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AULA 15 - PRÁTICAS ABUSIVAS 1. PRÁTICAS ABUSIVAS As práticas abusivas são ações e/ou condutas que, uma vez existentes, caracterizam-se como ilícitas, independentemente de se encontrar algum consumidor lesado ou que se sinta lesado. As práticas abusivas estão elencadas nos arts. 39, 40 e 41, do CDC, exemplificativamente, uma vez que há outras espalhadas pelo CDC. Ex: cobrança constrangedora (art. 42 e 71); negativacao nos serviços de proteção ao crédito (art. 43); próprio anuncio abusivo e enganoso (art. 37), dentre outras. Podem ser classificadas em: a) Pre-contratuais : surgem antes de firmar-se o contrato de consumo (compõem a oferta, ou pretende vincular o consumidor). Ex: condicionar fornecimento de produto ou serviço a aquisição de outro produto ou serviço – “venda casada”; envio de cartão de credito sem solicitação do consumidor. b) Pos-contratual : decorre de um contrato preexistente. Ex: negativacao indevida. c) Contratual : ligada ao conteúdo das clausulas estabelecidas no contrato. Ex: art. 51. Diante disso, vamos analisar o artigo 39 do CDC. I. Venda Casada “I – condicionar o fornecimento de produto ou serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”. É a conhecida venda casada, por meio da qual o fornecedor pretende obrigar o consumidor a adquirir um produto ou serviço apenas pelo fato de estar interessado em adquirir outro produto ou serviço.

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cdc - praticas abusivas

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Page 1: Apresentação - Aula 15

AULA 15 - PRÁTICAS ABUSIVAS

1. PRÁTICAS ABUSIVAS

As práticas abusivas são ações e/ou condutas que, uma vez existentes, caracterizam-se como ilícitas, independentemente de se encontrar algum consumidor lesado ou que se sinta lesado.

As práticas abusivas estão elencadas nos arts. 39, 40 e 41, do CDC, exemplificativamente, uma vez que há outras espalhadas pelo CDC. Ex: cobrança constrangedora (art. 42 e 71); negativacao nos serviços de proteção ao crédito (art. 43); próprio anuncio abusivo e enganoso (art. 37), dentre outras.

Podem ser classificadas em:

a) Pre-contratuais : surgem antes de firmar-se o contrato de consumo (compõem a oferta, ou pretende vincular o consumidor). Ex: condicionar fornecimento de produto ou serviço a aquisição de outro produto ou serviço – “venda casada”; envio de cartão de credito sem solicitação do consumidor.

b) Pos-contratual : decorre de um contrato preexistente. Ex: negativacao indevida.

c) Contratual : ligada ao conteúdo das clausulas estabelecidas no contrato. Ex: art. 51.

Diante disso, vamos analisar o artigo 39 do CDC.

I. Venda Casada

“I – condicionar o fornecimento de produto ou serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”.

É a conhecida venda casada, por meio da qual o fornecedor pretende obrigar o consumidor a adquirir um produto ou serviço apenas pelo fato de estar interessado em adquirir outro produto ou serviço.

Com relação à 1ª parte do inciso podemos citar um exemplo clássico do banco que, para abrir a conta corrente do consumidor, impõe manutenção de saldo; conceder empréstimo exige a feitura de um contrato de seguro de vida; garçom somente serve e permite a permanência de cliente bebendo se pedir comida para acompanhar.

É importante entender que a operação casada pressupõe a existência de produtos e serviços que são usualmente vendidos separados.

- O lojista não é obrigado a vender apenas a calca do terno;- pacote de viagens oferecido não está proibido;- Compre um e leve outro, também não é proibido.

O que não pode é o fornecedor impor a aquisição conjunta, o que possibilita ao consumidor adquirir apenas um dos itens pelo preço normal.

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Em relação à quantidade, como a norma permite a utilização de limites quantitativos podem ocorrer 2 hipóteses:

a) Impor limite máximo em época de crise: 1 ou 2 latas de óleo por consumidor;b) Quantidade mínima: sal vendido em pacotes de 500g.

As promoções do tipo “compre 3 e pague 2”, são validas desde que o consumidor possa também adquirir uma peça apenas, mesmo pagando mais caro.

II. Recusa de atendimento

A norma diz que é vedado:“II - recusar atendimento as demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes”.

Esse dispositivo acresce a oferta a obrigação de vender os produtos existentes no estoque, ainda que não tiverem sido oferecidos, ou seja, basta ter em estoque para ser obrigado a vender.

Nesse caso, pode o consumidor comprar todas as mercadorias da prateleira, bem como exigir a venda da única peca em exposição na vitrina. Alem de que, oferta especial de preço, não é justificativa para limitar a quantidade de venda.

III. Entrega sem solicitação do consumidor

Tal inciso dispõe que é vedado:

“III – enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação previa, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço.

Parágrafo único – os serviços prestados e os produtos remetidos os entregues ao consumidor, equiparam-se as amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento”.

