a função social da escola que é de formação

integral e preparação para a cidadania, as PEEs devem ser uma prática “da escola”.

Além de potencializar a educação das crianças e jovens, quando estiverem efetivamente

ligadas à escola através de sua inclusão no projeto político pedagógico da mesma, as PEEs

podem contribuir para a democratização da prática esportiva, dada a obrigatoriedade legal

da frequência escolar de todas as crianças a partir dos seis anos de idade, segundo a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação. Soma-se a isso o fato desta mesma lei propor um aumento

progressivo do tempo de permanência da criança na escola, incentivando o aumento das

escolas em tempo integral que obrigatoriamente oferecem as PEEs.

Em âmbito federal, o Ministério do Esporte desenvolve duas ações voltadas para as

PEEs: o “Segundo Tempo” e as “Olimpíadas Escolares”. Ambos são deficitários, pois, ou não

abrangem uma quantidade significativa de crianças, como no caso do “Segundo Tempo”, ou

são apenas eventos, como as “Olimpíadas Escolares”. O programa “Segundo Tempo” é de

competência da Secretaria de Esporte Educacional e as “Olimpíadas Escolares” são de

responsabilidade da Secretaria de Esporte de Alto Rendimento. Desse modo, os programas

responsáveis pelas PEEs no âmbito federal são geridos por diferentes secretarias do

Ministério do Esporte, dificultando a elaboração de uma política única para o fomento dos

mesmos. Além disso, poucos são os programas que articulam diferentes setores e

incentivam a participação da sociedade civil.

No Estado de São Paulo é realizada a “Olimpíada Colegial do Estado de São Paulo”,

evento cuja realização conta com a parceria entre a Secretaria de Educação e a Secretaria de

Esporte, Lazer e Turismo. Com o objetivo de prepararem-se para a participação nas

Olimpíadas Colegiais, as escolas da rede estadual de São Paulo podem oferecer aos alunos

turmas de treinamento, conhecidas como “Atividades Curriculares Desportivas” (ACDs).

Page 50: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

Apesar do potencial das PEEs para a democratização do esporte e para a educação

integral das crianças e jovens, investigações apontam problemas nos programas oferecidos.

Em escolas estaduais (no estado de São Paulo) as pesquisas citam que os alunos são

submetidos a uma seleção para participarem das turmas de treinamento ou ACDs, e que o

principal objetivo é vencer as Olimpíadas Colegiais do Estado de São Paulo. Nas escolas

municipais, o sentido das PEEs numa escola que aplicava o programa Segundo Tempo foi de

preocupação com a formação integral dos alunos. No entanto, em escolas municipais em

que os alunos participavam de competições, os resultados são diferentes, seguindo o

modelo do alto rendimento. As PEEs desenvolvidas em escolas privadas apresentam uma

maior cobrança por resultados nas competições esportivas. Isso ocorre porque os programas

desenvolvidos fazem parte de uma estratégia de marketing, não tendo muitas vezes relação

com o projeto político pedagógico da escola e, consequentemente, com a formação das

crianças e jovens.

Modelos pedagógicos: possibilidades de mudança do quadro atual

Para que a prática competitiva seja eficiente, "bem conduzida" é preciso que a

mesma esteja alinhada a pratica pedagógica do professor/treinador. Assim, fundamental

considerarmos um alinhamento entre currículo, ensino e aprendizagem e a competição

como elemento essencial dessa pratica. Esta integração tem sido desenvolvido e

implementada através de modelos pedagógicos ou modelos baseados em prática. O uso do

termo "pedagógico" enfatiza a interdependência e irredutibilidade de aprendizagem, ensino,

conteúdo, sujeito e contexto. Essa visão prevê o uso de vários modelos pedagógicos, com

resultados de aprendizagens específicas (sociais, afetivas, cognitivas e motoras) e

características únicas, incluindo modelos como ‘’Sport Education Model (SEM)’’ e ‘’Teaching

Personal and Social Responsability (TPSR)’’.

Os modelos Pedagógicos referem-se a um planejamento coerente para o ensino, que

incluem uma base teórica (fundamentação teórica), resultados de aprendizagem esperados,

conhecimento do conteúdo (no caso o esporte), apropriado desenvolvimento das atividades

de aprendizagem, as expectativa de comportamento para professores e alunos, estruturas

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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

de tarefas, medidas de resultados de aprendizagem e mecanismos para medir a validade da

implementação do modelo em si. E a competição nesse sentido encontra-se alinhada a essa

organização pedagógica.

