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1 PARECER FINAL DA COMISSÃO DE AVALIAÇÃO DO ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL AO APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DA RIBEIRA GRANDE, ILHA DAS FLORES FASE DE PROJETO DE EXECUÇÃO PROPONENTE: EDA RENOVÁVEIS Documento: INT-DRA/2018/295

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PARECER FINAL DA COMISSÃO DE AVALIAÇÃO

DO ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL

AO

APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DA RIBEIRA GRANDE,

ILHA DAS FLORES

FASE DE PROJETO DE EXECUÇÃO

PROPONENTE: EDA RENOVÁVEIS

Documento: INT-DRA/2018/295

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------- 3

2. DESCRIÇÃO DO APROVEITAMENTO E SEU ENQUADRAMENTO --------- 4

3. AVALIAÇÃO DO PROJETO POR FATOR AMBIENTAL ------------------------ 5

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ----------------------------------------------------------------- 5

3.2 CLIMA --------------------------------------------------------------------------------------- 6

3.3 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ---------------------------------------------------------- 6

3.4 RECURSOS HÍDRICOS ---------------------------------------------------------------------- 8

3.5 SOLOS ------------------------------------- ------------------------------------------------ 11

3.6 PAISAGEM -------------------------------------------------------------------------------- 13

3.7 ASPETOS ECOLÓGICOS ------------------------------------------------------------------ 14

3.8 QUALIDADE DO AR ---------------------------------------------------------------------- 27

3.9 RUÍDO ------------------------------------------------------------------------------------- 28

3.10 POPULAÇÃO E ESTRUTURA PRODUTIVA --------------------------------------------- 29

3.11 OCUPAÇÃO ATUAL DO SOLO ----------------------------------------------------------- 31

3.12 GESTÃO TERRITORIAL E USOS CONDICIONADOS ---------------------------------- 32

3.13 PATRIMÓNIO CULTURAL E EDIFICADO ---------------------------------------------- 34

3.14 PROJEÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DE REFERÊNCIA SEM O EMPREENDIMENTO

--------------------------------------------------------------------------------------------------- 35

4. CONSULTA PÚBLICA -------------------------------------------------------------------- 36

5.1. RESUMO DA CONSULTA PÚBLICA ----------------------------------------------------- 36

5.2. CONSULTA A ENTIDADES --------------------------------------------------------------- 37

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------- 37

Anexo I do Parecer Final – Conteúdo do Relatório da Consulta Pública ----------- 40

Anexo II do Parecer Final – Apreciação das participações e respostas ponderadas

na Consulta Pública ------------------------------------------------------------------------ 59

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1. INTRODUÇÃO

O procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) ao projeto em título teve início a 4 de agosto

de 2017 com a entrada dos exemplares necessários do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) em papel, do

respetivo suporte digital na Direção Regional do Ambiente (DRA).

Parte da restante documentação necessária ao AIA já estava na DRA no âmbito do procedimento para a

concessão do Título de Utilização dos Recursos Hídricos (TURH) a que esta pretensão esteve sujeita.

O projeto está abrangido pelo regime de AIA definido no Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010, de

15 de novembro (Diploma AILA) por a sua tipologia estar incluída na alínea m) do n.º 8, do Anexo II

deste Diploma e ultrapassar do limite inferior de 100 kW definido para áreas sensíveis.

Recebido o EIA, a Autoridade Ambiental nomeou a respetiva Comissão de Avaliação formada pelos

Serviços listados abaixo através dos técnicos representantes nomeados pelos respetivos departamentos:

- Direção de Serviços da Qualidade Ambiental (DSQA), que preside à CA, representada por Carlos Faria,

que foi substituído nas suas faltas e impedimentos por Filipe Pires que também assumiu a organização da

Consulta Pública;

- Direção de Serviços de Recursos Hídricos e Ordenamento do Território (DSRHOT), representada por

Raquel Cymbron, para avaliação em matéria dos recursos hídricos, e por Ana Dinis para as matérias

referentes ao Ordenamento do Território;

- Direção de Serviços da Conservação da Natureza e Sensibilização Ambiental (DSCNSA), por

sobreposição parcial do projeto com área do Parque Natural de Ilha das Flores, representada por Paulo

Pimentel;

- Direção Regional da Cultura (DRC), por interceção com a faixa de proteção com um imóvel

classificado, representada por Luís Vieira;

- Direção Regional da Energia (DREn), como entidade licenciadora da unidade de produção de energia,

elétrica não vinculada ao serviço público, representada por Carlos Pestana.

Após a receção na DRA da documentação mencionada, esta foi disponibilizada aos técnicos

representantes da CA através de meios informáticos, tendo os diferentes membros então apreciado esses

elementos, trocado informações e inclusive alguns se deslocado à área de estudo para reconhecimento do

terreno e verificação da consistência do observado com o exposto no EIA, de modo a elaborar o parecer

conjunto relativo à conformidade do EIA, emitido a 4 de setembro no qual se solicitaram alguns

melhoramentos e informações e se suspendeu o procedimento até à receção do requerido.

A 27 de outubro a DRA recebeu os elementos solicitados pela CA de que resultou um parecer favorável

à declaração de conformidade do EIA que foi emitida e o processo prosseguiu para a fase de Consulta

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Pública, cujo relatório se anexa ao presente parecer final que pretende fornecer os elementos considerados

importantes pela CA para a decisão final através da emissão da Declaração de Impacte Ambiental pelo

membro do Governo dos Açores competente em matéria de Ambiente.

2. DESCRIÇÃO DO APROVEITAMENTO E SEU ENQUADRAMENTO

O projeto de execução em avaliação encontra-se resumidamente descrito no EIA e de forma completa na

memória descritiva que faz parte da documentação recebida na DRA.

A central hidroelétrica será implantada na margem esquerda da ribeira Grande, o que facilitará a

implantação da obra e aproveitará o acesso existente da estrada que liga à Fajãzinha.

O local de implantação é limitado a sul pela estrada existente e a norte por um talude.

O edifício da central, terá um comprimento máximo de cerca de 24,70 m e uma largura máxima de 9,60 m.

A central será equipada com 2 grupos turbina-alternador.

O edifício da central permitirá albergar os grupos geradores de 550 kW de potência unitária, o transformador

de 0,4/15kV, o quadro de comando dos grupos, a cela de 15kV e o restante equipamento eletromecânico e

elétrico.

A central terá apenas um pequeno escritório que servirá igualmente de sala de arquivo e umas instalações

sanitárias.

Em função das suas características de funcionamento (queda, caudal) os grupos geradores serão constituídos

por turbinas Pelton de dois injetores e eixo horizontal acopladas a alternadores síncronos, trifásicos.

Os grupos estarão preparados para funcionamento em comando automático (situação preferencial) ou em

comando manual (situação de recurso ou ensaios). Um comutador permitirá selecionar o sistema de

comando.

Na sala dos grupos serão instaladas as válvulas de proteção das turbinas e o equipamento relativo ao sistema

de regulação.

A ventilação prevista será através de grelhas inferiores para entrada de ar e grelhas superiores para saída de

ar. Serão também previstos sistemas de deteção e extinção de incêndios e de deteção de intrusão.

Para encaminhar água para central haverá a construção de quatro captações a montante: um açude na ribeira

do Ferreiro em betão com 1,5m de altura e 15m de desenvolvimento, implantado a cerca de 40m a montante

da ponte rodoviária existente na estrada regional sobre a ribeira Grande no fundo do vale da Fajãzinha; uma

no leito da Ribeira Grande, a cerca de 270m a montante da mesma ponte, do tipo tomada tirolesa e com 20

m de extensão; uma terceira na ribeira da Encosta, igualmente do tipo “tirolesa, com 5m de

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desenvolvimento, toda escavada no leito e próxima da anterior; e uma última na ribeira do Moinho como

uma tomada de água lateral, em betão armado, com 1,5m de desenvolvimento junto ao aqueduto desta linha

de água sob a Estrada Regional.

Todas estas captações convergirão para uma câmara de carga através de condutas soterradas, a partir da

qual outra conduta forçada, que com exceção de 2 aquedutos para transpor pequenas depressões

topográficas, será também enterrada encaminhará a água para a hidroelétrica.

3. AVALIAÇÃO DO PROJETO POR FATOR AMBIENTAL

3.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O EIA, após apresentar o quadro legal do procedimento, expõe a estrutura e metodologia que esteve na base

da sua elaboração; mostra o enquadramento geográfico do empreendimento; o contexto relativo às

necessidades energéticas, fontes de energia nos Açores e na ilha das Flores e perspetivas para o setor; os

antecedentes estudados em torno de uma solução de aproveitamento hidroelétrico na bacia em causa até à

opção adotada e, em seguida, faz uma descrição resumida do projeto, assim como dos estudos hidrológicos

que o sustentam, agora em avaliação que se encontra em fase de projeto de execução.

Depois, com recurso aos fatores ambientais que os autores consideraram pertinentes para os objetivos do

procedimento, o EIA caracteriza a área de estudo onde se pretendem implantar as estruturas do

aproveitamento e da bacia hidrográfica em causa; projeta a evolução desta situação de referência caso não

se implemente o empreendimento com recurso aos mesmos fatores ambientais e avalia para as fases de

construção e exploração os impactes que perspetivam para aqueles se o projeto se concretizar.

Seguidamente a equipa do EIA propôs medidas de minimização ou de potenciação dos efeitos negativos ou

positivos que se considera pertinentes tendo em conta os impactes perspetivados, bem como programas de

monitorização para acompanhar o real evoluir no terreno na presença do empreendimento de molde a detetar

algum eventual desvio desfavorável que requeira posterior correção.

Neste parecer, para facilitar a compreensão das apreciações que a CA venha a fazer e respeitar a repartição

das competências pelos diferentes Serviços que a integram, os aspetos acima mencionados por fator

ambiental e distribuídos por vários capítulos no Relatório Síntese são reagrupados neste documento em

torno do descritor considerado, o que pode obrigar a algumas adaptações face à estrutura do EIA.

Por norma, quando neste parecer não se expressar discordância ou se propuser a alteração a uma medida do

EIA, deve entender-se que esta foi aceite pela CA, recomendando-se à Autoridade Ambiental a sua

integração na proposta de Declaração de Impacte Ambiental (DIA) se a mesma for condicionalmente

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favorável aquando da sua emissão pelo membro do Governo dos Açores competente para a decisão final

nos moldes que considerar adequado.

3.2 – CLIMA

O RS expõe os valores médios de temperatura e precipitação nos Açores e tendências de variação ao longo

do ano e de leste para oeste no Arquipélago. Em seguida faz uma descrição mais pormenorizada para as

Flores, onde informa que o clima é temperado húmido de temperaturas amenas, com pequenas amplitudes

e invernos chuvosos, mostrando em quadros os valores registados nos últimos trinténios nas estações e

postos meteorológicos existentes na ilha ao nível mensal.

A CA reconhece que a evidenciação da inexistência de temperaturas negativa e a presença de um clima

chuvoso com pluviosidade em todos os meses foi importante para justificar e avaliar as condições,

viabilidade e características técnicas do empreendimento estudado.

Impactes

O EIA não perspetiva impactes climáticos ou microclimáticas ao nível local e de âmbito global um

contributo positivo, mas de relevância reduzida devido à diminuição das emissões de gases com efeito estufa

em virtude da transferência do uso de energias fósseis para as renováveis.

Medidas de Minimização ou de Potenciação

Não perspetivando impactes negativos o EIA não propõe medidas de minimização e também não expôs

qualquer ação de potenciação.

A CA está de acordo com as perspetivas apresentadas e também não tem medidas a adicionar.

3.3 - GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA

O RS começa com o subfator geologia, referindo o enquadramento geotectónico dos Açores com

identificação das principais estruturas e placas tectónicas reconhecidas na Região. Prossegue com a

identificação dos complexos vulcanoestratigráficos definidos para a ilha das Flores, incluindo o histórico

destas definições, e as litologias que os constituem com a respetiva geocronologia, verificando-se que,

maioritariamente, o projeto fica implantado no complexo base correspondente a uma proto-ilha.

O RS apresenta o histórico de erupções vulcânicas e sismos ocorridos nos Açores desde o povoamento,

verificando-se que as Flores está fora da área afetada por estes fenómenos, para prosseguir com a exposição

dos acidentes tectónicos localizados na ilha e respetivas atitudes.

Depois o RS desenvolve a componente referente à geomorfologia, onde considera duas unidades: Maciço

Central e Orla Periférica, descrevendo com algum pormenor cada uma delas, destacando a existência de

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escarpados entre as duas e onde se tem verificado a ocorrência de vários movimentos de massa. O projeto

insere-se na Orla Periférica e exposto a estes movimentos.

A CA considera que este fator ambiental salientou os aspetos mais significativos a considerar na avaliação

dos impactes do projeto, sem ter outros elementos a adicionar.

Impactes

Fase de construção

Nesta fase haverá as ações de movimentações de terra devido a escavações (32.700 m3) e aterros (2.700 m3)

para implantação das infraestruturas do projeto, bem como a deposição de terras sobrantes, não reutilizadas

em obra, em novos locais (3.130 m3), a que se associa uma maior vulnerabilidade à erosão desses materiais.

Fase de exploração

O EIA apenas estima eventuais deformações das litologias devido à carga das infraestruturas implantadas.

Estes impactes são considerados negativos, de reduzida magnitude e significado na construção e

praticamente sem significado durante a exploração.

Medidas de Minimização

No EIA são propostas as seguintes medidas:

- Assegurar adequadas intervenções construtivas aos estudos geológico-geotécnicos;

- Realizar enrocamentos a montante e a jusante dos pontos de descarga conforme previsto no projeto;

- Sempre que possível, reutilizar em obra os materiais escavados e condução para depósitos dos materiais

excedentários;

- O projeto deve atender às condições de instabilidade das formações superficiais.

A CA considera que nenhuma medida, à exceção da incluída no projeto, está suficientemente pormenorizada

para permitir que a sua inclusão em DIA possa ser alvo de uma fiscalização adequada, embora sejam ações

de boa gestão de obra, a respeitante a terras sobrantes tem apenas a salvaguardar que:

- As terras sobrantes resultantes dos trabalhos de escavação devem ser encaminhadas para locais

devidamente autorizados ou licenciados.

Programa de monitorização

Não é proposto qualquer programa de monitorização e a CA também considera desnecessária a sua

implementação sobre este fator ambiental.

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3.4 - RECURSOS HÍDRICOS

O RS começa por apresentar a rede hidrográfica nas Flores, prosseguindo com a caracterização hidrológica

de cada uma das quatro bacias hidrográficas objeto do aproveitamento hidroelétrico. Depois, o RS

desenvolve a componente referente à hidrogeologia com a caracterização e delimitação das três massas de

água subterrâneas das Flores, incluindo a distribuição das origens de água.

No que concerne à componente qualitativa, a mesma é enquadrada com a metodologia normativa em vigor

em matéria de gestão e planeamento dos recursos hídricos. Neste quadro, o RS identifica e caracteriza as

massas de água superficiais (ribeiras) por tipologia, assim como a correspondente classificação do estado

dessas massas de águia com base no 1º Plano de Gestão da Região Hidrográfica em vigor à data de

elaboração do RS. Posteriormente, apresenta as principais pressões antropogénicas sobre o estado das

ribeiras.

De um modo geral, o RS foca os aspetos a ter em conta e faz uma caracterização com base em dados

disponíveis à data da sua elaboração.

Depois, o EIA, face aos elementos disponíveis, identifica os impactes de uma forma que se afigura correta

e efetua a sua classificação de acordo com os critérios utilizados neste estudo e propõe medidas que se

consideram adequadas.

A CA considera que a caracterização efetuada no EIA é suficiente para se avaliar os impactes do projeto

neste fator ambiental.

Impactes

Fase de construção

A fase de construção compreende as ações de construção de pequenos açudes e de estruturas de captação e

condução de água; Introdução de barreira transversal nos cursos de água; Represamento de água a montante

(com eventual alteração de meio lótico em meio lêntico e/ou criação de espelho de água); Captação de água

das ribeiras a montante dos açudes e sua restituição a jusante da central, com alteração do regime hídrico

no troço da ribeira interferido.

Assim, o EIA prevê os seguintes impactes:

- Aumento da turbidez e concentração de sólidos suspensos totais nos cursos de água;

- Contaminação acidental dos cursos de água durante esta fase que poderá ocorrer devido à descarga

acidental de contaminantes (óleos ou outros), nas zonas de obra.

Nesta fase, o EIA considera os impactes negativos, muito prováveis, contudo localizados, temporários e

reversíveis, classificando-os, assim, como negativos, de reduzida magnitude e significado.

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Fase de exploração

A fase de exploração compreende as ações relativas à existência de barreiras na linha de água interferida (4

açudes); Alterações nos regimes hídricos nas ribeiras interferidas (Ribeira Grande e em dois afluentes desta

e na Ribeira do Ferreiro), com elevado potencial de redução dos caudais nos troços intervencionados;

Desvio dos caudais da Ribeira Grande; Restituição do caudal turbinado na Fajãzinha; Determinação de

caudal ecológico.

Assim, o EIA prevê os seguintes impactes:

- Potenciação da poluição das águas superficiais decorrente da diminuição do efeito depurativo do

escoamento dos caudais;

- Condicionamento do regime hídrico da Ribeira Grande desde as 4 captações (Ribeira Grande e 2 afluentes

e ribeira do Ferreiro) até ao mar,

- Redução substancial dos caudais a jusante dos açudes;

O EIA classifica os impactes nesta fase como negativos, permanentes, de magnitude elevada, contudo muito

local e de abrangência espacial circunscrita, classificando-se o mesmo como significativo.

O EIA apesar de identificar que, na fase de exploração, poder-se-á assistir à degradação da qualidade da

água, não identifica como potencial impacte a eventual alteração do estado da massa de água “Ribeira

Grande”, a qual na situação de referência apresenta estado “Razoável”. Contudo, a CA entende que a

proposta de um programa de monitorização ecológica e avaliação da eficácia do caudal ecológico, permitirá

verificar se o aproveitamento configurará, ou não, uma pressão significativa sobre o estado da massa de

água.

As ações previstas no projeto resultam então, maioritariamente, em potenciais impactes ambientais,

permanentes, relacionados com a alteração do sistema hídrico natural e das respetivas condições ecológicas,

em particular na fase de exploração.

Medidas de Minimização

As medidas propostas pelo EIA são as seguintes:

- Não admissão de descargas de águas de drenagem, efluentes, resíduos e materiais contaminantes nos solos

e/ou cursos de água;

- As atividades de manutenção de maquinaria e manuseamento de combustíveis ou produtos químicos serão

efetuadas em plataformas impermeáveis devidamente dimensionadas e desenvolvidas para controlo de

derrames acidentais;

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- Todas as atividades de obra suscetíveis de influir negativamente nos recursos hídricos serão tanto quanto

possível afastadas dos cursos de água;

- Controlo de todas as escorrências nos locais de obra;

- Assegurar as condições adequadas de implantação, gestão e recuperação dos estaleiros, incluindo os

sistemas de saneamento básico e gestão de resíduos;

- Assegurar o regime de caudal ecológico, conforme preconizado no projeto.

A CA considera que nenhuma medida, à exceção da incluída no projeto, no que concerne ao estabelecimento

de caudal ecológico, está suficientemente pormenorizada para permitir que a sua inclusão em DIA possa

ser alvo de uma fiscalização adequada, embora sejam ações de boa gestão de obra.

Programa de monitorização

Nos aspetos qualitativos, é proposta a monitorização da qualidade ecológica. Para o efeito, o EIA propõe a

amostragem anual nos primeiros 5 anos dos elementos de qualidade biológica (fitobentos e

macroinvertebrados bentónicos) em 4 locais, para 3 fases de implementação do projeto: fase prévia de

construção, fase de construção e fase de exploração.

A CA entende que o programa de monitorização não cumpre a metodologia normativa em vigor (Lei nº

58/2005, de 29 de dezembro, e Decreto-Lei nº 77/2006, de 30 de março), quer no que respeita aos parâmetros

(apenas propostos os biológicos e excluindo os físico-químicos gerais), quer no que respeita à periodicidade.

Assim, o plano de monitorização dos ecossistemas aquáticos deverá decorrer ao longo de toda a vida útil

do aproveitamento para verificar o real impacte ambiental resultante das fases de construção e exploração

do aproveitamento. No que respeita à frequência de amostragem, concorda-se com a amostragem anual, a

qual se deverá manter até a Massa de Água atingir o “Bom” estado. Quando tal se verificar, a frequência de

amostragem poderá passar a ter uma frequência de amostragem de 6 em 6 anos.

Ao longo de um ano, os elementos biológicos devem ser amostrados semestralmente e os elementos de

qualidade físico-química, de suporte aos elementos biológicos, com frequência trimestral. Assim, os

parâmetros físico-químicos gerais e os biológicos a contemplar na monitorização são os constantes da

Tabela 1.

