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APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016 Luanda, 21 de Junho de 2017

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APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO ECONÓMICO DE

ANGOLA 2016

Luanda, 21 de Junho de 2017

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Alves da Rocha - Coordenador

Regina Santos

Carlos Vaz

Francisco Paulo

Precioso Domingos

Fernando Pacheco

Ana Duarte (Instituto Superior Politécnico Lusíada de Benguela)

Vissolela Gomes Chivunda

Com a colaboração do Christian Michelsen Institute:

- Aslak Orre

- Odd-Helge Fjeldstad

- Jan Isaksen

A EQUIPA

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O CONTEÚDO

INTRODUÇÃO

1. A economia mundial e o enquadramento externo da economia angolana

2. Política orçamental

2.1 Os efeitos económicos da política orçamental

2.2 Conteúdo do OGE 2016 e a sua execução. A influência do ciclo negativo

do preço do petróleo

2.3 Some more considerations on tax reform in Angola

3. O sector monetário

3.1 Introdução

3.2 Objectivos da política monetária, condições para a sua eficácia e canais

da sua transmissão

3.3 A dimensão económica do sector financeiro nacional

3.4 As relações entre a política monetária e a política orçamental e a necessidade da sua

consideração para a sua definição concreta

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O CONTEÚDO

4. Nível geral da actividade económica

4.1 Enquadramento geral

4.2 Produto Interno Bruto: uma análise geral

4.3 Análise sectorial do Produto Interno Bruto

4.3.1 Agricultura, pecuária e florestas

4.3.1.1 Comportamento da produção

4.3.1.2 As políticas agrárias

4.3.2 Indústria transformadora

4.3.2.1 Comportamento da produção

4.3.2.2 As políticas industriais

4.3.3 Construção e obras públicas

4.3.4 Transportes

4.3.4.1 Considerações gerais

4.3.4.2 A prestação de serviços de transporte

4.3.4.3 As políticas de transportes

4.4 O sector externo

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O CONTEÚDO

5. Análise da competitividade da economia angolana

5.1 A libertação dos mercados e as reformas administrativas como impulsionadoras do

crescimento económico

5.2 A competitividade de Angola na CEEAC e na África Subsariana

6. Pobreza, desigualdade e desenvolvimento humano

6.1 Introdução

6.2 A pobreza em Angola

6.3 Desigualdade de rendimentos e de riqueza e o Índice de Desenvolvimento Humano

7. Emprego e produtividade

7.1 Introdução

7.2 Salários e desemprego

7.3 Estimativas do desemprego e do valor da produtividade

7.4 Políticas públicas de emprego e formação profissional

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O CONTEÚDO

8. Perspectivas de crescimento

8.1 Introdução

8.2 A economia mundial e dos principais parceiros económicos de Angola

8.3 A economia angolana

8.3.1 Aspectos gerais

8.3.2 Os factores de risco

8.3.3 Os quadros de referência do Governo

8.3.4 As previsões

9. A posição de Angola em diversos índices internacionais

10. Recapitulação dos principais acontecimentos económicos de 2016

11. Monografia da situação económica da província do Moxico

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DESTAQUES

1. PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

2. INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

3. EMPREGO

4. PRODUTIVIDADE

5. DESIGUALDADES SOCIAIS

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

No nosso país, as informações estatísticas disponíveis (INE, Contas Nacionais

2002-2015) apontam para uma variação de mais de 1355,3% no Produto Interno

Bruto por habitante entre 2002 e 2016 a preços correntes (cerca de 21% ao ano, ou

seja, a possibilidade de ser duplicado em 3,5 anos). Em 2016, o Produto Interno Bruto

por habitante foi de 517000 Kwanzas (cerca de USD 3500 dólares americanos a

preços correntes e nacionais, sem a correcção da paridade do poder de compra, nem

a preços internacionais constantes).

Quanto à estrutura económica tem, no essencial, permanecido inalterada, no

mesmo período de tempo. O quadro seguinte esclarece a tendência das alterações

estruturais no nosso país.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

PRODUTO INTERNO BRUTO POR SECTORES DE ACTIVIDADE EM MILHÕES DE USDSectores de actividade 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2015 2016Agricult.Pecuá.Florestas 649 1.080 1.894 2.996 3.839 4.556 6.122 5.403 4.810Pescas 290 389 834 1.335 1.167 1.211 1.607 1.632 2.886Petróleo e Gás 7.093 9.739 23.766 43.924 35.977 53.278 46.046 30.498 34.632Diamantes e outros 407 575 850 866 778 727 1.241 2.550 1.924Indústria transformadora 589 1.099 1.899 3.120 3.343 4.695 5.691 8.772 5.772Electricidade 62 132 430 495 695 1.338 1.123 1.122 962Construção 870 1.283 3.603 5.913 7.273 10.693 14.458 11.016 9.620Comércio 1.704 2.882 4.925 7.928 7.215 5.802 7.160 5.924 12.506Transportes/armazena 292 434 918 2.112 1.754 2.226 2.669 2.208 1.924Correios/telecomunica 161 191 745 1.423 1.713 4.037 5.036 4.167 1.924Bancos e Seguros 294 410 729 1.538 1.489 1.315 1.630 1.349 1.924Estado 1.428 2.268 4.527 8.502 8.862 13.761 24.130 17.819 6.734Serviços imobiliários 940 1.474 2.219 3.332 3.575 5.191 7.091 5.867 4.810Outros serviços 1.281 1.811 5.476 6.125 6.355 7.936 5.342 4.419 5.772Ajustamentos -104 -186 -362 -1.228 -1.291 -1.453 1.423 0 0PIB 15.956 23.581 52.452 88.378 82.744 115.345 129.342 102.000 96.200

A panorâmica geral do crescimento económico do país está retratada na

tabela seguinte, com todos os pormenores sectoriais exigidos para a análise e a

pesquisa.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

TAXAS DE CRESCIMENTO POR SECTORES DE ACTIVIDADE SEGUNDO AS CONTAS NACIONAIS (%)

Sectores de actividade 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015MÉDIA 03/15 2016

