aprendizagem móvel na escola pública: relato de uma prática na aula de língua inglesa

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264 Revista Práticas de Linguagem – v.5 n.1 – ESPECIAL (jan. 2015) Aprendizagem móvel na escola pública: relato de uma prática na aula de Língua Inglesa Joyce Vieira Fettermann 59 Introdução Tendo em vista o número de aparelhos celulares levados diariamente para a escola e usados ininterruptamente pelos alunos, e buscando levar algo novo para as aulas, no período de 02 a 09 de Junho de 2015 (quatro aulas, em dois dias no total), no 2º bimestre letivo, cheguei à minha turma do 1º ano do Ensino Médio do turno da noite do CIEP 263 Lina Bo Bardi, em Itaperuna-RJ, com o objetivo de fazer com que eles despertassem para diferentes usos de seus celulares, além de falar com os amigos através do Whatsapp ou Facebook. De acordo com o currículo mínimo estabelecido pela Secretaria de Estado de Educação, os alunos desse segmento devem estudar sobre notícias, manchetes, publicidade, entre outros assuntos relacionados a isso nas aulas de Língua Inglesa, por isso a proposta dessa atividade. No primeiro momento, conversamos sobre os diferentes usos que eles fazem de seus smartphones, os aplicativos que possuem, os sites que costumam visitar a partir de seus telefones, entre outros. Então, propus que todos pesquisassem sobre as últimas notícias ao redor do mundo (preferencialmente, em inglês). Em seguida, pedi que se sentassem em grupos (cada um deveria ter, pelo menos, uma pessoa que possuísse acesso à Internet no celular) e que utilizassem seus aparelhos para iniciar a pesquisa. A regra foi clara: os celulares deveriam ser utilizados apenas para a realização da tarefa. Nessa etapa, eles selecionaram as notícias solicitadas e anotaram informações-chave em seus cadernos para facilitar o entendimento de suas pesquisas. No segundo momento, quem pesquisou notícias em português teve que fazer a versão para o inglês. Fiquei assessorando cada grupo, com a ajuda de um aluno monitor que estuda na turma, quando ele terminou seu trabalho. Quando surgia alguma dúvida, eles podiam consultar dicionários ou o Google Tradutor por meio da conexão com a internet. Os grupos que pesquisaram em inglês, também contribuíram com os outros, emprestando seus telefones ou ajudando-lhes de outras formas. Por 59 Mestra em Cognição e Linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). E-mail: [email protected]

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Revista Práticas de Linguagem – v.5 n.1 – ESPECIAL (jan. 2015)

Aprendizagem móvel na escola pública:

relato de uma prática na aula de Língua Inglesa

Joyce Vieira Fettermann59

Introdução

Tendo em vista o número de aparelhos celulares levados diariamente para a

escola e usados ininterruptamente pelos alunos, e buscando levar algo novo para as

aulas, no período de 02 a 09 de Junho de 2015 (quatro aulas, em dois dias no total),

no 2º bimestre letivo, cheguei à minha turma do 1º ano do Ensino Médio do turno da

noite do CIEP 263 Lina Bo Bardi, em Itaperuna-RJ, com o objetivo de fazer com que

eles despertassem para diferentes usos de seus celulares, além de falar com os

amigos através do Whatsapp ou Facebook. De acordo com o currículo mínimo

estabelecido pela Secretaria de Estado de Educação, os alunos desse segmento devem

estudar sobre notícias, manchetes, publicidade, entre outros assuntos relacionados a

isso nas aulas de Língua Inglesa, por isso a proposta dessa atividade.

No primeiro momento, conversamos sobre os diferentes usos que eles fazem de

seus smartphones, os aplicativos que possuem, os sites que costumam visitar a partir

de seus telefones, entre outros. Então, propus que todos pesquisassem sobre as

últimas notícias ao redor do mundo (preferencialmente, em inglês). Em seguida,

pedi que se sentassem em grupos (cada um deveria ter, pelo menos, uma pessoa que

possuísse acesso à Internet no celular) e que utilizassem seus aparelhos para iniciar a

pesquisa. A regra foi clara: os celulares deveriam ser utilizados apenas para a

realização da tarefa. Nessa etapa, eles selecionaram as notícias solicitadas e

anotaram informações-chave em seus cadernos para facilitar o entendimento de suas

pesquisas.

