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1 Apresentação Escolhemos organizar os dados colectados em entrevistas cerca dos temas prioritários pela vida e/ou pela idade dos entrevistados, e em relação à sua capacidade de expressar-se e lembrar-se. Os temas são a disponibilidade de água, as fontes de energia, a tipologia das produções agro-alimentares. Para acompanhar estas questões vão temas más tópicos, tais como resíduos, produção de restos, ferramen- tas e embalagens usadas. Finalmente, as informações relacionadas às mudanças ao longo do tempo da produtividade da terra e do mar, bem como da vegetação natural em relação às alterações climáticas (temperatura, precipitações, intensidade do vento). A decisão de organizar os dados em fichas temáticas relativamente independentes responde à neces- sidade de síntese e esquematização de dados muito heterogéneos entre eles. As fichas têm também a função de fornecer uma visão geral mais facilmente utilizável na escola, com alunos de diferentes idades e com tempos de aplicação e atenção muitas vezes limitados. Para facilitar a leitura das fichas, anexamos a lista com as características e a localização geográfica das 54 pessoas entrevistadas nas ilhas do Fogo, Santiago, Santo Antão, São Vicente.Destes, 25 eram agricultores e criadores, 17 transformam ou comercializam produtos alimentícios e 12 são pessoas da categoria 'idosos'. Embora em alguns casos, a sua idade não justifique plenamente esta colocação, os idosos são capazes de fazer comparações entre situações do passado e do presente.As referências ao passado variam do início do ‘900 (Nha Maria, 110 anos; Nha Filó e Nha Nha, 104 anos), a primeira metade do ‘900 (Nhô Montrond, 78 anos), até os anos 1950-1960 (Nha Edoarda, 61 anos e Nhô Salva- dor, 52 anos). Os testemunhos e as respostas às entrevistas também diferem em função da residência dos inquiridos: quem vive em cidades recebe os serviços (por exemplo, recolha de resíduos) e recursos (água e energia) diferentes daqueles que vivem em áreas rurais. Entre os 25 agricultores, mais da metade pratica irrigação gota-gota, 7 são também criadores e 3 têm actividades relacionadas (produção de bebidas alcoólicas). A maioria do trabalho é ainda feito com ferramentas manuais, as máquinas são usadas raramente. Entre os transformadores e os vendedores de produtos, há 4 pescadores, 2 produtores de geleias e conservas, 2 produtores de bebidas alcoólicas (destes, um é o mesmo que produz conservas), 1 produ- tor de vinho, 1 produtor de café, 5 produtores de queijo, 2 padeiros, 1 açougueiro (com queijaria). Os pro- dutores de queijo trabalham manualmente (com excepção de um caso onde há uma máquina para a pasteurização do leite), enquanto a tecnologia está presente entre os produtores de vinho, café e licores, principalmente se apoiados por projectos de cooperação. Muitas vezes os pescadores, apesar de ter bar- cos a motor, usam remos não podendo arcar com o custo do combustível e da manutenção do motor. Todos os idosos entrevistados apontam que no passado não havia electricidade e usavam a madeira para cozinhar, arbustos e restos de cul- turas agrícolas (como o ‘rodjo’ de milho, ‘inganha’ em S. Antão, sabugo em português). Quanto à área de Chã das Caldeiras (Fogo) e Bolona (S. Antão), ainda sem ligação à rede eléctrica, como acontece em outros municípios rurais, com distribuição rural mais alta (Tab. 1). Em comparação com as fontes de energia utili- zada para cozinhar 6 inquiridos indicam o uso de lenha, especialmente de acácia americana (Prosopis juliphlora) e purgueira (Jatropha cur- cas). Uma mulher recorda também a madeira de figueira e de 'tortoju' (Euphorbia tuckeiana). Em particular, a de acácia é chamada de 'espinho' em crioulo, com significado um pouco depreciativo, para indi- car uma planta que não dá frutos comestíveis e só serve para fazer lenha. Em outros contextos, é chamada, com valor de enobrecer, de ‘espinho cachupa’ (a cachupa é um prato típico feito com carne, milho ou peixe, batata e mandioca), a que é apenas Energia … in casa Tab. 1: Energia para iluminação e cozinhar, nos municípios de origem das entrevistas. (Instituto Nacional de Estatística, 2007)

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Page 1: Apresentação - CAPE VERDE  · 2 Muitos agricultores ainda trabalham a terra com ferramentas de mão e, aparentemente, não têm problemas com falta de energia. Na realidade, porém,

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Apresentação

Escolhemos organizar os dados colectados em entrevistas cerca dos temas prioritários pela vida e/oupela idade dos entrevistados, e em relação à sua capacidade de expressar-se e lembrar-se. Os temassão a disponibilidade de água, as fontes de energia, a tipologia das produções agro-alimentares. Paraacompanhar estas questões vão temas más tópicos, tais como resíduos, produção de restos, ferramen-tas e embalagens usadas. Finalmente, as informações relacionadas às mudanças ao longo do tempo daprodutividade da terra e do mar, bem como da vegetação natural em relação às alterações climáticas(temperatura, precipitações, intensidade do vento).

A decisão de organizar os dados em fichas temáticas relativamente independentes responde à neces-sidade de síntese e esquematização de dados muito heterogéneos entre eles. As fichas têm também afunção de fornecer uma visão geral mais facilmente utilizável na escola, com alunos de diferentes idadese com tempos de aplicação e atenção muitas vezes limitados.

Para facilitar a leitura das fichas, anexamos a lista com as características e a localização geográficadas 54 pessoas entrevistadas nas ilhas do Fogo, Santiago, Santo Antão, São Vicente. Destes, 25 eramagricultores e criadores, 17 transformam ou comercializam produtos alimentícios e 12 são pessoas dacategoria 'idosos'. Embora em alguns casos, a sua idade não justifique plenamente esta colocação, osidosos são capazes de fazer comparações entre situações do passado e do presente. As referências aopassado variam do início do ‘900 (Nha Maria, 110 anos; Nha Filó e Nha Nha, 104 anos), a primeirametade do ‘900 (Nhô Montrond, 78 anos), até os anos 1950-1960 (Nha Edoarda, 61 anos e Nhô Salva-dor, 52 anos). Os testemunhos e as respostas às entrevistas também diferem em função da residênciados inquiridos: quem vive em cidades recebe os serviços (por exemplo, recolha de resíduos) e recursos(água e energia) diferentes daqueles que vivem em áreas rurais. Entre os 25 agricultores, mais dametade pratica irrigação gota-gota, 7 são também criadores e 3 têm actividades relacionadas (produçãode bebidas alcoólicas).

A maioria do trabalho é ainda feito com ferramentas manuais, as máquinas são usadas raramente.Entre os transformadores e os vendedores de produtos, há 4 pescadores, 2 produtores de geleias e

conservas, 2 produtores de bebidas alcoólicas (destes, um é o mesmo que produz conservas), 1 produ-tor de vinho, 1 produtor de café, 5 produtores de queijo, 2 padeiros, 1 açougueiro (com queijaria). Os pro-dutores de queijo trabalham manualmente (com excepção de um caso onde há uma máquina para apasteurização do leite), enquanto a tecnologia está presente entre os produtores de vinho, café e licores,principalmente se apoiados por projectos de cooperação. Muitas vezes os pescadores, apesar de ter bar-cos a motor, usam remos não podendo arcar com o custo do combustível e da manutenção do motor.