O SEM apresenta seis características-chave que tem por objetivo tornar o esporte

autêntico: (a) o esporte é feito por temporadas (longo tempo em equipes), (b) os jogadores

são membros de equipes e permanecem em que a equipe para a temporada inteira, (c) as

temporadas são definidas pela competição, que é intercalada com professor e aluno em

práticas dão autonomia aos alunos, (d) existe um evento (competição) que ocorre no final da

temporada, (e) existe um registro extensivo de toda a temporada, (f) há uma atmosfera

festiva na temporada (e particularmente na competição). O objetivo do SEM é criar

jogadores competentes, conscientes, e entusiasmados pelo esporte.

No TPSR, os autores propuseram uma variação, chamado de Modelo de Liderança no

Esporte, onde a estratégia baseia-se basicamente nos clubes esportivos. Em tal proposta

todas as crianças têm potencial para se tornarem líderes no esporte, quando dada a

oportunidade e orientação. E a partir dessa liderança no esporte/competição, os autores

acreditam na possibilidade de capacitar os jovens para serem líderes em sua própria

comunidade (por exemplo, bairro, casa, escolas, centro de recreação, igrejas, etc.). Para isso

os autores identificam quatro estágios onde a competição/esporte possibilita a

implementação de responsabilidade aos jovens: a) aprender a assumir responsabilidade:

assumir a responsabilidade pelo seu próprio bem-estar e contribuir para o bem-estar dos

outros; b) consciência da liderança: ajudar os que necessitam de orientação e apoio; c) líder

em idade-cruzada: planejamento, ensino, gestão e avaliação do treino - líderes apresentam

verdadeiramente carinho e compaixão; 4) auto atualização do líder - eles fornecem "fora do

ginásio" oportunidades que os jovens possam refletir mais sobre os interesses pessoais e os

futuros possíveis.

Os modelos pedagógicos SEM e TPSR nos oferecem uma possibilidade de repensar a

pratica pedagógica do esporte na atualidade. Mas do que refletir a competição

separadamente (modificar regras, por exemplo), ambos os modelos procuram alinhar a

Page 52: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

competição com a pratica diária do professor/treinador, onde a competição torna-se um

elemento essencial, numa construção conjunta com o professor/treinador.

Referências

Haerens, L., Kirk, D., Cardon, G., & De Bourdeaudhuij, I. (2011). Toward the Development of

a Pedagogical Model for Health-Based Physical Education. Quest, 63(3), 321–338.

Hellison, D. (2010). Teaching Personal and Social Responsibility Through Physical Activity (p.

208). Human Kinetics.

Hellison, D., & Martinek, T. (2009). Youth Leadership in Sport and Physical Education (p. 220).

Palgrave Macmillan.

Jewett, A. E., Bain, L. L., & Ennis, C. D. (1995). The Curriculum Process in Physical Education

(p. 397).

Luguetti, C. N. ; Bastos, F. ; Böhme, M. T. S. (2011). Gestão de práticas esportivas escolares

no ensino fundamental no município de Santos. Revista Brasileira de Educação Física e

Esporte, 25, 237-249.

Luguetti, C. N. ; Böhme, M. T. S. (2011) . Práticas Esportivas Escolares: o esporte no

contraturno das escolas e suas possibilidades. São Paulo: Editora 24 horas.

Metzler, M. W. (2011). Instructional Models for Physical Education (p. 446). Holcomb

Hathaway, Incorporated.

Siedentop, D., Hastie, P.A., & van der Mars, H. (2004). Complete guide to sport education 2nd

ed.). Champaign, IL: Human Kinetics.

Page 53: arquivo Publicação Seminário 2012

Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

a competição em jogo

O ESPORTE COMO COMPLEMENTO EDUCACIONAL DIANTE DA FORMAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONTEXTO, COMPLEXIDADE E AMBIENTE DE COMPETIÇÃO

PARA CRIANÇAS E JOVENS.