Tabela 1 – Elementos de qualidade para a classificação do estado ecológico de acordo com a Diretiva Quadro da Água

Elementos de qualidade Periodicidade

Biológicos Composição e abundância de diatomáceas bentónicas

Semestral

Composição e abundância de macroinvertebrados bentónicos

Semestral

Físico-químicos

Elementos gerais Condições térmicas Temperatura Trimestral

Condições de oxigenação Oxigénio dissolvido Trimestral

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Salinidade Condutividade Trimestral

Estado de acidificação pH Trimestral

Acidez Trimestral

Alcalinidade Trimestral

Condições relativas aos

nutrientes

Nitrato Trimestral

Fósforo total Trimestral

Poluentes específicos

Substâncias prioritárias Hidrocarbonetos Trimestral

Balanço de oxigénio Carência bioquímica de oxigénio Trimestral

Matérias em suspensão Sólidos suspensos totais Trimestral

Nos aspetos quantitativos, o EIA propõe uma análise anual aos valores de caudal ecológico, utilizando para

isso os dados dos caudais turbinados e os dados das futuras estações hidrométricas que estão a ser

implementadas na zona da Ribeira Grande pela Direção Regional do Ambiente.

A CA entende que o programa de monitorização, quer na componente qualitativa, quer na componente

quantitativa, poderá ser alvo de reavaliação/reajustamento em função dos resultados obtidos e/ou quaisquer

exigências que resultem de legislação comunitária, nacional ou regional publicada durante a vigência do

aproveitamento hidroelétrico. Ainda nesta matéria, no caso particular da componente quantitativa, face à

ausência de registos hidrométricos e, consequentemente, a conceção do projeto ter assente em valores

médios estimados, os valores de caudal ecológico, a par da avaliação da sua eficácia, poderão vir a ser

ajustados em função dos registos que serão medidos (caudais a montante e jusante das captações e caudais

turbinados).

Em suma, os resultados do programa de monitorização sustentarão o eventual ajustamento de medidas que

se venha a revelar necessário, de modo a qua a Massa de Água atinja o “Bom” estado.

3.5 - SOLOS

O EIA começa por referir que os solos nos Açores expressam características da sua origem em materiais

vulcânicos, são modernos e evoluíram sob condições de clima marítimo, temperado húmido, elencando e

descrevendo das tipologias classificadas que ocorrem na Região.

Depois o EIA, especifica esta caracterização regional à ilha das Flores, para se deduzir que na área do

projeto predominam andossolos saturados e insaturados e de boa aptidão, grande porosidade e valores

consideráveis de capacidade de infiltração.

Apesar de pouco pormenorizada a caracterização para os locais de implantação do projeto, dada a tipologia

destes considera-se suficiente, uma vez que na área em que estes estão incluídos em Reserva Agrícola

(RAR) o Instituto Regional de Ordenamento Agrário nada tem a opor à pretensão.

Impactes

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O EIA identifica os seguintes impactes:

Fase de Construção

- Perda do recurso nos locais de implantação de infraestruturas, devido à decapagem do solo, mas em área

diminuta, mas também em locais em que a conduta se situa na Reserva Agrícola;

- Acréscimo do risco de processos erosivos devido à mobilização do solo e de contaminação por máquinas

e viaturas em circulação, na área, assim como compactação do solo devido ao pisoteio.

Estes impactes estão classificados como pouco relevantes em magnitude e significância.

Fase de exploração

- Aumento de processos erosivos nalguns locais devido a alterações do regime de escoamento das linhas de

água ocupadas, compensado pela diminuição noutros pontos, pelo que resulta num impacte neutro.

A CA nada tem a adicionar ao já considerado no EIA.

Medidas de minimização

Fase de construção

- Decapagem da camada superficial dos solos, principalmente nas áreas de RAR e assegurar a sua

reutilização na obra ou na valorização dos solos da área envolvente;

- Separação da terra vegetal escavada da obra para reabilitar áreas intervencionadas, sejam valas, áreas de

estaleiros ou outras de apoio às obras;

- Armazenamento temporário do solo das decapagens, sobretudo da Reserva Agrícola, evitando

contaminação entre solos de natureza diferentes;

- Proceder-se-á à regularização das áreas afetadas pelas obras após o termo dos trabalhos, mediante a

colocação de terra vegetal à superfície e sementeiras com espécies adequadas ao coberto envolvente desde

herbáceas até arbóreas e adaptadas ao meio físico local, sem ser infestantes, nomeadamente urze, queiró e

faia-do-mato;

- Nas zonas de Reserva Agrícola atravessadas pela conduta, esta deverá ser enterrada a uma profundidade

não inferior a 1m;

- No caso dos solos aráveis, a reposição de terra vegetal não deverá ser inferior a 80 cm;

- Gestão correta dos resíduos, óleos e combustíveis e águas residuais produzidas e utilizadas no estaleiro,

através da sua recolha e condução a destino final apropriado.

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Algumas medidas propostas para este fator ambiental correspondem a meras práticas de boa gestão da obra

e de resíduos, inclusive constam como cláusulas no anexo “Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos de

Construção de Demolição. Contudo a CA nada tem a opor a nenhuma delas.

Programa de monitorização

Não é proposto qualquer programa de monitorização para este fator ambiental e a CA também não considera

necessária a sua implementação.

3.6 – PAISAGEM

O EIA começa por explicar os aspetos a considerar na caracterização do conceito de paisagem e de unidade

de Paisagem. Depois explicita algumas das suas características marcantes nos Açores: orografia vigorosa

devido à associação de altitudes elevada e um relevo acidentado estruturado por aparelhos vulcânicos com

redes de drenagem mais ou menos densa com frequência radial.

Em seguida o EIA pormenoriza a paisagem das Flores, com dois níveis geomorfológicos bem diferenciados,

genericamente coincidentes com as unidades geológicas que levam à definição de sete unidades de paisagem

implantando-se o projeto na denominada Fajãs que se situa no nível orla periférica, uma superfície isolada por grandes

escarpas de onde caem muitas cascatas, vegetação densa com uma relação privilegiada com o mar, onde estão

implantados vários povoamentos e entre estes áreas agrícolas em socalcos não muito pronunciados compartimentados

por muretes de pedra

A CA considera que este fator ambiental foi adequadamente trabalhado, apenas tem a referir que a unidade

paisagística é reconhecida por muitos visitantes e população açoriana como uma das de maior beleza dos Açores e no

cimo das escarpas existem vários miradouros diretamente para esta.

Impactes

Fase de Construção

- Desorganização espacial, sobretudo, associada à construção da conduta forçada, para pontos de observação

identificados em carta, e na área de estaleiro, uma vez que os locais dos açudes apresentam baixa exposição

visual e isolados.

Este impacte é classificado de negativo, temporário, de magnitude moderada e de significância reduzida.

Fase de exploração

- Visualização de estruturas construídas à superfície, sobretudo as sobre-elevadas como o açude do Ferreiro

e câmara de carga.

Este impacte é classificado de magnitude reduzida e de significância reduzida ou nula em função das

soluções de arquitetura adotadas.

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Medidas de Minimização

O EIA propõe várias medidas para diminuir a descaracterização da paisagem onde algumas destas se

estendem da fase de construção para a de exploração que abaixo são expostas já com algumas alterações

introduzidas pela CA:

- Programar os trabalhos de mobilização de terras para afetação mínima e dispersão pelo território, incluindo

o sentido dos trabalhos;

- Verificar da possibilidade de camuflar o pequeno trecho de conduta forçada colocada a céu aberto de modo

a evitar o efeito luminoso da reflexão do aço;

- Utilização de acabamentos e formas tradicionais nos edifícios e uso de espaços verdes e cortinas arbóreas

de modo a integrar ou se conveniente ocultar esses imóveis;

- Evitar a passagem de maquinaria e veículos e o seu parqueamento fora dos circuitos previamente

estabelecidos para o efeito;

- Proceder à recuperação paisagística de todas as áreas intervencionadas durante as obras, incluindo acessos

temporários, zonas de empréstimo e de depósito de materiais, taludes através de ações de regularização do

terreno, espalhamento de terra vegetal, sementeiras e plantações.

A CA tem ainda a adicionar a seguinte medida:

- Pulverizar/humedecer as vias de acesso ou áreas de circulação de maquinaria nas áreas de intervenção

sempre que houver necessidade de reduzir emissão de poeiras junto das habitações na povoação da

Fajãzinha.

Programa de monitorização

O EIA não propõe qualquer programa de monitorização para a paisagem e a CA considera desnecessário a

sua implementação.

3.7 – ASPETOS ECOLÓGICOS

O EIA refere, designadamente, que:

- Em síntese, toda a área de estudo diretamente intervencionada foi objeto de recolha de informação ao nível

de todos os descritores ambientais em avaliação, com particular detalhe para os aspetos ambientais

considerados mais relevantes, designadamente, Aspetos ecológicos - inventariar espécies presentes e

respetivos estatutos biogeográficos (endemismos insulares, lusitânicos e ibéricos) e/ou espécies abrangidas

por legislação nacional e regional. Foram recolhidos dados sobre as comunidades presentes na Ribeira

Grande e na Ribeira do Ferreiro, principais linhas de água a serem interferidas,

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- Procedeu-se à identificação das seguintes áreas de estudo, para além naturalmente, dos respetivos,

enquadramentos nacional e regional, designadamente Aspetos Ecológicos - a nível local foi identificada

como área de estudo aquela que agrega Faixa de 100 m em torno da Ribeira Grande e dos elementos do

projeto, incluindo a central hidroelétrica, condutas, câmara de carga, câmara de reunião e desarenadores e

Faixa de 200 m relativamente aos açudes/captações;

- A área de implantação do AH da Ribeira Grande interfere com área sensível do ponto de vista da

conservação da natureza, nomeadamente com a Área de Paisagem Protegida da Zona Central e Falésias da

Costa Oeste, onde o projeto prevê implantar os componentes de 4 captações, os 2 desarenadores, as câmaras

de válvulas e de reunião de caudais, o posto de seccionamento e ≈ 700 m do circuito hidráulico que respeita

às 3 aduções por gravidade, cujos caudais se vão reunir na câmara de reunião de caudais. Existindo uma

penetração nesta área protegida de uma faixa de 200 m para o seu interior;

- Metodologia de campo de Ictiofauna - No decorrer dos trabalhos de campo foram visitadas as linhas de

água afetas ao projeto, tendo-se registado as suas caraterísticas. Não foram efetuadas amostragens

direcionadas à ictiofauna, tendo-se obtido informação relativamente à presença da enguia através de fonte

bibliográfica da EDA;

- Os troços superior e intermédio da Ribeira Grande encontram-se abrangidos pelo PNI das Flores, mais

concretamente pela Área de Paisagem Protegida da Zona Central e Falésias da Costa Oeste [FLO08] e pela

Reserva Natural do Morro Alto e Pico da Sé [FL002];

- Flora da área de estudo - De acordo com os dados recolhidos foi possível identificar para a área de estudo

95 espécies e subespécies, e, 94 géneros distribuídos por 58 famílias. No total, os endemismos e os taxa

protegidos representam 22,1% dos elementos florísticos identificados no decorrer dos trabalhos realizados,

perfazendo um total de 21 espécies e subespécies. Destas, salientam-se Azorina vidalii, Chaerophyllum

azoricum, Picconia azorica e Erica azorica;

- De destacar a inexistência de habitats naturais na área de estudo, sendo que as formações observadas se

encontram alteradas, fruto das intervenções humanas sobre o território e da invasão de espécies exóticas

sobre os habitats originais;

- Em conclusão, o valor florístico da área de estudo considera-se mediamente interessante no contexto

regional. A área de estudo considerada é maioritariamente intervencionada, no entanto, na área costeira, nas

áreas florestais e nas áreas agrícolas ocorrem 21 espécies e subespécies com relevo conservacionista onde

se incluem 19 espécies endémicas dos Açores, 7 espécies protegidas pelo Decreto-Lei n.º 316/89, de 22 de

setembro, e 25 espécies protegidas pelo Decreto-Lei Regional n.º 15/2012/A, de 2 de Abril;

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- De acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al., 2006), a enguia utiliza

temporariamente os sistemas dulçaquícolas dos Açores, não completando aí o seu ciclo de crescimento e

maturação sexual. Tendo presente o programa de monitorização da enguia em curso para a Ribeira Quente

(Pereira, 2016, 2015, 2014), na ilha de S. Miguel, as enguias de vidro entram na ribeira de forma sistemática,

em quantidades variáveis consoante os anos, tentando migrar para montante, o que indicia que podem de

facto ter o seu desenvolvimento nestes sistemas, situação que se assume igualmente possível no caso da

Ribeira Grande em Avaliação;

- Em conclusão, o valor faunístico da área de estudo não se assume como particularmente relevante. Com

efeito, os biótopos presentes não oferecem condições particularmente adequadas para as espécies endémicas

e/ou com estatuto de proteção. No caso das aves, o grupo claramente mais diverso, realça-se a presença

próxima de áreas de reconhecido valor (ZPEs e IBAs), não estando, contudo, estas incluídas na área de

estudo nem aparentando esta última ter habitats muito relevantes para as espécies mais importantes neste

âmbito.

Entre os biótopos presentes, destaca-se a praia, por apresentar uma riqueza potencial de espécies muito

superior à dos restantes,

- A projeção da situação de referência incidirá, em particular, na avaliação da população da espécie

migradora catádroma enguia-europeia, a única espécie autóctone para qual existe informação de presença

confirmada na Ribeira Grande, bem como na caracterização da área disponível para esta espécie.

Atualmente, face ao desconhecimento da distribuição da espécie na bacia da Ribeira Grande, admite-se que

toda a área da bacia hidrográfica se encontra potencialmente disponível para ocupação pela enguia-europeia.

No entanto, será expectável que a área a montante da bacia seja inacessível pela existência de obstáculos

naturais, nomeadamente as fragas verticais existentes na transição da zona litoral para a de planalto. Num

cenário de ausência do projeto e desconhecendo-se outras fontes de pressão locais que venham a condicionar

a população de enguia-europeia, prevê-se a manutenção das condições existentes atualmente na Ribeira

Grande para a sua sustentação.

Impactes

O EIA refere que de um modo geral os aproveitamentos hidroelétricos têm os seguintes efeitos na flora,

fauna e habitats:

- Implicam perda do coberto vegetal devido à ocupação direta das infraestruturas;

- Provocam o revolvimento temporário e reversível de terras e a destruição da vegetação, devido ao

enterramento das condutas;

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- Introduzem barreiras físicas nos cursos de água, com interrupção do continuum do meio aquático com

consequentes impactes na fauna aquática;

- Implicam a diminuição de caudal a jusante das captações.

Fase de construção

Para esta fase o EIA identifica os seguintes impactes:

Flora e vegetação

- Apenas na zona costeira, no troço final da conduta e na área de construção da CHRG, é expetável a afetação

de alguns exemplares de espécies endémicas protegidas como serão os casos da vidália (Azorina vidalii),

do cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) e da Chaerophyllum azoricum;

O EIA refere que em síntese, no seu todo, o projeto afeta uma área reduzida e maioritariamente de valor

florístico pouco relevante pelo que os impactes globais na Flora e Vegetação são avaliados como negativos,

diretos, permanentes, de baixa magnitude e muito pouco significativos.

Fauna aquática

- A realização das obras irá causar a destruição do habitat nos troços intervencionados os quais ficarão ainda

sem caudal (devido ao desvio do rio), levando à redução do habitat e corte do continuum ecológico, com

eventual afetação das comunidades biológicas aí existentes. Esta ação impactará principalmente as

comunidades de macroinvertebrados bentónicos e a enguia. Contudo, admite-se viável a recolonização dos

troços afetados na sequência imediata da conclusão das obras, seja ao nível da vegetação seja dos

macroinvertebrados, havendo condições para a sobrevivência de espécies como a enguia. Assim, admite-se

que a construção do aproveitamento irá causar impacte negativo, direto, temporário, de baixa magnitude, e

pouco significativo.

- Também as alterações nas características físico-químicas da água devidas ao aumento da turbidez e de

partículas em suspensão, irão influir de forma potencialmente negativa na estrutura das comunidades

presentes, sobretudo naquelas mais sensíveis e com menor capacidade de adaptação a estas diferentes

condições. Contudo, mais uma vez se tratam de situações muito temporárias e que impactam apenas esta

ribeira (entre as cerca de 20 ribeiras da ilha das Flores e outras linhas de água de menor expressão),

determinando impacte negativo, direto, temporário, de baixa magnitude e pouco significativo.

- No que diz respeito à fauna terrestre, as intervenções a realizar irão conduzir, regra geral, à perda de habitat

e perturbação associada aos trabalhos e circulação de máquinas e equipamentos.

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- No caso da perda de habitat, dada a dimensão do projeto e a sua incidência essencialmente em ambientes

dominados por vegetação exótica, considera-se o impacte negativo, direto, permanente, de reduzida

magnitude e pouco significativo.

- O biótopo mais relevante para a fauna terrestre, a praia, prevê-se que venha a ser pouco afetado, sendo os

impactes mais relevantes aqueles relativos à perturbação proveniente da fase de construção. Este impacte

prevê-se que seja negativo, direto, temporário, de baixa magnitude e muito pouco significativo.

Fase de exploração

- Na fase de exploração do empreendimento as incidências potencialmente negativas estarão associadas às

implicações permanentes iniciadas durante a construção, e que se associam ao seccionamento das linhas de

água devido à interposição dos açudes e, consequentemente, quebra do continuum fluvial, bem como à

redução do caudal das ribeiras para jusante, com repercussões na fauna aquática, nomeadamente para a

enguia, devido a Introdução de barreira; Alteração do regime hidrólogo das ribeiras, devido à diminuição

do caudal a jusante dos açudes/captações; Diminuição dos nutrientes e sedimentos que ficarão retidos;

Alteração potencial da hidromorfologia das ribeiras pela alteração dos processos naturais de

erosão/acumulação.

De facto, as alterações introduzidas pelo projeto poderão influir no ciclo de reprodução da enguia que sobe

as ribeiras da região dos Açores. Contudo, admite-se viável a capacidade da enguia se deslocar para

montante, seja devido à humidade elevada a nível local, seja devido à muito provável ocorrência de caudais

de cheia, bem como à reduzida altura do açude a criar.

- No que respeita à vegetação, admite-se que rapidamente serão repostas as condições pré-existentes, sendo

de registar impactes reduzidos a nulos sem significado.

- Já no tocante aos possíveis impactes na fauna aquática, nomeadamente na enguia europeia pode-se afirmar,

e tendo presente os resultados de monitorização em curso na ilha de S. Miguel, que durante o seu período

juvenil a enguia ao realizar a migração de jusante para montante, conseguirá transpor os obstáculos criados

pelo projeto por estes serem de dimensões reduzidas; Por outro lado, relativamente à redução do caudal,

também a magnitude não será relevante uma vez que se constata que as enguias juvenis realizam os seus

processos migratórios em água doce quando os caudais das ribeiras estão mais reduzidos, admitindo-se que

a migração ao longo da ribeira é passível de ser realizada durante grande parte do ano, com o caudal

ecológico ambiental previsto.

- Acresce referir ainda que a existência de muitas outras ribeiras similares nas imediações poderá garantir,

por si só, a viabilidade local desta espécie, para além naturalmente das restantes ilhas do arquipélago.

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Em suma o EIA identifica, devido ao aproveitamento em apreço, impactes negativos, contudo de magnitude

muito reduzida a nula, e muito pouco significativos neste domínio.

