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editorial B O L E T I M *27 março 2013 . boletim trimestral . ano 5 É tempo de avaliar o ano que termina e projetar o novo que está para vir … Neste período foi-nos proposto redescobrir o lugar cen- tral da celebração litúrgica na vida da comunidade cristã. Ao longo deste ano, na minha comunidade, foi intensificada a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força? Este ano ajudou-nos a redescobrir a beleza e simplicidade da liturgia, sinal da comunhão entre Deus e os seres humanos? Foi possível aprofundar a relação entre a celebração da fé e a ação evangelizadora? Foi possível fortalecer a relação entre a catequese e a liturgia? São objetivos que necessariamente permanecem para além deste tempo que em lhes é dado particular destaque, na certeza que a Eucaristia é o centro da vida Cristã e a Igreja deseja que todos os cristãos participem, plena consciente e ativamente na liturgia.

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Page 1: Arquidiocese de Braga - BOLETIM · 2016. 9. 15. · o poder transformador de Deus, o qual, através do acontecimento litúrgico, quer transformar os Homens e o Mundo” (J. Ratzinger)

BOLETIM 1

editorial

B O L E T I M *27março 2013 . boletim trimestral . ano 5

É tempo de avaliar o ano que termina e projetar o novo que está para vir …

Neste período foi-nos proposto redescobrir o lugar cen-tral da celebração litúrgica na vida da comunidade cristã.

Ao longo deste ano, na minha comunidade, foi intensificada a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força?

Este ano ajudou-nos a redescobrir a beleza e simplicidade da liturgia, sinal da comunhão entre Deus e os seres humanos? Foi possível aprofundar a relação entre a celebração da fé e a ação evangelizadora?

Foi possível fortalecer a relação entre a catequese e a liturgia?São objetivos que necessariamente permanecem para além

deste tempo que em lhes é dado particular destaque, na certeza que a Eucaristia é o centro da vida Cristã e a Igreja deseja que todos os cristãos participem, plena consciente e ativamente na liturgia.

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BOLETIM 2

Secção OpInIãO

Educar no MistérioP.e Luís MigueL Figueiredo rodrigues

A catequese e a celebração da fé não podem viver uma sem a outra dentro da Igreja. Em boa verdade, uma catequese que se dissocie

da experiência cristã vivida em comunidade, é uma catequese alienada, exterior à realidade dessa comunidade e cujos conteúdos não são mais do que simples informações de cariz religioso. Ainda que a ação catequética seja fundamental, esta deve também ser vivida e celebrada nas ações litúrgicas, momento onde todos os cristãos celebram o Mistério Pascal.

Aliás, é aqui, na realidade do Mistério que radica a solução desta dificuldade. Não podemos continuar a dissociar as diversas dimensões da pastoral. Muitas vezes, após o século XVI e fruto das mutações culturais operadas na Europa, procurou-se afirmar a fé com expressões isentas de erro, formalmente corretas. Esta realidade, a ortodoxia da afirmação, levou a que se separassem as diversas disciplinas teológicas. Veja-se todo o ambiente pré-concílio Vaticano II: movimento bíblico, movimento catequético, movimento litúrgico…

A solução está na redescoberta daquilo que é o Mistério Cristão, aquela realidade onde o crente habita e da qual faz parte pela

A Liturgia é, na verdade, a fonte e o cume de toda a vida cristã (cf. LG 11), onde os catequizandos experimentam e vivenciam em comunidade o que ouvem na catequese e descobrem sinais visíveis da experiência de Deus: «A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental. Pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens». (CCE 1074).

Por sua vez, a Igreja, que transmite a fé como dom do Senhor, que está presente na Sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas (cf.

SC 7), acredita ser importante que os cristãos participem ativa, mas também conscientemente, na liturgia, onde celebram a presença salvífica de Cristo. Assim, à catequese, como caminho de fé e inserção na vida eclesial, compete iniciar o catequizando na liturgia, favorecendo o conhecimento dos significados litúrgicos e sacramentais, de forma a que a celebração dos ritos cristãos sejam, de facto, expressão dum caminho de fé que garanta a verdade e a autenticidade. Não se trata apenas de uma instrução sobre um

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BOLETIM 3

Educar no Mistériodeterminado objeto religioso, mas uma iniciação viva e orante que deve levar à interiorização do culto litúrgico: «a vida sacramental empobrece e bem depressa e se torna um ritualismo oco, se ela não estiver fundada num conhecimento sério do que significam os sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não for haurir vida numa prática sacramental» (CT 23). A catequese é uma aprendizagem dinâmica da fé, da vida cristã, e da celebração da eucaristia, e não pode prescindir de momentos celebrativos e festivos fortes,

porque sem expressão de fé não há comunicação nem amadurecimento da fé.

Deste modo, a catequese deve conduzir o catequizando a uma experiência viva da presença e ação de Cristo na vida da Igreja, de modo a poder levar a um seguimento firme do Senhor e um compromisso missionário. Quando as pessoas são evangelizadas a partir da sua própria vivência cristã e, a partir daí, se sentem chamados a se identificarem a Cristo, a liturgia e os sacramentos assumem nas suas vidas um novo valor e um sentido diferente.

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BOLETIM 4

Secção OpInIãO

Conta-se que «numa aldeia da Polinésia viviam dois homens continuamente em guerra um com o outro. Ao mais pequeno pretexto entra-

vam em luta.A vida tinha-se tornado insuportável tanto

para um como para o outro. Mas também para toda a aldeia.

Um dia, alguns anciãos disseram a um dos dois:– A única solução, uma vez que se já experimen-

taram tantas, é que tu vás ver a Deus.– De acordo. Mas onde?– É muito simples. Basta que subas ao cimo da

montanha e lá verás a Deus.Passados alguns dias de caminhada cansativa,

chegou ao cimo da montanha. Deus estava lá à sua espera.

O homem arregalou bem os olhos: Deus tinha o rosto do seu vizinho brigão e antipático.

O que Deus lhe disse, ninguém sabe. De todos os modos ao regressar à aldeia não era a mesma pessoa.

Mas, apesar da sua gentileza e vontade de recon-ciliação com o vizinho, tudo continuava a correr mal, porque o outro inventava novos pretextos de litígio.

Os anciãos disseram:- É melhor que também ele vá ver a Deus.Apesar da sua recusa, conseguiram convencê-lo.

E também ele partiu para a montanha.E lá em cima também ele descobriu que Deus

tinha o rosto do seu vizinho.»Sem procurar entrar em «grandes exames de

consciência»! É fácil descobrir que este «vizinho» sou eu, és tu e somos nós! Este «nós» que vive em comu-nidade e celebra o Jesus Ressuscitado com pompa e circunstância, o que é louvável e desejável! Con-tudo, será que nas nossas comunidades vivemos e celebramos a Fé que professamos?

Foi Jesus que disse: “sempre que fizestes isto a

Formação (Filosofia) Cristã de AdultosAntónio JoAquiM gALvão

um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40). O mesmo é dizer que: sempre que o deixastes de fazer, foi a Mim que o deixastes de fazer! Jesus é a razão de ser do nosso viver.