MÉDIA 03/16

Agricult.Pecuá.Florestas 8,4 9,6 4,4 13,4 5,4 6,1 4,8 11,8 6,9 6,0 4,8 23,7 8,0 8,7 0,0 8,1Pescas 7,2 7,8 5,1 24,3 5,9 1,6 6,2 1,2 15,0 9,7 2,4 21,8 14,2 9,4 8,7 9,4Petróleo e Gás -3,8 13,9 25,5 13,1 21,8 10,3 -5,0 -2,4 -5,2 8,5 -0,9 -2,5 11,3 6,5 -2,3 5,9Diamantes e outros 19,8 7,5 -16,6 28,6 18,8 -1,8 5,6 -7,2 3,4 -2,1 4,1 0,7 6,5 5,2 0,6 4,8Indústria transformadora 5,4 16,6 6,1 6,6 2,0 5,9 7,0 9,6 9,1 9,6 7,7 2,3 -1,1 6,7 -2,3 6,0Electricidade 12,4 14,2 7,1 33,5 9,5 8,1 23,7 9,8 3,8 10,3 25,3 3,6 10,6 13,2 14,5 13,3Construção 16,3 24,1 12,9 11,7 17,7 8,9 12,8 12,6 8,4 23,9 16,1 4,1 -2,2 12,9 -2,8 11,8Comércio 5,2 7,5 8,6 8,6 5,6 12,9 8,2 8,5 8,8 7,0 5,6 13,3 4,0 8,0 -0,4 7,4

Transportes/armazena 6,2 6,2 10,4 4,1 13,6 17,6 2,3 9,6 11,3 10,6 5,8 12.3 14,2 8,6-

32,0 6,6Correios/telecomunica 0,1 7,9 10,8 8,0 8,5 20,0 3,3 6,6 80,3 5,5 18,0 8,8 8,3 14,3 11,4 14,1Bancos e Seguros 4,7 3,6 -20,9 10,7 9,5 37,9 29,9 2,3 3,3 0,4 -3,4 -11,3 31,6 7,6 9,6 7,7

Estado 7,0 3,0 18,6 14,8 5,0 10,5 3,6 2,8 6,6 3,1 9,4 9,8 -7,0 6,7-

16,2 5,1Serviços imobiliários 6,9 8,5 11,5 11,5 9,6 8,0 9,6 6,0 5,5 20,6 3,0 -3,5 0,4 7,5 2,8 7,2Outros serviços 3,0 2,2 5,0 6,2 4,9 10,4 7,4 10,0 7,4 0,5 10,8 -2,2 -18,9 3,6 -4,9 3,0

ANGOLA 2,4 11,3 14,9 11,7 13,9 11,2 2,1 4,7 3,5 8,5 5,0 4,1 0,9 7,2 -3,6 6,5

Três sectores de actividade rubricaram quebras de crescimento em 2016: petróleo e gás, diamantes e outrasindústrias minerais (excepto petróleo) e a indústria transformadora (em termos acumulados 2015 e 2016regrediu quase 4%).

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

Por grandes períodos de tempo, tal como se mostra no gráfico seguinte, o ano de

2008 é o marco que divide duas épocas: 2002/2008 com 5 anos de crescimento médio

anual do PIB de 10,2% (12,8% para o PIB não petrolífero). Como o CEIC tem vindo a

demonstrar, tais dinâmicas não voltarão a ocorrer até 2021, mesmo que algumas das

reformas estruturais de mercado sejam feitas. É que todas as medidas de política

económica têm um tempo de maturação, desdobrado no lag de reconhecimento, no lag

administrativo e no lag de resposta.

Alves da Rocha, Vera Daves e Albertina Delgado – Finanças Públicas, CEIC, 4ª edição, 2014.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

Claramente duas fases distintas do crescimento económico em Angola depois da paz: um até 2008, com episódios de variação anual do PIB notáveis, tendo o pico sido em 2005, com 15%. Outro máximo ocorreu em 2007 com um valor de 13,9%.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

A política económica, na sua generalidade, foi passiva, aguardando que o preço doprincipal produto de exportação retomasse os níveis de antes de 2008, o que acabou poracontecer em 2011 (USD 111,3), 2012 (111,7) e 2013 (108,8). Não obstante isso, àeconomia angolana começaram a faltar outros fundamentos para que as taxas decrescimento do PIB do período dourado fossem recuperadas. Isto mostra que deixou deser suficiente – embora ainda seja necessário – o preço e a produção de petróleo.

A agricultura e a indústria transformadora continuaram e continuam a ter papéismarginais na estratégia de sustentabilidade do crescimento e de consolidação do valoragregado nacional. Os investimentos públicos em infraestruturas económicas, apesar daenormidade dos seus valores, não têm propiciado condições aceitáveis e estimulantesde rentabilidade aos investimentos privados (um factor importante da sua atractividade,mormente estrangeiros) devido à sua geral baixa qualidade, nem de melhoriaconsiderável das condições de vida da população

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Algum dia as contas da eficiência dos investimentos públicos vão ter de ser

apresentadas, por um lado, como justificação dos impostos pagos pelos contribuintes

(pessoas singulares e colectivas) e, por outro, como modelo para se definirem, duma

forma racional (e transparente), as prioridades do Estado em matéria das suas escolhas

públicas. A percepção geral é a de que os índices de eficiência dos investimentos públicos

são baixos e que as prioridades são definidas mais por influências políticas (geridas e

absorvidas pelo Partido da governação), do que por critérios de racionalidade, que estão

disponíveis na Teoria das Escolhas Públicas.

Maior eficiência e melhor qualidade poderiam e deveriam representar um “trade

off” à excessiva burocracia, pública e privada (especialmente nos bancos), à crueldade

da corrupção, à debilidade do sistema financeiro e às elevadas taxas de juro activas.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

A falta de fundamentos da economia nacional de que se falava anteriormente é

visível na quebra do ritmo de crescimento do sector não petrolífero, como tão bem

ilustra o gráfico

A quebra do ritmo de crescimento do sector não petrolífero é dramática, com

uma diminuição de 8 pontos percentuais na respectiva taxa média anual, de

2002/2008 para 2009/2016.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

Retornando ainda ao gráfico anterior, constata-se que a longa duração – período

1998/2016 – nos fornece informações preciosas sobre a capacidade de crescimento do

país, já que a linha tendencial aí detectada (taxa média anual de 4,2% para o global da

economia e 7,5% para a economia não petrolífera) pode ser tomada como um “proxy” do

produto potencial. Os investimentos públicos realizados – um montante de praticamente

USD 110 mil milhões entre 2002 e 2016 – acabaram por não promover o “take off” (no

sentido de W.W.Rostow) tão desejado e necessário.

