arquiteto luiz nunes

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ARQUITETO LUIZ NUNES Romero Sales Thiago Pessoa Luiz Nunes nasceu em de 31 de julho de 1909 ,no Rio de Janeiro. Ele ingressa na Escola Nacional de Belas Artes em 1926, com 17 anos de idade. Em 1931, lidera – como presidente do Diretório Acadêmico – uma greve para manter, na Direção da Escola, o arquiteto Lúcio Costa e os professores por ele nomeados, que haviam sido demitidos. Forma-se em 1933, com 24 anos. Nunes fez parte da mesma brilhante geração de arquitetos formada por Oscar Niemeyer, Afonso Eduardo Reidy, Jorge Machado Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcellos que, entre 1937 e 1943, integraram a equipe que, sob a coordenação de Lúcio Costa e a orientação de Le Corbusier, projetaram o prédio do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Foram contemporâneos na Escola Nacional de Belas Artes e, dos citados, Nunes era o mais jovem. Em 1934, Nunes é indicado ao Governador de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti, para trabalhar e implementar novos conceitos e formas de construir, organizando um Departamento de Obras que eliminasse as práticas defasadas e empíricas da construção civil.

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Page 1: ARQUITETO LUIZ NUNES

ARQUITETO LUIZ NUNES

Romero Sales

Thiago Pessoa

Luiz Nunes nasceu em de 31 de julho de 1909 ,no Rio de Janeiro. Ele

ingressa na Escola Nacional de Belas Artes em 1926, com 17 anos de idade.

Em 1931, lidera – como presidente do Diretório Acadêmico – uma greve para

manter, na Direção da Escola, o arquiteto Lúcio Costa e os professores por ele

nomeados, que haviam sido demitidos. Forma-se em 1933, com 24 anos.

Nunes fez parte da mesma brilhante geração de arquitetos formada por

Oscar Niemeyer, Afonso Eduardo Reidy, Jorge Machado Moreira, Carlos Leão

e Ernani Vasconcellos que, entre 1937 e 1943, integraram a equipe que, sob a

coordenação de Lúcio Costa e a orientação de Le Corbusier, projetaram o

prédio do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Foram

contemporâneos na Escola Nacional de Belas Artes e, dos citados, Nunes era

o mais jovem.

 Em 1934, Nunes é indicado ao Governador de Pernambuco, Carlos de

Lima Cavalcanti, para trabalhar e implementar novos conceitos e formas de

construir, organizando um Departamento de Obras que eliminasse as práticas

defasadas e empíricas da construção civil.

A escolha de Nunes para trabalhar em Recife estiva ligada,

fundamentalmente, às suas convicções políticas, ao seu idealismo, à sua

preparação intelectual e técnica, à sua disponibilidade, e às suas ligações com

o grupo mineiro que então dominava o Ministério de Educação e Saúde.

Nunes faria ainda, antes de embarcar para o Recife, alguns projetos no

Rio de Janeiro e, ainda quando estudante, participou de todos os

acontecimentos ligados à curta administração Lúcio Costa como Diretor da

Escola.

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Em Recife, Luiz Nunes empenhou-se em tornar corrente, em

Pernambuco, as novas idéias arquitetônicas e, conseguindo dos poderes

públicos o apoio necessário, criou em agosto de 1935 uma repartição cujo

objetivo principal era dotar o Estado de um organismo que centralizasse todas

as atividades relacionadas com o emprego das boas normas de construir.

Luiz Nunes realiza no Recife, entre 1934 e 1937, uma experiência única

no cenário arquitetônico brasileiro. Encarnando a utopia reformadora original do

movimento moderno, ele desenvolve com o governo do Estado de Pernambuco

uma arquitetura motivada pelo desejo de transformação social e pelo

compromisso com a criação de um novo mundo para um novo homem. Nesse

sentido, sua atuação é social e vai além dos aspectos técnicos e estéticos da

profissão.