Estaremos verdadeiramente conscientes de que cada pessoa é imagem de Deus e, como tal, merece toda a nossa compreensão, carinho e afeto? Viver-emos verdadeiramente em Igreja que, como nos exorta o Papa Francisco, é chamada a sair de si mes-ma e ir para as periferias geográficas e existenciais? Levá-Lo, testemunha-Lo… que Ele cresça e eu dimi-nua! (Jo 3, 30)

Somos humanos e, como tal, todos temos uma ânsia natural para a exibição, para mostrar o que so-mos! Esquecendo-nos, por vezes, dos benefícios re-

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BOLETIM 5

cebidos. Na última ceia, Jesus depois de dar o pão a Judas diz-lhe: «O que tens a fazer, fá-lo depressa sem demorar» (Jo 13, 27).

Parece-me claro que, sempre que nos afasta-mos da relação íntima com Jesus, corremos o risco de nos autoafirmarmos «senhores», do saber, do conhecer, do fazer… etc, e relativizando a vida e as coisas!

S. Paulo diz-nos: «o bem que eu quero, não o faço, mas o mal que não quero é que pratico. Se, pois, faço o que não quero, já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim» (Rom 7, 19-20). É interessante refletirmos sobre o «homem velho» que continua dentro de nós, sempre que vivemos para nós mesmos. Temos que «subir à montanha para ver a Deus»! E regressarmos con-

scientes de que: “Cristo morreu por todos, para que, os que vivem, não vivam para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou. (…) Se alguém está em Cristo, é uma nova criação: Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo (2 Cor 5, 15 – 17). A alegria e o espírito da Páscoa está entre nós, aqui, ali e além … em toda a parte! A alegria da Páscoa não pode limitar-se a um mo-mento importante, se vem de dentro, se a vivemos verdadeiramente na liturgia é porque nos senti-mos em unidade com os discípulos e Maria que ouviram naquela manhã a notícia: Jesus ressusci-tou! Se esta experiência de vida «nova» não «está em nós», não sai espontaneamente dos nossos co-rações e se exprime nos nossos pensamentos, nas nossas palavras, nos nossos gestos e atitudes, serei eu que vivo, provavelmente mas, não “é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20).

Convido a todos, como nos pede o Santo Padre, a olharmos para Maria como testemunha fiel da Res-surreição do Senhor e a refletirmos sobre a forma-ção cristã de adultos para que aconteça na nossa diocese. Sem nos alongarmos, pedimos que vejamos Maria como viveu a paixão de Jesus sem perder a esperança, mantendo-se fiel ao pedido de Seu Filho: «Mulher, eis aí o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis aí a tua mãe» (Jo 19, 26-27). Maria como Mãe de toda a Humanidade!

Peçamos que o mesmo Espírito nos ilumine e nos guie pela mão de Maria numa verdadeira for-mação cristã de adultos. Que, como acontece no Arciprestados de Barcelos, tenhamos pelo menos um dia por mês para nos encontrarmos, clero e leigos, de forma simples e perseverante num en-contro de simbiose entre teologia (clero) e espiri-tualidade laical (leigos) segundo a regra do «pou-co, pequeno e possível» para chegarmos a todos aqueles que connosco vivem e rezam!

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BOLETIM 6

Secção OpInIãO

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA IV (b)

A Homilia

A Igreja, na Eucaristia dominical, possivelmente, é a instituição, que reúne mais pessoas (A. To-fller). Como há “textos sagrados que se lêem

mas nem sempre se ouvem” (M. Yourcenar), poderia o mesmo acontecer com a homilia.

Cada celebração, sendo uma ‘dádiva’ (J. Ratz-inger), é, também, uma tarefa pela comunidade, treino para ‘ressuscitar’; como tarefa implica uma “verdadeira educação litúrgica (que) não pode consistir em aprender a ensaiar actividades exte-riores, mas sim em conduzir para a verdadeira ac-tio, que faz da Liturgia o que ela é; conduzir para o poder transformador de Deus, o qual, através do acontecimento litúrgico, quer transformar os Homens e o Mundo” (J. Ratzinger). Então, a comu-nidade descobre-se Povo de Deus peregrino no mundo, que “deve ser como o rosto de Deus, trans-formado em Boa Nova para o povo” (C. Mesters). Por isso, a estratégia pastoral deve levar a passar de “uma comunidade narrada para uma comuni-dade narrante” (J. Tolentino), em que “a palavra falada se torne falante”(C. Mesters), em relação com “a condição humana, que é viver instituindo o novo” (A. Rouet). Mas, diz S. Paulo, “veja cada um como edifica (1 Cor 3, 10) pela homilia.

A homilia serve, como diaconia, a ilustrar a Pala-vra de Deus, a actualizá-la na vida cristã: catequese “mistagógica”, exposição dos mistérios da fé a im-plicar com a existência, para que a Palavra de Deus toque a vida e a ilumine com uma espiritualidade eucarística, com Maria “mulher eucarística” como modelo (João Paulo II).

O presidente, “confiado a Deus e à Palavra da sua graça” (Act 20, 32), como discípulo que ouve com “uma verdadeira atenção do coração” a Pala-vra de que “não é dono mas servo...(e) dela deve-dor relativamente ao Povo de Deus” (J. Ratzinger), partilha o ‘eco’ desta Palavra, como seu serviço à

M. M. CostA sAntos (dM. igreJA vivA)

comunidade. Ele tem a tarefa de servo da Palavra para a Assembleia.

A homilia, como diaconia, está situada entre a mesa da Palavra e mesa do Pão, e o lugar é sinal do seu ser-entre, como o ‘fermento’ para ‘levedar’ a mas-sa e como a ponte para unir. A homilia, vinda da Pa-lavra a caminho da actio, deve dispor à oratio: “uma verdadeira homilia só é tal se ela própria se pode transformar em oração” (J. Heschel). A homilia é rela-tiva, porque está situada entre a Palavra e a actio, no cruzamento, como ‘eco’ da Palavra para encaminhar a Assembleia para a mesa do Pão.

O presidente, diante dos ouvintes, entra num processo de dar e receber; dá aos ouvintes algo do que lhe descobriu a qualidade da atenção que eles lhe despertaram, tal como a samaritana pede a Jesus “dá-me dessa água”, depois de Jesus lhe ter pedido “dá-me de beber” (Jo 4, 15, 7). Ele, “porque os seus ouvintes”, os rostos que vai encontrar, es-tão mais próximos com as suas interrogações vi-tais que o remetem para suas próprias, “habitam a sua meditação”, tem de ponderar, avaliar o peso do que vai dizer. Como exercício pedagógico, de-via ‘emigrar’ para o meio dos ouvintes. Como Je-sus, por analogia e por um ‘saber de experiência feito’, poderia dizer: “conheço as minhas e elas conhecem-me” (Jo 10, 14) e esperar o seguinte: “escutam a (minha) voz... porque (a) reconhecem” (Jo 10, 3-4). Este saber, como ouvinte de si entre os ouvintes, torna-o mais sensível à Assembleia e disponível para Palavra.