Medidas de Minimização ou de Potenciação

Fase de construção

As medidas propostas pelo EIA são as seguintes:

- Restringir tanto quanto possível as áreas a afetar à obra, incluindo a circulação de máquinas e

trabalhadores, delimitando-a e sinalizando-a de forma adequada;

- Para instalação de estaleiros e zonas de apoio à obra recorrer, dentro do possível, a áreas já degradadas; se

tal não for viável, as unidades de apoio à obra deverão privilegiar áreas sem vegetação desenvolvida e/ou

arbórea, ou áreas com vegetação autóctone;

- Será reduzido ao mínimo indispensável o corte de vegetação arbórea e, se viável, arbustiva;

- Prever, no início da obra, especialista em Flora e Vegetação, que identificará objetivamente as

zonas/exemplares de vegetação autóctone, endémica e/ou protegida, bem como maciços arbóreo-arbustivos

a salvaguardar. Preconiza-se a adoção das seguintes medidas de: Identificação e catalogação da vegetação

relevante com destaque para exemplares de Cedro-do-mato (Juniperus brevifolia), Área de habitat de vidália

(Azorina vidalii); Área de habitat de Chaerophyllum azoricum;

- No caso de exemplares passíveis de serem diretamente afetados pela implantação das estruturas

construídas, o especialista designado deverá avaliar, conjuntamente com o proponente e a autoridade

ambiental local, a melhor forma de preservação, a qual poderá passar por: Admite-se como mais viável a

consideração de estrutura simples de banco de sementes visando a sua utilização nas ações de replantação

e estabilização biofísica subsequentes às obras; Quando estejam em causas exemplares em excelente estado

ecológico e boas condições sanitárias, e se identifiquem locais alternativos suscetíveis de os receber em

condições adequadas, poder-se-á ponderar o interesse e eficácia de realizar o transplante pontual para local

adequado; este será executado em bloco, ou seja, planta + substrato onde se encontra, para áreas envolventes

próximas em tudo semelhantes ao habitat que esta ocupava;

- Já no caso de exemplares passíveis de serem indiretamente afetados pelas atividades afetas à obra, serão

adotadas as medidas cabíveis dentre as seguintes: Identificação de acessos/locais de apoio à obra

alternativos; Caso inviável, adoção de fita sinalizadora no perímetro dos espécimenes vegetais a proteger;

Educação ambiental dirigida aos trabalhadores com explicação das razões de salvaguarda;

- As áreas/exemplares de vidália, de Chaerophyllum azoricum ou quaisquer outros pertencentes a espécies

protegidas, a serem afetados por questões imperativas do empreendimento, serão objeto de transplante;

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- Para minimizar a propagação de espécies exóticas infestantes, toda a matéria vegetal resultante do corte

de espécies como as canas ou a conteira, deverá ser destruída;

- A equipa a afetar à obra integrará ação de formação/sensibilização, no âmbito do plano de gestão ambiental

da obra, onde os requisitos legais relativos à fauna e à flora serão apresentados, visando reduzir a sua

afetação, a introdução/proliferação de exóticas, entre outros aspetos identificados como relevantes;

- O projeto não deverá contribuir para o fomento da vegetação não autóctone, pelo que, seja na reabilitação

das áreas afetadas pela obra, seja nas áreas envolventes das infraestruturas do projeto, serão adotadas

espécies nativas;

- As grelhas a instalar nas tomadas de água do tipo tirolesa, nomeadamente a captação na Ribeira Grande e

no 1º Afluente, deverão ter barras equidistantes com distância entre si não superior a 4,8 cm, por forma a

permitir a passagem de enguias adultas;

- Prever a implementação de medidas de gestão da população de enguia-europeia na Ribeira Grande, através

da adoção de Programa de Monitorização da enguia europeia, a iniciar-se ainda na fase de pré-construção e

que se estenderá até à fase de exploração;

- Na monitorização dever-se-á igualmente avaliar: A eficácia do caudal ecológico através da monitorização

da qualidade ecológica da água nos trechos a jusante das infraestruturas construídas e a avaliação da

mortalidade de espécies aquáticas causada pela central.

Fase de exploração

Nesta fase, no sentido de minimizar os impactes resultantes da alteração do regime hidrológico,

particularmente no troço compreendido entre as captações e a restituição da central, a principal preocupação

consiste em assegurar um caudal mínimo a jusante dos açudes. Assim deverá assegurar-se um regime de

caudais ecológicos, que assegure:

- Um caudal mínimo que assegure a quantidade de água necessária para os usos existentes;

- Manutenção do caudal necessário para manter as biocenoses dele dependentes – caudal ecológico;

- Assegurar uma gestão adequada do caudal ecológico da ordem de 20% do caudal médio anual;

- Considerar Programa de Monitorização dos Ecossistemas Aquáticos visando, se justificável, a adoção de

medidas adicionais.

PLANO GERAL DE MONITORIZAÇÃO

O EIA refere que o Plano Geral de Monitorização Ambiental (PGM) respeitante ao projeto do

Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande, desenvolvido em fase de Projeto de Execução, o qual

deverá ser ajustado, se justificável, na sequência da emissão da Declaração de Impacte Ambiental.

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Refere ainda o EIA que as atividades a desenvolver no âmbito do Programa de monitorização dos

ecossistemas aquáticos consistirão fundamentalmente em: Monitorização da população de enguia-europeia,

envolvendo: Caraterização da população de enguia-europeia, com subsequente adoção, caso justificável, de

medidas de gestão ambiental; Monitorização da eficácia das medidas de gestão ambiental da enguia-

europeia, Avaliação da eficácia do caudal ecológico, através da monitorização da qualidade ecológica.

A Caraterização da população de enguia-europeia:

- Objetivos - Caraterização da situação da referência população adulta de enguia-europeia na Ribeira

Grande, e de outras espécies,

- Parâmetros a monitorizar - Distribuição longitudinal; Abundância; Estrutura dimensional da população;

Presença de ectoparasitas,

- Locais a Monitorizar - Monitorização da população em 5 estações de amostragem, 3 na Ribeira Grande e

duas na ribeira do Ferreiro,

- Técnicas e Métodos de Análise e Registo - Amostragem por pesca elétrica,

- Periodicidade e Duração das Medições - A monitorização será realizada antes das atividades de construção,

durante a fase de construção, e posteriormente na fase de exploração, cumprindo os seguintes objetivos:

Fase de pré-construção, a efetuar na Primavera, no Verão e no Outono visando estabelecer, de forma mais

fiável, a situação de referência da enguia nas linhas de água a intervencionar.

Caso os resultados das primeiras campanhas permitam identificar uma população de enguia-europeia

estruturada, a monitorização deverá manter-se: Durante a fase de construção a efetuar na Primavera, no

Verão e no Outono, com o objetivo de identificar, desde logo, eventuais desvios devidos à realização das

obras; seguindo-se durante a exploração, a efetuar na Primavera, no Verão e no Outono, com o objetivo de

avaliar as alterações introduzidas pelo projeto na viabilidade das comunidades de enguia europeia nestas

linhas de água; dever-se-á ainda, tanto quanto possível e adequável, e para uma maior concentração de

informação e facilidade de análise, disponibilizar-se a informação constante dos Quadros B e C do

documento “Informação e documentação necessária para análise da necessidade de construir um dispositivo

de passagem para peixes numa determinada obra transversal fluvial” (ICNF) disponível em:

http://www.icnf.pt/portal/pesca/gr/pass-peix/resource/doc/ppp/doc-nec-passpeix

de acordo com o referido, na fase de construção/pré-construção admite-se a realização das seguintes

campanhas: Fase de Pré-construção – deverão ser realizadas 3 campanhas: na Primavera, no Verão e no

Outono; Fase de Construção – Anualmente na Primavera, no Verão e no Outono.

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- Periodicidade dos Relatórios e Revisão do Programa de Monitorização - Relatório anual caracterizando a

população de enguia europeia ao nível dos parâmetros monitorizados, incluindo a indicação das medidas de

gestão a adotar face aos resultados obtidos.

Medidas de Gestão Ambiental

Caso se identifiquem comunidades consistentes de enguia-europeia na Ribeira Grande, serão

implementadas medidas de gestão da população, conforme seguidamente se elencam. Estas medidas de

gestão da população da enguia-europeia deverão ser sujeitas a parecer e aprovação por parte da Direção

Regional do Ambiente dos Açores (Autoridade de AIA).

- Objetivos - A existência de uma população de enguia-europeia estruturada ativará a implementação de

medidas de gestão ambiental que visam minimizar os impactes do projeto, nomeadamente: (1) Impedimento

ou dificultação da migração das enguias juvenis para montante provocadas pela quebra do contínuo lótico

entre a tomada de água e o local de restituição do caudal ecológico (esta ocorrência poderá envolver um

trecho muito curto a jusante das estruturas de retenção de caudais a desenvolver); (2) Impedimento ou

dificultação da migração das enguias adultas para jusante devido à atração/captura dos indivíduos para o

sistema hidráulico e consequente mortalidade por turbinamento; (3) Impedimento ou dificultação da

migração das enguias juvenis para montante provocadas pela diminuição do caudal a jusante das tomadas

de água, pelo acentuar do efeito barreira de alguns desníveis naturais.

- Métodos - Caso as situações de impacte anteriormente referidas venham a ser confirmadas, dever-se-á

equacionar a adoção, individual ou conjugada, das medidas a seguir referidas:

Implementação entre o local de libertação do caudal ecológico e a montante da tomada de água,

de dispositivos de transposição para montante. Os dispositivos a instalar serão adequados às

capacidades de transposição de enguias, permitindo a passagem de enguias de vidro,

assegurando-de-vidro e serão construídos baseado no conhecimento existente (Baudoin et al.

2014; Environment Agency 2009; EPRI 2002), e de acordo com as características do projeto. No

caso dos dispositivos de transposição para montante, serão utilizados os dispositivos já utilizados

pela EDA RENOVÁVEIS no âmbito do “Projeto de Recuperação da População de Enguia

Europeia na Ribeira Quente” cuja eficácia vem sendo comprovada através da sua monitorização

(Pereira, 2016),

Implementação de dispositivos de encaminhamento que impeçam a entrada das enguias adultas,

em processo de migração para jusante, no circuito hidráulico ou, em alternativa, de vias de fuga

em diferentes partes do circuito hidráulico antes da entrada na central hidroelétrica. Das

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possibilidades de dispositivos existentes (Environment Agency 2009; EPRI 2002) será avaliada

as que mais se adequam às características do projeto,

Inventariação hidromorfológica na Ribeira Grande a jusante do local de libertação do caudal

ecológico como objetivo de identificar secções críticas (desníveis naturais) tomadas de água que

se tornem intransponíveis em situação de caudal ecológico. A avaliação da transponibilidade será

efetuada de acordo com os métodos desenvolvidos por Baudoin et al. (2014) nos locais

identificados através da inventariação hidromorfológica.

Os dispositivos de transposição para montante e os dispositivos de fuga para jusante estarão equipados com

armadilhas para captura ou com dispositivos de contagem automática, respetivamente, a montante e a

jusante dos dispositivos, que permitam monitorizar os indivíduos que utilizem o dispositivo e assim aferir

a sua eficácia.

- Localização das Medidas de Gestão Ambiental - Conforme anteriormente referido, as medidas de gestão

ambiental deverão ser adotadas, individual ou cumulativamente, nos seguintes locais: Setor entre a tomada

de água e a libertação do caudal ecológico; Circuito hidráulico; Secções críticas identificadas no troço da

Ribeira Grande a jusante do local de libertação do caudal ecológico.

- Implementação de Medidas - Caso seja confirmada a importância das comunidades de enguia europeia

presentes, recomenda-se que os dispositivos de gestão ambiental propostos (dispositivo para transposição

da enguia entre o local de libertação do caudal ecológico e a tomada de água, e os dispositivos que impeçam

a entrada no circuito hidráulico pelas enguias de adultas ou vias de fuga para estas) sejam implementados

simultaneamente ao projeto, estando ativos no início da fase de exploração. Já no tocante à inventariação

de secções críticas na Ribeira Grande, deverá ser efetuada, após a entrada em exploração do projeto, e num

período em que a ribeira a esteja exclusivamente dependente do caudal ecológico, a validação das barreiras

inventariadas nas fases de construção e pré-construção. Em função dos resultados obtidos, isto é, se se

confirmar a demanda desta ribeira por comunidades expressivas de enguia-europeia, serão implementadas

medidas de minimização das barreiras encontradas (ex.: mediante remoção de pedras de dimensões

elevadas, abertura de canais em zonas de escombreira, ou dispositivos de transposição nos casos

justificáveis), visando assegurar uma maior transponibilidade do trecho da Ribeira Grande entre as

estruturas de captação do aproveitamento e a foz da ribeira.

Caso venham a ser propostas /adotadas medidas específicas, estas serão objeto de projeto de

desenvolvimento dos dispositivos de transposição/encaminhamento a implementar. Esse relatório conterá

igualmente a inventariação de secções críticas e dos impactes identificados.

Monitorização da eficácia de Medidas de gestão da enguia-europeia

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- Objetivos - Avaliação da eficácia das medidas implementadas. Em concreto proceder-se-á à avaliação de:

Implementação dos dispositivos de transposição nos sectores entre a tomada de água e a libertação do caudal

ecológico; Escape do Circuito hidráulico e grau de mortalidade na Central; Secções críticas identificadas

no troço da Ribeira Grande a jusante do local de libertação do caudal ecológico.

- Parâmetros a monitorizar - Nº de enguias a utilizar os dispositivos (de transposição e de escape);

Distribuição longitudinal ao longo das linhas de água (com avaliação em particular dos seguintes sistemas

a montante das estruturas de projeto, jusante das estruturas de projeto, nas secções críticas ao longo da

Ribeira Grande). Em todos estes pontos determinar Abundância; Estrutura dimensional da população;

Ectoparasitas.

- Locais a Monitorizar - Dispositivos de transposição/encaminhamento, vias de fuga; Monitorização da

população adulta de enguia em 5 estações de amostragem, 3 na Ribeira Grande e duas na ribeira do Ferreiro;

Monitorização da mortalidade na central.

- Técnicas e Métodos de Análise e Registo - Captura por armadilhagem ou contagem via dispositivo

automático, dos indivíduos nos dispositivos de transposição/encaminhamento ou vias de fuga; Amostragem

por pesca elétrica da população adulta de enguia-europeia a efetuar no âmbito na monitorização da

população de enguia-europeia.

- Periodicidade e Duração das Medições - A monitorização será realizada durante a exploração, com o

objetivo de avaliar as alterações introduzidas pelo projeto na viabilidade das comunidades de enguia

europeia nestas linhas de água. Já no tocante à periodicidade da monitorização na Fase de Exploração

recomenda-se: Monitorização dos dispositivos de transposição/encaminhamento: monitorização mensal no

1º ano de exploração do projeto. Após este ano, e em função dos resultados obtidos (quer neste 1º ano quer

nas fases de pré-construção e construção) será definida a continuidade da monitorização; Monitorização da

população adulta de enguia: Anualmente na Primavera, no Verão e no Outono, nos primeiros 5 anos,

seguindo-se amostragens trianuais enquanto justificável.

- Periodicidade dos Relatórios e Revisão do Programa de Monitorização - Relatório anual com descrição e

discussão dos resultados obtidos e indicação de ajustamentos a adotar para melhorar a eficácia das medidas

implementadas.

- Medidas de Gestão Ambiental - Caso justificável serão delineadas medidas de gestão adicionais. que

deverão ser sujeitas a parecer e aprovação por parte da Direção Regional do Ambiente dos Açores

(Autoridade de AIA).

Avaliação da eficácia do Caudal ecológico através da monitorização da qualidade ecológica

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Avaliação da eficácia do Caudal ecológico através da monitorização da qualidade ecológica como referida

acima no fator “Recursos Hídricos”.

- Medidas de Gestão Ambiental - Caso justificável serão delineadas medidas de gestão adicionais.

- No Quadro 7.5.1 é apresentado o planeamento das atividades descritas no ponto anterior para as diferentes

fases de projeto.

A CA,

Considerando que a espécie Anguilla anguilla (Enguia) foi alvo do REGULAMENTO (CE) N.º 1100/2007

DO CONSELHO, de 18 de setembro de 2007, que estabelece medidas para a recuperação da unidade

populacional de enguia europeia,

Considerando que Anguilla anguilla é uma espécie aquícola protegida por interesse regional, conforme

consta no Anexo II do Decreto Legislativo Regional n.º 15/2012/A, de 2 de abril,

Considerando que de acordo com o disposto no Artigo 164.º do Decreto Legislativo Regional n.º 15/2012/A,

de 2 de abril, é proibida a captura de espécimes da espécie Anguilla anguilla por qualquer método e em

qualquer habitat onde a mesma ocorra,

Considerando o conhecimento base sobre a enguia-europeia em território da RAA, designadamente as suas

características e estado atual das populações,

Considerando as evidências, designadamente as dispostas no EIA, da existência de uma população de

Anguilla anguilla na área de estudo,

Considerando que conforme referido no EIA Não foram efetuadas amostragens direcionadas à ictiofauna,

tendo-se obtido informação relativamente à presença da enguia através de fonte bibliográfica da EDA,

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Considerando que a bibliografia aponta os dispositivos de passagem para peixes adequados à enguia

europeia como medidas minimizadoras dos impactes negativos decorrentes da construção de novas

infraestruturas hidráulicas com vista ao restabelecimento do continuum fluvial,

Entende que:

- Na realização da aferição da caracterização da situação de referência da população de enguia-europeia nas

linhas de água a intervencionar, na Fase de pré-construção, a efetuar na Primavera, no Verão e no Outono,

conforme referido e proposto no EIA, podendo no entanto ser alargada por forma a completar um ciclo

anual, em complemento de amostragem por pesca elétrica, nas “Técnicas e Métodos de Análise e Registo”,

devem ser utilizadas outras técnicas ou metodologias específicas direcionadas à captura da espécie,

designadamente a utilização de armadilhas ou de redes em zonas mais profundas. Para além do disposto no

EIA, a referida caracterização da situação de referência deve ser o mais completa possível, devendo para

tal indicar, designadamente, localização dos troços de amostragens; integrar novos de pontos de amostragem

adicionais que sejam necessários; datas das amostragens; metodologias utilizadas para a captura da enguia,

identificação dos locais onde foram aplicadas e respetiva eficácia; distribuição detalhada preferencial da

enguia ao longo dos cursos de água na área em estudo; informação relativa à estrutura populacional da

enguia (tamanho/idade), assim como a sua relação com os locais de amostragem e o n.º total de indivíduos

capturados e no total das amostragens, etc.,

- O Plano Geral de Monitorização Ambiental (PGM) deve ser ajustado, e bem as medidas de minimização

e compensação, aos resultados da aferição da caracterização da situação de referência da população de

enguia-europeia nas linhas de água a intervencionar, na Fase de pré-construção, e sujeito a parecer e

aprovação da Autoridade de AIA antes da Fase de construção,

- Face aos resultados obtidos na aferição da caracterização da situação de referência da população de enguia-

europeia, confirmando-se a expectável presença de Anguilla anguilla (Enguia) na área de estudo, o

proponente, como referido no EIA, e na Fase de pré-construção, disponibilizar à Autoridade Ambiental para

parecer e aprovação antes da Fase de construção, a informação relativa aos Quadros B e C, do documento

elaborado pelo do ICNF “Informação e documentação necessária para análise da necessidade de construir

um dispositivo de passagem para peixes numa determinada obra transversal fluvial” disponível em

http://www.icnf.pt/portal/pesca/gr/pass-peix/docs-apoio#1,

- A escolha de determinada solução de dispositivo de passagem para peixes para assegurar a migração das

enguias juvenis para montante e dos adultos reprodutores de volta ao mar deve ser devidamente justificada

em detrimento de outras, sendo que a CA aconselha, designadamente, a consulta de “Dispositivos de

passagem para peixes em Portugal”, Marta Santo, DGRF, Lisboa, 2005,

- À Autoridade de AIA fica reservado o direito de solicitar pareceres especializados a entidades externas,

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- Os relatórios de monitorização da eficácia das medidas de gestão ambiental da enguia-europeia e da

Avaliação da eficácia do caudal ecológico, através da monitorização da qualidade ecológica deverão ser

apresentados à Autoridade de AIA respeitando, com necessárias adaptações, a estrutura definida no Anexo

V da Portaria 330/2001, de 2 de abril,

- Durante a Fase de construção deve proceder-se, no mínimo, à manutenção do caudal ecológico,

- Eventual corte, destruição ou desenraizamento de espécimes vegetais de espécies protegidas, pelo Decreto-

Legislativo Regional n.º 15/2012/A, de 2 de abril, designadamente: Juniperus brevifolia (Cedro-do-mato),

Azorina vidalii (Vidália), Chaerophyllum azoricum, Picconia azorica (Pau-branco) e Erica azorica (Urze),

carece de licença a emitir para o efeito pela Autoridade Ambiental,

- Rizomas e fragmentos de Arundo donax (Cana) e Hedychium gardneranum (Conteira) resultante de cortes

deverão ser removidos do local e/ou acondicionados de forma a não se regenerarem.

3.8 - QUALIDADE DO AR

O EIA não consultou a rede regional da Qualidade do Ar, cuja estação mais próxima se encontra no Faial,

optou por efetuar um levantamento das principais fontes e atividades emissoras de poluição existentes na

área de estudo e na capacidade de depuração e de dispersão desta para admitir que possui uma boa qualidade

do ar ambiente.

Apesar de pouco aprofundada a caracterização deste fator ambiental, dada a tipologia do projeto e a

coerência com os dados resultantes da estação de referência, a CA aceitou como suficiente a descrição

apresentada.

Impactes

Fase de construção

O EIA estima que os trabalhos de construção devem levar a um acréscimo das emissões gasosas e poeiras

gerando um impacte negativo, localizado, temporário de magnitude e significado reduzido.

A CA reconhece que este tipo de emissões são as normais de qualquer obra de construção civil pública ou

privada e, devido à elevada humidade do solo por questões climáticas, os seus efeitos raramente se fazem

sentir além de umas dezenas de metros dos locais de trabalho.

Fase de exploração

O EIA considera que nesta fase há um impacte de âmbito regional positivo, permanente de magnitude e

significado pouco expressivo correspondendo à diminuição da queima de combustíveis para a produção de

energia potenciando a melhoria da qualidade de vida da população.

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A CA concorda com a qualificação deste impacte, mas considera que tal não será percetível pela população

em termos de qualidade do ar.

Medidas de minimização

Apenas uma medida é proposta no EIA que se apresenta já modificada pela CA

- Aspersão do solo nos locais de construção e acessos não pavimentados sempre que verificada tal

necessidade para reduzir a emissão de poeiras.

Programa de monitorização

Não é proposta qualquer monitorização e a CA também a considera desnecessária.