Todos os idosos entrevistados apontam queno passado não havia electricidade e usavam amadeira para cozinhar, arbustos e restos de cul-turas agrícolas (como o ‘rodjo’ de milho,‘inganha’ em S. Antão, sabugo em português).

Quanto à área de Chã das Caldeiras (Fogo) eBolona (S. Antão), ainda sem ligação à rede

eléctrica, como acontece em outros municípiosrurais, com distribuição rural mais alta (Tab. 1).Em comparação com as fontes de energia utili-zada para cozinhar 6 inquiridos indicam o usode lenha, especialmente de acácia americana(Prosopis juliphlora) e purgueira (Jatropha cur-cas). Uma mulher recorda também a madeira

de figueira e de 'tortoju'(Euphorbia tuckeiana).

Em particular, a de acáciaé chamada de 'espinho' emcrioulo, com significado umpouco depreciativo, para indi-car uma planta que não dáfrutos comestíveis e só servepara fazer lenha. Em outroscontextos, é chamada, comvalor de enobrecer, de‘espinho cachupa’ (a cachupa

é um prato típico feito com carne, milho oupeixe, batata e mandioca), a que é apenas

Energia … in casa

Tab. 1: Energia para iluminação e cozinhar, nosmunicípios de origem das entrevistas.(Instituto Nacional de Estatística, 2007)

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Muitos agricultores ainda trabalham a terracom ferramentas de mão e, aparentemente,não têm problemas com falta de energia. Narealidade, porém, quer a remoção de água dospoços e cisternas, quer a sua distribuição porgota, consistem em bombas alimentadas elec-tricamente ou com gasóleo. Quanto à alimenta-ção, os problemas surgem quando a centraleléctrica está fora, enquanto os agricultoresque utilizam bombas de gasóleo (para uma

Energia e máquinas para cultivar, pescar, produzir ...

área de aproximadamente 3000 m²), gastamcerca de 15 € por mês de combustível.

Em Ribeira da Vinha (São Vicente), os agri-cultores podem utilizar um tractor disponibili-zado pela cooperação holandesa por 15 € /hora, enquanto em outras áreas, quem alugarpaga até 50 € por hora. Apenas 4 agricultoresdizem que têm um motocultor ou moto-enxada(Fig. 3). Em alguns casos, têm um veículo parao transporte de hortaliças e frutas para os mer-

combustível e para iluminar: só o homem cita-ocomo uma re-utilização de resíduos para seremqueimados para fazer fogo. O sabugo é aindausado hoje nas cozinhas de rua (Fig. 14). O óleode purgueira, obtido a partir de sementes, a par-tir das memórias dos idosos resulta a fonte deiluminação mais antiga (Fig. 1). Sete pessoasrecorda-o utilizado em lâmpadas com pavio feitoa mão com a flor de algodão.Nha Nha: "É muitoiluminado. Hoje, no entanto, mesmo quando sepode ver, todo mundo diz que falta a luz”. Umhomem idoso recorda o uso de óleo de rícino.

Por Silvestre aprendemos que: "Exportava-seóleo de purgueira e rícino em toda a Europa."

Dois homens citam a utilização de velas (tam-bém em uso actualmente, juntamente com lâm-padas de petróleo, tabela 1). Outras oito pes-soas (cinco homens e três mulheres) relataramo uso de petróleo, entre eles, o mais novo dostrês, Nhô Salvador, Nha Nha e Nha Lia, mencio-nam apenas as lanternas de petróleo comométodo usado para iluminar (Fig. 2).

Às perguntas sobre o que mudou hoje emrelação ao passado, muitos dos entrevistadoslistaram máquinas e aparelhos, uma vez quequase ausentes, incluindo-os como indicador demaior bem-estar alcançado. Os testemunhosdizem-nos da menor fadiga de hoje do que nopassado (Nha Edoarda: "Uma vez a gente secansava muito, para buscar lenha, cultivar ali-mentos, etc ..Hoje, temos autotanques para otransporte da água e camiões que vêm paravendero peixe até aqui").

Existe o telefone que permite a comunicação(especialmente com os parentes distantes queemigraram). Há o estéreo que alegra e o ferro,que um tempo era um luxo só de alguns ricos(Nhô Valdomiro: "Hoje você pode ter o estô-mago vazio, mas a música em todos os luga-res" e dizendo isto indica o ângulo da casa deonde o seu estéreo propaga uma doce ‘morna’(música tradicional, morna e melancólica,mistura de ritmos africanos e melodia querecorda o fado português).

lenha é valorizada porque permite cozinhar ali-mentos.

Dois idosos (um homem e uma mulher)nomearam o uso de sabugo de milho como

Fig. 1: Purgueira (Jatropa curcas) (Foto Mortara, 2008)

Fig. 2: Iluminação e antena parabólica, Sal(Foto Ferrero, 2005)

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cados ou centros de distribuição local: um agri-cultor de Patim (Fogo), juntamente com outros,declara de alugar uma furgoneta com caixaaber ta para o transpor te dos resíduos naribeira. Os atomizadores (todos trazidos àscostas) são de distribuição manual.

Para demonstrar como uma maior disponibi-lidade de energia tem mudado a percepção e ouso do tempo, José, agricultor de Fogo diz:"Todas as casas uma vez tinham a cisterna,agora todas as casas têm garagens. O ‘rodjo’era utilizado para queimar. Não havia eletrici-dade, havia o gás de cozinha e as lâmpadasde querosene eram carregadas em São Filipe.Quando haviam problemas, se esperava”.

Comparado aos agricultores os que transfor-mam produtos agrícolas têm mais problemas,porque utilizam mais máquinas e energia eléc-trica, excepto para os produtores de queijo(com excepção da fazenda queijaria de PortoNovo que utiliza pasteurizadores e refrigerado-res).

Na queijaria em Bolona (Santo Antão) nãochega a rede eléctrica, mas a cooperação doPiemonte tem proporcionado com os painéisfotovoltaicos.

Os dois grupos entrevistados que trabalhamna produção de compotas e conservas deFogo, beneficiaram de financiamento da coo-peração do Piemonte, que vinha equipado comum secador solar (São Filipe) e painéis fotovol-taicos (como As Hortas) (Fig. 4). Enquanto acooperativa de São Filipe tem apenas umapequena geladeira e um liquidificador (ambosalimentados com corrente eléctrica). Em AsHortas invés, o sistema fotovoltaico (3 kW) pro-duz energia para o chamariz, o moinho, aseparadora (da polpa das sementes) e o fer-mentador.

Os resíduos de cana-de-açúcar são usadoscomo combustível. Tanto para a produção decompotas como para a esterilização dos potes,se utiliza o fogão a gás.

A cooperativa de Chã das Caldeiras, queproduz vinho, tem um gerador a gasóleo de100 l, uma prensa esmagadora (usada por 45dias por ano) e uma bomba de água, mas oprodutor de café de Mosteiros possui ummoinho, um torrador e uma embaladora (todoseléctricos).Todos os equipamentos enumera-dos são o resultado da cooperação internacio-nal.

