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Lucio
Sello
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Copyright:

O 2006 Vera Facciollo

Organizadora da obra:

Karen Gisele Facciollo

Fotos e ilustrações:

Arquivos da autora

ilustração de capa:

Stanislas Klossowski de Rola Alchimie

Direitos reservados desta edição:

Vera Facciollo

Revisão de textos:

Fabiana Silvestre

Editoração eletrônica:

Soraia Korcsik Medeiros

Projeto gráfico:

Yangi Design

(www.yangidesign.com.br)

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Esta obra é dedicada a

Madame Helena Petrovna Blavatsky,

Grande Iniciada

João Regis Mendes,

Mestre Construtor e Adepto

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Muito obrigada

Agradeço de coração às pessoas que trabalharam com comovente

desprendimento para a realização deste livro. À minha filha Karen Gisele,

versátil, competente e incansável colaboradora. À Dolores Ugarte, sempre

vibrante e encorajadora, verdadeira expert em missões difíceis. E a

A. J. Gevaerd, corajoso pioneiro e admirável editor, cujo empenho e

de sua equipe finalmente tornou possível esta edição.

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Índice

Capa - Contracapa

9 Introdução A Busca Secreta

13 Capítulo 01 As Origens Ocultas da Astrologia

21 Capítulo 02 A Linguagem Hermética

27 Capítulo 03 O Povo Brasileiro e seu Horóscopo

37 Capítulo 04 Astrologia e Livre-Arbítrio

53 Capítulo 05 A Músico das Esferas

65 Capítulo 06 O Romance da Alquimia

89 Capítulo 07 Segredos Alquímicos no Simbolismo

Astrológico

103 Capítulo 08 O Zodíaco Sideral Uma Novidade de

3.500 Anos

109 Capítulo 09 Fulcanelli Um Alquimista Moderno

115 Capítulo 10 A Arte da Transmutação Astrológica

125 Capítulo 11 Em Defesa da Astrologia

135 Capítulo 12 As Raças Humanas

141 Capítulo 13 Os Caminhos da Evolução

157 Capítulo 14 O Natal, o Solstício e o Simbolismo Iniciático

da Lenda de Janus

171 Síntese Bibliográfica

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Introdução

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sta é uma coletânea de palestras, conferências e aulas que proferi

em congressos, colóquios e cursos de Astrologia e Esoterismo, no

Brasil e no exterior, entre 1976 e 2006. É o resultado de pesquisas,

leituras, meditação, contatos, viagens - físicas e astrais - e

experiências pessoais que, ao longo destas três décadas,

representaram meus focos de interesse e de busca espiritual. É freqüente a

presença dos temas filosóficos ou pelo menos a abordagem filosófica de

temas que foram tratados de maneira mais técnica em congressos. Eles

seguem uma linha de pensamento que inevitavelmente se volta para o

metafísico e para o transcendente.

De qualquer modo, demandaram meses ou anos de pesquisa e estudos,

não só de Astrologia, minha área profissional, como de Alquimia, que

representa minha busca secreta desde a adolescência. Alguns temas refletem

os eventos da época: respostas a ataques sofridos pela Astrologia através da

imprensa, assim como a preocupação de esclarecer pontos de vista

enganosos expressos pela mídia. Em princípio destinados ao público em

geral, os textos aqui selecionados foram propositalmente redigidos em

linguagem acessível. Os numerosos textos revestidos de caráter mais técnico

possivelmente serão compilados para uma futura publicação.

Gostaria de agradecer o carinho de meus alunos, que há anos vêm me

incentivando à publicação das palestras em forma de artigos. Algumas delas

foram gravadas e transcritas graças à dedicação deles. São materiais que se

teriam perdido não fosse esse trabalho cuidadoso. O crédito de muitas

informações e conceitos aqui apresentados cabe ao grande astrólogo Antonio

Facciollo Neto [Mestre e esposo da autora],

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que generosamente compartilhou comigo sua rica biblioteca esotérica, assim

como suas experiências iniciáticas e os resultados de 50 anos de estudos e

pesquisas nos campos da Astrologia e do Hermetismo. Preciosas edições, há

muito tempo esgotadas, foram fontes inestimáveis de informações, incluindo

obras raras do acervo do mago e iniciado João Regis Mendes. Expresso

ainda meu reconhecimento aos colegas astrólogos, irmãos e amigos, cuja

importante contribuição veio sob a forma de textos informativos, literatura

especializada e ilustrações. Aos irmãos da Arte Real, em especial a

Fulcanelli e ao Mestre S.H., devo a inspiração e os conhecimentos

alcançados na busca da Pedra Filosofal.

São Paulo, 26 de agosto de 2006. Vera

Facciollo

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Capítulo 01

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s compêndios que abordam esse tema costumam situar as origens

da Astrologia nas civilizações mesopotâmicas - hoje Iraque -

especialmente entre os caldeus, um povo que viveu na região

compreendida pelo Golfo Pérsico, Deserto Árabe e às margens do

Rio Eufrates. Cabe esclarecer que naquele tempo não havia

distinção entre Astronomia e Astrologia, já que o astrólogo era

obrigatoriamente um astrônomo, um observador do céu, e não somente um

intérprete das posições e relações entre as estrelas e os planetas.

A história conhecida dos caldeus não abrange mais do que três ou

quatro séculos. Entretanto, Cícero, em um de seus livros, afirma que os

caldeus possuíam registros das posições estelares que abarcavam um período

de 370 mil anos! Diodoro de Sícolo amplia esse período para nada menos

que 473 mil anos! E escritores como Epígenes e Critodemes atribuem aos

babilônios observações astronômicas que alcançam o extraordinário

intervalo de 490 mil a 720 mil anos! Essas observações relatam cada ciclo de

cheia do Rio Eufrates, em consonância com as posições dos planetas e

constelações, e contêm o horóscopo de cada criança nascida entre eles. Ora,

isso faz recuar um bocado a origem do próprio Homo Sapiens, muitíssimo

além do que estão dispostos a admitir nossos antropólogos, para quem a

invenção da escrita e a criação de um calendário são praticamente

impensáveis além de uns dez mil anos atrás.

Os gregos, de quem conhecemos a primeira menção de que a Terra é

redonda e gira em torno do Sol - Hiparco, Pitágoras - confessam que seus

conhecimentos científicos originais eram um tanto deficientes, e que eram

copiados de outros mais completos e mais antigos. Na verdade, os

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sábios gregos que desejassem ampliar sua cultura tinham de viajar para o

Egito. Alexandria foi, durante alguns séculos, a Meca científica da

Antigüidade. Heródoto, o próprio Pitágoras e Tales de Mileto foram

exemplo disso. A Mitologia Egípcia, que foi, em grande medida, a fonte

inspiradora da Mitologia Grega, era extremamente rica e variada. Sua

preocupação era codificar em símbolos todo o conhecimento científico,

filosófico, religioso e mágico da época. Seus monumentos, templos,

estátuas, figuras, pirâmides, túmulos, murais e pinturas são autênticos

tratados de Astronomia, Medicina, Matemática, Alquimia e Esoterismo.

Basta saber compreender e interpretá-los corretamente, o que, aliás, não é

tarefa fácil.

A Esfinge de Gizé, por exemplo, é, além de um templo onde se faziam

cerimônias de iniciação, uma síntese simbólica dos quatro elementos da

natureza, tais como utilizamos no estudo astrológico atual. Sua figura

representa os quatro signos fixos do Zodíaco, cada um pertencente a um

elemento, ou seja, a Terra, em seu corpo de Touro; o Fogo, em suas patas de

Leão; a Água, em suas Asas de Águia - o símbolo do signo de Escorpião,

quando sublima suas energias; e finalmente, em seu rosto humano mostra a

natureza do elemento Ar - signo de Aquário. É totalmente ignorada a época

de sua construção, mas estudiosos avaliaram sua idade em mais de nove mil

anos.

Há outros pontos bastante intrigantes nessa estranha e gigantesca

arquitetura egípcia. A Pirâmide de Kéops, com 149 metros de altura, possui

as arestas da base orientadas conforme os Pontos Cardeais, com uma

exatidão de centésimo de segundo! Para se ter uma idéia da proeza

arquitetônica que isso representa, basta dizer que seriam necessários

instrumentos óticos para delinear retas tão perfeitas. Nas obras da atual

engenharia, se usa o teodolito - uma pequena luneta por onde se observam à

distância os ângulos, retas e perpendiculares dos edifícios ou vias públicas.

Ora, algum arqueólogo poderia admitir que os egípcios de seis mil anos atrás

construíssem lunetas?! De resto, nossos engenheiros confessam que, apesar

das nossas técnicas modernas tão avançadas, somos absolutamente

incapazes hoje de construir uma pirâmide igual à de Kéops.

O advento de Hermes

Se existe uma figura a quem se pode realmente atribuir a paternidade

da Astrologia, é certamente Hermes Trismegisto - o Três Vezes Mestre - um

ser versado simultaneamente nas artes da Astrologia, da

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Alquimia e da Magia. São-lhe atribuídas mais de 2 mil obras, traduzidas

para o grego, talvez escritas por seus discípulos e seguidores - pertencentes,

quem sabe, a toda uma escola sacerdotal. Dentre elas, as mais famosas são a

Tábua de Esmeralda - um conjunto de citações de profundo sentido oculto,

que somente os alquimistas podem desvendar - e o Caibalion, que contém

os Sete Princípios da Natureza e explica em essência toda a lógica em que

repousa o conhecimento da Astrologia - além disso, sintetiza em apenas sete

leis todos os preceitos que regem nosso universo, sua organização e

evolução.

Supõe-se que Hermes tenha vivido no Egito no quarto milênio a.C. É

muito provável que não tenha sido apenas um homem, mas toda uma ordem

iniciática, cujos mestres englobavam uma sabedoria tal, associada a poderes

paranormais, que hoje temos dificuldade em compreender. Os egípcios

diziam que ele era uma encarnação do deus Mercúrio e o divinizaram com o

nome de Thot. Era representado por um homem com cabeça de íbis [Ave

sagrada do Egito, de bico longo e recurvo], segurando uma pena de

escrever e uma paleta de escriba - a escrita e a eloqüência são até hoje

atributos astrológicos do planeta Mercúrio. Toda uma cidade lhe foi

dedicada, Hermópolis, onde seu culto era mantido. Foi o inventor da escrita

hieroglífica e o escriba dos deuses, "o senhor da sabedoria e da magia".

Uma tradição judaica sustenta que Abrão foi seu contemporâneo,

tendo mesmo recebido de Hermes uma parte de seu conhecimento místico.

De qualquer modo, antigos papiros e estelas [Monumentos feitos de pedra,

normalmente em um só bloco, contendo representações pictóricas e

inscrições] descrevem Hermes como um deus que transmitiu ao povo do

Egito todo o conhecimento sobre o alfabeto, a linguagem, Matemática,

agricultura, música, danças, Astrologia, Alquimia e Medicina, além de

cumprir a tarefa de mensageiro de Osíris - o deus Sol – como um

representante da vontade divina na Terra, e ao mesmo tempo um fundador

da própria ordem social entre os mortais.

Os gregos "traduziram" Thot para sua própria mitologia, sob o nome

Hermes, com o qual é hoje mais conhecido, e conservaram todos os seus

atributos. As vezes, o representavam como um protetor da agricultura,

segurando um carneirinho no colo, quando então era intimamente associado

à Pan, uma divindade da natureza, meio homem, meio bode, cujo

simbolismo oculto é um tanto complicado. Essa associação Thot-Pan como

protetor e instrutor da humanidade leva à incrível semelhança de um nome

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bastante familiar a todos os brasileiros, como o grande deus indígena Tupã -

igualmente um mestre que ensinou a linguagem, a agricultura, a pesca e a

observação da Lua e das estrelas. Como se teria dado a "migração" de Thot

para o Brasil? Esse é um mistério digno de reflexão.

Um mestre na Babilônia

Beroso viveu na Caldéia no século III a.C, já durante o domínio

babilônio. Foi um sacerdote do culto de Bel e escreveu, em grego, três livros

sobre a história e a cultura da Babilônia. No primeiro, descreve a região da

Mesopotâmia e narra o surgimento do deus Oannes, meio homem, meio

peixe, que, auxiliado por outras divindades igualmente vindas do mar,

trouxe ao povo da Babilônia a civilização e os conhecimentos científicos.

Conta também a história da criação do mundo, de acordo com as lendas

locais, e inclui um relato da Astrologia e Astronomia da época. O segundo e

terceiro livros contêm uma detalhada cronologia da história da Babilônia e

da Assíria, começando com os Dez Reis Antes do Dilúvio, depois a história

do próprio dilúvio, seguida da restauração da monarquia, com a longa

linhagem dos reis após o dilúvio.

Textos acadianos escritos nos antigos caracteres cuneiformes, em

tabuinhas de barro, confirmam quase tudo que foi narrado por Beroso.

Conta-se que Beroso, já velho, foi viver numa ilha grega, Cos, onde fundou

a Escola das Ciências Secretas. Vitrúvio, sábio e famoso arquiteto e

engenheiro romano do primeiro século antes de nossa era, o descreve como

"o primeiro de uma longa lista de astrólogos de gênio que brotaram

diretamente das nações caldéias". A sabedoria e habilidade de Beroso como

astrólogo impressionaram de tal forma seus contemporâneos que, após sua

morte, lhe erigiram uma estátua. Como homenagem à veracidade de suas

predições astrológicas, fizeram essa imagem dotada de uma língua de ouro

maciço.

O mistério de uma civilização perdida

A história do deus Oannes é às vezes interpretada de maneira

simbólica. Alguns autores suspeitam que os conhecimentos atuais podem ter

tido uma origem comum, numa civilização muito adiantada, que se teria

desenvolvido num continente hoje submerso nas águas do Oceano Atlântico

- a lendária Atlântida. Oannes seria então um representante dessa

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raça desaparecida no mar - daí a simbólica cauda de peixe. Muitos e sólidos

argumentos apóiam essa teoria. Platão, em duas de suas obras, Crítias e

Timeu, cita a Atlântida e a descreve com ricos detalhes, sua geografia, seu

perfil orográfico - hoje confirmado por fotografias de profundidade do

Oceano - sua ordem social, seus deuses e costumes locais. Não só a

Astrologia, mas certos dogmas, costumes, linguagem, arquitetura, assim

como inúmeros aspectos religiosos e conhecimentos científicos são

demasiado parecidos entre si, quando comparamos civilizações tão distantes

como a egípcia, a maia-azteca, inca, chinesa, hindu e a de certas tribos

indígenas centro e norte-americanas e também africanas. Várias dessas

civilizações construíram pirâmides, mumificavam seus mortos ilustres,

faziam barcos de igual forma e com idênticos materiais.

Os símbolos astrológicos encontrados entre os aztecas são

significativamente parecidos com os chineses. Por exemplo, a Lebre, o

Macaco, a Serpente e o Cão aparecem em ambos os sistemas sem qualquer

alteração. Entretanto, o Tigre, o Crocodilo e o Galo - animais não

conhecidos naquele tempo na América - foram substituídos pelo Ocelote -

um felino rajado de médio porte - pelo Lagarto e pela Águia, nos quais

podemos facilmente reconhecer o parentesco com o sistema chinês.

A universalidade dos símbolos, a absoluta semelhança dos sistemas,

os nomes dados aos signos e às constelações, a idêntica influência atribuída

aos planetas, tudo sugere a existência de um ensinamento único, praticado

por todas as civilizações do passado, e que evoluiu, assumindo formas e

linguagem adaptadas a cada povo, mas guardando os princípios gerais em

sua essência. Flavio Josefo, falando dos judeus, afirma que Adão foi

instruído em Astrologia por inspiração divina. Sintomaticamente, a tradição

bíblica situa o paraíso terrestre na região compreendida entre os rios Tigre e

Eufrates, ou seja, exatamente na Mesopotâmia. Interpretando

simbolicamente Adão como representante "das primeiras raças humanas",

podemos concluir que a Astrologia foi conhecida por elas desde o início,

quase como um patrimônio cultural inato, ou pelo menos adquirido muito

cedo.

Uma ciência "do outro mundo"?

Por outro lado, quem ler atentamente o Livro de Enoch pode levantar

uma teoria bem diferente a respeito do mistério das origens da Astrologia.

Trata-se de um livro apócrifo, que foi subtraído do conjunto dos textos

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bíblicos oficiais, nos quais, porém, Enoch é bastante citado como profeta e

filho de Caim. Crê-se que foi escrito por volta do século III a.C, sendo,

portanto, contemporâneo de Beroso. Em seus versículos numerados, o Livro

de Enoch fala de "anjos" ou "filhos do Céu". Estes viram como as mulheres

da Terra eram formosas, as desejaram e tiveram filhos com elas. Foi então

que surgiram os gigantes. Eram malvados e, após consumirem toda a

colheita dos homens, se voltaram contra estes para devorá-los também.

Assim começa a desgraça para a raça humana, e também para os "anjos",

que, unindo-se às mulheres da Terra, violaram uma severíssima proibição, e

por isso passaram a sofrer terríveis castigos. Os "anjos" eram em número de

200, e "desceram" em Aradis, próximo ao Monte Harmon.

O livro cita os nomes de 18 de seus chefes. E esses anjos ensinaram às

mulheres a Magia, as propriedades das raízes e plantas e também a arte de

observar as estrelas, os signos, a Astronomia e os movimentos da Lua.

Enoch, no fim da história, desapareceu misteriosamente. Ele não morreu, diz

o livro, "mas Deus o levou vivo para o Céu". Bastante estranhos esses

"anjos", dotados de paixões tão humanas e de corpos tão sólidos! Não

seriam eles seres extraterrenos que pousaram com suas naves no alto da

montanha, raptaram Enoch, casaram com as belas mulheres da Terra,

geraram monstros genéticos e transmitiram aos homens um pouco da sua

ciência, tecnologia e poderes paranormais?

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Capítulo 02

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s iniciados, detentores de um mistério a preservar, sempre se

preocuparam em deixar para as gerações futuras uma pista de seu

segredo, na intenção de que não se perdesse. Eles deixaram

papiros, manuscritos, livros, etc, mas cuidaram de velar sua

mensagem utilizando-se de símbolos. É a Linguagem Hermética,

usada pela Maçonaria, pelos alquimistas e por todas as ordens iniciáticas. O

símbolo é uma imagem que transmite uma idéia. Às vezes utiliza um

atributo da coisa que se quer representar, às vezes uma parte essencial dessa

coisa. Ora faz uso de um personagem, ora constrói toda uma alegoria ou um

mito, no qual se alude à mensagem que se quer transmitir.

É por essa razão que surgiram as lendas iniciáticas. São histórias

aparentemente despretensiosas, em que animais falam, personagens entram

em aliança ou em atrito, produzindo eventos e desenrolando todo um

complicado enredo. E o caso das mitologias, que estão na raiz de todas as

religiões. O mito que lhes dá apoio é contado como se contivesse fatos reais

ocorridos há muito tempo - o que serve de justificativa para as coisas

improváveis descritas - e explica a origem de um fenômeno natural, como o

fogo, o trovão, a montanha, uma estrela, o nascimento de um herói, um

eclipse ou a perda de um dom que antes se possuía.

Dessa forma, surgiram os mitos sobre a origem da Terra, da vida ou

da raça humana, as catástrofes que afligiram povos antigos, as relações do

homem com a natureza e com os deuses - e naturalmente vieram, junto com

os mitos iniciáticos, as superstições ou deformações do mito por má

compreensão ou falsa interpretação. Tomando um exemplo da Mitologia

Grega, podemos estudar a Lenda da Medusa, um mito que

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pretende ao mesmo tempo preservar segredos astrológicos e alquímicos.

Medusa era uma mulher de aspecto muito feio e assustador. Em lugar dos

cabelos, tinha cobras que lhe saíam do couro cabeludo. Sua pele era escura e

metálica, as unhas tinham formato de garras terríveis, soltava uivos

lancinantes e possuía o dom de petrificar à distância qualquer ser que se

aproximasse e fosse visto por ela. Morava no alto de uma montanha e ao seu

redor havia estátuas humanas em atitudes variadas de ataque: eram os heróis

malsucedidos que tinham ousado invadir seus domínios e haviam sido

transformados em pedra. Era o terror da região.

Certo dia, o rei Polidectes festejava seu aniversário com amigos e

heróis quando Perseu, um dos filhos de Zeus, bastante animado pelo vinho

que tomara, propôs dar ao rei um presente excêntrico: a cabeça da Medusa.

O rei divertiu-se com a idéia de tal presente, mas o aceitou, forçando Perseu

a providenciar a entrega. Ao voltar a si de sua bebedeira, e lembrando-se da

louca oferta, Perseu entrou em depressão e sentou-se numa pedra para

meditar sobre o que faria. Apareceu-lhe então Hermes, o mensageiro dos

deuses, que lhe perguntou a razão de tal tristeza. Ciente dos perigos que

Perseu passaria numa missão daquelas, Hermes lhe prometeu ajuda. De fato,

um pouco mais tarde, retornou trazendo ao herói alguns itens muito

especiais para a arriscada tarefa: uma espada para cortar a cabeça do

monstro; um saco de couro bem vedado para guardar a cabeça cortada, para

que os olhos da Medusa não continuassem a petrificar quem a visse;

pequenas asas para colocar nos pés, e tornar o passo mais leve, de modo a

não despertar a atenção da Medusa; e finalmente um capacete, que tornaria

Perseu invisível.

Provido de tais apetrechos, a tarefa do herói ficou muito fácil, e ele se

desincumbiu a contento, levando ao rei o presente prometido. Do pescoço

cortado do monstro brotam então duas grandes figuras: o gigante Crisaor e o

cavalo alado Pégasus. Segundo a lenda, a cabeça da Medusa foi

transformada numa constelação e colocada no céu, ao lado da do próprio

Perseu. Este é representado nas cartas celestes segurando a cabeça da

Medusa, e ao lado o cavalo Pégasus, que se encontra nas vizinhanças, entre

as constelações de Áries e de Aquário. Um dos olhos da Medusa, que

corresponde à estrela Algol, fica hoje próximo do 26ª do signo zodiacal do

Touro. A explicação simbólica da lenda é, do ponto de vista astrológico, a

seguinte: no mapa de nascimento de uma pessoa, onde essa estrela Algol

estiver colocada como um significador da vida,

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tal pessoa corre o risco de ser decapitada, tal como foi a Medusa. Era uma

forma de preservar esse conhecimento sobre a influência dessa estrela no

mapa astral. Já a explicação alquímica é mais complexa: a Medusa

representa o mineral bruto, tal como retirado da mina - a nossa Pedra Bruta é

de natureza feminina, é escura como a figura mitológica, possui escórias em

estrias, que se parecem com cobras, é de caráter metálico e leva o iniciado

ao caminho da Pedra Filosofal.

Para que não haja dúvidas sobre o caráter alquímico da lenda, surgem

dois personagens do corpo mutilado da Medusa: Crisaor e Pégasus. Crisaor,

em grego, significa ouro, e nos remete à interpretação de que o final da obra

nos levará à possibilidade de fabricar ouro. Em segundo lugar, dá-nos uma

dica importante quanto aos cristais sólidos que se produzem após a primeira

manipulação ao forno, substância que leva o nome de Azoth e que é

considerada a verdadeira matéria-prima da Obra Alquímica - essa primeira

manipulação se chama, muito sugestivamente, cortar a cabeça do corvo!

Pégasus possui asas, e na Alquimia, asas significam uma substância

volátil, que se desvanece no ar. De fato, a segunda substância que nasce da

mesma manipulação é um espírito muito volátil, que precisa ficar bem

fechado - hermeticamente - num vaso, para que não se desvaneça. Aí vem

então a lenda complementar de Belorofonte, outro herói que se encarregará

de domar Pégasus, colocando-lhe um firme cabresto e usando-o a partir de

então como seu meio de transporte. Essa manipulação primeira, que reúne

três substâncias - sal, enxofre e mercúrio - produz, exatamente como na

destilação da cana-de-açúcar, de um lado o álcool - o espírito - e de outro o

melado - o Azoth - que precisará ser refinado e purificado até que se

transforme em açúcar. Do mesmo modo, o Azoth necessitará de posteriores

manipulações, até que se purifique e possa ser utilizado no futuro como um

poderoso agente. Assim vemos como um mito, ao mesmo tempo em que

orienta os iniciados como um roteiro oculto de operações secretas, de uma

ciência mais que secreta, esconde dos olhos dos não-iniciados tais segredos,

por trás da roupagem inocente dos símbolos.

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Capítulo 03

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horóscopo de uma criança começa quando ela emite o primeiro

grito e se separa de sua mãe, rompendo o cordão umbilical. O

horóscopo de um país, de maneira análoga, nasce quando ele

emite o grito de independência e se separa do país que o

colonizou ou dominou, cortando os laços que tolhiam sua

liberdade. D. Pedro I, de modo bastante significativo, não só lançou um grito

de independência, como cortou com a espada, num gesto simbólico, aquele

laço que prendia a nação brasileira à terra-mãe, Portugal, dando assim

origem ao tema astrológico do nosso país. Segundo narram os historiadores -

especialmente Rocha Pombo - esse fato ocorreu às 16h00 de um sábado, dia

07 de setembro de 1822.

Os acontecimentos mais marcantes da História nos permitem, através

de progressões, trânsitos planetários e grandes conjunções, estabelecer com

absoluta segurança o horário exato: 16h08, hora local, em São Paulo. Da

mesma forma que o horóscopo de um indivíduo, o mapa astrológico de um

país permite delinear o temperamento, o caráter, os gostos peculiares, o

modo de pensar de um povo - ainda que, em linhas gerais, descreva apenas

um "tipo médio", uma personalidade muito encontradiça entre esse povo.

Entretanto, a análise desse mapa mostra, com bastante fidelidade, a imagem

que esse povo sugere perante o mundo e perante si mesmo.

O mapa do país permite ainda prever as mais fortes tendências do seu

destino e as influências predominantes que se fazem sentir quanto ao seu

clima, agricultura, finanças, transportes, comunicações, educação, infância,

saúde, diplomacia, regime político, legislação, riquezas naturais, acidentes

geográficos, tipo de solo, situação da dívida externa

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e condições do abastecimento de gêneros. Nele está o retrato das nossas

virtudes, nosso potencial, nossas deficiências e nossas promessas para o

futuro. Ao contrário do horóscopo dos Estados Unidos, estabelecido no

momento da assinatura da Declaração da Independência, e provavelmente

programado conscientemente pelos vários astrólogos presentes a esse evento

- John Adams, Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, entre outros - o tema

do Brasil nasceu ao sabor das circunstâncias, sob o ímpeto de um imperador

jovem e temperamental, e sob a pressão insuportável do domínio

estrangeiro.

Nascida de "parto natural", a carta astrológica do Brasil reflete o

estado efetivo das coisas naquele instante, e mostra a evolução natural da

História, desde sua concepção - que é o mapa astral da descoberta oficial e

posse solene da Terra, ocorrida em 1º de maio de 1500, de acordo com o

Calendário Juliano, às 7h24, hora local, na Baía Cabrália, no Estado da

Bahia. Este é o mapa do Brasil-Colônia, com Vênus no ascendente, Lua em

Gêmeos, Sol em Touro junto com Saturno, e um magnífico Júpiter em

Peixes, quase no zênite. Esse mapa astral promete um futuro brilhante a um

povo doce e fraterno, numa terra cheia de belezas naturais e abundância. Era

a perfeita descrição do escrivão de bordo, Pero Vaz de Caminha, em sua

carta profética ao Rei de Portugal: "Em se plantando, tudo dá". O Mapa da

Independência o substituiu a partir de 1822, já com o Sol no signo de

Virgem, ascendente em Aquário, Lua em Gêmeos. (Vide Mapas na página

35)

A Lua não estava sozinha em Gêmeos nesse dia - ela vinha

acompanhada do maior planeta do nosso sistema, nada menos que Júpiter.

Assim, Lua e Júpiter transitavam, no dia da nossa Independência, ao 6º do

signo de Gêmeos, exatamente sobre o ascendente do Brasil-Colônia,

representando mudança, expansão e libertação. De acordo com as leis de

herança astrológica do ser humano, a Lua do nascimento se coloca no

ascendente do mapa da concepção. Mesmo numa gestação de 322 anos de

duração, o arquétipo foi obedecido! Ora, o horóscopo do Brasil-República -

15 de novembro de 1889, às 18h47, hora local no Rio de Janeiro -

igualmente coloca o ascendente em Gêmeos! Isso reforça e confirma para

além de qualquer dúvida a natureza geminiana desse povo, uma vez que

tanto a Lua como o ascendente dizem respeito à natureza e características do

povo de um país.

Inquieto, curioso, versátil, cheio de manhas, "jeitinhos", inteligente,

brincalhão até à molequice, engenhoso, hábil, comunicativo e com múltiplos

talentos para o comércio, a literatura, a comédia, o

30

Page 31: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

desenho, sem esquecer sua agilidade ao volante e seus naturais dotes

oratórios. Segundo o conceituado astrólogo Alan Leo, a combinação de Sol

em Virgem - em 07 de setembro - e a Lua em Gêmeos fazem o nato

amistoso e hospitaleiro, e o levam a mudar freqüentemente de ocupação, ou

a seguir duas ocupações ao mesmo tempo. De fato, é extremamente comum

que os brasileiros tenham duas atividades ou dois empregos - às vezes em

duas profissões diferentes. Os grandes defeitos dessa combinação tão

mercurial são: a leviandade, a superficialidade, a duplicidade, a indisciplina

e a irreverência.

A Lua em conjunção com Júpiter na 4- casa - a casa do lar, da família,

da terra natal, enfim, realça o traço da hospitalidade, generosidade,

tolerância e jovialidade, além de propiciar a fértil contribuição do imigrante

estrangeiro na agricultura e no desenvolvimento da nossa riqueza potencial,

sem falar na formação étnica do nosso povo, múltipla, variada e

harmoniosamente assimilada. É sem dúvida essa conjunção que gerou essa

fé inquebrantável que o povo deposita em seu destino. Pois não afirmamos

sempre que Deus é brasileiro?!

Reforçando a natureza intelectual do nosso povo, Mercúrio está em

seu signo de domicílio, em conjunção com o Sol, o que traz engenhosidade,

gênio prático, inteligência penetrante, capacidade de observação minuciosa,

senso crítico. O defeito mais óbvio dessa posição é o apego exagerado a

detalhes, a mania de criticar tudo, muitas vezes pelo simples prazer de

descobrir imperfeições, e também o talento insuperável que tem o brasileiro

de transformar tudo em burocracia: carimbos, assinaturas, papéis copiados

em 12 vias, quatro departamentos diferentes cuidando do mesmo assunto, e

o dever que todo cidadão tem de carregar consigo, em média, 11

documentos oficiais, destinados a comprovar, nas várias situações, sua

inocência, legitimidade, identidade, saúde, propriedade do automóvel,

habilitação profissional e de trânsito, e sua quitação com o fisco, o serviço

militar, seguro obrigatório, obrigações eleitorais, sem contar outros cinco ou

seis referentes à identificação bancária, comprovantes de renda e cartões de

crédito, que são opcionais.

Colocados ambos, Sol e Mercúrio, na 8ª casa, denotam nosso

indisfarçável pendor ocultista. Afinal, somos católicos no domingo e

espíritas na sexta-feira. O signo solar de Virgem torna o brasileiro apto para

a investigação científica, a pesquisa de laboratório e revela a forte

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Page 32: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

tendência de seguir a carreira médica. Quem não conhece o talento natural

que temos todos para dar receitas? E lembremo-nos de que o Brasil tem

produzido médicos, cirurgiões, dentistas, higienistas e terapeutas da mais

alta qualificação. Mas, chegou o momento de falarmos um pouco desse

nosso ascendente em Aquário. E essa posição que faz o brasileiro inventivo,

criativo, independente, individualista e ansioso por liberdade. Vem daí sua

atração pela mecânica, aviação, circo, futebol - afinal, Aquário rege as

pernas! - fotografia, televisão, cinema, aparelhos elétricos, discos voadores

e... Astrologia.

Já produzimos, graças a esse ascendente, alguns gênios e expoentes

que contribuíram de maneira significativa para a arte, cultura, ciência,

literatura, invenções magníficas - como o avião, a máquina fotográfica e a

máquina de escrever, invenções de brasileiros que outros pretensamente

criaram primeiro - e os esportes mundiais. São exemplo disso Santos

Dumont, Carlos Gomes, César Lattes, Rui Barbosa e Pelé. Por alguma

estranha razão, quase todos só puderam demonstrar seus talentos no

estrangeiro. E por outras estranhas razões, muitas das nossas invenções nos

foram subtraídas, ou seu valor menosprezado, e sua glória roubada.

Foi o caso do avião, por Santos Dumont, que fez sua prova diante de

milhares de pessoas, em plena Paris, vencendo o prêmio de Mais Pesado que

o Ar, em 23 de outubro de 1906. A invenção foi contestada pelos irmãos

Wright, cuja experiência não foi testemunhada por ninguém, a não ser eles

mesmos, não foi filmada nem fotografada, e dela só há registro de três curtos

- 30 segundos! - saltos no ar de uma geringonça que não voava em absoluto.

Foi também o caso da máquina de escrever, inventada pelo padre

paraibano Francisco João de Azevedo, e apresentada em 16 de novembro de

1861 na Exposição Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco. O

padre Azevedo foi até premiado por D.Pedro II por seu invento, mas sua

máquina, que se parecia com um piano pequenino, conforme explicava o

catálogo, não foi enviada à Exposição Internacional de Londres por falta de

espaço no pavilhão brasileiro! A invenção foi mais tarde aproveitada por

Remington, que levou a fama do invento.

Foi igualmente o caso de Hércules Florence, francês de nascimento,

mas radicado muito jovem em Campinas. Acredita-se que ele precedeu

Daguerre e Niepce na criação das técnicas que levaram à invenção da

fotografia. Temos, pois, material humano de valor inestimável, mas que

nunca

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Page 33: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

é devidamente reconhecido, ou o é tardiamente. É também o resultado

desse ascendente em Aquário a universalidade de interesses, a

abertura mental, o espírito de aventura, o pioneirismo e um

sensacional e inimitável dom para a improvisação. Dêem ao brasileiro

um barbante, um esparadrapo, um grampo, um pouco de cola, e ele faz

um trator funcionar ou um trem explodir, conforme a necessidade.

E onde estão os regentes desse ascendente? Um deles está na 3a

casa desenvolvendo idéias - eu diria "desbravando" idéias, pois é

Saturno - duramente, com sérias dificuldades devido às limitações do

meio ambiente, falta de estímulo e ausência de recursos, sem falar na

pressão exterior - representada pela oposição de Marte, vinda da 9ª

casa. Quanto ao outro regente, Urano, está na 11ª casa, em conjunção

com Netuno. E a casa das invenções e descobertas - muitas que nos

foram roubadas!

São projetos inspirados, fantásticos, capazes de alterar

profundamente a ordem das coisas - estão em Capricórnio - dentro e

fora do país - ambos em sêxtil, com Marte na 9ª casa - mas a

quadratura com Plutão traz o impedimento de "força maior", o

bloqueio

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O mapa do Brasil Colônia [à esquerda],

com Vênus no ascendente, Lua em

Gêmeos, Sol em Touro junto com

Saturno, e Júpiter em Peixes. 0 Mapa

da Independência [acima à esquerda] o

substituiu, já com o Sol no signo de

Virgem, ascendente em Aquário, Lua

em Gêmeos. Já o horóscopo do Brasil

República [acima] coloca o ascendente

em Gêmeos. Isso reforça a natureza

geminiana dos brasileiros

Page 34: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

intransponível e sem apelação. De onde vem essa quadratura? Da 2ª casa.