3.9 – RUÍDO

Neste fator também o EIA não fez medições e optou por identificar a caracterizar as fontes de ruído e

atividades mais comuns na área de estudo para concluir que globalmente possui um ambiente acústico de

qualidade.

Embora pouco aprofundada a caracterização deste fator ambiental, dada a tipologia do projeto a CA aceitou

como suficiente a descrição apresentada.

Impactes ambientais

O EIA identifica os seguintes impactes no ambiente acústico em resultado do projeto:

Fase de construção

- Aumento do ruído devido ao tráfego para a obra, funcionamento de equipamentos e maquinaria para a

construção e execução da vala de ocorrência limitada aos trabalhos.

O EIA tem em consideração estar-se numa zona pouco ruidosa e a proximidade de um aglomerado urbano,

reconhecendo que as perturbações serão localizadas no espaço e tempo, pelo que este impacte é avaliado

como negativo, direto temporário, local, de magnitude potencialmente moderada, mas de reduzido

significativo.

A CA considera que o EIA avaliou de forma adequada este impacte as emissões de máquinas e viaturas,

mas, tendo em consideração as especificidades da envolvente, nos períodos de frentes de trabalho próximo

da Fajãzinha este impacte será mais significativo, bem como, no caso de vir a ser de facto necessário utilizar

explosivos, aquando da ocorrência de explosões.

Contudo a CA reconhece que este tipo de ruído e vibrações são normais em qualquer obra de construção

civil pública ou privada e à exceção das explosões, efeitos significativos raramente se devem fazer sentir

para além de uma centena de metros das frentes de trabalho.

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Fase de exploração

Apesar de reconhecer que a central hidroelétrica emite ruído, prevê que tal ocorra apenas no interior desta,

sem repercussão para o exterior, pelo que não estima impactes para esta fase no presente fator ambiental.

Medidas de minimização

Fase de construção

O EIA apresenta as seguintes medidas de minimização para o ruído que se expõem abaixo já com a

introdução das adaptações propostas pela CA.

- Assegurar o maior afastamento possível do local do estaleiro aos aglomerados urbanos para proteger as

populações das atividades mais ruidosas provocadas pelos trabalhos que aí decorrem;

- Limitação das atividades ruidosas ao período entre as 7-20 horas e após a emissão de avisos prévios às

populações próximas aquando da sua execução;

- Proceder ao encapsulamento dos equipamentos mais ruidosos;

- Evitar sempre que possível o atravessamento dos aglomerados urbanos com máquinas e viaturas a usar na

obra.

A CA considera igualmente importante condicionar a eventualidade de ocorrência de explosões a medidas

de segurança e de informação das populações.

Programa de monitorização

Não é proposto qualquer programa de monitorização, no que a CA está de acordo.

3.10 – POPULAÇÃO E ESTRUTURA PRODUTIVA

O EIA começa por referir que no Arquipélago a distribuição espacial da população regista-se sobretudo

junto à costa e abaixo dos 400 m, embora em São Jorge e nas Flores por razões geomorfológicas existam

núcleos habitacionais até aos 500 m.

O EIA prossegue apresentando dados estatísticos do último recenseamento populacional com a repartição

da população por ilha e concelhos nos Açores, indo ao pormenor de freguesia na ilha das Flores, com as

variações entre 2001 e 2011 nas situadas no município onde o projeto se insere, Lajes das Flores, índice

acentuado de envelhecimento e onde se verifica ainda uma tendência de diminuição do número de

residentes, nomeadamente nas da área de estudo: Fajã Grande e Fajãzinha.

O EIA prossegue com a estrutura económica da população empregada, onde o peso do setor agropecuário

e indústrias associadas é elevado, bem como alojamento turístico e ainda mostra para a ilha as quantidades

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de energia consumida, com repartição por setor económico, e produzida, neste caso o peso dos vários

centros produtores e fração de origem renovável.

Impactes

Fase de construção

- Perturbação das condições de habitabilidade e laborais devido à afetação temporária de terrenos para

realização das obras, aumento de ruído, emissão de poeira, interferências na rede viária, aumento de tráfego

e interceção de acessos a pastagens. Um tipo de impacte de reduzida magnitude e significado, mas negativo.

- Aumento de postos de trabalhos diretos na construção, afluxo de mão de obra do exterior com potencial

crescimento no comércio local, restauração e alojamento.

O EIA qualifica este impacte como positivo, temporário e de significado e magnitude relevante devido à

reduzida dinâmica local.

A CA considera que mesmo tendo em conta a reduzida atividade económica da área de estudo, o impacte

socioeconómico será de significância e magnitude reduzida.

Fase de exploração

- Oferta local reduzida de trabalho relacionado com a manutenção do empreendimento;

- Redução da dependência externa dos combustíveis fósseis;

- Melhoramento das condições de uso de energia elétrica localmente.

O EIA qualifica este impacte de positivo embora com magnitude e significância reduzida.

A CA está de acordo com a avaliação dos impactes apresentada no EIA.

Medidas de minimização e de potenciação

O EIA propõe várias medidas de minimização e de compensação para este fator ambiental, abaixo listadas

já com adaptação proposta pela CA.

- Aviso atempado às populações locais e serviços de utilidade pública, sobretudo de emergência e segurança,

das interrupções viárias, sinalização rodoviária nas imediações das obras e indicação clara de caminhos

alternativos e desvios;

- Não parqueamento das viaturas e máquinas nas bermas das estradas fora do período laboral;

- Diminuir ao mínimo possível o atravessamento dos aglomerados habitacionais;

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- Coordenar os trabalhos com as entidades locais de modo a salvaguardar as alturas de maior afluência de

público e/ou de maior importância para as populações como eventos festivos religiosos, cívicos ou de

importância turísticas;

- Recuperação dos pavimentos das vias afetadas e degradadas em sequência da obra;

- Indemnização de eventuais perdas de produção ou de terra útil devido aos trabalhos ou implantação das

infraestruturas do projeto;

- Quando viável recorrer à mão de obra e empresas locais para aquisição de trabalhos de construção,

manutenção ou aquisição de bens e serviços.

Programa de monitorização

O EIA não propõe qualquer programa de monitorização e a CA pensa não se justificar.

3.11 – OCUPAÇÃO ATUAL DO SOLO

O RT apresenta uma caraterização da ocupação do solo, que tem como base a Carta de Ocupação do Solo

dos Açores (COS-A), para a região e para a ilha das Flores.

A CA entende que a metodologia utilizada no EIA para a avaliação deste fator ambiental e o conteúdo do

mesmo são adequados e suficientes à avaliação em causa.

Impactes

Fase de construção

Ao nível deste fator ambiental o EIA prevê os seguintes impactes:

- Alteração permanente do uso florestal e natural (ribeiras), e pontualmente agrícola/agropecuária, do solo,

na área do açude dos Ferreiros e de captações tirolesas;

- Afetação permanente de terrenos com uso agropecuário (pastagens), na área das condutas, câmara de

carga, central hidroelétrica e outras estruturas edificadas;

- Alteração do uso do solo, temporária e reversível, na área das condutas, mantendo-se os usos atuais após

a conclusão das obras;

- Alteração permanente e irreversível para o uso industrial da área da central hidroelétrica, que se localiza

num terreno com uso agropecuário.

O EIA qualifica estes impactes como negativos, de muito reduzida magnitude e significado, face à diminuta

área ocupada em permanência. A CA está de acordo.

Fase de exploração

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O EIA refere que esta fase compreende a imposição de condicionantes ao uso do solo nas áreas afetas às

condutas, onde apenas poderá ocorrer ocupação com usos agrícolas e pastorícia.

Assim, o EIA apenas prevê impactes sem relevância nesta fase para este fator ambiental, que a CA entende

como adequada a afirmação efetuada.

Medidas de Mitigação

O EIA refere que como os principais impactes identificados para este fator ambiental prendem-se

essencialmente com a potencial alteração da ocupação atual do solo, propõem-se as seguintes medidas de

minimização:

- Remover a camada superficial dos solos (terra vegetal) na área a ser afetada pelas infraestruturas do

projeto, para posterior aplicação na cobertura das valas e/ou recuperação de outras áreas afetadas pelas

obras;

- Enterrar a uma profundidade não inferior a 1 m a conduta, nas zonas RAR que são atravessadas pela

mesma; nos solos aráveis, a reposição de terra vegetal não deverá ser inferior a 80 cm;

- Recuperar o coberto vegetal e dos terrenos para o seu uso original, no caso de afetações temporárias,

nomeadamente quando envolvem a implantação das condutas que atravessam terrenos agrícolas,

combinadas com o ressarcimento financeiro pela perda de produção associada ao período efetivo de

perturbação;

- Prever indemnização adequada, permuta de terrenos ou contrapartidas combinadas consensualmente, no

caso dos terrenos afetados em permanência, de forma a permitir compensação pela atividade económica

suspensa e valor do terreno.

A CA entende como adequadas todas as medidas apresentadas.

3.12 – GESTÃO TERRITORIAL E USOS CONDICIONADOS

O EIA efetua um enquadramento nos Instrumentos de Gestão Territorial vigentes, com incidência na área

do projeto. No que respeita às condicionantes ao território, salienta-se a sobreposição com a Reserva

Agrícola Regional, a Reserva Ecológica, a Rede Regional de Áreas Protegidas e o Domínio Hídrico.

Destaca-se que o aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis na Ribeira Grande foi declarado de

interesse público pela Resolução de Conselho de Governo n.º 20/2017, de 27 de março.

Impactes

Fase de construção

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Tendo em conta o projeto em causa e o enquadramento ao nível dos instrumentos de gestão territorial em

vigor para a área de intervenção, o EIA prevê nesta fase, e para o regime do ordenamento do território, os

seguintes impactes:

- Afetação dos espaços destinados às estruturas permanentes.

O EIA qualifica estes impactes como negativos de reduzido significado no tocante ao regime de

ordenamento do território. A CA está de acordo.

No que respeita às condicionantes ao ordenamento do território, o EIA destaca os seguintes impactes:

- Afetação de solos na faixa de implantação da conduta poderá ter impactes reversíveis, pelo

acondicionamento controlado dos solos durante a obra e sua reposição com a conclusão da mesma;

- Redução do potencial valor ecológico da Ribeira Grande, identificada como RER; na sobreposição com

“Leitos dos Cursos de Água”;

O EIA qualifica estes impactes como negativos, diretos de magnitude baixa e pouco significativos,

determinando, contudo, a obtenção do licenciamento aplicável nestes domínios. A CA está de acordo.

Fase de exploração

O EIA apenas refere que não são expectáveis incidências neste domínio, pelo que a CA entende como

adequado.

Medidas de Mitigação

O EIA volta a referir que os principais impactes neste descritor estão relacionados com a potencial

degradação ambiental de áreas da zona de intervenção classificadas como RE e RAR. Assim, o EIA

apresenta as seguintes medidas de mitigação que a CA entende como ajustadas:

- Enterrar a conduta forçada sempre a profundidade não inferior a 1 m (conforme previsto no projeto de

execução), permitindo assim a manutenção da capacidade produtiva dos solos intervencionados; nas áreas

de RAR a reposição de terra vegetal deverá ser feita em camada de 80 cm;

- Proceder, nas áreas de RAR, à decapagem prévia da terra vegetal e sua reposição imediatamente após a

construção das condutas; nos solos aráveis, esta reposição não deverá ser inferior a 80 cm;

- Evitar a circulação de veículos e máquinas pesadas nas zonas laterais às áreas ocupadas pelas obras,

especialmente nas áreas integradas na RAR ou na RE;

- Proceder à limpeza das linhas de água, em caso de obstrução total ou parcial, e implantar um sistema de

drenagem eficaz nos aterros e escavações, durante a fase de construção, evitando condições de inundação

nesse período;

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- Informar previamente as autoridades municipais dos trajetos das condutas, para evitar interferências com

infraestruturas existentes ou previstas;

- Assegurar os licenciamentos cabíveis.

A CA entende como adequadas todas as medidas apresentadas.

3.13 - PATRIMÓNIO CULTURAL E EDIFICADO

Em toda a área envolvente do EIA existe somente um edifício classificado como imóvel de interesse

público, o moinho de água da Ribeira Grande.

Considerando que não há nenhuma intervenção direta na estrutura do edifício;

Considerando que a fonte de energia não sofre qualquer alteração pelo que o desempenho futuro do moinho

não fica posto em causa;

Considerando que na área envolvente do moinho não será construído nenhum imóvel que interfira com a

sua leitura visual;

Considerando que será apenas construído um pequeno lago, a cerca de duas dezenas de metros do moinho,

que em nada interferirá com o seu funcionamento;

Considerando ainda que o impacte visual sobre a paisagem será mínimo, nada encontramos que justifique

qualquer alteração ao EIA em apreço.

Apesar disso, recomendamos que sejam seguidos atentamente os impactes descritos no EIA, que nos

parecem pouco significativos, que ocorrerão durante o período de obras, que passamos a transcrever:

Fase de Construção

De acordo com a avaliação efetuada admite-se que os trabalhos a realizar não irão causar impactes diretos

no património, conforme se pode constatar no quadro descrito a seguir:

N.º 1 – Fajãzinha – apenas se identifica a potencial degradação das condições de habitabilidade, sobretudo

ao nível da circulação viária devido à movimentação de máquinas e veículos afetos à obra;

N.º 2 – Palheiro 1 ao Ramal da Fajã Grande – trata-se de uma estrutura em ruínas que não será diretamente

afetada; recomenda-se, contudo, a adoção de medidas visando salvaguardar as estruturas ainda existentes;

N.º 3 – Moinho de Água da Ribeira da Alagoa – trata-se de moinho bem preservado, classificado como

imóvel de interesse público, e que detém ainda importante papel cultural e turístico; igualmente neste caso

não se identificam impactes diretos, havendo, contudo, que salvaguardar estas estruturas de potenciais

afetações indiretas.

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Ocorrência

Designação Classificação Tipo de

Sítio

Localização face

às estruturas de

projeto

Tipo de Afetação Impacte Medidas

1 Fajãzinha Núcleo de

povoamento

Núcleo

populacional

encontra-se a

cerca de 270m da

conduta forçada

Potencial

degradação das

condições de

habitabilidade

Pouco

relevante

PGA no

decurso da

obra

2 Palheiro 1 ao

Ramal da

Fajã Grande

Edifício A cerca de 15m

da conduta

forçada

Sem afetação

direta

Pouco

relevante

Medidas de

salvaguarda

PGAO

3 Moinho de

água da

Ribeira da

Alagoa

Imóvel de

interesse

público

Moinho de

água

A cerca de 15m

da captação no

2º afluente;

sendo que o

respetivo buffer

de proteção, de

50m, é cortado

Não se identifica

impactes diretos;

identificam-se

impactes

indiretos no

buffer de

proteção de 50m

Pouco

relevante

Medidas de

salvaguarda

PGAO

De acordo com o exposto identificam-se potenciais impactes negativos, indiretos, temporários, de

magnitude reduzida e residualmente pouco significativos, se forem adotadas as medidas mitigadoras

propostas.

Fase de Exploração

Não se perspetiva a ocorrência de impactes na fase de exploração.

A CA tem a referir que não deverão ser implantadas quaisquer estruturas do projeto expostas acima da

superfície dentro do perímetro de 50m do moinho de água.

3.14 PROJEÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DE REFERÊNCIA SEM O EMPREENDIMENTO

O EIA com o objetivo de apreciar a alternativa zero correspondente à não execução do projeto, faz uma

projeção do evoluir da situação de referência neste cenário de onde se destaca, essencialmente, os aspetos

correlacionáveis com o empreendimento:

Preservação das atuais condições de circulação nas linhas de água existentes da enguia-europeia, apesar da

tendência regressiva da mesma por motivos exógenos à bacia da Ribeira Grande.

Contudo, devido às maiores exigências de usos de energia e relacionadas com o desenvolvimento turístico,

deverá resultar num agravamento local da dependência dos combustíveis fósseis, embora com um peso

pouco significativo no contributo regional para as metas de utilização de fontes alternativas de energia ou

na redução da emissão de gases com efeitos estufa.

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4. CONSULTA PÚBLICA

4.1 RESUMO DA CONSULTA PÚBLICA

Nos termos do artigo. 106.º do Diploma AILA, a Autoridade Ambiental procedeu à publicitação da Consulta

Pública através de anúncio publicado no jornal “Diário dos Açores” contendo os elementos obrigatórios.

Tendo em conta que a tipologia do projeto o enquadrava na alínea e) do n.º 8 do Anexo II do Diploma

AILA, a Consulta Pública decorreu entre 29 de novembro e 29 de dezembro de 2017, inclusive, ou seja,

durante 20 dias úteis.

A documentação obrigatória em formato papel esteve disponível nas três Bibliotecas Públicas e Arquivos

Regionais dos Açores e nas instalações da Direção Regional do Ambiente. O suporte digital de todos estes

volumes foi também disponibilizado na página da internet da Autoridade Ambiental no seguinte endereço:

http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sraf/docDiscussao

Em todos os locais constava a informação de que os interessados, devidamente identificados, podiam

manifestar-se por escrito, no prazo da Consulta Pública, dirigindo as suas exposições à Direção Regional

do Ambiente, sita na Rua Cônsul Dabney, Colónia Alemã, 9900-014 HORTA ou para o correio eletrónico:

[email protected].

Terminado o período da Consulta Pública foram então aguardados 5 dias úteis para esperar por uma eventual

receção de exposições dos interessados no âmbito desta Consulta Pública e emitidas por correio no fim do

prazo limite.

No que diz respeito à participação de interessados, a presente consulta pública contou com seis

participações/contribuições através de correio eletrónico (anexos):

Aldeia da Coada, através do Sr. Sílvio Gonçalves (ENT-DRA 2017/10984);

Sr. Gerbrand Michielsen (ENT-DRA 2017/11236);

Ambiflores, através do Sr. Guilherme Santos (ENT-DRA 2017-11341);

Sr. Marco Henriques (ENT-DRA 2017-11362);

Sr. José Manuel N. Azevedo (ENT-DRA 2017-11363);

GEOTA, através do Sr. Pedro Santos (ENT-DRA 2017-2018/36).

Síntese das participações

De uma forma geral, as participações incidem sobre questões ambientais e bem-estar das populações da ilha

das Flores decorrentes da implementação do projeto quer na fase de construção quer na fase de exploração.

Os fatores ambientais mais visados são o ruido, a ecologia, a paisagem e recursos hídricos.

No que diz respeito ao ruido, na maioria das participações, as preocupações estão direcionadas para a

produção de ruido na fase de construção do projeto bem como para o funcionamento da central.

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37

Relativamente à ecologia, as preocupações estão relacionadas com a biodiversidade existente no local,

nomeadamente e com grande destaque para a enguia europeia e espécies de aves marinhas. Quanto à

paisagem é salientado o estatuto que possui a ilha das Flores como reserva da Biosfera.

Um dos aspetos que foi também questionado foi a necessidade do projeto tendo em conta a existência de

outras formas de produção de energia já existentes na ilha (hídrica, eólica e termoelétrica). Por outro lado,

o período da consulta pública foi alvo de algumas criticas tendo em conta que decorreu na altura das

festividades natalícias.

Por último, salienta-se também a possível localização do estaleiro de obra junto ao parque de

estacionamento, entrada do trilho da Ribeira do Ferreiro, segundo relatado, dos locais mais visitados da ilha.

No Anexo I a este parecer encontra-se o texto com o conteúdo do Relatório da Consulta Pública onde todas

as participações estão transcritas e seguindo-se no Anexo II uma tabela resposta e ponderação das

preocupações levantadas pelas participações.