Os pescadores são os mais afectados pelosproblemas de energia: muitos barcos são amotor, apesar de velhos, e o problema é ocusto do combustível, e por isso são utilizadosde remo. ("Em teoria, os mecânicos poderiamreparar os barcos, mas não consideram-noconveniente ... Graças à cooperação interna-cional no passado o pescador recebia um

motor e em cambio pagava um aluguel diário,o custo do combustível era antecipado edepois deduzido do valor do pescadovendido”). A associação de pescadores do Tar-rafal (Santiago) tem 2 camiões (um deles equi-pado com frigorífico) doados pelo Estado, masestão parados devido à falta de dinheiro. Tam-bém a produção de gelo para a conservaçãodo peixe está relacionada com a energia: "...Antes o peixe era dado a uma empresapública que tratava da conservação, porqueproduzia o gelo. Agora este custo é suportadopelos pescadores”.

Fig. 3. Moto-enxada usada em Fogo(foto Calvo, 2007)

Fig. 4. Paneis fotovoltaicos, As Hortas, Fogo(Foto Capuano, 2008)

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Água para uso doméstico... ontem e hoje

Hoje a água chega às várias casas de Cabo Verde (para São Filipe, por exemplo, a primeira canali-zação remonta aos anos 40). A distribuição implica um alto gasto energético, tanto na rede de águamunicipal, tanto quando utilizam-se tanques (Tab. 2).

A facilidade de acesso à água é percebidacomo o aumento do bem-estar das condiçõesde vida. Embora as chuvas sejam menos abun-dantes do que antes, os idosos testemunhamque hoje a vida é melhor e que há mais água. Omaior acesso ao abastecimento de água atra-vés das torneiras em casa, tanques, auto-tan-que municipal, chafarizes (que estão dimi-nuindo com o aumento da rede hídrica), muda-se na percepção de uma maior disponibilidade(Nhô Néné: "havia apenas água quando cho-via, havia poucos tanques e não podia-se

mantê-la”; Nha Nha "É mais bonito hoje. Hácoisas, água na torneira.." Nhô Djon: ".. Hoje hámais água. Um homem pobre como eu, temduas torneiras em casa". Nha Edoarda: "Hojehá tanques e camiões para o transporte deágua". Nha Lia: "Hoje há água por todos oslados".

Agora tudo é mais acessível. A água cheganas casas. As pessoas entrevistadas se sentemaliviadas de horas de caminhada desde oamanhecer, com latas, ‘bulì’ o ‘barquino’ nacabeça, para procurar água. Percorriam longasdistâncias a pé para reabastecer. A localizaçãodas fontes variava de 2 a 20 km. Quem podia,usava o burro (Fig. 5), quem havia disponibili-dade em dinheiro comprava a água na cidade

Tab. 2 Disponibilidade de água potável nas casas das zonas entrevistadas. O tempo necessário para chegar asfontes e chafarizes é, em mais do que 70% dos casos, menos de 15 minutos. (Instituto Nacional de Estatística, 2007).

Fig. 5: No caminho desde Cabeça do Montepara São Filipe com pneus cheios de água(Foto Capuano, 2009)

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pelos entrevistados mais jovens, homens e mul-heres.

Nhô Salvador: "Eu me levantava para irbuscar água na Praia Ladrão (cerca de 6 km),onde havia uma fonte de água doce", NhôJoão e Nha Caela: "Cada três dias, às duas damanhã, íamos a pé buscar a água na FonteBila (água salgada) na beira mar, e regressá-vamos transportando-a no ‘bulí’”.

O abastecimento da água, como em muitasculturas do mundo onde ainda acontece, erauma tarefa sendo realizada maioritariamentepor mulheres e crianças (Fig.6). No passadoexistiam fontes que hoje não existem mais. NhôMontrond: "Havia duas fontes, mas hoje nãodão mais água (desde o ‘95), também por falta

da chuva ... A águaencontrava-se nasmontanhas, a 2 km dedistância", NhaEduarda: "Uma vezíamos para a fonte nafloresta, andando porduas ou três horas (nadirecção do MonteContador, 971 m dealtitude). Eu trazia 20litros na lata – muitopreciosa - na cabeça."Nha Lia: "No passadoia longe para buscarágua, com lata o com“barquino”, Nha Ger-trude: "Descia naribeira da fonte e ialevá-la com a lata nacabeça, não muitolonge de casa”.

(Nha Filó testemunhou: "O custo da água erade 4 centavos de escudos de Cabo Verde por30 litros” (com um cêntimo de euro se compra-vam750 litros de água). Os recipientes, umavez usados para o transporte da água eram alata, o recipiente do petróleo, preservado comoum recurso valioso para a diversidade das suasutilizações, cuja capacidade, como é evidente apartir do testemunho, podia variar de 20 a 30litros. Usava-se o ‘barquino’, vasilha feita depele de cabra (20 a 40 litros de capacidade,dependendo do tamanho do animal a partir doqual era feito) trazido pelo burro, o ‘bulì’, a abó-bora esvaziada, cuja capacidade atingia até 20litros. Os três tipos de recipientes são lembra-dos tanto pelas mulheres de cem anos, que

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A água para uso agrícola e produção de alimentos

Dos 25 agricultores entrevistados, 19 cultivama terra com sistemas de irrigação melhorados.

Nestes casos, quase sempre o sistemausado é a gota-gota (com irrigação por goteja-mento se administra lentamente a água dasplantas, perto da zona da raiz, utilizando umarede de tubos nos quais estão inseridos goteja-dores, Fig. 7) e em apenas dois casos, utili-zando sistemas de canalização.

Em Ribera Vinha, (ilha de São Vicente), parairrigar utilizam-se as águas residuais obtidas apartir da cidade de Mindelo. A água é deposi-tada num tanque de recolha (Fig. 8) e, através

de bombas, é distribuída nas parcelas duranteuma hora por dia, com excepção das parcelasplantadas com salada (para evitar a contamina-ção).

Em Calhau (na ilha de São Vicente), os poçosconstruídos em 1975, estão esgotados.

Por esta razão, pequenas barragens foramconstruídas para recolha da água da chuva queé canalizada nestes poços. Estas obras deretenção no entanto foram preenchidas comterra e chuva e a água vai agora para o mar.Outro problema destes poços (como muitosoutros) é a sua proximidade da costa, razão

Fig. 6: Mulheres na linha na chafariz, Vila do Maio (Foto Ferrero, 1998)

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pela qual a água é salgada (uma das razõespela qual a água do solo perto da costa é, mui-tas vezes, salobra, encontra-se na remoção deareia para utilização civil). Uma alternativa paraMindelo (ainda não implementado na época dasentrevistas) é a utilização de usinas de dessali-nização.

Na ilha de Santo Antão os quatro agricultoresentrevistados lamentam da escassez de água: acanalização dos anos 50 (feito quando as chu-vas ainda eram abundantes) está seca, comoos poços perfurados na década do 70.

Hoje você usa tanques de água municipalpara uma taxa (o custo para o cultivo de umaárea cerca de um hectare de cana-de-açúcar ebanana, bem como outras culturas de regadio,variando de 140 a 180 € por mês, então umaparte significativa do rendimento é necessária

para suportar este gasto). Em testemunha parao problema da escassez de água são as pala-vras de um agricultor em Ribeira Duque: "Umavez corria água abundante nas ribeiras, mesmoquando não chovia ... Hoje, o leito seco do rio éusado como solo para crescer ... Uma vez oproprietário participava da colheita, quando aágua era abundante. Há pouca chuva desde1970 e desde então os grandes proprietários deterras foram-se”.

