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Arquitetura de Interiores: Deveres e direitos dos profissionais da área dentro da legislação dezembro/ 2015 1 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Arquitetura de Interiores: Deveres e direitos dos profissionais da área dentro da legislação Audrey Luz Nassif - [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós Graduação de Goiás Porto Alegre, 06 de março de 2015. Resumo O crescimento das cidades e a urbanização de novas regiões caminham juntos com o envelhecimento de obras já construídas e alterações de suas funções devido às mudanças culturais e econômicas da sociedade. Desta forma o tema “reforma de edificações” vem ganhando destaque cada vez maior e a procura por profissionais da área aumentando consideravelmente. Entretanto, o estudo apresentado a seguir visa uma compreensão sistemática, simples e focada nas leis para reforma de projetos de interiores no Brasil voltada para a proteção dos Arquitetos que prestam esse tipo de serviço. Até onde vai a responsabilidade do Arquiteto ou Designer, que trabalha como profissional liberal (não possui empresa) e executa reformas de interiores? Atualmente é muito comum o profissional realizar o projeto e indicar aos clientes fornecedores para a execução dos trabalhos. Entretanto, muitas vezes o cliente opta pela contratação de terceiros desconhecidos, e por tratar-se de pequenas intervenções, muitas vezes envolve pessoas não qualificadas, que acabam por colocar em risco a execução dos projetos e consequentemente, a própria obra. Teria o profissional responsabilidade sobre o trabalho destes terceiros? O objetivo da pesquisa é esclarecer de que forma podemos nós, profissionais liberais autônomos, nos precaver de situações de risco como esta sem abrir mão do cliente e apresentar um trabalho integralmente dentro da legislação vigente em nosso país. Optou-se por uma coleta de dados baseada em entrevistas com 34 profissionais autônomos da área especifica que executam trabalhos desta estirpe no Rio Grande Sul e comparação de seus métodos de trabalho com as leis vigentes no estado para certificar se a maioria esta ciente de seus compromissos legais. Conclui-se que a maioria dos entrevistados não esta ciente de todos os seus deveres. Este fato se da, principalmente, a difusão da informação que chega muitas vezes através de meios não seguros (internet) e uma série de mudanças e brechas nas leis que regem a nossa profissão. Palavras-chave: Leis. Reformas. Arquitetos. Responsabilidade. 1. Introdução Foi realizada pesquisa na cidade de Porto Alegre via-Internet com 34 profissionais autônomos de Arquitetura e Urbanismo. O período dedicado para a coleta de dados foi de 14 dias úteis, do período de dezembro de 2013 e janeiro de 2014. Os demais dados para a realização deste estudo foram coletados por pesquisa nas leis, normas e livros

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Arquitetura de Interiores: Deveres e direitos dos profissionais da área dentro da legislação

dezembro/ 2015 1

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015

Arquitetura de Interiores: Deveres e direitos dos profissionais da

área dentro da legislação

Audrey Luz Nassif - [email protected]

Iluminação e Design de Interiores

Instituto de Pós Graduação de Goiás

Porto Alegre, 06 de março de 2015.

Resumo

O crescimento das cidades e a urbanização de novas regiões caminham juntos com o

envelhecimento de obras já construídas e alterações de suas funções devido às

mudanças culturais e econômicas da sociedade. Desta forma o tema “reforma de

edificações” vem ganhando destaque cada vez maior e a procura por profissionais da

área aumentando consideravelmente. Entretanto, o estudo apresentado a seguir visa

uma compreensão sistemática, simples e focada nas leis para reforma de projetos de

interiores no Brasil voltada para a proteção dos Arquitetos que prestam esse tipo

de serviço. Até onde vai a responsabilidade do Arquiteto ou Designer, que trabalha

como profissional liberal (não possui empresa) e executa reformas de interiores?