Ou seja, com garantias de sustentabilidade e com margens de manobra para os casos da ocorrência de alguns desvios dessarota. A Ciência Económica e a Política Económica dedicam capítulos das suas matérias a estas condições de segurança temporal docrescimento económico.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

A política do Governo tem tomado algumas iniciativas meritórias tendentes a alterar

este quadro de referência desfavorável, mas sem o sucesso esperado e desejado pela

população e pelos empresários. A imagem externa do país é de desconfiança para os

potenciais investidores estrangeiros, os riscos continuam a ser grandes – apesar da

estabilidade política existente –, os ambientes de negócios ainda enfermam de muita

burocracia, corrupção, tráfico de influências e demoras várias na obtenção de

documentos e registos indispensáveis para a montagem de um negócio e a dinâmica de

crescimento diminuiu consideravelmente.

A consequência mais visível de todas estas insuficiências está no ritmo das

transformações estruturais, conforme se pode apreciar através do gráfico seguinte.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

A principal transformação digna de registo e destaque é a da perda

do peso relativo do sector petrolífero no PIB, de 44% em 2002 para 38%

em 2016, mas que não foi acompanhada nem pela agricultura, nem pela

indústria transformadora. Os serviços acabaram por aproveitar o espaço

vagado pelo petróleo e gás, tornando-se hoje no mais importante sector

da economia nacional.

E a diversificação, aonde é que está? Os documentos oficiais não

apresentam indicadores económicos que comprovem que o processo está

em marcha, apesar de, por várias vezes, o Governo ter afirmado que

existem evidência empíricas do seu andamento, exemplificando com a

abertura de novas unidades industriais, agrícolas e de serviços diversos

pelo país fora.

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ESTRUTURA DO PIB NÃO PETROLÍFERO (%)

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Agricult.Pecuá.Florestas 7 7 8 8 7 7 7 8 8

Pescas 3 3 2 2 2 2 2 2 3

Diamantes e outros 2 1 2 2 1 2 1 4 3

Indústria transformadora 7 6 7 7 7 7 7 9 8

Electricidade 1 2 1 1 2 1 1 0 2

Construção 13 13 15 15 17 17 17 12 11

Comércio 17 16 15 13 9 9 9 10 10

Transportes/armazena 5 3 4 3 4 3 3 5 5

Correios/telecomunica 3 5 4 5 6 6 6 6 8

Bancos e Seguros 3 4 3 3 2 2 2 3 5

Estado e serviços n merc 19 21 18 22 22 29 29 26 26

Serviços imobiliários 7 8 7 6 8 8 9 8 8

Outros serviços 13 12 13 12 13 8 6 7 10

TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100 100

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

O Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013-2016 (uma antecipação,

por razões eleitorais, do balanço final do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-

2017) pontualiza o que nesse período foi feito quanto à diversificação da economia,

embora seja completamente omisso quanto a indicadores estatísticos ilustrativos da

situação.

O Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 contém um capítulo dedicado a

este tema, com o título “Promoção e Diversificação da Estrutura Económica do País”,

onde se refere que “O objectivo desta política é promover a competitividade e o

desenvolvimento sustentável dos vários sectores da actividade económica, em linha com

as políticas e prioridades para o desenvolvimento territorial. Para a sua realização,

foram definidos 3 Programas de Acção Fundamentais e 23 medidas de política que

contribuirão para a diversificação e desenvolvimento de actividades económicas

geradoras de rendimento e de emprego, permitindo fixar as populações nas suas zonas

de origem e aproveitar recursos endógenos transformando-os em factores de

competitividade”.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

Reconhece-se a importância destas modificações ao afirmar-se que “A

diversificação da estrutura económica é fundamental para reduzir a

dependência da venda de matérias-primas e para o crescimento económico

sustentado e geração de emprego, desenvolvendo sectores cruciais como os

das telecomunicações, agricultura, indústria transformadora, turismo e outros

serviços. As crises financeira e económica mundiais revelaram que a

dependência da economia, sobretudo da produção de petróleo, torna o País

vulnerável às flutuações dos preços dos produtos de base”.

Igualmente é destacado o papel do sector privado, afirmando-se que “o

sector privado desempenha um papel fundamental na diversificação

económica ao colocar-se na vanguarda da inovação, investigação e

desenvolvimento, e produção. Neste sentido, o Executivo tem estado a

apostar no desenvolvimento de infraestruturas, bem como na capacitação e

qualificação dos recursos humanos”.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

O Balanço, até final de 2016, é resumidamente o seguinte:

a) “Aprovação por Decreto Presidencial 40/16, de Janeiro, as Linhas Mestras da Estratégia para a Saída da Crise Derivada da Queda

do Preço do Petróleo.

b) Aprovados 16 Programas Dirigidos nos sectores da Agricultura, Pescas e Indústria, orientados para o desenvolvimento de projectos

empresariais públicos e privados.

c) Em curso o processo de criação de uma Unidade Técnica de Apoio à Diversificação (UTAD).

d) Criado o Comité de Programação, Monitoria e Avaliação dos Programas Dirigidos.

…..

z) Fundo de Garantia capitalizado em USD 100 milhões.aa) Suporte ao empreendedor: emitidos 602 certificados, até ao ano de 2016, totalizando 12.638 empresas

certificadas; realizadas 2.411 acções de formação; oferta de consultoria do INAPEM com 510 estudos de viabilidade económico-financeira.