Na ilha do Fogo 6 dos 15 agricultores entrevi-stados cultivam na ausência de sistemas de irri-gação: o caso dos pequenos agricultores naárea de Mosteiros (a mais húmida da ilha) eCova Figueira que cultivam principalmente parasubsistência (as superfícies são inferior a 2000-3000 m²) milho, feijão, batata-doce e, ocasional-mente, mandioca. Outros usam o sistema degotejamento, com água de cisternas e, numsegundo caso, com poços privados, especial-mente para hortaliças. Em alguns casos, há pro-blemas com a partilha da água dos poços colec-tivos: “deve-se compartilhar a água do poçocom 60 pessoas (das quais apenas 22 sãomembros” (Axolino). As entrevistas conduzidasnum momento posterior para investigar a per-cepção das mudanças ao longo do tempo(entrevistas ‘históricas’), revelam a opiniãocomum que uma vez a água era mais abun-dante, de modo que se cultivava sem sistemasde irrigação especial. Carlos Alberto de Patim:"Em Fogo o primeiro sistema de cultivo irrigadoremonta ao 1970, em Monte Genebra. O pro-grama de redução da pobreza também tempermitido a construção de cisternas”. O produ-tor de vinho de Chã das Caldeiras recorda que:"uma vez havia uma grande quantidade deágua tal que, se fosse hoje, poderíamos até irri-gar. Havia duas fontes. Tivemos uma cisternaque recolhia água da chuva, abundante”.

O problema da água é menos grave paraaqueles que processam e comercializam produ-tos agrícolas, tais como compotas, licores,vinho, café ou pão, ninguém reclama de falta deágua. É diferente para os produtores de queijo,porque o consumo de água varia de 300-700l/dia (com uma média diária de uma dezena deformas pequenas de queijo de pasta mole) ape-nas na queijaria em Bolona (ilha de SantoAntão), há uma cisterna de 7 m³ de água nãopotável, enchida pelo município uma vez porsemana por meio de camião-cisternas. Paratodos o problema mais grave é a água para abe-berar as cabras. Para os pescadores, o gelopara conservar o peixe hoje é relativamentecaro (41 centavos de euro/kg). José (INDP):“Uma vez o fornecimento de gelo não era impu-tado ao pescador. Com a privatização dasempresas de electricidade e do abastecimentode água os custos têm aumentado”.

Fig. 8: Cisterna pela coleta de acqua para irrigar emPatim, Fogo (Foto Capuano, 2008)

Fig. 7: Sistema de irrigação a gota-gota em SantaCruz, Santiago (Foto Ferrero, 2007)

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O lixo na vida quotidiana

Quais eram os resíduos não recuperáveis nopassado? Seis entrevistados respondem‘munho’, termo crioulo que significa pequenasujeira: poeira, folhas, terra, papel de drops, etc.. Muitos interrogados sobre a hipótese de queuma vez o lixo pudesse causar problemas,respondem com surpresa e repreensão, "Masque problemas?!". A centenária Nha Maria:"Que lixo! Eram ajuda! Era pão! Lixo tem valor... No passado havia mais, porque eram reutili-zados. Hoje há menos, porque são lançados"

(Fig. 9). Não havia o supérfluo que permitiajogar fora coisas velhas. Nhô Néné aponta: "Em'40 eu andava sem roupa, agora há roupas aténa ribeira", e convidado a reflectir sobre a quali-dade de vida de ontem e de hoje, ele diz comnostalgia: "Antes você podia vê-lo apenas nosEstados Unidos - onde ele está estive lá duasvezes - agora aqui também há uma garrafa,latas, roupa velha". Nhô Salvador: "não havialixo, não se conhecia". As categorias de resí-duos nomeadas pelas pessoas idosas são:sacos de plástico, garrafas de vidro e de plásticoe roupas velhas, embalagens, latas, caixas,excrementos. Silvestre e Neves, respectiva-mente, um agricultor e um transformador, tam-bém adicionam papelão e recipientes de remé-dios que são queimados juntamente com orestante dos resíduos. Nha Nha comenta comuma piada: "No passado o lixo era varrido,agora se faz a colecção", ironiza dizendo quefaz a recolha, como para a comida ou de umobjecto precioso, de algo que anteriormente sóera removido para limpar (Fig. 10). A produçãode resíduos era mínima no passado e nãorepresentava perigo, cresceu tanto que se tor-nou um problema para administrar, um objectode estudo e trabalho.

Quatro entrevistados mencionaram especifi-camente a ribeira (curso de água em seca)como o lugar para despejar os resíduos, tantopelo cidadão privado quanto pelo município. SóNhô Salvador fala da prática da queima de resí-duos, "Hoje sim que há resíduos e precisam deum lugar para queimar". Não mostra-se a per-cepção de como os resíduos sejam tóxicos eperigosos, mas de algo que prejudica o meioambiente porque "suja". Nha Gertrude: "Hoje,os resíduos devem ser sempre colocados noscontentores, para que os locais sejam limpos".Uma boa prática é expressa na remoção davisão e do tacto, deitá-los nos contentores paraconferir à lixeira, embora isso seja ilegal eencontrar-se à beira mar ou em uma ribeira quena estação da chuva transporta para o margrandes quantidades de lixo.

Quatro pessoas idosas também citam comorgulho o município, responsável pela recolhade lixo, em comparação com um passadodesprovido deste serviço (Fig. 11). Nha Filó:"Hoje é o caminhão do governo que recolhe olixo. Uma vez chegava em casa um rapaz comcarrinho - funcionário público - para levá-los àribeira. Os excrementos humanos eram retira-dos de madrugada (às 04:00) por uma mulherque recebia pelo trabalho efectuado. A mulhercarregava-os dentro de uma lata colocada nacabeça".

A partir do depoimento de dois entrevistadosa produção dos resíduos está relacionada comlojas, hotéis e restaurantes. Nhô Valdomiro:

Fig. 9: Cabras sobre o lixo em São Filipe, Fogo (FotoMortara, 2007)

Fig. 10: Menina varrindo na frente da casa, Brandão,Fogo (Foto Capuano, 2009)

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"Mais pessoas, mais lixo.Muito lixo resulta daimportação ... Do Portugal, cada 600 contento-res, cerca de 400 são de embalagens, como da

cerveja por exemplo. No passado não existiam.Havia poucas estradas e pouco desperdício.

Agora todas as ruas estão cheias de lixo. Osjovens não compreendem a democracia: derra-mam os recipientes e não recolhem. Isso não éliberdade". A observação de Nhô Valdomirorelaciona diversos aspectos da produção deresíduos, do aumento da população aoaumento da produção. Em particular, é o único aligar as importações com o aumento da produ-ção de resíduos. Observa como juntos aos bensimportados, se importam grandes quantidadesde embalagens, em seguida, prontamente elimi-nados. Como em outros relatórios aqui tambémlemos uma crítica à degradação, não da paisa-gem neste caso, mas da moral e do sentidocívico.

Do seu testemunho emergem as responsabi-lidades internacionais e do governo nacional ede cidadania activa e civil dos indivíduos.