Atualmente é muito comum o profissional realizar o projeto e indicar aos clientes

fornecedores para a execução dos trabalhos. Entretanto, muitas vezes o cliente opta

pela contratação de terceiros desconhecidos, e por tratar-se de pequenas intervenções,

muitas vezes envolve pessoas não qualificadas, que acabam por colocar em risco a

execução dos projetos e consequentemente, a própria obra. Teria o profissional

responsabilidade sobre o trabalho destes terceiros? O objetivo da pesquisa é esclarecer

de que forma podemos nós, profissionais liberais autônomos, nos precaver de situações

de risco como esta sem abrir mão do cliente e apresentar um trabalho integralmente

dentro da legislação vigente em nosso país. Optou-se por uma coleta de dados baseada

em entrevistas com 34 profissionais autônomos da área especifica que executam

trabalhos desta estirpe no Rio Grande Sul e comparação de seus métodos de trabalho

com as leis vigentes no estado para certificar se a maioria esta ciente de seus

compromissos legais. Conclui-se que a maioria dos entrevistados não esta ciente de

todos os seus deveres. Este fato se da, principalmente, a difusão da informação que

chega muitas vezes através de meios não seguros (internet) e uma série de mudanças e

brechas nas leis que regem a nossa profissão.

Palavras-chave: Leis. Reformas. Arquitetos. Responsabilidade.

1. Introdução

Foi realizada pesquisa na cidade de Porto Alegre via-Internet com 34 profissionais

autônomos de Arquitetura e Urbanismo. O período dedicado para a coleta de dados foi

de 14 dias úteis, do período de dezembro de 2013 e janeiro de 2014. Os demais dados

para a realização deste estudo foram coletados por pesquisa nas leis, normas e livros

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descriminados na bibliografia ao final do artigo. Entre os entrevistados, 95% dizem

realizar projetos de arquitetura de interiores no Rio Grande do Sul, mostrando que o

campo de trabalho é amplo e praticado pela absoluta maioria e 42% alegam não possuir

uma equipe de fornecedores fechada para execução destes serviços.

Tabela 1

Tabela 2

O Edifício Liberdade, da cidade do Rio de Janeiro do Brasil, ficou famoso em todo país

após desabar em 25 de janeiro de 2012, levando consigo seus vizinhos: um sobrado e 4

dos 10 andares da outra edificação vizinha. Assunto de suma importância, mas até então

passado despercebido, as reformas de interiores ganharam, então, atenção dos órgãos

responsáveis e também da grande mídia, e a norma NBR 16280 entra em vigor em 18

de abril de 2014. A nova norma, dita novas regras e exigências a serem cumpridas pelas

reformas em edificações residências, exigem um responsável técnico que emita uma

RRT (Registro de Responsabilidade Técnica emitido por profissional vinculado ao

CAU : Conselho de Arquitetura e Urbanismo ) ou ART ( Anotação de Responsabilidade

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Técnica emitido por profissional vinculado ao CREA : Conselho Regional de

Engenharia e Agronomia ).

É de incumbência do responsável legal pela edificação disponibilizar os requisitos e

ações necessárias para a realização da reforma além das previstas nas convenções

condominiais. O arquiteto deve requerer a necessária atualização do manual de operação

da edificação e esta deve conter as reformas já realizadas na edificação. Juntamente com

a RRT o profissional deve também encaminhar um “laudo de obra”, Trata-se de um

documento de análise da reforma onde deve constar um escopo de obra, mostrando as

alterações desejadas, projetos, desenhos de intenções, memorial descritivo, cronograma

da mesma, ruídos que acarretara, localização e implicações no entorno da obra ( por

exemplo containers), nomes das empresas e funcionários que estarão envolvidos. Cabe

ao síndico recorrer, se for preciso, a um técnico especializado no assunto para aprovar

ou não o início da reforma e responde civil e criminalmente por isso. É importante que o

arquiteto além de dar baixa na RRT perante o Conselho de Arquitetura e Urbanismo,

entregue o termo de encerramento das obras, juntamente com manual de uso do edifício

atualizado nos termos da ABNT NBR 14037. O síndico deve armazenar toda a

documentação das obras de reforma.

O assunto gera polemica entre os envolvidos, pois mesmo que a norma não seja lei

(normas técnicas só se tornam obrigatórias se regulamentadas por algum órgão

governamental, municipal, estadual ou federal, o que neste caso ainda não aconteceu)

em caso de acidente, o sindico e o proprietário serão responsabilizados, uma vez que a

jurisprudência mostra que o caminho correto a ser seguido é a obediência às normas da

ABNT.