Ao preparar a homilia, como o pai de família, vai descobrir ‘coisas novas e velhas’, que permaneceriam desconhecidas sem o diálogo com a Palavra na pre-sença dos ouvintes. Esta descoberta da inteligência é um conhecimento, que nasce da experiência da relação que o liga aos outros (M. Certeau), não para aprender algo mais, mas para o saber de outro modo.

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BOLETIM 7

Assim, a homilia é um falar no sentido de permutar com os ouvintes; e escutar as questões dos outros, é tornar-se alguém que fala para alguém que pergun-ta. E o respeito pela inteligência (dos que pergun-tam) deve fazer evitar “debitar sermões moralizantes e piedosos” (M. Torga), que indiciam “falta de fôlego para explorar a mensagem”; mas, o procurar a sobre-vivência na ‘estratégia’ e não na mensagem contida na promessa do Pai, o procurar o refúgio morali-zante, é desconhecer a resultante: uma “dialéctica de desprestígio mútuo entre a mensagem e a moral” (A. Alçada Baptista).

O tempo da homilia deve ser o tempo adequa-do, essencial na justa proporção e não mais, pois em jogo estão a Palavra, o Pão e a Assembleia. O tempo é o necessário para a palavra como semente exercer a sua acção e para o presidente ouvir-se a si mesmo, como se fora um entre os ouvintes. E, como por analogia com o ler, falar é ser ‘falado’ pelo que diz, o presidente, como ouvinte de si mesmo, devia ‘emigrar’ para o meio da assembleia. Este exercício pedagógico, imaginar-se na situação do outro, é um processo para saber-se ao seu serviço e aprendiz da Assembleia. Deste modo, ele, de ouvinte da Palavra e seu ‘eco’, credibiliza-se. Mesmo como mero exer-cício mental, este ‘emigrar’, além de evitar situações desagradáveis de abandono por ocasião da homilia, ou outros extravios danosos, torna-o mais sensível à assembleia e disponível para Palavra; perde a pre-tensão do poder (‘eco’ de si) e apresenta-se na sua solidão como ‘eco’ da Palavra. O presidente, despo-jado da sua pretensão, apresenta-se numa solidão povoada pelas questões dos homens como ‘eco’ do poder da Palavra, que se fez Homem entre e para os homens.

A autoridade, atribuída à Palavra de Jesus, diz o Seu modo de estar, feito de conhecimento e ape-

lo de uma palavra autorizada porque convivente com o Pai e os discípulos; é um modo de falar pa-rabólico e não agressivo, replicativo e não ‘intimi-dante’, terapêutico e não de exclusão, sim-bolico e não dia-bólico.

De igual modo, deve a homilia ser uma palavra exortativa de ouvinte e aprendiz, de terapia relacio-nal, argumentativa, para entrar na vida pela via duma racionalidade crítica, sempre necessária, e mais ainda em fases de mudança acelerada e reacções fanáticas. E se os ouvintes a acolhem, a comunidade cresce à medida que a Palavra ‘ecoa’, e a ‘homilia’ deve ‘ajudar’. A sua palavra deve ser palavra construtiva, de modo que a pessoa “que entrou não é a mesma que se des-pede”, e não de exclusão; “mas veja cada um como edifica (1 Cor 3, 10) pela homilia.

O presidente, perante ouvintes de proveniên-cias diferentes, que podem ser visitantes ocasion-ais, ‘que não são deste redil’, membros de outras comunidades e ‘os seus’, num ambiente de anoni-mato difuso, expansivo e iliteracia galopante, como ‘homem de muitas antenas’ (B. Häring) qual Moisés no Êxodo precisa de fazer alianças com quem ‘procura’, recordando que somos baptizados com um nome, não anónimos, uma comunidade de sujeitos que como a samaritana pedem “dá-me dessa água”, depois de Jesus lhe ter pedido “dá-me de beber” (Jo 4, 15, 7). Ele deve recordar-se que está a dar uma imagem da Igreja, que está na sua paróquia, aos de fora, e, para os de dentro, a edifi-car a sua comunidade: diz S. Paulo: “somos coop-eradores de Deus” e os ouvintes são “o edifício de Deus” (1 Cor 3, 9).

O presidente, durante a viagem-imóvel da hom-ilia, sua ‘emigração’ e dos ouvintes, na ‘presença’ do Senhor, deve aos ouvintes para a viagem seguinte deixar as palavras de Jesus: “Eu estarei convosco”.

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BOLETIM 8

Secção OpInIãO

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA IV (C)

Autoridade

À comunidade pela via do capital social coloca-se a questão da autoridade que é colocar o seu exercício em questão: autoridade como

promotora ou inibidora, caminho ou obstáculo. Ao considerar, devem ter-se em conta várias incidências: a etimologia da autoridade que revela o seu tom relacional, a crise cultural da autoridade que mostra a necessidade de contrato implícito, as formas de agrupamento humano que despertam para urgên-cia de mudança e o exercício triplo da mesma diante que se situa face á confiança, capital social.

A mutação cultural pela crise da autoridade le-vanta a questão da ‘autoridade’ eclesial como uma entre outras, situada num mundo de racionalidade plural e não monolítico. A Igreja, ‘perita em humani-dade’, na sua particularidade, torna-se pensável “não sem os outros” e não “totalidade de sentido” em atitude peregrina” (M. Certeau) de busca de novas formas, para mostrar a sua diferença, pois “entre vós não deve ser assim...”.

As mudanças, que não nascem do nada, ‘intuem-se’ pela arte de estar diante das questões, do que faz pen-sar, o futuro que vem ao nosso encontro, pois somos o que seremos. Como o Reino cresce sem o homem se dar conta, reconhecer os sinais dos tempos, a crescer lenta e progressivamente, um paradigma emergente começa a aparecer. Há situações germinais que podem tornar-se a “crónica de uma morte anunciada”, manten-do o paradigma dominante. A comunhão, a crescer len-ta e progressivamente, é o melhor, o ‘capital’, sem que nada acontece, e são as pessoas, que “são o que serão” ‘os agentes da sua libertação’. A ‘gente’ deve promover-se a partir de ‘minorias cognitivas’ (E. Morin), “gerações interpelantes” (C. Péguy) que já habitam o tempo fu-turo de resposta ao que faz pensar.

A urgência da mudança na questão de exercer a autoridade coloca-se com frequência crítica em comunidades, que de normais passam a problemáti-cas. A comunidade é o lugar em que se partilha o que nos divide e o que nos liga, a liberdade (J. A.

M. M. CostA sAntos

Mourão), como o espaço em que florescemos juntos (T. Radcliffe). A comunidade, que é o “estar um-com-o-outro” de muitos, num fluir do Eu para o Tu: “existe onde acontece”, “onde dois ou três reunidos em (Seu) nome...”, “quando vos reunis em assembleia...”.

Entretanto, devem recordar-se as formas funda-mentais de agrupamento humano são a comuni-dade, sociedade e massa, conforme prevalece ou o elemento comunitário constituído pelo amor, ou o societário, constituído pelo direito, ou o massificante pelo poder da natureza. A massa, o enfeixamento de pessoas, atrofia a existência pessoal; o poder da natureza faz dela caricatura da comunidade e é uma ‘bomba de relógio’. A comunidade desenvolve a existência na reciprocidade (M. Buber), cultiva a interacção, onde “cada um é membro na parte que lhe cabe”. A comunidade, distinta da massa anónima inorganizada dotada apenas do poder da natureza, é um conjunto interactivo, capaz do utópico; ela ex-iste, enquanto “pugna por sua própria realidade co-munitária” (M. Buber) e onde o homem, solitário mas solidário, “pena cilícios da comunidade”(M. Torga).

