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Vidas SecasGraciliano Ramos

Prof. Cadu SiqueiraColégio Magno

2017

Diálogos Literários

- Regionalismo ou “Romance do Nordeste”;

- herança de 1922: liberdade no uso da linguagem em virtude dos experimentalismos da Semana de Arte Moderna (coloquialismo, fragmentarismo, simultaneidade, ironia, paródia); interesse por temas nacionais; olhar sobre o cotidiano;

- contexto sócio-histórico atribulado: crise da Bolsa de Nova Iorque (1929); crise cafeeira; Revolução de 30 e Estado Novo (1937-45).

Prosa de 30

- Surgem no Nordeste autores preocupados em denunciar as mazelas provocadas pela seca, pelo descaso político àquela região, pela opressão empreendida por grandes latifundiários;

- retomada de uma representação naturalista, da “captação direta dos fatos”;

- “realismo crítico” X “realismo cientificista do século XIX”.

Prosa de 30

- Principais nomes: Rachel de Queiroz (O Quinze), José Lins do Rego (Fogo morto), Jorge Amado (Terras do Sem-Fim), José Américo de Almeida (A bagaceira) e Graciliano Ramos.

Prosa de 30

Graciliano Ramos - biografia

- Nasce a 27 de outubro de 1892, em Quebrangulo, Alagoas, primogênito de um casal que teve quinze filhos;

- não cursou faculdade;

- trabalhou como comerciante, jornalista e exerceu cargos políticos;

- foi prefeito de Palmeira dos Índios (AL) entre 1928 e 1930;


- foi preso em 1936 como subversivo, sendo liberado após 11 meses encarcerado;

- filia-se ao Partido Comunista Brasileiro em 1945;

- morre de câncer no pulmão em 20 de março de 1953, no Rio de Janeiro;


- criador de uma obra marcadamente pessoal, de forte cunho autobiográfico;

- homem discreto, preocupado com as mazelas sociais do nordeste;

- constrói, em sua obra, estreitas relações entre a observação da realidade e a vivência de seu mundo interior.


Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948.


Autorretrato do autor

Nasceu em 1892, em Quebrangulo, Alagoas.Casado duas vezes, tem sete filhos.Altura 1,75.Sapato n.º 41.Colarinho n.º 39.Prefere não andar.Não gosta de vizinhos.Detesta rádio, telefone e campainhas.Tem horror às pessoas que falam alto.Usa óculos. Meio calvo.Não tem preferência por nenhuma comida.Não gosta de frutas nem de doces.Indiferente à música.


Sua leitura predileta: a Bíblia.Escreveu Caetés com 34 anos de idade.Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados.Gosta de beber aguardente.É ateu. Indiferente à Academia.Odeia a burguesia. Adora crianças.Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.Gosta de palavrões escritos e falados.Deseja a morte do capitalismo.Escreveu seus livros pela manhã.Fuma cigarros Selma (três maços por dia).É inspetor de ensino, trabalha no "Correio do Manhã".


Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo.Só tem cinco ternos de roupa, estragados.Refaz seus romances várias vezes.Esteve preso duas vezes.É-Ihe indiferente estar preso ou solto.Escreve à mão.Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio.Tem poucas dívidas.Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas.Espera morrer com 57 anos.


Principais obras:

- Caetés (1933) – romance;

- São Bernardo (1934) – romance;

- Angústia (1936) – romance;

- Vidas secas (1938) – romance;

- Infância (1945) - memórias;

- Memórias do cárcere (1953) – memórias.

Escrevi um conto sobre a morte de uma cachorra, um troço difícil, como você vê: procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. (...) No fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. É a quarta história feita aqui na pensão. Nenhuma delas tem movimento, há indivíduos parados. Tento saber o que eles têm por dentro. Quando se trata de bípedes, nem por isso, embora certos bípedes sejam ocos; mas estudar o interior duma cachorra é realmente uma dificuldade quase tão grande quanto sondar o espírito dum literato alagoano. Referindo-me a animais de dois pés, jogo com as mãos deles, com os ouvidos, com os olhos. Agora é diferente.Carta de 7 de maio de 1937, de Graciliano a sua esposa, Heloísa.