Entre elas, destacamos:

– Instalação ou reforma de equipamentos industrializados;

– Reforma do sistema hidrossanitário;

– Reforma ou instalação de equipamentos de prevenção e combate a incêndio;

– Instalações elétricas;

– Instalações de gás;

– Reforma ou instalação de aparelhos de dados e comunicação;

– Reforma ou instalação de aparelhos de automação;

– Reforma ou instalação de ar-condicionado exaustão e ventilação;

– Instalação de qualquer componente à edificação, não previsto no projeto original ou

em desacordo com o manual de uso, operação e manutenção do edifício ou memorial

descritivo;

– Troca de revestimentos com uso de marteletes ou ferramentas de alto impacto, para

retirada do revestimento anterior;

– Qualquer reforma para substituição ou que interfira na integridade ou na proteção

mecânica;

– Qualquer reforma de vedação que interfira na integridade ou altere a disposição

original;

– Qualquer reforma, para alteração do sistema ou adequação para instalação de

esquadrias ou fachada-cortina e seu componentes;

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– Qualquer intervenção em elementos da estrutura, como furos e aberturas, alteração de

seção de elementos estruturais e remoção ou acréscimo de paredes.

Para especialistas da área, a medida trará benefícios tanto para a segurança das reformas

em geral quanto para os profissionais. De acordo com Ricardo Meira (2014),

conselheiro do CAU/DT, “A medida é louvável, buscando profissionalizar os serviços

de reforma, garantindo níveis mínimos de qualidade e segurança, podendo, converter-se

num excelente nicho de mercado para os profissionais de arquitetura e engenharia”.

Entretanto, na prática da profissão, o arquiteto autônomo que precisa lidar com essas

questões diariamente, se vê em meio a um impasse pouquíssimo discutido e de suma

importância para sua vida profissional. Alguns clientes, muitas vezes, não abrem mão

de seu pedreiro de confiança, o famoso “faz tudo” ou então buscam uma mão-de-obra

com valor mais acessível, desprezando as indicações do profissional. A pesquisa,

realizada na cidade de Porto Alegre, entrevistou via-internet 34 escritórios de

arquitetura e profissionais liberais especialistas em Reformas de Interiores atuantes no

mercado de trabalho, mostra que 76% deles executam reformas de interiores, mas 77%

dizem não restringir em contrato o profissional quem irá executar estes serviços,

tornando-se responsável pelo trabalho de terceiros muitas vezes desconhecido e sem

qualificação.

2. Direitos e Deveres

O estudo do passado e do presente é que determina a direção que leva ao futuro. Na

década de 80, a Nostradamus do marketing Faith Popcorn publicou um estudo sobre 16

tendências que viveríamos atualmente. De fato ela antecipou as mudanças que

necessitavam ser feitas de forma a se adaptar no novo cotidiano. Segundo ela haveria o

“encasulamento” da população dentro de seus lares. As pessoas transformariam os lares

em verdadeiros ninhos, o impulso de sair de casa seria evitado, pois o lado de fora será

cada vez mais ameaçador. Logo elas trariam as atividades para dentro de seus lares,

trabalhando, fazendo compras pela internet, utilizando TV a cabo e cozinhando para

amigos.

Percebe-se que a profecia concretizou-se e a procura por um profissional que resolva

questões de ergonomia e qualidade de vida interna das residências aumentou. Além

disso, o aumento da população e o fato das construtoras investirem cada vez mais em

edifícios com maior numero de unidades e menor área construída fez com que a procura

por um profissional do espaço interno crescesse consideravelmente.

Entretanto é de suma importância salientar as diferenças dos tipos de profissionais

disponíveis no mercado, uma vez que enfrentamos uma desordem no exercício das

profissões, que acabam por vezes sendo executadas ilegalmente, além de ofertas de

projetos vendidos a preços impraticáveis por sites e lojas de decoração.

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DECORADOR: Tem atribuições muito estritas. Formado em um curso de curta duração

ou autodidata. Sua função restringe-se à escolha de acessórios, móveis e cores. Não é

apto para interferir fisicamente em nenhuma esfera da obra, incluindo detalhamento de

móveis.

DESIGNER DE INTERIORES: Formado em escolas de nível técnico, tecnólogo e

superior, com carga horária em média de 800 horas, equivalente a um a dois anos de

extensão. Não possui profissão regulamentada, mas tem sua atividade listrada na CBO

(Classificação Brasileira de Ocupações) e MEC (Ministério da Educação). Tem função

de elaborar o espaço coerentemente seguindo normas técnicas de ergonomia, acústica,

térmico e luminotécnica. Apto também a reconstrução do espaço através da releitura do

layout, da ampliação ou redução de espaços, os efeitos cênicos e aplicações de

tendências e novidades técnicas, do desenvolvimento de peças exclusivas. Porém seu

trabalho restringe-se apenas a ambientes internos, auxiliando o arquiteto a resolver de

melhor forma as necessidades do cliente. Não possui registro em órgão competente, não

pode emitir ART ou RRT.

