Arquitetura de Interiores: Deveres e direitos dos profissionais da área dentro da legislação
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Arquitetura de Interiores: Deveres e direitos dos profissionais da
área dentro da legislação
Audrey Luz Nassif - [email protected]
Iluminação e Design de Interiores
Instituto de Pós Graduação de Goiás
Porto Alegre, 06 de março de 2015.
Resumo
O crescimento das cidades e a urbanização de novas regiões caminham juntos com o
envelhecimento de obras já construídas e alterações de suas funções devido às
mudanças culturais e econômicas da sociedade. Desta forma o tema “reforma de
edificações” vem ganhando destaque cada vez maior e a procura por profissionais da
área aumentando consideravelmente. Entretanto, o estudo apresentado a seguir visa
uma compreensão sistemática, simples e focada nas leis para reforma de projetos de
interiores no Brasil voltada para a proteção dos Arquitetos que prestam esse tipo
de serviço. Até onde vai a responsabilidade do Arquiteto ou Designer, que trabalha
como profissional liberal (não possui empresa) e executa reformas de interiores?
Atualmente é muito comum o profissional realizar o projeto e indicar aos clientes
fornecedores para a execução dos trabalhos. Entretanto, muitas vezes o cliente opta
pela contratação de terceiros desconhecidos, e por tratar-se de pequenas intervenções,
muitas vezes envolve pessoas não qualificadas, que acabam por colocar em risco a
execução dos projetos e consequentemente, a própria obra. Teria o profissional
responsabilidade sobre o trabalho destes terceiros? O objetivo da pesquisa é esclarecer
de que forma podemos nós, profissionais liberais autônomos, nos precaver de situações
de risco como esta sem abrir mão do cliente e apresentar um trabalho integralmente
dentro da legislação vigente em nosso país. Optou-se por uma coleta de dados baseada
em entrevistas com 34 profissionais autônomos da área especifica que executam
trabalhos desta estirpe no Rio Grande Sul e comparação de seus métodos de trabalho
com as leis vigentes no estado para certificar se a maioria esta ciente de seus
compromissos legais. Conclui-se que a maioria dos entrevistados não esta ciente de
todos os seus deveres. Este fato se da, principalmente, a difusão da informação que
chega muitas vezes através de meios não seguros (internet) e uma série de mudanças e
brechas nas leis que regem a nossa profissão.
Palavras-chave: Leis. Reformas. Arquitetos. Responsabilidade.
1. Introdução
Foi realizada pesquisa na cidade de Porto Alegre via-Internet com 34 profissionais
autônomos de Arquitetura e Urbanismo. O período dedicado para a coleta de dados foi
de 14 dias úteis, do período de dezembro de 2013 e janeiro de 2014. Os demais dados
para a realização deste estudo foram coletados por pesquisa nas leis, normas e livros
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descriminados na bibliografia ao final do artigo. Entre os entrevistados, 95% dizem
realizar projetos de arquitetura de interiores no Rio Grande do Sul, mostrando que o
campo de trabalho é amplo e praticado pela absoluta maioria e 42% alegam não possuir
uma equipe de fornecedores fechada para execução destes serviços.
Tabela 1
Tabela 2
O Edifício Liberdade, da cidade do Rio de Janeiro do Brasil, ficou famoso em todo país
após desabar em 25 de janeiro de 2012, levando consigo seus vizinhos: um sobrado e 4
dos 10 andares da outra edificação vizinha. Assunto de suma importância, mas até então
passado despercebido, as reformas de interiores ganharam, então, atenção dos órgãos
responsáveis e também da grande mídia, e a norma NBR 16280 entra em vigor em 18
de abril de 2014. A nova norma, dita novas regras e exigências a serem cumpridas pelas
reformas em edificações residências, exigem um responsável técnico que emita uma
RRT (Registro de Responsabilidade Técnica emitido por profissional vinculado ao
CAU : Conselho de Arquitetura e Urbanismo ) ou ART ( Anotação de Responsabilidade
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Técnica emitido por profissional vinculado ao CREA : Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia ).