……gg) Para incentivar o consumo da produção nacional: aprovadas 90 empresas num total de 865 produtos; realizado inquérito aos aderentes sobre a utilização do selo Feito em Angola; em curso de realização iniciativas conjuntas com as superfícies comerciais para promoção em loja dos produtos Feito em Angola; estabelecimento dos corredores para escoamento da produção agro-pecuária.hh) Relativamente à dinamização dos pólos industriais, agro-industriais e das Zonas Económicas Especiais: em análise as propostas de criação de ZEE no Cunene e Cabinda; aprovada a proposta de Decreto Legislativo Presidencial que define o regime geral das ZEE, bem como o Plano de Acção para a privatização das unidades industriais da SIIND; transferida a tutela da ZEE para o Ministério da Indústria; em curso o Plano de Acção para a capacitação e operacionalização das atribuições do Instituto de Fomento Empresarial como supervisor das ZEE, em linha com o Regime Geral”.

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Um leque impressionante de realizações entre 2013 e 2016, a maior parte

administrativas e burocráticas (ou seja, e correctamente, tendentes a desanuviar o

ambiente de negócios para os investimentos privados), mas sem a indicação de efeitos

e impactos sobre a diversificação (como se disse existem indicadores estatísticos que a

medem, em diferentes facetas) e sobre o ciclo económico.

A realidade, porém, é esta: a despeito de todas estas medidas a economia nacional

entrou em desaceleração justamente depois de 2012, com uma queda abrupta em 2015

e 2016, em que a variação média real da actividade económica foi negativa e estimada

em -1,35%.

As contribuições para o crescimento de cada um dos sectores da economia

nacional – uma aproximação ao que se poderá chamar de multiplicadores sectoriais da

actividade – confirma a sua posição subalterna, conforme a tabela seguinte.

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

CONTRIBUIÇÕES PARA O CRESCIMENTO (%)

Sectores de actividadeMÉDIA 03/15

MÉDIA 03/16

Agricult.Pecuá.Florestas 0,38 0,35Pescas 0,14 0,14

Petróleo e Gás 2,98 2,71

Diamantes e outros 0,09 0,09Indústria transformadora 0,28 0,25Electricidade 0,11 0,11Construção 0,97 0,88

Comércio 0,67 0,62

Transportes/armazena 0,19 0,13Correios/telecomunica 0,37 0,36Bancos e Seguros 0,14 0,15Estado 0,74 0,60

Serviços imobiliários 0,34 0,33

Outros serviços 0,30 0,26

Alguns dos sectores

económicos considerados

como “drivers” da

diversificação, não

conseguem assumir este

papel, quedando-se as

suas contribuições para o

crescimento do PIB em

cifras irrisórias.

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A leitura do quadro anterior permite concluir que:

a) Como seria de esperar, a extracção de petróleo é o melhor investimento para a economia nacional,

já que 1% no aumento do VAB do sector proporciona um ganho entre 3% e 2,7% no incremento do PIB.

Afinal é o petróleo o maior contribuinte para os valores e as dinâmicas de crescimento da economia

angolana.

b) Também não é surpresa que as actividades de construção apareçam em segundo lugar com uma

influência na taxa de crescimento do PIB 0,877%.

c) Comprova-se, portanto, que as exportações petrolíferas (no fundo a tradução do crescimento da

produção em rendimentos fiscais e divisas para a economia) e os investimentos públicos têm sido os dois

principais motores do crescimento económico do país.

d) O comércio aparece como a terceira actividade melhor colocada no apoio ao crescimento do PIB,

com 0,622%.

e) Agricultura, manufactura e transportes têm contribuições para o crescimento muito irrisórias, para

sectores com um papel importantíssimo na diversificação da economia.

f) A energia é um caso verdadeiramente paradoxal: apresentou no período 1998/2016 taxas médias

anuais de crescimento muito acima das do PIB e, no entanto, a sua contribuição média para a dinâmica da

economia permanece bastante baixa e em redor de 0,112%. Seguramente que têm de existir explicações

credíveis para uma tão elevada falta de eficiência.

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Vale ainda a pena voltar à questão da inconsistência das informações

estatísticas oficiais, tomado como ilustrativo a indústria transformadora, de

resto já anteriormente destacado. A visualização gráfica das suas dinâmicas de

crescimento, na base de dados oficiais, apresenta o desenho seguinte:

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Este importante sector – cuja representatividade no PIB apresenta um valor

médio 2002/2016 de 4,7%, como anteriormente se sublinhou – apresentou, entre

2006 e 2016, dois máximos: um em 2015 de 8,6% e outro em 2016 (6,5%), que

terão de ser confirmados pelas Contas Nacionais desses anos, porque notam-se

algumas incoerências nos dados disponíveis. A primeira relaciona-se com o

aumento do seu peso relativo no PIB em 2015, quando neste mesmo ano a sua

taxa real de crescimento foi de -4%, corrigido depois para – 1,1% pelo INE na sua

Nota de Imprensa de Abril de 2017. A segunda, relaciona-se com a taxa de

crescimento de 44,2% em 2011, um pico absolutamente fora do normal e

desinserido do padrão de crescimento registado antes e depois dessa data. Sem

este valor atípico, a cadência média anual de crescimento da manufactura situar-

se-ia, no período em análise, em 4,9%.

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Durante os 18 anos da longa duração do crescimento da manufactura nacional

podem distinguir-se 3 sub-períodos, cada um deles com diferentes dinâmicas de

variação do Valor Acrescentado da Indústria Transformadora.

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O grosso da actividade industrial do país tem andado à volta do alimentar e das

bebidas, bens de consumo final sem dúvida importantes para a melhoria da dieta

alimentar da população e das suas condições gerais de vida, mas que adicionam

pouco à densificação da malha produtiva da economia nacional, sobretudo quando

também a agricultura, a pecuária e as pescas padecem de problemas semelhantes de

produtividades baixas, falta de financiamento e de outras “commodities” que

contribuam para o seu regular funcionamento em condições de eficiência.

Em termos da sua macroeconomia, as informações mais relevantes do sector da

construção estão inseridas na tabela abaixo.