ARQUITETO: Formado em escolas de nível superior com duração de 5 anos

regulamentada pela Lei Federal n° 12.378 de 31 de dezembro de 1010 ( anteriormente

antes da separação com o CREA pela Lei Federal 5.194/1966 ). Permite que atue em

várias áreas como: estudo e planejamento de projetos, execução de desenho técnico,

elaboração de orçamento, padronização, mensuração e controle de qualidade, execução

de obra e serviços técnicos. Os arquitetos e Urbanistas tem profissão regulamentada por

um conselho de classe, o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo). Sendo assim,

seus trabalhos são acompanhados pelo chamado Registro de Responsabilidade Técnica

(RRT), onde constam os dados do projeto e/ou obra e as devidas atribuições do

contratado. Sua formação então abrange conhecimentos em projetos em geral como os

projetos de paisagismo e urbanismo, à avaliação do terreno para a implantação do

projeto, passando por detalhamento de interiores, até o gerenciamento da obra. O

arquiteto trata da concepção da obra, residencial ou comercial, total ou parcial, das

reformas e restaurações, internas e externas, incluindo aberturas, fechamentos, colunas,

vigas, escadas e tudo que tenha haver com a relação entre os espaços, sua destinação e

usos. Após a intervenção do arquiteto, vem o design de interiores e, por fim, a

decoração.

A definição das atribuições privativas dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo era

um dever do CAU/BR estabelecido pela Lei 12.378/2010. Desta forma em 17 de julho

de 2013 entrou em vigor a resolução nº 51, com o objetivo de evitar “ausência de

formação superior exponha o usuário do serviço a qualquer risco ou danos materiais à

segurança, à saúde ou ao meio ambiente”. A resolução definiu como atribuição dos

Arquitetos:

Intervenção em ambientes internos ou externos de edificação, definindo a forma de

uso do espaço em função de acabamentos, mobiliário e equipamentos, além das

interfaces com o espaço construído – mantendo ou não a concepção arquitetônica

original –, para adequação às novas necessidades de utilização. Esta intervenção se

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dá no âmbito espacial; estrutural; das instalações; do condicionamento térmico,

acústico e lumínico; da comunicação visual; dos materiais, texturas e cores; e do

mobiliário. Projetos de arquitetura da iluminação do edifício e do espaço urbano;

de acessibilidade e ergonomia da edificação; e de acessibilidade e ergonomia do

espaço urbano. Projetos de conforto térmico e acústico podem ser realizados por

outros profissionais”Projetos luminotécnicos ou de engenharia de iluminação, que

envolvem questões objetivas (quantidade de luz necessária, consumo de energia,

etc) podem ser realizados por engenheiros. Projetos de Arquitetura da Iluminação

são considerados aqueles que envolvem questões subjetivas, ligadas à percepção do

usuário, como conforto visual, atmosfera relacionada à promoção do uso do espaço

ou impressão espacial do ambiente construído – esses só podem ser feitos por

arquitetos. Projetos complementares estruturais, de instalações elétricas, de

instalações hidrossanitárias, de luminotecnia, terraplanagem e pavimentação, por

exemplo, podem ser realizados pelos especialistas de cada área. Porém a

coordenação e compatibilização de projeto arquitetônico com projetos

complementares só pode ser feita por arquitetos e urbanistas registrados no

CAU.(www.cau.gov.br).

O cliente que contrata um Decorador ou Designer de Interiores, que irá trabalhar em

qualquer tipo de reforma onde haja alteração da composição inicial de paredes, fiações,

tubulações, estruturas e qualquer outra intervenção descrita na resolução, deve trabalhar

sob supervisão de um Arquiteto ou Engenheiro, pois não o mesmo não apresenta

formação profissional qualificada para exercer tais funções sozinho. Portanto o

Designer de Interiores ou Decorador que praticam atividades de interiores reservadas ao

profissionais do CAU, sem a devida formação e o registro adequado, exercem

ilegalmente a profissão e juntamente com seus contratados podem responder

judicialmente.

