arantes, paulo et all (org) - a filosofia e seu ensino

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  • 5/13/2018 ARANTES, Paulo Et All (Org) - A Filosofia e Seu Ensino

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    Catalogacso na Foote - Biblioteca CentraI /PUC-SP

    A fi losof ia e seu ens ino lPaulo Eduardo Arantes, e t a li i - Slio Paulo:EDUC, 1993.96p.; 23 e m. - (Coleeao Eventos)ISBN 85-283-0061-7

    1.Filosofia - ensino. I.Arantes, Paulo Eduardo. II.Serle.Ill.Tftulo.

    CDD 107

    Paulo Arantes, Franklin Leopoldo e Silva-Celso Favaretto, Ricardo Fabrini

    Salma T. Muchail (org.)

    A FILOSOFIA ESEUENSINO

    ~em co-edicao ~

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    1995, Edito ra Vozes Ltda .Rua Fre i Luis, 10025689-900 Petr6polis, RJBrasilFICHA TECNICACOORDENA9AO EDITORIAL:A vel ino GrassiEDITOR:Antonio De PauloCOORDENA9AO INDUSTRIAL:Jose Luiz CastroEDITOR DE ARTE:OmarSantosEDITORA9AO:S u pe rv is ao g ra fi ca : Valderes RodriguesISBN 85.326.1389-6

    EDUC - Editora da PoatiffciaUniversidade Cat6lica de Sao PauloRu a Monte Alegre. 98 405014-001 Slio Paulo, SPFones: (OIl) 873-3359

    263-0211. ramal 350Fax: (011) 62-4920

    Reitor: Antonio Carlos Caruso RoncaYice-reitor academico: Fernando Josede AlmeidaDiretora: Maria do Carma GuedesConselbo editorial: Ana Maria Rapassi,Fernando Jose de Almeida (presidentey;Berna rdet te A. Ga tt i. Luc ia San tael la ,Sylvia He lena Souza da Silva , Maria doCarma Guedes, Maura Pardini BicudoVera s, Onesimo de Ol ive ir a Ca rdoso .Rica rdo Augus to de Miranda Cadava l,Scipione de Pie rro Ne to , Te re sa Celinade Arruda Alvim Pinto

    SERIE EVENTOSProdu,iio:Eveline Bouteiller KavakamaComposlciio:Edna Maria da SilvaElaine Cristine Fernandes da SilvaRevisiio:Berenice Haddad AguerreISBN 85.283.0061-7

    E st e l iv ro f oi i rn pr es so n as o fi ci na s g ra fi ca s d a B di to ra V oz es L td a. -Rua F r ei Lu fs , 1 0 0. P e tr o po li s, RJ - Brasil- CEP 2 56 89 -9 00 - Tel.: ( 02 42 )4 3 -5 11 2 -F ax .: ( 02 42 )4 2-0 69 2 - C ai xa P os ta l 9 00 23 - E nd . T el eg ra fi co ; V OZ ES -Inser. Est. 80.647.050 -CGC 31.127.30110001-04,ernmar~o de 1995.

    SUMARIO

    7 Apresentacao9 Fun~aoSocial do Fil6sofoFranklin Leopoldo e Silva

    23 Cruz Costa, Bento Prado Jr. eo Problema c Ia Filosofiano Brasil- Uma DigressiioPaulo Eduardo Arantes

    67 Ler, Escrever, PensarSalma Tannus Muchail

    77 Netas sobre Eosino de FilosofiaCelso Fernando Favaretto

    87 0 EosinodeFilosofia 0022gran: Uma "Lingua de Seguranca"Ricardo Nascimento Fabbrini

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    APRFSENTAc ;AO

    'No Brasil, a falta de assunto em filosofia 6 quase uma fatalidade' ,Paulo E. Arantes

    Desde os gregos, 0 ato de ensinar Filosofia a juventude, comsua razdo niio corrompida, constituiu sempre urn problema para 0fill)sofo. Mesmo a Ratio ' S tud iorum dos jesuftas, por quem a filosofiaaportou no Brasil, reservava muita observacao, m6todos e programaspara aquela pedagogia. Assim tambem, dos filosofantes, como que-ria 0 quase cetico Cruz Costa, ate a sofisticada producao atual dos,fil6sofos brasileiros, vai uma grande hibernacao, Pesquisas e ajustesna linguagem, no lugar, no perspectivismo, na aura, no halo, nomercado. Mas, como em Filosofia nao h;i progresso, no sentido li-near e ascendente do termo, revisitar e problematizar 0 ato de ensi-na-la nas academias e escolas do segundo grau e urn saudavel exer-cfcio filos6fico, frente a ausencia (qui~

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    8 Paulo Eduardo ArantesC omo g ar an te 0 titu lo , tra ta -s e d e re fle xa o a bra ng en te s ob re a

    p ed ag og ia filo so fica, qu e tern n o a to d o en sin o 0 moment o p ri vi le -g ia do d e a qu il at ar 0fazer e refazer c ot id ia no s d a F il os of ia , A t eo ri a,o lu ga r d o ftl6 so fo , o s p ro ble ma s c on ex os a F i lo s of ia , s u as q u es to e se p olem ic as em so lo b rasileiro , ju ntam en te co m as prat icas educa-c io na is e d id atic as p ara 0 22 e 32 g ra us , e st ao c on tid os n es te liv ro .P ara alem d a h ib ern acao in ic ial, o s filo so fo s b ra sileiro s - esta n ov aca t egoria _-- -- :a p od em p en sa r, c om c er to d is ta nc ia me nto entice et em p or al . a s ua p ro pr ia praxis e in da ga r p elo s eu fu tu ro .

    Antonio Jose Romera ValverdeDepartamento de Filosofia - PUC-SP

    Observacao : 0 art igo "Fungao Socia l do Filosofo", do professor Frankl inLeopolda e Silva, foi originalmente publicado na coletanea Textos Filos6-ficos, 2~edigao, editada pela SE/Coordenadoria de Estudos e Normas Peda-g6gicas, mimeo, S1ioPaulo, 1992; pp~ 15-25. Tambem 0 artigo "Notas sobreo ensino de Filosofia", do professor Celso Fernando Favaretto, foi publicadocom 0 dtulo de "Sabre 0 ens ino de Filosof ia", pela Revis ta da Faculdadede Bducacao -USP.19(1):97-102,janeiroJjunho 1993.

    FUN~AO SOCIALDO FILOsOFO

    FRANKLIN LEOPOLDO E SILVADepartamento de Filosofia - USP

    o te ma d as relaco es en tre filo so fia e so cied ad e n ao se esg otan a p ers pe ctiv a d a e xp lic ac ao d as c on dic oe s h is t6 ri eo -s oc ia is d a p ro -d u!;a o te 6ric a e m filo so fia , a m en os q ue s e q ue ira te r u rn t ra ca do g e--n etic o d e refle xao en qu an to a tiv id ad e qu e se in screv e d e u ma d eter-minada m an eira n um qu ad ro c irc un sta nc ia l o nd e in te ra ge m a s v aria sfo rc as a p artir d as q ua is a s d iv ers as fig ura s d a c u1 tu ra , e ntre a s q ua isa fi lo so fia , e me rg em e s e c on ere tiz am . A s m ed ia co es d e d iv ers as o r-_ ~d en s q ue p artic ip am d es te p ro ce ss o s ao e xtre ma me nte d iffe eis d e s erp en sad as n a p art icu larid ad e e n a efetiv id ad e d e ca da u ma d elas. Ebe rn c onhec i do 0 ris co d a re 1a ~a o m ec an ic is ta q ue s e p od e e sta be le -cer, p ela n eg lig en cia d essas m ed iac oes, en tre a h ist6 ria e a su bjeti-v id a de e n qu a nt o a g en te b is t6 ri co .

    M as n ao p recis a mo s ir n ec es sa ria me nte p or e ste c am in ho p arap en sa r a . fu n! ;a o s oc ia l d o f il 6s of o. Alias, d e i nf ci o p od em o s a ve nt ard ua s p os sib ilid ad es d e d ese nv olv im en to d o tem a, 0 que pade nosaju dar a d elim itar a qu estao e co mecar a p en sa-la , P od em os p erg un -ta r q ua l e a fu n~ ao d o fil6 so fo o u en tao _qu al deve ser a funcao so -._ c ial d o fil6 so fo . A p rim eira p ersp ectiv a n os lev a a in dag ar da hist6-ri a qual tern sido a funcao social do fil6so fo , e de que m aneira a re-Ile xa o s e in se re n o p re se nte h is t6 ric o v iv id o p or a qu ele q ue e sc olh eua m od alid ad e d o s ab er filo so fic o p ara re aliz ar a a pre en sa o c ia reali-d ad e. A s eg un da p ers pe ctiv a c on fe re a f il os of ia um a f in al id ad e, um ata re fa a c um pri r, e p re sc re ve , a p artir d es ta c on ce pc ao , q ua l d ev a s era atitu de d o fil6 so fo n o qu e se refere a m an eira d e v iv er e d e re fle tirso bre a h ist6 ria p assad a e so bre 0 p re se nte h is t6 ric o. A s d ua s p ers -

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    10 Franklin Leopolda e Silva

    p ectiv as n aO sao , d esd e lo go , eJ(clu den tes e talv ez ate se co mp le-m en te m, s e o btiv en no s d a in da ga ca o h is t6 ric a e le me nto s q ue ilu mi-n em a q ue st ao c ia i ns er ca o h is t6 ri ca d a f il os of ia , .. .

    D e i nf ci o v ar ia s d if ic ul da de s s e a pr es en ta m . C om ec em o sp el asd ific uld ad es q ue a pa re ce m a p artir d a s eg un da p ers pe ctiv a. E 6bv ioqu e ela d ep en de d e u ma d eterm in ad a co ncep cao d a filo so fia , p ois ea partir de um a tal c on cep cao qu e se p od e in clu siv e p erg un tar se 0f Il 6s of o t em a lg om a f un ~ ao s oc ia l a d es em p en ba r. P o de r- se -i a d iz er ,p or ex em plo , qu e 0 plano da reflex ao filo so fica es~ de tal modod is ta nc ia do d a Clfiio s oc ia l e h is t6 ric a q ue n ao c ab e s eq ue r c olo ca r 0problema da fun~o social do fJl6so fo . P oderfam os questionar ap r6 pria in se ~a o h is t6 ric a d a filo so fia d iz en do q ue a filo so fi a e pord efin i~ o a-h ist6 rica, n a m ed id a em qu e 0 fu nd am en to d a re fle xa o eo s o bjetes qu e ela p reten de e lu cid ar escap am a circunstancialidadedo s memen to s h ist6 rico s qu e se s uced em , u ma v ez qu e s e situ am n a. escala d o ab so lu to e n ao n a relativ id ad e d as d iferen cas so ciais e p o-lfticas qu e v ao se d esen han do ao lo ng o d o p ro cesso h isto rico . 0 fi-1 6s ofo s eria a qu ele q ue t em 0 p riv ileg io d e falar d o etem o e a p artird o e tem o.A s d if ic ul da de s r el at iv es a p rim eira p ers pe ctiv a s ao a qu ela squ e se levan tam a partir das p os si bi li da de s d e c on st it ui r a p r6 pr iai nd a ga ca o h is t6 ri ca . I st o e , c om o o pe ra r 0 r ec o rt e q u e v a i s el ec io n aro s in terlo cu to res, a p artir d e qu e criterio s esco lh er o s au to res e o sm om en to s d a filo so fia a q uem p erg un tarem os acerca d a fun~ao so -c ia l d o fil6 so fo . T al e sc olh a te ra s em pre u m c ara te r a rb itra rio e , m aisd o q ue is to , re ve la ra u ma d ete rm in ad a c on ce pc ao d e fi lo so fia a g uia ra esco lh a, a serv ir co mo en teric d a selecao d os n osso s in terlo cu to -res . E sem pre se p od era qu estio na r as res po stas qu e p ud erm os tirarcia! a rg um en ta nd o q ue o utro re co rte e o utra e sc olh a c on dic io na ria mr es p os ta s d if er en te s e a te mesmo o p o st as .N ao p od em os re so lv er estas qu esto es, m as tal,:ez p ossam osapelar para estrateg ias que nos perm itam ev ita-las. E preciso , noe nta nto , c on fe ss ar q ue e sta s e stra te gia s n os p erm ite m n a v erd ad e fu-gi r das q ue st oe s e , em f il os of ia , e im po ss fv el fu gir d e q ue st6 es s emqu e, em algum momen to p os te ri or , v en b am o s a r ee nc on tr a- la s. M a s

    I

    Funcdo social dofi16sofo 11

    ta lvez com a fuga g anhem os tem pore elem entos qu e nos permitamu ma n ov a .~ siio d as m es ma s q ue stO es q ua nd o a s re en co ntra rm os . E is, c om o p od em o s e vita r p oro ra a s q ue st6 es q ue m en cio na mo s a nte s.