4.2. CONSULTA A ENTIDADES

Não foram efetuadas consultas a outras entidades.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na sequência da leitura do Estudo de Impacte Ambiental do Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira

Grande (Flores, Açores) em fase de projeto de execução, da visita ao terreno de vários dos técnicos que

representam os Serviços que integram a Comissão de Avaliação do presente procedimento e após a

apreciação do teor das participações de interessados no período da Consulta Pública, a Comissão de

Avaliação considera o seguinte:

- Ficou evidenciado pela participação pública que não foi estudada, com a profundidade necessária, a

situação de referência da população de enguias europeias (Anguilla anguilla) nos cursos de água a serem

interferidos pelo projeto de execução em apreciação de modo a assegurar uma adequada avaliação da

significância e magnitude do impacte ecológico da construção deste empreendimento na afetação desta

população. Assim, deverão ainda ser apresentados mais estudos sujeitos a parecer vinculativo da Autoridade

Ambiental que permitam conhecer não só a importância ecológica desta população, mas também avaliar o

impacte da atual versão do projeto sobre a mesma e demonstrar da suficiência das medidas de mitigação

apresentadas no presente procedimento ou da possibilidade de implementação de outras medidas adicionais

ou correções no projeto que permitam evidenciar que com essas adições e melhoramentos este impacte

deixa de ter uma significância e magnitude negativa que fundamente a viabilização do licenciamento

pretendido;

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- Na fase de construção do empreendimento ocorrem vários impactes ambientais negativos, identificados

no Estudo de Impacte Ambiental, que levantaram preocupações significativas em diferentes elementos das

populações residente na área de estudo que participaram na Consulta Pública, todavia, ao nível do ambiente

sonoro e da qualidade do ar considera-se que estes são, genericamente, semelhantes aos de qualquer outra

obra de construção civil pública ou privada, pelo seu carácter temporário e reversibilidade e ainda passíveis

de ser mitigados com as medidas aceites e propostas neste documento, pelo que, por si só, não parece à CA

terem significância suficiente para inviabilizar o empreendimento;

- Na fase de construção existem algumas medidas de gestão da obra que geraram preocupações nos

participantes da Consulta Pública, nomeadamente, a ocupação como estaleiro de um terreno utilizado para

estacionamento junto ao viaduto da Estrada Regional n.º 1-1.ª sobre a Ribeira e ainda as intervenções em

terrenos privados para a realização da obra, para o primeiro caso, a CA é de parecer que o local identificado

não deve ser utilizado como estaleiro, propõe que este seja implantado em locais que já tenham sido

degradados ambientalmente, longe das povoações e das principais vias de circulação usadas pela população

e de baixo impacte visual, para o segundo caso, a CA é de parecer que é suficiente o cumprimento das

condicionantes legais existentes para ocupação e realização de intervenções em terrenos privados de

terceiros para salvaguardar o interesse público e os legítimos direitos dos proprietários;

- Na fase de exploração, à exceção do ainda não convenientemente avaliado impacte na população de

enguias, na sequência do procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental a Comissão de Avaliação não

identificou impactes ambientais com significância e magnitude que fundamentassem a inviabilização do

projeto, tendo em conta que as condutas ficarão maioritariamente enterradas, apenas a captação da ribeira

do Ferreiro terá um açude mais elevado que o atual perfil do leito de escoamento deste afluente, num local

pouco exposto ao exterior e o espelho de água é facilmente integrável numa paisagem com cascatas e lagoas,

sendo o edifício da Central hidroelétrica o elemento mais impactante visualmente com a envolvente;

- Na participação pública vários elementos da população manifestaram preocupação com o ruído da Central,

todavia, no Estudo de Impacte Ambiental é assumido que não haverá emissões sonoras para o exterior do

imóvel, sendo o local pouco perturbado acusticamente considera a Comissão que existem condições para

exigir ao projeto que esta assegure um ambiente sonoro que respeite os critérios das áreas sensíveis do

Regulamento Regional de Ruído;

- Considera ainda a Comissão de Avaliação aceitável a justificação do projeto pelo seu contributo para

assegurar que durante a sua fase de exploração a ilha das Flores, como reserva da Biosfera, passe a obter

energia elétrica essencialmente de fontes endógenas renováveis limpas, além de que este empreendimento

vai no sentido de se atingirem as metas de redução de emissões de gases com efeito estufa e da

independência da área abrangida dos combustíveis fósseis;

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- Não ficou demonstrado que o projeto terá impactes no estado qualitativo das massas de água durante a

fase de exploração como preocupação de um participante na Consulta Pública, além de que o programa de

monitorização permitirá o acompanhamento desta situação que poderá implicar a necessidade de medidas

corretivas que inclusive melhorem os seus parâmetros qualitativos ou a necessidade de alterações dos

caudais ecológicos agora previstos.

Assim, a Comissão de Avaliação é de parecer que pode ser emitida uma Declaração de Impacte Ambiental

condicionalmente favorável ao seguinte:

- A conclusão do processo de licenciamento fica dependente da apresentação na Direção Regional do

Ambiente de um estudo de caracterização da população de enguias europeias (Anguilla anguilla) que

permita conhecer a importância ecológica desta e evidenciar que com a adaptação das medidas de mitigação

propostas no Estudo de Impacte Ambiental e no Programa de Monitorização na sequência dos novos

conhecimentos face ao apreciado em sede de procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental e, ainda, a

introdução de eventuais correções na versão atual do projeto, permita a Autoridade Ambiental considerar

que o impacte nesta população não tem magnitude e significância negativa suficiente que justifique e

inviabilização do projeto;

- Cumprimento das medidas de mitigação indicadas no Estudo de Impacte Ambiental com as alterações e

adições introduzidas pela Comissão de Avaliação no presente parecer;

- Implementação dos restantes programas de monitorização nos moldes aprovados no presente parecer e de

acordo com a legislação vigente ao longo do período de exploração do aproveitamento hidroelétrico;

- Aceitação do proponente da possibilidade de introdução de medidas de mitigação ou de ações corretivas

no projeto se durante o acompanhamento da fase de exploração forem detetados desvios dos efeitos

negativos perspetivados em fase de procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental em resultado do

empreendimento.

Horta, 29 de janeiro de 2018

P’la Comissão de Avaliação

Carlos Faria

(DSQA)

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Anexo I

CONTEÚDO DO RELATÓRIO DA

CONSULTA PÚBLICA

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RELATÓRIO DA CONSULTA PÚBLICA DO PROJETO DE APROVEITAMENTO

HIDROELETRICO DA RIBEIRA GRANDE, ILHA DAS FLORES – EDA

RENOVÁVEIS

Introdução

Tendo sido emitida a conformidade pela Autoridade Ambiental, o procedimento seguiu para

consulta pública, nos termos do Art.106.º do Decreto Legislativo Regional n. º30/2010/A, de 15 de

novembro.

Publicitação

A documentação tornada pública, Relatório Técnico, Resumo Não Técnico do Estudo de Impacte

Ambiental bem como os pareceres da Comissão de Avaliação estiveram disponíveis em suporte

de papel nas três Bibliotecas Públicas e Arquivos Regionais dos Açores, nas instalações da

Direção Regional do Ambiente e Serviço de Ambiente das Flores. Para além dos locais referidos,

e para um maior envolvimento da população, os pareceres da CA e um Resumo Não Técnico

estiveram disponíveis na Câmara Municipal das Lajes das Flores. Toda a documentação em

formato digital encontra-se na página da internet da Autoridade Ambiental com o seguinte

endereço: http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sraf/docDiscussao. Para além do referido, foi

publicado anúncio no jornal Açoriano Oriental.

No âmbito do processo de Consulta Pública, em todos os locais constava a informação de que os

interessados, devidamente identificados, podiam manifestar-se por escrito, no prazo da Consulta

Pública, dirigindo as suas exposições à Direção Regional do Ambiente, sita na Rua Cônsul

Dabney, Colónia Alemã - 9900-014 HORTA ou para o e-mail: qualidade.ambiente @azores.gov.pt.

Consulta Pública

Dada a natureza do projeto, fixou-se um período de 20 dias para a consulta pública, nos termos e

para efeitos do preceituado no art.º 106.º e nos artigos. 111.º, 112.º e 113.º do Decreto Legislativo

Regional n.º 30/2010/A, de 15 de novembro. A consulta pública teve início a 29 de novembro e

termo a 29 de dezembro de 2017.

Terminado o período da Consulta Pública foram então aguardados 5 dias úteis para a esperar por

uma eventual receção de exposições dos interessados no âmbito desta Consulta Pública e

emitidas por correio no fim do prazo limite.

No que diz respeito à participação de interessados, a presente consulta pública contou com seis

participações/contribuições através de correio eletrónico (anexos):

Aldeia da Coada, através do Sr. Sílvio Gonçalves (ENT-DRA 2017/10984);

Sr. Gerbrand Michielsen (ENT-DRA 2017/11236);

Page 42: APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DA RIBEIRA ...docs-sraa.azores.gov.pt/Portal/file__20-02-2018_10-37-55...2018/02/20  · ILHA DAS FLORES FASE DE PROJETO DE EXECUÇÃO PROPONENTE: EDA

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Ambiflores, através do Sr. Guilherme Santos (ENT-DRA 2017-11341);

Sr. Marco Henriques (ENT-DRA 2017-11362);

Sr. José Manuel N. Azevedo (ENT-DRA 2017-11363);

GEOTA, através do Sr. Pedro Santos (ENT-DRA 2017-2018/36).

Síntese das participações

De uma forma geral, as participações incidem em sobre questões ambientais e bem-estar das

populações da ilha das Flores decorrentes da implementação do projeto quer na fase de

construção quer na fase de exploração. Os fatores ambientais mais visados são o ruido, a ecologia,

a paisagem e recursos hídricos.

No que diz respeito ao ruido, na maioria das participações, as preocupações estão direcionadas

para a produção de ruido na fase de construção do projeto bem como para o funcionamento da

central. Relativamente à ecologia, as preocupações estão relacionadas com a biodiversidade

existente no local, nomeadamente e com grande destaque para a enguia europeia e espécies de

aves marinhas. Quanto à paisagem é salientado o estatuto que possui a ilha das Flores como

reserva da Biosfera.

Um dos aspetos que foi também questionado foi a necessidade do projeto tendo em conta a

existência de outras formas de produção de energia já existentes na ilha (hídrica, eólica e

termoelétrica). Por outro lado, o período da consulta pública foi alvo de algumas criticas tendo em

conta que decorreu na altura das festividades natalícias.

Por ultimo, salienta-se também a possível localização do estaleiro de obra junto ao parque de

estacionamento, entrada do trilho da Ribeira do Ferreiro, segundo relatado, dos locais mais

visitados da ilha.

Em anexo, segue a tabela de ponderação às participações

Participações

Aldeia da Coada, através do Sr. Sílvio Gonçalves (ENT-DRA 2017/10984)

“Exmos Srs.

Após consulta do estudo de impacto ambiental do projecto de aproveitamento hidroeléctrico da

Ilha das Flores ficamos com algumas preocupações relativamente ao nível de ruído e poluição

(essencialmente poeiras) que o próprio estudo reconhece como negativos.

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Como sabem a Aldeia da Cuada é provavelmente a maior unidade hoteleira da ilha e a maior

unidade de turismo rural dos Açores. Nos últimos anos temos vindo a ser reconhecidos nacional e

internacionalmente, onde podemos destacar duas distinções de maior relevância:

-4º hotel mais sustentável de Portugal - Associação 0;

-Top50 hotel mais romântico do mundo - Travel and Leisure.

Temos noção que todos os clientes que nos procuram fazem-no pela qualidade da nossa oferta

em termos de conforto e ambiental. Caso algum destes aspectos seja comprometido (ainda que

temporariamente) temos receio de vir a ter clientes insatisfeitos, o que por sua vez poderá resultar

a curto/médio prazo numa perda de clientes.

Saliento que a Aldeia da Cuada apresenta-se como maior entidade empregadora das freguesias

da Fajãzinha e Fajã Grande, em que durante a época alta chegamos a empregar 15 ou mais

pessoas, apresentando assim uma grande relevância directa e indirectamente em termos

socioeconómicos nas freguesias em questão.

As nossas preocupações também se estendem a longo prazo uma vez que o estudo também não

refere o nível de ruído que será produzido pela central e turbinas após a conclusão da obra

Outro ponto relevante prende-se com a sugestão para estaleiro avançado de obra referida no

estudo seja no local que é utilizado pelos visitantes ao Poço da Ribeira do Ferreiro para

estacionamento, uma vez que este local apresenta um grande tráfego de pessoas e viaturas sendo

provavelmente o ponto mais visitado da ilha.

Aguardamos por uma resposta da vossa parte uma vez que estas são questões que nos

preocupam bastante

Obrigado e melhores cumprimentos

Sílvio Gonçalves”

Sr. Gerbrand Michielsen (ENT-DRA 2017/11236)

“Contribuição para a discussão pública “Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande (Flores)”

Criação de habitat alternativo para a enguia europeia Anguilla anguilla.

“Antes de mais queria manifestar a minha preocupação sobre os impactes que podem ter as

intervenções referidas no projeto para a paisagem de uma zona que é única nos Açores e

largamente utilizada para promover a nossa imagem no exterior. Reconheço a necessidade de

encontrar uma sustentabilidade energética, mas tenho dúvidas que a obra desta dimensão seja

justificável numa ilha como as Flores, já com centrais eólica, hidroelétrica e termoelétrica, com a

primeira a produzir abaixo da sua potência.

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Como referido no documento, a EDA Renováveis tem instalado um projeto similar na Ribeira

Quente em São Miguel e sugere implantar as mesmas medidas para diminuir os impactes sobre

as Enguias, declaranda-as como eficazes.

Reconheço que foi feito trabalho no sentido de monitorização, mas os resultados estão longe dos

pretendidos.

- Durante a primeira fase do nosso projeto conseguimos apanhar 39 Enguias. Apenas um exemplar

(juv) foi capturado por cima da primeira barragem enquanto todos os restantes ficaram retidos nas

Ribeiras abaixo das barreiras.

- As Enguias juvenis retidas nas armadilhas são apenas uma percentagem muito reduzida, já que

são observados grandes cardumes na foz da Ribeira Quente. A zona mais abaixo das barragens

consiste em habitat bastante hostil para esta espécie já que preferia aguas tranquilas com

vegetação e lodo em vez de Ribeiras “limpas”. Facto do que as juvenis não chegam as Furnas

como anteriormente dificulta as fêmeas chegar a idade adulta. Mesmo depois quando as adultas

tentar regressar para a zona de reprodução no mar de Sargaço encontram dificuldades ou ate

impossibilidade pelo caminho a foz. Antes da construção das centrais de Ribeira Quente havia

registos de quantidades significativas de Enguias adultas nas Furnas enquanto atualmente

desapareceram quase por completo.

Para evitar que se repita a situação da Ribeira Quente nas Flores, sugiro implantar uma reserva

ecológica na 2.ª afluente da Ribeira Grande atrás do Moinho. Existe um terreno abandonado (ver

fotografia anexa) que pode ser inundado, de forma simples e controlada com uma abertura

regulável a partir da ribeira, para criar um habitat ideal para a enguia completar o seu ciclo natural

e valorizar a zona como “hotspot” para espécies ocasionais de avifauna, recompensando ainda de

alguma forma o impacto sobre o turismo de natureza que o projeto da EDA irá provocar.

Como a 2.º afluente fica logo no inicio, será de extrema importância salvaguardar uma livre

transição efetiva para as Enguias (juvenis e adultas) na própria central, encaminhando-as e

facilitando o acesso para o canal do moinho a partir de câmara de carga.

Encontro-me desde já disponível para qualquer informação adicional que queiram solicitar.

Gerbrand Michielsen”.

Ambiflores, através do Sr. Guilherme Santos (ENT-DRA 2017-11341)

Nome: Ambiflores

Morada: Rua Via d'Água, 32

Cod. Postal: 9960-030 Fajã Grande

Contribuinte nº: 513381392

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“A população da Ilha das Flores tem manifestado as suas preocupações em relação ao “Projecto

de Aproveitamento Hidroeléctrico da Ribeira Grande da Ilha das Flores”, nomeadamente no que

se refere aos seus impactes negativos. Detalhes pertinentes têm vindo a ser omitidos pelas

entidades públicas responsáveis e pela EDA, protegendo o lucro do futuro negócio - omissão dos

custos da obra, dos potenciais lucros da EDA e dos futuros encargos e responsabilidades públicas

e locais - e camuflando a degradação e destruição de uma das mais bonitas paisagens do

arquipélago, que constitui um dos locais mais visitados da ilha e um dos seus maiores valores

turísticos.

Assim, este projecto poderá afectar a ilha em vários sectores, principalmente na economia ligada

ao turismo e ao ambiente, seja durante as obras (pela sua extensão espacial e temporal,

movimentação de máquinas e de terras, poeiras e ruído), seja após entrada em funcionamento da

central hidroeléctrica (ruído, exposição aérea dos tubos das condutas, garantia de caudais

mínimos e de preservação de ecossistemas).

a) O projecto prevê preservar e restaurar a qualidade ambiental e paisagística na área da sua

implantação, mas não se encontra a um nível desejável. Irá colidir de forma agressiva com as

áreas protegidas na zona envolvente do projecto;

b) Um dos maiores incómodos deste projecto é o ruído. Sobre o ruído provocado pela obra e,

principalmente, pelo funcionamento desta central, são escassas as linhas a ele dedicadas nos

estudos dos impactos ambientais: Diz-se que “a área em estudo apresenta baixa densidade

urbana”, “admitindo-se (?) globalmente um ambiente acústico de qualidade”. Será assim? E o

Aldeamento Turístico da Cuada, situado por cima da central prevista, não será prejudicado? E a

nidificação das tão protegidas aves marinhas?;

c) O projecto situa-se em terrenos privados e os donos dessas terras não só não foram contactados

nem informados pelas entidades responsáveis por este projecto, como ainda não autorizaram

qualquer intervenção nas suas terras;

d) Antes de se avançar para um projeto desta dimensão, porque não tentar melhorar a

eficiência das fontes de produção de energia renovável já existentes? Segundo se diz, o Parque

Eólico não está a ser devidamente explorado.

e) Segundo explicou o presidente da EDA, com a inauguração da ampliação da Central Hídrica

Além Fazenda passam a estar garantidas na ilha das Flores todas as condições para a produção

e distribuição de energia com segurança e qualidade. Duarte Ponte explicou que este é o culminar

de um processo de quatro anos, que envolveu o investimento total da EDA de 20,4 milhões de

euros na ilha das Flores. Além da reabilitação e ampliação da Central Hídrica de Além Fazenda,

foi também construída a Central Térmica das Lajes, capaz de garantir o abastecimento de energia

eléctrica a toda a ilha, mesmo que não exista produção hídrica e eólica.

(http://www.rtp.pt/acores/economia/governo-regional-anuncia-novos-investimentos-nas-energias-

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renovaveis-video_47587);

f) Na pág. 3 do “Parecer de Apreciação CA” destaca-se seguinte parágrafo: «Ressalva-se que, na

página 2-2 é referido que a ilha das Flores “...é já actualmente autosuficiente do ponto de vista

energético.” Pelo que, nesta perspectiva, deve fundamentar-se a escolha do local/ilha para

implementação do aproveitamento hidroeléctrico, o qual só se justificará face a eventuais

aumentos de consumo previstos». Houve ou está previsto haver algum aumento substancial nos

consumos energéticos na ilha, que agora justifiquem este investimento?;

g) Durante a construção desta obra (que demorará no mínimo 3 anos a ser concluída) prevê-se

re-activar a britadeira da Fajã-Grande para a utilizar como estaleiro das máquinas, colidindo com

todos os esforços da comunidade da Fajã-Grande e da Associação Ambiental da Ilha - Ambiflores

para re-qualificar aquele local como um espaço verde;

h) A entrada do trilho da Ribeira do Ferreiro, local mais visitado na ilha e dos mais procurados do

arquipélago, será afectada com a instalação de estaleiros de apoio às obras (mínimo de 3 anos

até concluído), o que, como consequência, trará grandes impactos negativos para o turismo da

ilha;

i) “Incremento do emprego e da actividade económica nos aglomerados da área de influência das

obras”: Não há quantificação deste impacto positivo, pressupondo-se que seja maior na fase de

construção (empregos de curta duração). Quantos postos de trabalho serão criados a longo

prazo?;

j) O Projecto ficou disponível para visualização e discussão do público no mês de dezembro,

curiosamente uma altura em que tanto as pessoas como entidades estão ocupadas a tratar de

eventos de Natal, compras ou até fora da ilha a desfrutarem de férias;

k) Gostaríamos de dar referência ao facto de que a intervenção não só se situa num território que

é Reserva da Biosfera, como também é praticamente adjacente ao mais importante ex-libris das

Flores e dos Açores que, aliás, tem sido extensivamente utilizado pelo Governo Regional para

promover o arquipélago como destino de Turismo de Natureza. Assim, achamos que este projecto

merece ter o melhor que a engenharia possa proporcionar, tendo em vista a sustentabilidade

ecológica e turística da nossa ilha (e não ser tratada e gerida como mais uma mera obra de

construção).

Pela preocupação crescente dos florentinos com este projecto, as nossas dúvidas e perguntas

devem ter a devida atenção.

A transparência no projecto e a minimização dos seus impactos negativos são o nosso objectivo,

visando, a longo prazo, a sustentabilidade económica e ambiental da ilha das Flores. Pretendemos,

com as nossas questões, determinar os benefícios deste projecto para a ilha, bem como ponderar

as vantagens da produção desta energia verde, em contraponto com o produto “Natureza”,

ameaçado pelas obras, ruído e descaracterização paisagística. Preocupa-nos especialmente que

o benefício duma empresa semi-privada (EDA) possa lesar o ambiente e pôr em risco uma

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actividade económica em franco crescimento na ilha e, em particular, naquela zona, como é o

Turismo.

ps: A plataforma onde emitimos o nosso parecer

(http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sreat/docDiscussao/consulta_publica_AIA_aproveit

amento_hidroeletrico_ribeira_grande_flores.htm) não está operacional, optei então por enviar o

mail directamente.

Melhores cumprimentos,

Guilherme Santos”

Sr. Marco Henriques (ENT-DRA 2017-11362)

“Boa tarde,

O parecer que apresento sobre o “Projeto de Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande da

Ilha das Flores” é negativo e espero que seja considerado por quem competente para o efeito.

Apresento nesta reclamação alguns dos pontos que considero essenciais e que estão a ser

menosprezados.