Falta de dinheiro talvez? A 11ª casa rege também os assuntos do Congresso

Nacional, o Legislativo. Temos aí dois planetas em conjunção, Urano e

Netuno. São eles os responsáveis pela mistura curiosa de tendências que

mostram os partidos políticos: esquerda e direita se mesclam sem qualquer

preconceito, e membros de um partido nominalmente de esquerda com

facilidade se mudam para outro de caráter direitista, e vice-versa. Os dois

planetas estão em quadratura com Plutão na 2ª casa, a casa do dinheiro.

Deve ser a razão pela qual tantas vezes surgem escândalos de natureza

financeira dentro dos partidos e no Congresso em geral. Mas Plutão garante

o "sumiço" permanente das propinas recebidas e das verbas desviadas,

mesmo quando o fato é denunciado e provado e os culpados apontados e

punidos: o dinheiro roubado nunca mais é encontrado, e muito menos

devolvido.

Nossa 3a casa - os transportes, correio, comunicações e escolas - tem

Saturno em oposição com Marte. Quem sabe, vem daí nosso hábito de fazer

greve nesses setores? E, sem dúvida, é essa oposição terrível que fez do

Brasil, durante anos, um dos campeões mundiais de desastres de trânsito nas

estradas. Ainda guardamos na memória as inúmeras tragédias envolvendo

nossa antiga ferrovia Central do Brasil. E nossas universidades? E nossas

escolas primárias? É triste o estado de abandono e o "luxo" que nos damos

de exilar e expulsar nossos melhores cérebros para trabalhar no exterior.

Considero esta oposição o maior desafio do mapa astrológico do

Brasil. Dominando a 10a casa, Marte criou no Brasil o costume de levar,

com estranha freqüência, os militares ao poder. Em contraposição, nossa

grande vantagem, nosso maior potencial, está na 4ª casa - as reservas

naturais - riquezas imensas contidas em nosso solo: minerais, energéticas,

hídricas, alimentares, fauna, flora, madeiras, numa terra farta de dimensões

continentais, livre de flagelos naturais que tanto matam e atormentam a

população de outros países, de climas variados e que permite o plantio de

infinitas espécies, além de proverbialmente fértil.

E por que, sendo tão grande sua reserva, não é o Brasil um país rico?

Ou, mudando um pouco a pergunta, para onde vão tantas reservas? O

regente da 4ª casa - Vênus - mostra para onde: para a 7ª casa - o estrangeiro.

Nosso ouro de Minas Gerais, por exemplo, após um longo périplo por

Portugal e França, foi parar na Inglaterra.

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Page 35: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

O reconhecimento da nossa independência custou aos cofres de D. Pedro I a

módica quantia de 8 milhões de libras esterlinas! E onde está o dispositor da

nossa conjunção Lua-Júpiter? Na 8ª casa - nossas reservas servem para pagar

dívidas externas!

Mas nem tudo é tão ruim quanto às relações exteriores. Afinal, temos

aí na 7ª casa nada menos que a bela Vênus. Nossos diplomatas têm uma

formação extraordinária, e o Brasil já produziu notáveis nomes, de prestígio

internacional, como Rui Barbosa - a "águia de Haia" - o barão de Rio Branco

e Afonso Arinos, chamados à mesa de conversações mundiais. É essa 7ª casa

a maior garantia que temos de relações pacíficas com o resto do mundo.

Num planeta sacudido por tantas guerras e convulsões terríveis, não é este

um consolo valioso?

Mas há um outro ponto que se destaca de maneira mais decisiva e

marcante e que trata da feliz promessa de um papel importante na construção

do mundo do futuro. Trata-se da nossa conjunção Urano-Netuno em

Capricórnio, signo de governo e de ordem política. É neste país que se está

engendrando a organização política e social que será vivida no Terceiro

Milênio. Numa síntese feliz e pioneira, o Brasil juntará a experiência do

capitalismo - Urano - e do socialismo - Netuno - criando um regime de

natureza mista e eclética, universal e livre, como convém a um ascendente

em Aquário. Nosso sistema tupiniquim, depois de alguns erros, tropeços e

escorregões, poderá ser exibido no mundo como um modelo curioso de

simbiose política, e nossa sociedade mostrará talvez uma estranha fusão de

tecnologia ultra-avançada - Urano - com energias mágicas obtidas através de

um saber transcendente - Netuno. Essa é talvez a imagem mais próxima

daquilo que será a Era de Aquário, na qual o Brasil se fará representar, sem

sombra de dúvida, não apenas como o celeiro alimentar e energético do

mundo, mas como um exemplo humano de progresso, liberdade e paz.

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Page 36: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

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Capítulo 04

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"Astra inclinant, non necessitant" (Os

astros inclinam, mas não obrigam)

enho visto algumas vezes alunos iniciantes de Astrologia tomados

por uma vaga dúvida, uma ponta de ceticismo em relação a essa

ciência. A dúvida é um aguilhão que impulsiona o autêntico

pesquisador em direção ao conhecimento, e, até certo ponto, ela

deve ser considerada um sintoma sadio da alma que está em

busca da verdade. Entretanto, ao escavar bem fundo essa dúvida, tenho

identificado muitas vezes um desejo recôndito de que não existisse a

realidade astrológica, para garantir mais amplamente aquilo que

convencionamos chamar "livre-arbítrio".

Quando o estudante afinal se convence de que não há saída, e os fatos

científicos se impõem aos seus olhos com toda a força e evidência da

verdade irrecorrível, surge inevitavelmente a indagação: mas, se a Astrologia

é um fato, será que nós somos um mísero e indefeso joguete dos astros, e

tudo que nos acontece é fruto de ângulos planetários? Seremos bonecos

cujas ações, longe de ser o produto de uma vontade própria, são apenas o

resultado de uma posição astronômica no espaço naquele instante longínquo

em que nascemos? Nosso amor próprio, nosso orgulho humano se revoltam

contra tal idéia. Nada mais chocante do que acreditar durante toda uma vida

que sempre fizemos o que desejávamos, e descobrir um dia que mãos

invisíveis teciam nosso destino e haviam movimentado a cada instante os

cordéis da nossa vontade. A crise filosófica em que esse raciocínio

necessariamente nos submerge, além de nosso sentimento de angústia e

rebelião, se tornam ainda mais profundos quando nos detemos a observar a

realidade à nossa volta e descobrimos aquilo que só podemos qualificar de

terrível injustiça cósmica: ricos e pobres, nobres e miseráveis, felizes e

infelizes, sadios e doentes, puros e sórdidos, perfeitos e mutilados, lutadores

e parasitas, coexistindo lado a lado, evidenciando uma

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Page 40: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

outra realidade interna, essa produzida pela visão exclusiva e privilegiada do

astrólogo - a dos horóscopos individuais - igualmente cheia de disparidades

e contrastes. É claro que idêntica consideração filosófica se impõe àquele

que não possui a bagagem do astrólogo. Essa mesma realidade de contrastes

nos é apresenta à vista diariamente e não deixa de nos conduzir a uma

incômoda dúvida sobre a bondade infinita do nosso criador, na qual

desejamos por força acreditar e que nos foi ensinada em quase todas as

doutrinas religiosas.

Mas a visão do astrólogo mostra algo mais: mostra qualquer coisa que

soa a inevitável e a irrevogável. É nesse momento que a crise chega a um

impasse: duvidar da Astrologia - e há um ponto em que isso já não é mais

possível - ou da justiça divina - e isso significa derrubar um alicerce no qual

nosso inconsciente está solidamente ancorado, de uma forma ou de outra.

Resta a posição materialista de que não existe Deus e, portanto, não há lugar

para considerações sobre "bondade" ou "justiça" divinas. Existem

horóscopos individuais "felizes" e "infelizes" e isso encerraria a questão.

Não deixa de ser uma posição cômoda como doutrina filosófica, mas

obviamente não responde à indagação básica, que é a do determinismo

versus livre-arbítrio.

Para aqueles que buscam uma explicação transcendente, há a resposta

dos espiritualistas: tudo o que somos hoje é produto de nossos próprios atos

passados, em vidas anteriores - a Lei do Karma ou da Causa e Efeito. A

bondade divina se manifesta nas múltiplas oportunidades que nos confere o

universo para redimir nossos erros e aprender com as novas experiências

oferecidas em cada encarnação, e assim progredir na senda da verdade, até

alcançarmos o Nirvana. Todo sofrimento é justo, pois resulta de uma má

ação cometida por nós mesmos. Todo benefício é igualmente justo, uma vez

que nos advém de um mérito passado. Nosso horóscopo individual, de

acordo com esse raciocínio, nada mais é, portanto, que o "saldo" de nossas

ações passadas, e a nossa "conta-corrente" herdada do conjunto das

encarnações anteriores.

Essa posição espiritualista nos reconcilia com o Criador, e nos

permite voltar a crer na sua bondade e justiça - embora ainda possamos

indagar por que é que Ele nos deixou um dia incorrer no primeiro erro, o que

causou todos os outros e nos prendeu tão irremediavelmente à roda triturante

das reencarnações. E a resposta a isso talvez pudesse ser "porque ele nos deu

livre-arbítrio para optar entre o bem e o mal e, naquele dia, nós

infelizmente optamos pelo mal". Mas, redargüimos, não poderíamos agir mal

senão em função de uma potencialidade para o mal! E essa

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Page 41: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

potencialidade para o mal não nos adviria do nosso próprio horóscopo

"infeliz"? E se nascemos com tal horóscopo "infeliz", isso não tinha que ser

necessariamente a conseqüência de um erro anterior?!

Há certamente um sofisma neste raciocínio, na presumida

potencialidade para o mal: ela existe não apenas no horóscopo "infeliz", mas

também no "feliz". E assim a pergunta se alonga para muito mais além, e

teríamos que questionar sobre o porquê da existência do mal em si. Mas isso

pertence ao campo da Metafísica, não mais da Astrologia. Ainda que a

explicação espiritualista nos deixe em paz novamente com o Criador, ela não

resolve, à primeira vista, a questão do livre-arbítrio, de acordo com a visão

astrológica. De certa forma, a proposta reencarnacionista nega o

livre-arbítrio quando nos leva a concluir que nosso horóscopo é fruto

inevitável de nossas ações passadas. Isso seria o mesmo que dizer: uma vez

estabelecido o horóscopo de nascimento - "feliz" ou "infeliz" - tudo que nele

está prometido, agradável ou desagradável, terá necessariamente que se

realizar, para que nossas "dívidas" passadas sejam pagas e os méritos

"cobrados" aos que nos deviam - "Perdoai as nossas ofensas, assim como

nós perdoamos àqueles que nos ofenderam". Não seria uma forma de pedir a

abreviação dessa espécie de "vendetta" cósmica?

Por esse raciocínio, no entanto, notamos que a inevitabilidade do

nosso destino transcende os limites do horóscopo, que corresponde à nossa

atual encarnação, e se estende aos futuros horóscopos que herdaremos. As

"dívidas" atuais são pagas, os méritos são "cobrados" e o "saldo" resultante

se transfere para a encarnação futura, segundo um horóscopo que lhe

corresponde em número e medida, e assim sucessivamente. Mas a resposta

reencarnacionista certamente não nega o livre-arbítrio. Pelo contrário, o

exalta. Ela nos diz que as circunstâncias da vida - nós traduziremos por "as

condições astrológicas do nascimento" - nos colocam diante de certas

escolhas, e são essas escolhas que irão determinar a espécie de vida - nós

diremos "o horóscopo" - futura que teremos.

De fato, a inevitabilidade não está na escolha que fazemos, mas nas

condições astrológicas que a puseram diante de nós - e estas sim são fruto de

nossos atos passados. A forma de nossa escolha é livre e ditada unicamente

pela nossa vontade. E ela que determina as "flutuações" do nosso "saldo"

kármico, calcando os pratos da balança para cima ou para baixo. Em suma,

movimentamos a nossa conta bancária do "céu", acumulando reservas para

as vidas futuras ou dilapidando as já existentes, de acordo com as ações

presentes, que são opções livres diante de fatos inevitáveis. Não resta dúvida

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Page 42: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

de que, colocada desta forma, a explicação espiritualista nos satisfaz muito

mais amplamente do que qualquer teoria materialista. Ela torna compatível

um aparente determinismo com o nosso conceito de justiça e adapta a visão

astrológica a parâmetros filosóficos muito mais aceitáveis para o espírito

racional. Resta ainda, porém, explicar de que maneira as circunstâncias

astrológicas inevitáveis, pois que já estão estabelecidas quando nascemos, se

colocam diante de nós para escolha - essa voluntária - e qual seria na

verdade o nosso grau de liberdade nessa escolha, dado que esta mesma não

poderia estar livre das próprias circunstâncias astrológicas que as

produziram.

A transmutação astrológica

Se, em determinado período da vida estamos sob um influxo cósmico

que a Astrologia qualifica como Quadratura de Saturno - o que deve ser

traduzido como um período muito difícil, desagradável, duro, cheio de

privações e adiamentos, perdas e sofrimentos, pela natureza maléfica do

planeta e do ângulo em questão - a tradição nos ensina que uma série de

acontecimentos nos aguarda, todos relacionados com a natureza própria do

planeta Saturno, além de outras considerações que nos remetem a cada caso

individual - tais como a casa onde se localiza o planeta, as casas regidas por

ele, etc. Para simplificar, vamos enumerar apenas cinco das conseqüências

prováveis dessa quadratura: morte de um parente idoso; fratura de um osso;

um mau negócio imobiliário; uma profunda depressão psíquica e debilidade

física; ou uma situação de grande isolamento e privação das condições

normais de conforto.

Certamente, nenhuma dessas opções nos parece atrativa. Por nossa

vontade, evitaríamos todas elas. Saturno, porém, exige seu imposto, é

preciso satisfazê-lo, pois em Astrologia, não existe "sonegação". Muita

gente optará por pagar esse "imposto" no plano físico: uma fratura, uma

doença, uma depressão lhe parecerão mais baratas que a perda de um ente

querido. Outros preferirão uma perda financeira. Outros pagarão o imposto

na íntegra, sofrendo nos cinco itens. Uma questão que depende do grau de

evolução individual ou do nível em que se encontra a "dívida" atual em

termos kármicos.

Está claro que, na imensa maioria dos casos, essa "opção" é

absolutamente inconsciente. Há um fluxo de energia proveniente da vontade

íntima que sopra na direção dos acontecimentos que o indivíduo mais

necessita experimentar, a título de evolução espiritual. Ou sopra na direção

que seu superconsciente exige como "cobrança" kármica. São mecanismos

complexos que

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Page 43: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

somente os interessados no campo esotérico chegam a estudar. De qualquer

forma, existe uma opção possível, e está entre os vários planos de vivência

de um aspecto ou posição astrológica - seja no mapa de nascimento, seja nas

progressões e trânsitos durante a vida. Como nos ensina Hermes

Trismegisto, "existem vários planos de causalidade, porém, nada escapa à

lei". Creio que esta frase resume o que se pode dizer de mais importante em

matéria de livre-arbítrio. Podemos "jogar" entre os vários planos causais,

mas não podemos simplesmente fugir a um aspecto ou influência, qualquer

que seja.

Quais serão esses "planos de causalidade"? Podemos enumerar cinco

deles, os mais comuns em nossa vida terrestre: lº) plano físico; 2°)

emocional; 3º) social; 4º) profissional e 5º) simbólico. O plano físico é o

preferido da maioria das pessoas. É através da saúde que mais

freqüentemente resgatamos nosso karma. No exemplo do aspecto de

Saturno, que mencionamos há pouco, é uma fratura, que nos imobiliza numa

camada de gesso, ou uma doença prolongada, que nos amarra a um leito de

hospital. No plano emocional, é uma depressão, que nos subtrai a alegria de

viver, nos afasta dos amigos e da família e nos obriga a passar por

tratamentos penosos. Pode ser também uma dor moral, um medo, uma

preocupação, uma pesada responsabilidade que nos assusta e rouba nossa

paz de espírito.

No plano social, a influência se dilui entre pessoas de nosso convívio

- a família, os amigos, os colegas de estudo e trabalho. Saturno cria

distancia, esfria relacionamentos, separa e chega a destruir vidas ao nosso

redor. Pouco poder de decisão nos compete neste plano, já que nele

dependemos de terceiros, e, mesmo que façamos nossa parte para evitar as

piores conseqüências, nada podemos fazer a respeito da vontade alheia. O

plano profissional é, em parte, um desdobramento do social, mas merece

algumas considerações especiais. Na nossa atividade profissional cotidiana,

vivemos aspectos astrológicos através de clientes, por exemplo. É como uma

"transferência" da força do aspecto para outras pessoas. Assim, ao invés de

sofrermos nós uma fratura, atendemos um cliente que acaba de ter uma. Ao

invés de termos uma perda financeira, recebemos no escritório um cliente

que faliu.

A vivência neste plano é particularmente reconhecível nas atividades

que podemos denominar "sacerdotais", ou seja, naquelas em que se

subentende um aconselhamento ou prestação de socorro. É o caso, por

exemplo, dos médicos, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, assistentes

sociais, sacerdotes e astrólogos, é claro. Finalmente, o plano simbólico é o

mais sutil. Em nossos sonhos e pesadelos "descarregamos" os medos,

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Page 44: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

angústias, preocupações e desejos reprimidos. Ao sonharmos com uma

guerra, por exemplo, vivemos um aspecto negativo de Marte; sonhando com

cemitério, campos devastados, desertos e pragas domésticas, "gastamos" um

Saturno negativo. E assim por diante.

A vivência simbólica é mais freqüente do que pensamos nesta Era

Moderna. Após a invenção do cinema e dos jogos computadorizados,

abriu-se para nós mais uma opção de "descarga" de aspectos negativos.

Assistimos a um filme de guerra e, quanto mais violento, mais o planeta

Marte se declara satisfeito; vemos um filme de Kung-Fu, e Plutão - quem

sabe também Marte, Saturno, Netuno e Urano, todos juntos! - ficam em paz

conosco. Um drama de amor - quanto mais lacrimal, melhor - e aí gastamos

a dor que nos produziria Vênus num drama autêntico. Um bom videogame

simula com perfeição um combate aéreo - quem sabe lá gastamos o risco de

um acidente de verdade!

O segredo da vivência simbólica é a transferência do sofrimento físico

para um plano intelectual ou emocional, não raro tão ou até mais intenso

ainda do que seria o drama físico, só que compactado num pequeno espaço

de tempo - o tempo que dura o filme ou o jogo. Se medíssemos as lágrimas

derramadas por alguns telespectadores durante um só capítulo de certas

novelas, é provável que superem as que dispenderiam numa separação

conjugai. Ou se aferíssemos a pulsação e os batimentos cardíacos de um

garoto enquanto mede forças com seu videogame, certamente entenderíamos

a descarga de energia que isso representa para Urano ou Marte em mau

aspecto.

Aos artistas, o reino dos símbolos destinou uma válvula especial para

cada mau aspecto: pinte para si mesmo um quadro triste, e lá se vai a

quadratura de Saturno, transformada nas tintas de uma paisagem

melancólica; componha uma marcha militar, e Marte se gratifica com ela;

escreva uma poesia nostálgica, e Vênus se delicia; escave na pedra a

escultura de um pequeno monstro, e Plutão desejará levá-la para sua coleção

particular. Não há mau aspecto de Saturno com Plutão que resista a uma

carreira como a de Steven Spielberg, o grande cineasta da atualidade, cujas

criações cinematográficas jamais deixam de registrar cenas horripilantes, em

que baratas, escorpiões e serpentes disputam espaço com cadáveres em

putrefação, alimentos repulsivos, tripas arrancadas à mão e gente esmagada,

devorada ou triturada aos pedacinhos. Spielberg - que, não por acaso, possui

em seu mapa natal uma conjunção Saturno-Plutão - é uma verdadeira

panacéia para descarregar aspectos que tragam desastres terríveis.

Consciente ou inconscientemente, este cineasta usa em sua criação tudo

aquilo que poderia ocorrer com ele na vida

44

Page 45: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

diária. Outro exemplo interessante disso está em Van Gogh, outra vítima do

mau aspecto Saturno-Plutão, que passou a vida a pintar cenas de miséria

humana; ou Victor Hugo, com o mesmo aspecto, que teve uma enorme

produção literária, mas cuja obra mais famosa foi exatamente a que retrata

as mais tristes cenas da exploração humana: "Os Miseráveis".

Percebemos por estes exemplos uma das possibilidades de usar nosso

livre-arbítrio: podemos transferir a vivência dos aspectos astrológicos de um

plano para outro. Como já dissemos, essa transferência é inconsciente na

maioria dos casos. Mas pode tornar-se consciente quando a pessoa conhece

Astrologia, identifica ou prevê os aspectos que a afetam e assume a

responsabilidade de desviar a força do aspecto para outra direção. Em geral,

basta a vontade forte para promover a transferência. Entretanto, é sempre útil

empregar um ponto de apoio, como um filme, uma novela, o jogo certo ou a

criação artística, pois não deixam de ser formas mágicas de defender-se dos

aspectos nefastos.

Neste capítulo sobre as vivências simbólicas, cabe ainda citar as do

gênero cerimonial, que são em geral aplicadas de forma programada,

intencional. É o caso das ordens iniciáticas, como a Maçonaria e a Rosacruz.

Em ambas, tal como nas antigas cerimônias do Egito, determinados ritos

simulam a morte do candidato à iniciação nos mistérios. Foram criadas com

a finalidade de preparar o candidato para o verdadeiro momento da sua

morte, mas também para fazê-lo sofrer a morte simbólica para a vida

profana, e seu renascer para uma nova vida de iniciado.

No Egito - e ainda hoje nas lojas maçônicas mais preocupadas com a

perpetuação dos antigos segredos - tais cerimônias desencadeavam enorme

força mágica, onde mantras especiais e uma poderosa egrégora se somavam

para produzir no profano um formidável impacto. Exatamente a força desse

impacto era capaz de "descarregar" as energias negativas de sua existência

profana, e, de quebra, resolvia os maus aspectos astrológicos que pudessem

abreviar indevidamente o curso de sua vida.

Conheci certa vez uma senhora que passava por um período crítico na

vida. Sua convivência em família era problemática, tinha conflitos com o

marido, a atividade profissional ia mal, tudo estava naufragando. Desejou

morrer, porém, não lhe passava pela idéia suicidar-se, fosse por sua

formação religiosa, fosse porque tinha filhos menores para criar. Mas, tendo

algum conhecimento quanto aos ritos simbólicos, preparou para si mesma

um "funeral". Sozinha em casa, e, em absoluto segredo, cercada por quatro

velas acesas, deitou-se

45

Page 46: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

na cama, cobriu-se com um pano negro e, através de uma prática que lhe era

familiar, entrou em "alfa", programando-se para retornar dali a algumas

horas. Voltou à vigília consideravelmente aliviada das tensões e muito mais

preparada para enfrentar suas dificuldades. A pequena cerimônia serviu-lhe,

portanto, às mil maravilhas para descarregar os pesados problemas que vivia.

Tão poderoso foi seu singelo ritual solitário, do qual se absteve de

falar com qualquer pessoa da família, que, na manhã seguinte, a filha menor,

com quem tinha uma ligação mais afetuosa, entrou correndo em seu quarto,

tomada de prantos convulsivos, e gritando: "Mamãe, mamãe, eu sonhei que

você tinha morrido!". A sua "morte cerimonial" tinha sido gravada tão

fortemente na memória astral - ou akasha, como se diz em sânscrito - que

sua filha foi capaz de captar a imagem em sonhos.

É assim, através de mensagens que impregnam dimensões mais sutis,

que se opera a "descarga" dos aspectos que ameaçam a pessoa nos planos

mais grosseiros. Os sacerdotes e os grandes iniciados das antigas ordens de

magos conheciam o processo pelos quais tais mensagens melhor se gravam

na memória da natureza - e do candidato aos mistérios - de forma que a

própria aura, assim como os corpos mais sutis da pessoa, ficavam

assinalados com a experiência. Assim, poderiam ser reconhecidos por outro

mago, ainda que muitas vidas se tivessem passado. Na verdade, a vivência

"teatralizada" funciona como se a experiência tivesse ocorrido de fato na

vida da pessoa. Pelo menos, para fins astrológicos, o processo é muito

eficiente.

Citando mais uma vez Hermes Trismegisto, sua primeira lei nos

ensina que o todo - ou o universo - é mental. É como dizer que tudo que

existe à nossa volta e que nos parece tão sólido, opaco e pesado, não passa

de energia pura - apenas um pouco mais condensada. Curiosamente, em uma

de suas peças pouco conhecidas, A Tempestade, Shakespeare nos diz algo

bem semelhante: "0 mundo é feito da mesma matéria de que se fazem os

sonhos". Sendo assim, o universo é como uma imensa máquina de

videogame, com cenários virtuais muito aperfeiçoados, e nós não passamos

de pequenos personagens igualmente virtuais, que lutam, trabalham,

estudam, sofrem, amam, têm filhos, guerreiam e morrem.

Da mesma forma que nos nossos sofisticados programas para jogos de

vídeo, os personagens lutam, enfrentam obstáculos, tentam salvar sua pele e

a da amada princesa, enfrentam adversários impiedosos, e, conforme nossa

habilidade em lidar com a máquina, sobrevivem ou morrem. "Ganham-se"

vidas adicionais, de acordo com méritos previamente estipulados nas

46

Page 47: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

regras do jogo, ou se "perdem", conforme as mesmas regras. No próximo

jogo, com uma nova vida, os mesmos personagens voltam a enfrentar outras

dificuldades, e assim por diante. No imenso holograma cósmico, somos suas

minúsculas partes, cópias idênticas do todo, dotados da mesma inteligência e

do mesmo poder - embora pouco conscientes disso. Michael Talbot, no livro

O Universo em Forma de Holograma já prenunciava a descoberta científica

moderna dessa visão de Hermes. Estaremos, em nossos inocentes joguinhos

para adolescentes, tentando imitar o holograma cósmico?

Se o universo é um grande cenário virtual, guiado por forças

intangíveis, e manipulado segundo regras previamente traçadas - regras

secretas que os astrólogos descobriram como funcionam, e que, tais como

Cassandra, proclamam aos quatro ventos, mas quase nunca são ouvidos - é

possível entender por que se pode transferir de um plano para outro as

influências do nosso horóscopo. Faz parte desse grande jogo "ganhar vidas"

ou vantagens - se cumprirmos rigorosamente certas condições - como faz

também parte perdê-las e sofrer castigos, no caso de infringirmos as normas

prescritas. Ou seja, prolongamos nossa vida terrestre e angariamos algum

tipo de prêmio sempre que obedecermos regras específicas. Abreviamo-la e

sofremos derrotas quando deixamos de segui-las.

De alguma forma, coube sempre aos sacerdotes de todas as eras

enunciar tais regras, sendo que o prêmio se colocava sempre para além da

morte. Daí o papel das religiões - elos feitos para "religar" o homem às suas

origens e aos segredos do universo. Como vimos, as escolas iniciáticas da

vertente hermética foram bem mais longe do que isso, ensinando aos seus

discípulos a verdadeira natureza do Grande Jogo Cósmico.

Uma conclusão se impõe sobre tudo isso: o livre-arbítrio é tanto maior

quanto mais alto o grau de consciência do indivíduo em relação a esse Jogo

Cósmico. A Astrologia, regida por Urano, o primeiro dos planetas não

visíveis a olho nu em nosso Sistema Solar, é também a primeira das chaves

para ã descoberta das leis do universo. Aquele que estudá-la e aplicá-la em

prol de seu autoconhecimento e nas previsões de seu próprio futuro,

conseguirá superar inúmeros obstáculos, que a outros parecerão impossíveis,

e saberá como viver, em esferas muito mais refinadas, os aspectos de dor e

sofrimento por que teria de passar normalmente.

Ao iniciado, outras chaves mais secretas se apresentarão como

recursos extraordinários para transcender a dimensão grosseira dos mundos

material e emocional: a segunda chave é a Kryia-Yoga, regida por Netuno -

segundo

47

Page 48: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

planeta não visível - e a terceira é a Alquimia, governada por Plutão - o

terceiro planeta não visível. As três chaves são dadas aos mortais como

instrumentos para superar o karma, reduzindo o número de reencarnações

obrigatórias. No Jogo Cósmico, são "prêmios extra" conquistados através de

méritos muito especiais, méritos que se adquirem levando uma vida austera,

renunciando a prazeres frívolos e dedicando-se ao serviço do próximo e da

humanidade. Tais são, em síntese, as regras desse jogo. Entretanto, mesmo

conhecedor de vários destes recursos, há momentos em que o domínio de

nosso destino fica realmente ameaçado. É quando os acontecimentos estão

nas mãos de terceiros - estes sem qualquer acesso ao conhecimento das

regras do jogo.

No exemplo anterior, a influência de Saturno poderia, entre outras

conseqüências, trazer a doença e até a morte de uma pessoa querida -

geralmente idosa - como o pai ou a mãe. Mas, como persuadir certos

velhinhos obstinados de que já passaram da idade de subir em telhados para

limpar as calhas? Como convencê-los de que precisam tomar os remédios

nas horas certas, mesmo quando já se sentem curados? E assim, alguns de

nossos aspectos nefastos são vividos de maneira bem desagradável, sem que

tenhamos tempo de intervir. Estes fatos servem para nos mostrar que está

razoavelmente em nosso poder modificar o karma pessoal, mas que o de

outrem geralmente foge à nossa competência. Há poucos exemplos de que

alguém conseguiu alterar o destino de outra pessoa. É o caso de mães que

salvam a vida de um filho - seja por um gesto heróico, seja pelo poder de

orações - ou de amantes apaixonados, quando o heroísmo e a abnegação

igualmente entram em cena.

Nestes casos, de imediato se percebe a intervenção de três fatores,

todos dotados de um incrível poder mágico e transformador: o amor, o

sacrifício e a fé. Não é raro que, para salvar o filho, se dê em troca a vida da

mãe - o mesmo ocorrendo entre os amantes. Assim é a norma do jogo: você

pode salvar outra vida, contanto que entregue a sua. Às vezes, a simples

disposição de dar a vida em troca de outra é suficiente para resgatá-la. Em

ambas as possibilidades, o amor foi o preço inestimável pago para se obter o

prêmio da outra vida. Aprendemos aqui uma regra de ouro do Grande Jogo:

o amor - não o amor passional ou possessivo, mas o amor-doação, o amor

capaz do sacrifício maior - é uma das formas de redenção, quiçás a mais

poderosa de todas. A fé é outra força redentora, mas, como diz São Paulo,

nada vale se não houver amor.

Falemos um pouco sobre o livre-arbítrio quando se trata do mapa

astral de um criminoso ou de um viciado. Há mapas simplesmente

"terríveis", dos quais um astrólogo deduzirá com facilidade acontecimentos

trágicos e

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Page 49: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

alta cota de dor e sofrimento. Diríamos talvez que tais indivíduos, com

tendências notáveis para o vício ou o crime, tiveram pouca chance de evitar

seu triste destino, pelo mapa astral que lhes coube. Mas, o mesmo mapa

astral, violento e terrível, pode ser encontrado em indivíduos cuja vida foi

inteiramente dedicada ao benefício da humanidade, e que deixaram uma

obra magnífica para a posteridade. No entanto, eles encontraram um destino

trágico, com perseguições, prisão, tortura, mutilação, perda de tudo e de

todos que lhes foram caros, e finalmente morreram nas piores

circunstâncias.

Citemos o caso de Giordano Bruno, o grande iniciado do século XV,

que, após permanecer preso por sete anos, sofrendo as mais terríveis

torturas, morreu na fogueira da Inquisição; de Ludwik Zamenhof, o criador

do esperanto, cuja família foi assassinada e os bens confiscados pelos

nazistas; de Jan Amós Comenius, um dos mais admiráveis educadores de

todos os tempos, cuja família também foi assassinada, a casa e a preciosa

biblioteca foram queimadas, e que morreu no exílio; o célebre sábio e

alquimista Sendivogius, preso e torturado até a morte; ou William Wallace,

o herói libertador da Escócia, cuja vida foi objeto de um filme recente,

Coração Valente - perseguido, traído, a esposa assassinada, e, por fim,

barbaramente torturado e decapitado; ou Mahatma Gandhi, iniciado, sábio e

libertador da Índia, um dos maiores homens da Terra, preso a maior parte de

sua vida, perseguido e brutalmente assassinado. Seus mapas astrológicos

certamente mostram o destino trágico que tiveram. Mas suas vidas foram

limpas, suas obras, beneméritas e suas almas, abnegadas.

Ao nascer, o homem recebe uma pequena coleção de instrumentos de

trabalho: um recebe uma machadinha, uma régua, uma pá. Outro ganha um

martelo, um lápis, uma faca. O primeiro vai usar a machadinha para cortar

lenha, a régua para desenhos arquitetônicos, a pá para plantar árvores. 0

segundo vai usar o martelo para arrombar janelas alheias, o lápis para contar

o dinheiro que roubou, a faca para matar. Antes de nascer escolhemos os

instrumentos de trabalho com os quais viremos ao mundo. Esta é a parte que

não poderemos mudar. Durante a vida, porém, recebemos a liberdade de

optar pelo uso que faremos desses instrumentos. É neste setor que mais

podemos exercitar o livre-arbítrio. Inclusive, eventualmente, por nosso

mérito, aplicação e inteligência, talvez consigamos criar nós mesmos alguns

novos instrumentos, ou aperfeiçoar os que já temos. Podemos ainda

melhorar o uso daqueles que recebemos sem um "manual de instruções".

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Page 50: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Resta abordar a interessante questão do livre-arbítrio a nível coletivo.

Conta-se que um grande astrólogo persa previu um terremoto em sua cidade.

Deu-se o trabalho de avisar a todos no lugar que haveria um imenso

desastre, e que muitos morreriam se não abandonassem suas casas. Os

habitantes apenas riram dele, ninguém saiu de casa. Fiel aos seus

prenúncios, o astrólogo foi à praça da cidade, aguardar o terremoto. Já tarde

da noite, começou a nevar e a fazer um frio intenso. Temeroso de morrer ali

mesmo, de frio, ele acabou por recolher-se de volta à sua casa, onde um fogo

acolhedor o esperava. Sua previsão se cumpriu: veio o terremoto, a cidade

foi bastante destruída, muitos morreram, incluindo o nosso pobre astrólogo.

É muito raro que alguém dê ouvidos às profecias dos astrólogos,

mesmo quando são acertadas. Nosso astrólogo persa não foi o único a prever

corretamente os terremotos. Outro, mais moderno, Alfred Pearce, previu

com exatidão de dia, diversos tremores nos Estados Unidos, publicando suas

previsões num almanaque popular. Ninguém lhe deu crédito a ponto de

deixar a cidade, exatamente como ocorreu com o colega persa. Felizmente,

não houve danos terríveis, e com certeza os habitantes acharam boa a

decisão de ficar em casa. Se já é bastante difícil para um indivíduo mudar

seu destino através de algum trabalho ou sacrifício, pode-se imaginar como

será mudar o de uma cidade ou nação inteira. Seria preciso mobilizar a

opinião pública numa direção que talvez seja completamente contrária às

suas tendências naturais. E, mais provavelmente, acharão demasiado

incômodo mudar seus hábitos para seguir um "profeta" qualquer, ainda que

já muitas vezes ele tenha mostrado ser eficiente. Já houve tempo em que os

governantes se deixavam assessorar por astrólogos - ou eram eles mesmos

versados nesta ciência, e o próprio povo conhecia dela o suficiente. O povo

seguia as orientações e as mais sérias decisões eram tomadas sob a égide da

Astrologia. Mas a tendência atual é deixar acontecer.