    . 1. A nega~ao da funcao social da filo so fia s e c ris ta liz a e mc on ce pc oe s d es ta q ue t em em c omum a c ar ac te rf st ic a d e c on si de ra -l aco mo a-h isto rica. E stas c on cep co es, n o en tan to , sao h ist6 rica s n osen tid o d e qu e ap arecem n a H ist6 ria d a F ilo so fia em d eterm in ad ase po ca s e s ob d ete rm in ad as c on dic oes , A c on ce pc ao d a filo so fia c o-mo ato absoluto q ue re p6 e 0 a bs olu to c om o o bje to d o filo so fa r e ,.e la p r6 pr ia , f un dam en ta da c ri ti ca m en te q ua nd o 0 f 11 6 so fo a c o lo c a,e x pl fc it a o u impl ic it ame nt e, por oposioio a o utra s co ncep co es qu ee le c on sid era m en os v erd ad eira s. A filo so fia , co mo so brev oo d ae tem id ad e, c om o s is tem a a bs ol ut e d ef in it iv am e nt e e st ab el ec id o , im -p oe -s e c om o ta l a o re fu ta r o u in co rp ora r o utra s concepcoes d e f il o-so fia que T he sao con traries, Seja portan to , ain da que pelo m enosc ri ti ca m en te , n eg at iv am e nt e, c om o t ra ba lh o p re vi o a c o ns ti tu ic ao d ov erd ad ei ro s ab er filo s6 fic o, a fil os ofia q ue s e q ue r a -h is t6 ric a te rnqu e co nsid erar a h ist6 ria , ja qu e e p or o po sic ao a e sta s c on ce pc oe sh is t6 ri ca s q ue e la traz a v erd ad e q ue a s o utra s n ao c on se gu ira m es -ta be le ce r. P od em os , p orta nto , a in da q ue p ro vis oria me nte e a pe na sp ara efe ito d a co lo cacao d a n ossa qu estao , co nsid erar qu e a filo so -fia , qu e s e p reten de m ov er n a escaIa d o ab so lu to ,n a v erd ad e p 6e-sec om o re la tiv a, a in da q ue a pe na s p ole mic am en te , a o c on te xte h is t6 ri-co qu e a en vo lv e. E vitad a esta qu estao , d am e-n os 0 d ir ei to d e c ol o-ca r 0 p ro blem a d a fu n~ ao so cial d o fil6 so fo co mo p ro blem a real,a fe ta nd o t od a equalquer f il o so f ia , i n dependen t emen t e 'daatitude fi-l os 6f ic a q ue e st ej a p or tras do f il o so f ar , da o bra o u d o s is te ma .

    2 . R estaria a qu estao da c on ce pc ao f il os 6f ic a q ue p re sc re ve ,p ro gra ma tic am en te , u ma ta re fa p ara a filo so fia e nq ua nto p ro du ca ocultural so cialm en te con textualizada (dever ser) o u que serve deenteric para a esco lha ou 0 re co rte d os in te rlo cu to re s q ue fa re mo sresponder a i nd a ga li ao : q u al tem sido 0 p ap el s oc ia l da f i losofia?P od em os ev ita r esta q uestao m in im izan do as co nsequ en cias d o re-c orte a s er h is tO ric am en te o pe ra do . D im in uir a a rb itra rie da de p od es er a pe na s o utra fo rm a d e p ra tic a-la , N ao re sta , e ntre ta nto , o utra al -

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    12 Franklin Leopoldo e Silva

    te ma tiv a s e q ue re mo s c ollie r e xe mp lo s cia in ser !; aO soc ia l da f i loso-. fia . E aqu i n ao re sta ta mb em o utra altem ativ a a n a o se r 0 esquema-tism o, m esm o g ro sseiro ,a qu e v am os su bm eter o s fil6 so fo s qu e e s-c olh em o s p ara in te rlo cu to re s. N ao s ab erfa mo s d efi nir 0 en teric ap artir d o q ua l v am os in te rro ga r a lg un s m om en to s da Hist6ria da F i-lo so fia . V am os g ula r-n os d e m od o a pe na s p ra tic o p ela c on so lid ac aod e alg un s n om es a qu e ch am am os g ran de s au to res, co m to cla a carg ad e p ro ble ma s q ue is to a ca rre ta . Is to e , v amos a ss um ir r es o lu tame nt ea a rb it ra rie da de . E m to do c as o, e is a lg un s p ara me tre s q ue a do ta mo ss em q ue st io na r: 1 ) R ec us am o s 0 dever ser c om o p er sp ec ti va a pe na sp ar a s ub st it ui r u rn a CO nC ep !; aOn ec es sa ri am e nt e d o gm a ti ca p el o p lu -ra lis mo d e a tit ud es p os sfv eis , d ife re nc ia da s, fre nte a q ue sta o q uev am os tra ta r. 2 ) A d ota mo s c om o p rim eiro c rite rio d e s ele !;iio d o re -c o rt e h i st 6 ri c o : a origem, isto e , v am o s p er gu n ta r p el a f un !; ao s oc ia ld o fIl6 so fo n a o rig em da f il os of ia , e nt en d en do a qu i o ri gem , .por me-r a q u es ta o de c om o di da de , c om o 0 p rimei ro c o nj un to de t ex to s q uep od em re su lta r n um a v is ao s is te ma ti ca , in te gra do ra , d o p ro ble ma :Platda, 3 ) A o po si ca o, c la ss ic am e nt e e st ab el ec ic la , e nt re 0 raciona-lis mo e a c rftic a d o ra cio na lis mo ~e xp re ss ao q ue s ub stitu i a qu i, tam-b ern p or m era qu estao d e c om od id ad e, o utra ex pressao m uito p ro -blemat ica: irracionalismoy; isso sign ifica que vamos co locar aqu esta o qu e n os p reo cu pa d ian te d e d uas atitu des filo s6 ficas m uitod ife re nte s, d as q ua is p od erfa mo s c ita r c om o e xe mp lo s, d e u rn la do ,Descartes e Kant e, de outro , Pascal e Nietzsche. 4 ) F i na lme n te ,v am os c olo ca r a q ue sta o p ara u rn o utro t ip o d e a titu de filo s6 fic a q uep ro cu ro u i nt eg ra r n a r ef le xa o t rs s f at or es e xt rem am e nt e i mp or ta nt espara 0 n os so p ro bl em a : c rf ti ca d a r ac io na li da de t ra di ci on al , e xi st en -c ia , in div fd uo e h is t6 ria : Merleau-Ponty, Nem e p re cis o d iz er q uev io le nc ia s s era o c om etid as c on tra e ste s a uto re s, q ua o e sq ue ma tic o. s er a 0 tra ta me nto a q ue v am os s ub m ete -lo s, p ar a q ue p os sa mo s tal-v ez _ ga nh ar a lg um as lu ze s p ara p en sa r a q ue sta o q ue n os o cu pa .

    P la ta o - M ito da Cavema. S e ri a o c io s o, n a p e rs p ec ti va cia ori-g em d a filo so fia , le mb ra r a i ns erc ao h is t6 ric o-s oc ia l d o fi1 6s ofo e mrelacao a f ig ur a d e S 6c ra te s. E ta lvez 0 exemplo mais ac ab ad o d od im en sio nam en to d a reflex ao filo s6 fica p ela su a fin alid ad e so cial

    Funcdo social dofil6sofo 13e e , ao m ~m o tem po tam bem , 0 e xe mp lo m ai s a ca ba do d e c om o e sted im e ns io nam en to h is t6 ri co -s oc ia l d o f il os of ar n ao i mp li ca a bs ol ut e-m en te a e xc lu si va im ed ia te z d e u rn p en sa me nto q ue e xe rc eria re fle -x ao ap en as n a ex ata m ed icla e m qu e a in terio rizacao o u 0 c on ta to d oe sp f ri to c o ns ig o p ro p ri o e condicao c ia e x te ri or iz ac a o e d a s u br ni ss aoc ia re fle xa o a o c ar ate r p ura me nte c irc un sta nc ia l d as n ec es sid ad esp rim ei ra s e m ais a pa re nte sd a v id a p olftic a e c ia p ra ti ca p o lf ti ca , P o isd ific ilm en te im ag in arf am os u rn fil6 so fo m ais c om pro me tid o c om acld ad e, co m as p ro blem as d a v id a p olftica e co m 0 des ti n e h i st 6 ri c odos seus concidadao s do que S6crates. E ao m esm o tem po vernosn ele , n a s ua o po slc ao 80S S ofis ta s, a g ra nd e p re oc up ac ao d e in se rirtodas as quest6es de ordem social e po lftica na esfera do Saber, noplano da busca do fundam ento que ven ha a po ssib ilitar a un iiio davida p ol ft ic a c om a v er da de . E , p o rt an to , d e sd e 0 i nf ci o d a f il os o fi aq ue n otam os a n ao -ex clu den cia d a V erd ad e e cia i ns ef !; ii o s o ci al , d ap reo cu pacao d e co nstitu ica o d e u rn S ab er e d a refle xao co n sta nte -e, n o caso , m esm o ex clu siv a - so bre as rafzes d a n orm ativ id ad e so -cial , da ju st ic e, d a e sp ec if ic id ad e d a v ir tu d e p ol ft ic a e d as c on di co esi nt el ec tu ai s q ue d ev em permitir que a v ida po lftica se desenv olva ap artir d e eateries a lh ei os a qu el es p ur am e nt e a fe to s a subjet ividadedesordenada, a am bi!;ao e a tu do 0 q ue p os sa le va r 0 i n di vf du o , p re -c is am en te p ela a us en cia d o S ab er, a c on fu dir 0 c ar at er c on ti ng en te ealeat6 rio d o p ro veito p articu lar co m as co nd lco es d a co nd uca o c iaco isa p ub lica, d o B em Geral. E so b 0 s ig no d a g en er aI ic la de , d a u ni -v e rs al id a de , q u e 0 S ab er s e c on stitu i e nq ua nto ta re fa d o fil6 so fo q ues e in se re n a c id ad e, 1 3 , d es de j a , mu ito s in to ma tic o q ue a re sp os ta d eS6crates a questao qu e estam os co locan do seja em fo rm a de per-gunta. E in te re ss an te n ota r q ue , q ua nd o a filo so fia s e Ia nc a n os s eu sinfcios a in terro gacao so bre as co nd icd es u niv ersais d o e xercfciod a p olftic a, m an te m-s e n o p Ia no cia indagacdo, da pergun ta que seelab ora a p artir d o h orlzo nte c ia u ni ve rs al id ad e, s em p er de r 0 Yin.c ulo c om a c on cre tu de cia c on tin ge nc ia h um an a. V olta re mo s a e staquestao,E sob o signo cia u ni ve rs al id ad e q ue d ev em o s p ri me ir am e nt een ten der a co nd icao d o fIl6 so fo e m Platao, E 0Mito cia C av em a n os

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    e ns in a d ua s c oi sa s i gu al me nt e i mp or ta nt es . E p re cis o fu gir d o mun - :do sensfvel , da s sombras e do s fantasmas e e nc on tra r fo ra d a C av er-n a ~ v erd ad eir o mun do dos objeto s e 0 so l qu e o s ilu min a no se uv er da de ir o e autentico ser . A quele que aprende ase vo ltar das som -bias para a fon te de luz buscara e sta fo nte c om o a fin alid ad e U ltim ad o tra je to d o p en sa me nto . E a dia le tic a, e nq ua nto m eto do , g ara ntequ e esta b usea 0 80 seja uma e r ranc ia , m as algo qu e se c Ia numa dire-~ ao b em d eterm in ad a qu e e a d e g en eralid ad e e im utab ilid ad e, qu ec ar ac te ri zam a s essencias, qu e caracteriza a id 6ia d o Bem, ' fo nte d ev al or e d e r ea li da de . E n si na -n os tambem que, um a vez con temp l adae sta fo nte d e v erd ad e, 0 f il 6s o fo r et or n a a Caverna, onde sof re ra to -d a s or te d e i nc om p re en s6 es po r p arte d aq ue le s q ue te rn a s s om bra sc om o U ni ca re alid ad e. P la ta o diz mesmo que a morte pode ser 0p re m io d es ta conversdo cia alma q ue c on stitu i a p as sa ge m d a o bs eu -ridade a luz, se 0 f ll 6 so f o r e to r n ar a su a an tig a m orad a. E n em m es-m o se en ten de m uito b ern , n a v erd ad e, 0 porque d a v olta d aq ue leq ue atin giu a contemplacao da luz , E voluntar ia ou forcada? S e p en -sarm os n a d esp ro po rcao en tre a o bscu rld ad e e a lu z, en tre a realid a-de e as som bras, nao verem os, no plano do Saber, nenhum a razaop ara que aquele que se libertou d a C averna reto rne a ela, N o e nt an -to , e le 0 faz, e e aqu i qu e p od em os in serlr a p erg un ta p ela fu n~ aos o ci al d o f il ds o fo . H a a lg o d e c on du to r, d e g uia , n o e sp frito filo s6 fi -co tal como 0 entende Platao, A quele que se alcou a s a ltu ra s d acontemplacao n a o d e se ja naturalmente re tomar a Caverna . E preciseq ue e ste re to rn o e ste ja d e a lg um a fo rm a in clu id o n a p ro pria ta re fa d afilosofia enquanto contemplacao da verdade. A c on te mp la ca o 6 a fi-n alid ad e U ltim a d o fild so fo : m as e sta fin alid ad e e sta t em pe ra da p oru rn a o ut ra q ue se ma nt em c omo f in al id ad e, e nq ua nt o 0 fild so fo 6 u rnh om em en tre o utro sh om en s, e n ao u rn a alm a d esen carn ad a em co n-tato com as ideias, N o plano do h um ano , 0 f il 6s of o 6 0 q u e c o nt em -p Ia , m as e t ambem 0 guardido d a c id a de , 0 conduto r , 0 mantenedorda justica qu~ deve reinar. E nao tan to 0 qu e mantem a j us ti caqu an to aqu ele qu e conduz o s h om en s a justica, que conduz a si, eao s o utro s, atrav es d e s i p r6 prio , a a uto no m ia e sp iritu al q ue p araPlat i io e a co nscien cia d a relativ id ad e d o m un do sen sfv el. E claro