A natureza é transversal, pois gratia supponit naturam, fides rationem; e sem cultura e conversão de paradigma o poder da natureza pode aparecer reduz-indo a comunidade a massa, degradando e regredindo de comunidade a massa, polarizando, dividindo-a en-tre uma massa e outra, que se identificam opondo-se com o poder da natureza. A esse nível, a massa são pe-dras contra pedras, que faíscam e incendeiam; fica um monte de pedras; mas sendo argumentos contra argu-mentos, as pedras podem dar uma catedral, “porque há um homem que pensa a catedral, e deixam de ser um monte de pedras (A. Saint-Exupéry). “Quando se desin-tegra a comunidade, temos de inventar-nos uma iden-tidade... descobrir o que somos. Muitos no Ruanda não sabiam se eram hutu ou tutsi até que a comunidade se desintegrou e viram-se obrigados a escolher precipita-damente” (T. Radcliffe). Aconteceu uma chacina entre cristãos.

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BOLETIM 9

A comunidade exige tempo para construir-se, enquanto a bomba de relógio destrói num ápice o que gerações construíram: por isso, devem todos situar-se perante a herança em risco de delapidar-se, pois “ ‘o sacrifício agradável a Deus é a nossa paz e concórdia e um povo reunido pela unidade do pai e do Filho e do Espírito Santo’ ” (LG 4. A Igreja é mãe

como “a mãe (que) não transmitira apenas a vida: ensinara aos filhos uma linguagem, confiara-lhes a bagagem tão lentamente acumulada no decurso dos séculos” (A. Saint Exupéry), como se estivessem perante o cordão da mãe, deixado em herança, que não se preserva mas divide-se em vez de partilhar-se. Mas, mesmo em casos extremos devia haver uma

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BOLETIM 10

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BOLETIM 11

moratória ou tréguas, momento de pausa, como na guerra para propor condições com sabedoria di-alógica de paz, para ‘salvar a comunidade’;

A liturgia eucarística inicia-se com o acto peniten-cial, que não é um mero rito mas acto de conversão permanente; colocado no início da celebração, pode ser entendido como “entregar as armas” para celebrar o “sacrifício agradável a Deus”. E o mesmo gesto peni-tencial devia tornar-se presente, ao lado da invocação ao Espírito Santo, em qualquer actividade comunitária da solução de problemas ou novas questões; da co-munidade, do seu estilo de vida, “os esforços para re-solver um problema devem converter-se em parte da memória colectiva e do fundo colectivo para resolver problemas” (M. Fullilove). Proceder deste modo será reconhecer que errar é humano e construir a comuni-dade, que é comunidade de perdoados, é dom de Deus; é reconhecer que somos irmãos mesmo no erro, ou na sua possibilidade. Esta atitude pedagógica evitaria po-larizações, cultiva a tolerância.

A autoridade, no seu paradoxo, compreende-se a partir do acontecimento inicial. Jesus, “o funda-dor”, que morre (‘desaparece’), toma corpo e sentido numa pluralidade de testemunhos, que são “não sem ele”; nenhuma das funções (testemunhos) diz ou circunscreve ‘a’ verdade, mas cada um remete aos outros. Jesus, que “permite limitando-se”, e o “limitar-se manifesta a relação verídica com Deus”, autoriza os testemunhos. A expressão ‘autoritária’ diz relação à única Autoridade, se dá lugar a outras expressões daquele que a tornou possível, Jesus Cristo. Por isso, a autoridade reconhece-se uma numa articulação plural de autoridades, que manifesta aquele que as autoriza (permite). A autoridade tem uma dupla car-acterística: condição de verdade e relação a outras.

A autoridade relacional faz aparecer o seu sen-tido, mostra a sua verdade em relação com a socie-dade (história) e impede a ideologia da tentação idolátrica. A tentação ‘autoritária’, idolátrica, que re-duz tudo a uma só autoridade, não respeita o seu re-gime comunitário (ortodoxia dialogal); desconhece a ‘regra de fé’, que remete uma autoridade às outras a partir da relação instauradora de Cristo ao Pai, e não se restringe a uma só função, ‘esquecendo’ a multi-dão dos outros testemunhos de Deus (M. Certeau), a “comunhão viva de todos” (Y. Congar). Uma auto-ridade “coloca-se no seu verdadeiro lugar quando se reconhece como um dos termos duma articula-ção plural”, que manifesta ser não sem as outras na estrutura comunitária da Igreja”, onde “uma sem as outras não se mantém”, como refere o II Concílio do Vaticano sobre as autoridades doutrinais (cf DV 10) (M. Certeau).

A autoridade ‘autoriza-se’, credibiliza-se por pro-cessos viáveis como (com e por) Cristo Filho, Camin-ho, parceiro e via. Sem a estrutura comunitária, na

ausência de mediações, de regras ou costumes nas comunidades, que controlam excessos da autori-dade surgem descaminhos na Igreja; com as media-ções (autoridade relacional), se ‘atenuava, se assim acontecesse, a tolice’ da autoridade. “A autoridade mitificada, só, paralisa uma história a ser feita em co-mum”. E sem responsabilidade partilhada, e a acusa-ção dispensa a participação, o outro é sempre o cul-pado. Mas, o poder ocupando todo o espaço, real ou imaginado, do que deve mudar, paradoxalmente, a vedetização (solidão) faz crescer a impotência, e os detentores do poder passam a demasiado modestos depois de terem sido demasiado seguros, esquivan-do-se. (M. Certeau).

A autoridade, etimologicamente, significa fazer crescer. A “autoridade” é a pessoa que faz crescer, desenvolver; ela não é a que se impõe de modo vio-lento, mas aquela que, pela argumentação, ajuda os outros a crescer de modo humano. Esta relaciona-se com a competência como referência. O sentido fun-damental da autoridade, qualquer forma, na Igreja, a sua diaconia, é o de ajudar a crescer na comun-hão. Cada baptizado deve crescer na sua condição de membro vivo e activo, na comunhão eclesial (A. Calero).