Fig. 11: Recolha do lixo em São Filipe, Fogo(Foto Mortara, 2007)

A partir do gráfico da Tabela 3 mostra-secomo a presença de contentores para a recolhade resíduos urbanos é maior quando a superfí-

cie abrangida pela Câmara Municipal é maiorque a do campo (São Vicente, Praia e PortoNovo): no entanto, em municípios localizados

Tab. 3 Gestão de resíduos nos municípios onde foram realizadas as entrevistas.(Instituto Nacional de Estatística, 2007).

em áreas rurais (Santa Catarina, RibeiraGrande), existe uma maior percentagem deresíduos queimados. As entrevistas destacam ohábito de queimar ou enterrar os resíduos con-siderados perigosos, especialmente embala-gens plásticas de agrotóxicos, que poderiamser apanhados pelas crianças. No campo, épouco provável que haja caixas de recolha elixo, onde são presentes, o camião da CâmaraMunicipal passa raramente para buscá-los (não

mais de uma vez por semana). As pessoas daszonas rurais se organizam como podem: quei-mando os resíduos ou deitando-os nas ribeiras(Fig. 12). Mas nem todos concordam: “Eu pago50 escudos por mês para a recolha de lixo,mas isso não é feito. Cada família queima nafrente da sua casa. Há problemas de higiene ede cheiro" (agricultor Ribeira Duque, SantoAntão).

Os agricultores, no entanto, não são grandes

O lixo e sua gestão nos setores produtivos

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Fig. 12: Lixo na lava em Chã das Caldeiras, Fogo(Foto Calvo, 2007)

Fig. 13: Embalagem com garrafas de vidro, Chã dasCaldeiras , Fogo (Foto Calvo, 2007)

produtores de resíduos. Estes podem ser asso-ciados a adubos (em sacos, sempre reutiliza-dos porque fortes) e pesticidas. O uso destesúltimos é bastante difundido. O uso económicofeito é mais por razões económicas em vez decorrecta informação. Os recipientes destes pro-dutos, muitas vezes feito de plástico, consti-tuem os únicos verdadeiros resíduos porquenão há forma de recolha e destino final. Comoevidenciado por um agricultor de Patim: "Nãohavia contentor sequer no passado.. Desde2002, os agricultores se reúnem para transpor-tar os resíduos para a ribeira, pagando a gaso-lina e o carro... Hoje há mais contentores nasruas e pessoas que os utilizam ...Mas aqui nãohá nenhum, não há colecta municipal rural ousubsídio. Na conta de água tens "Saneamento"(que inclui a eliminação de resíduos), emboranão existam contentores".

O produtor de vinho de Chã das Caldeirasqueima sacos que continham enxofre ou lança-os na lixeira. As garrafas de vidro de vinho (Fig.13) quando é possível são recuperadas (de

restaurantes), lavadas e reutilizadas porque umfrasco de vidro (da Europa) custa 50 escudos(cerca de 45 centavos de euro). Perguntado sehouve um desperdício de tempo, ele respon-deu: "No passado, os resíduos não existiam...Não havia o uso de caixas e recipientes usadospara vender agora ... Tudo era limpo, só haviapoeira, folhas (‘munho’), enquanto os hotéis erestaurantes de hoje deitar fora caixas,latas..Incomparável! Hoje há um monte de lixo... mesmo que a colecta seja feita duas vezespor semana, os resíduos acumulam-se".

Entre os fabricantes de bebidas alcoólicas, olixo é composto de papel e papelão, garrafas

quebradas e latas enferrujadas: todos,excepto um que está fora da cidade, usam oscaixotes do lixo, esvaziados diariamentedurante a semana. Quem faz compotas e con-servas não pode reutilizar os frascos de vidro(porque não é conveniente do ponto de vistaeconómico).

A partir da evidência histórica mostra queuma vez (agricultor de Fogo): "Lixo não erauma palavra conhecida" e que (os pescadoresdo Fogo): "Não havia lixo, não causava proble-mas e não perturbava o pescador. Hoje osresíduos são lançados ao mar".

Todos os idosos entrevistados ficaram per-plexos com a pergunta "quais e quantoseram os restos? Onde eles estavam?". Se olixo era algo praticamente inexistente no pas-sado, podemos compreender quanto podeter sido percebida aleatória esta palavra. Temsido, por tanto, necessário esclarecer naentrevista com paráfrases e exemplos para

explicar o que significa: produtos ou partesda produção, não destinados ao consumohumano directo. Oito dos 12 idosos respon-dem que os restos eram dados como pasta-gem para os animais, especialmente suínose caprinos.

Quais eram os tipos de restos? Duasrespostas falam das cascas de frutas e legu-

Os resíduos na vida quotidiana

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mes, dos produtos, crus ou cozidos, podres,3 referem-se ao pouco que às vezes podiasurgir a partir de comida. Nha Nha: "Às vezessobrava a ‘jagacida’ ou ‘cachupa’, e era dadaaos porcos." Um deles lembra-se que umavez a produção agrícola era mais abundante,de modo que as batatas inteiras e boas,eram utilizadas na alimentação de suínos(Nhô Néné). Este testemunho fala de umamaior abundância no passado, lembradocomo mais positivo do que actualmente.

Nhô Djon: "O que era ruim era dado aosanimais, mas também aos pobres. Os feijõesbons e os ruins eram usados juntos parafazer a 'pachida' ". A esposa, junta-se paraexplicar que a patchida era "um condimentopara cozinhar na panela". A maior ia dostestemunhos mostram que o resto em rela-ção ao que sobrava da comida sempre foimuito pouco. Só Nhô Nené disse que osrestos eram mais: ele relaciona-os com aprodução agrícola, falando-nos de umaépoca em que era mais abundante.

No testemunho de outros o resto não eraalgo que estava sobrando a partir da refeiçãoou que ainda podia ser dedicado à alimenta-ção, mas sim o que era utilizado para a pre-paração de infusões, remédios de ervas, etambém para encher colchões ou acender ofogo. A centenária Nha Maria: "As cascaseram usadas para fazer chá. Todos vinhamaqui para tomar chá. Esta era a casa dechá". A filha, presente, acrescenta que elatinha todas as ervas e as sementes (endro,alecrim, laranja, limão, romã), então a idosaacrescenta: "Quando estava com fome,mastigava tabaco não queimado docachimbo, como outras folhas". Nha Caela, aesposa de Nhô João: "As capas da espigade milho são usadas como pasto para ani-mais ou para encher os colchões, a barba demilho como chá diurético, para os animais.Outro diurético era fazer um pacote com abarba de milho e amarrar na costa do ani-mal". Nhô Salvador: "O ‘rodjo’ do milho erausado para fazer o fogo porque queima len-tamente (Fig. 14)".

A partir das evidências mostra-se que sãoas mulheres que cuidam da cozinha, casa efamília, e conhecem mais detalhadamente osusos dos produtos nas preparações médicase alimentares. Os homens referem-se à utili-zação e reutilização estritamente ligadas àprodução agrícola. Todos falam de umaépoca em que conheciam bem o ambienteem que viviam, e as propriedades das plan-tas e frutas cultivadas ou espontâneas.