    Funcao social do fi16sofo 15que, em P latao , toda a organ izacao social esta vo ltada para ae xi st en ci a c on tem pl at iv a d o f Il .6 so fo : a r ig id ez d a d iv is ao d e c la s-ses, 0 c a ra t er s e le t iv o da e du ca ca o, M a s se a b st ra fmo s e s te s f at o-res de instrumental izacao da Utop ia pa ra aten tar ao que ela nosmostra, vemos qu e el a n os m o st ra 0 f il os of ar t en do c om o micleodo im pu lse para a c o nt emp la c ao e com o ponto convergente daf in al id ad e h uma na d a contemplacao a sociedade, a organizacaos oc ia l c al ca da n os criterios t ra n sc en d en te s d a v e rd a de , u n iv e rs al i-d a de e imut ab il id a de . 0 q ue p od em os d iz er ta lv ez e qu e nisto tu-do 0 hom en naoes~ p resen te. Existe apenas a preocupacao deretirar 0 fu nd am en to d a v id a p olft ica d a esfera do e on ti ng en te ecoloca-lo s ob a e gid e d a u niv ers alid ad e. M as 0 q ue r es ul ta d is to eum a ar ticulacao d o s oc ia l diretamente c en tra da n a participadiodo poli tico, do m un do h um an e no qu e ele tern de poli tico, naideia d o B ern o nde reside a essencia d o p ol ft ic o n a s ua i mu ta bi li -dade . A polft ica 6 a-hist6rica, porque a justica e a -h is t6 ri ea . Ma sresta d e tu do isto a raza o d o reto rn o d o fil6 so fo it Caverna : 0 en -trelacamento d o arn or a sab ed oria co m a conducao d os h om en s aautonomia : pedagogia. 0 filcsofo e polit ico se fo r educador, e ap olltica d o fil6 so fo , a in terferen cia n o so cial sim bo liza da p elavolta a Caverna , caracter iza-se p ri n ei pa lme n te p e la educacao, 0poder de dirig ir a educacao dos cidadaos 6, na verdade, 0 unico'p od er q ue 0 f il os o fo r ei vi nd ic a, p o rq u e 6 0 6nico de que p r ec i sa .S e o s h om en s fo rem co nd uz id os a justice, a s o ci ed a de sera natu-r aI ni en te h ar mo ni os a e 0 p od er , u rn a cr es cimo qua se de sape r ceb i-do a organizacao social.

    M as 0 preco de tudo isto e a anulacao da c on ti ng en ci a e 0d es ap are cim en to d a h is t6 ria A ra ci on alid ad e p erfe ita d a s oc ie da -de im p6 e u rn a estab ilid ad e to tal. P latao p od ia ig no rar a 16 certop on to a in elu ta bilid ad e d o a ea so , d a c on tin ge nc ia e da circunstan-cia, p orq ue lu tav a p recisam en te co ntra a p ersp eet iv a qu e co nsi-d erav a estes fato res co mo 0 U nic o fu nd am en to d a vida polft ica,c uja s n o rm a s f ic av am a ss im t ot al me nt e s uje it as it c on ju nt ur a. E 0p ap el d o fil6 so fo seria p ro po rcio nar co nd ico es tais qu e a v id a p o-Utica se desse sob a egide d o u niv ersal. T od a a in terfe ren cia d o

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    16 Franklin Leopoldo e Silvafil6 so fo se su bo rd in a a isto . P or isso a sociedade e d iv id id a em c as -tas, po r isso todos os detalhes da organizacao s oc ia l e m P la mo t erns id o o bje to d e ta nta discussao, G ua rd em o s a pe na s q ue a te oria polf-tica d e P la tao e u rn d esd ob ram en to d o retorno a C av er na , d a i ne lu -s a o ob r iga t 6r i. a , pode if amo s dizer, n o e sp ir it o filosofico; d e st a p re o -cupacao co m a C id ad e, co m o s o utro s h om en s.

    Q uan do a u niv ersalid ad e fo i co nsid erad a a p art ir d o su jeito ,das ide ias (D escartes) ou das fo rm as logicas (K an t), a inse~ao d ofil6sofo nasociedade p a ss o u, p o de rf amo s dizer, a ser mais indireta,p elo m en os n os caso s d estes au to re s inaugurais q u e men ci on amos .T alv ez n ad a m ais afastad o d a h ist6 ria d o qu e a filo so fia d e D esca r-tes, n o sen tid o d e qu e n ao tem atiza a h isto ria , n ao tem atiz a d ireta-men te 0 social. Mas ba a lg o e m D es ca rte s q ue 0 a t ir a imed ia t amen t en a h ist6 ria e qu e 0 torna mesmo r e spons ave l p or e la , e m c erta m ed i-da, e , q ue m s ab e, m uit o mais d o q ue o utro s q ue fiz era m d a h is t6 ria 0o bje to d e ref lexao. 0 qu e ha de f undamenta l e de basico em D es-cartes e a constitu icao reflexiva d o poder da razao de representor,na instancta d a s ub je ti vid ad e, a re alid ad e naquilo qu e el a te rn d eobjet ivo. E c om is to s e fu nd am en ta metaf isicamente a apreensao 16 -gico-matematica do real e se conso lidam as bases da civi l izacaoc ie n tf fi ca e t ec n ol 6g ic a. E in te re ss an te n ota r a qu i q ue , a o c on tra riode S6crates, e m esm o ao con trano d e P latao , D escartes nao m an i-f es ta n en h ur na i nt en c; :a o e x pr es sa d e i nt er fe re ne ia n a s oc ie da de ; n aoe "en gajad o", co mp ro metid o, a n ao s er co nsig o p r6 prio . N em m es-m o d a m uita a te nc ;a o a v id a cu ltu ral d o seu tem po . A p artir d a certe-z a a bs olu ta d e q ue e nc on tro u 0 m eto da e 0 f un d amen to .d a v e rd a de i-ra fi lo so fia , tra ta a pe na s d e d es en vo l v er 0 se u s is tem a n a sol idao dos eu r et ir o h o la n de s, E, n o en tan to , e m term os d a significafiio d a su ao bra, m esm o d a su a atitu de filo s6 fica, 0 que tem os nele sao s im -p lesm en te o s fu nd am en to s d a civ ilizacao m od em a. A cien cia e seuproduto Imediato, a t ec no lo g ia , d er iv am da a ti tu de c ar te si an a: a p ar -tir dela e q ue a a ti vi da de tecnica e tra ns fo rm ad ora d a n atu re za s e d a,ap oiad a n um a teoria met odi c amen t e e s ta b e le c ida . A mterferenciaf un dam en ta l d e D e sc ar te s n a h is t6 ri a consiste.no e st ab e le cimen to d oi de al d e r ac io na li da de , b as ea do na p re v alencia d o S ujeito e na ex- t

    lFuncao social dofi16sofo 17te ns ao d o p od er d a ra za o a to da s a s re alid ad es s us ce tfv eis d e a pre en -s ao o bje tiv a, A p artir d a: !,e 0 p r6 p ri o d es ti ne d a c iv il iz ac eo t ec no l6 -g ic a q ue s e c on fi gu ra . D e sc ar te s n ao pa rt ic ip o u da s g ra n de s p o lem i-cas d o seu tem po n em p ro jeto u qu alq uer tarefa so cial p ara a filo so -fia, N o e nt an to , 0 a lc an c e s o ci al da filo so fia c arte sia na e e no rm e e ae le p o demo s c re d it ar f un d amen ta lme n te .todas as consequencias his-t 6r ic as d o r umo tecno-c ie r it f fi co que a civi l izacao o cid en ta l to m ou ap artir d o seculo XVI I n o p la no s oc ia l, h is t6 ric o e p olitic o. Ha , por-tanto, um a dim ensiio h is t6rica da razao que surge a partir do m o-m en to em qu e a filo so fia fez d o h om em 0 a g en te t ra n sf ormado r, p e lam e~ao te6rica, da rela~ao homem/mundo; E n iio e p re cis e m u itaperspicacia para avaliar 0 q ua nt o e st e e st at ut o d o s uje it o c on tr ib ui upara a ~ao hist6rica que ainda h oje e st am o s s eg ui nd o. S o br et ud os e p e ns armos na comp lemen tacao qu e essa i de ia d e s u bj et iv i da d e re -cebeu em Kan t. -

    M as a racio nalid ad e, c om o p arad ig m a da v id a e d a h is t6 ria ,nao se ma nt ev e d es de 0 infcio co m a t ra nq il il a hegemonia de um aconcepcao i se nt a d e crfticas, Desde 0 in fc io , ja v em os q ue e m P as ca la i n se r~ ii o do ho mem n a h is t6 ria n iio s e fa z atraves d a so beran ia d ar az ao , m as sim pela visiio e p ela vivencia da contradicao. A crfticad o id ea l d e ra cio na lid ad e c arte sia na c om ec a p ela c rftic a d a a rb itra -rie da de d os p rin cfp io s d a c is nc ia e v ai a te a c on sta ta ca o da impossi-b il id ad e d e fu nd am en ta r ra cio na lm en te a relacao do Homem com atran scen den cia, co m D eu s, u rn a v ez qu e as p ro vas racio nais d e s uaex is tenc ia naonos d ao a verdad e do seu ser,

    A ma ne ir a d e v iv er a . i,n se r~ ii on a h is to ri a, n a a ti tu de f il os 6f ic ad e P as ca l, p as sa , p ois , n iio p ela c on sc ie nc ia d a n ec es sid ad e d e im p ora n orm ativ id ad e d a razao a todos o s a sp e ct os da v id a h um an a p araq ue e le s s e b en ef ic iem da u niv ers alid ad e d a te oria , m as p ela v is ao evivencia d a relativ id ad e d a razo o e d a su a in cap acid ad e p ara reso l-v er verdadeiramente as c on tr ad ic oe s b as ic as da v id a h um an a. E ,portanto, pela v ia da consciencla d o d ilaceram en to d e u ma existen-c ia d is ta nc ia da d e D e us , i rr em e di av el me nt e a fa st ad a d a u n ic a i ns ta n -cia qu e th e p od eria co nferir u rn sen tid o, v ftim a d as llu so es d e u rn ara za o q ue s is te ma tiz a a rtifi cia lm en te e c ria e vid en cia s a pe na s s im -

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    \18 Franklin Leopoldo e Silvab 6l ic as , q ue a f i. l6 s o fo acede a h is t6 ria ,n ao c om o m eic i a m bie nte s e-g uro pa ra a exp an sa o d a su bjetiv id ade o rd en ado ra, m as co mo su ces-sa o ra cio na lm en te in co mp reen sfv el d os ev en to s qu e desd ob ram 0d es ti no d a c r ia tu r a i rr em e di av e lm e n te marcada pela corrupcao.E to -. do 0 sen tid o d a ex isten cia , lo ng e d e ser d eterm in ado p ela ra za o he-gem on ic a, fic a su spen so d e u ma aposta n um D eus que se ocu lta de-li be ra dam en te e q ue distribui, p or m eio d e c rite rio s im pe ne tr av eis, asa lv ac ao e a d an aca o, S alv ac ao po ssfv el a p ar tir d o m ais importanted os ev en to s h ist6 ric os e, ao m esm o tem po , 0 mai s i n comp r ee n sf velde todos, a redencao p ela m orte de ur n h om em qu e era D eus. A in -s er!;a o n a h ist6 ria 6 entao feita p ela a ce ita ca o d a ir ra cio na lid ad e d ah ist6 ria, que n ao 6 apenas a fuga para 0 a bs ol ut e, p o rq ue n ao pode-m os a tin gi-lo , m as q ue 6 p rin cip alm en te a acenacao d a c on tr ad ic ao ed o .d ilac era men to qu e a ra za o h isto ric am en te c on stitu fda p ro cu ramascar ar . - N e s t a p er sp ec ti va , a c on sc ie nc ia h is t6 ri ca d a c on n ng en ci ae d o p ar tic ula r na o e anu lada por um a consciencia s ub st an ci al q ueim pde ao s acon tecim en to s - n atu ra is o u o utro s - a ordem d o e sp fr i-to , m as p er ma ne ce como a m ar ca d a ir ra cio na lid ad e irredutfvel esub jacente, n a presenca do Ho mem , a si m esm o. 0 co mpro misso dofilo so fo , po rtan to , n ao e n em co m um a raza o so bera na e o rd en ad oran em c om a circ un sta nc ia lid ade do m om en to histo rico , qu e 6 tam bemur n m as ca ra men to d a c on di~ ao h urn an a, ma s com a manutencao daerrancia, coma peregrinacao pe l a s contradicoes e co m a div in da delo n gf nq ua e o c ul ta q ue , c o nt ra di to ri am en te , fu n dam en ta a e sp er an cede que tudo isto venha, do po nto de v ista da salvacao, a g an ha r al-g um s en ti do , ja qu e a situa ~a o d o h om em hist6 ric o 6 esta c on tin uape rs uas a o, a u to pe rs uas ao d e qu e ex iste tal sen tid o, a in da qu e n aoe steja d ad o a tu alm en te p ela r az ao . M a s p od e-se d iz er , tambem, qu eem P asc al a h ist6r ia esta v in cula da a s de te rm inacoes f u ndamen ta l sd o C ris tia nis mo : p ec ad o o rig in al, re de nc ao , ju fz o. E e p er co rr en dom eio c ao tic am en te u m caminho ja m ar ca do p or e sta s determinacoesqu e os h om en s se in serem n a h ist6 ria e qu e a c on scien cia filo s6 fic ao sc ilaen tre a gra nd eza e a m iseria . E p ela v ia d o sen tim en to a gu doda finitude q ue e fe ita a c rftic a d a r ac io na lid ad e c ar te sia na , q ue c on -fere a o h om em 0 lugar de sober ano da natureza. A i n se r cao h i st 6 ri c a