No segundo momento, quem pesquisou notícias em português teve que fazer a

versão para o inglês. Fiquei assessorando cada grupo, com a ajuda de um aluno

monitor que estuda na turma, quando ele terminou seu trabalho. Quando surgia

alguma dúvida, eles podiam consultar dicionários ou o Google Tradutor por meio da

conexão com a internet. Os grupos que pesquisaram em inglês, também contribuíram

com os outros, emprestando seus telefones ou ajudando-lhes de outras formas. Por

59 Mestra em Cognição e Linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

(UENF). E-mail: [email protected]

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fim, cada grupo compartilhou em inglês as notícias encontradas com os demais

colegas. Como professora da turma, pude perceber o quanto a aprendizagem através

do aparelho móvel foi prazerosa, interativa, colaborativa, contextual (UNESCO, 2014)

e, principalmente, de conscientização quanto aos diferentes usos que podem ser feitos

a partir do próprio celular.

1 Contextualização do projeto

Sou professora de Língua Inglesa no CIEP 263 Lina Bo Bardi, um colégio público

da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC), localizado no

município de Itaperuna. A cidade possui cerca de 100 mil habitantes e é considerada

um polo universitário regional, pois recebe estudantes de várias partes do Brasil para

cursar faculdade. Posso dizer que o CIEP 263 é uma escola grande, se comparada a

outras pertencentes à Diretoria Regional, e que possui ótimas instalações e localização

geográfica.

O colégio citado passou por mudanças em sua gestão há pouco tempo e isso

tem possibilitado novas práticas em todas as áreas de atuação dos diversos

profissionais que nele atuam diariamente. A maior preocupação da direção tem sido

propiciar aos alunos um ensino de qualidade, passando pelos trabalhos realizados

pelos professores, atendimentos aos seus familiares, merenda escolar, entre outros

aspectos.

Para isso, são oferecidos aos educadores um laboratório de informática, um

auditório amplo com caixa de som e aparelho de data-show, uma biblioteca espaçosa

com diversos exemplares de livros, refeitório que pode ser usado para outras

atividades, como café da manhã com os alunos e seus responsáveis que costumam

participar das reuniões de pais e outros eventos organizados pela equipe pedagógica,

além dos demais espaços que a escola contém.

Os alunos que nela estudam provêm de diversos municípios que fazem limite

com Itaperuna e apresentam realidades diversas. Os 20 participantes deste projeto

estudam na turma 1004 da 1ª série do Ensino Médio do turno noturno. São jovens

adultos que durante o dia, em grande parte, trabalham em variados ramos, como

atendentes em lojas, consultórios, escritórios, mecânicos em oficinas, ajudantes de

pedreiros, e outros.

Há também os que estudam em cursos técnicos ou preparatórios e escolas de

idiomas nos outros turnos, e quando chegam à escola no início da noite, por volta das

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18h, muitas vezes com fome e cansados, precisam estar dispostos para estudar até às

22h. Estes mesmos alunos, apesar do contexto em que estão inseridos, são

comunicativos e demonstram gostar das minhas aulas de inglês, pois sempre

participam com entusiasmo e realizam as tarefas propostas.

Como professora, pude notar, logo nos primeiros encontros do ano, que há

alunos na turma que não possuem contato algum com o idioma fora da escola, o que

faz com que eles mostrem muita dificuldade para aprender inglês. Há bloqueios

quanto ao desempenho das quatro habilidades essenciais do idioma: fala, escrita,

compreensão oral e leitura. Esses bloqueios atrapalham os mesmos a fazerem

apresentações e seminários, por exemplo, mas os estudantes são sempre motivados

por mim a tentar, ainda que cometam erros, pois estas atividades são peças

importantes no processo de ensino e aprendizagem.

Na mesma turma, em contradição ao que foi dito, há um aluno que possui nível

pré-avançado do idioma, que já estudou em curso de idioma, já viajou para o exterior

e se comunica muito bem em inglês. Com ele, sempre falo em inglês, e o coloquei

como monitor da disciplina, para que me ajude durante as atividades, auxiliando seus

colegas. Essa atitude fez com que o mesmo se sentisse mais motivado e pré-disposto

a estudar com a turma, pois pode participar ativamente do processo de ensino e

aprendizagem da língua, utilizando seu conhecimento para ajudar os outros.