Há duas formas pelas quais se pode abrandar, senão resguardar-se de

todo da influência nefasta de certos aspectos. Ambas nos remetem para o

terreno da Alquimia. Uma delas é a confecção de talismãs astrológicos,

baseados no trânsito de um planeta benéfico, como Júpiter ou Vênus, sobre

o mapa astral de um determinado indivíduo, num momento cósmico

especialmente calculado. Serão válidas somente para aquele indivíduo em

questão, e para mais ninguém, e poderão servir como um autêntico pára-raio

em relação a aspectos nefastos do mapa natal, ou de passagens transitórias

da pessoa durante um período da vida. Poucas pessoas são capazes de

calcular corretamente tais

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Page 51: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

talismãs, e muitos charlatães, atribuindo-se "poderes mágicos"

comercializam medalhas protetoras - um mercado fácil para vítimas

ingênuas. Mas sabemos como a medalha autêntica pode realmente defender

a pessoa contra um mau aspecto. Produzida em metal apropriado, emana

sutilmente uma influência inspiradora. A outra forma de defesa requer um

grande esforço pessoal e muita sabedoria. Representa a verdadeira saída

transcendental para aqueles que não aceitam as formas grosseiras de

"pagamento" dos impostos dos astros.

Somos unânimes em considerar pouco criativos, e nada construtivos,

os tributos que Saturno nos oferece à escolha. Afinal, qual a utilidade prática

de uma fratura? Ou da perda de um imóvel? De uma dor de dente? A

influência astrológica está aí, essa não podemos evitar, como não podemos

impedir que chova. Mas, não seria possível evitar de nos molharmos?

Haveria um meio de proteger-nos da influência de Saturno, qualquer coisa

parecida com um guarda-chuva antiplanetário?

Conta-se que Hitler chegou a construir um abrigo subterrâneo, coberto

com uma placa metálica muito espessa - não para protegê-lo das bombas,

mas para servir como anteparo contra influências astrológicas nefastas.

Talvez ele tivesse tido alguma indicação sobre as medalhas que

mencionamos. Certamente, ninguém poderia defender-se de modo tão tosco

e simplista. Influxos astrológicos são de natureza sutil e precisam ser

tratadas com outro gênero de providências.

Esse guarda-chuva antiplanetário efetivamente existe. Apenas requer

que cada um de nós o construa com seu próprio esforço, sua energia,

prudência, sabedoria, discernimento e paciência. É exatamente nesse

momento que a capacidade individual de transmutação entra em cena. Que

coisas positivas, boas, construtivas e agradáveis são governadas pelo mesmo

Saturno? Citemos algumas: o trabalho profundo da mente, a pesquisa séria

de uma teoria filosófica, a ciência, as lides agrícolas, o esforço digno e

paciente para descobrir as origens de um mistério qualquer da natureza, o

autoconhecimento, o cultivo da força de vontade, a construção lenta e

minuciosa de um plano de futuro, de uma idéia, de um sonho que

alimentamos há muito tempo.

Uma obra perene, ou a reconstrução de algo que no passado foi

destruído pela nossa imprudência ou ignorância. A realização de uma tarefa

que noutra época nos pareceu pouco compensadora, ou demasiado difícil, ou

tediosa, mas que sabemos necessária e adiada. Ou colocar na devida ordem

coisas velhas, abandonadas, esquecidas e desorganizadas, que há anos

atiramos no sótão e cujo peso um dia fará o teto desabar. São opções

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Page 52: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

sadias e benéficas que Saturno nos propõe, por que não aceitá-las? Acaso

darão mais trabalho que um osso quebrado ou uma crise suicida? Talvez

assim pareça, para alguns, à primeira vista, mas aqueles que aceitarem o

desafio e assumirem voluntária e prazerosamente esse lado positivo, poderão

saborear, como um delicioso manjar, o gosto de uma vitória íntima, uma

batalha ganha sobre nós mesmos - e sobre as poderosas forças vindas do

espaço -; e sentirão como a pesada nuvem de Saturno, com seu imposto

inexorável, se desvanecerá por si, deixando apenas um rastro de satisfação,

uma consciência de poder e de saber que faz o homem crescer internamente

e sentir-se mais perfeito, mais sábio e mais próximo do Criador.

Ao fim da quadratura avaliamos o seu saldo, e, com surpresa,

descobrimos que criamos qualquer coisa de maravilhoso, que deixamos uma

semeadura fértil, cujos frutos colheremos por muitos anos; que gerações

seguidas nos recordarão com gratidão por uma obra admirável que legamos,

e que um tempo de resignação e esforço dedicado levantou todo um edifício

sólido, durável e belo, que nos abrigará da intempérie e mostrará seu valor e

utilidade futura. Enfim, diremos que a tarefa não foi assim tão penosa, e,

além de tudo, nos deixou mais ricos de alguma forma. Tal como Tom

Sawyer, o famoso personagem de Mark Twain, aprenderemos que caiar um

muro não era afinal uma punição, e nem sequer um trabalho, mas uma

atividade simples, onde a alma sem preconceito poderia encontrar alegria e

até mesmo certo encanto. É assim, apenas com uma nova disposição de

espírito, que o chumbo de Saturno se transforma no ouro solar. Como nos

ensina o velho Hermes: "A verdadeira transmutação é uma arte mental".

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Page 53: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Capítulo 05

53

Page 54: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

54

Page 55: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

o princípio era o verbo... e o verbo estava com Deus, e o

verbo era Deus". Esse texto da Gênese bíblica nos sugere

nitidamente que, se havia algo antes da Criação, era o som, e

esse som era do próprio Criador. No antigo texto hebraico

Bereshit bara elohim (No princípio criaram os deuses), bara

significa falar e também criar, ou criar pela palavra. Num texto ainda mais

antigo, inscrito nas Pirâmides da 5ª e 6ª dinastias egípcias - 2500 a.C. - se lê:

"Não havia céu, nem terra, nem homens. Os deuses não haviam nascido e

ainda não havia mortos. Os germes de todo ser e de todas as coisas se

encontravam em estado latente, confundidos no abismo de Num [O Caos].

Nele flutuava, Tem espírito divino indefinido, que levava em si o conjunto

das existências futuras. Carecia de consistência, de estabilidade e deforma.

Por fim, desejou criar e empregou a voz para expressar seus desejos. Assim

apareceu Ra [O Sol] e a luz foi feita".

Neste extraordinário conceito de Cosmogonia, herdeiro, sem dúvida,

de uma sabedoria ainda mais antiga, proveniente das civilizações atlantes e

lemurianas - o Som aparece igualmente como o autor de todas as coisas e

origem de tudo quanto existe no mundo físico, a fonte de onde emanaram

todas as formas do universo visível. Curiosamente, Ra, que sempre

aprendemos significar Sol nas religiões egípcias, tem por significado

etimológico o verbo fazer. Não é difícil extrair daí a palavra latina Re, que

quer dizer coisa. Res-Publica = Coisa Pública. Do seu conceito solar, Ra

trouxe para as línguas modernas a equivalência da palavra Rei; em latim,

Rex. No sânscrito, Ry ou Ray quer dizer Rei, ou Reinar. Não tem outro

significado o Ri final da palavra Oshiri - que deu o nome Osíris. O O-shi

quer dizer "o nome de Deus". Assim, o significado completo de Osíris fica

como: o nome de Deus, Rei.

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Page 56: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

A verificação de que tais nomes - especialmente aqueles que possuem

significado teogônico - sempre mostram entre si uma semelhança incrível,

iguais prefixos, iguais raízes, está a sugerir gritantemente que houve no

passado um único tronco lingüístico comum a toda a humanidade, da mesma

forma que houve obviamente um único tronco genético de todas as raças

humanas. Se somos todos descendentes das velhas raças atlantes, e antes

delas, dos lemurianos, hiperbóreos e chayas, como nos ensinam as tradições

esotéricas, nada mais compreensível que admitir que essas raças-matrizes

possuíam um idioma-mãe, do qual todas as línguas atuais são descendentes,

com maior ou menor grau de alteração ou adulteração.

Ora, é sabido por todos os etimologistas e estudiosos de línguas

arcaicas, que, quanto mais antiga a fonte escrita de um povo, mais ela se

assemelha à fonte de outro povo, igualmente antigo. Assim, é mais fácil

encontrar similitudes entre os textos vedas e os do Egito antigo, do que entre

o moderno árabe e o atual idioma hindi. E onde procurar as raízes desse

idioma-mãe de toda a humanidade? Poder-se-ia reconstituir essa língua

original através daquilo que se conhece das línguas arcaicas, cujos

testemunhos sobreviveram até nós em forma de monumentos de pedra,

blocos de barro, rolinhos de papiro, tabuinhas, chapas de metal, estátuas,

vasos de cerâmica, tótens, restos de muralhas, colunas rachadas, tecidos

pintados e gravações nas rochas de cavernas?

Os estudiosos assim afirmam. E mais que isso, se basearam em algo

que os cientistas acadêmicos olham em geral com absoluto ceticismo:

tradições orais, transmitidas durante vários milênios, através das gerações.

Mas, basta um bom observador para captar as semelhanças que existem

entre idiomas falados por raças geograficamente muito distantes e

etnicamente muito diferentes entre si. Falaremos mais adiante de alguns

exemplos que mostram raízes gregas e sânscritas no tupi, uma das principais

línguas faladas pelos índios do Brasil.

Mas antes vamos tentar descobrir qual é essa língua original da Terra

e como ela era falada. As fontes devem ser procuradas nos chamados

idiomas mântricos - aqueles cujos sons são geradores de imagens - e isso nos

remete aos símbolos gráficos mais antigos conhecidos pela humanidade.

Trata-se dos alfabetos primitivos, ideogramáticos, e dentre eles se destacam

- pela semelhança entre si, pelo número total de símbolos usados e pela

peculiaridade de serem atribuídos a eles valores numéricos

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Page 57: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Numa síntese magnífica, a equivalência dos alfabetos antigos e modernos, signos

zodiacais, planetas e notas musicais

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e tonais, além dos simples valores fonéticos, que qualquer idioma utiliza - os

seguintes: o hebraico, o hieroglífico, a escrita hierática, o fenício arcaico e o

vattan. Todos eles possuem 22 caracteres, e sua representação gráfica

identifica todos entre si por uma semelhança impressionante. Conclusões

muitíssimo interessantes podem ser acrescentadas se incluirmos nessa lista

os caracteres do grego arcaico, que, entretanto, utilizava um alfabeto de 26

símbolos, fugindo assim de uma regra clássica que, como vamos ver,

empresta um significado cósmico ligado às próprias origens do universo, ao

poder criador do verbo - ou da palavra - e à força mágica dos sons quando

pronunciados da forma adequada.

Veremos que, não só por direitos de antigüidade, mas pelo valor

cabalístico - vale dizer zodiacal - é mais conveniente estudar os caracteres

do sânscrito e principalmente do vattan. Os símbolos do vattan, segundo os

Vedas - escrituras sagradas dos brâmanes - se prestam de maneira admirável

a correspondências numéricas, produzindo combinações que revelam, por

variados somatórios, semelhanças e resultados gráficos, sonoros, musicais,

morfológicos, astrológicos, vibratórios, Cromáticos, arquitetônicos,

matemáticos, etc, que lançam uma luz inesperada no sentido etimológico de

palavras de igual significado em idiomas bem diferentes. Trata-se de um

alfabeto esquemático, formado por quatro símbolos básicos, que se

compõem ou se desdobram para formar sons e palavras cujo sentido deve ser

somado, da mesma forma como se faz com seus valores numéricos.

Os símbolos básicos são: o ponto, a linha, o círculo e o triângulo. O

idioma vivo, tal como era falado, é o sânscrito, a língua sagrada em que

estão escritos os textos vedas. O som A era um traço. 0 som N era o círculo,

ou semicírculo. O som M era o ponto. O som P era o triângulo. As demais

letras são combinações estilizadas dos quatro símbolos básicos. As

equivalências fonéticas do vattan, sânscrito e línguas latinas são as que se

seguem, associadas à respectiva correspondência numérica,

zodiacal-planetária e musical. Três letras não possuem equivalência

zodiacal-planetária. São chamadas as Três Letras Constitucionais, algo como

os Três Símbolos Primordiais da Criação:

A, cujo símbolo é um traço, vertical, horizontal ou inclinado; equivale

ao Alef hebraico, Alfa grego, início de quase todo alfabeto fonético. No

Tarô, corresponde ao Mago, o Homem Perfeito, a Unidade, o princípio dos

Atos, a vontade divina;

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Page 59: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Os símbolos das letras dos alfabetos, assim como os números, reproduzem a

imagem dos signos zodiacais e planetas, e emanam a vibração musical

correspondente

S, cujo símbolo é dois pontos, 15ª letra do alfabeto vattan; no

Tarô, corresponde ao Diabo, cuja carta é representada por dois jovens,

homem e mulher (os dois pontos) unidos por um laço que une a cintura

da mulher ao pescoço do homem. Símbolo inequívoco dos laços da

matéria que prendem o homem à Terra e controlam seu destino.

Finalmente, Th, cujo símbolo é uma serpente em S; última letra

do alfabeto vattan, encerra o ciclo cósmico na figura do mundo; No

Tarô, onde aparece uma jovem no centro de uma serpente em elipse, e

nos quatro cantos as figuras básicas da Esfinge: o Homem, o Leão, a

Águia e o Touro. Representa o mais alto grau de iniciação e mostra um

poder tal que não possui outros limites senão os da inteligência e

sabedoria. Mostra também o poder do homem sobre os quatro

elementos da natureza, fogo (Leão), Água (Escorpião-Águia), Terra

(Touro) e Ar ( Aquário), que constituem o mundo físico e astral. Assim,

vemos que as três letras constitutivas correspondem à inteligência

primordial, cuja energia gerou o mundo através de um poder mágico - o

poder do som.

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Page 60: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

As doze letras involutivas, que correspondem aos doze signos do

Zodíaco, mostram um poder latente, de natureza passiva, cuja força é

despertada pelas sete letras evolutivas, que possuem energia vibratória

própria, movimento e poder intrínseco. A combinação das vibrações

zodiacais e planetárias - mais as energias das letras constitutivas - produz

vocábulos cujo significado deve ser abordado à luz do conhecimento

hermético. Assim, por exemplo, a palavra Kabala, sobre a qual alguns rios

de tinta já foram gastos em livros pobres em valor iniciático, mas cheios de

armadilhas e labirintos - significa, em sânscrito:

KA tem equivalência numérica = 20. É Marte, a masculinidade.

BA = 2, a Lua, feminilidade.

LA = o poder, potência verbal, dom recebido.

Resultado: KA + BA = LA, ou seja, o dom, o poder dos 22 símbolos

ou letras - ou o poder criador da união do homem com a mulher.

Outros resultados impressionantes podem ser obtidos, produzindo

nomes próprios e palavras com significado básico em sânscrito - herdeira do

vattan - e correlações em outros idiomas. Exemplo: pensemos na figura e no

nome de Jesus, em hebreu Isho, ou Ipho. Jesus nasce de uma Virgem,

portanto, coloquemos o início no respectivo signo.

Seu valor fonético, efetivamente, é o I. Seguindo a ordem do triângulo

da Terra, obtemos os símbolos subseqüentes, F em Capricórnio e O em

Touro. Ipho, o verbo de Deus, em sânscrito = Isho, que no vattan pode ser

lido da direita para a esquerda, indiferentemente; invertido, Oshi produz o

nome da divindade egípcia Oshi-Ri, onde Ri = Ra, rei, como vimos no

início. Portanto, Osíris é Jesus, com idêntico significado de divindade solar.

Vejamos agora a segunda figura do Cristianismo, Maria. Nada mais correto

que procurar uma figura feminina nos signos da água. Ora, água, em vattan,

é Ma, que possui também o significado de mar, tempo, luz refletida, e

também morte. Vida e morte, só pode ser Escorpião! Com efeito, Ma,

seguido das demais letras zodiacais da triplicidade da água, vai resultar em

Ma-ra (ou Re, Ri) - He (ou Ha) = Ma-Ri-Ha. Ainda dentro das equivalências

numéricas, Ma tem valor 40 e quer dizer água, princípio da vida. Daí,

derivam os vocábulos Mãe, Mar; na sua inversão Am - com significado de

"sair de dentro" - produziu amar, amor.

Água, em todos os dialetos originados do vattan e emigrados para as

várias partes do mundo - incluindo as Américas - é ATL - donde vieram

Atlas, Atlântico, Atlântida. A divindade azteca Quetzal-coatl quer dizer "que

veio

60

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do mar". E que soma nos dá ATL? A =

1;T = 9; L = 30, portanto ATL = 40:

exatamente como Ma = 40. Outro

exemplo é o som vocal mântrico Om, o

som da criação dos mundos.

É gerado a partir da letra zodiacal

correspondente a Touro (= O) e parte

para sua polaridade oposta, Escorpião,

que é M. A pronúncia vocal da letra O

cria no oscilógrafo a figura de um

círculo - um dos símbolos básicos do

alfabeto vattan. Já o som Om produz a

mandala constituída de múltiplos

triângulos em perspectiva. As catedrais

góticas foram construídas segundo

determinadas notas musicais. Assim, há uma catedral na nota Sol, outra na

nota Fá, etc. Os antigos construtores conheciam o segredo da edificação de

templos e monumentos conforme os cânones da Geometria Sagrada. Formas,

medidas e orientação dada por posições astronômicas especialmente

escolhidas eram capazes de gerar harmonia sonora e figuras projetadas em

dimensões sutis. Tudo com a intenção de produzir estados devocionais ou

contemplativos de consciência.

Um experimento muito interessante e fácil de reproduzir pode mostrar

o poderoso efeito dos sons sobre os seres vivos. Colocam-se duas plantas

trepadeiras em idênticas condições de iluminação, umidade, etc, em

ambientes separados; junto a cada uma delas, um alto-falante. Para uma das

plantas, toca-se música orquestral muito suave; para a outra, ritmos

modernos, barulhentos, com batuques alucinantes. A primeira planta cresce

na direção do alto-falante, chegando a abraçá-lo por inteiro. Permanece viva

e saudável. A segunda cresce na direção oposta, tentando fugir dele. Pouco

tempo depois, começa a secar e finalmente morre. Por aí se pode deduzir o

efeito que produz nos seres humanos o ruído urbano e o som das bandas

jovens no mundo atual!

As línguas-matriz - os primeiros idiomas falados pela humanidade -

eram monossilábicas, constituídas de vocábulos simples, reduzidos a

símbolos fonéticos. A combinação de dois símbolos básicos produzia uma

palavra

61

Pronunciando longamente o som Om,

projeta-se no espaço uma imagem

semelhante a esta mandala

Page 62: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

de significado igualmente combinado. Assim, "A" expressa, tanto em grego

como em sânscrito, unidade e universalidade. Unida à letra solar Na produz

Ana, que expressa a marcha solar de um solstício a outro. Va (ou Ua) =

soprar como o vento. Ha = chamada, vocação, força atrativa. Va -Ha =

veículo, tudo que leva, carrega. Daí vem Wog (no escandinavo), Weg

(alemão), Way (inglês), Vehia (etrusco), Via (latim) = Caminho. Vi = Olho.

Ba = base, vaso, receptáculo Vi-Ba — luz, resplendor. E Vid significa

Conhecer, conhecimento divino. Veda vem dessa raiz. Em latim, deu Videre

= Ver.

Na língua tupi - também monossilábica aglutinante - se encontram

alguns exemplos muito interessantes. Pó = Mão; poã = dedo da mão. E

poã-guassu = dedo grande da mão, ou o polegar (guassu quer dizer grande).

Y = água, rio, líquido. Sá ou Essa = olho. Essa-y — lágrima. Py (ou pé) =

interior, centro, parte de dentro, (também quer dizer soprar, tocar

instrumento de sopro). Ara = nascer, dia, sol, luz, mundo, tempo,

entendimento, juízo. Py-Ara = saber bem, conhecer a fundo. Mo

— tender, mover. A = eu. Py = dentro, por dentro. Ra = verdade. Mo - A

- Py - Ra = concluir, chegar a uma explicação.

Eis aqui algumas equivalências no tupi que são pelo menos muito

intrigantes:

Pyri quer dizer perto de, junto de. Peri, em grego, quer dizer

exatamente a mesma coisa: perto, junto, próximo, (peri-hélio quer dizer

perto do Sol). Outra: Pá (ou Pã) = tudo, todos, todas. Compare com o grego

PAN = todo, tudo. A = eu (a unidade, a letra inicial, o começo de tudo) Pois

A significa, em tupi, fruta, grão, semente, redondo e, em palavras compostas,

quer dizer cabeça! Aba quer dizer homem, pessoa. Uba (ou Tuba) = Pai e

também ova de peixe. Em árabe, AB quer dizer Pai. BA = base, vaso, sentido

de origem, início.

Outra curiosa composição de monossílabos: Sy = Mãe; Ja =

semelhante, do mesmo tamanho; Jassy = Lua, semelhante à mãe; Tá =

nascer, nascido; Jassy - tata = estrela (ou nascido da Lua); Bebé = voar;

Jassy - tatá - bebé = estrela cadente; Itá = pedra. Juba = amarelo. Ita - Juba =

ouro! Upiá = ovo. Upia -juba = gema de ovo. Ca tem sentido de cair,

quebrar, ferir, cortar, bater, agredir. Caia quer dizer pegar fogo. Não é

curioso que Ka seja a letra que corresponde a Marte no vattan?

Vamos agora ver de que maneira os sons produzem vibrações, e com

elas, formas. A emissão do som da nota Sol produz em placa vibratória

apropriada à forma de uma dupla sinusoide - símbolo do infinito em

62

Page 63: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Esquerda: sons produzem formas. Numa placa vibratória com areia fina, o som "dó

maior" gera este desenho. Direita: desenho formado na placa vibratória por uma

seqüência musical

matemática. É, contudo, a forma mais simples que se pode produzir com

uma nota musical. Eqüivale a Mercúrio e aos dois signos que ele

governa, Virgem e Gêmeos. Com efeito, é nele que começa o som

primordial Y, em hebraico Yod, origem do trígono do Verbo Divino

Yfo. Todas as outras notas produzem formas complexas, rosáceas e

combinações.

Observando certos desenhos formados em placas vibratórias,

notam-se semelhanças entre o som FA # e o Dó natural. Fa # é Libra,

Vênus. Dó natural é Júpiter, Sagitário e Peixes. Não dizemos que Vênus

foi tirada da espuma do mar - Peixes - que Vênus e Júpiter são da mesma

natureza benigna e protetora? Vênus se exalta em Peixes. A combinação

de Vênus e Júpiter em forma de metais - cobre e estanho - dão o bronze,

o sino da mais bela sonoridade, usada para fins sagrados. Sons

harmoniosos em seqüência produzem belíssimas combinações gráficas, o

que quer dizer vibrações pacificadoras e regeneradoras. Pesquisadores

afirmam que a música de Mozart gera as formas mais harmoniosas e

suaves que se conhecem, assemelhando-se a flores em belíssimas

composições.

Conclusão

Somos o resultado de um conjunto de forças representadas pelo

Zodíaco e pelos planetas. A presença deles está marcada em nossas

células, flui por nossos nervos, corre em nosso sangue, impregna a

composição química de nosso corpo físico e a essência de nossos corpos

astral

63

Page 64: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

e mental. Povoa nossa memória e preenche todos os nossos atos, sentimentos

e idéias. É através do som das esferas celestes que a influência do universo

atua em nós, criando energias magnéticas, organizando sua disposição e

gerando cada um de nossos estados de ânimo.

Compreendendo a linguagem sonora do universo e interpretando

corretamente as imagens que ela projeta em nós, saberemos usar os símbolos

verdadeiros que representam a própria essência de nossa vida. 0 uso do

alfabeto que simboliza o Zodíaco e suas esferas em movimento cria em nós

um efeito de ressonância, tornando-nos capazes de agir no plano físico e

astral com energias que podem ser chamadas mágicas, já que podem alterar

as condições do ambiente e provocar fenômenos ditos paranormais. É nesse

momento que despertamos nossa superconsciência e nos tornamos como o

Deus de quem possuímos a centelha primordial, e adquirimos, como seus

filhos, o dom de criar com a palavra, com o verbo.

64

Page 65: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Capítulo 06

65

Page 66: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

66

Page 67: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

m 1618, Jan Baptist van Helmont - o famoso médico e químico

belga a quem a Ciência deve a descoberta dos gases e a

identificação do dióxido de carbono - quando trabalhava em seu

laboratório, em Vilvoorde, foi procurado por um desconhecido que

desejava "conversar sobre uma matéria que interessaria a ambos".

Julgou tratar-se de um colega, que quisesse abordar assuntos médicos, mas

logo o estranho começou a falar sobre Alquimia. Helmont, um pouco

aborrecido, interrompeu-o dizendo que considerava a Alquimia uma

superstição e que não desejava perder tempo com tal tolice. O estranho não

insistiu na conversa, mas lhe propôs simplesmente deixar em suas mãos uma

pequena porção da Pedra Filosofal, para que Van Helmont, pessoalmente,

efetuasse a experiência da transmutação, sozinho e nas condições por ele

mesmo escolhidas.

O misterioso visitante depositou então alguns grãos de pó sobre um

pedaço de papel que havia sobre a mesa do químico e despediu-se. O sábio

escreveria mais tarde: "Vi e manipulei a Pedra Filosofal. Tinha a cor do

açafrão em pó e era pesada e brilhante como vidro em pedaços". Decidido a

tentar a experiência, o químico preparou um crisol, onde colocou oito onças

- cerca de 230 gramas - de mercúrio metálico. Aqueceu-o um pouco e em

seguida atirou sobre ele uma pequenina porção do pó, previamente

embrulhada num pedaço de papel, seguindo à risca as instruções do

desconhecido. Tampou o recipiente, e, após alguns minutos, esfriou o crisol

com água e o quebrou: um pedaço de ouro com praticamente as mesmas oito

onças de peso descansava no meio dos cacos. O relato dessa experiência,

Van Helmont escreveu, assinou e publicou. O

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Page 68: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

evento o marcou profundamente, modificando por completo seus pontos de

vista científicos e filosóficos. A tal ponto que batizou com o nome

Mercurius um de seus filhos. A Enciclopédia Britânica emite a seguinte

opinião sobre ele: "Pode ser considerado uma ponte entre a Alquimia e a

Química. Embora de natureza mística e acreditando na Pedra Filosofal...

era um observador cuidadoso e experimentador exato".

Helvetius - Johann Friedrich Helvetius - nasceu em Anhalt em 1629,

cujo verdadeiro nome era Johann Friedrich Schweitzer, foi um sábio

conceituadíssimo e médico do príncipe de Orange. Adversário ferrenho da

arte hermética, foi, da mesma forma que Van Helmont, procurado por um

desconhecido, em dezembro de 1666. O estrangeiro, após algum tempo de

conversa, lhe apresentou uma caixinha contendo um pó amarelado,

afirmando tratar-se da Pedra Filosofal. Ele deixou que o médico apalpasse a

substância, mas recusou-se a lhe dar qualquer fragmento da mesma. Depois

de contar maravilhas sobre os poderes curativos do seu pó e narrar umas

quantas experiências de transmutação, o estrangeiro, após muita insistência,

finalmente concordou em lhe dar de presente um pequeno fragmento, tão

pequeno que Helvetius duvidou que pudesse converter sequer alguns grãos

de chumbo - isso no caso pouco provável de que o pó fosse autêntico.

Diante da reclamação de Helvetius, o estrangeiro pediu de volta o

pozinho. Mas, ao invés de aumentar a dose, o que fez foi cortá-lo pela

metade, assegurando ao médico que a minúscula fração seria mais que

suficiente. Ainda cheio de dúvidas, Helvetius fez a experiência utilizando

um velho cano de chumbo, que ele derreteu num cadinho. Após alguns

minutos, todo o chumbo estava transformado em ouro. A amostra foi

rigorosamente examinada por dois ourives e até pelo próprio controlador das

moedas da Holanda, mestre Povelius, que a consideraram do mais alto grau

de pureza.

O mesmo Helvetius fez um minucioso relato dos acontecimentos em

sua obra Vitulus Aureus (0 Bezerro de Ouro). Um extrato dela foi traduzido

diretamente do latim por Bernard Husson e publicado no nº 59 da revista

francesa Iniciação e Ciência. A Biblioteca do Museu de História Natural de

Paris possui um exemplar original dessa estranha obra, com 72 páginas em

formato reduzido, impressa em finos caracteres, exatamente como foi

publicada pela primeira vez. O relato de Helvetius foi devidamente

autenticado pelo testemunho mais que confiável do grande

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Page 69: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Em postura de profunda reverência, o casal de alquimistas observa o Athanor (forno),

dentro do qual se misturam as substâncias secretas

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Page 70: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

filósofo Benedict de Spinoza. Este foi convidado por seu editor, Jarig Jellis,

a viajar para Haia, a fim de averiguar pessoalmente os fatos. A transmutação

feita pelo médico era assunto de comentários em toda a cidade, e Jellis

pressentiu que ali encontraria uma grande matéria para publicar. Spinoza,

prudente, visitou primeiramente o ourives Brechtelt, que havia recebido das

mãos de Helvetius o cadinho ainda quente da fundição. O ourives lhe contou

então que, ao fazer o teste da inquartação, que se faz juntando três partes de

prata pura para cada parte de ouro a ser avaliado, havia achado o tal ouro

muito estranho, pois toda a prata adicionada no teste se havia convertido

igualmente em ouro!

Spinoza completou a sindicância entrevistando o próprio Helvetius,

que lhe mostrou o cadinho, assim como o ouro convertido, e prometeu

publicar tudo em detalhes. O filósofo relatou os resultado de sua pesquisa

numa carta dirigida a Jallis em 25 de março de 1667, que foi fielmente

reproduzida em 1805 na Alemanha, na obra Notícias sobre o assunto das

Transmutações, de autoria de Christian Gottlieb von Murr. Um relato em

tudo semelhante a estes de Van Helmont e Helvetius nos foi deixado pelo

filósofo italiano Berigard de Pisa. Várias transmutações foram efetuadas de

maneira quase pública, ou, pelo menos, na presença de diversas testemunhas,

que, invariavelmente, se cercaram de todas as precauções para evitar a

fraude. Algumas delas merecem ser contadas, levando em conta a

idoneidade absoluta das testemunhas e os altos cargos por elas ocupados.

Em agosto de 1693, em seu palácio, o duque Christian Eisenberg de

Saxe Gotha efetuou a transmutação de 750 gramas de chumbo em prata

pura. Ele também havia recebido o pó transmutatório de um desconhecido,

desta vez pelo correio. O Dr. Wilhelm Tentzel, historiógrafo da Casa de

Saxe-Gotha, e autor de uma publicação oficial do ducado, nos dá conta que

"foram cunhadas apenas sete medalhas com o chumbo transmutado em

prata muito fina e durante uma configuração astrológica particular de

Vênus e Marte". A medalha teria assim um caráter de talismã.

Entretanto, o duque era ele mesmo um profundo conhecedor de

Alquimia, conforme nos atesta o próprio Tentzel. Naquela época ele já seria

possuidor do segredo da Pedra Filosofal, pois em 1684 havia feito cunhar

uma única medalha em ouro alquímico produzido por ele mesmo no enorme

laboratório de seu palácio de Eisenberg. Nela está representado, numa das

faces, o escudo da família de Saxe com a coroa ducal, e a data 1684; na

outra face, uma palmeira, conhecido símbolo alquímico que se reporta ao

70

Page 71: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

No laboratório, os alquimistas medem com precisão as quantidades e proporções das

substâncias e a regulagem do fogo para a cocção do "ovo"

71

Page 72: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

seu nome grego, phoenix, a lendária ave egípcia gerada pelo Sol e adorada

em Heliópolis. Ao redor da palmeira, os dizeres enigmáticos "Sat cito quia

sat bene", que se pode traduzir por "assaz cedo, porquanto assaz bem".

O irmão mais velho do duque Christian, e que veio a ser Frederico I

de Saxe-Gotha, foi outro estudioso da Alquimia, tendo com certeza atingido

a plenitude de seus mistérios. Há uma carta reveladora que ele enviou ao seu

conselheiro privado, Von Echt, com respeito à aquisição de uma propriedade

na qual estava muito interessado: "Seria lucrativo comprá-la, diz ele, se ao

menos tivéssemos fundos suficientes. E se meus projetos derem certo até o

Natal, teremos dinheiro bastante para comprar dez vezes mais. Mas há aqui

um segredo, que não posso revelar, para que não se riam de mim caso eu

não tenha sucesso". Ora, ele parece ter tido êxito, pois nesse mesmo ano ele

fez cunhar em ouro vários florins com sua efígie numa das faces e símbolos

alquímicos na outra, cercados de dizeres alusivos ao seu sucesso. Também

na mesma época ele fez numerosas doações milionárias a igrejas e obras de

caridade.

Em julho de 1716, um Adepto - talvez Lascaris, um nome que aparece

freqüentes vezes no panorama alquímico da Europa - organizou em Viena,

não uma, mas toda uma série de transmutações, às quais ele não esteve

presente. Uma delas foi feita a 19 de julho daquele ano, e foi objeto de uma

descrição minuciosa em forma de ata. Dela nos dá fé o notário juramentado

do Império - o equivalente ao nosso atual tabelião - Georges Henri Paricius.

Eis o resumo do relato:

O cenário: a rica residência de alguns nobres da Áustria. Há à

disposição um requintado equipamento de laboratório. E então aí se reúnem

altos dignitários do Santo Império.

Os personagens: Joseph, conde de Wurben e Freudenthal, conselheiro

privado de Sua Majestade Imperial e vice-chanceler do Reino da Boêmia; o

barão Wolfgang von Metternich, príncipe de Brandeburg, e seu irmão

Ernest, conde de Metternich, conselheiro privado de Sua Alteza Real da

Prússia e ministro delegado na Corte Imperial de Viena; Culmbach e

Onoldin, conselheiro privado e delegado no Conselho do Império; e

Wolfgang Philipp Panzer, conselheiro Áulico do Príncipe Schwartzenburg, e

também seu filho, Johann Christoph Pantzer, sendo estes últimos os donos

da casa. O distinto grupo trabalhava em segredo no laboratório, e, com uma

partícula ínfima de pó filosofal, pretendia descrever com precisão uma

experiência de transmutação de cobre em prata. A novidade da experiência

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Page 73: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

era que os objetos da transmutação (duas peças) não foram fundidos, mas

apenas aquecidos. A primeira peça - uma moedinha de cobre - foi pesada

previamente e depois aquecida sobre carvões. Em seguida, foi retirada das

brasas e sobre ela se pincelou rapidamente o bastão de cera que envolvia a

partícula do pó. Ocorreu então um pequeno acidente. A moeda, ainda não

transmutada, e parcialmente colada ao pó de projeção, caiu na água

reservada para o resfriamento das peças; a moeda, vermelha ao cair na água,

se tornara branca ao sair dela. Obviamente, as propriedades do pó haviam

sido transferidas para a água, e então eles atiraram a segunda peça,

levemente aquecida, dentro da mesma água - e a recolheram instantes

depois, igualmente transformada na mais pura prata.

Várias moedas foram assim atiradas na água, uma a uma, e os efeitos

anotados em detalhe, sendo que a penúltima peça mostrou uma transmutação

apenas parcial, e a última não apresentou qualquer mudança, tendo já,

naturalmente, se esgotado o poder transmutatório do pó dissolvido na água.

A ata da experiência foi redigida no correr da mesma, e em seguida assinada

por todos os presentes. As moedinhas, conforme a praxe, foram repartidas

entre os operadores. A ata finaliza com a importante observação de que

todas as moedas haviam aumentado de peso, um mistério tão bom quanto o

da própria transmutação. Essa ata possui um valor muito especial, sendo um

dos raros documentos por assim dizer "oficiais" a comprovarem a realidade

da transmutação.