    i) 19un~iio social do fil6sofoe a fun gao socia l de algum a fo rm a estao presas a n o sta lg ia d o infi-n ito . S e 0 homem e cor rup to , 0 v alo r d a h is t6 ria ta mb em es ta ir re -m ed ia velm en te c om pr om etid o c om es ta corrupcao, Em todo caso ,sendo a h is t6 ri a marca da fin itud e, ao m en os n M co rrem os 0 r iscode ten ta r su pera r a fin itud e p ela h arm on ia en tre a h ist6 ria e a ra zao ." P orque a h ist6 r ia pede ser neg~ao e ilUS80, qu an do s e c on ce -be que ela tran sco rre, co mo em H egel, so b a presidencia da razao ,Esta e a ~ao de N ietz sc he , qu e p ro cu ra d iss olv er a p r6 pria id eia d ebist6 ria pa ra rec up erar a h isto ricid ad e, po r assim dizer, n o m yel daa fetiv id ad e, n o n iv el cia p aix iio e da d eso rdem qu e g ov em am p ro -fun dam ente a m aneira de 0 homem estar p resen te pa ra si e para 0m un do . A qu i a c rftic a da racional idade e quase a demonstracao dequ e a g en ese da razao 6 0 recalque das paix6es. E, tambem a qu i, anega980 cia o rd em ra cio nal c om o presen ca n atu ral d o ab so lu te n osd iv e rs o s a sp e ct o s cia vida. E po rque a expressdo d a n os sa vivenciah is t6 ri ca n eg lig en ci a n ec es sa riam en te a p ai xa o e p riv il eg ia a o rd en a-g ao ra cio na l ap aren te, ap en as g uiad a p elo pra gm atism o, ca fm os n ailusao de que a expressao r ac ional exprime um a r ea lic la de q ue e emsi m esm a racional, quando se trata apenas do ponto de vista doan ima l racion al . A par tir daf, como recuperara histOria c on c re ta e avida c on creta ? A nula r a razeo 6 a nula r a lin gua gem e to da ordem derelacionamento sig nific ativ o c om a re alid ad e. D es de a percepcao at ea especulacao, 0 homem e ur n a nim al que sim bo liza , qu e se ilud e eq ue so nh a a co rd ad o. 0 f1 l6 so fo q ue q ue r r ec up er ar a rea lid ~e p araa lem d os sen tid os qu e ela a ssu me d ev e, a tra ves de u ma c rftic a g e-ne a l6g i ca , d e sm i s ti fi c ar 0 c on hec im en to , a h ist6r ia e - a c ul tn ra e n-q ua nto p ro du co es ex clu siv as d e u ma r az ao o rd en ad ora , d is s~ lv en d.oo p oder cia ra za o o u a s id eo lo gia s ra cio na is , ta is c om o a u niv er sa li-dade, a o rdem e a pr6pria verdade. Podem os dizer que 0 f i l6sofod esta m an eira se in sere na v ida? Com o se dara e st a i n se rc a o aposo t ra ba lh o d e d esm is ti fic ac ao da id eo lo gia r ac io na lista ? E c om o ta ldesm istificagao po der ia resu ltar no en gajam en to? Um a vez que acrftica d os pa d.r6es rac io na is e feita em n om e d e ur n p ro je to d esm is -tific ad or d o c ara te r a bso lu te d es te s p ad ro es , e la a tin ge to do s o s d es -dob ramentos da i de ol og ia r ac io n al is ta , i st o e . a p r6p ria fn do le d a ci-

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    20 Franklin Leopoldo e Silvaviliza!tao tecno-cientff ica, N es te s en tid o, a tin ge a ra cio na lid ad e s o-c ia lo u a im ag em ra cio na l e c ie ntffic a d a s oc ie da de (s oc io lo gia ). A tequ e p on to a recu sa da id eia d e h ist6 ria 6 tam bem a recu sa d a s ig nifi- .ca~ao da hist6ria em todos os n iveis? A te qu e po nto a crftica ge-n ea l6 gi ca , s en do a c on st at ac ao d as d et er m in an te s h is t6 ri ca s d as t ar asd a c iv iliz ac ao - m ora l, v erd ad e -c, n ao p 6e em ch equ e to do 0 proces-s o q ue t eria s e c on stitu fd o a p artir cia!?

    O u s eja , a c rftic a d is so lv en te d a h is t6 ria e a v is ao d a o rg an iz a-!t!o social co mo p ro du to d as p erv erso es te6 ricas e en gajam en to ecom prom isso no sen t ido negativo e destru tivo qu e nao oferece ap os sib ilid ad e d e u m e qu ilib rio e ntre existencia, raziio e historia.N este sen tid o, n ao p erm ite co mp reen der co mo 0 p olitic o p od e re -su ltar d a ten sao en tre o s t r e s t er mo s, t en sa o v iv id a d e d if er en te s r na -n eira s e m d iv ers as c on ce pc ee s d a filo so fia e d as re la co es d o fIl6 so foco m a so cied ad e, M erleau -P on ty, n a rev isao qu e faz d o m arx ism o,p ro cu ra e xa ta m en te e st e equilfbrio de tensao, E m que sen tido? N ao ep os sfv el ig no ra r, d ep ois d e F re ud , a s ub je tiv id ad e c om o in stA n cia d eco nflito e a am big iiid ad e in scrita n o sen tid o d os co mp ortam en to sh urn an os. A p rax is, em qu alqu erd os seu s asp ecto s, n ao e tran sp a-ren te p ara a razao , ex atam en te p orqu e a ex isten cia p ossu i u ma co m-p le xid ad e p ro pria e irre du tlv el, q ue a s h om en s v iv em d e d ife re nte sm an eiras e em d iferen tes m od os d e co nflito co m as o utro s e co nsig op r6 prio s. O ra, as h om en s sao as ag en te s cia H is t6 ri a. N a o 6 p os si ve lq ue a h ist6 ria ten ha u rn s en tid o claro se o s ag en tes h ist6 rico s sao ,e m s i m es mo s, s ub je tiv ic la de s c om pl ex as e s e a m ed ia ca o e ntre a E Ue a H ist6 ria p ass a p or to da so rte d e am big ilid ad es e co ntrad ico es n om yel d o v iv id o, O ra, 0 fil6 so fo , q ue te rn p or d ev er d e o ffc io a cre s-cen tar ao v iv id o a ref lexdo, q u e i nc o rp o ra 0 Dive !de s s a sub je t iv i da-d e o peran te e qu e p ostu la a in sercao crftica n a realid ad e, n ao p od ed ei xa r d e c on si de ra r a p ol is sem ia cia r el a~ ao h om e nl hi st 6r ia e t er n d ei nc o rp o ra r n o p e ns amen to e na ( lf OO a v iv en ci a r ef le ti da d as d ic ot o-m ia s q ue c on fi gu ra m a e xis te nc ia h is t6 ric a e m to do s o s p Ia no s: a ca -so/necessidade; ordem/desordem; c o nt in g en c ia zd e te rm i na ca o . Ems um a, t ud o a qu ilo q ue c on fig ura a c om ple xid ad e c ia r e la ~ao i n d iv f -d uo /t ot al id ad e. A Raz50, co mo o rd en acao so beran a, n ao p od e d ar

    Funcao social dofi16sofo 21

    c on ta d es ta d ic oto m ia , p orq ue e la te nd e a a nu la r lo gic am en te o s c on -f li to s i ns cr it os n aq ue la r el ac ao , T e nd e a c on fe ri r a h is t6 ri a u r n s en ti -do cla ro e precise que deve regular a teo ria e a pratica do s i nd iv r-duos e tende a reduzir a sign ificacao v iv ida d os co nflito s a opo si-es m ecan icas e racio nalm en te co mp reen sfv eis, co mo o co rre p orv ez es n o m a rx ism o. P o r sm .! ve z, a co ns id er ac ao da Ex is te n ci a c omoin sta nc ia s ufic ie nte p ara a c om pre en sa o d o in div fd uo a nu la ta mb emas determinacoes d e v arias o rd en s qu e p es am so bre ele e qu e, ap esard e v iv id as d e d ife re nte s m an eira s p or d ife re nte s s ub je tiv id ad es , n aod eix am d e c on fig ura r u ma e sfe ra s up ra -in div id ua l o u e xis te nc ia l, n am ed id a em qu e 0 in div fd uo n ao 6 u ma ilh a n o' o cean o da h is t6 ri a. Ea p r6 pria h isto ria , p or seu tu rn o, tam bem n iio p od e ser co nsid erad ac om o u rn p ro ce ss o au tonomo, em que os indivfduos. s er ia m me ro sacid en tes acrescid os a u rn sen tid o e a u ma d ete rm in acao essen cialqu e v iriam d e o utra ln stan cia. 0 equ ilfb rio co nsiste em co nsid erarq ue a h is t6 ria te rn a uto no m ia n a m ed id a e m 'q ue 0 i n d iv f duo en con t rau rn p as sa do e u rn p re se nte , u ma s oc ie da de c on stitu fd a e relacoes emqu e se in serir, d eterm in a~ Oes in dep en den tes qu e p esam so bre ele .A o m es mo te mp o, ta is d ete rm in ac oe s s ao vividas, isto e , n ii o t er n umsen tido un ico e n iio sao co isas opacas. 0 indiv ld uo as t ra ba Ih a n as ua s ub je tiv id ad e e lh es c on fe re u rn s en tid o, 0 qu al, p or su a v ez, in -flui n a ~ ao co ncreta d eco rre nte d essas d eterm in aco es, E a co mp re-e ns iio d es ta in te ra c;io , d es ta e sp ec ie p artic ula r d e d ia le tic a, p ro du za s p os si bi li da de s d e c omp re en de r 0 d ev ir h is t6 ric o, p ro du z a ra cio -n alid ad e im an en te d a h is t6 ria , q ue niio e um a ordem que ba ixa doce u da s id6ias sobre a terra dos hom ens, m as que e fru to d a t en sa oen tre a lib erd ad e d o su jeito ag en te e 0 curso da h is t6 ria T alv ez n aoh aja n ad a mais p re cis o p ara re tra ta r e sta s itu ac ;a o d o q ue a fra se c e -lebre de M arx: "os hom ens fazem a hist6ria , em oora nem sem pres ai ba m a h is t6 ri a q ue f az em ".o curso da h ist6 ria 6 alg o qu e resiste , portanto, a q ua lq ue ra pre en sa o d efin itiv a P la ta o, n es te s en tid o, d es co briu m eia v erd ad equando postu lou que os hom ens po dem mudar a h ist6 ria. M as ilu -d iu -se ao en ten de r qu e esta m ud an ca p od eria ser u ma im ob ilizacaoda v erd ad e h isto rica, n a m ed id a em qu e esta se ria a fig ura so cio po -

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    2 2 Franklin Leopoldo e SilvaUtica do A bsolute so bre a terra. D o m esm o m odo, D escar tes, de al-g om a m a ne ir a vftima c ia profunda conf ianca qu e ur n metaf lsico clas-sic o tin ha n a razao, encont rou na 6 ptic a ra cio na l d o sobrevoo a ma-n ei ra d e c om p re en de r 0 d ev ir h um an e n a fo rm a d os er ro s su ce ssiv osde um a razao perdida no labir in to das s ua s c on fu s6 es e a cr ed ito uqu e 0 m et od o s al va 0 h om em do d ev ir , ao fixa r u ma essen cia a-h is-t6r ica na f igura c ia ra za o co nstitu in te e so bera na . P asca l pen so u qu eaceitar a con di~ao hum an a na concretude c ia s ua c o n ti ng en c ia 6aceitar a comipcao com o sentido do homem e c ia bist6r ia, entenden-do que 0 h om em d ec ai'd o d ev e v iv er a ex pe cta tiv a d o s en tid o cia su av ida n a fo rm a c ia e sp er an ca d ep os ita da n um a tra ns cen ds nc ia in co m-preen sfv el, N ietz sc he ter ia v is to , n o ex er clc io d a c rftic a d is so lv en tedas categor ias c ia r ac io na lic la de , a fo rm a d e v iv er a a uten tic id ad e c iaexistencia a_partir cia negacao d o v alo r qu e a p r6 pr ia razao confere 11 .existen cia , v alo r este que se m an ifesta in clu siv e n um a in serc ao ra-c ional c ia e xi ste nc ia n a h is t6 ri a. E Me rl ea u-P o nty n o s e ta um a l i~ aoque sen tim os talv ez m ais pr6 xim a de 0 6s: 0 e ng ajam en to 8 6 e possf-vel se a c re di ta rm o s n o -s eo ti do cia. h is t6 ria . M as es te se otid o 0 ho -m em n ao doa 11 . h is t6 ri a, e le 0 t es te mu nh a d e d en tr o c ia hist6r ia. E eur n s en ti do p lu ra l, variavel, c on ti ng en te e d olo ro sam en te a pr ee nd i-do , p orqu e a preen dido n a dic oto mia fun da men tal do fazer e do so-frer a h ist6 ria . P or isto , 0 en ga ja meuto n un ca po de se dar a p ar tir daseguranca d aqu ele q ue detem as r es po st as , m a s sempre a partir ciap erp lexid ad e cla qu eIe qu e sab e que a razao e 0 s en tid o n ao e xc lu ema im pr ev isib ilid ad e, o s d esv io s e a s angustias, um a vez que 0 homemesta n a h ist6r ia co mo qu em se procura, nao co mo quem ja se encon -trou.