É de incumbência do responsável legal pela edificação disponibilizar os requisitos e
ações necessárias para a realização da reforma além das previstas nas convenções
condominiais. O arquiteto deve requerer a necessária atualização do manual de operação
da edificação e esta deve conter as reformas já realizadas na edificação. Juntamente com
a RRT o profissional deve também encaminhar um “laudo de obra”, Trata-se de um
documento de análise da reforma onde deve constar um escopo de obra, mostrando as
alterações desejadas, projetos, desenhos de intenções, memorial descritivo, cronograma
da mesma, ruídos que acarretara, localização e implicações no entorno da obra ( por
exemplo containers), nomes das empresas e funcionários que estarão envolvidos. Cabe
ao síndico recorrer, se for preciso, a um técnico especializado no assunto para aprovar
ou não o início da reforma e responde civil e criminalmente por isso. É importante que o
arquiteto além de dar baixa na RRT perante o Conselho de Arquitetura e Urbanismo,
entregue o termo de encerramento das obras, juntamente com manual de uso do edifício
atualizado nos termos da ABNT NBR 14037. O síndico deve armazenar toda a
documentação das obras de reforma.
O assunto gera polemica entre os envolvidos, pois mesmo que a norma não seja lei
(normas técnicas só se tornam obrigatórias se regulamentadas por algum órgão
governamental, municipal, estadual ou federal, o que neste caso ainda não aconteceu)
em caso de acidente, o sindico e o proprietário serão responsabilizados, uma vez que a
jurisprudência mostra que o caminho correto a ser seguido é a obediência às normas da
ABNT.
Entre elas, destacamos:
– Instalação ou reforma de equipamentos industrializados;
– Reforma do sistema hidrossanitário;
– Reforma ou instalação de equipamentos de prevenção e combate a incêndio;
– Instalações elétricas;
– Instalações de gás;
– Reforma ou instalação de aparelhos de dados e comunicação;
– Reforma ou instalação de aparelhos de automação;
– Reforma ou instalação de ar-condicionado exaustão e ventilação;
– Instalação de qualquer componente à edificação, não previsto no projeto original ou
em desacordo com o manual de uso, operação e manutenção do edifício ou memorial
descritivo;
– Troca de revestimentos com uso de marteletes ou ferramentas de alto impacto, para
retirada do revestimento anterior;
– Qualquer reforma para substituição ou que interfira na integridade ou na proteção
mecânica;
– Qualquer reforma de vedação que interfira na integridade ou altere a disposição
original;
– Qualquer reforma, para alteração do sistema ou adequação para instalação de
esquadrias ou fachada-cortina e seu componentes;
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– Qualquer intervenção em elementos da estrutura, como furos e aberturas, alteração de
seção de elementos estruturais e remoção ou acréscimo de paredes.
Para especialistas da área, a medida trará benefícios tanto para a segurança das reformas
em geral quanto para os profissionais. De acordo com Ricardo Meira (2014),
conselheiro do CAU/DT, “A medida é louvável, buscando profissionalizar os serviços
de reforma, garantindo níveis mínimos de qualidade e segurança, podendo, converter-se
num excelente nicho de mercado para os profissionais de arquitetura e engenharia”.
Entretanto, na prática da profissão, o arquiteto autônomo que precisa lidar com essas
questões diariamente, se vê em meio a um impasse pouquíssimo discutido e de suma
importância para sua vida profissional. Alguns clientes, muitas vezes, não abrem mão
de seu pedreiro de confiança, o famoso “faz tudo” ou então buscam uma mão-de-obra
com valor mais acessível, desprezando as indicações do profissional. A pesquisa,
realizada na cidade de Porto Alegre, entrevistou via-internet 34 escritórios de
arquitetura e profissionais liberais especialistas em Reformas de Interiores atuantes no
mercado de trabalho, mostra que 76% deles executam reformas de interiores, mas 77%
dizem não restringir em contrato o profissional quem irá executar estes serviços,
tornando-se responsável pelo trabalho de terceiros muitas vezes desconhecido e sem
qualificação.