O capital parado é uma metáfora a confrontar com a parábola dos talentos. Perante a pobreza, crescer em novas formas de pobreza, a iliteracia a prosperar, a violência a grassar, a juventude e a terceira idade entregues a si mesmas, a esco-la em situação crítica, a família a interrogar, as-sembleias amorfas, casos dolorosos em algumas paróquias e que surgem aparentemente por razão nenhuma com protagonismos que são um ‘fora de lei’ na Igreja, manipulações cismáticas, perante tanta pobreza (de ideias) há tantas cau-sas (defensáveis) a esperar por quem as assuma como suas, que as faça passar de possível ‘bomba de relógio’ para acontecimento eclesial. A nível litúrgico é necessário saber estar na celebração e a nível pastoral é saber ser consequente e co-erente; tanto conflito seria ‘abortado’ na origem e a ‘bomba de relógio’ se evitaria; mesmo aí, ainda haveria recurso ponderado e cultural à ‘correcção fraterna’. Alguns países, saídos de situações vio-lentas, vão-no aplicando e são reconhecidos mesmo como milagres. E se a Igreja é “perita em humanidade”, se o não faz ver é capital parado. ‘Inventar’ uma pedagogia no diálogo com formas de pensar, que respondem a problemas noutras áreas, é ‘descobrir’ o capital social para responder a dificuldades. Como a semente precisa de tempo para crescer lenta e progressivamente e do tra-balho do semeador, progressividade, lentidão e trabalho devem ter-se em conta, pois ´”longa e lenta qualquer realização colectiva” (M. Torga).

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BOLETIM 12

Secção OpInIãO

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA V

A Força e a Forma da Liturgia

Cada gesto litúrgico nunca é uma coisa inútil: serve para perceber e dar a entender, porque tudo é símbolo, que significa e age na

profundidade das pessoas; tudo fala, desde o modo como estarmos de pé até às vestes do celebrante. A liturgia é uma forma e uma força; demos atenção a certas ingenuidades.

Em que condições e de que maneira a liturgia educa a vida cristã de uma comunidade? Em primeiro lugar, podemos responder: sempre, em qualquer caso e de alguma maneira, segundo o modo natural com que se celebra a liturgia. Nunca um qualquer gesto litúrgico é vão: cria um estilo, uma maneira de perceber e de entender, tanto mais penetrante quanto mais silencioso. Isto acontece devido a sua íntima força "simbólica", que faz que a liturgia seja sempre formativa, no bem e no mal.

A forma simbólica. Na liturgia, com efeito, tudo é símbolo, para dar forma e estilo à vida cristã de uma comunidade. Quando pensamos no mundo dos símbolos, normalmente pensamos em objetos, sinais que nos reenviam para realidades e significados mais profundos. Deste modo, na liturgia intuímos imediatamente a função simbólica do pão e do vinho, das vestes litúrgicas e do círio pascal, do incenso e da água. (69)

Podemos decidir valorizar o conjunto dos sinais litúrgicos como meios para um maior envolvimento da assembleia, sobretudo dos mais novos; podemos modificá-los, convencidos de que não falam mais imediatamente, e por isso devem ser substituídos por símbolos mais atualizados; podemos decidir dispensá-los, como se fossem ornamentos inúteis, que nos desviam do essencial; que importância pode ter, por exemplo, o gosto de uma hóstia de pão para a compreensão do mistério eucarístico?

PAoLo toMAtisRevista Vita Pastorale, Síntese, n. 211, Nov. / Dez. 2011, 69-73

Em cada um destes casos está em causa uma compreensão parcial e superficial da natureza simbólica da liturgia, que não se apercebe do facto de que na liturgia tudo é símbolo, que significa e age em profundidade nos corações das pessoas. Na liturgia tudo fala: o modo de estar sentados ou de pé; o facto de se rezar em conjunto num mesmo ritmo; o modo com que se proclamam as leituras por parte do leitor e o modo de rezar do celebrante; o sentido do "velho" e do que não está limpo quanto a alguns paramentos, tal como o modo com que se serve ao altar por parte dos ministros... na liturgia não existem detalhes inúteis: podemos afirmar que ninguém se pode subtrair à força simbólica do rito, porque também lá, onde a dimensão da ritualidade é ignorada e ninguém faz caso dela, em vez de ser uma coisa escolhida, mesmo assim ela fala e comunica.

A consciência da importância da forma simbólica é fundamental, para que não se criem contradições entre gestos e palavras, e para que o rito não se reduza à sua explicação. Neste sentido, explique-se quanto se queira a importância do baptismo a uma assembleia aparentemente afastada e distraída: mas nada é melhor do que uma (70) celebração bem preparada e executada para impressionar acerca do dom precioso que é oferecido com generosidade. Expliquem-se os gestos e as palavras da Missa quanto quisermos, mas nenhuma explicação poderá compensar a incapacidade de dar uma forma simbólica eloquente ao espaço, ao ritmo e aos gestos da celebração. Para que na liturgia tudo seja eloquente, é preciso não a sufocar com palavras, de tal modo que a forma da liturgia dê forma à fé, da comunidade.

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BOLETIM 13

A força simbólica. A importância de se passar de uma concepção "expressiva" do símbolo (como o objecto que se leva ao ofertório, com todas aquelas explicações que sufocam a eloquência e a beleza do ato de levar o pão e o vinho) a uma concepção "impressiva" do mesmo, exige compreender-se finalmente o símbolo como ação e relação simbólica.

O símbolo, nesta perspectiva, não é tanto uma coisa, mas é uma ação, sempre e de certa maneira, também quando se serve de sinais materiais. Enquanto ação e relação simbólica, a liturgia é um sujeito (a Igreja) que faz algo para outro sujeito (a assembleia), em nome de um terceiro sujeito, que representa o verdadeiro protagonista da ação: o Senhor Jesus.

Se do ponto de vista da "forma" simbólica na liturgia tudo fala, do ponto de vista da "força" simbólica na liturgia tudo age, para se realizar o encontro com o Senhor que está presente e que age com a Sua força salvífica. O que está verdadeiramente presente na ação da Igreja - o facto de ser Cristo quem batiza, que distribui pão eucarístico, que consagra o matrimónio, que toca no doente durante a unção, que perdoa os pecados - tudo isto deve poder (71) ser visto e "tocar-se" durante a ação litúrgica, através de todos os sentidos do corpo; é aqui que reside a forca simbólica, capaz de agir em profundidade tocando as cordas mais profundas dos afectos e das impressões sensíveis.

Também neste caso, a consciência da eficácia simbólica das ações rituais exige uma concretização numa mais atenta arte de celebrar. Contra o intelectualismo anestético que reduz a liturgia a conteúdos para explicação, trata-se de ativar a forca simbólica da liturgia; contra a deriva emocional e

estatizante que faz de tudo para cativar a atenção, porventura pensando que tudo isto é "participação ativa", trata-se apenas de orientar a forca simbólica da liturgia pelo facto de o Senhor Jesus estar nela presente (SC, n. 7).

A forma da liturgia é a forma da comunidade. Da natureza simbólica da liturgia cristã derivam o convite e o desafio para uma liturgia formativa, capaz de dar forma à fé de uma comunidade. Para que isto aconteça, é preciso superar algumas ingenuidades.

1) Em primeiro lugar temos a que consiste na explicação das coisas porque sufoca o rito; não é "explicando" que se dá forma à comunidade, mas "executando" tudo bem, todos os dias.

2) Em segundo lugar, a ilusão de se pensar que somos nós que damos forma à liturgia, inventando e reinventando, inserindo e tirando, de tal maneira que a forma final deixou já de ser a forma litúrgica da Igreja, vivida pela minha comunidade, mas o rito "da nossa paróquia" ou do nosso grupo.