Vidas Secas: um romance fragmentado

Família de retirantes nordestinos, formada por Fabiano, Sinha Vitória, o menino mais novo, o menino mais velho e a cachorra Baleia, perambulam pelo Sertão, fugindo da seca. Encontram uma fazenda abandonada e ali se instalam durante um período de “inverno”. Ao longo dos meses, Fabiano e sua família tentam se adaptar àquele local, escapando de conflitos com o latifundiário e o soldado amarelo e tendo de se livrar de Baleia, que contraíra grave doença. Findo o período das chuvas, as personagens são obrigadas a partir novamente, retomando seu destino de retirantes.

Vidas Secas Enredo

- Teor universalizante da obra: denúncia social + abordagem psicológica;

- importam menos o enredo, as ações, do que a realidade interior das

personagens;

- narrativa fragmentada, alinear, contruída por blocos de significados;

- cada capítulo é concebido como um conto – “flashes” da vida de cada

personagem;


- adoção de diversos pontos de vista dentro da mesma narrativa;

- narrativa elítpica materializa o ciclo da seca nordestina;

- material autobiográfico X objetividade da narrativa.


- Denúncia da miséria vivida pelo retirante do Sertão;

- críticas às estruturas sociais do Nordeste: terras nas mãos de poucos latifundiários, que exploram os mais fracos; governo opressivo; grande parcela de sertanejos que vive em condições subumanas;

- carência material e existencial do retirante;

- embrutecimento do sertanejo.

Vidas Secas

- Vidas secas é o único romance de Graciliano Ramos narrado em terceira pessoa;

- narrador onisciente: tentativa de atribuir maior objetividade ao ato de contar a história;

- “onisciência seletiva múltipla”: a voz do narrador se perde entre as vozes das personagens; presença frequente do discurso indireto livre.

Vidas Secas Foco narrativo

Discurso direto: reprodução da fala da personagem; presença de sinais gráficos (travessão, aspas) e verbos dicendi (ou declarativos).

Exemplos:

“- Desafasta, ordenou o polícia. Aqui tem gente.”

“- Espera aí, paisano, gritou o amarelo.”


Discurso indireto: o narrador parafraseia, reproduz a fala da personagem; ausência de sinais gráficos; presença de verbo dicendi.

Exemplos:

O polícia ordenou às pessoas que desafastassem, que ali tinha gente.

O amarelo gritou ao paisano que esperasse.


Discurso indireto livre: a voz do narrador e a voz da personagem se “misturam”; emprego de tempos verbais em que a 1a e a 3a pessoas são idênticas; ausência de sinais gráficos; ausência de verbos dicendi.

Exemplos:“Pensou na família, sentiu fome. Caminhando, movia-se como

uma coisa, para bem dizer não se diferenciava muito da bolandeira de seu Tomás. Agora, deitado, apertava a barriga e batia os dentes. Que fim teria levado a bolandeira de seu Tomás?”

“Mudança”


“Indispensável os meninos entrarem no bom caminho, saberem cortar mandacaru para o gado, consertar cercas, amansar brabos. Precisavam ser duros, virar tatus. Se não calejassem, teriam o fim de seu Tomás da bolandeira. Coitado. Para que lhe servira tanto livro, tanto jornal? Morrera por causa do estômago doente e das pernas fracas.

Um dia... Sim, quando as secas desaparecessem e tudo andasse direito... Seria que as secas iriam desaparecer e tudo andar certo? Não sabia. (...) Alcançou o pátio, enxergou a casa baixa e escura de telhas pretas, deixou atrás os juazeiros, as pedras onde se jogavam cobras mortas, o carro de bois.”