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A MACROECONOMIA DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

VAB (milhões USD) 4843,9 5912,5 5355,6 7273,2 8152,9 10692,5 12917,5 14457,9 11016,0 9620,0

Taxa real de variação (%) 17,7 8,9 12,8 12,6 8,4 23,9 16,1 4,1 -2,2 -2,8

Emprego 308646 320191 339688 365993 387759 410661 415408 424197 427941 428882

Produtividade (USD) 15693,9 18465,6 15766,2 19872,5 21025,6 26037,3 31095,8 34082,9 25741,9 22430,5

Ganhos produtividade (%) 3,4 5,0 6,3 4,5 2,3 17,0 14,8 1,9 -3,0 -3,0

Salário mensal (Kz) 21596,3 40659,4 44164,7 53055,7 57283,6 61880,3 0,0 0,0 0,0 0,0

PIBc/PIB (%) 7,4 6,7 8,3 8,8 7,8 9,3 10,4 11,2 10,8 10,0

A construção passou a assumir, depois de 2006 uma importância crescente para aformação do Produto Interno Bruto do país, sendo neste momento o terceiromaior sector na composição do PIB, com uma participação de 8,7% e de 8,4% emmédia 2002/2016. No sector não petrolífero é, actualmente, o de maior relevânciaeconómica e mesmo de investimentos (públicos e privados).

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PRODUTO INTERNO BRUTO: UMA ANÁLISE GERAL

É uma actividade fortemente intensiva em trabalho, ainda que temporário e

inserido na categoria de emprego friccional ou mesmo sazonal. O número total de

trabalhadores em 2016 foi de 428882.

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INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

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INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

Por uma questão de melhor se compreenderem as diferentes etapas de

crescimento da economia angolana, consideraram-se 3 períodos depois de

obtida a paz:

2003-2008, período durante o qual a procura mundial de petróleo e os

preços cresceram bastante e que proporcionaram receitas significativas ao

país. Foi então possível investir na reconstrução/modernização das

infraestruturas materiais da economia e dar assim início a uma fase em

que a par das exportações de petróleo o investimento público se

apresentou como o segundo maior factor de crescimento do PIB. O

crescimento médio anual foi de 9,8%.

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INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

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Evolução do preço do barril de petróleo

Preço do barril (USD)

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INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

2009-2012, em que a grande crise financeira internacional dominou os comportamentos de

todas as economias – numas mais do que noutras, mas que ainda permanecem indeléveis

no momento actual e provavelmente ainda com alguma influência para o futuro – e em

Angola determinou uma quebra no investimento público de mais de 21% entre 2008 e 2009,

só se retomando o seu nível anterior em 2012. O principal factor deste ajustamento

orçamental em Angola foi a quebra significativa do preço do petróleo no mercado

internacional, avaliada em 35,3% de 2008 para 2009. O outro factor de crescimento, as

exportações de petróleo, também diminuiram de uma forma signficativa no período em

referência, tendo passado de 65,3 mil milhões de dólares, para 40,1 mil milhões de dólares.

Com os dois principais motores do crescimento económico do país em visiveis dificuldades,

a taxa real de variação do PIB foi a mais baixa de sempre depois da independência

(exceptuando as monumentais quebras em 1994 e 1995 de cerca de 24% e 25%,

respectivamente, também por razões revertíveis ao petróleo): menos de 3% em média anual

entre 2009 e 2012.

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INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

60,80

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110,30 110,90

2009 2010 2011 2012

Evolução do preço do petróleo entre 2009 e 2013

Preço barril petróleo (usd)

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INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

2013-2016 em que a grande aposta do Governo está sendo o lançamento das bases

para a diversificação da economia, assentes no investimento público em

infraestruturas, grande parte das quais apresenta uma velocidade de degradação

incomum e prejudicial dos índices de retorno económico das empresas e de

utilidade social da população. Este período tem sido caracterizado por um

comportamente muito errático da produção de petróleo, afectada por problemas

técnicos, dos quais darei, mais à frente, mais algumas indicações. De resto, entre

2008 e 2012 a produção acumulada de petróleo em Angola diminuiu 11,7%.

Imaginam-se os problemas financeiros para o país, porquanto as suas receitas

representam 95% das exportações totais e 70% das receitas fiscais do Governo. A

taxa média de crescimento neste período foi de 5,5%. O preço do barril de petróleo

pode diminuir, de 2012 para 2014, em cerca de 12,5%, tomando como preço médio

provável em 2014, 97 dólares o barril.

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INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

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INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NO CRESCIMENTO DO PIB

O LANDSCAPE

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Pre

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(%

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Correlação entre crescimento e petróleo

Taxa crescimento PIB (%) Preço barril petróleo (USD)

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EMPREGO

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EMPREGO

PANORAMA DO EMPREGO EM ANGOLA ENTRE 2002 E 2016

Sectores de actividade 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2015 2016

Agricult.Pecuá.Florestas 2.231.434 2.369.037 2.510.897 2.621.107 2.766.221 2.913.360 2.932.763 2.959.269 2.977.734

Pescas 26.868 28.440 30.233 33.447 37.052 40.626 43.234 44.761 45.782

Petróleo e Gás 14.223 14.996 15.394 64.559 79.697 92.241 92.241 92.241 83.017

Diamantes e outros 10.577 32.483 36.157 22.904 21.827 20.142 41.079 61.754 86.127

Indústria transformadora 56.255 53.745 56.017 59.419 66.109 72.976 80.135 100.810 131.336

Electricidade 2.389 7.871 8.852 11.646 10.281 7.079 103.737 153.801 206.418

Construção 169.722 216.104 271.086 320.191 365.993 410.661 424.197 427.941 428.882

Comércio 796.139 852.508 909.051 949.645 1.005.284 1.061.862 1.170.836 1.218.598 1.231.759

Transportes/armazena 68.329 72.641 76.886 81.377 88.778 96.359 157.715 228.174 236.710

Correios/telecomunica 2.476 3.175 4.339 4.574 8.327 12.167 13.287 13.885 14.509

Bancos e Seguros 5.072 5.722 7.074 14.138 18.925 23.357 23.357 23.357 23.357

Estado 326.709 346.856 367.626 420.832 469.091 431.610 467.095 467.135 467.135

Serviços imobiliários 334 320 356 424 494 562 562 562 562

Outros serviços 332.760 356.211 410.455 438.841 481.596 525.078 653.462 693.784 699.553

ANGOLA 4.043.287 4.360.109 4.704.423 5.043.104 5.419.675 5.708.080 6.203.700 6.486.072 6.632.881

INCREMENTOS 316.822 344.314 338.681 376.571 288.405 495.620 282.372 146.810

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EMPREGO

O emprego na extracção de petróleo e gás carece de pesquisa adicional,pois os números oficialmente disponibilizados nada referem sobre a suaexpressão e o seu comportamento. O Relatório do Ministério do Planeamentoe do Desenvolvimento Territorial – Relatório de Balanço das Actividades doGoverno 2013-2016, Luanda Março de 2017, na tabela 8 não apresenta dadossobre a criação de emprego no sector do petróleo e gás, sendo, aliás, depresumir que depois de 2014 se esteja a assistir a uma redução do número depostos de trabalho de nacionais, como consequência da crise dos preços(anote-se que a taxa de crescimento do PIB deste sector foi negativa em 2016e estimado em -2,3%).