Renato Sampaio Sadi*

Introdução

Entre as manifestações humanas promotoras de educação, inclusão, lazer e

espetáculo, o esporte se reveste de formas e processos especiais. Congrega aspectos

multidisciplinares que iluminam atuações simples e performáticas, lúdicas e de técnica

elaborada. Na vertente educacional o esporte se apresenta em duas dimensões

interdependentes: de um lado na dimensão da chamada educação física escolar, adicionada

pelo espaço esportivo do contra-turno das escolas, de outro pela concretude do esporte de

base para a formação de atletas, dominantemente locada nos clubes, empresas, ‘sistema S’,

prefeituras, academias e associações. Em quais quer destas vertentes o esporte é,

fundamentalmente, um complemento educacional.

Neste texto a discussão central reside no mote da competição como elo entre

formação e desenvolvimento humano e, portanto, cabe situá-la, em primeiro lugar, dentro

do contexto conjuntural em que vivemos e, posteriormente, a partir dos laços de

complexidade que o tema suporta.

Como conhecimento sociológico, a competição para crianças e jovens é um reflexo

da competição na sociedade. Os atores deste tipo de competição são responsáveis pela

produção e reprodução de valores e formas esportivas, marcas inerentes à herança do

esporte como patrimônio cultural dos povos. Com tais lentes é possível situar a competição

na sociedade como um conjunto de máquinas e armamentos de guerra: quanto maior o

poder agregado, maiores são as chances de vitória.

Na esteira de acirradas competições, entranhadas no tecido familiar e de convivência

social, o jogo da formação e desenvolvimento humano ainda está por ser jogado. Sempre

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a competição em jogo

haverá um tempo para o campeão ser derrotado e o perdedor se tornar vencedor. Nesta

lógica, as pessoas sempre lutarão contra as estruturas que as acomodam. Estabelecendo

confrontos diários de subida na vida, de esperança e comprometimento, a luta individual ou

coletiva é uma marca de mudança.

Formar esportistas e atletas a partir de um escopo de desenvolvimento humano

submetido à globalização competitiva não é tarefa fácil. Embora possamos contar hoje com

variados recursos públicos e privados, as práticas formativas de qualidade tem sucumbido

diante da precarização educacional e esportiva do país. São muitas as questões que

conspiram contra as melhorias para a educação física e o esporte.

Ao acumular experiências contraditórias, marcadas por dificuldades materiais e

espirituais e, paralelamente, por engajamentos e sonhos, a formação de crianças e jovens

pode ser incrementada por uma determinada pedagogia do esporte. Trata-se de uma

totalidade dentro de outras totalidades, ou seja, de um recorte dentro de uma

complexidade. Como setor complexo, a pedagogia do esporte responde por variadas

responsabilidades, entre elas a do ambiente de competição para crianças e jovens.

Na sequência, os principais tópicos desta temática serão pontuados a partir de uma

discussão de orientação mais geral em direção às particularidades e exemplos específicos.

A globalização competitiva e seus impactos no esporte de crianças e jovens

O capitalismo e as diversas crises que o compõe é constituído por um sistema

econômico e um aparato político-ideológico, ferramentas de competição que são utilizadas

na história por empresas, Estados e mercados.

As leis coercitivas da competição de mercado forçam os capitalistas a saltos de

inovação nos processos de produção que são alcançados mediante um aumento de trabalho.

Isso torna o sistema, por necessidade, dinâmico do ponto de vista tecnológico. Competir no

mercado requer a atenção de três características fundamentais do modo de produção

capitalista: 1 – O capitalismo é orientado para o crescimento; 2 – O controle do trabalho na

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produção e no mercado é essencial para o lucro; 3 – O capitalismo é, por necessidade,

tecnológica e organizacionalmente dinâmico. (cf. Harvey, 1994)

As marcas da competição entre oligopólios, ao contrário da idéia das indústrias como

“aparelhos de produção integrada” situam-se em uma perspectiva de disputa de mercados,

ou seja, os mercados estão integrados nas novas formas de liberalismo econômico, social e

político. (cf. Chesnais, 1996)

Entre as diversas formas de competitividade, os capitais são invasores de novas

esferas ou espaços virgens, potencialmente produtivos. No setor de serviços, os esportes

para crianças e jovens ocupam parte importante das apostas educacionais e, não raro, a

compra e venda de mercadorias relacionadas (tênis, camisa, luvas, raquetes, bolas, etc.) tem

apresentado curva ascendente. Constituem também, uma tendência ascendente, a questão

do doping e as várias formas de encontrar substâncias alternativas para aumentar o

desempenho e passar pelo crivo ético das competições. Os condicionantes do

neoconservadorismo estão mesclados com os determinantes da globalização neoliberal e

apresentam-se, para o mundo do esporte com novas roupas, cada vez mais sofisticadas.