A Lei 12.378/2010 determinou também, no art. 45, que toda realização de trabalho de

competência privativa ou não será objeto de Registro de Responsabilidade Técnica –

RRT. Em 8 de julho de 2014, o CAU/BR publicou a Portaria CAU/BR Nº 25,

que “Regulamenta o preenchimento e os procedimentos de exclusão de formulários

preenchidos de Registros de Responsabilidade Técnica (RRT) no SICCAU – Ambiente

Profissional, contendo esclarecimentos sobre o cancelamento de RRT e sobre o

pagamento de boletos emitidos, e dá outras providências”. Os Arquitetos e Urbanistas

têm obrigação de conhecer e cumprir a Lei.

A pesquisa mostra que 30% dos arquitetos entrevistados nao emitem RRT de projeto

arquitetônico e quase 50% ( 45,5%) não emitem RRT de execução da obra de reforma

de interiores. Deixar de efetuar a RRT, quando obrigatório, é infração disciplinar, como

alerta o Inciso XII do Artigo 18 da Lei 12.378/2010: “Constituem infrações

disciplinares, além de outras definidas pelo Código de Ética e Disciplina: …XII – não

efetuar Registro de Responsabilidade Técnica quando for obrigatório.”. As RRTS só

tem validade após o pagamento da taxa e não podem ser dirigidas a terceiros. A

responsabilidade do pagamento da taxa também é de responsabilidade do profissional, e

deve ter cláusula específica em contrato caso seja a vir paga pelo cliente, caso contrário

pode gerar multa de até 300%. Há hipóteses de obras de maior escala que necessitam

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de RRT(CAU) e ART(CREA), mas não entraremos nesta peculiaridade por tratar-se de

um estudo voltado para Reformas de Interiores.

Tabela 3

Tabela 4

Segundo os entrevistados, 97% realizam visitas de acompanhamento nos projetos,

estando executando-os ou não. Todo projeto arquitetonico deve estar amparado por uma

RRT de projeto e de execução. Caso o arquiteto não seja responsável pela execução da

obra, ele deve fornecer explicitamente esta informação em contrato com o cliente.

Acompanhamento de obra configura-se execução de obra. O ideal é citar no contrato

que as visitas são esporádicas apenas para ver o andamento da obra, e que é de

responsabilidade do cliente contratar fornecedores que emitam a RRT de execução.

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Tabela 5

Uma vez que o Arquiteto não tenha funcionários fixos para a execução de mão-de-obra

é de suma importancia que ele dispunha de uma equipe de profissionais qualificados

para indicar aos seus clientes. Mais da metade dos entrevistados, 52%, não souberam

informar se a mão-de-obra indicada obtem algum titulo de qualificação e 77% não

especificam em contrato restrições sobre quem irá executar os serviços, ou seja, o

cliente contrata quem ele quiser e se o profissional estiver executando a obra será o

responsável. Salientamos entre os principais fornecedores, eletricistas e hidráulicos,

grau este que corresponde a uma parcela extremamente significativa para a segurança da

obra. Em seu livro “Como negociar e vender serviços de arquitetura e engenharia”

Enio Padilha sugere as seguintes cláusulas em contrato,

A CONTRATADA definirá uma equipe de (especialidade profissional)

para a execução dos serviços constantes no presente contrato.

A CONTRATADA designará, para acompanhar a correta execução

dos serviços, bem como para assumir a responsabilidade junto ao

CREA-XX, o engenheiro XYZ, CREA-XX 99.999-9.” (ENIO

PADILHA, 2014)

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Tabela 6

Tabela 7

Tabela 8

O profissional deve estar extremamente atento para o serviço que será realizado no

projeto. Segundo a ABNT, não ha necessidade de RRT quando houver somente pintura

das paredes e colocação de piso novo. Entretanto é preciso quando o piso anterior for

retirado, pois o maquinário (marretas e materiais de alto impacto) utilizado pode

comprometer a estrutura da laje. O arquiteto deve orientar e esclarecer o cliente desta e

todas as demais questões que forem pertinentes a sua obra, pois muitas vezes o mesmo

não tem conhecimento dos riscos que corre ao contratar mão-de-obra desqualificada. É

uma maneira também de valorizar a profissão e fazer o cliente entender que o dinheiro

gasto com o Arquiteto não é supérfluo e tão pouco uma burocracia agora obrigatória.