O uso ajuizado dos produtos também se

Fig. 14: ‘Rodjo’, sabugo do milho para cozinhar emSão Filipe, Fogo (Foto Capuano, 2009)

Fig. 15: Descascando romãs: as cascas são recolhidasseparatamente, Chã das Caldeiras, Fogo(Foto Capuano, 2008)

refere a um passado pobre de bens mate-riais.

Quais eram então as diferenças no pas-sado? Primeiro, eles não eram chamados desobejos. Eram resíduos da produção agrícolaou do processamento de produtos que envol-viam um uso específico, não eram considera-dos excessivos, mas sim parte integrante dociclo de vida do produto, dos consumos e davida rural (Fig. 15).

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Para os produtores de doces, sucos e com-potas os restos são uma das matérias-primas:"a casca de banana, manga, laranja e tama-rindo são usadas para doces; a água de tama-rindo para sucos e concentrados; a água fer-vente de goiaba e marmelo para fazer ageleia". Também: "a semente da manga é ven-dida para o Ministério da Agricultura e ascascas de batata-doce são dadas aos porcos."

O mesmo vale para o produtor de vinho, quetestemunha: "No final da colheita vai produzir10 toneladas de uvas, utilizadas para a produ-ção de composto orgânico, e para o fabrico debebidas alcoólicas: o pedúnculo é dado aosanimais ou torna-se em adubo. A pele e assementes são usadas para fazer aguardente”.

Quem produz licor como matéria-prima uti-liza cana-de-açúcar; o que permanece após aextracção do melaço é um material lenhoso,óptimo para queimar-se ou desfiar finamentepara obter fertilizantes. Raramente, eles reci-clam as garrafas de vidro das bebidas alcoóli-cas. Quem produz queijo tem como resíduo datransformação a água de queijo, preciosa(cerca de 5 litros cada 10 formas), usado paraalimentação e abeberamento dos animais. EmBolona (Santo Antão) diz-se: "Há pouco resto.Os pacotes de queijo são usados como reci-pientes para outros alimentos ...Os recipientesde plástico quebrados, servem de cotco paraas cabras".

Mesmo para os pescadores os restos sãoúteis: eles são usados como isca desde quandomesmo o peixe pequeno é vendido devido àpresença cada vez mais raras de peixes maio-res. No passado, no entanto: "As vísceras eramdeitadas na praia. A cabeça era deitada fora,mas com o projecto de cooperação com aSuíça, era utilizada como isca para a pesca detubarão".

Padeiros reutilizam os sacos (Fig. 17) e reci-pientes de produtos adquiridos (farinha, açúcar,margarina, ...). Deve ser notado que muitosingredientes em Cabo Verde são amplamenteimportados das Ilhas Canárias e da Europa.

Somente em uma grande empresa daRibeira Grande (Santo Antão), que produz licoros restos são citados: "plásticos, embalagensde papelão, garrafas sujas, pneus (de veículosusados para a comercialização dos produtos,que são então regenerados)”. Um gerente docentro agro-alimentar de Porto Novo, onde hátambém um açougueiro, fala de "... ossos deanimais abatidos colocados em um saco e dei-tados no lixo".

Para os agricultores, pescadores e produto-res de alimentos, os resíduos são os resíduosorgânicos (cascas, vísceras e cabeças depeixe, bagaços, ...) sempre reutilizados. Comrestos de legumes e frutas os agricultores ali-mentam porcos (Fig. 16) e galinhas. As folhassecas (de feijão e milho) são utilizadas para oleito de palha dos animais (quem não tem ani-mais, vende-as aos agricultores), enquanto aspartes de plantas secas são utilizadas comolenha. As partes da planta apodrecidas sãocobertas de terra e se torna adubo para o pró-ximo ano: o mesmo trabalho é feito com acasca do grão de café. Os excrementos de ani-mais são usados como adubo.

Resíduos de produção na agricultura,pesca e entre os produtores agro-alimentares

Fig. 16: Resíduos alimentares dados aos porcos,Santiago (Foto Calvo, 2007)

Fig. 17: Sacos de produtos alimenticios usados paraapanhar areia, Mosteiros, Fogo (Foto Mortara, 2010)

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Máquinas e ferramentas de ontem e de hoje e formasde trabalho

Ao examinar as respostas das entrevistas a agri-cultores, percebemos que as ferramentas de tra-balho actualmente utilizadas para o trabalho agrí-cola não são muito diferentes que no passado: pás,picaretas, enxadas e ancinhos foram e continuam aser as ferramentas mais populares. Hoje são acom-panhadas por pulverizadores manuais para a distri-buição de pesticidas: muito raramente se encontrammotocultor e moto-enxadas e em apenas um caso otractor (em renda, num projecto de cooperaçãoholandesa - Tchon de Holanda - São Vicente). Otractor custa bastante para a manutenção e o uso: éinteressante o testemunho de um agricultor deFogo, "No início, graças aos projectos de coopera-ção tínhamos um tractor pequeno, agora temos ummotocultor". Para transportar legumes, frutas, feijãoe milho, utilizam caixas de madeira ou sacos de plá-stico, cestos, latas para reciclagem, e somente numcaso, caixas de papelão. As embalagens são quasesempre reutilizadas.

Embora muitos trabalhos ainda sejam manuais,para os produtores agro-alimentares as ferramentase as embalagens usadas hoje são diferentes dopassado. A maior disponibilidade de energia permiteproduzir café, vinho, licores e produtos de panifica-ção utilizando máquinas de torrefacção, moedura,prensagem, amassar. Apenas um padeiro amas-sando com as mãos e ainda usando o forno.Vinhose bebidas alcoólicas são engarrafados manual-mente e em Chã das Caldeiras são as mulheresque colocam etiquetas nas garrafas com a mão (Fig.18). Para o produtor de compotas e conservas ferra-mentas e utensílios são as do passado, mas demais capacidade e adequados para fogões a gás.

Para embalar, a cooperativa Paladar (no Fogo)compra frascos e garrafas em Portugal e rolhas nasCanárias. Os fabricantes de queijo utilizam recipien-tes de metal cilíndricos (adquiridos com os proven-tos da cooperação) ou de madeira (‘cintelho’) paraproduzir queijo e cestos de plástico para seu tran-sporte (os cestos são recuperados após a venda).Somente num caso, o queijo é ainda envolto em fol-has de sisal (Agave sisalana).

Entre os entrevistados mais velhos, 10 lembram-se das ferramentas para trabalhar a terra: pá,enxada, picareta. Quatro destes, três mulheres e umhomem, falando das ferramentas que eram utiliza-das para fins domésticos (Nha Gertrude: "... Seusava ‘tagarra’ - prato de madeira de figueira - e‘carmã’ – midade do ‘bulì’ - para levar comida aostrabalhadores nos campos .. O ‘pilon’ e o pau paraesmagar os cereais – eram feitos de madeira defigueira ou de laranjeira, o ‘moinho’ - a almofariz -era de pedra") (Fig. 19). A "caneca de folha" – lataobtida a partir dos recipientes de azeite doce – ser-via para beber água ou chá. A este respeito o pro-fessor Pires acrescenta: "Era uma caneca obtida

através da reutilização de um recipiente, reciclado apartir da lata de azeite ou outros produtos, ondeuma asa era colocada de forma artesanal. É umbom exemplo dos tempos difíceis em que tudo eraescasso em Cabo Verde e no mundo. Referindo-seao passado, quando houve muitas dificuldades, osidosos costumam usar o termo "tempo de cane-quinha". No meu país de origem (Ribeira da Torre,Santo Antão), quem tinha esses jarros eram consi-derados um pouco acima do limite de pobreza.