    C RUZ COSTA , BEN TO PR ADO JR. E O P RO BL EM AD A FlLO SO FIA N O B RA SH .. - U MA D IGR ESS AO *

    PAULO EDUARDO ARANTESCruz Costa insistia sem.parar na necessidade de aplicar a reflexdo aoBrasil, mesmo que para issojosse preciso sair da f i losof ia estritamenteconcebida, Antonio Candido

    1No Brasil, afalta de assunto emfilosofia ~ quase uma fatali-

    dade. Razio a mais para tran sforma-la em prob lema. N ao e um aquestao de talen to , m as de formacdo, N ao se tra ta nem mesmo defo rm ac ;a o pesso al, em bo ra u ma n ao v a sem a o utra . H oje em d ia , estaUltim a se en co ntra ao alcance de to do s nas bo as un iv ersidades dopafs. Alias, na o M o utro c am in ho , p ois a c ultu ra fI lo s6 fic a c on te m-poranea 6 es se nc ia lm en te u niv ers ita ria , u ma e sp ec ia lid ad e e ntr em uita s. S uc ed e q ue ja esse id ea l de formacao i n te le c tu a l h annon io s ase desfaz em f iCC i aod o ur ac la t io l og o 0 d ev olv em os a o c ha o brutodoqual depende, a "tara gentil"da (mal) fo rm acao real do pafs, umco njun to de sin gu lar idades pJasm adas ao lon go do tem po pela ex-p an sa o d es ig ua l d o c ap it al is mo . U rn s is te ma m un dia l d es com pe os ad oqu e teim a em d eix ar liter a1 me nte n os so s fil6 so fo s a ve r n av ies .Todo i n te le ct ua l r az o av e lm e nt e a te n to a s i dio ss in cr as ia s d a ci -v iliza ca o b ra sile ira qu e th e r ou ba m 0 fo iego sa be (salv o n os c aso sb ern c on he cid os d e c eg ue ira o lfm pic a) 0 quanto pesa a ausencia de .

    (*) 0 que segue 6 um suplemento ao estudo "Cruz Costa e herdeiros nos idosde 60", publicado no 22 ndmero da revista Filosofia Politica, 1985,L.P.M. UNICAMP/UFRGS. Cf. Bento Prado Jr., "0 Problema da Fi lo-sofia no Brasi l". In: Alguns ensaios, Max Limonad, Sao Paulo, 1985; doniesmo au tor, "Cruz Costa. e a Hist6ria das Id6ias no Brasil", in: Inteli-gencia brasileira (obra coletiva), Brasiliense, Sao Paulo, 1986.I

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    24 Paulo Eduardo A rantes

    lin has evo lut ivas m ais ou m enos con tfnu as a que se costum a dar 0nom e de formacdo. A p ro liferacao d os t!tu lo s ap resen tad os n a en -safstica de explicacao do pals ates ta a dim ensao do prob lem a, emu rn a o b se ss ao n ac io na l p ar a c uja a or aa ge nc ia e r am i fi ca co es R o be rt oSchw arz fo i urn do s prim eiros a cham ar a atencao, S ao e ns aio s q ued e fato p ro cu ram reg istrar ten den cies re ais n a so cied ad e, a pesar d a .atro fia co ng en ita qu e tim bra em ab orta-las; n o m ais d as v ez es, p o-r em , t ra du zem , a nt es 0 p ro p6 si to c ol et iv o d e d ot ar 0 m eio am orfo -c ujo in dife re ntis mc e ne rv a, c om o d iz ia 0 dr. P ereira B arreto - deu ma e sp in ha d ors al m od ern a q ue 0 s us te nte . P ara fic ar n os m ais c o-n he cid os d ele s: fo rm ac ao e co no mic a d o B ra sil; fo rm ac ao d o B ra silc on tem po ra ne o; f or ma ca o p ol ft ic a d o B ra si l; f or ma ca o da literaturab ra si le ira , e tc . C om o s e v e, n os sa "fo rm ac ao " (a qu al N ab uco d euu rn c un ho p es so al e a ut o- com pl ac en te ) e p er se gu id a c om o u rn p on tod e h on ra n ac io nal, e co m ta nto m ais d en od o qu an to raram en te p are-ce dar c er to , a c om e ca r p el a e sf er a i nt el ec tu al q ue n os i nt er es sa maisde perto . N ada som a, nao M " se ri a! ;a o" ( Si lv io R ome ro ), o s s ur to sin co nc 1u siv os s ao a re gra . C orre p or e ss e t rilh o 0 d es ab af o d e M a ri ode A ndrade: "a no ssa fo rm acao nacional nao e n at ur al , n ao e es -p on ta ne a, n ao e , p or a ss im d iz er , 1 6g ic a" . N a tu ra li da de , e sp on ta ne i-d ad e e 1 6g ica estao ev id en tem en te d o o utro lad e d o o cean o. D ian teda "barafunda", da "im undfcie de con trastes" que som os (amdaM an o d e A nd rad e), n ao h

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    i,III-I

    2 6 Paulo Eduardo Arantesem ma te ri a de a ss un to s e m g era l, s eja e m lite ra tu ra c om o e m filo so -fia, a iinica coisa recomendavel e n ao p r esc rev e -l o s. E m ai s, p re ve n-d o co m razd o 0 p io r, B en to P rad o atalh aria em d ois tem po s u mra--cio cfn io q ue a seu v er am eaca d esan dar, p ara lem brar, em n om e d ag ra nd e e la me nta ve l fa milia d os fil6 so fo s tfm id os (e n ao o bs ta nte 0sal d a terra), qu e n ao tem e m en os 0 rid fcu lo (ja qu e in sisto ) d o q ue acam isa d e fo rca d o assu nto su po sto real ( ama l, g lo b al , 0 q ue s eja )q ue c ed o o u ta rd e, a c on tin ua r n es te d ia pa sa o, te nta re i im pin gir -lh e.A lem do m ais, nao 6 de h oje que a linha jus ta desse passo em falso 0i nq u ie ta . R e co rd a rl a a 1 0 c o nt in u o 0 que escreveu nos idos de 60 so-b re a fo nte d os e qu fv oc os c om etid os p or C ru z C os ta : "a c on sc ie nc iad o v azio cu ltu ral faz co m qu e ate mesmo 0 b is to ri ad o r d a s i de ia s te-n ha um a p re oc up ac ao e ss en ci al me nt e p ro sp ec ti va : 0 q ue ele b uscan o p as~ do sao o s g erm es d o qu e ac red ita qu e a filo so fia d ev e s er nofu tu ro . E co mo se ten tassem os, n a in sp eccao d e u rn p assad o nao-fi-Io so fico , ad vin har o s traces d e u ma filo so fia qu e esta p or v ir". oslaco s d e fam ilia n ao p od eriam ser mais c ompr ome te d or es . P o is afi-n al,.o q ue b us ca n a e xp erie nc ia n eg ativ a d o p as sa do 0 d is cf pu lo r e-calcit rante, senao o s g erm es d o a ss un to filo s6 fic o q ue mais no s con-v em ? N ao h a o utra ex plicac ao p ara 0 z el o h is to ri ci st a d e sme su ra d oem ex po r as rafze s n acio nais d e u m d etalh e co rriqu eiro : re fire-m ea ~ ag em b rasileira d os fil6 so fo s tfm id os (d e cuja g en ealo gia o cu -p el-m e n ou tro lu ga r r: cf . "0 bonde da filosofia") e , m a is p ar ti cu -la rm en te , a os e sc nip ulo s ra zo av eis d e q ua lq ue r a uto r q ue p en sa d ua sv ez es q >o re m s em a d em as ia e mb le ma tic a d e B en to P ra do , q ue e sp e-ro u mais de duas decadas para reun ir em v olum e alguns de seus en-s aio s) a nte s d e vir a p u bl ic o . 0 qu e ex plica en tao este cerco m eioe xte mp ora ne o a n ao s er a in te n~ o o blfq ua d e a ju sta r a u niv ers alid a-d e d e d ire ito d o d is cu rs o fil os 6fic o l iv re a o "a ss un to " e n:tim .e nc on -trad e, e alem d o m ais talh ad o seg un do 0 metro literano construt ivoque nos serv iu de term o de com paracao - qu er d izer, perdido p arasempre,

    2A n te s q ue 0 ma l- en te nd id o s e a vo lum e, r ef ac o 0 c am in ho , n o

    Cruz Costa, Bento Prado Jr. e.. 27comeco do qual se encon tra a sensacao m ais ou m enos v iv a de des-co nfo rto ex perim en tad a p or qu em cu id a d e filo so fia n o B rasil, urnc er to s en ti me nt o i nt im o d e a nd ar m ei o a d e ri va , j us tame nt e a procurade assun to . . ..E inegavel, de fato, 0 ca ra te r no rma ti v e da nocao d e f o rma ca oqu e n os tern serv id o d e n orte , d itad o p elo id eal eu ro peu d e civ iliza-~o integrada, A cresce - ain da n os term os e m qu e A nto nio C an did ofix ou a qu estao , ao o po r sistem a litersrio em fo rm acao a m an ife~ ta-~ 6e s lite ra ria s a vu ls as - q ue tal i de ia r ep e rc u ti a u rn p ro g rama c rf ti coa fi na do c om 0 p ro cesso em qu estao , a sab er, qu e a "cap acid ad e d ep ro du zir o bras d e p rim eira o rd em , in flu en ciad as n ao p or m od elo ses tran geiro s im ed iato s, m as p or ex em plo s n acio nais an terio res" -"c au sa lid ad e in te ma " q ue a ce le ra 0 p ro cesso d e m atu racao d o d itos is te ma , n o in te rio r d o q ua l o s e mp re stim os e xte mo s p as sa m a g oz are nt ao d e e xi st en ci a l it er ar ia - c on fi gu ra urn " es ta gi o f un dam en ta l n as up era ~a o d a d ep en de nc ia ", C om ple ta nd o a d eix a, R ob erto S ch wa rzv em fazen do , em m ais d e u ma o casiao , 0 b ala nc e d o e stra go p ro vo -c ad o p ela pretericao d o in flu xo in tern e - h oje m uito m en os in ev ita-v el d o qu e n os tem po s d e M ach ad o, co mo co stu ma lem brar 0 mesmoRober to . 0 av es s o d a o bserv acao d e A nto nio C an did o a resp eito d enossa fo rm a~ o literaria sincopada - "a cada gera~ao a v ida in te-lectual no B rasil parece recom ecar de zero", com o a resum e e am -plia R oberto - vern a ser 0 i n te re ss e p e lo t ra b al ho d o s p re d ec es so re s,"en ten did o n ao co mo p eso m orto , m as co mo elem en to d in am ico e ir-r e so l v ido sub ja c en t e A s c on tr ad ic oe s c on tem po ra ne as ". N o ut ro s t er -m os , d ep en de nc ia e d es co ntin uid ad e a nd am ju nta s e 0 p re ju fz o D a o ep equ en o: "p ereep co es e teses n otav eis a resp eito d a cu ltu ra d o p aiss ao d ec ap ita da s p erio dic am en te , e p ro ble ma s a m uito c us to id en tifi-cad os e assu mid os ficam sem 0 d es do br am e nt o q ue l he s p o de ri a c or -r es po nd er ". Em c on tr ap ar ti da , n li o e p re cis e a lin ha r c om o s n ativ is -ta s p ara e ntre ve r n o fu nc io na me nto cia " ca us al id ad e i nt er na ", d es -c rita p or A n to nio C an did o, 0 preambulo da d e pe n de n ia c o nt or na d a:"n ao se trata d e co ntin uid ad e p ela co ntin uid ad e", esclarece ain daR ob erto S ch warz, "m as d a co nstitu ig ao d e u rn cam po d e p ro blem asr ea is ,p a rt ic u la re s, c om i ns er c; ao e d u ra !; 8. 0 h is t6 r ic a p r6 p ri as , q u e r e-

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    28 Paulo Eduardo Arantescolha as forcas em presence e em rela9ao ao qual seja possfvel avan-9ar urn passo". Na ausencia desta terra fume, compreende-se quenossas cogitacdes fllos6ficas girem em falso e os assuntos se evapo-rem antes mesmo de serem encontrados.