A responsabilidade de organizar os serviços de obras públicas

que Nunes recebe em 1934, ao assumir o cargo de arquiteto da Secretaria de

Viação e Obras Públicas, ganha corpo com a criação da Diretoria de

Arquitetura e Construções - DAC. Cabe à diretoria centralizar todas as

atividades de construção civil do governo, do desenvolvimento de projetos e

orçamentos à construção, reforma e manutenção de edifícios estaduais,

municipais e particulares, conforme a solicitação das diferentes instâncias de

poder e em função do interesse público, passando pela aprovação de todos os

projetos a serem construídos com verba estadual. Em sua gestão, Nunes

coordena uma série de ações integradas que visam melhorar a qualidade

arquitetônica e construtiva dos edifícios estatais e diminuir os gastos públicos

com a construção civil. Essas ações vão do investimento no aprimoramento

educacional e técnico da mão-de-obra local à introdução de novos métodos,

materiais e técnicas no canteiro de obras, da constituição de uma equipe

técnica diversificada, formada por arquitetos, engenheiros, projetistas, artistas e

operários ao desenvolvimento de projetos executivos completos que privilegiam

a racionalidade técnico-construtiva.

 Como diretor da DAC. onde era também, no começo, o único arquiteto,

Luiz Nunes teve como suas primeiras obras a padronização dos postos

policiais, a serem construídos na capital e interior do estado. Projetando e

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construindo diversos, dotando-os de uma arquitetura simples e adequada ao

clima da região, resultando numa solução econômica e eficiente.

Logo após, para a Liga de Saúde Mental, então fundada e dirigida pelo

psiquiatra Ulisses Pernambucano, fez o projeto de uma escola destinada a

crianças anormais, implantada em local com características bucólicas, afastado

da área urbana da cidade, aproveitando a vegetação existente nos arredores

da capital, e adotando um partido arquitetônico à escala da criança.

Luiz Nunes ainda elaborou o projeto do Hospital da Brigada Militar, onde,

Nunes reformula o conceito do que deveria ser um hospital moderno, adotando

uma solução em blocos, em contraposição ao sistema de pavilhões, até então

utilizado e fundamentado teorias defasadas, superadas pelos conhecimentos

médicos e biológicos mais modernos. Nesta obra, ele projeta a primeira escada

helicoidal apoiada apenas nas extremidades, com um avançado cálculo de

concreto estrutural, concebido pelo engenheiro Joaquim Cardozo.

E no curto período que durou sua primeira fase em Recife, ele também

fezo projeto da Escola Rural Alberto Tôrres, primeiro edifício no Brasil a utilizar,

como circulação vertical, rampas no lugar de escadas. Essas rampas foram

apoiadas em arcos parabólicos, construídos como elementos anexos ao corpo

do edifício, e ligadas a este por uma passarela em concreto.

Percebe-se nas obras desenvolvidas entre 1934 e 1935 pela DAC,

sobretudo a Escola de Anormais, a Usina Higienizadora de Leite e o Hospital

da Brigada Militar, são volumes prismáticos compostos de lajes planas,

superfícies lisas sem ornamentação e aberturas horizontais padronizadas, que

respondem a necessidades programáticas específicas e revelam a inspiração

da arquitetura moderna alemã. A configuração da Escola de Anormais em dois

amplos pavilhões interligados por varandas e marquises propõe a integração

entre espaços internos e externos do edifício. O projeto do Hospital de Brigada

Militar, por sua vez, adota a disposição do programa em blocos em vez de

pavilhões, como era defendido pelas correntes mais avançadas de medicina na

época.

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Embora estas obras, quando realizadas, não tivessem obedecido

exatamente ao risco do seu projeto, e isto por motivos alheios à sua vontade,

pois, não apresentava na época um aperfeiçoamento técnico, mas, havia uma

intenção e uma fidelidade aos bons princípios arquitetônicos.

Durante a construção, o projeto do Hospital da Brigada Militar é bastante

modificado, o caráter final da edificação se distancia desse grupo de projetos e

se aproxima da Escola Rural Alberto Torres, que é marcado pelo destaque

dado à estrutura de concreto armado. Seguindo os mesmos preceitos de

integração dos ambientes da escola com os espaços externos empregados

na Escola de Anormais, esse edifício não tem uma composição harmônica, em

virtude da articulação entre o bloco principal retangular e o conjunto de rampas

de circulação suspensas por tirantes fixos em arcos parabólicos de concreto

armado que lembram os projetos do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Se

neste último edifício o sistema estrutural empregado é composto de estrutura

independente e lajes planas de concreto armado, nos projetos anteriores ele se

caracteriza pelo emprego simultâneo de alvenaria de tijolos de barro portante,

pilares e lajes de concreto armado, indicando a necessidade de adaptar os

preceitos da arquitetura moderna às possibilidades técnicas e econômicas

locais.