Em curto prazo, meu maior desafio tem sido conscientizá-los de que o

conhecimento da língua inglesa é importante e um diferencial nos dias atuais. E eles

já estão tomando esta consciência. O trabalho a ser feito em médio prazo demanda

tempo e dedicação da parte de todos nós (minha e deles). No decorrer desse tempo,

como também é exigido no currículo mínimo estabelecido pela SEEDUC, desejo que

eles sejam capazes de reconhecer recursos linguísticos, compreender funções da

língua, formular frases e parágrafos, ler pequenos textos e expressar-se oralmente

(ainda que com suas limitações).

Pensando no panorama demonstrado, e no empenho de fazer com que estes

estudantes tenham sempre prazer em estar na escola após um dia de trabalho e

outras atividades, e, além disso, tentando despertar neles um interesse ainda maior

pelos estudos da Língua Inglesa, tive a ideia de levar para a sala de aula algo que

fosse mais próximo de sua realidade cotidiana: o uso do aparelho celular para

pesquisar notícias do dia-a-dia.

Nesse sentido, em minha rotina no magistério, tem sido fácil observar que os

alunos em geral levam seus celulares para a escola, apesar da existência de uma lei

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estadual (Lei nº 5222, de 11 de abril de 2008) que proíbe seu uso nas dependências

escolares (“[...] salvo com autorização do estabelecimento de ensino, para fins

pedagógicos”), e os utilizam o tempo todo (até mesmo durante as aulas). Basta um

aviso de mensagem no Whatsapp para que suas atenções se voltem para os aparelhos

e eles esqueçam que estão em aula. Isso me fez pensar: por que não unir o útil ao

agradável, mostrando aos meus alunos que eles podem fazer outros usos de seus

celulares?

Nesse sentido, para conectar essa problemática à necessidade que temos de

estar atualizados com o que acontece no mundo das notícias, à disciplina estudada na

escola, e à tarefa que lhes foi proposta, houve grupos que realizaram a pesquisa em

inglês. Os que sentiram maior dificuldade pesquisaram em português, mas com a

minha ajuda e a do aluno monitor, através da ferramenta Google Tradutor, fizeram a

versão das notícias para inglês logo após. A etapa seguinte foi a apresentação das

notícias em inglês. Treinamos as frases juntos e eles reportaram suas pesquisas para

toda a turma. A pesquisa foi interessante também para mostrar-lhes que através do

idioma inglês podemos encontrar uma variedade maior de notícias, pois ele abrange

vários países do mundo.

O planejamento para essa aula foi simples, como os das demais. Contei apenas

com os celulares dos alunos com internet, seus cadernos e canetas ou lápis.

Os objetivos de ensino-aprendizagem foram os seguintes: 1) levar os alunos a

compreenderem que há diferentes usos para seus celulares, além de falar com os

amigos através do Whatsapp ou Facebook; 2) pesquisar as últimas notícias ao redor

do mundo (preferencialmente em inglês) através da Internet, utilizando o aparelho

celular; e 3) reportar a pesquisa para a turma em inglês.

Nessa perspectiva, torna-se relevante ressaltar o que diz nas diretrizes de

políticas para a aprendizagem móvel da UNESCO (2014, p. 12):

Hoje, as tecnologias móveis são comuns, mesmo em áreas onde

escolas, livros e computadores são escassos. À medida que o preço dos

telefones celulares vai diminuindo, provavelmente, cada vez mais

pessoas, adquirem aparelhos móveis e aprendem a usá-los, inclusive

aquelas que vivem em áreas mais vulneráveis.

Assim, buscou-se com este projeto propiciar aos alunos envolvidos uma

aprendizagem prazerosa, interativa, colaborativa e contextual.