2. Direitos e Deveres
O estudo do passado e do presente é que determina a direção que leva ao futuro. Na
década de 80, a Nostradamus do marketing Faith Popcorn publicou um estudo sobre 16
tendências que viveríamos atualmente. De fato ela antecipou as mudanças que
necessitavam ser feitas de forma a se adaptar no novo cotidiano. Segundo ela haveria o
“encasulamento” da população dentro de seus lares. As pessoas transformariam os lares
em verdadeiros ninhos, o impulso de sair de casa seria evitado, pois o lado de fora será
cada vez mais ameaçador. Logo elas trariam as atividades para dentro de seus lares,
trabalhando, fazendo compras pela internet, utilizando TV a cabo e cozinhando para
amigos.
Percebe-se que a profecia concretizou-se e a procura por um profissional que resolva
questões de ergonomia e qualidade de vida interna das residências aumentou. Além
disso, o aumento da população e o fato das construtoras investirem cada vez mais em
edifícios com maior numero de unidades e menor área construída fez com que a procura
por um profissional do espaço interno crescesse consideravelmente.
Entretanto é de suma importância salientar as diferenças dos tipos de profissionais
disponíveis no mercado, uma vez que enfrentamos uma desordem no exercício das
profissões, que acabam por vezes sendo executadas ilegalmente, além de ofertas de
projetos vendidos a preços impraticáveis por sites e lojas de decoração.
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DECORADOR: Tem atribuições muito estritas. Formado em um curso de curta duração
ou autodidata. Sua função restringe-se à escolha de acessórios, móveis e cores. Não é
apto para interferir fisicamente em nenhuma esfera da obra, incluindo detalhamento de
móveis.
DESIGNER DE INTERIORES: Formado em escolas de nível técnico, tecnólogo e
superior, com carga horária em média de 800 horas, equivalente a um a dois anos de
extensão. Não possui profissão regulamentada, mas tem sua atividade listrada na CBO
(Classificação Brasileira de Ocupações) e MEC (Ministério da Educação). Tem função
de elaborar o espaço coerentemente seguindo normas técnicas de ergonomia, acústica,
térmico e luminotécnica. Apto também a reconstrução do espaço através da releitura do
layout, da ampliação ou redução de espaços, os efeitos cênicos e aplicações de
tendências e novidades técnicas, do desenvolvimento de peças exclusivas. Porém seu
trabalho restringe-se apenas a ambientes internos, auxiliando o arquiteto a resolver de
melhor forma as necessidades do cliente. Não possui registro em órgão competente, não
pode emitir ART ou RRT.
ARQUITETO: Formado em escolas de nível superior com duração de 5 anos
regulamentada pela Lei Federal n° 12.378 de 31 de dezembro de 1010 ( anteriormente
antes da separação com o CREA pela Lei Federal 5.194/1966 ). Permite que atue em
várias áreas como: estudo e planejamento de projetos, execução de desenho técnico,
elaboração de orçamento, padronização, mensuração e controle de qualidade, execução
de obra e serviços técnicos. Os arquitetos e Urbanistas tem profissão regulamentada por
um conselho de classe, o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo). Sendo assim,
seus trabalhos são acompanhados pelo chamado Registro de Responsabilidade Técnica
(RRT), onde constam os dados do projeto e/ou obra e as devidas atribuições do
contratado. Sua formação então abrange conhecimentos em projetos em geral como os
projetos de paisagismo e urbanismo, à avaliação do terreno para a implantação do
projeto, passando por detalhamento de interiores, até o gerenciamento da obra. O
arquiteto trata da concepção da obra, residencial ou comercial, total ou parcial, das
reformas e restaurações, internas e externas, incluindo aberturas, fechamentos, colunas,
vigas, escadas e tudo que tenha haver com a relação entre os espaços, sua destinação e
usos. Após a intervenção do arquiteto, vem o design de interiores e, por fim, a
decoração.
