aproveitamento hidroelÉtrico da ribeira...
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PARECER FINAL DA COMISSÃO DE AVALIAÇÃO
DO ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL
AO
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DA RIBEIRA GRANDE,
ILHA DAS FLORES
FASE DE PROJETO DE EXECUÇÃO
PROPONENTE: EDA RENOVÁVEIS
Documento: INT-DRA/2018/295
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ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------- 3
2. DESCRIÇÃO DO APROVEITAMENTO E SEU ENQUADRAMENTO --------- 4
3. AVALIAÇÃO DO PROJETO POR FATOR AMBIENTAL ------------------------ 5
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ----------------------------------------------------------------- 5
3.2 CLIMA --------------------------------------------------------------------------------------- 6
3.3 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ---------------------------------------------------------- 6
3.4 RECURSOS HÍDRICOS ---------------------------------------------------------------------- 8
3.5 SOLOS ------------------------------------- ------------------------------------------------ 11
3.6 PAISAGEM -------------------------------------------------------------------------------- 13
3.7 ASPETOS ECOLÓGICOS ------------------------------------------------------------------ 14
3.8 QUALIDADE DO AR ---------------------------------------------------------------------- 27
3.9 RUÍDO ------------------------------------------------------------------------------------- 28
3.10 POPULAÇÃO E ESTRUTURA PRODUTIVA --------------------------------------------- 29
3.11 OCUPAÇÃO ATUAL DO SOLO ----------------------------------------------------------- 31
3.12 GESTÃO TERRITORIAL E USOS CONDICIONADOS ---------------------------------- 32
3.13 PATRIMÓNIO CULTURAL E EDIFICADO ---------------------------------------------- 34
3.14 PROJEÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DE REFERÊNCIA SEM O EMPREENDIMENTO
--------------------------------------------------------------------------------------------------- 35
4. CONSULTA PÚBLICA -------------------------------------------------------------------- 36
5.1. RESUMO DA CONSULTA PÚBLICA ----------------------------------------------------- 36
5.2. CONSULTA A ENTIDADES --------------------------------------------------------------- 37
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------- 37
Anexo I do Parecer Final – Conteúdo do Relatório da Consulta Pública ----------- 40
Anexo II do Parecer Final – Apreciação das participações e respostas ponderadas
na Consulta Pública ------------------------------------------------------------------------ 59
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1. INTRODUÇÃO
O procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) ao projeto em título teve início a 4 de agosto
de 2017 com a entrada dos exemplares necessários do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) em papel, do
respetivo suporte digital na Direção Regional do Ambiente (DRA).
Parte da restante documentação necessária ao AIA já estava na DRA no âmbito do procedimento para a
concessão do Título de Utilização dos Recursos Hídricos (TURH) a que esta pretensão esteve sujeita.
O projeto está abrangido pelo regime de AIA definido no Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010, de
15 de novembro (Diploma AILA) por a sua tipologia estar incluída na alínea m) do n.º 8, do Anexo II
deste Diploma e ultrapassar do limite inferior de 100 kW definido para áreas sensíveis.
Recebido o EIA, a Autoridade Ambiental nomeou a respetiva Comissão de Avaliação formada pelos
Serviços listados abaixo através dos técnicos representantes nomeados pelos respetivos departamentos:
- Direção de Serviços da Qualidade Ambiental (DSQA), que preside à CA, representada por Carlos Faria,
que foi substituído nas suas faltas e impedimentos por Filipe Pires que também assumiu a organização da
Consulta Pública;
- Direção de Serviços de Recursos Hídricos e Ordenamento do Território (DSRHOT), representada por
Raquel Cymbron, para avaliação em matéria dos recursos hídricos, e por Ana Dinis para as matérias
referentes ao Ordenamento do Território;
- Direção de Serviços da Conservação da Natureza e Sensibilização Ambiental (DSCNSA), por
sobreposição parcial do projeto com área do Parque Natural de Ilha das Flores, representada por Paulo
Pimentel;
- Direção Regional da Cultura (DRC), por interceção com a faixa de proteção com um imóvel
classificado, representada por Luís Vieira;
- Direção Regional da Energia (DREn), como entidade licenciadora da unidade de produção de energia,
elétrica não vinculada ao serviço público, representada por Carlos Pestana.
Após a receção na DRA da documentação mencionada, esta foi disponibilizada aos técnicos
representantes da CA através de meios informáticos, tendo os diferentes membros então apreciado esses
elementos, trocado informações e inclusive alguns se deslocado à área de estudo para reconhecimento do
terreno e verificação da consistência do observado com o exposto no EIA, de modo a elaborar o parecer
conjunto relativo à conformidade do EIA, emitido a 4 de setembro no qual se solicitaram alguns
melhoramentos e informações e se suspendeu o procedimento até à receção do requerido.
A 27 de outubro a DRA recebeu os elementos solicitados pela CA de que resultou um parecer favorável
à declaração de conformidade do EIA que foi emitida e o processo prosseguiu para a fase de Consulta
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Pública, cujo relatório se anexa ao presente parecer final que pretende fornecer os elementos considerados
importantes pela CA para a decisão final através da emissão da Declaração de Impacte Ambiental pelo
membro do Governo dos Açores competente em matéria de Ambiente.
2. DESCRIÇÃO DO APROVEITAMENTO E SEU ENQUADRAMENTO
O projeto de execução em avaliação encontra-se resumidamente descrito no EIA e de forma completa na
memória descritiva que faz parte da documentação recebida na DRA.
A central hidroelétrica será implantada na margem esquerda da ribeira Grande, o que facilitará a
implantação da obra e aproveitará o acesso existente da estrada que liga à Fajãzinha.
O local de implantação é limitado a sul pela estrada existente e a norte por um talude.
O edifício da central, terá um comprimento máximo de cerca de 24,70 m e uma largura máxima de 9,60 m.
A central será equipada com 2 grupos turbina-alternador.
O edifício da central permitirá albergar os grupos geradores de 550 kW de potência unitária, o transformador
de 0,4/15kV, o quadro de comando dos grupos, a cela de 15kV e o restante equipamento eletromecânico e
elétrico.
A central terá apenas um pequeno escritório que servirá igualmente de sala de arquivo e umas instalações
sanitárias.
Em função das suas características de funcionamento (queda, caudal) os grupos geradores serão constituídos
por turbinas Pelton de dois injetores e eixo horizontal acopladas a alternadores síncronos, trifásicos.
Os grupos estarão preparados para funcionamento em comando automático (situação preferencial) ou em
comando manual (situação de recurso ou ensaios). Um comutador permitirá selecionar o sistema de
comando.
Na sala dos grupos serão instaladas as válvulas de proteção das turbinas e o equipamento relativo ao sistema
de regulação.
A ventilação prevista será através de grelhas inferiores para entrada de ar e grelhas superiores para saída de
ar. Serão também previstos sistemas de deteção e extinção de incêndios e de deteção de intrusão.
Para encaminhar água para central haverá a construção de quatro captações a montante: um açude na ribeira
do Ferreiro em betão com 1,5m de altura e 15m de desenvolvimento, implantado a cerca de 40m a montante
da ponte rodoviária existente na estrada regional sobre a ribeira Grande no fundo do vale da Fajãzinha; uma
no leito da Ribeira Grande, a cerca de 270m a montante da mesma ponte, do tipo tomada tirolesa e com 20
m de extensão; uma terceira na ribeira da Encosta, igualmente do tipo “tirolesa, com 5m de
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desenvolvimento, toda escavada no leito e próxima da anterior; e uma última na ribeira do Moinho como
uma tomada de água lateral, em betão armado, com 1,5m de desenvolvimento junto ao aqueduto desta linha
de água sob a Estrada Regional.
Todas estas captações convergirão para uma câmara de carga através de condutas soterradas, a partir da
qual outra conduta forçada, que com exceção de 2 aquedutos para transpor pequenas depressões
topográficas, será também enterrada encaminhará a água para a hidroelétrica.
3. AVALIAÇÃO DO PROJETO POR FATOR AMBIENTAL
3.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O EIA, após apresentar o quadro legal do procedimento, expõe a estrutura e metodologia que esteve na base
da sua elaboração; mostra o enquadramento geográfico do empreendimento; o contexto relativo às
necessidades energéticas, fontes de energia nos Açores e na ilha das Flores e perspetivas para o setor; os
antecedentes estudados em torno de uma solução de aproveitamento hidroelétrico na bacia em causa até à
opção adotada e, em seguida, faz uma descrição resumida do projeto, assim como dos estudos hidrológicos
que o sustentam, agora em avaliação que se encontra em fase de projeto de execução.
Depois, com recurso aos fatores ambientais que os autores consideraram pertinentes para os objetivos do
procedimento, o EIA caracteriza a área de estudo onde se pretendem implantar as estruturas do
aproveitamento e da bacia hidrográfica em causa; projeta a evolução desta situação de referência caso não
se implemente o empreendimento com recurso aos mesmos fatores ambientais e avalia para as fases de
construção e exploração os impactes que perspetivam para aqueles se o projeto se concretizar.
Seguidamente a equipa do EIA propôs medidas de minimização ou de potenciação dos efeitos negativos ou
positivos que se considera pertinentes tendo em conta os impactes perspetivados, bem como programas de
monitorização para acompanhar o real evoluir no terreno na presença do empreendimento de molde a detetar
algum eventual desvio desfavorável que requeira posterior correção.
Neste parecer, para facilitar a compreensão das apreciações que a CA venha a fazer e respeitar a repartição
das competências pelos diferentes Serviços que a integram, os aspetos acima mencionados por fator
ambiental e distribuídos por vários capítulos no Relatório Síntese são reagrupados neste documento em
torno do descritor considerado, o que pode obrigar a algumas adaptações face à estrutura do EIA.
Por norma, quando neste parecer não se expressar discordância ou se propuser a alteração a uma medida do
EIA, deve entender-se que esta foi aceite pela CA, recomendando-se à Autoridade Ambiental a sua
integração na proposta de Declaração de Impacte Ambiental (DIA) se a mesma for condicionalmente
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favorável aquando da sua emissão pelo membro do Governo dos Açores competente para a decisão final
nos moldes que considerar adequado.
3.2 – CLIMA
O RS expõe os valores médios de temperatura e precipitação nos Açores e tendências de variação ao longo
do ano e de leste para oeste no Arquipélago. Em seguida faz uma descrição mais pormenorizada para as
Flores, onde informa que o clima é temperado húmido de temperaturas amenas, com pequenas amplitudes
e invernos chuvosos, mostrando em quadros os valores registados nos últimos trinténios nas estações e
postos meteorológicos existentes na ilha ao nível mensal.
A CA reconhece que a evidenciação da inexistência de temperaturas negativa e a presença de um clima
chuvoso com pluviosidade em todos os meses foi importante para justificar e avaliar as condições,
viabilidade e características técnicas do empreendimento estudado.
Impactes
O EIA não perspetiva impactes climáticos ou microclimáticas ao nível local e de âmbito global um
contributo positivo, mas de relevância reduzida devido à diminuição das emissões de gases com efeito estufa
em virtude da transferência do uso de energias fósseis para as renováveis.
Medidas de Minimização ou de Potenciação
Não perspetivando impactes negativos o EIA não propõe medidas de minimização e também não expôs
qualquer ação de potenciação.
A CA está de acordo com as perspetivas apresentadas e também não tem medidas a adicionar.
3.3 - GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA
O RS começa com o subfator geologia, referindo o enquadramento geotectónico dos Açores com
identificação das principais estruturas e placas tectónicas reconhecidas na Região. Prossegue com a
identificação dos complexos vulcanoestratigráficos definidos para a ilha das Flores, incluindo o histórico
destas definições, e as litologias que os constituem com a respetiva geocronologia, verificando-se que,
maioritariamente, o projeto fica implantado no complexo base correspondente a uma proto-ilha.
O RS apresenta o histórico de erupções vulcânicas e sismos ocorridos nos Açores desde o povoamento,
verificando-se que as Flores está fora da área afetada por estes fenómenos, para prosseguir com a exposição
dos acidentes tectónicos localizados na ilha e respetivas atitudes.
Depois o RS desenvolve a componente referente à geomorfologia, onde considera duas unidades: Maciço
Central e Orla Periférica, descrevendo com algum pormenor cada uma delas, destacando a existência de
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escarpados entre as duas e onde se tem verificado a ocorrência de vários movimentos de massa. O projeto
insere-se na Orla Periférica e exposto a estes movimentos.
A CA considera que este fator ambiental salientou os aspetos mais significativos a considerar na avaliação
dos impactes do projeto, sem ter outros elementos a adicionar.
Impactes
Fase de construção
Nesta fase haverá as ações de movimentações de terra devido a escavações (32.700 m3) e aterros (2.700 m3)
para implantação das infraestruturas do projeto, bem como a deposição de terras sobrantes, não reutilizadas
em obra, em novos locais (3.130 m3), a que se associa uma maior vulnerabilidade à erosão desses materiais.
Fase de exploração
O EIA apenas estima eventuais deformações das litologias devido à carga das infraestruturas implantadas.
Estes impactes são considerados negativos, de reduzida magnitude e significado na construção e
praticamente sem significado durante a exploração.
Medidas de Minimização
No EIA são propostas as seguintes medidas:
- Assegurar adequadas intervenções construtivas aos estudos geológico-geotécnicos;
- Realizar enrocamentos a montante e a jusante dos pontos de descarga conforme previsto no projeto;
- Sempre que possível, reutilizar em obra os materiais escavados e condução para depósitos dos materiais
excedentários;
- O projeto deve atender às condições de instabilidade das formações superficiais.
A CA considera que nenhuma medida, à exceção da incluída no projeto, está suficientemente pormenorizada
para permitir que a sua inclusão em DIA possa ser alvo de uma fiscalização adequada, embora sejam ações
de boa gestão de obra, a respeitante a terras sobrantes tem apenas a salvaguardar que:
- As terras sobrantes resultantes dos trabalhos de escavação devem ser encaminhadas para locais
devidamente autorizados ou licenciados.
Programa de monitorização
Não é proposto qualquer programa de monitorização e a CA também considera desnecessária a sua
implementação sobre este fator ambiental.
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3.4 - RECURSOS HÍDRICOS
O RS começa por apresentar a rede hidrográfica nas Flores, prosseguindo com a caracterização hidrológica
de cada uma das quatro bacias hidrográficas objeto do aproveitamento hidroelétrico. Depois, o RS
desenvolve a componente referente à hidrogeologia com a caracterização e delimitação das três massas de
água subterrâneas das Flores, incluindo a distribuição das origens de água.
No que concerne à componente qualitativa, a mesma é enquadrada com a metodologia normativa em vigor
em matéria de gestão e planeamento dos recursos hídricos. Neste quadro, o RS identifica e caracteriza as
massas de água superficiais (ribeiras) por tipologia, assim como a correspondente classificação do estado
dessas massas de águia com base no 1º Plano de Gestão da Região Hidrográfica em vigor à data de
elaboração do RS. Posteriormente, apresenta as principais pressões antropogénicas sobre o estado das
ribeiras.
De um modo geral, o RS foca os aspetos a ter em conta e faz uma caracterização com base em dados
disponíveis à data da sua elaboração.
Depois, o EIA, face aos elementos disponíveis, identifica os impactes de uma forma que se afigura correta
e efetua a sua classificação de acordo com os critérios utilizados neste estudo e propõe medidas que se
consideram adequadas.
A CA considera que a caracterização efetuada no EIA é suficiente para se avaliar os impactes do projeto
neste fator ambiental.
Impactes
Fase de construção
A fase de construção compreende as ações de construção de pequenos açudes e de estruturas de captação e
condução de água; Introdução de barreira transversal nos cursos de água; Represamento de água a montante
(com eventual alteração de meio lótico em meio lêntico e/ou criação de espelho de água); Captação de água
das ribeiras a montante dos açudes e sua restituição a jusante da central, com alteração do regime hídrico
no troço da ribeira interferido.
Assim, o EIA prevê os seguintes impactes:
- Aumento da turbidez e concentração de sólidos suspensos totais nos cursos de água;
- Contaminação acidental dos cursos de água durante esta fase que poderá ocorrer devido à descarga
acidental de contaminantes (óleos ou outros), nas zonas de obra.
Nesta fase, o EIA considera os impactes negativos, muito prováveis, contudo localizados, temporários e
reversíveis, classificando-os, assim, como negativos, de reduzida magnitude e significado.
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Fase de exploração
A fase de exploração compreende as ações relativas à existência de barreiras na linha de água interferida (4
açudes); Alterações nos regimes hídricos nas ribeiras interferidas (Ribeira Grande e em dois afluentes desta
e na Ribeira do Ferreiro), com elevado potencial de redução dos caudais nos troços intervencionados;
Desvio dos caudais da Ribeira Grande; Restituição do caudal turbinado na Fajãzinha; Determinação de
caudal ecológico.
Assim, o EIA prevê os seguintes impactes:
- Potenciação da poluição das águas superficiais decorrente da diminuição do efeito depurativo do
escoamento dos caudais;
- Condicionamento do regime hídrico da Ribeira Grande desde as 4 captações (Ribeira Grande e 2 afluentes
e ribeira do Ferreiro) até ao mar,
- Redução substancial dos caudais a jusante dos açudes;
O EIA classifica os impactes nesta fase como negativos, permanentes, de magnitude elevada, contudo muito
local e de abrangência espacial circunscrita, classificando-se o mesmo como significativo.
O EIA apesar de identificar que, na fase de exploração, poder-se-á assistir à degradação da qualidade da
água, não identifica como potencial impacte a eventual alteração do estado da massa de água “Ribeira
Grande”, a qual na situação de referência apresenta estado “Razoável”. Contudo, a CA entende que a
proposta de um programa de monitorização ecológica e avaliação da eficácia do caudal ecológico, permitirá
verificar se o aproveitamento configurará, ou não, uma pressão significativa sobre o estado da massa de
água.
As ações previstas no projeto resultam então, maioritariamente, em potenciais impactes ambientais,
permanentes, relacionados com a alteração do sistema hídrico natural e das respetivas condições ecológicas,
em particular na fase de exploração.
Medidas de Minimização
As medidas propostas pelo EIA são as seguintes:
- Não admissão de descargas de águas de drenagem, efluentes, resíduos e materiais contaminantes nos solos
e/ou cursos de água;
- As atividades de manutenção de maquinaria e manuseamento de combustíveis ou produtos químicos serão
efetuadas em plataformas impermeáveis devidamente dimensionadas e desenvolvidas para controlo de
derrames acidentais;
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- Todas as atividades de obra suscetíveis de influir negativamente nos recursos hídricos serão tanto quanto
possível afastadas dos cursos de água;
- Controlo de todas as escorrências nos locais de obra;
- Assegurar as condições adequadas de implantação, gestão e recuperação dos estaleiros, incluindo os
sistemas de saneamento básico e gestão de resíduos;
- Assegurar o regime de caudal ecológico, conforme preconizado no projeto.
A CA considera que nenhuma medida, à exceção da incluída no projeto, no que concerne ao estabelecimento
de caudal ecológico, está suficientemente pormenorizada para permitir que a sua inclusão em DIA possa
ser alvo de uma fiscalização adequada, embora sejam ações de boa gestão de obra.
Programa de monitorização
Nos aspetos qualitativos, é proposta a monitorização da qualidade ecológica. Para o efeito, o EIA propõe a
amostragem anual nos primeiros 5 anos dos elementos de qualidade biológica (fitobentos e
macroinvertebrados bentónicos) em 4 locais, para 3 fases de implementação do projeto: fase prévia de
construção, fase de construção e fase de exploração.
A CA entende que o programa de monitorização não cumpre a metodologia normativa em vigor (Lei nº
58/2005, de 29 de dezembro, e Decreto-Lei nº 77/2006, de 30 de março), quer no que respeita aos parâmetros
(apenas propostos os biológicos e excluindo os físico-químicos gerais), quer no que respeita à periodicidade.
Assim, o plano de monitorização dos ecossistemas aquáticos deverá decorrer ao longo de toda a vida útil
do aproveitamento para verificar o real impacte ambiental resultante das fases de construção e exploração
do aproveitamento. No que respeita à frequência de amostragem, concorda-se com a amostragem anual, a
qual se deverá manter até a Massa de Água atingir o “Bom” estado. Quando tal se verificar, a frequência de
amostragem poderá passar a ter uma frequência de amostragem de 6 em 6 anos.
Ao longo de um ano, os elementos biológicos devem ser amostrados semestralmente e os elementos de
qualidade físico-química, de suporte aos elementos biológicos, com frequência trimestral. Assim, os
parâmetros físico-químicos gerais e os biológicos a contemplar na monitorização são os constantes da
Tabela 1.