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2 Execução das atividades

Para que este trabalho pudesse ser executado foram necessários três

encontros, durante duas semanas do 2º bimestre de 2015 (de 02 a 16 de junho),

para realizar as seguintes etapas: 1) conversa com os alunos sobre os diversos usos

que podemos fazer dos aparelhos celulares (para que eles utilizam seus celulares,

quais aplicativos possuem, quais sites costumam visitar a partir de seus telefones

etc.); 2) conscientização dos mesmos sobre como podemos utilizar esta tecnologia

para diversas atividades, inclusive educacionais; 3) pesquisa em inglês sobre notícias

atuais; 4) preparação para a apresentação das notícias (formulação de frases e/ou

tradução do que foi pesquisado em português para a língua inglesa); e 5) relato das

notícias para a turma.

Desde a apresentação do projeto até sua culminância, os alunos

demonstraram grande interesse pelo tema, visto que quase todos possuem

smartphones e os levam para a escola. Todos participaram das discussões, dando

suas opiniões e realizando a pesquisa proposta com entusiasmo.

Como elucidado na seção do planejamento, a diversidade encontrada foi

quanto aos diferentes níveis de conhecimento do idioma, a falta de contato e de

prática dos alunos com a língua inglesa fora da escola. A esse respeito, procurei

agrupá-los de forma que quem sabia um pouco mais pudesse ajudar quem sabia

menos. Ainda, utilizei a ajuda do aluno monitor da disciplina, que auxiliava um grupo

enquanto eu assistia os outros. Dessa forma, foi possível perceber a interação entre

os alunos e verificar que o aprendizado se dava de forma dinâmica e autônoma, pois

eles participavam ativamente do processo de ensino e aprendizagem.

Nesse percurso, alguns obstáculos surgiram, sendo os principais a conexão

com a internet, que não era muito eficaz, não permitindo que a pesquisa fosse feita

com mais rapidez; o fato de os alunos não saberem os significados de algumas

palavras encontradas nas pesquisas; e a timidez/dificuldade na hora das

apresentações de suas pesquisas. Buscando contornar as situações apresentadas,

quanto à conexão ineficaz com a internet e o não conhecimento de determinadas

palavras, peguei um celular emprestado de outro aluno que já havia terminado o

trabalho para ajudar quem ainda estava procurando informações online, e acessar

dicionários virtuais. Já com relação à timidez/dificuldade nas apresentações, procurei

incentivá-los a não desistir e a continuar até o final, ainda que cometessem erros. Não

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permiti que nenhum colega risse ou fizesse piadas sobre a pronúncia de quem estava

relatando as notícias encontradas, para que todos se sentissem um pouco mais à

vontade perante a turma.

Para mim, esse projeto por inteiro foi muito significativo, pois se tratou de

algo atual e me ajudou a levar meus alunos a refletir sobre utilizar uma ferramenta

que eles possuem para o processo de ensino e aprendizagem da língua inglesa.

Mesmo assim, posso destacar que vê-los apresentando seus trabalhos em inglês foi

para mim a concretização de uma ideia que parecia muito abstrata no papel, mas que

funcionou de verdade. Ver cada um vencendo seu medo de falar em público, de falar

errado, ou de “pagar mico” diante dos colegas foi o meu prêmio ao final daquela aula.

3 Resultados

Como destacado anteriormente, os objetivos de ensino-aprendizagem na

realização deste projeto foram: 1) levar os alunos a compreenderem que há

diferentes usos para seus celulares, além de falar com os amigos através do

Whatsapp ou Facebook; 2) pesquisar as últimas notícias ao redor do mundo

(preferencialmente em inglês) através da Internet, utilizando o aparelho celular; e 3)

reportar a pesquisa para a turma em inglês.

Nessa perspectiva, percebi que foi possível atingir as metas propostas através

de conversas com os alunos participantes. Em momentos de trocas de experiências

sobre o assunto em aulas posteriores, percebi que sua mentalidade em relação ao uso

de tecnologias para fins educacionais foi modificada, que eles agora percebem que

podem unir ferramentas tecnológicas que usam no seu cotidiano ao seu aprendizado,

tanto na escola quanto fora dela. Os dois últimos objetivos também foram

alcançados, tendo em vista que todos os alunos presentes realizaram a pesquisa

sobre as últimas notícias ao redor do mundo, ainda que nem todos a tenham feito em

inglês, e as apresentações foram feitas em inglês por todos os grupos.