Havia pessoas que viviam da recolha das latas,as mandavam arranjar por um artesão que soldavaa asa, e depois vendiam-nos". Outra idosa (NhaNha) acrescenta: "Havia apenas enxada, ‘mocho’-mesa – ‘pilon’ e ‘moinho’”. Alguns, como a ultracen-tenaria Nha Maria, lembram que “o ferro de passareram apenas os ricos que tinham-no, mas alguns oemprestavam" e que (Nhô Valdomiro): "em casa,não houve aparelhos até 1990-2000 (quandocomeçou a electricidade), importados nos bidõesdos EUA”. Dois outros idosos observam a mudançaque ocorreu com a tecnologia moderna (Nhô Salva-dor: "Hoje, existem ferramentas melhores," Nhô Val-domiro: "Hoje, as ferramentas manuais não sãomais utilizadas”). Além disso, Nhô Montrond

recorda que: "Aenxada era suficienteporque a terra eramuito boa", enquantoa pesca Nha Gertrudefala do tipo de vara:"Para pescar usavamo caniço (Phragmitesaustralis)”, o mesmoque ainda hoje é utili-zado para fazer cestos(porque flexível erobusto).

Fig. 18: Mulheres colocando etiquetas nas garafas devinho em Chã das Caldeiras, Fogo (Foto Calvo, 2007)

Fig. 19: Nha Edoardausando o 'pilon', dolado do ‘moinho’, Fogo(Foto Calvo, 2007)

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As mudanças no clima e na vegetação

Identificar nitidamente os efeitos das alteraçõesclimáticas nas actividades e na vida das pessoasentrevistadas é difícil, em parte porque as percep-ções, especialmente dos idosos, são diferentes (emrelação também aos lugares lembrados), em parteporque em alguns casos (como para quem cultiva aterra) mudaram as formas de trabalho (hoje se faz airrigação por gotejamento, que permite até quatrocolheitas por ano, enquanto antes era praticadaapenas a aridocoltura, que dava só uma colheita porano).

Para todos, porém, num passado não muitoremoto, as temperaturas eram mais mitigadas. NhôMontrond: "O clima era bom. Hoje no inverno aqui(em Chã das Caldeiras) há a 'frosta' (gelo), semel-hante à neve que bloqueia tudo...tão frio que a águanum balde congela. Ao mesmo tempo, choviaquase todos os dias. Hoje não, sófrio."). Havia menos vento (Fig. 20),para os agricultores causa de perda deterra fértil, e, em geral chovia mais,com excepção dos anos de seca do1940, lembrado por Nhô Djon. NhôNéné: “Chovia muito. Houve uma inun-dação que fez arrastar o solo, puxandoa terra para o mar". Nhô Valdomiro:"Nos tempos antigos, de julho a setem-bro, havia muita chuva. Quando choviamuito, Janeiro e Fevereiro eram frios,quando chovia pouco eram quentes.

Fogo, Santiago, Santo Antão são asilhas onde chovia mais. Chovia pri-meiro para o norte da ilha, quando achuva terminava as pessoas iam parao sul para trabalhar". A distribuição dife-

renciada da chuva é muito sentida pelos agriculto-res, alguns dos quais também podiam dar-se aoluxo de regar por alagamento (São Vicente) ou deutilizar as águas das ribeiras (Santo Antão). Paratodos os agricultores entrevistados o solo é menosfértil hoje do que no passado e precisa ser adubadoe estrumado mais (Fig. 21). As razões, entretanto,não são apenas devido a mudanças climáticas, mastambém às práticas agronómicas: com irrigação porgotejamento o solo está empobrecido. Além disso,embora uma vez fosse prática comum cortar o milhoa 10 cm acima do solo, mantendo o sistema radicu-lar no local, para proteger e fertilizar o solo, esta prá-tica é hoje em dia menos comum.

Outro aspecto sobre o qual todos concordam é apresença de fontes já existentes, tais como a doIlhéu da Pena, citado por Silvestre (agricultor deFogo): "Quando meu pai tinha cerca de 10 anos,acompanhando seu avô criador de gado, viu que afonte havia sido destruída por uma inundação.

Havia uma outra fonte no Ilhéu da Pena commuita água a que os animais iam beber (cabras evacas), e onde as pessoas iam para lavar roupa(essa ilha era sempre acessível, não só na marébaixa).

Agora, para chegar à ilha devem ser bons nada-dores, mesmo na maré baixa. Uma hipótese é quehouve uma maior entrada de terrígenos porquechovia mais, outra é que os regimes das correntesmudaram: em qualquer caso, a fonte na ilha nãoexiste mais. Alguns especulam que a falésia desa-bou e que a ilha tem enterrado”. No entanto, na per-cepção da memória de Silvestre o ilhéu é agoramuito menor.

Com relação à vegetação natural, as lembrançasestão interligadas. Silvestre: "Quando eu era

Fig. 20: Palmas varreadas pelo vinto aos bordes deuma horta, Achada Malva, Fogo (Foto Morando, 2009)

Fig. 21: Agricultor no seu campo, Cabeça do Monte,Fogo (Foto Capuano, 2009)

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"Havia mais pescadores que pastoreavam os peixesa noite antes de ir pescar." Nhô João e Nha Caela:"Hoje há mais (...) Um quilo de peixe agora custa400 escudos por quilo de pescado, ontem custava1,40 escudos. O motivo do aumento é que hoje hámais população". Nha Edoarda: "Hoje, existem car-ros que vêm vender até cá em cima".

E’ provável que a resposta seja em parte caracte-rizada pela percepção de uma maior presença depeixes na vida quotidiana: a questão não foi compre-endida pela maioria dos entrevistados como a pre-sença de peixes no mar.

Apenas quatro dos entrevistados, dois dos quaiseram pescadores, dizem que havia mais peixes nopassado. Nhô Valdomiro (um dos melhores pescado-res do passado, que trabalhou como barqueiro, car-regando nos ombros até à praia as pessoas quechegavam de barco a fim de não molhar-se): "Haviamais pescadores ...Os peixes eram tão grandes quesó se podiam carregar 3 ou 4 no barco. Agora, oatum vem das Ilhas Canárias, onde pescam comiscas artificiais atuns grandes que não vêm maispara Cabo Verde. Uma vez se pastoreava menina

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O homem e o mar em Cabo Verde. Ontem e hoje

Viver em Cabo Verde significa relacionar-se com omar (Fig. 22), mesmo se se vive nas encostas do vul-cão do Fogo o no Planalto da remota localidadeBolona em Santo Antão.

Além dos pescadores, até os idosos foram entre-vistados sobre o tema “mar”: entre eles, dois,

homens do mar, indicam a presença no passadode madeira útil para construir os barcos (o que indicatambém uma maior presença das espécies arbusti-vas nas ilhas).Nhô Valdomiro: "...havia mais madeirapara fazer barcos." Nhô Djon: "... o 'espinho' preto -acácia - era usado para fazer barcos." Muitos pesca-dores ainda são construtores de barcos (Fig. 23).

