aquecimento global - a controvérsia de suas causas
DESCRIPTION
Com cada vez mais importância nas últimas décadas, as discussões sobre mudanças climáticas têm permeado a sociedade em geral.O IPCC projeta cenários futuros baseados em dados científicos, históricos e políticos. As projeções são de que se uma intervenção internacional consistente para a redução na emissão de gases estufa na atmosfera não seja feita, o planeta apresentará uma grande elevação na temperatura média, o que poderia desencadear mudanças climáticas severas, trazendo grandes prejuízos sociais e econômicos.Confrontando os relatórios do IPCC, alguns cientistas acusam as projeções de alarmistas e tendenciosos, e apresentam estudos que demonstram que a influência humana no aquecimento global não é significativa e que os modelos computacionais do IPCC desprezam diversos fenômenos conhecidos.Com o respaldo de governos, da grande mídia e da opinião pública em geral, os cientistas que confiam nos relatórios do IPCC acusam os “céticos” de serem da direita conservadora, que teriam ligações e até mesmo seriam financiados por grandes corporações ligadas a indústria do petróleo.Por outro lado, cientistas da linha que confronta o IPCC, acusam os “alarmistas” de quererem fazer política em cima de relatórios que atraem muito a opinião pública em geral.O fato é que os cientistas dos dois grupos se baseiam no mesmo conjunto de publicações, a diferença está na forma com que cada um dos grupos os interpreta e a relevância dada para certos conjuntos de dados. Ao que parece, não existe um grupo realmente independente, que não possua interesses políticos ou econômicos, com relevância internacional para apresentar um relatório sobre mudanças climáticas realmente imparciais e confiáveis.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENERGIA - PPGE
PEN5023 – Introdução ao petróleo e gás natural - 2015
Mario Luiz Ferrari Pin – n°USP: 3369974
Aquecimento Global – A Controvérsia de suas Causas
RESUMO
Com cada vez mais importância nas últimas décadas, as discussões sobre
mudanças climáticas têm permeado a sociedade em geral.
O IPCC projeta cenários futuros baseados em dados científicos, históricos e
políticos. As projeções são de que se uma intervenção internacional consistente
para a redução na emissão de gases estufa na atmosfera não seja feita, o planeta
apresentará uma grande elevação na temperatura média, o que poderia
desencadear mudanças climáticas severas, trazendo grandes prejuízos sociais e
econômicos.
Confrontando os relatórios do IPCC, alguns cientistas acusam as projeções
de alarmistas e tendenciosos, e apresentam estudos que demonstram que a
influência humana no aquecimento global não é significativa e que os modelos
computacionais do IPCC desprezam diversos fenômenos conhecidos.
Com o respaldo de governos, da grande mídia e da opinião pública em geral,
os cientistas que confiam nos relatórios do IPCC acusam os “céticos” de serem da
direita conservadora, que teriam ligações e até mesmo seriam financiados por
grandes corporações ligadas a indústria do petróleo.
Por outro lado, cientistas da linha que confronta o IPCC, acusam os
“alarmistas” de quererem fazer política em cima de relatórios que atraem muito a
opinião pública em geral.
O fato é que os cientistas dos dois grupos se baseiam no mesmo conjunto de
publicações, a diferença está na forma com que cada um dos grupos os interpreta e
a relevância dada para certos conjuntos de dados. Ao que parece, não existe um
grupo realmente independente, que não possua interesses políticos ou econômicos,
com relevância internacional para apresentar um relatório sobre mudanças
climáticas realmente imparciais e confiáveis.
INTRODUÇÃO
O Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado em
1988 pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) e pelo Programa da
Organização das Nações Unidas para Meio Ambiente (UNEP). Seu principal objetivo
é reunir dados e pesquisas internacionais sobre mudanças climáticas e divulga-las
em relatórios onde são apresentados modelos e cenários futuros e, as sugestões de
métodos e atitudes que devem ser tomadas para minimizar o problema.
O IPCC é tido como a maior referência mundial sobre aquecimento global e é
utilizado pelas diversas organizações nacionais e internacionais para o
estabelecimento de políticas relacionadas às mudanças climáticas. É composto de
três grupos de trabalho: O primeiro trabalha as bases das mudanças climáticas nas
ciências físicas, o segundo em impactos, adaptações e vulnerabilidades e o terceiro
na mitigação de mudanças climáticas.
Cientistas convidados para integrar os grupos de trabalho do IPCC exercem
essa função de forma voluntária sem qualquer tipo de remuneração (Stocker and
Plattner 2014).