3) A terceira ingenuidade, de tipo oposto, é pensar que a forma já existe, ali indisponível como se tivesse caído do céu, mas (72) que está à disposição de quem executa fielmente as rubricas. Enquanto "forma vivente", a forma da única liturgia é chamada a encarnar-se, portanto a adaptar-se, sem obviamente se desnaturar, no rosto singular de uma assembleia concreta: caso contrário, corre o risco de um formalismo frio e informe.

Contra os perigos do que é informal e do formalismo, do informe e do deforme, o desafio da formação litúrgica é o de criar uma forma de vida que recebe a sua forma da revelação evangélica e da tradição vivente da Igreja, de tal modo a dar forma evangélica e eclesial à comunidade.

Para este fim, não chega evitar as ingenuidades; devem cultivar-se algumas paixões: a paixão por uma forma espiritual e evangélica da celebração, capaz de orientar cada gesto, cada ministerialidade e cada coisa, para o Senhor e para o Seu Evangelho, de modo a dar à liturgia a forma da caridade, para que se possa dela dizer: «É a liturgia do Senhor Jesus»; a paixão por uma forma eclesial e ministerial da celebração, nem demasiado rígida, nem demasiado "líquida", de tal modo que em dada celebração todos se possam sentir suficientemente em casa e possam dizer dela: «É a liturgia da Igreja»; a paixão por uma forma estética harmoniosa e coerente, como sinal de uma «nobre simplicidade» (SC, n. 32), onde tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus (cf. Rm, 8, 28)

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BOLETIM 14

Nesta altura do ano, uma das grandes mara-vilhas, que certamente nos encanta a todos, é a força indomável da natureza que, depois

das agruras e rigores do Inverno, como que ressus-cita plena de vigor e de beleza, semeando múltiplas cores na paisagem que nos envolve. Ano após ano, somos convidados a admirar este “milagre” da vida e a fazer dele motivo de meditação.

Se os nossos olhos se deixam seduzir pelo en-canto que a natureza nos oferece, deixemos que o olhar do coração vá mais longe e se deixe extasiar na contemplação de Cristo Ressuscitado, vencedor da morte que o sepulcro encerrava. Depois da cruel-dade e da amargura da Paixão, depois da desumana e dolorosíssima Crucifixão, eis que surge a força in-vencível da Vida e o Mestre, que é Rei e Senhor, proc-lama para sempre a vitória do Amor sobre todos os ódios, divisões e tiranias.

Junto do sepulcro vazio, a Cruz, também ela já sem o Corpo chagado do Redentor, continua levan-tada ao alto, como sinal duma vitória anunciada. É agora tempo de descer a encosta do Calvário, ir até ao sepulcro vazio e levar a todos a jubilosa novidade: “Jesus Cristo e seu projeto não morreram, e viver agora tem finalidade”. À noite sombria da descren-ça, sucede a madrugada da esperança; do chão rega-do pelo sangue do condenado à morte, brotam rios de água viva de graça e de salvação. Cristo ressusci-tou!... está vivo para sempre!… Com ele, também nós ressuscitaremos…

Celebrar a Páscoa é entrar neste mistério da Vida que se faz vida e aceitar correr o risco de “dar o salto para a outra margem”, onde nos espera a Terra Pro-metida. É, por isso, tempo de nos fazermos ao camin-ho, porque segue à nossa frente Aquele que veio para nos garantir que só morre quem não ama…e quem ama não morrerá jamais…

Celebrar a Páscoa é entrar no Mistério de Cristo, Palavra do Pai… reconhecê-Lo vivo e presente “no partir do Pão” … aceitá-Lo na nossa vida… e, como

Páscoa: a grande festa da vida cristã

“novas criaturas”, levá-Lo aos outros. Páscoa é passa-gem daquilo que nos empobrece para um novo hor-izonte de compreensão da realidade; é libertação, saída daquilo que nos oprime e não realiza: saída dos nossos próprios labirintos e das nossas más opções. Páscoa é a mão de Deus que nos toca e nos liberta, indicando-nos o caminho para a liberdade dos filhos de Deus. Esta saída é a descoberta do Amor de Deus, assumida como experiência fundamental da nossa vida. Quem se encontra com Cristo ressuscitado saberá como viver, como optar, como decidir, como usar os seus bens, como relacionar-se com os irmãos, como perdoar, como amar.

Celebrar a Páscoa é algo de exigente, porque im-plica recomeçar de novo, exige renovar, transformar de dentro para fora. É, por isso, abertura à novidade. Há sempre na Páscoa uma grande surpresa e, ao mesmo tempo, uma grande dificuldade em recon-hecer o Ressuscitado. Vemos pelos relatos bíblicos que os discípulos tiveram grande dificuldade em reconhecer Cristo Ressuscitado. Uns pensavam que era um fantasma, alguém pensou que fosse um jar-dineiro e outros um caminhante. É esta também a nossa dificuldade.

Celebrar a Páscoa implica começar de novo com outro olhar - o olhar da fé - que reconhece o Senhor na fração do pão, na Palavra anunciada, na Igreja, na vida quotidiana. Por essa razão, a Páscoa não é apenas o Domingo de Páscoa, mas prolonga-se num tempo pascal onde aprendemos a viver a vida nova no quo-tidiano das nossas existências. O amor salvador de Deus, atualizado em cada Eucaristia celebrada, der-rama graças e bênçãos para toda a criação, para todo o homem. A humanidade precisa, urgentemente, de se sentir amada e abençoada por Deus, precisa de sentir a mão de Deus sobre cada ser humano…

Se, como os primeiros discípulos, perguntarmos “onde queres que celebremos a Páscoa”(cf. Mt 26, 17), Jesus responder-nos-á: na Igreja. E é sobretudo na celebração da Eucaristia que reconheceremos o Res-

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suscitado; nela seremos alimentados e enviados a anunciá-lo ao mundo inteiro, cheios de entusiasmo, para que a nossa alegria chegue a muitos outros co-rações.

“…Participai plenamente, com verdade, na Eucar-istia que é a Páscoa da Igreja. Celebrai-a comigo. Ofer-ecei a vossa vida para a redenção do mundo; sede sac-erdotes comigo, para glória da Santíssima Trindade. Celebrai-a no amor, senti o sofrimento dos vossos irmãos e ajudai-os a atravessar o deserto e o mar re-volto das injustiças e dos egoísmos de que são vítimas. A Páscoa tem de ser o triunfo da caridade. Fazei a pas-sagem, deixai que o Espírito Santo mude o vosso cora-ção, porque essa nossa passagem abrirá um sulco de esperança para tantos homens e mulheres que ainda estão no Egipto da escravidão. O mundo continua a precisar que a Páscoa da Igreja seja um grito de liber-tação”. (D. José Policarpo, Catequese no Domingo de Ramos, 2010)

Na realidade, vivemos, por estes dias, os acon-tecimentos fundamentais do ano litúrgico e, conse-quentemente, os acontecimentos mais marcantes da nossa identidade cristã: com Cristo sofremos e morremos; com Cristo ressuscitamos. É aqui que lançamos a âncora da fé para resistirmos às muitas tempestades que frequentemente põem em perigo a segurança da nossa fidelidade a Deus. É também aqui que vimos revestir o coração com a armadura da fortaleza para não o deixarmos sucumbir aos en-cantos das ilusórias propostas de felicidade com que somos seduzidos pela sociedade de hoje, fortemente marcada pelos sonhos do consumismo, do prazer e do facilitismo.