Como a educação esportiva poderia intervir nestes temas?

Vivemos em uma sociedade global e, portanto, há uma globalização competitiva

entre nações, empresas e capitais na busca por fatias alargadas de mercados consumidores.

Nesse sentido é possível pensar que a compreensão da dinâmica competitiva do capitalismo

e suas diversas nuances possibilita uma compreensão da competição educacional e/ou

escolar em suas formas de reprodução e inovação? Podemos falar em “leis coercitivas da

competição” que forçam professores e pais a secundarizar os aspectos educativos do

esporte, priorizando os aspectos de rendimento? Com relação aos “mercados integrados” o

que dizer da relação escola/clube e da formação/produção de futuros atletas? Para que

competir contra um adversário mais forte, que, como o grande capital, sempre vence o mais

fraco? Os fantasmas que rondam a cabeça das crianças e dos jovens que começam a se

apropriar destas fotografias sociais indicam que, na contramão dos discursos idealizados

sobre cooperação, as competições oficiais tendem a ser bem acirradas do ponto de vista

emocional.

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a competição em jogo

Ambiente de competição esportiva por fora do currículo escolar

Excluindo as jornadas de tempo semi-integral e integral, a permanência do alunado

na educação básica, do ponto de vista do tempo pedagógico necessário à aquisição de

saberes teóricos e práticos fundamentais, é irrisória. Dominantemente, nas escolas de

ensino fundamental, este tempo é de aproximadamente quatro horas diárias. Então, como

se sabe, a educação física, nesta lógica é um apêndice do conjunto de disciplinas escolares e,

quase sempre, desprezada e, até mesmo, descartada. No que se refere às práticas esportivas

convivemos com o sabor, a mágica, o sonho, o prazer do esporte dentro de grupos

específicos de amigos dentro da escola. Saímos para o mundo buscando formas esportivas

diferençadas, novos amigos e novas oportunidades. Este vasto ambiente fora do currículo

escolar constitui uma parte importante da formação esportiva, talvez uma engrenagem

fundamental que o sistema educacional formal não consegue enxergar.

O formato educacional para a competição esportiva que privilegia uma compreensão

dialética e ampla, também se encontra condicionado ao ambiente social, às estruturas físicas

(espaços, equipamentos e materiais) e às orientações políticas e didáticas. Para enfrentar

este conjunto limitador, qualquer que seja o ambiente de competição, é necessário que seja,

pelo menos, “oxigenado”. Entendemos por ambiente oxigenado as práticas sadias do

esporte, o jogo limpo e a limpeza do ambiente do jogo, as inovações e o suporte criativo das

lideranças.

Ambiente e organismo são conceitos amplos que estão no horizonte da teoria

vygotskiana. Quando o organismo domina o ambiente há intenso prazer, quando o ambiente

domina o organismo emerge a resistência deste para posterior acomodação. Quando há um

equilíbrio entre as necessidades do organismo e as possibilidades do ambiente, a disputa se

torna pacífica e o ser social consegue perceber-se no coletivo. Isso só ocorre após certo

desequilíbrio, por exemplo, aquele proporcionado pelo ambiente de competição esportiva

regulada. Então, como o ambiente não é externo para o ser social, antes, é parte integrante

da lógica reprodutiva, o organismo tende a adaptar-se antes de superar-se.

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a competição em jogo

Mas são os conceitos de desenvolvimento real e potencial que fundam a zona de

desenvolvimento proximal sendo provável que esta esfera de desenvolvimento possa ser

atingida por meio de intenso e contínuo esforço didático. Para a educação esportiva a zona

de desenvolvimento proximal se apresenta enigmática: nunca se sabe ao certo se estamos

dentro ou fora dela. Entretanto as atuações educacionais no esporte devem atentar para

este conceito tornando-o ativo e dinâmico no cotidiano de aulas e treinos. Isso não chega a

garantir a eficácia desejada por muitos professores e treinadores, mas se apresenta como

um desafio permanente.