Outra experiência que vale a pena mencionar foi procedida no recinto

da Universidade de Praga, a 06 de setembro de 1728, desta vez perante todos

os professores reunidos. O objeto da transmutação foi uma moeda de baixo

valor, já fora de circulação, que recebeu previamente o atestado de um

ourives quanto à sua baixa porcentagem de prata. Como garantia adicional,

foi marcada, a golpe de martelo, com letras identificadoras, a fim de evitar

qualquer possibilidade de troca ou fraude. Aqueceu-se a pequena peça sobre

carvões em brasa, tal como na experiência de Viena, e por cima dela se

colocou uma partícula do pó transmutatório.

O pozinho girou várias vezes sobre a moeda, e em seguida esta foi

retirada das brasas e esfriada. Verificou-se que estava inteiramente

transmutada em prata puríssima, o que foi atestado por um ourives. A moeda

foi cortada em vários pedacinhos, e estes distribuídos entre os presentes. O

relato desta experiência foi elaborado por Johann Jacob Geelhausen, doutor

em Filosofia e em Medicina, professor da Universidade Imperial de Praga.

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Page 74: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Uma transmutação efetuada em Praga em janeiro de 1648 foi igualmente

comemorada com a cunhagem de uma medalha em ouro alquímico, esta

agora com dimensões bastante avantajadas. Várias dessas moedas e

medalhas podem ser contempladas dos museus de Praga, cidade que parece

ter sido uma espécie de paraíso dos alquimistas durante uns três séculos.

Pouco após a morte do rei Gustavo Adolfo, em 1632, foi cunhada

uma moeda de circulação corrente, com motivos alquímicos - os emblemas

do enxofre e do mercúrio. Desta vez não se comemorava uma transmutação,

mas se fazia uma homenagem ao rei tombado nos campos de batalha, em

defesa da causa protestante. Uma tradição local relata que a presença desses

símbolos alquímicos na moeda de Gustavo Adolfo se deve ao fato de ter a

cidade de Erfurt oferecido ao rei trinta mil ducados de ouro filosofal. Outro

caso curioso foi a cunhagem de dois thalers - moeda corrente - em ouro e

prata de procedência alquímica, pelo príncipe Ernst-Ludwig von

Hesse-Darmstadt, em 1716. Ele era apaixonado pela Alquimia, mas não

tinha alcançado êxito na sua busca da Pedra Filosofal. Como era já um

hábito, ele recebeu certo dia, pelo correio, uma remessa anônima de duas

amostras de pó transmutatório, uma para a prata, outra para o ouro,

acompanhadas de instruções para sua utilização. Dois especialistas

contemporâneos nos dão conta da origem alquímica dos metais em que as

moedas foram cunhadas, explicando que o ouro foi suficiente para cunhar

apenas algumas centenas de ducados.

O segredo alquímico não consiste apenas na obtenção de ouro e prata.

Ele permite também alcançar a "panacéia universal", ou seja, o remédio

contra todas as moléstias que afligem o homem - e igualmente aplicável a

todo o reino vegetal e animal. Sob a forma de um elixir, atribui-se-lhe o

poder de curar qualquer doença, rejuvenescer e prolongar a vida. Bebido

periodicamente na quantidade e na época certa, torna o homem imortal e

permanentemente jovem - embora não o possa preservar na hipótese de

morte violenta, conforme veremos.

Os relatos de rejuvenescimento através do elixir são

consideravelmente mais difíceis de se documentar, e o próprio Bernard

Husson, sempre tão criterioso em reunir fatos comprovados e o quanto

possível verificáveis, se mostra cauteloso em aceitar histórias baseadas numa

só testemunha. Mas ele cita um caso interessante, que foi presenciado por

um médico francês de nome Hauton, em 1665. Ele conhecia de perto o Sr.

de Saint-Clair Turgot, homem rico, já entrado em anos e um confesso

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A Serpente Ouroboros, inserida num antigo texto alquímico grego, expressa a

repetição circular e contínua das operações alquímicas

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Page 76: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

alquimista. Certo dia, o alquimista deu por terminada - com êxito - sua busca

do elixir da longa vida, e, após elogiar suas fantásticas virtudes, o Sr. Turgot

bebeu uma boa dose dele. Também ofereceu uma colherada a um velhote

que o visitava de vez em quando, mas este, desconfiado, engoliu a

contragosto algumas gotas, e foi embora.

Apenas em casa, o pobre velho sentiu-se muito mal, coberto de

terríveis suores. Ao descobrirem os parentes que ele havia tomado alguma

beberagem estranha, mandaram depressa procurar o alquimista, para que

enviasse um remédio capaz de desfazer o mal que causara. 0 alquimista foi

encontrado morto, estendido em seu laboratório. Quanto ao velho, depois de

passar vários dias com muita febre, perdeu todos os dentes, o cabelo, as

unhas e toda a pele do corpo. Mas, depois, seu cabelo, que antes era todo

branco, renasceu preto, os dentes, pele e unhas voltaram a crescer, e ele

readquiriu o vigor físico da juventude. O Sr. Hauton, nossa testemunha,

reviu o velho em Paris 38 anos após esta aventura, e o achou na mais

perfeita saúde, contando já 113 anos de idade.

Um segundo relato que nos fala do precioso elixir se refere ao famoso

conde de Saint Germain. É uma das figuras mais enigmáticas de que se tem

notícia. Sua existência histórica é comprovada, mas dela só se conhece um

curto período, que começa em 1743, em Londres, quando a justiça inglesa o

prendeu como suspeito de espionagem. Horace Walpole, conde de Orford,

escritor e cronista da época, nos conta: "Lá está ele, preso há dois anos, e se

recusa a dizer quem é e de onde vem, mas admite que não usa seu

verdadeiro nome". Foi descrito como um homem de estatura mediana, de 45

anos mais ou menos, muito amável e conversador.

Passou alguns anos na Alemanha, e freqüentou a corte de Luís XV em

1758. Mme. Pompadour o descreve então como um homem de seus 50 anos,

com uma fisionomia delicada, espiritual, que se vestia com simplicidade,

mas muito bom gosto. Usava belos diamantes nos dedos, na tabaqueira e no

relógio. Foi íntimo de Luís XV, que lhe concedia entrevistas particulares.

Essa intimidade despertou o ciúme do ministro Choiseul e acabou sendo a

causa de sua desgraça e de seu exílio.

Consta que passou os últimos anos de vida no castelo de Hesse, onde

teria morrido em 27 de fevereiro de 1784. Entretanto, sua "morte" ocorreu

durante uma das ausências do proprietário do castelo, o que deixa pelo

menos uma dúvida. Ele efetuou duas transmutações na corte francesa, na

presença de numerosas testemunhas, e deixou bem claro que possuía o elixir

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As três matérias iniciais da Alquimia: sal, enxofre e mercúrio, representados por

personagens antropomórficos, A operação corresponde às "águias", durante a qual se

"colhem'' o espírito aquoso e o azoth

77

Page 78: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

da longa vida, que o usava sempre que era muito mais velho do que parecia.

Citava fatos históricos de séculos passados narrando pequenos detalhes,

como se tivesse estado presente. Referia-se a diálogos mantidos com figuras

históricas de 200 anos antes, interrompendo-se no meio da frase, como se

finalmente se tivesse dado conta de que ninguém entenderia nem acreditaria.

Falava todos os idiomas conhecidos, sem qualquer sotaque.

Sua história é bem documentada entre 1743 e 1784. Assim, se

quisermos comprovar se possuía o elixir, seria necessário procurar o

testemunho de pessoas que o tivessem conhecido antes ou depois dessas

duas datas limite. De fato, a Condessa de Gergy, embaixatriz da França junto

ao Estado de Veneza, encontrou o conde de St. Germain na casa de Mme.

Pompadour e ficou estupefata. Ela afirmou haver conhecido em Veneza, 50

anos antes, um nobre estrangeiro incrivelmente parecido com o conde,

porém, com outro nome. Ela naturalmente perguntou se por acaso não teria

sido seu pai ou um outro parente, mas o conde lhe confirmou que era ele

mesmo, em pessoa, que vivera em Veneza no século anterior, e para

prová-lo, lhe repetiu palavras e circunstâncias que só poderiam ser do

conhecimento de ambos. Nessa época, ele continuava a aparentar os mesmos

50 anos de idade.

Mas há um outro testemunho bastante intrigante da longevidade do

conde de St. Germain: Sir Winston Churchill, o primeiro ministro da

Inglaterra durante os duros anos da II Guerra. Ele mesmo nos conta em sua

autobiografia a história desse encontro, numa rua de Londres, semidestruída

pelos bombardeios alemães. Ante a situação insustentável do país, ele

acabara de tomar a terrível decisão de, no dia seguinte, render-se às forças

de Hitler. O estranho encontro lhe soou como um feliz presságio, e Churchill

decidiu esperar mais um pouco. No dia seguinte, a Alemanha cessou os

bombardeios sobre Londres, relaxando a pressão sobre a Inglaterra e

encetando a invasão da Rússia.

Eugène Canseliet, único discípulo do alquimista contemporâneo

Fulcanelli, nos apresenta um relato sobre seu reencontro com o mestre,

desaparecido trinta anos antes. Fulcanelli, já bastante idoso quando de sua

presumida morte, contaria nessa época cerca de 114 anos de idade, porém,

seu cabelo era preto, seus dentes, perfeitos e sua aparência era a de um

homem de 50 anos.

Nem sempre a vida dos alquimistas - fossem eles autênticos Adeptos,

fossem meros assopradores - foi um mar de rosas, como pode parecer à

primeira vista. Edward Kelly, por exemplo, nascido em Worcester,

78

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Inglaterra, em 1555, foi um dos famosos assopradores. Após encontrar uma

pequena provisão de Pó Filosofal no túmulo de um bispo, passou boa parte

de sua vida tentando descobrir o segredo. Gastou, enquanto isso, sua

provisão, sem ter conseguido renová-la. Depois de muitas peripécias e

viagens, acabou numa prisão, em Praga. Morreu ao tentar fugir, saltando

pelos muros da prisão. Seu colega e colaborador de muitos anos, o Dr. John

Dee, conhecido ocultista e médium, não chegou a ser preso e até foi bem

recebido pela rainha Elizabeth I. Mas a multidão, que o tinha como

feiticeiro, incendiou sua casa, assim como seu laboratório e sua preciosa

livraria com 4 mil volumes raros. Passou miseravelmente o fim de sua vida.

Um dos maiores Adeptos da arte hermética, conhecido como

Cosmopolita, autor de um tratado alquímico considerado clássico, efetuou

várias transmutações públicas em diversas cidades. Em 1646, estava num

dos estados governados pelo duque de Saxe - antecessor dos irmãos

alquimistas Christian e Frederic - onde igualmente fez algumas projeções

notáveis. O duque o mandou prender, a fim de obrigá-lo a revelar o segredo.

Diante da recusa inabalável do Adepto, aplicou-lhe as mais terríveis torturas.

Com o corpo todo machucado, queimado por fogo e sem os nervos, que lhe

foram arrancados, o pobre homem foi procurado em sua prisão por

Sendivogius, que conseguiu retirá-lo de lá, subornando os guardas em troca

de uma rica provisão de pó filosofal.

Uma versão corrente nos conta que Cosmopolita acabou morrendo

pouco depois, dizendo que, se seu mal fosse natural e interno, seu elixir o

curaria, mas que seu corpo, quase morto pela tortura, e com os nervos

extraídos, não tinha mais como restabelecer-se. Começou então a odisséia de

Sendivogius, que fez algumas transmutações com o pó recebido do

Cosmopolita, inclusive perante a rainha Cristina, da Suécia, outra estudiosa

da matéria. Esta recebeu dele várias medalhas transmutadas apenas pela

metade, com as quais a rainha mandou fazer um colar.

Após alguns espetáculos, acabou nas malhas de um conde da Morávia,

o qual o fez prisioneiro, acreditando que ele possuía o segredo. Temendo ser

tratado da mesma forma que o Adepto, conseguiu fugir de sua prisão,

limando uma barra das grades. Denunciou o conde ao imperador e teve a

sorte de ser devidamente indenizado. Mas, em pouco tempo, havendo gasto

sua provisão de pó, viu-se na mais completa pobreza. Tomou dinheiro

emprestado, que não pôde pagar, e acabou como um charlatão, fingindo

transmutar moedas - e consta que colocou fraudulentamente

79

Page 80: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

seu nome como autor da obra de Cosmopolita. Morreu, ao que parece, muito

pobre, cheio de achaques e bem velho, segundo nos relata Desnoyer,

secretário da rainha Maria de Gonzaga, da Polônia.

Uma outra hipótese, entretanto, foi sugerida pelo alquimista

contemporâneo Eugène Canseliet. Sendivogius seria na verdade o mesmo

Cosmopolita, que simulou sua própria morte, tratou-se com seu milagroso

elixir, curou-se e adotou outro nome. Teria em seguida se casado com a

ex-esposa de Cosmopolita - ou seja, sua própria esposa - e, afinal, assinou a

obra da qual era de fato autor.

A desgraça ocorrida a alguns Adeptos ensinou a todos a necessidade

de ser prudente e discreto. A cupidez dos poderosos, a perseguição religiosa

e a curiosidade do segredo representaram sempre os perigos maiores para os

iniciados, e até para os que fingissem possuir o segredo, como foi o caso dos

assopradores.

A igreja, que hoje se volta contra a Astrologia, começou em 1317 a

condenação oficial dos alquimistas, com a bula Spondent Pariter,

proclamada pelo Papa João XXII. "Os alquimistas nos enganam e prometem

o que não podem. Ordenamos que todos esses homens deixem para sempre

o país, assim como aqueles que mandam produzir para si o ouro e a prata e

se pessoas do clero estiverem compreendidas entre os alquimistas, estas não

encontrarão graça e serão privadas da dignidade eclesiástica". Pasmem,

mas era na época público e notório que o próprio papa João XXII se

entregava à Alquimia e deixou, após sua morte, tal soma de riquezas que

toda a corte lhe atribuiu origem hermética. E bem possível que tivesse

utilizado dos serviços de outros alquimistas - já que é bastante duvidoso que

ele mesmo tenha alcançado o conhecimento necessário para tal. Como

vemos, a história se repete.

A própria menção de membros do clero praticando Alquimia é

sintomática, mostrando que era atividade muito comum nos conventos e

mosteiros. De fato, vários Adeptos foram padres e monges, a exemplo do

beneditino Basilio Valentin. Temos, enfim, documentação farta e confiável

que comprova a realidade das transmutações nas mais variadas épocas,

circunstâncias e lugares do mundo. São abundantes os testemunhos, dados

numerosas vezes por sábios que antes se mostraram adversários da Arte

Hermética, de tal forma que se torna irracional e anticientífico negar tais

evidências. As medalhas e moedas estão por aí, repartidas entre os

colecionadores e os museus da Europa, a desafiar as explicações do mundo

acadêmico. De nada vale esconder a cabeça na areia, negar

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Page 81: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

A Via Seca da Alquimia - sugerida pela jornada através do deserto. Nesta fase se

colhem as "cinzas"

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Page 82: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

veracidade aos testemunhos, afirmar que um Helvetius e um Van Helmont

foram ludibriados, que tudo não passou de uma grande fraude. Os

alquimistas não foram em absoluto pessoas ignorantes, vítimas ingênuas de

prestidigitadores vulgares, nem perseguidores de vãs quimeras. Foram

homens de inteligência superior, conforme demonstram os escritos que

deixaram, cheios de uma profunda sabedoria universal, reveladores não só

de um conhecimento incrivelmente avançado, mas também de uma sólida

formação moral e rígidos padrões éticos e humanísticos.

Nem se pode imputar a eles, como querem alguns implacáveis

opositores, a ganância como meta principal de suas buscas. Não, o ouro não

seduzia absolutamente o espírito desses filósofos, que deixaram mais que

evidente o desprendimento necessário ao iniciado como uma das virtudes

fundamentais para alcançar o que eles sempre chamaram "o dom de Deus".

Nem mesmo a imortalidade física representava para eles a meta principal, já

que muitos preferiram a morte e a tortura à revelação de seu segredo. Eles

acreditavam na imortalidade da alma, mais que na do corpo, embora esta

pudesse ser igualmente alcançada.

Muito além e muito acima dos mesquinhos interesses materiais,

estava a transformação do próprio alquimista, o máximo aperfeiçoamento

espiritual, o suprema realização das possibilidades humanas em sua

existência terrena. Num encontro narrado por Louis Pawels e Jacques

Bergier, em sua obra O Despertar dos Mágicos, Bergier, nos anos finais da

Segunda Guerra, ouviu de um Adepto - possivelmente o próprio Fulcanelli -

a seguinte declaração: "Não ignoramos que, na ciência oficial em progresso,

o papel do observador torna-se cada vez mais importante. A relatividade, o

princípio da incerteza, lhe mostram a que ponto o observador intervém nos

fenômenos. Eis o segredo da alquimia: existe um meio de manipular a

matéria e a energia de maneira a produzir o que os cientistas

contemporâneos chamariam um campo de forças. Esse campo de força age

sobre o observador e opõe numa situação privilegiada em face do universo.

Desse ponto privilegiado, ele tem acesso a realidades que o espaço e o

tempo, a matéria e a energia, de hábito, mascaram. É o que chamamos a

Grande Obra".

Eles, os verdadeiros Adeptos, alcançaram, sim, sem dúvida, a

imortalidade, mas acima de tudo, encontraram esse estágio de evolução em

que matéria e espírito passam a ser parte de uma mesma dimensão. Numa

palavra, ultrapassaram a barreira do real - do nosso real. O enfoque da

transmutação do próprio alquimista recebe tal ênfase nos textos

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Os quatro elementos - fogo, terra, ar e água - presentes no estudo da Astrologia e da

Alquimia

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Page 84: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

herméticos que iludiu alguns famosos autores, como Jung e Titus

Burckhardt, que acreditaram ser a alegoria da Grande Obra nada mais que

uma engenhosa seqüência de mandalas criada para direcionar a evolução

humana, e que tudo não passava de uma visão simbólica para representar o

homem em sintonia com a natureza. Entretanto, essa interpretação é

limitada. Certos autores não conseguiram alcançar a realidade muitíssimo

mais complexa do fenômeno da Alquimia, e sua oposição escondia uma

vontade mais ou menos inconsciente de evitar a necessária revisão de todos

os seus conceitos científicos para poder enquadrar fatos inexplicáveis dentro

de teorias acanhadas.

As figuras alegóricas do maravilhoso álbum do filósofo Altus,

denominado Mutus Líber (0 Livro Mudo) - serão qualquer coisa, menos uma

seqüência de mandalas. O Mutus Líber foi editado em 1677, em La

Rochelle, França. O nome verdadeiro de seu autor é desconhecido. Vemos

no Mutus Líber um autêntico formulário, uma real seqüência de atividades

físicas, relacionando matérias primas, condições meteorológicas, épocas do

ano, manipulações, proporções, instrumentos de laboratório, etc. Claro que

para interpretá-las é preciso ser mais que um estudioso da psique humana, é

preciso ser um filósofo hermético, um honesto estudioso do simbolismo

arcaico, cujas lendas revelam o arcano completo da obra. Mais que isso, na

postura humilde do casal de operadores, ajoelhados diante do athanor,

vemos a atitude mental necessária ao êxito. É preciso ser um com a obra,

com a matéria-prima, com o próprio mundo. O simbolismo é demasiado rico

e profundo para ser mera especulação ou produto de imaginações férteis.

É secreto, pela necessidade da própria exigência do magistério. É

preciso passar pelas provas da iniciação, antes de conhecer os mistérios da

arte, ou seja, é preciso desvendar os enigmas apresentados nos textos para

merecer o prêmio da revelação. Isso após dar mostras suficientes de

humildade e devoção à causa da humanidade. Mas não tão secreto que não

possa ser desvendado por uma mente lúcida e uma alma pura.

A Alquimia, tal como a Astrologia, seduziu as mentes mais

esclarecidas e privilegiadas que a humanidade já possuiu em todos os

tempos, tendo sido uma matéria de estudo habitual de toda pessoa culta em

qualquer sociedade. Encontramos estudiosos da Alquimia entre filósofos,

cientistas, poetas, teólogos, artistas, escritores, matemáticos, burgueses,

sacerdotes, artesãos e profissionais liberais de todas as

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Page 85: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

formações. Ao contrário do que muita gente pensa, a Alquimia não nasceu

nem foi cultivada apenas na Idade Média, mas constitui parte de um

patrimônio de conhecimentos com remotíssima antigüidade, fazendo

conjunto com outras disciplinas imbuídas do mesmo sentido iniciático e

sendo todas mutuamente complementares. Acostumamo-nos a denominar

essas disciplinas de Ciências Herméticas.

Trata-se na verdade de um vasto conjunto de matérias cujo teor é tão

extenso quanto pode ser o conhecimento do próprio universo, uma vez que

esse era o verdadeiro objetivo das Ciências Herméticas - explicar o universo,

sua origem, constituição, funcionamento, suas leis, suas metas, sua ordem e

até sua finalidade. Dentro desse contexto, a explicação do universo traria em

seu bojo a explicação do homem, assim como de toda a criação e da própria

divindade. Explicar o universo foi também um dos maiores desafios do

século XX, e segue sendo hoje. No entanto, a ciência atual pretende explicar

tudo do ponto de vista racionalista, deixando de lado qualquer coisa que

tenha aspecto religioso ou que mencione algo como um Criador. A própria

história do Big Bang, pretensamente a história da origem do universo, afirma

que tudo começou com uma grande forma energética, ou ovo cósmico, que

explodiu, dando início às galáxias, sóis e sistemas solares, etc. Mas é

bastante óbvio que desse modo fica sem explicação de onde e como surgiu o

tal ovo. "Nuvens de hidrogênio", respondem os sábios atuais, mas a pergunta

continua - e o hidrogênio, de onde veio e como se formou? A idéia do ovo

não é tão má, afinal, mas está claro que necessita de um complemento.

Ora, a ciência antiga jamais teve qualquer problema em admitir a

idéia de um Criador incriado, uma inteligência una e superior, dotada de

todos os atributos necessários à grande tarefa de produzir o universo.

Alguém que sempre existiu, portanto não teve início: e estava resolvido o

problema da geração do ovo; infinito, o que responde à questão do "o que há

no fim do mundo?", ou o que encontraremos se viajarmos indefinidamente,

sempre na mesma direção? Outros universos, outras galáxias, outros

sistemas, etc, etc, já que o universo criado por Deus não passa de uma

expressão fenomênica do próprio Deus, e portanto tão infinito quanto Ele.

Eterno, portanto, satisfaz à pergunta do "até quando existirá o

universo?" - a resposta é "sempre". Embora possa apresentar ciclos de

destruição e reconstrução, como nos ensina a Doutrina Brahmânica, que

compara esses ciclos à respiração divina, expirando e criando universos,

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Page 86: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

inspirando e fazendo retornar os universos ao não-ser. É onisciente,

portanto, nos deixa confiantes quanto à direção que toma essa grande nau

que é o nosso mundo, tão cheio de tortuosos caminhos. Sempre que

pensarmos que "Deus sabe o que faz", acreditaremos que a nau possui um

ótimo timoneiro e nos levará a um porto seguro.

A Ciência Antiga atribui ainda outras notáveis qualidades ao Criador:

é bom, justo e misericordioso. É uma fé que nos conforta quanto aos

supremos valores que animam nossa esperança: existe afinal uma justiça

superior que corrige os erros da nossa justiça terrena, premia os bons e

castiga os maus, e essa idéia nos reconcilia com a vida e com a própria

divindade, explicando racionalmente as desigualdades humanas, o

sofrimento, a dor e a morte. Na verdade, as Ciências Herméticas construíram

um complexo e engenhoso esquema onde tudo segue leis determinadas,

numa ordem perfeita que explica tudo e resolve tudo. Com a vantagem de

deixar ampla margem para o exercício de nosso livre-arbítrio e dar infinitas

possibilidades para o desenvolvimento de nosso potencial individual. Temos

a liberdade de tomar a direção que nos apraz, mas sabemos que tudo o que

fazemos - e até o que pensamos ou sentimos - gera um campo de força que

acarreta conseqüências na mesma e exata faixa de vibrações. Karma, Lei de

Causa e Efeito, palavras-chave que exprimem sinteticamente a mecânica que

rege as relações humanas em sua totalidade.

É um sistema cruel, este imaginado pela ciência moderna, onde o

universo não é mais que uma ordem mecânica, fria, impessoal, onde até a

vida não passa do fruto de um mero acaso e o destino da humanidade se

torna o resultado de forças insensatas. A grande maravilha da Ciência Antiga

é situar o homem dentro de um universo coerente e fundamentalmente justo.

Acima das considerações terrenas, existe uma vontade superior que dirige

tudo e administra os fatos da vida de acordo com nossos méritos. Ela nos

conduz a uma finalidade conhecida, que é o retorno ao Grande Pai, à Grande

Luz Central, de onde tudo e todos procederam um dia, rumo à longa jornada

pelos mundos visíveis.

E mais que isso, o homem é o próprio centro desse universo. É dotado

dos mesmos poderes e capaz de reproduzir os mesmos milagres que seu

Criador, uma vez que é dEle uma cópia em miniatura e possuidor de uma

parcela de Sua divina essência. Os filósofos herméticos concebem cada

partícula do mundo físico como um ser vivente, dotado de um corpo denso -

matéria - de um corpo mais sutil que dá movimento ao primeiro

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Page 87: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Nascimento do mineral hermafrodita, proveniente das três substâncias originais e que

será alimentado com seu próprio sangue. A operação é aqui simbolizada pelo pelicano,

nutrindo seus filhotes

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- energia ou alma - e ainda um terceiro, este de natureza imortal, que é o

espírito - ou vida. Jean D' Espagnet nos diz textualmente: "Os metais

encerram em si os princípios da vida, isso é, esse fogo impresso e insuflado

pelo Céu".

A Filosofia Hermética ensina que existem no reino mineral duas

naturezas - a masculina e a feminina - que estão reunidas nos corpos dos

minerais, e especialmente visíveis nos metais, em diferentes porcentagens

nos diversos corpos. Há assim metais ditos masculinos como o ouro e o

ferro, e metais femininos, como a prata e o cobre. Há, inclusive, um metal

hermafrodita, que é o mercúrio, dotado de ambas as naturezas. A união de

corpos masculinos com corpos femininos dá origem a uma autêntica prole

mineral. Mas, mais que isso, gera-se uma semente capaz de conceber e de

reproduzir-se exatamente como nos reinos vegetal e animal. E na verdade o

espírito da matéria filosofal que opera as transformações e é o responsável

pela geração e multiplicação da semente metálica contida no mineral.

Bem compreendida, a Alquimia é a ciência que estuda toda a

natureza, como um conjunto harmonioso e vivo. Não é uma atividade

contemplativa e medieval, como já foi definida por um psicólogo jungiano,

que na mesma categoria gostava de enquadrar também a Astrologia. E uma

prática universal, verdadeira e atual, seguida por estudiosos que a ela

devotaram décadas de suas vidas. Há nela o encanto especial de um enigma,

a beleza insuperável dos símbolos, a sedução do prêmio supremo que é

alcançar o topo da evolução kármica e libertar-se das cadeias da matéria.

É a ciência, mas a ciência total, não a ciência mutilada dos

acadêmicos materialistas, que no afã da pesquisa "racional" se esqueceram

de levar em conta o elemento principal que é a vida. Tal como os biólogos -

literalmente, o estudo da vida - num passado não muito remoto, que

estudavam as plantas mortas em seus herbários ressecados e esterilizados, os

pobres sábios do mundo moderno continuam a estudar o universo separado

de seu alento vital. Não irão descobrir mais que um esqueleto, como os

biólogos de antanho não encontraram nada além do vazio em suas células

mortas. Na verdade, não é preciso deixar de ser rigorosamente científico

para ser um alquimista ou um astrólogo, muito pelo contrário. Apenas é

indispensável acrescentar à visão simplista das demonstrações matemáticas,

tão ao gosto dos nossos físicos cartesianos, um ingrediente: a alma.

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Page 89: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Capítulo 07

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egundo o Livro de Enoch, as três ciências que denominamos

Herméticas ou Trismegísticas - a Astrologia, a Magia e a Alquimia -

não são patrimônio terrestre, mas nos foram transmitidas por seres

vindos das estrelas. De fato, como astrólogos, temos às vezes a

impressão de que se trata de uma ciência demasiado complexa e

profunda para que pudesse ser reunida num conjunto coerente, organizado e

abrangente da forma como existe hoje, somente através da observação

milenar, paciente e empírica de homens curiosos que se davam ao trabalho

de catalogar estrelas e conferir a órbita de tal ou qual astro azul ou verde.

Parece-nos difícil explicar dessa maneira o conhecimento tão incrivelmente

antigo sobre a natureza astrológica de Urano, Netuno e Plutão, planetas

recentemente descobertos.

É possível, por outro lado, que civilizações extintas já há muitas eras

tenham alcançado um elevado grau de conhecimento científico, natural e

espiritual, e que nosso saber atual seja uma herança um tanto mutilada de

algo muito mais vasto e completo. Seja como for, essas três ciências, no

correr dos milênios, têm sido mantidas em segredo com o mesmo zelo com

que se guardam hoje os segredos das armas atômicas. Regida por Urano, a

Astrologia foi a primeira a proclamar sua própria independência. Deixou de

ser uma ciência secreta, buscou voluntariamente a divulgação e espalhou

discípulos e praticantes por toda a face da Terra. Hoje, publica livros, forma

associações profissionais, realiza congressos públicos, sindicaliza-se. A

Magia - na qual se pode enquadrar as práticas da Yoga como um dos rituais

de alto nível - regida por Netuno é, das três, a ciência que mais requer dons

inatos

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do indivíduo. Em suma, nasce-se mago, mas não se aprende Magia como se

aprende Astrologia, Medicina ou Botânica. Dentro da Magia, cumpre

distinguir dois níveis: a Alta e a Baixa Magia.

A Baixa Magia é aquela que está nas nossas bancas de jornais e

livrinhos dos "sebos": fórmulas de poções, filtros, encantamentos para

prender o namorado, simpatias para crescer cabelo, feitiços, quimbandas,

vodu, sapos costurados, bonecas alfinetadas, missa negra e "mandingas" em

geral. Herança de um conhecimento mais amplo e profundo, a Baixa Magia

utiliza as energias da natureza - precisamente a energia elemental dos seres

constitutivos da matéria mais suscetíveis de serem dominados e controlados.

Seus propósitos são de natureza individual e sua preocupação é alcançar

vantagens pessoais, tendo em geral objetivos egoístas, quando não

destrutivos. Já a Alta Magia, se preocupa com a evolução espiritual do

praticante, seu vínculo divino e sua alma imortal. Seus Adeptos se

congregam muitas vezes em ordens iniciáticas e sua atividade atinge o plano

coletivo da humanidade. Suas práticas desencadeiam energias de elevada

dimensão e podem mudar o curso da História.

As práticas da Alta Magia, assim como as mais elevadas da Yoga, não

costumam ser escritas - são transmitidas de boca a ouvido para pessoas que

alcançaram certo mérito, um certo estágio de evolução em que um tal

conhecimento advém quase que automaticamente, por dedução ou revelação.

Entre verdadeiros magos, não é necessário o contato físico para que troquem

idéias - eles se encontram num outro plano. Mestre e discípulo se vêem e se

falam naturalmente à distância e nem mesmo a morte é obstáculo a esse

encontro. Quanto à Alquimia - esta regida por Plutão - permanece sempre

um profundo mistério. Sua linguagem é simbólica, mas não no mesmo

sentido em que o são a Magia e a Astrologia, pois que nestas o símbolo

apenas serve ao usuário como o alfabeto nos serve para escrever um livro ou

um recado. Queremos dizer que o símbolo se presta à Alquimia como uma

forma de velar, de esconder uma prática.

A Alquimia nos chega à época atual com cerca de 100 mil livros ou

manuscritos - todos vazados numa linguagem cifrada, enigmática, muitas

vezes pictórica, onde símbolos astrológicos se misturam a figuras

mitológicas, animais estranhos e monstros lendários se mesclam com dizeres

misteriosos em latim ou grego e citações cheias de anagramas, criptogramas

e absurdos propositais. Os próprios autores confessam que usam tal

linguagem para confundir e afastar os curiosos. No entanto, essa

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Page 93: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

mesma linguagem que desencoraja os leigos é extremamente clara para o

estudioso autêntico, que reuniu conhecimentos universais do simbolismo

astrológico, das leis de Hermes, da observação sistemática e cuidadosa da

Mãe Natureza, e para aquele que passou anos debruçado sobre os textos de

antigos filósofos, aprendendo idiomas extintos, decifrando o código

arquitetônico de antigos monumentos, catedrais, estátuas, inscrições,

papiros, baixos-relevos e rituais iniciáticos.

Mas o elemento que melhor distingue a Alquimia das outras duas

irmãs é seu caráter de "dom divino", de "revelação". De fato, os autores

insistem muito nesse pormenor. Não basta estudar, ler, trabalhar no forno, é

preciso rezar, é preciso esperar que Deus, Ele mesmo, opere o milagre da

revelação e abra o espírito do estudante para o secreto mister. Quais os

objetivos do alquimista? Afora o folclórico uso da Pedra Filosofal para

fabricar ouro a partir do chumbo, ela também serve como um fantástico

elixir - que garante algo próximo da juventude eterna, saúde, a imortalidade

e felicidade a seus possuidores.

No entanto, não parece que tanto segredo seria necessário para estas

duas finalidades. Tudo leva a crer que algo muito mais importante se

escondia por trás de todo esse mistério. Autores modernos falam de um

"estado superior de consciência", que seria alcançado simultaneamente com

a elaboração e a conquista da Pedra Filosofal. Algo como um "saber total",

uma "revelação interior", um "despertar completo da consciência", sem

paralelo nas experiências com Yoga ou Magia. Recordo aqui uma passagem

bíblica de Gênesis, quando Deus expulsou do Éden Adão e Eva por terem

comido da árvore do conhecimento do Bem e do Mal: "Eis que o homem

tem-se tornado como um de nós, conhecendo o Bem e o Mal. Ora não

suceda que estenda sua mão e tome também da árvore da vida, e coma e

viva eternamente". Na rebelião da serpente do Paraíso se vislumbra o

segredo da imortalidade. Ao comer a maçã, o homem já se tornara igual aos

deuses - importante notar que o "deus" da Gênesis só fala de si mesmo, na

primeira pessoa do plural: o homem se torne como "um de nós" - portanto

capaz de compreender e certamente de repetir seus "milagres".

A história se parece com uma primeira tomada de consciência da

humanidade quanto a seus poderes naturais. O passo seguinte seria

estendê-lo ao ponto de igualar-se aos deuses que o criaram - ou seja, não só

gerar seres à sua imagem e semelhança, mas também criar mundos. Quer

dizer, gerar matéria. Talvez não a partir do nada, mas sim a partir

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Page 94: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

de outra matéria. Gerar a partir do nada seria um atributo da divindade

propriamente dita, da divindade singular, não da divindade plural da

Gênesis, que mais se parece com um punhado de astronautas mal treinados e

incompetentes para a complexa missão que receberam. Ora, gerar matéria a

partir de outra matéria é exatamente o trabalho do alquimista, e os maiores

clássicos da arte fazem questão de frisar que a confecção da Pedra Filosofal

se assemelha em tudo à descrição da Gênesis, começando com o espírito

pairando sobre as águas, o surgimento da luz, a separação da terra seca, etc.

Tudo leva a crer que havia por trás da Pedra Filosofal um conjunto de

segredos que conduziam a uma finalidade tríplice: o Elixir da imortalidade,

a superconsciência e o poder sobre a estrutura da matéria.

Sendo o alquimista um ser de elevada espiritualidade e alta

preocupação humanística, esse tremendo segredo exigiu da parte dos

filósofos um terrível juramento de silêncio, ao qual sempre se reportam

quando sua linguagem cifrada começa a ficar um pouco mais clara que o

normal. O perigo de que tais segredos caíssem em mãos erradas era de

ordem a pôr em risco a própria sobrevivência da humanidade, e vários

alquimistas preferiram a tortura e a morte a romperem o silêncio.