Tem assim todo o sentido o convite que este tempo nos oferece para saborearmos a Páscoa, com a convicção profunda de que vale mesmo a pena a proclamação da força da vida divina derramada em cada um de nós. No fundo, tudo se resume a duas ati-tudes fundamentais: uma vigilância apertada sobre nós mesmos (sempre inclinados a facilitar as coisas às realidades que moralmente nos destroem) e um infinito respeito pelos outros, mesmo que a sua ma-neira de ser e as suas opções de vida não sejam do nosso agrado. “Luta contigo e dialoga com os outros” pode muito bem ser, em resumo, o estilo de vida que devemos assumir.

Se de facto nos empenharmos por celebrar a Páscoa nesta perspetiva - olhando para as nossas tentações, que precisamos de dominar e de vencer, e olhando para os outros, que precisamos de acol-

her e de amar -, então estarão reunidas as condições necessárias para se sentir o verdadeiro sabor desta festa. É verdade que estas atitudes nos obrigam a estarmos vigilantes (cf. Ef 6), pois com muita facili-dade nos deixamos enredar pela teia das desculpas, que mais não são do que a manifestação da nossa preguiça espiritual e dos nossos egoísmos.

“Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos e reju-bilemos” (Salmo 118, 24), é a proclamação gloriosa do domingo de Páscoa que deverá continuar a ressoar no nosso coração. Cada novo dia da nossa existência deve ser “dia que o Senhor fez”, isto é, deve ser opor-tunidade de celebrar a vida, a comunhão, a alegria, o amor, o perdão, a tolerância, a paz e o bem.

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AmaresCATEQUESE DE ADULTOS EM AMARES

A Equipa Arciprestal de Catequese de Amares, promove, desde o passado mês de Novembro de 2013, encontros quinzenais de catequese

para adultos, que têm como objetivo a preparação para o sacramento da Confirmação e procuram pro-mover uma caminhada espiritual de aprofundamen-to da fé e do compromisso cristão, ao colocar estes adultos, numa situação de confronto da sua fé, com

a vida de todos os dias. Um dos formandos afirmou no início dos encontros que já tinha sido catequis-ta há muitos anos, mas o que o motivou a participar nestes encontros foi a curiosidade em “saber como é a catequese hoje”. O grupo é constituído por cerca de vinte pessoas, das quais cerca de metade recebe-rão o sacramento da Confirmação no próximo mês de Julho

No passado dia 29 de Março, os catequistas de Amares participaram no VI Dia Arcipres-tal do Catequista, organizado pela Equipa de

Catequese do Arciprestado de Amares. O evento ocorreu num dos mais belos recantos

do concelho de Amares, o Santuário de Nossa Sen-hora da Abadia, situada na freguesia de Sta. Maria de Bouro, contando com a presença de cerca de 60 catequistas e vários párocos do Arciprestado, entre eles o assistente da catequese, Pe. Jorge Ferreira, e o Arcipreste, o Pe. Avelino Mendes.

Sob o lema “Deus connosco”, o Encontro ini-ciou-se pelas 10h com violas e cânticos de acol-himento. Seguidamente o grupo teve oportuni-dade de refletir acerca do papel da oração nas suas vidas, tanto ao nível da catequese, como na sua vida pessoal, numa preparação para a Res-surreição de Jesus. Deste modo, o Pe. Rui Alber-to, debateu com os catequistas o tema “Oração: lugar de encontro com Deus e os outros”, explic-itando dois pontos fulcrais para se crescer na fé com qualidade, nomeadamente, rezar como Je-sus e, por outro lado, rezar com Jesus. Para isso, existem certas atitudes orantes para que essa mesma oração possa chegar a Deus: humildade, confiança e abertura.

VI DIA ARCIPRESTAL DO CATEQUISTA DE AMARES

Após esta conferência, seguiu-se o almoço partil-hado entre todos os participantes.

Durante a tarde os catequistas vivenciaram a oração sob diversas vertentes, participando em três workshops designados “Rezar com/na Natureza”, “Oração Contemplativa” e “Palavra e Oração”.

Finalmente, o Encontro terminou com uma cel-ebração penitencial presidida pelo Pe. Rui Alberto, na qual o grupo se pôde preparar para o sacramento da reconciliação que iria decorrer, brevemente, nas respetivas paróquias de cada catequista.

Secção pOnTES DOS ARCIpRESTADOS

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BOLETIM 17

Secção FORMAÇãO

o ano litúrgico

“No século XX sobretudo depois do Con-cílio, a comunidade cristã cresceu muito no modo de celebrar os Sacramentos,

sobretudo a Eucaristia. É preciso prosseguir nesta direção, dando particular revelo à Eucaristia domini-cal e ao próprio domingo, considerado um dia espe-cial de festa, dia do Senhor ressuscitado e do dom do Espírito, verdadeira Páscoa da semana.”1

«O capítulo V da Sacrosanctum Concilium es-tabelece a reforma do Ano Litúrgico com o intuito de destacar a centralização do mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo nas celebrações litúrgi-cas, tanto durante o ano quanto na semana, isto é, o Concílio desejou afirmar que a Páscoa é o tempo por excelência no Ano Litúrgico, e que o domingo é o dia por excelência na semana. Diante disto, este capítulo emana orientações catequéticas para a revalorização do domingo como o ‘Dia da Páscoa do Senhor’; do ‘Tempo da Quaresma’ como tempo de preparação penitencial para a grande Festa da Páscoa; e consid-erações sobre o culto dos Santos, enfatizando que suas Festas não devem prevalecer sobre os mistérios da salvação (SC 111).

Segundo a Sacrosanctum Concilium 106, o do-mingo, o dia do Senhor, é mantido como o principal dia de festa, pois, segundo a tradição apostólica, ele tem a sua origem no mesmo dia da ressurreição de Cristo. Nele, a Igreja celebra o mistério central da nos-sa fé, a Páscoa semanal, o Mistério Pascal.