“Fabiano”


“O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.

Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à-toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), acreditava na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra.”

“Contas”


- Sertão nordestino;

- importância da relação entre o homem e a Natureza;

Vidas Secas Espaço

Fabiano meteu-se na vereda que ia desembocar na lagoa seca, torrada, coberta de catingueiras e capões de mato. Ia pesado, o aió cheio a tiracolo, muitos látegos e chocalhos pendurados num braço. O facão batia nos tocos.Espiava o chão como de costume, decifrando rastos. Conheceu os da égua ruça e da cria, marcas de cascos grandes e pequenos. A égua ruça, com certeza. (...)Fabiano ia desprecatado, observando esses sinais e outros que se cruzavam, de viventes menores. Corcunda, parecia farejar o solo – e a catinga deserta animava-se, os bichos que ali tinham passado voltavam, apareciam-lhe diante dos olhos miúdos.

“O Soldado Amarelo”

Vidas Secas Espaço

- Ausência de marcação temporal;

- cronologia X alinearidade;

- tempo psicológico: acesso ao mundo interior das personagens;

- o capítulo “O Soldado Amarelo” é um exemplo de elaboração do tempo psicológico: uma cena que ocorre em poucos segundos ocupa várias páginas do livro, com as reflexões da personagem Fabiano ao se deparar com o Soldado Amarelo e com a possibilidade de vingar-se.

Vidas Secas Tempo

- Linguagem concisa, árida, precisa;

- presença de palavras e expressões empregadas pelo sertanejo;

- a incomunicabilidade, a incapacidade de se dominar a linguagem pode ser considerado o grande obstáculo a ser vencido pelas personagens;

- marginalidade linguística: chave do romance.

Vidas Secas Linguagem

Sinha Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com

alguns sons guturais que estavam perto.“Mudança”

Resolvera de supetão aproveitá-lo [o papagaio] como alimento e justificara-se

declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava

pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente

soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente,

e latia arremedando a cachorra.“Mudança”

Vidas Secas Linguagem

- Personagem central da narrativa;

- ser ignorante, embrutecido pela seca;

- julga-se um bicho: nas condições em que vive, tem consciência de que deve se animalizar;

Vidas Secas Personagens: Fabiano

A cabeça inclinada, o espinhaço curvo, agitava os braços para a direita e para a esquerda. Esses movimentos eram inúteis, mas o vaqueiro, o pai do vaqueiro, o avô e outros antepassados mais antigos haviam-se acostumado a percorrer veredas, afastando o mato com as mãos. E os filhos já começavam a reproduzir o gesto hereditário.

“Fabiano”

Vidas Secas Fabiano

- não é exatamente um ser alienado, mas é incapaz de verbalizar seus próprios sentimentos;

- irrita-se com a curiosidade dos filhos: sabe que o sertanejo deve viver na ignorância, pois a postura reflexiva implica sofrimento;


Lembrou-se de seu Tomás da bolandeira. Dos homens do sertão o mais arrasado era seu Tomás da bolandeira. Por quê? Só se era porque lia demais. Ele, Fabiano, muitas vezes dissera: - “Seu Tomás, vossemecê não regula. Para que tanto papel? Quando a desgraça chegar, seu Tomás se estrepa, igualzinho aos outros.” Pois viera a seca, e o pobre do velho, tão bom e tão lido, perdera tudo, andava por aí, mole.

“Fabiano”

Vidas Secas Fabiano

- oprimido, submete-se sempre à vontade alheia;

- Fabiano revela consciência sobre a sua condição: não se revolta porque tem responsabilidade sobre os filhos. Assim como os outros membros da família, sofre exteriormente a miséria da carne e interiormente a angústia provocada pela desesperança, pelo perigo iminente da seca e da morte.