Outro exemplo são os projetos complementares, que só podem ser executados,

administrados e compatibilizados por Arquitetos. Isso significa que o responsável pelo

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projeto de climatização, o light designer, o responsável pelo projeto de som, de gás e

qualquer outro terceiro envolvido deve encaminhar seus projetos para o Arquiteto

responsável, para que ele possa correlaciona-los e autorizar suas respectivas execuções.

Mesmo uma pequena reforma de interiores residencial envolve uma série de fatores de

risco que não podem ser subjulgadas.

Em relação a projetos de iluminação, vimos anteriormente que segundo s resolução

n°51 emitida pelo CAU, os que envolvem questões objetivas (quantidade de luz

necessária, consumo de energia, etc) podem ser realizados por engenheiros. Projetos de

Arquitetura da Iluminação são considerados aqueles que envolvem questões subjetivas,

ligadas à percepção do usuário, como conforto visual, atmosfera relacionada à

promoção do uso do espaço ou impressão espacial do ambiente construído – esses só

podem ser feitos por arquitetos.

Para realização de projetos luminotecnicos é recomendável a norma NBR 5413

Iluminância de Interiores, onde constam os indices de Iluminancias necessárias para

cada ambiente, NBR 5410- Instalação Elétrica em baixa tensão e NBR 5382 -

Verificação da iluminância de interiores Método de ensaio.

A NBR 5410 adverte os valores indicados para efeito de dimensionamento dos

circuitos, não havendo vínculo com a potencia nominal de lâmpadas. Estabelece

critérios como a instalação de pelo menos um ponto de luz fixo no teto em cada comodo

do ambiente, comandado por interruptor, e uma carga mínima de 100VA para os

primeiros 6m², acresicda de 60VA para cada aumento de 4m² inteiros. Uma tomada

deve ser colocada no mínimo em cada ambiente, sendo cozinha a cada 3,5m e salas e

dormitórios a cada 5m.

A NBR 5413, estabelece os valores de iluminâncias médias mínimas em serviço para

iluminação artificial em interiores, onde se realizem atividades de comércio, indústria,

ensino, esporte e outras. Esta norma é de extrema importancia para os profissionais que

executam projetos luminotecnicos, principalmente em ambientes comerciais e

coorporativos, pois caso seja comprovado que o ambiente não atingiu a quantidade de

iluminancia adequada para a função específica a que se destina, o profissinal pode ser

responsabillizado. A iluminancia deve ser maior para áreas de trabalho e maior

permanencia. Ja as definições para diferenças de temperatura de cor, por exemplo, cabe

exclusivamente ao profissional e seu conceito projetual.

Em princípio, toda e qualquer instalação elétrica necessita de um projeto elétrico para

ser executada. As instalações elétricas, para serem executadas, devem ter a participação

de um responsável técnico com formação na área elétrica que pode ser Engenheiros e

Técnicos. Os limites de atuação desses profissionais é função da legislação que lhes

outorgou as respectivas atribuições (Decreto Federal nº 23.569/33, Resolução nº 218/73

do CONFEA e Decreto nº 90.922/85). Um tecnico eletrotecnico, por exemplo, segundo

atribuições profissionais do Art. 4° do Decreto n° 90.922/85, limita-se às instalações de

baixa tensão, o que corresponde a 800KVA e não têm competência legal para emitir

laudos técnicos de qualquer natureza (Decreto Federal n° 90.922/85). Os profissionais

que podem exercer projetos elétricos e de rede sem limitação são os engenheiros

eletricistas, conforme atribuições do artigo 8° da Resolução n° 218/73, do Confea ou do

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Art. 33 do Decreto Federal n° 23.569/33, os tecnólogos não têm habilitação técnica para

projetar sistemas elétricos de nenhuma natureza e em nenhum nível de potência.