Tabela 1 – Elementos de qualidade para a classificação do estado ecológico de acordo com a Diretiva Quadro da Água
Elementos de qualidade Periodicidade
Biológicos Composição e abundância de diatomáceas bentónicas
Semestral
Composição e abundância de macroinvertebrados bentónicos
Semestral
Físico-químicos
Elementos gerais Condições térmicas Temperatura Trimestral
Condições de oxigenação Oxigénio dissolvido Trimestral
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Salinidade Condutividade Trimestral
Estado de acidificação pH Trimestral
Acidez Trimestral
Alcalinidade Trimestral
Condições relativas aos
nutrientes
Nitrato Trimestral
Fósforo total Trimestral
Poluentes específicos
Substâncias prioritárias Hidrocarbonetos Trimestral
Balanço de oxigénio Carência bioquímica de oxigénio Trimestral
Matérias em suspensão Sólidos suspensos totais Trimestral
Nos aspetos quantitativos, o EIA propõe uma análise anual aos valores de caudal ecológico, utilizando para
isso os dados dos caudais turbinados e os dados das futuras estações hidrométricas que estão a ser
implementadas na zona da Ribeira Grande pela Direção Regional do Ambiente.
A CA entende que o programa de monitorização, quer na componente qualitativa, quer na componente
quantitativa, poderá ser alvo de reavaliação/reajustamento em função dos resultados obtidos e/ou quaisquer
exigências que resultem de legislação comunitária, nacional ou regional publicada durante a vigência do
aproveitamento hidroelétrico. Ainda nesta matéria, no caso particular da componente quantitativa, face à
ausência de registos hidrométricos e, consequentemente, a conceção do projeto ter assente em valores
médios estimados, os valores de caudal ecológico, a par da avaliação da sua eficácia, poderão vir a ser
ajustados em função dos registos que serão medidos (caudais a montante e jusante das captações e caudais
turbinados).
Em suma, os resultados do programa de monitorização sustentarão o eventual ajustamento de medidas que
se venha a revelar necessário, de modo a qua a Massa de Água atinja o “Bom” estado.
3.5 - SOLOS
O EIA começa por referir que os solos nos Açores expressam características da sua origem em materiais
vulcânicos, são modernos e evoluíram sob condições de clima marítimo, temperado húmido, elencando e
descrevendo das tipologias classificadas que ocorrem na Região.
Depois o EIA, especifica esta caracterização regional à ilha das Flores, para se deduzir que na área do
projeto predominam andossolos saturados e insaturados e de boa aptidão, grande porosidade e valores
consideráveis de capacidade de infiltração.
Apesar de pouco pormenorizada a caracterização para os locais de implantação do projeto, dada a tipologia
destes considera-se suficiente, uma vez que na área em que estes estão incluídos em Reserva Agrícola
(RAR) o Instituto Regional de Ordenamento Agrário nada tem a opor à pretensão.
Impactes
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O EIA identifica os seguintes impactes:
Fase de Construção
- Perda do recurso nos locais de implantação de infraestruturas, devido à decapagem do solo, mas em área
diminuta, mas também em locais em que a conduta se situa na Reserva Agrícola;
- Acréscimo do risco de processos erosivos devido à mobilização do solo e de contaminação por máquinas
e viaturas em circulação, na área, assim como compactação do solo devido ao pisoteio.
Estes impactes estão classificados como pouco relevantes em magnitude e significância.
Fase de exploração
- Aumento de processos erosivos nalguns locais devido a alterações do regime de escoamento das linhas de
água ocupadas, compensado pela diminuição noutros pontos, pelo que resulta num impacte neutro.
A CA nada tem a adicionar ao já considerado no EIA.
Medidas de minimização
Fase de construção
- Decapagem da camada superficial dos solos, principalmente nas áreas de RAR e assegurar a sua
reutilização na obra ou na valorização dos solos da área envolvente;
- Separação da terra vegetal escavada da obra para reabilitar áreas intervencionadas, sejam valas, áreas de
estaleiros ou outras de apoio às obras;
- Armazenamento temporário do solo das decapagens, sobretudo da Reserva Agrícola, evitando
contaminação entre solos de natureza diferentes;
- Proceder-se-á à regularização das áreas afetadas pelas obras após o termo dos trabalhos, mediante a
colocação de terra vegetal à superfície e sementeiras com espécies adequadas ao coberto envolvente desde
herbáceas até arbóreas e adaptadas ao meio físico local, sem ser infestantes, nomeadamente urze, queiró e
faia-do-mato;
- Nas zonas de Reserva Agrícola atravessadas pela conduta, esta deverá ser enterrada a uma profundidade
não inferior a 1m;
- No caso dos solos aráveis, a reposição de terra vegetal não deverá ser inferior a 80 cm;
- Gestão correta dos resíduos, óleos e combustíveis e águas residuais produzidas e utilizadas no estaleiro,
através da sua recolha e condução a destino final apropriado.
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Algumas medidas propostas para este fator ambiental correspondem a meras práticas de boa gestão da obra
e de resíduos, inclusive constam como cláusulas no anexo “Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos de
Construção de Demolição. Contudo a CA nada tem a opor a nenhuma delas.
Programa de monitorização
Não é proposto qualquer programa de monitorização para este fator ambiental e a CA também não considera
necessária a sua implementação.
3.6 – PAISAGEM
O EIA começa por explicar os aspetos a considerar na caracterização do conceito de paisagem e de unidade
de Paisagem. Depois explicita algumas das suas características marcantes nos Açores: orografia vigorosa
devido à associação de altitudes elevada e um relevo acidentado estruturado por aparelhos vulcânicos com
redes de drenagem mais ou menos densa com frequência radial.
Em seguida o EIA pormenoriza a paisagem das Flores, com dois níveis geomorfológicos bem diferenciados,
genericamente coincidentes com as unidades geológicas que levam à definição de sete unidades de paisagem
implantando-se o projeto na denominada Fajãs que se situa no nível orla periférica, uma superfície isolada por grandes
escarpas de onde caem muitas cascatas, vegetação densa com uma relação privilegiada com o mar, onde estão
implantados vários povoamentos e entre estes áreas agrícolas em socalcos não muito pronunciados compartimentados
por muretes de pedra
A CA considera que este fator ambiental foi adequadamente trabalhado, apenas tem a referir que a unidade
paisagística é reconhecida por muitos visitantes e população açoriana como uma das de maior beleza dos Açores e no
cimo das escarpas existem vários miradouros diretamente para esta.
Impactes
Fase de Construção
- Desorganização espacial, sobretudo, associada à construção da conduta forçada, para pontos de observação
identificados em carta, e na área de estaleiro, uma vez que os locais dos açudes apresentam baixa exposição
visual e isolados.
Este impacte é classificado de negativo, temporário, de magnitude moderada e de significância reduzida.
Fase de exploração
- Visualização de estruturas construídas à superfície, sobretudo as sobre-elevadas como o açude do Ferreiro
e câmara de carga.
Este impacte é classificado de magnitude reduzida e de significância reduzida ou nula em função das
soluções de arquitetura adotadas.
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Medidas de Minimização
O EIA propõe várias medidas para diminuir a descaracterização da paisagem onde algumas destas se
estendem da fase de construção para a de exploração que abaixo são expostas já com algumas alterações
introduzidas pela CA:
- Programar os trabalhos de mobilização de terras para afetação mínima e dispersão pelo território, incluindo
o sentido dos trabalhos;
- Verificar da possibilidade de camuflar o pequeno trecho de conduta forçada colocada a céu aberto de modo
a evitar o efeito luminoso da reflexão do aço;
- Utilização de acabamentos e formas tradicionais nos edifícios e uso de espaços verdes e cortinas arbóreas
de modo a integrar ou se conveniente ocultar esses imóveis;
- Evitar a passagem de maquinaria e veículos e o seu parqueamento fora dos circuitos previamente
estabelecidos para o efeito;
- Proceder à recuperação paisagística de todas as áreas intervencionadas durante as obras, incluindo acessos
temporários, zonas de empréstimo e de depósito de materiais, taludes através de ações de regularização do
terreno, espalhamento de terra vegetal, sementeiras e plantações.
A CA tem ainda a adicionar a seguinte medida:
- Pulverizar/humedecer as vias de acesso ou áreas de circulação de maquinaria nas áreas de intervenção
sempre que houver necessidade de reduzir emissão de poeiras junto das habitações na povoação da
Fajãzinha.
Programa de monitorização
O EIA não propõe qualquer programa de monitorização para a paisagem e a CA considera desnecessário a
sua implementação.
3.7 – ASPETOS ECOLÓGICOS
O EIA refere, designadamente, que:
- Em síntese, toda a área de estudo diretamente intervencionada foi objeto de recolha de informação ao nível
de todos os descritores ambientais em avaliação, com particular detalhe para os aspetos ambientais
considerados mais relevantes, designadamente, Aspetos ecológicos - inventariar espécies presentes e
respetivos estatutos biogeográficos (endemismos insulares, lusitânicos e ibéricos) e/ou espécies abrangidas
por legislação nacional e regional. Foram recolhidos dados sobre as comunidades presentes na Ribeira
Grande e na Ribeira do Ferreiro, principais linhas de água a serem interferidas,
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- Procedeu-se à identificação das seguintes áreas de estudo, para além naturalmente, dos respetivos,
enquadramentos nacional e regional, designadamente Aspetos Ecológicos - a nível local foi identificada
como área de estudo aquela que agrega Faixa de 100 m em torno da Ribeira Grande e dos elementos do
projeto, incluindo a central hidroelétrica, condutas, câmara de carga, câmara de reunião e desarenadores e
Faixa de 200 m relativamente aos açudes/captações;
- A área de implantação do AH da Ribeira Grande interfere com área sensível do ponto de vista da
conservação da natureza, nomeadamente com a Área de Paisagem Protegida da Zona Central e Falésias da
Costa Oeste, onde o projeto prevê implantar os componentes de 4 captações, os 2 desarenadores, as câmaras
de válvulas e de reunião de caudais, o posto de seccionamento e ≈ 700 m do circuito hidráulico que respeita
às 3 aduções por gravidade, cujos caudais se vão reunir na câmara de reunião de caudais. Existindo uma
penetração nesta área protegida de uma faixa de 200 m para o seu interior;
- Metodologia de campo de Ictiofauna - No decorrer dos trabalhos de campo foram visitadas as linhas de
água afetas ao projeto, tendo-se registado as suas caraterísticas. Não foram efetuadas amostragens
direcionadas à ictiofauna, tendo-se obtido informação relativamente à presença da enguia através de fonte
bibliográfica da EDA;
- Os troços superior e intermédio da Ribeira Grande encontram-se abrangidos pelo PNI das Flores, mais
concretamente pela Área de Paisagem Protegida da Zona Central e Falésias da Costa Oeste [FLO08] e pela
Reserva Natural do Morro Alto e Pico da Sé [FL002];
- Flora da área de estudo - De acordo com os dados recolhidos foi possível identificar para a área de estudo
95 espécies e subespécies, e, 94 géneros distribuídos por 58 famílias. No total, os endemismos e os taxa
protegidos representam 22,1% dos elementos florísticos identificados no decorrer dos trabalhos realizados,
perfazendo um total de 21 espécies e subespécies. Destas, salientam-se Azorina vidalii, Chaerophyllum
azoricum, Picconia azorica e Erica azorica;
- De destacar a inexistência de habitats naturais na área de estudo, sendo que as formações observadas se
encontram alteradas, fruto das intervenções humanas sobre o território e da invasão de espécies exóticas
sobre os habitats originais;
- Em conclusão, o valor florístico da área de estudo considera-se mediamente interessante no contexto
regional. A área de estudo considerada é maioritariamente intervencionada, no entanto, na área costeira, nas
áreas florestais e nas áreas agrícolas ocorrem 21 espécies e subespécies com relevo conservacionista onde
se incluem 19 espécies endémicas dos Açores, 7 espécies protegidas pelo Decreto-Lei n.º 316/89, de 22 de
setembro, e 25 espécies protegidas pelo Decreto-Lei Regional n.º 15/2012/A, de 2 de Abril;
16
- De acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al., 2006), a enguia utiliza
temporariamente os sistemas dulçaquícolas dos Açores, não completando aí o seu ciclo de crescimento e
maturação sexual. Tendo presente o programa de monitorização da enguia em curso para a Ribeira Quente
(Pereira, 2016, 2015, 2014), na ilha de S. Miguel, as enguias de vidro entram na ribeira de forma sistemática,
em quantidades variáveis consoante os anos, tentando migrar para montante, o que indicia que podem de
facto ter o seu desenvolvimento nestes sistemas, situação que se assume igualmente possível no caso da
Ribeira Grande em Avaliação;
- Em conclusão, o valor faunístico da área de estudo não se assume como particularmente relevante. Com
efeito, os biótopos presentes não oferecem condições particularmente adequadas para as espécies endémicas
e/ou com estatuto de proteção. No caso das aves, o grupo claramente mais diverso, realça-se a presença
próxima de áreas de reconhecido valor (ZPEs e IBAs), não estando, contudo, estas incluídas na área de
estudo nem aparentando esta última ter habitats muito relevantes para as espécies mais importantes neste
âmbito.
Entre os biótopos presentes, destaca-se a praia, por apresentar uma riqueza potencial de espécies muito
superior à dos restantes,
- A projeção da situação de referência incidirá, em particular, na avaliação da população da espécie
migradora catádroma enguia-europeia, a única espécie autóctone para qual existe informação de presença
confirmada na Ribeira Grande, bem como na caracterização da área disponível para esta espécie.
Atualmente, face ao desconhecimento da distribuição da espécie na bacia da Ribeira Grande, admite-se que
toda a área da bacia hidrográfica se encontra potencialmente disponível para ocupação pela enguia-europeia.
No entanto, será expectável que a área a montante da bacia seja inacessível pela existência de obstáculos
naturais, nomeadamente as fragas verticais existentes na transição da zona litoral para a de planalto. Num
cenário de ausência do projeto e desconhecendo-se outras fontes de pressão locais que venham a condicionar
a população de enguia-europeia, prevê-se a manutenção das condições existentes atualmente na Ribeira
Grande para a sua sustentação.
Impactes
O EIA refere que de um modo geral os aproveitamentos hidroelétricos têm os seguintes efeitos na flora,
fauna e habitats:
- Implicam perda do coberto vegetal devido à ocupação direta das infraestruturas;
- Provocam o revolvimento temporário e reversível de terras e a destruição da vegetação, devido ao
enterramento das condutas;
17
- Introduzem barreiras físicas nos cursos de água, com interrupção do continuum do meio aquático com
consequentes impactes na fauna aquática;
- Implicam a diminuição de caudal a jusante das captações.
Fase de construção
Para esta fase o EIA identifica os seguintes impactes:
Flora e vegetação
- Apenas na zona costeira, no troço final da conduta e na área de construção da CHRG, é expetável a afetação
de alguns exemplares de espécies endémicas protegidas como serão os casos da vidália (Azorina vidalii),
do cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) e da Chaerophyllum azoricum;
O EIA refere que em síntese, no seu todo, o projeto afeta uma área reduzida e maioritariamente de valor
florístico pouco relevante pelo que os impactes globais na Flora e Vegetação são avaliados como negativos,
diretos, permanentes, de baixa magnitude e muito pouco significativos.
Fauna aquática
- A realização das obras irá causar a destruição do habitat nos troços intervencionados os quais ficarão ainda
sem caudal (devido ao desvio do rio), levando à redução do habitat e corte do continuum ecológico, com
eventual afetação das comunidades biológicas aí existentes. Esta ação impactará principalmente as
comunidades de macroinvertebrados bentónicos e a enguia. Contudo, admite-se viável a recolonização dos
troços afetados na sequência imediata da conclusão das obras, seja ao nível da vegetação seja dos
macroinvertebrados, havendo condições para a sobrevivência de espécies como a enguia. Assim, admite-se
que a construção do aproveitamento irá causar impacte negativo, direto, temporário, de baixa magnitude, e
pouco significativo.
- Também as alterações nas características físico-químicas da água devidas ao aumento da turbidez e de
partículas em suspensão, irão influir de forma potencialmente negativa na estrutura das comunidades
presentes, sobretudo naquelas mais sensíveis e com menor capacidade de adaptação a estas diferentes
condições. Contudo, mais uma vez se tratam de situações muito temporárias e que impactam apenas esta
ribeira (entre as cerca de 20 ribeiras da ilha das Flores e outras linhas de água de menor expressão),
determinando impacte negativo, direto, temporário, de baixa magnitude e pouco significativo.
- No que diz respeito à fauna terrestre, as intervenções a realizar irão conduzir, regra geral, à perda de habitat
e perturbação associada aos trabalhos e circulação de máquinas e equipamentos.
18
- No caso da perda de habitat, dada a dimensão do projeto e a sua incidência essencialmente em ambientes
dominados por vegetação exótica, considera-se o impacte negativo, direto, permanente, de reduzida
magnitude e pouco significativo.
- O biótopo mais relevante para a fauna terrestre, a praia, prevê-se que venha a ser pouco afetado, sendo os
impactes mais relevantes aqueles relativos à perturbação proveniente da fase de construção. Este impacte
prevê-se que seja negativo, direto, temporário, de baixa magnitude e muito pouco significativo.
Fase de exploração
- Na fase de exploração do empreendimento as incidências potencialmente negativas estarão associadas às
implicações permanentes iniciadas durante a construção, e que se associam ao seccionamento das linhas de
água devido à interposição dos açudes e, consequentemente, quebra do continuum fluvial, bem como à
redução do caudal das ribeiras para jusante, com repercussões na fauna aquática, nomeadamente para a
enguia, devido a Introdução de barreira; Alteração do regime hidrólogo das ribeiras, devido à diminuição
do caudal a jusante dos açudes/captações; Diminuição dos nutrientes e sedimentos que ficarão retidos;
Alteração potencial da hidromorfologia das ribeiras pela alteração dos processos naturais de
erosão/acumulação.
De facto, as alterações introduzidas pelo projeto poderão influir no ciclo de reprodução da enguia que sobe
as ribeiras da região dos Açores. Contudo, admite-se viável a capacidade da enguia se deslocar para
montante, seja devido à humidade elevada a nível local, seja devido à muito provável ocorrência de caudais
de cheia, bem como à reduzida altura do açude a criar.
- No que respeita à vegetação, admite-se que rapidamente serão repostas as condições pré-existentes, sendo
de registar impactes reduzidos a nulos sem significado.
- Já no tocante aos possíveis impactes na fauna aquática, nomeadamente na enguia europeia pode-se afirmar,
e tendo presente os resultados de monitorização em curso na ilha de S. Miguel, que durante o seu período
juvenil a enguia ao realizar a migração de jusante para montante, conseguirá transpor os obstáculos criados
pelo projeto por estes serem de dimensões reduzidas; Por outro lado, relativamente à redução do caudal,
também a magnitude não será relevante uma vez que se constata que as enguias juvenis realizam os seus
processos migratórios em água doce quando os caudais das ribeiras estão mais reduzidos, admitindo-se que
a migração ao longo da ribeira é passível de ser realizada durante grande parte do ano, com o caudal
ecológico ambiental previsto.
- Acresce referir ainda que a existência de muitas outras ribeiras similares nas imediações poderá garantir,
por si só, a viabilidade local desta espécie, para além naturalmente das restantes ilhas do arquipélago.
19
Em suma o EIA identifica, devido ao aproveitamento em apreço, impactes negativos, contudo de magnitude
muito reduzida a nula, e muito pouco significativos neste domínio.