No “Projeto de Licenciamento Elétrico – Central Hidroelétrica Ribeira Grande”, no “Ponto 1-

Descrição Geral” é referido que “o Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande, situa-se na

Costa leste da Ilha das Flores, próximo da localidade de Fajãzinha, e destina-se ao reforço da

capacidade de produção de energia elétrica da ilha”. Meus caros, a Fajãzinha, concretamente a

Ribeira Grande, situasse na costa OESTE das Flores. Esta gralha da parte da elétrica ou

preciosismo desta análise mostra à priori o cuidado e tratamento tido na elaboração deste projeto.

Em primeiro lugar e porque se trata de uma questão que sou visado diretamente uma vez que a

localização (nomeadamente das condutas de água) está projetada numa proximidade da minha

habitação ridícula para uma obra ainda por efetuar, considero ser abusiva a forma como está a ser

idealizada esta obra.

O argumento renovável, o qual sou 100% a favor, não pode ser utilizado a todo o custo da evolução

necessária. Não vou nesta exposição enveredar por questões, mas sim sublinhar pontos que são

óbvios: a ilha das Flores já tem, atualmente, autonomia energética renovável.

Será discutível, no mínimo, querer passar a ideia que o aumento de 20% no pós-obra desta central

em renováveis a nível geral não contrasta com a descaracterização paisagística que será

verificada a olho nu. É inegável, por muito cuidadoso que venha a ser a arquitetura deste projeto,

que esta área altamente reconhecida (25% parte do Parque Natural da Ilha das Flores – por sua

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vez Reserva da Biosfera) será desvirtuada como já havia sido anteriormente noutros exemplos,

felizmente encerrados como o caso de uma britadeira instalada mais a norte da Ribeira do Ferreiro.

Local último, como outro junto à ponte desta ribeira referida que poderá ser utilizado como

“estaleiro” para esta futura obra. Estamos a falar de um local de acesso a outra das paisagens

mais badaladas dos Açores: falo do Poço da Ribeira do Ferreiro.

E no que diz respeito ao projeto de aproveitamento quero acreditar que há consciência da parte

de quem analisa que a redução de 80% do caudal após zona de captação acabará com a fauna e

flora existente no local.

É do conhecimento público, altamente noticiado, que a ilha das Flores já tem autonomia renovável

em determinadas épocas do ano. É também do senso comum um aumento de consumo por parte

da ilha pouco considerável para se estar a projetar uma obra com um custo superior a 7 Milhões

de euros. É correntemente discutido a falta de manutenção do Parque Eólico da ilha das Flores ou

pelo menos a sua não utilização na totalidade (e sim estou consciente das condicionantes

meteorológicas para a sua utilização). É caso raro discutir-se politicas de apoio ao consumidor no

âmbito das renováveis, excetuando as candidaturas (limitadas) à aquisição de painéis solares.

Creem os estudos do projeto em causa um impacto positivo ao longo da obra no que diz respeito

ao incremento do trabalho na zona, ao mesmo tempo que sublinha vir a ter um impacto positivo a

médio/ longo prazo. A médio/longo prazo se excetuarmos o único argumento válido (refiro-me

obviamente ao aproveitamento hídrico e consequentemente renovável) teremos zero oferta de

emprego relacionado com esta obra. Mas esta obra com uma duração de curto/médio prazo terá

por si só a pior das consequências deste projeto. Os trabalhos a efetuar durante todo este período

serão prejudiciais a todas as atividades económicas e sociais envolventes, nunca serão

compensadas nem a curto, nem a médio nem a longo prazo.

Estamos a tratar de um domínio que tem muito de investimento público e de todos os cidadãos.

Mas estamos a falar no campo económico de uma receita que só trará benéfico a uma componente

privada.

No que me diz respeito, e em baixo estou devidamente identificado para quaisquer dúvidas, não

vou aceitar, que uma conduta de um quilometro de extensão tenha de passar a escassos metros

da minha habitação. O ruído existe, a obra será exorbitante e tal como já havia pedido

esclarecimento com responsáveis pela elétrica, nomeadamente da Renováveis, considere-se no

mínimo um trajeto a Norte desta localidade (Fajãzinha) para se fazer eventuais condutas e acessos

à central. Preserve-se aquilo que existe, sob pena de serem totalmente incoerentes com a

justificação desta obra.

Para terminar aconselho a visualização das imagens existentes online das cascatas (certamente

já vistas ao vivo face ao manancial de certificações e classificações naturais recebidas muitas das

quais pelas vossas candidaturas) desta área natural. Esta é para mim a paisagem mais bonita do

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mundo por m2. O verde da minha esperança é que esta exposição não faça só sentido 7 milhões

de euros depois.

Estando certo que a minha exposição possa ser considerada antes da emissão de uma Declaração

de Impacte Ambiental Favorável ou Condicionalmente Favorável a emitir pela Secretaria Regional

da Energia, Ambiente e Turismo.

Com os melhores cumprimentos”

Marco Alexandre Eduardo Henriques

Cartão de Cidadão: 13392285

NIF: 218203969

Residente na Rua Pico Redondo, Fajãzinha, Lajes das Flores.

Sr. José Manuel N. Azevedo (ENT-DRA 2017-11363)

José Manuel Viegas de Oliveira Neto Azevedo

Biólogo, doutorado em Ecoligia Animal, docente universitário.

[email protected]

“Resumo

A minha contribuição é feita com ênfase na proteção da enguia europeia, tendo por base o meu

conhecimento sobre a espécie e a leitura das partes relevantes do Relatório Síntese e do Relatório

Não Técnico.

O relatório determina que o principal impacte negativo na área da ecologia será sobre as

populações de enguia europeia devido à quebra da continuidade hidrológica (levando à interrupção

das migrações essenciais à conclusão do ciclo de vida) e à mortalidade resultante do

funcionamento dos equipamentos. Ao mesmo tempo, porém, apresenta o desconhecimento da

situação especifica da população de enguias na Ribeira Grande como justificação para desenhar

o projeto sem ter em conta a conservação da espécie. O EIA prevê, mesmo assim, fazer uma

amostragem com pesca elétrica na fase de pré-construção a qual determinará a própria

necessidade de “medidas de gestão ambiental”.

Em ponto nenhum do EIA se menciona que a enguia europeia é uma espécie alvo de medidas de

proteção a nível regional, nacional e europeu por estar criticamente ameaçada de extinção, sendo

uma das causas principais a disrupção do ciclo de vida por intervenções nas linhas de água1 .

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Também não é referido que o estatuto de Reserva da Biosfera da Ilha das Flores representa um

compromisso regional na promoção de abordagens inovadoras ao desenvolvimento económico,

que sejam social e culturalmente adequadas e ambientalmente sustentáveis.

Penso que o plano de monitorização, sobretudo na sua fase inicial e decisiva para o

estabelecimento das medidas de gestão ambiental, é temporal e espacialmente muito limitado e

tem insuficiências metodológicas. Para além disso, os critérios de decisão sobre eventuais

“medidas de gestão ambiental” são vagos e portanto inoperacionais. Finalmente, parece-me que

o conhecimento já existente sobre as enguias nos Açores permite afirmar que este sistema hídrico

é relevante para a conservação da espécie.

Proponho portanto que, no mínimo, o projeto seja desde já redesenhado para ter imacte

zero sobre a população de enguias da Ribeira Grande e afluentes, (i) assegurando a

transportabilidade de todos os trechos, em ambas as direções e para todas as fases do ciclo

de vida (ii) assegurando uma mortalidade das enguias não significativamente diferente da

situação de referência em todos os pontos do circuito, quer em termos de infraestruturas

quer de procedimentos. Adicionalmente, o projeto poderia ambicionar ter um impacte positivo

sobre a população desta espécie.

Desenvolvimento

1. Surpreendentemente, não encontrei nenhuma referência nestes documentos ao facto de

que a enguia europeia (i) é uma espécie classificada como Criticamente Ameaçada de

extinção pela Red List da IUCN, que (ii) está incluída no Anexo II do CITES e que (ii) é alvo

de Regulamento (CE) n.º 1100/2007 do Conselho Europeu, que estabeleceu a necessidade

de aprovar Planos de G para a espécie. A situação critica desta espécie é ainda

reconhecida pelo Governo dos Açores, ao proibir a pesca desta espécie na Região

a. Apesar de haver claramente uma preocupação com os impactes sobre a

espécie, o respetivo estatuto de conservação devia não só ser claramente

especificado, como deviam ser mencionado que a alteração do habitat é um dos

principais fatores que estão a levar à extinção desta espécie, com declínios

populacionais dramáticos em toda a Europa (v. Clavero & Hermoso, 20152 ).

b. Neste quadro, não se compreendem afirmações como as de que (Relatório

Síntese, 3.1.5.8, p. 119) “Em conclusão, o valor faunístico da área de estudo

não se assume como particularmente relevante. Com efeito, os biótopos

presentes não oferecem condições particularmente adequadas para as espécies

e/ou com estatuto de proteção”

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2. Há de facto um grande desconhecimento sobre o ciclo de vida das enguias nos Açores,

que este EIA infelizmente perpetua. Só isso justifica a afirmação feita no Livro Vermelho

dos Vertebrados de Portugal3de que a espécie não atinge aqui a maturidade sexual, ou

exclusão dos Açores do Plano de Gestão da Enguia4por os impactes humanos serem

negligenciáveis. Ora

a. Trabalhos esporádicos que têm vido a ser feitos comprovam que a espécie

completa de facto o seu ciclo de vida nas ribeiras e lagoas dos Açores,

i. No inicio deste mês (dezembro de 2017) acompanhei uma equipa da

Environmental Agency, UK, a qual capturou enguias de grandes

dimensões na Ribeira Grande, assim como em vários outros pontas

da ilha.

ii. No Paul da Praia da Vitória, na Terceira, esta mesma equipa capturou

enguias na fase prateada que antecede a migração para o oceano,

comprovando observações anteriores feitas noutros locais,

inclusivamente na Ribeira Quente em São Miguel.

b. Os impactes antropogénicos sobre as enguias nos Açores são, pelo contrário,

muito significativos:

i. A espécie é alvo de pesca nos açores (a qual continua, apesar da

proibição),

ii. Os aproveitamentos hidroelétricos nos principais cursos de água

impedem a circulação dos animais nas várias fases do ciclo de vida

e

iii. O assoreamento e artificialização de zonas húmidas, como os Pauis

de Santa Cruz, e da Praia da Vitória, na Terceira, reduziram de forma

drástica o habitat disponível para esta espécie.

3. A informação referida em relatórios internos da EDA (e.g. Pereira 20165), citados neste EIA,

de que a enguia se pode reproduzir em estuários e na boca das ribeiras contradiz a

literatura especializada (e.g. Ginneken & Maes, 20066) de que a reprodução é feita no Mar

dos Sargaços.

a. Esta imprecisão pode levar a descurar a importância dos cursos de água como

locais de crescimento e de preparação para a longa natação oceânica que os

reprodutores têm que fazer.

4. Pelo que percebi, não existem dados sobre os caudais da Ribeira Grande nem sobre a

pluviosidade na área, tendo os cálculos do caudal ecológico sido feitos com base dados de

São Miguel e o ajustamento de modelos matemáticos.

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a. A ser assim, questiono a validade desses cálculos, parecendo-me ser

necessário obter dados do caudal do próprio sistema a intervencionar para

poder com base neles estabelecer os caudais ecológicos

b. De facto, é feita uma concessão ao impacte sobre a ecologia ao manter o caudal

ecológico nos 20% convencionais em vez de 7,6% sugeridos pelos métodos

adotados. No entanto os valores concretos desse caudal devem ser ajustados

para as condições reais do local

5. O EIA prevê uma campanha de amostragem na primavera anterior à fase de construção,

fazendo depender toda a monitorização posterior e a implementação de medidas de gestão

ambiental da identificação de “uma população de enguia-europeia estruturada”, ou de

“comunidades consistentes” (p. 180).

a. Os conceitos utilizados são vagos e prestam-se a qualquer interpretação. Não

vejo como, com base neles, se poderá tomar qualquer decisão.

b. Não me parece prudente fazer depender de uma única campanha de

amostragem todo o acompanhamento do impacte desta obra sobre as enguias.

c. Não havendo razão para que a estrutura populacional das enguias seja diferente

nesta ribeira em relação às outras, sugiro que o plano de monitorização descrito

se mantenha, independentemente dos resultados da primeira campanha de

monitorização.

6. A campanha de monitorização prevista afigura-se-me insuficiente no tempo e no espaço, e

estar baseada em metodologias que não permitirão obter uma visão completa da utilização

deste sistema pelas enguias.

a. O plano de monitorização deve ser discutido com investigadores com experiencia

nesta espécie, e executado sob a respetiva supervisão.

b. Devem, de qualquer forma, prever-se métodos de amostragem complementares à

pesca elétrica, nomeadamente a utilização de armadilhas iscadas ou de redes em

zonas mais profundas, para assegurar que se capturem os exemplares de maiores

dimensões7

c. Na componente de caraterização da população de enguia-europeia do plano de

monitorização, elementos a ter em conta são

i. A determinação dos períodos de migração das enguias de vidro,

e das barreiras à migração para jusante dos juvenis

ii. O movimento dos animais em crescimento, e como são afetados pelos

equipamentos e respetiva operação

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iii. A determinação dos locais de maturação dos adultos, assim como dos

períodos em que se dá a metamorfose em enguias prateadas e a

respetiva migração para jusante, assim como as barreiras físicas e

operacionais que encontram.

7. O EIA prevê que, em função do resultado de uma única campanha (marcada para a

primavera 2017, p. 184- já foi realizada?), e com base nos critérios absolutamente vagos,

se decida da implementação de um conjunto de “medidas de gestão ambiental”, a aplicar

já em fase de construção. Ou seja, o projeto foi desenhado de uma perspetiva reducionista

de engenharia, sem ter em conta o respetivo impacte sobre as enguias.

a. As “medidas de gestão ambiental” apontadas (p. 181) revelam conhecimento sobre

as intervenções necessárias para reduzir o impacte de qualquer projeto hidroelétrico

sobre peixes migradores como as enguias

b. Parece-me que quem tem esse conhecimento deveria também compreender a

irrazoabilidade de implementar estas “medidas” em fase de construção. Não se trata

de cosmética, mas sim de alterações significativas em todas as estruturas de

captação e rejeição de água e nas intervenções na linha de água

c. Apresentada desta maneira (critérios vagos usados para decidir sobre eventuais

medidas de mitigação que correspondem de facto a alterações significativas do

projeto), é legitimo questionar a seriedade da intenção de salvaguarda das enguias.

8. A importância de toda a ilha ser uma Reserva da Biosfera é resumida, nos documentos

consultados, à nidificação de aves marinhas. No entanto, os objetivos do estatuto são muito

mais ambiciosos, tendo que ver com a realização de um desenvolvimento sustentável, no

qual as atividades humanas não colidem com a conservação da biodiversidade biológica.

Subjacente à designação de estatuto de reserva da Biosfera está, inclusivamente. A

realização de projetos demonstrativos de como o bem estar das populações pode ser

melhorado ao mesmo tempo que se mantém o equilíbrio ecologico8.

a. O presente projeto vai ser implementado numa área protegida e numa ilha

designada como Reserva da Biosfera, tendo como impactes negativos sobre a

única espécie nativa de peixe de água doce, a qual está em perigo critico de

extinção em todo o mundo.

b. Parece-me que, neste contexto, o projeto deveria, em vez de ter uma atitude

defensiva de mitigação já em fase de construção, pugnar por ter como objetivo

mínimo um impacte nulo sobre a população de enguias da Ilha das flores,

procurando ser um exemplo das melhores práticas mundiais na conservação desta

espécie.

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9. Por mais positivos que sejam os impactes ao nível económico e da redução da utilização

de combustíveis fosseis, estes não justificam que se deixe de tomar medidas necessárias

para (i) salvaguardar a continuidade ecológica das ribeiras intervencionadas e (ii) gerar um

impacte não significativo sobre a população de enguias que nelas vive. De facto, penso

estarmos a falar de medidas iniciais de engenharia irrelevantes face ao custo total da obra,

e de medidas de acompanhamento que pouco representam em relação ao valor gerado

pelo empreendimento.

10. As medidas de gestão ambiental propostas, a existirem, serão estabelecidas já em fase de

construção e visam “minimizar os impactes do projeto” (p. 181), o que me parece vago e

seguramente pouco ambicioso. Ora,

a. O parecer dos ICES emitido há pouco mais de um mês refere explicitamente que

todos os impactes antropogénicos devem ser reduzidos a zero9.

b. O bom senso (e a literatura especializada10) aconselha a que as medidas de

proteção devem ser previstas na etapa de desenho e não como alterações ao

projeto já na fase de construção.

c. existem soluções de engenharia (descritas em documentos citados no próprio EIA)

que permitem atingir uma mortalidade perto do zero, ao mesmo tempo que se

asseguram a continuidade hidrológica.

11. Em conclusão, proponho que o projeto seja re-desenhado para assegurar

a. a. a transponibilidade de todos os trechos, em ambas as direções e para todas as

fases do ciclo de vida (e não, como está no texto, “uma maior transponibilidade”,

p.182)

b. a mortalidade zero das enguias, ou seja uma mortalidade não significativamente

diferente da situação de referência em todos os pontos do circuito, quer em termos

de infraestruturas quer de procedimentos.

i. No primeiro caso causam particular preocupação as tomadas

tirolesas, sobretudo em relação às enguias de pequena e média

dimensão. Estas passam anos na ribeira e estão portanto sujeitas a

serem capturadas nestas estruturas múltiplas vezes. De acordo com

as boas práticas na área11, a captação deve ter uma malha menor que

2mm, enquanto o projeto prevê um espaçamento de 480mm (p. 161).

ii. No segundo caso menciono as intervenções nos equipamentos, que

muitas vezes geram caudais anormais e súbitos que têm grande

impacto sobre as comunidades a jusante.

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12. Idealmente, e tendo em conta o valor do património natural em causa e o contexto da

Ilha onde se situa, o projeto poderia, para além de anular o seu impacte negativo sobre a

população de enguias, ambicionar fazer um contributo positivo para a conservação da

enguia europeia. Este contributo teria que ser discutido com especialistas mas poderia

consistir, por exemplo, em implementar um sistema de monitorização baseado em

dispositivos automáticos que contribuísse para aumentar o conhecimento sobre os padrões

de migração da espécie, ou em montar paralelamente um projeto de restauro ambiental

que melhorasse as condições de criação das populações de enguias da ilha.

13. Não sendo eu um especialista nesta espécie, nem tendo experiência sobre as soluções

de engenharia mais adequadas para anular ou compensar os impactes negativos de

intervenções hidroelétricas, sugiro que seja pedido um parecer sobre este EIA a uma

entidade que tenha essas competências.

Ponta Delgada, 28 dezembro 2017”

GEOTA, através do Sr. Pedro Santos (ENT-DRA 2017-2018/36)

Aproveitamento Hidro elétrico da Ribeira Grande

Parecer no âmbito da consulta pública do Projeto de Execução

29.dez.2017

O GEOTA é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA), de âmbito nacional

e sem fins lucrativos, em atividade desde 1981. O GEOTA acredita ser indispensável considerar o

Ambiente como um fator central de desenvolvimento, que englobe não só a Natureza mas também

a paisagem humanizada, os valores culturais, a qualidade de vida das pessoas e a gestão e

salvaguarda dos recursos naturais.

Neste âmbito, tomou conhecimento do processo de participação pública que está a decorrer até

hoje, 29 de dezembro de 2017, relativo ao Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande (AHRG)

na Ilha da Flores, Açores.

A análise deste processo permitiu-nos verificar que algumas questões centrais carecem de análise

aprofundada, nomeadamente:

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• Ausência do estudo de alternativas: localização | Verifica-se que foi realizada uma análise

comparativa de dois cenários. O GEOTA congratula o facto de ter sido considerada a alternativa

zero, mas considera que deveriam ter sido estudadas alternativas que não afetassem o Parque

Natural de Ilha das Flores, mais precisamente a Área de Paisagem Protegida da Zona Central e

Falésias da Costa Oeste. O facto de outras localizações terem sido estudadas em anos anteriores

não inviabiliza a sua inclusão nesta nova análise. Tal porque os impactes são mutáveis à escala

temporal e porque a sua inclusão possibilitaria uma análise comparativa de impactes entre

alternativas, permitindo consequentemente uma decisão devidamente consubstanciada.

• Ausência do estudo de alternativas: produção elétrica | Para o GEOTA, referir a construção

de novas aproveitamentos hidroelétricos como uma solução isolada, descrimina a existência de

outras soluções, com padrões tecnológicos alternativos e financeiramente rentáveis, que permitem

assegurar os mesmo objetivos em termos energéticos. Neste âmbito, destaca-se a necessidade

de análise de produção recorrendo a fontes endógenas alternativas, como o caso da energia solar.

Paralelamente, a construção de novas infraestruturas, sobretudo quando apresentam impactes

irreversíveis em áreas protegidas, deve ser precedida, ou pelo menos acompanhada, de uma

análise da eficiência energética nos diversos sectores (habitação, serviços, indústria) do território.