A sanção imposta é necessária e boa, só que não é suficiente para solucionar todos os casos. Assim, se o fornecedor remete um livro, este é grátis. Se manda um ingresso para um show, também o será.

Acontece que alguns serviços fornecidos sem solicitação implicam ainda graves violações de direitos dos consumidores, podendo causar-lhes sérios danos.Ex: Cartão de credito- violou sua privacidade, pois manipulou seus dados s/ sua autorização;- Ao enviar o cartão este poderia ter sido extraviado ou subtraído, arriscando sua imagem e nome;- Chegar a ser cobrado por compras que não fez e ser negativado.

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IV. Excepcional vulnerabilidade

O CDC proíbe ao fornecedor:

“prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços”.

A característica mais marcante do consumidor nas relações de consumo é a sua vulnerabilidade, especialmente por não ter acesso às informações técnicas do produto. Assim, quando o fornecedor se deparar com consumidor especialmente frágil e ignorante e prevalecer-se dessa vantagem para impingir-lhe seus produtos e serviços, será considerada uma pratica abusiva.

V. Vantagem excessiva

A norma proíbe:

“V – exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva”.

A abusividade aqui independe da existência ou não de contrato firmado entre fornecedor e consumidor, enquanto que, no art. 51 o abuso é identificado no contrato existente.

VI. Orçamento prévio

A lei veda:

“VI – executar serviços sem a previa elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes”.

Esse inciso, basicamente, repete a norma estampada no art. 40, proibindo o fornecedor de executar serviços sem a previa elaboração de orçamento, com a devida autorização expressa do consumidor.

O que diferencia os dois dispositivos é a possibilidade de no inciso VI, se já existir práticas já existentes entre fornecedor e consumidor.

VII. Informação depreciativa

Está proibido:

“VII – repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos”.

A Constituição Federal garante a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas (Art. 5°, X). Ou seja, não permite que, sem autorização expressa,

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alguém repasse a outrem informação de terceira pessoa (nem positiva e muito menos depreciativa).

Como a norma do inciso VII proíbe o repasse apenas de informação depreciativa, poder-se-ia pensar que ela permite, que o fornecedor repasse informação não depreciativa.

Assim sendo, informação positiva continua vedada pela Constituição, e o inciso impede o repasse de informação depreciativa, direta entre fornecedores e demais pessoas. Já os cadastros dos serviços de proteção ao crédito continuam permitidos pela regra do art. 43, do CDC.

VIII. Normas técnicas

A norma veda:

“VIII – colocar no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas especificas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial – CONMETRO”.

A função primordial das normas técnicas é garantir maior qualidade dos produtos e serviços, gerando segurança e padronizando o processo de produção e oferta nos casos em que isso se torne necessário.

Entre nós, temos:

a) SINMETRO (Sistema Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial) - tem por finalidade formular e executar a política nacional de metrologia, normatização e certificação de qualidade de produtos industriais, apresentando como órgão normativo o CONMETRO;

b) INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial) – Órgão do Estado com função de credenciar entidades publicas ou privadas que se dedicam a elaboração de normas técnicas, mediante autorização do SINMETRO. Ex: Qualquer norma da ABNT somente passa a ter validade após aprovada e registrada no INMETRO.

IV. Recusa de venda

A lei proíbe:

“IX – recusar a venda bens ou a prestação de serviços diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais”.

A norma tem entendimento bem abrangente, uma vez que ela se dirige a qualquer pessoa, independente de ser consumidora. Assim, os comerciantes, não podem se recusar a vender, ainda que o comprador não seja consumidor. Bem como, os

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atacadistas, distribuidores e fabricantes, não podem se recusar, mesmo que o comprador seja consumidor ou outro fornecedor.

X. Elevação de preços

Está proibido:

“X – elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços”.

No regime atualmente vigente no país de liberdade de preços não se pode falar em aumento abusivo antes da contratação ou da oferta (que vincula o fornecedor), ou seja, se o fornecedor vende um produto num dia por um preço e resolve no dia seguinte aumentá-lo, pode fazê-lo, desde que respeite as normas do CDC:- Anuncie e apresente claramente o novo preço;- não tenha feito anteriormente oferta pública do preço c/ prazo certo.

No entanto, para as operações já realizadas o preço não pode mais variar. Mas é importante frisarmos que essa norma está esvaziada, em virtude da época em que foi promulgada, um período inflacionário.

XI. Reajuste de preços

A norma veda:

“XI – aplicar formula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido”.

XII. Falta de prazo

O CDC veda ao fornecedor:

“XII – deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério”.

Essa norma apenas demonstra de que maneira as práticas abusivas são reiteradamente praticadas no Brasil. Esse é o principio dos contratos de consumo, que o fornecedor diga quando irá começar o serviço e/ou entregará o produto.Ex: construtoras que prometem entregar apartamentos em x meses, mas se prolongam por muito mais tempo que o previsto.