Medidas de Minimização ou de Potenciação
Fase de construção
As medidas propostas pelo EIA são as seguintes:
- Restringir tanto quanto possível as áreas a afetar à obra, incluindo a circulação de máquinas e
trabalhadores, delimitando-a e sinalizando-a de forma adequada;
- Para instalação de estaleiros e zonas de apoio à obra recorrer, dentro do possível, a áreas já degradadas; se
tal não for viável, as unidades de apoio à obra deverão privilegiar áreas sem vegetação desenvolvida e/ou
arbórea, ou áreas com vegetação autóctone;
- Será reduzido ao mínimo indispensável o corte de vegetação arbórea e, se viável, arbustiva;
- Prever, no início da obra, especialista em Flora e Vegetação, que identificará objetivamente as
zonas/exemplares de vegetação autóctone, endémica e/ou protegida, bem como maciços arbóreo-arbustivos
a salvaguardar. Preconiza-se a adoção das seguintes medidas de: Identificação e catalogação da vegetação
relevante com destaque para exemplares de Cedro-do-mato (Juniperus brevifolia), Área de habitat de vidália
(Azorina vidalii); Área de habitat de Chaerophyllum azoricum;
- No caso de exemplares passíveis de serem diretamente afetados pela implantação das estruturas
construídas, o especialista designado deverá avaliar, conjuntamente com o proponente e a autoridade
ambiental local, a melhor forma de preservação, a qual poderá passar por: Admite-se como mais viável a
consideração de estrutura simples de banco de sementes visando a sua utilização nas ações de replantação
e estabilização biofísica subsequentes às obras; Quando estejam em causas exemplares em excelente estado
ecológico e boas condições sanitárias, e se identifiquem locais alternativos suscetíveis de os receber em
condições adequadas, poder-se-á ponderar o interesse e eficácia de realizar o transplante pontual para local
adequado; este será executado em bloco, ou seja, planta + substrato onde se encontra, para áreas envolventes
próximas em tudo semelhantes ao habitat que esta ocupava;
- Já no caso de exemplares passíveis de serem indiretamente afetados pelas atividades afetas à obra, serão
adotadas as medidas cabíveis dentre as seguintes: Identificação de acessos/locais de apoio à obra
alternativos; Caso inviável, adoção de fita sinalizadora no perímetro dos espécimenes vegetais a proteger;
Educação ambiental dirigida aos trabalhadores com explicação das razões de salvaguarda;
- As áreas/exemplares de vidália, de Chaerophyllum azoricum ou quaisquer outros pertencentes a espécies
protegidas, a serem afetados por questões imperativas do empreendimento, serão objeto de transplante;
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- Para minimizar a propagação de espécies exóticas infestantes, toda a matéria vegetal resultante do corte
de espécies como as canas ou a conteira, deverá ser destruída;
- A equipa a afetar à obra integrará ação de formação/sensibilização, no âmbito do plano de gestão ambiental
da obra, onde os requisitos legais relativos à fauna e à flora serão apresentados, visando reduzir a sua
afetação, a introdução/proliferação de exóticas, entre outros aspetos identificados como relevantes;
- O projeto não deverá contribuir para o fomento da vegetação não autóctone, pelo que, seja na reabilitação
das áreas afetadas pela obra, seja nas áreas envolventes das infraestruturas do projeto, serão adotadas
espécies nativas;
- As grelhas a instalar nas tomadas de água do tipo tirolesa, nomeadamente a captação na Ribeira Grande e
no 1º Afluente, deverão ter barras equidistantes com distância entre si não superior a 4,8 cm, por forma a
permitir a passagem de enguias adultas;
- Prever a implementação de medidas de gestão da população de enguia-europeia na Ribeira Grande, através
da adoção de Programa de Monitorização da enguia europeia, a iniciar-se ainda na fase de pré-construção e
que se estenderá até à fase de exploração;
- Na monitorização dever-se-á igualmente avaliar: A eficácia do caudal ecológico através da monitorização
da qualidade ecológica da água nos trechos a jusante das infraestruturas construídas e a avaliação da
mortalidade de espécies aquáticas causada pela central.
Fase de exploração
Nesta fase, no sentido de minimizar os impactes resultantes da alteração do regime hidrológico,
particularmente no troço compreendido entre as captações e a restituição da central, a principal preocupação
consiste em assegurar um caudal mínimo a jusante dos açudes. Assim deverá assegurar-se um regime de
caudais ecológicos, que assegure:
- Um caudal mínimo que assegure a quantidade de água necessária para os usos existentes;
- Manutenção do caudal necessário para manter as biocenoses dele dependentes – caudal ecológico;
- Assegurar uma gestão adequada do caudal ecológico da ordem de 20% do caudal médio anual;
- Considerar Programa de Monitorização dos Ecossistemas Aquáticos visando, se justificável, a adoção de
medidas adicionais.
PLANO GERAL DE MONITORIZAÇÃO
O EIA refere que o Plano Geral de Monitorização Ambiental (PGM) respeitante ao projeto do
Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande, desenvolvido em fase de Projeto de Execução, o qual
deverá ser ajustado, se justificável, na sequência da emissão da Declaração de Impacte Ambiental.
21
Refere ainda o EIA que as atividades a desenvolver no âmbito do Programa de monitorização dos
ecossistemas aquáticos consistirão fundamentalmente em: Monitorização da população de enguia-europeia,
envolvendo: Caraterização da população de enguia-europeia, com subsequente adoção, caso justificável, de
medidas de gestão ambiental; Monitorização da eficácia das medidas de gestão ambiental da enguia-
europeia, Avaliação da eficácia do caudal ecológico, através da monitorização da qualidade ecológica.
A Caraterização da população de enguia-europeia:
- Objetivos - Caraterização da situação da referência população adulta de enguia-europeia na Ribeira
Grande, e de outras espécies,
- Parâmetros a monitorizar - Distribuição longitudinal; Abundância; Estrutura dimensional da população;
Presença de ectoparasitas,
- Locais a Monitorizar - Monitorização da população em 5 estações de amostragem, 3 na Ribeira Grande e
duas na ribeira do Ferreiro,
- Técnicas e Métodos de Análise e Registo - Amostragem por pesca elétrica,
- Periodicidade e Duração das Medições - A monitorização será realizada antes das atividades de construção,
durante a fase de construção, e posteriormente na fase de exploração, cumprindo os seguintes objetivos:
Fase de pré-construção, a efetuar na Primavera, no Verão e no Outono visando estabelecer, de forma mais
fiável, a situação de referência da enguia nas linhas de água a intervencionar.
Caso os resultados das primeiras campanhas permitam identificar uma população de enguia-europeia
estruturada, a monitorização deverá manter-se: Durante a fase de construção a efetuar na Primavera, no
Verão e no Outono, com o objetivo de identificar, desde logo, eventuais desvios devidos à realização das
obras; seguindo-se durante a exploração, a efetuar na Primavera, no Verão e no Outono, com o objetivo de
avaliar as alterações introduzidas pelo projeto na viabilidade das comunidades de enguia europeia nestas
linhas de água; dever-se-á ainda, tanto quanto possível e adequável, e para uma maior concentração de
informação e facilidade de análise, disponibilizar-se a informação constante dos Quadros B e C do
documento “Informação e documentação necessária para análise da necessidade de construir um dispositivo
de passagem para peixes numa determinada obra transversal fluvial” (ICNF) disponível em:
http://www.icnf.pt/portal/pesca/gr/pass-peix/resource/doc/ppp/doc-nec-passpeix
de acordo com o referido, na fase de construção/pré-construção admite-se a realização das seguintes
campanhas: Fase de Pré-construção – deverão ser realizadas 3 campanhas: na Primavera, no Verão e no
Outono; Fase de Construção – Anualmente na Primavera, no Verão e no Outono.
22
- Periodicidade dos Relatórios e Revisão do Programa de Monitorização - Relatório anual caracterizando a
população de enguia europeia ao nível dos parâmetros monitorizados, incluindo a indicação das medidas de
gestão a adotar face aos resultados obtidos.
Medidas de Gestão Ambiental
Caso se identifiquem comunidades consistentes de enguia-europeia na Ribeira Grande, serão
implementadas medidas de gestão da população, conforme seguidamente se elencam. Estas medidas de
gestão da população da enguia-europeia deverão ser sujeitas a parecer e aprovação por parte da Direção
Regional do Ambiente dos Açores (Autoridade de AIA).
- Objetivos - A existência de uma população de enguia-europeia estruturada ativará a implementação de
medidas de gestão ambiental que visam minimizar os impactes do projeto, nomeadamente: (1) Impedimento
ou dificultação da migração das enguias juvenis para montante provocadas pela quebra do contínuo lótico
entre a tomada de água e o local de restituição do caudal ecológico (esta ocorrência poderá envolver um
trecho muito curto a jusante das estruturas de retenção de caudais a desenvolver); (2) Impedimento ou
dificultação da migração das enguias adultas para jusante devido à atração/captura dos indivíduos para o
sistema hidráulico e consequente mortalidade por turbinamento; (3) Impedimento ou dificultação da
migração das enguias juvenis para montante provocadas pela diminuição do caudal a jusante das tomadas
de água, pelo acentuar do efeito barreira de alguns desníveis naturais.
- Métodos - Caso as situações de impacte anteriormente referidas venham a ser confirmadas, dever-se-á
equacionar a adoção, individual ou conjugada, das medidas a seguir referidas:
Implementação entre o local de libertação do caudal ecológico e a montante da tomada de água,
de dispositivos de transposição para montante. Os dispositivos a instalar serão adequados às
capacidades de transposição de enguias, permitindo a passagem de enguias de vidro,
assegurando-de-vidro e serão construídos baseado no conhecimento existente (Baudoin et al.
2014; Environment Agency 2009; EPRI 2002), e de acordo com as características do projeto. No
caso dos dispositivos de transposição para montante, serão utilizados os dispositivos já utilizados
pela EDA RENOVÁVEIS no âmbito do “Projeto de Recuperação da População de Enguia
Europeia na Ribeira Quente” cuja eficácia vem sendo comprovada através da sua monitorização
(Pereira, 2016),
Implementação de dispositivos de encaminhamento que impeçam a entrada das enguias adultas,
em processo de migração para jusante, no circuito hidráulico ou, em alternativa, de vias de fuga
em diferentes partes do circuito hidráulico antes da entrada na central hidroelétrica. Das
23
possibilidades de dispositivos existentes (Environment Agency 2009; EPRI 2002) será avaliada
as que mais se adequam às características do projeto,
Inventariação hidromorfológica na Ribeira Grande a jusante do local de libertação do caudal
ecológico como objetivo de identificar secções críticas (desníveis naturais) tomadas de água que
se tornem intransponíveis em situação de caudal ecológico. A avaliação da transponibilidade será
efetuada de acordo com os métodos desenvolvidos por Baudoin et al. (2014) nos locais
identificados através da inventariação hidromorfológica.
Os dispositivos de transposição para montante e os dispositivos de fuga para jusante estarão equipados com
armadilhas para captura ou com dispositivos de contagem automática, respetivamente, a montante e a
jusante dos dispositivos, que permitam monitorizar os indivíduos que utilizem o dispositivo e assim aferir
a sua eficácia.
- Localização das Medidas de Gestão Ambiental - Conforme anteriormente referido, as medidas de gestão
ambiental deverão ser adotadas, individual ou cumulativamente, nos seguintes locais: Setor entre a tomada
de água e a libertação do caudal ecológico; Circuito hidráulico; Secções críticas identificadas no troço da
Ribeira Grande a jusante do local de libertação do caudal ecológico.
- Implementação de Medidas - Caso seja confirmada a importância das comunidades de enguia europeia
presentes, recomenda-se que os dispositivos de gestão ambiental propostos (dispositivo para transposição
da enguia entre o local de libertação do caudal ecológico e a tomada de água, e os dispositivos que impeçam
a entrada no circuito hidráulico pelas enguias de adultas ou vias de fuga para estas) sejam implementados
simultaneamente ao projeto, estando ativos no início da fase de exploração. Já no tocante à inventariação
de secções críticas na Ribeira Grande, deverá ser efetuada, após a entrada em exploração do projeto, e num
período em que a ribeira a esteja exclusivamente dependente do caudal ecológico, a validação das barreiras
inventariadas nas fases de construção e pré-construção. Em função dos resultados obtidos, isto é, se se
confirmar a demanda desta ribeira por comunidades expressivas de enguia-europeia, serão implementadas
medidas de minimização das barreiras encontradas (ex.: mediante remoção de pedras de dimensões
elevadas, abertura de canais em zonas de escombreira, ou dispositivos de transposição nos casos
justificáveis), visando assegurar uma maior transponibilidade do trecho da Ribeira Grande entre as
estruturas de captação do aproveitamento e a foz da ribeira.
Caso venham a ser propostas /adotadas medidas específicas, estas serão objeto de projeto de
desenvolvimento dos dispositivos de transposição/encaminhamento a implementar. Esse relatório conterá
igualmente a inventariação de secções críticas e dos impactes identificados.
Monitorização da eficácia de Medidas de gestão da enguia-europeia
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- Objetivos - Avaliação da eficácia das medidas implementadas. Em concreto proceder-se-á à avaliação de:
Implementação dos dispositivos de transposição nos sectores entre a tomada de água e a libertação do caudal
ecológico; Escape do Circuito hidráulico e grau de mortalidade na Central; Secções críticas identificadas
no troço da Ribeira Grande a jusante do local de libertação do caudal ecológico.
- Parâmetros a monitorizar - Nº de enguias a utilizar os dispositivos (de transposição e de escape);
Distribuição longitudinal ao longo das linhas de água (com avaliação em particular dos seguintes sistemas
a montante das estruturas de projeto, jusante das estruturas de projeto, nas secções críticas ao longo da
Ribeira Grande). Em todos estes pontos determinar Abundância; Estrutura dimensional da população;
Ectoparasitas.
- Locais a Monitorizar - Dispositivos de transposição/encaminhamento, vias de fuga; Monitorização da
população adulta de enguia em 5 estações de amostragem, 3 na Ribeira Grande e duas na ribeira do Ferreiro;
Monitorização da mortalidade na central.
- Técnicas e Métodos de Análise e Registo - Captura por armadilhagem ou contagem via dispositivo
automático, dos indivíduos nos dispositivos de transposição/encaminhamento ou vias de fuga; Amostragem
por pesca elétrica da população adulta de enguia-europeia a efetuar no âmbito na monitorização da
população de enguia-europeia.
- Periodicidade e Duração das Medições - A monitorização será realizada durante a exploração, com o
objetivo de avaliar as alterações introduzidas pelo projeto na viabilidade das comunidades de enguia
europeia nestas linhas de água. Já no tocante à periodicidade da monitorização na Fase de Exploração
recomenda-se: Monitorização dos dispositivos de transposição/encaminhamento: monitorização mensal no
1º ano de exploração do projeto. Após este ano, e em função dos resultados obtidos (quer neste 1º ano quer
nas fases de pré-construção e construção) será definida a continuidade da monitorização; Monitorização da
população adulta de enguia: Anualmente na Primavera, no Verão e no Outono, nos primeiros 5 anos,
seguindo-se amostragens trianuais enquanto justificável.
- Periodicidade dos Relatórios e Revisão do Programa de Monitorização - Relatório anual com descrição e
discussão dos resultados obtidos e indicação de ajustamentos a adotar para melhorar a eficácia das medidas
implementadas.
- Medidas de Gestão Ambiental - Caso justificável serão delineadas medidas de gestão adicionais. que
deverão ser sujeitas a parecer e aprovação por parte da Direção Regional do Ambiente dos Açores
(Autoridade de AIA).
Avaliação da eficácia do Caudal ecológico através da monitorização da qualidade ecológica
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Avaliação da eficácia do Caudal ecológico através da monitorização da qualidade ecológica como referida
acima no fator “Recursos Hídricos”.
- Medidas de Gestão Ambiental - Caso justificável serão delineadas medidas de gestão adicionais.
- No Quadro 7.5.1 é apresentado o planeamento das atividades descritas no ponto anterior para as diferentes
fases de projeto.
A CA,
Considerando que a espécie Anguilla anguilla (Enguia) foi alvo do REGULAMENTO (CE) N.º 1100/2007
DO CONSELHO, de 18 de setembro de 2007, que estabelece medidas para a recuperação da unidade
populacional de enguia europeia,
Considerando que Anguilla anguilla é uma espécie aquícola protegida por interesse regional, conforme
consta no Anexo II do Decreto Legislativo Regional n.º 15/2012/A, de 2 de abril,
Considerando que de acordo com o disposto no Artigo 164.º do Decreto Legislativo Regional n.º 15/2012/A,
de 2 de abril, é proibida a captura de espécimes da espécie Anguilla anguilla por qualquer método e em
qualquer habitat onde a mesma ocorra,
Considerando o conhecimento base sobre a enguia-europeia em território da RAA, designadamente as suas
características e estado atual das populações,
Considerando as evidências, designadamente as dispostas no EIA, da existência de uma população de
Anguilla anguilla na área de estudo,
Considerando que conforme referido no EIA Não foram efetuadas amostragens direcionadas à ictiofauna,
tendo-se obtido informação relativamente à presença da enguia através de fonte bibliográfica da EDA,
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Considerando que a bibliografia aponta os dispositivos de passagem para peixes adequados à enguia
europeia como medidas minimizadoras dos impactes negativos decorrentes da construção de novas
infraestruturas hidráulicas com vista ao restabelecimento do continuum fluvial,
Entende que:
- Na realização da aferição da caracterização da situação de referência da população de enguia-europeia nas
linhas de água a intervencionar, na Fase de pré-construção, a efetuar na Primavera, no Verão e no Outono,
conforme referido e proposto no EIA, podendo no entanto ser alargada por forma a completar um ciclo
anual, em complemento de amostragem por pesca elétrica, nas “Técnicas e Métodos de Análise e Registo”,
devem ser utilizadas outras técnicas ou metodologias específicas direcionadas à captura da espécie,
designadamente a utilização de armadilhas ou de redes em zonas mais profundas. Para além do disposto no
EIA, a referida caracterização da situação de referência deve ser o mais completa possível, devendo para
tal indicar, designadamente, localização dos troços de amostragens; integrar novos de pontos de amostragem
adicionais que sejam necessários; datas das amostragens; metodologias utilizadas para a captura da enguia,
identificação dos locais onde foram aplicadas e respetiva eficácia; distribuição detalhada preferencial da
enguia ao longo dos cursos de água na área em estudo; informação relativa à estrutura populacional da
enguia (tamanho/idade), assim como a sua relação com os locais de amostragem e o n.º total de indivíduos
capturados e no total das amostragens, etc.,
- O Plano Geral de Monitorização Ambiental (PGM) deve ser ajustado, e bem as medidas de minimização
e compensação, aos resultados da aferição da caracterização da situação de referência da população de
enguia-europeia nas linhas de água a intervencionar, na Fase de pré-construção, e sujeito a parecer e
aprovação da Autoridade de AIA antes da Fase de construção,
- Face aos resultados obtidos na aferição da caracterização da situação de referência da população de enguia-
europeia, confirmando-se a expectável presença de Anguilla anguilla (Enguia) na área de estudo, o
proponente, como referido no EIA, e na Fase de pré-construção, disponibilizar à Autoridade Ambiental para
parecer e aprovação antes da Fase de construção, a informação relativa aos Quadros B e C, do documento
elaborado pelo do ICNF “Informação e documentação necessária para análise da necessidade de construir
um dispositivo de passagem para peixes numa determinada obra transversal fluvial” disponível em
http://www.icnf.pt/portal/pesca/gr/pass-peix/docs-apoio#1,
- A escolha de determinada solução de dispositivo de passagem para peixes para assegurar a migração das
enguias juvenis para montante e dos adultos reprodutores de volta ao mar deve ser devidamente justificada
em detrimento de outras, sendo que a CA aconselha, designadamente, a consulta de “Dispositivos de
passagem para peixes em Portugal”, Marta Santo, DGRF, Lisboa, 2005,
- À Autoridade de AIA fica reservado o direito de solicitar pareceres especializados a entidades externas,
27
- Os relatórios de monitorização da eficácia das medidas de gestão ambiental da enguia-europeia e da
Avaliação da eficácia do caudal ecológico, através da monitorização da qualidade ecológica deverão ser
apresentados à Autoridade de AIA respeitando, com necessárias adaptações, a estrutura definida no Anexo
V da Portaria 330/2001, de 2 de abril,
- Durante a Fase de construção deve proceder-se, no mínimo, à manutenção do caudal ecológico,
- Eventual corte, destruição ou desenraizamento de espécimes vegetais de espécies protegidas, pelo Decreto-
Legislativo Regional n.º 15/2012/A, de 2 de abril, designadamente: Juniperus brevifolia (Cedro-do-mato),
Azorina vidalii (Vidália), Chaerophyllum azoricum, Picconia azorica (Pau-branco) e Erica azorica (Urze),
carece de licença a emitir para o efeito pela Autoridade Ambiental,
- Rizomas e fragmentos de Arundo donax (Cana) e Hedychium gardneranum (Conteira) resultante de cortes
deverão ser removidos do local e/ou acondicionados de forma a não se regenerarem.
3.8 - QUALIDADE DO AR
O EIA não consultou a rede regional da Qualidade do Ar, cuja estação mais próxima se encontra no Faial,
optou por efetuar um levantamento das principais fontes e atividades emissoras de poluição existentes na
área de estudo e na capacidade de depuração e de dispersão desta para admitir que possui uma boa qualidade
do ar ambiente.
Apesar de pouco aprofundada a caracterização deste fator ambiental, dada a tipologia do projeto e a
coerência com os dados resultantes da estação de referência, a CA aceitou como suficiente a descrição
apresentada.
Impactes
Fase de construção
O EIA estima que os trabalhos de construção devem levar a um acréscimo das emissões gasosas e poeiras
gerando um impacte negativo, localizado, temporário de magnitude e significado reduzido.
A CA reconhece que este tipo de emissões são as normais de qualquer obra de construção civil pública ou
privada e, devido à elevada humidade do solo por questões climáticas, os seus efeitos raramente se fazem
sentir além de umas dezenas de metros dos locais de trabalho.
Fase de exploração
O EIA considera que nesta fase há um impacte de âmbito regional positivo, permanente de magnitude e
significado pouco expressivo correspondendo à diminuição da queima de combustíveis para a produção de
energia potenciando a melhoria da qualidade de vida da população.
28
A CA concorda com a qualificação deste impacte, mas considera que tal não será percetível pela população
em termos de qualidade do ar.
Medidas de minimização
Apenas uma medida é proposta no EIA que se apresenta já modificada pela CA
- Aspersão do solo nos locais de construção e acessos não pavimentados sempre que verificada tal
necessidade para reduzir a emissão de poeiras.
Programa de monitorização
Não é proposta qualquer monitorização e a CA também a considera desnecessária.