Note-se que os meses de maior dependência de combustíveis fósseis são também os mais secos

do ano (abril a setembro), logo, aqueles em que a produção de energia hídrica será previsivelmente

mais baixa. De facto, tal já se verifica no Aproveitamento Hidroelétrico de Além Fazenda, nas

Flores. As soluções de produção elétrica devem assim optar por soluções que colmatem esses

períodos, e não por infraestruturas que não os solucionem. Devem ser diversificadas as formas de

produção, assegurando uma maior resiliência do sistema de produção e distribuição de

eletricidade.

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 57

ANÚNCIO

CONSULTA PÚBLICA

ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL

PROJETO DE APROVEITAMENTO HIDROELETRICO DA RIBEIRA GRANDE

DA ILHA DAS FLORES

Proponente: EDA RENOVÁVEIS

Licenciador: Direção Regional de Energia

Autoridade Ambiental: Direção Regional do Ambiente

O projecto acima mencionado, em Fase de Projeto de Execução, está sujeito a um procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental, conforme estabelecido pela alínea m) do n.º 8 do Anexo II, áreas sensíveis do Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010/A, de 15 de novembro. O projeto localiza-se na sua maior parte na freguesia da Fajãzinha, concelho das Lajes das Flores, ilha das Flores. Nos termos e para efeitos do preceituado no art.º 106.º e nos artigos. 111.º, 112.º e 113.º do Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010/A, de 15 de novembro, a Direção Regional do Ambiente, enquanto Autoridade de Ambiental, informa que o Estudo de Impacte Ambiental, constituído pelo Relatório Técnico, Resumo Não Técnico, bem como o parecer da Comissão de Avaliação, entretanto emitido, se encontram disponíveis para Consulta Pública, durante 20 dias úteis, de 29 de novembro de 2017 a 29 de dezembro de 2017, inclusive, nos seguintes locais:

Direção Regional do Ambiente, sita na Rua Cônsul Dabney, Colónia Alemã - 9900-014 HORTA, Telefone: 292 207 300;

Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, sita no Largo do Colégio 9500-054 Ponta Delgada, telefone 296 281 216;

Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, sita na Rua do Morrão 42, 9700 054 Angra do Heroísmo, telefone 295 401 000;

Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, sita na Rua Walter Bensaúde 14 9900-142 Horta, telefone 292 391 344;

Serviço de Ambiente das Flores, sita na Rua João Augusto Silveira, 9960-443 Lajes das Flores, telefone 292 207 390.

Na Internet através do endereço http://www.azores.gov.pt/Portal/pt/entidades/sraf/docDiscussao

No âmbito do processo de consulta pública, os interessados devidamente identificados podem manifestar-se por escrito, no prazo atrás referido, devendo todas as exposições serem dirigidas à Direção Regional do Ambiente, sita na Rua Cônsul Dabney, Colónia Alemã - 9900-014 HORTA, com o correio eletrónico: [email protected].

O licenciamento do projeto só poderá ser concedido após a Declaração de Impacte Ambiental Favorável ou Condicionalmente Favorável a emitir pela Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo.

A Declaração de Impacte Ambiental deverá ser emitida até 22 de fevereiro de 2018.

Horta, 21 de novembro de 2017

A Diretora de Serviços da Qualidade Ambiental

Sónia Santos

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 58

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 59

ANEXO II

APRECIAÇÃO DAS PARTICIPAÇÕES E RESPOSTAS PONDERADAS

NA CONSULTA PÚBLICA

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 60

PARECERES RECEBIDOS

Participante Parecer Observações da DRA Sílvio Gonçalves – Aldeia da Cuada Preocupação relativa a poluição em termos de

poeiras, ao ruído produzido pelas obras e pelo funcionamento das turbinas da central e a ocupação do espaço para estacionamento pelos visitantes do denominado Poço da Ribeira do Ferreiro, tendo como referência os impactes que estas situações podem ter na unidade turística “Aldeia da Cuada” face à imagem de qualidade e sustentabilidade ambiental deste aldeamento para alojamento de turistas.

Relativamente às poeiras, o próprio EIA propõe a aspersão de água na superfície de zonas de trabalho para mitigar este potencial impacte já de si pouco significativo devido às condições edafoclimáticas e morfológicas da área de estudo e esta Autoridade Ambiental deverá condicionar estas obras com tal medida de mitigação na Declaração de Impacte Ambiental (DIA). Relativamente ao ruído, e para fase de construção, são obviamente expectáveis impactes de ruído, como em qualquer obra de construção civil. No entanto, a DIA condicionará a realização dos trabalhos aos dias úteis e ao período diurno definido no DLR nº 23/2010/A. Refira-se que este será um impacte temporário. Na fase de exploração, o EIA assume que não haverá emissões de ruído no exterior da Central Hidroelétrica e as restantes infraestruturas do projeto não deverão gerar ruído, pois são semelhantes ao de qualquer sistema de recolha e distribuição de água para abastecimento às populações. Como medida de salvaguarda, a Central hidroelétrica ficará condicionada em DIA, no caso de emitir ruído para o exterior, à obrigação de assegurar o cumprimento dos

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 61

limites legais definidos para uma zona sensível, definida no DLR nº 23/2010/A, ficando o proponente obrigado ao proponente a efetuar trabalhos de isolamento sonoro, caso necessário, para garantir tal condicionante. Ao nível da instalação de um estaleiro junto ao local de acesso ao Poço do Ferreiro contíguo à Estrada Regional , perto da interceção desta com a Ribeira Grande, esta Autoridade Ambiental porá, na DIA, como condição que este tipo de instalação de apoio à obra não fique implantado em locais expostos aos trilhos, à Estada Regional ou de uso para estacionamento dos visitantes e residentes da Fajã Grande e da Fajãzinha, pelo que deve ser apresentado local alterativo, a sujeitar à aprovação prévia da Direção Regional do Ambiente.

Gerbrand Michielsen “O meu contributo está apenas relacionado com biodiversidade afetada, com destaque para a Enguia Europeia, dado que estou atualmente a colaborar com o projeto “ Tracking European Eel spawing from the Azores”. Como foi referido no documento, a EDA Renováveis tem instalado um projeto similar na Ribeira Quente em São Miguel e sugere implantar as mesmas medidas para diminuir os impactos sobre as Enguias, declarando-as como eficazes.

Na Declaração de Impacte Ambiental, ficará como condição ao licenciamento do projeto, e antes do lançamento do concurso público para a sua construção, a apresentação prévia de um estudo, que tem de ser aprovado pela Direção Regional do Ambiente, com os resultados da monitorização que já decorre, com proposta de medidas que permita à enguia europeia completar as fases do ciclo de vida que decorrem na ribeira.

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 62

Reconheço que foi feito trabalho no sentido de monitorização mas os resultados estão longe dos pretendidos. - Durante a primeira fase do nosso projeto conseguimos apanhar 39 Enguias. Apenas um exemplar (juv) foi capturado por cima da primeira barragem enquanto todos os restantes ficaram retidos nas Ribeiras abaixo das barreiras. As Enguias juvenis retidas nas armadilhas são apenas uma percentagem muito reduzida, já que são observados grandes cardumes na foz da Ribeira Quente. A zona abaixo das barragens consiste em habitat bastante hostil para esta espécie já que prefira aguas tranquilas com vegetação e lodo em vez de Ribeiras “limpas”. Facto do que as juvenis não chegam as Furnas como anteriormente dificulta as fêmeas chegar a idade adulta. Mesmo depois quando as adultas tentar regressar para a zona de reprodução no mar de Sargaço encontram dificuldades ou ate impossibilidade pelo caminho a foz. Antes da construção das centrais de Ribeira Quente havia registos de quantidades significativas de Enguias adultas nas Furnas, enquanto atualmente desapareceram quase por completo. Para evitar que se repita a situação da Ribeira Quente nas Flores, sugiro implantar uma reserva ecológica no 2ª afluente da Ribeira Grande atrás do moinho. Existe um terreno abandonado (ver fotografia anexa) que pode ser inundado, de

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forma simples e controlada com uma abertura regulável a partir da ribeira, para criar um habitat ideal para a enguia completar o seu ciclo natural e valorizar a zona como “hotspot” para espécies ocasionais de avifauna, recompensando ainda de alguma forma o impacto sobre o turismo de natureza que o projeto da EDA irá provocar. Como o 2ª afluente fica logo no início, será de extrema importância salvaguardar uma livre transição efetiva para as Enguias (juvenis e adultas) na própria central, encaminhando-as e facilitando o acesso para o canal do moinho a partir da câmara de carga.”

Guilherme Santos - Ambiflores O participante refere que “o projeto prevê preservar e restaurar a qualidade ambiental e paisagística na área da sua implantação, mas não se encontra a um nível desejável. Irá colidir de forma agressiva com as áreas protegidas na zona envolvente do projeto.”

Comentário opinativo, dado que o participante não apresenta fundamentos. Para se evitar impactes na paisagem, é de salientar que o projeto apenas na captação da Ribeira do Ferreiro, devido ao caudal sólido grosseiro frequente no troço da implantação, possui um açude em soleira, com 1,5 m de altura acima de cota do leito normal de escoamento, o que modifica o perfil longitudinal e o torna visível no local. Contudo, a envolvente está ocupada por vegetação arbórea, o que minimiza a sua exposição para as vizinhanças da área de implantação, enquanto numa paisagem de cascatas e lagoas, considera-se que uma pequena albufeira não choca visualmente com as características da envolvente se esta ficar visível de miradouros distantes.

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 64

Por sua vez o açude da Ribeira Grande e do primeiro afluente serão do tipo tirolesa, ou seja, em profundidade, mantendo assim a paisagem e o perfil longitudinal da linha de água sem alterações, não havendo por isso impacte paisagístico, enquanto a captação do segundo afluente será através de uma derivação lateral num troço da linha de água já artificializado realizada abaixo da superfície junto ao aqueduto sob a Estrada Regional e por isso também não interfere com a paisagem.

“Um dos maiores incómodos deste projeto é o ruído. Sobre o ruído provocado pela obra e, principalmente, pelo funcionamento desta central, são escassas as linhas a ele dedicadas nos estudos dos impactos ambientais: Diz-se que “a área em estudo apresenta baixa densidade urbana”, “admitindo-se (?) globalmente um ambiente acústico de qualidade”. Será assim? E o Aldeamento Turístico da Cuada, situado por cima da central prevista, não será prejudicado? E a nidificação das tão protegidas aves marinhas?”

Relativamente ao ruído, e para fase de construção, são obviamente expectáveis impactes de ruído, como em qualquer obra de construção civil. No entanto, a DIA condicionará a realização dos trabalhos aos dias úteis e ao período diurno definido no DLR nº 23/2010/A. Refira-se que este será um impacte temporário. Na fase de exploração, o EIA assume que não haverá emissões de ruído no exterior da Central Hidroelétrica e as restantes infraestruturas do projeto não deverão gerar ruído, pois são semelhantes ao de qualquer sistema de recolha e distribuição de água para abastecimento às populações. Como medida de salvaguarda, a Central hidroelétrica ficará condicionada em DIA, no caso de emitir ruído para o exterior, à obrigação de assegurar o cumprimento dos limites legais definidos para uma zona sensível,

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 65

definida no DLR nº 23/2010/A, ficando o proponente obrigado ao proponente a efetuar trabalhos de isolamento sonoro, caso necessário, para garantir tal condicionante. Refira-se ainda que o local de implantação do projeto não está integrado em nenhuma zona de proteção especial da avifauna, pelo que não existem restrições legais específicas para este objetivo da conservação da natureza nos locais de implantação do projeto.

“O projeto situa-se em terrenos privados e os donos dessas terras não só não foram contactados nem informados pelas entidades responsáveis por este projeto, como ainda não autorizaram qualquer intervenção nas suas terras”.

Informa-se que não é no âmbito do procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental que se verificam a titularidade dos terrenos, sendo esse requisito verificado, pela entidade licenciadora, através do processo de licenciamento da atividade. Saliente-se que a emissão de uma DIA não dispensa a emissão de qualquer outra licença, autorização e declaração a que o empreendimento esteja sujeito perante a legislação aplicável.

“Antes de se avançar para um projeto desta dimensão, porque não tentar melhorar a eficiência das fontes de produção de energia renovável já existentes? Segundo se diz, o Parque Eólico não está a ser devidamente explorado”.

De acordo com os dados indicados no EIA, mas também nos dados publicados pela EDA, é possível verificar que a produção de energia de base renovável (hídrica e eólica) produzida na Ilha das Flores se situa na ordem dos 50-60%, mas sobretudo a partir da componente hídrica. Daí a necessidade deste projeto, que permitirá à ilha das Flores diminuir na quase totalidade a

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 66

sua dependência de combustíveis fósseis para a produção de eletricidade. A central hídrica Além Fazenda foi recentemente renovada e ampliada.

“Segundo explicou o presidente da EDA, com a inauguração da ampliação da Central Hídrica Além Fazenda passam a estar garantidas na ilha das Flores todas as condições para a produção e distribuição de energia com segurança e qualidade. Duarte Ponte explicou que este é o culminar de um processo de quatro anos, que envolveu o investimento total da EDA de 20,4 milhões de euros na ilha das Flores. Além da reabilitação e ampliação da Central Hídrica de Além Fazenda, foi também construída a Central Térmica das Lajes, capaz de garantir o abastecimento de energia eléctrica a toda a ilha, mesmo que não exista produção hídrica e eólica. (http://www.rtp.pt/acores/economia/governo-regional-anuncia-novos-investimentos-nas-energias-renovaveis-video_47587)”.

A justificação da necessidade do atual projeto não colide com o referido pelo participante na consulta pública.

“Na pág. 3 do “Parecer de Apreciação CA” destaca-se seguinte parágrafo: «Ressalva-se que, na página 2-2 é referido que a ilha das Flores “...é já actualmente autosuficiente do ponto de vista energético.” Pelo que, nesta perspectiva, deve fundamentar-se a escolha do local/ilha para implementação do aproveitamento hidroeléctrico, o qual só se justificará face a

Importa esclarecer que o parecer da CA citado foi efetuado a uma versão anterior do EIA (que não colocada à Consulta Pública), onde se citou um parágrafo dos objetivos do empreendimento que não parecia ter a devida justificação na projeção da situação ambiental de referência sem o empreendimento. A versão do Relatório Síntese que colmatou ou respondeu às questões

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 67

eventuais aumentos de consumo previstos». Houve ou está previsto haver algum aumento substancial nos consumos energéticos na ilha, que agora justifiquem este investimento?”.

levantadas antes pela CA, no seu conjunto evidenciou que a justificação do projeto não era cobrir o aumento de consumos de energia mas sim “o objetivo do projeto em avaliação não é colmatar uma insuficiência da capacidade de fornecimento energético instalada na ilha das Flores, mas sim, eliminar a dependência do sistema aos combustíveis fósseis e não renováveis para a produção de energia elétrica nas Flores.”

“Durante a construção desta obra (que demorará no mínimo 3 anos a ser concluída) prevê-se reativar a britadeira da Fajã-Grande para a utilizar como estaleiro das máquinas, colidindo com todos os esforços da comunidade da Fajã-Grande e da Associação Ambiental da Ilha - Ambiflores para requalificar aquele local como um espaço verde”.

Nada a comentar.

“A entrada do trilho da Ribeira do Ferreiro, local mais visitado na ilha e dos mais procurados do arquipélago, será afetada com a instalação de estaleiros de apoio às obras (mínimo de 3 anos até concluído), o que, como consequência, trará grandes impactos negativos para o turismo da ilha”.

Ao nível da instalação de um estaleiro junto ao local de acesso ao Poço do Ferreiro contíguo à Estrada Regional , perto da interceção desta com a Ribeira Grande, esta Autoridade Ambiental porá, na DIA, como condição que este tipo de instalação de apoio à obra não fique implantado em locais expostos aos trilhos, à Estada Regional ou de uso para estacionamento dos visitantes e residentes da Fajã Grande e da Fajãzinha, pelo que deve ser apresentado local alterativo, a

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 68

sujeitar à aprovação prévia da Direção Regional do Ambiente.

“”Incremento do emprego e da atividade económica nos aglomerados da área de influência das obras”: Não há quantificação deste impacto positivo, pressupondo-se que seja maior na fase de construção (empregos de curta duração). Quantos postos de trabalho serão criados a longo prazo?”.

O EIA identifica este impacte positivo, de magnitude e significância moderadas face ao contexto local, essencialmente na fase de construção, prevendo-se: - Aumento dos postos de trabalho diretos, associados à construção do aproveitamento; - Eventual afluxo de mão-de-obra exterior; - Crescimento da atividade económica, sobretudo ao nível do comércio local e atividades de restauração e estadia. O EIA refere que, na fase de exploração não se prevê a criação de postos trabalho direto, ficando o controlo e a manutenção da central a cargo de técnicos da EDA. Contudo, haverá sempre necessidade de realizar trabalhos de manutenção com recurso a mão-de-obra existente na ilha e/ou com mais deslocação de pessoal especializado, o que poderá continuar a contribuir como impacte positivo em termos socioeconómicos, ainda que os mesmos se perspetivem de reduzida magnitude e significado.

“O Projeto ficou disponível para visualização e discussão do público no mês de dezembro, curiosamente uma altura em que tanto as pessoas como entidades estão ocupadas a tratar de

Os procedimentos de AIA estão condicionados aos prazos legais da legislação e esta não prevê condicionalismos de época em que os mesmos possam ocorrer para além dos dias feriados, por

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 69

eventos de Natal, compras ou até fora da ilha a desfrutarem de férias”.

isso a coincidência resultou diretamente de imposições da lei.

“Gostaríamos de dar referência ao facto de que a intervenção não só se situa num território que é Reserva da Biosfera, como também é praticamente adjacente ao mais importante ex-libris das Flores e dos Açores que, aliás, tem sido extensivamente utilizado pelo Governo Regional para promover o arquipélago como destino de Turismo de Natureza. Assim, achamos que este projeto merece ter o melhor que a engenharia possa proporcionar, tendo em vista a sustentabilidade ecológica e turística da nossa ilha (e não ser tratada e gerida como mais uma mera obra de construção).”

Nada a comentar.

Marco Henriques “No “Projeto de Licenciamento Elétrico – Central Hidroelétrica Ribeira Grande”, no “Ponto 1- Descrição Geral” é referido que “o Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande, situa-se na Costa leste da Ilha das Flores, próximo da localidade de Fajãzinha, e destina-se ao reforço da capacidade de produção de energia elétrica da ilha”. Meus caros, a Fajãzinha, concretamente a Ribeira Grande, situasse na costa OESTE das Flores. Esta gralha da parte da elétrica ou preciosismo desta análise mostra à priori o

O documento referido é uma peça técnica que efetivamente acompanhou o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e faz parte do processo licenciamento do projeto e que tem no local citado do texto este erro. Contudo, não só esta mesma peça possui uma carta com a implantação do projeto, como ainda, os Relatórios do EIA, a Memória Descritiva do Projeto e os Anexos do EIA possuem tanto em texto, como em cartas e ainda em figuras, referências frequentes e abundantes que localizam corretamente o projeto em avaliação,

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 70

cuidado e tratamento tido na elaboração deste projeto.”

pelo que é provável tratar-se de um lapso ortográfico que não compromete a informação para apreciar o empreendimento.

“Em primeiro lugar e porque se trata de uma

questão que sou visado diretamente uma vez que

a localização (nomeadamente das condutas de

água) está projetada numa proximidade da minha

habitação ridícula para uma obra ainda por

efetuar, considero ser abusiva a forma como está

a ser idealizada esta obra”.

Nada a comentar.

“O argumento renovável, o qual sou 100% a favor,

não pode ser utilizado a todo o custo da evolução

necessária. Não vou nesta exposição enveredar

por questões, mas sim sublinhar pontos que são

óbvios: a ilha das Flores já tem, atualmente,

autonomia energética renovável.