Vejamos qual é basicamente a tarefa do alquimista. Ele segue antes de

tudo um rígido código moral. Retira-se do mundo, isola-se para meditar, ler,

orar e praticar sua arte num forno especialmente construído para esse fim.

Às vezes, é ajudado por um colega que compartilha seus sonhos, mas

geralmente fica sozinho - seu compromisso com a obra deve ser total. Nada

deve distraí-lo ou preocupá-lo. Dizem alguns autores que o alquimista deve

ser abastado, quase rico, pois se ele tem que lutar pelo pão de cada dia, não

conseguirá levar a termo sua tarefa. Se alcançar o magistério, ou seja, se

conseguir fabricar a Pedra Filosofal, mudará de nome, de país, de

personalidade. Desaparecerá no anonimato, para que os poderosos e os

ambiciosos não o persigam. Foge das glórias do mundo, faz caridade e

distribui entre os mais infelizes e sofredores seu elixir milagroso.

Estuda em profundidade as leis da natureza e procura, em seu

trabalho, não apenas segui-las, mas copiá-las. Sua cultura deve ser universal

e vasta, abrangendo vários idiomas e o pensamento dos filósofos antigos,

começando por Hermes, passando por Platão, Aristóteles, Pitágoras e

terminando com Paracelso, Basile Valentin, Eireneu Filaleto, Nicholas

Flamel e mais trinta outros filósofos consagrados, que tiveram a

preocupação de deixar uma obra escrita para que o segredo não se

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Page 95: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

perdesse de todo. As matérias-primas que utiliza são minerais conhecidos e

comuns, e seu processo se assemelha, segundo os melhores filósofos, a uma

agricultura celeste, exigindo perseverança, uma paciência inesgotável,

repetição incansável de operações, com inúmeros erros, fracassos e reinícios.

0 tempo necessário para descobrir os processos secretos e completar a obra

varia de dois a cinqüenta anos.

Vários artistas explodiram junto com seus fornos, muitos morreram

sem jamais atingir o fim da obra, a maioria só a atingiu na velhice. Os que

chegaram ao magistério, porém, alcançaram o conhecimento da estrutura da

matéria, a origem do universo e a essência da vida. Passaram a pertencer a

uma hierarquia de homens superiores que possivelmente governa e

administra secretamente as energias da Terra, preservando-a contra o

vandalismo da ciência moderna, materialista, destrutiva e sem consciência.

Seus membros vivem anônimos entre nós, protegidos por modestos

disfarces, escondidos na multidão, orientando estudantes mais adiantados da

Arte Magna, instruindo intelectuais, cientistas e pessoas-chave da nossa

civilização, de forma a evitarem, ou pelo menos retardarem os cataclismas

que o homem sempre desencadeia à sua volta quando atinge certo estágio

tecnológico.

Mas, vamos ver mais de perto um alquimista em seu laboratório. Ele

reúne, sob condições muito especiais, duas matérias que denomina

simplesmente Sol e Lua, ou um lobo e um leão, um dragão e um guerreiro,

Apoio e Diana, etc. Simbolizam os dois princípios, masculino - sal - e

feminino - mercúrio - cujas naturezas inimigas devem ser provocadas,

através de uma terceira substância - enxofre ou fogo secreto - para um

violento combate, ao fim do qual ambos sucumbem. Daí nasce um novo

Mercúrio - o filho - de natureza hermafrodita, que é chamado de "o primeiro

dissolvente". Na segunda etapa da Obra, um novo combate químico se

realiza entre outros dois compostos de naturezas opostas, a fim de dar

nascimento a um segundo mercúrio.

Na terceira etapa, um composto, que representa a perfeita síntese

mineral entre céu e terra, Sol e Lua, masculino e feminino, agora fertilizado

por uma semente metálica, deve dar origem à Pedra Filosofal propriamente

dita, num processo longo, trabalhoso, repetitivo e estafante. Dizem os

autores que são necessários de 9 a 18 meses para completar o processo,

supondo que o artista não cometa nenhum erro. A primeira correlação

traçada entre a Alquimia e a Astrologia é a escolha da época propícia para

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o início das operações. Não só o período astrológico pessoal do operador

deve estar favorável, mas a época do ano, as estações, lunações, trânsitos

solares e lunares, grandes conjunções, etc, devem ser propícios. Isso sem

considerar o mapa natal, que já deve por si mesmo indicar a possibilidade de

uma tão grande e significativa realização. Cada etapa da Obra, pela natureza

química dos compostos empregados, deve ser acompanhada

astrologicamente, segundo o planeta e signo que dispõem sobre a matéria

empregada e o tipo de operação a realizar. É preciso conhecer também a

simbologia empregada entre os Adeptos, que denominam seus compostos

químicos pelos astros que os regem ou pelas características próprias desses

astros. Nem sempre a ligação é muito óbvia, tendo os autores herméticos o

costume de apelar freqüentemente a analogias e parábolas extraídas das

várias mitologias - nórdica, mesopotâmica, chinesa, grega, latina, medieval

ou mesmo cristã.

Por exemplo, numa certa etapa da Obra se fala de Vênus, induzindo o

aprendiz a pensar que se trata de um composto de cobre - o metal de Vênus -

mas noutra parte do escrito se depreende que Vênus deve ser entendida

como analogia mito-astrológica: é um composto que brota da espuma de

uma água que eles denominam "mar hermético", tal como Afrodite nasce da

espuma do mar, o que na tradição astrológica lembra a exaltação de Vênus

no signo de Peixes, regido pelo planeta das águas, Netuno.

O simbolismo dos quatro elementos encontra uma síntese belíssima

no mais enigmático e significativo monumento já erguido na face da Terra,

que é a Esfinge de Gizé. Com patas de Leão, corpo de Touro, asas de águia e

rosto humano, representa na Astrologia os quatro elementos presentes nos

signos fixos do Zodíaco: o Fogo (signo de Leão), a Terra (Touro), a água

(representada pela águia, equivalente do Escorpião sob a forma sublimada,

ou a água em forma de vapor) e o Ar (signo de Aquário), que é a face

humana.

A Esfinge é considerada esotericamente a representação da aliança

feita entre os elementais, ou "anjos", que criaram o mundo sob forma física,

material, e os homens, a cuja guarda esse mundo foi entregue. No templo

interior da Esfinge se realizavam, na Antigüidade, os rituais de iniciação

egípcia, e até hoje o poderoso significado mágico do monumento é

perpetuado, seja pelos rituais iniciáticos mantidos pelas ordens maçônicas,

seja pela presença espiritual de altos magos que conduzem, em plano astral,

os candidatos à iniciação nos primeiros mistérios.

96

Page 97: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

A Esfinge é igualmente um monumento alquímico, certamente o maior e o

mais evidente de quantos existem. Representando os quatro signos fixos do

Zodíaco, mostra a essência da Obra Alquímica, que é a "fixação do volátil".

Sob a forma sublimada da Águia, ela mostra a necessidade de aperfeiçoar a

água - cujo elemento simboliza o Escorpião - até que ela evapore,

adquirindo asas, ou seja, tornando-se volátil.

O elemento terra, de quem toma o corpo, e portanto, a sua maior

parte, representa o reino mineral, no qual deve o artista trabalhar, além de

dar idéia, possivelmente, do peso com que participa esse elemento no

cumprimento da tarefa alquímica. Repousando sobre patas de leão, mostra

que toda a Obra é fruto da purificação ígnea, que tanto é feita através do

fogo comum como por intermédio de um fogo simbólico - significando as

energias solares - que, como lembra a Lenda de Prometeu, libertará o

homem. A cabeça humana da Esfinge reflete a finalidade última da Obra - a

salvação do homem, a construção do ser perfeito, o despertar da

superconsciência, o domínio da natureza pelas forças do espírito purificado.

Um exemplo muito interessante de correspondência entre o mito

astrológico e o mito alquímico é demonstrado na Lenda de Perseu. A

história desse herói é a narrativa simbólica de uma das etapas da Pedra

Filosofal. Mas vamos à parte que, de perto, toca à Astrologia. Perseu havia

prometido a Polidectes a cabeça da Medusa, monstro negro coberto de

escamas de dragão, cabelos em forma de serpente, mãos de bronze e asas de

ouro - a própria imagem da matéria-prima da pedra, que é sempre

apresentada como escura, suja, coberta de escória, e malcheirosa. Aliás, a

Medusa, com seu olhar, petrificava as pessoas à distância. Ora, Perseu

conseguiu, com o auxílio de Hermes - Mercúrio - sandálias com asas -

atributo de Mercúrio, que o torna volátil - um saco de formato especial - o

vaso hermético para confecção da Obra - e o capacete de Hades, que tornava

invisível quem o usasse. A operação alquímica se realiza ocultamente, sem

que a vista humana a perceba. Além disso, deve desenvolver-se em total

obscuridade. Hermes deu ainda a Perseu uma espada de aço, instrumento

indispensável para "matar" o dragão alquímico.

Perseu, assim equipado, decapitou o monstro, e, do corte sangrento do

seu pescoço, saltou Pégasus, um cavalo branco alado. Na obra alquímica, a

cor negra da matéria inicial deve ser depurada por sucessivas sublimações

até que seja substituída pela cor branca - operação que os artistas chamam

"cortar a cabeça do corvo", ou dragão, ou serpente ou

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Page 98: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

outro animal qualquer que simbolize a mesma substância bruta e negra.

Quando surge a cor branca, simbolizada ora por um cisne, ora por lírios, ora

pela roupagem branca de um personagem, liberta-se o espírito metálico que

estava aprisionado na matéria primitiva.

Astrologicamente, a cabeça cortada da Medusa é representada, na

Constelação do Perseu, pela estrela Algol, que, devidamente colocada no

mapa astral de uma pessoa, provoca a sua decapitação - real ou simbólica. E

a estrela mais brilhante da constelação do Perseu é a Alpherat, que possui

um significado de liberdade, perfeitamente identificado na imagem de

Pégasus levantando vôo. É o espírito metálico que se desprende do corpo

físico e se liberta, para poder depois servir de instrumento para aperfeiçoar

metais, torná-los puros e, conforme a Arte Alquímica, transmutá-los em

prata ou em ouro, metais que, na escala evolutiva dos minerais, ocupam o

ponto mais alto.

Mas a proposição mais interessante - e que pode emprestar um rumo

altamente esotérico ao estudo da Astrologia - é a velha máxima de Hermes,

que todo estudante de Astrologia aprende: "Nada está parado, tudo se move;

tudo vibra". Diz um alquimista do século XX, Fulcanelli: "Neste mundo tudo

é vida e movimento. A atividade vital, muito aparente nos animais e nos

vegetais, não o é menos no reino mineral, embora exija do observador uma

atenção mais aguda. Os metais efetivamente são corpos vivos e sensíveis,

como o testemunham o termômetro de mercúrio, os sais de prata, os

fluoretos, etc. Que são a dilatação e a contração, senão dois efeitos do

dinamismo metálico, duas manifestações da vida mineral?", questiona. Ele

continua dizendo que não basta ao filósofo anotar somente o alongamento

duma barra de ferro sujeita ao calor. "É preciso investigar qual é a vontade

oculta que obriga o metal a dilatar-se. Sabe-se que os metais, sob a

impressão das radiações calóricas, afastam os seus poros, distendem as

suas moléculas, aumentam de superfície e de volume. De outro modo,

desabrocham, como nós mesmos fazemos sob os benéficos eflúvios solares",

explica Fulcanelli. De acordo com ó alquimista, não se pode negar que tal

reação tem uma causa profunda, imaterial, "pois não saberíamos explicar,

sem essa impulsão, que outra força obrigaria as partículas cristalinas a sair

da sua aparente inércia".

A idéia de que haja um princípio vital - e mesmo um princípio

inteligente - na matéria metálica se confirma com a observação de que os

artefatos produzidos pelo homem, seja sob a simples influência climática,

seja submetidos a tensões contínuas - como os motores,

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Page 99: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

barcos, aviões, ferramentas, trilhos de trem. Eles sofrem um processo que

denominamos "estafa do material". Aviões explodem no ar, após certo

número de horas de vôo; trilhos se desfazem como que apodrecidos; aço

temperado se rompe em pedaços, como se literalmente tivesse envelhecido e

deteriorado. O mesmo autor comenta sobre o fato: "O enfraquecimento da

energia vital, fase normal e característica da decrepitude, da senilidade do

metal, é bem o sinal precursor da morte próxima. Ora, sendo a morte o

corolário da vida, a conseqüência do nascimento, daí resulta que os

minerais e os metais manifestam a sua submissão à lei de predestinação que

rege todos os seres criados. Nascer, viver, morrer e transformar-se são os

quatros estados dum período único, que abraça toda a atividade física. E

como essa atividade tem por Junção essencial renovar-se, continuar-se e

reproduzir-se por geração, somos levados a pensar que os metais contém em

si, tal como os animais e os vegetais, a faculdade de multiplicar a sua

espécie".

Lembremos aqui o exemplo conhecido do cristal de ametista, que

forma verdadeiros ovos - os geodos - cujas dimensões variam de alguns

centímetros a dois metros de diâmetro. Por fora, uma casca escura, lisa e

dura, que faz parecer uma pedra comum, embora de formato regular,

arredondado, oval, como um ovo de pássaro! Aberta, revela milhares de

cristais que crescem para dentro, alimentados por uma água-mãe, ao mesmo

tempo em que o "ovo" se desenvolve, aumenta de volume e de peso - claro

que no prazo de milênios ou de eras geológicas - que importa o tempo no

reino mineral? Ele não tem pressa alguma! Pois bem, o ovo da ametista

cresce até que o quebremos. Rompida a casca, esvaída a água-mãe, o cristal

pára de crescer. Exatamente como o ovo de uma galinha, que foi aberto

antes do tempo: o feto morre, a vida do cristal é interrompida.

Outra prova da vida mineral é encontrada ainda nos cristais,

especificamente no quartzo - o mesmo material de que são feitos certos

componentes dos modernos relógios. E sabido que ele "pulsa", emite um

sinal rítmico, de incrível exatidão, razão pela qual foi escolhido para garantir

a pontualidade e precisão desses aparelhos. Ora, não será essa acaso uma

manifestação de vida, como a nossa própria pulsação, ou nossos batimentos

cardíacos? E baseado no princípio desta verdade analógica, de que o reino

mineral é tão vivo quanto um de nós - embora tenha seu próprio ritmo e seu

próprio tempo - que trabalha o alquimista. "Os metais, graças à sua própria

semente, podem ser reproduzidos e desenvolvidos em quantidade". Essa

atribuição de qualidades vitais e espirituais aos domínios que nossa

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Page 100: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

civilização materialista denomina inanimados, ou inertes, encontra um

paralelo na Mitologia de todos os povos antigos, que emprestavam não só às

plantas, mas à água, ao vento, à terra, às pedras, montanhas, ao mar, aos

astros e até às paisagens um caráter próprio, uma alma, uma personalidade,

virtudes e defeitos, e os faziam capazes de ação, intervenção, sentimentos,

paixões, memória, inteligência e razão.

No que toca especialmente aos astrólogos, é de notar que os astros

eram vistos e tratados como deuses, cuja boa vontade era preciso cativar, e

cuja ira tinha que ser aplacada com sacrifícios e rituais. Imagino um cidadão

grego da Antigüidade, que chorava suas mágoas devido a uma quadratura de

Vênus, lamentando-se de um amor não correspondido. Ia consultar o

oráculo, e este lhe dizia: "Meu filho, vai e sacrifica uma pomba no altar de

Afrodite, sobre um vaso de cobre, e faze isto vestido de um manto azul claro,

e depois deposita flores em seu Templo e então toda a cólera da deusa se

dissipará". Na filosofia do alquimista, manipular os objetos e os minerais

que Vênus domina é mais do que um exercício retórico para desviar o efeito

da quadratura do astro - é atuar diretamente na substância viva do planeta

Vênus por intermédio de uma parcela dele, aqui representada por um vaso

de cobre, uma flor ou uma pomba.

Tal como nas cerimônias mágicas, ou nas técnicas da Radiestesia,

tocar num punhado de cabelo cortado de uma pessoa, ou na imagem

fotográfica dela, é o mesmo que tocar na própria pessoa. Os modernos

estudos do ADN talvez pudessem dar desse fato um testemunho muito

interessante. Assim, a regência de um planeta sobre as coisas da Terra não se

faz apenas conforme a natureza química semelhante dessas coisas, o que

daria uma "nota científica" à Astrologia, podendo explicar a atuação dos

astros por um efeito de ressonância à distância. A explicação deve ser

procurada mais profundamente, numa ressonância vital, anímica - vida

fazendo vibrar vida. Fundir cobre ou cozinhar arroz numa panela de cobre

faz remexer, nas entranhas da deusa planetária Vênus, algumas de suas

células. Obriga-a a prestar atenção ao pobre mortal terráqueo que se atreve a

tocar na sua essência. Fá-la emitir vibrações de prazer ou simpatia - se o

terráqueo está com bons aspectos de Vênus - ou de cólera e ódio - se o

infeliz está com maus aspectos de Vênus.

O trabalho do alquimista, capaz de transformar qualquer metal em

ouro (o metal do Sol) ou em prata (o metal da Lua) é o de obrigar a natureza

a uma rápida evolução e aperfeiçoamento, abreviando para alguns meses

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Page 101: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

ou dias o que a natureza levaria eras inteiras para completar. Pois, dizem os

filósofos, ao citar a obra A Pedra Filosofal, de São Tomás de Aquino:

"Ninguém duvida que estes metais ter-se-iam transformado por si mesmos

em prata e ouro, se tivessem permanecido na mina o tempo necessário à

manifestação da ação da natureza". Curiosa afirmação, que nos recorda a

promessa esotérica do retorno do homem ao fim de seu resgate kármico, ao

seu divino Criador. Purgado pelo sofrimento, elevado pelo conhecimento,

purificado pelo sacrifício, salvo pela fé, o homem deverá, ao fim do seu ciclo

evolutivo, reintegrar-se com a divindade, da qual, por um misterioso e

longínquo acidente, se separou. Assim, a matéria impura - o dragão

escamoso dos alquimistas

- martirizada, calcinada e sublimada pela arte do filósofo, retornaria à ma

téria original, pura e imaculada, e voltaria a participar da essência solar,

transmutada em ouro - ou da essência lunar, transmutada em prata.

Vemos que o alquimista nunca deixa de admitir a existência dos dois

princípios, masculino e feminino, quer se trate de metais, de deuses ou de

planetas. A matéria purificada voltará tanto ao pai como à mãe, pois no caos

original ambos os princípios estão contidos juntos num mesmo arquétipo. O

alquimista é, portanto, alguém que reconhece que, em primeiro lugar, a mão

humana pode intervir positivamente na evolução da própria natureza,

continuando e auxiliando a tarefa do Supremo Criador, e em segundo lugar,

que o homem, ao mesmo tempo em que é sujeito à influência exterior, do

clima, dos astros, do meio ambiente, é também - ou pode vir a ser - agente

transformador e ativo nessa interação. Agindo sobre a matéria, atinge a

essência planetária que deu a ela origem e vida, portanto seu trabalho se

torna o de um agente cósmico de cunho evolutivo. O alquimista deixa de

submeter-se às influências dos astros para passar a modificar a própria

natureza desses mesmos astros.

Cremos que essa, sim, era a verdadeira razão por que eles tão

ciosamente guardaram seu segredo. "Aquele que compreende o Princípio de

Vibração [de Hermes] alcançou o Cetro do Poder", diz um iniciado

anônimo. Eis aqui um novo campo de estudos para os astrólogos, que lhes

irá requerer, sem dúvida, o mesmo tempo que já destinaram à Astrologia, ou

seja, quase uma vida inteira. A descoberta será tão maravilhosa quanto foi a

da nossa deusa Urânia, e suas compensações serão certamente infinitas.

Talvez não consigamos nunca encontrar a Pedra Filosofal, e isso na

verdade talvez não seja indispensável. Mas a própria busca, a pesquisa, a

leitura desses sábios antigos - um dos quais, Hermes,

101

Page 102: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

é igualmente mestre da Astrologia, como o é da Alquimia - será em si

mesma um encanto constante e gratificante. Estas duas ciências se

completam, se interpenetram e mutuamente se explicam. São gêmeas

siamesas, ligadas a um mesmo coração e com um mesmo sistema

circulatório - apenas têm cérebros separados.

Elas têm inclusive os mesmos inimigos comuns - os cientistas de

espírito acadêmico. Os nossos sábios das universidades aceitam a

possibilidade teórica da transmutação; na verdade já a conseguiram nos seus

laboratórios sofisticados e seus processos multimilionários. Mas se recusam

a acreditar na sua viabilidade material e na simplicidade da sua realização

dentro das leis da natureza, sem violência, sem temperaturas ou pressões

altíssimas. E mais ou menos o que acontece em relação à Astrologia:

aceitam que o Sol e a Lua provocam as marés oceânicas e atmosféricas, mas

de modo algum que possam influenciar o humor das pessoas.

Volto a citar Fulcanelli: "Estes sábios se equivocam acerca da

constituição e das qualidades da matéria, embora pensem ter sondado todos

os seus mistérios. A complexidade das suas teorias, o amontoado de

palavras criadas para explicar o inexplicável, e sobretudo a influência

perniciosa duma educação materialista leva-nos a procurar muito longe o

que está ali, bem ao alcance deles". A verdade é simples, como é simples

tudo o que é próximo da natureza. Ele prossegue ainda: "0 que ganham em

lógica humana, em rigor numerai, eles perdem em simplicidade, em

bom-senso. Sonham aprisionar a natureza numa fórmula, pôr a vida em

equações. Assim, por desvios sucessivos, chegam inconscientemente a

afastar-se tanto da verdade simples que justificam a dura palavra do

Evangelho: 'têm olhos para não verem e ouvidos para não entenderem'".

A verdade da Alquimia é quase tão fácil de comprovar quanto à

verdade da Astrologia: é uma questão de experimentar. É ter a humildade de

aceitar que, com seus canhestros alambiques de fundo de quintal, os

alquimistas descobriram os segredos do átomo, assim como os antigos

astrólogos, com seus desajeitados sextantes, descobriram a mecânica do

universo. O valor do sábio não está na sua criação tecnológica, na

sofisticação de seus instrumentos, mas na sua alma, na grandeza de seu

espírito, na sua capacidade de ver a realidade interior e cheia de vida que é a

natureza, mãe e mestra de todo o conhecimento. Se nos acusarem de relegar

a ciência para sair em busca do mistério, responderemos com as palavras de

Albert Einstein: "São os domínios do mistério que nos reservam as mais

belas experiências".

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Capítulo 08

103

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104

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Uma novidade de 3.500 anos

m sábio de nome Parâshara, que nasceu na índia cerca de 1.500

anos antes da Era Cristã, é autor de alguns dos mais antigos

estudos sobre a saúde humana do ponto de vista astrológico, e de

cálculos documentados da distância do equinócio à estrela

Revati - Zeta Piscium - ponto de partida do Zodíaco Hindu. Sua

preocupação em fazer esse cálculo mostra o conhecimento, que já possuía, à

época, sobre o movimento Precessional. No mundo ocidental, esse

conhecimento data do século II a.C, quando o astrônomo e matemático

grego Hiparco, além de avançar nas idéias sobre a precessão, afirmou que o

Sol possuía uma órbita circular, da qual a Terra não era o centro. Nada,

portanto, sustenta a pretensão de alguns modernos astrônomos de terem

descoberto "recentemente" a precessão e muito menos a afirmação de que os

astrólogos desconhecem o fenômeno e que continuam a considerar a Terra

como centro do universo, pois tanto Hiparco como Parâshara e outros

astrônomos hindus - como Mihira, Narâda, Garga e Ranavira - eram

astrólogos.

A idéia do Zodíaco de Constelações, que a chamada Escola

Sideralista quer que seja o único a ser usado, não é nova. Uma vasta

literatura e uma estatística pelo menos milenar mostra até que ponto os

astrólogos acharam útil esse sistema. Os hindus ainda hoje o aproveitam.

Mas, nem os hindus, nem os astrólogos ocidentais chegaram ao absurdo de

descartar o Zodíaco Trópico - dos signos - em favor do das constelações.

Todos usam simultaneamente ambos os sistemas, aos quais se deve juntar

ainda o sistema do Zodíaco Terrestre - das casas - baseado na trajetória

diária aparente do Sol. Um astrólogo inteligente e eclético deve saber reunir

105

Page 106: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

as vantagens e as informações dos três Zodíacos, dando a cada um deles a

importância que merece. O grave e insuperável defeito do referencial das

constelações é não refletir os fenômenos vitais mais importantes da Terra,

quais sejam as estações do ano.

Assim, pelos novos signos siderais, Áries, o mais perfeito símbolo do

brotar da primavera, do calor que retorna, do ardor dos acasalamentos, da

ressurreição da vida após o longo inverno, do Hemisfério Norte, vai cair nas

águas do degelo, no frio úmido do mês final das neves - um quadro tão

evidente e próprio de Peixes! Ora, a Astrologia é exatamente a ciência que

pretende, através de uma simbologia peculiar, captar o sincronismo existente

entre os fenômenos terrestres e o ambiente cósmico que nos circunda,

descobrindo as leis que o regem e os ciclos que nos conectam ao universo.

Qualquer sistema que destrua esse sincronismo será tudo menos Astrologia.

A maioria das escolas astrológicas ocidentais da atualidade - e entre elas a

sideralista, que nada mais é que uma microcorrente - são unânimes em

atribuir às constelações a virtude de influenciar as civilizações como um

todo, durante o correr de eras inteiras - como exemplo temos a Era de

Peixes, Era de Aquário, etc - proporcionando a cada longo período um sutil

colorido com formas peculiares de comportamento e de visão

filosófico-religiosa. Elas estudam também, e especialmente, a influência

primordial das estrelas ditas "fixas" dessas constelações.

A ciência astrológica conta sua idade por milênios, e toda a prática e

estatística de mais de 2000 anos provam que, tanto no plano individual como

no coletivo, são elementos atuantes os signos zodiacais com início no ponto

vernal, onde quer que ele se encontre. Tirante a influência sobre as longas

eras da humanidade, o sistema sideralista se mostra irracional e impraticável,

como adiante se prova. O absurdo da tentativa sideralista começa com a

adoção de um sistema de referência móvel com relação ao nosso calendário

e ao ano trópico, quando tudo o que se espera de um sistema de referência é

que seja o mais fixo possível, justamente para que cumpra o papel de ponto

de partida.

Assim, daqui a 72 anos, todas as criaturas nascidas no dia 22 de abril -

data aceita pela União Internacional de Astronomia como início da

constelação de Áries - passarão à regência de Peixes. Mais 72 anos depois, e

também as pessoas nascidas a 23 de abril serão piscianas, e assim por diante.

Por outro lado, como se faz tanta questão de usar as constelações como

referencial, é preciso ser fiel ao quadro geral que elas impõem, ou

106

Page 107: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

seja, descobrir que influências próprias determinam astrologicamente - e que

não serão necessariamente idênticas às dos signos zodiacais. Isto não se fez

na Escola Sideralista, que usa exatamente os mesmos tipos caracterológicos

do Zodíaco universalmente adotado, limitando-se a deslocá-los no tempo e

no espaço. Ainda para sermos fiéis ao verdadeiro quadro das constelações,

seria preciso dividir seu ciclo de acordo com as dimensões que cada

constelação apresenta, e não, comodamente - e ilogicamente - de 30 em 30

graus, como fazem os sideralistas modernos. Assim, se há uma constelação

de 44º de arco, como é o caso da Virgem, há uma outra de apenas 20º, como

Câncer - e os respectivos signos sidéreos deveriam obedecer o mesmo

critério de duração em dias. Há, além disso, a Constelação de Ophiucus, que

passou em nossos dias a ter o Sol cruzando sua órbita anual por causa do

movimento Precessional, e que então deveria ser incluída entre os "novos

signos". Ela ficaria entre Escorpião - reduzido a 7 dias, ou 9 graus de arco - e

Sagitário, que teria mais ou menos 30º.

Mas, outros problemas são criados se utilizarmos o referencial das

constelações; além de não terem um tamanho uniforme, não estão

distribuídas numa seqüência espacial perfeita. Suas áreas se interpenetram,

de forma que há zonas onde na verdade se encontram duas constelações,

como é o caso de Peixes com Aquário e de Virgem com Libra, sendo que

Denébola, a segunda estrela mais brilhante da constelação do Leão, está

vários graus para dentro da constelação da Virgem. Quando o Sol transita

por certos graus dessas faixas, cruza duas constelações simultaneamente; a

qual das duas pertence o indivíduo que nasce com o Sol nesses lugares?

Como se isso não bastasse, há zonas do Zodíaco que não têm constelação

alguma, dentre as que tradicionalmente são admitidas como pertencentes ao

Zodíaco. É o caso de alguns graus entre Touro e Gêmeos, entre Gêmeos e

Câncer, entre Câncer e Leão. São os "vazios" do Zodíaco, e as pessoas

nascidas nessas faixas decerto precisam recorrer a um outro sistema solar

que lhes dê o consolo de terem uma constelação de nascimento.

Com todas essas incongruências, o Sistema Sideralista, alardeado no

Brasil com um sensacionalismo muito distante do procedimento científico

que deve pautar o trabalho de um verdadeiro astrólogo - e importado como a

última palavra em matéria de Astrologia no mundo - se apresenta na verdade

como um "aleijado impraticável" e, sobretudo, ineficiente para os fins que se

propõe e para as pretensões de exclusividade que apregoa. As influências

visíveis e sentidas continuam a situar-se no Zodíaco Trópico,

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o dos nossos velhos signos tradicionais. Todos os arianos se encontram na

descrição típica do velho Carneiro Zodiacal, mas qual deles se achará na pele

do seu novo signo, Peixes? A superposição dos três Zodíacos permite

estabelecer o autêntico horóscopo individual, com toda a multiplicidade

incrível e riquíssima de possíveis combinações, que tem condições de refletir

veridicamente sobre a infinitude de tipos humanos existentes. O sistema

sideralista, ao contrário, com seu Zodíaco único, revela uma imaginação

paupérrima, semelhante à da corrente folclórica da Astrologia, tão ao gosto

da imprensa diária, com seus 12 tipos fixos, monótonos e invariáveis - em

completo desacordo com a realidade humana.

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Capítulo 09

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110

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Um alquimista moderno

ulcanelli é um dos maiores alquimistas do século XX. Personagem

enigmático, ninguém conhece sua verdadeira identidade. Sabe-se

apenas que nasceu entre 1830 e 1840 e que conviveu com as mais

notáveis figuras do meio político e científico da França, incluindo o

químico Pierre Marcelin Berthelot, Pierre Curie, Chevreul, Grasset,

Ferdinand Lesseps e o arquiteto Viollet-Le-Duc. Deixou duas obras: 0

Mistério das Catedrais e As Mansões Filosofais, publicadas entre 1920 e

1926. Deixou também um único discípulo, Eugène Canseliet, nascido em

1899 e falecido em 1982. Este não só foi o responsável pela publicação das

obras do mestre como as prefaciou e comentou. Canseliet tinha apenas 15

anos quando teve contato com Fulcanelli, tornando-se então aprendiz na

difícil arte da Alquimia. Tornou-se, dessa forma, discípulo de um autêntico

Adepto, em pleno século XX. Ele soube guardar ciosamente o segredo da

identidade de seu mestre, que desapareceu em 1930 sem deixar rastro.

É através de Canseliet que conhecemos o pouco que sabemos sobre

Fulcanelli. Em entrevista concedida a Robert Amadou, mais tarde publicada

sob o título Le Feu du Soleil (Fogo do Sol) - interpretação do nome iniciático

do mestre - Canseliet nos conta como se iniciou no conhecimento da arte,

como foram os poucos anos em contato com o mestre, e, o que é mais

interessante, como o reencontrou em 1953, na Espanha, quando Fulcanelli já

devia estar com cerca de 114 anos de idade. O encontro se deu num castelo,

cujos habitantes se vestiam à moda antiga, parecendo personagens tirados de

livros da Idade Média. Fulcanelli se apresentou ao discípulo como um

homem maduro, aparentando seus 50 anos, cabelos pretos, a pele jovem e a

saúde perfeita.

111

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Não há explicações muito claras sobre esse encontro, para o qual

Canseliet, de ordinário tão reservado quanto a endereços e informações que

pudessem levar à identificação de Fulcanelli, muito estranhamente, fornece o

nome da cidade e quase nos dá o nome do castelo. O fato deixa entrever que

esse lugar não está assim tão fácil de situar no mapa, e que não há perigo de

alguém de repente encontrá-lo. Uma explicação plausível é que esse castelo,

assim como seus bizarros habitantes, não está na dimensão física, mas, como

ensinam certas fontes herméticas, no estado de "jinas", ou seja, está em

corpo físico localizado no plano astral e, por conseguinte, invisível à vista

física e obedecendo as leis do mundo astral. Esse fato nos dá idéias muito

sugestivas quanto ao que realmente ocorre quando alguém atinge o estágio

de Adepto: liberta-se da condição de prisioneiro do mundo físico e pode

mover-se tranqüilamente de um universo a outro, de uma para outra

dimensão.

Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, o físico Jacques Bergier

- autor, junto com Louis Powels, do famoso livro 0 Despertar dos Mágicos -

teve um encontro com um alquimista que ele acredita ter sido Fulcanelli. Na

ocasião, o estranho homem o preveniu quanto aos riscos do uso da energia

do átomo - muito antes da primeira experiência nuclear americana - e

descreveu a bomba atômica como "uma disposição geométrica de elementos

quimicamente puros" e que sua utilização e construção eram extremamente

simples e não necessitariam de eletricidade nem da técnica do vácuo - uma

descrição extraordinariamente fiel da realidade, da qual ninguém até então

ainda possuía suficiente conhecimento.

O Mistério das Catedrais é uma viagem por esses velhos monumentos

da arquitetura religiosa da França, vasculhando seu passado e as estranhas

figuras de natureza nitidamente profana que neles estão representadas. O

autor revela uma profundidade de conhecimento extraordinária, expondo

com erudição, mas numa linguagem sem rebuscamentos, a história secreta

das catedrais góticas. Verdadeiros livros escritos em pedra mostram a quem

quer que tenha olhos para ver todos os passos necessários para a elaboração

da Pedra Filosofal. Numa linguagem cifrada, toda vasada em símbolos e

alegorias, parecem ingênuos motivos filosóficos, cuja preocupação é

apresentar passagens bíblicas sob a forma de vitrais de lindo colorido e

estátuas das figuras conhecidas das escrituras. Penetrando-lhes, porém, o

verdadeiro sentido simbólico, tudo adquire outro significado. É esta a

linguagem à qual estão afeitos os maçons, que, portanto, devem ter,

112

Page 113: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

certamente, mais facilidade para interpretar-lhes o autêntico sentido

iniciático. Quanto ao seu segundo livro As Mansões Filosofais, trata de

antigas habitações, castelos e monumentos cobertos de inscrições, esculturas

e representações misteriosas, cuja interpretação, naturalmente, é alquímica.

A leitura dessas duas obras pode levar uma pessoa que conheça o

simbolismo hermético, astrológico e mitológico à descoberta de todos os

segredos tão ciosamente guardados pelos Adeptos. Uma matéria muito

interessante dessa segunda obra - e que a nosso ver é uma autêntica chave

geral de interpretação de textos antigos, assim como de monumentos ou

representações sacras - é o ensinamento da "cabala fonética", que explica

como os antigos deixaram escritos, através de palavras que aparentemente

nada significavam, verdadeiros dicionários de hermetismo. Há assim,

palavras com o mesmo som ou pronúncia significando coisas inteiramente

diversas - e que, dentro do contexto certo, indicavam a chave explicativa do

emblema ou frase que de outro modo ficava de todo sem sentido lógico ou

detinham um sentido meramente moral ou simples demais para estar contido

em tal conjunto.