Por outro lado o espaço da educação moral também é frágil diante de um ambiente

fragmentado e líquido como o que vivemos o que implica dizer que o esporte também será

fragmentado e líquido, ou seja, sem continuidade, sem desafios e sem estrutura de

totalidade não se vai a lugar nenhum. (cf. Hirama et. al, 2012)

Embora o principal ambiente de competição seja o jogo em si, a formação no esporte

compartilha os valores do fair play, do convívio social, afetivo e ético. (cf. Rosado, 2011) No

interior deste vasto ambiente que é a formação no esporte há que se reconhecer pontos de

inflexão fundamentais: aprendizagem, consolidação do apreendido, experimentalismo e

superação.

As raízes da reprodução e transformação se farão sentir na medida em que o

desenvolvimento esportivo for processado. Nesta engrenagem, boa parte dos discursos e

das práticas a favor e contra o esporte serão esquecidos, pois o movimento reprodutor e

transformador atua cada qual no seu tempo e com forças específicas que foram acumuladas.

Elementos da pedagogia do esporte a favor do desenvolvimento humano e da mudança

É possível afirmar que o jogo como categoria humana conserva o inusitado, o mágico,

o atrativo, o enfeitiçado. Entre tantas possibilidades pedagógicas, o jogo é um instrumento a

favor da educação esportiva. Como ferramenta docente suas transformações e adaptações

incrementam aulas e treinos, tornando-o ainda mais sedutor. Entretanto, o jogo não deve

ser visto como um componente capaz de esgotar o conhecimento sobre o esporte, ou seja,

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a competição em jogo

não pode substituí-lo. Por ser bastante motivante contribui, de forma decisiva para o

processo de ensino-aprendizagem dos esportes.

Entre o jogo e o esporte pinçamos o conceito de jogo esportivo para caracterizar a

forma pedagógica a favor do desenvolvimento humano e da mudança. Trata-se de uma

unidade educativa (jogo-esporte) que possibilita enquadrar o esporte a partir de categorias

de jogos (Sadi, 2010).

Os jogos e esportes, como atividades competitivas, apresentam tendências históricas

diferençadas dependendo do contexto e dos povos (primitivo, grego, romano, medieval e

moderno). Três manifestações que podem ser integradas sob a denominação jogo esportivo

indicam a perspectiva de totalidade para o esporte de caráter educacional. Estas três

manifestações são conceitos traduzidos do inglês: play (atividade lúdica); game (organização

do jogo) e Sport (competição com regras oficializadas) (cf. Guttmannm 1978 apud Marchi

Junior, 2004).

Dessa forma a categoria jogo esportivo é a única que pode enfrentar e regular a

competitividade, principalmente na fase formativa.

Muito já se produziu sobre a hipercompetitividade, entretanto pouco foi observado

no que diz respeito às ‘doses’ ou ao ‘termômetro’ de uma competição dita sadia. Após cortar

os extremos, buscando harmonizar o clima e a intensidade de uma competição entre

crianças e jovens, devem-se recuperar os tópicos importantes da pedagogia do esporte: 1 –

as objetivações dentro do jogo; 2 – o ensino/aprendizagem da competição.

Entre os vários desafios e responsabilidades que devem ser observados na promoção

e no tratamento do esporte, sintetizados pela perspectiva de esportivizar a escola e

escolarizar o esporte, é preciso criar uma ofensiva pedagógica que enfrente a questão da

exigência e da disciplina, não se contentando com migalhas. Como meio de renovar a

educação, emprestando-lhe um lado festivo, o esporte carrega o sonho e a sensibilidade

humana. Mas é preciso substituir as lamentações por estratégias de ação e

responsabilização por seus cursos. (cf. Bento, 2004). Ao se tomar a decisão de ensinar,

aprender, treinar, exercitar e render, professores e jovens são confrontados com o enigma

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a competição em jogo

da competitividade e do ceticismo e chamados a transpor obstáculos. Acelerar e tolerar são

posturas emocionais a serem exigidas dentro de uma competição esportiva e, mesmo que se

queira, não há como fugir disso.

Aplicações

No intuito de evidenciar uma práxis para o esporte de caráter educacional/escolar

apresentamos, na sequencia, um exemplo hipotético de planejamento (de ensino e de aula)

composto por ferramentas didático-metodológicas de eficácia comprovada.