Será discutível, no mínimo, querer passar a ideia

que o aumento de 20% no pós-obra desta central

em renováveis a nível geral não contrasta com a

descaracterização paisagística que será

verificada a olho nu. É inegável, por muito

cuidadoso que venha a ser a arquitetura deste

projeto, que esta área altamente reconhecida

(25% parte do Parque Natural da Ilha das Flores

O projeto, apenas na captação da Ribeira do Ferreiro, devido ao caudal sólido grosseiro frequente no troço da implantação, possui um açude em soleira, com 1,5 m de altura acima de cota do leito normal de escoamento, o que modifica o perfil longitudinal e o torna visível no local. Contudo, a envolvente está ocupada por vegetação arbórea densa, o que minimiza a sua exposição para as vizinhanças da área de implantação, enquanto a albufeira enquadra-se numa paisagem de cascatas e lagoas. Por sua vez, o açude da Ribeira Grande e do primeiro afluente serão do tipo tirolesa, ou seja, em profundidade, mantendo assim a paisagem e o perfil longitudinal da linha de água sem alterações, enquanto a captação do segundo afluente será através de uma derivação lateral

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 71

– por sua vez Reserva da Biosfera) será

desvirtuada como já havia sido anteriormente

noutros exemplos, felizmente encerrados como o

caso de uma britadeira instalada mais a norte da

Ribeira do Ferreiro. Local último, como outro

junto à ponte desta ribeira referida que poderá

ser utilizado como “estaleiro” para esta futura

obra. Estamos a falar de um local de acesso a

outra das paisagens mais badaladas dos Açores:

falo do Poço da Ribeira do Ferreiro”.

num troço da linha de água já artificializado realizada abaixo da superfície junto ao aqueduto sob a Estrada Regional. O edifício da central para 1,1 MW, tem menos de 500 m2 e uma altura de 3 pisos, cujos alçados foram disponibilizados à Direção Regional do Ambiente e com traços de arquitetura tradicional. Ao nível da instalação de um estaleiro junto ao local de acesso ao Poço do Ferreiro contíguo à Estrada Regional , perto da interceção desta com a Ribeira Grande, esta Autoridade Ambiental porá, na DIA, como condição que este tipo de instalação de apoio à obra não fique implantado em locais expostos aos trilhos, à Estada Regional ou de uso para estacionamento dos visitantes e residentes da Fajã Grande e da Fajãzinha, pelo que deve ser apresentado local alterativo, a sujeitar à aprovação prévia da Direção Regional do Ambiente. O EIA conclui que as incidências visuais negativas estarão maioritariamente associadas à câmara de carga, pelo que se admite, na fase de exploração, impactes paisagísticos de reduzida magnitude e pouco significativos, sendo apenas recomendada a adoção de cuidados específicos no caso da Câmara de Carga, nomeadamente ao nível do projeto de arquitetura, e no tocante às cores e formas a adotar, que minimizem, tanto

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 72

quanto possível, as construções tradicionais, melhorando a inserção desta unidade na paisagem envolvente, determinando consequentemente impactes residuais sem significado.

“E no que diz respeito ao projeto de

aproveitamento quero acreditar que há

consciência da parte de quem analisa que a

redução de 80% do caudal após zona de captação

acabará com a fauna e flora existente no local”.

No EIA são dadas garantias de se salvaguardar o caudal ecológico convencional. O leito permanente desta linha de água é constituído por calhau grosseiro, um suporte que não permite a fixação de vegetação, exposto a períodos de turbulência e grande velocidade do fluxo de água que destroem frequentemente espécimes vegetais que aí se tivessem fixado. Esta característica do leito é evidenciada pelas fotos onde se vê a inexistência de uma cobertura vegetal no leito da ribeira e observada in loco. Ao nível da fauna, mais especificamente a enguia europeia, na Declaração de Impacte Ambiental, ficará como condição ao licenciamento do projeto, a apresentação prévia de um estudo, que tem de ser aprovado pela Direção Regional do Ambiente, com os resultados da monitorização que já decorre, com proposta de medidas que permita à enguia europeia completar as fases do ciclo de vida que decorrem na ribeira.

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 73

“É do conhecimento público, altamente noticiado,

que a ilha das Flores já tem autonomia renovável

em determinadas épocas do ano. É também do

senso comum um aumento de consumo por parte

da ilha pouco considerável para se estar a

projetar uma obra com um custo superior a 7

Milhões de euros. É correntemente discutido a

falta de manutenção do Parque Eólico da ilha das

Flores ou pelo menos a sua não utilização na

totalidade (e sim estou consciente das

condicionantes meteorológicas para a sua

utilização). É caso raro discutir-se politicas de

apoio ao consumidor no âmbito das renováveis,

excetuando as candidaturas (limitadas) à

aquisição de painéis solares. “

De acordo com os dados indicados no EIA, mas também nos dados publicados pela EDA, é possível verificar que a produção de energia de base renovável (hídrica e eólica) produzida na Ilha das Flores se situa na ordem dos 50-60%, mas sobretudo a partir da componente hídrica. Daí a necessidade deste projeto, que permitirá à ilha das Flores diminuir na quase totalidade a sua dependência de combustíveis fósseis para a produção de eletricidade.

“Creem os estudos do projeto em causa um

impacto positivo ao longo da obra no que diz

respeito ao incremento do trabalho na zona, ao

mesmo tempo que sublinha vir a ter um impacto

positivo a médio/ longo prazo. A médio/longo

prazo se excetuarmos o único argumento válido

(refiro-me obviamente ao aproveitamento

hídrico e consequentemente renovável) teremos

zero oferta de emprego relacionado com esta

obra. Mas esta obra com uma duração de

O EIA identifica, na vertente da socio economia, um impacte positivo, de magnitude e significância moderadas face ao contexto local, essencialmente na fase de construção, prevendo-se: - Aumento dos postos de trabalho diretos, associados à construção do aproveitamento; - Eventual afluxo de mão-de-obra exterior; - Crescimento da atividade económica, sobretudo ao nível do comércio local e atividades de restauração e estadia.

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 74

curto/médio prazo terá por si só a pior das

consequências deste projeto. Os trabalhos a

efetuar durante todo este período serão

prejudiciais a todas as atividades económicas e

sociais envolventes, nunca serão compensadas

nem a curto, nem a médio nem a longo prazo.

Estamos a tratar de um domínio que tem muito de

investimento público e de todos os cidadãos. Mas

estamos a falar no campo económico de uma

receita que só trará benéfico a uma componente

privada.”

O EIA refere que, na fase de exploração não se prevê a criação de postos trabalho direto, ficando o controlo e a manutenção da central a cargo de técnicos da EDA. Contudo, haverá sempre necessidade de realizar trabalhos de manutenção com recurso a mão-de-obra existente na ilha e/ou com mais deslocação de pessoal especializado, o que poderá continuar a contribuir como impacte positivo em termos socioeconómicos, ainda que os mesmos se perspetivem de reduzida magnitude e significado. Ainda no domínio da socio economia, o EIA admite, na fase de construção, impactes negativos de reduzida magnitude e significado, decorrentes de perturbações na paisagem e estrutura rural, determinando, ainda assim, a adoção de medidas adequadas visando reduzir, a perturbação, as implicações nas infraestruturas viárias, bem como ressarcir as atividades produtivas sustentadas em produtos agrícolas/pastagens nos terrenos temporariamente afetados pela materialização do aproveitamento. Refira-se que o proponente pertence a um grupo económico maioritariamente de capitais públicos regionais.

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 75

“O ruído existe, a obra será exorbitante e tal como

já havia pedido esclarecimento com responsáveis

pela elétrica, nomeadamente da Renováveis,

considere-se no mínimo um trajeto a Norte desta

localidade (Fajãzinha) para se fazer eventuais

condutas e acessos à central. Preserve-se aquilo

que existe, sob pena de serem totalmente

incoerentes com a justificação desta obra.”

Relativamente ao ruído, e para fase de construção, são obviamente expectáveis impactes de ruído, como em qualquer obra de construção civil. No entanto, a DIA condicionará a realização dos trabalhos aos dias úteis e ao período diurno definido no DLR nº 23/2010/A. Refira-se que este será um impacte temporário. Na fase de exploração, o EIA assume que não haverá emissões de ruído no exterior da Central Hidroelétrica e as restantes infraestruturas do projeto não deverão gerar ruído, pois são semelhantes ao de qualquer sistema de recolha e distribuição de água para abastecimento às populações. Como medida de salvaguarda, a Central hidroelétrica ficará condicionada em DIA, no caso de emitir ruído para o exterior, à obrigação de assegurar o cumprimento dos limites legais definidos para uma zona sensível, definida no DLR nº 23/2010/A, ficando o proponente obrigado ao proponente a efetuar trabalhos de isolamento sonoro, caso necessário, para garantir tal condicionante.

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José Manuel Azevedo “A minha contribuição é feita com ênfase na proteção da enguia europeia, tendo por base o meu conhecimento sobre esta espécie e a leitura das partes relevantes do Relatório Síntese e do Relatório Não Técnico. O relatório determina que o principal impacte negativo na área da ecologia será sobre as populações de enguia europeia devido à quebra da continuidade hidrológica (levando à interrupção das migrações essenciais à conclusão do ciclo de vida) e à mortalidade resultante do funcionamento dos equipamentos. Ao mesmo tempo, porém, apresenta o desconhecimento da situação específica da população de enguias na Ribeira Grande como justificação para desenhar o projeto sem ter em conta a conservação desta espécie. O EIA prevê, mesmo assim, fazer uma amostragem com pesca elétrica na fase de pré-construção a qual determinará a própria necessidade de “medidas de gestão ambiental”. Em nenhum ponto do EIA se menciona que a enguia europeia é uma espécie alvo de medidas de proteção a nível regional, nacional e europeu por estar criticamente ameaçada de extinção, sendo uma das causas principais a disrupção do ciclo de vida por intervenções nas linhas de água1. Também não é referido que o estatuto de Reserva da Biosfera da Ilha das Flores representa um

Na Declaração de Impacte Ambiental, ficará como condição ao licenciamento do projeto, e antes do lançamento do concurso público para a sua construção, a apresentação prévia de um estudo, que tem de ser aprovado pela Direção Regional do Ambiente, com os resultados da monitorização que já decorre, com proposta de medidas que permita à enguia europeia completar as fases do ciclo de vida que decorrem na ribeira.

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compromisso regional na promoção de abordagens inovadoras ao desenvolvimento económico, que sejam social e culturalmente adequadas e ambientalmente sustentáveis. Penso que o plano de monitorização, sobretudo na sua fase inicial e decisiva para o estabelecimento das medidas de gestão ambiental, é temporal e espacialmente muito limitado e tem insuficiências metodológicas. Para além disso, os critérios de decisão sobre eventuais “medidas de gestão ambiental” são vagos e portanto inoperacionais. Finalmente, parece-me que o conhecimento já existente sobre as enguias nos Açores permite afirmar que este sistema hídrico é relevante para a conservação da espécie. Proponho, portanto, que, no mínimo, o projeto seja desde já redesenhado para ter impacte zero sobre a população de enguias da Ribeira Grande e afluentes, (i) assegurando a transponibilidade de todos os trechos, em ambas as direções e para todas as fases do ciclo de vida e (ii) assegurando uma mortalidade das enguias não significativamente diferente da situação de referência em todos os pontos do circuito, quer em termos de infraestruturas quer de procedimentos. Adicionalmente, o projeto poderia ambicionar ter um impacte positivo sobre a população desta espécie.”

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Nota: dada a extensão do documento recebido (6 páginas), nesta tabela consta apenas um resumo, sendo que todo o conteúdo pode ser consultado em anexo.

GEOTA - Pedro Santos “Ausência do estudo de alternativas:

localização | Verifica-se que foi realizada uma

análise comparativa de dois cenários. O GEOTA

congratula o facto de ter sido considerada a

alternativa zero, mas considera que deveriam ter

sido estudadas alternativas que não afetassem o

Parque Natural de Ilha das Flores, mais

precisamente a Área de Paisagem Protegida da

Zona Central e Falésias da Costa Oeste. O facto de

outras localizações terem sido estudadas em anos

anteriores não inviabiliza a sua inclusão nesta

nova análise. Tal porque os impactes são

mutáveis à escala temporal e porque a sua

inclusão possibilitaria uma análise comparativa

de impactes entre alternativas, permitindo

consequentemente uma decisão devidamente

consubstanciada. “

A partir da leitura do EIA, que contém o historial das soluções para o fornecimento face ao consumo energético, verifica-se que o presente projeto não surgiu sem análises de outras fontes endógenas, inclusive observa-se que já ocorreram melhoramentos na Central Hidroelétrica de Além Fazenda e a instalação do Parque Eólico, destacando-se que o aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis na Ribeira Grande foi declarado de interesse público pela Resolução de Conselho de Governo n.º 20/2017, de 27 de março, o que evidencia que esta solução foi equacionada ao nível de estratégia regional para o setor energético.

“Ausência do estudo de alternativas: produção elétrica | Para o GEOTA, referir a construção de novas aproveitamentos

Não excluindo que há sempre lugar a mais aprofundamentos quando se efetuam estudos, estes não podem servir de pretexto para

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Parecer de Final do Procedimento de AIA “Aproveitamento hidroelétrico da Ribeira Grande, Flores” 79

hidroelétricos como uma solução isolada, descrimina a existência de outras soluções, com padrões tecnológicos alternativos e financeiramente rentáveis, que permitem assegurar os mesmo objetivos em termos energéticos. Neste âmbito, destaca-se a necessidade de análise de produção recorrendo a fontes endógenas alternativas, como o caso da energia solar. Paralelamente, a construção de novas infraestruturas, sobretudo quando apresentam impactes irreversíveis em áreas protegidas, deve ser precedida, ou pelo menos acompanhada, de uma análise da eficiência energética nos diversos sectores (habitação, serviços, indústria) do território. Note-se que os meses de maior dependência de

combustíveis fósseis são também os mais secos

do ano (abril a setembro), logo, aqueles em que a

produção de energia hídrica será previsivelmente

mais baixa. De facto, tal já se verifica no

Aproveitamento Hidroelétrico de Além Fazenda,

nas Flores. As soluções de produção elétrica

devem assim optar por soluções que colmatem

esses períodos, e não por infraestruturas que não

os solucionem. Devem ser diversificadas as

formas de produção, assegurando uma maior

protelar continuamente o momento da decisão sobre soluções que, entretanto, tenham surgido e o presente projeto apoia-se num histórico que leva a que o procedimento respeite as exigências do regime de AIA e permita uma decisão. Este procedimento de AIA em concreto foi antecedido de um processo público para a emissão do Título de Utilização dos Recursos Hídricos (TURH) que necessita de estudos do regime hidrológico, pelo que o proponente teve de apreciar a relação entre os meses mais secos e os consumos e inclusive é a entidade que explora todo o sistema pelo que evidenciou no seu histórico estudos que demonstram ter estudado a situação para os meses mais secos e de maiores consumos, tal como se evidencia no EIA quando perspetiva o contributo das diferentes fontes ao longo de vários meses de exploração da central em apreciação.

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resiliência do sistema de produção e distribuição

de eletricidade.”

“Afetação da qualidade das massas de água superficiais | O EIA refere que o Estado Ecológico da ribeira da Badanela é “Bom” e o da Ribeira Grande “Razoável”, enquanto que o Estado Químico é “Bom” em todas as ribeiras. A construção das infraestruturas previstas no AHRG irá afetar este estado, já que novos reservatórios de armazenamento de água criarão massas de água lêntica. De facto, é admitido que, na Ribeira Grande, a

redução significativa do caudal poderá causar

alguns problemas ao nível da qualidade das águas

superficiais e subterrâneas, com previsível

redução da capacidade de depuração destes

sistemas. Este impacte é tido como negativo, mas

pouco significativo, o que contraria as metas

traçadas pela Diretiva Quadro da Água, que exige

a não deterioração do estado das massas de água.

De facto, a poluição difusa proveniente da

indústria agropecuária poderá afetar bastante a

sua qualidade, pelo que devem ser tidas

devidamente em conta.”

Na primeira linha de preocupações da DRA está o cumprimento dos objetivos ambientais da Diretiva Quadro da Água e Lei da Água, as quais exigem a recuperação da qualidade das massas de água e a manutenção das condições de referência. Contudo, também é verdade que a DRA se confronta com desafio de compatibilizar esses objetivos ambientais com a procura dos recursos hídricos (ribeiras) para fins hidroelétricos que contribuam para a estratégia de desenvolvimento de produção de energia baseada no uso de recursos endógenos renováveis na Região. No caso da massa de água (MA) do tipo ribeira “Ribeira Grande”, ilha das Flores, o seu estado foi, desde o início da sua monitorização, classificado como “Razoável” decorrente dos resultados obtidos em 4 locais de amostragem. As cargas brutas aferidas de origem pecuária apresentam preponderância sobre qualquer outro dos setores analisados e revelam-se como uma pressão potencialmente significativa em face da capacidade de autodepuração do meio. Contudo, embora se identifique a existência de carga pecuária na MA, pericialmente não se

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julga ser capaz de justificar o atual estado, em particular no ponto intermédio (a montante da Estrada Regional), uma vez que, quer os 2 pontos de monitorização em maior altitude, quer o ponto na zona de foz apresentam bons resultados. O marcado regime torrencial desta ribeira poderá estar na origem da situação encontrada na zona intermédia, cujos resultados de monitorização têm sido responsáveis pela classificação “Razoável”. De acordo com o Plano de Gestão de Região Hidrográfica dos Açores 2016-2021 (PGRH-Açores 2016-2021), a MA em causa apresenta estado inferior a Bom (mais propriamente estado Razoável) no ano de referência (2012), tendo-se previsto que conseguiria atingir o Bom estado em 2015 e mantê-lo até 2027. De acordo com o nº 4 do artigo 51º da Lei da Água é admissível o incumprimento dos objetivos ambientais, desde que se observem os requisitos do nº 5 do artº 51º e do artº52º, quando: a) O facto de não se restabelecer o bom estado ecológico ou de não se conseguir evitar a deterioração do estado de uma massa de água resultar de alterações recentes das características físicas de uma massa de água superficial; b) O facto de não se evitar a deterioração do estado de uma massa de água de classificação

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“Excelente” para “Bom” resultar de novas atividades humanas de desenvolvimento sustentável. A sujeição ao regime de avaliação de impacte ambiental do projeto de execução do aproveitamento hidroelétrico, a implantar no último terço da MA “Ribeira Grande”, ilha das Flores, visa precisamente garantir a adequação ambiental de todo o processo energético, reduzindo os impactes ambientais à escala local e regional através das medidas de minimização propostas, as quais serão ajustadas em função dos resultados do programa de monitorização (qualitativa e quantitativa) definido para verificar o real impacte ambiental resultante das fases de construção e exploração do aproveitamento.

“Impactes no sector turístico | O projeto prevê estabelecer as suas instalações nas proximidades do Poço Ribeira do Ferreiro, o local mais icónico e imagem de marca da ilha das Flores. A importância ecológica atribuída aos ecossistemas afetados e o valor paisagístico deste local, implicam que o AHRG tenha impactes concretos, e não estudados, num dos principais sectores.”

As infraestruturas do projeto não são visíveis aquando da observação da paisagem, exceto quando muito próximo destas, pois a conduta será em quase toda a sua extensão enterrada, duas das captações serão em tirolesa e uma outra aproveita em profundidade a estrutura artificial associada ao aqueduto sob a estrada regional do segundo afluente. Apenas a captação da Ribeira do Ferreiro terá um açude com uma pequena lagoa, sendo este uma entidade

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coerente com uma paisagem verde rica em cascatas e lagoas.

“Envolvimento de stakeholders no processo de consulta | O período de consulta pública (20 dias úteis, de 29 de novembro a 29 de dezembro de 2017) foi demasiado reduzido e não houve apresentação e discussão presencial em sessões públicas. Pese embora o Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010/A, de 15 de novembro, que estabelece o regime jurídico da avaliação do impacte e do licenciamento ambiental, indique que a duração desta fase seja de 30 dias, o período atribuído poderia ter sido superior, sobretudo quando se trata de uma época festiva e de um mês com vários feriados.” “Note-se que as lacunas de informação e análise

acima descritas, assim como o fraco esforço de

envolvimento das populações na consulta

pública, indiciam que pode não estar a ser dado

cumprimento ao artigo 29.º do Decreto

Legislativo Regional n.º 30/2010/A”

Sobre este aspeto este aspeto este técnico tem de esclarecer que o prazo previsto para Consulta Pública de um projeto enquadrado no Anexo II está definido na alínea b) do número 2 do artigo 106.º do Decreto Legislativo Regional n.º 30/2010/A de 15 novembro, pelo que afirmação do GEOTA referente ao prazo não está correta e compete à Autoridade Ambiental a modalidade de concretização da consulta nos termos do n.º 4 do mesmo artigo e diploma. Além disso, quando do procedimento de apreciação do pedido utilização dos recursos hídricos com o fim de captar água da para o aproveitamento hidroelétrico da ribeira “Ribeira Grande”, freguesia de Fajãzinha, concelho de Lajes, ilha das Flores, para a produção de energia hidroelétrica através da implantação de infraestruturas hidráulicas, apresentado pela empresa EDA Renováveis, S.A, que antecedeu o presente procedimento de AIA, foi publicado um Edital no Jornal Oficial da Região de 17 de abril de 2017, onde se publicitava o interesse do proponente em implementar o uso associado a este empreendimento que estava descrito na

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referida publicação e onde se convidavam todos os interessados a apresentarem por escrito as suas objeções à atribuição da mencionada utilização, durante o prazo de trinta dias úteis. Não tendo havido qualquer objeção pelo que não se previa qualquer conflitualidade no procedimento de AIA que a seguir decorreu, contudo é possível concluir que o projeto este disponível para consulta em dois períodos totalizando 50 dias úteis do ano de 2017.

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“Em suma, tendo em conta as lacunas do estudo em áreas consideradas de grande importância e a possível violação de legislação comunitária, como as Diretivas Habitats e Diretiva Quadro da Água, o GEOTA considera que a Declaração de Impacte Ambiental, a ser emitida até 22 de fevereiro de 2018, do projeto Aproveitamento Hidroelétrico da Ribeira Grande, deve ser alvo de um Parecer Desfavorável.”

Observações da DRA nos pontos anteriores.