Comparando-se aos tipos da cidade, Fabiano reconhecia-se inferior. Por isso desconfiava que os outros mangavam dele. Fazia-se carrancudo e evitava conversas. Só lhe falavam com o fim de tirar-lhe qualquer coisa. Os negociantes furtavam na medida, no preço e na conta. O patrão realizava com pena e tinta cálculos incompreensíveis. (...) Todos lhe davam prejuízo.

“Festa”

Vidas Secas Fabiano

- Embora embrutecida pela seca, a personagem ainda preserva sua feminilidade;

- ao entrarmos em contato com seu mundo interior, transitamos entre o medo da seca e suas fantasias;

- cama de lastro de couro: metáfora para o encontro de um local seguro e definitivo;

Vidas Secas Personagens: Sinha Vitória

Sentou-se na janela baixa da cozinha, desgostosa. Venderia as galinhas e a

marrã, deixaria de comprar querosene. Inútil consultar Fabiano, que sempre se

entusiasmava, arrumava projetos. Esfriava logo – e ela franzia a testa, espantada,

certa de que o marido se satisfazia com a idéia de possuir uma cama. Sinha Vitória

desejava uma cama real, de couro e sucupira, igual à de seu Tomás da

bolandeira.“Sinha Vitória”

Vidas Secas Sinha Vitória

- o capítulo “Sinha Vitória” apresenta a maneira como a personagem reflete: pensa por associações; a comparação com o papagaio lhe faz lembrar da seca;

- consegue, em oposição a Fabiano, manter um pensamento abstrato e é a única capaz de fazer contas na família.

Vidas Secas Personagens: Sinha Vitória

- Personagem marcante na narrativa;

- humanização membro da família;

- é responsável por intensificar a proximidade entre os seres humanos e os animais no sertão;

Vidas Secas Personagens: Baleia

Sentindo a deslocação do ar e a crepitação do gravetos, Baleia despertou, retirou-se prudentemente, receosa de sapecar o pêlo, e ficou observando maravilhada as estrelinhas vermelhas que se apagavam antes de tocar o chão. Aprovou com um movimento de cauda aquele fenômeno e desejou expressar a sua admiração à dona. Chegou-se a ela em saltos curtos, ofegando, ergueu-se nas pernas traseiras, imitando gente. Mas sinha Vitória não queria saber de elogios.- Arreda!Deu um pontapé na cachorra, que se afastou humilhada e com sentimentos revolucionários.“Sinha Vitória”

Vidas Secas Baleia

A cachorra Baleia acompanhou-o naquela hora difícil. (...) Admitia a existência de um osso graúdo na panela, e ninguém lhe tirava esta certeza, nenhuma inquietação lhe perturbava os desejos moderados. Às vezes recebia pontapés sem motivo. Os pontapés estavam previstos e não dissipavam a imagem do osso.“O menino mais velho”

Vidas Secas Baleia

- no capítulo “Baleia”, Fabiano é obrigado a sacrificar o animal, acometido por uma doença;

- todos choram a morte de Baleia como se perdessem um membro da família;

- observar como o narrador emprega a “voz” de Baleia em seu discurso para revelar a consciência do animal no momento de sua morte.

Vidas Secas Personagens: Baleia

Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. “Baleia”

Vidas Secas Baleia

- Nenhum dos filhos do casal possui nome;

- sua curiosidade leva à irritação de seus pais e o torna vítima de agressões;

- o menino mais velho quer saber o que é o inferno, mas não se contenta com a explicação de sinha Vitória, que afirma ser um lugar ruim com espetos e fogueira. Ele não consegue abstrair a existência de um mundo “ruim”: primeiro, porque não domina a linguagem; segundo, porque não poderia haver um mundo pior do que o da seca.