3.9 – RUÍDO
Neste fator também o EIA não fez medições e optou por identificar a caracterizar as fontes de ruído e
atividades mais comuns na área de estudo para concluir que globalmente possui um ambiente acústico de
qualidade.
Embora pouco aprofundada a caracterização deste fator ambiental, dada a tipologia do projeto a CA aceitou
como suficiente a descrição apresentada.
Impactes ambientais
O EIA identifica os seguintes impactes no ambiente acústico em resultado do projeto:
Fase de construção
- Aumento do ruído devido ao tráfego para a obra, funcionamento de equipamentos e maquinaria para a
construção e execução da vala de ocorrência limitada aos trabalhos.
O EIA tem em consideração estar-se numa zona pouco ruidosa e a proximidade de um aglomerado urbano,
reconhecendo que as perturbações serão localizadas no espaço e tempo, pelo que este impacte é avaliado
como negativo, direto temporário, local, de magnitude potencialmente moderada, mas de reduzido
significativo.
A CA considera que o EIA avaliou de forma adequada este impacte as emissões de máquinas e viaturas,
mas, tendo em consideração as especificidades da envolvente, nos períodos de frentes de trabalho próximo
da Fajãzinha este impacte será mais significativo, bem como, no caso de vir a ser de facto necessário utilizar
explosivos, aquando da ocorrência de explosões.
Contudo a CA reconhece que este tipo de ruído e vibrações são normais em qualquer obra de construção
civil pública ou privada e à exceção das explosões, efeitos significativos raramente se devem fazer sentir
para além de uma centena de metros das frentes de trabalho.
29
Fase de exploração
Apesar de reconhecer que a central hidroelétrica emite ruído, prevê que tal ocorra apenas no interior desta,
sem repercussão para o exterior, pelo que não estima impactes para esta fase no presente fator ambiental.
Medidas de minimização
Fase de construção
O EIA apresenta as seguintes medidas de minimização para o ruído que se expõem abaixo já com a
introdução das adaptações propostas pela CA.
- Assegurar o maior afastamento possível do local do estaleiro aos aglomerados urbanos para proteger as
populações das atividades mais ruidosas provocadas pelos trabalhos que aí decorrem;
- Limitação das atividades ruidosas ao período entre as 7-20 horas e após a emissão de avisos prévios às
populações próximas aquando da sua execução;
- Proceder ao encapsulamento dos equipamentos mais ruidosos;
- Evitar sempre que possível o atravessamento dos aglomerados urbanos com máquinas e viaturas a usar na
obra.
A CA considera igualmente importante condicionar a eventualidade de ocorrência de explosões a medidas
de segurança e de informação das populações.
Programa de monitorização
Não é proposto qualquer programa de monitorização, no que a CA está de acordo.
3.10 – POPULAÇÃO E ESTRUTURA PRODUTIVA
O EIA começa por referir que no Arquipélago a distribuição espacial da população regista-se sobretudo
junto à costa e abaixo dos 400 m, embora em São Jorge e nas Flores por razões geomorfológicas existam
núcleos habitacionais até aos 500 m.
O EIA prossegue apresentando dados estatísticos do último recenseamento populacional com a repartição
da população por ilha e concelhos nos Açores, indo ao pormenor de freguesia na ilha das Flores, com as
variações entre 2001 e 2011 nas situadas no município onde o projeto se insere, Lajes das Flores, índice
acentuado de envelhecimento e onde se verifica ainda uma tendência de diminuição do número de
residentes, nomeadamente nas da área de estudo: Fajã Grande e Fajãzinha.
O EIA prossegue com a estrutura económica da população empregada, onde o peso do setor agropecuário
e indústrias associadas é elevado, bem como alojamento turístico e ainda mostra para a ilha as quantidades
30
de energia consumida, com repartição por setor económico, e produzida, neste caso o peso dos vários
centros produtores e fração de origem renovável.
Impactes
Fase de construção
- Perturbação das condições de habitabilidade e laborais devido à afetação temporária de terrenos para
realização das obras, aumento de ruído, emissão de poeira, interferências na rede viária, aumento de tráfego
e interceção de acessos a pastagens. Um tipo de impacte de reduzida magnitude e significado, mas negativo.
- Aumento de postos de trabalhos diretos na construção, afluxo de mão de obra do exterior com potencial
crescimento no comércio local, restauração e alojamento.
O EIA qualifica este impacte como positivo, temporário e de significado e magnitude relevante devido à
reduzida dinâmica local.
A CA considera que mesmo tendo em conta a reduzida atividade económica da área de estudo, o impacte
socioeconómico será de significância e magnitude reduzida.
Fase de exploração
- Oferta local reduzida de trabalho relacionado com a manutenção do empreendimento;
- Redução da dependência externa dos combustíveis fósseis;
- Melhoramento das condições de uso de energia elétrica localmente.
O EIA qualifica este impacte de positivo embora com magnitude e significância reduzida.
A CA está de acordo com a avaliação dos impactes apresentada no EIA.
Medidas de minimização e de potenciação
O EIA propõe várias medidas de minimização e de compensação para este fator ambiental, abaixo listadas
já com adaptação proposta pela CA.
- Aviso atempado às populações locais e serviços de utilidade pública, sobretudo de emergência e segurança,
das interrupções viárias, sinalização rodoviária nas imediações das obras e indicação clara de caminhos
alternativos e desvios;
- Não parqueamento das viaturas e máquinas nas bermas das estradas fora do período laboral;
- Diminuir ao mínimo possível o atravessamento dos aglomerados habitacionais;
31
- Coordenar os trabalhos com as entidades locais de modo a salvaguardar as alturas de maior afluência de
público e/ou de maior importância para as populações como eventos festivos religiosos, cívicos ou de
importância turísticas;
- Recuperação dos pavimentos das vias afetadas e degradadas em sequência da obra;
- Indemnização de eventuais perdas de produção ou de terra útil devido aos trabalhos ou implantação das
infraestruturas do projeto;
- Quando viável recorrer à mão de obra e empresas locais para aquisição de trabalhos de construção,
manutenção ou aquisição de bens e serviços.
Programa de monitorização
O EIA não propõe qualquer programa de monitorização e a CA pensa não se justificar.
3.11 – OCUPAÇÃO ATUAL DO SOLO
O RT apresenta uma caraterização da ocupação do solo, que tem como base a Carta de Ocupação do Solo
dos Açores (COS-A), para a região e para a ilha das Flores.
A CA entende que a metodologia utilizada no EIA para a avaliação deste fator ambiental e o conteúdo do
mesmo são adequados e suficientes à avaliação em causa.
Impactes
Fase de construção
Ao nível deste fator ambiental o EIA prevê os seguintes impactes:
- Alteração permanente do uso florestal e natural (ribeiras), e pontualmente agrícola/agropecuária, do solo,
na área do açude dos Ferreiros e de captações tirolesas;
- Afetação permanente de terrenos com uso agropecuário (pastagens), na área das condutas, câmara de
carga, central hidroelétrica e outras estruturas edificadas;
- Alteração do uso do solo, temporária e reversível, na área das condutas, mantendo-se os usos atuais após
a conclusão das obras;
- Alteração permanente e irreversível para o uso industrial da área da central hidroelétrica, que se localiza
num terreno com uso agropecuário.
O EIA qualifica estes impactes como negativos, de muito reduzida magnitude e significado, face à diminuta
área ocupada em permanência. A CA está de acordo.
Fase de exploração
32
O EIA refere que esta fase compreende a imposição de condicionantes ao uso do solo nas áreas afetas às
condutas, onde apenas poderá ocorrer ocupação com usos agrícolas e pastorícia.
Assim, o EIA apenas prevê impactes sem relevância nesta fase para este fator ambiental, que a CA entende
como adequada a afirmação efetuada.
Medidas de Mitigação
O EIA refere que como os principais impactes identificados para este fator ambiental prendem-se
essencialmente com a potencial alteração da ocupação atual do solo, propõem-se as seguintes medidas de
minimização:
- Remover a camada superficial dos solos (terra vegetal) na área a ser afetada pelas infraestruturas do
projeto, para posterior aplicação na cobertura das valas e/ou recuperação de outras áreas afetadas pelas
obras;
- Enterrar a uma profundidade não inferior a 1 m a conduta, nas zonas RAR que são atravessadas pela
mesma; nos solos aráveis, a reposição de terra vegetal não deverá ser inferior a 80 cm;
- Recuperar o coberto vegetal e dos terrenos para o seu uso original, no caso de afetações temporárias,
nomeadamente quando envolvem a implantação das condutas que atravessam terrenos agrícolas,
combinadas com o ressarcimento financeiro pela perda de produção associada ao período efetivo de
perturbação;
- Prever indemnização adequada, permuta de terrenos ou contrapartidas combinadas consensualmente, no
caso dos terrenos afetados em permanência, de forma a permitir compensação pela atividade económica
suspensa e valor do terreno.
A CA entende como adequadas todas as medidas apresentadas.
3.12 – GESTÃO TERRITORIAL E USOS CONDICIONADOS
O EIA efetua um enquadramento nos Instrumentos de Gestão Territorial vigentes, com incidência na área
do projeto. No que respeita às condicionantes ao território, salienta-se a sobreposição com a Reserva
Agrícola Regional, a Reserva Ecológica, a Rede Regional de Áreas Protegidas e o Domínio Hídrico.
Destaca-se que o aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis na Ribeira Grande foi declarado de
interesse público pela Resolução de Conselho de Governo n.º 20/2017, de 27 de março.
Impactes
Fase de construção
33
Tendo em conta o projeto em causa e o enquadramento ao nível dos instrumentos de gestão territorial em
vigor para a área de intervenção, o EIA prevê nesta fase, e para o regime do ordenamento do território, os
seguintes impactes:
- Afetação dos espaços destinados às estruturas permanentes.
O EIA qualifica estes impactes como negativos de reduzido significado no tocante ao regime de
ordenamento do território. A CA está de acordo.
No que respeita às condicionantes ao ordenamento do território, o EIA destaca os seguintes impactes:
- Afetação de solos na faixa de implantação da conduta poderá ter impactes reversíveis, pelo
acondicionamento controlado dos solos durante a obra e sua reposição com a conclusão da mesma;
- Redução do potencial valor ecológico da Ribeira Grande, identificada como RER; na sobreposição com
“Leitos dos Cursos de Água”;
O EIA qualifica estes impactes como negativos, diretos de magnitude baixa e pouco significativos,
determinando, contudo, a obtenção do licenciamento aplicável nestes domínios. A CA está de acordo.
Fase de exploração
O EIA apenas refere que não são expectáveis incidências neste domínio, pelo que a CA entende como
adequado.
Medidas de Mitigação
O EIA volta a referir que os principais impactes neste descritor estão relacionados com a potencial
degradação ambiental de áreas da zona de intervenção classificadas como RE e RAR. Assim, o EIA
apresenta as seguintes medidas de mitigação que a CA entende como ajustadas:
- Enterrar a conduta forçada sempre a profundidade não inferior a 1 m (conforme previsto no projeto de
execução), permitindo assim a manutenção da capacidade produtiva dos solos intervencionados; nas áreas
de RAR a reposição de terra vegetal deverá ser feita em camada de 80 cm;
- Proceder, nas áreas de RAR, à decapagem prévia da terra vegetal e sua reposição imediatamente após a
construção das condutas; nos solos aráveis, esta reposição não deverá ser inferior a 80 cm;
- Evitar a circulação de veículos e máquinas pesadas nas zonas laterais às áreas ocupadas pelas obras,
especialmente nas áreas integradas na RAR ou na RE;
- Proceder à limpeza das linhas de água, em caso de obstrução total ou parcial, e implantar um sistema de
drenagem eficaz nos aterros e escavações, durante a fase de construção, evitando condições de inundação
nesse período;
34
- Informar previamente as autoridades municipais dos trajetos das condutas, para evitar interferências com
infraestruturas existentes ou previstas;
- Assegurar os licenciamentos cabíveis.
A CA entende como adequadas todas as medidas apresentadas.
3.13 - PATRIMÓNIO CULTURAL E EDIFICADO
Em toda a área envolvente do EIA existe somente um edifício classificado como imóvel de interesse
público, o moinho de água da Ribeira Grande.
Considerando que não há nenhuma intervenção direta na estrutura do edifício;
Considerando que a fonte de energia não sofre qualquer alteração pelo que o desempenho futuro do moinho
não fica posto em causa;
Considerando que na área envolvente do moinho não será construído nenhum imóvel que interfira com a
sua leitura visual;
Considerando que será apenas construído um pequeno lago, a cerca de duas dezenas de metros do moinho,
que em nada interferirá com o seu funcionamento;
Considerando ainda que o impacte visual sobre a paisagem será mínimo, nada encontramos que justifique
qualquer alteração ao EIA em apreço.
Apesar disso, recomendamos que sejam seguidos atentamente os impactes descritos no EIA, que nos
parecem pouco significativos, que ocorrerão durante o período de obras, que passamos a transcrever:
Fase de Construção
De acordo com a avaliação efetuada admite-se que os trabalhos a realizar não irão causar impactes diretos
no património, conforme se pode constatar no quadro descrito a seguir:
N.º 1 – Fajãzinha – apenas se identifica a potencial degradação das condições de habitabilidade, sobretudo
ao nível da circulação viária devido à movimentação de máquinas e veículos afetos à obra;
N.º 2 – Palheiro 1 ao Ramal da Fajã Grande – trata-se de uma estrutura em ruínas que não será diretamente
afetada; recomenda-se, contudo, a adoção de medidas visando salvaguardar as estruturas ainda existentes;
N.º 3 – Moinho de Água da Ribeira da Alagoa – trata-se de moinho bem preservado, classificado como
imóvel de interesse público, e que detém ainda importante papel cultural e turístico; igualmente neste caso
não se identificam impactes diretos, havendo, contudo, que salvaguardar estas estruturas de potenciais
afetações indiretas.
35
Ocorrência
Nº
Designação Classificação Tipo de
Sítio
Localização face
às estruturas de
projeto
Tipo de Afetação Impacte Medidas
1 Fajãzinha Núcleo de
povoamento
Núcleo
populacional
encontra-se a
cerca de 270m da
conduta forçada
Potencial
degradação das
condições de
habitabilidade
Pouco
relevante
PGA no
decurso da
obra
2 Palheiro 1 ao
Ramal da
Fajã Grande
Edifício A cerca de 15m
da conduta
forçada
Sem afetação
direta
Pouco
relevante
Medidas de
salvaguarda
PGAO
3 Moinho de
água da
Ribeira da
Alagoa
Imóvel de
interesse
público
Moinho de
água
A cerca de 15m
da captação no
2º afluente;
sendo que o
respetivo buffer
de proteção, de
50m, é cortado
Não se identifica
impactes diretos;
identificam-se
impactes
indiretos no
buffer de
proteção de 50m
Pouco
relevante
Medidas de
salvaguarda
PGAO
De acordo com o exposto identificam-se potenciais impactes negativos, indiretos, temporários, de
magnitude reduzida e residualmente pouco significativos, se forem adotadas as medidas mitigadoras
propostas.
Fase de Exploração
Não se perspetiva a ocorrência de impactes na fase de exploração.
A CA tem a referir que não deverão ser implantadas quaisquer estruturas do projeto expostas acima da
superfície dentro do perímetro de 50m do moinho de água.
3.14 PROJEÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DE REFERÊNCIA SEM O EMPREENDIMENTO
O EIA com o objetivo de apreciar a alternativa zero correspondente à não execução do projeto, faz uma
projeção do evoluir da situação de referência neste cenário de onde se destaca, essencialmente, os aspetos
correlacionáveis com o empreendimento:
Preservação das atuais condições de circulação nas linhas de água existentes da enguia-europeia, apesar da
tendência regressiva da mesma por motivos exógenos à bacia da Ribeira Grande.
Contudo, devido às maiores exigências de usos de energia e relacionadas com o desenvolvimento turístico,
deverá resultar num agravamento local da dependência dos combustíveis fósseis, embora com um peso
pouco significativo no contributo regional para as metas de utilização de fontes alternativas de energia ou
na redução da emissão de gases com efeitos estufa.
36
4. CONSULTA PÚBLICA
4.1 RESUMO DA CONSULTA PÚBLICA
Nos termos do artigo. 106.º do Diploma AILA, a Autoridade Ambiental procedeu à publicitação da Consulta
Pública através de anúncio publicado no jornal “Diário dos Açores” contendo os elementos obrigatórios.
Tendo em conta que a tipologia do projeto o enquadrava na alínea e) do n.º 8 do Anexo II do Diploma
AILA, a Consulta Pública decorreu entre 29 de novembro e 29 de dezembro de 2017, inclusive, ou seja,
durante 20 dias úteis.
A documentação obrigatória em formato papel esteve disponível nas três Bibliotecas Públicas e Arquivos
Regionais dos Açores e nas instalações da Direção Regional do Ambiente. O suporte digital de todos estes
volumes foi também disponibilizado na página da internet da Autoridade Ambiental no seguinte endereço:
http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sraf/docDiscussao
Em todos os locais constava a informação de que os interessados, devidamente identificados, podiam
manifestar-se por escrito, no prazo da Consulta Pública, dirigindo as suas exposições à Direção Regional
do Ambiente, sita na Rua Cônsul Dabney, Colónia Alemã, 9900-014 HORTA ou para o correio eletrónico:
Terminado o período da Consulta Pública foram então aguardados 5 dias úteis para esperar por uma eventual
receção de exposições dos interessados no âmbito desta Consulta Pública e emitidas por correio no fim do
prazo limite.
No que diz respeito à participação de interessados, a presente consulta pública contou com seis
participações/contribuições através de correio eletrónico (anexos):
Aldeia da Coada, através do Sr. Sílvio Gonçalves (ENT-DRA 2017/10984);
Sr. Gerbrand Michielsen (ENT-DRA 2017/11236);
Ambiflores, através do Sr. Guilherme Santos (ENT-DRA 2017-11341);
Sr. Marco Henriques (ENT-DRA 2017-11362);
Sr. José Manuel N. Azevedo (ENT-DRA 2017-11363);
GEOTA, através do Sr. Pedro Santos (ENT-DRA 2017-2018/36).
Síntese das participações
De uma forma geral, as participações incidem sobre questões ambientais e bem-estar das populações da ilha
das Flores decorrentes da implementação do projeto quer na fase de construção quer na fase de exploração.
Os fatores ambientais mais visados são o ruido, a ecologia, a paisagem e recursos hídricos.
No que diz respeito ao ruido, na maioria das participações, as preocupações estão direcionadas para a
produção de ruido na fase de construção do projeto bem como para o funcionamento da central.
37
Relativamente à ecologia, as preocupações estão relacionadas com a biodiversidade existente no local,
nomeadamente e com grande destaque para a enguia europeia e espécies de aves marinhas. Quanto à
paisagem é salientado o estatuto que possui a ilha das Flores como reserva da Biosfera.
Um dos aspetos que foi também questionado foi a necessidade do projeto tendo em conta a existência de
outras formas de produção de energia já existentes na ilha (hídrica, eólica e termoelétrica). Por outro lado,
o período da consulta pública foi alvo de algumas criticas tendo em conta que decorreu na altura das
festividades natalícias.
Por último, salienta-se também a possível localização do estaleiro de obra junto ao parque de
estacionamento, entrada do trilho da Ribeira do Ferreiro, segundo relatado, dos locais mais visitados da ilha.
No Anexo I a este parecer encontra-se o texto com o conteúdo do Relatório da Consulta Pública onde todas
as participações estão transcritas e seguindo-se no Anexo II uma tabela resposta e ponderação das
preocupações levantadas pelas participações.