Relatórios apresentados pelo IPCC mostram que se não existirem políticas
substanciais e avanços tecnológicos importantes, o mundo está caminhando para
uma elevação de temperatura perigosa (Schiermeier 2014). Esses relatórios indicam
que essa elevação na temperatura seria influenciada diretamente pela emissão de
gases de efeito estufa, como o CO2, devido a queima de combustíveis fosseis.
A maior parte da comunidade científica, política e a opinião pública tendem a
confiar nos dados e modelos apresentados pelo IPCC.
Por outro lado existe um grupo de cientistas que não acreditam que o
aquecimento global esteja acontecendo devido à ação humana, são chamados de
“céticos”. Esses cientistas, na sua maioria meteorologistas, geógrafos e geólogos
(Lahsen 2013), apresentam em suas argumentações, dados e teorias que
demonstram que a Terra já passou por outros períodos de elevação de temperatura,
argumentando que são fenômenos cíclicos e das mais variadas naturezas, como
variação na atividade solar, atividade vulcânica e muitos outros.
Em 2003, um grupo desses cientistas formou o Painel Não Governamental
para Mudanças Climáticas (NIPCC) associado ao The Heartland Institute esse grupo
surge com o objetivo de gerar um relatório, nos moldes dos relatórios do IPCC, que
aponte uma segunda opinião sobre mudanças climáticas (Jankó et al 2014).
OBJETIVOS
Este artigo tem como objetivo entender os diferentes pontos de vista relativos
às mudanças climáticas no que tange às suas causas e consequências, confrontar
os dados de relatórios do IPCC, que mostram que o aumento de temperatura no
planeta seria causado principalmente por fatores antropogênicos, como a queima de
combustíveis fosseis, com relatórios de grupos que negam que o aquecimento global
é oriundo de atividades humanas, como o NIPCC que defende que esse aumento de
temperatura teria uma influência muito maior de eventos naturais, não tendo
relevância ações do homem para esse problema.
RESULTADOS
Uso da literatura nos relatórios
Quando as referências usadas tanto pelos relatórios do IPCC quanto pelos
relatórios do NIPCC são analisadas, é possível perceber que os argumentos
científicos foram construídos de material semelhante, uma vez que praticamente os
mesmos periódicos foram utilizados pelos dois grupos, inclusive os mais citados
foram praticamente os mesmos em ambos os relatórios. Obviamente algumas
diferenças são perceptíveis nos detalhes, como os periódicos relacionados à
paleoclimatologia tendo uma relevância maior nos relatórios do NIPCC (Jankó et al
2014).
Porém é na interpretação de cada artigo que aparecem as diferenças e é raro
encontrar uma referência usada pelos dois relatórios que sejam interpretadas da
mesma maneira. As referências são geralmente citadas e contextualizadas de
formas diferentes em cada um dos relatórios (Jankó et al 2014).
Críticas aos relatórios do IPCC
Um dos principais argumentos usados pelos cientistas que se opõem a tese
de que o aquecimento global provem de causas antropogênicas, é o de que o nosso
conhecimento sobre mudanças climáticas naturais é limitado e, portanto, modelos
computacionais usados para prever o comportamento do clima muitos anos a frente,
usando um Modelo de Circulação Geral (GCMs), que são usados pelo IPCC e não
são validados, não podem apresentar resultados confiáveis. Por isso, esse tipo de
abordagem seria carregada de interesses de grupos específicos e apelo popular e
acaba desviando a atenção para o real problema do aquecimento global causado
por forças naturais já bem compreendidas (Carter 2008).
Eles apontam que os resultados do IPCC se baseiam nas temperaturas
medidas nos últimos 150 anos e chegando ao máximo de 1000 anos quando usados
métodos indiretos, como a análise de anéis de troncos de árvores, deixando dados
paleoclimáticos como a análise de testemunhos de gelo retirados de geleiras na
Groenlândia ou no gelo antártico, que podem estimar a temperatura média da terra
há cerca de 400 mil anos atrás. (Carter 2008, Loehle and McCulloch 2008, Mudelsee
2001).
Outra controvérsia citada é o papel do dióxido de carbono gerado pelo
homem no aquecimento global. É apontado que o dióxido de carbono compreende
apenas 4% dos gases estufa presentes na atmosfera. E apesar de não negarem as
medidas de concentração desse gás na atmosfera, que cresceu cerca de 30% no
século XX, e que as emissões antropogênicas seriam a maior causa para isso,
apontam que não há consenso com relação à magnitude que esse aumento de
emissões podem afetar na temperatura média do planeta. Os argumentos são de
que existe uma relação logarítmica com relação ao aumento da concentração desse
gás e o aumento de temperatura, o que indica que um incremento na concentração
do gás exerce um valor pequeno no aumento de temperatura. Os modelos utilizados
pelo IPCC usa uma realimentação positiva para o vapor d´água, prevendo um
aumento de 6,4°C caso a concentração de CO2 dobre de valor, porém estudos
independentes mostram um aumento de 0,2-1,0°C se a concentração de CO2 dobrar
(Isdo 2001).