Vidas Secas Personagens: Menino mais velho

A culpada era sinha Terta, que na véspera, depois de curar com reza a espinhela de

Fabiano, soltara uma palavra esquisita, chiando, o canudo do cachimbo preso nas

gengivas banguelas. Ele tinha querido que a palavra virasse coisa e ficara desapontado quando a mãe se referira a um lugar ruim,

com espetos e fogueiras. Por isso rezingara, esperando que ela fizesse o inferno

transformar-se.“O menino mais velho”

Vidas Secas Menino mais velho

- O menino mais novo possui dois sonhos: montar a cabra para se tornar um vaqueiro como o pai e possuir um periquito.

Retirou-se. A humilhação atenuou-se pouco a pouco e morreu. Precisava entrar em casa, jantar, dormir. E precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar cabras a mão de pilão, trazer uma faca de ponta à cintura. Ia crescer, espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru.

“O menino mais novo”

Vidas Secas Personagens: Menino mais novo

1.O mulungu do bebedouro cobria-se dearribações. Mau sinal, provavelmente o sertãoia pegar fogo. Vinham em bandos,arranchavam-se nas árvores da beira do rio,descansavam, bebiam e, como em redor nãohavia comida, seguiam viagem para o sul. Ocasal agoniado sonhava desgraças. O solchupava os poços, e aquelas excomungadaslevavam o resto da água, queriam matar ogado.Sinha Vitória falou assim, mas Fabianoresmungou, franziu a testa, achando a fraseextravagante. Aves matarem bois e cabras, quelembrança!(“O mundo coberto de penas”)

Vidas Secas - QUIZ

( ) Crítica às estruturas sociais.

( ) Embrutecimento, animalização do sertanejo.

( ) Relação entre o ser humano e a natureza circundante.

( ) Marginalidade linguística.

( ) Abordagem psicológica.

( ) Discurso indireto livre.

1.O mulungu do bebedouro cobria-se dearribações. Mau sinal, provavelmente o sertãoia pegar fogo. Vinham em bandos,arranchavam-se nas árvores da beira do rio,descansavam, bebiam e, como em redor nãohavia comida, seguiam viagem para o sul. Ocasal agoniado sonhava desgraças. O solchupava os poços, e aquelas excomungadaslevavam o resto da água, queriam matar ogado.Sinha Vitória falou assim, mas Fabianoresmungou, franziu a testa, achando a fraseextravagante. Aves matarem bois e cabras, quelembrança!(“O mundo coberto de penas”)

Vidas Secas - QUIZ



( X ) Relação entre o ser humano e a natureza circundante.

( X ) Marginalidade linguística.


( X ) Discurso indireto livre.

2.E andavam para o sul, metidos naquele sonho.Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes.Os meninos em escolas, aprendendo coisasdifíceis e desnecessárias. Eles, dois velhinhos,acabando-se como uns cachorros, inúteis,acabando-se como Baleia. Que iriam fazer?Retardaram-se, temerosos. Chegariam a umaterra desconhecida e civilizada, ficariam presosnela. E o sertão continuaria a mandar gentepara lá. O sertão mandaria para a cidadehomens fortes, brutos, como Fabiano, sinhaVitória e os dois meninos.(“Fuga”)

Vidas Secas - QUIZ







2.E andavam para o sul, metidos naquele sonho.Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes.Os meninos em escolas, aprendendo coisasdifíceis e desnecessárias. Eles, dois velhinhos,acabando-se como uns cachorros, inúteis,acabando-se como Baleia. Que iriam fazer?Retardaram-se, temerosos. Chegariam a umaterra desconhecida e civilizada, ficariam presosnela. E o sertão continuaria a mandar gentepara lá. O sertão mandaria para a cidadehomens fortes, brutos, como Fabiano, sinhaVitória e os dois meninos.(“Fuga”)

Vidas Secas - QUIZ

( X ) Crítica às estruturas sociais.

( X ) Embrutecimento, animalização do sertanejo.