Os demais cursos livres de eletricista residencial, predial ou industrial permitem ao

profissional atuar na instalação e/ou manutenção de redes de eletricidade. Aprendem

nos cursos livres ou na prática a lerem plantas. Entretanto como visto anteriormente

toda instalação elétrica deve passar primeiro por um conceituado projeto elaborado por

profissional devidamente qualificado e habilitado pela legislação brasileira para mapear,

calcular, dimensionar e especificar os componentes certos, dentro das Normas Técnicas

em vigor, orientado sempre à segurança e confiabilidade. Percebe-se, segundo a

pesquisa realizada, que 65% dos arquitetos entrevistados não incluem nos seus projetos

as informações técnicas necessárias para a execução destes projetos. Este gráfico é

extremamente preocupante, vinculado às questões que apontam que 80% não restringe

em contrato quem irá executar os serviços e 50% não sabem informar qual a

qualificação de seus fornecedores.

Tabela 9

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Tabela 9 – NBR 5413

3. Conclusão

Após o término desta pesquisa constatou-se que o profissional Arquiteto possui

ferramentas suficientes para se proteger de situações que coloquem em risco sua

integridade profissional, desde que estas sejam tomadas na primeira fase do trabalho, ou

seja, no contrato de prestação de serviços assinado por profissional e cliente. Ao

detalharmos o tipo de serviço em uma RRT estamos também nos protegendo e é de

suma importância que o profissional faça emissão deste registro independente da

dimensão da obra que esta sendo executada, pois sem ele ficará vulnerável e poderá ser

responsabilizado em futuras inconveniências. Uma vez que o profissional esta também

executando a reforma, ele deve estar ciente que todos os fornecedores que ali trabalham

são de sua responsabilidade. Caso o cliente opte pela contratação de outro fornecedor e

o arquiteto não querer se responsabilizar pelo trabalho deste, deverá ter essa cláusula

registrada em contrato, de forma clara que não reste dúvidas para nenhuma das partes.

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Conclui-se também que a maioria dos profissionais que atuam no mercado não tem

conhecimento geral de todas atribuições e deveres que lhe são pertinentes, e acabam por

trabalhar com uma carga desconhecida de responsabilidade. Seria de extrema

importância um futuro estudo sobre esta questão: até onde os Arquitetos de Interiores

estão cientes de suas obrigações legais perante clientes e trabalhadores terceirizados?

Atualmente vivemos em um mundo onde grande parte da população perdeu seus valores

éticos e morais. No Brasil infelizmente este fato se sobressai e a chamada malandragem

aparece cada vez mais em todas as áreas. Aqui ela foi identificada não somente no

“profissional” que não tem qualificação e presta serviço, mas também no cliente que

quer pagar menos e decretar para outro a respectiva responsabilidade. Existe também

uma significativa queixa dos profissionais em relação à desvalorização dos projetos

arquitetônicos. Hoje em dia estes acabam sendo facilmente encontrados “gratuitamente”

ou a preços impraticáveis em sites de decoração que leiloam projetos de interiores a

preços absurdos e lojas de móveis modulados onde o cliente “compra a marcenaria e

ganha o projeto”. Mas como mudar essa realidade? Teria a nossa profissão atingido seu

auge e daqui para a frente entraria em decadente processo de declínio onde só nos

restaria a transformação em um prestador de serviço para obtenção de êxito

profissional?

Cabe aos arquitetos se munirem de ferramentas que impeçam que a Arquitetura de

Interiores seja desvalorizada e mal praticada. Somente quando os profissionais da área

estiverem plenamente cientes da importância do seu papel na sociedade, conhecendo as

leis e exercendo seus trabalhos dentro dela, terão e poderão expor com confiança para o

restante do mundo seus atributos, e desta forma adquirirem respeito e valorização, para

continuarem a transformar o mundo em um lugar cada vez mais belo e seguro para se

viver.

4. Referências

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16280:

Reformas em edificações – Sistema de gestão de reformas – requisitos. Rio de Janeiro,

2014.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724:

formatação de trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2002.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413:

Iluminancia de Interiores.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410:

Instalação Elétrica em baixa tensão.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5382:

Verificação da iluminância de interiores Método de ensaio.

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RESOLUÇÃO Nº 17: Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) na prestação de serviços de arquitetura e urbanismo. 2012. RESOLUÇÃO N°21: Atividades e atribuições profissionais do arquiteto e urbanista. 2012. RESOLUÇÃO N°51. Atribuições do Arquiteto e Urbanista. Lei Federal n° 12.378.

2010.

DECRETO FEDERAL n° 90.922/85.

DECRETO FEDERAL n° 23.569/33.

PADILHA, Enio. Como gerenciar e vender serviços de arquitetura e engenharia.

São Paulo. 893 editora. 2007.