1 João Paulo II, Novo Millennio Ineunte, 2001

ProPosta de reflexão da constituição SACROSAnCTum COnCILIum sobre a sagrada liturgia (Parte iii)siMão Pedro

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BOLETIM 18

Secção FORMAÇãO

O Ano Litúrgico possui como fundamento bíblico-teológico a ‘História da Salvação’ no qual a Igreja celebra o mistério da Encarnação, Nascimento, Ministério Público, Morte, Ressurreição, Ascensão, Pentecostes, e a espera da vinda do Senhor e, é nele que todo o cristão vive inserido em Cristo. O Ano Litúrgico propõe um caminho espiritual, oferecen-do um programa para se viver a graça do mistério de Cristo nos sucessivos momentos da sua vida. Para alcançar este objetivo, o Ano Litúrgico foi dividido em partes denominadas Tempos Litúrgicos, cada um dos quais relacionados com uma grande festividade integrada e atualizada no Tempo Cósmico, Biológico e Histórico. Por isso, toda Liturgia é celebrada num tempo, e todo dia é dia celebrativo.»2

PalavraMt 28, 1-10

Constituição: Sacrosanctum ConciliumCapitulo V, nn. 102 a 111

AprofundarPontes 7, À descoberta do ano litúrgicoSecretariado Nacional de Liturgia, O Ano Litúr-

gico e o Calendário

A música e a arte

“O primeiro modo de favorecer a participação do povo de Deus no rito sagrado é a condigna cel-ebração do mesmo; a arte da celebração é a melhor condição para a participação ativa (actuosa partici-patio). Aquela resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa.” (sacramentum Caritatis, 38)

«Na comunicação do humano com o divino, a música sempre esteve presente com a finalidade de glorificar a Deus e santificar os fiéis. A Música Sacra, património da Igreja, constituiu parte integrante da Liturgia, e será tanto mais santa quanto mais intima-mente estiver unida à Ação Litúrgica, como expressão da oração, como fator de comunhão e elemento de

2 Ambiente Virtual de Formação, www.ambientevirtual.org.br

maior solenidade (SC 112). O canto na Liturgia não é algo decorativo ou secundário para ocupar os fiéis durante a celebração do Mistério Pascal, mas parte integrante do culto público da Igreja. Sabe-se que ele, além de possuir uma força de expressão muito mais forte do que a fala, cria comunidade, liga pes-soas entre si, e é a expressão mais natural, mediante a qual uma concentração numerosa de gente pode manifestar-se. Ele sabe expressar o indizível!»3

«As Artes Sacras são manifestações artísticas, ob-jetos que são usados na Igreja para as Celebrações Litúrgicas ou para a catequese. Elas tendem a expri-mir, pelas mãos do artista, a infinita beleza de Deus, contribuindo e conduzindo o espírito do homem até Ele (SC 122). As artes trazem uma conceção teológica que tem como finalidade propiciar ao povo cristão a experiência da leveza e beleza espiritual que se manifesta como louvor a Deus. Os objetos artísticos religiosos ajudam o povo a contemplar o mistério na medida em que fazem interiorizar e sentir o re-ligioso manifestando-se nas vidas. A Sacrosactum Concilium cuidou para que também a Arte Litúrgica, seguisse a orientação cristocêntrica do Concílio, isto é, procurou destacar que tudo deve estar em função de Cristo. A Igreja não possui um estilo próprio de arte sacra, mas aceitou e aceita todas, de qualquer época, e defende que seja também cultivada a Arte do tempo presente, de todos os povos e regiões. E, toda arte que serve de instrumento, de sinal e de símbolo do sobrenatural é amada pela Igreja, que deve ter o zelo na sua escolha, optando por obras que estão de acordo com a fé, a piedade e as orien-tações da tradição para serem objetos dignos, hon-rosos e belos ao culto. (SC123)»4

PalavraAp. 21, 1-8

Constituição: Sacrosanctum ConciliumCapitulo VI - VII, nn. 112 a 130

AprofundarJosé Paulo Antunes, Arte e Liturgia ou Arte Litúr-

gica? Novos Paradigma da Música Litúrgica, CCE 2500-2503

3 Ambiente Virtual de Formação, www.ambientevirtual.org.br4 ibid.

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BOLETIM 19

Alfaias LitúrgicasObjectivo: Conhecer os lugares, objectos e vestes utilizados nas celebrações litúrgicas.

Horizontal2. Vaso sagrado onde se coloca vinho e uma gota de água.4. Duas jarritas que se utilizam, na Eucaristia, para a água e para o vinho6. Recipiente onde se guardam as relíquias dos Santos.9. Sacrário.12. Livro que contém um sistema organizado de leituras bíblicas para uso nas celebrações litúrgicas.14. Pano de forma quadrada que se coloca sobre o altar para nele depositar o pão e o vinho da Eucaristia.16. Espaço onde está situada a fonte ou a pia baptismal.18. Pequeno recipiente que contém o incenso, em forma de barco.21. Designação dada a todos os objectos e vestes utilizados nas celebrações litúrgicas.22. Livro oficial, segundo o qual a Igreja celebra a sua Eucaristia23. Caixa pequena, onde se leva a Eucaristia aos doentes.24. Taça grande, com tampa amovível, onde se guarda o Pão eucarístico. 25. Incensário.26. Fonte baptismal. Recipiente de água benta, que se coloca à entrada das igrejas.

vertical1. Candeias, candelabros, candelária.2. Cera. Símbolo de Cristo-Luz, e que se coloca sobre uma coluna elegante ou candelabro adornado.3. Resina que, ao arder, produz um agradável aroma.5. Livro que contém os quatro Evangelhos, distribuídos para a sua leitura na liturgia.7. Mesinha situada de um lado do presbitério, onde se depositam e aguardam, até serem apresentadas no altar, os diversos elementos necessários para a celebração.8. Serve de guarda, protecção e defesa do que se considera de valor. Ostensório.10. Recipiente em que se expõem umas relíquias ou um fragmento da cruz ou, sobretudo, o Santíssimo, nas celebrações de culto eucarístico e nas procissões.11. Lugar do sacrifício de Cristo e mesa onde se celebra a Eucaristia.13. Pequena bandeja ou um pratinho pouco profundo, ligeiramente côncavo, onde se deposita o pão consagrado na Eucaristia14. Cadeira. Símbolo mais antigo do ministério episcopal, do seu magistério e da sua autoridade pastoral.15. Cruz.17. Vaso sagrado coberto com uma tampa, para conservar o Pão eucarístico.19. Peca comprida e estreita, da cor litúrgica do dia, que se põe sobre a alva. Os sacerdotes colocam-na à volta do pescoço, caindo as suas pontas em paralelo sobre os dois ombros e os diáconos usam-na cruzada, do ombro esquerdo para a direita20. Designava um lugar elevado, a tribuna, próxima da nave, donde se proclamava a Palavra de Deus.

Fonte: Dicionário da liturgia, Secretariado Nacional da Liturgia (http://www.portal.ecclesia.pt/ecclesiaout/liturgia/liturgia_site/dicionario/index.asp)Elaborado de acordo com a norma ortográfica da Língua Portuguesa anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

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BOLETIM 20

centro cultural e pastoral da arquidioceserua de S. Domingos, 94 B • 4710-435 Braga • tel. 253 203 180 • fax 253 203 190 [email protected] • www.diocese-braga.pt/catequese

impressão: empresa do diário do minho, lda.

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oração

Senhor, ensina-nos a viver e a celebrar dignamente o Mistério Pascal, Domingo após Domingo, Páscoa após Páscoa. Ensina-nos sobretudo a ter tempo para Te dar e para dar aos outros, para Te dizer e para Tu nos dizeres, e juntos, nos dizermos uns aos outros. Passa outra vez, Senhor. Dá-nos a mão. Levanta-nos. Não nos deixes ociosos nas praças. Sentados à beira do caminho. Sonolentos. Desavindos. A remendar bolsas e redes. Sacia-nos. Envia-nos, Senhor. E partiremos o Pão, o Perdão Até que cada um de nós nasça irmão. “Somos nós, somos nós, Senhor, a prova de que Tu ressuscitaste”. D. António Couto