Tais projetos representaram para o arquiteto algumas incompreensões,

partindo de construtores e engenheiros que se sentiram prejudicados com os

novos métodos de trabalho introduzidos por Nunes. Com o acirramento da

questão política, principalmente devido à chamada Intentona Comunista de

1935, chegou-se até a proibir a adoção de técnicas fundamentadas na

Arquitetura Moderna, considerada subversiva, o que obrigou o arquiteto a

projetar segundo cânones clássicos ou neoclássicos. Nunes, para evitar novos

atritos, produzia esses trabalhos durante o dia e, à noite, projetava os mesmos

edifícios segundo os cânones da Arquitetura Moderna, uma vez que, após

concebidos, eram enviados à capital da República, para análise e subsequente

obtenção de recursos para construí-los. Sob denúncias de tais práticas

subversivas, o arquiteto sente-se forçado a se afastar do cargo.

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Luiz Nunes voltou ao Rio de Janeiro e abriu um escritório na Praça da

República, realizando algumas obras e tentando restabelecer contato com

antigos companheiros de escola.

O DAC ficou quase acéfalo e lutou com as maiores dificuldades para

permanecer num meio desprovido de recursos técnicos, incompreendido e

desinteressado de boa parte dos construtores e engenheiros, quando Nunes foi

substituído pelo arquiteto Aurélio Lopes, cuja única atividade foi tentar destruir

sua obra. Este fato provocou uma rebelião entre os auxiliares do arquiteto,

forçando o Governo do Estado a substituir Lopes por outro profissional: o

arquiteto Aníbal Melo Pinto. Este realiza, no Pavilhão de Pernambuco, uma

exposição das obras de Luiz Nunes, durante as comemorações do aniversário

da Revolução Farroupilha, em Porto Alegre.

O sucesso da exposição reforçou a posição de Luiz Nunes, e o arquiteto

volta a trabalhar em Recife, de 1936 a 1937, agora na Diretoria de Arquitetura e

Urbanismo - DAU, sucessora da Diretoria de Arquitetura e Construção.

Os compromissos e as atividades desenvolvidos na DAC têm

continuidade na Diretoria de Arquitetura e Urbanismo - DAU, ainda que do

ponto de vista arquitetônico a sua criação, em 1936, marque o início de uma

nova fase.

À nova repartição são conferidas responsabilidades mais amplas. Esta

deveria, agora, cuidar de planejamento urbano para Recife e cidades do

interior, além de edifícios públicos. Este fato provocou a vinda de outros

profissionais para ajudar Nunes, como os engenheiros-arquitetos Fernando

Saturnino de Brito e João Correia Lima. É neste período que Nunes recebe,

também, a colaboração de um jovem paisagista: Roberto Burle Marx.

Pouco antes, em 1934, o arquiteto Attílio Correia Lima havia sido

contratado para elaborar um plano diretor para o Recife, não aproveitado pelas

autoridades locais. Mas a partir dos estudos de Attílio, Nunes ,com a

assessoria do urbanista pernambucano Antonio Baltar, desenvolve as

atribuições urbanísticas da nova Diretoria. Recebe, ainda, a colaboração do

médico e sociólogo Josué de Castro, nos edifícios destinados a funções de

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saúde pública, como o Pavilhão de Leprosos da Mirueira, os Postos de

Abastecimento de Leite, a Usina Higienizadora de Leite, e o Pavilhão de Óbitos

da Faculdade de Medicina, além da Caixa d'Água de Olinda, dentro do

programa de abastecimento d'água e saneamento idealizado por Saturnino de

Brito.