4.2. CONSULTA A ENTIDADES
Não foram efetuadas consultas a outras entidades.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na sequência da leitura do Estudo de Impacte Ambiental do Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira
Grande (Flores, Açores) em fase de projeto de execução, da visita ao terreno de vários dos técnicos que
representam os Serviços que integram a Comissão de Avaliação do presente procedimento e após a
apreciação do teor das participações de interessados no período da Consulta Pública, a Comissão de
Avaliação considera o seguinte:
- Ficou evidenciado pela participação pública que não foi estudada, com a profundidade necessária, a
situação de referência da população de enguias europeias (Anguilla anguilla) nos cursos de água a serem
interferidos pelo projeto de execução em apreciação de modo a assegurar uma adequada avaliação da
significância e magnitude do impacte ecológico da construção deste empreendimento na afetação desta
população. Assim, deverão ainda ser apresentados mais estudos sujeitos a parecer vinculativo da Autoridade
Ambiental que permitam conhecer não só a importância ecológica desta população, mas também avaliar o
impacte da atual versão do projeto sobre a mesma e demonstrar da suficiência das medidas de mitigação
apresentadas no presente procedimento ou da possibilidade de implementação de outras medidas adicionais
ou correções no projeto que permitam evidenciar que com essas adições e melhoramentos este impacte
deixa de ter uma significância e magnitude negativa que fundamente a viabilização do licenciamento
pretendido;
38
- Na fase de construção do empreendimento ocorrem vários impactes ambientais negativos, identificados
no Estudo de Impacte Ambiental, que levantaram preocupações significativas em diferentes elementos das
populações residente na área de estudo que participaram na Consulta Pública, todavia, ao nível do ambiente
sonoro e da qualidade do ar considera-se que estes são, genericamente, semelhantes aos de qualquer outra
obra de construção civil pública ou privada, pelo seu carácter temporário e reversibilidade e ainda passíveis
de ser mitigados com as medidas aceites e propostas neste documento, pelo que, por si só, não parece à CA
terem significância suficiente para inviabilizar o empreendimento;
- Na fase de construção existem algumas medidas de gestão da obra que geraram preocupações nos
participantes da Consulta Pública, nomeadamente, a ocupação como estaleiro de um terreno utilizado para
estacionamento junto ao viaduto da Estrada Regional n.º 1-1.ª sobre a Ribeira e ainda as intervenções em
terrenos privados para a realização da obra, para o primeiro caso, a CA é de parecer que o local identificado
não deve ser utilizado como estaleiro, propõe que este seja implantado em locais que já tenham sido
degradados ambientalmente, longe das povoações e das principais vias de circulação usadas pela população
e de baixo impacte visual, para o segundo caso, a CA é de parecer que é suficiente o cumprimento das
condicionantes legais existentes para ocupação e realização de intervenções em terrenos privados de
terceiros para salvaguardar o interesse público e os legítimos direitos dos proprietários;
- Na fase de exploração, à exceção do ainda não convenientemente avaliado impacte na população de
enguias, na sequência do procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental a Comissão de Avaliação não
identificou impactes ambientais com significância e magnitude que fundamentassem a inviabilização do
projeto, tendo em conta que as condutas ficarão maioritariamente enterradas, apenas a captação da ribeira
do Ferreiro terá um açude mais elevado que o atual perfil do leito de escoamento deste afluente, num local
pouco exposto ao exterior e o espelho de água é facilmente integrável numa paisagem com cascatas e lagoas,
sendo o edifício da Central hidroelétrica o elemento mais impactante visualmente com a envolvente;
- Na participação pública vários elementos da população manifestaram preocupação com o ruído da Central,
todavia, no Estudo de Impacte Ambiental é assumido que não haverá emissões sonoras para o exterior do
imóvel, sendo o local pouco perturbado acusticamente considera a Comissão que existem condições para
exigir ao projeto que esta assegure um ambiente sonoro que respeite os critérios das áreas sensíveis do
Regulamento Regional de Ruído;
- Considera ainda a Comissão de Avaliação aceitável a justificação do projeto pelo seu contributo para
assegurar que durante a sua fase de exploração a ilha das Flores, como reserva da Biosfera, passe a obter
energia elétrica essencialmente de fontes endógenas renováveis limpas, além de que este empreendimento
vai no sentido de se atingirem as metas de redução de emissões de gases com efeito estufa e da
independência da área abrangida dos combustíveis fósseis;
39
- Não ficou demonstrado que o projeto terá impactes no estado qualitativo das massas de água durante a
fase de exploração como preocupação de um participante na Consulta Pública, além de que o programa de
monitorização permitirá o acompanhamento desta situação que poderá implicar a necessidade de medidas
corretivas que inclusive melhorem os seus parâmetros qualitativos ou a necessidade de alterações dos
caudais ecológicos agora previstos.
Assim, a Comissão de Avaliação é de parecer que pode ser emitida uma Declaração de Impacte Ambiental
condicionalmente favorável ao seguinte:
- A conclusão do processo de licenciamento fica dependente da apresentação na Direção Regional do
Ambiente de um estudo de caracterização da população de enguias europeias (Anguilla anguilla) que
permita conhecer a importância ecológica desta e evidenciar que com a adaptação das medidas de mitigação
propostas no Estudo de Impacte Ambiental e no Programa de Monitorização na sequência dos novos
conhecimentos face ao apreciado em sede de procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental e, ainda, a
introdução de eventuais correções na versão atual do projeto, permita a Autoridade Ambiental considerar
que o impacte nesta população não tem magnitude e significância negativa suficiente que justifique e
inviabilização do projeto;
- Cumprimento das medidas de mitigação indicadas no Estudo de Impacte Ambiental com as alterações e
adições introduzidas pela Comissão de Avaliação no presente parecer;
- Implementação dos restantes programas de monitorização nos moldes aprovados no presente parecer e de
acordo com a legislação vigente ao longo do período de exploração do aproveitamento hidroelétrico;
- Aceitação do proponente da possibilidade de introdução de medidas de mitigação ou de ações corretivas
no projeto se durante o acompanhamento da fase de exploração forem detetados desvios dos efeitos
negativos perspetivados em fase de procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental em resultado do
empreendimento.
Horta, 29 de janeiro de 2018
P’la Comissão de Avaliação
Carlos Faria
(DSQA)
40
Anexo I
CONTEÚDO DO RELATÓRIO DA
CONSULTA PÚBLICA
41
RELATÓRIO DA CONSULTA PÚBLICA DO PROJETO DE APROVEITAMENTO
HIDROELETRICO DA RIBEIRA GRANDE, ILHA DAS FLORES – EDA
RENOVÁVEIS
Introdução
Tendo sido emitida a conformidade pela Autoridade Ambiental, o procedimento seguiu para
consulta pública, nos termos do Art.106.º do Decreto Legislativo Regional n. º30/2010/A, de 15 de
novembro.
Publicitação
A documentação tornada pública, Relatório Técnico, Resumo Não Técnico do Estudo de Impacte
Ambiental bem como os pareceres da Comissão de Avaliação estiveram disponíveis em suporte
de papel nas três Bibliotecas Públicas e Arquivos Regionais dos Açores, nas instalações da
Direção Regional do Ambiente e Serviço de Ambiente das Flores. Para além dos locais referidos,
e para um maior envolvimento da população, os pareceres da CA e um Resumo Não Técnico
estiveram disponíveis na Câmara Municipal das Lajes das Flores. Toda a documentação em
formato digital encontra-se na página da internet da Autoridade Ambiental com o seguinte
endereço: http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sraf/docDiscussao. Para além do referido, foi
publicado anúncio no jornal Açoriano Oriental.
No âmbito do processo de Consulta Pública, em todos os locais constava a informação de que os
interessados, devidamente identificados, podiam manifestar-se por escrito, no prazo da Consulta
Pública, dirigindo as suas exposições à Direção Regional do Ambiente, sita na Rua Cônsul
Dabney, Colónia Alemã - 9900-014 HORTA ou para o e-mail: qualidade.ambiente @azores.gov.pt.
Consulta Pública
Dada a natureza do projeto, fixou-se um período de 20 dias para a consulta pública, nos termos e
para efeitos do preceituado no art.º 106.º e nos artigos. 111.º, 112.º e 113.º do Decreto Legislativo
Regional n.º 30/2010/A, de 15 de novembro. A consulta pública teve início a 29 de novembro e
termo a 29 de dezembro de 2017.
Terminado o período da Consulta Pública foram então aguardados 5 dias úteis para a esperar por
uma eventual receção de exposições dos interessados no âmbito desta Consulta Pública e
emitidas por correio no fim do prazo limite.
No que diz respeito à participação de interessados, a presente consulta pública contou com seis
participações/contribuições através de correio eletrónico (anexos):
Aldeia da Coada, através do Sr. Sílvio Gonçalves (ENT-DRA 2017/10984);
Sr. Gerbrand Michielsen (ENT-DRA 2017/11236);
42
Ambiflores, através do Sr. Guilherme Santos (ENT-DRA 2017-11341);
Sr. Marco Henriques (ENT-DRA 2017-11362);
Sr. José Manuel N. Azevedo (ENT-DRA 2017-11363);
GEOTA, através do Sr. Pedro Santos (ENT-DRA 2017-2018/36).
Síntese das participações
De uma forma geral, as participações incidem em sobre questões ambientais e bem-estar das
populações da ilha das Flores decorrentes da implementação do projeto quer na fase de
construção quer na fase de exploração. Os fatores ambientais mais visados são o ruido, a ecologia,
a paisagem e recursos hídricos.
No que diz respeito ao ruido, na maioria das participações, as preocupações estão direcionadas
para a produção de ruido na fase de construção do projeto bem como para o funcionamento da
central. Relativamente à ecologia, as preocupações estão relacionadas com a biodiversidade
existente no local, nomeadamente e com grande destaque para a enguia europeia e espécies de
aves marinhas. Quanto à paisagem é salientado o estatuto que possui a ilha das Flores como
reserva da Biosfera.
Um dos aspetos que foi também questionado foi a necessidade do projeto tendo em conta a
existência de outras formas de produção de energia já existentes na ilha (hídrica, eólica e
termoelétrica). Por outro lado, o período da consulta pública foi alvo de algumas criticas tendo em
conta que decorreu na altura das festividades natalícias.
Por ultimo, salienta-se também a possível localização do estaleiro de obra junto ao parque de
estacionamento, entrada do trilho da Ribeira do Ferreiro, segundo relatado, dos locais mais
visitados da ilha.
Em anexo, segue a tabela de ponderação às participações
Participações
Aldeia da Coada, através do Sr. Sílvio Gonçalves (ENT-DRA 2017/10984)
“Exmos Srs.
Após consulta do estudo de impacto ambiental do projecto de aproveitamento hidroeléctrico da
Ilha das Flores ficamos com algumas preocupações relativamente ao nível de ruído e poluição
(essencialmente poeiras) que o próprio estudo reconhece como negativos.
43
Como sabem a Aldeia da Cuada é provavelmente a maior unidade hoteleira da ilha e a maior
unidade de turismo rural dos Açores. Nos últimos anos temos vindo a ser reconhecidos nacional e
internacionalmente, onde podemos destacar duas distinções de maior relevância:
-4º hotel mais sustentável de Portugal - Associação 0;
-Top50 hotel mais romântico do mundo - Travel and Leisure.
Temos noção que todos os clientes que nos procuram fazem-no pela qualidade da nossa oferta
em termos de conforto e ambiental. Caso algum destes aspectos seja comprometido (ainda que
temporariamente) temos receio de vir a ter clientes insatisfeitos, o que por sua vez poderá resultar
a curto/médio prazo numa perda de clientes.
Saliento que a Aldeia da Cuada apresenta-se como maior entidade empregadora das freguesias
da Fajãzinha e Fajã Grande, em que durante a época alta chegamos a empregar 15 ou mais
pessoas, apresentando assim uma grande relevância directa e indirectamente em termos
socioeconómicos nas freguesias em questão.
As nossas preocupações também se estendem a longo prazo uma vez que o estudo também não
refere o nível de ruído que será produzido pela central e turbinas após a conclusão da obra
Outro ponto relevante prende-se com a sugestão para estaleiro avançado de obra referida no
estudo seja no local que é utilizado pelos visitantes ao Poço da Ribeira do Ferreiro para
estacionamento, uma vez que este local apresenta um grande tráfego de pessoas e viaturas sendo
provavelmente o ponto mais visitado da ilha.
Aguardamos por uma resposta da vossa parte uma vez que estas são questões que nos
preocupam bastante
Obrigado e melhores cumprimentos
Sílvio Gonçalves”
Sr. Gerbrand Michielsen (ENT-DRA 2017/11236)
“Contribuição para a discussão pública “Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande (Flores)”
Criação de habitat alternativo para a enguia europeia Anguilla anguilla.
“Antes de mais queria manifestar a minha preocupação sobre os impactes que podem ter as
intervenções referidas no projeto para a paisagem de uma zona que é única nos Açores e
largamente utilizada para promover a nossa imagem no exterior. Reconheço a necessidade de
encontrar uma sustentabilidade energética, mas tenho dúvidas que a obra desta dimensão seja
justificável numa ilha como as Flores, já com centrais eólica, hidroelétrica e termoelétrica, com a
primeira a produzir abaixo da sua potência.
44
Como referido no documento, a EDA Renováveis tem instalado um projeto similar na Ribeira
Quente em São Miguel e sugere implantar as mesmas medidas para diminuir os impactes sobre
as Enguias, declaranda-as como eficazes.
Reconheço que foi feito trabalho no sentido de monitorização, mas os resultados estão longe dos
pretendidos.
- Durante a primeira fase do nosso projeto conseguimos apanhar 39 Enguias. Apenas um exemplar
(juv) foi capturado por cima da primeira barragem enquanto todos os restantes ficaram retidos nas
Ribeiras abaixo das barreiras.
- As Enguias juvenis retidas nas armadilhas são apenas uma percentagem muito reduzida, já que
são observados grandes cardumes na foz da Ribeira Quente. A zona mais abaixo das barragens
consiste em habitat bastante hostil para esta espécie já que preferia aguas tranquilas com
vegetação e lodo em vez de Ribeiras “limpas”. Facto do que as juvenis não chegam as Furnas
como anteriormente dificulta as fêmeas chegar a idade adulta. Mesmo depois quando as adultas
tentar regressar para a zona de reprodução no mar de Sargaço encontram dificuldades ou ate
impossibilidade pelo caminho a foz. Antes da construção das centrais de Ribeira Quente havia
registos de quantidades significativas de Enguias adultas nas Furnas enquanto atualmente
desapareceram quase por completo.
Para evitar que se repita a situação da Ribeira Quente nas Flores, sugiro implantar uma reserva
ecológica na 2.ª afluente da Ribeira Grande atrás do Moinho. Existe um terreno abandonado (ver
fotografia anexa) que pode ser inundado, de forma simples e controlada com uma abertura
regulável a partir da ribeira, para criar um habitat ideal para a enguia completar o seu ciclo natural
e valorizar a zona como “hotspot” para espécies ocasionais de avifauna, recompensando ainda de
alguma forma o impacto sobre o turismo de natureza que o projeto da EDA irá provocar.
Como a 2.º afluente fica logo no inicio, será de extrema importância salvaguardar uma livre
transição efetiva para as Enguias (juvenis e adultas) na própria central, encaminhando-as e
facilitando o acesso para o canal do moinho a partir de câmara de carga.
Encontro-me desde já disponível para qualquer informação adicional que queiram solicitar.
Gerbrand Michielsen”.
Ambiflores, através do Sr. Guilherme Santos (ENT-DRA 2017-11341)
Nome: Ambiflores
Morada: Rua Via d'Água, 32
Cod. Postal: 9960-030 Fajã Grande
Contribuinte nº: 513381392
45
“A população da Ilha das Flores tem manifestado as suas preocupações em relação ao “Projecto
de Aproveitamento Hidroeléctrico da Ribeira Grande da Ilha das Flores”, nomeadamente no que
se refere aos seus impactes negativos. Detalhes pertinentes têm vindo a ser omitidos pelas
entidades públicas responsáveis e pela EDA, protegendo o lucro do futuro negócio - omissão dos
custos da obra, dos potenciais lucros da EDA e dos futuros encargos e responsabilidades públicas
e locais - e camuflando a degradação e destruição de uma das mais bonitas paisagens do
arquipélago, que constitui um dos locais mais visitados da ilha e um dos seus maiores valores
turísticos.
Assim, este projecto poderá afectar a ilha em vários sectores, principalmente na economia ligada
ao turismo e ao ambiente, seja durante as obras (pela sua extensão espacial e temporal,
movimentação de máquinas e de terras, poeiras e ruído), seja após entrada em funcionamento da
central hidroeléctrica (ruído, exposição aérea dos tubos das condutas, garantia de caudais
mínimos e de preservação de ecossistemas).
a) O projecto prevê preservar e restaurar a qualidade ambiental e paisagística na área da sua
implantação, mas não se encontra a um nível desejável. Irá colidir de forma agressiva com as
áreas protegidas na zona envolvente do projecto;
b) Um dos maiores incómodos deste projecto é o ruído. Sobre o ruído provocado pela obra e,
principalmente, pelo funcionamento desta central, são escassas as linhas a ele dedicadas nos
estudos dos impactos ambientais: Diz-se que “a área em estudo apresenta baixa densidade
urbana”, “admitindo-se (?) globalmente um ambiente acústico de qualidade”. Será assim? E o
Aldeamento Turístico da Cuada, situado por cima da central prevista, não será prejudicado? E a
nidificação das tão protegidas aves marinhas?;
c) O projecto situa-se em terrenos privados e os donos dessas terras não só não foram contactados
nem informados pelas entidades responsáveis por este projecto, como ainda não autorizaram
qualquer intervenção nas suas terras;
d) Antes de se avançar para um projeto desta dimensão, porque não tentar melhorar a
eficiência das fontes de produção de energia renovável já existentes? Segundo se diz, o Parque
Eólico não está a ser devidamente explorado.
e) Segundo explicou o presidente da EDA, com a inauguração da ampliação da Central Hídrica
Além Fazenda passam a estar garantidas na ilha das Flores todas as condições para a produção
e distribuição de energia com segurança e qualidade. Duarte Ponte explicou que este é o culminar
de um processo de quatro anos, que envolveu o investimento total da EDA de 20,4 milhões de
euros na ilha das Flores. Além da reabilitação e ampliação da Central Hídrica de Além Fazenda,
foi também construída a Central Térmica das Lajes, capaz de garantir o abastecimento de energia
eléctrica a toda a ilha, mesmo que não exista produção hídrica e eólica.
(http://www.rtp.pt/acores/economia/governo-regional-anuncia-novos-investimentos-nas-energias-
46
renovaveis-video_47587);
f) Na pág. 3 do “Parecer de Apreciação CA” destaca-se seguinte parágrafo: «Ressalva-se que, na
página 2-2 é referido que a ilha das Flores “...é já actualmente autosuficiente do ponto de vista
energético.” Pelo que, nesta perspectiva, deve fundamentar-se a escolha do local/ilha para
implementação do aproveitamento hidroeléctrico, o qual só se justificará face a eventuais
aumentos de consumo previstos». Houve ou está previsto haver algum aumento substancial nos
consumos energéticos na ilha, que agora justifiquem este investimento?;
g) Durante a construção desta obra (que demorará no mínimo 3 anos a ser concluída) prevê-se
re-activar a britadeira da Fajã-Grande para a utilizar como estaleiro das máquinas, colidindo com
todos os esforços da comunidade da Fajã-Grande e da Associação Ambiental da Ilha - Ambiflores
para re-qualificar aquele local como um espaço verde;
h) A entrada do trilho da Ribeira do Ferreiro, local mais visitado na ilha e dos mais procurados do
arquipélago, será afectada com a instalação de estaleiros de apoio às obras (mínimo de 3 anos
até concluído), o que, como consequência, trará grandes impactos negativos para o turismo da
ilha;
i) “Incremento do emprego e da actividade económica nos aglomerados da área de influência das
obras”: Não há quantificação deste impacto positivo, pressupondo-se que seja maior na fase de
construção (empregos de curta duração). Quantos postos de trabalho serão criados a longo
prazo?;
j) O Projecto ficou disponível para visualização e discussão do público no mês de dezembro,
curiosamente uma altura em que tanto as pessoas como entidades estão ocupadas a tratar de
eventos de Natal, compras ou até fora da ilha a desfrutarem de férias;
k) Gostaríamos de dar referência ao facto de que a intervenção não só se situa num território que
é Reserva da Biosfera, como também é praticamente adjacente ao mais importante ex-libris das
Flores e dos Açores que, aliás, tem sido extensivamente utilizado pelo Governo Regional para
promover o arquipélago como destino de Turismo de Natureza. Assim, achamos que este projecto
merece ter o melhor que a engenharia possa proporcionar, tendo em vista a sustentabilidade
ecológica e turística da nossa ilha (e não ser tratada e gerida como mais uma mera obra de
construção).
Pela preocupação crescente dos florentinos com este projecto, as nossas dúvidas e perguntas
devem ter a devida atenção.
A transparência no projecto e a minimização dos seus impactos negativos são o nosso objectivo,
visando, a longo prazo, a sustentabilidade económica e ambiental da ilha das Flores. Pretendemos,
com as nossas questões, determinar os benefícios deste projecto para a ilha, bem como ponderar
as vantagens da produção desta energia verde, em contraponto com o produto “Natureza”,
ameaçado pelas obras, ruído e descaracterização paisagística. Preocupa-nos especialmente que
o benefício duma empresa semi-privada (EDA) possa lesar o ambiente e pôr em risco uma
47
actividade económica em franco crescimento na ilha e, em particular, naquela zona, como é o
Turismo.
ps: A plataforma onde emitimos o nosso parecer
(http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sreat/docDiscussao/consulta_publica_AIA_aproveit
amento_hidroeletrico_ribeira_grande_flores.htm) não está operacional, optei então por enviar o
mail directamente.
Melhores cumprimentos,
Guilherme Santos”
Sr. Marco Henriques (ENT-DRA 2017-11362)
“Boa tarde,
O parecer que apresento sobre o “Projeto de Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande da
Ilha das Flores” é negativo e espero que seja considerado por quem competente para o efeito.
Apresento nesta reclamação alguns dos pontos que considero essenciais e que estão a ser
menosprezados.