A definição das atribuições privativas dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo era
um dever do CAU/BR estabelecido pela Lei 12.378/2010. Desta forma em 17 de julho
de 2013 entrou em vigor a resolução nº 51, com o objetivo de evitar “ausência de
formação superior exponha o usuário do serviço a qualquer risco ou danos materiais à
segurança, à saúde ou ao meio ambiente”. A resolução definiu como atribuição dos
Arquitetos:
Intervenção em ambientes internos ou externos de edificação, definindo a forma de
uso do espaço em função de acabamentos, mobiliário e equipamentos, além das
interfaces com o espaço construído – mantendo ou não a concepção arquitetônica
original –, para adequação às novas necessidades de utilização. Esta intervenção se
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dá no âmbito espacial; estrutural; das instalações; do condicionamento térmico,
acústico e lumínico; da comunicação visual; dos materiais, texturas e cores; e do
mobiliário. Projetos de arquitetura da iluminação do edifício e do espaço urbano;
de acessibilidade e ergonomia da edificação; e de acessibilidade e ergonomia do
espaço urbano. Projetos de conforto térmico e acústico podem ser realizados por
outros profissionais”Projetos luminotécnicos ou de engenharia de iluminação, que
envolvem questões objetivas (quantidade de luz necessária, consumo de energia,
etc) podem ser realizados por engenheiros. Projetos de Arquitetura da Iluminação
são considerados aqueles que envolvem questões subjetivas, ligadas à percepção do
usuário, como conforto visual, atmosfera relacionada à promoção do uso do espaço
ou impressão espacial do ambiente construído – esses só podem ser feitos por
arquitetos. Projetos complementares estruturais, de instalações elétricas, de
instalações hidrossanitárias, de luminotecnia, terraplanagem e pavimentação, por
exemplo, podem ser realizados pelos especialistas de cada área. Porém a
coordenação e compatibilização de projeto arquitetônico com projetos
complementares só pode ser feita por arquitetos e urbanistas registrados no
CAU.(www.cau.gov.br).
O cliente que contrata um Decorador ou Designer de Interiores, que irá trabalhar em
qualquer tipo de reforma onde haja alteração da composição inicial de paredes, fiações,
tubulações, estruturas e qualquer outra intervenção descrita na resolução, deve trabalhar
sob supervisão de um Arquiteto ou Engenheiro, pois não o mesmo não apresenta
formação profissional qualificada para exercer tais funções sozinho. Portanto o
Designer de Interiores ou Decorador que praticam atividades de interiores reservadas ao
profissionais do CAU, sem a devida formação e o registro adequado, exercem
ilegalmente a profissão e juntamente com seus contratados podem responder
judicialmente.
A Lei 12.378/2010 determinou também, no art. 45, que toda realização de trabalho de
competência privativa ou não será objeto de Registro de Responsabilidade Técnica –
RRT. Em 8 de julho de 2014, o CAU/BR publicou a Portaria CAU/BR Nº 25,
que “Regulamenta o preenchimento e os procedimentos de exclusão de formulários
preenchidos de Registros de Responsabilidade Técnica (RRT) no SICCAU – Ambiente
Profissional, contendo esclarecimentos sobre o cancelamento de RRT e sobre o
pagamento de boletos emitidos, e dá outras providências”. Os Arquitetos e Urbanistas
têm obrigação de conhecer e cumprir a Lei.