Críticas aos “céticos”
A comunidade científica que defende a posição de que o relatório do IPCC
deve ser levado em consideração e que o planeta está realmente passando por
mudanças climáticas relativas a ações exercidas pelo homem criticam os grupos de
agente que são céticos a essa ideia. Rebatem dizendo que se trata de um grupo
bem reduzido de cientistas e que estão geralmente ligados a grupos e organizações
conservadoras como a Hartland Institute, que organiza o NIPCC e no passado já fez
lobby para a indústria tabagista.
Consideram que os céticos se pautam em poucas fontes de incerteza, que
geralmente são indicadas em artigos sobre mudanças climáticas, e tentam criar um
clima de falta de credibilidade em torno dos relatórios do IPCC, interpretando de
forma tendenciosa, artigos que tratam de ciências atmosféricas e históricos de
temperatura e concentração de CO2 na atmosfera (Tollefson 2011).
Uma pesquisa feita por Bray e von Storch (2010) mostra que 85% dos
cientistas que responderam concordam que as mudanças climáticas estão sim
sendo conduzidas principalmente por atividade humana.
Paleoclimatologistas dizem que as interpretações de artigos da área pelos
cientistas ligados ao NIPCC não passam de mitos, meias verdades e distorções
(Tollefson 2011).
CONCLUSÕES
A partir do que foi exposto, podemos concluir que nenhum dos grupos é
realmente independente em suas análises. Não é possível descartar que o IPCC,
por ser um órgão pertencente à Organização das Nações Unidas, sofra influência de
países com presença mais dominante na organização como afirmam os céticos,
criando um clima de alarmismo que poderia beneficiar certos grupos econômicos.
Por outro lado, os relatórios do NIPCC, do Heartland Institute, também devem ser
analisados com cautela, uma vez que sua fonte de financiamento é oriunda de
setores conservadores da sociedade, com grandes indícios de ligações com a
indústria do petróleo.
Os dois lados apresentam argumentações convincentes baseadas em dados
científicos para expor o seu ponto de vista, o que deixa claro a grande incerteza
sobre a reconstrução e entendimento de dados climáticos passados, colocando em
dúvida os modelos que possam explicar o futuro com um bom grau de certeza e com
isso serem utilizados para que ações possam ser tomadas para evitar uma elevação
da temperatura global, que traria como consequência mudanças climáticas severas
ao planeta.
O fato de que 85% dos cientistas concordam que um aquecimento global de
origem antropogênica esteja acontecendo tem a sua relevância, mas devemos
lembrar que o posicionamento pessoal de cientistas e institucional de diversas
universidades juntamente com o apelo popular pode levar a um aumento nesse
número.
Por fim é importante para a ciência que os dois grupos existam, apresentando
ideias que confrontem o lado oposto e abra uma discussão mais técnica, sempre
tomando cuidado para que influências externas, tanto políticas quanto econômicas
não contaminem os resultados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAY, D.; VON STORCH, H. – CliSci2008: A survey of the perspectives of climate scientists concerning climate science and climate change, 2010 (GKSS Working Paper 2010/9). CARTER, Robert M. – Knock Knock: Where is the Evidence for Dangerous Human-Caused Global Warming? – Economic Analysis & Policy, 2008, vol.38 n°2, p.177-202 JANKÓ, Ferenc; MÓRICZ, Norbert; VANCSÓ, Judit P. – Reviewing the climate reviewers: Exploring controversy through report references and citations – Geoforum, 2014, vol.56, p.17-34 LAHSEN, Myanna – Anatomy of Dissent: A Cultural Analysis of Climate Skepticism – American Behavioral Scientist, 2013, vol.57(6), p.732-753 LOEHLE, C.; McCulloch, J. H. – Correction to: A 2000-year global temperature reconstruction based on non-tree ring proxies – Energy and Environment, 2008, vol.19 p.93-100 MUDELSEE, M. – The phase relations among atmospheric CO2 content, temperature and global ice volume over the past 420 ka – Quaternary Science Reviews, 2001, vol.20 p.583-589
SCHIERMEIER, Quirin – IPCC Report under fire – Nature, 2014, Vol.508(7496), p.298(1) STOCKER, Thomas F. ; PLATTNER, Gian – Rethink IPCC reports – Nature, 2014, Vol.513(7517), p.163(3) TOLLEFSON, J. – The Sceptic Meets His Match – 2011, Nature, vol.475, p.440-441