    Iniitil lembrar que choveram os equfvocos, nem me competerepassa-los a limpo. Limite-me apenas a observar que boa parte de-les derivava dessa contaminacao iecfproca de fato e norma, convi-dando a concluir erroneamente que tal exploracao de uma tendenciaduradoura em nosso pass ado intelectual - "a consciencia de estarfazendo urn pouco da nacao ao fazer literatura", inten9ao que dis-t inguia nossos letrados dos confrades metropolitanos - sancionavaurn tipo de literatura ("social", por exemplo) em detrimento de ou-tro, menos vinculado a experiencia imediata, impondo assim, naforma do princfpio consagrado pela hist6ria, urna hierarquia de te-mas e formas, Ledo engano, ate porque 0 universalismo confesso deAntonio Candido (MO e privilegio das grandes literaturas a modula-9ao recorrente das grandes questoes fundamentais da assim chamadacondicao humana) alertava-o, mais do que ninguem, para 0 empeci-lbo estet ico representado pela sem ddvida "inestimavel vantagem"(do atraso?) de uma formacao programada com empenho e conscien-cia. E alem do mais, acrescentaria, urn pouco daquela ..gratuidadeque c ia asas a obra de arte' nno f a r a mal a ninguem, Vma ressalvaque, longe de ressuscitar 0 equfvoco oposto, devolve -nos ao coracaodo nosso problema: pois a gratuidade em questao s6 floresce comrendimento artfstico sobre a terra firme de urn cicIo evolutivo con-sumado, que em principio teria deixado para tras a antiga "gratuida-de" assinalada certa vez por Augusto Meyer nas "mais desencadea-das improvisacoes romanescas" de. um Alencar, pre90 pago pelanossa prosa de fiC9iio tomada pelo "verbalismo engenhoso e farfa-lhante" ao desequilfbrio fntimo da "tenuidade brasileira".

    Ora, Cruz Costa - para voltar ao nosso cotejo - passou a vidajustamente folheando obras-primas de gratuidade fllos6fica. Daf aobsessao pelo assunto relevante, que 0 levava a esquadrinhar a me-diocridade do nosso passado filos6fico a procura dos sinais de nas-cenca que lbe permitissem identifica-lo e, sem dtivida, prescreve-Io,

    Cruz Costa, Bento Prado Jr. e... 29Daf tambem a implicancla com a fantasia sem proveito dos filoso-fantes. Como se ve . uma birra por certo descalibrada, mas de cujolastro bist6rico nao se pode duvidar e com a qual nos defrontaremosem mais de urn passo destas conjecturas. Particularmente sensfvel (etpour cause) ao amalgama praticado por Cruz Costa - afinal a" gra-tuidade",indfcio segura de fal ta de assunto, como 0 Ser, se diz emvaries sentidos, e varia conforme se vai alterando 0 fuso hist6rico daformacao nacional, alem de serem imprevisfveis os mecanismos e osefeitos produtivos da abstra9iio -, Antonio Candido temia igual-mente 0 pior, a hierarquizacao brutalista dos assuntos e, no hori-zonte, a ameaca do emparedainento nacionalista. Nada prova, ad-vertia os mais jovens, que 0 estudo da decomposicao da sociedadepatriarcal brasileira seja mais importante do que urn livro de autorbrasileiro sobre teoria do conhecimento. Reparo estrategico de al-guem com 0 olbo posto na organizacao da cultura nacional, e queportanto precisava enxergar urn pouco mais adiante, uma etapa afrente no caminbo da "superacao da dependencia", antevendo 0memento em que urn brasi leiro, ao publicar trabalho significativesobre alguns dos problemas filos6ficos classicos, completaria "nossaiDtegra~ao na atividade criadora do espfrito moderno". Entendamosa chamada a ordem: que 0 conjunto das desgracas materiais e inte-lectuais que comp6em a miseria nacional nao sirva de muro dearri-mo para uma capitulacao mais grave que a pretexto de realismoajusta-se a mediania local, renunciando a acertar os ponteiros com ahorado mundo, Isto em 1945. Ocorre que naquela quadra os escri tosde urn Gilberto Freyre, para bern ou para mal, falavam muito mais aimaginacao de qualquer intelectual brasileiro (e nao s6 brasileiro- ja aquela altura quem na metr6pole estudasse as vias de passagem.para 0 capitalismo modemo deixando de lado a verdade do sistemamundial, que tambem se exprimia na marcha retard ada das antigassociedades coloniais, certamente omitiria urn capitulo fundamentaldaquela transi~o) do que os tomos folhudos e farfalhantes de urnFarias Brito. Dir-se-a que exemplifico mal, que 0 confronto, para ser.equitativo e evitar 0 grotesco destas comparacoes desiguais, deveria,pelo menos, aguardar os primeiros frutos da nova escola de S a o

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    P au lo , qu e p or ce rto , n a su a m acia len tid ao , a in da tard ariam a a ma-d u re ce r. N o u tr os termos; que a f il o so f ia mode rna , c om o to do s s ab eme ja fo i dito , e a nt es d e t ud o um a e sp ec ia li da de universi tar ia e co mota l e xi ge p re pa ro t ec ni co , r el ev an do -s e em c on se qi i8 nc ia 0 v oo r as od o a uto did ati sm o. C irc un sta nc ia q ue C ru z C os ta e sta va lo ng e d e ig -norar , tal 0 z elo c om q ue a ba fa va s ua d es cre nc a in ata , re pre sa nd o-ad en tro d os lim ite s in stitu cio na is d e u ma C at ed ra d e F ilo so fia re gid aseg un do m an dav am o s p ad r6 es eu ro peu s d a ex celen cia, Nao obs-t a nt e , pe rs i st ia 0 velho mal-estar e m n os sa c ultu ra filo s6 fic a. D o la -d o d e C ru z C osta, a sen sacao d e esta r em barcan do n um a can oa fu ra -da, pois 0 c ot ejo a ci ma comprometia mais 0 genero do que 0 dile-tante, q ue p od ia a te re ve la r p en do re s e sp ec ula tiv os , m as q ua se s em -p re d esaco mp an had os d o m en or sen so d o rid fcu lo , fatal n aqu elasaltas p a ra g en s d o p e ns amen to .

    D o .seu lo ng fn qu o fu nd o d e qu in tal, 0 que v ia C ruz C osta?Homens d e ta le nto p erd en do -s e e m f umaca s f il o sc f ic a s. Exemplos?Veja-se 0 c aso d e C aio P rad o Jr., co m p erd ao d a lem bran ca su mm am uito aquem da su a real en verg ad ura: au to r d e m ais d e um a obra -p ri ma d e h is t6 ri a economica d o B rasil, n au frag av a n o m ar m orto deu ma te oria d o c on he cim en to ; e ra 0 fa to d o m arx is mo o fic ia l te r fic a-d o p ara tra s, b ern lo ng e d o m ye l a lc an ca do p ela s fo rc as in te le ctu aisd o tem po . N ao p osso d eter-m e n o caso m ais serio d e C elso F urtad o,para 0 qual e d iffc il e nc on tra r a te nu an te s. A p en as u m a p ala vra , fa -talmente esquematica: da F 'ormaciio e co nd mic a d o B ra sil a o s t il ti -m os liv ros sobre a crise d o c ap it al is m o a va nc ad o, um a c on st el ac aod e p ro blem as to mo u co rp o n um a o bra ain da em a nd am en to , v erd a-d eira rarid ad e n um p ais d e v id a in telectu al ato mizad a e v eleitaria ,sem drivida u ma p ro ez a la rg am en te b en efic ia da p ela a ss im il ac ao d eu rn s ab er m al o u b em acu mu la do n os o rg an ism os in tem acio na is emqu e atu ou . C om o se isto n ao b astasse, d eu -se n o caso u ma in versaon ota ve l, a ss in ala da p or R ob erto S ch wa rz n os s eg uin te s te rm os : p elap ri me ir a v ez , u rn i nt el ec tu al b ra si le ir o p od ia r ef le ti r s ob re 0 descon-certo d o m un do co ntem po ran eo "a p artir d e su a ex perien cia te6 ric as ob re u rn p ai s s ub de se nv olv id o" . S em d iiv id a, u rn " ato de maiorida-d e i nt el ec tu a l" , p re ci samen t e 0 ato co nclu siv o d o p ro cesso d e fo r-

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    m a9 ao d o p en sa me nto s oc ia l b ra sile iro , 0 qu al, en tretan to , n ao seconsumar ia case nao tivesse ocorrido nesse m eio tem po um a in~ .~ ao m ais v iv a e m ais im po rtan te d o B ras il n o ca pitalism o in tem a-'c io na l, le mb ra a in da R ob ert o S ch wa rz , a rre ma ta nd o 0 r eg is tr o d a-q ue le a to d e m a io ri da de . Ora, s al vo e n ga n o, um a ta l d es pr ov in ci an i- 'za9 ao n ao aco mp an ho u - lo ng e d isso - a m ed itacao d e cu nh o filo so -fic o s ob re o s d es tin os d a c iv iliz a9 ao o cid en ta l a q ue c on co mita nte -m e nt e s e e nt re ga 0 a ut or em s eu s i il ti mc s l iv ro s. T ro pe co c or ri qu ei -ro? M ao pesada do nao especialis ta? O u quem sabe ate m esm o u rnp ou co d a sed e b ern b rasileira d e n om ead a q ue s6 a esp ecu lacao filo -s6fica de alto VIlO p are ce c on fe rir e m g ra u s up erla ti ve ? E c om o c on -ciliar 0 tirocfnio, d e qu e red un do u a m aio rid ad e em questao, c om e s-se eclip se d o m ais elem en tar d iscern im en to ? S eja 0 que fo r, m aisl ig u a p a ra 0 velho moinho d e C ru z C o st a, c ujo c et ic ism o, entretanto,MO t inha forca d e a rg umen to .

    Mesmo assim, c on ti n uei exemp li fi c ando parcialmente, esco-lhendo no campo ma is c le sf ru ta ve l d os amadores, c ol he nd o q ua nd omulto urn. o u o utro c ac oe te d a in te lig en cia b ra sile ira , q ue , n o e nta n-to , pesam, i nc lu si ve n as altas esferas do s g ra n de s jufzos sobre 0 es -pfrito d o t em p o. Alem do que - e sempre born lembrar-, tais percal-, 9 0 S sao o utro s tan to s efeito s d a d esastro sa d iv isao en tre as v aria sc om pe te nc ia s a ea de mic as , n as q ua is to ma re mo s a e sb arra r ta o lo govoltemos a seara .dos e sp ec ia li st as , a os f Il 6s of os d e prof issao, Nadag ara nte , n es te ra mo ta o c om pa rt im en ta do c om o o s d em ais , q ue s e U ? -n ha su cesso o nd e falh ou 0 d il et an te d es av is ad o, a o t en ta r a rt ic ul arnum s6 go lp e de v ista os en igm as da prosa de K afka,-o progressotecm co , u ma eco no mia o lig op olizad a e a crise d a h um an id ad e eu ro -peia, M ais u ma r az ao p ara in sis tir n es se s c am in ho s c ru za do s e c on ti-n ua r p r o cu r ando 0 a ss un to f tl os 6f i.c o n ao i de nt if ic ad o e , n o c as o, s e-g un do a m ed id a d e o utro s p ro ce ss os fo rm ativ os q ue s e c om p le ta ra m., Se i sso e fate - qu er d izer, ad mitid o qu e 0 a mb ito e 0 teordor ac io cf ni o d it o f il os 6f ic o s 6 s e d ef in em ao l on go d es se e sf or co m u it ol oc al iz ad o d e identif icacao c on ce itu al d a a tu alid ad e -, s e, p orta nto ,isso e fate, peco licence para fechar 0 paren tese com um outroe x emp l o ( ag o ra s tr ic to s en s u e, co mo tal, n or m at iv e) , p ar a v ar ia r r e-

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    tirad o d o m esm o rep ert6 rici d e id 6ias e esqu em as ex plicativo s qu evern balizando e st as c o nj ec tu ra s p re lim in a re s. Refiro-me it aberturad e u rn no vo ciclo em n ossa crftica literaria , reg istrada no en saio d eA n to nio C an did o s ob re 0 Sargento de Miltcias. Quem 0 diz 6 R Oo-b erto Sch warz, m ais o u m en os n os segu in tes term os, cad a u rn d elesr e fe ren c ia ob r ig a t6 r ia toda v ez que p en sam os n a ev olu cao m irrad ad e n os sa s letra s f1 .lo s6 fic as . A fas e d e fu ro r term in ol6 gic o, q ua nd o afinalidade c ia l it er at ura d e e ns ai oe ra d oc um en ta r a tu al iz ac ao b ib li o-g rafica, parece co isa d o p assad o - alh eio , esta v isto . P or ou tro lad o,completou-se tambem 0 p erfo do c in zen to d e acumulacao universita-ria d e c on he cim en to s e sp ec ffic os, p erm itin do en fim a o a uto r (A n to -n io C an did o) v olta r-s e p ara 0 " in t er es s e I it e ra r io tal com o a vida 0 .poe: 0 que me diz este liv ro h oje?". (O u ainda: annado de papel etin ta, o rg an iz ac ia , e m p rin cip io p ara u so p ro prio , a e xp erie nc ia ciavida mo de rn a, um cntico b ras ile iro "te nta d iz er aq ui e a go ra 0 sen-t ido cia v id a atu al".) A ss im re sta ura da a v oc ac ao in te rp re ta tiv a c iac rf ti ca , o nd e s em p re r es id iu 0 s eu i nt er es se . v e rc la d ei ro e e xt ra -u n i-versitario, a literatura de ensaio , na pessoa de A nton io C andido ,in aug ura en fim a "so nd ag em d o m un do con tem poran eo atraves denossa literatura". Sem duv ida, um limiar amUogo it in versao d ep er sp e ct iv a a p on ta da ac ima n o caso d o p en sam en to so cial, co m u mare ss alv a s ig nific ativ a: co nfirm ad o n a s ua v oc ac ao d e entice p el a l i-!;ao co nju gad a d e Jean M au giie e Jo ao C ru z C osta, co mo ele m esm od ec la ro u ce rta v ez , A n to nio C an did o ja mais s e e nv olv eu co m teo ria ,e mb ora n ao s eja e sta a U ltim a p ala vra d o e nig ma .R eca pitu lo , A d em an da d o a ss un to fIlo s6 fic o e ng re na do n a o r-d em d o d ia ru lo p od e ob viam en te ser o bjeto , sem d ip arate e reg res-s ao d ou tn na ria , d e p re sc rica o p or e xte ns o, n em d isp eo sa d o e sfo rc oc osm op ol it a d e a tu al iz ac ao ; t od av ia , 0 m etro in dic ad o -lite ratu ra ep en sa men to s oc ia l - n ao im plic a n ece ss aria me nte res tri!;ao p ro vin -ciana, n em su gere m odelo s d e ex celen cia in telectu al: n ao estam osprocurando o e qu iv alen te fIlo s6 fic o d e M ac ha do d e A ssis , A n to nioC an dido o u C elso F urtad o. D isse e repito , a qu estao n ao 6 d e taien tomas de formacdo ..Qu er d iz er , ao qu e p arece s6 atin arem os co m 0assunto it altura cia complicacao atual do m undo modemo, e no de-

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    v id o g ra u d e g en era lid ad e q ue a fo rm a c on ceitu al d a fo rm ula ca o d itafilo s6 fic a re qu er, n um m om en to d e em an cip ac ao in te le ctu al q ue n aod ep en de ap en as d e c la riv id en cia p es so al, m as (re pe tin do ) d o d esfe -ch o de u m p ro ces so c ole tiv o d e fo rm aca o, 0 q u al , s e b em -s uc ed id o ,c ed o o u ta rd e (s e a re ce ita fu nc io nar), in du zira u rn fe n6 me no a na lo -go a i nv er sa o menc io n ad a M p ou co: v erem os entao u rn filcso fo d a

    '. c as a d ecifra r u rn c ap ftu lo d o c urs o a tu al d o m un do a p artir c ia e x plo -ra !;a o s is te ma tic a, n um a fo rm a qu e n in gu em sa be q ua l se ra , d a e xp e-r ien ci a b r as il e ir a .