Interessante também é a afirmação de Fulcanelli de que os povos

sempre usaram esse tipo de linguagem cabalística nas coisas mais triviais, e

disso encontramos exemplos na nossa civilização atual, em forma de

anagramas e trocadilhos de uso corrente. Um exemplo no idioma francês:

uma estalagem onde se pendurou uma placa com o nome "au lion d' or" (Ao

leão de ouro). De fato, um leão repousava pintado de amarelo na placa. Mas

o significado da mensagem era bem outro: "au lit on dort". O mesmo som, a

mesma pronúncia, mas uma idéia totalmente diferente, ou seja: "dorme-se

em leito", em cama, quer dizer, uma estalagem que oferecia, além da

tradicional muda de cavalos e refeições ligeiras, um leito para dormir. O

viajante não se enganava, lia corretamente a mensagem e todos se

entendiam. O misterioso Vitriol das obras herméticas, e também presente

nos mistérios maçônicos, é outro exemplo. Lido em forma de anagrama, diz:

"l' or y vit". Ou seja, o ouro aí está vivo. É a substância mercurial na qual se

baseia a futura Pedra Filosofal.

Outra colocação muitíssimo interessante é a de que nossos idiomas

ditos latinos são na verdade de origem grega. Basta conhecer etimologia e

estudar as sucessivas transformações das línguas para comprovar isso. No

entanto, sempre nos fizeram acreditar que nossa língua é latina, e será uma

heresia afirmar coisa diferente. Na verdade, cremos que o

113

Page 114: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

próprio latim é uma língua helênica, ou, em última análise, uma herdeira da

antiga língua-mãe da humanidade, o vattan. Hoje em dia se consideram as

línguas latinas como indo-européias, o que está certamente mais próximo da

verdade histórico-etimológica.

Fulcanelli nos mostra, por outro lado, sua posição reencarnacionista

em seu segundo livro, o que é pelo menos uma surpresa, se cotejarmos com

os autores tradicionais da Alquimia, sempre tão prudentemente católicos! "0

velho de ontem é a criança de amanhã", nos diz ele, sugerindo

cautelosamente a idéia dos sucessivos renascimentos. Um mundo de

informações históricas, e de revelações curiosíssimas de fatos pouco

conhecidos, são um motivo de contínuo encantamento nessa leitura

fascinante e profundamente iniciática. É preciso ler devagar, com muito

critério e a mente aberta.

A leitura dessas duas obras é obrigatória para quem quer instruir-se no

simbolismo alquímico. É uma espécie de chave-mestra para o ingresso nesse

universo cheio de mistério que é a Ciência Hermética. Por outro lado, as

referências bibliográficas contidas nelas constituem o mais precioso acervo

que o estudioso pode colecionar a fim de aprofundar-se nesse conhecimento.

Fulcanelli foi, sem sombra de dúvida, maçom. Assim, sua leitura é

duplamente recomendada para todos que desejem compreender o secreto

simbolismo alquímico contido nos rituais maçônicos.

114

Page 115: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Capítulo 10

115

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116

Page 117: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

xistem muitos pontos onde a Astrologia faz fronteiras com a

Metafísica. Mas, certamente, o mais perturbador de todos é a velha

controvérsia entre livre-arbítrio e determinismo. Entre os arautos da

tese do livre-arbítrio estão muitos dos adversários da Astrologia,

uma vez que, ao menos em tese, ela submete o destino do homem

às influências cósmicas, o que sugere, à primeira vista, serem todos os

mortais mero joguete dos caprichos planetários. A idéia do livre-arbítrio

agrada à nossa vaidade e valoriza nossa auto-estima. Nós simplesmente

gostamos de acreditar que em toda a vida o que fizemos foi estritamente

produto da nossa vontade, da nossa livre e espontânea decisão. Relutamos

em reconhecer que algo tão intangível e distante como o invisível Plutão ou

uma insignificante estrela de 3- grandeza, cujo nome mal conhecemos,

possam influenciar nosso comportamento e alterar, desse modo, um detalhe

que seja em qualquer decisão vital.

No entanto, sonhar com a liberdade não é ser livre. O homem sonha,

na sua vã pretensão, que controla seu destino e, mais ainda, que sua vontade

soberana e independente pode decidir o destino de outros tantos seres.

Haveria ordem neste imenso universo, e seria inteligível a própria história da

civilização humana se, de fato, cada homem exercesse estritamente e tão

somente a sua vontade? E o que vem a ser essa "vontade"? O que é a

vontade humana senão um frágil pêndulo que oscila ao sabor do seu

horóscopo de nascimento? O que mais é ela além da inclinação natural

produzida por uma quadratura ou um trígono qualquer? E então pode parecer

que nós, astrólogos, estamos do outro lado do muro, defendendo a tese do

determinismo. "Nada escapa aos desígnios

117

Page 118: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

dos astros", "Mactub", "Estava escrito", "Tudo está previamente traçado no

nosso céu de nascimento", "O destino é uma estrada inevitável onde tudo

está previsto e nada pode ser mudado". Será mesmo assim? É desta forma

que o astrólogo interpreta um horóscopo? É esse o tipo de mensagem que ele

apresenta ao homem aflito que o consulta quase como faria a um sacerdote

ou um guia espiritual? É demasiado conhecida de todos a máxima que diz:

"Os astros inclinam, mas não obrigam".

Às vezes esta frase parece um consolo falso, e soa como mentira

branca ou conforto de médico para o paciente desesperado - "Sim, você tem

um câncer generalizado, leucemia e cirrose hepática avançada, mas isso

não quer dizer que você vai morrer". Creio que todo astrólogo já se deparou

pelo menos uma vez na vida com um desses "casos desesperados". E se ele

era um profissional inexperiente, ou se lhe faltava a necessária sabedoria

para exercer a missão sacerdotal do astrólogo, talvez ele tenha conduzido

seu cliente ao fim completo das esperanças, ou talvez tenha preferido

silenciar sobre seus prognósticos terríveis.

Se realmente a Astrologia é uma ciência, se ela é de fato um

instrumento seguro de previsão, e se ela pode indicar com precisão não só a

natureza de um evento, mas a sua época e o seu lugar - e disso há hoje

provas cabais e indiscutíveis - então até aonde exatamente vão os limites da

nossa vontade? Até aonde se estende esse fio elástico do nosso

livre-arbítrio? Estarão todos os eventos já previamente estabelecidos algures

desde a origem dos tempos? Ou apenas alguns deles? Haverá qualquer coisa

como um remoto karma coletivo da humanidade? Algo como um "plano",

um "desígnio divino", uma Providência Consciente que "quer" este e não

aquele destino, que "obriga" um povo ou um ser humano a agir assim e não

de outro modo?

E me vem à mente neste ponto uma antiga questão: como seria a

humanidade de hoje, como seriam a política, as fronteiras atuais, a Ciência

Moderna, a filosofia, a economia mundial, a arte, etc, se não tivessem

existido Hitler, Napoleão Bonaparte, Karl Marx, Madame Curie, Aristóteles,

Shakespeare ou Beethoven? Se introduzirmos na água um objeto qualquer,

abrimos na sua superfície um "buraco", cujo diâmetro corresponde ao do

objeto em questão. Se o retirarmos agora, bruscamente, por uma minúscula

fração de tempo, o "buraco" permanecerá na água, e em seguida ela o

cobrirá de novo. A supressão precoce de determinados homens cuja

promessa de vida estivesse vinculada a profundas alterações

118

Page 119: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

históricas seria compensada da mesma forma que a água cobre o orifício que

abrimos? Outra personalidade, com horóscopo semelhante, assumiria o

papel vacante e conduziria a história por idênticos caminhos? Ou será que a

partir desse ponto um novo leque de alternativas se abriria e a história iria

seguir rumos diferentes?

Quem estuda Astrologia Mundial sabe que a seqüência histórica segue

direções bastante previsíveis. Diante de um certo quadro cósmico, pode-se

delinear os acontecimentos futuros dentro de uma excelente margem de

probabilidades. Donde se deduz que talvez a presença ou não de uma

personalidade faça pouca ou nenhuma diferença. De um modo ou de outro,

as circunstâncias se encarregam de levar o mundo na direção prevista por

aquele quadro cósmico. Isso me faz lembrar um curioso romance de ficção

científica.

O herói da historieta é um jornalista, e, em dado momento, por um

acaso ou mera curiosidade, abaixa a alavanca de um painel, numa máquina

desconhecida. Era um engenho extraterrestre com poderes incalculáveis. E

esse simples gesto provoca uma catástrofe de dimensões incríveis, altera a

marcha do Sol, os ritmos biológicos e a própria vida na Terra. Entra em cena

um cientista louco, que cria uma máquina do tempo. E ele mostra ao

jornalista a possibilidade de recuar no tempo até o instante em que ele faz o

gesto fatídico. A idéia é fazê-lo retornar ao passado já com o conhecimento

dos fatos futuros, e repetir todos os atos - menos, é claro, o de abaixar a

alavanca. Pois bem, a experiência tem êxito em tudo, menos num ponto:

sempre acontecia "alguma coisa" que fazia o pobre sujeito abaixar a tal

alavanca e lá vinha de novo a terrível catástrofe.

Depois de centenas de tentativas, o cientista conclui que a única

maneira de evitar a tal catástrofe é voltar no tempo e fazer com que o nosso

herói nunca tivesse nascido. Muito orgulhoso de sua proeza, o cientista volta

ao tempo atual, certo que dessa vez havia salvo o mundo do cataclisma. E

então ele ouve pelo rádio o noticiário e fica sabendo que a famigerada

engenhoca espacial havia explodido "sozinha" - e é claro que a bendita

alavanca tinha sido deslocada - e tudo afinal volta ao ponto de partida, com a

única e insignificante diferença que o herói da novela tinha deixado de

existir.

Como nos modernos computadores, tudo havia sido programado para,

num dado instante, a seqüência histórica obedecer a uma ordem de

"sub-rotina". "Go sub", diríamos na linguagem da cibernética. A idéia dessa

119

Page 120: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

pequena ficção pode dar material para um filósofo pensar um bocado de

tempo! E eu meditei sobre ela por muitas horas. Tentei aplicar o raciocínio à

minha própria "seqüência histórica" individual. Se, num dado instante da

minha vida, eu tivesse dito a palavra não a um homem e sim a um outro, eu

teria me casado com o José e não com o Antônio. E não seria hoje astróloga,

teria continuado como economista num setor qualquer de uma empresa de

energia elétrica, estaria morando noutro bairro, teria outros hábitos de

consumo, outras amizades, filhos diferentes - ou talvez nem os tivesse -

outro padrão filosófico-religioso. Acho que teria menos dívidas também e

certamente não estaria aqui agora. Ou estaria? Talvez estivesse em um outro

ambiente qualquer, discorrendo sobre eletricidade, por exemplo, ou sobre os

problemas econômicos da ampliação da rede energética - que eram a minha

especialidade há anos.

É exatamente neste ponto que precisamos voltar à nossa pergunta do

início. Até onde vão os limites da nossa liberdade de decisão? Sabemos que

estamos presos, como por um cordão umbilical, a uma matriz cósmica; ela

nos "programou" com minúsculos cartõezinhos magnéticos, que são os

nossos cromossomas, com todos os seus gens e respectivas cargas de

memórias e heranças. Esses cartõezinhos se combinam, se somam, se

dividem e se atraem entre si de acordo com misteriosos e complexos rituais

probabilísticos. Finalmente, nossa matriz aciona um cronômetro e nos solta

neste mundo, exatamente como fazem as crianças com seus cachorrinhos de

brinquedo: algumas voltas na corda, e o cachorrinho anda três passos, late

três vezes, cai de novo sobre as patas, anda outra vez, até que acabe a corda.

É assim que somos concebidos: com um mecanismo interno muito bem

programado, com ordens específicas, rotinas e sub-rotinas de

comportamento, um conjunto nem sempre muito harmonioso de instintos,

emoções, necessidades, gostos, prazeres, medos, inclinações, talentos e

capacidades intelectivas. E um cronômetro! Não esqueçamos o cronômetro!

Quando acender a lâmpada azul, você se casará; quando acender a amarela,

você perderá seu pai; chegando a vez da lâmpada verde, você se tornará um

cantor de sucesso; quando, afinal, acender a vermelha, sinto muito, sua

bateria acabou.

O cachorrinho de brinquedo é um mecanismo bem simples, com um

programa interno muito limitado. Ele não tem desejos, nem emoções, nem

mesmo necessidades, exceto de que lhe dêem corda. O ser humano é

infinitamente mais complicado. A quantidade de rotinas de

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Page 121: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

comportamento que cabe num cérebro humano é quem sabe do tamanho de

uma galáxia. Há de fato quem compare as circunvoluções cerebrais com as

espirais galácticas. A semelhança, diga-se de passagem, é de pasmar. Dentro

de nosso programa interno, que nos é fornecido no mesmo instante da

concepção, já vem a instrução categórica, acoplada a uma infinidade de

dispositivos de segurança, totalmente à prova de violação e imune a qualquer

tipo de interferência externa: uma bomba-relógio perfeita. Depois de

acionada, poder algum evitará que seja detonada: essa instrução é a ordem

cósmica de nascer às tantas horas e minutos de um determinado dia, mês e

ano, a X graus de latitude e Y graus de longitude.

Por mais engenho e arte que possamos empregar, creio que jamais

possamos alterar a instrução cósmica do momento de nascer. Ou aquilo que

façamos, pensando alterar de algum modo aquela instrução, seja exatamente

o expediente de que se utiliza o "Grande Programador" para executar a

própria ordem contida na concepção. Noutras palavras, não há cirurgia capaz

de antecipar um nascimento, se ela não for feita exatamente para cumprir o

horário que já estava previsto na contagem regressiva. Pessoalmente,

acredito que a cesariana apenas salva vidas e talvez poupe algum sofrimento,

mas jamais antecipa um nascimento em relação àquilo que de fato estava

programado.

E assim viemos à luz, equipados com um mecanismo delicado,

terrivelmente complexo, repleto de engrenagens sutis e mutuamente

encadeados. Um corpo frágil, uma quantidade adequada de energia para o

movimento, a autoconservação, a procriação e a realização de certas tarefas,

segundo um programa de vida. É esse programa de vida que o astrólogo

chama de horóscopo. Parece bastante óbvio que não temos o poder de alterar

aquele programa básico. Para isso teríamos que tomar o lugar do nosso

progenitor cibernético. Seria um motim, um tremendo motim universal.

Imaginem nossos robôs, maquininhas tão dóceis e servis, de repente nos

expulsando da cabine de comando e alterando eles mesmo seus circuitos e a

seqüência das suas tarefas!

Não, nós não podemos mudar uma vírgula do nosso horóscopo de

nascimento, não podemos subtrair uma quadratura sequer e nem podemos

cogitar de suprimir um malfadado Saturno de seu incômodo alojamento - e

em todo lugar onde ele estiver, pode ser um hóspede aborrecido. Estamos

presos na ponta de uma corrente, como um cão de guarda perigoso. Quando

lemos o horóscopo de alguém, não fazemos mais que

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Page 122: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

mostrar aonde está a ponta da corrente de cada um. Aí estão seus limites -

"Non plus ultra." Mas, ainda que amarrado, o cão se movimenta. Pode

correr, ladrar e até morder um intruso.

Será que, sem sair dos limites do nosso horóscopo, temos alguma

liberdade para escolher alternativas? Essa me parece a parte mais simples do

problema. Sim, a liberdade aí é quase total. Diante de um mau aspecto de

Urano, abrem-se as seguintes alternativas: romper relações com alguém, o

que nos fará sofrer; assumir uma postura mais independente perante a vida,

o que exigirá de nós mais decisão e coragem; passar um período de intensa

atividade que nos levará uma estafa nervosa e quem sabe aos limites de um

enfarte; viajar de avião e não saber se voltamos para contar como foi;

estudar Astrologia; ou sofrer um acidente de moto.

As pessoas "escolhem" entre essas e outras alternativas. Dentro de um

certo nível, essa escolha é totalmente inconsciente. Entretanto, é muito

conhecido o chamado Efeito de Somatização. Quando se tem mau aspecto

de Lua, e não queremos ter desgostos familiares, a opção é arranjar uma

úlcera de estômago. É como se devêssemos um "tributo lunar", e

escolhêssemos uma espécie de plano de pagamento - a curto ou a longo

prazo, com ou sem juros, no plano físico ou no plano mental, etc. Como

dizia o velho Hermes, "há vários planos de causalidade, porém, nada

escapa à lei".

Em resumo, se temos uma dívida com Saturno, temos que pagar na

moeda de Saturno. Só o que podemos escolher - e já é um privilégio - é a

forma de pagá-la. Entretanto, restam ainda duas faces do problema. A

primeira delas se resume nos questionamentos: "não se poderia por acaso

sonegar esse imposto? Não há mesmo a possibilidade de simplesmente não

pagar a dívida?". Parece que queremos praticar aí uma fraude contra o nosso

horóscopo. Mas, se pensarmos na mão-de-obra que nos vai consumir essa

fraude, é de se acreditar que a Providência, que tem lá em cima o controle da

nossa contabilidade astrológica, nos dará um prêmio extra se conseguirmos

praticá-la.

Essa fraude é a transmutação, e a segunda face do problema é qual a

fonte da energia para realizá-la? Vamos ver como se pode operar esse

milagre. Suponhamos alguém com um enorme potencial artístico: seria um

verdadeiro atentado obrigá-lo a ser agricultor. Aquele outro é um excelente

vendedor, o que é que ele faria num laboratório de Física? Aquela corrente à

qual estamos atados não é necessariamente uma prisão

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Page 123: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

perpétua e desagradável. Nossa corrente nos aprisiona muitas vezes sob a

forma de um grande talento, uma vocação irresistível, que nos faz arrostar

todos os perigos do mundo e os obstáculos mais colossais. Perigos e

obstáculos são provas naturais, não são castigos da Providência. São testes

para verificar a energia de que somos capazes, e no fundo vão dar a própria

medida do nosso talento, porque, seja ele qual for, se é realmente grande,

perigos e obstáculos atuarão como estímulos para a realização; serão

desafios sedutores que apenas darão mais sabor à nossa vitória.

Isto não é mais um daqueles consolos ingênuos para os portadores de

horóscopos cobertos de quadraturas e oposições. É a minha visão autêntica

de astróloga e pesquisadora que mostra justamente esses horóscopos cheios

de dissonâncias correspondendo a pessoas muito realizadoras. Já, ao

contrário, mapas excessivamente "azuis" - ricos em trígonos e sêxteis -

representam personalidades frágeis e pouco dispostas para os grandes

combates da vida. O talento, entretanto, pode advir tanto de uma quadratura

como de um trígono. Apenas este último promete o êxito com menos esforço

e em menos tempo.

Mas existem casos em que o talento não aparece com tanta evidência,

não brilha como uma estrela de primeira grandeza. Será o caso de se

considerar uma pessoa medíocre? Ora, certamente, não se pode exigir que

todo artista se revele um Leonardo da Vinci. O que se tem a fazer é

desenvolver ao máximo o potencial que nos foi confiado. Entretanto, me

parece mais difícil de resolver o caso dos "talentos ingratos" - são as

vocações para as tarefas que o mundo burguês tem na conta de menos nobres

- por exemplo as tarefas da dona de casa, do pedreiro ou do limpador de

chaminés. Parodiando um filósofo oriental, eu direi apenas que ter uma

vocação é praticar voluntária e prazerosamente o que os outros só fariam

constrangidos.

Minha vocação é a minha força. Não importa se tenho um talento

pequenino ou brilhante, se é "nobre" ou "humilde" - ele constitui a minha

maior força, é a minha alavanca. E alguém já disse: "Dêem-me uma alavanca

e um ponto de apoio - e eu removerei a Terra da sua órbita". E o que será que

estamos fazendo com a nossa vocação? Recebemos do Criador uma grande

caixa de ferramentas e um quintal cheio de materiais de construção: é o

nosso mapa astral. O que fazemos com ele? Não adianta reclamar que faltam

tijolos ou que a pazinha veio quebrada. É trabalhar com o material que

existe, fabricar tijolos, se o projeto da nossa

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mente era um palácio e não um casebre; consertar a pazinha quebrada, se a

nossa alma tem o poder e a imaginação para fazê-lo. Se recebemos da matriz

cósmica uma pá quebrada e tijolos de menos, e ainda assim construímos um

palácio, isso quer dizer que lançamos mão de um poder oculto de criação e

de transformação. Usando peças de ferro-velho, montamos uma destilaria no

fundo do quintal; e com a seiva de plantas daninhas e queimando objetos

inúteis para fazer fogo, conseguimos fabricar o legítimo whisky escocês!

Aqui neste mundo tão medíocre isso vai dar cadeia na certa, mas mereceria

o prêmio Nobel da Transmutação, se ele existisse! Em suma, há no ser

humano uma fantástica energia criadora, que só espera ser domesticada para

se colocar a serviço do próprio homem. Na dissonância mesma do próprio

chamado "mau aspecto" astrológico está oculta a força transformadora -

porque é no mau aspecto que existe atrito e sem atrito não se produz energia.

E assim acabamos resolvendo a segunda face do problema:

descobrimos que a fonte da energia está nos assim chamados maus aspectos.

De fato, é preciso existir chumbo, para que possamos um dia transformá-lo

em ouro. Eis os limites do nosso livre-arbítrio. Reconhecê-los e aprender a

conviver com eles é um belo desafio para o homem sábio. Porém,

superá-los, transcender, transmutar, não é privilégio de uns poucos

iniciados, é uma conquista que está ao alcance de todos - exige apenas

dedicação, força de vontade e disciplina. E com estas qualidades vivas de

Saturno que o aprendiz chega ao Mestrado: arranhando e lixando lenta e

conscientemente a Pedra Bruta, até que por debaixo do chumbo escuro

comece a aparecer o brilho do ouro, e nele se refletirá o fogo do Sol.

Transmutar é uma arte sublime e é durante o seu aprendizado que

descobrimos a verdadeira essência das provas a que nos submete nosso

horóscopo. Por vezes, o teste nos supera, e chegamos a pensar que somos

maus aprendizes; finalmente concluímos que o verdadeiro teste não era de

"vencer" um aspecto, e sim de nos "submetermos" a ele. São duas etapas da

nossa evolução, e ambas são igualmente necessárias. Como disse São

Francisco de Assis: "Dai-nos forças, Senhor, para aceitar com resignação

tudo o que não pode ser mudado. Dai-nos coragem para mudar o que pode

e deve ser mudado. Mas dai-nos também sabedoria para podermos

distinguir o que pode e o que não pode ser mudado".

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Capítulo 11

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126

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fato conhecido que a ignorância costuma andar de mãos dadas com

a pretensão. São justamente as pessoas que menos conhecem um

assunto que se apresentam como doutas e se põem a falar dele da

maneira mais irresponsável. Foi com certo espanto que tomamos

conhecimento da matéria publicada no Correio Popular de 27 de

abril, intitulada Contra a Astrologia. Nosso espanto não se deve ao fato de

ser a Astrologia atacada por um cientista; nestes nossos mais de quarenta

anos de atividade profissional como astrólogos, estamos acostumados a

travar debates de alto nível com figuras do meio universitário. O motivo de

nosso espanto é que já há muitos anos não víamos argumentos tão infantis,

levianos, superados e inconsistentes.

Nosso articulista começa dizendo que a Astrologia "não possui

qualquer base racional de funcionamento". Acaso não será racional estudar

as relações existentes entre o homem e a natureza? Ou entre a terra e o

cosmos? Ou entre a vida e o ambiente que nos rodeia? Pois é exatamente isto

que se faz em Astrologia. Seu método é baseado em cálculos matemáticos e

posições astronômicas verdadeiras, e seus resultados avaliados mediante

correlações estatísticas. Ousaria o articulista afirmar que a Ecologia não

possui uma base racional? Não constitui um dos apanágios da nossa era a

consciência de que estamos, enquanto espécies viventes, absolutamente

vinculados, por estreitas e mútuas relações, ao ambiente

Este texto, redigido por Vera Facciollo, em nome da ABA e do SAESP, e publicado no

Correio Popular, de Campinas, em 25 de maio e 1º de junho de 1997, é uma resposta ao

artigo publicado no mesmo jornal em 27 de abril de 1997, pelo articulista Renato Sabbatini.

127

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do nosso planeta? Não estamos nós na Terra o tempo todo sujeitos a

poderosas radiações cósmicas, capazes de provocar mutações genéticas e

mesmo profundas alterações - positivas e negativas - na constituição dos

organismos vivos? Apresentando-se como biomédico, é espantoso que o

articulista do Correio Popular ignore as recentes descobertas a respeito das

conseqüências sobre a nossa vida, advindas do rompimento da camada de

ozônio - até porque foram objeto de intenso noticiário, mesmo na imprensa

popular. E não são apenas radiações solares que nos atingem. Uma

quantidade incrível de energias desconhecidas - e, diga-se de passagem,

muito mal explicadas pelo meio científico - estão a provocar transformações

sensíveis na vida terrestre. Qualquer biólogo as reconhece hoje, mas até bem

pouco tempo atrás, a ciência oficial as ignorava, talvez por serem demasiado

sutis, talvez porque não havia ainda descoberto um método, nem

desenvolvido aparelhagem capaz de detectá-las. Sucederá o mesmo um dia

com as energias que a Astrologia já conhece há milênios, e cujas leis

estabeleceu com profunda seriedade e impressionante exatidão, embora não

possa ainda explicar a sua natureza.

É fato que as pessoas se divertem com a leitura de horóscopos diários,

publicados pela imprensa. Também é fato que muitos lêem a coluna da

Astrologia como quem se recreia com palavras cruzadas, sabendo que as

previsões aí escritas raramente batem com a realidade. Mas é preciso

esclarecer que horóscopos diários são, em 98% dos casos, escritos por

jornalistas, não por astrólogos. E, afora o simbolismo e a linguagem típica,

tais matérias nada têm de Astrologia, não passando de folclore repetitivo e

superficial, destinado a ministrar inofensivos conselhos e mensagens de

otimismo. Assim, criticar a Astrologia baseando-se nas matérias jornalísticas

da imprensa diária equivale a julgar toda a Medicina através de uma receita

médica prescrita, digamos, por um vidraceiro.

Acontece que a Astrologia não é ainda uma profissão regulamentada,

de modo que qualquer pessoa, sem preparo algum para o assunto, pode

auto-intitular-se astróloga, ganhar espaço numa revista e publicar asneiras.

Mas o articulista não se limita a atacar a Astrologia que chamamos

folclórica. Ele menciona "estudos científicos feitos por astrônomos" - como

se astrônomos pudessem ter alguma autoridade para julgar uma ciência tão

diferente da deles como, por exemplo, é a Psicologia em relação à Botânica!

Quais astrônomos e quais estudos, o autor se esquece de citar. Mas, para nos

atermos ao nosso exemplo, seria recomendável que o psicólogo

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estudasse botânica uns bons anos numa universidade antes de aventurar-se a

publicar pareceres técnicos sobre o trabalho de um Linnaeus ou de um

Liebig. Quando se sabe que é preciso dedicar no mínimo 20 anos à pesquisa

da Astrologia - o mesmo tempo que um médico leva para obter alguma

experiência profissional, ou um biólogo para formar suas próprias teorias

sobre uma especialidade qualquer - só podemos considerar levianos e

irresponsáveis os comentários do tipo que vemos nesse artigo.

Mas, suponhamos que tais "estudos" possam ser feitos por alguém que

nunca estudou a matéria - como, é óbvio, é o caso deste nosso "articulista de

ciência" (sic). O mínimo que se exige é isenção de ânimo e honestidade

intelectual, qualidades que o autor carece desenvolver. Ele propõe a seguinte

pesquisa: tomar um grupo de 100 pessoas nascidas no mesmo dia e na

mesma hora - deveríamos acrescentar no mesmo local, coisa que o articulista

parece ignorar ser necessário para cumprir a função da pesquisa proposta -

uma condição bastante difícil, senão impossível, de preencher, uma vez que,

mesmo numa cidade grande como Tóquio ou Nova York, será realmente um

prodígio reunir 100 pessoas nascidas no mesmo instante. Mas, adianta ele, já

sabedor, de antemão, dos resultados: "veremos que pouca coisa existe em

comum entre tais pessoas". Segundo ele, "meras coincidências, diz ele, que

se diluirão se se tratar de pessoas oriundas de culturas distintas ou pontos

opostos do planeta".

Repetimos, em Astrologia - a científica, não a folclórica - é preciso

que as pessoas tenham a mesma data, a mesma hora e o mesmo lugar do

nascimento - se queremos comparar personalidades ou destinos. Acontece

que pesquisas deste gênero, e muitas outras, já foram feitas - está claro que

não pelo nosso articulista, nem pelos astrônomos que ele menciona, mas não

nomeia. Mais de uma vez, aliás, em diferentes países, e por verdadeiros

cientistas, dispostos a avaliar sem preconceitos e sem subterfúgios o

resultado que surgisse, ainda que contrário a suas convicções anteriores. E

todas essas pesquisas, sem exceção, concluíram que as semelhanças de

personalidade e de fatos da vida eram absolutamente marcantes e

indiscutíveis.

E para corroborar o que acabamos de afirmar, citaremos o mesmo

autor que o articulista menciona, Michel de Gauquelin. Em 1950, Gauquelin

- não um fisiólogo, como quer nosso articulista, mas um psicólogo -

começou a interessar-se pela pesquisa da Astrologia não para defendê-la,

mas para combatê-la. Baseou-se em levantamentos estatísticos feitos por

Leon Lasson

129

Page 130: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

e Paul Choisnard, onde se colocava em teste a tradicional afirmação dos

astrólogos de que os planetas significadores de determinadas profissões se

colocariam nos ângulos - ascendente, descendente, zênite e nadir - da carta

astrológica do nascimento: Marte para os atletas e militares, Vênus para os

artistas, Saturno para os cientistas, Júpiter para os políticos. Gauquelin

levantou nada menos que 25 mil horóscopos de eminentes figuras européias,

entre campeões, generais, artistas laureados, políticos famosos, etc, tentando

demonstrar que a distribuição dos respectivos planetas significadores seria

igual para todos, o que provaria que tudo se devia ao acaso. Qual não foi sua

surpresa - e seu desagrado - ao descobrir que a estatística, muito ao contrário

do que ele esperava, provava que os astrólogos tinham razão. Nos mapas de

3.142 líderes militares, Marte aparecia nos ângulos 634 vezes, quando, pelo

acaso, deveriam ser apenas 535. A probabilidade de que tal distribuição

anômala se devesse ao acaso era da ordem de um para um milhão. Nos

mapas de 1.485 atletas, Marte apareceu nos ângulos 327 vezes - o acaso

daria 253. Probabilidade: um para 500 mil. E assim por diante.

Gauquelin publicou em diversos livros seus resultados e a polêmica

com os cientistas acadêmicos seus colegas, que, aliás - numa postura típica,

mas profundamente anticientífica - diziam preferir deixar de crer na

Estatística, a crer na Astrologia. Recomendamos a sua leitura ao nosso

articulista, para que compreenda melhor com que rigor científico se deve

fazer uma pesquisa sobre Astrologia antes de poder julgá-la. Gauquelin

levantou ainda o mapa de 15 mil casais e seus filhos, a fim de testar a

hereditariedade de posições astrológicas, encontrando novamente

correlações estatísticas importantes, muito além do admitido para resultados

devidos ao acaso. Para informação do articulista, e de seus leitores,

Françoise, a esposa, colaboradora e co-autora das pesquisas do Sr.

Gauquelin, e emérita estatística, esteve, há alguns anos, hospedada em nossa

casa, após participar de um Congresso de Astrologia. Tivemos oportunidade

de conhecer de perto suas idéias sobre a matéria, assim como as provas que

o casal reuniu em 30 anos de pesquisas.

O casal avaliou o desempenho de dezenas de astrólogos de várias

épocas e países, não apenas um "famoso astrólogo francês" de que fala

nosso articulista. Comparou estudos psicológicos de profissionais sérios,

não de pessoas ignorantes do povo, ansiosas apenas por verem um retrato

favorável na sua carta astrológica. E demonstrou de maneira inequívoca que

uma pesquisa idônea leva à confirmação da Astrologia

130

Page 131: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

- nunca à sua refutação. Para concluir, vamos responder às "perguntas

embaraçosas" que sua revista dos Céticos nos propõe:

1ª) A probabilidade de que 1/12 da população tenha o mesmo tipo de

dia depende de fatores cósmicos que atingem uma região ou mesmo o

planeta como um todo; assim toda a cidade de Kobe sofreu com o terremoto

que a atingiu há alguns anos. O mundo todo sofreu com a 2ª Grande Guerra -

embora em diferentes medidas, conforme o país. Mas um bom astrólogo

pode identificar, com excelente precisão, dentro de uma população

conhecida, quais pessoas terão uma dor de barriga num determinado dia.

Entretanto, é importante que se diga, a Astrologia é uma ciência qualitativa,

e não quantitativa. Podemos prever muita chuva para um dado período - mas

não pretendemos dizer quantos milímetros de chuva cairão.

2ª) O momento da concepção também é estudado, e fornece

indicações interessantes quanto à formação do feto. O senhor biomédico

deveria estudar essa matéria, aprenderia muito com ela. No entanto, o

momento da concepção raramente é conhecido com precisão, o biomédico

deve saber bem disso. E quando a criança nasce, e respira, implanta-se nela

o horóscopo do nascimento. Antes de respirar, sua vida depende totalmente

da mãe. A Astrologia lida com a carta astral de alguém que já afirmou sua

independência vital. Quanto às crianças prematuras, ocorre o mesmo que

com as de tempo normal, ou com as de tempo excedido de gestação: só vale

o momento da primeira respiração.

3ª) Antes da descoberta de Urano, Netuno e Plutão, o mundo era

consideravelmente mais limitado. Os assuntos que eles regem na Astrologia

não existiam na consciência dos homens, e não fazia qualquer diferença que

existissem ou não, que fossem ou não colocados nos horóscopos das

pessoas. De que serviria Urano num mundo que não conhecia a eletricidade,

as máquinas, e os aviões - assuntos que ele domina? E para que se usaria

Plutão numa Terra que desconhecia a bomba atômica, o petróleo e os

computadores - coisas controladas pela influência deste planeta?

4ª) A influência dos astros não depende da sua distância. A influência

deles é possivelmente da mesma natureza que a luz, mas isso ainda é uma

hipótese. Sabemos, quase com certeza, que não se trata de influência

gravitacional, pelo menos não somente ela, portanto a "matemática

gravitacional" do nosso articulista não se aplica. A ciência descobrirá um dia

como tudo se processa, assim como descobriu as ondas hertzianas, os raios

gama, o ultra-violeta e o efeito Kyrlian.

131

Page 132: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

5a) A Astrologia considera, sim senhores, as outras estrelas, além do

nosso Sol. Temos excelente estatística sobre sua influência, especialmente

em casos de cegueira, mortes por acidente, profissões, naufrágios, ganhos

em loteria e muitas outras coisas. Entretanto, confessamos não ter por

enquanto qualquer estudo sobre a influência de outras galáxias. Talvez por

falta de informações mais precisas dos astrônomos quanto à sua localização.

Sugestão anotada!

6ª) Por que os astrólogos não ficam milionários, embora possam

prever o futuro? Cremos que os bons e autênticos astrólogos se dedicam à

sua prática da mesma forma e com os mesmos propósitos que todos os

verdadeiros cientistas: por idealismo, por amor à ciência, não por dinheiro,

de modo que apenas sobrevivem com o seu trabalho. Mas, parece-nos

bastante óbvia a resposta à pergunta mais pueril de todas: saber prever não

significa necessariamente poder alcançar, nem poder evitar alguma coisa. De

resto, repetimos que nossa ciência é qualitativa. Prevemos tendências, não

números, nomes, endereços nem fatos inevitáveis.