No “Projeto de Licenciamento Elétrico – Central Hidroelétrica Ribeira Grande”, no “Ponto 1-
Descrição Geral” é referido que “o Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande, situa-se na
Costa leste da Ilha das Flores, próximo da localidade de Fajãzinha, e destina-se ao reforço da
capacidade de produção de energia elétrica da ilha”. Meus caros, a Fajãzinha, concretamente a
Ribeira Grande, situasse na costa OESTE das Flores. Esta gralha da parte da elétrica ou
preciosismo desta análise mostra à priori o cuidado e tratamento tido na elaboração deste projeto.
Em primeiro lugar e porque se trata de uma questão que sou visado diretamente uma vez que a
localização (nomeadamente das condutas de água) está projetada numa proximidade da minha
habitação ridícula para uma obra ainda por efetuar, considero ser abusiva a forma como está a ser
idealizada esta obra.
O argumento renovável, o qual sou 100% a favor, não pode ser utilizado a todo o custo da evolução
necessária. Não vou nesta exposição enveredar por questões, mas sim sublinhar pontos que são
óbvios: a ilha das Flores já tem, atualmente, autonomia energética renovável.
Será discutível, no mínimo, querer passar a ideia que o aumento de 20% no pós-obra desta central
em renováveis a nível geral não contrasta com a descaracterização paisagística que será
verificada a olho nu. É inegável, por muito cuidadoso que venha a ser a arquitetura deste projeto,
que esta área altamente reconhecida (25% parte do Parque Natural da Ilha das Flores – por sua
48
vez Reserva da Biosfera) será desvirtuada como já havia sido anteriormente noutros exemplos,
felizmente encerrados como o caso de uma britadeira instalada mais a norte da Ribeira do Ferreiro.
Local último, como outro junto à ponte desta ribeira referida que poderá ser utilizado como
“estaleiro” para esta futura obra. Estamos a falar de um local de acesso a outra das paisagens
mais badaladas dos Açores: falo do Poço da Ribeira do Ferreiro.
E no que diz respeito ao projeto de aproveitamento quero acreditar que há consciência da parte
de quem analisa que a redução de 80% do caudal após zona de captação acabará com a fauna e
flora existente no local.
É do conhecimento público, altamente noticiado, que a ilha das Flores já tem autonomia renovável
em determinadas épocas do ano. É também do senso comum um aumento de consumo por parte
da ilha pouco considerável para se estar a projetar uma obra com um custo superior a 7 Milhões
de euros. É correntemente discutido a falta de manutenção do Parque Eólico da ilha das Flores ou
pelo menos a sua não utilização na totalidade (e sim estou consciente das condicionantes
meteorológicas para a sua utilização). É caso raro discutir-se politicas de apoio ao consumidor no
âmbito das renováveis, excetuando as candidaturas (limitadas) à aquisição de painéis solares.
Creem os estudos do projeto em causa um impacto positivo ao longo da obra no que diz respeito
ao incremento do trabalho na zona, ao mesmo tempo que sublinha vir a ter um impacto positivo a
médio/ longo prazo. A médio/longo prazo se excetuarmos o único argumento válido (refiro-me
obviamente ao aproveitamento hídrico e consequentemente renovável) teremos zero oferta de
emprego relacionado com esta obra. Mas esta obra com uma duração de curto/médio prazo terá
por si só a pior das consequências deste projeto. Os trabalhos a efetuar durante todo este período
serão prejudiciais a todas as atividades económicas e sociais envolventes, nunca serão
compensadas nem a curto, nem a médio nem a longo prazo.
Estamos a tratar de um domínio que tem muito de investimento público e de todos os cidadãos.
Mas estamos a falar no campo económico de uma receita que só trará benéfico a uma componente
privada.
No que me diz respeito, e em baixo estou devidamente identificado para quaisquer dúvidas, não
vou aceitar, que uma conduta de um quilometro de extensão tenha de passar a escassos metros
da minha habitação. O ruído existe, a obra será exorbitante e tal como já havia pedido
esclarecimento com responsáveis pela elétrica, nomeadamente da Renováveis, considere-se no
mínimo um trajeto a Norte desta localidade (Fajãzinha) para se fazer eventuais condutas e acessos
à central. Preserve-se aquilo que existe, sob pena de serem totalmente incoerentes com a
justificação desta obra.
Para terminar aconselho a visualização das imagens existentes online das cascatas (certamente
já vistas ao vivo face ao manancial de certificações e classificações naturais recebidas muitas das
quais pelas vossas candidaturas) desta área natural. Esta é para mim a paisagem mais bonita do
49
mundo por m2. O verde da minha esperança é que esta exposição não faça só sentido 7 milhões
de euros depois.
Estando certo que a minha exposição possa ser considerada antes da emissão de uma Declaração
de Impacte Ambiental Favorável ou Condicionalmente Favorável a emitir pela Secretaria Regional
da Energia, Ambiente e Turismo.
Com os melhores cumprimentos”
Marco Alexandre Eduardo Henriques
Cartão de Cidadão: 13392285
NIF: 218203969
Residente na Rua Pico Redondo, Fajãzinha, Lajes das Flores.
Sr. José Manuel N. Azevedo (ENT-DRA 2017-11363)
José Manuel Viegas de Oliveira Neto Azevedo
Biólogo, doutorado em Ecoligia Animal, docente universitário.
“Resumo
A minha contribuição é feita com ênfase na proteção da enguia europeia, tendo por base o meu
conhecimento sobre a espécie e a leitura das partes relevantes do Relatório Síntese e do Relatório
Não Técnico.
O relatório determina que o principal impacte negativo na área da ecologia será sobre as
populações de enguia europeia devido à quebra da continuidade hidrológica (levando à interrupção
das migrações essenciais à conclusão do ciclo de vida) e à mortalidade resultante do
funcionamento dos equipamentos. Ao mesmo tempo, porém, apresenta o desconhecimento da
situação especifica da população de enguias na Ribeira Grande como justificação para desenhar
o projeto sem ter em conta a conservação da espécie. O EIA prevê, mesmo assim, fazer uma
amostragem com pesca elétrica na fase de pré-construção a qual determinará a própria
necessidade de “medidas de gestão ambiental”.
Em ponto nenhum do EIA se menciona que a enguia europeia é uma espécie alvo de medidas de
proteção a nível regional, nacional e europeu por estar criticamente ameaçada de extinção, sendo
uma das causas principais a disrupção do ciclo de vida por intervenções nas linhas de água1 .
50
Também não é referido que o estatuto de Reserva da Biosfera da Ilha das Flores representa um
compromisso regional na promoção de abordagens inovadoras ao desenvolvimento económico,
que sejam social e culturalmente adequadas e ambientalmente sustentáveis.
Penso que o plano de monitorização, sobretudo na sua fase inicial e decisiva para o
estabelecimento das medidas de gestão ambiental, é temporal e espacialmente muito limitado e
tem insuficiências metodológicas. Para além disso, os critérios de decisão sobre eventuais
“medidas de gestão ambiental” são vagos e portanto inoperacionais. Finalmente, parece-me que
o conhecimento já existente sobre as enguias nos Açores permite afirmar que este sistema hídrico
é relevante para a conservação da espécie.
Proponho portanto que, no mínimo, o projeto seja desde já redesenhado para ter imacte
zero sobre a população de enguias da Ribeira Grande e afluentes, (i) assegurando a
transportabilidade de todos os trechos, em ambas as direções e para todas as fases do ciclo
de vida (ii) assegurando uma mortalidade das enguias não significativamente diferente da
situação de referência em todos os pontos do circuito, quer em termos de infraestruturas
quer de procedimentos. Adicionalmente, o projeto poderia ambicionar ter um impacte positivo
sobre a população desta espécie.
Desenvolvimento
1. Surpreendentemente, não encontrei nenhuma referência nestes documentos ao facto de
que a enguia europeia (i) é uma espécie classificada como Criticamente Ameaçada de
extinção pela Red List da IUCN, que (ii) está incluída no Anexo II do CITES e que (ii) é alvo
de Regulamento (CE) n.º 1100/2007 do Conselho Europeu, que estabeleceu a necessidade
de aprovar Planos de G para a espécie. A situação critica desta espécie é ainda
reconhecida pelo Governo dos Açores, ao proibir a pesca desta espécie na Região
a. Apesar de haver claramente uma preocupação com os impactes sobre a
espécie, o respetivo estatuto de conservação devia não só ser claramente
especificado, como deviam ser mencionado que a alteração do habitat é um dos
principais fatores que estão a levar à extinção desta espécie, com declínios
populacionais dramáticos em toda a Europa (v. Clavero & Hermoso, 20152 ).
b. Neste quadro, não se compreendem afirmações como as de que (Relatório
Síntese, 3.1.5.8, p. 119) “Em conclusão, o valor faunístico da área de estudo
não se assume como particularmente relevante. Com efeito, os biótopos
presentes não oferecem condições particularmente adequadas para as espécies
e/ou com estatuto de proteção”
51
2. Há de facto um grande desconhecimento sobre o ciclo de vida das enguias nos Açores,
que este EIA infelizmente perpetua. Só isso justifica a afirmação feita no Livro Vermelho
dos Vertebrados de Portugal3de que a espécie não atinge aqui a maturidade sexual, ou
exclusão dos Açores do Plano de Gestão da Enguia4por os impactes humanos serem
negligenciáveis. Ora
a. Trabalhos esporádicos que têm vido a ser feitos comprovam que a espécie
completa de facto o seu ciclo de vida nas ribeiras e lagoas dos Açores,
i. No inicio deste mês (dezembro de 2017) acompanhei uma equipa da
Environmental Agency, UK, a qual capturou enguias de grandes
dimensões na Ribeira Grande, assim como em vários outros pontas
da ilha.
ii. No Paul da Praia da Vitória, na Terceira, esta mesma equipa capturou
enguias na fase prateada que antecede a migração para o oceano,
comprovando observações anteriores feitas noutros locais,
inclusivamente na Ribeira Quente em São Miguel.
b. Os impactes antropogénicos sobre as enguias nos Açores são, pelo contrário,
muito significativos:
i. A espécie é alvo de pesca nos açores (a qual continua, apesar da
proibição),
ii. Os aproveitamentos hidroelétricos nos principais cursos de água
impedem a circulação dos animais nas várias fases do ciclo de vida
e
iii. O assoreamento e artificialização de zonas húmidas, como os Pauis
de Santa Cruz, e da Praia da Vitória, na Terceira, reduziram de forma
drástica o habitat disponível para esta espécie.
3. A informação referida em relatórios internos da EDA (e.g. Pereira 20165), citados neste EIA,
de que a enguia se pode reproduzir em estuários e na boca das ribeiras contradiz a
literatura especializada (e.g. Ginneken & Maes, 20066) de que a reprodução é feita no Mar
dos Sargaços.
a. Esta imprecisão pode levar a descurar a importância dos cursos de água como
locais de crescimento e de preparação para a longa natação oceânica que os
reprodutores têm que fazer.
4. Pelo que percebi, não existem dados sobre os caudais da Ribeira Grande nem sobre a
pluviosidade na área, tendo os cálculos do caudal ecológico sido feitos com base dados de
São Miguel e o ajustamento de modelos matemáticos.
52
a. A ser assim, questiono a validade desses cálculos, parecendo-me ser
necessário obter dados do caudal do próprio sistema a intervencionar para
poder com base neles estabelecer os caudais ecológicos
b. De facto, é feita uma concessão ao impacte sobre a ecologia ao manter o caudal
ecológico nos 20% convencionais em vez de 7,6% sugeridos pelos métodos
adotados. No entanto os valores concretos desse caudal devem ser ajustados
para as condições reais do local
5. O EIA prevê uma campanha de amostragem na primavera anterior à fase de construção,
fazendo depender toda a monitorização posterior e a implementação de medidas de gestão
ambiental da identificação de “uma população de enguia-europeia estruturada”, ou de
“comunidades consistentes” (p. 180).
a. Os conceitos utilizados são vagos e prestam-se a qualquer interpretação. Não
vejo como, com base neles, se poderá tomar qualquer decisão.
b. Não me parece prudente fazer depender de uma única campanha de
amostragem todo o acompanhamento do impacte desta obra sobre as enguias.
c. Não havendo razão para que a estrutura populacional das enguias seja diferente
nesta ribeira em relação às outras, sugiro que o plano de monitorização descrito
se mantenha, independentemente dos resultados da primeira campanha de
monitorização.
6. A campanha de monitorização prevista afigura-se-me insuficiente no tempo e no espaço, e
estar baseada em metodologias que não permitirão obter uma visão completa da utilização
deste sistema pelas enguias.
a. O plano de monitorização deve ser discutido com investigadores com experiencia
nesta espécie, e executado sob a respetiva supervisão.
b. Devem, de qualquer forma, prever-se métodos de amostragem complementares à
pesca elétrica, nomeadamente a utilização de armadilhas iscadas ou de redes em
zonas mais profundas, para assegurar que se capturem os exemplares de maiores
dimensões7
c. Na componente de caraterização da população de enguia-europeia do plano de
monitorização, elementos a ter em conta são
i. A determinação dos períodos de migração das enguias de vidro,
e das barreiras à migração para jusante dos juvenis
ii. O movimento dos animais em crescimento, e como são afetados pelos
equipamentos e respetiva operação
53
iii. A determinação dos locais de maturação dos adultos, assim como dos
períodos em que se dá a metamorfose em enguias prateadas e a
respetiva migração para jusante, assim como as barreiras físicas e
operacionais que encontram.
7. O EIA prevê que, em função do resultado de uma única campanha (marcada para a
primavera 2017, p. 184- já foi realizada?), e com base nos critérios absolutamente vagos,
se decida da implementação de um conjunto de “medidas de gestão ambiental”, a aplicar
já em fase de construção. Ou seja, o projeto foi desenhado de uma perspetiva reducionista
de engenharia, sem ter em conta o respetivo impacte sobre as enguias.
a. As “medidas de gestão ambiental” apontadas (p. 181) revelam conhecimento sobre
as intervenções necessárias para reduzir o impacte de qualquer projeto hidroelétrico
sobre peixes migradores como as enguias
b. Parece-me que quem tem esse conhecimento deveria também compreender a
irrazoabilidade de implementar estas “medidas” em fase de construção. Não se trata
de cosmética, mas sim de alterações significativas em todas as estruturas de
captação e rejeição de água e nas intervenções na linha de água
c. Apresentada desta maneira (critérios vagos usados para decidir sobre eventuais
medidas de mitigação que correspondem de facto a alterações significativas do
projeto), é legitimo questionar a seriedade da intenção de salvaguarda das enguias.
8. A importância de toda a ilha ser uma Reserva da Biosfera é resumida, nos documentos
consultados, à nidificação de aves marinhas. No entanto, os objetivos do estatuto são muito
mais ambiciosos, tendo que ver com a realização de um desenvolvimento sustentável, no
qual as atividades humanas não colidem com a conservação da biodiversidade biológica.
Subjacente à designação de estatuto de reserva da Biosfera está, inclusivamente. A
realização de projetos demonstrativos de como o bem estar das populações pode ser
melhorado ao mesmo tempo que se mantém o equilíbrio ecologico8.
a. O presente projeto vai ser implementado numa área protegida e numa ilha
designada como Reserva da Biosfera, tendo como impactes negativos sobre a
única espécie nativa de peixe de água doce, a qual está em perigo critico de
extinção em todo o mundo.
b. Parece-me que, neste contexto, o projeto deveria, em vez de ter uma atitude
defensiva de mitigação já em fase de construção, pugnar por ter como objetivo
mínimo um impacte nulo sobre a população de enguias da Ilha das flores,
procurando ser um exemplo das melhores práticas mundiais na conservação desta
espécie.
54
9. Por mais positivos que sejam os impactes ao nível económico e da redução da utilização
de combustíveis fosseis, estes não justificam que se deixe de tomar medidas necessárias
para (i) salvaguardar a continuidade ecológica das ribeiras intervencionadas e (ii) gerar um
impacte não significativo sobre a população de enguias que nelas vive. De facto, penso
estarmos a falar de medidas iniciais de engenharia irrelevantes face ao custo total da obra,
e de medidas de acompanhamento que pouco representam em relação ao valor gerado
pelo empreendimento.
10. As medidas de gestão ambiental propostas, a existirem, serão estabelecidas já em fase de
construção e visam “minimizar os impactes do projeto” (p. 181), o que me parece vago e
seguramente pouco ambicioso. Ora,
a. O parecer dos ICES emitido há pouco mais de um mês refere explicitamente que
todos os impactes antropogénicos devem ser reduzidos a zero9.
b. O bom senso (e a literatura especializada10) aconselha a que as medidas de
proteção devem ser previstas na etapa de desenho e não como alterações ao
projeto já na fase de construção.
c. existem soluções de engenharia (descritas em documentos citados no próprio EIA)
que permitem atingir uma mortalidade perto do zero, ao mesmo tempo que se
asseguram a continuidade hidrológica.
11. Em conclusão, proponho que o projeto seja re-desenhado para assegurar
a. a. a transponibilidade de todos os trechos, em ambas as direções e para todas as
fases do ciclo de vida (e não, como está no texto, “uma maior transponibilidade”,
p.182)
b. a mortalidade zero das enguias, ou seja uma mortalidade não significativamente
diferente da situação de referência em todos os pontos do circuito, quer em termos
de infraestruturas quer de procedimentos.
i. No primeiro caso causam particular preocupação as tomadas
tirolesas, sobretudo em relação às enguias de pequena e média
dimensão. Estas passam anos na ribeira e estão portanto sujeitas a
serem capturadas nestas estruturas múltiplas vezes. De acordo com
as boas práticas na área11, a captação deve ter uma malha menor que
2mm, enquanto o projeto prevê um espaçamento de 480mm (p. 161).
ii. No segundo caso menciono as intervenções nos equipamentos, que
muitas vezes geram caudais anormais e súbitos que têm grande
impacto sobre as comunidades a jusante.
55
12. Idealmente, e tendo em conta o valor do património natural em causa e o contexto da
Ilha onde se situa, o projeto poderia, para além de anular o seu impacte negativo sobre a
população de enguias, ambicionar fazer um contributo positivo para a conservação da
enguia europeia. Este contributo teria que ser discutido com especialistas mas poderia
consistir, por exemplo, em implementar um sistema de monitorização baseado em
dispositivos automáticos que contribuísse para aumentar o conhecimento sobre os padrões
de migração da espécie, ou em montar paralelamente um projeto de restauro ambiental
que melhorasse as condições de criação das populações de enguias da ilha.
13. Não sendo eu um especialista nesta espécie, nem tendo experiência sobre as soluções
de engenharia mais adequadas para anular ou compensar os impactes negativos de
intervenções hidroelétricas, sugiro que seja pedido um parecer sobre este EIA a uma
entidade que tenha essas competências.
Ponta Delgada, 28 dezembro 2017”
GEOTA, através do Sr. Pedro Santos (ENT-DRA 2017-2018/36)
Aproveitamento Hidro elétrico da Ribeira Grande
Parecer no âmbito da consulta pública do Projeto de Execução
29.dez.2017
O GEOTA é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA), de âmbito nacional
e sem fins lucrativos, em atividade desde 1981. O GEOTA acredita ser indispensável considerar o
Ambiente como um fator central de desenvolvimento, que englobe não só a Natureza mas também
a paisagem humanizada, os valores culturais, a qualidade de vida das pessoas e a gestão e
salvaguarda dos recursos naturais.
Neste âmbito, tomou conhecimento do processo de participação pública que está a decorrer até
hoje, 29 de dezembro de 2017, relativo ao Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande (AHRG)
na Ilha da Flores, Açores.
A análise deste processo permitiu-nos verificar que algumas questões centrais carecem de análise
aprofundada, nomeadamente:
56
• Ausência do estudo de alternativas: localização | Verifica-se que foi realizada uma análise
comparativa de dois cenários. O GEOTA congratula o facto de ter sido considerada a alternativa
zero, mas considera que deveriam ter sido estudadas alternativas que não afetassem o Parque
Natural de Ilha das Flores, mais precisamente a Área de Paisagem Protegida da Zona Central e
Falésias da Costa Oeste. O facto de outras localizações terem sido estudadas em anos anteriores
não inviabiliza a sua inclusão nesta nova análise. Tal porque os impactes são mutáveis à escala
temporal e porque a sua inclusão possibilitaria uma análise comparativa de impactes entre
alternativas, permitindo consequentemente uma decisão devidamente consubstanciada.
• Ausência do estudo de alternativas: produção elétrica | Para o GEOTA, referir a construção
de novas aproveitamentos hidroelétricos como uma solução isolada, descrimina a existência de
outras soluções, com padrões tecnológicos alternativos e financeiramente rentáveis, que permitem
assegurar os mesmo objetivos em termos energéticos. Neste âmbito, destaca-se a necessidade
de análise de produção recorrendo a fontes endógenas alternativas, como o caso da energia solar.
Paralelamente, a construção de novas infraestruturas, sobretudo quando apresentam impactes
irreversíveis em áreas protegidas, deve ser precedida, ou pelo menos acompanhada, de uma
análise da eficiência energética nos diversos sectores (habitação, serviços, indústria) do território.