Posso afirmar que os alunos aprenderam palavras novas e suas pronúncias,

além do conhecimento sobre as notícias que pesquisaram. Porém, para garantir o

aprendizado dos estudantes e levá-los a continuar praticando a língua inglesa mesmo

após a data de atuação no projeto, tenho procurado sempre levar assuntos práticos,

atuais e relevantes para eles nas aulas, incentivando-os a (re)produzir frases

oralmente por meio de jogos, simulações de situações reais e diálogos entre eles no

idioma.

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Desse modo, pude chegar à conclusão de que minha prática foi positiva e deu

estímulo a eles, levando-os a ter mais autoconfiança para aprender inglês. Isso me

fez pensar em dar continuidade a esse trabalho ou, até mesmo, realizar um novo

projeto, que pode abordar também a utilização de redes sociais virtuais para a

produção, divulgação e compartilhamento de textos escritos em inglês por alunos do

Ensino Médio.

Com essa experiência, aprendi que as situações adversas vividas em sala de

aula não podem permitir que o professor deixe de tentar novas opções, ou de apostar

no potencial de seus alunos. Apesar de possuir discentes provindos de diversos

contextos, resolvi acreditar que eles podiam realizar as tarefas que lhes proporia e

motivá-los a aceitar meu desafio. E deu certo. Eles toparam a ideia que eu lhes

apresentei e, em troca, eu fui premiada com aulas divertidas, agradáveis a eles e a

mim, sorrisos, vontade de aprender e compartilhar aprendizagens, além dos trabalhos

realizados. Posso dizer que isso fortaleceu ainda mais minha trajetória profissional!

Abaixo seguem alguns depoimentos dos alunos participantes:

“Foi de grande ajuda pois é um método de fácil acesso”.

“Eu não sou a favor nem contra, tem que usar quando a professora

pede”.

“Em alguns momentos o celular pode ser uma ferramenta importante”.

“Foi bom porque eu aprendi mais a falar as palavras em inglês e traduzir

elas melhor, my friends!”

“Eu achei ótimo interagir melhor, aprendi com mais facilidade. Uma

forma interessante de aprender inglês”.

“Na minha opinião foi bom o uso do celular na sala de aula, porque

muitos professores deixam de dar algum exercício para os alunos por

falta de poder usar o celular, às vezes tem uma brincadeira para usar

como aula no celular e não pode pelo fato de não poder usá-lo”.

“Eu achei muito bom porque a gente aprende mais”.

“Foi muito importante, porque é raro alguém usar o aparelho de celular

para pesquisar coisas importantes”.

“Foi uma aula muito interessante”.

“Foi legal porque usamos o celular para pesquisar coisas interessantes”

(Fonte: dados da pesquisa).

Ler esses comentários me permitiu obter um feedback positivo dos alunos, mas

para mim, os pontos que mais marcaram foram a cooperação e a colaboração de

todos os envolvidos. Desde as pesquisas em grupos, a monitoria do aluno que elegi

para me ajudar na turma, os empréstimos de aparelhos aos colegas, a atitude deles

em ouvir o que os outros haviam pesquisado, enfim, tudo isso foi muito proveitoso.

O que eu poderia fazer para tornar este trabalho ainda melhor, talvez fosse

direcionar temas específicos para cada grupo pesquisar. Assim, um pesquisaria

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notícias sobre política, outro sobre cultura, outro sobre educação, e assim por diante.

Isto pode facilitar a procura por informações online.

Percebo que ainda há o desafio de levá-los a não esquecer que seus

smartphones podem assumir diversas funções, que eles podem usar as diversas redes

sociais para se comunicar com amigos, mas também para aprender coisas novas, ler

notícias, consultar dicionários, praticar a língua inglesa e outros idiomas, e tantas

outras. Além disso, com a marcante presença do idioma inglês nos dias atuais, torna-

se essencial entender palavras, frases e até textos para obter uma variedade maior de

informações em âmbito virtual.

Acredito que a experiência vivida por mim possa ser replicada por outros

professores que vivem realidades similares, seja no ensino de inglês e também de

português, como de outros idiomas; em outras escolas públicas, particulares, em

cursos livres e em cursos superiores, como o curso de Letras, Pedagogia, e outros.