A seguir, daremos uma lista de 10 cientistas e pensadores laureados

com o Prêmio Nobel, e que estudaram Astrologia e a apoiaram de modo

explícito e mesmo público: Alexis Carrel (Medicina, 1912); Arrhenius

(Química, 1903); Herman Hesse (Literatura, 1946); Maeterlinck (Literatura,

1911); R. Kipling (Literatura, 1907); Wolfgang Pauli (Física, 1945); Romain

Roland (Literatura, 1915); Theodore Roosevelt (Paz, 1906); R. Tagore

(Literatura, 1913); e Albert Einstein (Física, 1921). Há também dois

Prêmios Pulitzer: John O'Neill (1937) e Norman Mailer (1969). Isso para

não mencionar obras, tratados, cartas e documentos provando que estudaram

profundamente e pesquisaram sistematicamente Astrologia: Copérnico,

Galileu, Isaac Newton - que além de astrólogo era alquimista e ocultista,

facetas desconhecidas de um cientista autêntico, que só é famoso como

físico e matemático - Kepler, Tycho Brahe e Bode. Todos astrônomos!

Dentre os modernos astrônomos, citamos: M. L. Filipoff- do

Observatório da Argélia - Charles Nordmann - do Observatório de Paris - e

Bernard Lovell - Observatório de Jodrel Bank, em declaração publicada no

Sunday Times de Londres, em março de 1963. Teria nosso articulista a

coragem de afirmar que esses homens eram ou são cientistas medíocres, que

suas descobertas são duvidosas ou que seus trabalhos ficam invalidados

porque eles estudaram, acreditaram e se dedicavam à prática da Astrologia?

Diria que Isaac Newton era um supersticioso, um ingênuo,

132

Page 133: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

um charlatão? Que Einstein - a quem devemos um dos mais comoventes

testemunhos escritos em defesa da Astrologia - era um tolo, metido numa

"atividade fraudulenta"?

Para finalizar, brindamos os leitores com uma expressiva declaração

do astrônomo John O'Neill, Prêmio Pulitzer e editor de ciência do New York

Herald Tribune, em carta dirigida ao astrólogo Sydney Omarr: "Falo como

cientista que não se desviou da absoluta fidelidade aos mais altos padrões

da evidência em apoio da verdade. Desvio-me, isto sim, da atitude comum

de cientistas ao depositar mais confiança na observação direta da Natureza

do que nos livros de texto das autoridades humanas. A Astrologia é um dos

mais importantes campos para a pesquisa científica, em nossos dias, e um

dos mais negligenciados. A Astrologia, propriamente definida, é a ciência

do relacionamento do homem com seu ambiente celeste. É o conhecimento

organizado e acumulado do efeito sobre o homem das forças que atingem a

Terra, vindas do espaço circundante. Nada há de não científico,

absolutamente, no fato de se realizarem pesquisas nesse campo, e não existe

estigma algum que se lhe possa associar na mente de qualquer cientista ou

leigo. Os cientistas não podem olhar do alto a Astrologia, antes terão de

levantar os olhos para alcançar os horizontes mais elevados que os

astrólogos reservaram para eles. Os ataques à Astrologia, sem prévia e

extensa investigação feita por pessoas competentes, devem de agora em

diante ser vistos como prática antiquada, nada científica, intimamente

relacionada com a caça aos feiticeiros, e devem ser corretamente

diagnosticados como sintomas de paranóia profissional da parte dos

indivíduos atacantes".

133

Page 134: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

134

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Capítulo 12

135

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136

Page 137: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Pequena síntese baseada em estudos teosóficos

s primeiras raças humanas se desenvolveram a partir dos

mamíferos que havia na Terra. Os Senhores da Chama - também

chamados Manus - espíritos muito adiantados, a serviço do Plano

Divino da Evolução, deram forma a um primitivo embrião

humano, preparando-o de forma a poder receber um corpo vital.

Esses primitivos seres começaram sua evolução na região polar da Terra.

Eram como grandes filamentos de matéria astral, branco-amarelada, sem

uma forma definida. Porém, já eram dotados da Centelha Monádica humana.

Receberam o nome de chayas, que, em sânscrito, quer dizer sombras. Não

tinham sexo e se reproduziam por cisão. Flutuavam livremente pela

atmosfera, e estavam em um estado de inconsciência absoluta. Possuíam

vislumbres do sentido da audição e uma vaga consciência do fogo. Não

morriam, sua morte era na verdade a passagem para uma outra raça,

mediante o envolvimento por uma capa fluídica mais densa, sob a qual

desaparecia o antigo ser. O corpo da raça antiga tornava-se o "duplo etérico"

da nova raça.

A nova raça, a hiperbórea - que quer dizer para além do norte -

desenvolveu-se pouco abaixo do Círculo Polar Ártico. Desenvolve-se o

corpo vital, sob os raios do Sol, mais intensos nessa época. A consciência se

amplia a todos os planos espirituais. O corpo fluídico é dotado de um único

olho na testa - não era propriamente o órgão da visão, mas da intuição, da

visão espiritual. As fontes ocultistas nos ensinam que nossa glândula pineal

é a atrofia desse olho central. Esse corpo, mais denso, começa a exigir

alimento físico, que são os vegetais. Na Bíblia, essa fase é simbolizada por

Caim, o lavrador.

137

Page 138: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Sua reprodução é semelhante ao da raça anterior, por bipartição, e os

seres são ainda andróginos. Seu estado de consciência é como o de um sono

sem sonhos. Desenvolvem-se os sentidos da audição e do tato. Os indivíduos

apresentam uma cor amarelo-dourada e do alaranjado ao amarelo claro. Há

entre suas formas algumas que ainda lembram animais, outras já se

diferenciam e se aproximam da humana, com a faculdade de se chamarem

umas às outras, de subirem às árvores, conservando a capacidade de

flutuarem no espaço.

O ambiente físico da Terra lembrava um esplendoroso paraíso. Os

corpos vão-se tornando mais e mais densos, e sua reprodução por bipartição

vai sendo acompanhada pela exudação de gotas de suor viscoso que vão aos

poucos endurecendo, crescendo e tomando várias formas: são os chamados

"nascidos do suor", que já apresentam rudimentos dos dois sexos.

Apresentam-se nesta segunda raça as primeiras manifestações da

inteligência, com a construção de casas, instrumentos e ferramentas. O

continente lemúrico se apresenta propício ao desenvolvimento da nova raça

que se prepara. Estendia-se da parte oriental da Ásia até além da Austrália,

grande parte do Oceano Pacífico era nesse tempo terra firme. Os lemurianos

viviam num estado de inocência, ignorando o mal. Os Senhores da Mente

implantaram o germe mental nos seres mais adiantados dessa raça,

dando-lhes assim a possibilidade de um ego separado.

O ser é ainda andrógino e a reprodução continua a ser feita pela

exudação do suor viscoso. Começam, porém, a diferenciar-se os elementos

dos sexos, surgindo características mais masculinas numa parte dos seres e

mais características femininas na outra parte. As gotas de suor endurecem

mais e se transformam em um ovo, de onde nasce o ser. O corpo astral - ou

corpo dos desejos, sede dos instintos - se desenvolve. Todo esse processo

prepara cada vez mais o advento da separação dos sexos, que se completa na

quarta sub-raça desta Terceira Raça-Raiz.

Com o corpo dos desejos e a separação dos sexos - fatos que deram

origem à lenda de Adão e Eva, da Queda ou Descida na Matéria - o homem

recebe a faculdade criadora (reprodução da espécie) por meio de órgãos

sexuais individualizados. O ovo deixa de ser externo, é internalizado ao

útero da mulher. O homem sofre intensa transformação anatômica, ganhando

mais costelas, para que seu abdômen possa comportar um feto. Com essa

separação dos sexos e uma maior evolução no meio físico, e precisando

ganhar seu sustento com o próprio esforço, perdeu o homem

138

Page 139: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

a consciência do mundo espiritual. Começa, assim a afastar-se do paraíso.

O regime alimentar dessa terceira raça modifica-se, adotando o leite, ovos,

frutos, e possivelmente a carne - simbolizando Abel, o pastor.

Na última parte do período lemuriano o homem adquiriu a postura

ereta, desenvolvendo o sangue vermelho, por cujo intermédio o Ego pode

penetrar dentro do corpo e governá-lo. A Queda do Homem simboliza, nas

nossas lendas religiosas, a decisão dele de querer ser seu próprio senhor, e

não obedecer cegamente aos espíritos-guias. Os humanos foram a isso

instigados pelos espíritos luciferianos, chamados serpentes, os quais

iluminaram a mente humana e lhe abriram o entendimento. Com isso,

aprenderam os homens a distinguir o Bem do Mal, fato simbolizado na lenda

da Árvore proibida do centro do Paraíso. Essa Queda consistiu na perda do

Paraíso, bom para os homens na sua infância, mas que não podia continuar

sendo eternamente sua habitação, porque era necessário que o homem

conhecesse não só o bem, mas também o mal, a fim de tornar-se responsável

e independente na condução de seu comportamento e evolução.

A Lemúria foi destruída em grande parte por cataclismas vulcânicos, e

no lugar que hoje é o Oceano Atlântico, surgiu um novo continente, a

Atlântida. Isto ocorre há cerca de oito milhões de anos. Surge uma raça de

gigantes, com a testa diminuta, alguns de boa índole, outros nem tanto. É a

origem das nossas lendas e narrativas sobre gigantes. Fernão de Magalhães

ainda encontrou na Patagônia - nome que significa "pé grande" - exemplares

desse seres. O continente atlante desapareceu no mar há cerca de 200 mil

anos, restando apenas algumas ilhas, que afundaram em partes, uma há 75

mil anos e o restante há cerca de 11 mil anos - sendo esta última catástrofe

retratada por Platão nas obras Crítias e Timeu.

Houve sete Raças Atlantes, que foram praticamente as originais das

nossas raças atuais: Rmoahals, com pouca memória, mas notável sentimento

e boa índole; os Tlavatlis, amarelos, pacíficos; os Toltecas, de pele

avermelhada, eram gigantes com até oito metros de altura, que conheciam a

agricultura, a química, a alquimia, a astronomia; voavam em aeronaves e

tinham escolas organizadas; eram guerreiros e seus reis abusaram de seus

poderes.

A quarta raça foi a dos Turânios originais, também gigantes,

guerreiros e agressivos, origem do povo chinês. A quinta raça foi a dos

Semitas, turbulentos, belicosos, comerciantes e astutos. A sexta raça foi a

dos Acadianos, de onde vieram os Pelasgos, na Grécia, e os Etruscos, na

Itália.

139

Page 140: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

A sétima raça atlante foi constituída pela raça amarela, origem dos atuais

povos asiáticos. Os povos atlantes, em ondas sucessivas, colonizaram os

outros continentes, povoando as Américas, a Europa e o norte da África,

dando origem assim aos povos indígenas do continente americano, aos

europeus atuais e aos egípcios, espalhando-se também por toda a Ásia. A

Raça Ariana parece começar na índia, até onde podemos rastreá-la

historicamente, mas certamente proveio diretamente das raças do Norte. As

raízes etimológicas nos levam aos idiomas indo-europeus, traçando

indubitável vínculo familiar. A Raça Ária se desdobra em sub-raças:

ária-primitiva, ária-semítica, iraniana, céltica, teutônica e eslava. Uma outra

raça ária aparecerá possivelmente na América. Durante o advento da sexta

raça haverá uma verdadeira unificação da grande família humana, com

grandes semelhanças raciais em toda parte.

140

Page 141: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Capítulo 13

141

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142

Page 143: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

e onde viemos? Esta é uma velha indagação da humanidade. Os

cientistas propõem a Teoria Evolucionista, preconizada por

Charles Darwin, segundo a qual taxativamente descendemos dos

símios. Geneticamente, as semelhanças são assombrosas entre o

chimpanzé e o homem, de modo que a teoria, do ponto de vista

puramente científico, se confirma. Já os criacionistas recusam a Teoria

Evolucionista, propondo o surgimento do homem num lance único e quase

repentino, por vontade divina. A Teosofia, alicerçada em fundamentos

herméticos, coloca, com profunda coerência e perfeita lógica, a origem da

vida na menor partícula do universo, o átomo.

Do ponto de vista dos alquimistas, o próprio átomo é vida, possuindo

memória e inteligência. Assim, toda vida é oriunda do reino mineral, que dá

nascimento a duas linhas evolutivas separadas, desembocando em resultados

distintos. Uma tem por objetivo final a criação do homem perfeito ou

Adepto, a outra tem por fim a criação do Deva, ou Anjo, cuja densidade é

mais sutil. Ambas, porém, necessitam evoluir passando por diferentes reinos

e formas, levando nesse percurso vários milhões de anos terrestres, e

adquirindo durante esse tempo as características morfológicas, fisiológicas e

anímicas de cada reino e forma física. Eis, esquematicamente a seqüência

evolutiva:

Essência Elemental Mineral Vegetal Animal

Homem Homem Perfeito

Mineral Vegetal Animal Espírito de Natureza (etérica)

Espírito da Natureza (astral) Anjo ou Deva

143

Page 144: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

O principio da vida é o átomo, essência elemental da Primeira

Centelha Divina, que passa por sucessivas transformações no decurso de

muitas Eras, chegando finalmente ao reino mineral sob a forma de pó, argila,

pedra, rocha, cristal ou metal. Cristais e metais estão no topo da cadeia

evolutiva no Reino Mineral, sendo as formas aperfeiçoadas que o mineral

pode assumir em nosso Sistema Solar. Desse reino, herdamos nossa estrutura

óssea. Após outras eras mais, o mineral adotará uma forma terrestre ou

aquática: se terrestre, tornar-se-á líquen ou musgo, para evoluir sob formas

mais complexas, na direção de plantas com flores, ou árvores. Ou então

caminhará para os fungos - que são formas híbridas entre os reinos vegetal e

animal - na direção das ervas, gramíneas e cereais. Se aquática, tornar-se-á

plâncton, alga marinha, corais, esponjas, na direção de formas mais

evoluídas de plantas marinhas.

Do Reino Vegetal, herdamos nosso Sistema Neuro-Vegetativo,

desenvolvendo sensibilidade aos estímulos externos e os primórdios do

sistema circulatório. Decorridos eons, dar-se-á a passagem do Reino Vegetal

para o Animal. Do ramo das algas e corais surgirão os polvos, crustáceos e

finalmente os peixes. Do ramo dos fungos advirão as bactérias, os insetos,

pequenos répteis e os pássaros; do ramo das ervas e cereais, advirão as

abelhas e formigas, insetos mais desenvolvidos e organizados socialmente.

Das plantas com flores e das árvores advirão os grandes répteis e os

mamíferos inferiores, que se desenvolverão na direção dos mamíferos

superiores.

Do Reino Animal herdamos o Sistema Sangüíneo - e especificamente

o sangue quente, responsável pelo surgimento do futuro Corpo Mental

humano. É também do Reino Animal que herdamos a especialização dos

órgãos internos e dos cinco sentidos. Os reinos seguintes - não

necessariamente os últimos - surgirão a partir do abandono progressivo das

formas animais e adotando outras mais evoluídas, complexas e sofisticadas.

Na evolução aquática se desenvolverão formas etéricas, que darão origem às

ondinas - espíritos da Natureza ligados à água - depois aos espíritos das

nuvens, aos silfos e finalmente aos Devas. De um ramo independente da

evolução terrestre, surgirão os gnomos, seres da Natureza ligados ao

elemento Terra. Os pássaros se tornarão espíritos de planos superiores, como

as salamandras (ligadas ao elemento fogo). Abelhas e formigas se tornarão

pequenos seres etéricos, que futuramente serão as fadas terrestres. Todos

têm como direção geral da evolução os Devas.

144

Page 145: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Talvez seja importante ressaltar que tais formas elementais são de

uma dimensão bastante mais sutil que a humana, razão pela qual não nos são

visíveis comumente. É preciso desenvolver a chamada Terceira Visão para

poder reconhecê-las, e, eventualmente, entrar em contato com elas.

Entretanto, algumas pessoas são naturalmente dotadas de tal visão, e elas

podem - e fazem - contato, em geral desde a infância. Tais pessoas são

muitas vezes consideradas fantasistas e mesmo desequilibradas, não sendo

raro que as internem em asilos para loucos. É possível, contudo, em

condições muito especiais, registrar, com máquinas fotográficas, a imagem

das fadas, gnomos e outras formas sutis. Os mamíferos superiores se

tornarão homens, depois homens evoluídos

- os discípulos - e finalmente Adeptos. Estes escolherão um caminho

especial, no qual destinarão toda a sua energia para a redenção e auxí

lio dos seres e das espécies que lhes estão abaixo.

Os estágios mais evoluídos dessa cadeia ascendente - os Adeptos e os

Devas - se desenvolverão para o nível que a Teosofia chama Dhyan Chohan,

Mestres de Luz e condutores de povos, coordenadores dos planos evolutivos

do nosso sistema e de outros, no universo afora. Como vemos, o esquema

teosófico não nega a Teoria Evolucionista, mas amplia-a, dotando-a do

necessário conteúdo espiritual. Não proviemos simplesmente do macaco,

como grosseiramente se propunha, mas de uma centelha divina imortal, que

habita formas cada vez mais perfeitas e belas - e ao mesmo tempo mais

adaptadas ao meio ambiente, como queria Darwin - sendo que a matriz

genética final, ou último estágio pré-humano, pode ter sido o chimpanzé,

mas que também pode ter antes habitado outros corpos de mamíferos

superiores. Nossa evolução requeria uma forma física - e para isso, muitos

moldes serviriam. Essa necessidade de um "molde" não reduz nossa

importância, nem representa uma "humilhação", apenas é o caminho da

evolução natural da vida. Não reconhecer isto é duvidar da sabedoria do

Universo.

Somos, portanto, aquele mesmo átomo que existiu sempre no seio do

Todo. Sabemos tudo, porque vimos tudo acontecer: o "Big Bang" - ou o que

quer que se lhe corresponda - a expansão do universo, o surgimento das

estrelas e galáxias, o esfriamento da Terra, o nascimento da água, da

atmosfera, dos vegetais, animais e humanos, que costuma mos chamar de

Criação. Na verdade, não há uma Criação separada do Criador, mas apenas

e tão somente o Todo - unidade absoluta, eterna,

145

Page 146: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

imortal, uma consciência omnipresente e omnisciente, que se manifesta sob

a forma de um - ou muitos - universos, cuja densidade percebemos como

fenômeno visível. Somos parte desse todo, como células de um corpo. E

como parte desse Todo, estão contidos em nós tanto a inteligência como o

conhecimento e o poder do todo.

A idéia de um Criador fora de nós - aquele deus muito humano, velho,

enorme e barbudo, zangado e vingativo, pairando nas nuvens, como o que se

vê pintado no teto de certas igrejas, como a Capela Sistina - é infantil e

grotesca, indigna de persistir nas crenças de um povo civilizado. Tal como

nos ensinava Hermes Trismegisto há 6.000 anos, o que está em cima é como

o que está embaixo, numa proposição confirmada pela ciência do século

XXI, agora descobrindo que em uma única célula viva está contido todo o

segredo do corpo completo, possibilitando assim a sua clonagem. Em suma,

o homem é capaz dos mesmos milagres que a Divindade, simplesmente

porque é parte dela, e mais que isso, porque é como ela.

Veículos da alma

Seguindo uma abordagem do teosofista Jinarajadasa, somos dotados

de vários corpos, que pertencem a diversos planos de causalidade, e a

diversos níveis de densidade. A Teosofia distingue sete corpos, dos quais os

mais importantes são:

Plano Físico: um corpo físico para agir - preparado para reações

sensoriais ou instintivas.

Plano Astral: um corpo astral - para sentir emoções, desejos.

Plano Mental Inferior: um corpo mental para pensar - registrando

idéias, pensamentos concretos.

Plano Mental Superior: um corpo causai para evoluir mediante

ideais, e capaz de pensamentos abstratos. É neste plano que fica registrada a

memória das vidas passadas. Nele são julgadas as ações cometidas e quais

as suas conseqüências kármicas para as vidas seguintes. Juiz absolutamente

imparcial, decide quais experiências são mais adequadas para a evolução

espiritual daquele ser, indiferente se elas lhe causarão prazer ou sofrimento.

Na Iniciação Egípcia, equivale ao Tribunal de Osíris, onde Maat, a deusa da

Verdade, avalia e julga os atos do Neófito.

146

Page 147: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Tipos de almas que reencarnam

Almas Não Desenvolvidas: reencarnam numerosas vezes em cada

sub-raça, necessitando captar minuciosamente as experiências de cada uma,

antes de passarem à seguinte.

Almas Simples: ultrapassaram o período selvagem, porém, são pouco

inteligentes, dotadas de pouca imaginação e sem iniciativa.

Almas Civilizadas: a) reencarnam duas vezes em cada sub-raça.

Passam em média 1.300 anos no mundo celeste; b) reencarnam mais de duas

vezes na mesma sub-raça. Passam em média 700 anos no mundo celeste.

Cabe notar que atualmente o prazo desse estágio no mundo celeste está

muitíssimo reduzido - possivelmente devido ao imenso número atual de

seres humanos vivendo na Terra, que esperam uma oportunidade de

encarnar, e também devido à aceleração dos efeitos kármicos por causa da

Era Evolutiva em que estamos ingressando: a Era de Aquário.

Almas no Caminho: Reencarnam quase imediatamente sob a direção

de seu mestre; renunciam a seu período de vida no mundo celeste.

Adeptos: Não necessitam mais reencarnar. Entretanto, retornam à

Terra se e quando desejam, a fim de cumprir uma missão junto à

humanidade.

Lei do Karma

Da vida passada - produzem - na vida presente

Atos serviçais - bom ambiente

Atos prejudiciais - mau ambiente

Aspirações e desejos - capacidade

Pensamentos sustentados - caráter

Êxitos - entusiasmo

Experiências - sabedoria

Experiências dolorosas - consciência

Desejos de servir - espiritualidade

A palavra sânscrita Karma significa "resultado de uma ação". Assim,

cada ato nosso produz uma reação correspondente, sempre no mesmo plano

de causalidade. Um ato material produzirá resultado no nível material; um

pensamento gera resultados no plano mental, e assim por diante. O esquema

acima mostra com propriedade como atua essa Lei

147

Page 148: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

de Causa e Efeito. Não há propriamente castigos ou recompensas, mas

apenas ação e reação: atos e resultados. O conhecimento da Lei de Causa e

Efeito mostra a todo ser humano o quanto vale a pena ser virtuoso e praticar

o bem - e quanto sofrimento lhe está reservado se agir mal. Seria certamente

mais útil e efetivo, se, ao invés de ameaçar-nos com penas eternas num

inferno povoado de demônios, simplesmente nos ensinassem, desde a

infância, a existência da Lei de Causa e Efeito, e como ela nos alcança com

muito mais eficiência do que as leis humanas. Ainda que talvez possamos

escapar impunes de um crime na vida presente, um tribunal de outro nível

nos julgará no futuro, e diante dele, nenhum ardil ou mentira poderá

prevalecer.

Os tipos humanos

A evolução humana, como vimos, provém dos mamíferos. A corrente

da vida, que irá, mais tarde, tornar-se a humanidade, manifesta traços

rudimentares de especialização, mesmo em suas fases primitivas de vida

elemental, mineral e vegetal. As características ficam mais perceptíveis

quando o ser atinge o reino animal. Essa vida, destinada a tornar-se humana,

compreende sete tipos fundamentais, apresentando cada tipo modificações,

quando de algum modo influenciado pelos outros. O estudo desses tipos

seria de grande valia aos psicólogos na compreensão dos enigmas da alma

humana. Esses tipos persistem através de todos os reinos que precedem o

humano. A vida que anima os cães é distinta da que anima os gatos; a que

anima os elefantes é por sua vez distinta das outras duas.

A vida do cão evoluiu nas formas dos lobos, chacais e outros caninos

antes de chegar ao cão doméstico, sua mais elevada forma de encarnação. Da

mesma maneira, outros tipos de vida animal, tais como o gato, o cavalo, o

elefante e o macaco, tiveram as suas primeiras encarnações nas formas mais

selvagens e pré-históricas das mesmas famílias. E uma perspectiva

impressionante ver como esses tipos animais se manifestam entre a

humanidade. Vemos então como a vida canina entra no reino humano sob a

forma de alma devocional - resultado dos sentimentos profundos de

dedicação incondicional a seu dono.

Os sete tipos são bastante perceptíveis. Nenhum é superior aos outros,

simplesmente todos são necessários ao grande drama da evolução. Segundo

o grande teósofo Jinarajadasa, são eles: o devocional,

148

Page 149: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

o afetivo, o dramático, o científico, o executivo, o filosófico e o ritualístico.

Entre as almas devotas, distinguimos as que se dirigem diretamente a Deus,

em seu coração e mente, e outras para quem Deus permanece como uma

idéia vaga, a menos que Ele seja concebido sob a forma de um mediador -

seja ele Jesus, Budha ou Krishna. Há também almas de tipo devocional que

são influenciadas pelo aspecto dramático da vida, e que desejarão o martírio,

não por vaidade ou anseio de chamar a atenção sobre si, mas porque, para

elas, é irreal uma vida de devoção se não for continuamente dramática.

O tipo afetuoso também possui variantes. Há aqueles para quem toda

a vida está concentrada no amor de uma alma isolada, são os Romeus e as

Julietas, que estão prontos a tudo renunciar por um ser amado. Outros não

são capazes senão de um amor menos intenso, mas procuram estendê-lo a

um círculo maior, considerando importante constituir uma família, cercados

pelos pais, filhos e amigos, são atraídos pelas atividades filantrópicas. O tipo

humano dramático é freqüentemente incompreendido. Para os indivíduos

desse tipo, a vida só é real quando é uma cena dramática, a alegria não é

alegria, a não ser dentro de um drama em que a alma represente o principal

papel; a dor não é dor, senão quando ela é uma novela mexicana: toda

lágrimas. Outros serão atraídos pelo teatro, em cujo palco se desenrolam

duplicidades e contradições. Outra variante, mesclada com o tipo filosófico

da vida, resulta no autor dramático. Enquanto que as almas do tipo

dramático com tendências executivas acharão encantos na carreira militar ou

de líder político.

Entre as do tipo científico, se distinguem duas variantes - a teórica e a

prática. Uma terceira variante manifesta uma disposição reverenciai, onde

mesmo o tipo dado às investigações científicas sempre acha que o universo é

a morada de Deus. O cientista que tende ao efeito teatral em seus métodos é

influenciado pelo tipo dramático. Do tipo executivo, existe a variante

dramática, visível em muitos líderes políticos, e uma outra, o tipo

magnético, capaz de inspirar profunda lealdade em seus subordinados, mas

sem nada de espetacular, preferindo conservar-se à sombra, contanto que o

trabalho se faça. Quanto ao tipo filosófico, as diferentes maneiras pelas

quais os filósofos apresentaram suas concepções da vida correspondem ao

que eles mesmos são como expressão da vida única.

149

Page 150: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Finalmente, um outro tipo, também pouco compreendido, inclui as

pessoas a quem o simbolismo atrai fortemente. A vida somente é real quando

expressa sob uma alegoria. A religião só tem sentido quando associada a um

cerimonial. Os paramentos sacerdotais, as procissões, rituais, etc, são parte

do culto dessas pessoas. Há muitos modos de realizar o que podemos chamar

de Plano Divino e realizar a obra comum, e, perante o cosmos, todos são

iguais. Há um caminho para cada um, e enquanto seguimos nossa própria

rota, cabe-nos ajudar os outros a seguirem a sua. O seguinte esquema

sintetiza os tipos humanos abordados:

Devocional - diretamente a Deus

- ou por um mediador

Afetivo - amor intenso por alguém

- filantrópico

Dramático - ator

- devoto - mártir

- filosófico - autor

- executivo - guerreiro

Científico - teórico

- experimental

- reverencial

- teatral

Executivo - magnético

- dramático

Filosófico - sintético

- analítico

- artístico

- humanitário

Ritualístico - cerimonial

- simbólico

150

Page 151: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

O temperamento animal

Somos "descendentes", através da encarnação, de um certo tipo

animal. Assim, se nossa primeira forma animal foi um canídeo, seremos

sempre uma forma de vida canina, com todas as variantes possíveis. Uma

vez felino, sempre felino, e assim por diante - com raras exceções. Isto

explica certas preferências que manifestamos, ao chegarmos à encarnação

humana, por um determinado tipo de animal doméstico - ou mesmo

selvagem. É fácil reconhecer inclusive pela forma do rosto, pelo tipo do

corpo e pelo temperamento, qual animal foi nossa forma primitiva. Tudo

indica que os animais representados no Zodíaco - seja o ocidental, seja o

oriental - são as formas primitivas dos mamíferos dos quais descendemos.

No horóscopo de nascimento, vemos muitas vezes o animal típico no signo

ascendente ou solar. Os mais reconhecíveis são: o carneiro, o boi, o leão - e

sua longa lista de felinos - o cavalo, a cabra, o macaco, o porco, o rato, o

coelho, o cão, o camelo e o elefante.

O carneiro mostra no rosto humano uma forma triangular, testa alta,

temperamento doce e tímido. Serviçal, útil, fisicamente forte, teimoso e

trabalhador. É pontual, dedicado às suas obrigações, e dá ótimos operários,

militares de baixa patente, empregados de confiança e capatazes. O boi

apresenta o rosto largo, quadrado, olhos salientes, modos submissos e

propenso às tarefas que exijam rotina e dedicação. Tende às ocupações

práticas, dependentes e braçais. Dá as donas de casa de tempo integral, os

agricultores, os funcionários zelosos, os operários de pouca especialização,

mas de alta produção.

O felino apresenta duas variantes, a selvagem, que corresponde ao

leão - ou pantera, puma, jaguar, onça, etc - tem a face achatada, larga,

cabelos revoltos e temperamento altivo, com modos militares. A variante

doméstica é o gato, que tem uma face mais delicada, modos sinuosos, fala

macia. É indolente, diplomático e em geral só faz o que aprecia, não o que

lhe mandam. O primeiro tipo busca o poder, e comumente ocupa altos postos

ou está ao lado dos governantes; o segundo tipo busca a segurança dos

empregos pouco exigentes e fontes de renda permanentes. O cavalo tem em

geral alta estatura, estrutura óssea grande, especialmente na cabeça, que é

retangular, mandíbulas largas, dentes grandes. É dedicado, leal, serviçal,

generoso, dado às viagens, às causas humanitárias, às profissões artísticas -

(há muitos atores nessa categoria - alguns muito típicos, como

151

Page 152: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Clint Eastwood, Robert Redford, Romy Schneider, Grace Kelly) - políticas e

religiosas. Como o cão e o gato, é uma das formas animais mais comuns

entre os humanos. A cabra possui uma face angular, semelhante ao tipo

humano do carneiro, mas com os olhos mais salientes e a testa mais baixa. É

tímido, retraído, gentil, serviçal e gosta de trabalhar e viver sozinho. Pode

ser eremita ou pessoa de vida simples, como os camponeses e artesãos. O

macaco tem duas variantes, uma que parece provir dos grandes símios -

lábios grossos, nariz largo, testa alta; neste caso, é calmo, intelectual ou com

tendências artísticas. Outro tipo parece descender dos pequenos símios, e

então é de face delicada, grandes olhos, porte médio ou miúdo e modos

agitados, talentos variados, hábil, falante, inteligente e curioso. Podem ser

comerciantes, atores, dançarinos ou políticos. Na versão ruim, produz os

ladrões, os malandros, os tipos vulgares e agressivos.

O porco tem a face larga, arredondada, testa pequena, às vezes com

orelhas grandes, corpo avantajado, com tendência para engordar.

Temperamento serviçal, capaz de grandes sacrifícios, mas guardando uma

revolta íntima; dá bons administradores e donas de casa. Quando são de

pouca evolução, são avarentos e maledicentes. O rato tem porte pequeno,

corpo magro, olhos muito juntos, nariz fino. É hábil, cauteloso, ambicioso e

esperto; dá bons vendedores, comerciantes e funcionários de carreira. Numa

versão ruim, pode dar malandros profissionais, ladrões e falsários. O coelho

é magro, porte baixo a médio, ágil, face estreita e pequena, mas com orelhas

grandes e boca sempre aberta; dentes proeminentes, que necessitam aparelho

corretivo; geralmente tímido, parece muito frágil e carente de proteção. É,

contudo, afetuoso, dócil e bom amigo. Pende para as profissões utilitárias,

seguras e subalternas, que não exijam iniciativa nem grandes energias.

O cão possui duas variantes: a selvagem, cuja ascendência é o lobo e

linhagens paralelas - é forte, corpo bem proporcionado, boa musculatura,

rosto quadrado, olhos vivos, inteligência alerta. Dá bons militares, atletas e

atores, e, em sua versão má, dá os assaltantes e assassinos. A variante que

descende do cão doméstico tem as mesmas características físicas, é

geralmente de rosto bonito e modos gentis, é leal e devotado às pessoas e a

uma causa, e tende às profissões intelectuais, científicas ou religiosas. O

camelo é de porte médio ou grande, corpo algo desajeitado ou

desproporcional. Rosto grande, dentes salientes, nariz largo, olhos

inexpressivos. Face irregular, às vezes desagradável de ver,

152

Page 153: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

mas com uma índole fiel, devotada e capaz de sacrifícios totais. Buscam

posições subalternas onde possam servir a alguém por toda uma vida.

Podem dar grandes idealistas ou fanáticos irrecuperáveis.

O elefante tem sempre um porte elevado e formas gigantes. Ossos

largos, cabeça grande, freqüentemente calva. Nariz desenvolvido, mãos e

pés enormes, tendência para comer muito e engordar. O temperamento é

geralmente dócil, generoso, disposto ao sacrifício e às grandes causas.

Laborioso, dedicado, ânimo forte, inteligente e sensível. Entretanto, é

temperamental, e, às vezes, revela uma disposição vingativa inesperada. Dá

bons comerciantes, intelectuais, viajantes e proprietários.

Ainda que cada ser humano traga em si as características corporais e

psicológicas de seu animal ancestral, o grau de evolução que for atingindo

no curso das encarnações fará com que sua inteligência se desenvolva, seus

sentimentos se refinem e seu corpo físico adquira beleza e perfeição. Quanto

mais próximo do topo da evolução, mais o tipo físico se afastará do

arquétipo animal, e mais se parecerá com o arquétipo hominal próprio de

cada raça ou cadeia evolutiva, rumo à perfeição.

Indo mais para trás na linha da evolução, cada espécie animal proveio

de um certo grupo do reino vegetal, e poderíamos, por exemplo, reconhecer

no elefante seu ancestral vegetal num majestoso jatobá ou numa seqüóia; no

coelho, um delicado jasmineiro; no leão, um frondoso carvalho; no cão, uma

linda roseira cheia de espinhos; no cavalo, uma nogueira ou uma oliveira -

árvores belas e úteis; no macaco, uma trepadeira, e assim por diante. 0

processo evolutivo mostra uma atividade incessante, onde se processa a

conversão do Um em Muitos. Não é um processo em que cada um luta por

si, mas em que cada qual chega à compreensão de que a sua mais alta

expressão depende do serviço prestado a outros, por serem todos parte do

um. A Evolução da Forma não é uma série de partes semelhantes

simplesmente acopladas, mas um todo constituído de partes diferentes em

que uma depende das outras.