    F ic am ent ao d e sc o ns id er ad as a s c o nt ri bu ic oe sb ra si le ir as a rna-. re atual de papers s ob re a F ilo so fia d a A C ;a o, a P rag ma tica U niv er-s al, a E ti ca C o gn it iv fs ti ca ? Nao d ev em os en tao m ud ar de P arad ig - rn a? D ei xa r d e i nc or po ra r 0 linguistic turn? 0 " pa ss o g lo ba li za nte ". que no s p ed em a p artir clap ro fu nd id ad e local reco nstru id a d ev eriad eix ar d e lade, p or ex em plo , 0 rejuvenescimento da f a la f il o so f ic an a p ia b atis ma l da n ov a h is t6 ri a d as m e nt al id ad es ? S e re nu nc ia ss e-m os a arb itrar a g ig an to ma qu ia ln te rn ac io na l qu e e nv olv e 0 progres-sism o da nova T eeria A lem fi e Q v angua rd i smo e rr a ti c o cia IdeologiaF ran cesa, m ais u ma v ez n ao p erd eria a E uro pa o utra o po rtu nid adede cu rv ar-s e d ian te d o B ra sil? - E qu fv oc os a v i st a, c o n si n ta 0 leitoro ut ra v ol ta d o m esm o p ar af us o.

    3Retomemos 0 fio , reparando que no B rasil a falta de assunto

    em filoso fia convive m uito bern , na pessoa dos seus mais notaveisrep resen tan tes, co m u rn v irtu osism o d e o ffcio qu e n ad a fica a d ev era o s im i la r e u ro p eu . (Ep ed e s er ta mb em q ue e ss a co nju nca o ila o s ejaapan ag io n osso, m as trace co mu m d o en orm e g irar em falso d a filo -s ofi a u ni ve rs it ar ia i nt er na ci on al ; a lem do m ais, tudo indica que 0s em pre .e vo ca do es pfrito d a g ra nd e tra dic ao filo s6 fic a e mig ro u s emaviso prev io e sem deixar endereco - rnas por enquan to 6 m elborainda MO e nc ara r a fa ce ex te ma das n o ss as t ri bu la co e s. ) V o lt an d o:urn reparo que nao repara m uita coisa, po is sugere que 0 mal qu en os p er se gu e 0 & 0 ced eu co m a en trad a em cen a da cu ltu ra filo s6 fica .o rgan izad a, A bo rd o en tito a qu estao p or u m ang ulo aind a m ais co m-

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    34 Paulo Eduardo Arantesprometedor, isto e , retorno it fonte principal do desencontro entreCruz Costa_e Bento Prado Jr., it tentacao "nacionalista" do primeiro,MO obstante sua declarada aversao it ideia muito curta e francamentenefasta de "fi losofia nacional". Urn "nacionalismo" a um tempo es-clarecidoe rudimentar, que se deixa resumir em poucas palavras,dele mesmo,' Cruz Costa, que alias sabia estar lidando com urn dosmaiores lugares-comuns doensafsmo de interpretacao do Brasil, 0carater postico de nossa civil izacao, cuja "autenticidade", como sesabe tambem, procede do mesmf'ssimo fundo falso.Para Cruz Costa,nacionalismo MO era muito mais (urna vaga e muito datada "teoria"culturalista do carater pragmatico, terra it terra, da civilizacao luso-brasileira) do que em antidote polemico para 0 'transoceanismo' detodo letrado brasileiro, "abismado em grotesca e pasmada nostalgia"de sentimentos, ideias e nonnas com cujos pressupostos nao chegavaa atinar com propriedade. AntIdoto, portanto, contra a doenca donabuquismo (receita que aprendera com os modernistas e 0 empenhosocial dos intelectuais formados ria escola da Revolucao de 30) e,sobretudo, urn convite aos filosofos da terra a se enxergarem, porexemplo, no espelho de urn Euclides da Cunha (devidamente alivia-do da literatice e do cientificismo de arribacao), cujo vfnculo realcom 0 povo miildo passava a seus olhos por citra de "alforria inte-lectual". Dessa pequena galeria de escritores independentes tambemfazia parte at6 mesmo 0 prolixo Tobias Barreto, do qual admiravasobretudo os repentes de fronda boemia, veio popular que compen-sava largamente 0 humor involuntario das elucubracoes teuto-sergi-panas que nao passava pela cabeca de ninguem tomar ao p e da letra.Nacionalismo, portanto, era 0 nome infeliz para uma conversao daconsciencia, da "exposicao sedentariade doutrinas" a aten~ao paraa imundfcie dos contrastes locais, no fundo urn progresso da cons-ciencia, que ingressava entao, como queria Mario de Andrade, numa"fase mais calma, mais modesta, mais cotidiana, mais proletaria, porassimdizer, de construcao' , passado 0 primeiro tumulto novidadeirodo sobressalto modernista, que "quase ia degenerando num insu-portavel esnobismo literario", segundo 0mesmo Mario dec1arava nobalance conhecido. '

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    Nao sei de melhor comentario ao programa cruzcostiano - 00-de procurar filosofia, como conciliar interesse local e tecnica univer-sal, etc. - que a distin~o em boa hora lembrada por Roberto Sch-warz entre 0 lade iludido, atrasado, e 0 momento forte do naciona-l ismo, .ele mesmo um equfvoco produtivo. A dimensao boba e a dochauvinismo ideologico, amparado na miragem da auto-suficiencia,um a bolha de sabao, dada a natureza mundial, porem desigual ecombinada, do processo economico e cultural contemporineo. AMmdo mais, "nada garante que a esfera de um problema seja nacional.Pode ser municipal e pode ser continental". Nilo exagero se disserque Cruz Costa se aferrava por instinto ao micleo interessante donacionalismo, que "implica MO aceitar conversas prestigiosas","nao se deixar ofuscar" pela 'nebulosa ideol6gica" das "teoriasmodemas", cuj~ glamour, mesmo de esquerda, torna-se preponde-rante numa situacso de dependencia como a nossa, ajudando a es-camotear a problematica local , que 6 do interesse dosdominados fa-zer com que apareca, Mas nao precisava ser nacionalista para pensarassim, nem Cruz Costa 0 foi st ric to sensu /Seu nacionalismo era, porassim dizer.: uma ideia reguladora que mandava procurar assunto,para um tipo de reflexao mais ou menos aparentado ao pathos daantiga medi~ao filosofica, no, desconcerto dos contrastes locais,com a res salva . feita acima de que nao esta decidido de antemaoo funbito municipal ou mundial do problema a ser construfdo. Urnprograma mais fikil de anunciar do que cumprir, para nao falar nadificuldade suplementar, ainda apontada pelo mesmo Roberto: seIafinal de contas 0 que interessa mesmo e a interpretacao dasocieda-:de contemporanea, 6 born lembrar que hoje ficou muito mais facilestar em dia com a bibliografia internacional do que com a realidadedo Brasil, urn n6 objetivo que a simples aplicacao cbapada da s no-~6es colhidas no dito repert6rio a estranheza da primeira nada resol-ve, por progressista que seja 0 intuito do referido esforco de atuali-za~iio.l Contraprova: 0 pr6prio Bento reconheceu certa vez queaprendera muito mais polemizando com seus amigos brasi leiros do

    I que interpretando (bern) pela enesima vez Rousseau ou Bergson.! Acresce que 0 aprendizado do momenta tecnico exercido na lei tura.

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    36 Paulo Eduardo Aramesd os classicos e n a assim ilacao b em do sad a da l it e ra t ur a ep is t emo l6 -gica atual e r a i n d ispen sa ve l : a n ossa vo lta , fo ra d o cfrcu lo m ag icou spian o, ab un dav am ain da o s qu e se o cu pav am ex clu siv am ente d e" fi lo s of ia b ra si le ir a" , l og o i de n ti fi ca v ei s p el a mais c om p le ta f al ta d ose ns o d e p ro po rc oe s e c orre sp on de nte e nc urta me nto ca ip ira d o e sp f-rito.

    R e co rr o n o vamen te a c ap acid ad e d e formulacao d e R ob ertoS chw arz p ara ap resen tar d e u rn o utro an gu lo as raz6 es d o p ro gram ac ru zc os tian o d e im preg na gao d o ra cio cfn io d e cu nh o filo s6 fic o p elac or lo ca l c om pro me te do ra : u ma lig a d es co nc erta nte d e a rg um en to sfro ux os e o lh o clfn ic o a fia do para a v olu bilid ad e d e n oss os h om en sd e id eia s, A ss im , 0 q ue a limen ta v a 0 in stin to d e n ac io na lid ad e d eJoao C ruz C osta era 0 s en ti me nt o d o p re ju fz o c au sa do p el a e va po ra -g ao d os p ro bl em as : 0 in co nv ie nte ma io r d o filo nefs mo qu e ao lo ng od e sua carreira v erb ero u em p ro sa e v erso resid ia p recisam en te n aos6 na falta de conv iccao que acompanha teo rias ado tadas com am es ma s ofre gu id ao c om qu e e ra m tro cad as , m as tam be m n a au se nciad e s ua s im plic ac oe s m en os p r6 xim as n o c on ju nto d o p ro ce ss o so cia l.A te aqu i f6 nn ulas sch warzian as sem asp as, a s qu ais retorn o n umtrech o d e m ultip le alcan ce, po is ap an ha p ela raiz tan to um a das cha-ves de nossa doenca cron ica - assuntos gorados apenas nascidos -c om o a fo nte q ue c lav a a mp aro in tu itiv o a o d es te mp ero n ac io na lis tade C ruz Costa. Q uando se assiste ao desfile de m etodos e concep-gOes a que se reduz em larga m edida 0 c ot id ia no d e q ua lq ue r inte-l ec t ua l b r as i le i ro , MO e d if fc il r ep ara r ( na v er da de , e a m ai s d if (c ildas observacoes) que "56 raram ente a passagem de um a escola aoutra co rresponde, com o seria de esperar, ao esgo tam ento de urnp rojeto ; n o g eral, eia se dev e ao p restig io am erican a o u euro peu dadoutr ina seguinte, R es ul ta a i mp re ss ao , d ec ep ci on an te , da mudancasem n ecessid ad e in tem a, e p or isso m esm o sem p ro veito . 0 g osto dan ov id ad e te nn in oI 6g ic a p re va le ce s ob re 0 t ra ba lb o d e c on he ci me n-to". N em por isso C ruz Costa cogitou sequer urn m om enta de abrirm ao do esfo rco de desprovincianizacao d e n os sa cu ltu ra filo so fic a are bo qu e d e ta is s urto s e steriliz an te s; p elo c on tra rio , re ma nd o c on traa m a r e n ov id ad ei ra , tr at ou d e a ss eg ura r, c om o I em b ra do h:i pouco , 0

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    q ua dr o d e i ni bi g6 e~ n ec es sa ri as ao d es en vo lv im en to d e u ma lin hafo nn ativ a lo cal, d ecalqu e pro du tivo d a discip lina eu ro peia de qu eta nto ca re clam os . T od av ia, p or m dis pen sa vel qu e fo ss e tal ant idote,jam ais th e b asto u. N ao ISqu e visse co m m an s o lho s a tim idez esp e-c ula tiv a qu e a c on sc ie nc ia te caic a e xa ce rb ad a a nu nc ia va e m a lg un smais sensfveis ao v fru s d o falso rigo r, ate po rqu e nin gu em mais doque ele trazia a f lor da pele o m edo do ridfculo , no caso , do bova-ris mo filo s6 fic o, s en tim en to fn tim o d e im pro prie da de q ue c he gav a aa ss um ir a f or ma d e a ut o- de sm o ra li za cf o p re ve nt iv a. E q ue n o fu nd oa in da d es co nf ia va d a a pa re nte g ra tu id ad e da s t eo ri as i nt an g fv ei s, n asq ua is v ia s o br et ud o 0 l e ro -Iero ca rac t enst ico da f al ta d e a ss un to .