A pesquisa mostra que 30% dos arquitetos entrevistados nao emitem RRT de projeto
arquitetônico e quase 50% ( 45,5%) não emitem RRT de execução da obra de reforma
de interiores. Deixar de efetuar a RRT, quando obrigatório, é infração disciplinar, como
alerta o Inciso XII do Artigo 18 da Lei 12.378/2010: “Constituem infrações
disciplinares, além de outras definidas pelo Código de Ética e Disciplina: …XII – não
efetuar Registro de Responsabilidade Técnica quando for obrigatório.”. As RRTS só
tem validade após o pagamento da taxa e não podem ser dirigidas a terceiros. A
responsabilidade do pagamento da taxa também é de responsabilidade do profissional, e
deve ter cláusula específica em contrato caso seja a vir paga pelo cliente, caso contrário
pode gerar multa de até 300%. Há hipóteses de obras de maior escala que necessitam
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de RRT(CAU) e ART(CREA), mas não entraremos nesta peculiaridade por tratar-se de
um estudo voltado para Reformas de Interiores.
Tabela 3
Tabela 4
Segundo os entrevistados, 97% realizam visitas de acompanhamento nos projetos,
estando executando-os ou não. Todo projeto arquitetonico deve estar amparado por uma
RRT de projeto e de execução. Caso o arquiteto não seja responsável pela execução da
obra, ele deve fornecer explicitamente esta informação em contrato com o cliente.
Acompanhamento de obra configura-se execução de obra. O ideal é citar no contrato
que as visitas são esporádicas apenas para ver o andamento da obra, e que é de
responsabilidade do cliente contratar fornecedores que emitam a RRT de execução.
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Tabela 5
Uma vez que o Arquiteto não tenha funcionários fixos para a execução de mão-de-obra
é de suma importancia que ele dispunha de uma equipe de profissionais qualificados
para indicar aos seus clientes. Mais da metade dos entrevistados, 52%, não souberam
informar se a mão-de-obra indicada obtem algum titulo de qualificação e 77% não
especificam em contrato restrições sobre quem irá executar os serviços, ou seja, o
cliente contrata quem ele quiser e se o profissional estiver executando a obra será o
responsável. Salientamos entre os principais fornecedores, eletricistas e hidráulicos,
grau este que corresponde a uma parcela extremamente significativa para a segurança da
obra. Em seu livro “Como negociar e vender serviços de arquitetura e engenharia”
Enio Padilha sugere as seguintes cláusulas em contrato,
A CONTRATADA definirá uma equipe de (especialidade profissional)
para a execução dos serviços constantes no presente contrato.
A CONTRATADA designará, para acompanhar a correta execução
dos serviços, bem como para assumir a responsabilidade junto ao
CREA-XX, o engenheiro XYZ, CREA-XX 99.999-9.” (ENIO
PADILHA, 2014)
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Tabela 6
Tabela 7
Tabela 8
O profissional deve estar extremamente atento para o serviço que será realizado no
projeto. Segundo a ABNT, não ha necessidade de RRT quando houver somente pintura
das paredes e colocação de piso novo. Entretanto é preciso quando o piso anterior for
retirado, pois o maquinário (marretas e materiais de alto impacto) utilizado pode
comprometer a estrutura da laje. O arquiteto deve orientar e esclarecer o cliente desta e
todas as demais questões que forem pertinentes a sua obra, pois muitas vezes o mesmo
não tem conhecimento dos riscos que corre ao contratar mão-de-obra desqualificada. É
uma maneira também de valorizar a profissão e fazer o cliente entender que o dinheiro
gasto com o Arquiteto não é supérfluo e tão pouco uma burocracia agora obrigatória.
Outro exemplo são os projetos complementares, que só podem ser executados,
administrados e compatibilizados por Arquitetos. Isso significa que o responsável pelo
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projeto de climatização, o light designer, o responsável pelo projeto de som, de gás e
qualquer outro terceiro envolvido deve encaminhar seus projetos para o Arquiteto
responsável, para que ele possa correlaciona-los e autorizar suas respectivas execuções.
Mesmo uma pequena reforma de interiores residencial envolve uma série de fatores de
risco que não podem ser subjulgadas.