Note-se que os meses de maior dependência de combustíveis fósseis são também os mais secos
do ano (abril a setembro), logo, aqueles em que a produção de energia hídrica será previsivelmente
mais baixa. De facto, tal já se verifica no Aproveitamento Hidroelétrico de Além Fazenda, nas
Flores. As soluções de produção elétrica devem assim optar por soluções que colmatem esses
períodos, e não por infraestruturas que não os solucionem. Devem ser diversificadas as formas de
produção, assegurando uma maior resiliência do sistema de produção e distribuição de
eletricidade.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 57
ANÚNCIO
CONSULTA PÚBLICA
ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL
PROJETO DE APROVEITAMENTO HIDROELETRICO DA RIBEIRA GRANDE
DA ILHA DAS FLORES
Proponente: EDA RENOVÁVEIS
Licenciador: Direção Regional de Energia
Autoridade Ambiental: Direção Regional do Ambiente
O projecto acima mencionado, em Fase de Projeto de Execução, está sujeito a um procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental, conforme estabelecido pela alínea m) do n.º 8 do Anexo II, áreas sensíveis do Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010/A, de 15 de novembro. O projeto localiza-se na sua maior parte na freguesia da Fajãzinha, concelho das Lajes das Flores, ilha das Flores. Nos termos e para efeitos do preceituado no art.º 106.º e nos artigos. 111.º, 112.º e 113.º do Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010/A, de 15 de novembro, a Direção Regional do Ambiente, enquanto Autoridade de Ambiental, informa que o Estudo de Impacte Ambiental, constituído pelo Relatório Técnico, Resumo Não Técnico, bem como o parecer da Comissão de Avaliação, entretanto emitido, se encontram disponíveis para Consulta Pública, durante 20 dias úteis, de 29 de novembro de 2017 a 29 de dezembro de 2017, inclusive, nos seguintes locais:
Direção Regional do Ambiente, sita na Rua Cônsul Dabney, Colónia Alemã - 9900-014 HORTA, Telefone: 292 207 300;
Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, sita no Largo do Colégio 9500-054 Ponta Delgada, telefone 296 281 216;
Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, sita na Rua do Morrão 42, 9700 054 Angra do Heroísmo, telefone 295 401 000;
Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, sita na Rua Walter Bensaúde 14 9900-142 Horta, telefone 292 391 344;
Serviço de Ambiente das Flores, sita na Rua João Augusto Silveira, 9960-443 Lajes das Flores, telefone 292 207 390.
Na Internet através do endereço http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sraf/docDiscussao
No âmbito do processo de consulta pública, os interessados devidamente identificados podem manifestar-se por escrito, no prazo atrás referido, devendo todas as exposições serem dirigidas à Direção Regional do Ambiente, sita na Rua Cônsul Dabney, Colónia Alemã - 9900-014 HORTA, com o correio eletrónico: [email protected].
O licenciamento do projeto só poderá ser concedido após a Declaração de Impacte Ambiental Favorável ou Condicionalmente Favorável a emitir pela Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo.
A Declaração de Impacte Ambiental deverá ser emitida até 22 de fevereiro de 2018.
Horta, 21 de novembro de 2017
A Diretora de Serviços da Qualidade Ambiental
Sónia Santos
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 58
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 59
ANEXO II
APRECIAÇÃO DAS PARTICIPAÇÕES E RESPOSTAS PONDERADAS
NA CONSULTA PÚBLICA
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 60
PARECERES RECEBIDOS
Participante Parecer Observações da DRA Sílvio Gonçalves – Aldeia da Cuada Preocupação relativa a poluição em termos de
poeiras, ao ruído produzido pelas obras e pelo funcionamento das turbinas da central e a ocupação do espaço para estacionamento pelos visitantes do denominado Poço da Ribeira do Ferreiro, tendo como referência os impactes que estas situações podem ter na unidade turística “Aldeia da Cuada” face à imagem de qualidade e sustentabilidade ambiental deste aldeamento para alojamento de turistas.
Relativamente às poeiras, o próprio EIA propõe a aspersão de água na superfície de zonas de trabalho para mitigar este potencial impacte já de si pouco significativo devido às condições edafoclimáticas e morfológicas da área de estudo e esta Autoridade Ambiental deverá condicionar estas obras com tal medida de mitigação na Declaração de Impacte Ambiental (DIA). Relativamente ao ruído, e para fase de construção, são obviamente expectáveis impactes de ruído, como em qualquer obra de construção civil. No entanto, a DIA condicionará a realização dos trabalhos aos dias úteis e ao período diurno definido no DLR nº 23/2010/A. Refira-se que este será um impacte temporário. Na fase de exploração, o EIA assume que não haverá emissões de ruído no exterior da Central Hidroelétrica e as restantes infraestruturas do projeto não deverão gerar ruído, pois são semelhantes ao de qualquer sistema de recolha e distribuição de água para abastecimento às populações. Como medida de salvaguarda, a Central hidroelétrica ficará condicionada em DIA, no caso de emitir ruído para o exterior, à obrigação de assegurar o cumprimento dos
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 61
limites legais definidos para uma zona sensível, definida no DLR nº 23/2010/A, ficando o proponente obrigado ao proponente a efetuar trabalhos de isolamento sonoro, caso necessário, para garantir tal condicionante. Ao nível da instalação de um estaleiro junto ao local de acesso ao Poço do Ferreiro contíguo à Estrada Regional , perto da interceção desta com a Ribeira Grande, esta Autoridade Ambiental porá, na DIA, como condição que este tipo de instalação de apoio à obra não fique implantado em locais expostos aos trilhos, à Estada Regional ou de uso para estacionamento dos visitantes e residentes da Fajã Grande e da Fajãzinha, pelo que deve ser apresentado local alterativo, a sujeitar à aprovação prévia da Direção Regional do Ambiente.
Gerbrand Michielsen “O meu contributo está apenas relacionado com biodiversidade afetada, com destaque para a Enguia Europeia, dado que estou atualmente a colaborar com o projeto “ Tracking European Eel spawing from the Azores”. Como foi referido no documento, a EDA Renováveis tem instalado um projeto similar na Ribeira Quente em São Miguel e sugere implantar as mesmas medidas para diminuir os impactos sobre as Enguias, declarando-as como eficazes.
Na Declaração de Impacte Ambiental, ficará como condição ao licenciamento do projeto, e antes do lançamento do concurso público para a sua construção, a apresentação prévia de um estudo, que tem de ser aprovado pela Direção Regional do Ambiente, com os resultados da monitorização que já decorre, com proposta de medidas que permita à enguia europeia completar as fases do ciclo de vida que decorrem na ribeira.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 62
Reconheço que foi feito trabalho no sentido de monitorização mas os resultados estão longe dos pretendidos. - Durante a primeira fase do nosso projeto conseguimos apanhar 39 Enguias. Apenas um exemplar (juv) foi capturado por cima da primeira barragem enquanto todos os restantes ficaram retidos nas Ribeiras abaixo das barreiras. As Enguias juvenis retidas nas armadilhas são apenas uma percentagem muito reduzida, já que são observados grandes cardumes na foz da Ribeira Quente. A zona abaixo das barragens consiste em habitat bastante hostil para esta espécie já que prefira aguas tranquilas com vegetação e lodo em vez de Ribeiras “limpas”. Facto do que as juvenis não chegam as Furnas como anteriormente dificulta as fêmeas chegar a idade adulta. Mesmo depois quando as adultas tentar regressar para a zona de reprodução no mar de Sargaço encontram dificuldades ou ate impossibilidade pelo caminho a foz. Antes da construção das centrais de Ribeira Quente havia registos de quantidades significativas de Enguias adultas nas Furnas, enquanto atualmente desapareceram quase por completo. Para evitar que se repita a situação da Ribeira Quente nas Flores, sugiro implantar uma reserva ecológica no 2ª afluente da Ribeira Grande atrás do moinho. Existe um terreno abandonado (ver fotografia anexa) que pode ser inundado, de
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 63
forma simples e controlada com uma abertura regulável a partir da ribeira, para criar um habitat ideal para a enguia completar o seu ciclo natural e valorizar a zona como “hotspot” para espécies ocasionais de avifauna, recompensando ainda de alguma forma o impacto sobre o turismo de natureza que o projeto da EDA irá provocar. Como o 2ª afluente fica logo no início, será de extrema importância salvaguardar uma livre transição efetiva para as Enguias (juvenis e adultas) na própria central, encaminhando-as e facilitando o acesso para o canal do moinho a partir da câmara de carga.”
Guilherme Santos - Ambiflores O participante refere que “o projeto prevê preservar e restaurar a qualidade ambiental e paisagística na área da sua implantação, mas não se encontra a um nível desejável. Irá colidir de forma agressiva com as áreas protegidas na zona envolvente do projeto.”
Comentário opinativo, dado que o participante não apresenta fundamentos. Para se evitar impactes na paisagem, é de salientar que o projeto apenas na captação da Ribeira do Ferreiro, devido ao caudal sólido grosseiro frequente no troço da implantação, possui um açude em soleira, com 1,5 m de altura acima de cota do leito normal de escoamento, o que modifica o perfil longitudinal e o torna visível no local. Contudo, a envolvente está ocupada por vegetação arbórea, o que minimiza a sua exposição para as vizinhanças da área de implantação, enquanto numa paisagem de cascatas e lagoas, considera-se que uma pequena albufeira não choca visualmente com as características da envolvente se esta ficar visível de miradouros distantes.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 64
Por sua vez o açude da Ribeira Grande e do primeiro afluente serão do tipo tirolesa, ou seja, em profundidade, mantendo assim a paisagem e o perfil longitudinal da linha de água sem alterações, não havendo por isso impacte paisagístico, enquanto a captação do segundo afluente será através de uma derivação lateral num troço da linha de água já artificializado realizada abaixo da superfície junto ao aqueduto sob a Estrada Regional e por isso também não interfere com a paisagem.
“Um dos maiores incómodos deste projeto é o ruído. Sobre o ruído provocado pela obra e, principalmente, pelo funcionamento desta central, são escassas as linhas a ele dedicadas nos estudos dos impactos ambientais: Diz-se que “a área em estudo apresenta baixa densidade urbana”, “admitindo-se (?) globalmente um ambiente acústico de qualidade”. Será assim? E o Aldeamento Turístico da Cuada, situado por cima da central prevista, não será prejudicado? E a nidificação das tão protegidas aves marinhas?”
Relativamente ao ruído, e para fase de construção, são obviamente expectáveis impactes de ruído, como em qualquer obra de construção civil. No entanto, a DIA condicionará a realização dos trabalhos aos dias úteis e ao período diurno definido no DLR nº 23/2010/A. Refira-se que este será um impacte temporário. Na fase de exploração, o EIA assume que não haverá emissões de ruído no exterior da Central Hidroelétrica e as restantes infraestruturas do projeto não deverão gerar ruído, pois são semelhantes ao de qualquer sistema de recolha e distribuição de água para abastecimento às populações. Como medida de salvaguarda, a Central hidroelétrica ficará condicionada em DIA, no caso de emitir ruído para o exterior, à obrigação de assegurar o cumprimento dos limites legais definidos para uma zona sensível,
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 65
definida no DLR nº 23/2010/A, ficando o proponente obrigado ao proponente a efetuar trabalhos de isolamento sonoro, caso necessário, para garantir tal condicionante. Refira-se ainda que o local de implantação do projeto não está integrado em nenhuma zona de proteção especial da avifauna, pelo que não existem restrições legais específicas para este objetivo da conservação da natureza nos locais de implantação do projeto.
“O projeto situa-se em terrenos privados e os donos dessas terras não só não foram contactados nem informados pelas entidades responsáveis por este projeto, como ainda não autorizaram qualquer intervenção nas suas terras”.
Informa-se que não é no âmbito do procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental que se verificam a titularidade dos terrenos, sendo esse requisito verificado, pela entidade licenciadora, através do processo de licenciamento da atividade. Saliente-se que a emissão de uma DIA não dispensa a emissão de qualquer outra licença, autorização e declaração a que o empreendimento esteja sujeito perante a legislação aplicável.
“Antes de se avançar para um projeto desta dimensão, porque não tentar melhorar a eficiência das fontes de produção de energia renovável já existentes? Segundo se diz, o Parque Eólico não está a ser devidamente explorado”.
De acordo com os dados indicados no EIA, mas também nos dados publicados pela EDA, é possível verificar que a produção de energia de base renovável (hídrica e eólica) produzida na Ilha das Flores se situa na ordem dos 50-60%, mas sobretudo a partir da componente hídrica. Daí a necessidade deste projeto, que permitirá à ilha das Flores diminuir na quase totalidade a
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 66
sua dependência de combustíveis fósseis para a produção de eletricidade. A central hídrica Além Fazenda foi recentemente renovada e ampliada.
“Segundo explicou o presidente da EDA, com a inauguração da ampliação da Central Hídrica Além Fazenda passam a estar garantidas na ilha das Flores todas as condições para a produção e distribuição de energia com segurança e qualidade. Duarte Ponte explicou que este é o culminar de um processo de quatro anos, que envolveu o investimento total da EDA de 20,4 milhões de euros na ilha das Flores. Além da reabilitação e ampliação da Central Hídrica de Além Fazenda, foi também construída a Central Térmica das Lajes, capaz de garantir o abastecimento de energia eléctrica a toda a ilha, mesmo que não exista produção hídrica e eólica. (http://www.rtp.pt/acores/economia/governo-regional-anuncia-novos-investimentos-nas-energias-renovaveis-video_47587)”.
A justificação da necessidade do atual projeto não colide com o referido pelo participante na consulta pública.
“Na pág. 3 do “Parecer de Apreciação CA” destaca-se seguinte parágrafo: «Ressalva-se que, na página 2-2 é referido que a ilha das Flores “...é já actualmente autosuficiente do ponto de vista energético.” Pelo que, nesta perspectiva, deve fundamentar-se a escolha do local/ilha para implementação do aproveitamento hidroeléctrico, o qual só se justificará face a
Importa esclarecer que o parecer da CA citado foi efetuado a uma versão anterior do EIA (que não colocada à Consulta Pública), onde se citou um parágrafo dos objetivos do empreendimento que não parecia ter a devida justificação na projeção da situação ambiental de referência sem o empreendimento. A versão do Relatório Síntese que colmatou ou respondeu às questões
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 67
eventuais aumentos de consumo previstos». Houve ou está previsto haver algum aumento substancial nos consumos energéticos na ilha, que agora justifiquem este investimento?”.
levantadas antes pela CA, no seu conjunto evidenciou que a justificação do projeto não era cobrir o aumento de consumos de energia mas sim “o objetivo do projeto em avaliação não é colmatar uma insuficiência da capacidade de fornecimento energético instalada na ilha das Flores, mas sim, eliminar a dependência do sistema aos combustíveis fósseis e não renováveis para a produção de energia elétrica nas Flores.”
“Durante a construção desta obra (que demorará no mínimo 3 anos a ser concluída) prevê-se reativar a britadeira da Fajã-Grande para a utilizar como estaleiro das máquinas, colidindo com todos os esforços da comunidade da Fajã-Grande e da Associação Ambiental da Ilha - Ambiflores para requalificar aquele local como um espaço verde”.
Nada a comentar.
“A entrada do trilho da Ribeira do Ferreiro, local mais visitado na ilha e dos mais procurados do arquipélago, será afetada com a instalação de estaleiros de apoio às obras (mínimo de 3 anos até concluído), o que, como consequência, trará grandes impactos negativos para o turismo da ilha”.
Ao nível da instalação de um estaleiro junto ao local de acesso ao Poço do Ferreiro contíguo à Estrada Regional , perto da interceção desta com a Ribeira Grande, esta Autoridade Ambiental porá, na DIA, como condição que este tipo de instalação de apoio à obra não fique implantado em locais expostos aos trilhos, à Estada Regional ou de uso para estacionamento dos visitantes e residentes da Fajã Grande e da Fajãzinha, pelo que deve ser apresentado local alterativo, a
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 68
sujeitar à aprovação prévia da Direção Regional do Ambiente.
“”Incremento do emprego e da atividade económica nos aglomerados da área de influência das obras”: Não há quantificação deste impacto positivo, pressupondo-se que seja maior na fase de construção (empregos de curta duração). Quantos postos de trabalho serão criados a longo prazo?”.
O EIA identifica este impacte positivo, de magnitude e significância moderadas face ao contexto local, essencialmente na fase de construção, prevendo-se: - Aumento dos postos de trabalho diretos, associados à construção do aproveitamento; - Eventual afluxo de mão-de-obra exterior; - Crescimento da atividade económica, sobretudo ao nível do comércio local e atividades de restauração e estadia. O EIA refere que, na fase de exploração não se prevê a criação de postos trabalho direto, ficando o controlo e a manutenção da central a cargo de técnicos da EDA. Contudo, haverá sempre necessidade de realizar trabalhos de manutenção com recurso a mão-de-obra existente na ilha e/ou com mais deslocação de pessoal especializado, o que poderá continuar a contribuir como impacte positivo em termos socioeconómicos, ainda que os mesmos se perspetivem de reduzida magnitude e significado.
“O Projeto ficou disponível para visualização e discussão do público no mês de dezembro, curiosamente uma altura em que tanto as pessoas como entidades estão ocupadas a tratar de
Os procedimentos de AIA estão condicionados aos prazos legais da legislação e esta não prevê condicionalismos de época em que os mesmos possam ocorrer para além dos dias feriados, por
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 69
eventos de Natal, compras ou até fora da ilha a desfrutarem de férias”.
isso a coincidência resultou diretamente de imposições da lei.
“Gostaríamos de dar referência ao facto de que a intervenção não só se situa num território que é Reserva da Biosfera, como também é praticamente adjacente ao mais importante ex-libris das Flores e dos Açores que, aliás, tem sido extensivamente utilizado pelo Governo Regional para promover o arquipélago como destino de Turismo de Natureza. Assim, achamos que este projeto merece ter o melhor que a engenharia possa proporcionar, tendo em vista a sustentabilidade ecológica e turística da nossa ilha (e não ser tratada e gerida como mais uma mera obra de construção).”
Nada a comentar.
Marco Henriques “No “Projeto de Licenciamento Elétrico – Central Hidroelétrica Ribeira Grande”, no “Ponto 1- Descrição Geral” é referido que “o Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande, situa-se na Costa leste da Ilha das Flores, próximo da localidade de Fajãzinha, e destina-se ao reforço da capacidade de produção de energia elétrica da ilha”. Meus caros, a Fajãzinha, concretamente a Ribeira Grande, situasse na costa OESTE das Flores. Esta gralha da parte da elétrica ou preciosismo desta análise mostra à priori o
O documento referido é uma peça técnica que efetivamente acompanhou o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e faz parte do processo licenciamento do projeto e que tem no local citado do texto este erro. Contudo, não só esta mesma peça possui uma carta com a implantação do projeto, como ainda, os Relatórios do EIA, a Memória Descritiva do Projeto e os Anexos do EIA possuem tanto em texto, como em cartas e ainda em figuras, referências frequentes e abundantes que localizam corretamente o projeto em avaliação,
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 70
cuidado e tratamento tido na elaboração deste projeto.”
pelo que é provável tratar-se de um lapso ortográfico que não compromete a informação para apreciar o empreendimento.
“Em primeiro lugar e porque se trata de uma
questão que sou visado diretamente uma vez que
a localização (nomeadamente das condutas de
água) está projetada numa proximidade da minha
habitação ridícula para uma obra ainda por
efetuar, considero ser abusiva a forma como está
a ser idealizada esta obra”.
Nada a comentar.
“O argumento renovável, o qual sou 100% a favor,
não pode ser utilizado a todo o custo da evolução
necessária. Não vou nesta exposição enveredar
por questões, mas sim sublinhar pontos que são
óbvios: a ilha das Flores já tem, atualmente,
autonomia energética renovável.