O objetivo geral é consolidar as bases físicas, psicológicas e sociais da competição

esportiva em ambiente favorável às expectativas das crianças e jovens. Constituem objetivos

específicos, aqueles relativos aos saberes técnicos, táticos e emocionais. Para facilitar a

compreensão, todos os objetivos são apresentados aos participantes, declarados com uma

frase que sempre se inicia com um verbo. O conteúdo dos treinos são atividades em forma

de jogo coletivo (minijogos e grandes jogos) e tarefas práticas (exercícios individuais, em

duplas ou trios). A avaliação é sempre processual e qualitativa, composta por perguntas e

respostas, isto é, um debate aberto entre os participantes. Evitamos a sobrecarga (física e

emocional) até os doze anos de idade como um parâmetro para balizar as orientações

didáticas, questão que se aplica desde as atividades de aquecimento e alongamento

passando por aquelas relativas à intensidade, força e resistência, principalmente. Isso não

significa que os exercícios de força e resistência não devam existir nesta faixa estaria, mas

tão somente que à necessidade de tais exercícios serem enquadrados dentro dos limites

corporais do desenvolvimento das crianças. Nesta lógica contrair e relaxar passam a

constituir conceitos importantes para o professor.

Diante do calendário apertado e de interferências externas como clima, doenças e

outras instabilidades, consideramos o prazo de um bimestre para preparação de um

determinado evento esportivo. Torna-se importante estabelecer o foco competitivo, ou seja,

o que se quer com esta competição e, portanto, é necessário quantificar tempos para

aperfeiçoar os treinos. Assim, no primeiro mês, com três encontros semanais, um deles deve

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a competição em jogo

ser destinado à este foco competitivo. No segundo mês, dois encontros por semana até a

terceira semana. Na semana que antecede o evento, as atividades seriam abrandadas em

função da expectativa estressante da competição.

Para os planos de aula seria interessante construir anotações sobre as passagens do

fácil para o difícil, do simples para o complexo e a ocorrência de realizações com êxito das

crianças e jovens em situação competitiva. Como iniciativa, sugerimos aos professores,

sempre que possível, antecipar os problemas e acontecimentos propondo soluções viáveis

e/ou indicando pistas.

Considerações Finais

O esporte como complemento educacional pode ser dinamizado a partir de uma

estrutura objetiva e subjetiva que implica aspectos formativos e de desenvolvimento

humano: espaços, atividade docente, processos metodológicos, orientações práticas,

convivência, etc.

A competição na sociedade e no esporte refletem aspectos inerentes ao capitalismo

e suas diversas nuances. Antes de ser um mal em si, é uma lógica posta que obedece às

formas reprodutivas da sociedade. Isso não significa olhar com passividade o contexto da

globalização competitiva e submeter-se à ela. Tampouco implica em tentar agredi-la de

forma idealista, por meio de devaneios coletivistas.

O ambiente de competição além de sadio deve ser transparente e democrático. Isso

implica em colher sugestões que possam melhorar o jogo, tornando-o produtivo.

O jogo esportivo como uma categoria que emerge da fusão entre jogo e esporte

permite situar a competição como uma ferramenta pedagógica. Duas equipes equilibradas,

cada uma com sua oportunidade de marcar aprendem as bases do esporte e isso é um ponto

de partida do fazer docente/discente. A pedagogia do esporte como concepção, tem como

princípio fundamental, o ensino (de esporte) por meio de jogos. Não qualquer jogo, mas

aqueles que se aproximam dos esportes, os jogos esportivos. Por fim, a ideia de que o

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a competição em jogo

esporte complementa a educação de crianças e jovens é uma ideia produtiva em um mundo

destrutivo.

Referências

Bento, J. Desporto, discurso e substância. Campo das Letras, Porto, 2004.

Chesnais, F. A mundialização do capital. Xamã, São Paulo, 1996.

Harvey, D. Condição Pós moderna. Loyola, São Paulo, 1994.

Hirama, L.K; Montagner, P. C; Baía, A; Matos, J. A. Educação moral e pedagogia do esporte:

dimensões que coexistem? Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 12, PP.103-6,

Porto, 2012.

Marchi Junior, W. “Sacando” o voleibol. Unijuí, Ijuí, 2004.

Sadi, R. S. Pedagogia do esporte: descobrindo novos caminhos. Ícone, São Paulo, 2010.

Rosado, A. Pedagogia do desporto e desenvolvimento pessoal e social. In: Rosado, A &

Mesquita, I (orgs) Pedagogia do Desporto. Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de

Motricidade Humana, 2011.

*Docente do Departamento das Ciências da Educação Física e Saúde da Universidade

Federal de São João del-Rei.