Em relação a projetos de iluminação, vimos anteriormente que segundo s resolução
n°51 emitida pelo CAU, os que envolvem questões objetivas (quantidade de luz
necessária, consumo de energia, etc) podem ser realizados por engenheiros. Projetos de
Arquitetura da Iluminação são considerados aqueles que envolvem questões subjetivas,
ligadas à percepção do usuário, como conforto visual, atmosfera relacionada à
promoção do uso do espaço ou impressão espacial do ambiente construído – esses só
podem ser feitos por arquitetos.
Para realização de projetos luminotecnicos é recomendável a norma NBR 5413
Iluminância de Interiores, onde constam os indices de Iluminancias necessárias para
cada ambiente, NBR 5410- Instalação Elétrica em baixa tensão e NBR 5382 -
Verificação da iluminância de interiores Método de ensaio.
A NBR 5410 adverte os valores indicados para efeito de dimensionamento dos
circuitos, não havendo vínculo com a potencia nominal de lâmpadas. Estabelece
critérios como a instalação de pelo menos um ponto de luz fixo no teto em cada comodo
do ambiente, comandado por interruptor, e uma carga mínima de 100VA para os
primeiros 6m², acresicda de 60VA para cada aumento de 4m² inteiros. Uma tomada
deve ser colocada no mínimo em cada ambiente, sendo cozinha a cada 3,5m e salas e
dormitórios a cada 5m.
A NBR 5413, estabelece os valores de iluminâncias médias mínimas em serviço para
iluminação artificial em interiores, onde se realizem atividades de comércio, indústria,
ensino, esporte e outras. Esta norma é de extrema importancia para os profissionais que
executam projetos luminotecnicos, principalmente em ambientes comerciais e
coorporativos, pois caso seja comprovado que o ambiente não atingiu a quantidade de
iluminancia adequada para a função específica a que se destina, o profissinal pode ser
responsabillizado. A iluminancia deve ser maior para áreas de trabalho e maior
permanencia. Ja as definições para diferenças de temperatura de cor, por exemplo, cabe
exclusivamente ao profissional e seu conceito projetual.
Em princípio, toda e qualquer instalação elétrica necessita de um projeto elétrico para
ser executada. As instalações elétricas, para serem executadas, devem ter a participação
de um responsável técnico com formação na área elétrica que pode ser Engenheiros e
Técnicos. Os limites de atuação desses profissionais é função da legislação que lhes
outorgou as respectivas atribuições (Decreto Federal nº 23.569/33, Resolução nº 218/73
do CONFEA e Decreto nº 90.922/85). Um tecnico eletrotecnico, por exemplo, segundo
atribuições profissionais do Art. 4° do Decreto n° 90.922/85, limita-se às instalações de
baixa tensão, o que corresponde a 800KVA e não têm competência legal para emitir
laudos técnicos de qualquer natureza (Decreto Federal n° 90.922/85). Os profissionais
que podem exercer projetos elétricos e de rede sem limitação são os engenheiros
eletricistas, conforme atribuições do artigo 8° da Resolução n° 218/73, do Confea ou do
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Art. 33 do Decreto Federal n° 23.569/33, os tecnólogos não têm habilitação técnica para
projetar sistemas elétricos de nenhuma natureza e em nenhum nível de potência.
Os demais cursos livres de eletricista residencial, predial ou industrial permitem ao
profissional atuar na instalação e/ou manutenção de redes de eletricidade. Aprendem
nos cursos livres ou na prática a lerem plantas. Entretanto como visto anteriormente
toda instalação elétrica deve passar primeiro por um conceituado projeto elaborado por
profissional devidamente qualificado e habilitado pela legislação brasileira para mapear,
calcular, dimensionar e especificar os componentes certos, dentro das Normas Técnicas
em vigor, orientado sempre à segurança e confiabilidade. Percebe-se, segundo a
pesquisa realizada, que 65% dos arquitetos entrevistados não incluem nos seus projetos
as informações técnicas necessárias para a execução destes projetos. Este gráfico é
extremamente preocupante, vinculado às questões que apontam que 80% não restringe
em contrato quem irá executar os serviços e 50% não sabem informar qual a
qualificação de seus fornecedores.