3.Fabiano condenara os sapatos de verniz queela usava nas festas, caros, inúteis. Calçadanaquilo, trôpega, mexia-se como um papagaio,era ridícula. Sinha Vitória ofendera-segravemente com a comparação, e se não fosseo respeito que Fabiano lhe inspirava, teriadespropositado. Efetivamente os sapatosapertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos.Equilibrava-se mal, tropeçava, manquejava,trepada nos saltos de meio palmo. Devia serridícula, mas a opinião de Fabiano entristecera-a muito.(“Sinha Vitória”)

Vidas Secas - QUIZ







3.Fabiano condenara os sapatos de verniz queela usava nas festas, caros, inúteis. Calçadanaquilo, trôpega, mexia-se como um papagaio,era ridícula. Sinha Vitória ofendera-segravemente com a comparação, e se não fosseo respeito que Fabiano lhe inspirava, teriadespropositado. Efetivamente os sapatosapertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos.Equilibrava-se mal, tropeçava, manquejava,trepada nos saltos de meio palmo. Devia serridícula, mas a opinião de Fabiano entristecera-a muito.(“Sinha Vitória”)

Vidas Secas - QUIZ





( X ) Abordagem psicológica.


4.Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-see bateu familiarmente no ombro de Fabiano:- Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro?Fabiano atentou na farda com respeito egaguejou, procurando as palavras de seuTomás da bolandeira:- Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim,contanto etc. É conforme.Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, queera autoridade e mandava. Fabiano semprehavia obedecido. Tinha muque e substância,mas pensava pouco, desejava pouco eobedecia.(“Cadeia”)

Vidas Secas - QUIZ







5.- Fabiano, você é um homem, exclamou em vozalta.Conteve-se, notou que os meninos estavamperto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falarsó. E, pensando bem, ele não era homem: eraapenas um cabra ocupado em guardar coisasdos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhosazuis, a barba e os cabelos ruivos; mas comovivia em terra alheia, cuidava de animais alheios,descobria-se, encolhia-se na presença dosbrancos e julgava-se cabra.Olhou em torno, com receio de que, fora osmeninos, alguém tivesse percebido a fraseimprudente. Corrigiu-a, murmurando:- Você é um bicho, Fabiano.Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor,um bicho, capaz de vencer dificuldades.(“Fabiano”)

Vidas Secas - QUIZ







6.As brasas estalaram, a cinza caiu, um círculo deluz espalhou-se em redor da trempe de pedra,clareando vagamente os pés do vaqueiro, osjoelhos da mulher e os meninos deitados. (...)Quando iam pegando no sono, arrepiavam-se,tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempee ouviam a conversa dos pais. Não erapropriamente conversa: eram frases soltas,espaçadas, com repetições e incongruências. Àsvezes uma interjeição gutural dava energia aodiscurso ambíguo. Na verdade nenhum delesprestava atenção às palavras do outro: iamexibindo as imagens que lhes vinham ao espírito, eas imagens sucediam-se, deformavam-se, nãohavia meio de dominá-las. Como os recursos deexpressão eram minguados, tentavam remediar adeficiência falando alto.(”Inverno”)

Vidas Secas - QUIZ







6.As brasas estalaram, a cinza caiu, um círculo deluz espalhou-se em redor da trempe de pedra,clareando vagamente os pés do vaqueiro, osjoelhos da mulher e os meninos deitados. (...)Quando iam pegando no sono, arrepiavam-se,tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempee ouviam a conversa dos pais. Não erapropriamente conversa: eram frases soltas,espaçadas, com repetições e incongruências. Àsvezes uma interjeição gutural dava energia aodiscurso ambíguo. Na verdade nenhum delesprestava atenção às palavras do outro: iamexibindo as imagens que lhes vinham ao espírito, eas imagens sucediam-se, deformavam-se, nãohavia meio de dominá-las. Como os recursos deexpressão eram minguados, tentavam remediar adeficiência falando alto.(”Inverno”)

Vidas Secas - QUIZ



( X ) Relação entre o ser humano e a natureza circundante.




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