A tabela anterior também mostra que o emprego na manufactura temestado sempre a subir desde 2004, sendo um facto absolutamenteextraordinário para qualquer economia. Entre 2002 e 2016, o emprego nasindústrias transformadoras do país aumentou 144,4%, uma variação médiaanual de 7,7% (valor que a manter-se no futuro pode consequencializar umaduplicação até 2025).

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EMPREGO

Outro facto extraordinário relaciona-se com as actividades de Geologia eMinas (onde está a extracção de diamantes), cujo volume de emprego em 2016 foide 86127 trabalhadores, cuja comparação com 2014 proporciona uma variaçãopercentual de 165,1% equivalente a uma cadência média anual de 8,5% e umapossibilidade de duplicação até 2024.

Mas o caso mais verdadeiramente excepcional respeita à energia e água. Ovolume total de emprego em 2016 foi de 206418 trabalhadores, equivalente a umavariação percentual, desde 2014, de 2522,5% (uma estonteante taxa média anualde 31,3% e uma possibilidade de duplicação já em 2019).

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EMPREGO

Algumas conclusões são inevitáveis:

a) Quando a economia menos cresce é quando o emprego aumenta e com ritmos vários

pontos percentuais acima da taxa de variação do PIB. Esta observação contraria as leis

económicas de relacionação entre crescimento económico e criação de emprego. Devido aos

avanços tecnológicos, às descobertas científicas e à influência das tecnologias da informação, por

vezes o que ocorre é registar-se crescimento económico com redução do emprego ou no limite

sem incremento do emprego, devido ao fenómeno da substituição entre os factores de

produção, ou seja, entre trabalho e capital/tecnologia. Nunca aumentos significativos de

emprego com redução do crescimento económico. Daí ser necessária mais investigação e muito

maior credibilidade da informação estatística.

b) O resultado conjugado entre aumento da produção e incremento do emprego, em

sentidos e intensidades contrárias, é o da diminuição da produtividade do trabalho.

c) A política económica oficial tem dado uma prioridade maior à criação de emprego em

detrimento da produtividade, dos ganhos de produtividade e, consequentemente, da

competitividade.

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PRODUTIVIDADE

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PRODUTIVIDADE

A economia nacional tem estado sujeita, desde 2012, a um processo de degradaçãoda sua competitividade, vista do ponto de vista da produtividade bruta aparente dotrabalho, o mais importante factor de produção. A despeito da política de formação ereciclagem levada a efeito pelo Governos e as suas instituições especializadas, aprodutividade geral da economia permanece baixa e, mais grave, incomparável comoutras economias dos países vizinhos de Angola, sobretudo na SADC, mas igualmente naCEEAC.

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PRODUTIVIDADE

PRODUTIVIDADE SECTORIAIS APARENTES DO TRABALHO (USD Correntes)

Sectores de actividade 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Agricult.Pecuá.Florestas 291 320 456 607 754 947 1.143 1.116 1.388 1546,748395 1.564 1.803 2.088 1.826 1.615

Pescas 10.809 11.181 13.681 18.252 27.585 33.388 39.899 32.128 31.488 32988,63612 29.812 32.548 37.159 36.460 63.038

Petróleo e Gás 498.675 494.774 649.428 1.261.889 1.543.835 575.934 680.370 393.954 451.424 558418,7918 577.596 520.517 499.190 330.634 417.169

Diamantes e outros 38.469 18.738 17.713 24.786 23.501 40.548 37.815 20.858 35.634 60419,76789 36.078 31.136 30.211 41.293 22.339

Indústria transformadora 10.467 13.193 20.446 27.309 33.896 38.056 52.504 38.155 50.566 89123,44559 64.330 66.505 71.013 87.015 43.948

Electricidade 26.049 13.582 16.777 13.448 48.588 68.165 42.497 69.411 67.605 78068,1537 189.011 19.910 10.823 7.295 4.660

Construção 5.124 4.864 5.936 9.363 13.293 15.694 18.466 15.766 19.873 21025,5912 26.037 31.096 34.083 25.742 22.430

Comércio 2.141 2.479 3.380 4.978 5.418 6.548 8.348 6.549 7.177 7048,68661 5.464 6.064 6.116 4.861 10.153

Transportes/armazena 4.273 4.767 5.973 8.375 11.938 16.042 25.956 14.482 19.759 17417,95312 23.103 20.958 16.921 9.676 8.128

Correios/telecomunica 65.089 44.881 60.159 161.832 171.655 222.474 311.082 281.403 205.693 284313,2388 331.806 364.313 379.034 300.082 132.604

Bancos e Seguros 57.886 55.220 71.706 82.184 103.064 92.868 108.769 98.870 78.700 77370,9174 56.297 64.192 69.792 57.740 82.374

Estado 4.371 5.340 6.540 9.562 12.313 14.463 20.203 20.089 18.892 29268,15508 31.882 50.300 51.660 38.146 14.416

Serviços imobiliários 2.813.881 2.702.941 4.605.599 5.188.135 6.232.306 7.500.706 7.858.169 7.162.173 7.235.918 6618849,905 9.235.834 11.486.410 12.618.077 10.439.274 8.558.746

Outros serviços 3.851 4.278 5.084 7.613 13.341 10.282 13.956 10.234 13.195 13395,24107 15.113 11.552 8.175 6.370 8.251