À pergunta "havia mais peixes?", 8 dos 12 idososrespondem "não". Nhô Néné: "Havia menos pesca-dores (...) As redes não deixam crescer os peixesporque pescam-nos pequenos. Não havia quemmergulhava. Havia poucos barcos, a remos. Íamosnas rochas com a vara." Nha Nha: "Agora há mais,mas são mais caros." Nhô Djon, um homem do mar:

Fig. 22: Praia com barcos em Porto Mosquito,Santiago (Foto Mortara, 2010)

criança era pastor de cabras. Crescia mais grama epor isto havia mais pasto. Havia muitas purgueiras,enquanto as acácias não havia. As acácias sãoexpandidas após a independência. Foram introdu-zidas desde 1960 com a acácia americana (agoraconsiderada uma praga): sua difusão tem causadoa morte das purgueiras e a sua concorrência provo-cou a morte de muitas espécies locais. Foram-se asfigueiras, assim como os tamarindos: se podia par-tir do Monte Genebra (a partir de Brandão) atéOutra Banda (perto de Atalaia, no norte do país),com um burro, porque a estrada era ladeada porárvores. Desta forma, podia-se também comer na

rua. Agora não há mais nenhuma figueira nem umaárvore de tamarindo”. Nhô Djon: "Havia a mamonae o óleo era utilizado para lubrificar, o baobá, a acá-cia usada para fazer barcos”. Nha Nha: “Havia ape-nas purgueira. Agora as purgueiras são escassas,enquanto uma vez nos manchávamos os vestidosna recolha das sementes". Nhô João: "Havia zim-bro, 'bombardeira' (Calotropis procera), que só ser-via como alimento para animais, a alfarrobeira, paraqueimar e para o leito de palha dos animais”. NhôMontrond: "As plantas plantadas pelo meu avô em1917 ainda não estão mortas, as raízes estãovivas".

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temporada." Ele é um homem do mar: "O marestava sujo só em fevereiro, quando há muitovento." Nhô Valdomiro: "Hoje a pesca empobrece ofundo porque não é mais tradicional - com cana e fio- mas com redes que apanham também os peixespequenos", e acrescenta: "... até 1960 não existiammergulhadores ... O primeiro foi Augusto Pires,pescava apenas lagostas, agora vive nos EUA e émúsico". Note-se que a pesca com garrafas estáproibida desde 2005.

Se define o quadro de uma paisagem marinhaempobrecida respeito ao passado, devido à explora-ção excessiva pelos seres humanos.

mergulhava em apneia, diz: "Havia peixes de todosos tipos". Nha Filó: "Agora há pouco do atum. Nopassado, os pescadores deixavam as cabeças napraia", uma afirmação que chama a abundância dapesca no passado, tanto de deixar as cabeças napraia. Nhô Valdomiro: "Havia muitas lagostas." NhaGertrude: "Havia ‘bentea’ (pargo), ‘bicuda’ (barra-cuda)... hoje já não se vêem". Também interessanteé a resposta de um pescador do INDP (InstitutoNacional de Desenvolvimento das Pescas, Fogo):"...Mesmo que a tecnologia tem aumentado, o peixetem diminuído".

Quando perguntados sobre as condições do marno passado, 4 falam sobre a praia e o nível do mar.Nhô Néné, citando o exemplo da praia de Salinas,baía natural em Ponta da Salina, no norte da ilha doFogo: "Havia mais areia. Hoje,apanham a areia das praias eestá começando a faltar". Não éraro encontrar na rua camiõescarregando areia retirada daspraias para construções civis(Fig. 24) embora em muitas pra-ias hoje se encontram sinais.

Nha Filó: "O nível do mar eramais baixo, a praia era maisampla. Estava sujo apenasdepois da chuva." Nhô João eNha Caela: "..Mais ou menos omesmo, apenas o nível do marera mais baixo". Nhô Dijon: "Nãoé diferente do passado.O marestá diferente dependendo da

15

Fig. 23: Pescadores emTarrafal, Santiago(Foto Mortara, 2004)

Fig. 24: Apanha de areia na praiade São Felipe

(Foto Mortara ,2005)

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Os lugares dos protagonistas das entrevistasNos mapas de satélite das ilhas têm sido colocados números que identificam os entrevistados na

localização geográfica dos seus locais de trabalho e de vida.

13, 14, 15, 16, 37, 38, 54

39 40

17, 18, 19, 20 21, 22

AGRICULTORES E CRIADORES

1. AGRIPEC sarl. Criação de galinhas e venda depintos. Praia, Santiago.

2. CARLO ALBERTO MONTEIRO. Horticultura, fruta,criação di cabras, queijo. Patim, Fogo.

3. SILVESTRE RIBEIRO (TRAGOPECU). Culturasregadio, árvores de frutas, queijo. Monte Genebra, Fogo.

4. AGRICULTOR PARTICULAR. Àrido cultura paraconsumo próprio. Pedro Homen, Fogo.

5. DINDIN E FAMILHA. Culturas regadio e áridocultura, Ponta Verde, Fogo.

6. AGRICULTOR PARTICULAR. Horticultura.Ponta Verde, Fogo.

7. AGRICULTOR PARTICULAR. Àrido cultura paraconsumo próprio. Cova Figueira, Fogo.

8. AGRICULTOR PARTICULAR. Àrido cultura paraconsumo próprio. Mosteiros, Fogo.

9. AGRICULTOR PARTICULAR. Àrido cultura paraconsumo próprio. Cova Figueira, Fogo.

10. AGRICULTOR PARTICULAR. Àrido cultura paraconsumo próprio e venda. Cutelo Alto, Fogo.

11. PROMALVA. Horticultura, criação. Achada Malva, Fogo.

12. AUARIOTO. Criação galinhas poedeiras e horticultura.Achada Malva, Fogo.

13. JOAO CARLOS SANTOS. Grogue e cultura de banana.Ribeira Grande, Santo Antão.

14. MIGUEL DELGADO. Grogue e cultura de banana.Coculì, Santo Antão.

15. PEQUENHOS AGRICULTORES. Grogue e cultura debanana e manioca. Coculì, Santo Antão.

16. JERONIMO RAMON LOPEZ. Horticultura em socalcos.Ribeira Grande, Santo Antão.

17. TCHON D’HOLLANDA, parcela D16. Culturas regadio,áuto consumo e venda. Ribeira Vinha, São Vicente.

18. TCHON D’HOLLANDA, Joao DA CRUZ.Culturas regadio. Ribeira Vinha, São Vicente.

19. TCHON D’HOLLANDA, parcella B5. Culturas regadio.Ribeira Vinha, São Vicente.

20. TCHON D’HOLLANDA, Dias. Culturas regadio.Ribeira Vinha, São Vicente.

21. ANTONIO ANDRADE FORTIS. Culturas regadio.Calhau, São Vicente.

22. JULIA ANTONIA. Culturas regadio e criação. Calhau,São Vicente.

23. SOCIEDADE AGROPECUARIA FERREIRA.Culturas regadio e criação. Brandão, Fogo.

24. AXOLINO. Culturas regadio e criação. Chã de Camelo,Fogo.

25. ROSARIO BENVENUTO RODRIDGUEZ.Culturas regadio. Igreja Mosteiros, Fogo.