Tabela 9
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Tabela 9 – NBR 5413
3. Conclusão
Após o término desta pesquisa constatou-se que o profissional Arquiteto possui
ferramentas suficientes para se proteger de situações que coloquem em risco sua
integridade profissional, desde que estas sejam tomadas na primeira fase do trabalho, ou
seja, no contrato de prestação de serviços assinado por profissional e cliente. Ao
detalharmos o tipo de serviço em uma RRT estamos também nos protegendo e é de
suma importância que o profissional faça emissão deste registro independente da
dimensão da obra que esta sendo executada, pois sem ele ficará vulnerável e poderá ser
responsabilizado em futuras inconveniências. Uma vez que o profissional esta também
executando a reforma, ele deve estar ciente que todos os fornecedores que ali trabalham
são de sua responsabilidade. Caso o cliente opte pela contratação de outro fornecedor e
o arquiteto não querer se responsabilizar pelo trabalho deste, deverá ter essa cláusula
registrada em contrato, de forma clara que não reste dúvidas para nenhuma das partes.
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Conclui-se também que a maioria dos profissionais que atuam no mercado não tem
conhecimento geral de todas atribuições e deveres que lhe são pertinentes, e acabam por
trabalhar com uma carga desconhecida de responsabilidade. Seria de extrema
importância um futuro estudo sobre esta questão: até onde os Arquitetos de Interiores
estão cientes de suas obrigações legais perante clientes e trabalhadores terceirizados?
Atualmente vivemos em um mundo onde grande parte da população perdeu seus valores
éticos e morais. No Brasil infelizmente este fato se sobressai e a chamada malandragem
aparece cada vez mais em todas as áreas. Aqui ela foi identificada não somente no
“profissional” que não tem qualificação e presta serviço, mas também no cliente que
quer pagar menos e decretar para outro a respectiva responsabilidade. Existe também
uma significativa queixa dos profissionais em relação à desvalorização dos projetos
arquitetônicos. Hoje em dia estes acabam sendo facilmente encontrados “gratuitamente”
ou a preços impraticáveis em sites de decoração que leiloam projetos de interiores a
preços absurdos e lojas de móveis modulados onde o cliente “compra a marcenaria e
ganha o projeto”. Mas como mudar essa realidade? Teria a nossa profissão atingido seu
auge e daqui para a frente entraria em decadente processo de declínio onde só nos
restaria a transformação em um prestador de serviço para obtenção de êxito
profissional?
Cabe aos arquitetos se munirem de ferramentas que impeçam que a Arquitetura de
Interiores seja desvalorizada e mal praticada. Somente quando os profissionais da área
estiverem plenamente cientes da importância do seu papel na sociedade, conhecendo as
leis e exercendo seus trabalhos dentro dela, terão e poderão expor com confiança para o
restante do mundo seus atributos, e desta forma adquirirem respeito e valorização, para
continuarem a transformar o mundo em um lugar cada vez mais belo e seguro para se
viver.
4. Referências
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16280:
Reformas em edificações – Sistema de gestão de reformas – requisitos. Rio de Janeiro,
2014.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724:
formatação de trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2002.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413:
Iluminancia de Interiores.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410:
Instalação Elétrica em baixa tensão.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5382:
Verificação da iluminância de interiores Método de ensaio.
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RESOLUÇÃO Nº 17: Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) na prestação de serviços de arquitetura e urbanismo. 2012. RESOLUÇÃO N°21: Atividades e atribuições profissionais do arquiteto e urbanista. 2012. RESOLUÇÃO N°51. Atribuições do Arquiteto e Urbanista. Lei Federal n° 12.378.
2010.
DECRETO FEDERAL n° 90.922/85.
DECRETO FEDERAL n° 23.569/33.
PADILHA, Enio. Como gerenciar e vender serviços de arquitetura e engenharia.
São Paulo. 893 editora. 2007.