Além disso, pode (e deve) haver variações quanto aos objetivos e propostas de

tarefas, uma vez que as tecnologias têm sido cada vez mais levadas para o ambiente

de sala de aula, possibilitando uma conexão do real com o virtual.

Para que essa replicação aconteça, torna-se necessário ter um bom acesso à

Internet através dos celulares dos alunos (talvez, uma rede sem fio) e propósitos

traçados previamente pelos docentes, pois possíveis dificuldades podem ocorrer,

como a falta de conexão por algum motivo, o que dificilmente pode ser resolvido no

momento da aula.

Os professores podem esperar em relação ao aprendizado dos alunos que eles

tomem uma nova atitude frente à sua maneira de se conectar através de seus

aparelhos móveis, adquiram novos vocabulários, obtenham mais informação sobre o

que acontece ao redor do mundo e passem a perceber a importância de usar seus

celulares em aula quando forem solicitados.

Referências

UNESCO. Aprendizagem móvel. 2014. Disponível em: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/communication-and-information/access-to-

knowledge/ict-in-education/mobile-learning/. Acessado em: 04 nov. 2015.

UNESCO. Diretrizes de políticas para a aprendizagem móvel. 2014. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002277/227770por.pdf. Acessado em: 05 nov. 2015

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ANEXOS

1. Planejamento

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Revista Práticas de Linguagem – v.5 n.1 – ESPECIAL (jan. 2015)

2. Fotos da realização das atividades

Figura 1: Pesquisando com o celular

Fonte: Acervo da professora

Figura 2: Pesquisando com o celular e usando ferramenta Google Translator

Fonte: Acervo da professora

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Revista Práticas de Linguagem – v.5 n.1 – ESPECIAL (jan. 2015)

Figura 3: Pesquisando com o celular em grupo

Fonte: Acervo da professora

Figura 4: Produzindo de texto em inglês

Fonte: Acervo da professora

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Revista Práticas de Linguagem – v.5 n.1 – ESPECIAL (jan. 2015)

As contribuições da mídia contemporânea

no primeiro segmento do ensino fundamental

Cíntia Cristina de Campos Silva60 Raquel Vianelo Sell61

Apresentação

O presente relato tem o objetivo de descrever um projeto de letramento,

realizado no decorrer do primeiro semestre de 2015, com os alunos do 5º ano do

Ensino Fundamental, da Escola Municipal Professor Renato Eloy de Andrade.

Diante do constante crescimento das tecnologias na atualidade e da grande

preocupação mundial com a escassez de água, viu-se a possibilidade de conciliar os

recursos midiáticos com a prática do professor em sala de aula, contribuindo

significativamente para a prática do letramento.

Caracterização da Escola

A Escola Municipal Professor Renato Eloy de Andrade, que está localizada na

Rua Oscar Vidal s/n, Centro, tel: 3258-1113, Coronel Pacheco-MG, oferece o Ensino

Fundamental de nove anos e é mantida pelo poder público municipal, funcionando,

atualmente, em prédio cedido pelo estado de Minas Gerais.

O prédio da escola comporta 09 salas de aula, 1 biblioteca, 1 secretaria, 1 sala

de professores, 1 sala de direção, 1 refeitório, 1 sala para equipamentos de Educação

Física, 4 banheiros para alunos, 1 banheiro para professor,1 sala de supervisão, 1

quadra de esportes e um pátio de tamanho razoável. Para atender a acessibilidade, a

escola passou por adaptações necessárias, exigidas pelo Projeto Incluir. A arquitetura

do prédio é de alvenaria.

O Ensino Fundamental de 1º ao 9º ano funciona em três turnos. O turno da

manhã é formado pelas turmas de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, totalizando

60 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Juiz de Fora, pós-graduada em Psicopedagogia

Clínica e Institucional pela Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora e Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal de Ouro Preto. Concluindo especialização em Tutoria em EAD pela Universidade Cândido Mendes. Coordenadora pedagógica na Escola Municipal Professor Renato Eloy de Andrade e tutora online na Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: [email protected] 61 Graduada em Pedagogia pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e especialista em Psicanálise: Subjetividade e Cultura pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Tutoria em EAD pela Universidade Cândido Mendes. Professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental na Escola Municipal Professor Renato Eloy de Andrade e tutora online na Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: [email protected]