Será discutível, no mínimo, querer passar a ideia
que o aumento de 20% no pós-obra desta central
em renováveis a nível geral não contrasta com a
descaracterização paisagística que será
verificada a olho nu. É inegável, por muito
cuidadoso que venha a ser a arquitetura deste
projeto, que esta área altamente reconhecida
(25% parte do Parque Natural da Ilha das Flores
O projeto, apenas na captação da Ribeira do Ferreiro, devido ao caudal sólido grosseiro frequente no troço da implantação, possui um açude em soleira, com 1,5 m de altura acima de cota do leito normal de escoamento, o que modifica o perfil longitudinal e o torna visível no local. Contudo, a envolvente está ocupada por vegetação arbórea densa, o que minimiza a sua exposição para as vizinhanças da área de implantação, enquanto a albufeira enquadra-se numa paisagem de cascatas e lagoas. Por sua vez, o açude da Ribeira Grande e do primeiro afluente serão do tipo tirolesa, ou seja, em profundidade, mantendo assim a paisagem e o perfil longitudinal da linha de água sem alterações, enquanto a captação do segundo afluente será através de uma derivação lateral
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 71
– por sua vez Reserva da Biosfera) será
desvirtuada como já havia sido anteriormente
noutros exemplos, felizmente encerrados como o
caso de uma britadeira instalada mais a norte da
Ribeira do Ferreiro. Local último, como outro
junto à ponte desta ribeira referida que poderá
ser utilizado como “estaleiro” para esta futura
obra. Estamos a falar de um local de acesso a
outra das paisagens mais badaladas dos Açores:
falo do Poço da Ribeira do Ferreiro”.
num troço da linha de água já artificializado realizada abaixo da superfície junto ao aqueduto sob a Estrada Regional. O edifício da central para 1,1 MW, tem menos de 500 m2 e uma altura de 3 pisos, cujos alçados foram disponibilizados à Direção Regional do Ambiente e com traços de arquitetura tradicional. Ao nível da instalação de um estaleiro junto ao local de acesso ao Poço do Ferreiro contíguo à Estrada Regional , perto da interceção desta com a Ribeira Grande, esta Autoridade Ambiental porá, na DIA, como condição que este tipo de instalação de apoio à obra não fique implantado em locais expostos aos trilhos, à Estada Regional ou de uso para estacionamento dos visitantes e residentes da Fajã Grande e da Fajãzinha, pelo que deve ser apresentado local alterativo, a sujeitar à aprovação prévia da Direção Regional do Ambiente. O EIA conclui que as incidências visuais negativas estarão maioritariamente associadas à câmara de carga, pelo que se admite, na fase de exploração, impactes paisagísticos de reduzida magnitude e pouco significativos, sendo apenas recomendada a adoção de cuidados específicos no caso da Câmara de Carga, nomeadamente ao nível do projeto de arquitetura, e no tocante às cores e formas a adotar, que minimizem, tanto
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 72
quanto possível, as construções tradicionais, melhorando a inserção desta unidade na paisagem envolvente, determinando consequentemente impactes residuais sem significado.
“E no que diz respeito ao projeto de
aproveitamento quero acreditar que há
consciência da parte de quem analisa que a
redução de 80% do caudal após zona de captação
acabará com a fauna e flora existente no local”.
No EIA são dadas garantias de se salvaguardar o caudal ecológico convencional. O leito permanente desta linha de água é constituído por calhau grosseiro, um suporte que não permite a fixação de vegetação, exposto a períodos de turbulência e grande velocidade do fluxo de água que destroem frequentemente espécimes vegetais que aí se tivessem fixado. Esta característica do leito é evidenciada pelas fotos onde se vê a inexistência de uma cobertura vegetal no leito da ribeira e observada in loco. Ao nível da fauna, mais especificamente a enguia europeia, na Declaração de Impacte Ambiental, ficará como condição ao licenciamento do projeto, a apresentação prévia de um estudo, que tem de ser aprovado pela Direção Regional do Ambiente, com os resultados da monitorização que já decorre, com proposta de medidas que permita à enguia europeia completar as fases do ciclo de vida que decorrem na ribeira.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 73
“É do conhecimento público, altamente noticiado,
que a ilha das Flores já tem autonomia renovável
em determinadas épocas do ano. É também do
senso comum um aumento de consumo por parte
da ilha pouco considerável para se estar a
projetar uma obra com um custo superior a 7
Milhões de euros. É correntemente discutido a
falta de manutenção do Parque Eólico da ilha das
Flores ou pelo menos a sua não utilização na
totalidade (e sim estou consciente das
condicionantes meteorológicas para a sua
utilização). É caso raro discutir-se politicas de
apoio ao consumidor no âmbito das renováveis,
excetuando as candidaturas (limitadas) à
aquisição de painéis solares. “
De acordo com os dados indicados no EIA, mas também nos dados publicados pela EDA, é possível verificar que a produção de energia de base renovável (hídrica e eólica) produzida na Ilha das Flores se situa na ordem dos 50-60%, mas sobretudo a partir da componente hídrica. Daí a necessidade deste projeto, que permitirá à ilha das Flores diminuir na quase totalidade a sua dependência de combustíveis fósseis para a produção de eletricidade.
“Creem os estudos do projeto em causa um
impacto positivo ao longo da obra no que diz
respeito ao incremento do trabalho na zona, ao
mesmo tempo que sublinha vir a ter um impacto
positivo a médio/ longo prazo. A médio/longo
prazo se excetuarmos o único argumento válido
(refiro-me obviamente ao aproveitamento
hídrico e consequentemente renovável) teremos
zero oferta de emprego relacionado com esta
obra. Mas esta obra com uma duração de
O EIA identifica, na vertente da socio economia, um impacte positivo, de magnitude e significância moderadas face ao contexto local, essencialmente na fase de construção, prevendo-se: - Aumento dos postos de trabalho diretos, associados à construção do aproveitamento; - Eventual afluxo de mão-de-obra exterior; - Crescimento da atividade económica, sobretudo ao nível do comércio local e atividades de restauração e estadia.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 74
curto/médio prazo terá por si só a pior das
consequências deste projeto. Os trabalhos a
efetuar durante todo este período serão
prejudiciais a todas as atividades económicas e
sociais envolventes, nunca serão compensadas
nem a curto, nem a médio nem a longo prazo.
Estamos a tratar de um domínio que tem muito de
investimento público e de todos os cidadãos. Mas
estamos a falar no campo económico de uma
receita que só trará benéfico a uma componente
privada.”
O EIA refere que, na fase de exploração não se prevê a criação de postos trabalho direto, ficando o controlo e a manutenção da central a cargo de técnicos da EDA. Contudo, haverá sempre necessidade de realizar trabalhos de manutenção com recurso a mão-de-obra existente na ilha e/ou com mais deslocação de pessoal especializado, o que poderá continuar a contribuir como impacte positivo em termos socioeconómicos, ainda que os mesmos se perspetivem de reduzida magnitude e significado. Ainda no domínio da socio economia, o EIA admite, na fase de construção, impactes negativos de reduzida magnitude e significado, decorrentes de perturbações na paisagem e estrutura rural, determinando, ainda assim, a adoção de medidas adequadas visando reduzir, a perturbação, as implicações nas infraestruturas viárias, bem como ressarcir as atividades produtivas sustentadas em produtos agrícolas/pastagens nos terrenos temporariamente afetados pela materialização do aproveitamento. Refira-se que o proponente pertence a um grupo económico maioritariamente de capitais públicos regionais.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 75
“O ruído existe, a obra será exorbitante e tal como
já havia pedido esclarecimento com responsáveis
pela elétrica, nomeadamente da Renováveis,
considere-se no mínimo um trajeto a Norte desta
localidade (Fajãzinha) para se fazer eventuais
condutas e acessos à central. Preserve-se aquilo
que existe, sob pena de serem totalmente
incoerentes com a justificação desta obra.”
Relativamente ao ruído, e para fase de construção, são obviamente expectáveis impactes de ruído, como em qualquer obra de construção civil. No entanto, a DIA condicionará a realização dos trabalhos aos dias úteis e ao período diurno definido no DLR nº 23/2010/A. Refira-se que este será um impacte temporário. Na fase de exploração, o EIA assume que não haverá emissões de ruído no exterior da Central Hidroelétrica e as restantes infraestruturas do projeto não deverão gerar ruído, pois são semelhantes ao de qualquer sistema de recolha e distribuição de água para abastecimento às populações. Como medida de salvaguarda, a Central hidroelétrica ficará condicionada em DIA, no caso de emitir ruído para o exterior, à obrigação de assegurar o cumprimento dos limites legais definidos para uma zona sensível, definida no DLR nº 23/2010/A, ficando o proponente obrigado ao proponente a efetuar trabalhos de isolamento sonoro, caso necessário, para garantir tal condicionante.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 76
José Manuel Azevedo “A minha contribuição é feita com ênfase na proteção da enguia europeia, tendo por base o meu conhecimento sobre esta espécie e a leitura das partes relevantes do Relatório Síntese e do Relatório Não Técnico. O relatório determina que o principal impacte negativo na área da ecologia será sobre as populações de enguia europeia devido à quebra da continuidade hidrológica (levando à interrupção das migrações essenciais à conclusão do ciclo de vida) e à mortalidade resultante do funcionamento dos equipamentos. Ao mesmo tempo, porém, apresenta o desconhecimento da situação específica da população de enguias na Ribeira Grande como justificação para desenhar o projeto sem ter em conta a conservação desta espécie. O EIA prevê, mesmo assim, fazer uma amostragem com pesca elétrica na fase de pré-construção a qual determinará a própria necessidade de “medidas de gestão ambiental”. Em nenhum ponto do EIA se menciona que a enguia europeia é uma espécie alvo de medidas de proteção a nível regional, nacional e europeu por estar criticamente ameaçada de extinção, sendo uma das causas principais a disrupção do ciclo de vida por intervenções nas linhas de água1. Também não é referido que o estatuto de Reserva da Biosfera da Ilha das Flores representa um
Na Declaração de Impacte Ambiental, ficará como condição ao licenciamento do projeto, e antes do lançamento do concurso público para a sua construção, a apresentação prévia de um estudo, que tem de ser aprovado pela Direção Regional do Ambiente, com os resultados da monitorização que já decorre, com proposta de medidas que permita à enguia europeia completar as fases do ciclo de vida que decorrem na ribeira.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 77
compromisso regional na promoção de abordagens inovadoras ao desenvolvimento económico, que sejam social e culturalmente adequadas e ambientalmente sustentáveis. Penso que o plano de monitorização, sobretudo na sua fase inicial e decisiva para o estabelecimento das medidas de gestão ambiental, é temporal e espacialmente muito limitado e tem insuficiências metodológicas. Para além disso, os critérios de decisão sobre eventuais “medidas de gestão ambiental” são vagos e portanto inoperacionais. Finalmente, parece-me que o conhecimento já existente sobre as enguias nos Açores permite afirmar que este sistema hídrico é relevante para a conservação da espécie. Proponho, portanto, que, no mínimo, o projeto seja desde já redesenhado para ter impacte zero sobre a população de enguias da Ribeira Grande e afluentes, (i) assegurando a transponibilidade de todos os trechos, em ambas as direções e para todas as fases do ciclo de vida e (ii) assegurando uma mortalidade das enguias não significativamente diferente da situação de referência em todos os pontos do circuito, quer em termos de infraestruturas quer de procedimentos. Adicionalmente, o projeto poderia ambicionar ter um impacte positivo sobre a população desta espécie.”
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 78
Nota: dada a extensão do documento recebido (6 páginas), nesta tabela consta apenas um resumo, sendo que todo o conteúdo pode ser consultado em anexo.
GEOTA - Pedro Santos “Ausência do estudo de alternativas:
localização | Verifica-se que foi realizada uma
análise comparativa de dois cenários. O GEOTA
congratula o facto de ter sido considerada a
alternativa zero, mas considera que deveriam ter
sido estudadas alternativas que não afetassem o
Parque Natural de Ilha das Flores, mais
precisamente a Área de Paisagem Protegida da
Zona Central e Falésias da Costa Oeste. O facto de
outras localizações terem sido estudadas em anos
anteriores não inviabiliza a sua inclusão nesta
nova análise. Tal porque os impactes são
mutáveis à escala temporal e porque a sua
inclusão possibilitaria uma análise comparativa
de impactes entre alternativas, permitindo
consequentemente uma decisão devidamente
consubstanciada. “
A partir da leitura do EIA, que contém o historial das soluções para o fornecimento face ao consumo energético, verifica-se que o presente projeto não surgiu sem análises de outras fontes endógenas, inclusive observa-se que já ocorreram melhoramentos na Central Hidroelétrica de Além Fazenda e a instalação do Parque Eólico, destacando-se que o aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis na Ribeira Grande foi declarado de interesse público pela Resolução de Conselho de Governo n.º 20/2017, de 27 de março, o que evidencia que esta solução foi equacionada ao nível de estratégia regional para o setor energético.
“Ausência do estudo de alternativas: produção elétrica | Para o GEOTA, referir a construção de novas aproveitamentos
Não excluindo que há sempre lugar a mais aprofundamentos quando se efetuam estudos, estes não podem servir de pretexto para
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 79
hidroelétricos como uma solução isolada, descrimina a existência de outras soluções, com padrões tecnológicos alternativos e financeiramente rentáveis, que permitem assegurar os mesmo objetivos em termos energéticos. Neste âmbito, destaca-se a necessidade de análise de produção recorrendo a fontes endógenas alternativas, como o caso da energia solar. Paralelamente, a construção de novas infraestruturas, sobretudo quando apresentam impactes irreversíveis em áreas protegidas, deve ser precedida, ou pelo menos acompanhada, de uma análise da eficiência energética nos diversos sectores (habitação, serviços, indústria) do território. Note-se que os meses de maior dependência de
combustíveis fósseis são também os mais secos
do ano (abril a setembro), logo, aqueles em que a
produção de energia hídrica será previsivelmente
mais baixa. De facto, tal já se verifica no
Aproveitamento Hidroelétrico de Além Fazenda,
nas Flores. As soluções de produção elétrica
devem assim optar por soluções que colmatem
esses períodos, e não por infraestruturas que não
os solucionem. Devem ser diversificadas as
formas de produção, assegurando uma maior
protelar continuamente o momento da decisão sobre soluções que, entretanto, tenham surgido e o presente projeto apoia-se num histórico que leva a que o procedimento respeite as exigências do regime de AIA e permita uma decisão. Este procedimento de AIA em concreto foi antecedido de um processo público para a emissão do Título de Utilização dos Recursos Hídricos (TURH) que necessita de estudos do regime hidrológico, pelo que o proponente teve de apreciar a relação entre os meses mais secos e os consumos e inclusive é a entidade que explora todo o sistema pelo que evidenciou no seu histórico estudos que demonstram ter estudado a situação para os meses mais secos e de maiores consumos, tal como se evidencia no EIA quando perspetiva o contributo das diferentes fontes ao longo de vários meses de exploração da central em apreciação.
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 80
resiliência do sistema de produção e distribuição
de eletricidade.”
“Afetação da qualidade das massas de água superficiais | O EIA refere que o Estado Ecológico da ribeira da Badanela é “Bom” e o da Ribeira Grande “Razoável”, enquanto que o Estado Químico é “Bom” em todas as ribeiras. A construção das infraestruturas previstas no AHRG irá afetar este estado, já que novos reservatórios de armazenamento de água criarão massas de água lêntica. De facto, é admitido que, na Ribeira Grande, a
redução significativa do caudal poderá causar
alguns problemas ao nível da qualidade das águas
superficiais e subterrâneas, com previsível
redução da capacidade de depuração destes
sistemas. Este impacte é tido como negativo, mas
pouco significativo, o que contraria as metas
traçadas pela Diretiva Quadro da Água, que exige
a não deterioração do estado das massas de água.
De facto, a poluição difusa proveniente da
indústria agropecuária poderá afetar bastante a
sua qualidade, pelo que devem ser tidas
devidamente em conta.”
Na primeira linha de preocupações da DRA está o cumprimento dos objetivos ambientais da Diretiva Quadro da Água e Lei da Água, as quais exigem a recuperação da qualidade das massas de água e a manutenção das condições de referência. Contudo, também é verdade que a DRA se confronta com desafio de compatibilizar esses objetivos ambientais com a procura dos recursos hídricos (ribeiras) para fins hidroelétricos que contribuam para a estratégia de desenvolvimento de produção de energia baseada no uso de recursos endógenos renováveis na Região. No caso da massa de água (MA) do tipo ribeira “Ribeira Grande”, ilha das Flores, o seu estado foi, desde o início da sua monitorização, classificado como “Razoável” decorrente dos resultados obtidos em 4 locais de amostragem. As cargas brutas aferidas de origem pecuária apresentam preponderância sobre qualquer outro dos setores analisados e revelam-se como uma pressão potencialmente significativa em face da capacidade de autodepuração do meio. Contudo, embora se identifique a existência de carga pecuária na MA, pericialmente não se
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 81
julga ser capaz de justificar o atual estado, em particular no ponto intermédio (a montante da Estrada Regional), uma vez que, quer os 2 pontos de monitorização em maior altitude, quer o ponto na zona de foz apresentam bons resultados. O marcado regime torrencial desta ribeira poderá estar na origem da situação encontrada na zona intermédia, cujos resultados de monitorização têm sido responsáveis pela classificação “Razoável”. De acordo com o Plano de Gestão de Região Hidrográfica dos Açores 2016-2021 (PGRH-Açores 2016-2021), a MA em causa apresenta estado inferior a Bom (mais propriamente estado Razoável) no ano de referência (2012), tendo-se previsto que conseguiria atingir o Bom estado em 2015 e mantê-lo até 2027. De acordo com o nº 4 do artigo 51º da Lei da Água é admissível o incumprimento dos objetivos ambientais, desde que se observem os requisitos do nº 5 do artº 51º e do artº52º, quando: a) O facto de não se restabelecer o bom estado ecológico ou de não se conseguir evitar a deterioração do estado de uma massa de água resultar de alterações recentes das características físicas de uma massa de água superficial; b) O facto de não se evitar a deterioração do estado de uma massa de água de classificação
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 82
“Excelente” para “Bom” resultar de novas atividades humanas de desenvolvimento sustentável. A sujeição ao regime de avaliação de impacte ambiental do projeto de execução do aproveitamento hidroelétrico, a implantar no último terço da MA “Ribeira Grande”, ilha das Flores, visa precisamente garantir a adequação ambiental de todo o processo energético, reduzindo os impactes ambientais à escala local e regional através das medidas de minimização propostas, as quais serão ajustadas em função dos resultados do programa de monitorização (qualitativa e quantitativa) definido para verificar o real impacte ambiental resultante das fases de construção e exploração do aproveitamento.
“Impactes no sector turístico | O projeto prevê estabelecer as suas instalações nas proximidades do Poço Ribeira do Ferreiro, o local mais icónico e imagem de marca da ilha das Flores. A importância ecológica atribuída aos ecossistemas afetados e o valor paisagístico deste local, implicam que o AHRG tenha impactes concretos, e não estudados, num dos principais sectores.”
As infraestruturas do projeto não são visíveis aquando da observação da paisagem, exceto quando muito próximo destas, pois a conduta será em quase toda a sua extensão enterrada, duas das captações serão em tirolesa e uma outra aproveita em profundidade a estrutura artificial associada ao aqueduto sob a estrada regional do segundo afluente. Apenas a captação da Ribeira do Ferreiro terá um açude com uma pequena lagoa, sendo este uma entidade
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coerente com uma paisagem verde rica em cascatas e lagoas.
“Envolvimento de stakeholders no processo de consulta | O período de consulta pública (20 dias úteis, de 29 de novembro a 29 de dezembro de 2017) foi demasiado reduzido e não houve apresentação e discussão presencial em sessões públicas. Pese embora o Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010/A, de 15 de novembro, que estabelece o regime jurídico da avaliação do impacte e do licenciamento ambiental, indique que a duração desta fase seja de 30 dias, o período atribuído poderia ter sido superior, sobretudo quando se trata de uma época festiva e de um mês com vários feriados.” “Note-se que as lacunas de informação e análise
acima descritas, assim como o fraco esforço de
envolvimento das populações na consulta
pública, indiciam que pode não estar a ser dado
cumprimento ao artigo 29.º do Decreto
Legislativo Regional n.º 30/2010/A”
Sobre este aspeto este aspeto este técnico tem de esclarecer que o prazo previsto para Consulta Pública de um projeto enquadrado no Anexo II está definido na alínea b) do número 2 do artigo 106.º do Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010/A de 15 novembro, pelo que afirmação do GEOTA referente ao prazo não está correta e compete à Autoridade Ambiental a modalidade de concretização da consulta nos termos do n.º 4 do mesmo artigo e diploma. Além disso, quando do procedimento de apreciação do pedido utilização dos recursos hídricos com o fim de captar água da para o aproveitamento hidroelétrico da ribeira “Ribeira Grande”, freguesia de Fajãzinha, concelho de Lajes, ilha das Flores, para a produção de energia hidroelétrica através da implantação de infraestruturas hidráulicas, apresentado pela empresa EDA Renováveis, S.A, que antecedeu o presente procedimento de AIA, foi publicado um Edital no Jornal Oficial da Região de 17 de abril de 2017, onde se publicitava o interesse do proponente em implementar o uso associado a este empreendimento que estava descrito na
Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 84
referida publicação e onde se convidavam todos os interessados a apresentarem por escrito as suas objeções à atribuição da mencionada utilização, durante o prazo de trinta dias úteis. Não tendo havido qualquer objeção pelo que não se previa qualquer conflitualidade no procedimento de AIA que a seguir decorreu, contudo é possível concluir que o projeto este disponível para consulta em dois períodos totalizando 50 dias úteis do ano de 2017.
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“Em suma, tendo em conta as lacunas do estudo em áreas consideradas de grande importância e a possível violação de legislação comunitária, como as Diretivas Habitats e Diretiva Quadro da Água, o GEOTA considera que a Declaração de Impacte Ambiental, a ser emitida até 22 de fevereiro de 2018, do projeto Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande, deve ser alvo de um Parecer Desfavorável.”
Observações da DRA nos pontos anteriores.