ANGOLA 3.946 4.012 5.408 8.820 11.149 13.389 17.525 12.439 15.267 18777,87306 20.207 21.252 20.849 15.726 14.504

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PRODUTIVIDADE

GANHOS MÉDIOS DE PRODUTIVIDADE

Sectores de actividade 2003/2015 2003/2016

Agricult.Pecuá.Florestas 6,39 5,89

Pescas 5,30 5,37

Petróleo e Gás -4,76 -3,81

Diamantes e outros -3,01 -4,79

Indústria transformadora 2,30 0,35

Electricidade -5,84 -6,47

Construção 5,05 4,48

Comércio 4,51 4,08

Transportes/armazena 0,33 -2,15

Correios/telecomunica 1,58 1,94

Bancos e Seguros -3,66 -2,71

Estado 3,87 2,43

Serviços imobiliários 3,30 3,27

Outros serviços -1,97 -2,24

ANGOLA 3,35 2,70

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PRODUTIVIDADE

Ganhos de produtividade

Sectores de actividade 2016

Agricult.Pecuá.Florestas -0,62

Pescas 6,28

Petróleo e Gás 8,56

Diamantes e outros -27,87

Indústria transformadora -25,01

Electricidade -14,69

Construção -3,01

Comércio -1,46

Transportes/armazena -34,45

Correios/telecomunica 6,60

Bancos e Seguros 9,60

Estado -16,20

Serviços imobiliários 2,80

Outros serviços -5,68

ANGOLA -5,73

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DESIGUALDADES SOCIAIS

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DESIGUALDADES SOCIAIS

O Africa Progress Panel de 2013, presidido pelo antigo Secretário-geral dasNações Unidas, Kofi Annan, refere que Angola é o país africano que “ilustra daforma mais poderosa a divergência entre riqueza de recursos naturais e bem-estar social”, sendo o país que detém um dos padrões mais desiguais dedistribuição do rendimento. Acrescenta-se que “a actividade das empresas doEstado se esconde atrás de um sistema financeiro opaco que não cumpreregras mínimas de transparência e beneficia figuras públicas ou políticas”. Africa

Progress Report, 2013.

Confirma-se, assim, por um lado, que os problemas do sistema financeiro angolano,

internacionalmente denunciados, foram afinal identificados e reconhecidos desde há algum tempo

e, por outro, está configurado para servir uma pequena elite política ligada ao poder.

Talvez se compreenda agora melhor a preocupação do actual Governador do BNA,

publicamente manifestada algumas vezes, de reorganizar o sistema bancário para o colocar também

ao serviço do povo e da estratégia de combate à pobreza. Mas os interesses da elite são tantos e

tão poderosos que semelhante desiderato dificilmente será atingido.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

O modelo de difusão social do crescimento económico que tem sido aplicadorevelou-se errado (a renda petrolífera serviu para que fosse criada uma faixa muitoreduzida de população excepcionalmente rica, usando-se a Sonangol e o OGE comointsrumentos privilegiados) e insuficiente. Melhorar a distribuição do rendimento nacionalapenas pela via do emprego – cuja criação nem sempre atingiu as metas estabelecidaspelo Governo, estando ainda na memória de toda a gente a promessa de 1 300 000 novospostos de trabalho entre 2008 e 2012 – é claramente escasso, como o comprovam asabordagens teóricas sobre o emprego e as inúmeras evidências empíricas reveladas porestudos e pesquisas independentes.

A questão salarial é o centro do modelo de distribuição do rendimento usando oemprego como seu suporte principal. A Organização Internacional do Trabalho é uma dasgrandes defensoras da difusão social do crescimento pela via de uma combinaçãointeligente entre emprego e salário, o que evidentemente é tributária da produtividade edos seus ganhos ao longo do tempo.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

O Relatório do Desenvolvimento Humano 2016 identifica um Coeficiente de Giniimutável desde 2013 e com um valor de 0,427.

O IBEP 2008/2009, calculou o seu valor em 0,55 mas outras estimativas colocam-no em 0,6.

Quer um quer outra desses dois valores indiciam uma situação de elevadadesigualdade na redistribuição do rendimento. Existem dois instrumentos muitoeficientes para se melhorar o coeficiente de Gini: a política fiscal pela via deimpostos progressivos sobre o rendimento e de impostos sobre as fortunas,independentemente de como foram obtidas e os sistemas de previdência esegurança social (praticamente inexistentes no país, tal é a sua reduzidíssimainfluência na correcção das injustiças sociais originadas pelo diferenciado acessoao rendimento).

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DESIGUALDADES SOCIAIS

As estatísticas internacionais e diversos estudos sobre esta matéria – porexemplo, a Organização Internacional do Trabalho efectua-os com regularidade noâmbito das suas responsabilidades internacionais quanto à força de trabalho – sãoclaros quanto à eficácia daqueles dois instrumentos na melhoria das desigualdadesde rendimento e fortunas. Mas igualmente elucidam que este é um processodemorado e está intimamente ligado ao crescimento económico e à natureza daspolíticas macroeconómicas.

É o caso do Japão. Em 2014 apresentou um coeficiente de Gini de 0,376 quedeveria tomar o valor de 0,570 não tivessem sido as influências da Segurança Sociale dos impostos progressivos. O percurso da redução das desigualdades derendimento no Japão, desde 1967 do século passado, é deveras interessante.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

CORRECÇÃO DAS DESIGUALDADES DE RENDIMENTO NO JAPÃO

Fonte: Tomoya Asano – Política Monetária, Cambial e Fiscal no Japão após a Segunda Guerra Mundial, Semináriopromovido pelo BNA, 19 de Abril de 2017.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

Foram precisos quase 50 anos para se obterem ganhos efectivos esustentáveis na melhoria da distribuição dos rendimentos e na diminuição dasdesigualdades económicas e sociais neste país asiático. São, na verdade,alterações onde o tempo é um factor importante, no sentido do acerto daspolíticas públicas e na eliminação de entraves políticos à obtenção dosmelhores resultados. Apesar do coeficiente de Gini ter aumentado o seu valorem cerca de 14,7% de 1967 para 2014, os ganhos são evidentes e medidos peloaumento da diferença entre os dois coeficientes de Gini: de 0,0473 para 0,1945.Lembre-se que quanto mais elevada a diferença melhor se encontra a igualdade de rendimentos.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