Por outro lado, a Evolução da Vida não se limita a um único

temperamento, um único credo, um único modo de pensar, mas tem por

característica a diversidade de temperamentos, de formas, de credos e de

maneiras de servir, que se unem todos para cooperar com o cosmos e se

lançam na realização do Plano Divino. Nesse processo, nada ocorre por

acaso, tudo segue um plano inteligente e perfeito. Ao contrário do que

acreditam certas correntes de cientistas, a vida e os fenômenos do universo

não são

153

Page 154: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

resultado do acaso, ou de um conjunto caótico de circunstâncias. Não por

acaso, os gregos usavam a mesma palavra para designar ordem e universo -

cosmos. Existe uma ordem no universo. Existe uma Justiça Cósmica -

diferente da humana - porém, com certeza, infalível e incorruptível. Existe

uma inteligência que o anima e dirige no caminho da evolução.

Tudo evolui na direção da perfeição. Só não o reconhecemos porque

só percebemos um trecho, bastante curto, desse Caminho, durante a breve

vida humana. Não recordamos o que veio antes, e não sabemos o que virá

depois, já que o universo, no parecer da Física Quântica, não é um mundo

real, mas apenas um conjunto de possibilidades. Assim, certos fatos nos

parecem injustos, irracionais e sem lógica, mas, na verdade, eles são

somente o resultado de ações pretéritas. As religiões que não nos explicam

convenientemente tais evidências estão falhando miseravelmente na missão

de confortar a humanidade em seu sofrimento, pois retratam um Deus que

não se apieda dos humanos, que inflinge castigos cruéis a pessoas virtuosas

e não ouve as orações dos que clamam por justiça e paz. Bastaria que elas

nos explicassem que todo ato gera uma conseqüência, e que certos atos estão

esquecidos porque foram praticados noutras vidas.

Os caminhos da evolução espiritual

No universo que conhecemos, evoluir é inevitável e obrigatório. As

únicas escolhas que nos cabem são a forma e o tempo que levaremos para

alcançar a perfeição, porém, ela é a meta de todo ser vivo, não importa a que

reino pertença ou o lugar que ele ocupa na escala evolutiva. Darwin

descobriu algumas das características dessa Lei da Evolução, a nível

científico. Ele definiu a Seleção Natural, que impõe a sobrevivência do mais

apto no contexto de um habitat hostil. E descobriu que tudo evolui a partir de

formas simples na direção das formas mais complexas e sofisticadas,

culminando com o surgimento da inteligência, dentro da espécie humana.

Assim, ele supôs que o homem seria uma forma avançada dos símios.

A nível espiritual, a evolução acontece através da experiência

individual de vida. Tudo consiste em aprendizado, não importa que tipo de

experiência exija, e geralmente passa pelo sofrimento e por severas provas.

Quanto mais evoluído um ser, mais ele escolhe o caminho do conhecimento.

Não se trata aqui de conhecimento acadêmico, disponível na escola, e sim

de conhecimento iniciático, conduzindo cada um ao desenvolvimento

154

Page 155: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

da porção mais importante do fenômeno da evolução, que é a consciência,

desdobrada em duas componentes: compaixão e amor à verdade. É difícil

saber em que degrau da escada evolutiva cada um de nós se encontra. Há

pessoas que são verdadeiros brutos, mas que estão convictas de que são o

máximo em termos de evolução - só porque possuem tamanho físico e

musculatura. A ferocidade é sua marca, e estão bastante próximos do reino

animal, donde todos procedemos. A força, aliada à ignorância, formam uma

péssima combinação.

Há pessoas que, ao contrário, são muito inteligentes, tendo

desenvolvido o cérebro, em lugar do coração. Uns podem chegar a ser

inofensivos, quando algum sentimento já despertou. Outros, porém, podem

ter desenvolvido apenas o corpo mental, conservando a ferocidade própria

dos animais - e então nos defrontamos com os torturadores, os matadores

cruéis, os criminosos frios e calculistas. Uma boa medida da nossa evolução

é a manifestação do amor ao próximo e a da tolerância. Mas o caminho da

evolução é longo, e exige o aperfeiçoamento de nossas virtudes e o

desenvolvimento de inúmeras capacidades. Corpo, mente e alma devem estar

em harmonia, e bem constituídos. Devemos dar a cada um deles o alimento

que lhe compete: substâncias saudáveis para o corpo, informações

construtivas para o intelecto, e bons sentimentos para a alma. Também será

necessário eliminar resíduos de más paixões, livrar-se de vícios, ser superior

aos bens materiais e cultivar o desprendimento.

0 caminho do mal é sempre fácil, uma descida sem fim, para a qual

tudo e todos contribuem. E o caminho do dinheiro fácil, do crime, da

abundância não merecida, do menor esforço, da apropriação de tudo que se

oferece. Não se dá ouvidos à consciência, não se pensa na culpa, não há

remorso, nem amor ou compaixão - apenas prazer, ócio e liberdade para

fazer tudo o que se quer. Já o caminho da virtude, ao contrário, é espinhoso,

difícil, uma subida íngreme, cheia de obstáculos, pedras, abismos e

tentações. E o caminho do trabalho, do mérito, do esforço pessoal, da

responsabilidade, da prestação de contas de nossos atos, e até de nossos

pensamentos e sentimentos.

Pode-se entender por que tanta gente resvala para o mau caminho! Na

Grande Pirâmide de Gizé, a entrada principal leva a princípio para uma

rampa em declive. É um caminho fácil, logo é o primeiro que se escolhe.

Chegamos ao fim da rampa, e ela nos leva a uma sala onde tudo parece estar

invertido: o teto é belo e perfeito, o solo é irregular

155

Page 156: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

e desagradável. Alguns a chamam a Sala do Caos. Não tem saída. É preciso

retornar pelo mesmo caminho da entrada, só que desta vez subindo com

esforço. Retrata com propriedade a queda do homem no vício. E sempre

fácil descer, mas uma vez chegados ao fim do poço, não há nada a fazer

senão subir novamente, resgatando no caminho sofrido todos os erros

cometidos na descida. Então encontramos outro caminho, desta vez uma

subida íngreme - é o caminho da virtude. Em duas etapas - sempre subindo

com esforço - encontramos primeiro a câmara chamada de Rainha e depois a

do Rei, nomes simbólicos para amor e sabedoria - os autênticos caminhos

para alcançar a felicidade, porém, quase sempre tardiamente reconhecidos na

vida.

156

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Capítulo 14

157

Page 158: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

158

Page 159: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Natal é hoje considerado uma festa própria e exclusiva do

cristianismo, tida, aliás, como a sua data magna. Entretanto, essa

data corresponde a celebrações muito mais antigas que o advento

do cristianismo, e tem raízes no simbolismo de velhas

civilizações, como a da Pérsia e da Índia. Na verdade, a origem

da maioria dos calendários religiosos, em todas as partes e em todas as

épocas, está nos fenômenos do céu, na observação dos astros, e muito

especialmente na trajetória do Sol e nas estações do ano. A definição exata

do início das estações era de importância vital para os povos primitivos, que

dependiam da agricultura para sobreviver. Era preciso estabelecer com

precisão quando começariam as chuvas, quando viria a seca, o frio, a neve, o

degelo, e quando voltaria o Sol a aquecer a Terra, trazendo consigo a luz e o

retorno da vida.

Era determinante saber os períodos das cheias e vazantes dos rios, em

cujas margens floresceram sempre as civilizações em todo o mundo. Era

então demarcado o momento certo dos trabalhos no campo, dos plantios,

colheitas, semeaduras, preparo da terra e também o tempo de armazenar

víveres ou iniciar os procedimentos com o gado e outros animais

domésticos. Nas altas latitudes, sujeitas a invernos rigorosos, esse

conhecimento podia ser, para um povo, a diferença entre viver ou morrer.

Eram os sábios astrônomos os encarregados de observar os sinais do céu e

particularmente as passagens regulares do sol, responsáveis pelo início de

cada estação. Eram temidos os meses em que o Sol se afastava, declinando

para o outro lado do mundo, gerando as trevas e o temor supersticioso de

que ele talvez não voltasse no ano

159

Page 160: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

seguinte. É incrível como tantos povos na Terra puderam, praticamente sem

uso de instrumentos, estabelecer com impressionante precisão o início das

quatro estações, demarcando os pontos cardeais, o lugar quase exato do

equador terrestre e dos círculos dos solstícios.

O significado das Estações

Em sua marcha anual pelo Zodíaco, o Sol visita o Hemisfério Norte

durante seis meses - de março a setembro - e o Hemisfério Sul nos restantes

seis meses - de setembro a março. Ao passar pelos signos de Câncer e

Capricórnio, nos meses de junho e dezembro, atinge seus pontos mais

declinados para o Norte e para o Sul. Define então as estações do verão e

inverno em cada hemisfério - são os solstícios de verão e inverno. Nestes

dois períodos, o Sol permanece com a mesma declinação durante várias

semanas, parecendo estacionado no céu - daí o termo solstício, ou sol

estacionário. As datas do início das quatro estações do ano tinham grande

ênfase no calendário popular e eram motivo das mais importantes

celebrações, que logo adquiriram um caráter sagrado, seguindo um ritual

próprio nas religiões pagãs. Tais rituais foram sendo adotados pelas religiões

modernas, sob formas e roupagens diferentes para cada época e lugar. No

Cristianismo, as mesmas datas foram adotadas para seu calendário litúrgico,

porém, retirando-lhes o caráter astronômico e atribuindo-lhes eventos ou

efemérides da vida dos santos.

A religião católica, em ascensão no Império Romano, desejando

conquistar para suas fileiras os seguidores desses velhos ritos, muito

sabiamente, adotou datas próximas para suas festividades, atribuindo-lhes

santos, como João Evangelista (27 de dezembro) e João Batista (24 de

junho), ou eventos, como a Páscoa (em março) e o Natal (em dezembro).

O Natal - Solstício de Inverno no Hemisfério Norte - foi copiado por

Roma como o Natalis Invicti Solis (0 nascimento do Sol Invicto), a partir da

antiqüíssima tradição de Mitra. O dia 25 de dezembro era a festa oficial da

divindade persa, o Senhor e Salvador Mitra, e era considerado como o dia do

nascimento do Sol. O Cristianismo adotou essa data em 354 d.C, cuja

primeira menção aparece no calendário de Philocalus. De igual forma,

Ieseus Krishna, o salvador hindu - cuja história se passa 1.500 anos antes do

advento do Cristianismo - nasceu no dia 25 de dezembro, em uma gruta,

sendo filho da virgem Devaki. Tal como Jesus,

160

Page 161: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

seu nascimento foi marcado por fenômenos no céu, e também ele foi

perseguido pelo tirano Kansa, rei de Madura, que, temendo ser destronado

pelo recém-nascido, mandou degolar as crianças nascidas na época. A

família conseguiu fugir, e, anos mais tarde, se inicia a pregação de Krishna,

cuja prédica está registrada no Bhagavad Gita (0 Canto do Sublime). Sua

vida é narrada no Wishnu Purana e na epopéia denominada Mahabhárata. A

infância e a juventude de Krishna são idênticas às de Jesus, com a mesma

seqüência de fatos. Morreu aos 33 anos de idade, crucificado, segundo uma

versão, ou a flechadas, segundo outra.

O dia do nascimento do Sol é, na Índia, um dia de regozijo. Há troca

de presentes e todos se congratulam. No antigo Egito, o dia 25 de dezembro

era festejado como o do nascimento do deus-menino Hórus. No calendário

cristão, é o dia consagrado a João Batista, e corresponde ao Natal. A criança

nascida é o Sol-menino, ainda pequeno, frágil e perseguido, que precisa

crescer para mostrar sua força e seu poder. O Solstício de Inverno do

Hemisfério Norte ocorre no dia 23 de dezembro, dia em que o sol entra no

signo de Capricórnio. Essa data, em certas escolas iniciáticas, é dedicada à

Esperança. No Hemisfério Sul, onde as estações são invertidas, é o início do

verão. Há um outro ponto interessante na escolha do Natal ter recaído nos

dias finais de dezembro: é sempre nos primeiros dias de janeiro que ocorre o

periélio, ou seja, é quando a Terra fica mais próxima do Sol, marcando,

assim, o início, ou o nascimento de um novo ciclo.

Em 21 de junho, dia em que o Sol entra no signo de Câncer, tem

início o verão do Hemisfério Norte, e para nós, no Sul, começa o inverno. O

calendário cristão recorda nesta data João Evangelista, o nosso popular São

João, dia comemorado com fogueiras e bebidas quentes. Nas tradições

inciáticas, esse dia é dedicado ao reconhecimento. Tudo isto nos faz pensar

na universalidade das tradições baseadas nos fenômenos celestes, que deram

origem aos mitos solares nas velhas religiões. Não apenas os solstícios, mas

também os equinócios eram objeto de celebrações. Equinócio é uma palavra

grega que se traduz como noite igual, ou seja noite de igual duração que o

dia. Os equinócios ocorrem em 20 de março e 23 de setembro, quando o Sol

atravessa o equador terrestre, rumando para o Hemisfério Norte ou para o

Sul. Nesses dias, a luz do sol se distribui por igual em ambos os hemisférios.

Em março, o sol entra no signo de Áries, o Carneiro, marcando o início da

primavera do Hemisfério Norte, trazendo consigo mais luz e calor, e uma

nova esperança de vida. No idioma francês

161

Page 162: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

antigo, primavera se dizia prime-vert (primeiro verde). Nos lugares de alta

latitude, no fim do inverno, quando tudo é ainda cinzento e triste, um só dia

de calor - como um bafejo da primavera que chega - é suficiente para pintar

de verde todas as plantas, recobrindo-as com pequeninos brotos.

É como se um pintor invisível tingisse, em poucas horas, toda a

natureza com a cor da vida. É um espetáculo lindo de se ver, que marca o

fim de um tenebroso período, onde a Natureza, envolvida em cores

sombrias, parecia de luto. Assim, o retorno do Sol tinha que ser festejado

condignamente, com música, danças, vinho e flores - as primeiras flores

colhidas naquele ano. A Páscoa era exatamente essa grande festa, que

assinalava a Ressurreição do Sol, e era celebrada sempre no domingo mais

próximo da primeira lua cheia, após o ingresso do sol no signo de Áries; era

costume então sacrificar um carneiro - o símbolo totêmico do signo que

entrava.

No cristianismo primitivo, o Sol, morto durante três dias - ou três

meses de inverno - ressuscitava de seu túmulo, indo diretamente para o céu.

A Páscoa (A Pessah, ou passagem) - como festa da primavera, tinha,

portanto, uma origem pagã, proveniente dos Ritos de Fertilidade, e nela se

promoviam danças ao redor do fogo, os participantes adornados com flores e

folhagens verdes. Esse domingo especial, domingo é o dia do Sol - sun-day

ou sontag, conforme os idiomas nórdicos e saxônicos - escolhido sob

critérios astronômicos tão precisos, teria, como hoje ainda tem,

garantidamente, luz do Sol durante o dia e luz da Lua cheia durante a noite.

Trata-se, sem dúvida, de uma saudação à luz dos astros, sendo, portanto,

uma celebração bem astrológica.

Tanto no Norte como no Sul, a chegada da primavera, marcando os

dias em que o Sol projeta a mesma quantidade de luz em ambos os

hemisférios, tem para o mundo o sentido de Equilíbrio, de Justiça e de

Eqüidade, traduzindo-se em felicidade geral - especialmente, em setembro,

quando o Sol entra no signo da Balança, símbolo que evoca, por si mesmo,

os valores da Justiça e do Equilíbrio. Essa data merece, em nosso calendário,

uma celebração muito radiosa e significativa, e é lamentável que não

tenhamos no Brasil uma tradição relativa a tão importante evento. O

solstício de verão é a outra data muito importante no calendário celeste, e

corresponde à plenitude da Luz, à visão do Sol na máxima exaltação de seu

poder. Esotericamente, significa a iluminação interior do Ser que conquistou

a maturidade e a sabedoria plena, e está pronto para distribuí-la entre aqueles

que estiverem em condições espirituais de recebê-la.

162

Page 163: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

O solstício de verão é, pois, uma festa de exaltação da luz. Para nós, no

Hemisfério Sul, a plenitude da luz solar ocorre justamente no solstício de

dezembro, fato que traz um significado especial para o nosso Natal.

Devemos dedicar esse dia ao reconhecimento pelos bens que colhemos no

ano que termina, e ao mesmo tempo rogar às forças da natureza que não

deixem faltar no próximo ano o sustento às nossas famílias.

Esse nascimento simbólico do Sol representa um novo ciclo em nossa

vida, um reinicio, no qual devemos despedir-nos das tristezas, perdas e

sofrimentos do ciclo anterior e nos reanimar com a idéia de tudo recomeçar

com alegria renovada. É também um compromisso interior de trabalhar pelo

nosso auto-aperfeiçoamento, e pela melhoria de todas as coisas ao nosso

redor. Por outro lado, estudar do ponto de vista astronômico e astrológico o

simbolismo da morte de Jesus pode ser muito esclarecedor: ao chegar o

outono do Hemisfério Norte, com a entrada do Sol no signo de Libra, vem a

queda da Luz, e em seguida a sua morte, no inverno.

A morte de Jesus é causada por três traidores, equivalendo aos três

meses do outono: Libra é Poncio Pilatos, o diplomata; Escorpião é Judas, o

rebelde político; e Sagitário é Caifás, o chefe religioso oportunista. Antes de

chegar o outono, o último signo do verão é o da Virgem, que chora, ao ver o

caminho de seu filho, o Sol, dirigindo-se a um triste fim. Chega o inverno, e

com ele a morte do Cristo-Sol, mas haverá uma ressurreição, na Páscoa,

sempre fixada na primavera, logo após a entrada do Sol em Áries, o

Carneiro.

No Carneiro - o Agnus Dei que resgata os pecados do mundo - a luz e

o calor do Sol retornam, afugentando o frio e a escuridão do inverno. Com a

primavera, vem a ressurreição da vida. As plantas rebrotam, a terra se

renova, e um novo ciclo se reinicia. No Egito, a plenitude da luz era

simbolizada por Ra, o Sol em seu zênite. Ao nascer, na aurora de cada dia,

identificava-se com Hórus, o filho, a criança; e era Osíris quando chegava ao

fim do dia, no ocaso, momento em que era simbolicamente assassinado por

seu irmão Tífon, que representa as trevas. Na Mitologia Grega, Apoio era

por excelência o deus da luz, sendo-lhe dedicados o loureiro, a palmeira e a

oliveira, plantas sagradas de natureza solar.

Hélios e Apoio foram, na Mitologia Grega, dois deuses solares,

pertencentes a diferentes gerações divinas, porém, no curso do tempo, as

duas figuras se fundiram numa só, sendo que Apoio se tornou o mais

popular e venerado. Hélios era representado como um belo jovem, com

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a cabeça ornada por uma coroa de raios. No cristianismo essa coroa se

transforma em coroa de espinhos. O movimento do Sol no espaço era visto

como o percurso que Hélios executava em seu carro de fogo, puxado por

quatro cavalos. Sua viagem começava pela manhã, quando Aurora, sua irmã,

abria as portas do céu, precedendo-o em seu próprio carro, sob a forma de

uma menina pequena.

Apoio era filho de Zeus e Leto. Era representado sempre como um

jovem imberbe - pois o Sol nunca envelhece. Tornou-se o ideal grego de

beleza, até hoje conhecido como o "tipo apolíneo". Os raios do Sol que, em

Hélios formavam uma coroa, tornam-se as flechas de Apoio, que, por isso,

se mostra sempre com um arco na mão. O mesmo ocorre com sua irmã,

Ártemis ou Diana, que é uma deusa lunar. Os dois muitas vezes combatem

juntos, como foi o caso na guerra contra os gigantes. Apoio e Ártemis

nascem na ilha flutuante de Astéria, depois denominada Delos, que mais

tarde se tornaria um dos mais importantes centros de culto ao deus Sol. Nas

celebrações solsticiais, a tradição preservou, para ambas as datas, o culto à

memória de dois santos: João Batista, no dia 24 de junho, e João

Evangelista, a 27 de dezembro. Veremos agora que João -Johannes, Johan,

Jean, Yan, Yoan ou Yeouan - é o nome modificado de Janus, ou Yanus.

Janus era um deus da mitologia romana e a tradição nos ensina que

teria sido o mais antigo rei do Lácio - hoje a Itália - e também o deus

supremo da Etrúria. Seu mito, entretanto, parece ter uma origem ainda mais

antiga e remota, talvez chinesa ou hindu, embora não se saiba ao certo como

teria passado à Etrúria. Os etruscos o confundiam com o próprio céu e

faziam dele uma personificação do ano. São João é, no italiano moderno,

San Gennaro, ou San Gennaio - como o nosso São Januário - ou Janeiro.

Janus era filho de Apoio e da ninfa Creuza, e conduziu uma colônia até o

Lácio, no lugar onde mais tarde se levantaram os muros de Roma, sobre uma

colina que se chamou Janícula - ou colina de Janus. Segundo a lenda,

Saturno, quando foi expulso do Olimpo por seu filho Júpiter, refugiou-se no

Lácio, e colocou-se sob a proteção de Janus, que não só lhe deu asilo, como

compartilhou com ele seu reinado. Saturno, reconhecido, dotou seu generoso

anfitrião com uma rara prudência, que o capacitava de ver claramente tanto o

passado como o futuro. Em virtude desta dupla faculdade, passou a ser

representado com duas faces, olhando simultaneamente o que foi e o que

será, de modo que poderia tomar as mais sábias decisões, de acordo com as

circunstâncias.

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Page 165: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Numa Pompílio, o segundo rei lendário de Roma, considerava Janus

como o deus que presidia as Corporações de Ofícios. Curiosamente, na

Idade Média, São João foi tomado como patrono das Corporações dos

Construtores, mostrando-nos a identidade das duas figuras. Até hoje, a

Maçonaria usa a expressão "Loja de São João", como um nome simbólico

para toda união ou agrupamento de iniciados, ou de todos aqueles que

tenham sido admitidos aos Mistérios. Seria o mesmo que dizer Loja de

Janus. Numa Pompílio deu o nome de Janus ao primeiro mês do ano

-Januarius (Janeiro) - e por esse motivo também se interpretou a sua dupla

face como o olhar que poderia ao mesmo tempo ver o ano que nascia e o ano

que acabava de expirar. Janus é, assim, uma personificação do signo de

Aquário, o primeiro signo do ano, e que se inicia exatamente em Janeiro.

Aquário é regido por dois planetas, Saturno - que representa o tempo, o

passado - e Urano - que representa o espaço e o futuro.

A prudência com que Saturno dotou Janus nos ensina que devemos

aproveitar a experiência do passado para nos prepararmos adequadamente

para o futuro. Janus bifronte representa também os dois solstícios - ou os

dois equinócios - ou ainda, a estação passada e a estação futura -

chamando-nos a atenção, na primavera ou no verão, para que tenhamos tudo

preparado com prudência para enfrentar o outono e o inverno. Conhecemos

de Janus também uma representação quadrifronte, significando, neste caso, a

cruz do espaço onde se cortam os dois solstícios e os dois equinócios - as

quatro estações do ano, assim como os quatro pontos cardeais, as quatro

fases da Lua e as quatro estações do dia: alvorecer, zênite, ocaso e nadir.

Pode-se fazer um paralelo entre Janus bifronte e os dois ladrões do

simbolismo cristão, um de cada lado do Sol-Cristo. O mau ladrão é a estação

que foge, que se esvai, e o bom ladrão é a estação que entra. As escrituras

bíblicas identificam a estação que termina como o ladrão que foge,

significando que, se não tivermos trabalhado na hora certa nas lides agrícolas

ou na construção, a estação foge, e com ela se vai nossa esperança e nosso

alimento. Os antigos romanos reverenciavam Janus como um espírito

benéfico que velava pela prosperidade das famílias e que impedia a entrada

dos gênios maléficos em suas moradias. Janua, em latim, significa porta, e

Janus se traduz como "uma passagem aberta de ambos os lados". No

primeiro dia do ano, os latinos - habitantes do Lácio - dedicavam a Janus um

sacrifício chamado Janual, composto de vinho e frutas;

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Page 166: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

as autoridades iam em procissão até o Capitólio, e todos os cidadãos se

davam mutuamente presentes. É seguramente a origem do nosso costume

natalino de presentear amigos e parentes, assim como das felicitações de

Ano Novo. Sendo também um deus da natureza - por sua afinidade com

Saturno - tem por atributos uma chave e um cajado, o que sugere seu papel

de guia ou condutor das almas. Tal como Osíris, é chamado de Sol, e as

portas do Oriente e do Ocidente se acham sob a sua guarda. De Saturno,

Janus teria aprendido as artes da agricultura, e as repassou aos homens.

Graças a esse conhecimento, pôde a humanidade sair de seu estado nômade

e selvagem, dando início à civilização.

Semelhante a Mitra e a Hermes, é um mediador entre os deuses e os

mortais, e é quem leva os pedidos e orações dos homens até as divindades.

O cajado nos sugere a idéia do peregrino, daquele que caminha em busca da

verdade e da iluminação. Os romanos também interpretavam o cajado como

um instrumento que serviria para espantar os intrusos do templo cuja porta

ele guardava - algo equivalente à espada dos arcanjos. Janus presidia a todos

os caminhos do mundo, e estava sob o seu encargo a proteção dos viajantes.

Presidia também a todos os começos - em latim initium - e portanto a

própria iniciação, de cuja chave era o Guardião.

Era a divindade encarregada de começar e acabar todas as coisas -

inclusive as guerras. Por esse motivo, era invocado no princípio de todos os

atos - orações, sacrifícios, viagens, etc. Quando um conflito se iniciava,

abriam-se as portas de seu templo e o deus ia ao campo de batalha com suas

legiões - não para combater, e sim para apaziguar e afastar o perigo.

Enquanto isso, as portas do templo permaneciam abertas, aguardando seu

regresso. Na tradição chinesa, o início do ano se dá com a primeira Lua

Nova que ocorre no signo de Aquário. A Lua Nova, que é a conjunção do

Sol e da Lua, em sua representação gráfica, lembra dois rostos unidos,

exatamente como o Janus bifronte. No idioma sânscrito, Janu vem da raiz

Jan, que significa gerar, produzir, nascer. Ou seja, nasce o ano com a

abertura da primeira porta -Janus - Januarius - Janeiro.

Jan também deu origem remota ao nome que hoje damos ao gen, do

grego genos, que quer dizer origem, raça, povo, nação, evolução e geração.

Na língua maia, yanu significa chave! Será coincidência? Difícil acreditar

em coincidências, quando sabemos das semelhanças lingüísticas, étnicas,

arquitetônicas e simbólicas que descobrimos entre povos muito distantes

entre si, em termos geográficos. Um dos exemplos mais

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extraordinários é o Zodíaco Chinês, absolutamente semelhante ao Zodíaco

Maia - utilizando exatamente os mesmos animais para representar as

mesmas faixas do céu! Mais que similitude, trata-se com certeza de

parentesco, reportando-nos quase inevitavelmente a uma antiga fonte

comum, o continente perdido da Atlântida. Voltando à tradição romana,

sabemos que erigiram em honra a Janus dois templos famosos: o de Janus

Bifrons, construído próximo do fórum de Augusto, e o de Janus Geminius.

O primeiro foi edificado no 6º ano da fundação de Roma, era todo de

bronze, de forma quadrangular e muito pequeno, tanto que nele só cabia a

estátua dourada do deus, erigida no centro do templo. Tinha duas portas em

arco, uma defronte à outra, e as duas faces de Janus olhavam, uma para a

entrada e a outra para a saída. Era considerado o templo mais antigo de

Roma, e foi sempre um lugar sagrado, apesar das paredes já destruídas. O

segundo foi construído por Numa Pompílio para comemorar os tempos de

paz e os de guerra. Sua forma era também quadrangular, sem pórtico e sem

colunas, e tão espaçoso que nele podiam reunir-se o Senado romano e o

povo. Em tempos de paz, suas portas permaneciam fechadas com cem

ferrolhos e pesadas barras de ferro, a fim de dificultar sua abertura, como a

simbolizar que uma guerra nunca deve ser empreendida com leviandade,

nem por motivo fútil.

Varrão nos dá conta que as quatro faces do templo de Janus

representavam as quatro estações, e que havia nesse templo doze altares,

simbolizando os doze signos zodiacais e os doze meses do ano. A cabeça de

Janus figurava na proa dos barcos, e na moeda mais antiga dos romanos, o

"asse". Vemos, pois, que o simbolismo oculto das religiões - tanto antigas

como modernas - pode ser interpretado através dos eventos celestes, e, por

conseguinte, através da ciência que os estuda, a Astrologia. E ela nos aponta

para o drama solar, espécie de narrativa temática eternamente repetida e

perpetuada pelas tradições iniciáticas dos povos antigos e sempre protegida

sob o véu da alegoria.

Entretanto, o bom entendedor perceberá, por trás das parábolas, a

mensagem que os grande iniciados deixaram para as gerações futuras. E essa

mensagem nos remete para a contemplação da natureza e a compreensão de

seus mistérios. O cosmos, porém, só nos concederá permissão para penetrar

neles se tivermos o coração puro e a alma liberta dos preconceitos, dos

dogmas e dos grilhões culturais que nos impedem de ver a verdade. Sempre

nos ensinaram que a verdade nos liberta, Contudo, para

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encará-la, é preciso armar-se daquela coragem que implica numa mudança

de estado de consciência. Ao contrário do que pensam muitos, essa mudança

não pode ser atingida apenas mediante um conhecimento ou busca racional.

É preciso ter a disposição de alma que nos leve a querer "nascer de novo".

Não se trata de uma morte física, mas da morte simbólica - é a morte do grão

de trigo, que dará nascimento à planta, cujo fruto, por sua vez, morrerá para

dar origem à sua descendência.

É a mensagem do "quem não nascer de novo não verá o Paraíso". É a

mensagem dos iniciados de todos os tempos, que mostraram, através do

drama solar, o exemplo que devemos seguir: morrer no ocaso para renascer

na próxima aurora. Enfim, para despertar o Cristo interno, que está dentro de

cada um de nós, além de uma vida virtuosa, é preciso ser tocado pelo amor

ao nosso semelhante e estar pronto para sacrificar-se por uma causa justa e

nobre. É o caminho dos santos, dos benfeitores da humanidade, dos grandes

yogues e dos grandes sábios. As Escolas de Mistérios - entre elas a

Maçonaria - criaram as cerimônias simbólicas, que colocam o neófito nessa

senda iniciática através de uma experiência transcendente que equivale à

morte. Ele renasce, em seguida, renovado, o espírito desperto, sua

consciência elevada para um outro patamar.

A palavra Cristo, ou Chrestos, foi usada por Esquilo, no século V a.C,

com o significado de profeta, aquele que sabe decifrar os oráculos, os sinais

do céu. No vocabulário de Justino-Mártir, Chrestos significava também

discípulo posto à prova, um candidato à iniciação que já percorreu o

caminho e está prestes a alcançar a meta. A proposta das escolas de iniciação

é dar ao candidato uma oportunidade de "nascer de novo". Vale dizer que ele

"morre" para o mundo profano, cheio de ilusões, trevas e tentações, e

"renasce" no mundo da luz. A partir daí, sua meta é tornar-se um Cristo, um

ser realizado, despertar o Átomo Nous - a Centelha Divina - contida em todo

ser inteligente. Para tal, deve vencer os três "animais" simbólicos do

presépio, que o cercam na vida profana: o burro - a ignorância; o cordeiro - a

debilidade; e o touro - as paixões brutais.

Vemos, pois, que o simbolismo das modernas religiões, cuja meta é

imitar o Messias, ou Salvador, está calcado no drama solar, contido e

explicado pelas tradições iniciáticas dos povos antigos. O Cristo-Sol está

crucificado entre dois solstícios e dois equinócios. Essa cruz do espaço,

tendo o Sol por centro, nos leva ao mistério do Karma, que nos aprisiona

pela Lei de Causa e Efeito. Só nos poderemos libertar dessa prisão quando

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aceitarmos a Luz, que é a Consciência Desperta pelo Sol Meridiano da

Verdade. Buscar a Verdade é estar disposto a olhar para os quatro lados do

mundo, ou seja, é ser capaz de obervá-lo sob todos os ângulos possíveis - é o

símbolo de Janus Quadrifronte - e de certos monumentos iniciáticos, como

as pirâmides maias, as catedrais góticas - edificadas segundo os cânones da

Geometria Sagrada - ou a Grande Pirâmide de Gizé, cujas arestas estão

voltadas para os quatro pontos cardeais.

Luz plena é a mensagem do solstício de verão: luz no zênite no céu,

luz no zênite em nosso espírito. É preciso inundar de luz plena nosso

coração, habitáculo do Amor - eis o nosso autêntico Salvador. Alcançar o

Paraíso, ou o Nirvana, não significa ir para o alto da montanha, ou ler um

livro, ou crer num dogma, ou seguir um guru. Nossa salvação espiritual não

se encontra nas grutas escondidas ou nos desertos, nem nas florestas, nem no

fundo do mar, nem no espaço sideral, nem em algum livro misterioso, nem

em qualquer construção pretensiosa feita pelos homens!

Ela está dentro de cada um de nós, nas profundezas de nosso próprio

ser, desde a eternidade, aguardando, suave e paciente, que a centelha do

Amor o desperte e o traga para a vida, quando então brilhará com o

esplendor de mil sóis! Este é o Mistério do Solstício de Verão - ver a plena

Luz Solar, que simboliza a busca da Verdade. Ela está na observação, no

conhecimento e na obediência às Leis da Natureza. Sem amor ao próximo,

porém, a verdade tem pouca valia. Eis porque são inúteis todos os dogmas,

rituais, a fé, as virtudes, o saber profundo, se não soubermos amar. Eis

porque as grandes escolas de mistérios ensinam a eterna busca da verdade,

mas pregam incansavelmente o equilíbrio entre sabedoria, fortaleza e amor.

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Page 170: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

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S. H. El Libro de Oro de Ia Alquimia. Editora Muñoz Moya y Montraveta.

S. H. La Puerta Cerrada. Editora Muñoz Moya y Montraveta.

S. H. Las Palomas de Diana. Editora Maika.

S. H. Los 7 Tiempos de la Alquimia. Editora Muñoz Moya y Montraveta.

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Page 176: Arcanos_e_Mitos_Hermeticos.pdf

Esta obra foi impressa em novembro de 2006 pela Editora UFMS.

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Endereço: Estádio Morenão, Portão 14, Cidade Universitária.

79070-900 Campo Grande (MS). Fone: (67) 3345-7200.

Site: www.editora.ufms.br

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Filha e neta de botânicos, Vera Facciollo teve uma infância marcada pelo contato com a natureza, o que despeitou nela a percepção de mundos mais sutis e o senso de observação científica do Uni­verso. Seguiu inicialmente carreira acadêmica, formando-se em Ciências Econômicas e Adminis­trativas pela Universidade de São Paulo. Traba­lhou nessa área durante alguns anos, mas sua vida mudou radicalmente quando conheceu Anto­nio Facciollo Neto, seu mestre de Astrologia. Tornou-se sua esposa e colaboradora nas pesqui­sas astrológicas e, mais tarde, professora na

escola por ele fundada, o Instituto Paulista de Astrologia. Iniciou-se maçom em 1974 e fundou em 1986 a GLADA (Grande Loja Arquitetos de Aquário), da qual é atual grã mestra e grande comendadora do Grau 33, uma Potência Maçônica Mista, que é reconhecida mundialmente pelo excelente trabalho ritualístico e pela profundi­dade das instruções herméticas e humanística. Vera foi reeleita grã mestra por várias gestões e é uma das autoridades mais respeitadas no que diz respeito à pre­sença da mulher na Maçonaria, tendo publicado vários artigos e apresentado diver­sas teses sobre o assunto. Atualmente, leciona Astrologia e Ciências Herméticas, ministra cursos no Brasil e no exterior, além de se dedicar à yoga, à prática da Alqui­mia e aos estudos holísticos, humanitários e filosóficos.

Vem Facciollo