Os projetos desenvolvidos pela DAU escapam das duras determinações

programáticas, técnicas e econômicas da primeira fase da diretoria, ganhando

maior expressividade plástica. Luiz Nunes, nesses edifícios citados, passa a se

preocupar com a aplicação dos 5 conceitos básicos de Le Corbusier : planta

livre, pilotis, estrutura independente, teto-jardim e fachada autônoma.

Influenciado por seus contatos com a equipe que desenvolvia, então, o projeto

do Ministério da Educação e Saúde em sua estada no Rio de Janeiro, no

mesmo ano em que Le Corbusier estava no país em virtude destes projetos.

Na Usina Higienizadora de Leite é perceptível a referência à Bauhaus,

sobretudo, aos projetos do arquiteto alemão Walter Gropius devido as linhas

mais retas e fachadas independentes.

No caso das fachadas, visando possibilitar uma correta leitura das

funções da edificação, e ante a inexistência ou impossibilidade de utilização do

vidro, um material caro e inadequado para o clima tropical, Nunes passa a

adotar os elementos vazados, de cerâmica ou cimento, e muito comuns na

região, produzidos por uma fábrica pertencente a imigrantes portugueses

Coimbra, Borges & Góes, e batizados por ele de CoBoGós, utilizando as iniciais

dos proprietários. De excepcional efeito plástico, custo muito baixo, e

possibilitando uma redução do efeito do vento sobre as estruturas, os cobogós

são incorporados, depois de padronizados, em todos os seus projetos,

principalmente na Caixa d'Água de Olinda, símbolo maior do trabalho do

arquiteto, onde aplicou todos os princípios de Corbusier, implantando o edifício

simples e imponente, no meio de um sítio de preservação histórica e

arquitetônica.

O projeto construído para o Pavilhão de Verificação de Óbitos da

Faculdade de Medicina é a que demonstra maior maturidade. A planta

modulada evidencia a independência estrutural, além de apresentar uma

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qualidade técnica superior. Reúne todos os elementos característicos dos cinco

pontos corbusianos, com traços bem semelahntes a Villa Savoye.

É evidente os valores de inovação, ruptura e racionalidade técnica que a

obra do grupo de Nunes incorpora do ideário modernista. Nessas

interpretações são destacadas as influências das obras de pioneiros europeus

tais como Gropius, Mies, Lurçat e, principalmente, Le Corbusier.

Também são claras na arquitetura de Nunes as intenções de

racionalidade, funcionalidade ,eficiência técnica, também percebemos a

variação de tamnhos dos pilares e vigas em suas obras demostrando o

chamado princípio da verdade estrutura, que era adotado na arquitetura do

grupo por influência de Joaquim Cardozo, assim como a ênfase na dimensão

social da arquitetura, idéias e atitudes evidentemente derivadas do ideário

modernista europeu.

Em novembro de 1937, acontece o Golpe de Getúlio Vargas, que

implantaria o Estado Novo, e a Diretoria de Arquitetura e Urbanismo encerra

junto com seu mentor. Mas ficava o exemplo nas suas construções.

A experiência das Diretorias de Arquitetura dirigidas por Nunes não se

interrompe com a extinção da DAU pelo Estado Novo, nem mesmo com a

morte prematura do arquiteto aos 28 anos.

Muitos dos arquitetos, engenheiros e projetistas que ali trabalham dão

continuidade à obra, contribuindo para a difusão da arquitetura moderna no

país, destacando-se o papel de Joaquim Cardozo, do arquiteto paisagista Burle

Marx e do engenheiro e urbanista Antônio Bezerra Baltar.

Para alguns críticos, não existiu o que se convencionou chamar de

Movimento ou Escola do Recife. Mas o Legado das obras e elementos

deixados por Nunes, como o Cobogó influenciaram efetivamente as próximas

gerações.

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REFERÊNCIAS

http://www.joaquimcardozo.com/paginas/joaquim/poemas/arquitetura/

dois_episodios.pdf

http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/128R.pdf

http://www.docomomobahia.org/AF_Marcelo%20Freitas%20e%20Roberta

%20Smith_1.pdf

http://www.vivercidades.org.br/publique_222/web/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?

infoid=1521&sid=21

http://www.vivercidades.org.br/publique_222/web/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?

infoid=1240&query=simple&search_by_authorname=all&search_by_field=tax&s

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