INDICADORES DE DESIGUALDADE EM ANGOLA 2011 2012 2013 2014 2015

Índice de Desenvolvimento Humano 0,508 0,523 0,527 0,531 0,533

IDH ajustado à desigualdade 0,278 0,285 0,295 0,335 0,336

Perda no IDH (%) 45,28 45,51 44,02 36,91 36,96

Coeficiente de Gini de rendimento 58,60 58,60 42,70 42,70 42,70

Ranking 148,00 148,00 149,00 149,00 150,00

Perda de lugares com ajustamento 0,00 11,00 17,00 8,00 8,00

Coeficiente desigualdade humana (%) 0,00 0,00 43,60 40,10 36,60

Índice esperança vida ajustad desigual 0,27 0,26 0,27 0,27

Índice educação ajustado desigualdade 0,30 0,31 0,31 0,32

Índice rendimento ajustado desigualdade 0,28 0,29 0,31 0,38 0,45

GNI per capita PPC USD 4.874,00 4.812,00 5.536,00 5.913,50 6.291,00

PIB per capita USD 4.372,48 4.715,59 4.973,92 4.916,83 3.888,95

PIB per capita AKZ 326.980,77 410.798,65 450.340,53 480.124,19 483.299,08

Taxas de crescimento (%) 2011 2012 2013 2014 2015

IDH 2,95 0,76 0,76 0,38

IDH ajustado desigual 2,52 3,51 13,56 0,30

GNI per capita -1,27 15,05 6,82 6,38

PIB per capita USD 7,85 5,48 -1,15 -20,91

PIB per capita AKZ 25,63 9,63 6,61 0,66

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DESIGUALDADES SOCIAIS

Contudo, esta visão geral de mitigação relativa e ligeira das desigualdades nopaís apresenta aspectos negativos, ou seja, e igualmente numa análise meso, o factordeterminante desses ganhos é o rendimento (ou seja, e afinal o crescimentoeconómico) tal como o atesta o comportamento do respectivo índice. Não é estranhoque isso aconteça, porque, no final do dia, o ponto de partida para odesenvolvimento humano é o crescimento do PIB, caldeado de políticas sociais demelhoria das condições de vida da população.

Os problemas da desigualdade no futuro colocam-se assim: o que efectivamente

haverá para distribuir, da renda nacional originada no crescimento económico, até

2021? E também: face a cenários prospectivos fracos sobre a dinâmica de

crescimento da economia nacional, como se deverá alterar o presente modelo de

redistribuição do valor do crescimento económico?

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DESIGUALDADES SOCIAIS

A primeira conclusão é que até 2021 (ou seja, entre 2017 e 2021), o

incremento médio anual do PIB por habitante (que não é rendimento nacional

como se sabe) será de tão-somente USD 240, dando-se bem conta das

dificuldades para se melhorarem as condições de vida da grande maioria da

população. Com toda a probabilidade, nem uma modificação dos esquemas

políticos e partidários de acesso privilegiado e desigual ao rendimento

nacional, iria provocar um impacto significativo sobre o modo de vida médio

da população. USD 240 de rendimento incremental para redistribuir é nada. O

gráfico dinâmico ilustrativo desta situação é o inserido a seguir.

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-1500

-1000

-500

0

500

1000

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

O que há para distribuir (outra visão)

Incremento anual do PIB (USD) Incrementos médios anuais (USD)

Outra forma de se analisar esta mesma

questão é por intermédio da taxa de crescimento do

PIB por habitante.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

A linha tendencial de crescimento do PIB por habitante expõe as

dificuldades de se melhorarem os padrões de vida da população – a sua

curva é claramente descendente até 2021.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

Algumas observações adicionais:

a) O que haverá para distribuir até 2021 é claramente irrisório. Só um safanão na

estrutura económica do país – diversificação das exportações, salários

condignos e capazes de gerarem poupanças das famílias, abertura da

economia, valorização do capital humano, incremento da competitividade,

melhoria dos ambientes de negócios – será capaz de provocar alterações

significativas neste cenário de degradação sistemática do viver quotidiano dos

cidadãos.

b) Como se afirmou já, o crescimento do PIB é fundamental, mas não suficiente.

O modelo de acumulação primitiva do capital, doutrina oficial do MPLA, deve

cessar nos seus contornos actuais e ser substituído por outro mais socialmente

inclusivo e economicamente gerador de externalidades potenciadoras dos

índices de eficiência da economia.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

c) Menos suficiente será a taxa de crescimento do PIB quando, como é o caso, asua cadência média anual de variação, entre 2017 e 2021, não ultrapassará1,4%. Ainda que anualmente o PIB por habitante se incremente em USD 240 –irrisório face às necessidades de consumo e investimento – o crescimento doPIB a uma taxa inferior a 1,5% ao ano não é bastante para se alterarem asactuais condições de reprodução do sistema económico. Tender-se-á para ummodelo de reprodução simples.

d) É bom lembrar que a taxa média anual de 1,4% incorpora já o sector nãopetrolífero, donde as folgas para se melhorarem as condições de vida da maiorparte da população são menores. E não vai ser possível regressar aoscrescimentos médios anuais de 12,5%, da mini-idade de ouro de crescimento daeconomia angolana, por razões sobejamente conhecidas e constantes derelatórios do Governo e das mais relevantes instituições internacionais ligadas aosproblemas do desenvolvimento.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

e) O ritmo de crescimento da população, estimado, pelo INE, em 3,1% ,é uma variável determinante da melhoria das condições de vida dapopulação. No capítulo seguinte – Emprego e Produtividade – sãotecidas considerações sobre as limitações de se definir e aplicar umapolítica demográfica com maior incidência sobre os modos de vida dapopulação.

f) A grande oportunidade de se distribuir melhor os resultados docrescimento económico ocorreu entre 2003 e 2008, mas perdeu-se afavor da doutrina oficial de, através do “rent-seeking”, se concentrar, emgrupos económicos do regime do MPLA, o essencial da acumulação decapital.

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DESIGUALDADES SOCIAIS

Conjugando todas as observações anteriores e recorrendo ao modelo de Solow simplificado, a economia angolana pode estar já no seu estado estacionário.

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