    Iss o p os to , C ru z C os ta c on tin ua va b ate nd o n a m es ma te cla : e ra. imper io so filosofar sobre 0Brasil. Antes de d es an ca nn os a to c on ti -nu o tam anh a san dice, d ois ded os d e com preen sao . E xtm ir filo so fiade u r n . pro blem a b rasileiro co mo qu em d esen tran ha po esia d a p ro s amu lt o a pe qu e na d a da vida n acio nal? P or qu e n ao, d esd e qu e a parti-cu laridad e do seg un do reen con tre a u niv ersalid ad e que se costu maatr ibuir a p ri me ir a, q ue n un ca e u ma g en era lid ad e q ualq ue r, m as al-g o h is to rica me nte d ete rm in ad o c om o tal - nem se trata de umaquestao de von tade ou apetite, m as de oportun idade h ist6rica, urnim pe ra tiv e cu jo g ra u d e a bstr3 9a o d ec re sce c on fo nn e a re fra9 ao b ra -s ileira d o p ro ce sso m un dia l p as se a in te grar es te U ltim o n a c on dica od e p on to de v ista p ertin en te, p eriferico , p orem rev elad or. N ou trasp alav ra s: p ass ad o a lim po , 0 ma nd am e nto d is pa ra ta do d e Cruz Cos-ta, ate ho je p airan do n o lim bo in defm id o do v oto p ied oso e d a reali-z a~ ao n ac io na li st a d es ca li br ad a, ta m bem p od e s er e nte nd id o a luz do"p asso g lob alizan te" qu e, seg und o R ob erto S ch warz, a cntica b r a -sileira da c ultu ra a in da e sta d ev en do , o u se ja , e stu da r 0 "nosso atra-so c om o p ar te da h is t6 ri a c on temp or iln ea d o c ap it al e de seus avan-fOS", re co nh ec er e in te rp re ta r n o "a na cro nis mo fo rm ad o p eia ju sta-p os ig ao d e f orm a s da c iv iliza ca o m od em a e re alid ad es o rig in ad as n aC olo nia (... ) u ma fig ura d a atu alid ad e e de seu and am ento p ro mis-so r, gro tesco o u catastr6 fico". - V oltan do : se a co njectu ra n ao fo roca (e v imos que ela M O 0 e n o ut ro s d om fn io s e xt ra -f il os d fi co s ), r e-e nc on tra re mo s, m ais a dian te , u ma o u d ua s v aria nte s dela, A ntes d e

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    deixa-la d e lade p or urn m em ento , nao seria d em ais frisar que talconvergencia - a um tem po o bjetiva e construfda, de particu lar euniversal- nada tern a v er co m n ossa in cip ien te en trad a em cena n ac ir an cI a i nt er na ci on ;U d e s im p 6s io s, c ol 6q ui os e q ue ja nd os , n o p on tomor to cia producao de papers em e sc al a i nd u st ri al .

    D ou com o con traprova desse passo globalizan te em falso 0permanen te pe a tra s d o p r6 prio B en to P ra do . C om o u rn c ole ga rn uitov ia ja do re co me nd as se d ec id id am en te a internacionalizacao da vidaf il os 6f ic a n ac io na l, B en to ( qu e t er n h or ro r d e p re en ch er f or mu la ri esp am p articip acao em co ng resso s n o ex terio r) ata lh ou em p len o v oou rn p ro gram a qu e ev id en tem en te n ao deix a d e ter a su a razao de ser:m as voce quer en tio que nos transfo rm em os em F ulano de T al, co -n he ci do m e da lh ao b ra si le ir o, f il os of o d e f am a i nt er na ci on al , visitingp en na ne nt e p el o m u nd o 'a to ra , p re se nc e c on st an te n os m e lh or es s im -p 6s io s d o ra mo , titu lo o bri ga t6 rio e m m ais d e u rn a b ib lio gra fia e sp e-c ia li za da , em s um a , c on cl uf a B en to , u n s om br e c re ti n. C omp et en ci a, .seguram ente nao falta ao in dig itado (com o dizem os americanos ," co nt ro la '' m u it as a re as ), 0 qu e at e c on trib ui p am a s uti l c on fu sa od e sim ulacro e p ar6 dia d a m aio rid ad e ass in alad a acim a e a qu e to do sa sp ira mo s, n a q ua l fm alm en te s e c on ve rte u, e sp ec ie d e a po te os e dafalta d e as su nto . N em en tu rm ar co m 0 en c asu lamen to p r o vi n ci an o ,ne m esparramar-se no bazar i d eo 1 6g ic o i nt er na c io n al . P o r c er to Cruz .C os ta n ao tin ha re ce ita s q ua nd o e sp era va a rra nc ar filo so fia d o m er-g ulh o n o d etalh e b rasileiro , m as co m certeza estav a co nv en cid o d eq ue n ao s e fa zi a.m ais filo so fia s ob e ste n om e, c om o le mb ra ria m uitodepois u rn ex- al un o s eu , R ub en s R od rig ue s T orre s. A s sim , a a bs tru -sa p al av ra d e o rd em "filosofar sobre 0 B ra sil " v in ha d em arc ar u rn acerta m an eira d e o rien tar-se n o p en sam en to . 0 o rien te, n o caso , e raa l it er at ur a ( e 0 gsnero h ib ri do a pa re nt ad o c on st it u! do p el o e ns ai o d eexplicacao d o B ra sil), c om o fic ou d ito .

    Recapitu lando : tomar a literatura como fio de promo eraaprender em prim eiro lu gar com urn processo de formacao em viasde consumar-se, a o l on go d o q ua l c au sa li da de i nt er na e c on ti nu id ad eso cial, p or relativ as qu e fo ssem , p erm itiam , p elo m en os, qu e u mafaixa da v id a in te le ctu al fu nc io na ss e n o B ra sil. E m s eg un do lu ga r,

    r ,

    Cruz Costa, Betpo Prado Jr. e... 39

    m irar-se n o ex em plo d e en saista s co mo E uclid es o u S ilv io R om eroe ra , a os o lh os d e C ru z C os ta , p ro po r, a ruminacao d o fil6 so fo (o u aos uc ed an eo b ra sile iro d a e sp ec ie ), o s te ma s h ete ro do xo s q ue f os se msurgindo da p en a i nd is cip lin ad a d e ur n a uto r in de pe nd en te , e m q uep es e a g an ga id eo l6 gic a q ue .lh e embaraca o s p a ss o s. Era enfim m e- .dir-se p elo p od er d e revelacao do pafs que desde a origem fora apa-nag io e p on to d e h on ra d e n ossa literatu ra, e q ue. p ara ta nto n ao p re-c is av a s er c ha pa dam en te realista, c omo demon s tr a s u pe rl at iv amen teo fendmeno M achado . U ma preponderancia a qual pago u-se emcontrapart ida 0 p reco elev ad o d a literatice qu e in festo u a b em d izertodas as m an ifestaco es d a in telig en cia n o p afs, a co mecar p ela elo -

    . c ubr a ca o f il os 6f ic a d es tem pe ra da . A c re sc e- se , p ar a c om p li ca r a in d amais a v ida de quem cuida no Brasil de filo so fia , que a li~ iio deid eias d o racio cfn io literario nu nca esta o nd e a p ro cu ram os . N ao m er ef ir e a pe na s a o m a l- en te nd id o c or re nt e e g en er a.l iz ad o q ue c on si st e

    . em i nt ro d uz ir pe ri pec ia s me ta ff si ca s n o Sertdo de Guimaraes Rosaou na Mdquina do M u nd o d e D ru mm on d, co mo n a E uro pa se e nfia-v a e xisten cialism o n os Cas te l o s e Processos de Kafka ou nosclowns de B ec ke tt . N e st e s en ti do , l it er at ic e e f il os of ism o s em p re a n-darao juntos. A d if ic ul da de q ue em pe rr a 0 p r op6s it o h i st o ri c amen t eraz oa ve l d e a pre nd er c om a ex pe rie nc ia in te le ctu al a cu mu la da p elo se sc rito re s re sid e n um a fa lh a m uita s v ez es s ec ula r d e "a titu de filo so -fica d a in telig en cia" d e n osso s h om en s d e letras, co mo se qu eix av aM ario d e A nd rad e: "n ao ex iste u ma o bra, em to da a fic~ ao n acio nal,e m qu e p ossam os seg uir u ma lin ha d e p en sam en to , n em m uito m en osa evolucao de ur n corpo organico de ideias", Sem duvida, um a f al bade fo rmacao, no sen tido am plo que se deu ao term o, de tal ordemc ala mito sa q ue s us cita c om fre qiie nc ia 0 s6 sia d eg rad ad o d o au to rraso lastim ad o p or M ario d e A nd rade; o falso escritor dij(cil escar-n ec id o p el o Lunda, que 030 e apenas 0 e s tr a nge i ra do de s fr u ta v e l,ou 0 a ma ne ira do q ue c on fu nd e ju fz o lite ra rio e e xp erim en ta ca o v er-b al, m as ta mb 6m o . es crit or c on ta gia do p ela p ra ga p ro fu nd 6rrim a d o"valo retern ism o" execrado por M mo. R ecordo a explicacao deA n to nio C an did o: p ro du zin do p ara p ub lic os s im pa tic os , porem res-t ri to s, s ob re tu do c ul tu ra lm e nt e, i lh ad o p el a m a io ri a e sm a ga do ra d os

  • 5/13/2018 ARANTES, Paulo Et All (Org) - A Filosofia e Seu Ensino

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    pobres expro priados tam bem d a independencia incip ien te que asp rimei ra s l et ra s p rome tem , 0 e sc ri to r b ra si le ir o r ar ame n te e n co n tr oure un id as a s c on die oe s q ue p erm itis se m a fo rm a~ ao de uma l it e ra t u racom plexa. O af a alinhar com 0 rn eio p ou co ex ig en te, b astav a u rnp as s o qu e n in gu em recu sav a d ar, a seg reg acao temida v in h a a fi na le stim ula r a c ria ca o d e u m a lite ra tu ra a ce ss fv el c om o p ou ca s, a mp a-r ad a p el a b oa c on sc ie nc ia da missao c um p rid a. S e R ob erto S ch wa rzte rn ra za o, e ss e "a pe qu en am en to d a in te n~ ao lite ra ria " p ers is te a teos dias d e ho je, na ex ata m edida em que perdu ra, em bora substan -c i alm .en t e a l te r ado , 0 q ua dr o s oc ia l de o rig em re sp on sa ve l p elo re -ba ixamento de n osso co tid ian o id eo 16 gico . E co ntin ua serv in do d ecobertura p am a m odest ia de no ssos resultados literm os - e aindaR oberto quem provoca, p ara lem brar a seg uir que nao e p or a ca soqu e 0 i ng re di en te m e no s p re za do n a I it er at ur a b ra si le ir a e a i nt el i-g en cia , a c ap ac id ad e d e f on nu la r e e mp are lh ar c om a c om ple xid ad eda h ora m un dia l. P or af ta mb em s ec om pre en de q ue n os U lt im os a no sa r enov a cao c ia p ro sa d e fic ca o pela a s so c ia ca o b a la n ce ac la d e r ac io -cfn io e p oesia se d ev aa eIisafs tas (P au lo E milio S alles G om es, Z ul-mira R ibeiro T av ares, M odesto C arone) - e se 0 p ro gra ma d e CruzC os ta n ao e d e t od o i ns en sa to , e d e s e p re su mir q ue e nc on tre ali no -v os arg um en to s. P or o utro lad o, e born aproveitar a ducha tria deR oberto para lem brar que noo era ou tra a fo nte da f al ta d e a pe ti teespeculat ivo de C ru z C os ta , q ue tra ns fo nn ad a e m a rg um en to re du n-d av a p ura e sim plesm en te em restri~ oo m en tal d esm oralizan te. S uam an ia d e tro car tu do em m iu do s e fu gir d a co mp licacao co nceitu ald escen dia em lin ha d ireta d o lad e co mp lacen te d o p ro grarn a m od er-n is ta , a ss im re sw nid o p or R ob erto : "nao v am os e mb arc ar n um a te r-m in olo gia qu e n ao n os diz re sp eito ; fiq ue mo s p or a qu i, d en tro d es tarealidade u rn tan to diferen te e tao nos sa - e que por isso m esm oe sta a s alv o (o u id ilic am en te a ba ix o? ) d a c en a c on te mp ora ne a", S al-v o en gan o, n ao e d es ta re nu nc ia q ue s e t ra ta n es ta Digressao,o q ue p ed ia en tao Jo ao C ru z C os ta ? M al c om p ara nd o, e xig iad o "p en sa do r" b ra sile iro u rn c erto s en tim en to in tim o q ue 0 t omassehom em do seu tem po e doseu pais, ainda q ue tra ta ss e d os r o m s re -m oto s assu nto s. A li9 ao de M ac had o resu me-s e em larg a m ed id a ao

    Cruz Costa, Bento Prado Jr. e. 41e nc ar ec im e nt o d es sa v ia o bHq ua , l i! ;a o d ev id am e nt e r ec on st ru fd a p o rR ob erto S ch wa rz : c om o d ife re nc a e comparacao e s ta v am imp li c ada sn a m ateria artfs tica d